UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E TECNOLÓGICAS Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE QUINOA SOB IRRIGAÇÃO E ADUBAÇÃO POTÁSSICA VANESSA MENDES RÊGO RONDONÓPOLIS-MT 2015 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E TECNOLÓGICAS Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE QUINOA SOB IRRIGAÇÃO E ADUBAÇÃO POTÁSSICA VANESSA MENDES RÊGO Bióloga Orientador: Prof. Dr. Marcio Koetz Dissertação apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Engenharia Agrícola, na linha de pesquisa de Engenharia de Sistemas Agrícolas. RONDONÓPOLIS-MT 2015 2 3 4 DEDICO Aos meus pais e ao meu irmão, minha família amada, Jonas Justiniano Rêgo, Marizete Mendes dos Santos Rêgo e Joemar Mendes Rêgo, por serem os pilares da minha vida e por sempre me apoiarem. É extraordinário os esforços que vocês fazem. Nosso companheirismo é único, amo vocês. “Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (Eclesiastes 4:10). OFEREÇO À meu pai, Jonas Justiniano Rêgo (Joninha), por ser meu grande herói, um exemplo de homem batalhador, que merece meu eterno respeito, carinho e admiração. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar forças, sabedoria e paciência para continuar lutando sempre. À Universidade Federal de Mato Grosso e especialmente ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, pela maravilhosa oportunidade e apoio oferecido. À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela concessão da bolsa de estudo. Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcio Koetz, pela paciência, orientação e oportunidade em desenvolver nosso projeto, apesar de todos os percalços não mediu esforços para o sucesso do experimento. À minha queria corientadora, Profa. Dra. Edna Maria Bonfim-Silva, pelos conselhos, ensinamentos, demasiada paciência e disponibilidade prestada. Ao meu grande amigo Douglas Buoncristiano, que devido a sua restrição alimentar por motivos de saúde, me incentivou no estudo desta cultura, além do apoio e contribuição financeira à pesquisa. Às minhas amadas amigas Nayra Aguero e Luana Glaup, que me mostraram como é bom ter com quem contar, dividir conquistas e sonhos. Aos discentes de Engenharia Agrícola Rafaela Barcelos, Pedro Lopes e Taynara Capelari, pela grande ajuda na coleta dos dados, agradeço profundamente a força. Aos meus colegas de mestrado, pelo companheirismo, momentos de descontração, ajuda e sugestões durante todo o curso. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho. Agradeço! 6 DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE QUINOA SOB IRRIGAÇÃO E ADUBAÇÃO POTÁSSICA Resumo – A quinoa (Chenopodium quinoa Willd.) possui elevadas qualidades nutricionais, mas condições de baixa fertilidade do solo podem limitar severamente sua produção, além de seu desempenho ser prejudicado com o déficit hídrico. Assim, objetivo-se avaliar o efeito de níveis de irrigação e adubação potássica no desenvolvimento e produção da quinoa no Latossolo Vermelho Distrófico do Cerrado. O experimento foi realizado em ambiente protegido, localizado na UFMT, Campus de Rondonópolis-Brasil, sendo utilizado o solo coletado de um Latossolo Vermelho Distrófico de Cerrado. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 5x5, com quatro repetições, correspondente a cinco doses de potássio (0, 100, 200, 400 e 600 mg dm -3) e cinco níveis de irrigação (50, 75, 100, 125 e 150% da capacidade de campo). As avaliações tiveram inicio a partir de 15 dias após a semeadura (DAS), analisando-se a área foliar, diâmetro do caule, índice de clorofila, número de folhas e altura de planta e finalizaram-se aos 129 DAS com dados coletados de massa seca da parte aérea e raízes, produção e número de grãos, massa de 100 grãos e eficiência no uso da água. Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de regressão, por meio do programa estatístico SISVAR. Houve interação significativa entre potássio e níveis de irrigação apenas para a variável área foliar. O índice de clorofila, diâmetro de caule e número de dias para a floração apresentaram resposta isolada positiva à adubação potássica e aos níveis de irrigação. A massa seca da parte aérea e das raízes são influenciadas pela adubação potássica nas doses entre 530 e 600 mg dm-3. Os níveis de irrigação e a adubação potássica entre 99% a 104% e 350 a 373 mg dm-3, respectivamente, proporcionam a máxima produção de massa e número de grãos. O aumento nos níveis de irrigação reduz a eficiência no uso da água e a adubação potássica na dose de 375 mg dm-3 proporciona a máxima eficiência desta variável. A adubação potássica e os níveis de irrigação influenciam de forma isolada para todas as variáveis analisadas, exceto para o número de folhas e a área foliar que apresentou interação entre os mesmos. Palavras-chave: BRS Piabiru, Cerrado, Eficiência no Uso da Água, Pseudocereal, Latossolo 7 DEVELOPMENT AND PRODUCTION OF QUINOA UNDER IRRIGATION AND POTASSIUM FERTILIZATION ABSTRACT – Quinoa has high nutritional qualities, but conditions of low soil fertility can severely limit production, beyond his performance is hampered by the lack of water. Thus, the objective was to study the effect of irrigation levels and potassium fertilization in the development and production of quinoa in Oxisol. The experiment was conducted in greenhouse, located in UFMT, Campus Rondonopolis-Brazil, by using the soil collected from a Oxisoil Cerrado. The experimental design was a randomized block in a 5x5 factorial, with four replications, corresponding to five potassium rates (0, 100, 200, 400 and 600 mg dm-3) and five levels of irrigation (50, 75, 100, 125 and 150% field capacity), The evaluation were beginning from 15 days after seeding (DAS) plants, analyzing leaf area, stem diameter, chlorophyll index, leaf number and plant height and finished the 129 DAS collected dry mass of data shoot and root production and number of grains, mass of 100 grains and water use efficiency. The results had been submitted to the statistics analysis for the SISVAR program, determined it variance analysis and regression testing. There was a significant interaction between potassium and irrigation levels, only for the variable leaf area. The chlorophyll index, stem diameter and number of days for flowering were positively isolated response to potassium fertilization and irrigation levels. The dry matter of shoots and roots were influenced by potassium fertilizer in rates between 530 and 600 mg dm-3. The irrigation levels and potassium fertilization between 99% to 104% and 350 to 373 mg dm-3, respectively provide the maximum mass of grain yield and number of grains. The increase in irrigation levels reduces water use efficiency, already the potassium fertilization of 375 mg dm-3 provides maximum efficiency of this variable. Potassium fertilization and irrigation levels influence of isolation for all variables except for the leaf area showed that interaction between them. Keywords: BRS Piabiru, Cerrado, Efficient Use of Water, Pseudocereal, Latossolo 8 LISTA DE FIGURAS Páginas FIGURA 1. Localização da casa de vegetação no campus de Rondonópolis (A) e Casa de vegetação onde foi realizado o experimento (B). ........................................ 25 FIGURA 2. Coleta de solo em área de Cerrado e peneiramento do solo com auxílio de haste de madeira.................................................................................................. 25 FIGURA 3. Croqui representando a área total do experimento, indicando a localização dos blocos e o espaçamento entre os blocos e vasos............................ 26 FIGURA 4. Espaçamento entre as linhas no primeiro bloco (A) e visualização geral do último bloco, observando espaçamento entre as linhas e vasos (B). ................... 26 FIGURA 5. Adubação fosfatada e potássica de semeadura (A) e Diluição da uréia em água para aplicação em cobertura (B). ............................................................... 27 FIGURA 6. Semeadura de quinoa BRS Piabiru, em cada parcela (A) e Germinação das plântulas (B). ...................................................................................................... 27 FIGURA 7. Curva característica de retenção de água no solo, gerada pelo programa Soil Water Retention Curve (versão 3.0). .................................................................. 28 FIGURA 8. Verificação da tensão de água no solo, utilizando o tensímetro digital... 29 FIGURA 9. Localização do reservatório, fora da casa de vegetação (A) e Filtro de disco (B). ................................................................................................................... 30 FIGURA 10. Gotejador em funcionamento (A) e disposição do gotejador suspenso da superfície do solo (B). .......................................................................................... 30 FIGURA 11. Temperatura de casa de vegetação no período experimental de 03/04 a 10/08/2015. ............................................................................................................... 32 FIGURA 12. Umidade relativa na casa de vegetação do ar no período experimental de 03/04 a 10/08/2015. ............................................................................................. 32 FIGURA 13. Medição do diâmetro do caule (A) e leitura do teor de clorofila, utilizando o clorofilômetro Minolta SPAD-502 (B)...................................................... 34 FIGURA 14. Índice de clorofila aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). IC – Índice de Clorofila; K – Potássio. * Significativo a 5% e *** Significativo a 0,1% (A) Leitura do Índice de Clorofila, utilizando o clorofilômetro Minolta SPAD-502 (B). ..................................... 36 9 FIGURA 15. Índice de clorofila aos 91 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). IC – Índice de clorofila; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. ........................................ 37 FIGURA 16. Altura da planta aos 63 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AP – Altura da Planta; K - Potássio. **Significativo a 1% (A) Visão geral da altura das plantas de Chenopodium quinoa. ............................................................................................... 39 FIGURA 17. Número de folhas (nº planta-1) aos 49 dias após a semeadura, com desdobramento das doses de K2O dentro dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NF – Número de Folhas; K - Potássio. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% e ***Significativo a 0,1% (A) Contagem de folhas realizada aos 21 dias após a semeadura (B).................................................. 