Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP Escola de Minas Departamento de Engenharia de Controle e Automação - DECAT Dinâmica de Locomoção de Máquinas Caminhantes MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO Carlos Roberto de Araújo Ouro Preto Julho de 2005 Carlos Roberto de Araújo Dinâmica de Locomoção de Máquinas Caminhantes Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Federal de Ouro Preto como parte dos requisitos para a obtenção de Grau em Engenheiro de Controle e Automação. Orientador: Luiz de Siqueira Martins Filho Co-orientador: Ronílson Rocha Ouro Preto Escola de Minas - UFOP julho / 2005 iii iv “É uma lei imutável nos negócios que palavras são palavras, explicações são explicações, promessas são promessas – mas somente desempenho é realidade”. Harold S. Green “Mire o final e nunca páre para duvidar; nada é tão difícil, mas a busca irá descobri-lo”. Robert Herrick “É do senso comum capturar um método e experimentá-lo. Se ele falhar, admita isso com franqueza e experimente outro. Mas, acima de tudo, tente algo”. Franklin Delano Roosevelt v Este trabalho é de todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que a “jornada” continuasse. A todas essas pessoas, e especialmente a minha mãe, eu agradeço profundamente. vi SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ vii LISTA DE SIGLAS ...............................................................................................................viii RESUMO ............................................................................................................................... ix ABSTRACT.............................................................................................................................. x 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11 1.1. Origem do Trabalho ................................................................................................. 13 1.2. Justificativa e Importância do Trabalho .................................................................. 14 1.3. Objetivos ................................................................................................................... 15 1.3.1. Objetivo Geral ...................................................................................................... 15 1.3.2. Objetivos Específicos ............................................................................................ 15 2. ANDADURAS CONTÍNUAS E DESCONTÍNUAS ........................................................... 16 2.1 Andadura Descontínua de Duas Fases ........................................................................... 18 2.2 LSM – Uma Possibilidade de Abordagem ...................................................................... 18 3. ANDADURA TURNING E ANDADURA CRAB ............................................................... 21 3.1. Andadura Turning.......................................................................................................... 21 3.1.1. Seguindo Uma Trajetória Utilizando Andadura Turning........................................... 23 3.2. Andadura Crab .............................................................................................................. 25 3.2.1. Seguindo Uma Trajetória Utilizando Andadura Crab ............................................... 26 4. MÉTODOS ........................................................................................................................ 29 5. MODELO DINÂMICO PLANAR...................................................................................... 32 6. FASE DE TRANSFERÊNCIA DAS PERNAS ................................................................... 39 7. MÓDULO DE CONTROLE DO MOVIMENTO .............................................................. 42 7.1 Controle de Posição e Velocidade .................................................................................. 42 8. RESULTADOS DE SIMULAÇÕES .................................................................................. 45 9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................................... 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 51 vii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Andadura descontínua de duas fases .............................................................. 19 FIGURA 2 – Trajetória para uma andadura descontínua turning ...................................... 22 FIGURA 3 - Margem de estabilidade para uma andadura turning ..................................... 23 FIGURA 4 – Trajetórias das extremidades de pernas para andadura descontínua crab (casos A e B) ......................................................................................................................... 26 FIGURA 5 - Seguindo uma trajetória utilizando andadura descontínua crab .................... 27 FIGURA 6 – Definição de DSM e LSM ................................................................................ 30 FIGURA 7 – Modelo planar de um quadrúpede .................................................................. 32 FIGURA 8 - DSM durante fase de transferência (a = 5m/s²) .............................................. 40 FIGURA 9 – Descrição da andadura – primeira fase.......................................................... 40 FIGURA 10 – Controle de posição e velocidade ................................................................. 43 FIGURA 11 – Componentes z das forças de contato pé-solo............................................... 46 FIGURA 12 – DSM e LSM para a = 3 m/s2 ......................................................................... 47 FIGURA 13 – DSM e LSM para a = 5 m/s2 ......................................................................... 47 viii LISTA DE SIGLAS ASV – “Adaptative Suspension Vehicle” (Veículo de Suspensão Adaptativa) DSM – “Dynamic Stability Margin” (Margem de Estabilidade Dinâmica) LQR – “Linear Quadratic Regulator” (Regulador Quadrático Linear) LSM – “Longitudinal Stability Margin” (Margem de Estabilidade Longitudinal) ix RESUMO Andaduras descontínuas apresentam algumas vantagens sobre andaduras contínuas, tais como: maior margem de estabilidade, menor consumo energético e maior facilidade de adaptação a variações no terreno de locomoção. Este trabalho destina-se a comparar esses dois tipos de andaduras, mostrar dois algoritmos (andadura crab e andadura turning), que possibilitam a uma máquina caminhante seguir uma determinada trajetória e destina-se também a analisar como os efeitos dinâmicos, durante uma locomoção descontínua, modificam a medida da estabilidade estática. Para isso, utiliza um modelo de robô quadrúpede bidimensional e apresenta a forma de cálculo das forças de contato pésolo durante um ciclo de locomoção. Também mostra o conceito de aceleração de inversão, que é o limite máximo abaixo do qual o critério da margem de estabilidade estática continua válido. Aborda-se também um sistema de controle clássico. Ele possui duas malhas: uma para a velocidade e outra para a posição. Com isso, se pretende controlar o centro de massa da plataforma da máquina caminhante. O trabalho chega à conclusão que a margem de estabilidade estática é uma medida adequada para se estudar a estabilidade de máquinas caminhantes com pernas de massa não significativa, desde que a aceleração do corpo seja menor que a aceleração de inversão. Quando as massas das pernas forem significativas, obtém-se a estabilidade do sistema pela dinâmica das pernas, assim como pela distribuição de massa das mesmas. Palavras chave: estabilidade estática, aceleração de inversão, andadura crab, controle clássico, máquinas caminhantes, andadura turning. x ABSTRACT Discontinuous gaits present some advantages over wave gaits such as stability margin, smaller energy consumption and terrain adaptability. This monografy adresses to compare these two types of gaits, it adresses to show two algorithms (crab gait and turning gait) that to allow tracking