2. Atuação do Psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva

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Sumário
1. Introdução ............................................................................................................... 1
1.1. O que é um Serviço de Terapia Intensiva? ....................................................... 2
1.2. Os Aspectos Psicológicos e Psiquiátricos evidenciados na U.T.I. .................... 3
2. Atuação do Psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva ......................................... 6
2.1. Condições que favorecem a sua presença e quais os benefícios ..................... 6
2.2. Condições estressantes observadas na UTI de Impacto Emocional Evidente .. 6
2.3. Possíveis intervenções: Tentando reverter o quadro ........................................ 8
2.4. Psicoterapia Breve e sua Aplicabilidade na Unidade de Terapia Intensiva ....... 8
2.5. Técnicas de Psicoterapia Breve Dinâmica utilizadas na UTI ............................. 9
3. Objetivos a serem alcançados na UTI pelo psicólogo da Saúde........................... 11
Referências bibliográficas ......................................................................................... 12
1
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR EM
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA – ADULTOS
Therezina Maria Di Biaggi1
1. INTRODUÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva é um recurso hospitalar destinado ao
tratamento de graves enfermidades. O paciente crítico – o cliente desta Unidade – é
especial pelas suas condições, e por toda a demanda de cuidados que lhe são
propostos ou “impostos” - os cuidados intensivos.
O intensivismo é uma especialidade voltada completamente a este paciente,
que não está internado somente por um comprometimento específico, mas um
comprometimento sistêmico, em todo o seu organismo.
O que inicialmente se observa é que, através desta especialidade – tão
comprometida com a vida – o contraponto desta proposta de reversibilidade, das
óbvias condições de possível morte do paciente às condições de recuperação e total
reabilitação, é o quanto este tratamento é doloroso e confuso (não raro ambíguo)
para o paciente e sua família.
Sue, D.Y. e Bongard, F.S. (1996) afirmam que o cuidado ao paciente crítico é
único entre as especialidades da medicina. Enquanto outras especialidades
estreitam o foco de conhecimento e interesse para um particular tipo de terapia, ou
um particular grupo de idades, a medicina intensiva é dirigida à pacientes com ampla
variedade de patologias, cujo denominador comum é a extrema severidade da
patologia ou o potencial para o desenvolvimento de severas complicações da
doença. Isto envolve o risco de vida. Estes pacientes são, desta maneira,
improváveis para terem reservas normais de funcionamento e seus problemas
orgânicos podem levá-los a falências sistêmicas (renal, pulmonar, cardíaca, sistema
nervoso central).
A Unidade de Terapia Intensiva tem, então este propósito, conter as
complicações em pacientes críticos através de um tratamento de cuidados
intensivos.
1
Therezina Di Biagi:
Psicóloga supervisora do Serviço de Psicologia Hospitalar-Hospital Brigadeiro São Paulo, e
supervisora do Serviço de psicologia do Hospital do Servidor Público Municipal de S. Paulo.
Mestre em Psicologia Clínica – PUC /SP
Professora do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar – Nêmeton CEPPS.
Professora do Curso de Especialização em Medicina Psicossomática – Associação Brasileira de
Medicina Psicossomática – Reg. S. Paulo
2
1.1. O que é um Serviço de Terapia Intensiva?
Seguindo os regulamentos que regem a estrutura administrativa dos hospitais
que possuem U.T.I. ou S.T.I., este concentra os recursos humanos e materiais
necessários ao adequado atendimento aos pacientes, cujo estado clínico exige
cuidados médicos e de enfermagem – constantes, especializados e ininterruptos.
Seu objetivo principal é restabelecer, nestes doentes considerados graves, o
funcionamento de um ou vários sistemas orgânicos, gravemente alterados, até que a
patologia que motivou a internação seja adequadamente compensada ou até que os
parâmetros fisiológicos atinjam níveis aceitáveis.
Existem critérios para a admissão de pacientes no C.T.I., U.T.I., ou S.T.I. e
são assim especificados, por esta ordem abaixo estabelecida:

Pacientes para os quais a probabilidade de sobrevida sem U.T.I. é pequena,
porém com U.T.I. é grande;

