O ESTUDO DA GRAMÁTICA NO LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL Rebeca Gonçales Silva (Bolsista IC - UEL), Joyce Almeida Baronas ([email protected]) Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas/CLCH Área e subárea do conhecimento: Linguística, Letras e Artes. Palavras-chave: Livro didático; variação linguística; ensino fundamental. Resumo A variação linguística constitui um fenômeno comum a todas as línguas, entretanto, no ambiente escolar, ainda não é totalmente aceito, visto que ainda prevalece o estudo gramatical sob o enfoque tradicional. Este tema, recentemente, vem tornando-se objeto de pesquisa a fim de ocasionar uma conscientização aos recém-graduados de Letras com objetivo de ingressar em sala de aula. Neste artigo, objetivamos explicitar como o estudo gramatical é apresentado no livro didático, verificando se há a abordagem da diversidade linguística. Esperamos, desta forma, contribuir para a conscientização da necessidade do estudo das diversas normas presentes no Brasil. Introdução e objetivo O estabelecimento de uma norma padrão se dá por uma necessidade de coesão, entretanto, o distanciamento da norma padrão do Brasil e a realidade linguística constitui uma dificuldade para o ensino da Língua Portuguesa. Apoderar-se desta norma tornou-se tão importante, que tanto da parte do professor quanto do aluno, houve um esquecimento de que ela é somente uma variante dentre tantas. A língua, ao contrário da gramática, não é algo homogêneo, é algo que muda constantemente. Uma palavra que há muito tempo era dita ou escrita de um jeito, nos dias atuais, com mudanças históricas, sociais, regionais e estilísticas, passa a ser empregada de outra forma, como é o caso da palavra “Vossa Mercê” que hoje é grafado como “você”, a este fenômeno damos o nome de variação linguística. É sabido também que existem pessoas que não falam de acordo com a norma-padrão e, isso reflete muitas vezes no âmbito dela com a sociedade, ocasionando o preconceito linguístico. Para que não exista o preconceito linguístico, é necessário aprender desde cedo sobre esse tema na escola. Porém, o tema “variação lingüística” ainda é pouco abordado no ambiente escolar. Segundo o 1 Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), é obrigatório que o tema já esteja nos livros didáticos, levando ao aluno uma reflexão, entretanto, não é o que acontece na prática. Visando refletir sobre essa problematização, realizamos este trabalho movido por algumas perguntas. Será analisado um livro didático do ensino fundamental de uma escola pública do 6º ano. Para a realização dessa análise, foram feitos questionamentos com objetivo de saber se nesses materiais, o aluno tem o contato com a diversidade linguística. Procedimentos metodológicos A presente pesquisa foi embasada nos pressupostos teóricos da Sociolinguística Educacional e dos estudos linguísticos relacionados ao ensino da gramática na escola; com base nesses estudos, foi analisado um livro didático utilizado em uma escola de Londrina, a fim de verificar como se dá o estudo da gramática nesses manuais. O livro didático analisado foi Português: linguagens, do 6º ano, elaborado por Willian Cereja e Thereza Cochar Magalhães, disponibilizado pelo Colégio Estadual Antônio Moraes de Barros. Resultados e discussão Os livros didáticos seguem normas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e para chegar às escolas têm que obter aprovação do Ministério da Educação (MEC). O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos da educação básica. O programa é executado em ciclos trienais alternados. Assim, a cada ano o MEC adquire e distribui livros para todos os alunos de um segmento, que pode ser: anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental ou ensino médio. À exceção dos livros consumíveis, os livros distribuídos deverão ser conservados e devolvidos para utilização por outros alunos por um período de três anos. Em relação à variação linguística, o PNLD possui algumas orientações para três níveis de ensino: anos iniciais (fundamental I), anos finais (fundamental II) e ensino médio. Para os anos iniciais do ensino fundamental, o objetivo é mostrado de modo claro: “o desenvolvimento de atitudes e capacidades envolvidas na compreensão da variação linguística e no convívio com a diversidade dialetal, de forma a evitar o preconceito linguístico e a valorizar as diferentes possibilidades de expressão linguística” (Brasil, 2009, p. 18). Ou seja, no início da vida escolar o aluno já precisa ser apresentado a este tema, com o intuito de lidar desde criança com as diferenças culturais e expressivas. É importante ressaltar que, segundo o PNLD, a variação 2 linguística deve aparecer em todos os níveis escolares, não apenas como um assunto superficial. Em relação à obra analisada, foi possível verificar que apenas no material didático do 6º ano há um capítulo reservado à variação linguística, mais especificamente no capítulo nomeado “Terra de encantamento”, em que consta o tópico “língua em foco”, onde se encontram temas como normapadrão e variedades de prestígio, preconceito social, gírias e exercícios a fim de promover a diferença entre as variedades e a gramática normativa. Tais informações são passadas de forma didática aos alunos, com a presença de imagens, charges, algumas histórias da língua, há também a comparação do Português Brasileiro e o Português de Portugal. Esse capítulo é muito interessante, porém contempla apenas sete páginas de duzentas e cinquenta e seis no total do livro didático. Nesse livro didático do 6º ano, os textos encontrados têm como objetivo uma simulação do que seria uma situação real de uso. Os gêneros textuais encontrados foram charges, textos, poemas e email. Com base na análise, podemos afirmar que o manual apresenta o conteúdo da variação lingüística, porém de forma bastante isolada, não absorvendo o conteúdo em toda a obra. Conclusão Nesta pesquisa sobre a abordagem da variação linguística no livro didático, observamos que o material analisado reserva apenas um capítulo do livro do 6º ano, o que representa muito pouco em relação a uma situação ideal no que diz respeito ao estudo da língua em sua diversidade. É muito importante que o aluno aprenda a norma culta do Português Brasileiro, mas também não deixando de lado as outras variedades. A falta deste aprendizado pode-lhe causar alguns problemas sociais como o preconceito linguístico. A variação da língua deve integrar todo o conteúdo do livro didático, deve ser inserido inclusive no ensino gramatical, não tendo um simples capítulo, mas havendo uma relação com os conteúdos abordados em todo o livro. Esperamos que os estudos sociolinguísticos avancem além do ambiente acadêmico e alcancem os espaços da escola também a fim de que a sociedade tenha uma melhor noção do que é saber o Português, a língua que se fala no Brasil, com toda sua diversidade. Referências BORTONI- Ricardo, Stella Maris. Educação em língua materna: a Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004. 3 BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola, 2005. CAMACHO, Roberto Gomes. Variação lingüística. In: SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídios à proposta curricular de língua portuguesa para o 1º e 2º graus; coletânea de textos. São Paulo: SE/CENP, 1988. v.I. CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Portuguêslinguagens. Ensino fundamental II. São Paulo: Saraiva, 2012. FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo. Parábola, 2008. MARTINS, Marco Antônio; VIEIRA, Silvia Rodrigues; TAVARES, Maria Alice (2014). Ensino de Português e Sociolinguística. São Paulo: Contexto. 2014. Programa Nacional do Livro didático (PNDL): Ministério da educação. Disponível em. http://www.fnde.gov.br/pnld-2016/ Acesso em: 20 jun. 2016. 4