Sociabilidade, Grupos Sociais e Socialização

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Sociabilidade, Grupos Sociais e
Socialização
1 SOCIABILIDADE
1.1 SOCIABILIDADE
O homem é um ser social. A longa dependência da criança, desde o nascimento, das figuras dos pais, lavaa a desenvolver todas as capacidades (inteligência, memória, linguagem, pré-disposições, etc) na relação
com o outro. Toda criança é dotada de instrumentos intatos que favorecem o contato com outras pessoas,
que irão influenciar a trajetória de vida dela. Aquilo que inicialmente é uma necessidade de relação,
indispensável para sua sobrevivência física, torna-se rapidamente necessário para sua sobrevivência
psicológica. Sua saúde mental e seu equilíbrio emotivo dependem da qualidade de suas relações com o
mundo externo.
Para compreendermos mais claramente o conceito de sociedade, devemos dar um rápido salto para trás,
para a aurora da civilização humana. A humanidade resistiu às condições ambientais adversas porque
conseguiu alimentar-se, salvaguardar a sua prole e defender-se de animais predadores. A superioridade
das forças da natureza contra uma relativa fragilidade humana tornava indispensável a ação coordenada
de várias pessoas. Portanto, os seres humanos se alinharam em função de um objetivo comum que era a
sobrevivência e através dele coordenaram suas ações em grupo. A divisão de tarefas, a linguagem
necessária para a comunicação, a religião e outras formas de interação social foram criadas tendo em
vista a manutenção e perpetuação do grupo.
Podemos agora voltar desse longo salto que nos levou aos primórdios da humanidade, a fim de chegarmos
à uma definição geral de sociedade como “conjunto de pessoas no qual a vida comum se caracteriza pela
concordância intencional entre ações e metas dos membros”.
Podemos pensar a sociedade como um contexto de fundo em que se desenvolva a interação humana ou
como palco em que se desenrola uma representação. Ela é uma moldura que contém e dá sentido às
ações que nela se sucedem. Devemos ficar atentos para o fato de que a sociedade não pode, em momento
algum, ser identificada como um conjunto único e indistinto, porque ela é composta de um conjunto de
subgrupos (instituições, famílias, clãs, parentelas, grupos por sexo e por idade, etc...), que se comunicam
entre si.
Conceitos Importantes
Estrutura social: é o conjunto de pessoas e grupos em interação. As estruturas se diferenciam umas das
outras pelo modo pelo qual os diferentes grupos têm ou não acesso aos recursos. No sistema social, é
evidente que as pessoas ou os grupos que têm a oportunidade de usar e controlar os recursos econômicos,
tecnológicos e culturais se situam numa posição diferente, de mais poder do que os outros. A estrutura
social oferece, portanto, informações sobre a estrutura de poder e sobre a dinâmicas do controle social.
Sistema de Valores: É um conjunto de modelos e de ideais coletivos da sociedade. Esses valores, que
podem ser morais, religiosos, culturais e individuais, influenciam o modo de exprimir e satisfazer as
necessidades e determinam os critérios d avaliação das pessoas e de julgamento de suas ações.
1.2 GRUPOS SOCIAIS
Se você percorrer os acontecimentos cotidianos, ou de um único jeito qualquer de sua vida, perceberá
que participou e/ou interagiu com diversos grupos diferentes. Provavelmente terá sentido mais afinidade
com alguns deles e terá participado mais com eles do que com outros.
Na sociedade há diversos grupos que se integram, se compenetram e se sobrepõem uns aos outros, todos
com caraterísticas diferentes. Pensemos em alguns grupos que fazem parte do nosso dia-a-dia: família,
turma de escola, colegas de trabalho, time de futebol, grupos políticos, igrejas, etc...
Há variáveis que nos permitem classificar os diversos grupos e se referem a três ordens de grandeza:
1. Número de membros: basicamente a quantidade de pessoas que compõem determinado grupo,
sendo impossível determinar qual seria o número máximo de pessoas necessárias para
caracterizar um grupo. O número dos membros incide sobre o desenvolvimento das relações e da
comunicação e influencia a qualidade dessas relações. Quando o número de membros é tão
elevado que impede o relacionamento direto entre eles, há necessidade de uma cultura comum
que promove unidade e identificação dos diferentes membros.
