Resolução dos Exercı́cios 21/06 - 23/06. Lembre-se que um corpo de decomposição de P (X) ∈ Q[X] é dado por Q(u1 , . . . , ur ) onde u1 , . . . , ur são todas as raizes complexas de P (X). 1. Calcule o grau de um corpo de decomposição de √ (a) X 2 −√2 sobre √ Q. As√raizes são ± 2 logo um corpo de decomposição é Q( 2, − 2) = Q( 2) que tem grau 2 sobre Q. (b) X 3 − 1 sobre Q. Temos X 3 − 1 = (X − 1)(X 2 + X + 1). As raizes complexas de X 3 − 1 são as raizes cúbicas da unidade, isto é, 1, ρ = √ √ 3 1 − 2 + i 2 e ρ = − 12 − i 23 . Assim um corpo de decomposição é Q(1, ρ, ρ2 ) = Q(ρ). Como o polinômio minimal de ρ sobre Q é X 2 + X + 1, o grau de Q(ρ) sobre Q é 2. (c) X 3 + 1 sobre complexas de √ α = 21 − i 23 . que tem grau Q. Temos X 3 + 1 = (X + 1)(X 2 − X + 1). As raizes √ X 3 + 1 são as raizes cubica de −1, isto é, α = 21 + i 23 , √ Logo um corpo de decomposição é Q(1, α, α) = Q(i 3) 2 sobre Q. √ √ 4 (d) X −2 sobre Q. As raizes complexas de√X 4 −2 são√± 4 2 e ±i 4 2, assim √ 4 um corpo de√decomposição é Q( 2, i 4 2) = Q( 4 2, i). √ √ √ Pela formula 4 4 4 do grau [Q( √2, i) : Q] √ = [Q( 2)(i) : Q( 2)] · [Q( 4 2) : Q] = 4d onde d = [Q( 4 2)(i) : Q( 4 2)] (pois X 4 − 2 é irredutı́vel em √ Q[X] pelo critério de Eisenstein). Como i é raiz de X 2 + 1 e i 6∈ Q( 4 2) obtemos d = 2 logo o grau de um corpo de decomposição de X 4 − 2 sobre Q é 4 · 2 = 8. √ (e) X 4 + 1 sobre Q. As raizes complexas de X 4 + 1 são 22 (±1 ± i) logo √ um corpo de decomposição é Q( 2, i) que tem grau 4 sobre Q como visto no exercı́cio 28 da lista anterior. 2 2 (f) (X 2 −√2)(X 2√ − 3) sobre Q. As raizes complexas de (X √ − √2)(X − 3) são ± 2 e ± 3 logo um corpo de decomposição é Q( 2, 3) que tem grau 4 sobre Q como visto na aula do 9 de junho. 2. Seja F um corpo finito e veja ele como extensão de Fp . Mostre que existe α ∈ F tal que F = Fp (α). [Dica: F ∗ é cı́clico.] Seja α um gerador do grupo multiplicativo cı́clico F ∗ , assim todo elemento não nulo de F é uma potência de α. As potências de α pertencem a Fp (α) ⊆ F , logo Fp (α) = F . 3. Seja F um corpo finito. Mostre que existe um ideal I de Z[X] tal que Z[X]/I ∼ = F . [Dica: Se trata de construir um homomorfismo sobrejetivo Z[X] → F e aplicar o teorema de isomorfismo. Use o exercı́cio anterior.] Pelo exercı́cio anterior F = Fp (α) para algum α ∈ F . Seja P (X) o polinômio minimal de α sobre Fp . Sabemos que F = Fp (α) ∼ = Fp [X]/(P (X)). A redução módulo p dá um homomorfismo sobrejetivo f : Z[X] → Fp [X]. 1 A composição dos homomorfismos sobrejetivos f e Fp [X] → Fp [X]/(P (X)) (projeção canonica) e do isomorfismo Fp [X]/(P (X)) ∼ = F dá então um homomorfismo sobrejetivo g : Z[X] → F . Pelo teorema de isomorfismo Z[X]/I ∼ = F onde I = ker(g). 4. Um corpo F é dito algebricamente fechado se todo polinômio P (X) ∈ F [X] admite uma raiz em F . Mostre que os corpos finitos não são algebricamente fechados. Escreva F = {a1 , . . . , an }. O polinômio (X − a1 )(X − a2 ) · · · (X − an ) + 1 não tem raizes em F . 5. Mostre que o isomorfismo de Frobenius Fp → Fp é a identidade. Se trata do pequeno teorema de Fermat. Se a ∈ F∗p então |F∗p | = p − 1 assim ap−1 = 1 logo ap = a, que vale também quando a = 0. Logo ap = a para todo a ∈ Fp . 