PAINEL ANVISA Painel Técnico Internacional sobre Eficácia e Segurança dos Medicamentos Inibidores do Apetite R ealizado no dia 14 de junho de 2011, o painel foi organizado por integrantes da ANVISA, com sugestões das sociedades de classe. Em reunião feita anteriormente, foi constituída uma comissão com membros da CATEME e um representante das seguintes entidades médicas: AMB, CFM, SBEM, SBC, SBP. O Dr. Ricardo Meirel- les representou a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) na elaboração do painel, composto por dois grupos distintos: os componentes indicados pela ANVISA/CATEME que defendem a suspensão do registro dos medicamentos anorexígenos e o outro grupo que discorda da decisão. Os participantes que iriam apresentar e deAgosto 2011 – ABESO 52 – 13 bater os dados técnicos em favor da eficácia e segurança dos medicamentos foram escolhidos em uma reunião prévia, realizada por membros diretores da SBEM e da ABESO. As perguntas do Termo de Referência, os convites para participação, a ordem dos apresentadores e debatedores foram elaborados por integrantes da ANVISA. De acordo com o documento da ANVISA os critérios para a participação no painel, encaminhado previamente aos convidados, seria criada uma Comissão de relatoria composta por: dois representantes da ANVISA; um representante da CATEME; um representante das Sociedades médicas convidadas, indicado (a) no dia do Painel; e um representante de instituição de ensino convidada, também indicado (a) no dia do Painel. Esta Comissão de Relatoria, coordenada por um dos representantes da ANVISA, deveria acompanhar as discussões e relatar os principais aspectos dos debates, tendo como base o Termo de Referência do Painel. E, ao término dos trabalhos do Painel, o relatório deveria ser entregue ao coordenador da Comissão para o encaminhamento do mesmo às áreas técnicas da ANVISA responsáveis pela organização do evento. A abertura do painel foi feita pelo superintendente da ANVISA, Dr. Dirceu Barbano. Esclareceu que o principal objetivo a ser alcançado no final do painel seria a obtenção das respostas para várias perguntas (contidas no Termo de Referência) dentre elas: 1. Quais seriam os pacientes que se beneficiariam com o uso das medicações, especialmente com o uso da sibutramina? 2. Por que os dados de morbidade 14 – ABESO 52 – Agosto 2011 do SCOUT não poderiam ser extrapolados para o restante da população obesa? 3. Qual o comprometimento dos médicos a respeito do risco/benefício do uso dos medicamentos anorexígenos? O painel foi dividido em dois blocos. No período da manhã o assunto foi a eficácia e a segurança da sibutramina. No período da tarde discutiu-se a eficácia e segurança dos inibidores do apetite catecolaminérgicos. Eficácia e Segurança da Sibutramina Indicada para representar a ANVISA, a Dra Mariana Grandin apresentou os parâmetros científicos da Nota Técnica. Fez um breve histórico da aprovação do uso da sibutramina e das razões de sua retirada do mercado europeu e norte-americano. Justificou a suspensão do registro do medicamento no Brasil, enfatizando os riscos e a falta de eficácia do medicamento. Representando a SBEM, Dr. Ricardo Meirelles apresentou, em seguida, os parâmetros científicos dos pontos discordantes em relação à Nota Técnica da ANVISA. Os principais pontos abordados pelo palestrante foram: 1. Obesidade é doença crônica que acarreta alta morbimortalidade, cuja prevalência está aumentando de forma alarmante no Brasil. 2. Redução de 5% do peso já traz benefícios à saúde do obeso, independente do tratamento utilizado. 3. Há indicação do uso de medicamentos para o tratamento da obesidade e do sobrepeso quando há falha do tratamento não farmacológico. 4. Diretrizes elaboradas pela AMB e filiadas, baseadas em evidências clínicas, são os instrumentos que devem nortear o especialista a tratar o obeso. 5. Existem evidências científicas de que a sibutramina é mais eficaz que o placebo na redução de peso. 6. Não há evidências científicas de que a sibutramina cause hipertensão pulmonar, alterações psiquiátricas graves ou dependência química. 7. Os resultados de morbidade do estudo SCOUT não devem ser extrapolados para o restante da população obesa. A maioria dos pacientes do estudo era composta por indivíduos com doença cardiovascular clinicamente manifesta, aos quais não se indicaria o uso da medicação. 