Pacientes para os quais a probabilidade de sobrevida sem U.T.I. é pequena,
porém com U.T.I. pode ser grande;

Pacientes que não estão gravemente enfermos, mas que possuem um alto
risco de se tornarem. A necessidade de cuidados intensivos se justifica para
prevenir graves complicações ou tratá-las;

Pacientes com pequena probabilidade de sobrevida apesar dos recursos
disponíveis na U.T.I.
No início do intensivismo, os pacientes obituavam em 24 horas. Daí a U.T.I.
ter como metáfora à relação direta com a morte, dor e desespero.
Hoje, a U.T.I. pode manter o paciente com chances de recuperação por um
tempo médio de 10 dias até um tempo indeterminado, para que se possa
restabelecer o equilíbrio orgânico – dando a continuidade ao tratamento possível.
Porém, a U.T.I. tem uma rotina de 24 horas contínuas, e atendimento
praticamente individualizado, mas permeado de constantes situações de
emergência. Os procedimentos para com os pacientes, indubitavelmente, com
raríssimas exceções, são invasivos.
Ao mesmo tempo em que favorece as possibilidades de recuperação
orgânica, traz toda uma gama de situações, que atuam como desestabilizantes para
o equilíbrio psicológico, incluindo alterações psicológicas e psiquiátricas – também
desencadeadas por situações ambientais.
3
1.2. Os Aspectos Psicológicos e Psiquiátricos evidenciados na
U.T.I.
Sampaio, A. (1988) considera a possível ruptura entre a normalidade psíquica
anterior e a provável alteração pós-internação em U.T.I. Afirma que quando uma
pessoa adoece gravemente, algo em seu sentimento de inviolabilidade se rompe,
constituindo um estreitamento de horizonte pessoal, uma ruptura em muitas das
suas ligações com o seu meio, sua vida real e uma ruptura em muitas das suas
ligações com o seu meio, sua vida real e uma distorção do seu relacionamento com
os demais, frente a esta nova condição. Corpo Físico e referenciais emocionais
estão frágeis. Perceber que, por causa da doença grave se pode ou se está
provavelmente incapaz para os projetos de futuro, constitui um sério golpe.
A internação em uma Unidade de Cuidados Intensivos, invariavelmente se
associa a uma situação de grande risco.
Em termos psíquicos e emocionais mobiliza-se sentimentos extremos como o
medo insuportável, manifestações ansiógenas como a agitação psicomotora, ou a
grave depressão. O clima da Unidade, por características bastante específicas,
acentua sensações e sentimentos de desvinculação, ressentimento, desamparo.
Halm e Alpen (1994) consideram que a contínua evolução da
superespecialização na medicina e a maneira tecnológica de providenciar o cuidado
na Unidade de Terapia Intensiva têm, potencialmente, efeitos perigosos no estado
físico e psicológico de pacientes e familiares. O ambiente da Unidade possui
características indesejáveis que predispõem os pacientes e seus familiares a
seqüelas emocionais.
O impacto da “Bedside Technology”- ou a tecnologia de cabeceira, está
associada a um grande número de seqüelas psicológicas adquiridas no “setting” da
Unidade. O estranho maquinário, as constantes privações, interrupções e privação
de sono, a superestimulação sensorial, sede, dores, abstinência de alimentos
comuns, a alimentação endovenosa ou naso-enteral, a respiração por ventiladores,
a monitorização cardíaca e as sua sinalização, os catéteres, procedimentos
invasivos, a imobilização do paciente e ainda a superlotação de equipamentos no
local, é equivalente de desencadeantes para situações que propiciam alterações
psicopatológicas para o paciente, sua família e para a equipe de saúde.
Eisendrath (1994) considera que muitos pacientes, na tentativa de manejar o
estresse de sua estadia, com mecanismos primitivos de enfrentamento, favorecem a
regressão, manifesta como uma dependência extrema. Os pacientes experienciam
estressores como o medo real da morte, a forçada dependência, as potenciais e
permanentes perdas de função. A separação da família e a perda de autonomia,
freqüentemente, encabeçam e promovem a regressão psicológica. Outros pacientes
podem tentar enfrentar ou lidar com os estressores por supressão de seus
sentimentos, com prejuízos graves para suas condições emocionais. Outros podem
desencadear outras reações, mas insatisfatórias para a equipe como a agitação,
desespero, choro convulsivo, agressões à enfermagem, manobras enfim, que atuam
como poderosos estressores também para o ”staff”, visto estes pacientes estarem
conscientes e emocionalmente frágeis.
4
Ainda aponta que os dois sentimentos, de ansiedade e medo são sensações
muito ruins e associadas a uma não compreensão do estímulo interno além da
proporção dos estímulos ambientais da U.T.I., apreendidos como uma ameaça,
estes aspectos são de difícil distinção, e devem ser discutidos com a equipe para se
obter melhores referenciais. Este autor considera que o medo é extremamente
percebido quando o paciente é admitido na U.T.I., com a consciência do substancial
tratamento que irá fazer, e que, a continuação de sua existência resulta desta
admissão. Neste sentido o paciente pode reagir existencialmente, com sentimentos
reais de desamparo, ao se ver “abandonado” pela família, exatamente neste
momento delicado, pois não há uma compreensão pelo paciente da gravidade do
seu próprio estado, e nem um esclarecimento a ele, no momento da admissão,
sendo esta normalmente abrupta. Podem superficializar sentimentos de revolta por
pressupor que foram omitidos dados reais pelo seu estado ter piorado tanto, ou a
real natureza do seu problema orgânico. Neste sentido, o medo e a ansiedade são
