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MEDIAÇÃO ESCOLAR COMO MEIO DE PROMOÇÃO DA CULTURA DA PAZ
Lilia Maia de Morais SALES1
Emanuela Cardoso Onofre de ALENCAR2
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Vem crescendo em todo o mundo o estudo e o debate sobre os meios pacíficos e
amigáveis de resolução, entre os quais se destaca a mediação. O debate sobre a utilização e a
efetividade da mediação não se restringe apenas ao meio jurídico, pois é crescente a discussão
sobre os benefícios por ela proporcionados quando desenvolvida nas escolas.
O presente trabalho objetiva abordar pontos relevantes da mediação de conflitos
escolares como instrumento de construção da cultura da paz. Inicialmente, trata da cultura da
paz como uma das metas a serem desenvolvidas pela UNESCO, que destaca a mediação nas
instituições de ensino como instrumento de promoção da paz. Em seguida, discorrendo sobre
a mediação escolar, elenca seus objetivos e benefícios. Por fim, ressalta um breve histórico da
mediação nas escolas, como também apresenta algumas experiências no exterior e no Brasil.
UNESCO, CULTURA DE PAZ E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
A UNESCO tem como missão primordial a construção da paz, e isso está expresso no
artigo 1° de seu ato constitutivo, que diz “O propósito da Organização é contribuir para a paz
e a segurança, promovendo cooperação entre as nações por meio da educação, da ciência e da
cultura, visando a favorecer o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos
humanos e liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo”.
Em um mundo onde as pessoas pouco dialogam, repudiam os diferentes e
frequentemente iniciam conflitos armados para a defesa de seus interesses, a paz surge como
uma alternativa para tentar trazer um pouco de harmonia para as sociedades. Além da paz, a
UNESCO busca promover outros valores, como a tolerância, o respeito ao próximo, a
solidariedade, que podem proporcionar o desenvolvimento das democracias no mundo e o
respeito aos direitos humanos.
Com o objetivo de implementar uma cultura de paz, e em conformidade com a
prioridade da UNESCO – a paz -, a Assembléia Nacional das Nações Unidas declarou o
período 2001 – 2010 como a “Década internacional por uma cultura de paz e não violência
para as crianças do mundo”.
Essa iniciativa tem por fim divulgar a idéia da cultura da paz, motivando os órgãos
internacionais e todas as pessoas para o desenvolvimento de ações que busquem implementar
projetos que desenvolvam a consciência da paz.
A cultura da paz é definida pela UNESCO como um conjunto de valores,
comportamentos e estilos de vida que rejeitam a violência e previnem os conflitos, resolvendo
os problemas por meio do diálogo e da negociação entre os indivíduos, os grupos e as nações.
1
Doutora em Direito/UFPE, Professora Titular da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, Coordenadora do
Programa de Pós-graduação/ Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade de Fortaleza – UNIFOR,
Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará – UFC, Diretora-Presidente do Instituto Mediação Brasil.
2
Mestre em Direito/UNIFOR, Professora do Curso de Direito da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS.
Uma de suas propostas é o desenvolvimento da cultura da cultura da paz por meio da
educação3, revisando o currículo educacional para promover valores, atitudes e
comportamentos da cultura da paz, incluindo os meios de resolução pacífica de conflitos, o
diálogo, a construção do consenso e a não violência ativa.
A educação se apresenta como o principal meio de divulgação da cultura da paz e dos
valores pregados pela UNESCO – tolerância, respeito ao próximo, solidariedade – na medida
em que possibilita aos educandos o aprendizado desses conhecimentos e os estimula a praticálos em sua vivência.
Uma proposta que vem se desenvolvendo em vários países do mundo e está em
sintonia com as propostas da UNESCO para a cultura da paz é a mediação de conflitos
desenvolvida nas escolas. Além de ensinar como bem administrar os conflitos surgidos entre
os membros da instituição, a mediação estimula a paz e possibilita que o seu conhecimento
seja levado para além dos muros escolares, sendo praticado na comunidade em que vivem os
alunos, professores e funcionários.