8. Não se deve confundir fator de risco cardiovascular com doença cardiovascular clinicamente manifesta. Os controles metabólico e pressórico obtidos com a perda de peso, independente do tipo de tratamento utilizados reduzem o risco de DCV. O terceiro apresentador foi o Dr. Christian Torp-Pedersen, membro do Steering Committe do SCOUT, indicado pela SBEM para discutir os resultados do estudo em questão. O cardiologista fez um relatório detalhado do delineamento do estudo, da população escolhida e dos resultados dos desfechos primários. Resumindo sua apresentação: 1. Depois da aprovação da medicação na Europa, o EMA exigiu e, após várias negociações, os Laboratórios Abbott aceitaram fazer um estudo para demonstrar a segurança do medicamento. 2. Por isto, foi necessário fazer o estudo grande (10.000 pessoas) em uma população com alta taxa de eventos, para que se pudesse avaliar a segurança da medicação. Decidiu-se fazer um estudo com pacientes de alto risco e manter o medicamento mesmo nos pacientes que não tivessem perdido peso, já que o objetivo não era avaliação de eficácia (já comprovada por estudos anteriores) e, sim, segurança. 3. No final do estudo, a maioria dos obesos tinha mais que 60 anos de idade, 80% deles tinham HAS, 80% eram diabéticos e 80% tinham doença cardiovascular clinicamente manifesta (história de IAM, coronariopatias, AVC, amputações etc). Mais de 60% dos participantes tinham doença cardiovascular e diabetes associados. 4. Observou-se, no final do estudo, que houve incremento apenas de eventos não fatais nos pacientes em uso da sibutramina, em relação ao grupo placebo. Não houve aumento na mortalidade total. 5. Em termos absolutos, durante o período do estudo cerca de 10% dos pacientes tiveram desfechos primários e a diferença entre o grupo de placebo e o de sibutramina foi de apenas 1%. Portanto, o aumento no risco de infarto do miocárdio, de isquemia ou de AVC foi muito pequeno. 6. Quando havia uma doença cardiovascular associada ao diabetes, o aparecimento de novos eventos cardiovasculares foi cerca de 16% maior em todos os pacientes com sibutramina, quando comparados ao grupo placebo. Isto não ocorreu no grupo de diabetes (os resultados foram semelhantes nos grupos tratados e placebo – 6,5%). 7. Como o subgrupo de participantes apenas com diabetes foi pequeno, não há poder estatístico suficiente para afirmar, com segurança estatística, a ausência de risco. No entanto, o palestrante considera o risco pequeno, sem indicativo de aumento de mortalidade em relação ao grupo placebo. 8. Ressalta que nos dois grupos, quando houve redução de peso, houve redução dos eventos cardiovasculares. 9. Aponta que os resultados demonstram que o uso da medicação deve ser limitado à população indicada em bula. Enfatiza que a sibutramina sempre foi contraindicada para pessoas com doenças cardiovasculares estabelecidas. 10.Acrescenta ainda que vários outros medicamentos, incluindo os anti-inflamatórios que causam complicações cardiovasculares, são mantidos no mercado apesar de existirem alternativas terapêuticas. Conclui que, se a sibutramina for retirada do mercado, isto também deverá ser feito com vários outros medicamentos. O apresentador seguinte foi o Dr. Álvaro Atalla, do Centro Cochrane, indicado pela ANVISA. Analisando dados de metanálises (os mesmos que Dr. Ricardo Meirelles mostrou), ele confirmou que há perda de peso significativa da sibutramina em relação ao placebo, redução da cintura abdominal e melhora dos parâmetros metabólicos. No entanto, ele desconsiderou estes achados, focan- do sua apresentação apenas nos aumentos da frequência cardíaca e dos níveis tensionais, eventos adversos bem conhecidos. E cita o SCOUT como único trabalho importante sobre eficácia e segurança da sibutramina. Com uma interpretação diferente do palestrante anterior, considerou os resultados do SCOUT como provas técnicas suficientes dos riscos do uso prolongado da medicação. Manifestações dos Debatedores O Dr. Walmir Coutinho, representante da SBEM, debate, no seu tempo, três das perguntas do Termo de Referência, sendo suas respostas resumidas: 1. O percentual de obesos que não responde às medidas não farmacológicas varia de 50 até 90%, dependendo do tipo de intervenção. Mesmo nos tratamentos mais intensivos, o percentual respondedor não ultrapassa 50%. 2. O uso de medicações dobra a chance de o paciente perder peso com as medidas propostas. 