PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA E EXTENSÃO ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS Curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática MARINÊS SOMAVILLA TEIXEIRA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO REPERCUSSÕES DO USO DE ANALOGIA E TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE CALOR E TEMPERATURA EM NÍVEL MÉDIO Santa Maria, RS 2010 2 MARINÊS SOMAVILLA TEIXEIRA REPERCUSSÕES DO USO DE ANALOGIA E TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE CALOR E TEMPERATURA EM NÍVEL MÉDIO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática do Centro Universitário Franciscano, Área de Concentração em Ensino de Física, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Orientador (a): VANIA ELISABETH BARLETTE Santa Maria, RS 2010 3 4 5 Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois sem ele, nada seria possível. Em especial ao meu esposo Gilmar, pelo esforço, dedicação, carinho, parceria e compreensão, em todos os momentos desta e de outras caminhadas. Ao meu filho Bernardo pela sua bondade, meiguice, carisma, e que muitos momentos de alegria tem nos dado, com a graça de Deus, durante esta etapa importante da vida. “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis.” Bertolt Brecht “Um ladrão rouba um tesouro, mas não furta a inteligência. Uma crise destrói uma herança, mas não uma profissão. Não importa se você não tem dinheiro, você é uma pessoa rica, pois possui o maior de todos os capitais: a sua inteligência. Invista nela. Estude!” Augusto Cury 6 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela vida, pela saúde, pelas oportunidades e, acima de tudo, pela coragem, inspiração e determinação em busca de um ideal almejado e sonhado. À professora Vania Barlette, pelas sugestões e críticas construtivas na orientação deste trabalho e, sobretudo, pela dedicação e esforço na construção desta Dissertação, que nunca mediu esforços em estar do meu lado auxiliando. Ao meu esposo Gilmar pelo amor, pela compreensão, pela força nos momentos difíceis e, principalmente, pelo sorriso confiante e amigo nas horas e momentos certos. Ao meu amado filho Bernardo, pela sua doçura e simpatia. Ao enteado Matheus, pelo seu carinho e compreensão; sempre que pode, tem me auxiliado na digitação dos trabalhos. À professora Rejane, pelas contribuições dadas para a realização deste trabalho. Ao professor Orengo, pelo seu carinho demonstrado nesta etapa. À professora Silvia, pelas sugestões e críticas construtivas propostas na realização deste trabalho. À professora Eleni, pelo incentivo e apoio dado durante esta caminhada. A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, os meus sinceros agradecimentos. 7 SUMÁRIO RESUMO i ABSTRACT ii LISTA DE FIGURAS iii LISTA DE TABELAS E QUADROS iv 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 PERSPECTIVA PEDAGÓGICA E TRAJETÓRIA DOCENTE 15 1.2 PROPÓSITO, JUSTIFICATIVA E QUESTÕES NORTEADORAS 17 1.3 PLANO DA DISSERTAÇÃO 21 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E REVISÃO DE LITERATURA 22 2.1 TIPOLOGIA DOS CONTEÚDOS 22 2.1.1 Conteúdos conceituais 22 2.1.2 Conteúdos procedimentais 23 2.1.3 Conteúdos atitudinais 24 2.2 TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL 25 2.2.1 Aprendizagem significativa como um processo 25 2.2.2 Condições para aprendizagem significativa 26 2.2.2.1 Os conhecimentos prévios e a predisposição para aprender 26 2.2.2.2 Condições do material de aprendizagem 27 2.3 O MODELO DOS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS E A 27 PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIA-TECNOLOGIASOCIEDADE 2.3.1 O modelo dos Três Momentos Pedagógicos (TMP) 27 2.3.2 A perspectiva de educação em Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) 28 2.3.3 O modelo TMP e a perspectiva de educação em CTS 31 2.4 TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E ANALOGIA NO ENSINO 32 DE CIÊNCIAS 2.4.1 Texto de divulgação científica no ensino de ciências 32 2.4.2 Analogia no ensino de ciências 35 2.4.2.1 O modelo Teaching-with-Analogies (TWA) modificado 37 2.4.3.2 Potencialidades e dificuldades do uso de analogia 38 8 3 A UNIDADE DIDÁTICA CALOR E TEMPERATURA 39 3.1 DESCRIÇÃO GERAL 39 3.2 QUADRO GERAL DA UNIDADE DIDÁTICA CALOR E 39 TEMPERATURA 3.3 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM TDC: MOMENTO DA 47 PROBLEMATIZAÇÃO 3.3.1 Orientações ao professor 47 3.3.1.1 Preparação para a aula 47 3.3.1.2 Dinâmica da aula 47 3.3.1.3 Avaliação e guia do aluno 49 3.4 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM ANALOGIA: MOMENTO DA 49 APLICAÇÃO 3.4.1 Situação alvo e situação análoga 50 3.4.2 Orientações ao professor 50 3.4.2.1 Dinâmica da aula 50 3.4.2.2 Avaliação e guia do aluno 54 3.5 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM TDC: MOMENTO DA 55 APLICAÇÃO 3.5.1 Orientações ao professor 55 3.5.1.1 Preparação para a aula 55 3.5.1.2 Dinâmica da aula 56 3.5.1.3 Avaliação e guia do aluno 56 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 58 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO 58 4.2 CENÁRIO E SUJEITOS 58 4.3 DELINEAMENTO E INSTRUMENTOS 59 4.3.1 Atividade baseada em analogia 60 4.3.2 Atividades baseadas em texto de divulgação científica 61 5 IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES BASEADAS EM ANALOGIA 63 E TDC 5.1 ATIVIDADE BASEADA EM TDC: PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL 63 5.1.1 Conceitos físicos identificados na leitura prévia do TDC 63 5.1.2 Diálogos no grande grupo 63 9 5.1.3 Respostas escritas dos alunos 66 5.2 ATIVIDADE BASEADA EM ANALOGIA: APLICAÇÃO DO 71 CONHECIMENTO 5.2.1 Diálogos no grande grupo 71 5.2.2 Respostas escritas dos alunos 80 5.2.2.1 Conceitos de calor e temperatura 80 5.2.2.2 Correspondências e limites de validade da analogia 86 5.3 ATIVIDADE BASEADA EM TDC: APLICAÇÃO DO 88 CONHECIMENTO 5.3.1 Respostas escritas dos alunos 88 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96 APÊNDICES 102 APÊNDICE 1: SLIDES DAS AULAS EM CD-ROM 103 10 RESUMO Esta dissertação apresenta o planejamento e a implementação de uma unidade didática que contempla atividades baseadas em analogia e texto de divulgação científica para o ensino de calor e temperatura em nível médio, segundo o modelo de momentos pedagógicos como proposto por Delizoikov e Angotti, em uma perspectiva de educação em CTS. A atividade baseada em analogia segue o modelo Teaching-With-Analogies desenvolvido por Glynn e modificado por Harrison e Treagust. A situação análoga para o estudo de calor e temperatura por meio do modelo Teaching-With-Analogies modificado tem por base um experimento de Valadares. As atividades com textos de divulgação científica se utilizam de artigos das revistas Scientific American Brasil e de Ciência Hoje em dois momentos pedagógicos distintos. A implementação das atividades realiza-se com participantes da 2ª série do ensino médio da Escola Estadual Don Antônio Reis, Faxinal do Soturno, RS, entre outubro e novembro de 2009. Por meio da transcrição de vídeo gravações, e de guias do aluno, discutem-se repercussões e a efetividade das atividades. Palavras-chave: Ensinando com Analogias; Texto de divulgação científica; Calor; Temperatura; Ensino de Física. 11 ABSTRACT This study presents the design and implementation of a teaching unit that includes activities based on analogy and scientific texts for teaching heat and temperature in secondary level school, according to the model of pedagogic moments as proposed by Delizoikov and Angotti, from a perspective of education in CTS. Activity-based analogy follows the Teaching-With-Analogies model developed by Glynn and modified by Harrison and Treagust. The analogous for the study of heat and temperature by means of the modified TeachingWith-Analogies model is based on an experiment of Valadares. Activities with scientific texts make use of articles of Scientific American Brasil and Ciência Hoje at two different pedagogical moments. The implementation of activities take place with participants of the 2nd grade of secondary school of Escola Estadual Don Antônio Reis, Faxinal do Soturno, RS, between October and November 2009. Through the transcription of the videorecordings, and guides of the student, we discuss the impact and effectiveness of activities. Keywords: Teaching-with-Analogy; Text of science communication; Heat; Temperature; Physics Education. 12 LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 Apresentação pelo professor da situação análoga com base 51 no experimento Os átomos nervosos (VALADARES, 2002, p.81). Figura 5.1 Entendimento de (a) R.G., (b) R.G., (c) C.D., e (d) A.C. 66 acerca do tema central discutido no TDC. Figura 5.2 Entendimento de (a) R.F., (b) C.D., (c) D.S., e (d) A.C. 68 acerca das relações causa-efeito associadas a fenômenos climáticos extremos. Figura 5.3 Hábitos que seriam adotados por (a) R.F., (b) R.G., (c) D.S. 69 e (d) A.C.. a partir da leitura do TDC. Figura 5.4 Síntese do TDC feita por (a) R.F., (b) R.G., (c) D.S., e (d) 70 A.C.. Figura 5.5 Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e 72 temperatura. Figura 5.6 Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e 74 temperatura, em que o secador de cabelo, ligado à rede elétrica, encontra-se afastado da lixeira com bolinhas de isopor. Figura 5.7 Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e 75 temperatura, em que o secador de cabelo, ligado à rede elétrica, encontra-se próximo da lixeira com bolinhas de isopor. Figura 5.8 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por A.C. 81 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.9 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por A.M. 82 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.10 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por C.D. 83 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.11 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por D.S. 84 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.12 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por B.Z. 85 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.13 Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por B.P. 86 13 (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Figura 5.14 Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por 86 J.C. Figura 5.15 Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por 87 R.G. Figura 5.16 Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por L.C.. 87 Figura 5.17 Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por L.S.. 88 Figura 5.18 Trecho do TDC em que foi identificado o conceito de calor 88 pelos(as) alunos(as) A.C., C.D., A.C., T.L.. Figura 5.19 Trecho do TDC em que foi identificado o conceito de 89 temperatura. Figura 5.20 Produção textual de L.S.. 90 Figura 5.21 Produção textual de JeB.. 91 14 LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 3.1 Causas e efeitos relacionados a fenômenos climáticos extremos 48 retirados do TDC intitulado Lições do Catarina e do Katrina: as mudanças do clima e os fenômenos extremos publicado na Ciência Hoje (MARENGO; NOBRE, 2005). Tabela 3.2 Características relevantes do análogo para o estudo de calor e 51 temperatura. Tabela 3.3 Correspondências entre a situação física alvo e a situação 52 análoga para o estudo de calor e temperatura. Tabela 3.4 Limites de validade da analogia para o estudo de calor e 53 temperatura. Quadro 3.1 Quadro geral da unidade didática do momento da 41 Quadro geral da unidade didática do momento da organização do 42 problematização inicial: Atividade didática baseada em TDC. Quadro 3.2 conhecimento. (a) Aulas 3-4. (b) Aulas 5-6. (c) Aulas 7-8. Quadro 3.3 Quadro geral da unidade didática do momento da organização do conhecimento. (a) Aulas 9-10: Atividade didática baseada em analogia. (b) Aulas 11-12: Atividade didática baseada em TDC. 45 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 PERSPECTIVA PEDAGÓGICA E TRAJETÓRIA DOCENTE Pensando em uma educação que além de conteúdos científicos também visa uma formação em valores e atitudes é que entendemos que a tomada de consciência sobre questões relacionadas a problemas sociais relacionados às nossas realidades pode e deve estar presente no processo de ensino-aprendizagem de ciências naturais. Assim, é necessário ultrapassar a meta de uma aprendizagem de conceitos e teorias relacionadas com conteúdos abstratos e neutros, para um ensino mais cultural que proporcione uma melhor compreensão, apreciação e aplicação da ciência e da tecnologia, levando-se em conta as questões sociais (AULER; BAZZO, 2001). Mediante essas questões, surge um novo enfoque que vem ganhando espaço na prática da sala de aula com o objetivo de não apenas possibilitar a experimentação da tecnologia dentro das tarefas práticas, mas procurar uma relação recíproca entre ciência, tecnologia e sociedade: o enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade (PINHEIRO et al., 2007). Esse campo de trabalho se mostra ainda muito recente em nossa atividade escolar, mas já nasceu com caráter crítico, tanto em relação à visão essencialista da ciência e da tecnologia, quanto à visão interdisciplinar entre as áreas do conhecimento. Um dos objetivos do enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) é dotar as pessoas de habilidades e competências tornando-as capazes de discutir e debater questões científicas e tecnológicas que permeiam a sociedade. Segundo Azevedo (1999), a educação científica com a orientação CTS é destinada a promover uma educação científica e tecnológica, um conceito que pode ser compreendido, em um sentido amplo, como a capacidade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de caráter científico. Busca-se como meta educativa geral possibilitar a todas as pessoas a tomada de decisões responsáveis em questões controversas que envolvam relações CTS e que tenham impacto na qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, pode-se dizer que é de extrema importância uma ação responsável do professor em sala de aula, envolvendo clareza na finalidade dos conteúdos escolhidos para trabalhar com os alunos, planejamento de atividades para o desenvolvimento destes conteúdos, e uso de recursos adequados para a aquisição de significados e a atribuição de sentidos para o que eles aprendem, sendo desejável que, ao mesmo tempo, também possam favorecer e promover o seu crescimento como pessoa. Para o termo conteúdo, evoca-se aqui a entendimento de César Coll (COLL, 2000, p.12): “os conteúdos designam o conjunto de conhecimentos ou formas culturais cuja assimilação e apropriação pelos alunos e alunas é considerada essencial para o seu desenvolvimento e socialização”. 16 É dentro dessa perspectiva pedagógica, que busca possibilidades para uma formação global dos alunos para além de uma aprendizagem significativa de conteúdos específicos de Física, que se insere esta dissertação, resultado de minha trajetória como professora e educadora que se inicia no ano de 1998, quando concluí o Curso de Graduação em Matemática Licenciatura, com Habilitação em Física, e assumi as disciplinas de Matemática, para 6ª e 7ª séries do ensino fundamental da Escola Estadual Padre João Zanella, e Física, para 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio da Escola Estadual de Educação Básica Tiradentes, do município de Nova Palma, RS. Naquele mesmo ano, me inscrevi num curso de formação continuada de professores, promovido pelo Núcleo de Educação em Ciências (NEC) da Universidade Federal de Santa Maria, RS, e no ano de 2000, fui convidada pelo Prof. Dr. Eduardo Adolfo Terrazzan para participar deste núcleo como membro do Grupo de Trabalho de Professores de Física (GTPF). Como integrante do GTPF, comecei a trabalhar no desenvolvimento e implementação em sala de aula de módulos didáticos (MDs), os quais eram avaliados individualmente e coletivamente pelos participantes. As reuniões aconteciam semanalmente no NEC. Os MDs desenvolvidos seguem a dinâmica dos Três Momentos Pedagógicos, baseados na proposta de Delizoicov e Angotti (1991). Em cada MD, se procurava incorporar atividades didáticas elaboradas a partir do estudo de artigos relacionados à área do Ensino de Física, sendo elas: atividades didáticas baseadas em analogias, experimentos, resolução de problemas abertos e textos de divulgação cientifica. Na elaboração conjunta dessas atividades no GTPF, percebi que é de suma importância a participação do professor na elaboração do planejamento escolar, pois, desta forma, sua ação pode ser realizada de forma responsável e consciente. É durante o planejamento escolar que o professor pode e deve preparar atividades que estabeleçam relações entre o mundo natural e tecnológico e relações sociais entre os envolvidos, bem como escolher conteúdos a serem ensinados e metodologias a serem desenvolvidas, aproximando sua prática à realidade dos alunos e daquilo que lhes é significativo. Minha participação no GTPF deu-se até janeiro de 2006. Durante este período tive a oportunidade de participar de eventos científicos de âmbito nacional, apresentando trabalhos relacionados a experiências em sala de aula, ministrando oficinas, participando de seminários e mini-cursos, o que me possibilitou ter um conhecimento maior sobre estudos e pesquisas realizadas na área de ensino de Física. Participar do GTPF foi uma experiência rica, e muito me acrescentou nas discussões, nos estudos, debates, enfim, nos trabalhos que desenvolvi, no âmbito do GTPF, para a Taniamara Vizzotto Chaves, com textos de divulgação cientifica, para o Leandro Londero da Silva, nas atividades didáticas baseadas em analogias, para o Cláudio Hernandes nas atividades didáticas com uso de experimento, e para o Luiz Clement, nos 17 estudos de atividades didáticas baseadas em resolução de problemas abertos, que me incentivou muito a dar continuidade nos meus sonhos. Hoje percebo, após participar de discussões em eventos da área de Física, que existem muitos problemas a serem abordados no ensino de Física os quais exigem um grau de conhecimento muito amplo, não bastando apenas discutir a Física apenas como ciência, mas sendo preciso ultrapassar este limite. Faz-se necessário discutir a tecnologia que o homem desenvolve através da Física e as possíveis implicações sociais e ambientais que a tecnologia desencadeia, permeadas por interesses políticos e econômicos. Ao longo destes anos atuando em sala de aula, implementando os MDs, pude perceber uma melhora na minha prática pedagógica. As atividades didáticas com uso de textos de divulgação científica (TDCs) e analogias me davam mais segurança em desenvolver os conteúdos de Física, à medida que percebia que o uso destes recursos proporcionava maior compreensão dos conteúdos pelos alunos e me possibilitava discutir questões próximas da vida cotidiana. 1.2 PROPÓSITO, JUSTIFICATIVA E QUESTÕES NORTEADORAS Especificamente quanto a TDCs, Chaves (2002) aponta que o seu uso para o ensino-aprendizagem de ciências naturais permite ao professor tanto selecionar conteúdos presentes no curriculo escolar, como proporcionar a discussão sobre temas científicos/tecnológicos da atualidade que envolve as ciências naturais (CHAVES, 2002). Os TDCs têm características que podem auxiliar tanto na aprendizagem de fatos quanto na construção de relações de significado entre conceitos. Destacam-se, nesse sentido, os recursos textuais dos TDCs, como o formato próprio e vocabulário simples voltado para o leitor, que tornam a sua utilização facilitada além de prazerosa, estimulando a leitura, e ainda, o fato de que eles permitem explorar temas atuais relacionados ao meio ambiente, tecnologia, política, economia, entre outros que, de forma geral, os diferenciam dos livros didáticos, aproximando o aluno da realidade. A apresentação de situações e contextos próximos da realidade do aluno facilita a compreensão do novo conhecimento (POZO, 2000). Nesse sentido, vários autores defendem a utilização de TDC em aulas de ciências para facilitar a aprendizagem significativa por parte do aluno, aproximando os conteúdos escolares do contexto social em que vivem os alunos (AZEVEDO, 1999; TERRAZZAN, 2000; CHAVES, 2002; ALMEIDA; BABICHAK; SILVA, 2000; RICON; ALMEIDA, 1991). Outro aspecto importante a ser destacado é que os TDCs estimulam ao questionamento, à crítica, e até mesmo, conforme os objetivos de ensino, à produção escrita. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio 18 (BRASIL, 1997), a produção da linguagem escrita de um aluno deve ser um processo permanentemente desenvolvido e melhorado durante todo o período de escolarização do aluno. No entanto, à medida que cresce a escolaridade de um aluno sua produção de texto diminui (TEIXEIRA, 2004). Muitos alunos não se sentem estimulados a escrever, pois o professor cria o hábito de escrever tudo o que eles necessitam, de forma que eles se desinteressam pela escrita de seus próprios textos, porque esperam do professor um conteúdo pronto, um saber acabado (AZEVEDO; TARDELLI, 2004). Assim, na medida em que os TDCs proporcionam uma aproximação com a realidade por meio da discussão de conteúdos científicos/tecnológicos em aulas de ciências, proporcionam o desenvolvimento do espírito crítico e reflexivo. Desse modo, além do estímulo à leitura e à produção textual, os TDCs podem promover o aprendizado de atitudes. Conforme Sarabia (2000, p.122), por atitudes entende-se “tendências ou disposições adquiridas e relativamente duradouras a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa, acontecimento ou situação e a atuar de acordo com essa avaliação”. Além do TDC, a analogia é outro recurso didático que pode ser utilizado pelo professor para auxiliar o aluno na compreensão de conceitos científicos (HARRISON; TREAGUST, 1993; GLYNN, 2008), bem como no desenvolvimento de atitudes e procedimentos em aulas de ciências (OLIVA et al., 2001; OLIVA, 2004). A analogia é um instrumento do pensamento utilizado no processo de compreender algo de um domínio de conhecimento novo a partir do que é familiar de outro domínio de conhecimento, em que domínio é a rede conceitual que abrange o conhecimento novo e o conhecimento familiar (OLIVA et al., 2001). As analogias são importantes instrumentos tanto para o ensino, quanto para a comunicação cotidiana e para a descoberta científica (MARTINS, 1998; DUARTE, 2005). Um exemplo de analogia em descoberta científica foi apresentado por Rutherford para explicar um novo modelo de átomo a partir de um arranjo experimental de espalhamento de partículas alfa por finas folhas de várias substâncias, em que Rutherford assim se expressa para explicar que algumas partículas incidentes defletiam de até 180º: “[...] Era tão inacreditável como se você atirasse um obus de 15 polegadas sobre um pedaço de papel de seda e ele voltasse e o atingisse” (EISBERG: RESNICK, 1979, p.127). Como exemplos de uso de analogia no ensino de Física, têm-se (SILVA, 2006): no estudo de eletrostática, o uso de vasos comunicantes como situação análoga para abordar processos de eletrização por atrito; no estudo de dilação térmica, o uso de agitação mecânica de bolas de isopor localizadas nos nós de uma rede elástica tridimensional como situação análoga para abordar a agitação térmica das partículas ou átomos da rede cristalina de um sólido; para o estudo de ondulatória, o uso de um “Ola!” em um estádio de futebol como situação análoga 19 para abordar uma onda em uma corda; e, no estudo de eletrodinâmica, o uso do sistema circulatório/sanguíneo como situação análoga para abordar um circuito elétrico simples. Uma analogia, conforme o trabalho de revisão feito por Duarte (2005, p.7), “é, frequentemente, entendida como uma comparação baseada em similaridades entre estruturas de dois domínios de conhecimentos diferentes, um conhecido e outro desconhecido”. O domínio conhecido ou familiar tem recebido as denominações de “análogo”, “fonte”, “base”, “veículo”, etc., enquanto o domínio desconhecido ou pouco conhecido tem recebido as denominações de “alvo”, “meta”, “tópico”, “tema”, etc. Neste trabalho, será utilizada a denominação de “alvo” para o domínio desconhecido ou pouco conhecido, e de “análogo" para o domínio conhecido ou familiar. Duarte ressalta que uma analogia não pressupõe a existência de uma igualdade simétrica entre o alvo e o análogo, “mas antes uma relação que é assimilada a outra relação, com a finalidade de esclarecer, estruturar e avaliar o desconhecido a partir do que se conhece” (p.7). Assim, em uma analogia há semelhanças e diferenças entre análogo e alvo. E é nesse sentido que este estudo também se alinha ao conceito de analogia apresentado por Martins (1998): “Dois objetos de quaisquer tipos, A e B, são análogos, se existem partes, propriedades ou relações semelhantes em A e B (isso é, se eles são equivalentes sob alguns aspectos), e se, além disso, eles possuem alguma diferença” (p.244). Com isso, identificam-se os elementos de uma analogia como sendo o “alvo”, que é o domínio que representa o desconhecido ou novo, o “análogo”, que é o domínio que representa o conhecido ou familiar, e as “relações analógicas”, que são o conjunto de relações que estabelecem semelhanças e diferenças entre os dois domínios e que permitem a compreensão do domínio alvo (SILVA, 2006; GODOY, 2002). Do ponto de vista do ensino, e por meio de um método apropriado para o seu uso didático, a analogia pode auxiliar na aprendizagem significativa de conteúdos conceituais (PÁDUA, 2003; GLYNN, 2008), ou seja, auxiliar no estabelecimento das relações analógicas necessárias para a assimilação dos novos significados (o alvo) a partir do que é previamente conhecido ou familiar ao aluno (o análogo). E, além de promover aprendizagem de conceitos, a analogia auxilia na aprendizagem de procedimentos e promove a aprendizagem de atitudes (OLIVA et al., 2001; OLIVA, 2004). Uma das potencialidades da analogia no ensino de ciências naturais é facilitar a compreensão e visualização de conceitos científicos abstratos a partir do análogo, conforme a revisão de literatura feita por Duarte (2005). Em Física, há conceitos específicos que são abstratos, como os conceitos de campo, de calor e de temperatura, que fazem parte do currículo. Neste trabalho, os conceitos de calor e temperatura são os conceitos alvo a serem estudados. 20 Com relação aos conceitos físicos de calor e temperatura, as pesquisas e a experiência didática têm mostrado que a aprendizagem destes conceitos é dificultada pelas concepções alternativas apresentadas pelos alunos tanto em nível médio como em nível superior (LABURÚ et al., 2000); KÖHNLEIN; PEDUZZI, 2002; AMARAL: MORTIMER, 2001). Do ponto de vista do professor, a importância de se conhecer as concepções prévias que dificultam a aprendizagem de um determinado conceito facilita o trabalho de planejamento didático e sua condução na sala de aula. A partir dessas considerações, este estudo tem como o objetivo geral analisar o uso de atividades baseadas em analogia e TDCs, em termos de aprendizagem e de prática pedagógica, no ensino de Física em nível médio, especificamente no ensino de conteúdos relacionados a calor e temperatura, em uma perspectiva de educação em CTS. Essas intenções têm subjacentes a elas a suposição de que os recursos da analogia e TDCs, além de exercer papel facilitador da aprendizagem significativa de conceitos no ensino de ciências, também promovem a aprendizagem de procedimentos e atitudes em uma perspectiva de educação que relaciona conteúdos científicos com tecnologia, questões sociais e ambientais. Nesse sentido, este estudo tem como finalidade contribuir com o ensino de ciências, especificamente de Física, e a melhoria da prática pedagógica, a partir de discussões em torno da seguinte questão: em que medida é efetivo o uso de atividades baseadas em analogia e TDCs, em termos da aprendizagem de calor e temperatura e da prática pedagógica, em uma perspectiva de educação em CTS? Para explorar o problema proposto, questões subsidiárias são introduzidas para guiar o estudo: (a) quais são as relações de correspondência estabelecidas entre os conhecimentos alvo e análogo; (b) quais as limitações da analogia para o estudo de calor e temperatura; (c) qual é a compreensão sobre os conceitos de calor e temperatura; (d) quais são as dificuldades na aprendizagem dos conceitos de calor e temperatura; (e) quais são as relações entre ciência, tecnologia e temáticas sociais construídas a partir da leitura; (f) qual é o papel da professora-pesquisadora na condução das atividades de aprendizagem. 21 1.3 PLANO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação é composta de 6 capítulos e 1 apêndice, cuja apresentação e conteúdo têm o seguinte plano: O Capítulo 1, “Introdução”, apresentou a minha trajetória profissional e a perspectiva pedagógica que se insere esta dissertação como resultado desta trajetória. Neste capítulo ainda são introduzidas as intenções do estudo e sua justificativa, especificamente, o objetivo geral, a hipótese de trabalho, a finalidade, a questão norteadora do estudo, e as questões subsidiárias como guia do estudo. O Capítulo 2, “Fundamentos Teóricos e Revisão de Literatura”, apresenta a tipologia dos conteúdos da aprendizagem, a evolução da terminologia e dos conceitos sobre calor e temperatura, as dificuldades da aprendizagem destes conceitos que são reportadas na literatura, a perspectiva de educação em CTS que delineia esta dissertação, os modelos de ensino utilizados. O Capítulo 3, “A Unidade Didática Calor e Temperatura”, apresenta o projeto do produto educacional desenvolvido. O Capítulo 4, “Procedimentos Metodológicos”, apresenta a concepção metodológica para análise das atividades desenvolvidas. O Capítulo 5, “Implementação das Atividades Baseadas em Analogia e TDC”, apresenta o resultado da implementação das atividades didáticas desenvolvidas. O Capítulo 6, “Considerações Finais”, apresenta as considerações finais, envolvendo o objetivo geral e as questões que nortearam o estudo. 22 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E REVISÃO DE LITERATURA 2.1 TIPOLOGIA DOS CONTEÚDOS Esta dissertação segue a proposta de classificar os conteúdos curriculares em conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, primeiramente proposta por César Coll em 1983 (1983 apud ZABALA, 1998) pela possibilidade de interpretar acontecimentos da sala de aula em termos das aprendizagens pretendidas. Nessa proposta, o termo conteúdo é utilizado de modo abrangente, não se referindo unicamente ao que se deve aprender em termos de capacidades cognitivas, mas também às aprendizagens que possibilitam o desenvolvimento das outras capacidades. Aqui serão apresentados, de forma breve, os conteúdos da aprendizagem, conceituais, procedimentais e atitudinais, como discutidos por Zaballa (1998), Pozo (2000), Coll e Valls (2000), e Sarabia (2000), dentro de uma perspectiva de aprendizagem ausubeliana (AUSUBEL, 2003). 2.1.1 Conteúdos conceituais Com relação aos conteúdos conceituais, Pozo (2000) os refere a fatos/dados e a conceitos. A aprendizagem de dados/fatos consiste em uma cópia literal de informações que devem ser lembradas ou reconhecidas de modo literal, é alcançada por repetição, adquirida de uma só vez e esquecida rapidamente se não houver revisão (Pozo, 2000). Como exemplos de fatos/dados, tem-se que a água pura entra em ebulição à temperatura de 100oC e à pressão de 1atm, ou que o cobre é um bom condutor de eletricidade, ou ainda, que o cobre é um bom condutor térmico. Com relação à aprendizagem de conceitos, esta consiste na relação com conhecimentos anteriores, é alcançada pela compreensão, é adquirida gradativamente e esquecida mais lenta e gradativamente (idem, ibidem). Assim, a “aquisição de dados e fatos baseia-se na memorização, enquanto a compreensão de conceitos deve ser significativa” (idem, ibidem, p.27). Com isso, o ensino de dados/fatos novos pode ser efetivado sem conhecimentos previamente existentes na estrutura cognitiva dos alunos que facilite a organização do novo conhecimento para dar-lhe sentido, enquanto que a aprendizagem de conceitos não é levada a cabo sem os conhecimentos que os alunos que já possuem na sua estrutura cognitiva (idem, ibidem). Segundo Pozo (2000), as duas aprendizagens podem ser complementares e não dicotômicas, ficando a aquisição de fatos/dados facilitada pela construção de significados sobre estes dados/fatos. No entanto, para que isso se efetive, ou seja, para “que os dados e 23 os fatos adquiram significado, os alunos devem dispor de conceitos que lhes permitam interpretá-los” (p.21). Para os exemplos citados, aprender que o cobre é bom condutor de eletricidade pode ser facilitado pelo conhecimento de que o cobre metálico tem elétrons livres na sua rede cristalina que, mediante uma diferença de potencial, imprime um movimento líquido a estes elétrons, resultando em corrente elétrica. Ser o cobre um bom condutor térmico pode ser mais facilmente compreendido tanto pelo movimento dos elétrons através da rede cristalina do metal quanto pelo movimento vibratório dos átomos desta rede, ambos transmitindo energia térmica ao longo do metal. No entanto, para os dois exemplos citados, é necessário que o aluno já domine alguns conhecimentos, como os conceitos de diferença de potencial, corrente elétrica, rede cristalina e energia térmica. Dentre os conceitos científicos que os alunos devem aprender ou dispor, distingue-se os conceitos específicos e os conceitos estruturantes/princípios (Pozo, 2000). Os conceitos específicos seriam os conceitos que comumente estão presentes na estrutura curricular, como os conceitos de velocidade, força, calor, temperatura, diferença de potencial, corrente elétrica, entre outros. Os princípios, por outro lado, “seriam conceitos muito gerais, de alto nível de abstração, que costumam ser subjacentes à organização conceitual de uma área, embora nem sempre se tornem explícitos o suficiente” (p.25), tais como os princípios de conservação em Física (princípio de conservação da carga, princípio de conservação do momento linear, princípio de conservação do momento angular, entre outros), que devem ser dominados para que conceitos específicos sejam compreendidos. Pozo ainda aponta que um conceito científico não é um elemento isolado, mas está relacionado a outros conceitos científicos “de forma que o seu significado provém, em grande parte, das relações significativas estabelecidas com esses outros conceitos“ (p.22). Para “aprender um conceito é necessário, então, estabelecer [...] relações significativas com outros conceitos (p.22). 2.1.2 Conteúdos procedimentais Conteúdos procedimentais, segundo Coll e Valls (2000, p.77), fazem parte integrante da aprendizagem das ciências e se referem a ações ou passos realizados de forma ordenada, orientados para a consecução de uma meta, de uma finalidade. A aprendizagem de procedimentos está associada à capacidade de saber fazer, de saber agir de forma eficaz, visando um fim bem determinado. Coll e Valls (2000, p.96) enfatizam que a aprendizagem significativa de procedimentos se dá de forma progressiva e gradual, e que o aperfeiçoamento da sua atuação possibilita o seu uso em situações novas e mais complexas. 24 Segundo esses autores, o que hoje se convencionou chamar de procedimentos sempre foi utilizado no sentido de destrezas ou habilidades (motoras, mentais, instrumentais, etc.), técnicas ou métodos (de laboratório, de estudo, de leitura, de escrita, etc.), e estratégias (de aprendizagem, cognitivas, etc.). Fazem parte dos conteúdos procedimentais a elaboração de gráficos, a resolução de problemas, a interpretação de textos, a redação de textos, a construção de relações, a construção de analogias, entre outros. No caso específico do uso de analogia na aprendizagem dos conceitos de calor e temperatura, como proposto no presente estudo, é necessário que o aluno também domine o aspecto procedimental na consecução dos passos da construção da analogia, como por exemplo, o conjunto de passos apresentado no modelo de ensino baseado em analogia TWA modificado (seção 2.5.2.1). A aprendizagem dos referidos conceitos também envolverá a aprendizagem dos procedimentos de raciocínio do processo analógico. De forma geral, a aprendizagem de procedimentos que se faz conjuntamente a outros conteúdos, como conteúdos conceituais e atitudinais, faz parte de uma aprendizagem integral e é necessária para uma aprendizagem significativa, como ressaltam Coll e Valls (2000, p.99). 2.1.3 Conteúdos atitudinais No caso dos hábitos, que segundo esses autores parece se referir mais a conteúdos procedimentais, também se reconhece a aprendizagem conjunta de outros conteúdos, como os conteúdos atitudinais. Nesse sentido, no caso do uso de textos de divulgação científica para aprendizagem de conceitos, que também é um recurso proposto no presente estudo para o estudo dos conceitos de calor e temperatura, os hábitos revelam valores e condutas importantes a serem valorizados no ensino de ciências, e fazem parte do presente estudo. As atitudes têm caráter de coerência e estabilidade, e seguiu a definição apresentada por Sarabia (2000, p.122) na primeira parte desta Dissertação, no Capítulo da Introdução, como “tendências ou disposições adquiridas e relativamente duradouras a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa, acontecimento ou situação e a atuar de acordo com essa avaliação”. São exemplos de atitudes a participação em aula, o respeito aos colegas, o respeito ao meio ambiente, a atitude de diálogo e debate, a socialização, entre outros. Segundo esse mesmo autor, a formação e a mudança de atitude está associada a três outros conceitos: valores, normas e juízos. Os valores são definidos como “princípios éticos com respeito aos quais as pessoas sentem um forte compromisso emocional e que empregam para julgar as condutas”, e dessa forma, “transcende a situação concreta na qual se encontra a pessoa que realiza a avaliação” (p.127). As normas ou regras sociais são definidas como “padrões de conduta compartilhados pelos membros de um grupo social” 25 (idem, ibidem, p.128). São expectativas compartilhadas pelos membros do grupo e para os quais sanções sociais são imputadas ao seu descumprimento. Já os juízos de valor podem ser entendidos como os julgamentos realizados a partir da valoração de condutas. Para finalizar esta breve descrição da tipologia dos conteúdos, é importante dizer que o planejamento de ensino de atitudes deve estar em consonância com valores e normas encontrados na escola e nas orientações gerais para o ensino da área específica. 2.2 TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL 2.2.1 Aprendizagem significativa como um processo A aprendizagem significativa, segundo Ausubel (2003, p.71), é um processo relacional que envolve a aquisição de novos significados. Os novos significados são os produtos finais da aprendizagem (p.71) e se adquirem por meio da interação entre os novos conhecimentos do material de aprendizagem e os conhecimentos anteriormente apreendidos (p.106). É um processo relacional no sentido que os novos conhecimentos se relacionam, de forma não arbitrária e não literal, ao que já se sabe, e o produto desta interação é o surgimento dos novos significados (p.71). Segundo Ausubel (p.81), a eficácia da aprendizagem significativa como um mecanismo de armazenamento e transformação dos conhecimentos é, sobretudo, devida a duas características deste tipo de aprendizagem: a não arbitrariedade e o caráter não literal da relação entre o material de aprendizagem e os conhecimentos relevantes que estão ancorados ou estabelecidos na estrutura cognitiva. Relacionar de forma não arbitrária o material de aprendizagem com as ideias que os alunos já possuem lhes possibilita explorar, de forma eficaz, os conhecimentos que já possuem como uma matriz ideal e organizacional para a incorporação, compreensão, retenção e organização de grandes conjuntos de novas ideais. É a própria não arbitrariedade deste processo que lhes permite utilizar os conhecimentos adquiridos anteriormente como verdadeiros critérios para interiorizar e tornar compreensíveis vastas quantidades de novos significados de palavras, conceitos e proposições, com relativamente pouco esforço e poucas repetições (p.81). Devido a este fator de não arbitrariedade, o significado potencial de novas ideias como um todo pode relacionar-se a significados estabelecidos na estrutura cognitiva (conceitos, fatos e princípios) como um todo para produzirem novos significados. Por outras palavras, a única forma possível de se utilizarem ideias anteriormente apreendidas na transformação (interiorização) de novas ideias é relacionando as últimas, de forma não arbitrária, às primeiras. As novas ideias, que se tornam significativas, também alargam, por sua vez, a base da matriz de aprendizagem (p.81). 