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RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA
Nome do Projeto: Avaliação da eficácia da planta Elephantopus scaber no
processo de cicatrização em ratos.
Protocolo:
Nome do(a) Proponente ou Orientador(a):. Anna Paula Piovezan
Nome do(a) Bolsista: Victor Stopassoli Buss
Marina Pereira Domingues
Campus/Unidade: Tubarão
Data do Relatório: 12 de agosto de 2008
Tipo do Projeto:
( ) PUIC Disciplina
(
) PUIC Continuado
( X ) PUIC Individual
1. Introdução
A patofisiologia dos processos de recuperação de um tecido lesado é
complexa e envolve diferentes estágios. Segundo D’amore, “O reparo dos
tecidos envolve dois processos distintos: (1) regeneração, que se refere à
substituição das células lesadas por células do mesmo tipo, sem deixar,
algumas vezes vestígio residual da lesão anterior; e (2) substituição por tecido
conjuntivo, um processo chamado fibroplasia ou fibrose, que deixa uma cicatriz
permanente. Na maioria dos casos, os dois processos contribuem para o
reparo. Além disso, tanto a regeneração quanto a fibroplasia são determinadas
por
mecanismos
essencialmente
similares,
envolvendo
a
migração,
proliferação e diferenciação celulares.” (in: ROBBINS. Patologia Estrutural e
Funcional – p. 79).
“Danos tissulares de qualquer natureza desencadeiam de imediato uma
série de eventos que se traduzem como rubor, tumor, calor e dor. Estes sinais
resultam da ativação de células nervosas, estromais, vasculares e circulatórias
por estímulos físicos ou por sinalização química feita por estruturas das células
rompidas, fragmentos dos elementos inertes dos tecidos, proteínas séricas que
extravasam dos vasos rompidos e por ação de mediadores inflamatórios préformados ou neo-sintetizados (Contran et al., 2001, in Balbino et al., 2005).
Essas moléculas, ao se ligarem a receptores localizados na superfície
da membrana das células locais, induzem profundas modificações no seu
metabolismo, na expressão de genes e conseqüentemente em seu fenótipo.
Como resposta, observa-se a produção de uma segunda onda de
mediadores de natureza lipídica (eicosanóides) e peptídica (citocinas, fatores
de crescimento e neuropeptídeos) e a externalização de proteínas de adesão
para leucócitos, nas células endoteliais. Além disso, o microambiente tem sua
composição físico-química alterada, sendo esta também uma outra forma de
sinalização que ativa as células envolvidas no reparo tissular.
Na continuidade do processo, ocorrem no tecido lesado infiltração de
células circulantes (neutrófilos e monócitos) e migração de células das áreas
adjacentes como células epiteliais, queratinócitos e fibroblastos. Estas últimas,
em cooperação com as células locais, anteriormente ativadas, serão as
protagonistas da fibroplasia (produção de colágeno pelos fibroblastos) e
deposição de matriz extracelular, angiogênese (formação de novos vasos),
cicatrização e reepitelização da região da ferida. (Balbino et al., 2005).
No entanto, quando estas funções patofisológicas do organismo são
alteradas, problemas de cicatrização podem ocorrer. É o que ocorre, por
exemplo, em doenças como a diabetes, doença que se caracteriza por um alto
nível de açúcar do sangue, e que leva à progressiva diminuição do fluxo
sanguíneo para os tecidos, principalmente para as pernas e pés, resultando em
atrasos na cicatrização (Reis, 2004).
“Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, estima-se que
151 milhões de pessoas no mundo são portadoras de Diabetes, ou seja, 4,6%
da população mundial. No Brasil, o Diabetes mellitus atinge 7,6% da população
e alguns dados apontam ainda 46,5% dos pacientes diabéticos de 30 a 69
anos desconhecem seu diagnóstico (Goldenberg et al., 1996). Estes números
nos dão uma idéia da quantidade de pessoas que podem ser beneficiadas com
descobertas nesta área, além de tantas outras desordens que causam danos
epiteliais como queimaduras, escaras, vesículas, eczemas, entre outras.
Atualmente na clínica médica, um número relativamente restrito de
classes de drogas são disponíveis para o tratamento de tais desordens de
regeneração tecidual. Dentre estas podemos citar os retinóides, derivados da
vitamina A, que são compostos amplamente encontrados em plantas. A
medicina popular já se utiliza de muitas delas para tratar condições da pele
como feridas e úlceras. Apesar de que algumas destas plantas já estejam
sendo investigadas em laboratório quanto à sua eficácia, que é o caso da
Passiflora edulis (Maracujá), Schinus terebinthifolius raddi (Aroeira) e Orbignya
phalerata (Babaçu) (Malafaia et al., 2006), para muitas outras não existe
comprovação científica para a sua utilização.
