Volume 28 número 1 Janeiro - Março 2010 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA The Brazilian Association for Horticultural Science IAC - Centro de Horticultura C. Postal 28, 13012-970 Campinas – SP Tel./Fax: (0xx19) 3202 1725 E-mail: [email protected] Site: www.abhorticultura.com.br Presidente/President Paulo César T de Melo USP-ESALQ - Piracicaba Vice-Presidente/Vice-President Dimas Menezes UFRPE - Recife 1º Secretário / 1st Secretary Valéria Aparecida Modolo IAC - Campinas 2º Secretário / 2nd Secretary Eunice O Calvete UPF-FAMV - Passo Fundo 1º Tesoureiro / 1st Treasurer Sebastião Wilson Tivelli IAC - Campinas 2º Tesoureiro / 2nd Treasurer João Bosco C da Silva Embrapa Hortaliças COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Editorial Committee C. Postal 190, 70351-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 3385 9088 / 3385 9049 / 3385 9000 Fax: (0xx61) 3556 5744 E-mail: [email protected] Presidente / President Paulo Eduardo de Melo Embrapa Estudos Estratégicos e Capacitação Editor Assistente / Assistant Editor Mirtes F Lima Embrapa Hortaliças Coordenação Executiva e Editorial / Executive and Editorial Coordination Sieglinde Brune Editores Associados / Associated Editors Antônio T Amaral Júnior UENF - Campo dos Goytacazes Arminda M de Carvalho Embrapa Cerrados Gilmar Paulo Henz Embrapa Hortaliças Francisco Bezerra Neto UFERSA - Mossoró Paulo E Trani IAC - Campinas Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 ISSN 0102-0536 Sebastião Wilson Tivelli IAC - APTA - São Roque Editores Científicos / Scientific editors Ana Cristina PP de Carvalho Embrapa Agroindústria Tropical Ana Maria MP de Camargo IEA - São Paulo André Luiz Lourenção IAC - Campinas Antônio Evaldo Klar UNESP - Botucatu Arthur Bernardes Cecilio Filho UNESP - Jaboticabal Carlos Alberto Lopes Embrapa Hortaliças Daniel J Cantliffe University of Florida Derly José H da Silva UFV - Viçosa Francisco Antônio Passos IAC - Campinas José Fernando Durigan UNESP - Jaboticabal José Magno Q Luz UFU - Uberlândia Luiz Henrique Bassoi Embrapa Semi-Árido Maria de Fátima A Blank UFS - DEA Maria do Carmo Vieira UFGD - Dourados Mônica S de Camargo IAC - APTA - Piracicaba Paulo César T de Melo USP-ESALQ Renato Fernando Amabile Embrapa Cerrados Ricardo Alfredo Kluge USP-ESALQ Roberval D Vieira UNESP - Jaboticabal Rogério L Vieites UNESP - Botucatu Vagner Augusto Benedito Samuel Roberts Noble Foundation - USA Valter R Oliveira Embrapa Hortaliças Waldemar PC Filho IEA - São Paulo 1 A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo AGRIS/FAO, AGROBASE, CAB, JOURNAL CITATION REPORTS, SciSearch® e TROPAG Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/hb www.abhorticultura.com.br Programa de apoio a publicações científicas Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983 Trimestral Títulos anteriores: V. 1-3, V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura. 1961-1963, Olericultura. Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969. Editoração e arte/Composition João Bosco Carvalho da Silva Revisão de inglês/English revision Carlos Francisco Ragassi Revisão de espanhol/Spanish revision Marcio de Lima e Moura Tiragem/printing copies 1.000 exemplares 2 Periodicidade até 1981: Anual. de 1982 a 1998: Semestral de 1999 a 2001: Quadrimestral a partir de 2002: Trimestral A partir de 2005: Sociedade de Olericultura do Brasil denomina-se Associação Brasileira de Horticultura ISSN 0102-0536 1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de Horticultura. CDD 635.05 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Volume 28 número 1 Janeiro - Março 2010 ISSN 0102-0536 SUMÁRIO / CONTENT * Artigos em inglês com resumo em português * Articles in English with an abstract in Portuguese CARTA DO EDITOR / EDITOR'S LETTER 5 PESQUISA / RESEARCH Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia Evaluation of watermelon genotypes for resistance to Papaya ringspot virus, type watermelon JV Vieira; AC Ávila; GO Silva 7 Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento Postharvest conservation and quality of okra submitted to different temperatures and storage forms Wagner F da Mota; Fernando L Finger; PR Cecon; DJH Silva; PC Corrêa; LP Firme; GP Mizobutsi 12 * Uso de água e produção de cebola em sistemas de plantio direto e convencional * Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems WA Marouelli; RP Abdalla; NR Madeira; HR Silva; AS Oliveira 19 Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto Single head broccoli cultivars production in summer under no-tillage RAC Melo; NR Madeira; JR Peixoto 23 Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina Production and physiologic indicators of lettuce grown in hydroponics with saline water D Paulus; D Dourado Neto; JA Frizzone; TM Soares 29 Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral Productivity of lettuce and rocket in intercropping system under organic and mineral fertilization EQ Oliveira; RJ Souza; MCM Cruz; VB Marques; AC França 36 Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas Performance of the kale-coriander intercropping in organic cultivation and its influence on the populations of ladybeetles ALS Resende; AJS Viana; RJ Oliveira; EL Aguiar-Menezes; RLD Ribeiro; MSF Ricci; JGM Guerra 41 Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental Genetic dissimilarity among pepper accessions with potential for ornamental use RS Neitzke; RL Barbieri; WF Rodrigues; IV Corrêa; FIF Carvalho 47 Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores Respiratory rate and ethylene production of whole and minimally processed beet roots submitted to ethylene and bioregulators treatments RA Kluge; AA Picoli; JS Aguila 54 * Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes * Performance of lettuce in sole cropping and intercropping with green manures ACA Negrini; PCT Melo; EJ Ambrosano; RH Sakai; EA Schammass; F Rossi 58 Germinação in vitro de sementes de alcachofra In vitro artichoke seed germination CF Moraes; M Suzin; AA Nienow; MF Grando; N Mantovani; EO Calvete; BT Donida 64 Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos Growth analysis of potted gerbera grown in different substrates F Ludwig; AC Guerrero; DM Fernandes; RL Villas Boas 70 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMMUNICATION Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo Successive organic cultivation of vegetable crops in two irrigation systems and two soil covers RBF Branco; LGC Santos; R Goto; I Ishimura; S Schlickmann; CS Chiarati Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 75 3 * Alterações na qualidade de folhas de couve inteiras e minimamente processadas conservadas em diferentes temperaturas * Effect in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures AN Simões; M Puiatti; LCC Salomão; PR Mosquim; R Puschmann 81 Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface Effect of organic material on the production and characteristics of lettuce cultivars A Santi; MAC Carvalho; OR Campos; AF Silva; JL Almeida; S Monteiro 87 Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco Quality and nutrient content of lady palm in coconut fiber substrate FS Alves; JM Jasmim; AJC Carvalho; JTL Thiébaut 91 Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido Nitrogen fertilization in garlic free of virus cultivated in protected environment LJC Fernandes; LT Büll; JC Corrêa; MA Pavan; I Imaizumi 97 Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici Reaction of tomato genotypes to races 2 and 3 of Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici LT Souza; SJ Michereff; D Laranjeira; DEGT Andrade; E Ferraz; GSA Lima; A Reis 102 Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie primitiva e medicinal Seed germination and seedling emergence of Dorstenia cayapia: primitive and medicinal species JMQ Luz; AF Carvalho; DG Santana; MAD Silva 107 PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE Produção de biomassa e teor do óleo essencial de cidrão em função da adubação orgânica Biomass production and essential oil content of lemon verbena in response to organic manure application RS Brant; JEBP Pinto; SKV Bertolucci; CJB Albuquerque 111 Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal Performance of hybrids of cauliflower for summer season, in Jaboticabal, Brazil BCBA Monteiro; HCO Charlo; LT Braz 115 Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino Reproduction of Meloidogyne spp. in rootstocks and cucumber hybrids SRS Wilcken; JMO Rosa; ARO Higuti; MJM Garcia; AII Cardoso 120 Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal Attributes of vegetables based on consumer´s needs: a case study on bell peppers in Distrito Federal, Brazil SS Onoyama; FJB Reifschneider; AW Moita; GS Souza 124 ERRATA 133 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS FOR AUTHORS 134 Artigo da capa - Zingiberales ornamentais diversificando a foricultura tropical. 4 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Carta do editor Prezados, Não poderia iniciar esta carta com outra informação que não a nova classificação da Horticultura Brasileira no sistema Qualis: passamos a ser uma revista B1, ou seja, estamos ao lado das melhores revistas editadas no Brasil no campo das ciências agrárias! Compartilhamos essa conquista com toda a família Horticultura Brasileira. Em função da nova classificação, além de estarmos entrando em nosso segundo ano indexados pela Web of Science, passamos a receber um grande volume de trabalhos, com incremento inclusive nos trabalhos que vêm do exterior. Por isso foi necessário que efetuássemos algumas mudanças, para continuar atendendo bem a todos. Nosso primeiro passo foi aumentar o número de editores. Assim, saudamos e damos boas-vindas aos nossos novos editores científicos, Marinice Oliveira Cardoso, Rosana Rodrigues, Itamar Rosa Teixeira, Juliano Tadeu Vilela de Resende e Wagner Ferreira da Mota; além da nossa nova Editora Associada, Ronessa Bartolomeu de Souza. A todos, muito obrigado por aceitarem o convite e mãos-à-obra... Fizemos alterações também no processo de tramitação dos trabalhos. Adicionamos duas novas solicitações para que um trabalho entre em tramitação. Doravante, os autores devem indicar na carta de encaminhamento: 1. a relevância do trabalho (importância e distinguibilidade em relação a trabalhos já existentes), em no máximo dez linhas; 2. pelo menos duas pessoas, de instituições distintas daquelas a que pertencem, que possam atuar como assessores ad hoc imparciais. Com essas alterações, esperamos manter a tramitação dos trabalhos em um ritmo adequado. Gostaria de chamar a atenção também para a nossa capa. Em 2010, celebramos o ano da biodiversidade. Por isto, nesta capa, homenageamos um dos nosso mais importantes patrimônios naturais: as plantas ornamentais tropicais. Finalmente, ficam aqui as nossas despedidas ao Editor Científico Ricardo Alfredo Kluge, que após vários anos de dedicação à nossa Horticultura Brasileira, deixa, a seu pedido, a condição de Editor. Prezado, a Horticultura Brasileira lhe é muitíssimo grata pelo excelente trabalho realizado. Até o próximo volume, Paulo Melo, editor-chefe Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 5 Editor's letter Dearest, I could not start this letter with other information but our new rank at the Qualis system: we are now a B1 journal, i.e., we are side-by-side with the top journals published in Brazil in the field of agricultural sciences! We share this achievement with the whole Horticultura Brasileira family. In light of this new rank, in addition to be entering already our second year indexed by the Web of Science, we are receiving a large volume of manuscripts, even from abroad. Therefore, we needed to implement a couple of changes, to continue responding well to all. Our first step was to increase the number of editors. So, we welcome our new scientific editors, Marinice Oliveira Cardoso, Rosana Rodrigues, Itamar Rosa Teixeira, Juliano Tadeu Vilela de Resende and Wagner Ferreira da Mota; as well as our new Associate Editor, Ronessa Bartolomeu de Souza. Thank you all for accepting the invitation and let´s set to work... We made changes also in the reviewing process. We introduced two new requests for a manuscript to be eligible for peer reviewing. Henceforth, authors should point in the cover letter: 1. The relevance of the work (importance and distinctiveness in relation to existing papers) in no more than ten lines; 2. At least two persons, from institutions other than those authors are affiliated to, who can act as impartial peer reviewers. We believe these changes will allow us to keep the peer reviewing process at an adequate pace. I would like to draw you attention also to our cover. In 2010, we celebrate the year of biodiversity. Therefore, this cover is dedicated to one of our main natural heritages: tropical ornamental plants. Finally, here we say goodbye to our Scientific Editor Ricardo Alfredo Kluge, who after many years of dedication to Horticultura Brasileira, leaves, at his request, the Editorship. Dear, Horticultura Brasileira is enormously grateful for the excellent work you have done. See you in the next volume, Paulo Melo, editor-in-chief 6 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Pesquisa / Research VIEIRA JV; ÁVILA AC; SILVA GO. 2010. Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia. Horticultura Brasileira 28: 7 - 11. Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia Jairo V Vieira; Antonio Carlos de Ávila; Giovani Olegário da Silva Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; [email protected] RESUMO ABSTRACT Verificou-se a eficiência de duas metodologias de avaliação em nove genótipos de melancia da resistência a três isolados de Papaya ringspot virus, estirpe melancia (PRSV-W), de três regiões brasileiras. O delineamento do experimento foi em blocos casualizados com quatro repetições. Cada parcela foi composta de um vaso com 5 kg de substrato com cinco plantas de melancia por vaso. Aos 10 e 13 dias após a semeadura, três isolados do PRSV-W coletados nos estados de Goiás, Pernambuco e São Paulo, foram inoculados mecanicamente. Aos 27 e 37 dias após a semeadura foram feitas avaliações visuais de sintomas de vírus. A confirmação da presença ou não do vírus nas plantas inoculadas foi feita através do teste sorológico Das-Elisa, utilizando anti-soro policlonal. Foram realizadas análises de variância, estimadas as herdabilidades, calculadas as correlações entre os caracteres, e efetuadas comparações das médias dos genótipos e dos diferentes inóculos. Pelo comportamento diferenciado dos genótipos em relação aos isolados avaliados, conclui-se que isolados provenientes de diferentes regiões devem ser testados nos programas de melhoramento de melancia. Os altos valores de herdabilidade para a maioria dos caracteres indicam que a característica em estudo está sob o controle de poucos loci e que, portanto, a possibilidade de seleção de materiais resistentes é alta. Em geral, os genótipos mostraram um nível de tolerância superior ao da cultivar predominante no mercado brasileiro (Crimson Sweet). Portanto, podem servir de base para a produção de cultivares mais tolerantes ao PRSV-W. Evaluation of watermelon genotypes for resistance to Papaya ringspot virus, type watermelon Palavras-chave: Citrullus lanatus var. lanatus, absorbância, correlação, herdabilidade. Keywords: Citrullus lanatus var. lanatus, absorbance, correlation, heritability. The aim of this study was to assess the resistance of nine watermelon genotypes against three PRSV-W isolates originated from three Brazilian States (São Paulo, Goiás and Pernambuco). The experiment was carried out at Embrapa Hortaliças, Brasilia, Brazil, in April 2004. Nine watermelon genotypes were appraised, in a randomizated block design with four replications. Each plot was comprised of one 5 kg pot and five watermelon plants per pot. Ten to 13 days after sowing, inoculation was carried out with three PRSV-W isolates. Twenty-seven and 37 days after sowing, virus symptoms were evaluated. Virus presence or absence in the inoculated plants was confirmed by Das-Elisa. The results comprised variance analysis, heritability estimation, correlations among the characters, and genotype comparisons. Based on the different behavior of the genotypes in relation to each PRSV-W isolate, it is concluded that different isolates should be used in watermelon breeding programs. The high heritability values for most of the characters indicated that the characteristic in study is under the control of a few loci and, therefore, the possibility of selection of resistant watermelon accesses is high. The evaluated genotypes showed higher virus tolerance compared to the most planted cultivar in the country (Crimson Sweet), as it can be verified by the average values. The results suggest that the selected watermelon accesses are a good source of resistance to new watermelon cultivars tolerant to PRSV-W. (Recebido para publicação em 26 de novembro de 2008; aceito em 25 de janeiro de 2010) (Received on November 26, 2008; accepted on January 25, 2010) N o Brasil, os vírus na família Potyviridae têm recebido maior atenção por parte dos melhoristas de cucurbitáceas por representarem fatores limitantes no cultivo de melancia (Citrullus lanatus L.) e de várias outras cucurbitáceas nas principais regiões produtoras do país. O gênero Potyvirus se sobressai em importância econômica para as cucurbitáceas no Brasil, por conter três espécies de relevância para os cultivos do meloeiro (Cucumis melo L.) e da melancia: vírus da mancha anelar do mamoeiro Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 estirpe melancia (Papaya ringspot virus strain watermelon, PRSV-W), vírus do mosaico da melancia (Watermelon mosaic virus, WMV) e vírus do mosaico amarelo do zucchini (Zucchini yellow mosaic virus, ZYMV) (Halfeld-Vieira et al., 2004). Destes, o PRSV-W é o que mais causa danos econômicos na cultura da melancia no Brasil, e até o presente, não há no mercado brasileiro cultivar resistente a esse vírus (Vieira et al., 2005). O PRSV-W tem um círculo de hospedeiros abragendo 38 espécies botânicas em 11 gêneros de Cucurbitaceae (Purcifull et al., 1984). O vírus é transmitido de maneira não persistente por várias espécies de afídeos, incluindo Myzus persicae e Aphis spp. (Purcifull et al., 1984; Zambolin & Dusi, 1995). O controle químico dos vetores para o controle da doença é inócuo devido ao tipo de transmissão do vírus pelo vetor (Zambolin & Dusi, 1995). O controle de hospedeiros alternativos com herbicidas também pode ser realizado (Strange et al., 2002). Porém, a resistência varietal é essencial para o controle da doença nas 7 JV Vieira et al. nossas condições (Pereira, 1995). Azevedo (2001), estudando a herança da resistência ao PRSV-W na introdução PI 595201 de melancia, estimou o número de genes em 2,61. Maluf et al. (1997), estudando a herança da resistência ao PRSV-W em moranga (Cucurbita maxima), observaram que a resistência parece ser mediada por oligogenes e o mecanismo de resistência é do tipo tolerância. Os objetivos deste trabalho foram avaliar genótipos de melancia quanto à resistência a três isolados do PRSV-W de três regiões brasileiras (estados de Goiás, Pernambuco e São Paulo), e verificar a eficiência da utilização de duas metodologias de avaliação. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação e em laboratório da Embrapa Hortaliças em abril de 2004. Foram avaliados nove acessos de melancia, os quais fazem parte da coleção de germoplasma da Embrapa Hortaliças: 01433 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01494 (Crimson Sweet), 02600 (Citrulus lanatus var colocynthis), 03813 (Citrulus lanatus var colocynthis x Crimson Sweet), 02659 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02658 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01537 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02599 (Citrulus lanatus var colocynthis) e 03814 (Citrulus lanatus var colocynthis). O delineamento utilizado foi de blocos casualizados com quatro repetições. Cada parcela foi composta de um vaso com 5 kg de substrato e cinco plantas de melancia em cada vaso. Como controles positivo e negativo foi utilizada a cultivar de melancia suscetível Crimson Sweet, com e sem inoculação, respectivamente, contidas no mesmo delineamento experimental. Aos 10 e 13 dias após a semeadura, no estádio de plântula, foi efetuada inoculação mecânica com três isolados do PRSV-W coletados em três regiões brasileiras (estados de Goiás, Pernambuco e São Paulo) em plantas de melancia, formando um esquema fatorial 9 (genótipos) x 3 (inóculos). A identidade dos isolados como PRSV-W foi confirmada 8 por teste sorológico Das-Elisa utilizando anti-soros policlonais específicos para WMV, ZYMV e PRSV-W, produzidos no Laboratório de Virologia da Embrapa Hortaliças, a partir de Cucurbita pepo L. cv. Caserta, inoculada via extrato vegetal tamponado com cada uma dessas espécies de vírus. Para a produção dos anti-soros não foi feita purificação biológica a partir de lesões locais. A identificação das espécies de vírus foi feita através de sorologia. Estes anti-soros são vírus específicos não havendo reação cruzada significativa entre eles. A inoculação mecânica do vírus foi feita polvilhando carborundum 600 mesh sobre as folhas e o inóculo preparado através da maceração de folhas infectadas em tampão fosfato 0,01 M, pH 7,0. Foram feitas duas inoculações mecânicas com intervalo de 24 horas. O inóculo foi esfregado com cotonete sobre as folhas polvilhadas com carborundum. Aos 27 e 37 dias após a semeadura foram feitas avaliações visuais de sintomas por dois avaliadores independentes, com notas variando de 1 a 3: (1= planta sem sintomas; 2= planta com clareamento de nervuras; 3= plantas com clareamento de nervuras, mosaico severo e deformação foliar). Posteriormente, foi verificada a presença ou não do vírus nas plantas inoculadas através do teste sorológico Das-Elisa (Clark & Adams, Tabela 1. Resumo da análise de variância para caracteres relacionados à tolerância ao vírus PRSV-W em melancia, avaliados a partir de três isolados provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo, com respectivos coeficientes de variação ambiental (CV) e herdabilidades médias no sentido amplo (Ha2), obtidos pela avaliação de nove genótipos de melancia (summarized variance analysis for characters related to the tolerance to the virus PRSV-W in watermelon, appraised from three isolates of Goiás, Pernambuco and São Paulo States, with respective coefficients of environmental variation (CV) and medium heritabilities in the wide sense (Ha2), obtained by the evaluation of nine watermelon genotypes). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Quadrado médio Fontes de variação GL Bloco Genótipo Resíduo CV Ha2 (%) média 3 8 24 - Bloco Genótipo Resíduo CV Ha2 (%) média 3 8 24 - Bloco Genótipo Resíduo CV Ha2 (%) média 3 8 24 - Avaliação aos 27 *dps Avaliação aos Absorbância 37 dps (405 nm) Isolado de PRSV-W / Goiás 0,01 0,01 0,10 0,18* 0,19* 0,29* 0,01 0,01 0,08 7,65 0,01 23,52 0,94 0,99 0,73 Isolado de PRSV-W / Pernambuco 0,01 0,03 0,15 0,21* 0,07* 0,38 0,01 0,02 0,25 2,19 7,53 26,53 0,99 0,79 0,34 Isolado de PRSV-W / São Paulo 0,01 0,01 0,01 0,21* 0,16* 0,04* 0,01 0,01 0,01 0,01 8,72 2,22 0,99 0,91 0,98 *Significativo a 5% de probabilidade de erro pelo teste F. Aos 39 dias após o semeio, foi feita a leitura de absorbância no teste Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição de substrato. Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (*significant at 5% of error probability by the F test. 39 days after sowing, the absorbance reading was done through the Das-Elisa test on 405 nm, 30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were made 27 and 37 days after sowing). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia 1977) utilizando anti-soro policlonal contra o PRSV-W. Os dados foram submetidos à análise de homogeneidade de variância (teste de Bartllet) e de normalidade (Lilliefors) para cada isolado de PRSV-W. Os caracteres avaliados aos 27 e 37 dias foram transformados por x para atender a pressuposição de normalidade de distribuição. Foi realizada análise de variância para cada isolado viral, e análise de variância conjunta. A herdabilidade foi estimada pelo quadrado médio (Cruz & Regazzi, 2001). As correlações fenotípicas entre os caracteres, e comparações das médias dos genótipos e dos diferentes inóculos foram efetuadas através do teste Tukey a 5% de probabilidade. Todas as operações estatísticas foram realizadas utilizando-se o aplicativo computacional Genes (Cruz, 1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a análise de variância conjunta, todos os caracteres foram significativos em diferenciar os genó- tipos, e da mesma forma as interações genótipo e isolados de vírus (dados não mostrados). Por este motivo, os dados foram analisados em separado para cada isolado do PRSV-W. Para os isolados coletados nos três estados em estudo, verificou-se efeito significativo de genótipo para todos os caracteres, com exceção para absorbância em se tratando do isolado de Pernambuco. Desta forma, para os demais caracteres avaliados, todos os isolados permitiram a diferenciação dos genótipos (Tabela 1). Os coeficientes de variação fenotípicos, que são indicativos da precisão experimental, foram reduzidos para os caracteres avaliados visualmente através de notas, sendo superiores para o caráter absorbância em relação aos isolados de Goiás e Pernambuco (Tabela 2). Assim, para este caráter, as conclusões devem ser efetuadas com cautela, considerando a menor precisão experimental. Para os caracteres avaliados visualmente (avaliação aos 27 e aos 37 dias após a semeadura), os valores de herdabilidade foram elevados, da mesma forma para absorbância em relação ao isolado do PRSV-W proveniente de São Paulo���������������������������� . Isto sugere que a característica em estudo está sob o controle de poucos loci, e que conseqüentemente, a possibilidade de seleção de materiais resistentes é alta (Beserra Junior et al., 2006). Ainda em relação ao caráter absorbância, com os dados relativos ao inóculo proveniente de Goiás, a herdabilidade foi menor (0,73), enquanto que para o inóculo de Pernambuco, que não apresentou significância, foi muito reduzida (0,34) (Tabela 1). Estimativas elevadas de herdabilidade no sentido amplo para resistência ao vírus PRSV-W em melancia estão de acordo com os resultados de Beserra Junior et al. (2006), que verificaram valor de 0,80. Herdabilidades variando de 0,39 a 0,80 também foram verificadas por Azevedo (2001). Entretanto, em trabalho avaliando severidade de sintomas do PRSV-W com Cucurbita moschata Duchesne, Oliveira et al. (2003) obtiveram herdabilidades no sentido amplo variando de 0,44 a 0,70. Pela comparação das médias dos genótipos para cada isolado de vírus, verificou-se que o genótipo 01494 (Ta- Tabela 2. Comparações de médias por Tukey a 5% de probabilidade entre nove genótipos de melancia, em relação a caracteres relacionados à tolerância ao vírus PRSV-W em melancia, avaliados a partir de isolados provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo (means comparison through Tukey test at 5% probability among nine watermelon genotypes, in relation to characters related to the virus PRSV-W tolerance in watermelon, appraised from isolates coming from Goiás, Pernambuco and São Paulo States). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Goiás Genótipo Avaliação visual 01433** 01494*** 02600 03813 02659 02658 01537 02599 03814 27 *dps 1,25 b* 3,00 a 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,50 b 1,25 b 37 dps 1,00 b 3,00 a 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b Pernambuco Absorbância (405 nm) 1,16 b 1,88 a 1,06 b 1,28 ab 1,12 b 1,01 b 1,11 b 1,12 b 1,01 b Avaliação visual 27 dps 1,13 d 3,00 a 1,00 d 1,00 d 1,50 c 2,00 b 2,00 b 2,00 b 1,00 d 37 dps 1,50 b 3,00 a 2,13 ab 2,00 ab 2,25 ab 2,75 a 2,50 a 2,38 ab 2,00 ab São Paulo Absorbância (405 nm) 1,68 a 1,55 a 1,91 a 2,60 a 2,04 a 2,03 a 1,67 a 1,74 a 1,85 a Avaliação visual 27 dps 1,00 d 3,00 a 1,00 d 1,00 d 1,00 d 2,00 b 1,50 c 1,00 d 1,00 d 37 dps 1,13 b 3,00 a 1,00 b 1,00 b 1,13 b 1,25 b 1,38 b 1,25 b 1,00 b Absorbância (405 nm) 1,01 b 1,33 a 1,02 b 1,01 b 1,04 b 1,01 b 1,01 b 1,04 b 1,02 b *médias com letras diferentes na coluna diferiram significativamente. Aos 39 dias após o semeio, foi feita a leitura de absorbância no teste Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição de substrato. Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (*means with different letters on the column differed significantly. 39 days after sowing the absorbance reading was done in the Das-Elisa test at 405 nm, 30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were done 27 and 37 days after sowing); **01433 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01494 (Crimson Sweet) (***controle positivo) (*** positive witness), 02600 (Citrulus lanatus var colocynthis), 03813 (Citrulus lanatus var colocynthis x Crimson Sweet), 02659 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02658 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01537 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02599 (Citrulus lanatus var colocynthis) e 03814 (Citrulus lanatus var colocynthis). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 9 JV Vieira et al. Tabela 3. Comparações de médias por Tukey a 5% de probabilidade entre isolados de PRSV-W provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo, em relação a caracteres relacionados à tolerância ao PRSV-W, e correlação simples entre os caracteres, pela avaliação de nove genótipos de melancia (means comparisons through Tukey at 5% of probability among isolates of PRSV-W coming from Goiás, Pernambuco and São Paulo States, in relation to characters related to the tolerance to PRSV-W, and simple correlation among the characters, for the evaluation of nine watermelon genotypes). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. 27 **dps 37 dps Absorbância (405nm) Absorbância (405nm) do controle negativo*** 27 dps x 37 dps 27 dps x absorbância 37 dps x absorbância Goiás 1,38 b* 1,22 b 1,19 b 0,01 0,85* 0,56* 0,68* Averages Pernambuco 1,62 a 2,27 a 1,89 a 0,01 Correlação 0,67* - São Paulo 1,38 b 1,35 b 1,05 b 0,01 0,83* 0,82* 0,90* *médias com letras diferentes na linha diferiram significativamente (*means with different letters in the line differed significantly); **significativo a 5% pelo teste T. Aos 39 dias após o semeio, foi feita a leitura de absorbância no teste Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição de substrato. Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (**significant at 5% through T test. 39 days after sowing, the absorbance reading was done in the Das-Elisa test at 405 nm, 30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were done 27 and 37 days after sowing); ***Plantas controle negativo de melancia (Crimson Sweet) (***negative watermelon plant witness (Crimson Sweet)). bela 2) apresentou as maiores médias, ou seja, sintomas mais severos do PRSV-W, o que já era esperado devido a ser uma cultivar conhecidamente suscetível e cultivada amplamente no Brasil e em outros países (Crimson Sweet). Em geral, os demais genótipos mostraram um nível de tolerância superior ao desta cultivar (Tabela 2). Apesar de todos os genótipos testados permitirem a replicação viral em taxas elevadas (como o teste não foi realizado de forma quantitativa, não é possível concluir acerca de maior ou menor taxa de replicação com base nos valores de absorbância de genótipos específicos), entretanto, com base nas avaliações visuais, as plantas de alguns acessos continuaram assintomáticas. Pode-se verificar algumas diferenças significativas nos valores de médias, no entanto não caracterizando resistência à replicação de vírus. Verificou-se que a base genética em melancia, buscando resistência ao PRSV-W, parece ser bastante estreita, porém o genótipo 01433 se destaca com indicação de ser promissor para retrocruzamentos com cultivares comerciais por ser tolerante à infecção viral. No entanto, a conclusão 10 definitiva da tolerância exige dados de produção, mostrando que essa não é reduzida devido à infecção viral. Apesar de o isolado de Goiás ter sido menos virulento que os demais, em geral, para os isolados de Goiás e São Paulo, pode-se notar uma similaridade muito grande na classificação dos genótipos de acordo com os diferentes métodos de avaliação. Quanto ao inóculo proveniente de Pernambuco os genótipos não foram classificados semelhantemente nem com outros isolados e nem entre os dois métodos de avaliação deste mesmo inóculo (27 e 37 dias) (Tabela 2). O comportamento diferenciado do isolado de Pernambuco, em relação aos demais, e a associação apenas mediana entre a avaliação aos 27 e 37 dias após a semeadura para o inóculo de Pernambuco, podem ser confirmadas com os dados da Tabela 3, com a análise de comparação de médias entre os inóculos e pela correlação entre os métodos de avaliação para cada inóculo. Ainda, na Tabela 3 tem-se a confirmação de que para os isolados de Goiás e São Paulo, existe associação positiva entre as diferentes metodologias de avaliação. Isso indica que pode ser utilizada na avaliação visual de vírus, com economia de custos e metodologias laboratoriais. Pode-se verificar ainda que, pelos valores das médias, o inóculo de Pernambuco apresentou as maiores médias, ou seja, foi o mais virulento. Pelo comportamento dos genótipos em relação aos três isolados avaliados, conclui-se que na geração de cultivares com resistência ao vírus PRSV-W, para serem utilizadas em diversas regiões brasileiras, isolados provenientes de diferentes regiões devem ser testados nos programas de melhoramento de melancia para esse vírus. REFERÊNCIAS AZEVEDO SM. 2001. Herança da resistência ao vírus da mancha anelar do mamoeiro-estirpe melancia (PRSV-W) em melancia, Citrullus lanatus (Thunb.) Matsu. & Nakai. Lavras: UFLA. 68p (Tese doutorado). BESERRA JEA; MALUF WR; FIGUEIRA AR; BARGUIL BM. 2006. Herança da resistência ao Watermelon mosaic virus em melancia (Citrullus lanatus L.). Fitopatologia Brasileira 31: 302-305. CLARK MF; ADAMS AN. 1977. Characteristics of the microplate method of enzyme linked immunosorbent assay for the detection of plant viruses. Journal of General Virology 34: 475-483. CRUZ CD. 1997. Programa Genes: aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: UFV. 442p. CRUZ CD; REGAZZI AJ. 2001. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa: Editora UFV, 390p. HALFELD-VIEIRA BA; RAMOS NF; RABELO FILHO FAC; GONÇALVES MFB; NECHET KL; PEREIRA PRVS; LIMA JAA. 2004. Identificação sorológica de espécies de potyvirus em melancia, no estado de Roraima. Fitopatologia Brasileira 29: 687-689. MALUF WR; PEREIRA JJ; FIGUEIRA AR. 1997. Inheritance of resistance to the Papaya ringspot virus-watermelon strain from two different accessions of winter squash Cucurbita maxima Duch. Euphytica 94: 163-168. OLIVEIRA ACB; MALUF WR; PINTO JEBP; AZEVEDO SM. 2003. Resistance to papaya ringspot virus in Cucurbita pepo L. introgressed from a interspecific C. pepo x C. moschata cross. Euphytica 132: 211-215. PEREIRA JJ. 1995. Herança da resistência ao vírus da mancha anular do mamoeiro-estirpe melancia (‘papaya ringspot virus-type W’) em moranga (Cucurbita maxima Duch.). Lavras: UFLA. 52p. (Tese mestrado). PURCIFULL, DJ; EDWARDSON E; HIEBERT D; GONSALVES. 1984. Papaya Ringspot Virus. CMI/AAB Descriptions of Plant Viruses. 292. 8 p. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia STRANGE EB; GUNER N; PESICVANESBROECK Z; WEHNER TC. 2002. Screening the watermelon germplasm collection for resistance to (Papaya Ringspot Virus Type-W). Crop Science 42: 1324- Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 1330. VIEIRA JV; ÁVILA AC; PINTO MN; SILVA BM; BORGES CL. 2005. Avaliação da coleção de germoplasma de melancia da Embrapa Hortaliças para tolerância a viroses. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 12: 12p. Brasília: Embrapa Hortaliças. ZAMBOLIN EM; DUSI AN. 1995. Doenças causadas por vírus em cucurbitáceas. Informe Agropecuário 17 182: 60–62. 11 MOTA WF; FINGER FL; CECON PR; SILVA DJH; CORRÊA PC; FIRME LP; MIZOBUTSI GP. 2010. Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento. Horticultura Brasileira 28: 12-18. Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento Wagner F da Mota1; Fernando Luiz Finger2; Paulo Roberto Cecon4; Derly José H da Silva2; Paulo César Corrêa3; Lúcia P Firme2; Gisele P Mizobutsi1 UNIMONTES-Depto. Ciências Agrárias, 39440-000 Janaúba-MG; 2UFV-Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; 3UFV-Depto. Eng. Agrícola, 36571-000 Viçosa-MG; 4UFV-Depto. Informática, 36571-000 Viçosa-MG; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT O trabalho teve como objetivo avaliar a influência do filme plástico de PVC e da temperatura de armazenamento na conservação pós-colheita de frutos de cultivares de quiabo. O experimento foi organizado em delineamento de blocos casualizados, em esquema de parcelas subsubdivididas, tendo nas parcelas as duas temperaturas (5 e 10 oC), nas subparcelas um fatorial 2 (sem e com PVC) x 4 (cultivares Amarelinho, Red Velvet, Star of David e Mammoth Spinless) e nas subsubparcelas os seis períodos de amostragem, com quatro blocos. A temperatura de 10oC e o uso do filme de PVC foram mais eficientes no controle da perda de massa da matéria fresca. O filme foi mais eficiente na manutenção de maior teor relativo de água no pericarpo dos frutos armazenados a 5 e 10oC. A cv. Amarelinho perdeu menos massa da matéria fresca e manteve maior teor relativo de água. Os frutos armazenados a 5oC apresentaram maiores teores de vitamina C, com menor perda de vitamina C nas cvs. Mammoth Spinless e Star of David. Observou-se maior incidência de injúria por frio e escurecimento nos frutos armazenados sem PVC e a 5oC. A cv. Amarelinho apresentou melhor conservação pós-colheita com temperatura de 10oC e o uso da embalagem de PVC. Postharvest conservation and quality of okra submitted to different temperatures and storage forms Palavras-chave: Abelmoschus esculentus, armazenamento, qualidade. Keywords: Abelmoschus esculentus, storage, quality. This work had the goal to evaluate the influence of PVC film and temperature on the postharvest storage life in four cultivars of okra. The treatments were displayed in randomized complete blocks, in split-split-plot design, where the parcels were the temperatures of 5 and 10oC, and in the sub parcels a 2 (control and PVC wrapped fruits) x 4 (cultivars Amarelinho, Red Velvet, Star of David and Mammoth Spinless) factorial, and in the sub-sub parcels six sampling moments, containing four blocks. Storage at 10oC and wrapping the fruits with PVC film improved the control of fresh mass loss. The film was more efficient in maintaining higher water content in the fruit pericarp at 5 or 10oC. The cultivar Amarelinho lost less fresh mass and maintained higher water content. Fruits stored at 5oC had higher vitamin C content. The cultivars Mammoth Spinless and Star of David showed lower losses of vitamin C. Cultivar Mammoth Spinless had the highest content of chlorophyll and Amarelinho the lowest. In general the development of chilling and browning was higher in fruits without PVC film at 5oC. The cultivar Amarelinho had better postharvest conservation at 10oC and using PVC film. (Recebido para publicação em 27 de fevereiro de 2009; aceito em 18 de janeiro de 2010) (Received on February 27, 2009; accepted on January 18, 2010) O riginário da África, o quiabeiro (Abelmoschus esculentus) é uma hortaliça cultivada na África, Índia, Ásia, Estados Unidos, Turquia e Austrália (Duzyaman, 1997). No Brasil as condições para o seu cultivo são excelentes, principalmente no que diz respeito ao clima (Mota et al., 2000). A possibilidade de exportação para países europeus que possuem comunidades apreciadoras do fruto surge como ótimo investimento. No entanto, é necessário produzir mais e com a qualidade exigida pelo mercado europeu. Em janeiro de 1999, houve uma primeira exportação de frutos de quiabo fresco para a França. Porém, não houve remessas posteriores à Europa, visto 12 que as cultivares mais plantadas no Brasil, Amarelinho e Santa Cruz, não satisfazem as exigências do mercado francês quanto ao formato, tamanho, cor e qualidade do fruto. As hortaliças são muito perecíveis e continuam o metabolismo respiratório após a colheita (Fonseca et al., 2000; Lee & Kader, 2000). Por isso o período de conservação pós-colheita do quiabo é muito curto, principalmente em condições de armazenamento sob temperaturas altas e baixa umidade relativa, que aceleram a perda de água, depreciando o valor comercial dos frutos para o consumo in natura (Finger et al., 2008). A temperatura e umidade relativa são importantes fatores que devem ser controlados para manutenção da qualidade como, aparência, textura, valor nutricional e flavor durante a armazenagem (Paull, 1999; Lee & Kader, 2000). Assim, recomenda-se armazenar hortaliças em temperaturas mínimas que condicionem máxima conservação pós-colheita. Segundo Paull (1999), 90% dos produtos que deveriam ser armazenados à temperatura de 4oC ou menos são armazenados acima da faixa recomendada. Temperaturas de armazenagem entre 5 e 15oC ocasionam injúrias por frio e escurecimento enzimático interno e externo em muitas espécies tropicais e subtropicais (Fernández-Trujilio et al., 1998a). No entanto, os frutos de feijãoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento vagem, pepino, quiabo, pimentão, abóbora e tomate, apesar de serem sensíveis à injúria por frio, toleram temperaturas um pouco mais baixas, permitindo que se faça o armazenamento em temperaturas entre 8 e 12oC (Pantástico et al., 1975). Estas desordens ocorrem em armazenamento prolongado, principalmente após retirada dos produtos da refrigeração (Fernández-Trujilio et al., 1998b). Contudo, outros atributos de qualidade, como textura, vitamina C, flavor e aroma podem ser perdidos antes das mudanças externas serem observadas (Paull, 1999). Em quiabo, normalmente após três dias de armazenagem entre 1 e 6oC, há descoloração do cálice, depressão da superfície dos frutos e as sementes tornam-se marrons (Tamura & Minamide, 1984). Estes sintomas, aliados a manchas deprimidas de coloração escura, alterações metabólicas, amadurecimento, murchamento, perda de sabor e apodrecimento, caracterizam os sintomas de injúria por frio, chamado de chilling (Wang, 1989). Uma das técnicas utilizadas para reduzir a incidência do chilling é a atmosfera modificada (Saltveit, 2000) pelo emprego de filme plástico, redução do teor de O2 e elevação do teor de CO2 complementados da refrigeração no armazenamento (Kader, 1995). Neste sistema as mudanças bioquímicas e a produção de etileno são reduzidos, retardando o amaciamento e a senescência (Pariasca et al., 2001). Ainda, injúrias físicas e fisiológicas são reduzidas, como a injúria por frio, prevenindo a perda de água (Lammertyn et al., 2000; Pesis et al., 2000). No presente trabalho objetivou-se avaliar a influência de temperaturas e formas de armazenamento sobre a conservação e qualidade pós-colheita de quiabo. MATERIAL E MÉTODOS Os frutos de quiabo foram colhidos no campus da UFV, em Viçosa-MG, no ponto de colheita comercial, apresentando-se os frutos tenros, aproximadamente aos quatro dias após a antese e 60 dias após o plantio. Após a colheita os frutos foram acondicionados em caixas plásticas, e em seguida transportados para Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 o Laboratório de Pós-Colheita, onde foram selecionados. Os frutos foram armazenados em câmaras de refrigeração com umidade relativa de 95%, monitoradas com termohigrógrafo. O experimento foi organizado em delineamento experimental de blocos casualizados, no esquema de parcelas subsubdivididas, tendo nas parcelas duas temperaturas (5 e 10oC), nas subparcelas um fatorial 2 x 4, ou seja, embalagens sem e com PVC (14 μm de espessura) e quatro cultivares (Amarelinho, Red Velvet, Star of David e Mammoth Spinless) e nas subsubparcelas seis períodos de amostragem com quatro blocos, sendo a unidade experimental constituída por 4 frutos. As características físicas e químicas avaliadas em intervalos de três dias foram: Perda de massa da matéria fresca do fruto: a diferença de massa entre as avaliações foi acumulada durante a evolução do experimento e o resultado de perda de massa da matéria fresca em relação à massa inicial do fruto foi expresso em porcentagem; Teor relativo de água: foi avaliado conforme metodologia descrita por Catsky (1974), com o emprego da equação citada por Weatherley (1950): Φ= F −W X 100 T −W em que Φ é o teor relativo de água; F a massa da matéria fresca; W, a massa da matéria seca; e T, a massa da matéria túrgida. Foram retirados discos de 7 mm de diâmetro do pericarpo do quiabo e pesados. Os discos foram colocados em espumas saturadas de água por sete horas (tempo necessário para estabilização da massa) e pesados, obtendo-se a massa da matéria túrgida. Em seguida, foi obtida a massa da matéria seca por secagem em estufa a 70oC por 48 a 72 horas até atingir massa constante; Teor de clorofila: para avaliação da clorofila a, b e total, foram retirados 3 g de massa da matéria fresca da parte mediana dos frutos, aos quais foram acrescentados 10 mg de sulfato de magnésio e 30 ml de acetona 80% (v/v) (Finger et al., 2008). Após a homogeinização, a suspensão foi filtrada, aferida num balão volumétrico de 50 mL, sendo os teores de clorofila determinados espectrofotometricamente pelo método de Arnon (1949) nos comprimentos de onda de 645 e 663 nm, expressando-se em µ/g; Teor de vitamina C: determinado pela técnica recomendada pelo Instituto Adolfo Lutz (1985), e o resultado expresso em mg de ácido ascórbico por 100 g de matéria fresca; Aparência visual: utilizou-se uma escala (Finger et al., 2008), onde as notas variam de 0 a 4, conforme o estado de conservação desses frutos. Foram avaliadas as lesões de injúria por frio e o aparecimento de manchas. As lesões de injúria por frio, relativas ao grau de severidade de ocorrência, foram avaliadas mediante as notas: 0 - sem injúria, ausência de ponto de injúria; 1 - levemente injuriados, menos de cinco pontos; 2 - moderadamente injuriados, 5 a 10 pontos; 3 - extremamente injuriados, de 10 a 15 pontos; e 4 - completamente injuriados, com mais de 15 pontos maiores e por todo o fruto; Escurecimento do pericarpo: a presença de manchas de descoloração foi avaliada com o auxílio das notas: 0 - sem escurecimento, ausência de manchas escuras; 1 - levemente escurecidos, com pequenas manchas ou levemente escurecidos; 2 - moderadamente escurecidos, com manchas maiores; 3 - extremamente escurecidos, com manchas distribuídas por todo o fruto; e 4 - completamente escurecidos quando as manchas escuras ocupavam mais de 50% do fruto. Os dados foram interpretados por meio de análise de variância e de regressão com a utilização do programa SAEG (1997). As médias dos fatores qualitativos foram comparadas, utilizando-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para os fatores quantitativos, os modelos foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, a 5% de probabilidade, no coeficiente de determinação e no potencial para explicar o fenômeno biológico em questão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve aumento linear de 1,25 e 1,55% de perda de massa da matéria fresca por dia nas temperaturas de 5 e 10oC respectivamente, em todas as cultivares (Figura 1C). Os frutos embalados a 10oC perderam mais massa 13 WF Mota et al. Am 45 Red ST Y=1,9624**X 2r=0,9993 Y=2,9210**X 2r=0,9993 Y=2,5221**X 2r=0,9992 40 SP Y=2,2556**X 2r=0,9997 Perda de Matéria Fresca – (%) 50 B 35 30 25 20 15 10 5 0 0 12 15 10 5 2 =0,9992 r =0,9999 r =0,9999 r 2 =0,9999 r 2 2 4 3 2 1 0 3 6 9 12 15 95 90 85 80 75 70 5oC Y=91,0968 - 1,7419**X 10oC Y=86,0391 - 1,2175**X 65 60 2 =0,9540 r =0,7770 r 2 55 50 3 6 9 Dias após a colheita Am Red ST SP 8 7 12 Y=7,3762 - 0,1897**X Y=7,2862 - 0,2217**X Y=6,9166 - 0,1017**X Y=7,2064 - 0,1997**X r 2=0,7162 r 2=0,4761 r 2=0,1825 r 2=0,2479 6 5 4 0 3 6 9 Dias após a colheita 12 0 15 15 F Vitamina C - mg/100g MT 0 Vitamina C - mg/100g MT Y=0,4323**X Y=0,4244**X Y=0,3431**X Y=0,3761**X Dias após a colheita 0 3 5 0 D 20 E 6 15 2 5oC Y=1,2503**X r =0,9999 10oC Y=1,5598**X r2=0,9984 25 Perda de Matéria Fresca – (%) 6 9 Dias após a colheita Teor Relativo de Água – (%) C 3 Am Red ST SP 7 Perda de Matéria Fresca – (%) A 3 80 75 6 9 Dias após a colheita 12 5oC Y=68,7112 - 1,3512**X r 2=0,8550 10oC Y=75,2163 - 1,8134**X r 2=0,3107 15 70 65 60 55 50 45 40 0 3 6 9 12 15 Dias após a colheita Figura 1. Perda da massa fresca (%), teor relativo de água e teor de vitamina C em frutos de quiabo das cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) e Mammoth Spinless (SP) (fresh matter loss (%), relative water content and vitamin C content in fruits of okra cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 1A – Perda da massa fresca em frutos sem PVC (%) (Fresh matter loss in fruits without PVC (%)); 1B – Perda de massa de matéria fresca em frutos com PVC (Fresh matter loss in fruits with PVC (%)); 1C – Perda de massa de matéria fresca a 5 e 10oC (%) (Fresh matter loss in fruits at 5 and 10oC (%)); 1D – Teor relativo de água em frutos sem PVC a 5 e 10oC (relative water content in fruits stored at 5 and 10oC without PVC); 1E - Teor de vitamina C (vitamin C content); 1F – Teor de vitamina C a 5 e 10oC (content of vitamin C in fruits stored at 5 and 10oC). Janaúba, UNIMONTES, 2008. da matéria fresca. Esses resultados são concordantes com os de Finger et al. (2008), Carvalho (2002) e Modolo et al. (2000), que também observaram maior perda de massa para os frutos armazenados a 10oC. A maior parte da perda de massa foi devida à perda de água ocasionada pela diferença de pressão de vapor de água entre os ambientes interno e externo do fruto (Taiz & Zeiger, 1991). A redução da temperatura reduz a atividade metabólica e a troca gasosa 14 com o meio reduzindo a respiração e aumentando a conservação pós-colheita de produtos hortícolas (Bower, 1998; Carvalho, 2002). A perda de massa da matéria fresca aumentou durante o armazenamento dos frutos de todas as cultivares, armazenados sem e com PVC (Figura 1A, 1B), sendo muito superior nos frutos das cultivares armazenadas sem PVC. Essa maior eficiência no uso da embalagem com PVC também foi verificada por Ta- mura & Minamide (1984), por Modolo et al. (2000) e por Finger et al. (2008). A cv. Amarelinho apresentou redução da perda de massa da matéria fresca em aproximadamente 20% com o uso de PVC em relação aos frutos acondicionados sem este filme polimérico (Finger et al., 2008). A embalagem de PVC agiu passivamente no controle da perda de massa da matéria fresca, pois a barreira física imposta pelo filme condicionou níveis Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento A B Am Red 2 Y=42,2588 - 0,3918**X =0,5103 r 42 41 38 2 r =0,9118 r =0,2799 35 37 25 36 15 35 33 0 3 6 9 Dias após a colheita 12 5 0 15 C D 3 6 9 Dias após a colheita 12 15 2,5 Sem PVC e 5oC Com PVC e 5oC Sem PVC e 10oC Com PVC e 10oC 2 Mancha - Nota 2 Manchas - Nota 2 Y=46,0853 - 1,3361**X 45 39 34 1,5 1 1,5 1 0,5 0,5 0 0 0 3 6 9 12 0 15 3 6 E F 3,5 2 o Sem PVC e 5 C 12 15 Cem PVC e 5oC 1,8 o Sem PVC e 10 C 3 9 Dias após a colheita Dias após a colheita Sem PVC e 10oC 1,6 2,5 1,4 Injúria por Frio - Nota Injúria por Frio - Nota Y=32,7043 - 0,8211**X Y=31,5590+9,6420**X1/2 -2,3978**X r2 =0,8234 Y=57,7600 SP 55 40 2,5 ST 65 Clorofila Total - ug/g MT Clorofila Total - ug/g MT 43 2 1,5 1 0,5 0 0 3 6 9 Dias após a colheita 12 15 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 3 6 9 12 15 Dias após a colheita Figura 2. Teores de clorofila, manchas escuras e de injúria por frio em frutos de quiabo das cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) e Mammoth Spinless (SP) (chlorophyll content, browning and chilling symptoms in okra fruits cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 2A - Teores de clorofila total dos frutos armazenados (total chlorophyll content in stored fruits); 2B – Teores de clorofila total das cultivares de quiabo em função dos dias após a colheita (total chlorophyll content in cultivars of okra fruits stored at 5 and 10oC); 2C – Desenvolvimento de manchas escuras sem PVC a 5 e 10oC ao longo do período de armazenamento (development of browning in fruits stored without PVC stored at 5 and 10oC); 2D – Desenvolvimento de manchas escuras em frutos armazenados com PVC a 5 e 10oC (development of browning in fruits stored with PVC at 5 and 10oC); 2E – Desenvolvimento de injúria por frio em frutos armazenados sem PVC a 5 e 10oC (development of chilling symtoms in fruits stored without PVC at 5 and 10oC); 2F – Desenvolvimento de sintomas de injúria por frio em frutos armazenados com PVC a 5 e 10oC (development of chilling injury symptoms in fruit stored with PVC at 5 and 10oC). Janaúba, UNIMONTES, 2008. elevados de umidade dentro da embalagem, havendo redução do gradiente de pressão de vapor de água entre os frutos e a atmosfera interna da embalagem, reduzindo então, a perda de massa da matéria fresca (Ben-Yehoshua, 1985; Fonseca et al., 2000; Pesis et al., 2000). Com relação aos frutos das cvs. não embaladas, observou-se diferenças entre Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 os materiais, sendo que os frutos da cv. Red Velvet apresentaram maior perda de massa da matéria fresca e os frutos das cvs. Amarelinho e Mammoth Spinless perderam menos. Houve redução linear do teor relativo de água, ao longo do armazenamento, nos frutos armazenados sem PVC, nas temperaturas de 5 e 10oC (Figura 1D). Contrariamente, nos frutos armazenados com PVC, o teor relativo de água manteve-se constante nas temperaturas de 10 e 5oC, respectivamente, demonstrando maior eficiência. Nos frutos armazenados sem PVC, a cv. Amarelinho apresentou maior teor de água e as cvs. Red Velvet e Mammoth Spinless os menores teores (Tabela 1). A maior 15 WF Mota et al. 3 Sem PVC 3 Red Velvet 2,5 Mammoth Spinless 2 1 0,5 0 Star of David Mammoth Spinless 1,5 1 0,5 0 0 3 6 9 12 0 15 3 6 C 3 Sem PVC 15 Red Velvet 2,5 Injúria por frio - nota Star of David Mammoth Spinless 1,5 1 Com PVC Amarelinho Red Velvet 2 12 D 3 Amarelinho 2,5 9 Dias após a colheita Dias após a colheita Injúria por frio - nota Com PVC Red Velvet 2 1,5 B Amarelinho 2,5 Star of David Manhca - nota Mancha - nota A Amarelinho Star of David Mammoth Spinless 2 1,5 1 0,5 0,5 0 0 0 3 6 9 12 15 0 3 Dias após a colheita 6 9 12 15 Dias após a colheita Figura 3. Desenvolvimento de manchas escuras e injúria por frio em frutos de quiabo cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) e Mammoth Spinless (SP) armazenados a 5 e 10oC (development of browning and chilling symtoms in okra fruits cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 3A – Manchas escuras em frutos sem PVC (browning in fruits of okra without PVC); 3B – Manchas escuras em frutos com PVC (browning in fruits of okra with PVC); 3C –Injúria por frio em frutos sem PVC (chilling symptoms in fruits of okra without PVC); 3D – Injúria por frio em frutos com PVC (chilling symptoms in fruits of okra stored with PVC). Janaúba, UNIMONTES, 2008. eficiência relativa dos frutos armazenados com filme plástico também foi verificada por Finger et al. (2008), ao trabalhar com a cv. Amarelinho. Adicionalmente à perda de água, ocorre aumento proporcional do teor de fibras em função da murcha dos frutos (Carvalho, 2002). Assim, a redução da perda de água durante o armazenamento, que foi atingida principalmente com o uso de frutos embalados com PVC, é fundamental para manter as qualidades aparente e nutricional (Burdon & Clark, 2001). Houve redução linear do teor de vitamina C nas temperaturas de 5 e 10oC (Figura 1F). Esta mesma tendência foi encontrada por Finger et al. (2008). No entanto, de acordo com Paull (1999) e Lee & Kader (2000), as maiores perdas ocorreriam a 10oC, pois a vitamina C é mais sensível à degradação quando as hortaliças estão sujeitas a temperaturas mais elevadas. Entretanto, as perdas de vitamina C são maiores também em frutos sob injúria por frio, e a destruição 16 do ácido ascórbico pode ocorrer antes do surgimento dos visíveis sintomas de chilling. A redução da temperatura de 10 para 5oC foi praticamente insignificante na manutenção de maiores teores de vitamina C, e a redução provavelmente é devida à incidência de injúria por frio nos frutos armazenados a 5oC (Lee & Kader, 2000). Foi observada redução linear do teor de vitamina C em todas as cvs. estudadas (Figura 1E). A cultivar Red Velvet teria vantagem comparativa, pois apresentou maior teor de vitamina C no dia “0”. Entretanto, foi a cultivar que apresentou maior perda desse nutriente ao longo do período de armazenamento. Por outro lado, as cvs. Mammoth Spinless e Star of David manifestaram as menores perdas ao longo do período de armazenamento. Frutos de quiabo embalados com PVC apresentaram em média 6,32 mg/100g de vitamina C, 40 μg/g de clorofila total e 23,52 μg/g de clorofila “a” , enquanto os frutos mantidos sem embalagem apresentaram 5,69 mg/100g, 37,67 μg/g e 22,04 μg/g, respectivamente. As condições que favorecem