a path and it adresses to analise how dynamic effects modify the measurement of the static stability. For this it uses a two-dimensinal quadruped robot model and it shows how to get the foot forces during a locomotion cycle. It shows the inversion acceleration’s concept that is the upper limite under wich the static stability margin criterion like measurement for stability remains valid. It deals a classical control system too. It has a velocity loop and a position one. The intention of this system is to control the gravity’s center of the machine. The monografy concludes that the static stability margin is an adequate measurement for studying stability in massless leg machines with the constraint that the acceleration of the body must be smaller than the inversion acceleration. If the mass of the legs is significant, get the stability by the dynamics of the legs and the distribution of the mass of the legs as well. Key words: static stability, inversion aceleration, crab gait, classical control, walking machines, turning gait. 11 1. INTRODUÇÃO Desde o início dos estudos na área de robótica (década de 60), esta área havia focado seus esforços nos projetos de controle de manipuladores, essencialmente apreensão e manipulação de objetos e ferramentas. A principal motivação foi a demanda gerada pelas necessidades de produtividade da indústria. As aplicações de manipuladores com base fixa têm crescido, rapidamente, nas fábricas; notadamente, na indústria automobilística para execução das operações de montagem e soldagem principalmente. O objetivo da pesquisa deste tipo de robô tem sido a busca de melhorias na rapidez de execução de tarefas, aumento da precisão dos movimentos e facilidade de programação dos equipamentos. Nas últimas três décadas, esses estudos têm levado a uma série de avanços na prática industrial: linguagens de programação de robôs, sistemas de programação offline, dispositivos compliantes para montagens, sistemas de visão para localização e inspeção de peças, seguimento de juntas para arco de solda, robôs de guiagem direta, etc. Tais avanços tecnológicos têm possibilitado a automação de novas aplicações. Nesse mesmo período, os robôs tornaram-se móveis. A habilidade de locomoção dos robôs tornou-se um tema importante nos desenvolvimentos em robótica. Por locomoção ou mobilidade entende-se a capacidade de deslocamento da plataforma em ambientes estruturados e não estruturados. Esta nova característica dos robôs estendeu os seus objetivos e aplicações, permitindo incluir na sua lista de requisitos de funcionalidade novos itens: transporte de materiais a distâncias que vão além do espaço de trabalho dos manipuladores (incluindo a navegação em ambientes fabris complexos), supervisão de processos através de sensores de alta tecnologia, monitoramento de fenômenos naturais que representam riscos à vida humana, intervenção remota em ambientes hostis (usinas nucleares, por exemplo). A principal forma de locomoção dos robôs móveis é por meio de rodas de diferentes tipos. Embora essas modalidades de rodas incluam lagartas e rodas especialmente desenvolvidas para terrenos irregulares, tais como os de ambientes naturais, existem limitações para sua aplicação. Inspirados em animais quadrúpedes e hexápodes, e 12 também na locomoção bípede dos humanos, os pesquisadores passaram a propor soluções de locomoção capazes de enfrentar dificuldades extremas de terrenos naturais e de terrenos estruturados. Com isso, verificou-se que robôs com pernas apresentam resultados muito satisfatórios na locomoção sobre terrenos irregulares, conforme exemplos em estudos relacionados ao tema (HIROSE et al, 1989; KLEIN e KITTIVATCHARAPONG, 1990; TANIE, 2001; SCHNEIDER e SCHMUCHER, 2001). Máquinas caminhantes são capazes de se locomover em terrenos inacessíveis a outros tipos de veículos. Isso porque não necessitam de uma superfície de suporte contínua (MANKO, 1992). No passado, investigações teóricas sobre máquinas caminhantes produziram resultados em configurações de máquina, controle e distribuição de força, modelagem dinâmica e geração de andadura. Bem no início dos estudos em andadura, os pesquisadores se concentraram em andaduras descontínuas, transferindo seus esforços, rapidamente, para o campo das andaduras contínuas (HIROSE e UMETANI, 1978; MCGHEE e FRANK, 1968). Estas, por serem observadas na natureza, parecem ter dado maior motivação aos pesquisadores. Esse tipo de andadura pode ser visto, principalmente, na locomoção de mamíferos e insetos, notadamente, em baixa velocidade. Ela tem sido, matematicamente, modelada e simulada, apresentando boas características de um modo geral (MCGHEE e FRANK, 1968; SONG e WALDRON, 1988). Mesmo diante de todos esses pontos favoráveis às andaduras contínuas, andaduras descontínuas são superiores em algumas questões, tais como: estabilidade, consumo energético, velocidade e adaptabilidade a mudanças no terreno de locomoção. Um grande número de arquiteturas para robôs caminhantes tem sido discutido na literatura (HIROSE et al, 1989; CAURIN e TSCHICHOLD-GUMAN, 1994; MARTINS-FILHO e PRAJOUX, 2000). O presente trabalho considera as abordagens nas quais o robô é controlado via comando da dinâmica como no artigo de SCHNEIDER e SCHMUCKER (2001). Nessa arquitetura em particular, um módulo é encarregado da determinação dos esforços resultantes que provocam o movimento desejado do mecanismo. E outro módulo é responsável pela tarefa de distribuição de forças, i.e, o cálculo da força de contato pé-solo que cada perna deve realizar para produzir a força e o torque resultantes agindo no corpo do robô. 13 A questão mais importante a ser tratada no presente trabalho é: o que permanece verdadeiro, com relação a margens de estabilidade, quando uma máquina caminhante realiza uma andadura descontínua e aspectos dinâmicos são levados em consideração? Essa questão será trabalhada ao longo do texto. Serão também apresentadas as principais diferenças entre andaduras contínuas e descontínuas. Andaduras contínuas são aquelas nas quais existem movimentos simultâneos de todos os elementos constituintes do mecanismo. Andaduras descontínuas, por outro lado, são caracterizadas por movimentos isolados das pernas e do corpo do robô. Também será apresentado o limite de validade da estabilidade estática, isto é, o limite de aceleração sob o qual ela continua sendo uma medida adequada para se verificar a estabilidade do conjunto. Outro objetivo do trabalho é mostrar um sistema de controle da posição (e velocidade) do centro de gravidade do robô, baseado num método de controle clássico para os sistemas de segunda ordem, fazendo uso de duas malhas, uma para a velocidade e outra para a posição. Este tipo de regulador permite uma implementação simples e de fácil compreensão (MARTINS-FILHO e PRAJOUX, 2000). É também proposta deste trabalho mostrar como uma máquina caminhante, desenvolvendo uma andadura descontínua, pode seguir um determinado caminho. Isso porque uma máquina caminhante possui um comportamento que permite ao centro do corpo da mesma seguir uma trajetória de várias maneiras diferentes (SANTOS e JIMENEZ, 1995). Por exemplo, a máquina pode caminhar mantendo a orientação do eixo longitudinal do corpo constante, ou pode manter esse mesmo eixo longitudinal tangente à trajetória imposta pelo sistema de controle. Essas duas possibilidades serão abordadas neste trabalho. 1.1. Origem do Trabalho O presente trabalho é uma continuação do projeto de pesquisa em robôs caminhantes do qual participei durante mais de dois anos, junto com o professor Luiz de Siqueira Martins Filho do Departamento de Computação da Universidade Federal de Ouro Preto, e com as alunas do curso de Engenharia de Controle e Automação, Angela Cláudia Martin Duarte e Regiane Sousa e Silva. 