6. Mostre que F3 é um corpo de decomposição de X 3 − X sobre F3 . De fato, temos X 3 − X = X(X − 1)(X + 1), as raizes são 0, 1 e −1 e F3 é obviamente igual a F3 (0, 1, −1). 7. Seja F = F2 [X]/(X 2 + X + 1). Mostre que F é um corpo de decomposição de Y 2 + Y + 1 sobre F2 . Seja α = X + I onde I = (X 2 + X + 1). Sabemos que α é raiz de Y 2 + Y + 1. Fazendo a divisão com resto de Y 2 + Y + 1 por Y − α obtemos Y 2 + Y + 1 = (Y − α)(Y − (α + 1)) logo F = {0, 1, α, α + 1} (que é obviamente igual a F2 (α, α + 1)) é um corpo de decomposição de Y 2 + Y + 1 sobre F2 . 8. Seja F = F2 [X]/(X 2 + X + 1) = {0, 1, α, α + 1} onde α = X + I, onde IQ= (X 2 + X + 1). F é um corpo com 4 = 22 elementos, e sabemos que 4 a∈F (X − a) = X − X. Faça essa conta explicitamente. Lembrando que α2 = α + 1 temos X(X − 1)(X − α)(X − (α + 1)) = (X 2 − X)(X 2 −(α+1+α)X +α(α+1)) é igual a (X 2 −X)(X 2 −X +1) = X 4 −X. 9. Seja F = F2 [X]/I onde I = (X 3 + X + 1) e seja α = X + I. Mostre que |F | = 8. Mostre que α é um gerador de F ∗ (lembrando que |F ∗ | = 7 é um número primo). Mostre que (X − α)(X − α2 )(X − α4 ) = X 3 + X + 1. F é um corpo pois X 3 +X +1 é irredutı́vel (tem grau 3 e não tem raizes em F2 ), a cardinalidade é 23 = 8 pois F tem caracterı́stica 2 dimensão 3 sobre F2 . O grupo cı́clico F ∗ tem ordem 7 que é primo logo todo elemento de F ∗ diferente de 1 é um gerador de F ∗ , em particular α. Temos α3 = α + 1 logo α4 = α3 α = (α + 1)α = α2 + α. Então (X − α)(X − α2 )(X − α4 ) = (X 2 − (α + α2 )X + α + 1)(X − (α + α2 )) = X 3 − (α + α2 + α + α2 )X 2 + ((α + α2 )2 + α + 1)X − (α + 1)(α + α2 ) = X 3 + X + 1. 2 10. Escreva a fatoração em irredutı́veis de (a) X 7 − X em F7 [X]. Q Pela teoria X 7 − X = a∈F7 (X − a) logo X 7 − X = X(X − 1)(X − 2)(X − 3)(X − 4)(X − 5)(X − 6). (b) X 4 −X em F2 [X]. Temos X 4 −X = X(X 3 −1) = X(X−1)(X 2 +X+1) e os fatores são irredutı́veis em F2 [X]. (c) X 9 − X em F3 [X]. [Dica: se F é um corpo com 9 elementos e β ∈ F então o grau [F3 (β) : F3 ] divide [F : F3 ] = 2, assim o polinômio minimal de β sobre F3 tem grau 1 ou 2, logo os fatores irredutı́veis de X 9 − X são os polinômios mônicos irredutı́veis de grau 1 ou 2 em F3 [X].] Seguindo a dica (observe que pela teoria todo elemento de F é raiz de X 9 − X !), se trata de fazer a lista dos polinômios mônicos irredutı́veis de grau 1 e 2 em F3 [X]. Os polinômios mônicos irredutı́veis de grau 1 são X, X − 1 e X − 2. Os polinômios mônicos irredutı́veis de grau 2 são X 2 + 1, X 2 + X + 2, X 2 + 2X + 2. Logo X 9 − X = X(X − 1)(X − 2)(X 2 + 1)(X 2 + X + 2)(X 2 + 2X + 2). 11. Conte os subcorpos de F2 [X]/(X 3 + X + 1). Se trata de um corpo de cardinalidade 23 , logo ele tem 2 subcorpos (pois 3 tem dois divisores: 1 e 3). 12. Seja F um corpo de cardinalidade 64. Conte os subcorpos de F . Como 64 = 26 , o número de subcorpos de F é igual ao número de divisores de 6, ou seja 4 (os divisores de 6 são 1, 2, 3, 6). 