26 Essa teoria tem importantes implicações para o planejamento didático (MOREIRA, 1983). Ao planejar o ensino, o professor deve partir do que o aluno já sabe, identificando conceitos e proposições mais relevantes do conteúdo e organizar estes conteúdos para facilitar a assimilação pelo aprendiz (MOREIRA, 1983, p.57). Precisa, então, o professor identificar quais são os conceitos e proposições que servem de ancoradouro para o conteúdo que deseja ensinar e, em um passo seguinte, ter clareza sobre o que os alunos já sabem relacionados a este conteúdo, pois este conhecimento será o alicerce para o novo conhecimento (MOREIRA, 1983, p.58). Segundo o autor, cabe também ao professor utilizar estratégias e recursos que facilitem a assimilação do conteúdo pelo aprendiz (MOREIRA, 1983, p.19), de tal forma que o novo conhecimento possa ser relacionado ao conhecimento prévio que é relevante para a nova aprendizagem. Isso será discutido a seguir. 2.2.2 Condições para aprendizagem significativa 2.2.2.1 Os conhecimentos prévios e a predisposição para aprender Nesta teoria, o aluno é visto como um ser ativo, que possui informações e experiências prévias que são fundamentais para a construção de novos significados. Ausubel (2003, p.75) destaca que o fator mais importante que vai influenciar na aprendizagem de novos significados é aquilo que o aluno já sabe de relevante e que pode ser relacionado com os novos significados de forma não arbitrária e não literal. Ausubel denomina esses conhecimentos prévios, relevantes para a nova aprendizagem, de subsunçores, que vão servir de âncora ou suporte para as novas aprendizagens. Moreira (1983, p.15) destaca que novas “ideias e informações podem ser aprendidas e retidas na medida em que os conceitos relevantes e inclusos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e sirvam, dessa forma, de ancoradouro às novas ideias e conceitos”. Para que ocorra aprendizagem significativa o aluno deve manifestar intenção de compreender, uma disposição para relacionar os novos conhecimentos de forma não arbitrária e não literal aos conhecimentos já aprendidos. Assim, mesmo que uma proposição seja potencialmente significativa, se o aluno tem a intenção de memorizá-la de forma arbitrária e literal, como uma série de palavras relacionadas de modo aleatório, tanto o processo de aprendizagem como os resultados do mesmo serão mecânicos. No entanto, não é suficiente o aluno estar disposto para aprender significativamente, pois, segundo Ausubel (2003), tanto o processo quanto o resultado da aprendizagem possivelmente não serão significativos se a tarefa de aprendizagem não é potencialmente significativa, ou seja, relacionável com a estrutura cognitiva de uma forma não arbitrária e 27 substantiva. Assim, os novos conhecimentos a serem aprendidos devem ser potencialmente significativos para o aluno. Essa condição é discutida a seguir. 2.2.2.2 As condições do material de aprendizagem Na aprendizagem significativa, os alunos devem assimilar os conteúdos de maneira ativa, integradora e crítica para que estes conteúdos lhes possibilitem compreender o mundo que os cerca. Frente às dificuldades encontradas para aprender significativamente os conteúdos ensinados na escola, novas formas e materiais adequados devem ser encontrados para ensinar os conteúdos de maneira eficaz (AUSEUBEL, 2003, p.33). Na aprendizagem significativa, “o material de instrução é apenas potencialmente significativo” (AUSUBEL, 2003, p.78). Assim, é condição para que ocorra aprendizagem significativa que os novos conhecimentos sejam potencialmente significativos, ou seja, devem ser passíveis de serem postos em relação inteligível com as estruturas previas que o aluno já possui. Com isso, além dos conhecimentos prévios e da predisposição para aprender, é condição para a ocorrência da aprendizagem significativa que o material de aprendizagem seja potencialmente significativo, ou seja, que o material seja lógico, que faça sentido para o aluno. Por meio de material potencialmente significativo, e métodos apropriados que permitam conhecer o que o aluno já sabe e o predisponham à aprendizagem, é possível facilitar, influenciar a estrutura cognitiva do aprendiz. A clareza com que o aprendiz externa os conteúdos está relacionada com a eficiência do material e dos métodos de ensino. 2.3 O MODELO DOS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS E A PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIA-TECNOLOGIA-SOCIEDADE 2.3.1 O modelo dos Três Momentos Pedagógicos (TMP) O modelo TMP é um modelo de ensino que estrutura a ação didática em três momentos pedagógicos, como proposto por Demétrio Delizoicóv e José André Angotti (DELIZOICÓV; ANGOTTI, 1991; DELIZOIKOV et al., 2007). A unidade didática que foi desenvolvida neste estudo (Capítulo 3) é estruturada de modo que os assuntos foram desenvolvidos segundo um modelo ou uma dinâmica básica constituída de três momentos conhecidos como os Três Momentos Pedagógicos (TMP), a saber: Problematização Inicial (PI), Organização do Conhecimento (OC) e Aplicação do Conhecimento (AC). Nesse modelo, o momento PI propõe um conjunto de questões e/ou situações problematizadoras pertinentes aos assuntos para discussão com os alunos, que pode, por 28 exemplo, ser mediado pelo uso de um texto de divulgação científica (TDC). A partir da discussão, busca-se identificar o que os alunos conhecem sobre o assunto, como proposto pela aprendizagem significativa de Ausubel (2003), bem como seu posicionamento crítico sobre o assunto. Para isso, a postura do professor estará mais voltada para levantar questionamentos e levar o aluno a pensar e expor sobre os assuntos a serem abordados do que fornecer explicações. Em síntese, este momento visa motivar os alunos na busca por outros conhecimentos que ainda não dominam para a compreensão de problemas do seu interesse e/ou da sua realidade. Para o momento pedagógico OC tratam-se dos conhecimentos necessários ao desenvolvimento e compreensão dos conteúdos da aprendizagem sob orientação do professor. Atividades diversas podem ser propostas neste momento, incluindo resolução de exercícios para a apropriação dos conhecimentos. O momento pedagógico AC destina-se a utilização dos conhecimentos construídos pelos alunos para interpretar novas situações bem como as situações problematizadoras inicialmente levantadas, procurando situar o grau de compreensão conseguido para a resolução das mesmas. Diversas atividades podem ser realizadas neste momento, em que as situações a serem estudadas estarão, preferencialmente, relacionadas à realidade, e que possam ser compreendidas utilizando-se basicamente de conceitos, modelos, leis e teorias. É, pois, este momento, mais para capacitar os alunos no emprego dos conhecimentos, sua generalização e articulação com outros conhecimentos e novas situações. Este momento pode suscitar a necessidade de aprofundamento dos estudos abrindo-se para nova temática, ou seja, para o desenvolvimento de um novo material de ensino. 2.3.2 A perspectiva de educação em Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) A perspectiva de educação em CTS teve suas origens na década de 1960 e 1970, causando profundas mudanças no cenário dos países europeus e da América do Norte, vindo mais tarde refletir-se no mundo de uma forma geral. Esse movimento teve como origem questionamentos em torno da ciência e da tecnologia, com relação às armas nucleares e químicas, agravamento dos problemas ambientais e seus impactos na vida das pessoas. A partir desses questionamentos, começaram a surgir organizações em prol de uma educação científica e tecnológica. Muitos dos estudos hoje desenvolvidos levantam questionamentos em relação à forma como o ensino das várias disciplinas vem sendo apresentado (AULER, 2001; SANTOS e MORTIMER, 2002). Um enfoque abstrato, quantitativo, rigoroso, no dia a dia de 29 sala de aula, um caráter demasiado acadêmico e distante das experiências dos alunos, dificulta a preparação do aluno como cidadão crítico no seu contexto social. As discussões sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade com vistas ao ensino têm como objetivo formar indivíduos para o exercício da cidadania (SILVA et al., 1999). Por isso, a perspectiva CTS se insere no ensino fundamental e médio, pois são nestes níveis de ensino que se dá esse tipo de formação (AULER; BAZZO, 2001). Devido às circunstâncias em que a perspectiva CTS surgiu, e também a seus objetivos para com a sociedade, verificou-se a importância de levá-lo para a sala de aula com o intuito de possibilitar a compreensão da dimensão social da ciência e da tecnologia, numa visão crítico-reflexiva (AULER; BAZZO, 2001). Para Garcia et al. (1996), é possível Através desses estudos, compreender a dimensão social da ciência e da tecnologia, tanto do ponto de vista de seus antecedentes sociais como de suas conseqüências sociais e ambientais, ou seja, tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social, política ou econômica que modulam a mudança científico-tecnológica, como pelo que concerne às repercussões étnicas, ambientais ou culturais dessa mudança. (p.60) A perspeciva CTS desse modo ganhou espaço no contexto educacional com o objetivo de promover o letramento científico-tencnológico que ultrapasse conteúdos isolados, incluso no currículo dos alunos, sem a devida contextualização com a realidade do aluno. Para Waks (apud SANTOS, 2001), O propósito da educação CTS é promover o letramento em Ciência e Tecnologia, de maneira que se capacite o cidadão a participar no processo democrático de tomada de decisões e se promova à ação cidadã encaminhada à solução de problemas relacionados à tecnologia na sociedade industrial. (p.97) Segundo Pinheiro et al. (2007), a perspectiva CTS poderá permitir um trabalho conjunto com as várias disciplinas que compõem o currículo, desenvolvendo um trabalho que possa levar o aluno a compreender a influência da ciência e da tecnologia, e a interação entre elas. Essa afirmação encontra respaldo nas várias competências apontadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999), distribuídas entre suas três áreas: Linguagens, códigos e suas tecnologias, Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias, e Ciências humanas e suas tecnologias. Claramente aparece, nas áreas citadas, a importância de formar um aluno que seja cidadão de um mundo simbólico e letrado, envolvido por tecnologias; da relação entre o conhecimento científico-tecnológico, a vida social e produtiva e os aspectos relacionados ao contexto da vida social; as questões ambientais relativas à qualidade de vida e a saúde; as questões éticas relacionadas às ciências (AULER, 2003). Em uma sociedade tecnológica, as linguagens são muitas e só conseguirá ler o mundo aquele que tiver os olhos críticos e 30 reflexivos, ou seja, aquele que souber ouvir, responder e questionar pelo poder de argumentar em favor dos interesses sociais (AULER; DELIZOICOV, 2001). Segundo Pinheiro et al. (2007), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio apontam da mesma forma que não basta ter o conhecimento sobre a ciência e a tecnologia e entender sua linguagem, é preciso ter princípios de ação cidadã, entendendo a sociedade como uma construção coletiva, que se constroem continuadamente. Nessa perspectiva, entende-se que é necessário possibilitar aos alunos uma alfabetização contínua para capacitá-los a participar do processo democrático de tomada de decisões, promovendo a ação cidadã, encaminhada à solução de problemas relacionados à sociedade na qual eles estão inseridos. O enfoque CTS ainda não se encontra presente nos currículos escolares no Brasil, o que, em parte, se deve a questões históricas e sociais que fizeram e ainda fazem com que as instituições responsáveis pelo planejamento didático no âmbito escolar tenham uma concepção positivista sobre as questões científico-tecnológicas, que inevitavelmente se reflete no currículo e nas relações entre professores e alunos (BAZZO, 1998). A postura positivista é responsável por uma relação entre professor e aluno extremamente rígida, pois estando o conhecimento já perfeitamente estruturado, não se considerariam ações problematizadoras, que poderiam ser utilizadas como estímulo para a construção do conhecimento dos alunos. De acordo com Osório (2002), O enfoque educativo em CTS tanto recupera os espaços críticos dessa relação conjunta ao desenvolver as aplicações e os fins do desenvolvimento cientifico-tecnológico em um emaranhado social, político e ambiental, quanto se nos apresenta como um campo de análise propicio para o entender e educar o fenômeno tecnocientífico. (p.64) Decorrente disso, o ensino-aprendizagem passará a ser entendido como a possibilidade de despertar no aluno a curiosidade, o espírito investigador, questionador e transformador da realidade; emerge daí a necessidade de buscar elementos para a solução de problemas que fazem parte do cotidiano do aluno, ampliando o conhecimento para utilizá-lo nas soluções dos problemas coletivos de sua comunidade e da sociedade (AULER, 2002). No capítulo da área de conhecimento das ciências naturais, matemática e suas tecnologias dos documentos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1997), há uma nítida proposição curricular com enfoque CTS, que surge com a denominação de contextualização com várias recomendações e proposições de competências que inserem a ciência e suas tecnologias em um processo histórico, social e cultural, e a discussão de aspectos políticos e éticos no mundo contemporâneo. 31 Para Pinheiro et al. (2007), com o enfoque CTS a própria concepção de ciência e tecnologia se transforma; o conhecimento científico passa a ser entendido como produção do homem na constante luta pela superação de suas dificuldades, na interpretação dos fenômenos, na solução dos problemas que afetam a sociedade, enfim, na busca de melhores condições de vida. Os PCN+ foram um dos principais incentivos sobre o ensino das tecnologias, e da abordagem e seqüência dos conteúdos de Física trabalhados nas escolas. A defesa da relação entre a ciência e tecnologia está presente em todo o documento, pois uma de suas principais posições é a atualização do ensino da ciência e a possibilidade de servir de instrumento de cultura e de compreensão do mundo contemporâneo por parte dos alunos. Para a Física, uma das competências no campo da contextualização sócio cultural é “compreender o conhecimento cientifico e tecnológico com resultados de uma construção humana inseridos em um processo histórico e social” (BRASIL, 2002, p.32). De fato, esse documento incorpora muitas discussões que tomaram lugar no movimento CTS, e que desencadearam inclusive a elaboração de materiais didáticos com diferentes abordagens dos conteúdos de Física e da tecnologia. O propósito de levar a sala de aula às discussões sobre as relações existentes entre ciência, tecnologia e sociedade, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, vem sendo defendido por meio dos PCN's como forma de educação tecnológica a qual não seria voltada para a confecção de artefatos, mas para a compreensão da origem e do uso que se faz destes artefatos na sociedade atual. Dessa forma, é importante discutir com os alunos os avanços da ciência e tecnologia, suas causas, conseqüências, os interesses econômicos e políticos, de forma contextualizada, enfatizando que a ciência é fruto da criação humana. Por isso, ela está intimamente ligada à evolução do ser humano, desenvolvendo-se permeada pela ação reflexiva de quem sofre/age as diversas crises inerentes a esse processo de desenvolvimento. 2.3.3 O modelo TMP e a perspectiva de educação em CTS O modelo TMP de Delizoikov e Angotti tem inspiração freireana, a qual enfoca uma educação problematizadora ou dialógica entre o homem e a realidade que o cerca. Nesta concepção de educação, “a experiência existencial do educando é o ponto de partida da [...] que o considera num contexto de vida (numa realidade) passível de ser conhecido e modificado” (DELIZOIKOV, 1983, p.86). O aluno é, então, visto como “sujeito da ação educativa, e não como objeto passivo desta” (p.85). Neste prisma dialógico, a educação problematizadora se caracteriza como aquela “realizada com o aluno e não sobre o aluno, uma vez que é inerente à dialogicidade o 32 dialogar com alguém, e mais ainda, sobre alguma coisa” (p.86, grifos do autor). Para isso, uma condição necessária “é que se parta daquilo que é familiar ao aluno, pois só desta forma ele poderá participar efetivamente desse diálogo” (p.86). Essa perspectiva de partir daquilo que o aluno já sabe é evocada pela aprendizagem significativa, como proposta por Ausubel (2003). Segundo Paulo Freire, o diálogo entre educador e educando, é o aspecto fundamental para a problematização de situações reais vividas pelo educando. Ele defende que é preciso fazer com que os educandos desenvolvam seu poder de captação e compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo (FREIRE, 2002). Nesta abordagem por temas problematizadores, como sugeridos por ele, incorporamse possibilidades de tratamentos interdisciplinares aos problemas tratados na sala de aula como forma de compreensão dos mesmos e de possíveis soluções. É nesse sentido que acreditamos que a perspectiva de educação CTS se insere como um elo articulador entre os conteúdos a serem aprendidos na sala de aula e a realidade do aluno, que metodologicamente pode ser trabalhada com o modelo TMP. 2.4 TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E ANALOGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS 2.4.1 Texto de divulgação científica no ensino de ciências Ao usar um TDC em uma aula em que o professor esteja discutindo com seus alunos conteúdos relacionados aos conhecimentos científicos, é importante que o professor tenha claro quê tipo de texto está oferecendo aos seus alunos e quais usos e funções sociais este texto demanda de modo que as propostas de atividades possam ser mais significativas possíveis para os alunos. Isso se aproxima do que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais, volume 4, sobre Ciências Naturais (Brasil, 1997), É importante que o aluno possa ter acesso a uma diversidade de textos informativos, pois cada um deles tem estrutura e finalidades próprias. Trazem informações diferentes, e muitas vezes divergentes, sobre um mesmo assunto, além de requererem domínio de diferentes habilidades e conceitos para sua leitura. (p.124) Segundo Chaves (2002), o uso dos TDCs como recurso didático mediador nas interações escolares é pouco utilizado hoje pelos professores da rede pública e privada no desenvolvimento das atividades didáticas. Outro dado também observado por esta autora é que poucos trabalhos em pesquisa sobre o uso de TDCs como recurso mediador das 33 interações escolares tem sido desenvolvido com o objetivo de contribuir para uma educação de melhor qualidade. O trabalho desenvolvido por Chaves (2002) teve como objetivo avaliar as possibilidades e perspectivas para a introdução de física moderna e contemporânea na escola média tendo como recurso didático textos de divulgação científica, numa perspectiva de alfabetizar cientificamente os sujeitos para a formação do cidadão. Segundo esta autora, (p.42) para que atividades com o uso de TDCs sejam desenvolvidas em sala de aula é preciso mudar radicalmente as práticas habituais de ensino aprendizagem, e que boa parcela dos professores não estão devidamente capacitados para tal mudança em suas práticas escolares e nem conscientizados desta situação. Além disso, os professores que lecionam Física no ensino médio, não possuem o hábito de realizar leituras e explorar materiais de divulgação, por isso não se sentem capacitados a trabalhar este tipo de material. Além do mais, existe a concepção de que leitura, sejam elas de textos didáticos ou não, são ou devem ser trabalhados apenas pelos professores das áreas de línguas. A pesquisadora também ressalta que muitos professores ainda não se deram conta da importância e necessidade de exploração de materiais deste tipo em sala de aula, no sentido de atualizar os conteúdos por eles trabalhados bem como atender os anseios dos alunos e da sociedade em geral. Para Silva e Cruz (2004), em estudo sobre a viabilidade de uso de revistas de divulgação cientifica como elemento motivador para discussões sobre as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), elaboraram um instrumento de análise para identificar características relativas a este enfoque nos TDCs, de forma que estes pudessem subsidiar a realização de atividades sobre a interação CTS no ensino médio. O olhar dos autores para os TDCs foi balizado por quatro dimensões, a saber: científica, tecnológica, social e da interação CTS. Com isso, os autores buscaram oferecer ao professor um instrumento que possibilitasse a identificação dessas características no(s) texto(s) escolhido(s) para a sua utilização em sala de aula. Salém e Kawamura (1996) ressaltam que os textos de divulgação apresentam uma diversidade de abordagens (ênfase na história e filosofia da ciência, nos procedimentos da ciência, nas aplicações, na ciência do dia a dia, etc.) e de recursos (poemas, canções, experiências de pensamento, clássicos da literatura, ilustrações, etc.). As linguagens dos textos são marcadas pela ausência do formalismo matemático, pelo uso de analogias e metáforas, pelo convite a reflexão e pelo apelo à curiosidade. A imagem de ciência é em geral, explicita, delineando uma intenção de desmistificação do conhecimento científico (através de uma concepção de Física como cultura e atividade intelectual humana, acessível e compreensível potencialmente por todos). 