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES – UMA NOVA PROPOSTA
A escola é um lugar onde diariamente convivem pessoas com diferentes
características, educações, religiões e personalidades. Entre tantas diferenças é natural que
surjam divergências das mais diversas espécies. É imprescindível, então, a boa administração
dos problemas que venham a surgir para que a harmonia e o respeito estejam presentes no
ambiente escolar e não interfiram no processo de ensino-aprendizagem.
Em face dessa diversidade de comportamentos e da multiplicidade de conflitos que
podem surgir, a mediação se apresenta como importante meio para tentar solucionar e bem
administrar quaisquer divergências que se desenvolvam na instituição de ensino.
A mediação de conflitos (SALES, 2004 e 2007) é um meio pacífico e amigável de
resolução e boa administração de conflitos que se baseia no diálogo e na solidariedade
humana. Por meio dela, as próprias partes chamam para si a responsabilidade do problema
vivido e tentam resolve-lo por meio do diálogo, tendo o auxílio do mediador, terceiro
imparcial e capacitado para tal fim que facilita o diálogo entre os envolvidos no litígio.
A mediação possibilita a transformação da cultura do conflito em cultura do diálogo
na medida em que estimula a resolução dos problemas pelas próprias partes. A valorização
das pessoas é um ponto importante, uma vez que são elas os atores principais e responsáveis
pela resolução da divergência.
A busca do ganha-ganha, outro aspecto relevante da mediação, ocorre porque se tenta
chegar a um acordo benéfico para todos os envolvidos. A mediação de conflitos propicia a
retomada do diálogo franco, a escuta e o entendimento do outro.
A visão positiva do conflito é considerada um ponto importante. O conflito,
normalmente, é compreendido como algo negativo, que coloca as partes umas contra as
outras. A mediação tenta mostrar que as divergências são naturais e necessárias, pois
possibilitam o crescimento e as mudanças. O que será negativo é a má-administração do
conflito.
3
Além da educação, a Declaração e Programa para uma Cultura de Paz das Nações Unidas relacionam ainda a
promoção de um desenvolvimento econômico e social sustentáveis; promoção do respeito aos direitos humanos;
desenvolver a igualdade entre homens e mulheres; fomentar a participação democrática; promover a
compreensão, a tolerância e a solidariedade; promover uma comunicação participativa e a livre circulação de
conhecimentos e informações; e promover a paz e a segurança internacionais. Fonte: UNESCO.
Galano (1999, p. 111) afirma que “quando o conflito é visto como um problema a ser
solucionado pelas partes e não criado pela outra parte permite-se potencializar os recursos, as
habilidades das pessoas para encontrar caminhos mais satisfatórios.”
A mediação possibilita também a discussão do conflito real, proporcionando o
restabelecimento do diálogo entre as partes. E esse conflito real pode, enfim, ser trabalhado e
dirimido.
Quando realizada nas instituições de ensino, a mediação é chamada mediação escolar.
A base da mediação escolar é a mesma – diálogo e solidariedade humana -, apenas foi
adaptada para ser desenvolvida dentro das escolas, de acordo com suas características. Aqui,
os mediadores são os próprios atores escolares que tentarão resolver e bem administrar os
conflitos que surgem dentro das instituições de ensino.
Maria do Céu Lamarão Battaglia (2004) argumenta que,
considerando a escola como instituição que objetiva a educação
cultural e social do homem, a mediação escolar se coloca como um
convite à aprendizagem e ao aperfeiçoamento da habilidade de cada
um na negociação e na resolução de conflitos, baseada no modelo
‘ganha-ganha’, onde todas as partes envolvidas na questão saem
vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas.
A mediação escolar se caracteriza por possibilitar, dentro da escola, a educação em
valores, a educação para a paz e uma nova visão acerca dos conflitos.