sensações de importante significado, pois podem produzir mudanças fisiológicas,
piorando o quadro do paciente. O autor refere que os níveis de catecolaminas e
corticosteróides podem variar de forma impressionante durante os altos níveis de
ansiedade e pânico, alterando inclusive programações no tratamento (aumento de
pressão, aumento da glicemia, aumento dos batimentos cardíacos). Boucher e
Clifton (1996) também apontam a dor e sua conseqüente reação, a extrema
ansiedade, como condições insuportáveis pelos pacientes no contexto da U.T.I.
Como consequência direta dos traumas ocasionados por acidentes (ou
condições abruptas), os procedimentos cirúrgicos, os procedimentos invasivos, os
grandes e custosos curativos e a longa permanência em U.T.I., a dor que
acompanha estes momentos é uma instância a ser especialmente considerada. Em
casos extremos, a dor, as dificuldades do tratamento, as alterações de sono, mais o
acúmulo destas sensações incontroláveis, podem evoluir para a Síndrome de U.T.I.
– alteração psiquiátrica que pode levar à psicose. Neste sentido é imperativo pensar
ações adequadas para a diminuição da dor, o manejo da ansiedade e o rápido
conforto dos pacientes, como prevenção de sua Saúde Mental.
Drubach e Peralta (1996) referem que a administração dos traumas em
pacientes críticos é uma exigente tarefa. A adição de comportamentos alterados
(psiquiátricos ou emocionais exacerbados) significam problema grave. Referem-se
às anomalias na função psicológica, incluindo perturbações no comportamento, no
humor, no afeto, na percepção e no pensamento. Consideram que severos fatores
afetam o paciente, aumentando a incidência de fatores para os sintomas tornaremse proeminentes. Primeiro, a premorbidade para sintomas são considerados na
população admitida em uma Unidade Cuidados Intensivos, principalmente em uma
unidade de trauma. Em segundo momento, a “irritação cerebral” (cerebral injury)
causada pelo trauma, são causas freqüentes para as alterações psiquiátricas.
Terceiro, as reações psicológicas são inerentes às severíssimas condições médicas
que causaram a hospitalização e também o meio ambiente da U.T.I. Os sintomas
psiquiátricos também podem ser fonte importante de distresse para a equipe e a
família. Sintomas como agitação, psicose e a depressão podem complicar
seriamente o curso da hospitalização e a compreensão do evento que ameaça a
vida, gerando seqüelas de longa permanência.
5
Os autores também sugerem que os médicos na Unidade saibam reconhecer
as complicações psiquiátricas de seus pacientes para providenciar benefícios para
estas condições. Referem que os sintomas psiquiátricos também podem estar
associados a complicações orgânicas (encefalopatias) decorrentes de disfunções
renais, hepáticas, metabólicas, cerebrais. Mas com certa freqüência são reativos,
estão associados às excessivas respostas psicológicas e são potencialmente
desorganizadores. Alguns sintomas como ansiedade exacerbada, agitação
psicomotora, ilusão, alucinação, até a depressão acentuada são reações emocionais
do paciente à doença, e que dependem da severidade da patologia, do impacto
também do tratamento e da hospitalização, e na qualidade do “Estar na U.T.I.”, daí a
importância do caráter realmente humanizador da tarefa.
6
2. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
2.1. Condições que favorecem a sua presença e quais os benefícios
Fatores que mobilizam sentimentos e sensações perturbadoras são referidos
pelos nossos pacientes, seus familiares e pela equipe de saúde constantemente.
São sentimentos angustiantes permanentemente presentes, mas podem ser
compreendidos e neutralizados pela pronta intervenção. Amenizar o impacto da
“bedside technology” ou tecnologia de cabeceira, é premente e importante para a
sobrevivência do paciente crítico.
Estratégias fundamentadas na detecção de distúrbios emocionais pelo
psicólogo e/ou pela equipe de saúde são uma primeira condição. Quando somos
capazes de detectar adequadamente a presença de possíveis transtornos, estes
podem em princípio receber a devida atenção e controle. Apesar desta detecção ser
em função de indivíduos com evidentes quadros de depressão, ansiedade,
abstinência pelo uso de álcool ou drogas, ou problemas psiquiátricos mais graves,
na Unidade de Terapia Intensiva a recomendação preventiva é oportuna, onde todos
os seus profissionais estão atentos ao paciente 24 horas, e podem detectar
componentes psicopatológicos na observação dos seus pacientes. Isto torna então a
atmosfera facilitadora e fator de integração com a equipe, e onde a atuação do
psicólogo pode ser de pronta intervenção, pela sua presença constante e sua
formação voltada para a investigação e análise de quadros comportamentais e
situações de risco. É importante que se ressalte que, a inserção do psicólogo junto à
equipe intensivista, visa justamente somar com seu saber e fazer, aos demais
cuidados para que se possa promover um amplo suporte à vida do paciente numa
dimensão biopsicosocial.
2.2. Condições estressantes observadas na UTI de Impacto
Emocional Evidente
Foram detectadas e observadas em U.T.I.s, pela presença constante do
psicólogo no processo de tratamento dos pacientes internados, as condições
estressantes, que podem desencadear agravos à saúde globais do paciente e o
agravamento de condições emocionais, inclusive de cunho catártico, tanto para este,
quanto para seus familiares e até a equipe de saúde, onde o suporte psicológico
deve ser imediato:

Pacientes transplantados e seus familiares;

Pacientes (e seus familiares) vítimas de violência (armas de fogo, armas
brancas), acidentes graves, tentativas de suicídio (queda de metrô/ trem,
queda de pontes/edifícios, intoxicação exógena, ingestão de substância
corrosiva;

Vítimas de grandes catástrofes, politraumatizados, que vão para a U.T.I.
7

Pacientes com intubação oro-traqueal, conscientes e com
psicomotora e, posteriormente, na presença dos seus familiares;

Pacientes que necessitam de intubação oro-traqueal de emergência e estavam
conscientes até este momento (síndrome da angústia respiratória);

Extubação acidental de paciente consciente, com perda de controle do
paciente e do profissional de saúde (perda da traqueostomia), com a iminência
de possível morte do paciente;

Extubação de paciente consciente por agitação psicomotora e conseqüente
imobilização no leito (pulsos amarrados à cama), posteriormente ao evento;

Paciente consciente, que agudiza e é submetido às manobras ressuscitadoras
ou reanimação, por parada cárdio-respiratória (vivência de quase-morte); com
massagem cardíaca externa e cardioversão (carga elétrica/choque);

Óbito de paciente durante a visita de familiares e óbito de paciente
imediatamente após a visita e o Boletim Médico;

Familiares de pacientes em coma reversível, extremamente frágeis pelas
condições incompreensíveis do quadro do paciente;

Familiares de pacientes em coma irreversível;

Familiares de pacientes em morte encefálica e o enfrentamento do processo
de finitude;

A doação de órgãos e suas vicissitudes;

Pacientes com patologias oncológicas e/ou AIDS e com agudização das
patologias oportunistas, conscientes inicialmente e posteriormente com perda
da consciência, a presença de seus familiares;

Crianças e adolescentes, com risco de vida, internados em U.T.I. de Adultos,
com estranhamento ambiental e necessidade da família permanentemente e
as dificuldades com a equipe de saúde;

Pacientes em leito próximo a um óbito

Paciente em leito próximo a óbito iminente ou de paciente em estado muito
grave e com muito sofrimento;