34 Nessa mesma linha, Gabana e Terrazan (2003), desenvolveram um estudo sobre o uso de atividades didáticas com TDCs em sala de aula, visando melhorar a qualidade das discussões sobre assuntos referentes à ciência e tecnologia e também apresentar alternativas ao uso do texto didático nas aulas de Física do ensino médio. Através desse estudo, os autores desenvolveram um guia de sugestões para a elaboração e implementação, no espaço da sala de aula, de atividades didáticas com a utilização de texto de divulgação. Assis e Teixeira (2003) também apresentam reflexões sobre o uso de textos, desde os alternativos até os didáticos (incluindo os de divulgação) em aulas de Física, as autoras destacam que o uso de textos possibilita o contato do aluno com informações utilizadas sobre ciência e tecnologia, tornando o conhecimento científico mais significativo para o aluno, e formando-os para uma ação social mais responsável e atuante. Costa (2008), em seu trabalho relacionado à alfabetização científica sobre a sua importância na educação de jovens e adultos, teve como objetivo resgatar algumas contribuições de pesquisas relevantes no ensino de ciências dos últimos dez anos desenvolvidas por pesquisadores nacionais e internacionais, e perceber como essas questões podem ajudar no ensino de ciências na educação de jovens e adultos. Para a realização desse trabalho, o autor se apóia em alguns trabalhos essenciais, tais como Bazzo (1998), Auler e Bazzo, (2001), Angotti e Auth (2001), Gil-Pérez et al., (2001), Carrascosa et al., (2006), Santos, (2007), Praia, Gil-Pérez e Vilches, (2007), Muenchen e Auler, (2007), entre outros. Nesse sentido, Costa (2008) demonstra uma preocupação em formar sujeitos capacitados para tomada de decisões no meio social, político e econômico. O autor declara ainda, que o estudo apurado e sistemático dos conceitos científicos em ensino de ciências (Física, Química e Biologia) e Matemática, são elementos essenciais para que os cidadãos possam compreender e interagir no mundo científico e tecnológico. O autor declara, ainda, que é relevante estar atento às mudanças do mundo científico, ou seja, conhecer o que está sendo desenvolvido para questionar suas conseqüências no futuro. Isso permite que algo que antes não existia passa a fazer parte de nossa realidade. Por isso, segundo o autor, modelos e teorias científicas permitem não apenas explicar o comportamento do mundo natural, mas também criar novas realidades e desenvolver novas tecnologias que transformam o mundo natural. Maia e Monteiro (2008), em seu trabalho sobre ciência, tecnologia e sociedade como instrumento para formação docente, sugere uma proposta para implementação de formação de professores através da abordagem CTS, visando uma preparação que abranja as necessidades de nossa sociedade pós-moderna e globalizada, ante o deslanchar das novas tecnologias educacionais e das modificações que o desenvolvimento científico induz na sociedade. Os autores também propõem alternativas que potencializam a qualificação dos 35 professores na área de ciências naturais com o objetivo de preparar melhor o docente através de atividades que pressuponham uma metodologia dialética direcionada a uma práxis transformadora contribuindo para um significativo avanço na educação. 2.4.2 Analogia no ensino de ciências Desde o inicio da história registrada, analogias têm sido usadas por crianças e adultos como ferramentas na construção de conceitos (HARRISON; TREAGUST, 1993). No entanto, o papel da analogia na aprendizagem transcende aos conteúdos conceituais. Oliva (2004) enfatiza que as analogias constituem um recurso de potencial interesse no que diz respeito à aprendizagem de procedimentos e atitudes científicas, além de meramente conceitual. Assim, a compreensão de conceitos, mediada pelo uso de analogias, exige que os alunos interajam nas tarefas didáticas de certos tipos de atividades ou de conteúdos de natureza procedimental, tais como comparar, relacionar conceitos entre si e representá-los por meio de imagens e esquemas. Esses procedimentos estão explicitamente presentes nas atividades didáticas com uso de analogias principalmente quando é solicitado aos alunos que estabeleçam relações de semelhanças entre “partes” dos objetos ou situações, presentes na situação analógica e identificar limites de validade das analogias. Além do papel da analogia na aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes, é importante que se enfatize o caráter processual da construção da analogia. O processo analógico envolve diversas tentativas de construir relações entre o alvo e o análogo, a partir do que se julga ter em comum entre os dois domínios que se compara. É uma tarefa complexa, em que as relações entre os dois domínios vão se remodelando à medida que melhor são compreendidos (OLIVA et al., 2001; DUARTE, 2005). As primeiras tentativas se desenvolvem de modo lento e pouco evolutivo, considerando-se o pouco conhecimento que se tem do objeto em estudo (alvo). Por esta razão, uma analogia não termina com uma primeira comparação que o aluno encontra com o domínio familiar, mas o primeiro modelo proposto para se compreender o alvo se torna uma espécie de hipótese de trabalho, e pode evoluir de acordo com novos dados que funcionem como reguladores do processo. Pelo seu caráter complexo e processual na construção do conhecimento (DUARTE, 2005), o raciocínio analógico é considerado por muitos pesquisadores como um importante componente da cognição humana, e por isso mesmo, a utilização de analogias no ensino de ciências não pode se limitar ao seu uso espontâneo, deixando-se simplesmente por conta do livro didático ou do aluno a responsabilidade de identificar os aspectos semelhantes a serem observados e principalmente as limitações implícitas da comparação. 36 É certo que o aluno tem papel importante e ativo na construção da analogia, como discutido por Oliva (2004), pois a construção dos significados e correspondências entre os dois domínios de conhecimento é um processo interno, pessoal, sendo o professor um agente externo facilitador neste processo. Assim, a analogia apresenta um caráter gerador interno como construtora do conhecimento pessoal. Sendo assim, não é de se estranhar que o uso de analogias possa ter efeitos negativos em alguns casos, ao contrário de quando ocorre o envolvimento do aluno no debate e na construção da analogia proposta pelo professor ou quando o professor promove aos alunos a construção de uma analogia própria (OLIVA et al., 2001; OLIVA, 2004). Ressalta-se, assim, a importância de envolver o aluno no processo de raciocínio analógico como agente ativo do seu próprio conhecimento, ao invés de o professor apenas apresentar a analogia para o aluno. Isso evidencia a importância tanto do papel do professor na implementação da analogia em sala de aula quanto do método a ser utilizado para esta implementação, uma vez que estes elementos podem ser decisivos no grau de envolvimento do aluno no processo de aprender, e por sua vez, na efetividade do uso deste recurso para a aprendizagem de temas complexos, como no caso das ciências. Em uma perspectiva de aprendizagem significativa como proposta por Ausubel (2003), apostar na efetividade do processo analógico é envolver do aluno desde a consideração de suas as idéias prévias, do que lhes é familiar em um domínio de conhecimento que é relevante para a aprendizagem de outro domínio. Dessa forma, as práticas educativas relacionadas ao ensino de ciências, especificamente de Física, baseada na utilização de um processo analógico, implicam em processos de aprendizagem segundo os princípios da teoria construtivista. Isto porque ao favorecer a existência de um percurso entre os conceitos previstos e os conceitos desconhecidos, as analogias podem levar o aluno a reestruturar suas informações e, em certos casos, formar um novo esquema ou acrescentar novas informações àquelas já formadas. Para a concepção construtivista, o aluno aprende quando é capaz de elaborar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade ou do conteúdo que aprendeu. De acordo com essa concepção, o processo de aprendizagem não é um processo que conduz à acumulação de novos conhecimentos, mas sua integração com os esquemas que já possuímos. Harrison e Treagust (1993) reforçam que o uso não critico das analogias podem gerar concepções equivocadas, enfatizando que o aluno deve estar familiarizado com o conceito domínio, ou seja, com o que ele teoricamente já sabe. Caso ele não esteja bem familiarizado, a analogia pode não ter sentido para ele; enfatizam, ainda, que esta deve ser a preocupação constante do professor que trabalha com o uso de analogias e que pretende que a aprendizagem seja significativa para o aluno. 37 Nesse sentido, mais uma vez, ressalta-se que no processo analógico é importante que o professor utilize de um método adequado para explorar similaridades e diferenças entre os dois domínios a fim de que o aluno tenha exata noção do que realmente a analogia quer abranger, seu caráter funcional, estrutural, proporcional, entre outros, do conceito ou modelo que será explorado e apreendido. Caso esses cuidados não sejam tomados, o uso de analogias pode gerar barreiras que dificultarão ou distorcerão os conhecimentos que se deseja que o aluno se aproprie. Essas e outras dificuldades no uso de analogias e suas potencialidades que favorecem o seu uso no ensino de ciências, bem como o modelo de ensino baseado em analogia que é utilizado neste estudo, denominado modelo TWA modificado, serão discutidos a seguir. 2.4.2.1 O modelo Teachig-with-Analogies (TWA) modificado Na maioria dos trabalhos que fazem uso de analogias como estratégia didática, utiliza-se um modelo para sua implementação em sala de aula. O modelo Teachig-withAnalogies (TWA) foi primeiramente proposto por Glynn (1991 apud HARRISON; TREAGUST, 1993; GLYNN, 2008) e posteriormente modificado por Harrison e Treagust (HARRISON; TREAGUST, 1993). Na proposta de Glynn, o modelo TWA é constituído de 6 passos: 1º Passo: Apresentação da situação alvo a ser tratada. 2º Passo: Apresentação da situação análoga. 3º Passo: Identificação das características relevantes do análogo. 4º Passo: Estabelecimento das correspondências entre o análogo e o alvo. 5º Passo: Esboço de uma síntese conclusiva sobre a situação alvo. 6º Passo: Identificação dos limites de validade da analogia utilizada. Na modificação introduzida por Harrison e Treagust (HARRISON; TREAGUST, 1993), o passo 5º e o passo 6º do modelo proposto por Glynn são trocados entres si. A justificativa dada por esses autores para tal mudança é que, se as conclusões do passo 5º são feitas antes que se identifiquem os limites de validade da analogia (passo 6º), concepções alternativas surgem com mais frequência do que quando estas comparações inválidas são identificadas antes das conclusões. Assim, na proposta do modelo TWA modificado (GLYNN, 2008; HARRISON; TREAGUST, 1993), a implementação de uma analogia em sala de aula é feita seguindo os 6 passos seguintes: 38 1º Passo: Apresentação da situação alvo a ser tratada. 2º Passo: Apresentação da situação análoga. 3º Passo: Identificação das características relevantes do análogo. 4º Passo: Estabelecimento das correspondências entre o análogo e o alvo. 5º Passo: Identificação dos limites de validade da analogia utilizada. 6º Passo: Esboço de uma síntese conclusiva sobre a situação alvo. 2.4.2.2 Potencialidades e dificuldades do uso de analogia A importância da analogia na aprendizagem levou a que muitos autores se refiram sobre as potencialidades e limitações da sua utilização no ensino de ciências. Duarte (2005) destaca algumas das potencialidades e dificuldades na utilização de analogia no ensino de ciências: a) Ativam o raciocínio analógico, organizam a percepção, desenvolvem capacidades cognitivas como a criatividade e a tomada de decisão; b) Tornam o conhecimento cientifico mais inteligível e plausível, facilitando a compreensão, a visualização de conceitos abstratos, podendo promover o interesse dos alunos; c) Constituem um instrumento poderoso e eficaz no processo de facilitar a evolução ou a mudança conceitual; d) Permitem a identificação de eventuais concepções alternativas; e) Podem ser usadas para avaliar o conhecimento e a compreensão dos alunos. Apesar de reconhecer a importância e as potencialidades do uso de analogia como instrumento didático, Duarte (2005) aponta algumas dificuldades que se colocam na utilização de analogia no ensino de ciências: a) A analogia pode ser interpretada como o conceito em estudo, ou dela serem apenas retidos os detalhes mais evidentes e apelativos, sem se chegar a atingir o que se pretendia; b) Podem não ocorrer um raciocínio analógico que leve a compreensão da analogia; c) A analogia pode não ser reconhecida como tal, não ficando explícita a sua utilidade; d) Os alunos podem centrar-se nos aspectos positivos da analogia e desvalorizar as suas limitações. 39 3 A UNIDADE DIDÁTICA CALOR E TEMPERATURA 3.1 DESCRIÇÃO GERAL A unidade didática para o ensino de conteúdos relacionados a calor e temperatura é baseada em analogia e TDCs, em uma perspectiva de educação em CTS. Como unidade didática, toma-se o entendimento de Zabala (1998, p.18): “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”. Esse autor também enfatiza que unidades didáticas são instrumentos que permitem incluir as três fases de toda intervenção reflexiva da prática pedagógica: planejamento, aplicação e avaliação (idem, ibidem). A unidade didática foi desenvolvida segundo o modelo dos Três Momentos Pedagógicos proposto por Delizoikov e Angotti para o ensino de ciências (DELIZOIKOV; ANGOTTI, 1991; DELIZOIKOV et al., 2007), de inspiração freireana. A atividade com o uso da analogia é fundamentada na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (2003), sendo sua pertinência justificada como organizador avançado, uma vez que a implementação da analogia na unidade didática acontece após a discussão dos conteúdos sobre calor e temperatura, no momento pedagógico da aplicação do conhecimento. A atividade com analogia foi planejada e implementada em sala de aula na forma de uma sequência didática que segue o modelo Teaching-with-Analogies (TWA) modificado. Este modelo foi desenvolvido por Glynn (1991 apud HARRISON; TREAGUST, 1993) e modificado por Harrison e Treagust (1993). O modelo TWA modificado compreende uma sequência de seis passos, a saber: apresentação da situação alvo, apresentação da situação análoga, identificação das características relevantes do análogo, estabelecimento das correspondências entre o análogo e o alvo, identificação dos limites de validade da analogia utilizada, e esboço de uma síntese conclusiva sobre a situação alvo. É importante ressaltar que não é de nosso conhecimento que a analogia que está proposta nesta Dissertação para o estudo sobre calor e temperatura, da forma como foi idealizada e implementada em sala de aula com o modelo TWA modificado, tenha sido anteriormente reportada na literatura. 3.2 QUADRO GERAL DA UNIDADE DIDÁTICA CALOR E TEMPERATURA O Quadro 3.1, o Quadro 3.2(a), (b) e (c), e o Quadro 3.3(a) e (b) apresentam a unidade didática para o estudo do calor e temperatura com os assuntos relacionados, o 40 número de horas-aula previstas, os recursos didáticos utilizados e os conteúdos da aprendizagem mobilizados. Quanto aos conteúdos da aprendizagem, estão divididos em conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais e se distribuem em todos os momentos pedagógicos da unidade didática conforme a sequência de aulas desenvolvidas. Quanto aos assuntos relacionados a calor e temperatura, muitas vezes que vão além da disciplina de Física, estão assim distribuídos, segundo os momentos pedagógicos: ♦ Momento PI: • Efeito estufa (Quadro 3.1, Aulas 1-2); ♦ Momento OC: • Fontes e transferência de energia na forma de calor; Condutores e isolantes térmicos; Capacidade calorífica, calor específico e quantidade de calor (Quadro 3.2(a), Aulas 3-4); • Formação dos ventos; Brisas marítimas; Ciclo da água (Quadro 3.2.(b), Aulas 5-6); • Máquinas térmicas (Quadro 3.2(c), Aulas 7-8); ♦ Momento AC: • Retorno à problematização inicial (Quadro 3.3(b), Aulas 11-12); As atividades baseadas em analogia e TDCs estão assim distribuídas, segundo os momentos pedagógicos: ♦ Momento PI: • Atividade baseada em TDC (Quadro 3.1, Aulas 1-2); ♦ Momento AC: • Atividade baseada em analogia (Quadro 3.3(a), Aulas 9-10); • Atividade baseada em TDC (Quadro 3.3(a), Aulas11-12); Os recursos didáticos estão assim distribuídos, segundo os momentos pedagógicos: ♦ Momento PI: ♦ Texto de Divulgação Científica e Slides 1 (Quadro 3.1, Aulas 1-2); • Momento OC: ♦ Texto Didático e Slides Aulas 3-4 (Quadro 3.2(a), Aulas 3-4) ; ♦ Texto Didático e Slides Aulas 5-6 (Quadro 3.2(b), Aulas 5-6) ; ♦ Texto Didático e Slides Aulas 7-8 (Quadro 3.2(c), Aulas 7-8) ; • Momento AC: 41 ♦ Analogia, Texto Didático e Slides Aulas 9-10 (Quadro 3.3(a), Aulas 9-10); ♦ Texto de Divulgação Científica e Slides 11-12 (Quadro 3.3(b), Aulas 11-12). Quadro 3.1: Quadro geral da unidade didática do momento da problematização inicial: Atividade didática baseada em TDC. Momento da Problematização Inicial (PI) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto Efeito estufa relacionado No de Horas Aula 2 (50 min cada) a) Texto de Divulgação Científica (TDC): Recurso Didático MARENGO, J. A.; NOBRE, J. C. Lições do Catarina e do Katrina: as mudanças do clima e os fenômenos extremos. Ciência Hoje, v. 37, n.221, p.22-27, nov., 2005. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2005/221/licoes-docatarina-e-do-katrina-as-mudancas-do>. Último acesso em: 30 set. 2009. b) Slides Aulas 1-2: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) Conceitual Identificar acontecimentos relacionados a mudanças climáticas Identificar causas e efeitos provocados pelas mudanças climáticas Identificar conceitos físicos presentes no texto Relacionar causas e efeitos provocados pelas mudanças climáticas Conteúdo Procedimental Relacionar calor, temperatura, tecnologia e meio ambiente Relacionar efeitos causados pela ação humana sobre o meio ambiente Atitudinal Elaborar uma síntese por escrito das principais idéias do texto de divulgação científica Emitir juízo sobre a ação humana, tecnologia e meio ambiente 42 Quadro 3.2: Quadro geral da unidade didática do momento da organização do conhecimento. (a) Aulas 3-4 Momento da Organização do Conhecimento (OC) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto No de Horas Aula Fontes e transferência de energia na forma de calor; Condutores e isolantes térmicos; Capacidade calorífica, calor específico e quantidade de calor 2 (50 min cada) Recurso Didático a) Texto Didático: relacionado GREF – Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Calor, presença universal. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e pensar. São Paulo: EDUSP, 1998, Cap. 1, p.1-4. Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 4 dez. 2009. HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Temperatura, calor e a primeira lei da termodinâmica. In: Fundamentos de Física, v.2, 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002, Cap. 19, p. 147-149 b) Slides Aulas 3-4: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) Reconhecer o sol como fonte principal de energia Conceitual Compreender calor como transferência de energia – calor como energia em movimento Compreender e conceituar calor e temperatura. Caracterizar condutores e isolantes térmicos. Conteúdo Compreender e conceituar capacidade calorífica, calor especifico e quantidade de calor Relacionar calor, tecnologia e conforto Procedimental Relacionar transferência de energia na forma de calor – calor como energia em movimento Concluir sobre calor e seus efeitos Atitudinal Relacionar e concluir sobre calor e temperatura em situações do cotidiano - 43 (b) Aulas 5-6 Momento da Organização do Conhecimento (OC) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto Formação dos ventos; Brisas marítimas; Ciclo da água relacionado No de Horas Aula 2 (50 min cada) Recurso Didático a) Texto Didático: GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Medidas de temperatura. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e pensar. São Paulo: EDUSP, 1998. Cap.3, p.9-10. Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 4 dez. 2009. GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Aquecimento e clima. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e pensar. São Paulo: EDUSP, 1998. Cap.11, p.41-43. Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 4 dez. 2009. GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Terra: água. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e São Paulo: EDUSP, 1998. Cap.14, p.54. Disponível http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 2009. planeta pensar. em: < 4 dez. b) Slides Aulas 5-6: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) Conceitual Compreender o sol como fonte principal de energia Compreender calor e sua propagação Compreender fatores que determinam o clima Compreender a formação dos ventos e as brisas Conteúdo Procedimental Compreender ciclo da água Relacionar calor com tecnologia Relacionar calor e sua propagação Relacionar fatores que determinam o clima Relacionar a formação dos ventos e as brisas Atitudinal Relacionar quantidade de calor e diferença de temperatura Emitir juízo sobre a atividade humana e mudanças climáticas 44 (c) Aulas 7-8 Momento da Organização do Conhecimento (OC) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto Máquinas térmicas relacionado No de Horas Aula 2 (50 min cada) Recurso Didático a) Texto Didático: GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Calor e conforto. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e pensar. São Paulo: EDUSP, 1998. Cap.8, p.29-30. Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 4 dez. 2009. GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Calor, presença universal. In: Leituras de Física: Física térmica para ler, fazer e pensar. São Paulo: EDUSP, 1998. Cap.23, p.89-90. Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Último acesso em: 4 dez. 2009. MÁXIMO, Antônio; ALVARENGA, Beatriz. Primeira lei da termodinâmica. In: Curso de Física, v.2. São Paulo: Scipioni, 2000. Cap. 12, p.138–141. b) Slides Aulas 7-8: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) Conceitual Conteúdo Compreender energia solar e tecnologia Relacionar energia solar e tecnologia Procedimental Atitudinal Relacionar calor, atividade humana, tecnologia e meio ambiente Relacionar a Física com a tecnologia e meio ambiente Reconhecer a Física como construção humana, seus aspectos e relações no contexto cultural, social, político e econômico 45 Quadro 3.3: Quadro geral da unidade didática do momento didático da aplicação do conhecimento. (a) Aulas 9-10: Atividade didática baseada em analogia. Momento da Aplicação do Conhecimento (AC) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto - relacionado No de Horas Aula 2 (50 min cada) a) Analogia: Recurso Didático Situação alvo: Agitação térmica de átomos ou moléculas de um corpo, devido à transferência de energia na forma de calor de uma fonte de maior temperatura. Situação Análoga: Agitação mecânica de bolinhas de isopor no interior de uma lixeira de plástico com furos na parede lateral, vedada por um papelão, devido a um secador de cabelos ligado na rede elétrica e colocado a diferentes distâncias da lixeira. b) Slides Aulas 9-10: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) c) Texto didático: VALADARES, Eduardo de Campos. Átomos nervosos. In: Física mais que divertida: inventos eletrizantes baseados em materiais reciclados e de baixo custo. 2.ed. Revista e Ampliada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Temperatura, calor e a primeira lei da termodinâmica. In: Fundamentos de física, v.2. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. p.147-149. Conceituar calor como energia transferida devido à diferença de energia térmica média entre os corpos Conceitual Conceituar calor como energia transferida devido à diferença de temperatura entre os corpos Diferenciar calor de temperatura Conteúdo Explicar e predizer comportamentos, a partir do modelo que faz a mediação entre o análogo e o alvo Fazer a correspondência entre o movimento cinético de átomos e moléculas com a energia térmica de um corpo Procedimental Relacionar o movimento cinético de átomos e moléculas de um corpo com a temperatura deste corpo, a partir do modelo cinético-molecular da matéria Construir, aplicar e avaliar as analogias construídas no processo de gênese de uma analogia consensual do grande grupo 46 Tirar conclusões, a partir da analogia consensual produzida no grande grupo Elaborar síntese conclusiva, a partir da analogia consensual produzida no grande grupo Desenvolver atitudes de investigação Atitudinal Desenvolver o espírito crítico, a partir das potencialidades e limitações da analogia consensual produzida no grande grupo (b) Aulas 11-12: Atividade didática baseada em TDC. Momento da Aplicação do Conhecimento (AC) Unidade Didática Assunto Calor e Temperatura Assunto Retorno à problematização inicial relacionado No de Horas Aula 2 (50 min cada) Recurso Didático a) Texto de Divulgação Científica (TDC): COLLINS, William; COLMAN, Robert; HAYWOOD, James; MANNING, Martin R.; MOTE, Philip. A Física por trás das mudanças climáticas. Scientific American Brasil, v.37, n.221, p.48-57, set., 2007. b) Slides Aulas 11-12: Calor e Temperatura (APÊNDICE 1) Conceitual Conteúdo Procedimental Identificar conceitos físicos presentes no texto Identificar efeitos da atividade humana sobre fenômenos climáticos extremos Relacionar conceitos físicos com possíveis causas e conseqüências de fenômenos climáticos extremos Relacionar efeitos da atividade humana sobre fenômenos climáticos extremos Atitudinal Elaborar um texto próprio a partir da leitura do texto de divulgação científica Emitir juízo sobre a ação humana, tecnologia e meio ambiente 47 3.3 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM TDC: MOMENTO DA PROBLEMATIZAÇÃO Esta atividade está apresentada de modo geral no Quadro 3.1. As orientações para o professor, especificamente a preparação para a aula, a dinâmica da aula, a avaliação e guia do aluno estão descritas a seguir. 3.3.1 Orientações ao professor 3.3.1.1 Preparação para a aula a) Em uma aula anterior, o professor deve distribuir a turma em pequenos grupos e entregar para cada grupo uma cópia do texto; b) Extraclasse, os alunos devem fazer a leitura, identificando por escrito: i. Conceitos já estudados anteriormente; ii. Termos ou conceitos que chamam atenção ou que dificultaram a compreensão da leitura. c) No dia estipulado pelo professor, os alunos devem trazer para a sala de aula, por escrito, os apontamentos solicitados em (b.i) e (b.ii), e entregar para o professor para posterior análise. 3.3.1.2 Dinâmica da aula a) O professor inicia uma discussão dialogada com os alunos, situando-os no assunto a ser tratado e dando oportunidade para que eles exponham oralmente acontecimentos, conceitos ou termos conhecidos relacionados à leitura que realizaram ou que dificultaram sua compreensão; b) O professor deve sintetizar os apontamentos feitos pelos alunos dos conceitos identificados como conhecidos e conceitos ou termos que suscitaram dúvida, e, se necessário, devem ser retomados por meio de perguntas baseadas no texto em que o aluno buscará respostas a partir do texto; c) A seguir, o professor deve solicitar aos grupos de alunos para enumerar os acontecimentos e condutas relacionadas a mudanças climáticas extremas que eles observaram durante a leitura; d) O professor deve iniciar uma discussão dialogada oportunizando aos grupos a exposição de seus apontamentos no grande grupo, para que, de modo coletivo, sejam classificados os acontecimentos e condutas enumerados por eles. O quadro negro pode ser utilizado neste momento. A seguir, na Tabela 3.1, são 48 mencionadas algumas causas e efeitos retirados do texto os quais devem ser discutidos pelo professor. Tabela 3.1: Causas e efeitos relacionados a fenômenos climáticos extremos retirados do TDC intitulado Lições do Catarina e do Katrina: as mudanças do clima e os fenômenos extremos publicado na Ciência Hoje (MARENGO; NOBRE, 2005). Causa 1. Causas naturais e Atividade humana Efeito 1. Aumento na intensidade e na frequência dos fenômenos climáticos extremos 2. Aumento das temperaturas médias da 2. Aumento na intensidade e na freqüência superfície dos continentes e das águas dos dos fenômenos climáticos extremos mares (Aquecimento global) 3. Causas naturais e Atividade humana 3. Aumento das temperaturas médias da superfície dos continentes e das águas dos mares (Aquecimento global) 4. Mudanças climáticas associadas ao 4. Há incerteza nos meios científicos aquecimento global quanto aos seus efeitos 5. Aumento da concentração de gases de 5. Aquecimento global efeito estufa na atmosfera 6. Explosão demográfica nas regiões 6. Prejuízos materiais e mortes costeiras e áreas sujeitas à passagem de furacões e tempestades severas 7. Queima de combustíveis derivados do 7. Aumento da concentração de gases de petróleo efeito estufa na atmosfera (vapor de água, metano, dióxido de carbono) 8. Desmatamentos, queimadas e incêndios 8. Aumento da concentração de gases de florestais efeito estufa na atmosfera (vapor de água, metano, dióxido de carbono) 9. Aumento da concentração de gases de 9. Aumento da retenção de calor na efeito estufa na atmosfera (vapor de água, atmosfera do planeta metano, dióxido de carbono) e) Após a discussão coletiva, os alunos recebem do professor uma ficha (Ficha 1) para que eles façam, individualmente, as relações que eles puderam compreender acerca do tema central do texto, das causas e efeitos de fenômenos climáticos extremos, de novas atitudes que eles poderiam adotar a 49 partir da compreensão adquirida, e da síntese que eles poderiam fazer acerca da leitura do texto. O professor deve recolher essa ficha para posterior análise. 3.3.1.3 Avaliação e guia do aluno Ficha 1: 1) Qual é o tema central discutido no texto? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2) Relacione causas e conseqüências relacionados ao tema central discutido no texto. Causa Efeito 3) Que hábitos você adotaria a partir da leitura do texto? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 4) Sintetize a idéia central do texto em poucas linhas. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 3.4 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM ANALOGIA: MOMENTO DA APLICAÇÃO Esta atividade está apresentada de modo geral no Quadro 3.3 (a). As orientações para o professor, especificamente a preparação para a aula, a dinâmica da aula, e a avaliação e guia do aluno estão descritas a seguir. 50 3.4.1 Situação alvo e situação análoga SITUAÇÃO ALVO: Agitação térmica de átomos ou moléculas de um corpo, devida à transferência de energia na forma de calor de uma fonte de maior temperatura SITUAÇÃO ANÁLOGA: Agitação mecânica de bolinhas de isopor no interior de uma lixeira de plástico com furos na parede lateral, vedada por um papelão, devida a um secador de cabelo ligado na rede elétrica e colocado a diferentes distâncias da lixeira 3.4.2 Orientações ao professor 3.4.2.1 Dinâmica da aula 1º Passo: Apresentação da situação alvo O professor deve iniciar uma discussão dialogada com os alunos acerca dos principais pontos a serem discutidos sobre a situação alvo calor e temperatura, fazendo uso de texto de apoio, slides ou outro recurso, de modo a que os alunos possam explicitar verbalmente o que sabem sobre a situação alvo. Antes disso, por meio de uma ficha (Ficha 1, apresentada a seguir), o professor solicita que os alunos respondam, por escrito, à questão “Como você define ou entende: a) calor b) temperatura”, a ser recolhida pelo professor antes da discussão e a ser analisada posteriormente. 2º Passo: Apresentação da situação análoga Para entender sobre a situação alvo calor e temperatura, o professor deve apresentar a situação análoga auxiliar. Nessa atividade, sugere-se a situação análoga ilustrada na Figura 3.1, que tem como base o experimento “Os átomos nervosos”, apresentado por Eduardo de Campos Valadares em seu livro “Física mais que divertida” (VALADARES, 2002, p.81). A apresentação da situação análoga tem por objetivo que o aluno entenda os conceitos alvo de calor e temperatura a partir da visão cinético-molecular da matéria, em acordo com uma proposta de ensino de conceitos científicos a partir de modelos físicos. 51 Os materiais utilizados para compor a situação análoga, ilustrada na Figura 3.1, são: bolinhas de isopor; lixeira de plástico com furos na parede lateral; papelão; e, secador de cabelo ligado na rede elétrica e colocado a diferentes distâncias da lixeira. Figura 3.1. Apresentação pelo professor da situação análoga com base no experimento Os átomos nervosos (VALADARES, 2002, p.81). 3º Passo: Identificação das características relevantes do análogo Neste momento, o professor deve estabelecer uma discussão dialogada com os alunos sobre as características relevantes do análogo utilizado, na perspectiva de que, no passo seguinte, os alunos possam compreender a correspondência com a situação alvo calor e temperatura. A seguir, na Tabela 3.2, são mencionadas algumas características relevantes do análogo que devem ser discutidas pelo professor. Tabela 3.2: Características relevantes do análogo para o estudo de calor e temperatura. Características relevantes do análogo As bolinhas de isopor constituem unidades que se movimentam no interior do espaço delimitado pela lixeira, vedada na sua extremidade pelo papelão (fornece a noção de temperatura). A lixeira é vazada (dar a noção de fronteira diatérmica como fronteira que permite a passagem de calor). O secador ligado à rede de energia elétrica, e aproximado às regiões vazadas da lixeira, 52 permite que o jato de ar produzido movimente as bolinhas no interior da lixeira. A maior ou menor distância do secador à lixeira produz maior ou menor rapidez no movimento das bolinhas de isopor dentro da lixeira (fornece a noção de calor). 4º Passo: Estabelecimento das correspondências entre o análogo e o alvo Neste momento, em discussão dialogada com os alunos, o professor estabelece de forma coletiva as correspondências entre os elementos da “situação física alvo” e os elementos da “situação análoga”. Na discussão, o professor deve assegurar que algumas correspondências sejam feitas, como aquelas apresentadas na Tabela 3.3. Ainda neste momento, após a discussão e sistematização no grande grupo sobre as correspondências entre o alvo e o análogo, os alunos recebem do professor uma ficha (Ficha 2, apresentada a seguir) para que eles façam, individualmente, as correspondências referentes ao alvo e o análogo a partir da compreensão que eles conseguiram adquirir. O professor deve recolher essas fichas preenchidas para posterior análise. Tabela 3.3: Correspondências entre a situação física alvo e a situação análoga para o estudo de calor e temperatura. Elementos da situação alvo Elementos do análogo Corpo Lixeira com bolinhas de isopor (vedada na extremidade por papelão) Átomos ou moléculas do corpo Bolinhas de isopor Energia mecânica cinética/energia térmica Movimento das bolinhas de isopor do corpo Energia transferida/fluxo líquido de energia Fluxo de ar (jato de ar) térmica (calor) Corpo de maior temperatura Secador de cabelos ligado na rede elétrica (pode ser pensado como o “corpo quente” por emanar o jato de ar) Quantidade de energia transferida (calor) Distância do secador à lixeira Mudança na quantidade de energia Mudança na distância do secador à lixeira transferida (calor) (mudança na intensidade do jato de ar) Velocidade dos átomos ou moléculas Rapidez do movimento das bolinhas de (em nível atômico e molecular, a isopor 53 velocidade média dos átomos ou moléculas é relacionada à sua energia cinética média, que, em nível macroscópico, é interpretada como temperatura do corpo) Há energia sendo transferida (calor) e Mudança na rapidez do movimento das mudança da temperatura do corpo bolinhas de isopor 5º Passo: Identificação dos limites de validade da analogia Este momento é o da identificação dos limites de validade da analogia utilizada. Para isso, o professor deve solicitar aos alunos que preencham uma ficha (Ficha 3, apresentada a seguir) com as características da situação análoga que não encontram correspondência na situação alvo, e vice-versa, identificando os pontos falhos da analogia. A seguir, na Tabela 3.4, são mencionadas algumas dessas características que devem ser discutidas pelo professor. Tabela 3.4: Limites de validade da analogia para o estudo de calor e temperatura. Limites de Validade da Analogia Elementos da situação alvo Elementos da situação análoga Calor não é direcional Fluxo de ar (jato de ar), que representaria a energia transferida, e que é emanado pelo secador de cabelo, é direcional Ocorre transferência de energia sempre Fluxo de ar (jato de ar), que representaria a que um corpo tiver maior temperatura que energia transferida, só se dá do secador outro, exceto nas mudanças de fase para as bolinhas, mas não das bolinhas para o secador, tendo, portanto, um único sentido Átomos ou moléculas em um corpo ou Bolinhas de isopor ficam em repouso na sistema estão em constante movimento, ausência do fluxo de ar mesmo sem transferência de energia (secador desligado da rede elétrica) 6º Passo: Esboço de uma síntese conclusiva sobre a situação alvo 54 Neste momento, os alunos devem realizar uma síntese conclusiva sobre a situação alvo, preenchendo, individualmente, uma ficha (Ficha 4, apresentada a seguir) a ser utilizada para posterior análise. 3.4.2.2 Avaliação e guia do aluno Ficha 1: Como você entende ou define: a) calor: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ b) temperatura: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Ficha 2: Estabeleça as correspondências entre calor e temperatura e o experimento análogo a partir do exposto, preenchendo a tabela abaixo. Elementos da situação alvo Elementos da situação análoga 55 Ficha 3: Na tabela abaixo preencha características da situação análoga que não encontram correspondência na situação alvo, ou vice-versa. Elementos da situação alvo Elementos da situação análoga Ficha 4: A partir do estudo com o alvo e o análogo, como você define ou entende: a) calor: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ b) temperatura: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 3.5 ATIVIDADE DIDÁTICA BASEADA EM TDC: MOMENTO DA APLICAÇÃO Esta atividade está apresentada de forma geral no Quadro 3.3 (b). As orientações para o professor, especificamente a preparação para a aula, a dinâmica da aula, e a avaliação e guia do aluno estão descritas a seguir. 3.5.1 Orientações ao professor 3.5.1.1 Preparação para a aula a) Em uma aula anterior, o professor deve distribuir a turma em pequenos grupos e entregar para cada grupo uma cópia do texto; b) Extraclasse, os alunos devem fazer a leitura e discussão do texto, identificando: 56 i. Conceitos já estudados anteriormente; ii. Termos ou conceitos que chamam atenção ou que dificultaram a compreensão da leitura. c) No dia estipulado pelo professor, os alunos devem trazer para a sala de aula o texto lido. 3.5.1.2 Dinâmica da aula a) Os alunos recebem do professor uma ficha (Ficha 1) para que eles, individualmente, identifiquem e retirem do texto trechos que mencionam a Física por trás das mudanças climáticas, enfatizando um conceito físico em cada trecho; b) A seguir, os alunos recebem do professor uma segunda ficha (Ficha 2) para que eles, individualmente, enumerem as observações feitas que apontam a influência humana no aumento das emissões de gases de efeito estufa, e enumerem causas conhecidas das mudanças climáticas; c) A seguir, os alunos recebem do professor uma terceira ficha (Ficha 3) para que eles, individualmente, e com base na leitura, produzam o seu próprio texto; d) O professor deve recolher as fichas para posterior análise. 