A violência, tão presente no meio escolar na atualidade, acaba destruindo os vínculos
existentes entre as pessoas, tornando-as cada vez mais individualistas e indiferentes à
existência do próximo. A mediação praticada nas escolas possibilita a todos os seus atores
uma educação em valores. Ela desenvolve entre as partes a tolerância, o respeito às
diferenças, a solidariedade, colaborando ainda para o surgimento da igualdade, da justiça, do
desenvolvimento humano e contribui para a construção de uma democracia mais participativa.
As pessoas não nascem sendo tolerantes, solidárias e respeitosas, elas necessitam ser
educadas para agirem assim. A mediação, por suas características de diálogo pacífico, escuta
ativa, respeito ao próximo e solidariedade, possibilita que as partes envolvidas no conflito, em
especial as crianças e os adolescentes que ainda estão em fase de formação, sejam educadas
nesses valores e cresçam praticando-os.
A mediação também possibilita a educação para a paz. A violência geralmente ocorre
quando não existem meios para canalizar a agressividade que resulta em conflito mal
administrado.
Sobre esse ponto, interessante a colocação de Marcelo Rezende Guimarães (2004, p.3)
quando diz que
a violência, tanto na educação como no conjunto da sociedade,
constitui-se como uma forma de expressão dos que não têm acesso à
palavra (...). Quando a palavra não é possível, a violência se afirma e a
condição humana é negada. Neste sentido, a reversão e a alternativa à
violência passam pelo resgate e devolução do direito à palavra, pela
oportunidade de expressão das necessidades e reivindicações dos
sujeitos, pela criação de espaços coletivos de discussão, pela sadia
busca do dissenso e da diferença, enfim, pela mudança das relações
educacionais, ainda estruturadas no mandar e obedecer, para uma
forma mais democrática e dialógica.
A mediação, por meio do diálogo e da escuta ativa, possibilita que as partes exponham
o problema e este seja trabalhado de uma forma positiva, possibilitando que os envolvidos
consigam encontrar a melhor solução para as divergências.
Uma técnica que auxilia a administração pacífica dos litígios é “comprender los
sentimientos de la otra parte, interpretar su cultura, entendiendo las diferencias y no
considerándolas como deficiencias para lograr ‘ponerse em el zapato del outro’” (EICaMe,
2004).
Mirta Gómez Olivera (2004) completa, dispondo que “mediar es pacificar, extender la
cultura de la mediación en cualquier campo es haber optado por un futuro más humano, más
civilizado, de soluciones más duradoras en los métodos de resolver conflictos inherentes a
toda vida en sociedad.”
O conflito também pode ser compreendido de outra maneira por meio da mediação. As
pessoas geralmente entendem o conflito como algo negativo, ruim, prejudicial à sociedade.
Contudo, em um ambiente onde convivem tantas diferenças, é natural a existência de
divergências e, inclusive, de ser considerado positivo, na medida em que, a partir dos litígios
as pessoas podem crescer e se desenvolver.
Maria do Céu Lamarão Battaglia (2004) salienta que
redefinir a noção de conflito implica no reconhecimento do mesmo
como uma parte da vida que pode ser utilizada como oportunidade de
aprendizagem e crescimento pessoal. Considerando-se que o conflito é
inevitável, a aprendizagem da habilidade em resolvê-los torna-se tão
educativa e essencial quanto a aprendizagem da matemática, história,
geografia etc., sendo que, na maioria das ocasiões as próprias crianças
podem resolver seus conflitos de maneira tão adequada quanto com o
auxílio dos adultos.
A visão positiva do conflito permite que este seja visto com naturalidade, o que facilita
a sua administração. Eles não devem ser vistos como obstáculos; ao contrário, devem ser
encarados como normais, não sendo necessariamente nem bons ou ruins, positivos ou
negativos. É a resposta que se dá aos conflitos que os torna positivos ou negativos,
construtivos ou destrutivos. A questão é como resolvê-los, se por meios violentos ou não
violentos.
