Preconceito e Desemprego: Formas de Subjetivação por meio do mundo do trabalho Fabiana Olivieri Catanzaro Universidade de São Paulo – Instituto de Psicologia 1. Objetivos Neste trabalho os objetivos eram os de levantar bibliograficamente dentro da Teoria Crítica as possíveis relações entre o preconceito e o desemprego e a auto-recriminação do desempregado. Segundo os autores da Teoria Crítica, Marx, Horkheimer, Adorno e Marcuse, o preconceito é considerado algo irracional, resultante de um sistema social também irracional, que gera grupos de pessoas mais frágeis, consideradas minorias, excluídas socialmente, consideradas menos merecedoras da repartição das conquistas sociais. No mundo do trabalho, entendido como necessidade central da vida no capitalismo neoliberal, o preconceito é possível dentro da falsa necessidadede que as pessoas precisem se afirmar pela superioridade (meritocracia) a outras, e essa superioridade sentida como necessária é fruto do sistema competitivo, logo excludente. A visão que o desempregado tem de si é objetivo desta pesquisa, para verificar se o mundo do trabalho é capaz de criar uma atitude de autorecriminação nos próprios desempregados por estarem vivendo esta situação. 2. Material e Métodos Foi feito um questionário semi-dirigido para entrevistar 6 desempregados entre 35 e 51 anos. As entrevistas foram realizadas em locais que ofereciam intermediação de mão-de-obra (IMO) - Poupatempo e Força Sindical) As entrevistas foram gravadas com gravador de fita K7 e transcritas. Os entrevistados receberam informações relativas à pesquisa, sobre o interesse de saber como a pessoa, enquanto desempregada, estava compreendendo sua situação. Um termo de consentimento da entrevista e da gravação foi assinado pelos entrevistados no momento em que concordavam com a entrevista. 3. Resultados e Discussão Foi possível observar que os desempregados expressam verbalmente terem sentimentos de inferioridade, indignidade, inutilidade, quando se percebem fora das atividades reguladas por um trabalho formal, o que os força a esperarem por pedidos de serviços autônomos, ou a serem chamados para entrevistas, numa posição de passividade e espera. A divisão do tempo, as relações de contrato e as atividades se alteram, o que gera a crença de inutilidade de ficar em casa. Esses sentimentos comprovam que o desempregado é visto como alguém sem força de vontade, ou seja, ao individualizar o problema, é possível notar que há formas preconceituosas de categorizar o desempregado em nossa sociedade. Em relação à auto-recriminação, vimos que as categorias trazidas como motivos para o desemprego não eram outras senão as mesmas apontadas como falhas pessoais no momento da busca de uma vaga no mercado de trabalho, ou seja, eram citados a idade, a escolaridade e a experiência como principais fatores. Os desempregados se apropriam desse discurso que os desvaloriza em características pessoais, sem deixarem de valorizar a possibilidade de novamente estarem empregados, como via para a dignidade (competência de autoconservação). 4. Conclusões Concluímos que o preconceito contra o desempregado existe a partir do próprio discurso dos desempregados, pois ao dizerem sentir-se inferiores e indignos devido à falta de um emprego, é porque em nossa sociedade existe essa diferenciação entre os dignos e os indignos ligada à categoria emprego. No entanto a autorecriminação não pode ser comprovada, pois os discursos relativos ao próprio desemprego são a repetição de uma prática discursiva presente no mercado de trabalho, no momento de inclusão ou exclusão de uma pessoa num emprego. A mera repetição, aqui, não pode ser compreendida como auto-recriminação. 5. Bibliografia Adorno, T.W. (1991). De la Relación entre Solciología e Psicología. Actualidad de la Filosofía Barcelona: Paidós,: I.C.E. de la Universidad Autónoma de Barcelona (Originalmente publicado em1955) Adorno et al. (1965) Personalidad Autoritaria Estudios sobre el Prejuicio, Buenos Aires: Proyección