Um Nobel para o Brasil PRONUNCIAMENTO DO SR. DEPUTADO

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Um Nobel para o Brasil
PRONUNCIAMENTO DO SR.
DEPUTADO
FEDERAL
JOÃO CAMPOS (PSDB-GO)
NO PLENÁRIO DA CÂMARA
DOS
DEPUTADOS,
DIA
09.10.08.
SENHOR PRESIDENTE.
SENHORAS E SENHORES DEPUTADOS.
A comemoração do centenário da morte de Machado de
Assis ultrapassou as fronteiras do Brasil. O New York Times, de 12
de setembro, afirma que o escritor brasileiro foi um “gênio
injustamente negligenciado” e que, finalmente, está tendo o
merecido reconhecimento por parte de escritores e críticos de todo
o mundo.
Isso me leva a pensar, Senhor Presidente, que o Prêmio
Nobel de 98, concedido ao escritor português José Saramago,
chegou com 90 anos de atraso. Uma vez que Machado de Assis
morreu em 1908, sete anos depois da instituição do Nobel, ele
poderia ter recebido o prêmio, caso o mundo já tivesse se rendido a
seu gênio literário, como ocorre hoje.
Mas não é apenas na literatura que o Brasil está por
merecer o seu primeiro Prêmio Nobel. Se não tivesse morrido num
atentado em Bagdá, em 19 de agosto de 2003, há exatos cinco
anos, o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello seria um grande
candidato ao Prêmio Nobel da Paz, que será entregue no próximo
dia 10 de outubro, amanhã, pelo Instituto Nobel da Noruega.
A jornalista norte-americana Samantha Power, na biografia
O Homem Que Queria Salvar o Mundo, sustenta que Vieira de
Mello foi um herói, tanto nos fóruns da diplomacia quanto nas ruínas
da guerra, onde se empenhava em mitigar o sofrimento das vítimas
civis.
Se Machado de Assis, na literatura, e Vieira de Mello, na
diplomacia, não conquistaram o Nobel que mereciam, nunca é tarde
para se corrigir essa injustiça.
Este ano 197 candidatos concorrem ao Prêmio Nobel da
Paz, sendo 33 organizações e 164 pessoas. Entre os concorrentes
estão grandes figuras da história do século XX, como o democratacristão Helmut Kohl, chanceler da Alemanha entre 82 e 98 e
responsável pela reunificação do país.
Para o ano vindouro já temos uma candidatura brasileira, a
do Bispo Manoel Ferreira, Presidente da Convenção Nacional de
Ministros das Assembléias de Deus-Ministério de Madureira,
Presidente do Conselho Nacional de Pastores do Brasil, e Deputado
Federal que muito honra esta Casa com seu profícuo mandato.
O nome do Pastor Manoel Ferreira foi sugerido ao Instituto
Nobel, sediado em Oslo, Noruega, pela ONG fluminense Comitê da
Paz Mundial. Segundo o senhor Olav Njolftad, diretor executivo do
Instituto Nobel, a candidatura do Pastor Manoel Ferreira, está
classificada na categoria permanente.
Mas por que um humilde pastor brasileiro merece um
prêmio cobiçado por grandes nomes da história contemporânea?
Porque a história não se faz apenas em palácios e
parlamentos, nos salões refinados da diplomacia ou nas sangrentas
trincheiras da guerra. A verdadeira história da humanidade,
senhoras e senhores, é feita por homens e mulheres anônimos, que
— sobrepondo ao sofrimento a esperança e somando ao trabalho a
persistência — mantêm o mundo de pé.
O pastor Manoel Ferreira — um grande líder dos
evangélicos brasileiros — já foi um desses anônimos. E, de certo
modo, continua sendo, porque quem o conhece apenas como
deputado não é capaz de imaginar a vasta obra social que está por
trás de seu mandato. Sob a sua liderança são mantidas milhares de
instituições de atendimento aos mais carentes, como escolas,
creches, asilos e clínicas de recuperação; não só no Brasil, mas em
vários países do mundo.
O trabalho social desenvolvido pelo pastor Manoel Ferreira
— líder da Assembléia de Deus e presidente do Conselho Nacional
de Pastores do Brasil — envolve uma ética além de uma prática.
Ele se pauta pelo princípio de que a cidadania se alicerça na
dignidade e que a dignidade se sustenta em valores.
A história ensina que, em época de transformações
aceleradas, como as decorrentes do avanço tecnológico, as
pessoas tendem a se sentir perdidas, na medida em que antigos
valores são destruídos sem que novos valores sejam edificados em
seu lugar.
O século XX cultivou o conhecimento para além da
imaginação, mas — ao atacar instituições milenares como a religião
e a família — acabou sucumbindo à barbárie. Basta lembrar Hitler,
Stalin e as duas guerras mundiais, que deixaram um rastro de
sangue na história.