Importante destacar que a mediação é eficiente não apenas para trabalhar na solução
de conflito, mas na prevenção de futuras divergências. Muitas vezes, em um litígio entre
partes, é exposto apenas o conflito aparente, superficial. Este, quando resolvido, sana apenas
uma pequena parte do problema, eis que o maior ainda existe e possibilitará o surgimento de
outras confusões futuras. Na reunião de mediação se tenta fazer emergir o conflito real para
ser trabalhado e resolvido, possibilitando assim a prevenção de conflitos futuros que tenham
ligação com aquele motivo.
Ada Corti (2004) afirma que não apenas a solução, mas também a prevenção de
conflitos é possível na medida em que se entende a medição como
un proceso de comunicación y podamos implementarla no como una
técnica sino como un método pedagógico, válido para todos los atores
sociales: padres, alumnos, docentes, directivos, administrativos etc.
Basado en la escucha, la aceptación, la comprensión y el respeto por
los miembros de un sistema donde la diversidad, el outro, tiene cavida
y aceptación.
Este enfoque da mediação privilegia a formação participativa dos estudantes, o
compromisso social e a cidadania, em prol de uma educação que objetive formar jovens
comprometidos com sua realidade familiar, social, política, econômica e social.
A mediação escolar apresenta como vantagens melhorar a comunicação, o clima da
escola, a formação integral do aluno e a preservação das relações. Seu campo de atuação é
bastante abrangente. Ela tanto pode ocorrer entre alunos, entre professores, entre diretores e
professores, entre integrantes da escola e pais de alunos.
A mediação escolar, quando realizada com os jovens, tem como objetivo desenvolver
uma comunidade na qual os alunos desejem e sejam capazes de praticar uma comunicação
aberta; ajuda os alunos a desenvolverem uma melhor compreensão da natureza dos
sentimentos, capacidades e possibilidades humanas; contribui para que os alunos
compartilhem seus sentimentos e sejam conscientes de sua qualidades e dificuldades;
possibilita aos alunos desenvolver autoconfiança em suas próprias habilidades; e desenvolver
no aluno a capacidade de pensar criativamente sobre os problemas e a começar a prevenir e
solucionar os conflitos (BATTAGLIA, 2004; SCHABBEL, 2002).
O SURGIMENTO DA MEDIAÇÃO ESCOLAR
Ramón Heredia (1999, p. 35) relata que a história da mediação de conflitos escolares é
relativamente curta, tendo surgido há cerca de trinta anos. Ao contrário do que possa parecer,
seu surgimento não se deu por meio da atividade de pedagogos, mas dos estudiosos da
resolução de conflitos; de grupos comprometidos com a não violência, como a igreja Quaker;
os oponentes da guerra nuclear; membros do Educators for Social Responsability (ESR) e
advogados.
O autor destaca que no início dos anos 70, nos Estados Unidos, foram implementados
os primeiros centros de justiça de vizinhos. Conhecidos como Programa de Mediação
Comunitária, o objetivo desses centros era oferecer um espaço onde os cidadãos pudessem se
reunir e resolver seus conflitos. Esses centros obtiveram um grande êxito e posteriormente se
estenderam por todos os Estados Unidos (HEREDIA, 1999).
Na década de 80, o sucesso das atividades do programa de mediação comunitária foi
levado para a escola, com o objetivo de ensinar os estudantes a mediarem os conflitos com os
seus colegas. Inicialmente foram desenvolvidos programas de mediação para os alunos e,
mais tarde, elaborados currículos de Resolução de Conflitos para as instituições de ensino.
Foram quatro os objetivos (HEREDIA, 1999) que motivaram a implementação da
mediação nas escolas:
1. O conflito é parte inevitável da vida e pode ser usado como um momento de
aprendizado e crescimento pessoal pelos estudantes;
2. Como o conflito é inevitável, o aprendizado das habilidades de resolvê-lo é tão
educativo e essencial para o desenvolvimento dos estudantes como o aprendizado da
geografia ou da história;
3. Na maioria das ocasiões, os estudantes podem resolver seus problemas com a ajuda de
outros estudantes de uma maneira tão adequada como com a ajuda dos adultos;
4. Incentivar os estudantes a resolver suas disputas de forma colaborativa é um método
mais de prevenir futuros conflitos (e desenvolver a responsabilidade estudantil), do
que aplicar castigos pelas ações passadas.
