FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA • Prof. Eliezer Lopes • Email: [email protected] • [email protected] DÉFICIT PÚBLICO E DÍVIDA PÚBLICA NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): 3 CONCEITOS DE DÉFICIT PÚBLICO • NOMINAL: é o conceito fiscal mais amplo e representa a diferença entre o fluxo agregado de despesas totais (inclusive despesas com juros) e de receitas totais (inclusive de aplicações financeiras), num determinado período. Essa diferença corresponde à necessidade de financiamento do setor público (NFSP). • OPERACIONAL : resultado nominal excluída a atualização monetária da dívida líquida. Conceito relevante em países de inflação alta (como o Brasil antes do Plano Real), uma vez que exclui o impacto da inflação sobre a necessidade de financiamento do setor público. Em países com baixa inflação, o conceito operacional perde relevância e tende a ser próximo do resultado nominal. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): 3 CONCEITOS DE DÉFICIT PÚBLICO • PRIMÁRIO: resultado nominal excluída a parcela referente aos juros nominais (juros reais mais a atualização monetária) incidentes sobre a dívida líquida. Evidencia o esforço fiscal do setor público livre da “carga” dos déficits incorridos no passado. Se o setor público gasta menos do que arrecada, desconsiderando a apropriação de juros sobre a dívida existente, há superávit primário. CONCEITOS DE DÉFICIT PÚBLICO • PRIMÁRIO: despesas não financeiras menos receitas não financeiras do setor público ou o déficit nominal menos o pagamento de juros nominais. Deficit Primário = G – T • OPERACIONAL: déficit primário mais pagamento de juros reais ou o déficit nominal menos a correção monetária da dívida pública. Déficit Operacional = G – T + rD Onde r é a taxa real de juros e D é o estoque de dívida pública • NOMINAL: déficit primário mais pagamento de juros nominais ou déficit operacional mais a correção monetária da dívida pública. Déficit Nominal = G – T + iD Onde i é a taxa nominal de juros. CONCEITOS DE DÉFICIT PÚBLICO Correção monetária Déficit Nominal (ou déficit total) Juros nominais (serviço da dívida) Juros reais Déficit primário Déficit operacional (não é mais calculado oficialmente no Brasil) CONCEITOS DE DÉFICIT PÚBLICO Correção monetária Correção monetária Juros Nominais Déficit Nominal Juros reais (NFSP Déficit Operacional Déficit primário Déficit primário Conceito nominal) Variação da Dívida Pública Deduzidos Ajustes TESTE RÁPIDO O déficit público no Brasil é mensurado a partir da idéia de necessidade de financiamento do setor público (NFSP). Este, por sua vez, pode ser apresentado por meio dos conceitos primário, operacional e nominal. Quanto a esses conceitos, assinale verdadeiro ou falso: • (A) O conceito de déficit primário inclui os juros reais da dívida passada. • (B) No cálculo do déficit público, segundo o conceito operacional, excluem-se as despesas com correção monetária. • (C) O conceito de déficit primário exclui os juros reais. • (D) Os juros reais são incluídos no conceito operacional. • (E) O déficit operacional é a soma do déficit primário com os juros reais da dívida pública. TESTE RÁPIDO • (F) Não pode ocorrer simultaneamente superávit primário e déficit operacional. • (G) no Brasil o déficit primário é maior do que o déficit nominal. • (H) nem no conceito primário nem no nominal estão incluídos os juros nominais da dívida pública. • (I) tanto o conceito operacional quanto o primário levam em consideração os juros reais da dívida pública. • (J) o pagamento dos juros reais da dívida pública não influi no déficit público, independentemente do conceito utilizado na sua apuração. • (K) no déficit primário, diferentemente do déficit nominal, não são considerados os juros nominais da dívida pública. DUAS FORMAS DE APURAR O DÉFICIT PÚBLICO: “acima da linha” e “abaixo da linha” Os resultados fiscais podem ser apurados de duas formas: • “acima da linha”: diferença entre as receitas e as despesas do setor público. Apura o resultado fiscal pela diferença entre fluxos, o que permite melhor acompanhamento da execução orçamentária pelo controle das receitas e despesas. • “abaixo da linha”: variação da dívida líquida total, interna ou externa do setor público. Parte