Paciente homem ao lado de paciente mulher e conscientes.
agitação
As reações emocionais destas pessoas, envolvidas em todos estes
processos, são sem dúvida especiais, onde se deve considerar o risco de ruptura
egóica, psicológica e da qualidade de vida.
8
2.3. Possíveis intervenções: Tentando reverter o quadro
Nichols (1993) considera a necessidade de desenvolver um esquema de
cuidados psicológicos. O cuidado psicológico está ligado à eficácia do tratamento
físico e deve ter prioridade. Isso não deve ser exclusivo de elites, mas um básico
componente do tratamento, o qual todos devem ter acesso. O cuidado psicológico
deve ser designado para minimizar o altíssimo estresse e o impacto das doenças e
seu tratamento. Isto deve ser entendido como cuidado psicológico também
preventivo ao estresse do médico/enfermagem. O cuidado psicológico tem a
necessidade de ser preventivo, com ênfase e de acordo com os pacientes, seus
familiares e não somente como “pronto socorro”, fazendo parte de um processo,
diante da internação do paciente, principalmente em uma U.T.I.
Defrontar-se com eventos nocivos e aversivos, tendo o risco e o medo, como
emoções dominantes, sem que se possa encontrar “saídas”- é responder com
transtornos de humor e afeto – ansiedade, angústia e depressão.
A partir destes quadros psíquicos, pode instalar-se “o desamparo”, condição
emocional que é a base para a reação depressiva – um dos quadros mais perigosos.
É um estado psicológico que destrói a motivação, retardando a capacidade de
apreender o ambiente para a consciência e o enfrentamento, em que as respostas
de sentir-se desamparado são generalizadas, sem que o organismo psíquico
discrimine as situações em que se está ou não em perigo. Os pacientes referem
muito sobre as experiências de U.T.I., sua auto-significação ou o sentimento de
menos-valia. Esta emoção é crucial e deve dirigir nossas intervenções.
Seligman (1977) refere que o desamparo é fenômeno real, em que existem os
indícios comportamentais, os estados de espírito e os indícios fisiológicos.
Desamparo refere-se à falta de amparo subjetivo, falta de recursos internos para agir
ou enfrentar. Está associado aos distúrbios motivacionais, cognitivos e emocionais.
É resultado de eventos incontroláveis. A incontrolabilidade estaria ligada à perda do
controle ativo sobre as próprias ações. É o “Trauma do Inescapável” que tem o
medo como emoção predominante. Uma vez que o trauma esteja sob controle, o
medo é de pouca utilidade e declina. Para isto, precisamos compreender melhor o
paciente e qual será seu aproveitamento do cuidado psicológico.
2.4. Psicoterapia Breve e sua Aplicabilidade na Unidade de Terapia
Intensiva
Em resposta a esta demanda, o papel preventivo da Psicoterapia Breve vem
sendo cada vez mais reconhecido. Observou-se que as respostas às experiências
traumáticas são de importância fundamental na prática da saúde psicológica.
Amplia-se a hipótese que intervenções preventivas aumentam a contribuição para
além da dinâmica intrapsíquica, principalmente em situações de crise. A Psicoterapia
Breve é extremamente eficiente em situações de crise ou de emergência. Small
(1971) refere que crises e tensões comuns à vida da maioria dos seres humanos
produzem uma demanda urgente e de intervenção rápidas.
9
Uma intervenção rápida é eficaz e sempre solicitada em acontecimentos
catastróficos. A Psicoterapia Breve é eficaz para um ambiente como a Unidade de
terapia Intensiva, onde:
As personalidades bem estruturadas estão transitoriamente fora de equilíbrio;
Indivíduos menos integrados e com alterações maiores, de longa duração
devem ser reestruturados de modo mais eficaz:
A Psicoterapia de Emergência é identificada com um método de tratamento