Vários projetos foram sendo desenvolvidos nos Estados Unidos e, seus resultados,
motivaram a criação de novas iniciativas4.
A experiência americana foi a inicial, e seus resultados motivaram diversos países a
desenvolverem projetos de mediação de conflitos nas escolas. Na atualidade, tanto governos
como instituições financiam e implementam em escolas públicas e privadas, projetos que
objetivam ensinar crianças e jovens a buscar alternativas pacíficas e colaborativas para a
resolução dos problemas que vivenciam, tanto no ambiente escolar como também no seu meio
social e familiar.
A Argentina se destaca como um país que há anos vem desenvolvendo projetos de
mediação de conflitos escolares. O Ministerio de Educación, Ciência y Tecnologia de la
Nación lançou o Programa Nacional de Mediación Escolar, que objetiva implementar os
meios de resolução pacífica de disputas nas escolas para prevenir a crescente conflitividade
entre os alunos e possibilitar a boa administração desses conflitos. Na fundamentação do
programa (2004), foi destacado que:
La construción de la democracia como “conjunto de valores que conforman
un estilo de vida, un modo de resolver los conflictos que se plantean en la
convivencia entre seres humanos, y de cooperar en pos del bien común”
4
Heredia destaca os seguintes programas:
Children’s Creative Response to Conflict Program - Os Quakers foram os primeiros a introduzir os programas
de resolução de conflitos nas escolas dos Estados Unidos, desenvolvendo, a partir de 1972, na cidade de Nova
Iorque, projetos que ofereciam treinamento de não violência para as crianças. As atividades dos Quakers se
concretizaram no programa Children’s Creative Response to Conflict (CCRC), cujos objetivos, reformulados
posteriormente, são: desenvolver uma comunidade em que as crianças desejem e sejam capazes de uma
comunicação aberta; ajudar as crianças a desenvolver uma melhor compreensão da natureza dos sentimentos,
capacidades e fortaleza humana; ajudar as crianças a compartilhar seus sentimentos e a ser conscientes de suas
próprias qualidades; ajudar cada criança a desenvolver autoconfiança em suas próprias habilidades; e, pensar
criativamente sobre os problemas e começar a prevenir e solucionar os conflitos.
Conflict Resolution Resources for School and Youth - Trata-se de um dos mais famosos programas de resolução
de conflitos dos Estados Unidos e é resultado da colaboração entre os centros de mediação comunitária e os
sistemas escolares. Foi fundado em 1982 pelo Community Board Program de São Francisco e é o programa que
inspirou a maior parte dos projetos de implementação de resolução de conflitos escolares, tanto nos Estados
Unidos como em outros países.
Teaching Students to Be Peacemakers Program - Iniciado em 1972 por David Johnson e outros pesquisadores,
na Universidade de Minnesota, é um dos primeiros a desenvolver programas de resolução de conflitos entre
estudantes. Um dos objetivos desse programa é criar uma relação positiva entre os estudantes, utilizando o
contexto cooperativo e a controvérsia acadêmica para ensinar aos estudantes a negociar e mediar conflitos
surgidos entre eles.
Educators for Social Responsability (ESR) - Esse programa teve início em 1981, fruto da iniciativa de pais e
professores que objetivavam prevenir guerras por meio da educação. Suas atividades objetivam treinar
professores nas técnicas da resolução de conflitos.
Conflict Resolution Education Network - Em 1984, a National Association on Mediation in Education (NAME)
foi fundada por um grupo de ativistas e mediadores comunitários que decidiram juntar suas experiências nos
programas de resolução de conflitos escolares. Em 1995, fundiu-se com o National Institute for Dispute
Resolution (NIDR) e se transformaram no Conflict Resolution Education Network (CREnet),
Podem ser citados ainda os programas desenvolvidos pela Universidade do Hawaii, desde 1981; o Mediation in
the School Program, executado pelo New México Center for Dispute Resolution, no Estado do Novo México; e o
Mediation Project, desenvolvido pela National Association for Mediation in Education, da Universidade de
Amherst, Massachusetts.