14 No projeto de pesquisa, foi realizado um estudo sobre os vários tipos de andaduras que uma máquina caminhante pode realizar. Mas sempre foi suposto, que a mesma realizasse os movimentos de forma contínua, isto é, os elementos componentes do mecanismo se moveriam simultaneamente. Neste trabalho, será dado um maior enfoque a um tipo de andadura não considerado até então: a andadura descontínua. Esse tipo de locomoção é muito simples, do ponto de vista teórico, mas apresenta algumas características que o torna digno de atenção. Por exemplo, levando-se em conta que, em qualquer instante da locomoção, somente um elemento, perna ou corpo, está se movendo, geração de andadura sobre terrenos irregulares, modificação em tempo real quando da ocorrência de algum problema e controle, são questões muito mais simples de serem analisadas e implementadas do que em andaduras contínuas (SANTOS e JIMENEZ, 1995, 1996). Essas características vêm sendo observadas em máquinas reais, como a CMUAmbler (BARES e WHITTAKER, 1989), que realiza um tipo de andadura descontínua denominado circular. 1.2. Justificativa e Importância do Trabalho Esta monografia pretende comunicar resultados de reflexões sobre robôs caminhantes, os quais podem vir a ser importantes aliados dos seres humanos no futuro, uma vez que poderão realizar tarefas que evitarão a exposição de pessoas a ambientes de risco, ou as deixarão com maior tempo livre para o desenvolvimento de outras atividades. É um trabalho sem objetivos práticos imediatos, ou seja, de caráter puramente acadêmico, pois, é um fato que robôs caminhantes ainda estão longe de serem uma realidade no dia-adia humano. Isso porque ainda existem muitas questões para as quais não existem soluções, principalmente, para os problemas relacionados com mecânica “fina”. Contudo, o presente trabalho procura enfatizar o grande potencial desse campo de pesquisa, antecipando um futuro no qual mecanismos como robôs caminhantes poderão ser bastante úteis, seja na indústria, em instituições de ensino, ou até mesmo em residências. Mesmo que robôs caminhantes não se tornem componentes naturais no diaa-dia humano daqui a algum tempo, os vários campos de estudo que estão envolvidos com 15 estes mecanismos sofrerão, inevitavelmente, avanços significativos, gerando modificações visíveis em vários pontos da sociedade muito provavelmente. Vários componentes podem ser embarcados nessas máquinas e, então, o avanço desses componentes contribuirá para a modernização dos mecanismos caminhantes, assim como para a modernização de outros processos e outros tantos mecanismos nos quais esses mesmos componentes possam ser utilizados. 1.3. Objetivos De acordo com o estabelecido até o momento, são objetivos deste trabalho: 1.3.1. Objetivo Geral Fazer uma contextualização da área de robôs caminhantes, focando, principalmente, as diferenças básicas entre as duas abordagens de andaduras: contínuas e descontínuas. 1.3.2. Objetivos Específicos Apresentar as principais vantagens das andaduras descontínuas em relação às andaduras contínuas; Avaliar o limite máximo de validade da estabilidade estática, tendo como referência a medida da aceleração do sistema; Mostrar como uma máquina caminhante pode seguir uma trajetória especificada, apresentando duas andaduras derivadas da andadura descontínua básica (de duas fases): andadura crab e andadura turning. Apresentar uma estrutura de controle para o mecanismo como a que utiliza duas malhas de controle, uma para a posição e outra para a velocidade. 16 2. ANDADURAS CONTÍNUAS E DESCONTÍNUAS Como mencionado anteriormente, andaduras contínuas são observadas na natureza. Elas são utilizadas, principalmente, por mamíferos e insetos em baixa velocidade. Este tipo de andadura move o corpo com uma velocidade constante, enquanto o movimento das pernas é seqüencial. O resultado é um movimento para trás das pernas em contato com o solo, enquanto as pernas em transferência se movem para frente. O que deve ser frisado, é que estes movimentos ocorrem simultaneamente, resultando em grandes dificuldades para se implementar esse tipo de andadura em máquinas caminhantes reais, devido a imperfeições nos mecanismos constituintes e à compressão do terreno (SANTOS e JIMENEZ, 1996). Andaduras descontínuas, por outro lado, se caracterizam por movimentos seqüenciais tanto das pernas, quanto do corpo. Quando uma perna está em transferência, todas as outras permanecem nas suas respectivas posições. O movimento do corpo é obtido quando todas as pernas encontram-se em contato com o solo. Assim, todas as pernas se movem para trás com a mesma velocidade. Por isso, estes movimentos são mais fáceis de serem implementados que os da andadura contínua (SANTOS e JIMENEZ, 1996). Mas andaduras descontínuas também exibem algumas dificuldades. Uma delas é originada devido ao fato de o mecanismo entrar em movimento e parar várias vezes ao longo da locomoção. Isso introduz acelerações elevadas no sistema, fazendo com que o critério da margem de estabilidade estática possa deixar de ser válido. Outro ponto que deve ser lembrado é a conseqüente diminuição da vida útil dos atuadores do conjunto. Consumo energético é uma questão importante a ser considerada. As andaduras contínuas, em terrenos irregulares, exigem que todos os atuadores estejam acionados simultaneamente, enquanto as andaduras descontínuas necessitam apenas que alguns deles estejam em funcionamento ao mesmo tempo. O número de atuadores acionados depende da geometria da perna da máquina caminhante. Para uma mecanismo pantográfico de n ligamentos, o número máximo de atuadores é n, tanto para andaduras contínuas quanto para descontínuas. Já para uma máquina que apresenta uma perna com junta rotacional, o número de atuadores acionados, em qualquer instante de tempo, é igual a 17 3n para uma andadura contínua. Quando a andadura é descontínua, o número de atuadores acionados é igual a 3 para um movimento de perna, ou igual a 3n para um movimento do corpo. É preciso salientar que, no último caso, o corpo é propelido durante um pequeno intervalo do ciclo de locomoção. O consumo energético instantâneo depende do número de atuadores acionados no momento verificado. Logicamente, quanto menor o número de atuadores acionados simultaneamente, menor o consumo de energia. E, além disso, quando se faz uso de freios, o consumo energético pode ser otimizado. Vale lembrar que é esse consumo de energia que irá ditar o tamanho da fonte energética do sistema, que é um parâmetro importante para veículos autônomos. Embora geração de andadura seja um importante campo de pesquisa, pouca atenção vem sendo dada pelos pesquisados no sentido de diferentes trajetórias serem seguidas por máquinas caminhantes. Alguns poucos que desenvolveram algo nesse campo foram ORIN (1982), com seu algoritmo que utilizava joysticks, e LEE e SONG (1991), que desenvolveram um método que permite a uma máquina caminhante gerar e seguir um caminho usando diferentes tipos de andaduras descontínuas. Estes algoritmos citados anteriormente são utilizados somente em terrenos planos. Se a máquina caminhante possuir um controlador que garanta estabilidade, atitude e altitude, ela terá capacidade de seguir uma determinada trajetória, apresentando boas características durante a locomoção. O controle de atitude é importante para corrigir imperfeições nos mecanismos que constituem a máquina, assim como para corrigir os efeitos da compressão do terreno, que tendem a inclinar a plataforma do robô. A máquina pode necessitar de se locomover mantendo uma altura constante em relação à superfície de suporte, ou pode precisar de se adaptar a variações no terreno. Se os controles de estabilidade, altitude e atitude forem eficientes, a máquina conseguirá se adaptar automaticamente às mudanças no terreno de locomoção (SANTOS e JIMENEZ, 1995). Desse modo, somente uma trajetória em duas dimensões será necessária para fazer uma máquina caminhante se locomover sobre um terreno irregular. 