3.5.1.3 Avaliação e guia do aluno Ficha 1: Com base no texto, retire trechos que mencionam a Física por trás das mudanças climáticas, enfatizando um conceito físico em cada trecho. Trecho 1: ______________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _________________________________Conceito físico: _________________________ Trecho 2: ______________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _________________________________Conceito físico: _________________________ 57 Ficha 2: 1) Com base no texto, enumere as observações feitas que apontam a influência humana no aumento das emissões de gases de efeito estufa. Observação 1: __________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Observação 2: __________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 2) Com base no texto, enumere causas conhecidas das mudanças climáticas. Causa 1: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Causa 2: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Ficha 3: Com base na leitura, produza o seu próprio texto. _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 58 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO Este estudo é de cunho qualitativo descritivo. Em uma pesquisa de cunho qualitativo predominam algumas características importantes, tais como, os dados são coletados nos contextos onde os fenômenos são construídos, a análise dos dados é desenvolvida no processo de levantamento de dados e os estudos apresentam-se em forma descritiva (LACATOS; MARCONI, 1996). A pesquisa descritiva tem como objetivo principal a descrição das características de determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas características está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionário e a observação sistemática (CERVO; BERVIAN, 2002). 4.2 CENÁRIO E SUJEITOS O estudo desenvolveu-se na Escola Estadual Don Antônio Reis, no município de Faxinal do Soturno, RS. Essa Escola, estabelecida no Município de Faxinal do Soturno/RS, desenvolve suas práticas educativas a um pouco mais de 50 anos, oferecendo suas práticas docentes nos três turnos. No turno da manha é oferecido o ensino para a 8ª série do ensino fundamental e o ensino médio; no turno da tarde, para o ensino fundamental da 4ª série a 7ª série; e, no turno da noite, ensino fundamental e médio para educação de jovens e adultos (EJA). Em média, por ano, a Escola trabalha com aproximadamente 900 alunos. Este estabelecimento de ensino apresenta um bom quadro de professores, com boa formação, preocupados com a educação, totalizando aproximadamente 50 profissionais ativos. A equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar esteve sempre preocupada com o ambiente escolar, e uma de suas principais metas tem sido trabalhar em prol da educação: espaço físico adequado, ambiente de estudo, professores qualificados, materiais didáticos de boa qualidade, laboratório de ciências, laboratório de informática para os alunos, biblioteca equipada, entre outros, para melhor atender aos interesses dos alunos. Dos estudantes que frequentavam esta Escola, 60% residiam na zona rural, necessitando de transporte escolar para realizarem seus estudos, e 40% residem na área urbana. Os alunos desta Escola que participaram do trabalho por mim desenvolvido eram alunos de duas turmas do 2º ano do ensino médio, do turno da manhã. De forma geral, inicialmente os alunos participantes se mostraram interessados em participar das aulas e 59 querer aprender. Nenhum dos alunos tinha histórico de reprovação ou problemas escolares. Todos eram oriundos de classe média. 4.3 DELINEAMENTO E INTRUMENTOS Um convite inicial para participar do estudo foi feito oralmente, em sala de aula, na presença e com o consentimento do professor titular da disciplina de Física, a todos os alunos de duas turmas do 2º ano, do turno da manhã da referida Escola. Inicialmente, as atividades seriam desenvolvidas com uma única turma, no turno da manhã, e todas as atividades que seriam desenvolvidas com os alunos iriam somar às atividades do professor titular da disciplina para a nota final do trimestre. No entanto, as atividades desenvolvidas e avaliadas no período de estudos não foram integralizadas na avaliação trimestral do professor titular da disciplina de Física. Para que um maior número de alunos tivesse possibilidade de participar do estudo, foi solicitado a eles que opinassem sobre horário, dia da semana e turno, tarde ou noite. O turno escolhido foi o da noite, no horário das 19 h, e às terças-feiras, pois houve um maior número de alunos com possibilidade de participar do estudo. Das duas turmas, o número de alunos que se disponibilizou inicialmente a participar do estudo totalizou 34, e embora não tivessem tido aulas com a professora-pesquisadora, já a conheciam ou tiveram com ela algum contato. Dos 34 alunos que demonstraram interesse, 27 alunos iniciaram o estudo comparecendo ao primeiro dia, dos quais 24 meninas e 3 meninos, e 12 alunos finalizaram o estudo estando presentes no último dia de atividades. As atividades com texto de divulgação científica foram realizadas no primeiro encontro com 27 alunos presentes (Aulas 1-2), e no último encontro com 12 alunos presentes (Aulas 11-12). A atividade com analogia foi realizada no penúltimo encontro com 21 alunos presentes (Aulas 9-10). Um total de 10 alunos realizou todas as atividades propostas no presente estudo no que se refere ao uso de textos de divulgação científica e analogia. As atividades foram desenvolvidas no período de 06 de outubro a 24 de novembro de 2009, em 6 encontros de duas horas-aula cada um, às terças-feiras, iniciando às 19h, e ocorreram nos dias 06/10, 13/10, 27/10, 03/11, 10/11 e 24/11. Os encontros aconteceram na sala de multimídia da Escola, e foram utilizados os recursos de data show, retroprojetor, lousa, e pincel. O último encontro aconteceu em uma sala de aula tradicional para facilitar melhor acomodação do material textual e o trabalho dos alunos na elaboração de seu próprio texto, além de não haver necessidade de data show para este encontro. Os recursos para filmagem das aulas aconteceram por conta e responsabilidade do professorpesquisador. Os textos de divulgação científica para as leituras foram disponibilizados pelo 60 professor-pesquisador para as atividades em duplas de alunos. Os materiais para a construção do análogo (lixeira, bolinhas de isopor, secador de cabelo, cola, papelão, fita adesiva, tesoura) e a própria confecção do análogo estiveram por conta do professorpesquisador. 4.3.1 Atividade baseada em analogia Na atividade baseada na analogia, foi estabelecida uma dinâmica dialogada entre a professora e os alunos para o desenvolvimento da sequência de passos prevista no modelo de ensino TWA modificado. A atividade foi desenvolvida com 21 alunos presentes, durante as aulas 9-10 da unidade didática, no momento pedagógico da aplicação do conhecimento, com duração de 2 horas-aula de 50 min cada. Participaram desta atividade 20 alunos que estavam presentes naquele dia. Esta atividade foi conduzida pela professora-pesquisadora, que iniciou a aula entregando aos alunos a Ficha 1 (seção 3.4.2.2), solicitando para que eles, individualmente, expressassem o seu entendimento sobre calor e temperatura com base nos conhecimentos que já possuíam. A seguir, a professora explicou aos alunos que aquela aula teria uma dinâmica com o uso de analogia como forma de reforçar e aplicar os conceitos estudados sobre calor e temperatura, iniciando o desenvolvimento da analogia desde o 1º passo até o 6º passo do modelo de ensino TWA modificado, procurando seguir o planejamento didático para a atividade desta aula (seção 3.4). No passo 4º, a professora entregou aos alunos uma segunda ficha, a Ficha 2 (seção 3.4.2.2), solicitando a eles que escrevessem, individualmente, as correspondências que eles puderam compreender entre os dois domínios de conhecimento, buscando com isso respostas à questão subsidiária (a), seção 1.2 desta Dissertação. Antes de entregar essa ficha, a professora procurou estabelecer uma discussão coletiva e dialogada com os alunos para construir efetivamente a analogia. Após os alunos preencherem a Ficha 2, a professora entregou uma terceira ficha, a Ficha 3 (seção 3.4.2.2), solicitando a eles que a preenchessem também individualmente com as relações que eles não encontraram correspondência entre a situação alvo e a situação análoga (passo 5º), buscando com isso respostas para a questão específica (b). Para compor a avaliação final das produções escritas dos alunos por meio das fichas nesta atividade, a professora entregou a quarta e última ficha, a Ficha 4 (seção 3.4.2.2), para cada um dos alunos participantes para que eles escrevessem, a título de síntese conclusiva, a compreensão sobre o alvo, ou seja, sobre os conceitos de calor e temperatura (passo 6º), e com isso buscar respostas para a questão (c), seção 1.2 desta Dissertação. 61 A produção dialogada entre os alunos e a professora durante a atividade com a analogia foi acessada por meio da análise da transcrição vídeo filmada da aula, em que se procuraram respostas para possíveis dificuldades na construção da analogia, especificamente sobre dificuldades na compreensão dos conceitos de calor e temperatura, que se refere à questão subsidiária (d) (p20). Com esse conjunto de respostas, se procurou avaliar a eficácia da analogia construída em contribuir para a aprendizagem dos conceitos de calor e temperatura, ou seja, em que medida a analogia planejada é efetiva em termos da aprendizagem de calor e temperatura, que corresponde, em parte, a questão que deu o norte a este trabalho (seção 1.2). Ainda, para tornar mais completa uma resposta à essa questão norteadora formulada na seção 1.2, ou seja, em que medida a analogia planejada é efetiva em termos da aprendizagem e da prática pedagógica para o ensino dos conceitos de calor e temperatura, se procurou compreender o papel da professora-pesquisadora na condução da atividade mediante o uso do modelo TWA modificado, ou seja, também se procurou respostas para a questão subsidiária (f) (p.20), a partir da transcrição e análise dessas duas aulas vídeo gravadas. A vídeo-gravação, segundo Laburú et al. (2000, p.100), “dá-nos oportunidade de analisar criticamente a prática encaminhada pelo professor durante o ensino e, ao mesmo tempo, auxilia a examinar os obstáculos conceituais enfrentados pelos alunos durante a aprendizagem”. Esse autor ainda coloca que Essa técnica de análise oferece ao professor uma apropriada avaliação da sua ação pedagógica, oferecendo, também, uma identificação conveniente dos problemas enfrentados pelos alunos, tais como: os conceitos que ficaram obtusos; os alunos que merecem maior acompanhamento; a busca de estratégias para enfrentar tais problemas e a reavaliação de sua efetividade. Por outro lado, o vídeo possibilita ao professor fazer uma reavaliação da sua própria instrução, localizando falhas e sugerindo, a partir delas, possíveis mudanças no encaminhamento do seu ensino (LABURÚ et al, 2000, p.100). 4.3.2 Atividades baseadas em texto de divulgação científica As atividades baseadas em texto de divulgação científica foram realizadas em dois momentos: no primeiro encontro (Aulas 1-2), no momento da problematização, e no último encontro (Aulas 11-12), no momento da aplicação do conhecimento. Cada encontro teve a duração de 2 horas-aula de 50 min cada. Estavam presentes para esta atividade no primeiro encontro 27 alunos; e no último, 12 alunos estavam presentes para a atividade. A atividade do primeiro encontro foi conduzida pela professora-pesquisadora, que estabeleceu uma dinâmica dialogada com os alunos a partir da leitura prévia do texto. Ao 62 final das discussões coletivas, ela entregou aos alunos a Ficha 1 (seção 3.3.1.3) para que eles, individualmente, expressassem o que entenderam sobre o tema central do texto, as causas e efeitos de fenômenos climáticos extremos, as atitudes que adotariam a partir da compreensão adquirida, e ainda, que fizessem uma síntese por escrito sobre o tema tratado no texto. Com isso, se procurou respostas para a questão subsidiária (e): quais são as relações entre ciência, tecnologia e temáticas sociais construídas a partir da leitura. Esse encontro também foi vídeo-gravado, e cuja transcrição também buscou respostas para a questão subsidiária (f), seção 1.2 desta Dissertação, sobre o papel da professora na condução das atividades. A atividade do último encontro foi realizada individualmente pelos alunos presentes, os quais preencheram três fichas (Fichas 1, 2 e 3, conforme seção 3.5.1.3). Ao preencherem a Ficha 1, os alunos receberam a Ficha 2. No término do preenchimento das Ficha 2, os alunos receberam a Ficha 3, e ao final do preenchimento desta ficha, receberam a Ficha 4. Com a Ficha 1 solicitou-se que os alunos retirassem do texto trechos em que a conceitos físicos pudessem ser por eles identificados, e que buscou respostas para a questão (c), seção 1.2 desta Dissertação. Com a Ficha 2, solicitou-se que os alunos extraíssem do texto observações que se referissem a influência humana no aumento das emissões de gases de efeito estufa, bem como as causas conhecidas das mudanças climáticas. Com a Ficha 3, solicitou-se aos alunos que produzissem seu próprio texto com base na leitura. As Fichas 2 e 3 também buscaram respostas para a questão (e), seção 1.2 desta Dissertação. 63 5 IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES BASEADAS EM ANALOGIA E TDC 5.1 ATIVIDADE BASEADA EM TDC: PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL 5.1.1 Conceitos físicos identificados na leitura prévia do TDC O TDC “Lições do Catarina e do Katrina: as mudanças do clima e os fenômenos extremos” (MARENGO; NOBRE, 2005) foi entregue aos alunos pelo professor titular das turmas, em dia anterior ao encontro destas duas primeiras aulas, para que os alunos realizassem a leitura e identificassem: (i) conceitos já estudados anteriormente e (ii) termos ou conceitos que chamaram atenção ou que dificultaram a compreensão da leitura. Como previsto no planejamento da unidade didática para as Aulas 1-2, se pretendeu com isso que os alunos identificassem conteúdos conceituais relacionados à Física presentes no TDC (seção 3.3.1.1, e Quadro 3.1). Com relação ao item (i), os conceitos físicos já conhecidos dos 27 alunos que desenvolveram esta atividade, 13 alunos identificaram expressamente a temperatura como conceito físico presente no TDC, sendo este conceito o que mais apareceu nomeado pelos alunos, enquanto o conceito de calor foi expressamente identificado por apenas 4 alunos. Outros dois conceitos físicos foram identificados no TDC: a velocidade, expressamente nomeada por 2 alunos; e a pressão, por 1 aluno. Conceitos relacionados a estes também foram expressamente identificados: aquecimento global (16 alunos), efeito estufa (15 alunos), clima (3 alunos) e ventos (2 alunos). Quanto ao item (ii), a maioria dos alunos declarou não ter tido dificuldades com a leitura (expresso por 19 alunos) ou que esta foi de fácil compreensão (expresso por 2 alunos). Declararam que os termos e conceitos tratados no TDC eram por eles conhecidos de outras disciplinas: Química (identificado por 7 alunos), Biologia (8 alunos), e Geografia (7 alunos), além da disciplina de Física (5 alunos), e um aluno declarou ter assistido a um vídeo e a notícias relacionadas aos conteúdos mencionados. 5.1.2 Diálogos no grande grupo Para identificar conteúdos procedimentais e atitudinais que os alunos puderam desenvolver a partir da leitura do TDC, inicialmente de forma dialogada, a professora convida os alunos para construir uma lista de acontecimentos que tivessem relação com mudanças climáticas extremas, buscando com isso que os alunos construíssem relações de causa e efeito para estes fenômenos, como sugerido na Tabela 3.1. 64 A aula transcorreu de forma dialogada, e à medida que se registravam no quadronegro os acontecimentos relacionados ao clima a partir da leitura do TDC, surgiam contribuições dos alunos e da professora, como transcrito nos diálogos abaixo: C.C.: Aumento da temperatura das águas oceânicas L.U.: Aquecimento global. J.C.: Explosão demográfica das zonas costeiras. Professora: Todos sabem o que quer dizer explosão demográfica das zonas costeiras? J.C.: Aumento da população nas áreas litorâneas. Professora: O que isso provoca? R.G.: Erosão, poluição através da concentração de pessoas. R.F.: Grande quantidade de lixo com destino inadequado. Professora: Muitas vezes, numa simples palavra, buscamos muito significado. Muito bem. O que mais? J.C.: Tem uma parte aqui que diz que, “ainda que esse aumento possa, em princípio, ser parte de uma variabilidade natural do clima [...]”, ... , então, o aquecimento global pode estar associado a uma mudança natural? L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 L8 L9 L10 Na fala L10, a aluna J.C. questiona em voz alta acerca de o aquecimento global poder ter uma causa natural, buscando uma interpretação do fragmento do TDC. O fragmento que esta aluna destaca evidencia que o aumento na intensidade e na freqüência dos fenômenos climáticos extremos (ciclones, furacões, tufões e tempestades severas) pode ter uma causa não relacionada ao aquecimento global, ou seja, pode ser um fenômeno da natureza não associado à atividade humana; esta é uma das relações causa-efeito apresentadas na Tabela 3.1. Nesse fragmento, dito em voz alta, não consta a relação causa-efeito 2 (Tabela 3.1), que pode ter sido feita mentalmente pela aluna, em razão da pausa demonstrada na sua fala (pelo análise da vídeo gravação). Na fala L13 (conforme diálogo abaixo), essa aluna conclui, de forma expressa, ainda que incompletamente (conforme relação causa-efeito 3, Tabela 3.1), que o aquecimento global é natural. Nesse momento, ela tem a intervenção da professora no sentido de auxiliar na conclusão de seu raciocínio, como demonstrado na L14. Essa intervenção da professora é frutífera, levando a aluna a concluir que o aquecimento global pode ter causas devido a atividade humana (L15), como descrito pela relação causa-efeito 2, e retirada do TDC. No entanto, nesse momento, na fala L15, a aluna J.C. não deixa claro ter entendido que o efeito estufa é um fenômeno natural, ou seja, que o homem não gera o efeito estufa; a participação do homem no aumento das temperaturas médias globais é indireta, ou seja, por contribuir com o aumento da concentração de gases de efeito estufa, os quais intensificam a retenção de energia emitida pelo sol: Professora: O aquecimento global? R.G.: A ocorrência dos furacões? L11 L12 65 J.C.: Sim, o aquecimento global é natural ! Professora: É natural, mas ... ? J.C.: ... é agravado pelo homem, que gera o efeito estufa. L13 L14 L15 Outros acontecimentos relacionados às mudanças climáticas extremas também são registrados: Professora: O que mais? Quem gostaria de falar? J.L.: O efeito estufa. J.C.: Queima de combustíveis derivados do petróleo, desmatamento, queimadas e incêndios florestais. J.C.: Mudanças drásticas da temperatura, porque afeta o clima, porque nessas alturas não poderia estar chovendo tanto ... V.L.: Aumento de temperatura que gera tufões e furacões mais intensos. Professora: O que poderíamos acrescentar ainda? J.D.: Poluição através dos lixos nas grandes cidades. Professora: De que forma? L.C.: Nas zonas costeiras são jogados lixos nos rios e mares. R.F.: Falta de saneamento. Professora: Poderíamos dizer destino inadequado do lixo? Quem provoca queimadas, desmatamentos e destino inadequado do lixo? J.G., J.C. e R.F.: A ação humana, o homem. Professora: Vamos juntos classificar, identificando quem é causa e quem é efeito desta causa. L16 L17 L18 L19 L20 L21 L22 L23 L24 L25 L26 L27 L28 Na fala L27, as alunas J.G., J.C. e R.F. se referem à interferência do homem sobre o meio ambiente, cujas conseqüências podem contribuir para possíveis alterações no clima da Terra. Ao término da discussão, a professora convida os alunos a classificar em possíveis causas e efeitos os acontecimentos que foram elencados (L28), utilizando o quadro-negro. 