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 AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Resumo Este artigo apresenta um estudo realizado sobre o conceito de socialização presente no início do século XX e o conceito de socialização contemporâneo, estabelecendo um diálogo entre duas vertentes teóricas. O referencial teórico baseia‐
se nas concepções do sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel (1858 – 1918) e também do sociólogo espanhol Manuel Castells (1942). Partindo destas premissas, desenvolveu‐se uma pesquisa com base em revisão bibliográfica temática, objetivando analisar e descortinar as aproximações e ou distanciamentos existentes nas teorias da socialização em estudo, trazendo contribuições para o cenário educativo. O estudo explicitou que a evolução social fez emergir novas formas de interação no contexto contemporâneo, através dos recursos tecnológicos que permitem estabelecer processos de interação em todos os lugares e momentos, caracterizando a sociedade em uma rede de interações. O ciberespaço aflora uma nova forma de sociabilidade, diferente daquela tradicional que se dava através da presença física, mas ressurge uma interação virtual onde há vontades, emoções e sentimentos, posto que do outro lado da rede existam pessoas reais. O que é virtual é o espaço, mas não a maneira de se socializar. Palavras‐chave: Socialização. Tecnologia. Sociedade em Rede. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. Rafael Pavan Universidade de Passo fundo [email protected] Marina Miri Braz Beccari Universidade de Passo Fundo [email protected] p.1
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari A socialização é um processo de relações humanas que se desenvolve em diversos espaços sociais e está presente em todas as fases da vida humana, desde a mais tenra infância até as idades mais avançadas. Este processo caracteriza‐se pela dinamicidade e complexidade das relações que são estabelecidas. Sendo assim, este estudo debruça‐se em teorias que buscam explicar o conceito de socialização, bem como, os seus elementos constitutivos. Pode‐se afirmar que o conceito de socialização tem sido objeto de reflexões, debates e pesquisas teóricas em diversas áreas, tais como: a educação, a psicologia e a sociologia, revelando assim a necessidade de diálogos entre estas áreas do conhecimento. Nessa direção, o propósito deste artigo é apresentar reflexões sobre o conceito de socialização, através de uma análise que visa descortinar as relações existentes entre duas vertentes teóricas – elaboradas em diferentes épocas e contextos –, buscando estabelecer aproximações e ou divergências entre os conceitos que envolvem os processos de socialização. A reflexão sobre tal abordagem mostra‐se relevante para o cenário educativo brasileiro, visto que, são poucos os estudos que se dedicaram a debater a temática da socialização no país, demonstrando assim a carência de referencias analítica sobre o tema em questão. O artigo está dividido em duas partes. A primeira parte apresenta o conceito de socialização a partir do olhar do sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel (1858 – 1918), destacando as principais contribuições que este pensador frisou no início do século XX, contexto este em que as relações humanas ocorriam de forma diferenciada das atuais, já que, haviam poucos recursos tecnológicos de interação entre as pessoas. A segunda parte do trabalho debate o conceito de socialização a partir da concepção do sociólogo espanhol Manuel Castells (1942), ou seja, traz uma abordagem contemporânea e atual do tema em questão, mostrando assim a socialização das novas gerações e os novos elementos que constituem esses processos. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Mediante esta proposta, acentua‐se que a temática abordada fornece subsídios para as diferentes áreas do conhecimento, contribuindo para o entendimento e aprofundamento teórico sobre as diferentes dimensões e contextos que envolvem o processo da socialização. 