18 2.1 Andadura Descontínua de Duas Fases Agora, será apresentada uma andadura que movimenta a máquina ao longo de uma linha reta (eixo x), com estabilidade estática, significando que, em qualquer instante, a projeção do centro de gravidade da plataforma estará no interior do polígono de suporte, que é formado pelas extremidades de pernas em contato com o solo. OZGUNER et al (1984) mostrou que existem n! seqüências não singulares de movimento para uma máquina de n pernas, que devem ser combinadas com as posições das extremidades de pernas para se definir uma andadura estável. Uma maneira de se diminuir este elevado número de possibilidades, 24 no caso de quadrúpede, é utilizar apenas dois movimentos para o corpo (ou duas fases) por ciclo de locomoção. Assim, uma possibilidade seria a seguinte: em cada fase, somente as pernas de um mesmo lado entrariam em movimento. No início da fase, as pernas deveriam estar localizadas no limite traseiro do espaço de trabalho de cada uma. A seguir, estas pernas seriam transferidas, seqüencialmente, em direção ao limite dianteiro dos espaços de trabalho delas. Uma seqüência de movimento poderia ser a seguinte: em cada lado, a perna traseira se moveria e, a seguir, a perna dianteira. Após o movimento das pernas de um lado, o corpo seria propelido para frente, percorrendo metade da distância de um ciclo de locomoção. Após o movimento do corpo, as duas pernas que não foram transferidas (localizadas do outro lado do corpo e que permaneceram em contato com o solo), deveriam estar localizadas no limite traseiro do espaço de trabalho de cada uma delas. Para que isso seja possível, antes do movimento do corpo, cada uma delas deveria estar no meio do seu respectivo espaço de trabalho. 2.2 LSM – Uma Possibilidade de Abordagem Uma das maneiras de se determinar a LSM, margem de estabilidade longitudinal, é utilizando a diagonal que liga as pernas 1 e 4, ou a diagonal que liga as pernas 2 e 3, como mostra a FIGURA 1. Em qualquer dos casos, a diagonal parte de uma extremidade de perna que se encontra no meio do espaço de trabalho dela, até uma outra 19 que se encontra no limite mais próximo do centro de gravidade da plataforma. Pela mesma figura, constata-se que a margem de estabilidade longitudinal é a distância entre a projeção do centro de gravidade da plataforma e a diagonal que liga as extremidades de pernas 1 e 4 ou 2 e 3. Através de um simples cálculo geométrico: x − x2 + x2 LSM D = − y2 3 y3 − y2 (1) em que o índice D foi utilizado para indicar que se trata de uma andadura descontínua. Seja P2 ( x2 , y2 ) e P3 ( x3 , y3 ) , os pontos da extremidade da diagonal (considerando as pernas 2 e 3). Se as coordenadas dos pontos anteriores forem substituídas por P2 ( P3 ( Px Rx Py − ,− ) e 2 2 2 − Px Py ,− ) , sendo Px , Py e R x dimensões representadas na FIGURA 1, a equação (1) dá 2 2 como resultado: LSM D = Rx . 4 (2) FIGURA 1 – Andadura descontínua de duas fases Fonte: SANTOS E JIMENEZ, 1995. Por motivos de comparação, a margem de estabilidade para uma máquina caminhante de quatro pernas, utilizando uma andadura contínua, é dada por (MCGHEE e FRANK, 1968): 20 3 LSM C = β − λ ; 4 3 ≤ β < 1; 4 sendo Rx ≤ Px (3) em que λ é a distância que o centro de gravidade do corpo percorre em um ciclo de locomoção. O valor de λ é dado por: λ= Rx (4) β sendo que β é conhecido como fator de carga, ou a fração do período de um ciclo na qual a perna permanece em contato com a superfície de suporte. Utilizando as equações (3) e (4), constata-se que a LSM para uma andadura contínua assume valores entre zero e assume um valor constante igual a Rx , enquanto para uma andadura descontínua, ela 4 Rx . Por isso, as andaduras descontínuas exibem, em 4 geral, LSMs superiores às andaduras contínuas. Sendo assim, caso a estabilidade seja a principal propriedade desejada para uma dada máquina caminhante, a andadura desenvolvida pela mesma terá fortes motivos para ser do tipo descontínua, pelo menos a princípio. 21 3. ANDADURA TURNING E ANDADURA CRAB Existem alguns tipos de andaduras descontínuas que permitem ao mecanismo mudar a direção de movimento. O presente trabalho tratará de dois tipos: andadura turning e andadura crab. 3.1. Andadura Turning Andaduras turning realizam o movimento do mecanismo mantendo o eixo longitudinal do corpo tangente a uma trajetória desejada. Para andaduras descontínuas turning será usada a mesma seqüência de movimento usada para a andadura descontínua de duas fases, tratada, inicialmente, no presente trabalho. Dessa forma, somente as posições das extremidades de pernas são necessárias para especificar a andadura. Em uma andadura turning, o corpo da máquina caminhante é propelido, em segmentos, para frente. Conseqüentemente, a trajetória real do corpo é composta por um conjunto de segmentos com pontos extremos sobre a trajetória desejada. Sendo o corpo deslocado, uma rotação é executada, simultaneamente, para alinhar a plataforma com a tangente à trajetória. Para que uma andadura periódica seja gerada utilizando este mecanismo, as posições das pernas, no sistema de referência ligado ao corpo, devem ser as mesmas a cada novo ciclo. A FIGURA 2 apresenta uma trajetória do corpo formada por dois segmentos. A primeira fase translada o corpo por uma distância L e o gira de α 1 . A segunda fase translada o corpo por uma distância L novamente e o gira de α 2 . Deve-se notar que, após transferir as pernas do lado direito, o corpo translada e gira e, após transferir as pernas do lado esquerdo, o corpo translada e gira mais uma vez. Sendo assim, as pernas direitas giram duas vezes ( α 1 e α 2 ) e as pernas esquerdas giram apenas uma ( α 2 ). 22 FIGURA 2 – Trajetória para uma andadura descontínua turning Fonte: SANTOS E JIMENEZ, 1995. A rotação sobre o eixo z (FIGURA 2) afeta a estabilidade. Conseqüentemente, existe um ângulo de rotação máximo acima do qual a máquina se torna instável. A FIGURA 3 mostra a LSM de um ciclo de locomoção versus o ângulo de rotação. Se H (α , x, y ) representar uma matriz de transformação homogênea que gira o corpo de um ângulo α e o translada para a posição ( x, y ) , o algoritmo para esta andadura pode ser assim enunciado: 1) Localize a perna j na posição inicial p j 0 para cada j . Calcule α i , xi e yi . 2) Localize a perna 4 em p4 = H (α 2 , x2 , y2 ) ⋅ H (α1 , x1 , y1 ) ⋅ p40 3) Localize a perna 2 em p2 = H (α 2 , x2 , y2 ) ⋅ H (α1 , x1 , y1 ) ⋅ p20 4) Movimento do corpo: localize a perna em p j = H −1 (α1 , x1 , y1 ) ⋅ p j para cada j . 5) Localize a perna 3 em p3 = H (α 2 , x2 , y2 ) ⋅ p30 6) Localize a perna 1 em p1 = H (α 2 , x2 , y2 ) ⋅ p10 23 7) Movimento do corpo: localize a perna em p j = H −1 (α 2 , x2 , y2 ) p j para cada j . Sendo ( xi , yi ) , para i = 1 .. 2, o ponto sobre a trajetória desejada, que está a uma distância L da origem do sistema de coordenadas do corpo, e α i , o ângulo entre o eixo x do sistema de coordenadas do corpo e a reta tangente à trajetória desejada em ( xi , yi ) . FIGURA 3 - Margem de estabilidade para uma andadura turning Fonte: Adaptado de SANTOS E JIMENEZ, 1995. 3.1.1. Seguindo Uma Trajetória Utilizando Andadura Turning A andadura turning é caracterizada pelo ponto ( xi , yi ) e pelo ângulo α i (i = 1 .. 2). O ponto ( xi , yi ) é a nova posição do centro de gravidade no fim da fase ou de um semi-ciclo, e α é o valor do ângulo de rotação que o corpo deve realizar em cada fase ou semi-ciclo para manter o eixo longitudinal do mesmo tangente à trajetória desejada. A 24 nova posição do centro de gravidade fica sobre a trajetória a uma distância L da posição corrente do mesmo. Sendo assim, esse ponto pertence, simultaneamente, à função que define o caminho: y = p(x) (1) e à equação dos pontos cuja distância em relação à posição corrente do centro de gravidade é L, dada por: ( x − xm ) 2 + ( y − p ( xm )) 2 = L2 (2) O método de Newton para sistemas de equações não lineares pode ser usado para encontrar a solução neste caso. Este método resolve um sistema de equações não lineares tal como o seguinte: f ( x, y ) = 0 g ( x, y ) = 0 (3) desde que uma aproximação inicial da solução, ( x0 , y 0 ), esteja disponível. O algoritmo final considera que existe uma aproximação da solução do sistema de equações (3), dada por ( x0 , y0 ). A partir daí, o método de Newton realiza uma correção diferencial expressa por: − f ( x0 , y0 ) δx −1 δy = J − g ( x , y ) 0 0 (4) em que J é o Jacobiano do sistema, dado por: ∂f ( x0 , y0 ) ∂x J = ∂ g ( x 0 , y0 ) ∂x ∂f ( x0 , y0 ) ∂y . ∂g ( x0 , y0 ) ∂y (5) Se f ( x0 + δx, y0 + δy ) < ε e g ( x0 + δx, y0 + δy ) < ε , então ( x0 + δx, y0 + δy ) é uma boa aproximação para a solução do sistema (3). Do contrário, a aproximação original, ( x0 , y0 ), é trocada por ( x0 + δx, y0 + δy ) e o processo é repetido. Geralmente, com poucas iterações este processo produz valores precisos para a solução do sistema, desde que as aproximações iniciais sejam suficientemente próximas da verdadeira solução. 