(Fuente: Contenidos Básicos para la Educación Polimodal. Ministério de
Educación. Consejo Federal de Cultura y Educación. Republica Argentina.
1997) es, para la escuela, tanto un objetivo como un médio para profundizar
la educación en el respeto a la diversidad, la tolerancia, la solidaridad, la
búsqueda de la justicia y la construcción de sociedades no violentas.
O Programa (2004) objetivou, entre outros pontos, recuperar e articular as
experiências orientadas à prevenção da violência e o melhoramento da convivência escolar,
com novas ações de difusão, formação e assessoramento para a implementação de projetos
específicos; difundir os métodos e técnicas de negociação colaborativa e mediação entre
professores e diretores; e promover a implementação de projetos institucionais de mediação
entre pares para o tratamento dos conflitos que emergem da comunidade escolar, focalizado
nos alunos.
Escolas públicas e privadas de diversas províncias já iniciaram o desenvolvimento de
projetos de mediação de conflitos, bem como instituições não governamentais desenvolvem
pesquisas, projetos e programas de capacitação em mediação escolar.
Entre as províncias, destaca-se a del Chaco, que promulgou a lei 4711 – Plan
Provincial de Mediación Escolar, que estabelece os fins, objetivos e etapas do plano
provincial, bem como aborda a equipe técnica e docente.
Florência Brandoni (1999) destaca que na Argentina, a mediação escolar está se
desenvolvendo em duas áreas, a capacitação de docentes e as experiências nas escolas. A
primeira se refere à realização de cursos para professores e corpo diretivo das escolas e
jornadas de capacitação institucional nos estabelecimentos escolares. A segunda, por sua vez,
são os próprios resultados dos projetos de mediação que são realizados nas escolas.
Na Espanha, um dos principais centros a trabalhar a mediação escolar foi o Centro de
Investigación para la Paz Gernika Gogoratuz (ARAKISTAIN, 2004), mas na atualidade, ela é
desenvolvida por várias instituições em diversas escolas espanholas.
Nesse país, destacam-se os trabalhos da mediação social intercultural (CRESPO,
2004) nas instituições de ensino. Como há um número elevado de imigrantes de diversas
origens e diferentes culturas na Espanha, muitas vezes ocorrem conflitos entre os estudantes
por causa das diferenças. A mediação social intercultural objetiva bem administrar os
problemas existentes entre pessoas de diferentes culturas, bem como melhorar a relação entre
elas, promovendo o reconhecimento do outro, a melhora da comunicação, a compreensão
mútua e o desenvolvimento da convivência entre os diferentes, o que promove o aprendizado
da tolerância.
Países como Portugal, França, Austrália, Irlanda do Norte, Inglaterra, entre outros
(BRANDONI, 1999; BENEDITA, 2004; SIX, 2001), também desenvolvem projetos que
utilizam a mediação nas escolas como meio de bem administrar os conflitos que surgirem e
promoverem a cultura da paz.
Essas experiências demonstram que a mediação escolar se revela um tema instigante,
cujos estudos teóricos e práticos merecem ser ampliados, inclusive porque no Brasil o seu
conhecimento e aplicação ainda são tímidos, como forma de divulgar novos conhecimentos e
experiências que possam auxiliar no combate às violências e trabalhar positivamente os
conflitos existentes nas escolas públicas e privadas do Brasil.
A MEDIAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL
No Brasil, ainda são poucas as experiências em mediação escolar. Contudo, seu estudo
já vem se desenvolvendo e é apontada como um meio hábil a prevenir violências nas escolas.5
Uma das iniciativas brasileiras no campo da mediação escolar que pode ser destacada
é o projeto Escola de Mediadores. Trata-se de projeto desenvolvido em 2000, numa parceria
entre o Instituto NOOS, Viva Rio – Balcão de Direitos, Mediare e Secretaria Municipal de
Educação, em duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro. A iniciativa teve o apoio
do Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, responsável
pelo Programa “Escolas de Paz”.
O projeto foi aplicado em duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro, uma
na Zona Sul e outra na Zona Norte da cidade, onde alunos da 6a. e 7a. séries foram capacitados
mediadores para atuarem na resolução de conflitos entre colegas.
O projeto apresentou como objetivo geral: implementar a cultura da paz, do diálogo e
de bem-estar entre alunos, professores e funcionários da escola, oferecendo, por meio dos
recursos da mediação de conflitos, novos paradigmas de convivência aplicáveis em todas as
situações de suas vidas, na escola, em casa e no contexto social no qual estão inseridos,
participando ativamente na solução dos conflitos, contribuindo para uma sociedade
participativa, sem exclusão em qualquer nível, mais justa e pacífica. Dessa forma, as
atividades tinham por fim incentivar a criação de uma nova mentalidade de colaboração e de
não violência nas resoluções de conflitos, por meio da mediação, colaborando para uma
formação mais cidadã dos alunos da escola.
Como objetivos específicos, podem ser relacionados:
*sensibilizar a direção, staff gerencial (diretores, coordenadores, entre outros), corpo docente
e funcionários, pais e alunos para acolher, aderir, apoiar e participar do Projeto, havendo uma
real compreensão da necessidade de adoção de um novo paradigma para a negociação de
diferenças no cotidiano e para a resolução de conflitos na escola e em suas vidas;
*elaborar um programa adotado pela escola de acordo com os segmentos que se pretende
contemplar e capacitação adequada (mediação de conflitos e facilitação do diálogo), buscando
identificação do estilo/recursos qualitativos da escola na administração de conflitos, visão do
que a escola gostaria versus o que é possível financeira e estruturalmente, levantamento de
expectativas, instrumentalização da sistemática de avaliação final, divulgação/envolvimento
dos entrevistados obtendo a co-autoria no trabalho, identificação daqueles integrantes da
coordenação e corpo docente que integrarão o painel de Multiplicadores em facilitação de
diálogo;
*durante a capacitação promover aplicação de habilidades para atuar como terceiro imparcial,
possibilitando a ampliação de habilidades gerais e específicas para atuar como mediador e
especialmente a prática da mediação escolar;
*elaboração de workshops em facilitação de diálogo para a aplicação de habilidades para
atuar nos diálogos cotidianos, buscando, assim, ampliar e aprimorar as habilidades (em
comunicação humana, em negociação e em visão sistêmica) dos demais integrantes do
contexto escolar de forma a conhecerem e utilizarem os recursos de facilitação de diálogos e
manejo de conflitos nos contextos intra e extra-escola dos quais participam;
*capacitação, acompanhamento e supervisão dos multiplicadores, habilitando continuamente
docentes e coordenadores a se tornarem multiplicadores dos workshops em facilitação de
5
Miriam Abramovay, coordenadora da pesquisa “Violência nas Escolas”, destacou em entrevista que está
propondo a mediação escolar como meio para combater a violência escolar. Ver: A realidade da escola
brasileira.
diálogos com intuito de oferecer a compreensão teórica da proposta e utilização adequada das
dinâmicas em facilitação de diálogos, a ampliação de habilidades gerais e específicas para
atuação na função de multiplicadores, a atuação como multiplicadores, sob supervisão, em
workshops subseqüentes, autonomia na coordenação de workshops em facilitação de diálogo
no contexto escolar;
*acompanhamento da operacionalização da mediação por quatro meses subseqüentes ao
término da capacitação com o fim de garantir a utilização adequada dos recursos de mediação
escolar;
*acompanhamento da eficácia do projeto durante sua execução e avaliação final – Fórum
reflexivo com os parceiros com o intuito de aferir o alcance das metas/objetivos qualitativos e
quantitativos; implementar correções e ajustes para sanar eventuais distorções ao longo do
projeto; produzir um relatório final que compile os relatórios parciais; identificar e
compartilhar as repercussões do projeto para todos os parceiros.