1. Revisitando o conceito de socialização – sob o olhar de Georg Simmel A socialização vem sendo objeto de discussões nos meios acadêmicos e também em diversos contextos sociais, isto é decorrente das grandes e aceleradas mudanças que vem ocorrendo no universo social. Pesquisas sobre a temática em questão estão sendo elaboradas e apresentadas, todavia ainda são poucos os estudos que voltam seus olhares para as questões que envolvem a socialização. Deve‐se levar em consideração que o conceito de socialização é dinâmico e vem se adaptando permanentemente a um mundo que experimenta profundas transformações sociais e econômicas. As concepções debatidas no século passado diferenciam‐se das que estão em ênfase na atualidade. Apesar das diferenças de contexto, existem elementos que se entrelaçam e que merecem análise na busca pela compreensão da temática da socialização. Para compreender o conceito de socialização buscou‐se estudar um recorte da teoria elaborada pelo sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel. Este foi um pensador crítico, que através de suas observações sobre o contexto social deixou um legado teórico para a sociedade. A obra Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e sociedade, produzida por Simmel em 1917, é a base teórica da análise exposta neste estudo, mais especificadamente, o capítulo 2 intitulado O nível social e o nível individual e o capítulo 3 denominado A sociabilidade. O autor relata que a socialização – a vida de grupos entendidos como unidades – vem sendo objeto de investigação e questionamentos. Desse modo, Simmel propõe uma distinção entre as características do nível individual e as do nível social. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Nessa perspectiva, Simmel (2006, p. 40) evidencia as diferenças entre o ser individual e os grupos sociais. No primeiro caso, o indivíduo é pressionado, de todos os ângulos, por sentimentos, impulsos e pensamentos contraditórios, sendo assim, este sujeito não saberia decidir com segurança interna entre as diferentes possibilidades de comportamento. Já os grupos sociais, mesmo que alterassem com frequência suas orientações de ações, estes estariam convencidos, a cada instante e sem dúvidas, de uma determinada orientação, avançando assim continuadamente, além do mais, saberiam sempre quem deveriam ter como inimigo e quem deveriam considerar como amigo. Para ilustrar tal imbricamento, o autor esclarece que os grupos sociais possuem objetivos mais definidos do que os individuais. Assim, a massa social desconhece o dualismo e as hesitações, já que, seus objetivos correspondem aqueles que os sujeitos apresentam como os mais primitivos e simples. Nas palavras de Simmel: Essa proposição se origina no fato de que os objetivos do espírito público, de uma coletividade em geral, correspondem àqueles que o indivíduo deve apresentar para si mesmo como os mais fundamentalmente simples e primitivos. A esse respeito, só nos engana o poder que tais objetivos adquirem, por meio da expansão de seu domínio e da técnica altamente complexa com o qual o ente público moderno realiza tais objetivos, mediante a aplicação de inteligências individuais (2006, p. 41). A concepção de sociabilidade exposta pelo teórico alemão parte do pressuposto de que a sociedade significa a interação entre os indivíduos, comportando uma distinção entre forma e conteúdo. Assim, essa interação origina‐se a partir de determinados impulsos ou da busca de certas finalidades, tais como, instintos, interesses objetivos, impulsos religiosos, objetivos de defesa, ataque, jogo, conquista, ajuda, doutrinação entre outros exemplos destacados pelo autor. (2006, p. 59‐60). Não há socialização sem interação entre os indivíduos. Simmel menciona que a interação não existe sem a espontaneidade. Mas para poder se interagir é preciso existir certas regras previamente definidas, sem as quais a interação seria inócua. Como exemplo de regras implícitas na interação tem‐se a linguagem. Não são as instituições que X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari constroem essas regras, mas sim através de ações e impulsos individuais. O que está na base da interação humana é a linguagem ordinária. Segundo Simmel, tanto as características semelhantes, quando as diferenças existentes entre os indivíduos são centrais na existência do ser humano. Porém, é a diferença o grande marcador de sentido das nossas atividades. Segundo ele: O interesse pela diferenciação chega a ser grande o suficiente para produzi‐la na prática, mesmo onde não haja nenhum motivo objetivo para isso. Percebe‐se, assim, que associações – desde grupos legislativos até agremiações com fins de diversão – com pontos de vista e objetivos unificados, após algum tempo, se desmembram em facções que se relacionam entre si da mesma maneira que, quando unidos, se mobilizariam contra um grupo de tendência radicalmente diferente. (SIMMEL, 2006, p. 46). Diante dessas considerações simmelianas (2006, p. 60), o sujeito ao estabelecer uma relação de convívio, de atuação em relação ao outro, com o outro e contra o outro, em um estado de correlação com o outro, está exercendo efeito sobre os demais e também sofrendo efeitos destes. De um modo geral, essas interações significam que os portadores individuais dos impulsos e finalidades compõe uma unidade, ou seja, uma sociedade. Para Simmel, o estudo da sociabilidade permite compreender a estrutura