5.1.3 Respostas escritas dos alunos Para identificar conteúdos procedimentais e atitudinais desenvolvidos pelos alunos, agora por escrito, a professora distribuiu para cada aluno a Ficha 1 desta atividade (seção 3.3.1.3) para que eles expressassem: o tema central do TDC, relações de causa e efeito para os fenômenos discutidos a partir da leitura do TDC, e ainda, indicassem possíveis atitudes a partir da adoção de novos hábitos que o TDC os auxiliou a despertar. Antes de distribuir a ficha, a professora apagou o quadro-negro onde restavam escritas relações de causa e efeito que foram construídas no grande grupo, conforme a fala L28. Na Figura 5.1, algumas respostas dadas pelos alunos à questão “Qual é o tema central discutido no texto?” ilustram como eles compreenderam o que se discutia no texto. Por meio dos recentes furacões Katrina e Catarina, o TDC apresenta como tema central a hipótese do aquecimento global como causa importante do aumento na freqüência e na intensidade de fenômenos climáticos extremos, entendendo-se aquecimento global como o 66 aumento das temperaturas médias das águas dos mares e da superfície dos continentes induzido tanto por causas naturais quanto pela atividade humana, e daí as importantes lições para novas condutas humanas frente às possíveis conseqüências sobre o clima e a vida na Terra. As respostas dos alunos a essa questão (Figura 5.1), de maneira geral, enfatizaram a participação humana nesses acontecimentos (como ilustram as respostam dadas por R.F. e C.D.), enfatizaram também tanto a ação humana quanto natural (como ilustra a resposta dada por R.G.), e enfatizaram, também, o que podemos aprender a partir desses acontecimentos (como ilustra a resposta de A.C.). (a) Resposta do(a) aluno(a) R.F. (b) Resposta do(a) aluno(a) R.G. (c) Resposta do(a) aluno(a) C.D. (d) Resposta do(a) aluno(a) A.C. Figura 5.1: Entendimento de (a) R.G., (b) R.G., (c) C.D., e (d) A.C. acerca do tema central discutido no TDC. 67 Tais acontecimentos foram por eles relacionados em termos de causa e efeito (Figura 5.2). Relações de causa e efeito importantes discutidas no TDC e identificadas na Tabela 3.1 (seção 3.3.1.2) foram por eles expressas nas suas respostas, tais como a relação entre o aumento da concentração de gases de efeito estufa e o aquecimento global (como ilustram as respostas dadas por R.F. e C.D.) e, por sua vez, a relação entre o aquecimento global e fenômenos climáticos extremos, tais como furacões e tufões (como ilustra a resposta de R.F.). Assim, como no caso dessas relações estabelecidas por R.F., acontecimentos que são entendidos como efeito também podem ser causa de outros acontecimentos, como ilustra os apontamentos de D.S. quando relaciona atividade humana com poluição, e poluição com agravamento do efeito estufa. (a) Resposta do(a) aluno(a) R.F.. (b) Resposta do(a) aluno(a) C.D.. 68 (c) Resposta do(a) aluno(a) D.S.. (d) Resposta do(a) aluno(a) A.C.. Figura 5.2: Entendimento de (a) R.F., (b) C.D., (c) D.S., e (d) A.C. acerca das relações causa-efeito associadas a fenômenos climáticos extremos. Embora a palavra aquecimento seja usada significando aumento de temperatura, essa mesma aluna, e outros alunos, entenderam que o aquecimento global tem como efeito o aumento das temperaturas dos oceanos (como ilustram as respostas de D.S. e A.C.) e não que ele é entendido como o aumento das temperaturas (médias)das águas dos mares e da superfície dos continentes induzido tanto por causas naturais quanto pela atividade humana. Com relação à possibilidade de novas condutas que poderiam ser evidenciadas em novos hábitos, e que a leitura poderia ter suscitado, explorada na questão “Que hábitos você adotaria a partir da leitura do texto?”, algumas respostas dos alunos são mostradas na 69 Figura 5.3, as quais evidenciam o respeito ao meio ambiente e o uso racional da energia. Alguns alunos expressam que já adotavam tais condutas, tais como no depoimento de A.C. (a) Resposta de R.F.. (b) Resposta de R.G.. (c) Resposta de D.S.. (d) Resposta de A.C.. Figura 5.3: Hábitos que seriam adotados por (a) R.F., (b) R.G., (c) D.S. e (d) A.C.. a partir da leitura do TDC. Ao serem solicitados a sintetizar em poucas linhas a ideia central do TDC, embora alguns alunos mencionem o homem como responsável por alterações climáticas extremas (como ilustrado na resposta de D.S.), houve entendimento por parte de alguns alunos que 70 fenômenos climáticos extremos tem causa natural e humana (como ilustram as respostas de R.F. e A.C.). (a) Resposta dada por R.F.. (b) Resposta dada por R.G.. (c) Resposta dada por D.S.. (d) Resposta dada por A.C.. Figura 5.4: Síntese do TDC feita por (a) R.F., (b) R.G., (c) D.S., e (d) A.C.. 71 5.2 ATIVIDADE BASEADA EM ANALOGIA: APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO 5.2.1 Diálogos no grande grupo Na construção da analogia no grande grupo, os 6 passos do modelo TWA modificado puderam ser identificados no decorrer da aula, como descrito a seguir, o que indica domínio da estratégia metodológica pela professora no trabalho com analogia. 1º Passo: Apresentação da situação alvo Os conceitos alvo calor e temperatura são inicialmente retomados. A professora faz comentários com os alunos que em todas as aulas, até o momento, se discutiu sobre calor e temperatura, pois são conceitos diferentes e percebe-se dificuldade de conceituar cada um deles (a professora ao falar sobre a dificuldade de conceituar calor e temperatura tomou como base as respostas dos alunos apresentadas na Ficha 1, enquanto as recolhia nesta mesma aula) . A professora, dirigindo-se aos alunos, se refere que ainda podem não estar bem compreendidos os conceitos de calor e temperatura quando se observa, por exemplo, a resposta dada (a professora utiliza a resposta de um aluno apresentada na Ficha 1, sem se referir a Ficha ou ao aluno) que “Temperatura é o calor que os corpos apresentam”. Com isso, a professora procura retomar esses conceitos, questionando: Professora: O que significa verificar se uma pessoa está febril? J.C.: Verificar a temperatura do corpo. Professora: E quando eu falo: e o calor que o corpo apresenta? R.G.: É a energia ... Não ... J.B.: É a agitação das moléculas. Professora: O que é? J.B.: Temperatura. Professora: O que é que provoca a agitação das moléculas? R.G.: O calor. A variação da temperatura. Professora: O que provoca a variação da temperatura. R.G.: A variação da energia. J.C.: Mas calor é energia. L29 L30 L31 L32 L33 L34 L35 L36 L37 L38 L39 L40 2º Passo: Apresentação da situação análoga Em meio a essa discussão, a professora diz que “muitos de nós confundimos os conceitos de calor e temperatura, são dois conceitos diferentes”. Com isso, a professora procura introduzir a situação análoga do movimento mecânico de bolinhas de isopor no interior de uma lixeira, devida a um secador de cabelo ligado na rede elétrica e a diferentes 72 distâncias da lixeira, para o estudo dos conceitos físicos calor e temperatura, conforme a Figura 5.5, e solicitando que os alunos descrevessem estes objetos. Figura 5.5: Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e temperatura. 3º Passo: Identificação das características relevantes do análogo J.C., R.G. e L.U.: É uma lixeira e dentro tem bolas de isopor. J.C.: É fechada. Professora: E ainda mais ... L.C.: Está furada ao redor. L41 L42 L43 L44 Nisso, a professora chama atenção que não havia transformado as bases da lixeira (fundo e tampa) iguais as laterais, mas salienta que: Professora: Eu quero passar para vocês a idéia como se ela [a lixeira] fosse toda vazada, a base e a tampa, igual as laterais. Vamos ver mesmo o que nós temos, então: uma lixeira, toda vazada, com uma tampa para as bolinhas de isopor não saírem de dentro. Tenho também um secador de cabelo. Como é que ele [o secador de cabelo] está? R.G.: Ligado na luz. L45 L46 4º Passo: Estabelecimento das correspondências entre o análogo e o alvo Professora: O que seria esta luz? R.G.: Eletricidade. Professora: O que é esta eletricidade? J.C.: Energia. L47 L48 L49 L50 73 A fala da professora (L49) ao questionar com maior insistência os alunos é para que eles se dessem conta que esta eletricidade seria a energia, e que esta energia se transforma em outras formas, e ainda, que sem energia o secador de cabelo não iria funcionar. Professora: Então, temos um secador de cabelo ligado numa fonte de energia. Para que esta energia serve? A.M.: Para ligar. Professora: Mas ele pode estar conectado na fonte, ligado ou desligado. Mas considerando quando eu ligar o secador de cabelos, o que acontece com esta energia? R.G.: Ele [o secador de cabelos] vai estar retirando uma energia da fonte. Professora: Ele vai ... J.C.: Puxar energia. Professora: Quando eu ligar? L.C.: Ele vai transformar energia. L51 L52 L53 L54 L55 L56 L57 L58 Nesta fala (L58), a aluna LC expressa em palavras que o secador de cabelo é o ente que transformará a energia elétrica principalmente em mecânica e térmica, como também declara R.G. quando diz, na linha L62, que o secador “Transforma em outra coisa” esta energia. L.C.: Ele vai receber energia. J.C.: E vai transformar em vento quente, ou vento frio, dependendo do secador. Professora: Vocês concordam? Correto o que a colega falou? [A turma não se manifesta]. Bem ... ele necessita de energia para funcionar. Durante o seu funcionamento, o que ele faz com essa energia? R.G.: Transforma em outra coisa. Professora: Em outra forma de energia. J.C.: Vento quente, através daquela “coisinha” que rodeia [fazendo movimento circular com as mãos]. Professora: Então, a energia que o secador retira da fonte parte ele transforma em mecânica, movimento, e outra em? J.C.: Vento quente ...em calor ... energia térmica. L59 L60 L61 L62 L63 L64 L65 L66 Nesse ponto, destaca-se que a transformação de energia elétrica em térmica também é compreendida por J.C., como revela o comentário desta aluna da linha L66, mediante a auxílio da professora na condução desse raciocínio (L65). A professora retoma novamente a lixeira com bolinhas e diz aos alunos: Professora: Vamos compará-la [a lixeira com as bolinhas] com um corpo qualquer e poderíamos dizer que este corpo apresenta o que? É composto de que? J.C.: Moléculas. L67 L68 74 Professora: Então, poderíamos dizer que o conjunto lixeira + bolinhas é um corpo constituído de moléculas onde as bolinhas de isopor são estas moléculas. Vejam, temos uma lixeira com bolinhas e um secador de cabelos ligado na fonte de energia. Estou utilizando este experimento analógico para entendermos o que é calor e temperatura onde o secador de cabelo pode ser uma fonte de energia ou o corpo de maior energia; e a lixeira + bolinhas, outro corpo qualquer. Considerando, então, o secador de cabelos ligado na fonte de energia, ele seria ... ? J.C.: Um corpo quente. Professora: O que ele faz para o outro corpo, lixeira + bolinhas? J.C.: Transfere calor [fazendo um movimento com as mãos dando ideia de passagem]. Professora: Essa transferência de energia, ou seja, a medida que o corpo vai recebendo energia, essa energia provoca o que no corpo? J.C.: Aumento da temperatura. Professora: Mas é importante sabermos que podemos variar ...variar o que? J.C.: A quantidade de energia. Professora: Se fornecermos mais energia, o que acontece com o corpo que recebe? J.C.: Elas vão agitar mais [as bolinhas]. L.U.: Maior é a agitação das moléculas. Professora: E se eu diminuio a energia? J.C.: Diminui a agitação das moléculas. Professora: Então, certo. Vamos lá. L69 L70 L71 L72 L73 L74 L75 L76 L77 L78 L79 L80 L81 L82 A professora apresenta o experimento analógico com a lixeira e bolinhas de isopor com o secador ligado na fonte de energia elétrica, fazendo variar a distância do secador à lixeira, conforme Figura 5.6 e Figura 5.7. Figura 5.6: Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e temperatura, em que o secador de cabelo, ligado à rede elétrica, encontra-se afastado da lixeira com bolinhas de isopor. 75 Figura 5.7: Situação análoga para o estudo dos conceitos alvo calor e temperatura, em que o secador de cabelo, ligado à rede elétrica, encontra-se próximo da lixeira com bolinhas de isopor. 5º Passo: Identificação dos limites de validade da analogia A professora explica que se a base e a tampa fossem vazadas, poderia se fazer a transferência de energia também por esses lados. E acrescenta: Professora: Não quero que vocês pensem que a transferência de energia em um corpo se dê apenas em um dos lados, ou seja, seja unidirecional, por qualquer um dos lados pode haver transferência de energia. L83 O experimento analógico é apresentado para a turma, aproximando-se e afastandose o secador de cabelo, ligado na fonte, da lixeira com bolinhas de isopor, como ilustram as Figuras 5.6 e 5.7. A seguir: Professora: O que vocês perceberam? R.G., J.C., L.U., M.B.: Quanto mais próximo [o secador de cabelo ligado] maior é a agitação das moléculas, maior a colisão. L84 L85 Quando os alunos se referem “a agitação das moléculas” e não a agitação das bolinhas, percebe-se que eles relacionaram o movimento das bolinhas com o movimento molecular de um corpo submetido à variação de energia, e assim, transferem a situação analógica para a situação física em estudo – calor e temperatura. 76 L.U.: Conforme vai diminuindo a distância seria mais energia [para o corpo]. J.C.: Mais calor. R.G.: Mais energia direta ... aí dissipa energia [quando afasta]. L86 L87 L88 Nesse momento, cabe antecipar uma limitação da analogia. A noção de “dissipar” a energia térmica pode estar relacionado a propagação de energia para todos os demais corpos. L.U.: É. Professora: Como é J.C. [J.C. fala mas a professora não ouve, por isso, lhe dirige a palavra]? J.C.: Quanto mais perto, mais calor, mais temperatura que o corpo quente teria, menor diferença de temperatura entre os dois teria [o corpo e a fonte] ... ah, estou toda enrolada ... Professora: Tu queres dizer ... quanto mais eu aproximo, maior é o fluxo de ... ? Laura, L.U., J.C.: Calor. Professora: Maior é a quantidade de ... J.C.: Energia. Professora: Logo, a medida que eu afasto, o que acontece com as bolinhas? J.C.: Elas vão diminuindo a vibração [gesticulando com a mão em movimento vibratório]. L89 L90 L91 L92 L93 L94 L95 L96 L97 O experimento analógico é retomado, em que a professora liga o secador de cabelo e o distancia o máximo possível da lixeira para depois ir aproximando-o, lentamente, da lixeira (Figuras 5.6 e 5.). Professora: Perceberam, então, podemos relacionar estas coisas, ou seja, estabelecermos relações. Então ... poderíamos dizer que todo este conjunto lixeira mais bolinhas, seria o que? J.C., L.C., L.U., R.G.: O corpo. Professora: As bolinhas seriam quem? L.U., J.C., M.B., R.G., L.C.: As moléculas. Professora: O que mais poderíamos relacionar? Que relações temos ainda? [A turma não se pronuncia]. Vamos lá [e se dirige ao quadronegro]. L98 L99 L100 L101 L102 A professora divide o quadro-negro em duas partes, de um lado escreve “Elementos da situação física em estudo (Alvo)” e, de outro lado, os “Elementos da situação análoga”. E pergunta: Professora: Quem seria a situação física? J.C.: O corpo. Professora: À medida que ele recebe o que? J.C.: Mais ou menos energia. Professora: À medida que este corpo recebe mais ou menos energia, vai provocar o que? L103 L104 L105 L106 L107 77 J.C.: Maior ou menor agitação das moléculas. Professora: Os elementos do análogo são quem? J.C.: A lixeira com as bolinhas. Professora: Quem com quem nós poderíamos relacionar? J.C.: O calor ... à fonte quente ... o secador [que está ligado e, portanto é a fonte quente] J.C.: A lixeira + bolinhas com o corpo. Professora: As bolinhas representam o que? M.B., L.U., R.G.: As moléculas do corpo. Professora: Poderíamos colocar “átomos”? J.C.: Não. R.G.: Mas por que eu não posso chamar as bolinhas, que são moléculas, de átomos? Se moléculas são [formadas] de átomos. Professora: Vocês me disseram que não! R.G.: Eu acho que pode, sim. L.U.: Pode, sim, professora. R.G: Só há uma quantidade maior de átomos comparado ao de moléculas. J.C.: Mas daí ... isso, oh [virando-se para R.G.]H2O é diferente de COH? Ou só é diferente de O? L.U.: Moléculas ou átomos do corpo. R.G.: Se o corpo tem átomos é porque tem moléculas. J.C.: Ta ... desculpas. Professora: O que as bolinhas fazem? R.G.: Elas se agitam. Professora: À medida que eu aproximo ou afasto o secador de cabelos, o que acontece? A.M.: Diminui ou aumenta a agitação delas [das bolinhas]. Professora: Essa agitação seria o que? L.U.: Aumenta ou diminui o grau de energia delas ... não ... L.C.: Energia. L.U.: O movimento das bolinhas. Professora: O movimento das bolinhas está relacionado com quem? No corpo? J.C.: Com a energia interna ... não ...como assim Professora: As bolinhas se movimentam ... J.C.: Sim. Professora: E esse movimento das bolinhas no corpo está associado com quem? M.B.: Com a energia. L108 L109 L110 L111 L112 L113 L114 L115 L116 L117 L118 L119 L120 L121 L122 L123 L124 L125 L126 L127 L128 L129 L130 L131 L132 L133 L134 L135 L136 L137 L138 L139 L140 Percebendo que os alunos não mencionam o movimento das bolinhas, relacionado à energia cinética das bolinhas, a professora liga o secador de cabelo e o aproxima da lixeira, perguntando aos alunos: Professora: Que energia é essa? J.C.: Calor R.G.: Energia térmica. Professora: Qual é a energia que está associada ao movimento? R.G., L.U.: Energia cinética. Professora: Poderíamos dizer: energia mecânica? J.C.: Energia mecânica ... potencial mais cinética. Professora: O secador ... vamos relacionar com quem? J.C.: Fonte quente. Professora: A lixeira com ... ? J.C.: O corpo. Professora: Para haver transferência de energia é preciso ... ? L141 L142 L143 L144 L145 L146 L147 L148 L149 L150 L151 L152 78 J.C.: Uma diferença de temperatura. R.G.: Energia. Professora: O que acontece quando existe diferença de temperatura? J.B.: Um está mais quente que o outro. Professora: Ou seja, passagem de um fluxo de ... ? J.C.: Energia. L153 L154 L155 L156 L157 L158 A insistência da professora nesse diálogo é justamente procurar com que o aluno perceba a diferença entre temperatura e calor. No diálogo com os alunos, eles se referem à “energia” sem diferenciar qual é o tipo de energia. A intenção nesse diálogo é de que os alunos diferenciem a energia do movimento das bolinhas (energia mecânica cinética), que está associada à temperatura, com a energia do fluxo de ar, que está associada ao calor (energia que é transferida). Professora: Então, este fluxo de energia que passa para o corpo o que seria no análogo? J.C., R.G., L.U., L.C.: Vento quente [fluxo de ar]. Professora: O que mais poderíamos relacionar? [A turma não se manifesta] Professora: O que seria o secador? J.C.: O corpo que contem mais energia [energia cinética associada à temperatura]. R.G. O corpo que contém mais calor. J.C.: O que tem mais temperatura? L159 L160 L161 L162 L163 L164 L165 A concepção errônea de que o calor é uma propriedade do corpo aparece na fala da aluna R.G. (L164). Na fala desta aluna, outra questão a salientar é a confusão entre os conceitos de calor e temperatura que ela ainda apresenta. A energia cinética, associada com a temperatura, é percebida na fala da aluna J.C. (L165). No diálogo a seguir, a professora chama a atenção para características do análogo que não correspondem às características do alvo, identificando-se limites de validade da analogia (L174): Professora: O secador de cabelos ligado na fonte emitindo jato de ar quente vamos relacionar com ...? J.C.: Fonte de energia. Corpo de maior temperatura. Professora: A intensidade do fluxo de energia nós podemos variar aproximando ou afastando o secador de cabelos. A vibração, o grau de agitação das moléculas vai depender do fluxo de energia que o corpo recebe. Se o corpo receber um grande fluxo de energia, as moléculas terão uma vibração maior, e se o fluxo de energia diminui, o movimento das bolinhas também diminui. E na lixeira ... como é que varia a vibração, o movimento das bolinhas? J.C.: Quanto mais perto o secador está, maior a vibração, e quando afasta [o secador], diminui [a vibração]. Professora: Então, a intensidade do fluxo de calor ... R.G.: Eu tenho uma pergunta. Se isso não seria porque está afastando o corpo de maior energia, não seria porque o calor que está transmitindo para o corpo de menor energia [estaria querendo dizer L166 L167 L168 L169 L170 L171 79 energia cinética?] vai ser dissipado no meio por isso não teria a mesma “força” que quando estão próximos? Professora: Não entendi direito ... R.G.: Eu afastando ou colocando mais perto [o secador] ... se eu afastar vai vibrar menos as moléculas, não seria porque o vento quente que está indo direto para as bolinhas ele está sendo dissipado aí no meio? Professora: É claro. Se um corpo está emanando um fluxo de energia, não apenas um único corpo ao seu redor recebe esta energia; todos os corpos que estão ao redor recebem esta energia. Este pode ser um limite do análogo, pois nós estamos direcionando o fluxo de ar para a lixeira. Como supomos o secador como o corpo de maior energia, maior temperatura, estaria emanando energia para todas as direções, podendo variar a temperatura de todos os corpos ao seu redor. Aqui, é claro, estou direcionando o secador de cabelos, o jato de ar quente, para a lixeira mais as bolinhas, o corpo. Retomando ... à medida que aproximo o secador, observamos que as bolinhas vibram mais, a vibração está associada com ... ? R.G.: O fluxo de energia [sem dizer qual é]. Professora: Então, aumentamos ou diminuímos o fluxo de energia, aproximando ou afastando o secador ligado. J.C.: Aumenta e diminui a energia cinética. Professora: A energia cinética associada ao movimento das bolinhas. A quantidade do fluxo de calor está relacionada com quem? J.C.: A distância do secador com o corpo, à lixeira. Professora: O que mais temos ainda? A velocidade aumenta ou diminui, a rapidez do movimento das bolinhas está associada com quem no corpo? R.G.: Átomos. [a temperatura] [A aluna R.G. manteve conversas paralelas com a L.C.] Professora: Vocês perceberam, fazemos a relação de um corpo e sua variação de energia com o conjunto lixeira mais as bolinhas e o secador ligado na fonte. Então, o alvo é o que nós estamos estudando e o análogo é o que eu estou usando para entender a situação alvo (um corpo quando recebe um fluxo de energia). R.G.: Mas o fluxo de energia não é unidirecional. Professora: Podemos dizer que este seria um limite de validade, ou seja, é onde a minha analogia falha, pois o fluxo de energia emanado por um corpo de maior temperatura não é direcional. Essa troca de energia se dá num todo. O fluxo de calor, no nosso experimento analógico, é direcionado, mas no nosso dia a dia isso não acontece. A troca se dá num todo, se dá em todas as direções, ou seja, do corpo de maior temperatura para os demais. L172 L173 L174 L175 L176 L177 L178 L179 L180 L181 L182 L183 L184 A seguir, a discussão das relações entre alvo e análogo é retomada no quadronegro: Professora: Com quem está associada a temperatura? J.C., L.U., R.G.: Com a energia cinética de vibração das moléculas, quanto maior a temperatura, maior a vibração. Professora: Isso nos corpos o que provoca? L.U., R.G., J.C.: Dilatação. Professora: Isso porque aumenta a vibração, elas [as moléculas] vão se distanciando, provocando a dilatação. E calor? M.B.: É o fluxo de energia em trânsito. Professora: Quando acontece isso? M.B.: Quando existe diferença de temperatura. Professora: Isso num ambiente termicamente isolado, pois num L185 L186 L187 L188 L189 L190 L191 L192 L193 80 ambiente qualquer, todos os corpos sofrem influência desse fluxo de energia, ou seja, constantemente ocorre esse fluxo de energia, podendo ou não interferir na sua temperatura. Por exemplo, na própria sala de aula, os objetos presentes todos estão aproximadamente a mesma temperatura. Não quer dizer que eles não estejam emanando fluxo de energia. Constantemente ocorre essa troca de energia, mas essa energia emanada não necessariamente varia a temperatura do corpo. 