Análise Matemática Cap 0 – Demonstrações Uma construção Matemática qualquer necessita de certos itens básicos: Primeiro: Temos o conjunto de objetos, lembrando que para definirmos os conjuntos podemos apresentar seus elementos explicitamente, ou podemos apresentar uma regra através da qual diferenciamos dentro de um universo (conjunto maior) escolhido quais os elementos que observam tal regra e portanto pertencem ao grupo ou quais e quais os que não observam e portanto não pertencem. Estaremos no que segue interessados nos conjuntos numéricos. Exemplo: Consideran do U (Universo ) N (naturais) , P ( pares ) x 2n, para n N I (ímpares ) y 2n 1, para n N Segundo: Este conjunto pode relacionar-se com outros conjuntos e até consigo próprio de formas especificas. a)r1(P)→N r1(x)= rest[(x+2)/4], onde rest[a/b] é o resto da divisão b)r2(C)→C, r2(x)=x2 Dentro deste panorama começamos então a procurar especificidades dos elementos do conjunto mediante o resultado das relações deste conjunto com outros ou com ele mesmo. Passamos também a fazer conjecturas sobre as propriedades de certos elementos mediante o resultado das relações, ou também, inversamente, passamos a verificar se os elementos que satisfazem certas especificidades nas relações gozam de certas propriedades. Formalmente desejamos verificar se os elementos de C que satisfazem uma série de hipóteses p1, p2, p3, ..., pn, verificam uma certa tese Q. Em termos da linguagem de lógica proposicional desejamos verificar se: p1 p2 ...pn Q Exemplo: Se x P então x 2 P onde P é o conjunto dos pares. No caso as hipóteses (p1 e p2) são: x é natural e x é par, e a tese (Q) é:x2 é par. É neste ponto que entram as chamadas demonstrações. Basicamente temos 3 tipos de demonstrações:direta, por contradição (ou por absurdo), por contraposição. a)Direta: Tomamos os elementos que satisfazem as hipóteses p1, p2, p3, ..., pn e verificamos se pode-se concluir diretamente que estes também verificam necessariamente Q. Ex: Desejamos demonstrar que o exemplo b acima é verdadeiro, ou seja que dado um número par, o quadrado dele também é par Hipóteses: x é um número natural par: ou seja x=2.n para algum n natural. Tese: x2 também é par, ou seja x2=2.m, para algum m natural Dem: Partindo das hipóteses desejamos obter o resultado da tese. Então, como x=2.n, x2=(2.n)2=4.n2=2.(2 n2) Logo, considerando como (2 n2) é natural pois é o produto de números naturais, então: x2=2.m, para m=2.(2 n2), e chegamos na tese diretamente a partir das hipóteses. b)Por Contradição: Construímos a negação da conclusão que desejamos verificar (~Q), assumimos esta negação juntamente com todas as demais hipóteses p1, p2, p3, ..., pn . Então devemos obter uma contradição por conclusão. p1 p2 ...pn ~ Q C (certifique-se que este argumento faz sentido para você) Ex: Vamos demonstrar que se x for um número par então x.y é par para qualquer y N por contradição. Começamos listando as hipóteses, no caso x é natural par, y é natural qualquer, ou seja: (p1) x=2.n e y N Devemos então negar a tese ou seja assumir que x.y seja ímpar, ou seja: (~Q) x.y=2m+1 Juntando os fatos (p1^~Q) (2.n).y=2m+1 2(n.y)=2m+1 Como n e y são naturais e o produto de dois naturais é um natural, e ainda como 2 vezes qualquer natural é um natural par, então do lado esquerdo da equação acima temos um número par e do lado esquerdo um ímpar. Chegamos então a uma contradição. Então demonstramos que (x=2.n) e ( y N ) (x.y=2.m), para n e m naturais c)Por Contraposição: Nas demonstrações por contraposição usamos um resultado da Lógica Matemática, qual seja: Se P Q, então ~ Q ~ P No caso se considerarmos P p1 p2 ...pn a coleção de hipóteses, então demonstrar mos p1 p2 ...pn Q equivale a demonstrar mos ~ Q ~ ( p1 p2 ...pn ) Ou seja a negação da tese implica na negação do conjunto de hipóteses. Exemplo: Desejamos demonstrar que: Se x2 for ímpar, então x é ímpar. Hip.: x2=2n+1 para algum n N Tese: x=2m+1 para algum m N Para demonstrar por contraposição mostramos que: ~(x=2m+1) ~(x2=2n+1) (negação da teses) (negação da Hipótese) Ou seja desejamos demonstrar que se x é par, então x2 é par. Mas isso já demonstramos diretamente no exemplo (a). Exercícios: 1) Demonstre que: a) Se x for natural ímpar então x2 também é ímpar b) Se x e y for ímpar então xy também é ímpar c) Se x for par então xy é par, para qualquer y natural d) Se x é par e y é ímpar então (x+y) é ímpar e) A soma de x com o seu quadrado é par f) Se xy for ímpar então x é ímpar e y é ímpar g) Se dois inteiros são divisíveis por algum natural n, então a soma deles é divisível por n h) Se o produto de dois naturais não é divisível por n então nenhum deles é divisível por n. i) Se x é par e primo, então x=2 j) Se M for a média aritmética de n números x1, x2, ... xn, então pelo menos um deles é maior ou igual a M. Referência bibliográfica: Fundamentos Matemáticos para Ciência da Computação, Judith L. Gersting, LTC