da sociedade, bem como, as formas de interação entre os seres humanos. O autor destaca o elemento da sociação, conceituando este como a forma pela qual os sujeitos se agrupam em unidades que satisfazem seus interesses. Toma por base a categorias sociológicas, definindo a sociabilidade como a forma lúdica de sociação ‐ algo que se comporta da mesma maneira como a obra de arte se relaciona com a realidade. O respectivo autor define que: [...] simultaneamente, como conteúdo e matéria da sociação, tudo o que existe nos indivíduos e nos lugares concretos de toda realidade histórica como impulso, interesse, finalidade, tendência, condicionamento psíquico e movimento nos indivíduos – tudo o que está presente nele de modo a engendrar ou mediatizar os efeitos sobre os outros, ou a receber esses efeitos dos outros (SIMMEL, 2006, p. 60). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Assim, a fome, o amor, o trabalho, a técnica, a religiosidade são elementos individuais, todavia transformam‐se em fatores sociais quando estabelecem interações com o contexto social, ou seja, a partir da sociação. Simmel exemplifica que a sociação é a forma – que se realiza de maneiras distintas – na qual os indivíduos, em razão de seus interesses – sensoriais, ideais, momentâneos, duradouros, conscientes, inconscientes, movidos pela causalidade ou teleologicamente determinados –, se desenvolvem em conjunto em direção a uma unidade no seio da qual esses interesses se concretizam. Ademais, destaca que esses interesses formam a base da sociedade humana (2006, p. 60 – 61). Nessa perspectiva Simmel define a sociação como sendo a forma pela qual os indivíduos se reúnem para constituírem uma unidade, com o objetivo de satisfazerem seus interesses e anseios, sendo forma e conteúdo, na experiência concreta, elementos inseparáveis. Para Simmel o foco está na interação. O conceito de socialização é expresso como sociação, ou seja, a sociedade já parte da interação entre os indivíduos. A sociedade é uma constituição humana mediante interação e isso se dá na sociação entre os pares. A sociedade é um complexo de interações. Para melhor compreensão o sociólogo alemão traz um exemplo referente ao processo de sociação, afirmando que no momento em que os homens encontram‐se em reuniões econômicas, em comunidades de culto ou até em bandos de assaltantes, essas são situações resultantes das necessidades e de interesses específicos destes indivíduos, deste modo, essas formas de sociações são seguidas por sentimento e por uma satisfação de estar justamente socializado (2006, p. 64). A sociedade é feita pelos indivíduos e os indivíduos são a sociedade. Esses elementos são articulados entre si e não dicotômicos. Simmel faz um esforço para não conceber a sociedade e o indivíduo como seres dicotômicos. A sociedade e o sujeito estão para a interação, e ela que define os dois. Em outras palavras o autor em estudo menciona que: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari A sociabilidade, mesmo a mais primitiva, quando assume qualquer sentido e consistência, de grande valor à forma, à “forma correta”. Pois a forma é a mútua determinação e interação dos elementos pelos quais se constrói uma unidade. Posto que, para a sociabilidade, se colocam de lado as motivações concretas ligadas à delimitação de finalidades da vida, a forma pura, a inter‐relação interativa dos indivíduos, precisa ser acentuada com o máximo de força e eficácia (SIMMEL, 2006, p. 64 ‐ 65). Outra questão abordada por Simmel refere‐se ao mundo artificial da sociabilidade, isto é, um mundo em que é possível haver uma democracia sem atritos entre iguais, é um mundo caracterizado pela artificialidade, construído a partir de seres que almejam produzir exclusivamente entre si mesmos essa interação pura que não seja desequilibrada por nenhuma tensão material (2006, p. 70). Nesse sentido, Simmel considera que: Seria um erro imaginar que entramos na sociabilidade puramente como “seres humanos”, como aquilo que realmente somos, deixando de lado todas as atribulações, as idas e vindas, os excessos e as carências com as quais a vida real deforma a pureza de nossa imagem. Isso acontece porque a vida moderna está saturada de conteúdos objetivos e exigências práticas. Uma vez que nos desfazemos deles no círculo sociável, acreditamos retornar à existência natural de pessoa. Mas com isso esquecemos que o homem sociável é constituído por este aspecto pessoal, não em seu caráter específico e em sua plenitude natural, mas somente a partir de uma certa reserva e de uma estilização (2006, p. 70). É importante mencionar sobre o jogo de faz de conta, em que Simmel (2006, p. 71) não o considera mentira, afirmando que o jogo só se torna mentiroso