40 FIGURA 18. Número de folhas aos 49 dias após a semeadura, com desdobramento dos níveis de irrigação dentro da dose de 600 mg dm-3 K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NF – Número de Folhas; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. .............................................................................................. 41 FIGURA 19. Diâmetro de caule aos 91 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). DC – Diâmetro do Caule; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1% (A) Medição do diâmetro do caule utilizando paquímetro digital (B)................................................... 42 FIGURA 20. Diâmetro de caule aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). DC – Diâmetro do Caule; K – Potássio. * Significativo a 5% e ***Significativo a 0,1%. ..................... 43 FIGURA 21. Área foliar (cm² planta-1) aos 91 dias após a semeadura, efeito dos níveis de irrigação nas doses de 0 (A), 100 (B) e 400 (C) mg dm-3 de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AF – Área Foliar; NI – Níveis de Irrigação. **Significativo a 1%, ***Significativo a 0,1%. ............................................. 45 FIGURA 22. Área foliar aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O sob os níveis de irrigação de 75% (A), 100% (B) e 150% (C) em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AF – Área Foliar; K– Potássio. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% e ***Significativo a 0,1% ............................................................ 46 FIGURA 23. Número de dias para a floração em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NDF – Número de Dias Para a 10 Floração; NI – Níveis de Irrigação. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% (A) Panícula de quinoa em florescimento aos 40 dias após a semeadura (B). ............... 48 FIGURA 24. Número de dias para a floração, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NDF – Número de Dias Para a Floração; K – Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Quinoa no período inicial do florescimento (B). ...................................................................................................... 49 FIGURA 25. Massa seca da parte aérea aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MSP – Massa Seca da Planta; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% e *Significativo a 5% (A) Quinoa no final do ciclo vida, um dia antes da colheita (B). ...................................... 50 FIGURA 26. Massa seca de raízes aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MSR – Massa Seca de Raízes; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Separação da massa seca de raízes e o solo, após a colheita do experimento (B)............................................. 51 FIGURA 27. Massa de 100 grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MCG – Massa de 100 Grãos; K - Potássio. *Significativo a 5%. ............................................................ 52 FIGURA 28. Produção de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MG – Massa de Grãos; K - Potássio. ***Significativo a 0,1%. ............................................................. 53 FIGURA 29. Massa de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MG – Massa de Grãos; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. ........................................... 53 FIGURA 30. Número de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NG – Número de Grãos; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Panícula de quinoa com grãos expostos prontos para colheita (B). ........................................................................... 54 FIGURA 31. Número de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NG – Número de Grãos; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. ........................ 55 FIGURA 32. Eficiência do uso da água, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). EUA – Eficiência no Uso da Água; K - Potássio. *** Significativo a 0,1%......................................................................... 56 11 FIGURA 33. Eficiência do uso da água, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). EUA – Eficiência no Uso da Água; NI – Níveis de Irrigação. *** Significativo a 0,1%....................................................... 57 12 LISTA DE TABELAS Páginas TABELA 1. Resultado das análises químicas e granulométricas do solo na camada de 0-0,20 m, antes da instalação do experimento em Latossolo Vermelho distrófico, Rondonópolis/MT ...................................................................................................... 25 TABELA 2. Aplicações de defensivos realizadas durante a condução do experimento para o controle de pragas e doenças. .................................................. 33 TABELA 3. Níveis de reposição e volume de água. ................................................. 56 13 SUMÁRIO Páginas 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 17 3 2.1 Quinoa.......................................................................................................... 17 2.2 Irrigação ....................................................................................................... 20 2.3 Adubação Potássica..................................................................................... 22 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 24 3.1 Local do experimento ................................................................................... 24 3.2 Tratamento, delineamento experimental e adubação .................................. 26 3.3 Sistema de irrigação..................................................................................... 29 3.4 Condução do experimento ........................................................................... 31 3.5 Variáveis analisadas .................................................................................... 33 3.5.1 Emergência............................................................................................ 33 3.5.2 Número de dias para a floração............................................................. 33 3.5.3 Área foliar. ............................................................................................. 34 3.5.4 Diâmetro do caule.................................................................................. 34 3.5.5 Índice de clorofila ................................................................................... 34 3.5.6 Número de folhas .................................................................................. 34 3.5.7 Altura da planta...................................................................................... 34 3.5.8 Massa seca de parte aérea. .................................................................. 34 3.5.9 Massa seca de raízes. ........................................................................... 35 3.5.10 Comprimento da panícula ...................................................................... 35 3.5.11 Produção e número de grãos. ............................................................... 35 3.5.12 Massa de 100 grãos. ............................................................................. 35 3.5.13 Eficiência do uso da água ...................................................................... 35 3.6 Análise dos dados ........................................................................................ 35 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 36 4.1 Índice de Clorofila ............................................................................................ 36 4.2 Altura da Planta................................................................................................ 38 4.3 Número de Folhas............................................................................................ 39 4.4 Diâmetro do Caule ........................................................................................... 41 4.5 Área Foliar ....................................................................................................... 44 14 4.6 Número de dias para a floração ....................................................................... 47 4.7 Massa Seca de Parte Aérea ............................................................................ 50 4.8 Massa Seca de Raízes .................................................................................... 51 4.9 Massa de 100 Grãos ........................................................................................ 51 4.10 Produção de Grãos ........................................................................................ 52 4.11 Número de Grãos........................................................................................... 54 4.12 Eficiência do Uso da Água ............................................................................. 55 5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 58 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 59 15 1. INTRODUÇÃO O Cerrado ocupa aproximadamente um quarto do território brasileiro, e compreende o segundo maior bioma brasileiro depois da Amazônia, rico em recursos naturais renováveis. Considerado uns dos biomas mais propícios para a agricultura, devido apresentar solos profundos, bem drenados e com inclinações normalmente menores que 3%, que privilegia a expansão agrícola especializada em grãos, pela facilidade que oferecem à mecanização (MAROUELLI, 2003). No entanto, os solos da região dos Cerrados apresentam baixa fertidade natural e um grande intervalo de seca. Assim necessitando de correção da fertidade, bem como de suplementação hídrica para as culturas. Condições de baixa fertilidade do solo podem limitar severamente a produção de quinoa, mesmo com manejo da irrigação, razões pelas quais a disponibilidade do potássio no solo deve ser corrigida (KLUTHCOUSKI e AIDAR, 2003). A quinoa é um vegetal cultivado nos Andes há pelos menos cinco mil anos, sendo conhecida na região como “trigo dos incas”. É uma planta de elevadas qualidades nutricionais, e pode constituir a dieta da humanidade e também de animais (SPEHAR e LARA-CABEZAS, 2000). Devido ao elevado poder nutricional, se popularizou entre as pessoas que buscam por alimentos alternativos e com alto valor nutritivo. Para forragem, utiliza-se o grão e a planta inteira, nas quais apresentam boa palatabilidade e considerável quantidade de proteína e energia. Devido à presença da saponina presente na cultura, a quinoa contribui com a prevenção de algumas doenças de articulações em cavalos, além de eliminar vermes e protozoários presentes no trato digestivo, tornando-se importante para indústria de alimentos e rações (CHEEKE, 2002). O cultivo da quinoa no Brasil foi introduzido na década de 90, com a função de diversificar o sistema de produção no Bioma Cerrado (SPEHAR e SOUZA, 1993). Quando cultivada sob temperaturas elevadas, como no Cerrado, apresentam maiores quantidades de gorduras e proteínas nos grãos do que no Altiplano Andino (GOMES, 1999). A primeira cultivar selecionada para cultivo granífero no Brasil foi a BRS Piabiru, que originou da linhagem EC 3, selecionada a partir de uma população procedente de Quito, Equador. 