3. A associação de medicamentos ao tratamento dietoterápico e atividade física é segura, sem riscos de alterações hidroeletrolíticas ou complicações cardiovasculares relacionadas à hipopotassemia e às arritmias cardíacas. O Dr. Flávio Danni Fuchs, (FAMED-UFRGS) convidado da ANVISA, discutiu o estudo SCOUT. Em sua opinião o uso prolongado da sibutramina traz alto risco de eventos cardiovasculares em todos os grupos. Considerou que os resultados do SCOUT poderiam ser extrapolados para a população obesa em Agosto 2011 – ABESO 52 – 15 geral, já que a maioria possui pelo menos um fator de risco para desenvolver DCV. O Dr. Desiré Calligari, representando o Conselho Federal de Medicina, se manifestou contrário à retirada da sibutramina do receituário médico, defendendo o direito dos médicos de prescreverem a medicação e também o direito dos pacientes de receberem um tratamento adequado. O último debatedor deste bloco foi o Dr. Francisco José Roma Paumgartten, representando a CATEME, convidado da ANVISA. Referindo-se ao estudo SCOUT, afirmou que a perda de peso durante o estudo foi pequena e que o estudo demonstrou os riscos cardiovasculares. Afirmou não existirem outros estudos que mostrem segurança e eficácia da sibutramina em pacientes sem doença cardiovascular e em diabéticos. A seguir, representantes de entidades e instituições puderam se manifestar rapidamente. Representantes e ex-membros da CATEME e representantes da FIOCRUZ manifestaram-se contra a permanência do medicamento no mercado. Sugeriram que o aumento do consumo da sibutramina nos últimos anos no Brasil ocorreu por desvio de prescrição (tratamento estético). Colocaram em dúvida os resultados apresentados pelos debatedores convidados pela SBEM, por considerar haver conflito de interesse dos médicos especialistas e pesquisadores com a indústria farmacêutica. Insistiram que os eventos adversos e falta da eficácia da medicação eram suficientes para a suspensão do registro da medicação. A SBEM (Dr. Airton Golbert – presidente), a ABESO (Dra. Rosana Radominski - presidente), a SBN 16 – ABESO 52 – Agosto 2011 (Dr. Paulo Giorelli – diretor geral; Dr. Durval Ribas Filho - presidente), a AMB (Dr. Valter Makoto – representante), o CFM (Dimitri Gabriel Homar - conselheiro) e várias outras entidades consideraram que as evidências científicas foram suficientes para demonstrar a eficácia e segurança do uso da sibutramina e definir a população para a qual a medicação é contraindicada. Fechando o bloco, houve as considerações finais dos expositores e debatedores. Aqueles que fizeram pronunciamentos reafirmaram suas posições anteriores. Nesta oportunidade, o Dr. Walmir Coutinho ressaltou que, na opinião dos especialistas, o aumento da venda da sibutramina tem relação com a queda da patente do Laboratório Abbott; e a redução do custo da medicação, com o aumento da concorrência entre os laboratórios. Isto possibilitou a aquisição do medicamento por um grande número de pacientes obesos com faixa de renda baixa, os quais não tinham acesso ao tratamento. Também ressaltou que na prática clínica não se mantém a medicação em pacientes não respondedores ao medicamento ou em pacientes que manifestem um efeito adverso grave. Eficácia e Segurança dos Inibidores do Apetite Catecolaminérgicos Representantes da ANVISA fizeram a apresentação dos parâmetros científicos da Nota Técnica. Em resumo, de acordo com estes representantes, não existem estudos em longo prazo que demonstrem a eficácia das medicações catecolaminérgicas. Afirmam que as medicações causam efeitos adversos graves, entre eles hipertensão pulmonar, dependência química, complicações cardiovas- culares (Torsade de Pointes) e hepatopatias. Por estas razões, de acordo com as apresentadoras, não existe justificativa para a manutenção do registro dos medicamentos no mercado brasileiro. O Dr. Henrique Suplicy, representante da SBEM, apresentou os parâmetros científicos dos pontos discordantes em relação à Nota Técnica da ANVISA. Em resumo, os principais pontos de sua apresentação foram: 1. Apontou 24 estudos citados na Nota Técnica que comprovam a eficácia da anfepramona na perda de peso, sendo que nenhum destes estudos foi considerado adequado, pela GESEF, para avaliação de eficácia da anfepramona, de acordo com os critérios de eficácia de um medicamento novo (RDC 136 – maio de 2003). Note-se que estes critérios são para novos medicamentos e que, se forem aplicados a todos os medicamentos existentes no mercado brasileiro, inúmeros outros também teriam que ser retirados. 