Um estudo do Departamento de História da USP constatou
que, depois da Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1996,
ocorreram 82 conflitos em todo o mundo, com um saldo de 13
milhões de mortos, em países como Indochina, Coréia, Vietnã,
Camboja e Timor Leste.
O estudo da USP somou os anos em que cada país esteve
envolvido em guerra e chegou a um total de 464 anos de conflitos.
São quase 500 anos de guerra em 50 anos de história. Uma
tragédia humana, um genocídio.
Mesmo não estando entre as nações em conflito (salvo as
cerca de 500 mortes durante o regime militar), o Brasil não tem
muito do que se orgulhar. Não fomos à guerra, mas a guerra veio
até nós, tomando as ruas e invadindo as casas. Dados do Ministério
da Saúde revelam que ocorrem anualmente, no país, quase 50 mil
homicídios e cerca de 35 mil mortes em acidentes de trânsito.
São quase 85 mil mortos anuais, sem contar os que são
mutilados nessa verdadeira guerra civil. Com um agravante:
homicídios entre pais e filhos e entre professores e alunos estão se
tornando quase rotineiros. O que aponta para uma grave crise de
valores na sociedade e torna ainda mais importante a indicação de
um religioso para o Prêmio Nobel da Paz.
No último estudo do IBGE sobre religiões no Brasil,
divulgado em 2007, constatou-se que os evangélicos brasileiros
saltaram de 2,6% da população brasileira, em 1940, para 15,4% em
2000. E o maior crescimento foi exatamente das denominações
pentecostais, entre as quais se encontra a Assembléia de Deus,
liderada pelo pastor Manoel Ferreira.
Sempre que são obrigados a reconhecer o crescimento
dos evangélicos num tempo que se acreditava capaz de dispensar
Deus, os adversários da religião enfatizam que o maior crescimento
das igrejas evangélicas, especialmente das igrejas pentecostais, se
dá entre as camadas mais carentes e menos escolarizadas da
população. Nessa tentativa de menosprezar a religião, esconde-se
o preconceito contra os mais pobres, tidos como incapazes de fazer
suas próprias escolhas.
Ora, se os pentecostais crescem entre os mais pobres,
qual é o problema? Historicamente, as religiões sempre vicejaram
entre os desvalidos. O judaísmo nasceu entre pastores, o islamismo
se forjou entre beduínos e o cristianismo conquistou o mundo a
partir da periferia de Roma, onde os imigrantes cristãos eram
discriminados e perseguidos. Cada uma dessas mensagens
religiosas — ao seu modo e de acordo com as circunstâncias da
época — foi fundamental para a sobrevivência desses povos.
No Brasil não é diferente. Assim como, no passado, os
padres católicos conseguiram manter um mínimo de civilização no
Nordeste dizimado pela seca e barbarizado pelo cangaço, hoje, os
pastores pentecostais garantem um mínimo de dignidade e
esperança em favelas sitiadas pelo narcotráfico.
Nessas regiões em que o Estado só entra à força de bala,
quantas vezes a própria escola pública não tem que fechar suas
portas devido à guerra do tráfico?
Muitas vezes, nesse ambiente de guerra civil, a escola
bíblica dominical de um templo evangélico é o único espaço que
permite à criança conhecer uma força diferente da força bruta do
fuzil — a força sublime da palavra, em que, historicamente, se
sustenta a fé evangélica.
Foi a palavra cristã de pensadores como Agostinho — uma
das fontes inspiradoras do reformador Lutero — que garantiu os
esteios da civilização quando eles estiveram prestes a ser
destruídos pelas invasões bárbaras na Idade Média.
A força da religião como argamassa da sociedade é
reconhecida por grandes historiadores contemporâneos, como o
francês Jean Delumeau, que, em seu livro De Religiões e de
Homens, sustenta: “Abstraiam a religião, e a história da
humanidade torna-se ininteligível”.
A própria ONU reconhece o papel da religião na promoção
da paz, tanto que, desde 2000, com a Cúpula do Milênio de Líderes
Religiosos pela Paz Mundial, vem apoiando o diálogo inter-religioso
no mundo.
Ciente da importância da religião no mundo moderno, o
pastor Manoel Ferreira faz dos valores cristãos o alicerce de sua
vida pública, hoje coroada com um mandato parlamentar e a
presidência do Conselho Nacional de Pastores Evangélicos.
São esses milhões de cristãos — testemunhas do trabalho
social desenvolvido por ele — que inspiram sua indicação para o
Prêmio Nobel da Paz de 2008. E, qualquer que seja o resultado do
prêmio, a indicação, em si, já é um reconhecimento.
Obrigado.
JOÃO CAMPOS
Deputado Federa
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