Necessidades importantes e desconhecidas da DPOC Dr. Roberto Stirbulov CREMESP 38.357 Necessidades importantes e desconhecidas da DPOC Dr. Roberto Stirbulov – CREMESP 38.357 Pneumologista A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é definida qualidade de vida, ou no declínio da função pulmonar no de- pelas diretrizes internacionais e brasileiras como condição correr do tempo, na redução da morbidade e mortalidade. mórbida passível de prevenção e tratável, caracterizada pela redução progressiva do fluxo em vias aéreas, parcial- Ciclo vicioso da progressão da DPOC – HRQoL (qualidade de vida) DPOC mente reversível e com importantes manifestações sistêmicas. A DPOC tem como substratos fisiopatológicos inflama- Exacerbações ção crônica, estresse oxidativo e desequilíbrio da relação Limitação do fluxo expiratório Aprisionamento aéreo Hiperinsuflação Falta de ar protease/antiprotease. Esses processos são consequentes à exposição a partículas e gases nocivos, dos quais se des- Descondicionamento tacam os produtos oriundos da queima do tabaco. HRQoL Inatividade Diminuição da capacidade de exercício Assim, depreende-se que as ações determinantes da Incapacidade cessação do tabagismo são importantes e fundamentais Progressão da doença Figura 1 Morte precoce Cooper C. Am J Med 119:S21-31 para prevenção e controle da DPOC. A deterioração progressiva da função pulmonar, caracterizada pela redução O manejo da DPOC tem sido considerado, analogamente dos fluxos expiratórios e do consequente aprisionamento ao manejo da asma, como uma conjunção de ações que aéreo ou hiperinsuflação pulmonar, é consideravelmente visam o controle do impacto atual da doença no paciente acelerada pelos episódios de exacerbação. e a prevenção do risco futuro, como mostra a figura 2. Juntos, piora progressiva da função pulmonar e exacer- Conceito atual do manejo da DPOC bações, promovem um ciclo interativo, composto por Manejo da DPOC dispneia, redução da capacidade de exercício, inativida- Supressão do tabagismo de física e descondicionamento, causando progressão da Controle do impacto atual doença, comprometimento da qualidade de vida e mortalidade precoce, como mostra a figura 1. A modificação do curso da DPOC, objetivo fundamental da terapia medicamentosa e não medicamentosa, pode ser ba- Dispneia Limitação de atividades Queda da função pulmonar Qualidade de vida Piora da qualidade de vida Necessidade de med. resgate EA medicamentos Queda da função pulmonar Comorbidades Exacerbações Comorbidades futuras Mortalidade EA: Eventos Adversos seada nos resultados centralizados no paciente, como sinto- Figura mas, limitação das atividades físicas e comprometimento da Prevenção dos riscos futuros O sucesso dessa estratégia de manejo está baseado nos Espirograma normal e espirograma típico de paciente com DPOC* itens abaixo relacionados: 1. Diagnóstico precoce da doença, que deve basear-se nos sinais e sintomas manifestados pelo paciente, na 0- história de exposição ambiental agressiva, principal- 1Litros mente ao tabagismo, e na realização da espirometria, exame que define o diagnóstico da DPOC. É importante VEF1 CVF VEF1/CVF Normal 4,20 5,10 82% DPOC 2,30 3,90 59% 2- VEF1 34- salientar que muitos indivíduos se adaptam à sua con- VEF1 5- Normal - - - - - 1 2 3 4 5 6 Figura 3 te se tem falta de ar, a resposta pode ser negativa. Con- CVF CVF - dição mórbida e, caso o médico simplesmente pergun- DPOC Segundos *pós-broncodilatador siderando esse aspecto, a Iniciativa Global para o Manejo da DPOC (GOLD) elaborou um inquérito preliminar Estratégias breves para ajudar o paciente a abandonar o tabagismo de cinco perguntas, facilmente aplicáveis em qualquer 1. Pergunte: sistematicamente identifica todos os fumantes a cada visita. Implemente um sistema amplo no consultório que assegura que para CADA paciente, a CADA visita clínica, a situação uso-do-tabaco é questionada e documentada. consulta médica. (Quadro 1) Se o paciente responder positivamente a pelo menos