16 A água é essencial para a produção vegetal, pois tanto o déficit quanto o excesso prejudicam o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Estudos relatam que o estresse hídrico reduz sensivelmente a produção vegetal e limita a atividade agrícola. Mesmo a quinoa apresentando boa resistência ao déficit hídrico, o fornecimento de água em quantidade ideal irá favorecê-la ao desempenho máximo de suas funções fisiológicas, o que pode proporcionar uma maior produtividade (GEERTS et al., 2008; GARCÍA, 2003; GARCÍA; RAES; JACOBSEN, 2003). Dessa forma, a irrigação realizada no momento correto, aplicando-se a quantidade adequada de água, proporciona índices de produtividade acima das médias das culturas. Para o manejo da irrigação, o tensiômetro tem sido indicado como um ótimo instrumento para estabelecer o momento e a quantidade de água da irrigação, principalmente por não exigir a determinação de dados meteorológicos, às vezes indisponíveis (LOPES et al., 2004). Mesmo utilizando de técnicas como a irrigação, condições de baixa fertilidade do solo podem limitar severamente a produção de quinoa e por essas razões a disponibilidade destes nutrientes devem ser corrigidas. O potássio não faz parte de nenhum composto orgânico, mas é um importante macronutriente devido proporcionar ativação em mais de cinqüenta enzimas. O nutriente está diretamente relacionado com o tugor celular, potencial osmótico, abertura e fechamento dos estômatos, além de estar envolvido também nos mecanismos de defesa das plantas, como para pragas e doenças (Mengel e Kirkby, 2001). Dessa forma, torna-se necessário determinar os níveis de irrigação e adubação adequada para a cultura da quinoa, de forma que os mesmos proporcionem aumento da produção e qualidade dos grãos. Assim, objetivou-se pelo presente estudo avaliar o efeito de níveis de irrigação e adubação potássica no desenvolvimento e produção da quinoa no Latossolo Vermelho Distrófico do Cerrado. 17 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Quinoa A quinoa pertence à família Amaranthaceae e ao gênero Chenopodium, sendo cultivada no Peru e Bolívia há mais de 7000 anos (PEARSALL, 1992). Distribuída por diferentes regiões do mundo, mesmo sendo endêmica da região andina, a quinoa possui características que lhe permite adaptar-se a diversas condições ambientais (WAHLI, 1990). Assim, a quinoa é uma das poucas espécies que são naturalmente adaptadas a geadas frequentes, típicas das montanhas andinas, incluindo condições ambientais extremas como seca e salinidade (JACOBSEN; MUJICA; JENSEN, 2003). O cultivo da quinoa cruzou fronteiras e chegou à França, Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Holanda, Itália e Brasil (TEJADA, 2004). Seu maior produtor mundial é o Peru com 130 mil toneladas, seguido pela Bolívia com 92 mil toneladas e pelo Equador com 16 mil toneladas, tendo a tonelada do grão comercializada a U$ 4.500 (QUISPE, 2015). Nos Estados Unidos, ela é cultivada no estado do Colorado e Nevada, e no Canadá sobre os campos de Ontário. Altos rendimentos de sementes já foram registrados no Quênia (4 t ha-1), assim como no Himalaia e nas planícies do norte da Índia (FAO, 2013). O interesse dos mais variados países no emprego da quinoa como espécie alternativa, tem-se evidenciado principalmente pela possibilidade de substituição à carne no consumo humano (CARBONE-RISI, 1986) e como componente da ração de animais domésticos (CARDOZO e BATEMAN, 1961; NEGRON; ALVARES; CALMET, 1976). A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) o considera como um alimento promissor, não só por suas propriedades benéficas como também por seus múltiplos usos (RESTREPO et al., 2005) e tem sido tradicionalmente usada como uma fonte de alimento básico das populações ancestrais ao longo da região dos Andes (FUENTES et al., 2012). A quinoa é particularmente rica em aminoácidos essenciais, boa fonte de minerais (Ca, P e Mg), fibra dietética, compostos antioxidantes, tais como carotenóides, flavonóides (campferol e quercetina), vitamina C, riboflavina, tiamina, 18 ácido fólico e hidratos de carbono. Comparado com alguns cerais, tais como milho (Zea mays L.), aveia (Avena sativa L.), trigo (Triticum aestivum L.) e arroz (Oryza sativa L.). Apresenta menor índice glicêmico e maior qualidade nutricional global (RUALES e NAIR, 1993; REPO-CARRASCO; ESPINOZA; JACOBSEN, 2003). Geralmente, um legume, uma verdura, um cereal ou uma fruta pode proporcionar determinado aminoácido essencial em quantidade significativa e ter carência dos demais, já a quinoa reúne todos. Por suas características nutricionais, é considerada como um pseudocereal nobre e diante disso a FAO estabeleceu 2013 como o ano internacional da quinoa (FAO, 2013). A quinoa é frequentemente utilizada na dieta de celíacos devido à ausência de glúten no grão (SPEHAR, 2006). A forma para consumo geralmente é em flocos, cereais e farinhas, bem como em produtos, tais como macarrão (SPEHAR, 2006), além de compor barras de cereal (FARINAZZI-MACHADO et al., 2012). Assim, existem diversas formas de utilização da quinoa além de possibilidades de sua integração ao sistema produtivo. Originária da linhagem EC 3, a variedade BRS Piabiru da quinoa foi selecionada a partir de uma população procedente de Quito, Equador. Possui características como estatura média de 190 cm, da qual a inflorescência ocupa 45 cm, ciclo de 130 a 145 dias e resistência ao acamamento (SPEHAR e SANTOS, 2002). Acreditava-se que devido à quinoa ser uma espécie originária de clima temperado de montanha e sensível às variações de temperatura, apresentasse uma limitada adaptabilidade aos trópicos (CARBONE-RISI, 1986). Dessa forma, sua introdução no país somente ocorreu nos anos 90 por meio de incentivos da Embrapa Cerrados (Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados) com participação de diversos outros centros de pesquisa. Essas instituições realizaram trabalhos pioneiros e conseguiram adaptar variedade da quinoa ao clima do país, tornando possível seu cultivo (SPEHAR e SANTOS, 2002). Pesquisas com melhoramento genético são cruciais para a implantação de novas culturas (CARBONE-RISI, 1986), pois assim como a quinoa, a soja é originária de regiões temperadas e acreditava-se que não seria economicamente cultivável nos trópicos. Contudo, mediante a combinação de características como florescimento tardio e período juvenil que alonga o estádio vegetativo, obtiveram-se novos genótipos de soja, os quais fazem com que os cerrados respondam por cerca 19 de 50% da produção dessa leguminosa em nosso país (KIIHL e GARCIA, 1989; SPEHAR e SOUZA, 1993). As qualidades desempenhadas pela quinoa são elevadas, mas sua produção no Brasil ainda apresenta valores insignificantes, o que torna necessário realizar mais pesquisas, de forma a permitir avanços produtivos, demonstrar sua competitividade diante outras culturas e, assim, solidificar-se no sistema produtivo do país. Dentre os fatores primordiais para o sucesso desse cultivo e o requerimento produtivo, destacam-se a qualidade da semente e época de semeadura (NUNES, 2009). Nunes (2009) também relata que o requerimento produtivo nada mais é do que uma cadeia, na qual surgem com a demanda de um determinado produto, seguido pelo aumento do consumo pelo mercado consumidor e a partir disto surge à produção. Cadeias produtivas importantes como a soja e o milho, se estabeleceram desta forma. Dentre as variedades adaptadas ao clima tropical, a variedade BRS Piabiru é pioneira no Brasil, sendo recomendada para o Bioma Cerrado, mas tem sido cultivada também em outras regiões. Possui características agronômicas como estatura média de 190 cm, da qual a inflorescência ocupa 45 cm; diferenciação floral aos 30 dias após a emergência, com a antese aos 45 dias; período entre a emergência e a maturação fisiológica de 145 dias, resistência ao acamamento, deposição de oxalato de cálcio, em forma de grânulos no caule e folhas, perceptíveis ao toque dos dedos (SPEHAR e SOUZA, 1993). A panícula consiste em pequenas flores que produzem uma semente por flor (GEERTS et al., 2008), sendo que a cultura apresenta doze fases fenológicas facilmente distinguíveis: germinação, duas folhas verdadeiras, quatro folhas verdadeiras, seis folhas verdadeiras, ramificação, início de emissão da panícula, emissão da panícula, prefloração, floração, grão leitoso, grão pastoso e maturação fisiológica (CASAS, 2012). A variedade BRS Piabiru possui grãos (frutos), com umidade de 12 g/100g, apresentam peso médio 100 grãos de 2,42 g, com 13 g/100g de proteína; rendimento médio de 2,8 t ha-1 (grãos) e 6,6 t ha-1 (biomassa total) (SPEHAR e SOUZA, 1993). A quinoa, apesar de possuir capacidade de adaptação ao solo e às condições climáticas adversas e possuir vários mecanismos de tolerância à seca e 20 de escape, tem seu desempenho prejudicado com a falta d’água (GEERTS et al., 2008). 