INVESTIGAÇÃO DE ÓBITOS POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO OCORRIDOS NO ANO DE 2013 NO MUNICÍPIO DE CAMBÉ, PARANÁ. Rafaela Vieira Jorge (Fundação Araucária), Wladithe Organ de Carvalho, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Saúde Coletiva/CCS. Área e sub-área do conhecimento: Saúde Coletiva/Epidemiologia. Palavras-chave: epidemiológica. Mortalidade, infarto agudo do miocárdio, vigilância Resumo Dentre as DCV, o infarto agudo do miocárdio (IAM) é a causa isolada de morte mais comum em homens e mulheres. O estudo tem objetivo de caracterizar os óbitos por infarto, segundo variáveis sociodemográficas, de morbidade, de hábitos de vida e de uso de serviços de saúde. Estudo epidemiológico descritivo de corte transversal, de todos os residentes em Cambé, cujo óbito tenha ocorrido em Cambé, em 2013, cuja causa básica fosse o infarto do miocárdio. A partir do banco de dados do Laboratório de Vigilância da Saúde Cardiovascular em Cambé-PR foram realizadas análises de frequência no programa Epi Info. Ocorreram 24 óbitos por infarto, a maioria no hospital, com idade de 60 anos ou mais e de cor branca; 83,3% das mulheres tinham 50 anos ou mais. Disponibilizou-se dados de entrevista com familiares de 18 dos óbitos, entre os quais foi possível verificar baixo nível econômico, presença de morbidades do aparelho circulatório ou de fatores de risco para ocorrência de infarto em considerável proporção. A utilização da UBS foi elevada, o que possibilitaria ao serviço de saúde identificar os fatores de risco para ocorrência do evento. Introdução e objetivo As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento. Há evidências de diferenças em relação à distribuição geográfica, faixa etária, gênero, etnias e nível socioeconômico. Dentre as DCV, o infarto agudo do miocárdio (IAM) é a causa isolada de morte mais comum em homens e mulheres (BAENA, 2012). A melhoria no acesso aos hospitais e a possibilidade de redução do número de óbitos fulminantes, associados à disponibilidade de tratamentos mais 1 modernos, estão entre os fatores apontados para mudanças que têm sido percebidas no comportamento da mortalidade (MELO, 2004). O estudo tem objetivo de caracterizar os óbitos por infarto, segundo variáveis sociodemográficas, de morbidade, de hábitos de vida e de uso de serviços de saúde a fim de contribuir no processo de vigilância das doenças crônicas não transmissíveis do município de Cambé. Procedimentos metodológicos Estudo epidemiológico descritivo de corte transversal, de todos os residentes em Cambé, cujo óbito tenha ocorrido em Cambé, em 2013, cuja causa básica fosse o infarto do miocárdio. Os dados foram obtidos de banco do Laboratório de Vigilância da Saúde Cardiovascular em Cambé-PR, elaborado no Programa Excel e processados no programa computacional de tabulação Epi Info. Foram estudadas variáveis sociodemográficas, de morbidade, de hábitos de vida e de uso de serviço de saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, sob o CAAE: 39595614.4.0000.5231. Resultados e Discussão Ocorreram 24 óbitos por infarto agudo do miocárdio, 60,9% no hospital, 30,4% em domicílio e 6,4% em outros locais. A distribuição por sexo foi idêntica (50%), 62,5% tinham a idade de 60 anos ou mais e 82,6% de cor branca. Entre as mulheres, 83,3% tinham 50 anos ou mais ao falecer. As mulheres na prémenopausa estão relativamente protegidas contra a aterosclerose e suas conseqüências. Um dos mecanismos cardioprotetores resulta no aumento da síntese de lipoproteína de alta densidade (HDL) e degradação de lipoproteína de baixa densidade (LDL), justificando um balanço benéfico no metabolismo dessas lipoproteínas. Após a menopausa, a mulher desenvolve um perfil lipídico mais aterogênico, com elevação dos níveis de LDL e diminuição de HDL, tornando um possível fator de risco vascular (PEDROSA et al, 2009). Os resultados descritos abaixo dizem respeito a 18 casos para os quais o banco disponibilizava dados fornecidos pelos familiares. No tocante a variáveis socioeconômicas, 77,8% sabiam ler e escrever, 83,4% pertenciam a classes econômicas mais baixas, apesar de residir em casa própria (88,9%), 72,2% das quais de 4 a 6 cômodos e quase a totalidade com esgoto e água tratada e encanada; cerca de 45% eram aposentados. A literatura traz a relação entre mortalidade por doença isquêmica do coração mais alta e população com estrato socioeconômico baixo (BASSANESI et al, 2008; LESSA et al, 2004; SANTOS et al, 2014). 