Neste estudo decidiu-se investigar as propriedades cicatrizantes da
planta Elephantopus Scaber, popularmente conhecida como língua-de-vaca,
uma planta bastante utilizada na região sul do país para o tratamento de
ferimentos da pele. Ainda sem comprovação científica de sua eficácia, torna-se
de fundamental importância pesquisar para saber se realmente existem
propriedades terapêuticas (farmacológicas) que atuam nesse processo, ou
ainda se ela traz algum malefício à saúde do usuário (toxicológicas).
Sabemos que nossa flora é rica em plantas que compõe diversos
medicamentos de importância singular para a medicina, como por exemplo, a
Alantoína e o Asiaticosídeo, ambos princípios ativos de cicatrizantes
provenientes de plantas. (Silva, P., 2002). Por isso, é importante que pesquisas
nessa área sejam incentivadas e se busque cada vez mais comprovar
propriedades terapêuticas de plantas que o uso popular já testou e aprovou. Os
resultados dessa pesquisa poderão contribuir para apontar caminhos para a
formulação de novos medicamentos, aproveitando o que a natureza pode
oferecer.
2. Objetivos
2.1 Objetivo Geral
Verificar a eficácia da planta Elephantopus scaber no processo de
cicatrização em ratos.
2.2 Objetivos Específicos
2.2.1. Coletar e identificar botanicamente a planta Elephantopus scaber;
2.2.2. Preparar uma forma farmacêutica para utilização por via tópica,
incorporando o extrato padronizado da planta;
2.2.3. Avaliar a influência do tratamento dos animais com a formulação à
base de Elephantopus scaber, sobre o processo de cicatrização em
ratos.
3. Material e Métodos
3.1 Animais: Foram utilizadas ratas (pesando cerca de 130 gramas), criados
pelo Biotério Central da Unisul, que tiveram livre acesso à ração e água. Os
protocolos experimentais foram submetidos à aprovação do CEP-Unisul.
3.2 Padronização do Extrato da E. scaber: O procedimento de padronização do
extrato hidroalcoólico da planta (folhas) foi realizado pelo aluno Fabrício Urnau,
acadêmico do curso de medicina que é bolsista PUIC, e cujo projeto inclui esta
atividade. Esta atividade do aluno está sendo orientada pelas Profas.
M.Sc.Simony Davet Muller e Karina V. T. Remor, do Curso de Farmácia da
Unisul.
3.3 Composição da amostra: Foram aleatoriamente separados em diferentes
grupos de iguais condições de criação e armazenamento (luz e temperatura
conrolados). Foi confeccionada uma ferida no dorso de cada animal. Eles
foram divididos em grupos de 5, sendo que cada grupo foi tratado com uma
formulação diferente. Um grupo foi tratado com uma formulação onde foi
incorporado extrato da planta Elephantopus scaber, o outro grupo recebeu
tratamento com os respectivos veículos, ou seja, apenas a base usada para a
formulação farmacêutica à qual foi incorporada a planta (estes servirão como
controle positivo) ou a formulação contendo uma substância cuja atividade
cicatrizante já esteja comprovada cientificamente (ex.: antiinflamatórios
glicocorticóides).
3.4 Procedimento cirúrgico: os animais foram anestesiados e foi feita tricotomia
(depilação) do dorso de forma asséptica. Foi confeccionada 1 (uma) ferida de
aproximadamente 1x1 cm no dorso de cada animal. A área da ferida foi
delimitada com um carimbo medindo 1x1 cm, embebido em azul de metileno.
Foi retirado pele, músculo cutâneo e gordura subcutânea com tesoura. As
bordas das feridas foram mensuradas com paquímetro, e os dados foram
individualmente anotados para os animais submetidos aos diferentes
tratamentos.
3.5 Morfometria: as feridas foram mensuradas nos dias 0 (imediatamente após
a cirurgia), 7 e 14 de pós-operatório, com o auxílio de paquímetro. A partir das
medidas dos lados da ferida, obtivemos o valor de sua área, sendo avaliada a
contração da ferida através da seguinte fórmula: (área inicial - área do dia da
medida) ÷ área inicial x 100= percentual da contração no dia da medida
(Oliveira et al., 2000).