2.2 Irrigação Ao longo dos anos o processo de intensificação da atividade agrícola reduziu a heterogeneidade ecológica (BENTON; VICKERY; WILSON, 2003), quantidade e qualidade do habitat disponível para espécies (KLEIJN et al., 2011), reduzindo assim a biodiversidade (DONALD; GREE; HEATH, 2001). Desse modo, a atividade agrícola mantendo a conservação da biodiversidade é hoje um dos principais desafios mundiais (GODFRAY et al., 2010; PHALAN et al., 2011; TSCHARNTKE et al., 2012). A irrigação é uma alternativa para aumentar o rendimento da maioria das culturas, proporcionando um incremento na produtividade (GONZAGA NETO, 2000), além de reduzir os custos durante o processo de produção, cuja quantidade de água a ser aplicada é determinada pelas necessidades hídricas das culturas (SOUSA e MELETTI et al., 1997). De acordo com a UNESCO (2007), cerca de 70% da oferta mundial de água é utilizada para irrigação agrícola, sendo esperado um aumento de 14% nos próximos 30 anos. A crescente demanda por recursos hídricos amplia a necessidade de definir técnicas de irrigação mais adequadas, com o objetivo de reduzir o desperdício no uso da água de irrigação (COLOMBO et al., 2013). No Brasil, o interesse pela irrigação emerge das variadas condições climáticas, solo, cultura e socioeconomia, não existindo um sistema capaz de atender satisfatoriamente todas essas condições. Nesse caso, deve-se selecionar o sistema de irrigação mais adequado para uma certa condição e para atender os objetivos desejados (EMBRAPA, 2007). Assim, a escolha do método de irrigação, deve atender tanto a viabilidade técnica, econômica, e ambiental do projeto, quanto topografia, tipo de solo, quantidade e qualidade da água, clima e cultura a ser irrigada (BERNADO et al., 2009). Na irrigação localizada, a água é aplicada em pequena intensidade, umedecendo somente um volume restrito do sistema radicular, e não a totalidade da área cultivada, assim a evaporação da água na superfície do solo é minimizada 21 (BERNADO et al., 2009). Christofidis (2002) relata que devido à maior frequência de irrigação, o solo mantém-se sempre próximo da capacidade de campo. A irrigação por gotejamento é um método no qual otimiza a água para a produção agrícola (BOSLAND e VOTAVA, 2000), podendo distribuir a água uniformemente, controlando com precisão a quantidade aplicada. Tal sistema geralmente produz maior proporção de rendimento por unidade de área e produção por unidade de volume de água (CUENCA, 1989) e tem mostrado ser mais eficiente no cultivo de plantas individuais (GOODWIN et al., 2003), O sistema de gotejo reduz assim a superfície do solo que fica molhada, na qual está exposta às perdas por evaporação, com isto, a eficiência de aplicação é bem maior e o consumo de água menor, como também não molha a parte aérea das plantas, reduz a incidência de doenças (RUGGIERO et al., 1996). Estudos realizados em Israel comprovam que o gotejamento proporciona a obtenção de maiores produções, quando comparado aos diferentes métodos utilizados, sob mesmas condições. Com o uso da irrigação por gotejamento, a aeração do solo não é prejudicada, o que proporciona melhor absorção de nutrientes de água, pois quando as plantas então sujeitas à saturação hídrica por um longo período, sintomas como seca fisiológica podem ocorrer, embora no terreno haja água em abundância (VIEIRA e MANFRINATO, 1974). A manutenção de um nível adequado de umidade do solo também é uma preocupação comum para a inibição da doença e melhoria da qualidade dos grãos. Diversos métodos diretos e indiretos são utilizados para quantificar a água disponível no solo, sendo o tensiômetro um método indireto amplamente utilizado. O tensiômetro é utilizado para avaliar o estado de energia da solução do solo, e tornou-se um método padrão para monitorar o status de água no solo (CASSEL e KLUTE, 1986). Desenvolvido por Gardner em 1922 (CAMARGO et al., 1982), com função de medir a tensão com que a água esta retida pelas partículas do solo (potencial matricial), e dispõe da relação entre o conteúdo de água no solo e a tensão em que ela se encontra. Assim, o tensiômetro torna-se um instrumento importante, pois determinar a umidade do solo em cada fase do desenvolvimento da planta de forma a quantificar a água disponível para a cultura, reduz o gasto de energia na absorção de água e nutrientes (HODNETT et al., 1995). 22 Na produção da quinoa, a irrigação realizada em quantidade adequada, proporciona índices de produtividade acima da média da cultura. Assim, por meio do uso da irrigação, é possível aumentar os rendimentos da cultura em locais com déficit de precipitação (GARCÍA, 2003; GARCÍA; RAES; JACOBSEN, 2003). 2.3 Adubação Potássica O potássio, constituído por cerca de 2,1-2,3% da crosta terrestre, é o sétimo ou oitavo elemento mais abundante (SCHROEDER, 1978; WEDEPOHL, 1995). As reservas de potássio do solo são geralmente grandes, mas a maior parte do potássio do solo (90-98%) está incorporado na estrutura cristalina dos minerais, assim não está diretamente disponível para absorção pela planta (SCHROEDER, 1978). Dentre os vários nutrientes utilizados pelas plantas, o potássio desempenha um papel particularmente importante em muitas funções fisiológicas vitais para o crescimento, rendimento, qualidade e resistência à formação de todas as culturas. O potássio apresenta uma alta mobilidade e redistribuição na planta (EPSTEIN e BLOOM, 2005), pois transloca nutrientes pelo xilema, das raízes para a parte aérea e retransloca para outros tecidos pelo floema. O potássio tem função importante no transporte de fotossíntatos produzidos pela fotossíntese nos tubos crivados, pois é responsável em estabelecer e manter um alto potencial osmótico nos tubos crivados, permitindo assim altas taxas de transporte (MARSCHNER, 2012). Depois do nitrogênio, o potássio é o nutriente requerido em maiores quantidades pela maioria das plantas (MALAVOLTA e CROCOMO, 1982), sendo o cátion mais abundante nos vegetais. De acordo com Marschner (1995), as plantas requerem altas quantidades de potássio, para manter um elevado teor em nutrientes no citoplasma da célula, o que garante a atividade enzimática, pois o potássio é necessário para manter a neutralização de ânions e manter os níveis de pH para as células. Assim como a quinoa, a beterraba requer grande quantidade de potássio, sendo que baixas concentrações desse nutriente pode aumentar a susceptibilidade, não apenas da beterraba e quinoa, mas de diversas culturas a doenças e 23 consequentemente a necessidade de aplicações de defensivos (ZÖRB; SENBAYRAM; PEITER, 2014). Embora existam estudos sobre nutrição mineral para o cultivo comercial da quinoa, raramente se encontram trabalhos relacionados à recomendação de adubação. A escassez de informação relacionada ao requerimento nutricional pode limitar a obtenção de altas produtividades e interferir diretamente na qualidade das sementes produzidas, além da determinação da dose adequada a ser utilizada na adubação ser extremamente importante, pois pode afetar significativamente a germinação das sementes e até a arquitetura da raiz, em decorrência de possíveis efeitos salinos desse fertilizante (NEVES, 2007). O excesso deste nutriente pode também onerar o custo com a produção, com redução no ganho do produtor, pois a absorção desses nutrientes não depende somente da sua disponibilidade em torno das raízes, mas também da sua concentração, porque há um limite para o somatório dos cátions que podem ser absorvidos simultaneamente pela planta, assim mesmo aplicando altas quantidades, a planta não conseguirá absorver (ANDRIOLO et al., 2010). Estudos relatam que as perdas por lixiviação do potássio está entre 50-70% (AUOADA et al., 2008; WU e LIU, 2008), quando aplicado de forma incorreta. Paglia et al. (2007) relatam que há aumento da concentração de K+ na solução lixiviada, na medida em que a quantidade de K2O aplicado no solo aumenta, o que resulta em perdas de recursos econômicos e danos ambientais devido à contaminação do lençol freático (GE et al., 2002; SHAVIT; REISS; SHAVIV, 2002). O excesso do nutriente principalmente no plantio pode afetar o processo germinativo, o desenvolvimento inicial das plantas e também causar desequilíbrio na absorção de cálcio e magnésio (FACTOR et al., 2011). De acordo com Malavolta (1980), o potássio se movimenta no solo predominantemente pelo processo de difusão, mas em altas concentrações esse nutriente podem movimentar-se no solo por fluxo de massa. Zanini (1991) concordou com Malavolta (1980), pois verificou que os locais de maiores concentrações de K+ coincidiram com os locais de maiores valores de umidade, evidenciando seu transporte por fluxo de massa. Assim, quando as plantas estão bem supridas em potássio à taxa transpiratório é reduzida e o transporte por fluxo de massa também, ocasionando assim numa menor perda de água devido sua atuação no mecanismo de abertura e 24 fechamento dos estômatos, resultando em uma maior eficiência do uso da água pelas plantas (BÜLL, 1993). O fluxo de massa pode contribuir com 12% do potássio absorvido pelas plantas cultivadas em baixa disponibilidade do nutriente, contra apenas 4% em solos com maior disponibilidade de potássio (ROSOLEM; CALONEGO; FOLONI, 2003). A eficiência do uso do potássio (EUK) na planta é definida como a capacidade em produzir matéria seca e grãos sob baixos níveis de potássio na solução do solo (YANG et al., 2003). Assim, a exigência de K, que é o inverso da EUK, ou seja, a quantidade de K absorvida pela cultura por unidade de produção de grãos é usada como argumento para aumento da recomendação de adubação potássica. A EUK refere-se ao grau de recuperação desse nutriente pelas culturas, considerando-se as perdas que geralmente acontecem no processo (COSTA et al., 2015). Maior ou menor eficiência pode estar relacionada com a variação na estrutura, densidade e profundidade das raízes entre as diferentes espécies (NIEVES-CORDONES et al., 2014). A maioria das culturas são consideradas ineficientes para a obtenção de potássio a partir do solo e sensíveis a baixa disponibilidade, apresentando sintomas visuais de deficiência (MULLINS e BURMESTER, 2010). Assim, a adubação potássica pode atuar diretamente na eficiência do uso da água, pois a eficiência aumenta em média 8% com o uso do potássio (COSTA et al., 2015), devido ao controle hídrico que este nutriente exerce na planta. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Local do experimento O experimento foi conduzido em casa de vegetação (Figura 1), durante os meses de fevereiro de 2015 a agosto de 2015, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Universitário de Rondonópolis, com coordenadas geográficas de 16º28’ Latitude Sul, 50º34’ Longitude Oeste e altitude de 284 m. O solo utilizado foi coletado de um Latossolo Vermelho distrófico (EMBRAPA, 2013) em Cerrado, na camada de 0-0,20 m, no Campus Universitário 25 de Rondonópolis, em seguida peneirado (Figura 2) em malha 4 mm e homogeneizado para inserção nos vasos. Para a caracterização química e granulométrica do solo foi peneirado em malha de 2 mm e analisado conforme metodologia proposta por Embrapa (1997) (Tabela 1). A Casa de Vegetação B FIGURA 1. Localização da casa de vegetação no campus de Rondonópolis (A) e Casa de vegetação onde foi realizado o experimento (B). TABELA 1. Resultado das análises químicas e granulométricas do solo na camada de 00,20 m, antes da instalação do experimento em Latossolo Vermelho distrófico, Rondonópolis/MT pH P K Ca Mg Al H SB CTC CaCl2 --mg dm-3-- --------------------cmolc dm-3-------------4,0 1,7 24 0,2 0,2 0,8 4,4 0,5 5,6 V % M.O. Areia g dm-3 8,2 20,6 Silte Argila ---------g kg-1----------546 54 400 pH – potencial hidrogeniônico, H+Al – acidez potencial, SB – soma das bases, CTC – capacitação de troca catiônica, V% - saturação por bases. FIGURA 2. Coleta de solo em área de Cerrado e peneiramento do solo com auxílio de haste de madeira. 26 A calagem foi realizada conforme resultados obtidos na análise química do solo, 30 dias que precederam à semeadura, utilizando calcário dolomítico com PRNT de 80,3%, para elevar a saturação por bases para 60%. 