2 Algumas morbidades anteriores ao óbito foram referidas pela família, dentre elas a hipertensão arterial (66,7%), diabetes (11,1%), problemas circulatórios (37,5%), infarto anterior (21,4%) e sequela de acidente vascular cerebral (5,6%). Da mesma forma, Dantas; Aguilar (1998) e Silva; Souza; Schargodsky (1998) identificaram associação entre HAS e infarto agudo do miocárdio. Cerca de 90% utilizava medicação de uso contínuo, a maioria em frequência igual ou superior a duas vezes ao dia, com algum grau de dependência de apoio para ingeri-los: 25% recebiam o medicamento de outra pessoa, 43,8% necessitava de supervisão. Em 12,5% dos casos era comum faltarem os medicamentos. A hipertensão arterial é considerada um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e um importante fator de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, vista como principal causa do IAM. A HAS e o DM constituem os principais fatores de risco populacional para as doenças cardiovasculares, com associação das duas doenças próximas a 50%, o que pode requerer o manejo das duas patologias num mesmo paciente (BRASIL, 2001). Em relação a hábitos de vida e fatores de risco, foram referidos hipercolesteremia (26,7%), obesidade (26,7%), sedentarismo (83,3%) e em menores proporções o uso diário de tabaco (11,1%). Quanto aos hábitos alimentares, havia consumo constante (5 ou mais vezes/semana) de: verduras em 88,9% dos indivíduos; frutas em 61,1%; bebidas industrializadas, em 50% e doces, em 27,8%. Em relação ao uso de serviços de saúde pelos indivíduos que foram à óbito, os familiares informaram que 83,3% utilizavam a unidade básica de saúde (UBS), 57,9% recebiam visita do PSF e 36,8% tinham plano de saúde. O Protocolo de HAS e DM objetiva estimular os profissionais envolvidos na atenção básica a promover ações de prevenção primária e que reconheçam as situações que necessitam de atendimento nas redes secundárias ou terciárias (BRASIL, 2001). Conclusões Os óbitos por infarto estudados podem ser caracterizados como de pessoas brancas, idosas, de classes econômicas mais baixas, com acesso a atenção básica à saúde, que recebiam visita do PSF e utilizavam medicação de uso contínuo. Vários fatores de risco e morbidades anteriores estiveram presentes: mais de 60% tinham hipertensão arterial e eram sedentários e, em menos de 40% observou-se problemas circulatórios, obesidade, hipercolesteremia, infarto anterior, diabetes, uso diário de tabaco e sequela de acidente vascular cerebral. 3 Referências BAENA, C. P; OLANDOSKI, M; LUHM, K. R; COSTANTINI, C. O; SOUZA, L.C. G; NETO, J, R, F. Tendência de mortalidade por infarto agudo do miocárdio em Curitiba (PR) no período de 1998 a 2009. Arq. Bras. Cardiol, Curitiba, 98(3):211-217. 2012. BASSANESI, S. L; AZAMBUJA, M. I; ACHUTTI, A. Mortalidade precoce por doenças cardiovasculares e desigualdades sociais em Porto Alegre: da evidência à ação. Arq. Bras. Cardiol, Porto Alegre, RS, 90(6): 403-412. 2008. BRASIL. MINISTÉRIO DA SÚDE. Hipertensão arterial sistêmica HAS e diabetes mellitus DM PROTOCOLO. Cad. 7. Brasília: Caderno de atenção básica, 2001. DANTAS, R. A. S; AGUILLAR, O. M. Perfil de pacientes com infarto agudo do miocárdio na perspectiva do modelo de “campo de saúde”. Rev. Bras. Enfermagem, Brasília, V. 51, n. 4, p. 571-588.1998. LESSA, I; ARAÚJO, M. J; MAGALHÃES, L; FILHO, N. A; AQUINO, E; COSTA, M. C. R. Simultaneidade de fatores de risco cardiovascular modificáveis na população adulta de salvador (BA). Rev. Panam. de saúde pública, Salvador, BA, 16(2). 2004. MELO, E. C. P; TRAVASSOS, C; CARVALHO, M. S. Qualidade dos dados sobre óbitos por infarto agudo do miocárdio. Rev Saúde Pública, Rio de Janeiro, 38(3): 395-81. 2004. PEDROSA, D. F; REZENDE, L. C. D; SILVA, I. V; RANGEL, L. B. A; GONÇALVES, W. L. S; GRACELI, J. B. Efeitos benéficos do estrogênio no sistema cardiovascular. 2009, V.3, n. 12. SANTOS, R; MARTIN, S; GODOY, I; FRANCO, R. J. S; MARTIN, L. C; MARTINS, A. S. Influência do nível socioeconômico sobre os fatores de risco cardiovascular. JBM, Botucatu, SP, V. 102, n. 2. 2014. SILVA, M. A. D; SOUSA, A. G. M. R; SCHARGODSKY, H. Fatores de risco para infarto agudo do miocárdio no Brasil: estudo FRICAS. Arq. Bras. Cardiol, São Paulo, SP, V. 71, 667-675. 1998. 4