Ética e Eutanásia “Eutanásia no amor” Não sei se dá poesia, não venho como julgador Se de lado ficarem espírito e filosofia Assumo que matar não pode ser ato de amor Até pode ser no papel, dizer em rima e verso Mas neste mundo de meu Deus, no qual ninguém escolheu nascer Constituir-se procurador da vida é perverso Aos incapazes de escolher se querem viver ou morrer - Soaroir Maria de Campos Eutanásia. Abreviar a vida de um modo sem dor nem sofrimento. Há várias concepções aceitas sobre a eutanásia. O que a torna controversa é a diferença entre os pontos de vista de diferentes correntes de pensamento e religiões. Por exemplo, na religião espírita, prega-se que a eutanásia é o término abrupto da vida do ser humano, o que causa uma perturbação na alma do indivíduo que é como se fosse arrancado do corpo, logo condenada pela religião. Já no existencialismo, prega-se que o objetivo é sempre alcançar o bem maior, não importando os meios necessários para se alcançá-la. Quando uma pessoa está à beira da morte, sofrendo, deve-se terminar o mais rápido possível com o sofrimento, levando à eutanásia. Já na religião católica cristã, o Papa Eugenio Giuseppe Pacelli condenou, em 1957 a eutanásia, no entanto permitiu o uso de quantidades grandes de drogas que acabassem com o sofrimento de um paciente, mesmo que isso o levasse indiretamente à morte, o que é considerado atualmente como eutanásia passiva. A eutanásia pode ser dividida em três partes: eutanásia ativa, passiva e ortotanásia. A eutanásia ativa consiste em executar uma ação que abrevie o período de vida de um indivíduo. A eutanásia passiva consiste em levar o indivíduo à morte através da interrupção de tratamento, ou utilização de drogas que indiretamente levem à morte. E por fim, a ortotanásia significa a aceitação do momento natural do fim de um indivíduo, ou seja, a não utilização de drogas ou métodos para prolongar a vida, nem abreviá-la. Às vezes a e. passiva pode ser confundida com a ortotanásia. A diferença é que naquela, o tratamento é iniciado e posteriormente interrompido, enquanto nesta o tratamento nem iniciado é. Desde a Antigüidade, nos tempos da Grécia, acreditava-se que a eutanásia era um bem. Na Esparta, as crianças eram examinadas para saber se tinham porte físico para se tornarem soldados. As que não se tornariam, eram sacrificadas para impedir o sofrimento que teriam em vida. No entanto, após época de Aristóteles, a eutanásia passa a ser considerada um crime, ainda mais se cometido pelo próprio enfermo. Por toda a história a eutanásia foi considerada tanto boa quanto ruim. Em seu livro “Utopia”, Thomas More descrevia que na sociedade utópica, não era permitido matar ninguém, no entanto era considerada eutanásia a morte de alguém que pedisse para ser morto. No Egito, Cleópatra VII criou uma Escola especializada em descobrir métodos de eutanásia com menos sofrimento. Recentemente, a eutanásia não é legalizada na maioria dos países nem religiões. Com exceção da Bélgica e da Holanda, que são os dois únicos países com a legalização da eutanásia em seus códigos civis. Ao se analisar as vantagens e as desvantagens da eutanásia, podemos perceber que as vantagens são baseadas principalmente na eutanásia praticada pelo indivíduo em si. Como quando uma pessoa sã sabe que está em estado terminal e que está viva apenas pelos aparelhos deseja terminar o sofrimento. Aqui está presente a autonomia do ser humano, fato que é pregado até mesmo pelos Direitos Humanos. O ser humano tem direito sobre sua vida, logo, pode escolher terminá-la em troca de acabar com a sofreguidão atual. Já os pontos contra se baseiam em dois pontos diferentes: Num que diz que o médico não tem direito sobre a vida de outra pessoa, mas aí foge da base das vantagens na qual o próprio indivíduo pratica a eutanásia. Ao se falar de terceiros praticando a eutanásia, as desvantagens acabam ganhando. Já quanto ao segundo ponto, diz-se que o ser humano não tem direito sobre o que o “Criador” lhe deu. Apenas o “Criador” tem direito de dar e tomar a vida de pessoas. Porém, percebe-se que este ponto baseia-se principalmente em concepções religiosas, o que acaba excluindo os ateus, agnósticos e laicos. O modo correto de se debater a legalidade da eutanásia é através do ponto de vista ético. Na ética, procura-se alcançar a felicidade máxima, sem infringir danos ao próximo através de meios que não causem danos nem ao próximo nem a si mesmo. Como ponto a favor, pode-se mencionar que um paciente terminal pode alcançar a felicidade máxima, terminando com seu sofrimento, através do meio “eutanásia”, que não prejudicaria ninguém, nem a si mesmo. Como ponto contra, alguém pode dizer que dar um fim na vida pode ser um “dano” muito caro a se pagar para alcançar a felicidade máxima. Outro ponto a favor, dessa vez menos individualista, é que muitas vezes, quem sofre mais são os parentes e relativos ao paciente terminal. Uma família com um paciente terminal que passe todos os dias indo ao hospital para visitar o paciente, e gaste dinheiro para mantê-lo, e vê-lo sofrer na situação em que se apresenta, pode decidir que para acabar com o sofrimento mútuo a melhor decisão é a eutanásia. O ponto que vai de encontro ao mencionado acima é que às vezes, a família acaba decidindo que perder um parente causa mais “dano” do que vê-lo sofrer. Aqui cabe a menção do que o Papa Eugenio Giuseppe Pacelli disse quanto ao uso de drogas que aliviem o sofrimento. É ético acabar com o sofrimento e com a vida ao mesmo tempo? Como expressado na tese de “Ética – Valores Universais ou Individuais?” por Artur Filipe Gonçalves de Sousa, a ética tem pontos de vista diferentes para cada pessoa. Logo, a ética é individual, o que nos leva a perceber que a eutanásia ser legal ou não depende de inúmeras variáveis que dependem tanto da situação quanto do tempo atual. Eutanásia pode ser, na pior das hipóteses, um crime de boa vontade. É preciso que antes de qualquer decisão, as variáveis sejam pesadas e avaliadas quanto aos efeitos que serão causados tanto ao paciente, quanto à sociedade.