3.6 Equipamentos e estrutura: o presente trabalho foi realizado no laboratório
didático de Farmacologia do Bloco Pedagógico, Campus Tubarão, nos horários
reservados para a pesquisa. Os demais custos de materiais necessários à
elaboração dos experimentos foram de responsabilidade do Grupo de Pesquisa
em Produtos Naturais - GRUPNAT. Os procedimentos cirúrgicos foram
realizados no Centro Cirúrgico da Unisul, sob supervisão do Professor René
Blazius.
4. Resultados:
Conforme podemos observar na Tabela 1, o extrato da planta E. scaber se
equipara ao da Água, não apresentando melhoras significativas no processo de
cicatrização. Comparando o extrato de E. scaber com a pomada Bepantol ®
(dexpantenol) podemos observar uma cicatrização acentuada na pomada. A
dexametazona, usada na primeira parte da pesquisa também não mostrou
resultados significativos na cicatrização.
Média
SEM
Água
1,368000
0,195700
0,584600
0,092570
0,060000
0,030800
0,000000
0,000000
1,780000
0,174400
Dexa
1,180000
0,193400
0,265000
0,058520
0,000000
0,000000
1,017000
0,042340
Bepantol
0,418200
0,032520
0,000000
0,000000
0,000000
0,000000
1,421000
0,077160
E. scaber
0,750000
0,076140
0,041110
0,009493
0,000000
0,000000
Tabela 1: Comparação dos fármacos utilizados no processo de
cicatrização.
4.1 Outros Resultados
Não foram realizados.
5. Conclusões
A metodologia acima foi alterada, em função das normativas institucionais
que impossibilitaram a continuidade da pesquisa inicialmente proposta, mas,
apesar disto, demonstrou-se eficaz para a avaliação da atividade da planta E.
scaber.
Foram observadas várias dificuldades técnicas, como padrão da ferida
cirúrgica, sendo difícil realizar um corte preciso com 1x1 cm, medição com o
paquímetro, sendo possível apenas com os ratos anestesiados e com o auxilio
do Professor René Blasius.
A planta não demonstrou um potencial cicatrizante, observando que seu
tempo de cicatrização foi o mesmo comparando com o do controle (Água), a
melhor cicatrização foi com a pomada Bepantol ®, que verificamos uma
cicatrização num menor intervalo de tempo e com uma melhor regeneração
tecidual.
6. Referências
BALBINO, C.A.; PEREIRA L.M.; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização:
uma revisão. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, vol. 41, n. 1, jan./mar.,
2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v41n1/v41n1a03.pdf. Acesso em:
03.05.07.
GOLDEMBERG, P.; FRANCO, L.J.; PAGLIARO, H.; SILVA, R.S.; SANTOS, C.A.
Diabetes mellitus auto-referido no município de São Paulo: prevalência e
desigualdade. Cad. Saúde Pública, 12:37-45, 1996.
GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 9
Editora McGraw – Hill Interamericana. 1996.
ed. México.
GORCZYNSKI, R.; STANLEY, J. Imunologia Clínica. Editora Reichmann e Affonso,
2001.
MALAFAIA, O.; CAMPOS, A.C.L.; TORRES, O.; GOLDENBERG, S. Os fitoterápicos e
seu potencial na cicatrização em cirurgia. Acta Cirúrgica Brasileira, 21 (Suplemento 2),
2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/acb/v21s2/ v21s2a00.pdf. Acesso em:
02.05.07.
OLIVEIRA, S.T.; LEME, M.C.; PIPPI, N.L.; RAISER, A.G.; MANFRON, M.P.
Formulações de confrei (symphytum officinale l.) na cicatrização de feridas cutâneas
de ratos preparations of comfrey (symphytum officinale l.) on cutaneous wound healing
in rats. Rev. Fac. Zootec. Vet. Agro., v.7/8: 61-65, 2000.
ROBBINS. Patologia estrutural e funcional. 6° edição. Philadelphia. Editora Guanabara
Koogan S.A., 2000.
REIS, A.F. Diabetes News. Vol 1, n° 2. 2004. Disponível em: www.diabetes.org.br.
Acesso em: 03.05.07.
RIGON, R.; ROSSI, A.G.; CÓSER, P.L. Achados otoneurológicos em indivíduos
portadores de Diabetes mellitus Tipo 1. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, vol.
73. 1° edição, 2007. Disponível em:
http://www.rborl.org.br/conteudo/acervo/acervo.asp?id=3472. Acesso em: 03.05.07.
SILVA, P. Farmacologia. 6° edição. Editora Guanabara Koogan S.A., 2002.
SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, P.E.; GOSMANN, G.; DE MELLO, J.C.P.; MENTZ,
Alegre/ Florianópolis. Editora da UFSC/ Editora UFRGS. 2003
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