quando a ação sociável e o discurso se tornam simples instrumento das intenções e dos acontecimentos da realidade prática. Ademais, ressalta que é correto e sistemático somente dentro do caráter da vida autônoma da sociabilidade, caso contrário, transforma‐se em mentira decepcionante quando o fenômeno é guiado por objetivos não sociáveis, ou ainda tem por intenção disfarçar tais objetivos, algo que o emaranhado na prática da sociabilidade pode facilmente seduzir com os eventos da vida real. Como esclarece tal citação, os processos de socialização são influenciados pelos objetivos e intenções que cada indivíduo possui, sendo assim, podem ocorrer processos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari significativos de interações como podem acontecer interações vazias de sentido. De acordo com Simmel: Toda sociabilidade é um símbolo da vida quando esta surge no fluxo de um jogo prazeroso e fácil. Porém, é justamente um símbolo da vida cuja imagem se modifica até o ponto em que a distância em relação à vida o exige. Da mesma maneira, para não se mostrar vazia e mentirosa, a arte mais livre, fantástica e distante da cópia de qualquer realidade se nutre de uma relação profunda e fiel com a realidade. Ainda que a arte se ponha acima da vida, ela se situa acima da vida. Caso a sociabilidade corte totalmente os laços que a unem com a realidade da vida ‐ a partir da qual ela entrelaça uma teia totalmente estilizada e diferente ‐, ela deixa de ser um jogo (Spiel), e passa a ser uma frívola brincadeira (Spielerei), com formas vazias, em um esquematismo sem vida e orgulho disso (2006, p. 80). Simmel em seus escritos aborda a conversa como um importante suporte do processo de interação, pois através da conversa ocorrem trocas de conteúdos entre os sujeitos. O conteúdo da conversa sociável precisa ser interessante, cativante e até mesmo significativo. Dessa forma, uma conversa só é sociável, de acordo com o sentido interno, se o conteúdo, com todo o seu valor e estímulo, encontra sua legitimidade, seu lugar e sua finalidade no jogo funcional da conversa enquanto tal, na forma de troca de ideias, com seu significado específico e autorregulador (SIMMEL, 2006, p. 76). Por outro lado, o autor analisa a sociabilidade como sendo uma forma lúdica dos problemas éticos e destaca algumas soluções, afirmando que: A sociabilidade é também a forma lúdica das forças éticas da sociedade concreta. Os grandes problemas que se colocam para essas forças são: o fato de que o indivíduo tenha de se adequar a um contexto comum e viver para ele; mas também que os valores e aspectos relevantes devem refluir para o indivíduo justamente a partir desse contexto; o fato de que a vida do indivíduo seja um desvio com relação aos fins do conjunto; mas que a vida do conjunto, por sua vez, também seja um desvio para os fins do indivíduo (2006, p. 77 – 78). Desse modo, a sociabilidade pode abarcar aspectos positivos ou negativos, dependendo do processo de interação que for estabelecido. Simmel (2006, p. 82) observa que é exatamente o homem mais sério que obtém da sociabilidade um X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari sentimento de libertação e alívio, pois ele desfruta de uma troca de efeitos que representam, sublimadas, todas as tarefas e toda a seriedade da vida. Retrata‐se nesta análise teórica a socialização enquanto processo de interação estabelecido através de práticas sociais que surgem a partir das necessidades e interesses de cada indivíduo ou grupo social. Por outro lado, o conceito salientado por Simmel leva em conta o contexto social existente no início do século XX, desse modo, a sociedade da época estava imersa numa cultura em que os processos de socialização concentravam‐se em experiências e vivências concretas. Já o contexto social contemporâneo possui particularidades que diferenciam‐se dos aspectos salientados pelo sociólogo alemão. 2. Novo padrão de sociabilidade pelo individualismo em rede – sob o olhar de Manuel Castells Estamos vivendo num contexto no qual as novas tecnologias estão imergindo de forma significativa nos espaços sociais e em nossas vidas. Dos tempos remotos aos dias atuais a tecnologia vem trasladando novas ferramentas de socialização de maneira jamais vista. Para adentrarmos neste campo de estudo da cibercultura, tomaremos os ensinamentos de Manuel Castells, que é um sociólogo espanhol, nascido nos anos de 1942, conhecido por pesquisar a sociedade da informação. A obra do Autor Manuel Castells, denominada de Galáxia da Internet, traz reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Nessa perspectiva CASTELLS (2003, p. 98) menciona que o surgimento da internet trouxe uma forma de ascensão de novos padrões de interação