3.2 Tratamento, delineamento experimental e adubação O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com a combinação de cinco doses de cloreto de potássio e cinco níveis de irrigação em esquema fatorial 5x5. As doses de potássio (K2O) foram (0, 100, 200, 400 e 600 mg dm-³), tendo como fonte cloreto de potássio e os níveis de irrigação foram (50, 75, 100, 125 e 150% da capacidade de campo), com quatro repetições, totalizando 100 parcelas (Figura 3). Cada parcela foi constituída por um vaso plástico com capacidade de 22 dm³ de solo (Figura 4). FIGURA 3. Croqui representando a área total do experimento, indicando a localização dos blocos e o espaçamento entre os blocos e vasos. A B FIGURA 4. Espaçamento entre as linhas no primeiro bloco (A) e visualização geral do último bloco, observando espaçamento entre as linhas e vasos (B). 27 A adubação realizada na semeadura constituiu de 250 mg dm-3 de fósforo (P2O5) na forma de superfosfato simples, 40 mg dm-3 de composto FTE (Fritted Trace Elements), com composição de 3,9% de enxofre, 1,8% de Boro, 2,0% de Manganês, 9,0% de Zinco e o potássio (K2O) foi aplicado nas doses referente ao tratamento de cada parcela experimental em dose única. A adubação nitrogenada foi parcelada em três aplicações, aos 07, 14 e 21 dias após a semeadura (DAS), utilizando um total de 200 mg dm-3 de nitrogênio, tendo como fonte a ureia (Figura 5). A B FIGURA 5. Adubação fosfatada e potássica de semeadura (A) e Diluição da uréia em água para aplicação em cobertura (B). A cultura utilizada foi a quinoa cultivar BRS Piabiru recomendada para o cultivo granífero no Brasil (SPEHAR e SANTOS, 2002). A semeadura foi realizada utilizando dez sementes por vaso (Figura 6), no dia 03 de abril de 2015. A B FIGURA 6. Semeadura de quinoa BRS Piabiru, em cada parcela (A) e Germinação das plântulas (B). Para determinar a relação entre o teor de água do solo e a energia com a qual ela está retida no mesmo, foi utilizada a análise da curva de retenção de água 28 no solo e os resultados de retenção foram interpolados pela equação de Van Genuchten (Figura 7). O programa utilizado foi o Soil Water Retention Curve (versão 3.0), desenvolvido por Dourado Neto et al. (2000), que descrevem o comportamento da umidade do solo em função da tensão, conforme equação 1. (1) Onde: θ - umidade a base de volume, em cm3 cm-3; θr - umidade residual, em cm3 cm-3; θs - umidade de saturação, em cm3 cm-3; Ψm - Potencial matricial, em cm c.a.; α, m, n - constantes. FIGURA 7. Curva característica de retenção de água no solo, gerada pelo programa Soil Water Retention Curve (versão 3.0). A tensão foi monitorada diariamente com leituras às 9 e 16 horas por meio de um tensímetro digital com a sensibilidade de 0,1 kPa, instalados nas unidades experimentais com 100% de reposição de água no solo e dose de referência de potássio (K2O) conforme metodologia utilizada por Koetz (2006) para a cultura do maracujá, sendo que para este experimento a dose de referência utilizada foi de 100 mg dm-3 de potássio (K2O). O manejo de água (momento e volume de irrigação) foi realizado com base na avaliação da tensão de água no solo, definido quando a tensão média obtida nos quatro tensiômetros atingia o valor próximo a 10 kPa, cuja tensão de água no solo equivalente à umidade na capacidade de campo foi definida como sendo de 6 kPa 29 (Figura 8). Segundo Bernardo et al. (2009) é comum encontrar a capacidade de campo com valores de até 5 kPa em solos típicos de Cerrado. FIGURA 8. Verificação da tensão de água no solo, utilizando o tensímetro digital. O volume de água aplicado em cada unidade experimental foi definido de acordo com os percentuais relativos a cada tratamento. Até os 15 DAS, todos os tratamentos foram irrigados com o mesmo volume de água, quando a tensão média obtida nos tensiômetros atingia valores próximos a 10 kPa, de forma a garantir o desenvolvimento das plantas. Após este período, iniciou-se a aplicação diferenciada dos níveis de água no solo para os tratamentos. 3.3 Sistema de irrigação A irrigação foi realizada por meio de gotejamento. O sistema foi constituído por um tanque de fibra de vidro de 1000 L, com função de reservatório, localizado fora da casa de vegetação. Para reduzir entupimentos, foi instalado um filtro de disco, marca IRRITEC, com capacidade de 5000 L h-1, com malha de 120 mesh (Figura 9). 30 A B FIGURA 9. Localização do reservatório, fora da casa de vegetação (A) e Filtro de disco (B). Os gotejadores utilizados foram da linha autocompensante e anti-drenante (Figura 10) apresentavam vazão máxima de 4 L h-1, com pressão de abertura 4,0 m e pressão de fechamento 2,0 m. Os gotejadores foram encaixados aos microtubulos, ficando suspensos das superfície do solo de forma a evitar entupimentos dos mesmos. A B FIGURA 10. Gotejador em funcionamento (A) e disposição do gotejador suspenso da superfície do solo (B). A quantidade de água aplicada foi calculada, de acordo com a curva de retenção de água no solo, sendo necessário a umidade relativa à capacidade de campo e a umidade referente a tensão média obtida nos quatro tensiômetros, de acordo com a equação 2. (2) Onde: V: volume de água, em cm3; θcc: umidade da capacidade de campo, em cm3 cm-3, e 31 θf: umidade na curva de retenção de acordo com a tensão média observada, em cm3 cm-3. O coeficiente de uniformidade de distribuição (CUD) foi realizado quinzenalmente, em todas as linhas laterais, sendo que em cada linha lateral quatro gotejadores foram selecionados para coleta de vazão (1º, 7º, 14º e 20º gotejador), apresentando valor médio de 93,4% de uniformidade, de acordo com a equação 3. (3) CUD= Onde: = média dos 25% menores valores de vazão coletados, e = lâmina média aplicada. O tempo de irrigação para cada tratamento foi calculado com base no volume de água a ser aplicada e a vazão dos gotejadores, conforme equação 4. (4) Onde: T - tempo de irrigação (h); V - volume da planta irrigada (m3), e q - vazão dos gotejadores por planta (m3 h-1). 3.4 Condução do experimento O desbaste das plantas foi realizado aos 15 dias após a emergência (DAE), deixando-se três plantas por vaso e aos 20 DAE ocorreu o segundo desbaste deixando-se apenas duas plantas por vaso. Para monitoramento da temperatura (Figura 11) e umidade relativa do ar (Figura 12) durante a condução do experimento, foi utilizado um termohigrômetro, no qual foi realizada leitura diária, aproximadamente às 09 h. 32 FIGURA 11. Temperatura de casa de vegetação no período experimental de 03/04 a 10/08/2015. FIGURA 12. Umidade relativa na casa de vegetação do ar no período experimental de 03/04 a 10/08/2015. Para o controle de pragas e doenças, adotou-se o manejo preventivo e de controle com inseticidas e fungicidas sistêmicos (Tabela 2). 33 TABELA 2. Aplicações de defensivos realizadas durante a condução do experimento para o controle de pragas e doenças. Data Princípio Ativo Dosagem Observações 15/04/2015 Fipronil (g L-1 de água) -1 1 Inseticida 15/04/2015 Deltametrina (mL L de água) 1 Inseticida 04/05/2015 Thiophanate methyl e Chlorothalonil 2 Fungicida 1,5 Inseticida 1,5 Fungicida (g L-1 de água) 08/05//2015 12/05/2015 Deltametrina (mL L-1 de água) -1 Azoxistrobina e Ciproconazol (mL L de água) 22/05/2015 Oxicloreto de Cobre (g L-1 de água) 1,5 Fungicida 02/06/2015 Esfenvalerato (mL L-1 de água) 1 Inseticida 06/06/2015 Thiophanate methyl e Chlorothalonil 2 Fungicida 1 Fungicida 1 Inseticida -1 (g L de água) 24/06/2015 Azoxistrobina e Ciproconazol (mL L-1 de água) 06/07/2015 Esfenvalerato (mL L-1 de água) 3.5 Variáveis analisadas Durante a condução do experimento e na colheita (aos 129 dias) foram avaliadas as seguintes variáveis: 3.5.1 Emergência: determinada através do percentual entre o número de plântulas emergidas e o número total de sementes semeadas, de acordo com equação 5. (5) Onde: E(%): porcentagem de emergência de plântulas; E: Número de plântulas emergidas; N: Número de sementes semeadas. 3.5.2 Número de dias para a floração: foi obtido através do tempo transcorrido em dias a partir da semeadura. Determinado como início da floração o período em dias transcorridos da semeadura até o início da floração (quando 50% das 34 plantas tinham no mínimo uma flor aberta) e final da floração quando 50% das plantas não tinham mais flores. 3.5.3 Área foliar: obtida por meio das medidas do comprimento e largura da folha (Figura 16), utilizando uma régua graduada em cm (ROBBINS e PHARR, 1987), multiplicado com um fator de correção de 0,6923 (MARROCOS et al., 2010), conforme equação 6. (6) AF = AR x 0,6923 Onde: AF: área da folha AR: área do retângulo (cm2) 3.5.4 Diâmetro do caule: a medida do diâmetro de caule foi realizada utilizando paquímetro digital, com precisão de 0,01 mm, a três centímetros do nível do solo, calculando a média das duas plantas (Figura 13 A). 3.5.5 Índice de clorofila: O índice de clorofila foi estimado, de modo não destrutivo, com média dos valores de cinco folhas jovens totalmente expandidas, utilizando-se o clorofilômetro Minolta SPAD-502 (Figura 13 B). A B FIGURA 13. Medição do diâmetro do caule (A) e leitura do teor de clorofila, utilizando o clorofilômetro Minolta SPAD-502 (B). 3.5.6 Número de folhas: obtido através do valor médio do número de folhas obtido por planta, com contagem feita manualmente. 3.5.7 Altura da planta: foi determinada em cm, adotando-se, como critério, a distância entre o colo da planta e a extremidade do broto terminal do ramo principal. 3.5.8 Massa seca de parte aérea: as plantas foram cortadas rente ao solo e acondicionada em saco de papel, identificada com etiqueta e levados para 35 estufa de circulação aberta a uma temperatura controlada de 65ºC por 72 horas. Após esse período, foi realizada a pesagem do material. 3.5.9 Massa seca de raízes: Para análise de raízes, as mesmas foram separadas por peneiramento (malha de 4 mm) e lavadas para retirar todo solo com água corrente. As raízes foram acondicionadas em sacos de papel, identificadas com etiqueta e levadas para estufa de circulação aberta a uma temperatura controlada de 65ºC até atingir massa constante. Após esse período foi obtida a massa seca da parte aérea e de raiz através da pesagem do material. 3.5.10 Comprimento da panícula: Comprimento da panícula foi determinado em cm, adotando-se, como critério, a distância medida a partir do nó basal até a extremidade superior (cm). 3.5.11 Produção e número de grãos: os grãos foram retirados manualmente da panícula, a produção foi determinada através de pesagem em balança analítica (g planta-1) umidade corrigida a 13%. Para o número de grãos estimou-se correlacionando os resultados obtidos na massa de 100 grãos e o peso total da amostra. 3.5.12 Massa de 100 grãos: obtida através da pesagem de quatro amostras de 100 grãos, com umidade corrigida a 13%. 