para sintomas ou desajustamentos que exigem o alívio mais rápido possível, por
causa da capacidade que estes sintomas psíquicos têm de levar a ameaça de vida.
Então, objetiva o alívio da sintomatologia. Wolberg (1971) acentua a necessidade do
alívio dos sintomas, a restauração do nível de funcionamento que existia
anteriormente ao processo catastrófico. O tratamento de emergência procura
modificar a psicopatologia incapacitante específica, sem necessidade de alterar
estruturas psíquicas básicas. Neste caso, visa elevar a eficiência operacional do
paciente por meio de uma readaptação na mais ampla escala possível,
possibilitando assim a melhora dos mecanismos de adaptação e enfrentamento.
Apresenta-se como uma técnica que não reformula o indivíduo, mas o ampara
de fora para dentro. O sentido da terapia breve é solução de problemas, em que
o fundamental é a motivação e a utilização de técnicas de aprendizagem, para
fortalecimento da auto-estima e uma maior tolerância do paciente.
2.5. Técnicas de Psicoterapia Breve Dinâmica utilizadas na UTI
Psicodiagnóstico – composto de Avaliação Psicológica e Exame
Psíquico, em que o psicólogo utiliza o estado emocional do paciente, fatos sobre
seus sintomas, dados sobre sua história e declarações para estabelecer diagnóstico
dinâmico sobre seus conflitos mais importantes, nível de pressão de forças externas,
qualidade da rigidez, elasticidade e acessibilidade do paciente às questões mais
incompreensíveis e que exijam adaptação emergente.
Este diagnóstico permite ao psicólogo predizer a probabilidade de reação do
paciente às várias medidas (procedimentos) e sua provável tolerância e
adaptabilidade. É o desenvolvimento de um processo de compreensão
psicodinâmica.
Uma esquematização flexível estabelece um relacionamento com o paciente
(vínculo) que envolva atenção, comunicação, mesmo não verbal, compreensão dos
problemas que o cercam com empatia e confiança, para a devida tranqüilização do
paciente e em que ele pode ser ajudado.
- Desenvolvimento junto ao paciente de um entendimento de sua dinâmica na
U.T.I. e referências de suas dificuldades.
- Focalização de uma área de conflitos, encorajando a conscientização e
promovendo o enfrentamento de situações .
10
- Reconhecimento de fatores destrutivos no meio ambiente que possam afetar
o paciente e o seu controle ou minimização.
- Rápido combate de sintomas-alvos tais como: ansiedade extrema, episódios
depressivos, depressão reativa, medo incontrolável e tensão.
- Orientação ao paciente quanto ao uso da sua compreensão interna como
uma força capaz de melhorar e modificar seu entorno, e as situações problemáticas,
tornando-o consciente dos mecanismos que estão impedindo seu desenvolvimento
diante de dificuldades controláveis.
- Participação ativa no processo em que terapeuta e paciente desenvolvam
um plano de ação pelo qual possam usar seus recursos, a fim de suportar as
instâncias do tratamento e cuidado intensivo.
- Este modelo, segundo Small (1971), se fundamenta em hipóteses básicas
na comunicação, compreensão e elaboração. É um processo que estimula o
“espírito de luta” do paciente.
Este tipo de atuação é fundamentado na Psicoterapia de Intervenção na
Crise. A anamnese explora os fatores que permeiam a internação no hospital, e
posteriormente, a internação na U.T.I., assim como o relato de episódios de história
de vida, anteriores. Uma abordagem de apoio é lançada, em que o estado
emocional do paciente é enfatizado, especificando-se seu desconforto, seu caos
psicológico, frente a demandas insuportáveis. A adaptação deste modelo está em
incluir a família neste atendimento, ao mesmo em tempo que o terapeuta procura
reduzir a ansiedade deste.
Basicamente, a Terapia Breve em Situações de Emergência deve
contemplar :











