análise da população de células t reguladoras em

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SOFTWARE XHLA – FERRAMENTA PARA SELEÇÃO DE RECEPTORES
HIPERSENSIBILIZADOS: ANÁLISE DA ANTIGENICIDADE DE EPÍTOPOS DAS
MOLÉCULAS HLA DQ
Saara Barros Nascimento (bolsista do PIBIC/CNPQ), Semíramis Jamil Hadad do Monte
(orientador, Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFPI)
Introdução
A capacidade do organismo diferenciar moléculas próprias das que são não-próprias é o
principal dogma da moderna imunologia. De modo geral, a tolerância contra os antígenos próprios é
garantida através dos mecanismos de seleção clonal descritos por Burnet (Burnet, 1959). As células
selecionadas para sobrevivência são as que reconhecem as moléculas próprias fracamente, contudo
elas só serão ativadas quando encontrarem estruturas moleculares não-próprias análogas ao próprio
com diferenças marcantes em pontos chave.
Recentemente, esse conhecimento repercutiu no modo como René Duquesnoy vê a interação
antígeno-anticorpo para moléculas do sistema HLA. Nos últimos vinte anos, esse autor descreveu
epítopos presentes na superfície dessas moléculas através da identificação de grupos de
aminoácidos polimórficos não-próprios expostos que determinam a especificidade dos anticorpos
anti-HLA (Duquesnoy, 2006; Duquesnoy e Askar, 2007). Agora, esse autor propõe que além do não
próprio, aminoácidos próprios também podem contribuir para interação antígeno-anticorpo nesse
sistema (Duquesnoy, Marrari et al., 2012).
Segundo essa nova teoria, a imunogenicidade dos epítopos (capacidade de induzir anticorpos
específicos) exige que a sequência de aminoácidos destes seja apenas ligeiramente distinta daquela
que foi apresentada aos LB nas proteínas autólogas (Duquesnoy, 2012). Daí, surge a lógica de que
há um componente “próprio” no reconhecimento do “não-próprio”, ficando, pois, a cargo tanto do
imunógeno quanto do organismo os fatores capazes de gerar resposta imune, já que os epítopos aos
quais as CDR (regiões determinantes de complementaridade) se ligam seriam, desse modo,
formados por um epítopo com um grupo de aminoácidos próprios e outro grupo não-próprio (Marrari,
Mostecki et al., 2010).
A identificação desses epítopos e de seus respectivos aminoácidos constituintes, bem como a
comparação dos aminoácidos não pareados com a sequência observada em moléculas autólogas,
traduz objeto de interesse para pesquisas que venham a dar crescente substancial a essa nova
perspectiva. Além disso, é interessante entender como os anticorpos encontrados no soro de
pacientes alossensibilizados têm predileção por determinados epítopos HLA. De fato, precisamos
identificar quais são os epítopos mais antigênicos (que reagem melhor com os anticorpos), a fim de
definir quais são os doadores mais seguros para pacientes previamente alossensibilizados.
Adicionalmente, é interessante comparar os epítopos muito antigênicos e pouco antigênicos em
termos de acessibilidade molecular e características químicas.
Para esse propósito, se irá lançar mão de um conjunto de softwares (EpHLA e Cn3D)
produzidos para facilitar a tomada de decisão se um determinado transplante sólido é ou não
vantajoso para um paciente de acordo com o conjunto de anticorpos pré-formados detectados no
soro desse paciente.
Metodologia
A metodologia do trabalho tem como base a avaliação da antigenicidade dos epítopos HLA.
Para tal fim, foram selecionados os casos dos pacientes cadastrados no LIB-UFPI (lista de espera
para transplante renal do Piauí) que possuem anticorpo contra HLA DQ. Uma vez selecionados,
foram analisados com o software EpHLA, a fim de definir os epítopos que são alvo de
reconhecimento dos aloanticorpos pré-formados (definição de epítopos reativos). Para a contagem
dos epítopos, usamos o programa Epitope Analyzer, desenvolvido para este fim, por aluno do Núcleo
de Tecnologia da Informação da UFPI.
Após análise individual do painel de cada paciente, os dados obtidos foram usados para a
preparação de uma tabela mostrando, para cada epítopo de HLA-DQ, a porcentagem em número de
casos em que o epítopo é reativo. Além disso, os eplets foram agrupados por grupo alélico e
verificou-se quais eplets são comuns em cada alelo.
Posteriormente, foram construídos modelos moleculares preditivos no software Cn3D,
mostrando a posição e acessibilidade molecular dos principais epítopo em molécula HLA. Portanto,
os epítopos foram quimicamente caracterizados, a fim de avaliar as diferenças entre as variantes
muito e pouco antigênicas.
Resultados e Discussão
Podemos enfatizar como importantes determinantes do risco imunológico, devido à sua alta
antigenicidade, alguns epítopos. Na cadeia α, citamos 160SE e 160 AE, por serem reativos na
maioria das vezes em que aparecem, além de estarem presentes em uma quantidade significativa de
pacientes. O epítopo 160SE, por exemplo, aparece em todos os pacientes e é reativo em 62,22% dos
casos. Na cadeia β, pelos mesmos motivos, merecem destaque os seguintes eplets: 45EV, 55PPP,
56LPA e 56PPA. Outro aspecto interessante a ser observado, é o polimorfismo da cadeia β quando
comparada à cadeia α, ratificada pela riqueza de epítopos presentes na primeira, em detrimento da
segunda.
FIGURA 01. Modelos moleculares HLA disponíveis e demonstração da posição e exposição dos seus epítopos mais
importantes. LEGENDA: cadeias lilás  cadeias α; cadeias azuis  cadeias β.
Através da construção dos modelos disponíveis e demonstração da posição e exposição dos
epítopos mais reagentes nessas moléculas, bem como com a comparação com alguns epítopos
pouco reagentes, foi possível fazer algumas observações: de forma geral, os epítopos com elevada
ou intermediária antigenicidade estão bem expostos na superfície do antígeno (56LPA, 45GE5,
56PPA e 52PQ), enquanto os epítopos pouco antigênicos podem (41ER) ou não (48LF, 14GM, 70GT)
estar bem expostos na superfície.
Conclusão
A análise conjunta de DQA e DQB é importante e necessária ao sucesso dos transplantes.
Existem epítopos em ambos os locus que são, na maioria das vezes, consideráveis determinantes do
risco imunológico de rejeição humoral, com destaque para o 160SE e 160AE (locus A) e 45EV,
55PPP, 56LPA e 56PPA (locus B). Portanto, uma análise acurada do HLA-DQ pode fazer a diferença
entre a falha e o sucesso do transplante.
Podemos concluir, ainda, que a antigenicidade desses epítopos está intimamente relacionada
com a sua acessibilidade na molécula HLA, visto que todos os epítopos muito antigênicos passíveis
de análise estavam bem expostos. No entanto, devem existir outros fatores que contribuem para tal
fato, pois existem alguns epítopos pouco antigênicos que aparecem na superfície do antígeno
(demonstrado acima através do epítopo 41ER).
Apoio
Esse trabalho foi financiado e apoiado pelo Laboratório de Imunogenética e Biologia
Molecular (LIB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Palavras-chave: Antigenicidade. Imunogenicidade. Epítopo.
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