social. Essa ferramenta passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da era da informação. Há uma necessidade natural do ser humano viver em sociedade, estar permanentemente se relacionando com outras pessoas, o que de maneira geral pode ser concebido pela sociabilidade. Percebe‐se que na contemporaneidade as pessoas estão vivendo num ritmo bastante acelerado de atribuições pessoais e profissionais, não tendo mais o hábito ou tempo de se interagir pessoalmente, para bater um papo, se reunir em família para uma conversa, ir ao clube, se encontrar com os amigos, pois parece que o X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari tempo está comprometido com a cibercultura na utilização de computador, tablet, celular, iphone, ipad, realizando dessa forma, várias atividades ao mesmo tempo como estudar, pesquisar, trabalhar, como também, se comunicar e interagir com outras pessoas através de redes com a ferramenta da internet. Quanto à criação de redes, Catells relata que: A formação em rede é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando‐se em redes de informações energizadas pela internet. As redes têm vantagens extraordinárias como ferramentas de organização em virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade inerentes, características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em rápida mutação (2003, p.7). Esse relacionamento em rede faz nascer uma nova forma de socialização virtual utilizando a internet. Percebe‐se então a criação acelerada de redes sociais, sites de relacionamentos, dentre outros diversos aplicativos de imersão de novas formas de se comunicar e interagir sem que precise estar perto um do outro. Nesta perspectiva, podem‐se observar na prática as mudanças do perfil da sociedade da contemporaneidade, tendo novos interesses e curiosidades na cibercultura. Os estudos da obra Homo Zappiens: educando na era digital, dos autores Wim Veen e Ben Vrakking, definem a nova geração que se desenvolveu em meio às novas tecnologias e está emersa no contexto social chamada de Homo Zappiens. O Homo Zappiens é aquele que está imerso na era digital em um mundo de mudanças constantes, representando uma nova geração conectada em redes tecnológicas. Os sujeitos da atualidade cresceram usando inúmeros recursos tecnológicos desde a sua infância, tais como, o controle remoto da televisão, o mouse do computador, telefone celular, o iPod e o aparelho de mp3, entre outros. Todos esses recursos contribuíram para as mudanças do perfil da sociedade, tendo em vista que são multifuncionais, pois interagem com várias informações ao mesmo tempo. Catells (2003, p.8) menciona que “a internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global”. Percebe‐se que o uso da cibercultura como sistema de X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari comunicação e interação tem crescido em grande escala nas últimas décadas. A esmagadora maioria de seus usos da internet (p.99) está ligada ao trabalho, à família e à vida cotidiana. Isso revela que a internet foi apropriada pela prática social. Fato é que as relações on‐line não substituem as relações sociais existentes. O contexto social não se alterou substancialmente com o uso da internet, observa‐se que seu uso apenas apontou novas possibilidades de interação social, reconfigurando as práticas sociais, educativas, familiares e institucionais. Na medida em que a cibercultura foi se difundindo e tomando espaço na sociedade, foram surgindo novos meios de interação social entre os indivíduos, consequentemente aumentando as fontes de informações. Castells (2003, p. 102, apud Howarr, Rainie, Jones, 2001) traz que “o uso do e‐mail aumenta a vida social com a família e amigos, e amplia os contatos sociais gerais, após o controle de possíveis variáveis intervenientes que não o uso de e‐mail”. Castells (2003, p. 103) relata em sua obra uma pesquisa realizada por Hampton e Wellman (2000) quanto ao uso da internet banda larga em 120 residências, na cidade de Netville, no Canadá, das quais 65% das famílias aceitaram realizar o estudo, o que tornou possível fazer uma comparação com os usuários e não usuários da internet naquele subúrbio. Os dados apurados pelos pesquisadores foram os seguintes: Constatou‐se que os moradores de “Netville” que eram usuários da internet tinham um número mais elevado de laços sociais fortes, de laços fracos, e de relações de conhecimento dentro do bairro e fora dele, do que os que não tinham conexão com a internet. O uso da internet aumentava a sociabilidade tanto à distância quando na comunidade local. As pessoas estavam mais a par das notícias locais pelo acesso ao sistema de e‐mail da comunidade que servia como um instrumento de comunicação entre vizinhos. O uso da internet fortalecia relações sociais tanto a distancia quanto num nível local para laços fortes e fracos, para fins instrumentais ou emocionais, bem como para a participação social na comunidade (CASTELLS, 2003, p. 103). Os dados apresentados na pesquisa apontam que o uso do e‐mail é uma ferramenta de interação social fortemente utilizado para se comunicar e manter laços sociais em família, amigos, parentes, trabalho, estudo, etc. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari De acordo com Castells (2003, p. 106), isso não quer dizer que a sociabilidade lastreada num lugar físico vá deixar de existir, mas que novas formas de comunicação estão emergindo com a tecnologia da informação lastreada na cibercultura. Continua o autor mencionando que: De fato, é a crescente diversidade dos padrões de sociabilidade que constitui a especificidade da evolução social em nossas sociedades. [...] para se compreender as novas formas de interação social na internet seja tomar por base uma redefinição de comunidade, dando menos ênfase a seu componente cultural, dando mais ênfase a seu papel de apoio a indivíduos e famílias, e desvinculando sua existência social de um tipo único de suporte material. (CASTELLS, 2003, p. 106) As pessoas ligadas em redes tendem a se interagir de forma rápida e em tempo real sem que para isso precisem estar próximas uma das outras. Castells (2003, p. 107) dispõe que as “redes são montadas pelas escolhas e estratégias de atores sociais, sejam indivíduos, família ou grupos sociais. Dessa forma, a grande transformação da sociabilidade em sociedades complexas ocorreu com a substituição de comunidades espaciais por redes como formas fundamentais de sociabilidade”. Contextualiza dizendo que o novo contexto de sociabilidade em nossa sociedade é caracterizado pelo individualismo em rede. Para Castells (2003, p. 109) o mais importante papel da internet no contexto das relações humanas é a sua contribuição para o novo padrão de viver em sociedade baseado no individualismo. “Assim, não é a Internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como forma dominante de sociabilidade”. Os indivíduos constroem e abandonam suas redes de acordos com suas vontades, interesses, valores, afinidades e objetivos. Para Catells (2003, p.109) o individualismo em rede não pode ser entendido como um indivíduo isolado, mas sim como um padrão social, fazendo parte de um novo conceito de sociedade, por intermédio da cibercultura. Percebe‐se que a internet vem propiciando cada vez mais a criação de redes formadoras de comunidades virtuais, como também vem contribuindo para congregar amigos, família e até mesmo aproximando pessoas desconhecidas. Aborda o autor que: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da internet, a interação social on‐line desempenha crescente papel na organização social como um todo. As redes on‐line, quando se estabilizam em sua prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização (CASTELLS, p. 109). A era da internet contribuiu fortemente para o surgimento de uma nova ferramenta de interação social calcada na cibercultura, considerada de comunidades virtuais em rede, mas, no entanto, em nossa concepção, jamais vai deixar de existir a socialização física entre os indivíduos. Percebe‐se que em nossa sociedade a existência de uma comunicação híbrida entre os indivíduos, às vezes se interagindo num lugar físico e noutros momentos se comunicando em rede ‘ciberespaço’, seja para o trabalho, lazer, estudo, bate‐papo, relacionamento, entretenimento, dentre outros interesses. Para mostrar uma estreita conexão existente entre as sociedades on‐line e off‐line, cada qual com suas especificidades e razões de existir, formando, contudo um processo social que não mais se dissolverá. Castells (2003, p.110) trouxe uma passagem do pesquisador Gustavo Cardoso (1998) que diz “estamos na presença de uma nova noção de espaço, em que físico e virtual se influenciam um ao outro, lançando as bases para a emergência de novas formas de socialização, novos estilos de vida e novas formas de organização social”. Com o avanço e uso frequente da internet, novos ambientes de comunicação e interação social estão emergindo, comumente conhecido por ciberespaço. Castells (2003, p.110) “reforça que a prática do individualismo em rede pode estar redefinindo as fronteiras e o significado de instruções tradicionais de sociabilidade, com a família”. De fato, a tecnologia veio proporcionar a criação de sociedades em rede, construída engenhosamente através das redes de comunicação da internet. A internet se tornou onipresente em nossas atividades profissionais e pessoais. Castells (2003, p. 111) menciona que essas novas ferramentas tecnológicas evidenciam a possibilidade de o individualismo em rede se tornar a forma dominante de sociabilidade. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari É por meio desses avanços tecnológicos que a cada dia mais há a possibilidade de estabelecer interações on‐line com várias pessoas sediadas em diversas regiões do mundo, em um curto espaço de tempo. Para Castells (2003, p. 111) o surgimento da internet sem fio vai ampliar significativamente as oportunidades de interconexão personalizada de redes, permitindo uma gama variada de situações sociais, proporcionado aos indivíduos uma maior capacidade de reconstruir estruturas de sociabilidade de baixo para cima. O autor continua mencionado que “essas tendências equivalem ao triunfo do indivíduo, embora os custos para a sociedade ainda sejam obscuros. A menos que consideremos que indivíduos estão de fato reconstruindo o padrão da interação social, com a ajuda de novos recursos tecnológicos, para criar uma nova forma de sociedade: a sociedade de rede”. Pelo contexto, percebe‐se que as tecnologias da contemporaneidade alicerçadas na cibercultura propiciaram um novo ambiente de socialização através das sociedades em rede, na qual a internet é tida como um recurso especial dessa comunicação globalizada, que une, interage e conecta todos com todos. A partir da análise, pode‐se afirmar que Simmel e Castells possuem visões que se entrelaçam, trazendo à tona semelhanças e divergências sobre o tema da socialização. Vale destacar novamente que os autores viveram em contextos sociais e históricos diferentes, elaborando suas teorias de acordo com as características presentes nas sociedades de cada época. Propor um diálogo entre as concepções de ambos os autores não é tarefa fácil, todavia é possível elencar alguns pontos comuns e também diferenças acentuadas entre os dois pensamentos. Desse modo, constata‐se que os dois autores defendem que a socialização é um processo que se desenvolve de modo permanente na vida humana, desde a infância até a velhice, através de vivências, experiências, interações e comunicações com outros sujeitos. A socialização é um processo inconcluso de relações humanas que se caracteriza pela dinamicidade e complexidade de suas interações. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Ambos os autores demonstram afinidades no que diz respeito ao conceito de socialização, porém há divergências quanto ao modo pelo qual é realizado o processo de socialização entre os indivíduos, visto que, os interesses e as necessidades dos sujeitos de cada época possuem diferenças acentuadas. Na época de Simmel não havia recursos tecnológicos como hodiernamente. Já no contexto de Castells as novas tecnologias espalham‐se rapidamente, adentrando em todos os ambientes sociais. Na abordagem de Simmel há um destaque para a artificialidade das relações humanas, ou seja, dependendo da intenção/objetivo do sujeito, corre‐se o risco de ocorrer uma socialização artificial, vazia de sentido. Neste ponto, apesar de Castells ter vivido em tempos diferentes, sua posição se distancia de Simmel, na medida em que acredita que as interações entre os indivíduos podem ocorrer em diversos lugares do mundo sem a necessidade de estarem próximos uns dos outros. Essa conexão se dá apartir das redes sociais conectadas a computadores, celulares, smartfones, tablet, entre outros aparelhos conectados a internet. Castells acredita que essa socialização não se tornaria artificial, infrutíferas e sem sentido, pois apesar dessas interações ocorrerem em sistemas de redes, do outro lado existe uma pessoa física dotada de valores, vontades e estímulos. Virtual é a rede, mas não a maneira e a forma de se socializar. Considerações Finais Neste artigo, objetivamos apresentar o conceito de sociabilidade elaborado em diferentes épocas e contextos, pelos sociólogos Georg Simmel (1858 – 1918) e Manuel Castells (1942), estabelecendo aproximações e ou distanciamentos entre os pesquisadores. Pode‐se dizer que tanto Simmel, quanto Castelles estabelecem que a sociabilidade deriva de certas condições inerentes a várias combinações interacionais acionadas a partir de grupos e classes sociais, sintetizadas na própria sociedade. A sociedade se constitui mediante a interação entre os indivíduos. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Para Simmel essa interação se dá quando os homens são levados por seus impulsos, permitindo se associar com diversos outros indivíduos, com vistas a satisfazer suas necessidades e gostos. Há uma relação recíproca entre o indivíduo e a sociedade, ou seja, existe uma necessidade natural do homem se relacionar e ao passo que ele se relaciona ele se socializa, tornando‐se um ser sociável. Nessa perspectiva o grupo estabelece interações concretas a partir de reuniões familiares, em comunidades, cultos religiosos, entre outros lugares que resultam de interesses específicos, permitindo uma satisfação social de estar se socializando. Desse modo, as pessoas são socializadas ao mesmo tempo em que se socializam. Percebeu‐se no texto que a concepção de Castells não se distancia muito dos conceitos trazidos pelo sociólogo Simmel, mas sim, destaca que a tecnologia da informática permitiu outras formas de socializar os indivíduos, através da interação de comunidades em redes, fazendo uso da internet. A engenhosidade da tecnologia agindo em favor da socialização humana, ou seja, uma nova forma social surgiu através da sociedade em rede. Essas comunidades em redes são criadas e interagidas entre os indivíduos por diversos lugares do mundo. Essa sociação em redes permite que os indivíduos interajam uns com os outros membros do grupo de forma significativa, sem a necessidade de estar próximo, mas de qualquer sorte, quanto mais interação existir na mesma rede do grupo, mais sociedade ela se torna. O ciberespaço permite a comunicação virtual de várias pessoas ao mesmo tempo partindo de um único ponto com o resto do mundo, através da internet. As escolhas das comunidades em redes vão ao encontro de interesses e objetivos de cada sujeito, entrando e saindo das redes quando lhe convenha, mantendo assim uma relação afetiva de gostos, valores e desejos, com os demais membros do grupo. Destaca‐se que o individualismo em rede reflete um novo contexto de sociabilidade. Ocorre que as novas tecnologias não vieram e nem poderiam acabar com as relações sociais até então existentes, onde os indivíduos apenas se socializavam X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari através de interações pessoais, mas permitiu que outras formas de socialização fossem surgindo e tomando espaço na sociedade através das comunidades virtuais em redes. A sociedade contemporânea está cada vez mais fazendo uso dessas novas ferramentas de interação, através da cibercultura para aumentar a vida social com parentes, amigos, familiares, vizinhos, permitindo a comunicação on‐line sem que para isso precise estar próximos uns dos outros, reconfigurando assim, novas práticas sociais, educativas e institucionais. Vislumbra‐se que não houve alteração na concepção do termo socialização dialogada ao longo dos anos pelos sociólogos, o que se contextualiza são as mudanças significativas nos meios e formas de interação entre os indivíduos, visto que, a imersão dessas novas tecnologias ressignificaram a maneira pela qual os sujeitos estabelecem suas interações. O avanço tecnológico, calcado na internet, fez surgir um espaço virtual em redes, onde os sujeitos se relacionam, se interagem, se comunicam, trocam experiências e ideias, e até mesmo se conhecem, sem a necessidade de estar próximos uns dos outros. A interação é um elemento estruturante da sociabilidade que pode ser dado por diversas formas e maneiras. Nesse sentido, a era digital, permitiu aos indivíduos da contemporaneidade, novos meios de ação e convívio social, quer seja no trabalho, nos estudos, na família, na diversão, no lazer, na amizade, no relacionamento, no entretenimento, que podem se dissociar do ambiente físico como ocorria no passado. Esses avanços tecnológicos, de convívios sociais em redes, podem ser caracterizados como uma importante e inovadora ferramenta entre o ensino e a aprendizagem, através dos quais os alunos poderão trocar experiência, ideias e conhecimentos, em larga escala, uns com os outros, de diferentes lugares do país e do mundo. A informação sendo processada em tempo real a disposição dos indivíduos. Sintetizando as ideias e ensinamentos dos autores sociólogos Simmel e Castells, salienta‐se que o conceito de sociabilidade jamais se esgotará, mas sim, acompanhará e se adaptará em conformidade com a evolução da humanidade nos diversos momentos e contextos sociais. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.17
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AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CONTEMPORANEIDADE AGINDO COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA SOCIABILIDADE NA ERA DIGITAL: uma análise de conceitos elaborados em diferentes épocas e contextos Rafael Pavan ‐ Marina Miri Braz Beccari Referências CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e sociedade; tradução Pedro Caldas. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. VEEN, Wim; VRAKKING, Ben. Homo Zapiens: educando na era digita. Porto Alegre: Artmed, 2009. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.18
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