Desenvolvimento de transferência positiva;
Elevação da auto-estima do paciente;
Restauração de sua confiança;
Oferecer apoio através da disponibilidade expressa do terapeuta em qualquer
momento;
Orientação, particularmente em casos de perigo;
Estabelecimento de comunicação efetiva e colaboradora;
Mobilização de atividades intencionais;
Aumento da competência do paciente;
Repressão de impulsos destrutivos e estimulação de outros impulsos;
Reconhecimento do presente temporal e espacial (ênfase na realidade);
Liberação de hostilidade sob controle (e a ser compreendida pela equipe);
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3. OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS NA UTI PELO PSICÓLOGO
DA SAÚDE














Trabalhar terapeuticamente a relação emocional do paciente com a sua
doença e/ou momento de crise – pela necessidade de permanência na U.T.I.
para o tratamento;
Orientar o paciente durante o processo de internação, avaliando o quadro
psíquico e intercorrências emocionais;
Favorecer a expressão não verbal do paciente intubado ou sem possibilidade
de comunicação, através de técnicas adaptativas à situação, aliviando o
estresse, sempre com caráter preventivo em saúde mental;
Favorecer a expressão de sentimentos e emoções dos pacientes, sobre seu
tratamento e sobre sua experiência e vivência na U.T.I., ambiente
psicopatológico por excelência e mobilizador de conflitos;
Ampliar através de técnicas psicológicas, a consciência adaptativa do doente
frente ao ambiente estressor, levando em conta o caráter deste paciente e
seus recursos internos de enfrentamento;
Estimular a equipe a perceber suas dificuldades em lidar com situações
críticas, atuando em momentos paralisantes ou de grande angústia, com
suporte psicológico, visando o fortalecimento do profissional;
Acompanhar e preparar psicologicamente os familiares de pacientes em
situações críticas como pré-óbitos ou morte súbita, morte encefálica, comas, e
impacto de eventos traumáticos;
Estimular pacientes comatosos com ações especiais, visando ampliar as
possibilidades humanizadoras, frente às condições inóspitas vividas por estes
pacientes, até a superficialização de consciência, o que se traduz em cuidado
intensivo e afetivo aos momentaneamente incapacitados de reações
observáveis;
Prevenir a saúde mental de familiares que apresentam reações
neurovegetativa (DNVs) na U.T.I., próprias do ambiente crítico, tais como:
desmaios, perdas de equilíbrio, sudoreses, quedas de pressão, surtos
psicóticos, reações histéricas, frente à emoção de ver seu familiar internado na
U.T.I., através de entrevistas e atendimentos anteriores à entrada na U.T.I.;
Realizar acompanhamento psicológico de familiares, oferecendo condições
para expressão de dúvidas, fantasias, falsos conceitos em relação à doença e
à necessidade de permanência do paciente na U.T.I.;
Desenvolver atividades de estudo e pesquisa em Bioética, principalmente, na
Unidade de Terapia Intensiva;
Promover a humanização da tarefa do intensivismo, melhorando a qualidade
de vida do paciente; da família e equipe de saúde;
Avaliar o grau de comprometimento ambiental da Unidade de Terapia
Intensiva, determinando condutas positivas em Saúde para o desenvolvimento
de capacidades e funções benéficas ao paciente;
Desenvolver atividades didáticas com os estagiários em Psicologia da Saúde
na U.T.I. – graduandos e formados; com internos e residentes médicos e
outros profissionais de saúde, atuando de forma integrada, colaborando para
uma visão global do paciente e contribuir para um maior entendimento por
parte da equipe de saúde, de forma transdisciplinar, dos comportamentos e
situações de alto grau de estresse para o paciente, familiares e equipe de
saúde.
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