a accademia supply & demand chain ANÁLISE DE TRADE OFF: Custos de Estocagem x Custos de Ruptura É notório a todas as empresas - por mais estáveis e enxutas que sejam - que as incertezas e flutuações do mercado estão tornando a tarefa de balancear a oferta e a demanda cada vez mais complicada. A grande variedade de produtos, a customização exigida pelos consumidores, a flexibilidade e agilidade imposta pelos curtos prazos de entrega e tantos outros fatores criados pela complexidade do mercado acarretam em um problema na hora de acertar a quantidade e variedade de produtos que irão ser produzidos de forma a atender exatamente a necessidade da demanda. O fato de não acertar a demanda, tanto para mais como para menos, gera um custo. Caso se produza a mais do que o mercado deseja, os custos de estocagem serão inevitáveis. Caso se produza a menos, surgem os custos de falta. Custos esses que, com certeza, não fazem parte dos objetivos traçados pelo orçamento anual do financeiro, nem tão pouco das metas estabelecidas para o comercial, e muito menos dos indicadores de produção. Visando conscientizar os gestores da existência e criticidade desse desbalanceamento, o presente artigo aborda de uma forma simplificada o trade off existente entre o produzir a mais ou a menos do que a demanda exige, ou seja, os custos de estocagem e os custos de ruptura. Custos de Estocagem Para efeitos didáticos, os Custos de Estocagem serão divididos em 4 categorias: Custos de Capital, Custos de Armazenagem, Custos Associados ao Tempo e Custos de Ineficiência. A primeira categoria de custos associados à existência de estoques são os custos de capital, ocasionados por compras de materiais e insumos desnecessários. Esse material poderia ser adquirido em um período de tempo posterior, o que faz com que se tenham recursos parados que poderiam ser investidos em outros locais. O custo de capital mínimo existente pode ser determinado pelo rendimento que o capital parado teria se fosse aplicado em uma poupança. Também pode ser calculado através da taxa de juros paga caso a compra do material tenha sido efetuada através de empréstimos. Esse custo pode ser maior se as aplicações fossem realizadas em outros meios, como por exemplo na bolsa de valores, novas máquinas ou novos funcionários. Esse conceito também é conhecido como custo de oportunidade, que resulta do fato de se ter uma perda de rendimento em função de uma escolha. Ainda dentro dos custos de capital, podem ser incluídos os custos com impostos e seguros. A segunda categoria de custos associados à estocagem são os custos de armazenagem. Estão envolvidos nessa classe os custos ocasionados pela existência física dos bens como, por exemplo, custos com locação, equipamentos de movimentação e manuseio, salários de funcionários, custos de conservação (climatização, iluminação, etc). Esses custos normalmente são diretamente proporcionais à quantidade em estoque (quanto maior o estoque, maiores serão os custos envolvidos) e também dependem do produto em questão. Por exemplo, os custos de conservação na estocagem de congelados ou de componentes eletrônicos são muito maiores do que os custos de conservação na estocagem de materiais brutos de extração como carvão e madeira. Também podem ser incluídos nos custos de armazenagem os associados aos riscos de o produto estar presente e parado em um local como, por exemplo, furtos e roubos. A terceira categoria são os custos associados ao tempo em que o material fica estocado. Esses custos podem ser por: obsolescência (perda de utilidade por surgimento de um produto ou serviço mais avançado tecnologicamente), por deterioração (envelhecimento gradual do produto devido a diferentes causas), por perecibilidade (fato de um bem deixar de possuir a qualidade mínima necessária devido ao tempo decorrido desde sua fabricação) e por depreciação (perda progressiva de valor de um produto ou serviço causado pelo uso ao longo do tempo). Por exemplo, ao se estocar computadores durante um período longo de tempo, são geradas perdas por obsolescência devido à velocidade com que as tecnologias se desenvolvem nessa área. Outro exemplo seriam os custos de perecibilidade gerados na estocagem de alimentos, podendo causar até a perda total do produto. A última categoria associada aos custos de estocagem é mais difícil de ser identificada e contabilizada, pois envolve os custos de ineficiência da organização que são ocultados devido aos altos níveis de estoque. O motivo pelo qual as organizações geram estoque é para se protegerem contra as flutuações da demanda. Entretanto, a Responda sob demanda essa “segurança” pode estar impedindo a empresa de identificar