três delas, estará indica- . Aconselhe: recomenda fortemente a cada fumante que pare. De uma maneira clara, forte e personalizada, recomenda o usuário do tabaco a parar. da a realização da espirometria. (Figura 3) Caso o re- 3. Avalie: determina a disposição do paciente em fazer uma tentativa de parar. Pergunta a todo usuário de tabaco se ele ou ela está disposto a fazer uma tentativa de parar nesse momento (ex.: dentro dos próximos 30 dias). sultado desse exame mostre relação VEF1/CVF abaixo de 70% após uso de broncodilatador e o paciente não . Assista: ajuda o paciente a parar. Ajuda o paciente com planos para parar; ajuda o paciente a obter apoio social de tratamento extra; recomenda o uso de farmacoterapias aprovadas exceto em circunstâncias especiais; forneça materiais suplementares. apresente histórico, sinais e sintomas de asma, está feito o diagnóstico da DPOC, e o tratamento deve ser 5. Esquematize: marca um horário para o contato de acompanhamento. Esquematiza o contato em pessoa ou por telefone. iniciado. Essa ação vai propiciar o diagnóstico e a in- Quadro tervenção terapêutica precoces, com reais benefícios futuros para o indivíduo. 3. Administração de medicamentos broncodilatadores inalatórios eficazes, de longa duração e seguros que Perguntas desenvolvidas pelo GOLD para inquérito diagnóstico da DPOC propiciem a aderência pelo paciente, uma vez que serão tomados por tempo prolongado. 1- Você tem tosse diariamente? 2- Você tem catarro todos os dias? 4. Estímulo à prática de atividade física aeróbica, por 3- Você se cansa mais do que uma pessoa da sua idade? exemplo, caminhadas diárias. 4- Você tem mais de 40 anos? 5- Você é fumante ou ex-fumante? 5. Prevenção, reconhecimento e tratamento precoces Três respostas positivas indicam a necessidade de realizar espirometria das exacerbações. Quadro 1 6. Promoção de ações nutricionais para que o paciente 2. Ações eficazes para a supressão do tabagismo. Em ganhe ou não perca massa magra, mantendo a função toda consulta médica deve-se realizar a abordagem do muscular adequada. paciente visando a cessação do tabagismo. O quadro 2 resume a abordagem breve por parte do médico, a fim As ações acima relacionadas vão propiciar a desacele- de promover evidentes resultados práticos. ração do componente inflamatório e estresse oxidativo, com declínio das alterações estruturais das vias aéreas, No estudo Lung Health, a cessação do tabagismo resultou melhora do fluxo expiratório e redução da hiperinsufla- em significativo impacto positivo no VEF1, mesmo em indi- ção pulmonar. Consequentemente o paciente manifestará víduos com DPOC leve. Depois de 11 anos de observação, melhora da dispneia, ganho de capacidade para exercí- a taxa de declínio do VEF1 nos que continuavam fumando cio, redução da exacerbação pulmonar e ganho de qua- foi duas vezes maior do que naqueles que se mantiveram lidade de vida, objetivo fundamental do manejo da DPOC. abstinentes. Ou seja, deve-se procurar fazer com que o indivíduo viva mais e melhor. Em análise mais recente desse estudo, após 14,5 anos, constatou-se que no grupo de pacientes tratados para O exposto acima mostra que o manejo da DPOC é multi- cessação do tabagismo houve redução de 18% na morta- fatorial, com ações igualmente importantes e inter-relacio- lidade por todas as causas, incluindo doença coronaria- nadas, que devem ser sempre consideradas pelo médico, na, doença cerebrovascular e câncer de pulmão. além do que paciente e cuidadores necessitam estar cientes desses vários aspectos. Abaixo vamos particularizar Esses dados confirmam de forma inequívoca que é funda- dois aspectos importantes que colaboram para o controle mental que o médico sempre promova o tratamento para da DPOC e dizem respeito à cessação do tabagismo. supressão do tabagismo em todos os pacientes fumantes. No caso da DPOC os resultados mais marcantes serão: melhora da função pulmonar, redução das exacerbações, Cessação do tabagismo melhora dos sintomas e aumento da