25 Para que o método de Newton possa ser aplicado às equações (1) e (2), elas devem ser reescritas da seguinte maneira: f ( x, y ) = y − p ( x ) = 0 g ( x, y ) = ( x − xm ) 2 + ( y − p ( xm )) 2 − L2 = 0. (6) A solução deste sistema fornece a nova posição do centro de gravidade. O ângulo de rotação, que coloca o eixo longitudinal do corpo tangente à trajetória, é obtido pela derivada da função que representa a trajetória desejada na nova posição do centro de gravidade, p ' ( xm ). Este método necessita de uma aproximação inicial da solução. Esta pode ser a posição corrente do centro de gravidade, embora essa prática seja um pouco grosseira. Uma prática um pouco mais refinada é obtida escolhendo-se um ponto na direção da tangente à trajetória, como o ponto ( xm + ( L / 2) cos αT , ym + ( L / 2) senα T ), sendo α T = tg −1 ( p ' ( xm )). Escolhendo-se como aproximação inicial a posição corrente do centro de gravidade, o algoritmo converge, em média, com vinte iterações. Já utilizando um ponto na direção da tangente à trajetória, a solução é atingida com duas iterações em média. 3.2. Andadura Crab Uma andadura crab consiste em se mover o centro de gravidade da plataforma ao longo de uma certa trajetória, mantendo a orientação da mesma constante. Para realizar uma andadura crab descontínua, pode-se considerar mais uma vez, a mesma seqüência para os movimentos das pernas e o mesmo movimento do corpo utilizados para a andadura de duas fases. A trajetória das pernas em transferência, na andadura de duas fases, é paralela ao eixo longitudinal do corpo, o qual coincide com a direção seguida pela plataforma. Em uma andadura crab, a perna em transferência segue uma trajetória paralela à trajetória crab, e a localização da extremidade da perna é o ponto de interseção da trajetória crab com o limite do espaço de trabalho da perna. A FIGURA 4 mostra dois tipos de trajetórias, uma que cruza o limite dianteiro do espaço de trabalho e uma que cruza o 26 limite lateral, trajetórias A e B, respectivamente. Na trajetória B, verifica-se que ( R x tgα > R y / 2). Sendo assim, a mesma obtém um “ângulo crab” superior ao da trajetória A, na qual se pode notar que ( R x tgα ≤ R y / 2). Um fato que precisa ser ressaltado é que a LSM diminui quando o ângulo crab aumenta, deixando a máquina instável para altos valores de ângulo crab. FIGURA 4 – Trajetórias das extremidades de pernas para andadura descontínua crab (casos A e B) Fonte: SANTOS E JIMENEZ, 1995. 3.2.1. Seguindo Uma Trajetória Utilizando Andadura Crab Segundo a definição de andadura crab, o espaço de trabalho do centro de gravidade da plataforma e o espaço de trabalho das extremidades de pernas são iguais. Além disso, a andadura crab garante que as trajetórias das extremidades de pernas e a do centro de gravidade da plataforma também são iguais. Suponha que o centro de gravidade do corpo está sobre a trajetória desejada e o eixo longitudinal do mesmo está alinhado com o eixo x do sistema de referência da trajetória. Se a trajetória é dada por y = p(x) , o objetivo é colocar o centro de gravidade sobre a mesma, o mais longe possível da sua posição inicial. Como o movimento das pernas está restrito ao espaço de trabalho do centro 27 de gravidade da plataforma, a nova posição do c.g. é o ponto de interseção entre a função que define a trajetória, p (x ) , e os limites do espaço de trabalho. Para encontrar a nova posição do centro de gravidade, o primeiro passo é testar qual trajetória as pernas terão que seguir (trajetória A ou trajetória B, segundo a FIGURA 4). Por esta mesma figura, pode-se inferir que o ângulo que separa os dois tipos de trajetória é: Ry 2 Rx α L = tg −1 (7) A FIGURA 5 apresenta um exemplo de trajetória que utiliza uma andadura crab descontínua. FIGURA 5 - Seguindo uma trajetória utilizando andadura descontínua crab Fonte: SANTOS E JIMENEZ, 1995. Se o centro de gravidade estiver localizado em xm e a trajetória da perna cruzar o limite dianteiro do espaço de trabalho, então a trajetória irá verificar o seguinte: p( xm + Rx ) − p ( xm ) ≤ α L Rx α A = tg −1 (8) e as pernas realizarão a trajetória A. Do contrário, a trajetória B será realizada. Sendo a trajetória A executada, a nova posição do centro de gravidade será ( xm + Rx , p ( xm + Rx )). O corpo se deslocará até essa nova posição seguindo uma linha reta a 28 partir da posição inicial dele, ( xm , p( xm )). A partir de então, o procedimento poderá ser repetido. Quando o centro de gravidade seguir a trajetória B, a trajetória das pernas cruza o limite lateral do espaço de trabalho. Para descobrir este ponto de interseção, o método da bisseção pode ser usado. Este método calcula a raiz de uma equação f ( x) = 0 , no intervalo [ x1 , x2 ] em que f ( x1 ) f ( x2 ) < 0. Para o cálculo da raiz, o intervalo [ x1 , x2 ] é dividido no ponto x ' = ( x1 + x2 ) / 2. Se x1 − x2 ≤ ε , sendo ε uma quantidade positiva muito pequena, então x ' é uma raiz. De outro modo, [ x1 , x ' ] pode conter a raiz se f ( x1 ) f ( x ' ) ≤ 0. Se não, [ x ' , x2 ] contém a raiz e f ( x ' ) f ( x2 ) ≤ 0 pode ser verificado. Este processo é repetido sobre o intervalo que contém x ' até que a condição x1 − x2 ≤ ε seja satisfeita. Este método iterativo é simples e garante a raiz da equação, mas o número de iterações pode se tornar elevado se ε for escolhido muito pequeno. Este número é o parâmetro que define a precisão da solução. No caso de máquinas caminhantes, uma precisão de 0.5 cm se mostra adequada, fazendo com este algoritmo encontre uma raiz em poucas iterações. O método descrito anteriormente, calcula a raiz da equação f ( x) = 0, mas o problema é calcular a interseção de p (x) com a reta horizontal que passa por ( xm , p( xm ) + Ry / 2) ou ( xm , p ( xm ) − Ry / 2), dependendo de qual limite lateral o caminho interceptar. Se o eixo x do sistema de coordenadas for transladado para a posição do limite lateral, o método da bisseção pode ser utilizado. Esta translação de eixo é equivalente a calcular a raiz da função: f ( x) = p( x) − p ( xm ) − α A Ry αA 2 (9) em que xm é a abscissa do centro de gravidade e α A é uma estimativa do ângulo da trajetória da extremidade de perna que pode ser calculada por (8). Com a nova posição do centro de gravidade conhecida, o movimento é realizado com o algoritmo da andadura descrito anteriormente. 