ineficiências na sua produção, pois ela está, aparentemente, suprindo sua demanda de forma correta. Custos de Ruptura Os Custos de Ruptura, também denominados Custos de Falta ou Custos da Venda Perdida, vão muito além da perda da margem de contribuição unitária (MCU) que a empresa deixou de ganhar devido à falta do produto. A perda da margem de contribuição é a fatia do lucro que a empresa poderia ter ganhado se aquele produto estivesse pronto para ser comercializado, e essa fatia é determinada pelo preço do produto subtraído dos custos envolvidos na produção do mesmo (sem considerar os custos fixos, existentes independentemente da disponibilização do produto). Além dessa perda, podem ser gerados custos devido a multas, encargos e penalizações devido ao não cumprimento do prazo de entrega acordado com o cliente. Com esse atraso são geradas backorders, que acumulam clientes em uma fila de espera que vai se prolongando dia após dia. Esses atrasos no produto acabado normalmente são ocasionados por atrasos em processos internos à produção. Para evitar essas perdas as empresas costumam envolver outro tipo de custos: as compras de emergência para substituição de materiais. Ou seja, se não existe o recurso ou o insumo necessário para continuar a produção, dá-se um jeito de trazê-lo. Essa solução momentânea pode ter altos custos envolvidos como, por exemplo, entregas por frete diferenciado (aéreo ou ferroviário), adiantamento de prazos de fornecedores, tamanhos de lotes diferenciados, etc. Apesar dos custos de ruptura citados até agora, os principais custos envolvidos na falta do produto são os imponderáveis. Os custos imponderáveis são normalmente intangíveis e imensuráveis, e afetam diretamente a percepção do nível de serviço do cliente. A falta do produto pode gerar uma perda de lucro por quebra de imagem da empresa e por depreciação da própria marca. Esse custo se alastra facilmente entre outros clientes, podendo afetar futuros compradores que nem mesmo tiveram alguma experiência de ruptura por parte da empresa. Conforme estatística relatada no livro Marketing de Relacionamento de Regis McKenna, uma experiência boa é repassada a aproximadamente 3 pessoas; entretanto, uma experiência ruim, é relatada a cerca de 10 pessoas. Além dos custos que a marca e a imagem da empresa sofrem devido à falta de produtos, existe também o custo da perda do cliente para a concorrência. Quando não se encontra o produto desejado, opta-se por um similar ou concorrente. Nesse momento existem grandes chances de o cliente gostar do produto alternativo experimentado e assim nunca mais voltar a comprar do seu produto. É impossível fidelizar um cliente se ele não encontra o produto desejado nas prateleiras. Tabela 1 – Previsto X Demandado do produto A Tabela 2 – Previsto X Demandado do produto B Na primeira situação a previsão de vendas foi otimista e, com isso, a produção se preparou para uma demanda que foi superestimada, gerando custos de estocagem. No segundo caso a situação se inverte, a previsão foi muito aquém do que o mercado desejava, gerando diversos clientes insatisfeitos e com isso, os custos de ruptura. Qual das situações acima parece a mais adequada? Qual delas será menos custosa? A verdade é que nenhuma das opções é desejada pelas empresas. Ambas trazem prejuízos. Dependendo do tipo de produto, do tipo de mercado alvo e da estratégia da empresa pode-se preferir uma opção em relação à outra. Mas o ideal é que o erro apresentado seja o menor possível, fazendo com que a previsão das vendas e o dimensionamento das operações chegue sempre o mais próximo possível da demanda real, reduzindo os custos por estocagem e por falta. Para a maioria das empresas essa realidade está muito distante; entretanto, tem crescido nos últimos anos os investimentos no Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, que visam maximizar a agregação de valor ao longo do processo de transformação de insumo para produto acabado, principalmente através do rompimento de barreiras entre departamentos e unidades da empresa. Sobre o autor: JAN DANIEL GOTTFRIDSSON é Engenheiro de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Consultor de Supply & Demand Chain na ACCERA Supply Chain Solution. Diariamente ele contribui para que empresas de grande e médio porte colaborem internamente e externamente e, dessa forma, diminuam os seus custos de estocagem e de rupturas. Mas afinal, é melhor estocar ou deixar faltar? Para obtermos uma resposta à pergunta acima, vamos analisar as seguintes tabelas, que ilustram uma comparação entre a previsão de vendas efetuada com a demanda real encontrada para dois produtos: a Responda sob demanda