2. Interação e comunicação: para que seja criado um grupo é indispensável que se desenvolvam
entre seus membros interações regulares que, por sua vez, se baseiem numa rede adequada de
comunicações. É importante, porém, que essas relações se fundem sobre algo significativo para
todos os membros.
3. Comunhão de valores e metas: eles representam o aglutinamento que mantém unidos os diversos
membros do grupo, que os faz interagir com uma finalidade e que torna significativas suas ações.
As metas representam a concretização dos valores que formam a base das escolhas do grupo.
Um conjunto de pessoas não forma necessariamente um grupo. Pense na fila de supermercado: um
conjunto de pessoas que, devido à proximidade física, estão casualmente próximas e podem acabar de
engajando numa conversa ou outra por razões de cordialidade ou para passar o tempo. Estão todos
agrupados em virtude de um objetivo individual, não procuram nenhum tipo de coesão ou identificação
entre os membros daquela fila. Acaso.
Portanto, o grupo social pode ser definido como um agregado de seres humanos no qual (1) existem
relações específicas entre os indivíduos que o compreendem e (2) cada indivíduo tem consciência do
próprio grupo e seus símbolos. Em suma, um grupo tem pelo menos uma estrutura e organização
rudimentares e uma base psicológica da consciência de seus membros. Uma família, uma aldeia, uma
associação esportiva, um sindicato ou um partido político são, cada qual, um grupo nesse sentido. O
entanto existem também grupamentos mais amplos de indivíduos – uma tribo, uma nação ou um império
– e os sociólogos em geral sempre fizeram distinção entre essas entidades, concebidas como “sociedades
inclusivas” e os grupos menores existentes dentro delas. Alguns autores também identificaram uma
terceira categoria de “quase grupos”, caracterizada por relações mais tênues entre os membros, menor
consciência de grupo e talvez uma existência mais fugaz, indicando, como exemplos desse fenômeno,
multidões ou turbas, agregados por idade ou sexo e classes sociais. Nesse último caso as caraterísticas
comuns dos indivíduos podem se tornar base para ação comunal e talvez cristalizar-se em grupos
organizados. A partir de vários pontos d vista, portanto, o estudo de grupos pode lançar luz sobre algumas
questões fundamentais do pensamento social, com respeito à relação entre indivíduo e sociedade, às
fontes de solidariedade e estabilidade social e aos pré-requisitos de uma ordem democrática. (Ver
também o conceito de sociedade) 1.
1.3 A SOCIALIZAÇÃO
A socialização é um fenômeno necessário para a integração de um indivíduo à sociedade. Para os
sociólogos, a socialização é o processo pelo qual o impotente bebê humano gradualmente se torna uma
pessoa autoconsciente e culta, hábil nos modos da cultura em que nasceu. A socialização dos jovens
possibilita o fenômeno mais geral da reprodução social – o processo pelo qual as sociedades mantêm
continuidade estrutural ao longo do tempo. No decorrer da socialização, especialmente nos primeiros
anos de vida, as crianças aprendem os modos dos mais velhos, perpetuando valores, normas e práticas
sociais. Todas as sociedades têm caraterísticas que perduram por longas extensões de tempo, mesmo
que seus membros morram e nasçam novas pessoas. As sociedades têm muitos aspectos sociais e
culturais característicos, que persistem há gerações – entre eles, as diferentes línguas faladas por seus
membros.
Como os sistemas familiares variam amplamente, a variedade de contatos familiares que o bebê tem não
é padronizada nas diferentes culturas. Em toda parte, a mãe costuma ser o indivíduo mais importante no
início da vida da criança, mas a natureza dos relacionamentos estabelecidos entre as mães e seus filhos é
influenciada pela forma e regularidade de seu contato, que é condicionada pelo caráter das instituições
familiares e sua relação com outros grupos da sociedade.
[...] [Apesar de haver variações], a família normalmente continua sendo a principal agência de socialização
da primeira infância à adolescência e além dela – em uma sequência de desenvolvimento que conecta as
gerações. (Texto Adaptado de: GIDDENS, A. Sociologia. Rio de Janeiro: Editora Penso, 2012.
1
Verbete adaptado do Dicionário do Pensamento Social do século XX. Outhwaite e Bottomore, 1996.
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