29 4. MÉTODOS Para que o estudo em questão se torne um pouco mais elaborado, será necessário o uso de um modelo dinâmico baseado em robôs caminhantes de quatro ligamentos encontrados em (BENNANI e GIRI, 1996). A partir de agora, será feito também um estudo sobre LSM e DSM durante o movimento da plataforma do robô. Sendo assim, estas medidas serão comprimentos ao longo do eixo longitudinal da máquina. A princípio, o uso de um modelo bidimensional pode levar à impressão de que o mesmo é excessivamente simplificado. Mas existem duas razões que contribuíram para a utilização do mesmo: as componentes de forças perpendiculares ao plano do movimento do robô (forças laterais) são desprezíveis em relação às demais envolvidas no sistema (WALDRON et al, 1988; WONG e ORIN, 1993). E como o presente trabalho pretende comparar medidas de estabilidade (margem de estabilidade longitudinal - LSM e margem de estabilidade dinâmica - DSM), que são comprimentos ao longo do eixo longitudinal da máquina, um modelo bidimensional se mostra suficiente. Como dito anteriormente, a LSM é definida como a distância mínima entre a projeção do centro de gravidade do corpo no polígono de suporte (formado pelas extremidades das pernas em contato com o solo) e a fronteira do mesmo (SONG e WALDRON, 1988). Dessa forma, serão comparadas a LSM dianteira e a LSM traseira, sendo escolhida a de menor valor (o cálculo será feito com as quatro pernas em contato com o solo). Esta medida foi inicialmente utilizada no estudo de estabilidade estática, sendo, a seguir, adaptada a modelos que consideravam aspectos dinâmicos. A outra medida, a DSM, é considerada como a distância mínima entre o centro de pressão e as fronteiras do polígono de suporte. O centro de pressão é obtido da seguinte maneira: calcula-se a força resultante (composta pelas forças inercial, peso e externas) que atua no centro de massa da plataforma. A seguir, segundo a direção do vetor previamente obtido, encontra-se a interseção com o plano do polígono de suporte. Este ponto de interseção é o centro de pressão. Essa definição de DSM utilizada no presente trabalho é a usual. Alguns 30 autores utilizam uma variante (LING e SONG, 1993). A representação gráfica da DSM e da LSM pode ser vista na FIGURA 6. FIGURA 6 – Definição de DSM e LSM Fonte: ARMADA et al, 1997. Máquinas caminhantes que desenvolvem andaduras descontínuas executam movimentos seqüenciais. Em qualquer instante da andadura do sistema, apenas um elemento componente (perna ou plataforma) está alterando sua posição e, além disso, o movimento da plataforma só acontece durante os intervalos de tempo nos quais as quatro extremidades de pernas estão em contato com a superfície. Uma vez que quase toda a massa do sistema está concentrada na plataforma, os efeitos dinâmicos são mais intensos quando a mesma está se movimentando. Mas as massas das pernas também podem afetar a estabilidade, uma vez que, durante os respectivos vôos, a margem de estabilidade do sistema é, consideravelmente, menor. Para uma andadura estaticamente estável, a LSM é dada por: x +x x + xb 04 LSM = Min b 01 b 02 , b 03 , 2 2 (1) 31 E a DSM por: x + xb 02 f x + xb 04 f DSM = Min b 01 − z b 01 x , b 03 − z b 01 x . 2 fz 2 fz (2) onde ( xb 0i , z b 0i ) são as coordenadas da perna i no sistema de referência paralelo ao inercial e que passa pelo centro de gravidade da plataforma e Min é a função mínimo. Uma vez que, durante o movimento da plataforma, as quatro pernas a sustentam, z b 0i é igual para todas as pernas. 32 5. MODELO DINÂMICO PLANAR A partir de agora, será apresentado um modelo dinâmico bidimensional para a representação do assunto abordado, como mostra a FIGURA 7. A plataforma ou corpo principal é considerado uma viga rígida. Em cada esquina do corpo é colocada uma perna. Inicialmente, será considerado que a razão entre a massa da perna e da plataforma é, significativamente, pequena, o que leva a se considerar que as pernas são desprovidas de massa. Mais tarde, serão investigados os efeitos dinâmicos das pernas durante as fases de transferência, e a massa das mesmas não mais será desprezível. FIGURA 7 – Modelo planar de um quadrúpede Fonte: ARMADA et al, 1997. Na elaboração do modelo, três sistemas de referência foram definidos: um inercial ( xe , z e ), um sistema de referência fixo ao corpo ( xb , z b ) e um sistema de referência adicional que é paralelo ao inercial e que tem como origem o centro de gravidade do corpo ( xb 0 , z b 0 ). O centro da plataforma é feito coincidente com o centro de gravidade, que possui localização dada por ( x, y ) no sistema de referência inercial. 33 Para a obtenção das equações de movimento do sistema, fez-se uso da formulação de Newton-Euler, que isola cada ligamento da cadeia escrevendo seus respectivos momentos angular e linear (SPONG e VIDYASAGAR, 1989). A mecânica Newtoniana se fundamenta nos seguintes fatos: 1. A qualquer ação está associada uma reação igual e contrária; 2. A taxa de variação da quantidade de movimento linear é igual à força total aplicada ao corpo; 3. A taxa de variação da quantidade de movimento angular é igual ao torque total aplicado ao corpo. Para um sólido rígido bidimensional, as equações de movimento são reduzidas a: F = ma (1) N = J ω& (2) Onde: m : massa da plataforma; F : força resultante que atua no centro de gravidade da plataforma; a : aceleração da plataforma; J : momento de inércia da plataforma; ω : velocidade angular da plataforma. N : momento angular que atua na plataforma e é causado pelas forças exercidas pela superfície sobre as extremidades de pernas. 34 Uma vez que as forças que atuam na plataforma são as reações do solo exercidas sobre as extremidades das pernas, a equação (1) pode ser expandida da seguinte maneira: 4 m&x&(t ) = ∑ f xb 0 i (t ) (3) i =1 4 m&z&(t ) = ∑ f zb 0 i (t ) − mg (4) i =1 em que o índice i indica o número da perna e ( f xb 0 , f zb 0 ) são as forças no sistema de referência paralelo ao inercial e que tem como origem o centro de gravidade da plataforma. Seguindo o mesmo raciocínio utilizado para a equação (1), a equação (2) se torna: 4 4 i =1 i =1 Jφ&&(t ) = ∑ f xb 0 i (t ) zb 0 i (t ) − ∑ f zb 0 i (t ) xb 0 i (t ) (5) em que ( xb 0i , z b 0i ) são as coordenadas da perna i no mesmo sistema anterior. O fato que deve ser observado é que as equações de (3) até (5) determinam o comportamento assumido pela plataforma para determinado conjunto conhecido de forças nas extremidades das pernas. Mas isso não é interessante, uma vez que o objetivo final é controlar o sistema para que o mesmo execute um movimento desejado, calculando as forças necessárias para fazê-lo. Para isso, é necessário o uso da dinâmica inversa que irá responder quais as forças que as extremidades das pernas devem exercer sobre o solo para que o corpo sofra esforços (reações do solo) e execute o movimento planejado. Quando se deseja que o corpo execute um determinado movimento, o mesmo pode ser especificado em termos de esforços. Tendo isso em mente, as equações anteriores podem ser reescritas da seguinte forma: m&x&(t ) = Fx (t ) (6) m&z&(t ) = Fz (t ) (7) Jφ&&(t ) = Φ (t ) (8) 35 sendo que Fx (t ) e Fz ( t ) são as forças desejadas e Φ(t ) o momento desejado. Por motivos de ilustração, se se desejar que a plataforma execute um movimento vertical sem a presença de rotação, os segundos membros das equações anteriores se tornam, respectivamente: Fx (t ) = 0 e Φ (t ) = 0 para qualquer Fz (t ). Substituindo as equações (6), (7) e (8) em (3), (4) e (5), respectivamente, encontram-se: 4 ∑f i =1 xb 0 i 4 ∑f i =1 i =1 (9) zb 0 i (t ) = mg + Fz (t ) xb 0 i (t ) zb 0 i (t ) = ∑ f zb 0 i (t ) xb 0 i (t ) + Φ (t ) 4 ∑f (t ) = Fx (t ) (10) 4 (11) i =1 Estas três últimas equações constituem um sistema de equações lineares de oito incógnitas, o que implica na indeterminação do mesmo. Essa característica de indeterminação pode ser reduzida desde que a seguinte consideração seja feita: as forças na direção do eixo x são iguais para todas as pernas. Isso garantirá que a força de interação (cujo módulo é a diferença entre as forças de duas pernas e cuja direção se dá ao longo da linha que liga as respectivas extremidades) entre quaisquer duas pernas seja zero. Para um modelo bidimensional, considerar que as forças de interação sejam iguais a zero, é equivalente a considerar que as componentes horizontais das forças de contato sejam iguais. Este último fato faz com que a equação (9) passe a ser apresentada da seguinte maneira: f xboi (t ) = Fx (t ) 4 (12) 36 Dessa forma, o sistema formado por (9), (10) e (11) pode ser reduzido a um sistema de duas equações, (10) e (11), em quatro incógnitas, f zb 0i . Tal sistema pode ser escrito na forma matricial da seguinte maneira: Af z = w (13) 1 1 1 1 A= xb 01 (t ) xb 0 2 (t ) xb 0 3 (t ) xb 0 4 (t ) (14) Em que: [ f z = f zb 01 f zb 0 2 w = mg + Fz (t ) f zb 0 3 f zb 0 4 ] T f xb 0 i (t ) − Φ(t ) ∑ i =1 4 (15) T (16) Existe uma infinidade de soluções para esse sistema, e é possível fazer uso de critérios de otimização para que uma dentre esse infinito conjunto seja escolhida. Métodos de otimização vêm sendo propostos por diversos autores sob diferentes condições. Este trabalho emprega o método de CHUNG E KLEIN (1987). Este método utiliza a solução geral de qualquer sistema linear indeterminado, que é dada por: f z = A+ w + ( I − A+ A) p (17) em que A + é a matriz pseudo-inversa de A e p é um vetor arbitrário com a mesma dimensão do vetor f z . A definição de matriz pseudo-inversa é a seguinte: X = A + → AXA = A, XAX = X e as matrizes X e A são Hermitianas. 