6º Passo: Esboço de uma síntese conclusiva sobre a situação alvo Nesse passo, a Ficha 2 é entregue aos alunos para que eles estabeleçam as relações entre as grandezas do alvo e suas correspondências com o análogo. Em seguida, é entregue a Ficha 3, e por último, a Ficha 4. 5.2.2 Respostas escritas dos alunos 5.2.2.1 Conceitos de calor e temperatura As respostas acerca do que os alunos entendem por calor e temperatura, antes e após a implementação da atividade com a analogia, sugere que o conceito de temperatura ainda não ficou bem compreendido pelos alunos. A resposta de A.C. (Figura 5.8 (a)) que temperatura “é tudo o que tem sentido de calor [...]” pode estar indicando que a grande dificuldade na compreensão do conceito de temperatura é o sentido de calor que lhe é atribuído, o que dificulta a construção do significado científico de temperatura. Após a atividade com a analogia, A.C. reformula seu conceito de temperatura, como mostra a Figura 5.8(b), e também expressa melhor o seu conceito sobre calor, como mostrado nesta figura. (a) Compreensão sobre calor e temperatura por A.C. antes da atividade com a analogia. 81 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por A.C. após a atividade com a analogia. Figura 5.8: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por A.C. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Como A.C., o conceito de temperatura também apresentou maior dificuldade para o(a) aluno(a) A.M. (Figura 5.9 (a)); esse conceito, antes confundido com calor por este(a) aluno(a), é reformulado, sem contudo especificar que tipo de energia se está fazendo referência. Outra questão interessante é o sentido que A.M. atribui ao calor antes da atividade com a analogia, e como o expressa declaradamente após esta atividade. (a) Compreensão sobre calor e temperatura por A.M. antes da atividade com a analogia. 82 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por A.M. após da atividade com a analogia. Figura 5.9: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por A.M. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Conceituar temperatura também é uma dificuldade para o(a) aluno(a) C.D. (Figura 5.10). Esse conceito, antes confundido com calor (Figura 5.10(a)), passa a ser reformulado, mas, como no caso de A.M., ainda não é claro, que pode ser observado na Figura 5.10(b). (a) Compreensão sobre calor e temperatura por C.D. antes da atividade com a analogia. 83 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por C.D. após da atividade com a analogia. Figura 5.10: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por C.D. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Para o(a) aluno(a) D.S., o conceito de calor não apresentou dificuldade (Figura 5.11). No entanto, novamente o conceito de temperatura, compreendido como a quantidade de calor de um corpo antes da atividade com a analogia (Figura 5.11(a)), é reformulado após a atividade, mas guardando a palavra “aquecimento” (Figura 5.11(b)), o que suscita dúvidas sobre o seu entendimento. A palavra “aquecimento” pode querer significar para D.S. aumento de temperatura. (a) Compreensão sobre calor e temperatura por D.S. antes da atividade com a analogia. 84 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por D.S. após da atividade com a analogia. Figura 5.11: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por D.S. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. Para o(a) aluno(a) B.Z., o conceito de calor também não apresentou dificuldade (Figura 5.12). No entanto, mais uma vez a dificuldade está no conceito de temperatura, que é compreendido como a quantidade de energia, que foi entendida como o calor, de um corpo antes da atividade com a analogia (Figura 5.12(a)), é reformulado após a atividade, mas guardando a palavra “aquecimento” (Figura 5.12(b)). (a) Compreensão sobre calor e temperatura por B.Z. antes da atividade com a analogia. 85 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por B.Z. após da atividade com a analogia. Figura 5.12: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por B.Z. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. A dificuldade com o conceito de temperatura também é apresentada pelo(a) aluno(a) B.P. (Figura 5.13(a)), em que o conceito de temperatura se confunde com o conceito de calor. Após a atividade com a analogia, B.P. expressa que a temperatura é a quantidade de energia de um corpo, sem deixar claro que tipo de energia se refere. (a) Compreensão sobre calor e temperatura por B.P. antes da atividade com a analogia. 86 (b) Compreensão sobre calor e temperatura por B.P. após da atividade com a analogia. Figura 5.13: Compreensão dos conceitos de calor e temperatura por B.P. (a) antes e (b) após a atividade com a analogia. 5.2.2.2 Correspondências e limites de validade da analogia As respostas dos alunos para as correspondências estabelecidas entre o análogo e o alvo, e as limitações apontadas da analogia, indicam claramente que compreender o conceito de temperatura é para eles difícil. Eles não deixaram expresso este conceito nas correspondências que estabeleceram, e ainda, confundem este conceito com o conceito de calor. Apenas dois(duas) alunos(as) apontam de forma expressa a compreensão sobre o conceito de calor nas correspondências que estabelecem, e não deixam clara a sua compreensão sobre o conceito de temperatura. É o caso das respostas de J.C. (Figura 5.14) e de R.G. (Figura 5.15). Figura 5.14: Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por J.C.. 87 Figura 5.15: Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por R.G.. Outra dificuldade dos alunos participantes que merece ser destacada no estabelecimento de correspondências entre alvo e análogo, e que pode estar relacionada à dificuldade de compreender o conceito de temperatura, é que o corpo (no alvo) teve correspondência apenas com a lixeira (no análogo), excluindo-se as bolinhas de isopor. Ora, o entendimento de temperatura implica na compreensão do modelo cinético-molecular da matéria. Se essa compreensão é ausente, isso pode dificultar a compreensão do conceito de temperatura. Na direção dessa discussão, as respostas dos(as) aluno(as) L.C. e L.S. são ilustrativas, mostradas nas Figuras 5.16 e 5.17. Figura 5.16: Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por L.C.. 88 Figura 5.17: Correspondências estabelecidas entre o alvo e o análogo por L.S.. 5.3 ATIVIDADE BASEADA EM TDC: APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO 5.3.1 Respostas escritas dos alunos Dos conceitos físicos presentes no TDC “A Física por trás das mudanças climáticas”, solicitados na Ficha 1, a atenção ficará para os conceitos de calor e temperatura. O conceito de calor foi expressamente identificado no TDC apenas por 4 alunos dos 12 alunos presentes. A Figura 5.12 ilustra a frase do texto que os alunos identificaram o conceito de calor. O conceito de temperatura foi expressamente identificado em trechos do TDC por 8 alunos dos 12 alunos presentes . A Figura 5.13 ilustra as frases do texto que os alunos identificaram o conceito de temperatura. . Figura 5.18: Trecho do TDC em que foi identificado o conceito de calor pelos(as) alunos (as) A.C., C.D., A.C., T.L. 89 (a) Resposta dos(a) aluno (a) A.C.. (b) Resposta dos(as) alunos (as) C.D., M.B., C.D., JaB. (c) Resposta dos(as) alunos (as) D.S., V.L., M.A. Figura 5.19: Trechos do TDC em que foi identificado o conceito de temperatura. Na Ficha 2, os alunos enumeram observações feitas no TDC que apontam a influência humana no aumento nas emissões de gases de efeito estufa, e enumerem causas conhecidas das mudanças climáticas. É, pois, uma retomada da problematização inicial. Na Ficha 3, os alunos escrevem um texto próprio. Ao escrever o texto, pedia-se que fosse dado um título que melhor representasse a ideia contida nele. Poucos alunos se utilizam dos conceitos estudados para escrever em linguagem científica, e relacionar os conceitos de temperatura e calor com a tecnologia e o meio ambiente. A Figura 5.14 e a Figura 5.15 ilustram dois textos produzidos por eles em que estas relações aparecem. 90 Figura 5.20: Produção textual de L.S.. 91 Figura 5.21: Produção textual de JeB.. 92 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos estudos apresentados nesta Dissertação, observou-se que os conceitos físicos de calor e temperatura, apesar de estudados, ainda costumam ser confundidos pelos alunos. Este fato tem inquietado professores preocupados com as dificuldades de aprendizagem destes conceitos. Ao longo deste trabalho, pretendi utilizar estratégias didáticas no sentido de minimizar tais inquietações e oferecer alternativas para contribuir com a aprendizagem destes conceitos. Este trabalho priorizou o planejamento, desenvolvimento e implementação de atividades baseadas em analogia e texto de divulgação científica (TDC) inseridas em um modelo de ensino baseado em momentos pedagógicos, em uma perspectiva de educação em CTS. Sabemos que atividades didáticas baseadas em TDC não devem visar à transmissão pura e simples de uma determinada informação científica, e nem ser usada como mera confirmação ou ilustração de conceitos científicos, e sim, como recursos didáticos que podem ser utilizados em qualquer etapa da metodologia pedagógica, tendo como finalidade despertar os alunos para a aprendizagem de Física por meio da leitura de um texto de divulgação cientifica TDC e não apenas dos livros didáticos. A importância da atividade didática baseada em TDC pode ser destacada, dentre outros fatores, pela sua capacidade de facilitar e desenvolver a interpretação e a compreensão dos conteúdos necessários à aprendizagem da Física, tais como os conteúdos conceituais de calor e temperatura e conteúdos procedimentais envolvidos nesta aprendizagem. A partir dos estudos realizados nesta Dissertação, pode-se dizer que o uso de um TDC nas aulas de Física contribuiu para desenvolver esses conteúdos, além de aproximar relações entre a ciência e a tecnologia com questões ambientais. A exploração dos TDCs nas aulas se constituiu em uma boa alternativa para se trabalhar os conceitos de calor e temperatura, auxiliando a compreensão da Física presente no dia-a-dia e a percepção de que os conhecimentos científicos não são constituídos tendo como base fatos isolados ou compartimentados, e sim relacionados à tecnologia e a questões que nos cercam. A utilização em sala de sala dos TDCs como recurso didático para o ensino dos conceitos de calor e temperatura contribuiu no sentido de criar espaços para a prática de leitura geradora de discussões e opiniões. Neste sentido, além de ajudar na compreensão dos termos ou conceitos físicos, este espaço de leitura pode melhorar o vocabulário e as formas de expressão oral e escrita dos alunos e dar clareza aos novos significados aprendidos. 93 Com base nisso, percebeu-se a necessidade de recorrer a teorias de aprendizagem, mais especificamente, ao processo cognitivo de aprendizagem. Entre os vários autores estudados, Ausubel foi um dos que se mostrou adequado, tendo em vista que em sua proposta teórica ele não supõe abandonar modelos mais antigos, mas considera que para haver a aprendizagem significativa o aluno requer materiais potencialmente significativos que promovam a integração entre as idéias prévias e o conhecimento novo. Observou-se, também, que os conteúdos procedimentais de argumentação oral e escrita, bem como conteúdos atitudinais, ficaram evidenciados pela interação dialógica dos alunos no grande grupo, bem como com o material de ensino. Ao realizar síntese, o aluno foi estimulado a desenvolver não só a concentração e a atenção como, também, desenvolver a argumentação e a produção textual, ferramentas importantes no mundo em que vivemos. Quanto à atividade com o uso de analogia, em uma perspectiva investigativa, esta permitiu aos alunos apresentarem e justificarem seus conhecimentos constituídos ao longo de todo o processo. Esta estratégia tem contribuído para a formação de uma postura autônoma, de contínua busca de conhecimentos. Pude perceber que a atividade com analogia, embora trabalhosa, geradora de conflitos, pode auxiliar no desenvolvimento do raciocínio e na oralidade dos alunos, gerou criatividade e construção de hipóteses, além de confiança e melhoria da auto-estima, que foi favorecido pelo estabelecimento de aulas dialogadas durante o desenvolvimento das atividades. Ao desenvolver a atividade com analogia neste estudo, o conceito de temperatura mostrou ser de mais difícil compreensão para os alunos participantes do que o conceito de calor. No entanto, pude perceber, comparando com os primeiros encontros, um envolvimento destes durante esta atividade. Embora nesta primeira experiência com a implementação desta analogia em sala de aula se tenha tido pouca efetividade para auxiliar na compreensão dos conceitos de calor e temperatura, esta atividade ainda assim mostrou o envolvimento dos alunos durante a sua realização, resgatando as suas ideias prévias sobre de calor e temperatura, gerando contradições, e explicitando divergências entre elas. Assim, é importante destacar o aspecto construtivo da atividade com a analogia em termos de conteúdos procedimentais que são despertados no aluno e que favorecerão atividades futuras desta natureza. Outro aspecto a ser destacado é que o professor, ao conduzir as atividades com analogia, pode não conseguir implementar todos os passos estratégicos necessários, o que acreditamos não ter sido o caso no presente estudo. Ao longo da implementação de todas as atividades, do primeiro ao último encontro, observou-se, no entanto, um número cada vez menor de alunos nas aulas, à medida que as implementações eram realizadas. Nos primeiros encontros, a participação dos alunos nas 94 aulas foi muito boa, mas no decorrer das demais aulas, a participação em termos de número de alunos foi diminuindo, por razões que atribuo: (a) Ao fato de que a Escola promoveu, no mês de novembro, uma gincana intermunicipal (denominada Gincopeis) com a participação dos municípios das Escolas Estaduais da região de Nova Palma, Dona Francisca, Ivorá, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsene, e Faxinal do Soturno, que teve o envolvimento da maioria dos alunos na realização de atividades no turno em que o trabalho com eles era desenvolvido; (b) Percebi, também, que um percentual muito grande de alunos residia no interior, e estes muitas vezes ficavam impossibilitados de retornar à noite para participar das atividades; (c) Outro fator que pude perceber e atribuir a infrequencia dos alunos foi o recesso escolar que aconteceu devido a uma pandemia que afetou o país inteiro, onde vários órgãos públicos foram obrigados a interromper suas atividades (Gripe A), que, de certo modo, atrasou e comprometeu o ano letivo. Muitas atividades extra-classe eram solicitadas aos alunos para “vencer” os conteúdos propostos pelos professores. (d) Mas o principal, e mais importante fator que observei ao longo da implementação das atividades, que pode justificar a infreqüencia dos alunos, foi o pouco comprometimento destes para com as atividades, ou seja, eles apenas estavam participando do trabalho porque a Escola se comprometeu, e eles eram os personagens principais. Mas como eu não fazia parte do corpo docente da referida Escola, e as atividades por mim desenvolvidas não foram somadas às avaliações do professor titular da disciplina, ou seja, não foi atribuída uma nota aos alunos que somasse com as atividades realizadas pelo professor titular, os alunos não tiveram assiduidade nas aulas propostas. Pareceu-me que, para eles, era mais importante fazer um trabalho/tarefa para o professor das disciplinas escolares que valia nota, do que participar de uma atividade que não era atribuída nenhuma avaliação que viesse a somar nas notas finais. É importante esclarecer que, inicialmente, as atividades seriam desenvolvidas com uma única turma, no turno da manhã, e todas as atividades que seriam desenvolvidas com os alunos iriam somar às atividades do professor titular da disciplina para a nota final do trimestre. Por fim, com relação à atuação do professor frente à tarefa de educar, esta deva se estender pelas diversas áreas, além das responsabilidades pedagógicas, assumindo às vezes dimensões de escuta e cuidados, mesmo sem possuir a devida formação acadêmica para essas práticas. As variadas atribuições inerentes a profissão, exigem do professor mais que os saberes explícitos no currículo, exigem saberes da pessoa que antecede ao profissional, seus princípios e valores, suas qualidades humanas. Muitas vezes ficamos muito tempo preocupados com o ensinar; a nossa tarefa é outra. Nossa tarefa é proporcionar ao nosso aluno oportunidades planejadas que favoreçam 95 o desenvolvimento de capacidades, habilidades e atitudes que os transformem num cidadão. A tarefa do professor não é tão somente ensinar o que se sabe, o que aprendeu ou o que é importante, mas criar condições para que os alunos aprendam. O professor deve ajudar o aluno a descobrir, a reconstruir e a posicionar-se frente ao conhecimento. Durante o processo de aprendizagem, o aluno muitas vezes não constroi sozinho o conhecimento; essa construção é feita continuamente com outros e na interação com outros. As praticas pedagógicas em sala de aula devem exceder uma visão fragmentada e descontextualizada do ensino, tornando as aprendizagens significativas. É importante que o professor de ciências preocupe-se, além do conhecimento científico, do processo de construção de cidadania do aluno. Para tanto, é necessário a conscientização do professor de que seu papel é o de facilitador de aprendizagem, aberto a novas experiências procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. Segundo Freire (1996, p.96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas duvidas, suas incertezas”. 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Maria José P. 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