2. O FDA levou em consideração a realidade de que novas regras não podem ser aplicadas aos medicamentos antigos, tanto que a anfepramona e a fentermina foram mantidas no mercado americano, apesar dos novos critérios terem sido estabelecidos em 1996. 3. Os catecolaminérgicos (femproporex, anfepramona e mazindol) não estão associados à liberação local de serotonina e não há nenhuma comprovação científica de que os betafenetilamínicos possam induzir hipertensão pulmonar primária (HPP). O relato de caso de Abramowicz, citado na NT, ocorreu em uma paciente que tinha uma mutação genética no BMPR2 (proliferação celular) e, por esta razão, desenvolveu HPP. 4. Não existem evidências científicas de complicações cardiovasculares e arritmias com o uso de anfepramona. Não há comprovação de teratogênese em humanos. Não há contraindicação do uso da medicação em pacientes hipertensos controlados. Os casos de alterações psiquiátricas são raros e geralmente relatados em pacientes com abuso prévio de outras substâncias ou com história de doença psiquiátrica. 5. Com relação ao femproporex, reconhece que existem poucos estudos com duração maior que 12 semanas, porém reafirma que na época da sua aprovação no Brasil (há mais de 30 anos) estudos longos não eram exigidos. 6. Apontou vários pontos discordantes em relação aos efeitos adversos atribuídos ao uso do femproporex na NT. Nos artigos originais estes efeitos estavam relacionados ao uso de anfetaminas, e não de derivados anfetamínicos como o femproporex, como sugerido na NT, sendo que na maioria das vezes eram resultado de intoxicações agudas. Comentou que os efeitos adversos mais frequentemente encontrados com o uso do femproporex estão relacionados à sua ação catecolaminérgica: boca seca, obstipação, distúrbios do sono, irritabilidade e taquicardia. Sendo estes efeitos leves e atenuados com a continuidade de uso da medicação. Afirmou ainda não haver evidências científicas que comprovem o potencial de re- forço em humanos relacionado ao uso de femproporex. 7. Com relação ao mazindol, justificou que a melhora da resistência à insulina, demonstrada em artigos citados na NT, é benéfica aos pacientes com alterações metabólicas e não representa um perigo para estes pacientes, como o sugerido no documento. Ainda utilizando artigos citados na NT, demonstrou que casos de depressão com o uso da medicação são raros. 8. Finalmente, apresentou dados de sua tese de doutoramento (ainda não publicada), um estudo de longo prazo, de avaliação de eficácia do uso dos medicamentos antiobesidade. Demonstrou que a perda de peso com as quatro medicações de ação central (sibutramina, dietilpropiona, mazindol e femproporex) foi significativamente maior do que aquela obtida com o placebo. Os efeitos colaterais mais frequentes foram boca seca, constipação e irritabilidade, sendo estes efeitos atenuados com o tempo de uso. O segundo apresentador deste bloco foi o Dr. Wanderley M. Bernardo, representante da Associação Médica Brasileira (AMB), coordenador do Projeto Diretrizes. Seu assunto foi Medicamentos Catecolaminérgicos – Medicina Baseada em Evidências. Suas principais conclusões foram: 1. A medicina baseada em evidências é centrada no paciente. Leva em consideração os benefícios e os danos ao paciente. Não se pode usar dois pesos e duas medidas, ou seja, dar maior força de evidência aos eventos adversos, e menor, aos benefícios do uso da medicação. 2. De acordo com seu levantamento, existem mais de 1.000 trabalhos publicados com as três substâncias. Sendo a maioria das décadas de 60 e 70. Comenta que, mesmo quando se faz uma avaliação de efetividade recente, deve-se respeitar o tempo de permanência da medicação no mercado. Demonstra que para os três medicamentos o benefício em relação à perda de peso é bem maior que um eventual dano ao paciente (efeitos adversos). 3. Esclarece que, com a elaboração de diretrizes, se fornece ao médico e ao paciente opções de benefício, baseadas em graus de evidências clínicas. 