37 A solução de (17) é a que mais se aproxima de um vetor p dado. Vários valores possíveis para p são definidos pelos autores CHUNG E KLEIN (1987). No presente trabalho, o valor de p = [0 0 0 0] será adotado. Esta escolha significa que a solução depende T apenas da matriz pseudo-inversa, o que contribui para que soluções simples sejam obtidas implicando em simulações mais rápidas. Um fato que se deve levar em consideração é o de uma solução gerar forças negativas. Isso não é permitido, uma vez que a máquina caminhante não puxa a superfície, mas somente a utiliza como apoio. Tendo estabelecido todas essas considerações, a simulação pode ser realizada, desde que os seguintes passos sejam seguidos: 1. Definir as posições das extremidades das pernas no sistema de referência inercial ( xei , z ei ); 2. Definir a posição inicial do corpo no sistema de referência inercial ( x, z ); 3. Calcular as posições das extremidades das pernas no sistema de referência paralelo ao inercial e que tem como origem o centro de gravidade do corpo, ( xb 0i , z b 0i ) , e no sistema fixo ao corpo, ( xbi , z bi ). Estas posições são dadas por: xb 0 i xei − x z = z − z b 0 i ei (18) xbi xei − x z = Ry (t ) z − z bi ei (19) sendo Ry (t ) uma matriz de rotação. 4. Definir a trajetória desejada do corpo, em termos de forças e/ou acelerações. Nesse ponto, é necessário também definir condições iniciais para a velocidade e a aceleração. 38 5. Aplicar o modelo da dinâmica inversa para encontrar as forças que realizarão a trajetória desejada sob as condições iniciais impostas. Este modelo fornece as forças no sistema paralelo ao inercial e que tem como origem o centro de gravidade do corpo. 6. Calcular as forças no sistema fixo ao corpo. Essas forças são dadas por: f xb 0 i f xb 0 i f = Ry (t ) f zb 0 i zb 0 i 7. Utilizar o modelo da dinâmica direta para encontrar a posição do corpo. Com a mesma, é possível encontrar a posição do corpo no próximo instante. (20) 39 6. FASE DE TRANSFERÊNCIA DAS PERNAS Quando uma máquina caminhante realiza uma andadura descontínua, a mesma, durante a fase de transferência de alguma das pernas, tem a plataforma suportada apenas pelas outras três. Se a massa das pernas não for significativa, o vôo de uma delas não afeta a estabilidade do conjunto. Mas, do contrário, os efeitos desse movimento devem ser levados em consideração quando se estuda a estabilidade da máquina. Com esse objetivo, pode-se assumir que cada perna é composta por dois ligamentos de comprimento l e massa ml . Pode-se considerar também que cada extremidade de perna se move ao longo de uma linha reta localizada a l1 de distância do eixo longitudinal do corpo e que a altura da máquina é de l1. Sob estas condições, pode-se aproximar a trajetória do centro de gravidade de cada perna em transferência por uma linha reta Para a andadura considerada, a aceleração da extremidade de cada perna, quando em vôo, é igual à aceleração do corpo. Outra ressalva, é que o deslocamento de cada extremidade é o dobro do deslocamento do corpo (o mesmo se desloca duas vezes, enquanto a extremidade de cada perna apenas uma por ciclo de locomoção). Se for considerado que a extremidade descreve um arco cujo comprimento possui o mesmo valor do deslocamento do conjunto, a força de reação da perna no corpo será devido à aceleração do centro de gravidade da perna, cujo valor pode ser calculado segundo a expressão: alcg = aext xcg l (1) Considerando que a força de reação no centro de gravidade do corpo se deve à aceleração que atua no centro de gravidade da perna em transferência, e aplicando a definição de margem de estabilidade dinâmica, obtém-se a mesma durante a fase de transferência, como mostra a FIGURA 8. 40 FIGURA 8 - DSM durante fase de transferência (a = 5m/s²) Fonte: ARMADA et al, 1997. Para estes resultados, ml = 4 kg e as posições das extremidades de pernas antes da transferência da perna 3 são: FIGURA 9 – Descrição da andadura – primeira fase Fonte: ARMADA et al, 1997. 41 ( xe1 , ze1 ) = (0.4,0) m, ( xe 2 , ze 2 ) = (0.6,0) m, ( xe3 , ze3 ) = (−0.8,0) m, ( xe 4 , ze 4 ) = (−0.6,0) m. Essas posições podem ser visualizadas na FIGURA 9. A DSM resultante é um pouco maior que a LSM durante a fase de transferência de alguma perna, enquanto é muito menor que a DSM quando o corpo está se movimentando. Desse modo, a DSM de um ciclo de locomoção é determinada pela DSM da fase de transferência, e o movimento do corpo somente altera a estabilidade dinâmica do sistema se forem atingidas acelerações superiores à aceleração de inversão. Outro efeito que deve ser considerado, quando se estuda a estabilidade de máquinas caminhantes com pernas de massa significativa, é o deslocamento do centro de gravidade do corpo quando uma perna está em vôo. Nessa parte do ciclo de locomoção, tanto a LSM quanto a DSM variam porque a projeção do centro de gravidade da plataforma varia enquanto uma das pernas se transfere. Simulações que mostram a variação do centro de gravidade do corpo, durante fases de transferência, podem ser realizadas considerando a posição do centro de gravidade das pernas e as posições iniciais das extremidades das mesmas. 42 7. MÓDULO DE CONTROLE DO MOVIMENTO O módulo de controle do movimento da máquina caminhante deve, segundo a abordagem adotada, fornecer aos subsistemas que controlam as pernas, o valor das forças a serem aplicadas pelas extremidades delas sobre o terreno para a realização das trajetórias. Essas forças nas extremidades das pernas resultam em uma força e em um torque aplicados na plataforma do robô. Assim, as trajetórias planejadas, definidas em termos de posição, velocidade, atitude e velocidade angular do corpo da máquina são transformadas em controle em força e em torque, i.e, os esforços a serem aplicados na plataforma do robô pelas pernas. Este tipo de controle de movimento, via esforços aplicados no próprio mecanismo, permite a utilização de máquinas cuja dinâmica é relevante e obtém desempenhos mais adaptados às situações onde o terreno é acidentado ou irregular. Um exemplo significativo de controle baseado na dinâmica do robô é o hexápode ASV (Adaptative Suspension Vehicle) da Ohio State University (EUA), tratado em (GARDNER, 1987). O módulo de controle utiliza um modelo no qual o robô é considerado rígido, com as quatro pernas, de massa não nula, em suas posições médias (em relação ao movimento realizado por cada uma das pernas durante uma marcha regular). 7.1 Controle de Posição e Velocidade O controle da posição e da velocidade do robô corresponde ao controle de movimento de um corpo de massa m concentrada num ponto, o centro de gravidade da plataforma. O movimento de um corpo pontual é dado pela equação de Newton. Sob a forma de equação de estado, o subsistema posição é dado por: X& = V & V = F / M (1) 43 Onde: X = [x y z ] é a posição do centro de gravidade da plataforma no T referencial absoluto; [ F = [F V = Vx x Vy Fy Vz ] T é a velocidade deste centro de gravidade; ] ( Fz + G ) é a soma das forças aplicadas ao robô, e T G = mg é a força peso do conjunto. Foi adotado um controle da posição (e da velocidade) do centro de gravidade da máquina baseado num método clássico para os sistemas de segunda ordem, o qual utiliza duas malhas, uma para a velocidade e outra para a posição. Isso se deve ao fato de essa estratégia de controle possuir implementação simples e ser de fácil compreensão. A FIGURA 10 mostra o diagrama de blocos do sistema de controle da posição. A referência é dada em termos de posição e velocidade. A malha de controle calcula o erro entre o estado estimado no bloco de determinação da posição e velocidade, e o valor da força de controle é obtido pela utilização dos ganhos K p e K v . É importante salientar, que é necessário considerar a força peso (valor estimado) do robô para obtenção do valor da força de controle. FIGURA 10 – Controle de posição e velocidade Fonte: MARTINS-FILHO, PRAJOUX, 1999. 