menor perda de água e murchamento resultam em menor perda de vitamina (Lee & Kader, 2000). Finger et al. (2008), ao armazenar frutos da cv. Amarelinho, observaram que os armazenados com PVC apresentaram teores médios de vitamina C superiores nas temperaturas de 5 e 10oC, respectivamente. Em geral, observou-se redução dos teores de clorofila total ao longo do armazenamento (Figura 2A). Em quiabo, a perda de clorofila e de coloração verde são reflexos da senescência (Beaudry, 1999). Esta redução de clorofila total é mais elevada na cultivar Red Velvet (Figura 2B). Com relação à cv. Star of David, houve aumento do teor de clorofila total até o terceiro dia aproximadamente, porém deste dia em diante houve redução. Houve manutenção do elevado teor de clorofila total ao longo do período de armazenamento na cv. Mammoth Spinless, mantendo maior Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento Tabela 1. Valores médios do teor relativo de água dos frutos das cvs. de quiabeiro Amarelinho, Red Velvet, Star of David e Mammoth Spinless embalados sem e com PVC (average of relative water content in fruits of okra cultivars Amarelinho, Red Velvet, Star of David and Mammoth Spinless stored with and without PVC). Janaúba, UNIMONTES, 2008. Cultivar Amarelinho Red Velvet Star of David Mammoth Spinless Teor relativo de água (%) Sem PVC Com PVC 80,85aB 92,25aA 75,41bB 92,30aA 77,58abB 93,28aA 76,01bB 92,33aA As medias seguidas de pelo menos uma mesma letra maiúscula, nas colunas, e minúscula, nas linhas não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey (means followed by the same upper case letter in the column, and lower case in the row do not differ from each other by Tukey test at 5%). teor em relação às outras cultivares. Não foi observado efeito da atmosfera modificada nem da baixa temperatura no desverdecimento de frutos de quiabo, como observado por Pariasca et al. (2001) em que, ao realizar a combinação atmosfera modificada com baixa temperatura, houve redução da degradação de clorofila em ervilha. Provavelmente, este fato ocorreu em função da elevada permeabilidade a gases verificada nos filmes poliméricos de PVC (Robertson, 1993; Miller & Krochta, 1997). Apesar de Finger et al. (2008) terem verificado eficiência no controle da perda de clorofila com o uso da atmosfera modificada, concluiu-se que controle maior é obtido com a redução da temperatura. Entretanto, Carvalho (2002) também verificou que temperaturas de 5 e 10oC não influenciaram nos teores de clorofila, mesmo estas temperaturas causando injúria por frio. Segundo Hakim et al. (1999), a destruição de clorofila acontece como resultado do chilling, que ocasiona peroxidação deteriorativa das células da membrana. Observa-se pelas Figuras 2C e 2D que os frutos armazenados nas temperaturas de 5 e 10oC, embalados ou não com PVC, mantiveram ótimo estado de conservação até três dias após a colheita, evidenciando ausência de sintomas de injúria por frio e escurecimento, obtendo portanto a nota “0”. Finger et al. (2008) verificaram esta eficiência até o segundo dia após o armazenamento ao trabalhar com a cv. Amarelinho nas mesmas temperaturas, prolongando-se a eficiência com a temperatura de 10oC até o 10o dia. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Os frutos armazenados a 5oC com PVC mantiveram ótimo estado de conservação até o sexto dia. Observou-se, de maneira geral, maior incidência de injúria por frio e escurecimento nos frutos armazenados sem PVC. Com relação às temperaturas, a incidência foi idêntica até 3 dias após a colheita e destes pontos em diante os frutos armazenados a 5oC passaram a manifestar maior incidência de injúria e escurecimento. Essa maior eficiência dos frutos armazenados em filmes poliméricos no controle da injúria por frio, e maior incidência nos frutos armazenados a 5oC, foi verificada por Della-Justina (1998), Carvalho (2002), Tamura & Minamide (1984). Segundo Awad (1993), os sintomas de injúria por frio se tornam mais severos ainda quando os frutos são transferidos da temperatura injuriante para ambiente com temperaturas superiores, fato este que foi observado por Carvalho (2002). Com relação às cultivares, foi verificado ótimo estado de conservação com ausência de injúria e escurecimento em todas as cultivares, sem ou com filme polimérico de PVC até 3 dias após a colheita (Figura 3). A cultivar Red Velvet, armazenada com PVC, manteve ótimo estado de conservação durante o armazenamento pós-colheita com o menor índice de escurecimento e injúria por frio. Frutos como maçã e melão também apresentam diferença varietal em relação ao chilling (Paull, 1999). Tem sido demonstrado que elevados teores de CO2 e reduzidos de O2 são benéficos no alívio dos sintomas de chilling em produtos sensíveis a esse estresse, como lima, abacate, manga e pepino (Pesis et al., 2000; Ju et al., 2000), além de ter manifestado eficiência no presente experimento ao se usar filme de PVC. São relatados ainda o efeito do acúmulo de etanol e acetaldeído em frutos embalados em filmes não perfurados no alívio dos sintomas do chilling (Fernández-Trujilio et al., 1998b). Por outro lado, foi sugerido que a redução da transpiração tem efeito mais pronunciado na redução da injúria por frio (Hakim et al., 1999). A temperatura de 10oC e o uso da embalagem de PVC foram mais eficientes na conservação e qualidade póscolheita de frutos de quiabo, com maior eficiência no controle da perda de matéria fresca do fruto, manutenção do teor relativo de água no pericarpo, menor incidência de injúria por frio e escurecimento. A cv. Amarelinho demonstrou bom estado de conservação com menor perda de matéria fresca e manutenção de maior teor relativo de água, enquanto a cv. Red Velvet apresentou, de maneira, geral menor conservação. REFERÊNCIAS ARNON DI. 1949. Copper enzyme in isolated chloroplasts polyphenoloxidase in Beta vulgaris. Plant Physiology 24: 1-15. AWAD M. 1993. Fisiologia pós-colheita de frutos. São Paulo: Nobel. 114p. BEAUDRY RM. 1999. Effect of O2 and CO2 partial pressure on selected phenomena affecting fruit and vegetable quality. 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Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 MAROUELLI WA; ABDALLA RP; MADEIRA NR; SILVA HR; OLIVEIRA AS. 2010. Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems. Horticultura Brasileira 28: 19-22. Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems Waldir Aparecido Marouelli1; Rômulo P Abdalla2; Nuno R Madeira1; Henoque R da Silva1; Aureo S de Oliveira3 Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70351-970 Brasília-DF; 2Faculdade da Terra de Brasília, Quadra 203, Área Especial, Lote 32, 72610300 Recanto das Emas-DF; 3Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - Núcleo de Engenharia de Água e Solo, C. Postal 28, 44380000 Cruz das Almas-BA; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 1 ABSTRACT RESUMO The objective of the present study was to evaluate the effects of crop residue covers (0.0; 4.5; 9.0; 13.5 t ha-1 millet dry matter) on water use and production of onion cultivated in no-tillage planting system (NT) as compared to conventional tillage system (CT). The study was carried out at Embrapa Hortaliças, Brazil, under the typical Savanna biome. Irrigations were performed using a sprinkle irrigation system when soil-water tension reached between 25 and 30 kPa. The experimental design was randomized blocks with three replications. Total net water depth applied to NT treatment was 19% smaller than the CT treatment, however, water savings increased to 30% for the first 30 days following seedlings transplant. Crop biomass, bulb size and yield, and rate of rotten bulbs were not significantly affected by treatments. The water productivity index increased linearly with increasing crop residue in NT conditions. Water productivity index of NT treatments with crop residue was on average 30% higher than that in the CT system (8.13 kg m-3). Uso de água e produção de cebola em sistemas de plantio direto e convencional Keywords: Allium cepa L., reduced tillage, water use efficiency, irrigation, Savannah. Palavras-chave: Allium cepa L., cultivo mínimo, eficiência do uso de água, irrigação, Cerrado. O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do nível de palhada no solo (0,0; 4,5; 9,0; 13,5 t ha-1 de matéria seca de milheto) em sistema de plantio direto (PD) sobre o uso de água e produção de cebola, tendo como controle o sistema de plantio convencional (PC). O ensaio foi conduzido na Embrapa Hortaliças, em região típica do bioma Cerrado. As irrigações foram realizadas por aspersão a todo o momento que a tensão de água no solo atingiu entre 25 e 30 kPa. O delineamento experimental foi blocos ao acaso com três repetições. A lâmina de água aplicada em PD foi de até 19% menor que no tratamento PC durante o ciclo da cultura, sendo que durante os primeiros 30 dias do ciclo após o transplante das mudas a economia chegou a 30%. O desenvolvimento de plantas, o tamanho e o rendimento de bulbos, e a taxa de bulbos podres não foram afetados significativamente pelos tratamentos. O índice de produtividade da água no PD aumentou linearmente com o aumento do nível de palhada, sendo que o índice nos tratamentos PD com palhada foi em média 30% maior que em PC (8,13 kg m-3). (Recebido para publicação em 23 de outubro de 2008; aceito em 11 de fevereiro de 2010) (Received on October 23, 2008; accepted on February 11, 2010) T he onion (Allium cepa L.) is the third vegetable crop of economical importance in Brazil with a total harvested area of 62,750 hectares and a total production of 1.3 million tons (Embrapa Hortaliças, 2008). Generally speaking, the use of conventional tillage system (CT) for onion production predominates in Brazil, however, due to its benefits the no-tillage system (NT) has been adopted in some production areas of Brazil, mainly, in Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais and Goiás States (Madeira & Oliveira, 2005). According to Gilley et al. (1990) and Derpsch et al. (1991), the advantages of NT include reduced machinery traffic, soil structure improvement, increasing infiltration and soil-water retention, Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 water loss reduction by evaporation and runoff, superior crop root system development, improved control of weeds, erosion processes reduction, and increased water use efficiency. Field research on the use of NT systems for vegetable production is scarce and management practices that include irrigation frequency and amount of applied water are, in general, the same as recommended for CT. As a result of the inadequate crop water management it is common to notice higher intensity of diseases in NT which reduces crop yield and harvest quality affecting farm revenue reducing loss of the known benefits obtained with this planting system. Water conservation with the NT systems mainly occurs due to the crop residues left on soil surface which act as a physical barrier against water evaporation (Derpsch et al., 1991). During the early development stage, onion plants only cover a fraction of the soil surface, therefore, soil evaporation accounts for most of the crop evapotranspiration. Then, plant water use during this stage is less mainly for crops with lower capability of soil coverage (Stone & Moreira, 2000). On the other hand, the transpiration process becomes predominant as plants grow and cover larger fractions of soil surface. According to Allen et al. (1998), crop evapotranspiration can be reduced in as much as 25% during the early stage and between 5 and 10% 19 WA Marouelli et al. during the maximum development stage for a condition of 50% of surface soil coverage with crop residues. Landers (1995) reported water conservation in NT varying between 10 and 20% in oxysols of the Central Brazil. The objective of the present study was to quantify both irrigation water use and production of onion when cultivated in NT systems with different levels of crop residue covers as compared to CT, in a typical condition of climate and soil in the Brazilian Savannahs. MATERIAL AND METHODS Field plots were set up in the Embrapa Hortaliça’s experimental station, Brasília, Brazil, during the dry season of 2007 in the area for the management of NT. The soil was a typical dystrophic Red Oxysol of Savannah with clay texture and water retention of 1.2 mm cm-1 (Embrapa, 2006). According to the Köppen classification, the climate is a Cwa, i.e., temperate humid with dry winter and hot summer. The experimental design was randomized blocks with five treatments and three replications. The treatments consisted of four rates of millet crop residue covering the soil (0.0; 4.5; 9.0; 13.5 t ha-1 of dry mass) in NT and one control treatment without millet residue (CT). In order to build up the soil cover, the millet crop was cultivated at different sowing densities in the plots. At harvest and following millet dry mass plots sampling a final adjustment was done by adding or subtracting crop residue to match each treatment level before transplanting of onion seedlings. In all NT0.0t/ha plots the millet crop was not cultivated, however, a minimum of natural vegetation was kept while millet was grown in the other plots. Relatively speaking, the NT crop residue rates proportionated a soil cover of about 0, 30, 60 and 90%, respectively, according to visual evaluation by three judges. A population of onion-type “Baia Periforme” (CNPH 6400) was cultivated, belonging to the Breeding Program of Embrapa, which is ending development. Seedlings were grown in soil beds inside a greenhouse and transplanted to plots by middle June in a 0.25-m x 20 0.07-m spacing, providing a stand of 476 thousand plants per hectare. The total area of each plot was 38.4 m2 (6.4 x 6.0 m) from which 12.8 m2 were harvested for evaluation of production variables. In all NT plots the seedlings were transplanted in small furrows (0.05 m wide, and 0.08 m deep) mechanically opened. On the other hand, the CT treatment consisted of the mechanical operations of plowing, grading, furrowing, fertilization and transplant. To avoid soil compaction in NT plots, a 4.0-m buffer surrounding CT plot was left. Preplanting fertilization was done according to soil chemical analysis with application of 1,000 kg ha-1 of the formula 04-30-16, and for side dressing fertilization 600 kg ha-1 of the formula 20-0-20 split in three applications of 200 kg ha-1 at 20, 40, and 60 days following seedlings transplant was applied. The remaining cultural practices followed the recommendations by Oliveira & Boiteux (2008). A microsprinkler irrigation system was used in order to decrease plot size. The emitters were set up at a 2.0-m x 2.0-m spacing with the application rate of 16.3 mm h-1 which resulted in full surface wetting cover. The Christiansen coefficient ranged between 80% and 90% as a function of wind conditions. Irrigation events followed a schedule based on soil-water tension between 25 and 30 kPa at crop 50% effective rooting depth (Marouelli et al., 2005), i.e., 0.08 m from transplant to beginning of bulb forming, and 0.15 m afterward. The soil water tension was measured using tensiometers installed one per plot. The depth of applied water in each irrigation event was sufficient to bring soil moisture content to field capacity (6 kPa) at the onion effective rooting profile. The effective root depth was considered as the profile depth with 80% of onion roots concentration. The effective root depth was visually evaluated by opening a trench perpendicular to crop rows, in the buffer surrounding of CT plots. The crop irrigation events ceased when about 50% of leaves senesced and the tops have fallen naturally (Marouelli et al., 2005). The crop was harvested 111 days from seedlings transplant. The following crop variables were evaluated: number and average weight of non-marketable bulbs (<35 mm); number and average weight of marketable bulbs (class 2: diameter from 35 - 50 mm, class 3: 5070 mm, class 4: 70-90 mm, and class 5: >90 mm); and canopy biomass (13% wet basis). The crop production variables were evaluated after bulb curing 30 days after harvest. To access post-harvest conservation of bulbs, the percentage of number of rotten bulbs caused by bacteria and fungus at 30 and 60 days after harvest were evaluated. The water productivity index was derived from bulb yield and total depth of applied water which is given by the ratio of marketable bulb yield to the volume of water effectively applied through irrigation per unit area (Jensen, 2007). The water applied was determined based on the average depth from four pluviometers diagonally installed above the crop canopy in one plot at each treatment. The ANOVA was applied to the data and the variables affected by the different crop residue covers in NT were further analyzed by a linear regression using orthogonal polynomials. The multiple comparison Dunnett “t” test was used to confront CT to NT treatment averages at 5% maximum level of significance. RESULTS AND DISCUSSION The total rainfall occurred during the test period was 4 mm, which probably had no effect on the results. Throughout the entire crop cycle irrigation events varied between 31 and 39 for NT, and for CT totaled 39 events (Table 1). Correspondently, the total depth of water applied during crop cycle ranged between 525 and 625 mm for NT, and totaled 646 mm for CT (Table 1). Hence, compared to CT the water savings with NT were as much as 19%. Stone & Moreira (2000) and Marouelli et al. (2006) also verified significant water savings in studies with soil surface coverage with crop residues. Landers (1995) and Allen et al. (1998) reported reduction in the average water use of 15% in NT systems of different crops. The current reduction in water Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems Table 1. Number of irrigations and water depth effectively applied to onion cultivated in no-tillage (NT), with levels of crop residue cover up to 13.5 t ha-1, and conventional tillage systems (CT) during the first 30 days after seedlings transplant, throughout crop cycle, and during the last 30 days of irrigation, and water savings in NT treatments compared to CT (quantidade total de irrigações e lâmina de água efetivamente aplicada na cultura de cebola em sistemas de plantio direto (NT), com níveis de palhada até 13,5 t ha-1, e de plantio convencional (CT) durante os primeiros 30 dias após o transplante de mudas, ao longo do ciclo e durante os últimos 30 dias de irrigação, e economia do uso de água nos tratamentos NT em relação ao CT). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. No. of Treatment irrigations NT0.0 t/ha NT4.5 t/ha NT9.0 t/ha NT13.5 t/ha CT First 30 days Last 30 days Water Water depth (mm) depth (mm) Water Water savings (%) savings (%) 39 35 33 31 39 117 97 91 85 121 applied with the NT system was twice higher than that observed in studies by Marouelli et al. (2006) with processing tomatoes under similar soil and climate conditions. Considering both crop soil coverage capabilities, the water losses by evaporation of onion in CT are proportionally higher than that of processing tomatoes cultivated in NT (Allen et al., 1998). The water savings in NT are due to effect of the soil coverage which works as a barrier preventing water evaporation from soil surface. According to Stone & Moreira (2000), the crop residue cover initially acts in the soil-water evaporation process by reducing the 305 295 289 281 312 2 5 7 10 -- 3 20 25 30 -- daily evaporation rate due to higher solar radiation reflection, and consequently, the crop evapotranspiration. If considered only the first 30 days after seedling transplant, the depth of water required for NT treatments with residue covers was reduced between 20 and 30% as compared to CT. On the other hand, water savings in NT treatments were smaller for the last 30 days of irrigation ranging between 5 and 10% as compared to CT (Table 1). The most water savings in NT treatments during the onion initial development stage were due to the small fraction of soil covered by plants and to the fact surface evaporation accounts for 11,0 -3 iWP (kg ) m-3) iWPm(kg 10,5 iWP = 9.45 + 0.1084X R² = 0.71 10,0 9,5 9,0 0,0 4,5 9,0 Cover crop residue (t ha-1) Cover crop residue (t ha-1) 13,5 Figure 1. Water productivity index (iWP) for onion crop according to the amount of crop residue covering the soil in no-tillage system (função de resposta para índice de produtividade da água (iWP) para a cultura de cebola, conforme a quantidade de palhada em sistema de plantio direto). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Entire cycle (111 days) Water depth (mm) Water savings (%) 625 564 540 525 646 3 13 16 19 -- the most part of irrigation demand. At the end of crop cycle, when the plants cover most of the soil surface, transpiration becomes the major process in transferring water; hence, water saving is attenuated (Derpsch et al., 1991; Stone & Moreira, 2000). Neither NT nor CT treatments affected significantly (p>0.05) the crop biomass production (in average 2.14 t ha-1), total number of bulbs per unit area (in average 44.3 bulbs m-2), and the weight of marketable bulbs (in average 137.4 g). Consequently, bulb yields of class 2 (in average 2.4 t ha-1), class 3 (in average 33.7 t ha-1), and class 4 (in average 20.1 t ha-1), and marketable bulbs (in average 56.2 t ha-1) were not affected by the treatments. The bulb yield of class 5 was very small. Apparently, the results of bulb yields reported above differ from those reported by Madeira & Oliveira (2005), who showed significant differences in onion bulb yield for both NT and CT. The possible lack of yield differences between both NT and CT treatments under the current study was due to individualized irrigation water management by treatment, with irrigations carried out at the right time (soil-water tension 25-30 kPa) and in adequate amount to meet the crop water needs, i.e., no excess or shortage. On the other hand, Madeira & Oliveira (2005) applied uniform irrigation events for both NT and CT planting systems, which may have promoted conditions of excess or shortage of water for either system, hence affecting bulb yield. 21 WA Marouelli et al. Similarly to the yield component variables, NT and CT treatments did not significantly affect the postharvest conservation of bulbs as evaluated by the number of rotten bulbs at 30 days (in average 3.4%) and 60 days (in average 12.4%) of storage. According to Marouelli et al. (2005), excess irrigation affects onion bulb storage conservation, in special during maturation crop development stage. In the present study, however, despite of the total depth of irrigation water have varied between treatments, the conditions of soil moisture that the plants were submitted in all treatments were similar. Therefore, no onion bulb storage conservation variation was expected as a function of treatments. The water productivity index was significantly affected by treatments (p<0.05). By the Dunnett test (p<0.05), the water index-3 of the control treatment CT (8.13 kg m ) did not differ from the NT0.0t/ha, but was statistically less than NT treatments with crop residues. The water productivity index increased linearly with increasing level of crop residues in NT system, ranging from 9.07 to 10.67 kg m-3 (Figure 1) showing no significance (p<0.05) for polynomial coefficients of second and third order. Based on the adjusted regression equation an increase of 1.08 kg of onion per 10 m3 of water was observed for each ton of crop residue spread over the soil surface. The cultivation of onion crop in NT with crop residue levels between 4.5 and 13.5 t ha-1 averaged 30% more water use efficient than CT with similar bulb 22 yield. This finding agrees with Stone & Moreira (2000) and Marouelli et al. (2006) studies who found that besides reducing soil evaporation losses, the NT system is also more efficient in water use by the crop. In summary, plant growth, bulb production and postharvest conservation in NT treatments did not differ from that observed in control treatment CT, however, the higher the crop residue level the lower the irrigation water demand. Therefore, the results allow inferring that surface soil coverage with crop residues endorses effective reduction in onion crop water use with maintenance of high levels of bulb yield and a considerable increase in the water productivity index for the case irrigations are applied at both right time and amount. ACKNOWLEDGEMENTS Thanks to Dr. Valter Rodrigues Oliveira, researcher responsible for the Onion Breeding Program of Embrapa, for providing seeds from advanced onion population, and to CNPq, for partial funding of this research. REFERENCES ALLEN RG; PEREIRA LS; RAES D; SMITH M. 1998. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO. 300p. DERPSCH R; ROTH CH; SIDIRAS N; KOPKE U; KRAUSE R; BLANKEN J. 1991. Controle da erosão no Paraná, Brasil: sistemas de cobertura do solo, plantio direto e preparo conservacionista do solo. Eschborn: Deutsche Gesellschaft f’ur Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH. 272p. (Sonderpublikation der GTZ, 245). 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Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto1 Raphael Augusto de C e Melo²; Nuno R Madeira³; José Ricardo Peixoto4 ²Embrapa Cerrados, C. Postal 08233, 73310-970 Planaltina-DF; ³Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 BrasíliaDF; 4UnB-FAMV; [email protected] RESUMO ABSTRACT O experimento foi conduzido no delineamento de blocos casualizados, em arranjo de parcelas subdivididas com três repetições. As parcelas foram constituídas por plantas de cobertuta [milheto (Pennisetum glaucum), milho (Zea mays), consórcio de milho com mucuna-preta preta (Estilozobium aterrimum), sorgo-sudão (Sorghum bicolor X S. sudanense)] além do plantio convencional (PC) (solo preparado com aração e gradagem após pousio). As cultivares Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy e o material HECB-01-06, constituiram as sub-parcelas. Não houve diferença significativa entre o plantio direto (PD) e o PC quanto à produção de brócolos. Houve diferença significativa entre cultivares para as variáveis avaliadas. Com relação às cultivares, Avenger obteve maior produtividade (13,2 t ha-1), peso médio de inflorescências (458 g), diâmetro (15,3 cm) e melhor qualidade das inflorescências (índice de aspecto visual de 4,0). Portanto, considerando-se as vantagens do PD com a manutenção de níveis de produtividade equivalentes às obtidas no PC, deve-se recomendar sua adoção. Single head broccoli cultivars production in summer under no-tillage Palavras-chave: Brassica oleracea var. italica, sistemas de cultivo, época de plantio, produtividade. Keywords: Brassica oleracea var. italica, crop systems, planting season, yield. The objective of this work was to evaluate single head broccoli cultivars production in summer under no-tillage (NT). The experimental design was randomized blocks with a split-plot design and three replicates. The plots were constituted by the cover crops: pearl millet (Pennisetum glaucum), corn (Zea mays), a mix of corn and black velvet-bean (Estilozobium aterrimum), sorghum sudangrass (Sorghum bicolor X S. sudanense), besides the conventional tillage (CT) - soil after fallow prepared with plow and disk harrow. Cultivars Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy and the material HECB-01-06, represented the sub-plots. No differences were found among NT and CT concerning broccoli yield. There were significant differences between cultivars for the evaluated variables. The cultivar Avenger presented the highest yield (13.2 t ha-1), average weight (458 g), diameter (15.3 cm) and quality of the curds (index for visual aspect of 4.0). Therefore, considering the benefits proportionated by NT, with the maintenance of high productive levels, equivalent at CT, its adoption is recommended. (Recebido para publicação em 28 de novembro de 2008; aceito em 19 de fevereiro de 2010) (Received on November 28, 2008; accepted on February 19, 2010) O brócolos (Brassica oleracea L. var. italica Plenck) com uma única inflorescência verde foi introduzido nos EUA por imigrantes italianos durante o início do século 20 e se tornou uma hortaliça muito popular, espalhando-se pelo mundo nos últimos 50 anos (Dixon & Dickson, 2006). Por ser adequado ao congelamento e comercialização em balcões frigoríficos, o brócolos do tipo inflorescência única apresenta importância crescente no mercado brasileiro (Melo et al., 1994). As cultivares do tipo inflorescência única utilizadas no Brasil, em sua totalidade, são originárias de países de clima temperado e por isso apresentam dificuldade de adaptação às condições climáticas, especialmente no verão. No Brasil, o plantio de verão geralmente é problemático, devido ao excesso de chuvas e calor durante o ciclo, com maior incidência de pragas e doenças, especialmente na época da colheita. O produto final colhido sob essas condições tem aspecto comercial inferior, com cabeças menores, mais leves, de coloração mais clara, granulação maior, mais grossa, de pior textura e menor conservação pós-colheita (Tavares, 2000). A avaliação do potencial de cultivares em diferentes regiões agroclimáticas, além de proporcionar sustentabilidade a pesquisas subseqüentes, é imprescindível para o aumento da rentabilidade das culturas, diretamente relacionado ao uso de cultivares geneticamente superiores em termos de produtividade e outras características agronômicas relevantes (Santa Catarina, 2001). O uso de cultivares tolerantes a temperaturas altas permite a ampliação das regiões de cultivo, épocas de plantio e período de oferta do produto no mercado, além de aumentar a rentabilidade da cultura (Trevisan et al., 2003). Freitas (2002) define o Sistema Plantio Direto (SPD) como um sistema de manejo sustentável do solo e da água que visa otimizar a expressão do potencial genético das plantas cultivadas, compreendendo um complexo integrado de processos fundamentado em três Parte da dissertação do primeiro autor apresentada ao programa de pós-graduação na UnB, para obtenção do título de Mestre em Ciências Agrárias, área de concentração em Produção Vegetal. 1 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 23 RAC Melo et al. requisitos básicos: o revolvimento mínimo do solo, restrito à cova ou sulco de plantio; a diversificação de espécies pela rotação de culturas; e a manutenção de resíduos vegetais com o uso de culturas específicas para formação de palhada na superfície do solo. Em hortaliças, é complexo o estabelecimento de um SPD a longo prazo, à semelhança do que ocorre em grãos. Tem-se verificado o plantio de culturas sobre a palhada, sem revolvimento do solo (aração e gradagem ou encanteiramento), porem não permanentes, devido às características intrínsecas à olericultura, quais sejam: mercado muito dinâmico, com mudanças na tomada de decisão quanto a “o que plantar” e “quando plantar”; baixa produção de palhada pela grande maioria das hortícolas para permanecer com o SPD; adaptabilidade restrita ao plantio sem revolvimento para espécies como, por exemplo, cenoura e batata; muitas unidades com área restrita e, consequentemente, uso intensivo da propriedade. Por outro lado, têm-se alguns facilitadores para efetuar o cultivo de hortaliças em plantio direto, sem revolvimento, ainda que não se atinja o estágio de um sistema de plantio direto em longo prazo, dentre eles: a necessidade de mitigar os processos erosivos causados pelo excessivo revolvimento de solo na época chuvosa nos sistemas convencionais; a oportunidade de efetuar rotação de culturas, reduzindo os problemas fitossanitários; a amenização dos picos de temperatura proporcionados pela palhada, conferindo melhores condições de microclima para algumas espécies hortícolas; a facilidade de produzir palhada na época das chuvas para a produção de hortaliças com irrigação na época seca, prática já utilizada na maioria das unidades produtivas. Um dos fatores limitantes para a adoção do SPD em hortaliças é a limitada diversidade botânica nas espécies de sucessão/antecipação à cultura a ser explorada economicamente. Isso tem causado um aumento na incidência de pragas e doenças, principalmente as de solo, no Cerrado. Como alternativa, tem-se o uso de plantas de cobertura, com ciclos reduzidos e tolerância à seca, permitindo aproveitar a umidade resi24 dual; estabelecimento de cobertura com resíduos (palhada) persistentes e que gerem renda, direta ou indiretamente via transformação agroindustrial (Landers, 1995; Spehar & Landers, 1997). A definição de prioridade na seleção das espécies de cobertura deve basear-se no seu rápido estabelecimento, tolerância ao déficit hídrico, produção de biomassa, disponibilidade, fertilização e ciclagem de nutrientes de utilização humana e animal. As espécies de cobertura visam preencher o vazio existente na entressafra, com o aproveitamento do resíduo de umidade em antecipação ou sucessão ao cultivo principal (Spehar & Lara Cabezas, 2001). Outra importante função das plantas de cobertura, principalmente na horticultura, é que estas podem modificar as variações de temperatura no interior do solo, particularmente próximo da superfície, contribuindo para um melhor desenvolvimento das plantas e incremento produtivo. No verão, temperaturas registradas às 14 horas, na superfície do solo, freqüentemente excedem 40ºC no PC, ficando em torno de 35 e de 30ºC, respectivamente, no PD (Sidiras & Pavan, 1986), citados por Gasparim et al., 2005). O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de cultivares de brócolos de inflorescência única no verão em PD estabelecido durante um ano agrícola. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no campo experimental da Embrapa Hortaliças, a 15º56’00’’ latitude sul, 48º08’00’’ longitude oeste e altitude 997,6 m, durante o verão, de novembro de 2006 a março de 2007. O solo foi classificado como Latossolo Vermelho Escuro Álico, textura média (Embrapa, 1999). A análise química desse solo, realizada antes da implantação do experimento, revelou: pH (água)= 5,75; em cmolc dm-3: Al= 0,2; Ca+MG= 5,4; Ca= 4,2 e MG= 1,2; e em dm-3: P= 18,5; K= 270 e 46,60 g dm-3 de matéria orgânica. Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados em parcelas subdivididas com três repetições. Cada planta de cobertura, milheto (Pennisetum glaucum), milho (Zea mays), consórcio de milho com mucuna-preta preta (Estilozobium aterrimum) e sorgo-sudão (Sorghum bicolor X S. sudanense), além do cultivo convencional (solo após pousio preparado com aração e gradagem), constituiu uma parcela, sendo nelas distribuídas as cultivares Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy e o material HECB-01-06 (híbrido experimental em fase de desenvolvimento do programa de melhoramento da Embrapa Hortaliças), constituindo as sub-parcelas. A unidade experimental foi composta de 14 plantas (duas linhas com sete plantas cada), arranjadas em linhas simples, em área total de 4,9 m², plantadas no espaçamento de 0,7 m entre linhas e 0,5 m entre plantas. Os dados foram obtidos de 8 plantas úteis por parcela. O semeio das plantas de cobertura foi feito a lanço em 1 de novembro de 2006, conforme recomendações de Burle et al. (2006). Aplicou-se aos 37 dias, em função de dificuldades operacionais, 50 kg ha-1 de N, fazendo-se uso de uréia, distribuída a lanço, visando correção de deficiência nutricional. A área destinada ao sistema convencional permaneceu em pousio durante o desenvolvimento das plantas de cobertura. O manejo das plantas de cobertura foi realizado em 27 de dezembro de 2006 (57 dias após semeadura), com o implemento Trimax, que consiste num picador/desintegrador utilizado para destruição de restos culturais. Foram retiradas amostras das palhadas das plantas de cobertura para análise de matéria seca, com três repetições por parcelas, utilizando um quadrado de 1 x 1 m e acondicionamento em sacos, pesados e secos em estufa a 65ºC, até peso constante após 72 horas. O preparo do solo com aração e gradagem para o sistema convencional, que se encontrava em pousio quando do desenvolvimento das plantas de cobertura, ocorreu no mesmo dia do manejo destas. A semeadura do brócolos foi realizada em 8 de dezembro de 2006, utilizando o substrato comercial Plantmax. A irrigação por microaspersão foi empregada até o momento do transplante. Foram abertas covas para o transplante, com diâmetro de 15-20 cm e profundidade de 10 cm em 28 de dezembro. A adubação de base foi de 2 t de cama de frango, 60 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto kg ha-¹ de N, 400 kg ha-¹ de P2O5, 150 kg ha-¹ de K2O e 3 kg ha-¹ de B, incorporados nas covas, de acordo com as recomendações de Trani et al. (1996). O transplante ocorreu no dia 16 de janeiro de 2007, vinte dias após o manejo das plantas de cobertura. Durante a condução do experimento, foram realizadas adubações em cobertura com aplicações parceladas de 200 kg ha-1 de N, aos 24 dias após o transplante (DAT) e no início da emissão da inflorescência, aos 42 DAT, além de uma adubação foliar com molibdênio aos 36 DAT. Os demais procedimentos fitotécnicos para o controle fitossanitário e condução do experimento foram os normalmente recomendados para a cultura. Foram colhidas as inflorescências centrais, com corte na base da primeira folha no momento em que a inflorescência atingia seu tamanho máximo, ainda compacta e com grânulos bem fechados (Seabra Júnior, 2005). A colheita iniciou aos 57 DAT, finalizando aos 98 DAT, realizando-se duas colheitas semanais. Foram avaliados a produtividade total em t ha-1, produtividade comercial (plantas com peso acima de 100 g e índice de aspecto visual com nota mínima 2) em t ha-1, peso médio (g), diâmetro (cm), granulometria (mg), índice de aspecto visual das inflorescências, temperatura do solo, primeira colheita realizada, ciclo médio e distribuição semanal da colheita. Determinou-se o índice de aspecto visual de inflorescências de brócolos, baseado nos defeitos descritos na classificação de couve-flor do programa brasileiro para a melhoria dos padrões comerciais e embalagens de hortigranjeiros da CEAGESP (2000). Com esta