3.5.13 Eficiência do uso da água: A eficiência do uso de água (EUA), em função da produção, conforme proposto por Doorenbos e Kassan (1994), de acordo com a equação 7. (7) EUA = Onde: EUA - eficiência do uso da água, g L-1; P - produção, g planta-1; CA - consumo de água, L planta-1. 3.6 Análise dos dados As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SISVAR (FERREIRA, 2008), com análise de variância e teste de regressão a nível de significância até 5% de probabilidade. 36 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Índice de Clorofila Para o índice de clorofila houve efeito isolado para as doses de potássio, ajustando-se à modelo quadrático de regressão, em que a dose de 198,38 mg dm-3 de potássio proporcionou maior leitura SPAD (51,11) (Figura 14 A). Comparando o índice de clorofila observado na dose de 198,38 mg dm-3 com o tratamento com ausência adubação potássica, observou-se um incremento de 3,13%. A B FIGURA 14. Índice de clorofila aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). IC – Índice de Clorofila; K – Potássio. * Significativo a 5% e *** Significativo a 0,1% (A) Leitura do Índice de Clorofila, utilizando o clorofilômetro Minolta SPAD-502 (B). Bonfim-Silva e Monteiro (2010) relataram que a leitura SPAD (Figura14 B) está diretamente relacionada com o índice de clorofila, assim como, a avaliação da nutrição nitrogenada da planta e a necessidade ou não da aplicação de nitrogênio, pois as clorofilas são responsáveis pela captação de radiação solar durante o processo de fotossíntese. Assim a atividade fotossintética da planta depende em parte da capacidade da folha para absorver luz (SALLA; RODRIGUES; MARENCO, 2007). A fotossíntese é à base do crescimento e produtividade das plantas. No metabolismo fotossintético são necessárias altas concentrações do potássio, podendo a taxa fotossintética líquida de folhas e condutância estomática serem reduzidas sob deficiência de potássio (SALLA; RODRIGUES; MARENCO, 2007). 37 Jiang et al. (1992), Zhao; Oosterhuis; Bednarz (2001) e Wang et al. (2012) notaram que a atividade de fosforilação, transferência de elétrons e a atividade/conteúdo do Rubisco foram reduzidas no cultivo de arroz e algodão, sob déficit de potássio. Como a taxa fotossintética está diretamente relacionada ao crescimento, percebe-se que o excesso de adubação potássica pode inibir acentuadamente o crescimento das plantas, mais até do que a carência de potássio. Conforme Silveira e Malavolta (2000), o fornecimento inadequado de potássio faz com que os estômatos não tenham uma regularidade ao se abrirem, o que causa uma redução na taxa fotossintética pelo fato de ter ocorrido uma menor assimilação de CO2. O efeito isolado para os níveis de irrigação, ajustou-se a modelo linear de regressão, cujo nível de 50% proporcionou maior leitura SPAD, com 50,8 (Figura 15). Conforme Ferreira et al. (2008), o resultado em relação ao índice de clorofila indica (Figura 15) que sob excesso hídrico, ocorre uma aceleração na senescência das folhas, constatada pela clorose das folhas, o que afeta negativamente o desenvolvimento da planta. Em diversas outras espécies, como Brachiaria brizantha (DIAS-FILHO e CARVALHO, 2000), esses distúrbios também foram observados, e pode ser atribuídos a toxidez por acúmulo de outros elementos, disfunção hormonal ou até mesmo carência de nutrientes (KOZLOWSKI, 1997). FIGURA 15. Índice de clorofila aos 91 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). IC – Índice de clorofila; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. 38 A estabilidade da molécula de clorofila é afetada pela disponibilidade hídrica, devido à oxidação da água para recompor os elétrons liberados pela fotoxidação da clorofila (TAIZ e ZEIGER, 2004), assim a leitura do índice de clorofila esta relacionado ao estado hídrico da planta (SILVA et al., 2011). 4.2 Altura da Planta Para a altura da planta, houve efeito isolado para o potássio, aos 63 DAS, cujo dados ajustaram a um modelo quadrático de regressão, com máxima altura da planta de 145,12 cm observada na dose de potássio de 279,5 mg dm-3 de K2O (Figura 16 A). O potássio proporcionou para a máxima altura da planta um incremento de 8,72% quando comparada com o tratamento com ausência de potássio. A altura máxima da planta observada no estudo correspondeu a cerca de 72,56% do relatado por Spehar e Santos (2002), pois de acordo com os mesmos, a quinoa pode chegar a 2,0 metros de altura (Figura 16 B) nas condições de Brasil Central. Sango; Ernani; Bianche (2009), analisando o crescimento do milho em diferentes tipos de solos, também observaram que houve um redução na altura das plantas com doses elevadas de potássio no Latossolo Vermelho distrófico. As altas concentrações de sais liberado pelo cloreto de potássio no solo aumentam a pressão osmótica do meio, o que assim prejudica o desenvolvimento das raízes, que fica mais finas e subdivididas, com redução da absorção de água e nutrientes (MARSCHNER, 1995). 39 A B FIGURA 16. Altura da planta aos 63 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AP – Altura da Planta; K Potássio. **Significativo a 1% (A) Visão geral da altura das plantas de Chenopodium quinoa. Para Vilela e Büll (1999), a redução do crescimento de plantas, provocado pelo excesso de cloreto de potássio, está associada ao decréscimo do potencial osmótico, decorrente do acúmulo de solutos no citoplasma. Segundo Vasconcelos et al. (2012) os valores de altura da planta podem estar elevados, devido ao aumento da temperatura no estágio vegetativo da cultura da quinoa, pois quando as plantas são semeadas em meses mais quentes (abril e março), tendem a gerar plantas maiores que a das semeaduras de maio e junho. 4.3 Número de Folhas Ao analisar o número de folhas verificou-se que houve interação significativa entre os tratamentos aos 49 DAS. O desdobramento das doses de K2O dentro dos níveis de irrigação de 50, 75, 100 e 125% tiveram efeito significativo (Figura 17 A). Para o nível de 50% de irrigação, ocorreu ajuste de regressão quadrático, proporcionando o máximo número de folhas (177,09 folhas) para a dose de potássio de 375,68 mg dm-3. Os níveis 75 e 100% de irrigação ambos se ajustaram ao modelo linear de regressão. Para o nível de 125% de irrigação, houve ajuste ao modelo quadrático de regressão, constituindo o máximo número de folhas (208) à dose 361,85 mg dm-3 de K2O. A relação do maior número de folhas produzidas com doses mais elevadas de potássio pode estar relacionada, às maiores concentrações de potássio 40 encontradas nos frutos e folhas (SPEHAR, 2006). Desta forma, quanto maior o número de folhas maior a requerimento nutricional por potássio. A B FIGURA 17. Número de folhas (nº planta-1) aos 49 dias após a semeadura, com desdobramento das doses de K2O dentro dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NF – Número de Folhas; K Potássio. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% e ***Significativo a 0,1% (A) Contagem de folhas realizada aos 21 dias após a semeadura (B). A folha é o principal instrumento das plantas envolvido na fotossíntese e encarregado pelas trocas gasosas entre a planta e o ambiente. Assim, quanto maior o número de folhas (Figura 17 B), maior será à transpiração e a fotossíntese das coberturas vegetais (PEREIRA; VILLA NOVA; SEDIYAMA, 1997), o que garante a produção de fotoassimilados além de ser um importante componente para a produção de massa seca total da planta (ALEXANDRINO et al., 2004). Durante o ciclo da cultura, houve queda e redução da área foliar, quando se iniciou o período de diferenciação floral. Valentin et al. (2006) relatam a menor área foliar e aceleração da queda foliar ao aumentar o número de drenos (formação dos frutos na planta), que pode está relacionada à grande demanda por fotoassimilados que ocorre entre frutos e demais drenos (folhas e ramificações novas). A formação de carboidratos nas folhas tem forte influência da adubação potássica e tem papel fundamental na translocação de carboidratos para diversas partes da planta, principalmente frutos (PRADO, 2008). Assim, perda de área foliar e 41 consigo redução na fotossíntese, reflete negativamente sobre a produção (BOYER, 1976). O desdobramento dos níveis de irrigação dentro das doses, mostra que a dose de 600 mg dm-3 de K2O (Figura 18) obteve efeito significativo, para o número de folhas aos 49 DAS. Dessa forma, houve um ajuste ao modelo de regressão quadrática, com o máximo número de folhas (226) obtido para o nível de irrigação de 93,7%. FIGURA 18. Número de folhas aos 49 dias após a semeadura, com desdobramento dos níveis de irrigação dentro da dose de 600 mg dm-3 K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NF – Número de Folhas; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. Manica; Simão; Scardua (1975), estudando a cultura da banana “Nanicão”, uma cultura C3 assim como a quinoa, evidenciaram a existência de um aumento na durabilidade foliar em relação à irrigação, devido as plantas que foram cultivadas em condições de sequeiro apresentarem 57% menos folhas, do que as plantas irrigadas, constatando assim, que a irrigação atua na manutenção de um maior número de folhas. Holder e Gumbs (1982), também constataram que a durabilidade foliar foi maior no cultivo da bananeira “Robusta” quando submetidas à irrigação. 4.4 Diâmetro do Caule Para o diâmetro de caule da quinoa foi observado efeito isolado dos níveis de irrigação e das doses de potássio. Em relação aos níveis de irrigação, o diâmetro 42 de caule ajustou-se ao modelo quadrático de regressão, cujo máximo valor para o diâmetro do caule foi observado aos 91 DAS (8,91 mm planta-1) para o nível de irrigação de 107% (Figura 24 A), com acréscimo de 16,7% no diâmetro em relação ao nível de irrigação de 50%. Pode-se observar que as plantas submetidas ao tratamento com o nível de irrigação de 50% apresentaram estresse devido à menor disponibilidade de água no solo do que os demais tratamentos (Figura 19), o que afetou diretamente o seu crescimento e desenvolvimento. B A FIGURA 19. Diâmetro de caule aos 91 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). DC – Diâmetro do Caule; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1% (A) Medição do diâmetro do caule utilizando paquímetro digital (B). Os resultados são próximos aos obtidos por Hirich et al. (2014), no qual ao estudarem o efeito da irrigação na cultura da quinoa,(Figura 19 B) perceberam que a irrigação de 100% proporcionou valores de até 10 mm de diâmetro e que o déficit hídrico reduziu o diâmetro de caule. Padilha et al. (2014) também observaram no cultivo do pimentão irrigado maior diâmetro de caule para os tratamentos de 100% da irrigação. A partir do nível de irrigação de 110% em todas as avaliações apresentadas na figura 19, o diâmetro do caule teve valores decrescentes, reduzindo assim a eficiência do uso da água. Vidal et al. (2012), cultivando o milho com diferentes níveis de irrigação, verificaram que a utilização de níveis acima de 150% acarreta em uso pouco eficiente de água para irrigação. 