dos saldos de dívida pública para obter as necessidades de financiamentos e permite destacar as fontes de financiamento do setor público. DUAS FORMAS DE APURAR O DÉFICIT PÚBLICO: “acima da linha” e “abaixo da linha” • Pelo método “abaixo da linha”, o resultado nominal equivale à variação total da dívida fiscal líquida no período. • No caso do resultado primário, corresponde à variação da dívida fiscal líquida, excluídos os encargos financeiros líquidos. • O critério “abaixo da linha” não permite conhecer os fatores que levaram ao resultado. Isso é realizado por meio da análise das receitas e despesas do setor público, que permite chegar ao resultado pelo critério “acima da linha”. Em princípio, os dois critérios são equivalentes, e deveriam chegar aos mesmos números. Entretanto, podem ocorrer discrepâncias estatísticas em decorrência de questões específicas relacionadas à abrangência e/ou período da compilação. ABRANGÊNCIA DE SETOR PÚBLICO PARA O CÁLCULO DO DÉFICIT PÚBLICO O setor público não-financeiro, base das estatísticas divulgadas, compreende: • a administração direta e indireta do Governo Federal (inclusive Previdência Social), • a administração direta e indireta dos governos regionais (estados e municípios) • o Banco Central do Brasil e • as empresas estatais não-financeiras das três esferas de governo, exceto as Empresas do Grupo Petrobras e do Grupo Eletrobras. • Incluem-se também os fundos públicos que não possuem características de intermediários financeiros, isto é, aqueles cuja fonte de recursos é constituída de contribuições fiscais ou parafiscais. ABRANGÊNCIA DE SETOR PÚBLICO PARA O CÁLCULO DO DÉFICIT PÚBLICO • O Banco Central é incluído na apuração da dívida líquida e das necessidades de financiamento por transferir seu resultado automaticamente para o Tesouro Nacional. Ao incluir a Autarquia, a Dívida Líquida do Setor Público incorpora a base monetária, permitindo captar o financiamento realizado com sua expansão. QUEM PRODUZ OS INDICADORES FISCAIS NO BRASIL? • No Brasil, os principais indicadores fiscais de acompanhamento conjuntural são produzidos pelo Tesouro Nacional e pelo BCB. Os dados calculados pelo Tesouro Nacional restringem-se apenas ao Resultado Primário do Governo Central e seguem o conceito “acima da linha”, enquanto que o BCB calcula estatísticas fiscais para o setor público consolidado e utiliza o conceito “abaixo da linha” (dívida líquida e às necessidades de financiamento do setor público). REGIMES DE CAIXA E DE COMPETÊNCIA • REGIME DE CAIXA: receitas e despesas são computadas no mês do efetivo recebimento/desembolso de recursos • REGIME DE COMPETÊNCIA: receitas e despesas são computadas no mês do fato gerador da receita/despesa. • No Brasil, os resultados primários, tanto do Governo Central como do setor público consolidado, são contabilizados pelo regime de caixa. • Já as despesas financeiras líquidas são apuradas pelo BCB pelo regime de competência, • Com isso as NFSP no conceito nominal, formadas pela soma do resultado primário e dos juros nominais (despesas financeiras líquidas), são computadas de forma híbrida. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): “abaixo da linha” • As Necessidades de Financiamento dos Setor Público são calculadas a partir da variação da Dívida Líquida, utilizando o critério conhecido como “abaixo da linha”. Por esse critério, o resultado fiscal do setor público é medido pela variação do estoque do endividamento líquido do setor público não-financeiro, ou seja, pelo financiamento concedido pelo sistema financeiro e pelos setores privado e externo ao setor público não-financeiro. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): conceito nominal • As Necessidades de Financiamento no conceito nominal correspondem à variação nominal dos saldos da dívida líquida, deduzidos os ajustes patrimoniais efetuados no período (privatizações e reconhecimento de dívidas). Exclui, ainda, o impacto da variação cambial sobre a dívida externa. Abrange o componente de atualização monetária da dívida, os juros reais e o resultado fiscal primário. • Resultado nominal = Variação da DLSP Ajustes patrimoniais e metodológicos NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): conceito primário • No conceito primário, as Necessidades de Financiamento correspondem ao componente não financeiro do resultado fiscal do setor público. O cálculo se dá excluindo do resultado nominal os juros nominais apropriados por competência, incidentes sobre a Dívida Líquida. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP): conceito operacional • No conceito operacional as Necessidades de Financiamento correspondem ao resultado nominal deduzido da atualização monetária dos saldos da dívida interna. Engloba o componente não-financeiro (primário) do resultado fiscal e o componente real dos juros. • Os juros reais são o fluxo de juros nominais, subtraída a atualização monetária da dívida. Correspondem ao componente financeiro real do resultado fiscal. • Os juros nominais referem-se aos juros incidentes sobre a dívida interna e externa. Engloba os juros reais e o componente de atualização monetária da dívida. Corresponde ao componente financeiro do resultado fiscal. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP) DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO (DLSP) • A DLSP é definida como o balanceamento entre os passivos e ativos do setor público não financeiro (exceto Petrobras e Eletrobras) e do Banco Central. • Os créditos correspondem aos ativos financeiros do setor público junto ao setor privado financeiro, ao setor público financeiro, ao setor privado e ao resto do mundo. • Resumidamente, a DLSP pode ser definida da seguinte forma: DLSP = M + B + EI - A + EF – ER onde: M é a base monetária; B é o saldo da dívida interna corrigida por juros internos ou por índices domésticos; E, a taxa de câmbio; I corresponde a dívida interna indexada à variação da taxa de câmbio; A são os ativos financeiros do setor público e F e R representam a divida externa e as reservas internacionais, respectivamente. VARIAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA LÍQUIDA (Δ DLSP) E DÉFICIT PÚBLICO (NFSP) • A variação da dívida líquida corresponde à variação da base monetária, dos títulos domésticos e externos (B, I e F), dos ativos internos e externos (A e R) e da taxa de câmbio: ΔDLSP = ΔM + ΔB + E ΔI - ΔA + E ΔF - E ΔR + (I+F-R) ΔE ou ΔDLSP = ΔM + ΔB + E(ΔI+ΔF-ΔR) - ΔA + (I+F-R) ΔE • As informações sobre Necessidades de Financiamento são calculadas a partir da variação da Dívida Líquida, utilizando o critério conhecido como “abaixo da linha”. Por esse critério, o resultado fiscal do setor público é medido pela variação do estoque do endividamento líquido do setor Público não-financeiro, ou seja, pelo financiamento concedido pelo sistema financeiro e pelos setores privado e externo ao setor público não-financeiro. Dívida Líquida do Governo Geral • A Dívida Líquida do Governo Geral corresponde ao endividamento líquido (balanceamento de débitos e créditos) do Governo Federal (inclusive previdência social), dos governos estaduais e dos governos municipais, junto ao sistema financeiro público e privado, setor privado não-financeiro e resto do mundo. • A estrutura da Dívida Líquida do Governo Geral é similar à estrutura da Dívida Líquida do Setor Público. Deve-se excluir, porém, os ativos e passivos do Banco Central e das empresas estatais. Dívida Bruta do Governo Geral • A Dívida Bruta do Governo Geral abrange o total dos débitos de responsabilidade do Governo Federal, dos governos estaduais e dos governos municipais, junto ao setor privado, ao setor público financeiro e ao resto do mundo. Os débitos de responsabilidade das empresas estatais das três esferas de governo não são abrangidos pelo conceito. • No caso do Banco Central, são incluídas apenas as operações compromissadas realizadas com títulos públicos. Essas operações são incluídas porque apresentam estreita relação com a dívida do Tesouro Nacional, e sua inclusão na DBGG permite melhor acompanhar a situação fiscal do governo. Dívida mobiliária federal • A dívida mobiliária federal constitui a maior parte do endividamento público. Essa parcela do endividamento é constituída dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e contempla os valores que estão em poder do mercado ou em carteira no Banco Central. AS FONTES DE FINANCIAMENTO DO DÉFICIT • Quando as receitas (inclusive receitas de juros sobre ativos) são menores que os gastos