finalidade empregou-se uma escala de notas variando de 1 a 5, onde 1= extremamente defeituosas, não comerciais; 2= comerciais defeituosas; 3= moderadamente defeituosas; 4= levemente defeituosas; 5= sem defeitos aparentes. A granulometria das inflorescências foi avaliada retirando-se três inflorescências de cada repetição. Avaliou-se a correlação entre o peso e o tamanho dos botões florais, de modo a facilitar a avaliação da granulometria, tanto para este trabalho como para trabalhos futuros com brócolos de inflorescência única. As inHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 florescências foram divididas em quatro quadrantes, dos quais foram retirados 10 botões florais, totalizando 40 botões, que foram pesados e medidos através de paquímetro digital e balança de precisão. Ainda, tomou-se o peso de 60 botões florais escolhidos ao acaso, divididos em 6 grupos de 10. Foi calculada a correlação entre altura dos 40 botões e peso dos 100 botões retirados, em uma escala de –1 a 1. Assim, quanto mais próximo de 1, maior a correlação entre altura e peso dos botões florais. As leituras de temperatura do solo foram realizadas durante a fase de expansão e desenvolvimento das folhas, segundo Kimoto (1993). As medições foram realizadas às 14 h no centro das parcelas (plantas de cobertura) em cada repetição, sendo medidas à superfície e nas profundidades de 5, 10, 15 e 20 cm. Os dados originais foram submetidos à análise de variância ao nível de 5% de probabilidade. As médias foram comparadas, entre si, utilizando o teste de Scott-Knott. Foi utilizado o Software Sisvar (Ferreira, 1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO As plantas de cobertura avaliadas obtiveram baixas produtividades de matéria seca, quando comparadas a resultados obtidos em condições semelhantes no Cerrado, acarretando em menor permanência de seus resíduos sobre o solo. Em regiões e em épocas de cultivo onde temperatura e umidade são altas, como no verão do Cerrado, Seguy et al. (1997) indicam a necessidade de 11 a 12 t ha-1 de matéria seca produzidas anualmente para o cultivo de grãos, devido à rapidez de decomposição da palhada. A matéria seca atingiu 4,4 t ha-1 para o milho e 4,3 t ha-1 para o sorgo-sudão, 3,8 t ha-1 para o consórcio de milho com mucuna-preta e 3,1 t ha-1 para o milheto. Esses resultados podem ser explicados pelo manejo das plantas de cobertura, que foi realizado aos 57 DAS (dias após semeadura). O manejo efetuado em um período curto se deve à necessidade de uso intensivo de uma mesma área pelo produtor de hortaliças, com vários ciclos culturais durante o ano, o que difere do produtor de grãos. Além disso, um dos fatores que pode ter contribuído para a menor permanência de resíduos foi o tipo de implemento utilizado para o manejo (triturador) pois, apesar de distribuir os restos culturais homogeneamente, os deixa em pequenos pedaços. A intensidade de chuvas no período também pode ter contribuído para a decomposição mais rápida destes resíduos (701,43 mm de novembro/06 a janeiro/07). Deve-se considerar também que, no caso do cultivo de hortaliças, é necessário estar atento a problemas fitossanitários, principalmente com doenças de solo que podem ser favorecidas pelo excesso de restos culturais junto às plantas. Assim, quantidades muito grandes de resíduos culturais não são desejáveis em plantios de hortaliças. Este é outro fator que leva ao manejo precoce das plantas de cobertura, de modo a se buscar a viabilidade do plantio direto em hortaliças para sua adoção em áreas de produção. O curto ciclo das plantas de cobertura e, conseqüentemente menor produção de biomassa e permanência de seus resíduos sobre o solo contribuíram para que não fossem observadas diferenças significativas entre as plantas de cobertura. A diferença significativa entre a produtividade das cultivares avaliadas (Tabela 1) deve-se basicamente ao potencial produtivo diferenciado de cada uma delas, isto é, ao seu potencial genético, considerando as condições ambientais do experimento. Cultivares híbridas também possuem estabilidade fenotípica e capacidade de produção em diferentes condições edafoclimáticas (homeostase genética), o que pode explicar os bons níveis de produtividade apresentados para as cultivares no verão, época que não coincide com a recomendação de cultivo para estas cultivares, com exceção de Green Storm Bonanza e HECB01-06. Há que se considerar, ainda que o local do experimento apresenta clima relativamente ameno, se comparado a outros locais do Planalto Central, em função de sua altitude. Observaram-se diferenças significativas na produtividade total e comercial das cultivares (Tabela 2). A cultivar Avenger apresentou produtividade total significativamente maior que as demais, com 13,2 t ha-1, superando os resultados obtidos no verão por Trevisan et al. 25 RAC Melo et al. Tabela 1. Produtividade de brócolos, em t ha-1, de acordo com cultivares e plantas de cobertura (broccoli yield, in t ha-1, according to cultivars and cover crops). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Cultivar Avenger Legacy Grandisimo Demoledor Green Storm Bonanza HECB-01-06 Média Convencional 12,6 9,4 8,9 7,8 Milho 14,8 10,2 10,6 8,3 Milho + Mucuna 13,6 11,6 10,5 8,7 Milheto 12,4 10,8 10,0 6,3 Sorgo Sudão 12,7 10,9 11,9 7,4 Médias 13,2a 10,6 b 10,4 b 7,7 c 7,1 7,6 7,7 7,5 8,0 7,6 4,6 8,4 4,8 9,4 5,7 7,9 5,5 8,8 3,9 9,2 4,9 d 9,1 ns c Cultivares com médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidade de erro; ns= não significativo (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05). 1 Tabela 2. Produtividade de inflorescências total e comercial e peso médio da inflorescência de brócolos em função da cultivar (total and commercial yield and average weight of broccoli curds, according to cultivars). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Cultivar Avenger Legacy Grandisimo Demoledor Green Storm Bonanza HECB-01-06 CV (%) Produtividade total (t ha-1) comercial (t ha-1) 13,2 a 13,2 a 10,6 b 10,5 b 10,4 b 10,3 b 7,7 c 7,3 c 7,6 c 7,5 c 4,9 d 4,6 d 14,06 14,60 Peso médio (g) 457,5 a 370,8 b 363,0 b 270,0 c 265,0 c 172,7 d 14,41 Cultivares com médias seguidas pela mesma letra nas colunas, dentro de cada variável, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidade de erro (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05). (2003) no Rio Grande do Sul com as cultivares Green River, Baron e Hanamidori com 12,8 t ha-1, 10,8 t ha-1 e 101 t ha-1, respectivamente; e no inverno por Lyra Filho et al. (1997) em Pernambuco com as cultivares Hanamidori e Legacy, respectivamente com 8,8 t ha-1e 6,4 t ha-1, e Melo & Giordano (1995) no Distrito Federal com as cultivares Legacy e Sabre, respectivamente com 9,4 e 13,0 t ha-1. As cultivares Legacy e Grandisimo não diferiram entre si, com produtividade de 10,6 e 10,4 t ha-1, respectivamente, resultados semelhantes aos obtidos pelos autores citados (Trevisan et al., 2003; Lyra Filho et al., 1997; Melo & Giordano, 1995). A cultivar Green Storm Bonanza e o material HECB-0106 obtiveram, respectivamente, 7,6 t ha-1 e 4,9 t ha-1. As produtividades obtidas são extremamente satisfatórias e o 1 cultivo do brócolos nesta época permite portanto a ampliação do período de colheita pois, de acordo com Silva (1997), embora o plantio de verão seja menos produtivo, a rentabilidade do cultivo é favorecida por preços mais altos em virtude da colheita ocorrer no período de entressafra. As cultivares apresentaram diferenças significativas quanto à produtividade comercial (plantas com peso acima de 100 g e nota mínima 2 para aspecto visual). A cultivar Avenger, apresentou todas as plantas como sendo comercias, com produtividade de 13,2 t ha-1, seguida das cultivares Legacy e Grandisimo, com 10,5 t ha-1 e 10,3 t ha-1, respectivamente (Tabela 2). Para o peso médio de inflorescências, a cultivar Avenger apresentou 458 g, seguida das cultivares Legacy e Grandisimo, com médias de 371 e 363 g, respectivamente. As cultivares Green Storm Bonanza, Demoledor e o material HECB-01-06 não diferiram entre si, com médias respectivamente de 270, 265 e 173 g (Tabela 2). Estas cultivares possuem potencial, tanto para venda in-natura quanto em embalagens individuais para balcões frigoríficos de supermercados, como normalmente ocorre no DF e região. O índice de aspecto visual de inflorescências, característica importante na cultura estudada, foi significativamente superior na cultivar Avenger, com nota 4,0 (levemente deteriorada, 1 a 9%), seguido pela cultivar Green Storm Bonanza com nota 3,7. Legacy com nota 3,0 (moderadamente deterioradas, 10 a 39%). As cultivares Grandisimo, Demoledor e o material HECB-01-06 obtiveram notas médias de 2,9, 2,8 e 2,7, respectivamente. O aspecto visual das inflorescências é essencial para a comercialização in natura e para o processamento. Assim, cultivares com notas maiores constituem-se em boa opção para ampliar a disponibilidade de materiais para processamento e congelamento durante o ano (Tabela 3). Com relação à granulometria, as correlações ficaram, em média, próximas a 0,80, o que permitiu tomar o peso (mg) como medida para se avaliar a granulometria, característica de avaliação muito mais fácil que o tamanho dos botões florais. Houve diferença entre cultivares, com o material HECB-01-06 apresentando maior granulometria, com 114,3 mg. O material HECB-01-06 MELO PE (Embrapa Hortaliças), informação pessoal, 2006. 26 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto Tabela 3. Índice de aspecto visual das inflorescências (escala de notas variando de 1 a 5; 1= não comerciais, extremamente defeituosas; 2= comerciais defeituosas; 3= moderadamente defeituosas; 4= levemente defeituosas; 5= sem defeitos aparentes), diâmetro médio da inflorescência, primeira colheita e ciclo médio em função da cultivar (visual aspect of broccoli curds (scale from 1 to 5; 1= non commercial with extreme defects; 2= commercial with defects; 3= moderate defects; 4= light defects; 5= no apparent defects), average diameter, first harvest and medium cycle according to cultivars). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Índice de aspecto visual Cultivar Avenger Legacy Grandisimo Demoledor Green Storm Bonanza HECB-01-06 CV (%) 4,0 a 3,0 c 2,8 c 2,8 c 3,7 b 2,7 c 11,86 Diâmetro (cm) Granulometria (mg) 15,3 a 15,1 a 15,5 a 13,5 b 13,3 b 13,1 b 9,94 42,5 a 56,5 a 31,9 a 34,4 a 39,7 a 114,3 b 73,04 1a colheita (dias) 77 a 78 a 76 a 75 a 72 b 57 c 4,45 Ciclo médio (dias) 86 a 85 a 84 a 84 a 78 b 63 c 4,10 Cultivares com médias não seguidas por mesma letra, dentro de cada variável, diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidade de erro (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05). Tabela 4. Variação de temperatura na superfície e às profundidades de 5, 10, 15 e 20 cm no cultivo de brócolos no verão utilizando diferentes plantas de cobertura (soil temperature variations on surface and at 5, 10, 15 and 20 cm depth in broccoli production using different cover crops). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007. Cultivar Milheto Milho Milho + Mucuna Sorgo Sudão Convencional CV (%) Superfície 29,6 a 29,3 a 29,6 a 29,3 a 31,6 b 1,98 5 cm 27,6 a 28,0 a 27,6 a 27,6 a 29,6 b 1,84 10 cm 26,3 a 26,3 a 26,3 a 26,3 a 27,6 b 1,85 15 cm 25,3 a 26,0 a 25,6 a 25,6 a 26,6 a 1,80 20 cm 25,0 a 24,6 a 25,3 a 25,0 a 25,3 a 1,46 Médias seguidas pela mesma letra nas colunas, para cada profundidade, não diferem entre si pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05). 1 apresentou maior granulometria por ser proveniente do cruzamento entre linhagens de brócolos obtidas na Embrapa Hortaliças que possuem, em sua genealogia, cruzamentos com plantas de brócolos do tipo ramoso. O brócolos do tipo ramoso caracteriza-se por apresentar botões florais maiores e mais frouxos que as plantas de inflorescência única. Este material foi desenvolvido com o objetivo de introduzir adaptação às condições de cultivo na região de Brasília dos genótipos de inflorescência única. O elevado coeficiente de variação observado (73,4%) na granulometria pode ser explicado, em parte, pela grande variabilidade de tamanho de botões florais dentro de uma mesma inflorescência. Geralmente, os botões florais localizados nas extremidades da inflorescência são mais leves e frouxos por terem se desenvolvido primeiro. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Como os botões foram escolhidos aleatoriamente, de forma a representar toda a granulometria existente na inflorescência e não apenas aquela mais fina, esta variação está expressa no elevado coeficiente de variação (Tabela 3). O material HECB-01-06 foi mais precoce, tendo o início de colheita aos 57 DAT (dias após transplante), seguido da cultivar Green Storm Bonanza, iniciando a colheita aos 72 DAT, mais precoces que as demais. Este aspecto é interessante para escolha de materiais com menor permanência em campo, visando a sucessão de culturas (Tabela 3). O ciclo médio foi de 63 dias para o material HECB-01-06, seguido da cultivar Green Storm Bonanza com 78 dias, mais precoces que as demais (Tabela 3). As temperaturas do solo, medidas durante as fases de expansão e desenvolvimento das folhas propostas por Kimoto (1993), apresentaram médias significativas para as medições feitas na superfície do solo, a 5 e a 10 cm de profundidade, não apresentando diferenças significativas nas profundidades de 15 e 20 cm, observando-se estabilidade durante o período de avaliação, independente das diferentes condições de radiação solar. As temperaturas do solo nas parcelas com as plantas de cobertura foram de 2 a 2,3ºC inferiores na superfície do solo, de 1,6 a 2oC inferiores a 5 cm de profundidade, e 1,3oC inferior a 10 cm de profundidade, quando comparadas ao PC, sem cobertura do solo (Tabela 4). Estes resultados indicam que no período em que o solo se mantém coberto ocorre uma redução de suas temperaturas próximas ao coleto das plantas e nas profundidades acima mencionadas, favorecendo o desenvolvimento das plantas. As cultivares avaliadas apresentaram diferenças significativas quanto à distribuição semanal do percentual de plantas colhidas. O material HECB-01-06 apresentou 52% do total das plantas sendo colhidas entre 57 e 63 DAT, o que corresponde a 2,6 t ha-1. Ainda destaca-se, que 90% da produção total foi colhida até os 70 DAT, correspondendo a 4,3 t ha-1 de um total de 4,9 t ha-1. A cultivar Green Storm Bonanza teve seu pico de produção entre 71 e 77 DAT, com 60% do total colhido neste período. Em termos de produção, 27 RAC Melo et al. a cultivar Green Storm Bonanza teve aproximadamente 4,5 t ha-1 colhidas neste período, de um total de 7,6 t ha-1. A cultivar Demoledor teve colheita praticamente constante dos 71 aos 93 DAT, com aproximadamente 78% da produção sendo colhida neste período, correspondendo a 6,0 t ha-1 de um total de 7,7 t ha-1. A cultivar Grandisimo iniciou a colheita aos 71 DAT, com 74% da produção sendo colhida até os 93 DAT, ou 7,5 t ha-1 de um total de 10,3 t ha-1. As cultivares Avenger e Legacy apresentaram-se mais tardias, com 40 a 50% do total sendo colhido entre 85 e 91 DAT, ou 4,2 e 5,3 t ha-1, respectivamente, de um total de 13,2 t ha-1 e 10,6 t ha-1. As diferenças apresentadas permitem um planejamento da produção com base no conhecimento do ciclo de cada cultivar, sendo esta uma informação importante para o produtor visando o atendimento de mercado. O desempenho das cultivares avaliadas revela a possibilidade de produzir brócolos de inflorescência única no verão, destacando-se as cultivares Avenger, seguida de Legacy e Grandisimo. Existe a possibilidade destas serem indicadas para plantios comerciais em regiões com condições edafoclimáticas semelhantes ao DF, tanto para comércio in-natura quanto para processamento e congelamento no DF. O plantio de brócolos em PD, independente das plantas de cobertura avaliadas, foi capaz de proporcionar produtividades semelhantes às obtidas no PC. Portanto, tendo em vista a manutenção de elevados níveis de produtividade no PD, é recomendável sua adoção, considerando-se os reconhecidos benefícios proporcionados pelo Sistema Plantio Direto, como a melhoria das características físicas, químicas e biológicas de solo, a maximização dos recursos água e energia e a minimização 28 dos processos erosivos. REFERÊNCIAS BURLE ML; CARVALHO AM; AMABILE RF; PEREIRA J. 2006. Caracterização das espécies de adubo verde. In: CARVALHO AM; AMABILE RF. (editores). Cerrado: adubação verde, Planaltina-DF: Embrapa Cerrados, p.71-142. BRAZ LT; VARGAS PF; CHARLO HCO; CASTOLDI R. 2007. 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Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina. Horticultura Brasileira 28: 29-35. Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina Dalva Paulus¹; Durval Dourado Neto2; José Antônio Frizzone2; Tales M Soares3 UTFPR–Campus Dois Vizinhos, C. Postal 157, 85660-000 Dois Vizinhos-PR; ²USP-ESALQ, Depto. Irrigação e Drenagem, 13418-900 Piracicaba-SP. 3UFRP-Depto. Tecnologia Rural, 52171-900 Recife-PE; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT O uso de água salina na produção de hortaliças constitui no momento atividade essencial, tendo em vista o aumento da demanda de água doce, tanto pela atividade agrícola quanto pelo abastecimento urbano e industrial. O objetivo do trabalho foi avaliar a produção e os indicadores fisiológicos de alface cultivada em hidroponia com a utilização de água salina. O experimento foi conduzido em ambiente protegido, em Piracicaba-SP. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, sendo estudados os efeitos de cinco níveis de salinidade da água de irrigação, utilizando-se NaCl [Condutividade elétrica (Cea): 0,42, 1,53, 3,52, 5,55 e 7,43 dS m-1] em duas cultivares de alface (Verônica e Pira Roxa), em esquema fatorial. Foram determinadas massa fresca e seca de folhas, caule, raízes e da parte aérea; teor de nitrato, prolina e clorofila. O aumento da salinidade da água reduziu linearmente as massas fresca e seca das folhas, caule, raízes e da parte aérea. As massas fresca e seca foram 36% e 57% superiores na cultivar Verônica, respectivamente. A cultivar Pira Roxa apresentou maior teor de nitrato 25% (3008 mg L-1), clorofila total 50% (1,46 mg g-1massa fresca) e prolina, 71,43% (0,21 µM g-1massa fresca-1) em relação à Verônica, o que pode ser um mecanismo de adaptação daquela cultivar ao estresse salino. Com relação à produtividade comercial, obteve-se uma perda de 69 e 64% para as cultivares Pira Roxa e Verônica, quando se utilizou água mais salina (7,43 dS m-1). Em relação à produção de massa seca, a perda pelo uso dessa água foi de 53% e 44%, respectivamente. Os resultados obtidos em sistema de cultivo hidropônico podem indicar a possibilidade do uso da água salina como alternativa para produção de hortaliças para produtores que têm disponibilidade de água salina e restrita disponibilidade de água doce, embora com redução na produtividade. Production and physiologic indicators of lettuce grown in hydroponics with saline water Palavras-chave: Lactuca sativa, salinidade, solução nutritiva. Keywords: Lactuca sativa, salinity, nutrient solution. The use of saline water in the production of vegetables constitutes at the moment an essential activity, facing the rising demand of fresh water, as for the agricultural activity as for the urban and industrial supplying. This study aimed to evaluate production and physiologic indicators of lettuce in hydroponic system with the use of saline waters. The experiment was carried out in a greenhouse in the period from December 2007 to January 2008, in Piracicaba, Brazil. The experimental design was randomized blocks in factorial scheme - five salinity levels obtained with the addition of NaCl, which resulted in different water electrical conductivity levels (dS m-1): 0,42, 1,53, 3,52, 5,55, 7,43 - and two cultivars of lettuce - Veronica and Pira Roxa. It was determined the fresh and dry mass of leaves, stem, roots and shoot and the content of nitrate, proline and chlorophyll. The increase of water salinity reduced lineally the fresh and dry mass of leaves, stem, roots and shoot. The cv Verônica produced 36% and 57% more shoot fresh and dry mass, respectively, than Pira Roxa. The cv. Pira Roxa accumulated 25% more nitrate (3008 mg L-1), presented 50% more total chlorophyll (1,46 mg g-1fresh mass) and 71,43% more proline (0,21 µM g fresh mass -1) than the cv Verônica, showing a mechanism of avoiding salinity stress. Cultivars Pira Roxa and Veronica presented loss of 69% and 64% of commercial productivity, respectively, when the most saline water (7,43 dS m-1) was used. In the other hand dry matter was reduced in 53% and 44%, respectively, for cv. Pira Roxa and Verônica in the most saline water. The results obtained in this study can indicate the possibility of using saline water as an alternative for the production of vegetables, specially for growers that have saline water available but restricted fresh water, even with reduction of productivity. (Recebido para publicação em 8 de janeiro de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010) (Received on January 8, 2009; accepted on February 3, 2010) H á anos vem sendo diagnosticado o problema de escassez de água no mundo, especialmente em países com grandes regiões semi-áridas como o Brasil. Diante do quadro de baixa oferta de água potável, a geração de tecnologias e pesquisa que permitam o uso de águas salinas na produção de alimentos tornam-se importantes para o cenário agrícola. O cultivo hidropônico representa uma alternativa ao cultivo convencional, com vantagens para o Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 consumidor, produtor e para o meio ambiente, como obtenção de produtos de alta qualidade, encurtamento do ciclo de produção, com maior produtividade, menor gasto de água, de insumos agrícolas e de mão-de-obra. A literatura especializada em hidroponia afirma que a alface (Lactuca sativa L.) é a planta cultivada em maior escala pela Técnica do NFT (Nutrient Film Technique ou fluxo laminar de solução) devido à sua fácil adaptação ao sistema (Ohse, et al., 2001). Águas com alto conteúdo salino podem ser utilizadas em cultivos hidropônicos, porém as plantas que se desenvolvem nessas águas estão limitadas àquelas denominadas como tolerantes e moderadamente tolerantes a sais, tais como: tomates, pepinos e alface. Rodrigues (2002) aponta a alface como cultura tolerante à salinidade, contrariando a classificação de tolerância da alface para cultivo em solo apresentada por Ayers & 29 D Paulus et al. Westcot (1999) que consideram a alface moderadamente sensível à salinidade. Em trabalhos recentes Soares (2007) concluiu que é possível utilizar águas salinas para produção de alface em hidroponia, podendo a tolerância aos sais ser superior àquela obtida em cultivos convencionais em solo. A salinidade afeta vários processos fisiológicos e bioquímicos ao longo do ciclo de vida da planta. A resposta da planta à salinidade é complexa e variável com as condições ambientais e da planta (fase fenológica, estado nutricional), inclusive podendo variar entre cultivares de uma mesma espécie (Maas & Hoffman, 1997). Além de reduzir o crescimento, reduz o conteúdo de clorofila em plantas sensíveis e aumenta em plantas tolerantes a salinidade (Munns, 1993). Com relação ao nitrato, existem relatos do aumento desse com os níveis mais elevados de salinidade (Chung et al., 2005). A prolina é um aminoácido que se acumula em plantas superiores em situação de estresse (hídrico, salino, SO2). O acúmulo de prolina em plantas sob estresse pode ser conseqüência tanto do aumento na sua síntese como do decréscimo na sua degradação (Ferreira et al., 2002). O aumento dos teores de prolina pode ativar várias funções celulares como ajustamento osmótico, reserva de carbono e nitrogênio utilizado no crescimento para restabelecimento após estresse, desintoxicação do excesso de amônia, estabilizador de proteínas e membranas e eliminadores de radicais livres. A prolina está presente em pequenas quantidades nas plantas, aproximadamente entre 1 a 5 μmol g-1 de massa seca e devido à sua importância no ajustamento osmótico é o composto mais estudado em plantas sob estresses abióticos (Kavi Kishor et al., 2005). Pesquisas quanto à utilização de águas salinas no preparo da solução nutritiva e reposição da água evapotranspirada para alface justificam a importância da realização desse estudo, o que pode ser uma alternativa de renda para o agricultor que apresenta somente a opção de água salina na propriedade. O objetivo do trabalho foi avaliar a produção e os indicadores fisiológicos de alface cultivada em hidroponia com 30 a utilização de água salina. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido de dezembro de 2007 a janeiro de 2008 em ambiente protegido, na ESALQ em Piracicaba-SP. A casa de vegetação de 126 m2 é do tipo arco simples coberta com filme transparente de polietileno de baixa densidade com 0,10 mm de espessura e nas laterais por telas com 50% de sombreamento. Foram avaliadas as cultivares Verônica de coloração verde e a Pira Roxa de coloração roxa, ambas do tipo crespa. As mudas foram produzidas em espuma fenólica e transplantadas para o berçário com sete dias, irrigadas com solução nutritiva (Furlani, 1998) diluída a 50% e com sete dias após transplante com solução nutritiva a 100%, visando sua adaptação às condições experimentais, ou seja, ao cultivo com águas salinas (Soares, 2007). Utilizou-se o sistema NFT, onde a solução nutritiva foi distribuída nos canais de cultivo numa vazão de 1,6 L por minuto com frequência de irrigação programada com o auxilio de temporizador para acionar a moto-bomba durante 15 min no período diurno (07:00 - 20:00 h) e 15 min a cada intervalo de 2 h no período noturno (20:00 - 07:00h). A solução nutritiva foi conduzida por bombeamento através de uma tubulação de PVC do reservatório até a parte mais alta do canal de cultivo e retornada ao reservatório por gravidade. Para o armazenamento da solução nutritiva, na quantidade de 45 L, foram utilizados reservatórios de polietileno com capacidade de 60 L. Os canais de cultivo de polipropileno tinham diâmetro comercial de 100 mm e comprimento de 2,8 m. Estes foram sustentados por quatro pontos de apoio de madeira instalados a uma altura média de 0,85 m, com declividade de 3,3%. O espaçamento utilizado foi de 0,3 x 0,25 m entre linhas e entre plantas. A solução nutritiva utilizada foi baseada em Furlani (1998) com condutividade elétrica próxima a 2,00 dS m-1 quando composta a partir de água com baixa salinidade (0,20 dS m-1). Como o experimento foi conduzido no período de verão, optou-se em utilizar a concentração da solução nutritiva a 75%. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, sendo estudados os efeitos de cinco níveis de salinidade da água de irrigação, utilizando-se NaCl (Condutividade elétrica (Cea): 0,42, 1,53, 3,52, 5,55 e 7,43 dS m-1) em duas cultivares de alface, em esquema fatorial. As quantidades de NaCl utilizadas nos tratamentos foram (g L-1 de NaCl): Testemunha = 0; T1 = 0,585; T3 = 1,755; T5 = 2,925; T7= 4,095. Aos 23 dias após o transplantio foram colhidas quatro plantas centrais do perfil de cultivo, que foram separadas em parte aérea e raízes e pesadas para obtenção da massa fresca. A parte aérea e as raízes foram submetidas à pré-secagem e, posteriormente, levadas à estufa com circulação de ar à temperatura de 65 0C para obtenção das respectivas massas secas. Os teores de clorofila a, clorofila b e total foram determinados pelo método extrativo, metodologia modificada de Lee et al. (1987) e Moran (1982). O teor de prolina foi determinado conforme metodologia descrita por Bates (1973). Para avaliar o teor de nitrato na seiva da alface coletou-se a folha mais jovem completamente expandida de cada parcela. Com auxílio de uma tesoura, a nervura central dessa folha foi separada do limbo e cortada em pedaços, os quais foram prensados em uma prensa manual (esmagador de alho). O extrato foi avaliado em sensor eletrônico (‘Horiba’) específico para testes rápidos de nitrato. Os resultados foram processados no programa “SAS” (SAS, Institute, 1999) para análise de variância, análise de regressão polinomial e teste de comparação de médias (Tukey a 5% de probabilidade). RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período de condução do experimento, as condições climáticas foram favoráveis para o desenvolvimento da alface, sendo a média das temperaturas máximas de 34ºC e a das mínimas de Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina Tabela 1. Condutividade elétrica da solução nutritiva preparada com água salina e sua média ponderada no tempo em função da salinidade da água de reposição ao longo do ciclo de cultivo (electric conductivity of the prepared nutrient solution with saline water and average obtained as a result of the salinity of the water of the replacement along the cultivation cycle). Piracicaba, ESALQ, 2008. Tratamento Teste T1 T3 T5 T7 CEa (dS m-1) 0,42 1,53 3,52 5,55 7,43 0 DAT 4 DAT 8 DAT 1,74 1,77 1,82 2,78 2,90 3,13 4,87 5,25 5,71 7,04 7,60 8,36 8,98 9,76 10,82 21ºC, a radiação solar líquida incidente média de 7 MJ/m-2dia-1. Nas condições em que o experimento foi desenvolvido, ao utilizar águas salinas no preparo da solução nutritiva e na reposição da evapotranspiração da alface, verificou-se salinização crescente nos tratamentos salinos. Para o tratamento com água não salina verificou-se redução da salinidade da solução nutritiva em decorrência do consumo de nutrientes que é superior ao acúmulo de sais dissolvidos na água (Tabela 1). Entretanto é interessante observar que a magnitude da salinização da água de maior salinidade é menor (2,54 dS m-1) que a obtida por Soares (2007) em avaliações com águas salinas em reposição à evapotranspiração de alface Verônica em NFT, onde a água de maior salinidade (7,46 dS m-1) elevou a CEsol de 2,24 para 7,07 dS m-1 em 25 dias, o que pode ser atribuído a fatores climáticos, relacionados com a evapotranspiração da planta e características da cultivar em resposta ao estresse salino. Crescimento e Produção - A interação entre cultivares e níveis de salinidade foi significativa (p<0,01) para as variáveis analisadas. A cultivar Verônica apresentou crescimento superior à cultivar Pira Roxa de 37,71%, 20,58%, 35,80% para massa fresca das folhas, massa fresca do caule e massa fresca da parte aérea, respectivamente (Figura 1a, 1b e 1c). O aumento da salinidade da água reduziu, linearmente, a massa fresca e seca da parte aérea das cultivares, das folhas e do caule, e a massa seca das raízes e massa fresca e seca da parte aérea das cultivares em estudo. Conforme os estudos de regressão, os decréscimos relativos à água não salina (0,42 dS m-1) para cada incremento Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 CEsol (dS m-1) Média pon11DAT 13 DAT 16 DAT 19 DAT 22 DAT derada (dS m-1) 1,68 1,58 1,49 1,37 1,28 1,52 2,99 2,96 3,04 3,14 2,96 2,93 5,45 5,63 5,93 6,23 6,08 5,67 7,97 8,24 8,77 9,25 8,67 8,14 10,30 10,66 11,15 11,76 11,52 10,64 unitário de CE da água das cultivares Verônica e Pira Roxa, respectivamente, foram de 13,54% e 14,51% para massa fresca de folha; 17,79% e 19,53% para massa fresca do caule; 14,11% e 9,54% massa fresca da parte aérea. Semelhantes declividades entre os extremos de salinidade avaliados são encontradas ao se analisar as reduções lineares das cultivares Verônica e Pira Roxa, respectivamente, para a massa seca das folhas 11% e 12%; do caule 15% e 16% ; 11% e 7,04% para massa seca total (Figura 1d, 1e e 1g). A massa seca das raízes, por sua vez, reduziu 5,12% para a Pira Roxa, enquanto para Verônica não houve significância nas diferenças da variável analisada (Figura 1f). Nas condições em que o experimento foi desenvolvido, as reduções lineares das massas fresca das folhas e do caule da cultivar Pira Roxa foram superiores 7% e 10% em relação à Verônica, sendo o efeito da salinidade da água mais acentuado nas variáveis de crescimento da cultivar Pira Roxa. Em trabalhos com a cultivar Verônica e em sistema hidropônico NFT, mas com águas salinas utilizadas apenas na reposição do volume consumido, Soares (2007) obteve reduções lineares para massa fresca das folhas (2,34%), massa fresca do caule (4,3%) e massa fresca da parte aérea (2,27%). Segundo o autor o efeito da salinidade da água sobre o crescimento foi moderado devido aos valores de declividade terem sido baixos. As reduções lineares obtidas no presente estudo sugerem que os íons absorvidos e transportados para a parte aérea possivelmente excederam o limite necessário ao ajustamento osmótico da planta, e desta forma acarretaram efeitos danosos ao crescimento (Flower et al., 1986). A salinidade da água afetou a relação raiz/parte aérea, com efeito quadrático para as cultivares analisadas (Figura 1h). Em termos relativos verificou-se que as relações raiz/parte aérea foram de 0,27% e 0,24% para as cultivares Pira Roxa e Verônica, respectivamente. O estudo da massa seca da parte aérea permitiu observar a redução dessa variável com o aumento da salinidade o que condiz com o aumento da relação raiz/parte aérea; portanto, o efeito da salinidade sobre as raízes é menor que sobre a parte aérea da alface em hidroponia. Segundo Munns (1993) a redução no crescimento da parte aérea é maior do que no sistema radicular e essa resposta é comum em plantas submetidas ao estresse salino (Munns, 1993). Esse comportamento pode estar associado a um ajuste osmótico mais rápido e uma perda de turgor mais lenta das raízes, quando comparadas com a parte aérea (Shalhevet et al, 1995). Analisando a qualidade comercial das cultivares Pira Roxa e Verônica verificou-se que as cultivares não apresentaram injúrias severas que pudessem afetar o preço de venda, portanto, toda a massa fresca foi considerada como produtividade comercial. Para fins comerciais as cultivares Pira Roxa e Verôncia apresentaram perdas de 69% e 64% respectivamente, quando se utilizou água mais salina (7,43 dS m-1). Em relação à produção de massa seca, a perda pelo uso dessa água foi de 53% e 44%. O efeito da salinidade da água sobre o crescimento da alface cultivar Pira Roxa foi superior em relação a cultivar Verônica. Além das características de 31 D Paulus et al. a y Verônica = -44,93x** + 331,72** r² = 0,90 y Pira roxa = -19,08x** + 131,52** r² = 0,92 b 300 M.F.Caule (g ) M.F.Folha (g) 400 Verônica 200 Pira Roxa 100 0 0 1 2 3 4 5 6 7 yVerônica = -8,99x** + 50,52** r² = 0,92 50 40 30 20 10 0 Verônica Pira Roxa 0 8 1 2 3 d y Pira Roxa= -0,48x** + 6,28** r = 0,85 M.S.Folha (g) Verônica Pira Roxa 1 2 3 f 2 Verônica 1,5 Pira Roxa 1 y Pira Roxa = -0,07x** + 1,43** r² = 0,67 0,5 5 6 7 0 8 0 1 2 3 -1 CEa (dS m ) M.S.Total (g) 20 4 y Pira Roxa= -0,57x** + 8,09** r² = 0,84 Verônica 10 Pira Roxa 5 h 3 4 5 -1 CEa (dS m ) 8 2 0,35 2 r = 0,98 0,3 6 7 8 Verônica 0,25 Pira Roxa 0,2 0,15 y Verônica= 0,0021x2** + 0,0047x** + 0,1776** 0,1 2 r = 0,99 0 0 2 7 y Pira Roxa= 0,0021x ** + 0,0066x** + 0,2037** 0,4 0,05 1 6 CEa (dS m ) 15 0 5 -1 Raiz/parte aérea (g) yVerônica = -2,02x** + 19,02** r² = 0,82 8 3 Pira Roxa 0,5 25 7 2,5 0 g 6 3,5 M.S.Raiz (g) M S.Caule (g) y Pira Roxa = -0,09x** + 0,54** r² = 0,77 1 4 5 -1 Verônica 3 4 CEa (dSm ) 1,5 2 2 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 1 8 r = 0,83 -1 0 7 y Verônica= -0,91x** + 13,52** CEa (dS m ) yVerônica = -0,33x** + 2,16** r² = 0,92 6 2 M.F.P.A (g) yVerônica = -53,92x** + 382,25** y Pira Roxa = -11,65x** + 122,1** r² = 0,90 r² = 0,90 400 350 300 Verônica 250 Pira Roxa 200 150 100 50 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 2,5 5 CEa (dS m ) CEa (dS m ) e 4 -1 -1 c yPiraRoxa = -2,29x** + 11,71** r² = 0,88 0 1 2 3 4 5 6 7 8 -1 CEa (dS m ) Figura 1. Massa fresca das folhas (a), do caule (b) e total (c), massa seca das folhas (d), caule (e), raízes (f), total (g) e relação raiz/parte aérea (h) de alface cultivar Verônica e Pira Roxa em função da salinidade da água ((a) leaves fresh mass, (b) stem fresh mass and (c) shoot fresh mass, (d) leaves dry mass, (e) stem dry mass, (f) root dry mass, (g) shoot dry mass and (h) root/shoot ratio obtained as a result of the salinity of the water). Piracicaba, ESALQ, 2008. ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F (** significant at 1% probability through the F test). 