43 Segundo Beltrão et al. (2001), o estresse hídrico, tanto por deficiência como por excesso, reduz o diâmetro de caule. Araújo (1998) relata que avaliar o diâmetro de caule da cultura é importante, pois expressa de forma mais confiável o desenvolvimento das plantas do que o crescimento em altura. Para as doses de potássio, o diâmetro de caule ajustou-se ao modelo quadrático de regressão (Figura 20), sendo o máximo valor para o diâmetro de caule observado aos 91 DAS (9,31 mm planta-1) para a dose de 515 mg dm-3 de K2O. FIGURA 20. Diâmetro de caule aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). DC – Diâmetro do Caule; K – Potássio. * Significativo a 5% e ***Significativo a 0,1%. De acordo com Kanai et al. (2007) a deficiência de potássio tende a reduzir a oferta de água e a distribuição dos solutos na planta, afetando o desenvolvimento de diversas estruturas, como o diâmetro do caule. Isso pode ser explicado devido ao potássio estar diretamente relacionado pela abertura e fechamento estomático, ou seja, entrada e saída de água na planta, como também pela distribuição dos fotoassimilados produzidos durante a fotossíntese. Patrick (1997), também relaciona o tamanho do vaso do floema com a absorção de água, pois uma menor entrada de água pelo vaso irá ocasionar em sua constrição, o que resulta em diâmetro de caule menores. Já para as células do xilema, o potássio é necessário, pois atua no processo de diferenciação celular, no qual esse nutriente age acumulando-se na zona de diferenciação celular, o que resulta no crescimento do diâmetro do caule (LANGER et al., 2002). 44 Assim, torna-se importante a adequada nutrição com potássio, devido ao mesmo proporcionar aumento do diâmetro e, deste modo, torna as plantas mais resistentes ao acamamento e ao quebramento (KARLEN; FLANNERY; SADLER, 1987). 4.5 Área Foliar Para a área foliar, houve interação significativa entre os níveis de irrigação e as doses de K 2O aos 91 DAS. Analisando os níveis de irrigação dentro das doses de potássio, observou-se que as doses de 0, 100 e 400 mg dm-3 de K2O, figura 21 A, 21 B e 26 C, respectivamente, apresentaram efeito significativo. Para as doses de 0 e 100 mg dm-3 de K2O, a área foliar ajustou-se a modelo linear de regressão (Figura 21 A e B), sendo que a área foliar reduziu com o aumento do níveis de irrigação, tendo para o nível de 50%, valores de área foliar de 5,3 e 6,4 cm2 planta-1, respectivamente. A dose de 400 mg dm-3 de K2O ajustou-se ao quadrático, com maior área foliar para o nível de irrigação de 92,65 % (7,96 cm2 planta-1) (Figura 21 C). 45 A B C FIGURA 21. Área foliar (cm² planta-1) aos 91 dias após a semeadura, efeito dos níveis de irrigação nas doses de 0 (A), 100 (B) e 400 (C) mg dm-3 de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AF – Área Foliar; NI – Níveis de Irrigação. **Significativo a 1%, ***Significativo a 0,1%. A irrigação ajustada a uma adubação adequada como ocorreu com a adubação de 400 mg dm-3 de K2O (Figura 21 C), pode proporcionar um aumento do índice de área foliar, aumento também confirmado por Rezende et al. (2014). Desta maneira, é possível por meio da área foliar avaliar a eficácia de um sistema de irrigação, uma vez que a escassez ou excesso de água afetam diretamente o desenvolvimento das folhas (BASTOS et al., 2013). O excesso hídrico como ocorrido nos tratamentos com o nível de irrigação de 150% pode reduzir o suprimento de oxigênio às raízes, o que limita a respiração, a absorção de nutrientes e outras funções das raízes (HOPKINS, 1995), e consequentemente reduz a área foliar. A área foliar tem grande importância, pois é responsável pela produção da maior parte dos carboidratos essenciais para a planta e em muitas situações, como de deficiência nutricional, serve como fonte de translocados para outras partes da 46 planta, além de representar boa parte da massa seca acumulada pela planta (OLIVEIRA et al., 2007). Analisando as doses de K2O dentro dos níveis de irrigação, verifica-se que os níveis de irrigação de 75%, 100% e 150%, apresentaram efeito significativo a 5% para a primeira e 0,1% as demais, respectivamente de significância (Figura 22 A, B e C). Os níveis de 75% e 100% ajustaram-se de ao modelo quadrático (Figura 22 A e B), observando maior área foliar para a dose de 409,7 mg dm-3 e 421,8 mg dm-3 de K2O, com área foliar de 6,7 e 8,02 cm2 planta-1, respectivamente. Para o nível de 150% a análise de regressão ajustou-se ao modelo linear, no qual o aumento das doses ocasionou o aumento da área foliar, com maior área foliar para a dose de 600 mg dm-3 (5,7 cm2 planta-1) (Figura 27 C). A B C FIGURA 22. Área foliar aos 91 dias após a semeadura, em função das doses de K2O sob os níveis de irrigação de 75% (A), 100% (B) e 150% (C) em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). AF – Área Foliar; K– Potássio. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% e ***Significativo a 0,1% 47 A irrigação e a adubação potássica atuam de forma conjunta, pois assim como a irrigação reduzida (75%) quanto a excessiva (150%) (Figura 22 A e C) ocasionaram em um maior gasto com a aplicação de potássio e mesmo assim não obtiveram ganho de produção como no nível de irrigação de 100% (Figura 22 B). No presente estudo para o nível de irrigação de 150% (Figura 22 C), a maior dose proporcionou a maior área foliar, e provavelmente a redução da área foliar é decorrente de efeitos osmóticos, que podem provocar deficiência hídrica nas células, ou de efeitos específicos de íons, que podem acarretar toxicidade ou desordens nutricionais (TAIZ e ZEIGER, 2004). Analisar a área foliar torna-se importante, pois a mesma interfere na interceptação da radiação solar e na troca de água e energia entre a folha e o ar adjacente à atmosfera (MALDANER et al., 2009), sendo estes essenciais para entender a relação entre o crescimento da planta e o ambiente (DE JESUS et al., 2001), como também da influência de práticas agronômicas sobre o crescimento (SILVA; BELTRÃO; AMORIN NETO, 2000), além da área foliar ser considerada um dos parâmetros indicativos de produção (FAVARIN et al., 2002). 4.6 Número de dias para a floração Para o número de dias para a floração houve efeito isolado para os níveis de irrigação (Figura 23 A) e para a adubação potássica (Figura 24 A), apresentando ajuste ao modelo quadrático de regressão. Para os níveis de irrigação, observou-se que o menor número de dias para a floração foi obtido para o nível de irrigação de 113,27%, com 39 dias após a semeadura (Figura 23 A). De acordo com Spehar; Teixeira e Santos (2001), a floração da quinoa (Figura 23 B) ocorre aos 45 DAS, assim, os resultados apontam que ocorreu uma antecipação floral em seis dias com o uso da irrigação. 48 A B FIGURA 23. Número de dias para a floração em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NDF – Número de Dias Para a Floração; NI – Níveis de Irrigação. *Significativo a 5%, **Significativo a 1% (A) Panícula de quinoa em florescimento aos 40 dias após a semeadura (B). O controle do suprimento de água pode determinar a época e a uniformidade de floração. Resultados semelhantes também foram encontrados por Figueiredo et al. (2006) no cultivo da banana prata anã, no qual o tratamento com o nível de irrigação de 120% da Eto proporcionou antecipação da floração. Almeida et al. (2002) também observaram efeito positivo com o aumento do nível de irrigação na diferenciação floral, não corroborando com Carvalho et al. (2010), em estudo com o maracujazeiro-amarelo, no qual níveis de irrigação com tensões maiores que 60 kPa, promoveu antecipação do início da floração aos demais tratamentos com níveis de irrigação. Para a adubação potássica, houve ajuste ao modelo de regressão quadrática, no qual observa-se que o menor número de dias para a floração (38 dias), foi obtido para a dose de potássio de 306,06 mg dm-³ de K2O (Figura 24 A). Observa-se que doses mínimas e máximas atrasam o início da floração (Figura 24 B), influenciando também o início da colheita. Costa, Cañizares e Goto (2001) também observaram que os níveis de potássio influenciaram significativamente o início da floração, pois baixas doses provocam atrasos na floração do pepino, assim como no maracujazeiro (RUGGIERO et al., 1996; QUAGGIO e PIZZA-JR., 1998). 49 A B FIGURA 24. Número de dias para a floração, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NDF – Número de Dias Para a Floração; K – Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Quinoa no período inicial do florescimento (B). A floração da quinoa no equador ocorre em média 53 dias após a semeadura, sendo dependente do genótipo (WAHLI, 1990) e do fotoperíodo. O fotoperíodo é um dos fatores mais importantes, uma vez que afeta o desenvolvimento das culturas, mas sua principal influência está na indução ao florescimento, e consequentemente, na data de ocorrência da floração (MAXIMIANO, 2014). De acordo com os dados coletados da estação meteorológica (INMET, 2015) instalada no Campus da Universidade, durante os primeiros 60 dias após a semeadura, período em que todas as plantas tinham florescido, o fotoperíodo observado foi de <10h de ocorrência. Bertero et al. (1999) observaram que a cultura apresenta resposta fisiológica, como a indução ao florescimento e a duração do período reprodutivo, afetando também o desenvolvimento das sementes, à ocorrência de dias curtos. Galdames (2010), estudando os diferentes fotoperíodos no desenvolvimento da quinoa, percebeu que o aumento do fotoperíodo nos primeiros 60 DAS, reduz drasticamente o florescimento pode aumentar o número de dias para a formação da flor em até 70% para um fotoperíodo de 13h. Sivori (1947), estudando variedades cultivadas próximo à região do Equador, evidenciou que a quinoa necessita de pelo menos 15 dias mais curtos, com fotoperíodo de 10h para antecipar a iniciação floral. 