13. Sejam p um número primo e n um inteiro positivo. Mostre que existe P (X) ∈ Fp [X] irredutı́vel de grau n. [Dica: sabemos que existe um corpo F de cardinalidade pn . Seja α um gerador do grupo cı́clico F ∗ . Observe que F = Fp (α) e considere o núcleo de vα : Fp [X] → F , vα (P (X)) = P (α).] Seguindo a dica temos I = ker(vα ) = (P (X)) para algum polinômio P (X) (que é o polinômio minimal de α sobre Fp ) e pela teoria Fp [X]/I ∼ = Fp (α) = F tem pn elementos, logo ele tem dimensão n sobre Fp . Assim P (X) é irredutı́vel e tem grau n. Em outras palavras, como [Fp (α) : Fp ] = n, o polinômio minimal de α sobre Fp tem grau n. 14. Sejam F corpo finito e P (X) = X 5 + 4X 3 + X 2 + 2X + 4 ∈ F [X]. Mostre que 1 é raiz multipla de P (X) se e somente se F tem caracterı́stica 3. A derivada formal de P (X) é 5X 4 + 12X 2 + 2X + 2. 1 é raiz múltipla de P (X) se e somente se é raiz de P (X) e de P 0 (X), assim 0 = P (1) = 12 e 0 = P 0 (1) = 21, assim 3 = 2 · 12 − 21 = 0. Logo F tem caracterı́stica 3. Vice-versa se 3 = 0 então P (1) = 12 = 0 e P 0 (1) = 21 = 0. 3 15. BONUS. Seja F um corpo, e seja P (X) ∈ F [X]. Defina fP : F → F , fP (a) := P (a). fP é dito “função polinomial associada a P ”. Seja C o conjunto de todas as funções F → F . Considere a função ϕ : F [X] → C, P 7→ fP . Mostre que: (a) ϕ é injetiva se e somente se F é infinito. [Dica: mostre que se F é n finito de cardinalidade pn então ϕ(X p − X) = 0.] (b) ϕ é sobrejetiva se e somente se F é finito. [Dica: mostre que C é um anel com as operações (f + g)(x) = f (x) + g(x) e (f g)(x) = f (x)g(x), que ϕ é homomorfismo de aneis e que se F é finito de cardinalidade n pn então ker(ϕ) = (X p − X).] (a) (⇒). Se ϕ é injetiva então F é infinito. De fato se F é finito de cardin n nalidade pn então ϕ(X p − X) é igual à função nula, pois ap = a para todo n n a ∈ F . Assim ϕ(X p − X) = ϕ(0), por outro lado X p − X 6= 0. Logo ϕ não é injetiva. (a) (⇐). Se F é infinito então ϕ é injetiva. De fato se ϕ(P (X)) = ϕ(Q(X)) então P (a) = Q(a) para todo a ∈ F , assim o polinômio H(X) = P (X) − Q(X) é tal que H(a) = 0 para todo a ∈ F . Se F é infinito então H(X) tem infinitas raizes, logo H(X) = 0 (o número máximo de raizes de um polinômio não nulo é o grau do polinômio). (b) (⇒). Se ϕ é sobrejetiva então F é finito. De fato se F é infinito então a função f : F → F definida por f (0) = 1 e f (x) = 0 para todo x ∈ F − {0} não é uma função polinomial (é não nula e admite infinitas raizes). Logo ϕ não é sobrejetiva (não existe nenhum polinômio P (X) tal que ϕ(P (X)) = f ). (b) (⇐). Se F é finito então ϕ é sobrejetiva. Suponha F finito. É fácil mostrar que C é um anel (seguindo a dica) e que ϕ é um homomorfismo. Se P (X) ∈ ker(ϕ) então em particular PQ(a) = 0 para todo a ∈ F , logo X − a n divide P (X) para todo a ∈ F , assim a∈F (X − a) = X p − X divide P (X). n Isso mostra que ker(ϕ) = (X p − X). Pelo teorema de isomorfismo a imagem n de ϕ é isomorfa a F [X]/(X p − X), que é um espaço vetorial de dimensão pn n sobre F (uma base é dada pelos elementos X k + I onde I = (X p − X) e k = 0, . . . , pn − 1), logo |Im(ϕ)| = |F ||F | . Por outro lado |C| = |F ||F | , logo Im(ϕ) = C, ou seja ϕ é sobrejetiva. 4