correntes e de capital (incluindo as despesas com juros sobre a dívida), o resultado apresenta déficit, que pode ser financiado de diversas formas. A variação da DLSP é uma medida das NFSP e ao mesmo tempo mostra as fontes de financiamento do déficit público. ΔDLSP = déficit nominal ΔM + ΔB + E(ΔI+ΔF-ΔR) – ΔA = • As principais fontes de financiamento dos déficits do governo seriam a emissão monetária (M), o aumento do endividamento interno (B), interno indexado ao câmbio (I) e externo (F) ou diminuição de seus ativos internos (A) ou externos (R). NFSP SEM E COM DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL • No cálculo das Necessidades de Financiamento sem desvalorização cambial o impacto da variação cambial sobre a dívida mobiliária interna indexada ao dólar é excluído do cálculo dos juros nominais • Necessidades de financiamento com desvalorização cambial: a forma de cálculo das Necessidades de Financiamento é semelhante, mas é preciso considerar o efeito da desvalorização sobre o estoque da dívida interna indexada ao câmbio. A RAZÃO DLSP/PIB E O DÉFICIT PÚBLICO • A relação entre a DLSP e o PIB é utilizada como parâmetro para avaliar a probabilidade de solvência do setor público e para comparações internacionais. • Como ΔDLSP (deduzidos os ajustes) = NFSP conclui-se que a variação da DLSP é determinada pelos determinantes do déficit: taxa de juros, superávit primário, estoque de dívida interna e externa. A ARITMÉTICA DOS DÉFICITS E DA DÍVIDA • Simplificando podemos escrever: Déficitt = r Dt -1 + Gt - Tt • Bt-1 é a dívida pública no final do ano t − 1, ou, de maneira equivalente, no início do ano t; • r é a taxa real de juros, que consideraremos constante aqui. Assim, rDt-1 é igual aos pagamentos de juros reais sobre a dívida pública no ano t. • Gt são os gastos do governo com bens e serviços durante o ano t. • Tt é igual aos impostos menos as transferências durante o ano t. A ARITMÉTICA DOS DÉFICITS E DA DÍVIDA • A restrição orçamentária do governo então simplesmente afirma que a variação da dívida pública durante o ano t é igual ao déficit durante o ano t : ΔD = Déficitt • Utilizando a definição de déficit: Déficitt = r Dt -1 + Gt - Tt • Podemos reescrever a restrição orçamentária do governo como: ΔD = r Dt -1 + Gt - Tt ou ΔD = r Dt -1 – (Tt - Gt ) • Frequentemente, convém decompor o déficit na soma de dois termos: – pagamentos de juros sobre a dívida, rDt-1. – A diferença entre os gastos e os impostos, Gt − Tt . Esse termo é chamado de déficit primário (ou, de maneira equivalente, Tt − Gt é chamado de superávit primário). Evolução da razão dívida−PIB • Em uma economia na qual o produto cresce ao longo do tempo faz mais sentido que nos concentremos, na razão entre a dívida e o produto. • Razão dívida−PIB fornece a evolução do endividamento em relação ao produto. • Para chegar a uma equação que mostre a evolução da razão dívida-PIB devemos dividir a nossa expressão do déficit e da variação da dívida pelo PIB. • E depois de muitos passos algébricos chegamos à expressão: Δ(D/PIB) = (r – g) (D/PIB)t -1 – (Tt - Gt )/PIB t Evolução da razão dívida−PIB Δ(D/PIB) = (r – g) (D/PIB)t -1 – (Tt - Gt )/PIB t • Isso exigiu muitos passos, mas essa relação final tem uma interpretação simples: A variação do coeficiente de endividamento ao longo do tempo (o lado esquerdo da equação) é igual à soma de dois termos. • O primeiro termo é a diferença entre a taxa real de juros r e a taxa de crescimento g vezes o coeficiente de endividamento inicial. • O segundo termo é a razão entre o superávit primário e o PIB. Evolução da razão dívida−PIB Δ(D/PIB) = (r – g) (D/PIB)t -1 – (Tt - Gt )/PIB t A equação implica que o aumento da razão entre dívida e PIB será maior: • quanto maior for a taxa real de juros; • quanto menor for a taxa de crescimento do produto; • quanto maior for o coeficiente de endividamento inicial; • quanto menor for a razão entre o superávit primário e o PIB. • Em relação ao pico atingido em set/02 (63,1%), a dívida pública vem declinando como proporção do PIB (36,5% em dez/2011). • Fatores que podem ser destacados para explicar o recuo da relação DLSP/PIB são a geração de superávits primários, a menor carga de juros e a recuperação do crescimento da economia brasileira.