De acordo com o Mediare, a metodologia aplicada, conforme objetivos apresentados,
inicia-se com a sensibilização, pois o tema é pouco conhecido e sua essência (valorização do
ser humanos, diálogo, visão positiva do conflito etc.) é pouco comum na atualidade e precisa
ser resgatada. A primeira etapa (sensibilização) visa, progressivamente, ao acolhimento do
projeto pela direção da escola, a adesão por parte do corpo docente e dos funcionários, o
apoio dos pais e a participação dos alunos, concitando a todos, simultaneamente, a serem coautores dos objetivos do projeto.
A segunda fase é o diagnóstico, realizado por entrevistas com os vários segmentos da
escola com intuito de mapear seus interesses e identificar os pontos convergentes de suas
expectativas e recursos disponíveis para o Projeto.
Em uma fase posterior ao diagnóstico, inicia-se a capacitação dos mediadores
escolares e a de multiplicadores em facilitação de diálogos (coordenadores e corpo docente),
assim como os workshops em facilitação de diálogos. Em seguida, acontece o
acompanhamento das atividades do projeto (prática da mediação) e o acompanhamento para
identificar sua eficácia.
Tendo em vista que a metodologia utilizada pelo projeto se fundamenta na construção
do conhecimento e da co-autoria, a instituição escolar pode escolher o programa de
capacitação de mediadores escolares e/ou o de facilitadores de diálogos e indicar para esses
programas seus diferentes segmentos – direção, coordenação, professores, funcionários,
alunos e pais.
Dessa experiência, foi elaborada a Cartilha Escola de Mediadores, que fornece
informações sobre mediação de conflitos e o papel do mediador, bem como orienta a
implementação da mediação escolar nas instituições de ensino e a criação da equipe
responsável pelo desenvolvimento do projeto.
O acompanhamento do trabalho realizado mostrou que os alunos incorporaram
atitudes para o diálogo, levando-o para as próprias casas e para a comunidade.
A mediação escolar estimula a participação ativa na solução dos conflitos, por meio do
diálogo cooperativo. Essa premissa permite uma mudança na forma da administração escolar
e no tratamento diário dos conflitos vivenciados nas escolas entre sues vários segmentos.
Nas palavras de Miriam Abramovay (2006), questionada sobre se é possível reverter o
quadro de violência nas escolas:
Sim, vi escolas violentíssimas serem mudadas num curto espaço de
tempo. Tem uma em São Paulo, por exemplo, que era classificada
como uma das mais violentas segundo a pesquisa. Depois de um ano,
quando voltamos lá, era um outro lugar. Havia entrado um novo
diretor, que em poucos meses pintou os muros, criou um horário para
que os professores ensinassem atividades extraclasse, construiu uma
quadra de esportes, abriu a escola nos finais de semana e deu aos
alunos poder para que eles pudessem também participar das regras da
escola. Acho que este é o grande segredo: dar voz à juventude.
A mediação escolar, apresentando práticas que permitem o bem-estar por meio do
diálogo, representa, portanto, um excelente mecanismo para promover a inclusão e a
pacificação, sempre por meio da comunicação participativa, dando voz e vez aos excluídos.
REFERENCIAS
a) LIVROS E ARTIGOS
ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças (2004) Violência nas escolas. 4 ed.
Brasilia: UNESCO, Inst. Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, Fundação FORD,
CONSED, UNDIME.
ARAKISTAIN, Mirela Uranga (2004). Experiencias de mediación escolar en Gernika.
Disponível na internet: http://www.edualter.org/material /euskadi/mediacion.htm Acesso em:
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BATTAGLIA, Maria do Céu Lamarão (2004). Mediação escolar: uma metodologia do
aprendizado
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Disponível
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