50 4.7 Massa Seca de Parte Aérea Para a massa seca de parte aérea (Figura 25 B) ocorreu efeito significativo com ajuste ao modelo quadrático de regressão. Para a dose de potássio de 534,7 mg dm-3 de K2O foi obtida a máxima produção de massa seca da parte aérea, com 33,1 g planta-1 (Figura 25 A). O potássio proporcionou um incremento de 44,8%, na massa seca da parte aérea quando comparada à máxima produção com o tratamento com ausência de potássio. A B FIGURA 25. Massa seca da parte aérea aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MSP – Massa Seca da Planta; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% e *Significativo a 5% (A) Quinoa no final do ciclo vida, um dia antes da colheita (B). Rosolem et al. (2012), observaram que a adubação potássica contribuiu com a produção de massa seca da parte aérea de Braquiária (B. ruziziensis). O aumento da massa seca da planta em função da adubação potássica também pode ser observada em estudos realizados por Coutinho et al. (2014) e Haby; Stewart; Leonard (2008). Segundo Souza et al. (2010) o potássio promove a abertura e fechamento estomático, e esse fechamento bloqueia o fluxo de CO2 para as folhas, o que afeta o acúmulo de fotoassimilados, e pode reduzir a produção. Por outro lado, quando a planta está bem nutrida, responde positivamente às condições mais favoráveis de água no solo, mantendo taxas fotossintéticas elevadas, proporcionando maior produção de fotoassimilados e implicando em maior produção. 51 4.8 Massa Seca de Raízes A massa seca de raízes (Figura 26 B) apresentou efeito isolado para as doses de potássio (Figura 26 A), com ajuste ao modelo linear de regressão. A maior produção de massa seca de raízes (8,8 g planta-1) foi observada na maior dose do intervalo experimental (600 mg dm-3 de K2O). Eshel e Waisel (1996) ressaltam que o estado nutricional da planta, em especial a adubação potássica, tem influência nas propriedades de crescimento de suas raízes, como também foi observado neste estudo. A B FIGURA 26. Massa seca de raízes aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MSR – Massa Seca de Raízes; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Separação da massa seca de raízes e o solo, após a colheita do experimento (B). Desta maneira, uma adubação adequada faz com que se tenha uma maior produção de raízes e consecutivamente uma maior produção da parte aérea, devido a melhor absorção de água no solo (GONÇALVES et al., 2014). 4.9 Massa de 100 Grãos Para a massa de cem grãos (MCG) observou-se efeito isolado para as doses de potássio, ajustando a modelo linear de regressão. Verificou-se que a massa de mil grãos reduziu conforme aumentou-se as doses de potássio. Para a dose de 600 mg dm-3 de potássio, a MCG foi de 2,48 g planta-1, quando comparado com o tratamento com ausência de potássio, no qual obteve uma MCG de 2,8 g planta-1 (Figura 27). 52 Diferentemente para a soja, outra cultura C3, assim como a quinoa, o peso de 100 sementes apresenta efeito negativo com a baixa disponibilidade de potássio. FIGURA 27. Massa de 100 grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MCG – Massa de 100 Grãos; K - Potássio. *Significativo a 5%. A absorção do nutriente tende a atingir um nível crítico, a partir do qual há uma pequena resposta na produção, de forma que ultrapassando tais limites, consequências negativas podem ser geradas como queda no crescimento e desenvolvimento das plantas (MALAVOLTA et al., 1997). Assim, a resposta linear decrescente da massa de 100 grãos, pode estar relacionada à toxidez gerada pelo potássio adicionado no solo. 4.10 Produção de Grãos Para a produção de grãos, houve efeito isolado para a adubação potássica (Figura 28) e os níveis de irrigação (Figura 29), com ajuste ao modelo quadrático de regressão. Para os tratamentos com potássio, a dose de 350,3 mg dm -3 de K2O foi a que proporcionou a máxima produção de grãos (16, 3 g planta-1) (Figura 28). Zaratin et al. (2004) estudando cultivares do arroz, verificaram que o potássio participa do enchimento de grãos, em decorrência de suas múltiplas funções, reduz o número de grãos chochos, e proporciona assim, maior produção. Os resultados corroboraram também com Barbosa Filho e Fonseca (1994), que relataram o efeito do potássio para obtenção de maior produção de grãos cheios. 53 FIGURA 28. Produção de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MG – Massa de Grãos; K - Potássio. ***Significativo a 0,1%. Para os níveis de irrigação, observou-se que a máxima produção de grãos (14,7 g planta-1) foi obtida para o nível de irrigação de 103,4% (Figura 29), com incremento de 29,3% quando comparado com o tratamento com de 50% do nível de irrigação. FIGURA 29. Massa de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). MG – Massa de Grãos; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. Os resultados do presente estudo estão próximos aos que foram encontrados por Locatelli (2014) que verificaram a máxima produção de grãos com valores de níveis de irrigação de 94% no cultivo do feijão-caupi no Cerrado. O manejo de irrigação influência de forma positiva ao aumento da produção de grãos no cultivo da quinoa, resultando em um incremento de 73% em relação ao tratamento sem irrigação (CASAS, 2012). Desta maneira, conforme Arf et al. (2004) 54 o déficit de hídrico no período vegetativo reduz o crescimento das plantas e conseqüentemente a produção de grãos. 4.11 Número de Grãos Em relação ao número de grãos da quinoa, observou-se efeito isolado tanto para a adubação potássica, quanto para os níveis de irrigação com ajuste ao modelo quadrático de regressão (Figura 30 A). Para as doses de potássio o maior número de grãos (5.928 grãos planta-1) foi observado na dose de 371,9 mg dm-3 de K2O (Figura 30 A). FIGURA 30. Número de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NG – Número de Grãos; K - Potássio. ***Significativo a 0,1% (A) Panícula de quinoa com grãos expostos prontos para colheita (B). O potássio influencia nas várias fases do desenvolvimento da cultura da quinoa, assim como na do arroz, devido atuar na formação da panícula (Figura 30 B) e consequentemente na formação do número e peso dos grãos (FAGERIA, 1984). Em relação aos níveis de irrigação, o nível de 99,6% proporcionou maior número de grãos (5.430 grãos planta-1), com incremento de 25,3% quando comparado com o tratamento com nível de irrigação de 50% (Figura 31). 55 FIGURA 31. Número de grãos aos 129 dias após a semeadura, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). NG – Número de Grãos; NI – Níveis de Irrigação. ***Significativo a 0,1%. Os resultados do presente estudo estão próximos aos de Torres et al. (2013) que encontraram maior número de grãos quando a reposição de água foi de 115% e Locatelli (2014) que encontrou o máximo número de grãos com valores de níveis de irrigação de 108% no cultivo do feijão-caupi no Cerrado. O fornecimento de quantidades adequadas de água é um dos fatores fundamentais na produção das culturas, pois tanto o excesso quanto o déficit podem prejudicar o desenvolvimento e a produtividade das culturas (ARF et al., 2004), e o excesso de água, como de níveis de irrigação acima de 120%, podem provocar deficiência de oxigênio no solo (TORRES et al., 2013). 4.12 Eficiência do Uso da Água O consumo máximo de água (38,5 L vaso-1),foi observado no nível de irrigação de 150% (Tabela 3). A eficiência do uso da água (EUA) pela quinoa houve efeito significativo das doses de potássio (Figura 32) e dos níveis de irrigação (Figura 38) isoladamente, com ajuste dos resultados a modelo quadrático e linear de regressão, respectivamente. Koetz et al. (2006) também observaram que doses de potássio e a frequência de irrigação influenciaram na eficiência do uso da água de forma positiva, na cultura da alface. 56 TABELA 3. Níveis de reposição e volume de água. Níveis de Irrigação (%) 50% 75% 100% 125% 150% Total Irrigado (L Vaso-1) 12,96 19,44 25,92 32,4 38,5 Para a adubação potássica, a máxima eficiência do uso da água foi observada na dose de 375,1 mg dm-3 de potássio, com incremento de 49,7% quando comparado com o tratamento com ausência de potássio (Figura 32). De acordo com Ernani; Almeida; Santos (2007) é esperado que o potássio exerça grande influência na eficiência do uso da água, pois esse nutriente é muito importante na manutenção de água na planta, por meio do controle da abertura e fechamento dos estômatos, ao reduzir a transpiração, assim promovendo a mínima perda de água possível durante a absorção de CO2 para realização da fotossíntese (PIMENTEL, 2004). Desta forma, o potássio quando disponibilizado no solo, favorece a qualidade da planta devido ao aumento da eficiência da fotossíntese e à ótima eficiência do uso da água (VIANA, 2007). FIGURA 32. Eficiência do uso da água, em função das doses de K2O em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). EUA – Eficiência no Uso da Água; K Potássio. *** Significativo a 0,1%. Para os níveis de irrigação, é possível observar que seu aumento proporcionou a quinoa uma redução do aproveitamento da água disponível no solo, que assim produziu uma menor quantidade de massa seca. Observa-se que o nível de 150% de irrigação proporcionou 0,6 g L-1 de eficiência do uso da água (Figura 57 33). A maior EUA foi observada no nível de irrigação de 50% (2,1 g L-1). Araujo et al. (2010) também observaram no cultivo da alface a diminuição linear com o acréscimo da irrigação aplicada na eficiência do uso da água. FIGURA 33. Eficiência do uso da água, em função dos níveis de irrigação em Chenopodium quinoa (Rondonópolis, MT, 2015). EUA – Eficiência no Uso da Água; NI – Níveis de Irrigação. *** Significativo a 0,1%. Conforme resultados pode-se afirmar que a quinoa é resistente a seca, pois de acordo com Solomon e Labuschagne (2004) a resistência à seca está associada à alta eficiência do uso da água. Em outra cultura C3, como no café, a maior eficiência com maior resistência a seca foi associada com raízes mais profundas, assim como o sistema radicular da quinoa, e presumivelmente a maior eficiência do uso da água (PINHEIRO et al., 2005). 58 5. CONCLUSÕES Para as características fitométricas (Altura de planta, número de folhas, diâmetro do caule e área foliar) são necessários um intervalo de doses de potássio (K2O) de 270 a 330 mg dm-3 e níveis de irrigação de 50 a 100% para maximizar a produção. A adubação potássica reduz os dias para a floração com doses de potássio (K2O) de 306,1 mg dm-3 e níveis de irrigação de 113,27%, e proporciona máximo índice de clorofila com doses de potássio (K2O) de 198,4 mg dm-3, e níveis de irrigação de 50%. Para a massa seca da parte aérea e raiz são necessários intervalos de potássio (K2O) de 530 a 600 mg dm-3 para maximizar a produção dos mesmos. O intervalo de doses de potássio necessário para maximizar as características produtivas (massa de 100 grãos, produção de grãos, número de grãos e eficiência no uso da água) é de 350 a 376 mg dm-3 K2O e níveis de irrigação entre 50 e 105%. 59 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRINO, E.; JÚNIOR, D. N.; MOSQUIM, P. R.; REGAZZI, A. J.; ROCHA, F. C. Características Morfogênicas e Estruturais na Rebrotação da Brachiaria brizantha cv. Marandu Submetida a Três Doses de Nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 6, p. 1372-1379, 2004. ALMEIDA, O. A.; SOUZA, L. F. S.; REINHARDT, D. H.; CALDAS, R. 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