sobrevida e da quaTabagismo é a principal causa da DPOC. Como mostra o lidade de vida. importante estudo de Fletcher e Peto, a função pulmonar, avaliada por meio do volume expiratório no primeiro se- Farmacoterapia da DPOC gundo (VEF1), declina naturalmente com a idade, mas em fumantes suscetíveis a taxa de declínio é acelerada con- As diretrizes atuais recomendam que os portadores de sideravelmente, predizendo aumento da mortalidade em DPOC com estágio de moderado a grave devam receber pacientes com DPOC. A cessação do tabagismo muda de um ou mais broncodilatadores inalatórios de longa dura- forma evidente o curso clínico da DPOC, preservando a ção. Os betagonistas de longa duração (LABA) formote- função pulmonar e aumentando a sobrevida. Esses dados rol e salmeterol têm se mostrado eficazes e seguros em podem ser visualizados na figura 4. pacientes com DPOC estável. Esses medicamentos apresentam efeito broncodilatador prolongado, promovendo diminuição de sintomas diurnos e noturnos, redução da 75 - Fumou regularmente e é suscetível ao 50 - tabagismo Incapacidade 25 - exercício e da qualidade de vida. Cessou aos 45 Os dados atuais existentes mostram que os LABAs podem modificar o curso da DPOC por meio da melhora de parâmetros como função pulmonar, redução dos sintomas e Cessou aos 65 - - Morte 025 frequência de exacerbações e melhora da capacidade de Nunca fumou ou não é sensível à fumaça 100 - - VEF1 (% do valor aos 25 anos) Impacto do tabagismo no declínio da função pulmonar e na sobrevida 50 Idade (anos) 75 exacerbações. VEF1: volume expiratório forçado no primeiro segundo Figura Outro fármaco utilizado no tratamento da DPOC é o tiotró- Adaptado de Fletcher & Peto Br Med J 1977;1:1645-1648 pio, anticolinérgico de ação prolongada. Os dados atuais evidenciam que indivíduos tratados com esse medicamen- 1. Efeitos adversos, como tremores periféricos, hipopo- to apresentam melhora considerável da dispneia, redução tassemia, arritmias, prostatismo, glaucoma. das exacerbações e melhora da qualidade de vida. 2. Tafilaxia pelo uso prolongado. Os corticosteroides inalatórios associados aos broncodi3. Baixa aderência medicamentosa pela necessidade de latadores de ação prolongada são recomendados pelas diretrizes brasileiras e internacionais a portadores de utilização duas vezes ao dia. DPOC grave e muito grave que têm exacerbações mais de 4. Dispositivos com resistência interna incompatível com duas vezes por ano. a pressão inspiratória do paciente. Apesar de resultados de ensaios clínicos e recomendações de diretrizes mostrarem que dispomos hoje de armamen- Dessa forma, vislumbra-se o futuro lançamento de medi- tário farmacológico eficaz e seguro para o tratamento da camentos que tenham as vantagens dos broncodilatado- DPOC estável, alguns aspectos inerentes aos medicamen- res em utilização na atualidade e que possam suplantar tos, ainda presentes, devem ser considerados, como: as dificuldades listadas acima. Referências bibliográficas: • Fletcher C & Peto R. The natural history of chronic airflow obstruction. Br Med J. 1977:1645-8. • Anthonisen NR et al. The effects of a smoking cessation intervention on 14,5 year mortality: a randomized clinical trial. Ann Int Med 2005:142-233-9. • GOLD Global Initiative for COPD. J Resp Crit Care Med 2007. www.gold.org. • III Diretriz Brasileira para o Manejo da DPOC. Disponível em www.sbpt.org.br. O conteúdo deste material é de responsabilidade exclusiva de seu autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Novartis, que apenas patrocina sua divulgação exclusivamente à classe médica. Direitos autorais reservados ao Dr. Roberto Stirbulov – CREMESP 38.357 © EUROPA PRESS Produção editorial: Europa Press Tiragem: 6.000 exemplares 4256-5_NOV_BRA_LC_v3 Jornalista responsável: Pedro S. Erramouspe COPYRIGHT 2010 Desenho: Marcelo Peigo Empresa responsável: Europa Press Comunicação Material destinado exclusivamente à classe médica. 6232199 - ON STEP 4 6.0 0410 BR Produzido em Janeiro / 2010