44 Os ganhos K p e K v podem ser obtidos através da aplicação de um Regulador Quadrático Linear – LQR, utilizando matrizes de ponderação diagonais, priorizando o erro em relação à referência no critério de otimização. Os cálculos podem ser realizados com a utilização do MATLAB, que possui todas essas funções integradas num único ambiente de trabalho. 45 8. RESULTADOS DE SIMULAÇÕES As simulações desenvolvidas para o presente trabalho procuraram mostrar como a margem de estabilidade é afetada pelos efeitos dinâmicos envolvidos em uma andadura descontínua. Como já foi mencionado, em tais andaduras, o corpo somente é impulsionado quando todas as extremidades de pernas se encontram em contato com a superfície de suporte. Nas simulações, o corpo se move para frente em linha reta (eixo x). Esta trajetória pode ser definida da seguinte maneira: Fx (t ) = max (t ); Fz (t ) = 0; Φ (t ) = 0, (1) em que 0; a ax (t ) = 0; − a; 0; t ≤ t1 t1 < t ≤ t 2 = t1 + t a , t 2 < t ≤ t3 , (2) t3 < t ≤ t 4 = t3 + t a , t ≥ t4 , é a aceleração do corpo, durante um intervalo de tempo ta , depois do qual o mesmo atinja uma certa velocidade. A partir de então, o corpo se move de forma contínua e, finalmente, é desacelerado até que o movimento seja cessado completamente. A andadura descontínua utilizada na simulação é estudada em (ARMADA et al, 1997). Trata-se de uma andadura cuja primeira fase é descrita na FIGURA 9. Para que a segunda fase seja obtida, basta se refletir a primeira. Para efeitos de simulação, as posições iniciais das extremidades de pernas podem ser: ( xe1 , ze1 ) = (0.6,0) m, ( xe 2 , ze 2 ) = (0.8,0) m, ( xe3 , ze3 ) = (−0.6,0) m, ( xe 4 , ze 4 ) = (−0.4,0) m. 46 O comportamento das componentes z das forças de contato pé-solo de cada perna pode ser visualizado, durante a fase de movimento da plataforma, na FIGURA 11. FIGURA 11 – Componentes z das forças de contato pé-solo Fonte: Adaptado de Armada et al, 1995. A aceleração em (2) é dada para cada experimento e os instantes de tempo são calculados como função de a. Para se obter o comportamento da DSM, foram realizadas simulações utilizando diferentes valores para a aceleração. Para acelerações iguais a 3 m/s2 ou maiores, a DSM começa a diminuir a ponto de ocorrer o que normalmente é chamado de inversão. Quando esta ocorre, a aceleração que a provoca é chamada de aceleração de inversão. Isso pode ser verificado nas FIGURAS 12 e13. 47 0.7 Margem de Estabilidade (m) 0.6 LSM DSM 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) FIGURA 12 – DSM e LSM para a = 3 m/s2 Fonte: Adaptado de ARMADA et al, 1997. 0.7 Margem de Estabilidade (m) 0.6 LSM DSM 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) FIGURA 13 – DSM e LSM para a = 5 m/s2 Fonte: Adaptado de ARMADA et al, 1997. 48 Esta inversão nas propriedades da DSM em comparação com a LSM ocorre porque quando o corpo é propelido para frente, a LSM traseira é menor que a dianteira, e os efeitos da aceleração tendem a reduzir a LSM dianteira. Porém, a LSM resultante continua sendo LSM traseira. Entretanto, existe uma aceleração (aceleração de inversão) capaz de diminuir a LSM dianteira até que a mesma se torne menor que a LSM traseira. Para acelerações maiores, o fenômeno permanece o mesmo e a DSM diminui até a instabilidade. Esta simulação fornece uma idéia sobre a estabilidade de máquinas caminhantes estaticamente estáveis. Vale lembrar que os resultados dependem das propriedades das máquinas como, massa, posição das extremidades de pernas e posição do corpo. A DSM depende da altura do corpo z b . Quanto menor o valor dela, maior será o valor da aceleração de inversão. Esta aceleração estabelece o limite de aceleração abaixo do qual a estabilidade está assegurada. Para acelerações iguais ou menores à aceleração de inversão, a margem de estabilidade estática é menor que a DSM e a LSM torna-se uma medida adequada para a estabilidade. Para acelerações superiores, a DSM deve ser levada em consideração. 49 9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Andaduras descontínuas estão sendo estudadas e as características das mesmas vêm sendo comparadas com as andaduras contínuas. Ambas estão sendo implementadas em máquinas caminhantes reais como o robô caminhante RIMHO que funciona como uma plataforma de teste (ARMADA et al, 1993). Algumas vantagens das andaduras descontínuas sobre as andaduras contínuas foram apresentadas, tais como maior estabilidade e maior capacidade de se adaptar a mudanças no terreno de locomoção. Outra vantagem apresentada pelas andaduras descontínuas é o menor consumo energético, uma vez que as mesmas não necessitam de que todos os atuadores estejam acionados simultaneamente durante o ciclo de locomoção. A adaptação a terrenos irregulares é uma característica implícita das andaduras descontínuas. Por outro lado, andaduras contínuas são recomendadas para terrenos planos. De acordo com o que vem sendo observado nas pesquisas de muitos estudiosos no assunto, pequenas imperfeições num terreno plano são suficientes para tornar uma andadura contínua instável. Desse modo, faz-se necessário modificar o algoritmo da mesma para que a máquina consiga se adaptar a imperfeições no terreno. Mas, infelizmente, atingir esse objetivo, ainda, é uma tarefa um tanto quanto difícil. E a implementação do algoritmo, caso o mesmo seja obtido, também não é uma tarefa trivial (JIMENEZ, 1994). Andaduras crab e turning foram obtidas da andadura de duas fases e os algoritmos das mesmas foram apresentados, assim como as propostas de simulação. Caso exista um controlador local no mecanismo que garanta o controle de estabilidade, altitude e atitude, andaduras descontínuas podem permitir a navegação em terrenos irregulares seguindo uma trajetória plana. Foi apresentado que esse caminho pode ser seguido por métodos numéricos, independentes do método de planejamento usado para traçar a trajetória. Estes algoritmos constituem um mecanismo de controle de alto nível. As simulações sugeridas são em malha aberta. Para se fechar a malha, é necessário introduzir um mecanismo de controle de baixo nível, como um sensor de giro, na borda da máquina, 50 para se corrigir os erros de posição introduzidos pela flexão do mecanismo e pela compressão da superfície de suporte. Foi apresentado o conceito de aceleração de inversão. Essa aceleração depende das características geométricas da máquina, assim como das posições do corpo e das extremidades de pernas. Quando o mecanismo fica submetido a uma aceleração superior à aceleração de inversão, a DSM deve ser considerada para que a estabilidade da máquina possa ser checada. Em máquinas caminhantes cujas pernas possuem massa significativa, a LSM torna-se crítica durante fases de transferência das pernas. Desse modo, tanto a dinâmica quanto a distribuição de massa dos ligamentos devem ser levadas em consideração para se determinar a estabilidade do sistema. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BARES, J.; WHITTAKER, W. L. Configuration of an autonomous robot for Mars exploration. World Conf. Robotics Res.: The Next Five Years and Beyond 1, 37-52 (1989). 2. BENNANI, M.; GIRI, F. Dynamic modelling of a four-legged robo. J. Intellinge Robotic Systems, n. 17, p. 419-428, 1996. 3. CAURIN, G.; TSCHICHOLD-GUMAN, N. 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