4. Ações regulatórias devem cuidar do paciente como um todo e não serem centradas na droga. Devem levar em consideração a equidade: garantir o uso para todos os pacientes que têm indicação, evitando o uso naqueles que não têm. Em seguida, Dr. Álvaro Atalla, do Centro Cochrane, convidado pela ANVISA, falou sobre eficácia e segurança da anfepramona, do femproporex e do mazindol. Na sua avaliação, não encontrou nenhum trabalho de qualidade ou metanálises, publicados até então, que demonstrassem eficácia do uso destes medicamentos. Debatedores do Segundo Bloco A primeira foi a Dra. Cintia Cercatto. Inicia comentando que, sendo a obesidade uma doença com base fisiopatológica em SNC, é evidente que as medicações para seu tratamento precisam ter ação central. Agosto 2011 – ABESO 52 – 17 Respondendo às perguntas do painel, afirma que existem dados técnicos científicos da eficácia dos catecolaminérgicos no tratamento da obesidade. Comenta que exigências de estudos de longa duração, com grande número de pacientes, para avaliação de eficácia e segurança de medicamentos, são recentes e devem ser aplicadas para novos medicamentos. Não é possível avaliar um estudo antigo com regras novas. Reforça a baixa prevalência dos eventos adversos dos medicamentos. Relembra que os anorexígenos são considerados com baixo potencial de abuso – grau IV (na escala internacional de I a V). Raramente estão associados à mania ou depressão. Não há dados de ideação ou suicídio no contexto do tratamento clínico da obesidade. Não há evidências científicas do aparecimento de HPP com os catecolaminérgicos. Demonstra com artigos científicos que o efeito da anfepramona sobre o sistema cardiovascular é pequeno e não há risco de arritmias graves e morte súbita. O próximo debatedor foi o Dr. Flávio Danni Fuchs (cardiologista FAMED-UFRGS). Inicialmente mostra um slide em branco, dizendo que não iria debater porque não existem dados publicados a respeito dos catecolaminérgicos, mas depois acaba discutindo sobre a falta de eficácia destes medicamentos e sobre os efeitos adversos. Sem nenhuma contribuição para o que foi discuti- 18 – ABESO 52 – Agosto 2011 do até então. O debatedor seguinte seria um representante da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, que não compareceu (de acordo com dirigentes da ANVISA, o convite foi feito). O Dr. Francisco José Roma Paumgartten, último debatedor, se mostrou frontalmente contra a permanência dos catecolaminérgicos e criticou fortemente um dos estudos publicados. Em sua opinião, os medicamentos catecolaminérgicos já deveriam ter sido retirados do mercado há muito tempo. Não representam uma alternativa terapêutica. Em seguida, novamente as instituições e entidades se manifestaram. Semelhante ao que ocorreu no primeiro bloco, as opiniões ficaram polarizadas: de um lado os membros da ANVISA, CATEME e seus convidados, a favor da suspensão dos catecolaminérgicos. Insistindo na falta de eficácia dos medicamentos e no grande número de eventos adversos. De acordo com os técnicos da ANVISA, há subnotificação dos danos. Do outro lado, o CFM, a AMB e suas filiadas, a favor da permanência dos medicamentos, defendendo o direito do médico de tratar e do paciente, de ser tratado. Sugerindo maior controle dos órgãos de vigilância sobre a venda ilegal dos medicamentos e no desvio de prescrições. Apontou-se para o fato do pequeno número de notificações de eventos adversos relacionados aos catecolaminérgicos, frente ao tempo de permanência dos mesmos no mer- cado e o número de prescrições/ano. Ressaltou-se, ainda, que estes eventos adversos ocorrem mais frequentemente com o uso indevido do fármaco (usado como estimulante, em quantidades excessivas ou misturado com outras substâncias), do que quando administrado para o tratamento da obesidade. Solicitou-se que as Diretrizes para o Tratamento do Sobrepeso e Obesidade fossem respeitadas e adotadas para o norteamento do tratamento do obeso. Finalmente, as considerações finais dos expositores e debatedores foram feitas em um plenário esvaziado e exausto. Houve repetições de argumentos de ambos os lados, sem um denominador comum. A Comissão de Relatoria não foi formalmente nominada, e não se reuniu no final do painel para elaborar o relatório a ser encaminhado às áreas técnicas da ANVISA responsáveis pela organização do Painel. Conclusões Apesar da sensação do dever cumprido, tendo respondido tecnicamente as questões formuladas no Termo de Referência e todas as outras formuladas durante o debate, saímos da reunião com a convicção de que nada do que dissemos ou discutimos repercutiu na decisão pré-formada dos membros da ANVISA: banir os medicamentos antiobesidade de ação central no Brasil. Se isto se confirmar, só nos restará partir para as medidas judiciais.