32 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina y Verônica = 0,02x** - 0,0008** 2 0,35 r = 0,75 b y Pira Roxa = 0,032x** + 0,09** r² = 0,71 4000 3500 0,3 y Pira Roxa = -5,42x²** + 172x** + 2482,7** r² = 0,96 3000 0,25 -1 Nitrato (mg L ) -1 Prolina (uM g massa fresca) a 0,2 Verônica 0,15 Pira Roxa 0,1 2500 Verônica 2000 Pira Roxa 1500 y Verônica = -13,96x²** ' + 188,84x** + 1848,9** r² = 0,91 1000 0,05 500 0 0 1 2 3 4 5 6 7 0 8 0 1 2 -1 d y Pira Roxa= 0,017x** + 0,75** r² = 0,75 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Verônica Pira Roxa y Verônica= -0,0048x²** + 0,07x** + 0,35** r² = 0,98 0 1 2 3 4 5 5 6 7 8 6 7 y Pira Roxa= 0,04x** + 0,490** 1 2 r = 0,90 0,8 Verônica 0,6 Pira Roxa y Verônica= 0,014x** + 0,19** 0,4 2 r = 0,93 0,2 0 8 0 1 2 CEa (dS m -1) 3 4 5 6 7 8 CEa (dS m -1 ) -1 Clorofila total (mg.g .massa fresca) e 4 CEa (dS m ) Clorofila b (mg.g -¹massa fresca) Clorofila a (mg g-1 massa fresca) c 3 -1 CEa (dS m ) y Pira Roxa= 0,06x** + 1,24** r² = 0,91 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 Verônica Pira Roxa y Verônica= -0,0065x²** + 0,09x** + 0,52** r² = 0,98 0,4 0,2 0 0 1 2 3 4 CEa (dS 5 6 7 8 m-1) Figura 2. Teor de prolina (a), nitrato (b), clorofila a (c), clorofila b (d), clorofila total (e) de alface cultivar Verônica e Pira Roxa em função da salinidade da água (contents of proline (a); nitrate (b); chlorophyll a (c), chlorophyll b (d), total chlorophyll (e) of lettuce cultivate Verônica and Pira Roxa under salinity). Piracicaba, ESALQ, 2008. **significativo a 1% de probabilidade pelo teste F (**significant at 1% probability through the F test). cada cultivar, em resposta aos níveis de salinidade, as condições climáticas que ditam o consumo de água estão relacionadas com o potencial osmótico de cada cultivar em estudo. De acordo com Soares (2007) a resposta da planta à salinidade fica muito dependente das condições climáticas que ditam o consumo de água. Os dados de produção obtidos no presente trabalho não indicam maior viabilidade econômica da utilização de água salina, mas o número de plantas Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 produzidas com valor comercial equivalente. Por outro lado, se for analisar o insumo água salina no contexto custo oportunidade, que os agricultores estão incorrendo por não utilizar água salina no sistema de produção, seja por falta de informação ou conhecimento da viabilidade da utilização dessas. Teor de prolina - Foi significativo o efeito entre salinidade da água e cultivares sobre os teores de prolina. O valor médio de prolina da Pira Roxa foi 71,43% (0,21 µM g massa fresca-1) superior em relação a Verônica (0,06 µM g massa fresca-1). O efeito da salinidade da água sobre o teor de prolina das cultivares de alface foi linear (Figura 2a). Resultados semelhantes foram obtidos por Passos (2001) com plântulas de graviola (Annona muricata L.) e pinha (Annona squamosa L.) em hidroponia, com diferentes concentrações salinas, onde o autor cita que a presença de prolina nas folhas é um indicativo de 33 D Paulus et al. estresse em ambas espécies submetidas aos tratamentos de maiores concentrações de NaCl (300 e 500 mmol L-1 de NaCl). O incremento no teor de prolina parece ter várias funções, primeiramente, a de não permitir o acúmulo de NH4+, composto muito tóxico por ser desacoplador da produção de ATP na fotofosforilação e fosforilação oxidativa. Também, a prolina tem a propriedade de proporcionar ajuste osmótico sem causar injúria aos tecidos em comparação ao efetuado por íons. Plantas de milho respondem à salinização pela manutenção de maiores concentrações de sacarose e prolina, visto que o nível de prolina aumenta com a salinização e com o tempo de exposição das plantas ao sal, sugerindo um papel protetor da prolina (Rodríguez et al., 1997). Nas condições em que o experimento foi desenvolvido, verificou-se que o acúmulo de prolina pode ser considerado indicador fisiológico em função do aumento da salinidade. Teor de nitrato - Foi afetado pela salinidade da água da solução nutritiva, sendo quadrático o efeito dos estudos de regressão (Figura 2b). O teor de nitrato foi superior em 25% para Pira Roxa (3008 mg L-1) em relação à Verônica (2264 mg L-1). Os menores níveis de nitrato (1960 mg kg-1 e 2620 mg kg-1 de massa de matéria fresca) da Verônica e Pira Roxa, respectivamente, foram relacionados à condutividade elétrica de 0,43 dS m-1, aumentando a salinidade da água para 7,43 dS m-1. O teor foliar de nitrato aumentou para 2500 mg kg-1 e 3420 mg kg-1 para as cultivares Verônica e Pira Roxa. Os níveis mais elevados de salinidade apresentaram tendência de aumento de nitrato foliar. Esses resultados podem ser explicados pela alta taxa de produção de massa fresca nos tratamentos submetidos às menores CE, uma vez que, de acordo com Krohn et al. (2003), as folhas mais jovens acumulam mais nitrato que as maduras. Segundo Soares (2007) esses resultados podem ser explicados em função da alta taxa de produção de fitomassa nos tratamentos submetidos às menores CE. A tendência do aumento do teor de nitrato com os níveis mais elevados de salinidade pode ser explicada 34 pelo ajuste osmótico para que a planta consiga absorver água quando submetida a condições de baixo potencial total de água (Chung et al., 2005). Por outro lado, Miceli et al. (2003), em trabalhos com as cultivares de alface Ballerina e Severus em sistema hidropônico, constataram que aumentando a salinidade da solução nutritiva de 1,6 para 4,6 dS m-1 com adição de NaCl, o teor de nitrato das folhas diminuiu de 2218 mg kg-1 para 1634 mg kg-1 de massa da matéria fresca. Embora no Brasil não exista legislação específica que regularmente os teores máximos permitidos de nitrato em vegetais, os teores de nitrato obtidos encontram-se abaixo do limite máximo permitido pela comunidade européia que estabeleceu limites máximos tolerados de 3500 a 4500 mg de NO3- kg-1 de massa fresca para cultivo de inverno e 2500 mg de NO3- kg-1 de massa fresca para cultivos de verão (Van Der Boon et al., 1990). Teor de clorofila - Os teores de clorofila a, clorofila b e clorofila total apresentaram efeito linear para as cultivares em estudo (Figura 2c, 2d e 2e). O teor de clorofila total da cultivar Pira Roxa foi superior 50% (1,46 mg g-1massa fresca) em relação à Verônica (0,73 mg g-1 massa fresca). Os resultados do teor de clorofila nos níveis de salinidade mais elevados nas cultivares de alface, estão de acordo com a classificação de Rodrigues (2002) que considera a alface como tolerante à salinidade. Segundo Munns (1993) o teor de clorofila aumenta com os níveis de salinidade em espécies tolerantes e diminui em espécies sensíveis como tomate, soja e pera. Jamil et al. (2007), analisando o estresse salino na cultura do rabanete (Raphanus sativus L.) com adição de NaCl na solução nutritiva verificaram que os níveis de salinidade 9,4 e 14,1 dS m-1 reduziram em 39% e 59% o teor de clorofila. Os autores afirmam que o estresse salino ocasiona a destruição da estrutura do cloroplasto devido à degradação da enzima clorofilase. No presente estudo o teor de clorofila pode ser explicado por uma série de fatores como composição e concentração de sais, a duração do estresse e as diferenças entre genótipos. Ressalta-se outro fator importante como precocidade da alface e menor tempo de exposição aos sais em hidroponia, que ajudam a diminuir os efeitos da salinidade. Os resultados obtidos em sistema de cultivo NFT podem indicar a possibilidade do uso da água salina como alternativa para produção de hortaliças para produtores que tenham disponibilidade de água salina e restrita disponibilidade de água doce, porém com redução de produtividade. REFERÊNCIAS AYERS RS; WESTCOT DW. 1999. A qualidade da água na agricultura. Tradução de GHEYI HR; MEDEIROS JF; DAMASCENO FAV. 2.ed. Campina Grande: UFPB. 153 p. (Estudos FAO. Irrigação e Drenagem, 29 revisado). BATES LS; WALDREN RP; TEARE ID. 1973. Rapid determination of free proline for water stress studies. Plant and Soil 39: 205-207. CHUNG JB; JIN SJ; CHO HJ. 2005. 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Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral. Horticultura Brasileira 28: 36-40. Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral Eliane Q de Oliveira1; Rovilson J de Souza1; Maria do Céu M da Cruz1; Virna B Marques1; André C França2 1 UFLA-Depto. Agricultura, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG. 2UFV-DFT, 36570-000 Viçosa-MG; [email protected] RESUMO ABSTRACT Foram realizados dois experimentos em Lavras-MG, nos meses de abril a setembro de 2006. Para cada experimento, utilizou-se o delineamento de blocos completos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro arranjos espaciais entre as culturas da alface (A) e rúcula (R), plantadas em fileiras alternadas 1A:1R; fileiras duplas alternadas 2A:2R; fileiras triplas alternadas 3A:3R e quatro fileiras alternadas 4A:4R e, alface e rúcula em cultivo solteiro. Avaliou-se o diâmetro (alface), altura, número de folhas por planta, rendimento de folhas e massa seca da parte aérea da alface e rúcula. Os maiores rendimentos de folhas da alface foram registrados no cultivo orgânico. O rendimento de massa verde da rúcula, no sistema solteiro sobressaiu-se dos demais, embora estatisticamente semelhante aos arranjos espaciais 3A:3R e 4A:4R no número de folhas. No cultivo orgânico, diferenças significativas entre o primeiro e o segundo ciclo da rúcula expressaram-se na altura de plantas e na massa seca da parte aérea, com a maior altura média no primeiro cultivo e a maior quantidade de massa seca da parte aérea na rebrota. Os consórcios da alface e rúcula nos arranjos espaciais 1A:1R e 3A:3R tiveram a maior eficiência do uso da área (EUA), de 55 e 63%, respectivamente, no sistema de cultivo orgânico. A eficiência biológica aumentou para 62 e 70% nestes mesmos arranjos, com o cultivo da rebrota da rúcula no sistema orgânico. Todas as associações da alface e rúcula, assim como os seus cultivos solteiros tiveram melhor desempenho produtivo sob a adubação orgânica. A rebrota da rúcula aumentou a eficiência agronômica do sistema consorciado. Productivity of lettuce and rocket in intercropping system under organic and mineral fertilization Palavras-chave: Lactuca sativa, Eruca sativa, competição, eficiência agronômica. Keywords: Lactuca sativa, Eruca sativa, competition, agronomic efficiency. Two experiments were carried out at Federal University of Lavras Minas Gerais State, Brazil, from April to September, 2006, aiming to evaluate the lettuce and rocket intercropping system, under organic and mineral fertilization in different spatial arrangements. For each experiment, the experimental design was randomized complete blocks with five treatments and four replicates. The treatments consisted of four spatial arrangements of lettuce (a) and rocket (r), planted in alternate rows 1A: 1R; alternate double rows 2A: 2R; alternate triple rows 3A: 3R, alternate four rows 4A: 4R and lettuce and rocket in sole crop. Evaluations for diameter (lettuce), plant height, number of leaves per plant, leaf yield and leaf dry matter were made in the lettuce and rocket crop. The highest yield of lettuce leaves was registered in the organic farming. The yield of rocket fresh mass, in sole crop was higher than the others although statistically similar to the spatial arrangements 3A: 3R and 4A: 4R for the number of leaves. In organic farming, significant differences between first rocket growth and regrowth were observed in plant height and shoot dry mass, with the highest average of plant height registered in the growth and the highest shoot dry mass in the regrowth. The intercropping systems of lettuce and rocket in the spatial arrangements of 1A: 1R and 3A: 3R had the highest efficiency (LER), ranging from 55 to 63%, respectively, in the organic farming. Biological efficiency increased up to 62 and 70% in these same arrangements, with the regrowth of the rocket in the organic farming. All the associations of the lettuce and rocket as well as their sole crop had better productive performance under the organic fertilization and the regrowth of rocket increased the agronomic efficiency of the intercropping system. (Recebido para publicação em 16 de janeiro de 2009; aceito em 11 de fevereiro de 2010) (Received on January, 16, 2009; accepted on February 11, 2010) A s atuais mudanças na política global, com diretrizes ecológicas, a crescente demanda por produtos orgânicos no mundo e as restrições impostas pelos países importadores quanto à qualidade e à segurança alimentar têm gerado a necessidade de estudos e técnicas alternativas para a produção de frutos e hortaliças que minimizem a utilização de adubos minerais ou agroquímicos (Fontanétti et al., 2004). Com o aumento da modernização 36 das práticas agrícolas, principalmente após a “Revolução Verde”, ocorreram, juntamente com os benefícios para a população, muitas preocupações quanto aos impactos ambientais destas modernas técnicas, ressaltando-se o uso intensivo da mecanização, de agrotóxicos e fertilizantes (Gliessman, 2001). As práticas convencionais de preparo do solo e de adubação, executadas de forma inadequada, são responsáveis pela “erosão biológica” dos solos agrícolas. As causas dessa degradação, na maioria das vezes, estão relacionadas aos prejuízos que causam aos organismos do solo. A atuação conjunta de várias causas acelera ainda mais a degradação deste ecossistema. Dentre as opções para a regeneração da fertilidade do solo pode-se citar a adubação verde, o cultivo de plantas de cobertura, o manejo de restos culturais e ervas espontâneas, pousio, rotação e consorciação de culturas, suplementações minerais de baixa Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral solubilidade, ou seja, qualquer prática que contribua para incrementar e/ou sustentar a atividade biológica do solo (Altieri, 2002). Diante da perspectiva de uma agricultura sustentável, incontestavelmente as mudanças não ocorrerão de forma espontânea, pois elas dependerão de práticas agrícolas que conservem os recursos naturais e produzam alimentos mais saudáveis, que permitam ao produtor o acesso à tecnologia, à terra e a uma distribuição mais igualitária de seus rendimentos. Nas últimas décadas, várias pesquisas têm demonstrado a eficiência da consorciação de hortaliças, sobretudo para os pequenos produtores, mesmo que esse sistema não esteja associado ao uso de alta tecnologia, nem à obtenção de elevadas produções. Em compensação, ela pode ser indicada como um modelo sustentável de produção e consumo. No Brasil, a eficiência da consorciação tem sido estendida ao cultivo com hortaliças, área agrícola caracterizada por intenso manejo e exposição do solo, uso intensivo de defensivos agrícolas, fertilizantes e irrigação, dificuldade no controle de plantas invasoras, entre outras práticas culturais que proporcionam considerável impacto ambiental. As combinações entre hortaliças podem ser bem sucedidas por apresentarem crescimento e maturação rápidos, além de alta produtividade de biomassa. A consorciação de hortaliças tem sido adequada às práticas da olericultura e os resultados experimentais têm comprovado sua importância agroecológica e as vantagens agroeconômicas. A escolha das culturas e do tipo de associação deverá levar em consideração, por exemplo, as peculiaridades de cada região e a preferência do mercado em comercializar os produtos. Cecílio Filho et al. (2007), avaliando a produtividade de alface e rabanete em função do espaçamento e da época de estabelecimento do consórcio, verificaram que o sistema de cultivo demonstrou ser vantajoso em todas as épocas de estabelecimento do consórcio, levando em consideração o índice de uso eficiente da terra. Avaliando a viabilidade econômica da alface crespa em monocultura e em consórcio com pepino, Silva et al. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 (2008) observaram que o consórcio tornou a cultura da alface viável economicamente, no ambiente e época de cultivo avaliados. A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças folhosas de maior importância comercial e de maior consumo em todo o mundo. No Brasil, figura entre as principais hortaliças, no que se refere à produção, à comercialização e ao valor nutricional. A rúcula (Eruca sativa) foi introduzida no Brasil por imigrantes italianos, pelos quais ainda é muito apreciada. É mais consumida nas regiões Sul e Sudeste, entretanto, o seu consumo é crescente em outras regiões do país, por causa do seu sabor marcante em saladas junto a folhas mais suaves, na cobertura de pizzas, em molhos para massas e até mesmo em sopas (Paula Júnior & Venzon, 2007). O trabalho teve como objetivo avaliar agronomicamente as associações de alface e rúcula, sob adubação orgânica e mineral em diferentes arranjos espaciais, nas condições do sul de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS Dois experimentos (um com adubação orgânica e outro com adubação mineral) foram conduzidos em campo da UFLA, em Lavras-MG, nos meses de abril a setembro de 2006, com coordenadas (21°14’S; 45°00’; 910 m de altitude), segundo a FAO (1985), em solo classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico de textura argilosa (Embrapa, 1999). As características químicas do solo, em pré-instalação dos experimentos, nas áreas de cultivo orgânico e mineral, respectivamente, forneceram os seguintes resultados: pH (água)= 6,0 e 5,4; Ca= 2,7 e 1,8 cmolc dm-3; Mg= 1,3 e 1,2 cmolc dm-3; K= 122 e 92 cmolc dm-3; Al= 0,0 e 0,2 cmolc dm-3 e P= 16,4 e 15,0 mg dm-3. Para cada experimento, utilizou-se o delineamento de blocos completos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro arranjos espaciais entre as culturas de alface (A), cultivar Vera e rúcula (R), Cultivada, plantadas em: fileiras alternadas 1A:1R; fileiras duplas alternadas 2A:2R; fileiras triplas alternadas 3A:3R e quatro fileiras alter- nadas de plantas 4A:4R e alface e rúcula em cultivo solteiro. Na parcela consorciada, a área total foi de 3,75 m2 (3,00 x 1,25 m) contendo 60 plantas de alface e 150 de rúcula. A área útil foi de 2,00 m2 (2,00 x 1,00 m) contendo 32 plantas de alface nos arranjos espaciais I, II e IV e no arranjo III a área útil foi de 1,50 m2 (1,50 x 1,00 m) contendo 24 plantas. Para a rúcula, o número de plantas por área útil foi de 80 plantas de rúcula nos arranjos I, II e IV e 60 plantas no arranjo III, respectivamente. As populações respectivas da alface e rúcula, estimadas por hectare, foram de 160.000 e 400.000 plantas, sem levar em consideração os 30% de área de trânsito compostas de corredores e estradas. As linhas de cultivo foram dispostas transversalmente nas parcelas, sendo a alface plantada no espaçamento 0,25 x 0,125 m e a rúcula 0,25 x 0,050 m. Para as características de rendimento de folhas e massa seca das culturas, foram feitas as correções para 70% da área plantada. As parcelas no cultivo solteiro tiveram uma área total de 1,875 m2 (1,50 x 1,25 m) e uma área útil de 0,75 m2, (1,00 x 0,75 m) para a alface e de 1,0 m2 (1,00 x 1,00 m) para a rúcula. O espaçamento da alface neste sistema de cultivo foi 0,25 x 0,25 m e da rúcula de 0,25 x 0,10 m, proporcionando 30 plantas de alface e 72 de rúcula por parcela. As populações de plantas estimadas por hectare de ambas as culturas foram as mesmas do sistema consorciado. Para ambas hortaliças, tanto em consórcio quanto em cultivo solteiro e de acordo com análises do solo, foram realizadas adubações de plantio e duas adubações de cobertura. No cultivo orgânico, aplicou-se composto de cama de aviário de codorna (5,0 t ha-1); bokashi (2,0 t ha-1); termofosfato (1,5 t ha-1) e sulpomag (0,2 t ha-1). As adubações de cobertura foram realizadas com a aplicação de 1 t ha-1 de bokashi, parceladas aos 15 e 30 dias após transplantio (DAT) da alface. Para o cultivo mineral utilizou-se na adubação de plantio, 40 kg ha-1 de N, 60 kg ha-1 de P2O5 e 30 kg ha-1 de K2O. Nas adubações de cobertura, aplicou-se 40 kg ha-1 de N, parcelados aos 15 e 30 DAT da alface. Como fontes de N, P2O5 37 EQ Oliveira et al. e K2O, sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. Após o primeiro corte da rúcula, fez-se uma adubação de cobertura nas respectivas áreas, para favorecimento das suas rebrotas. A rúcula foi semeada diretamente nos canteiros, deixando-se após o desbaste uma planta a cada 0,05 m para a adequação do espaçamento entre linhas. A alface foi semeada em bandejas contendo 128 células, preenchidas com substrato comercial Plantmax®. As mudas cresceram em ambiente protegido por 26 dias e foram transplantadas para os canteiros após 10 dias de emergência da rúcula. Para o controle de plantas daninhas, efetuaram-se capinas manuais e a irrigação foi realizada em dias alternados pelo sistema de aspersão. As colheitas da alface foram realizadas aos 40 e 46 dias após o transplantio, para os sistemas de cultivo orgânico e mineral, respectivamente. A rúcula foi colhida aos 50 e 55 dias após emergência para os respectivos sistemas de cultivo, considerando-se um corte acima do caule para promoção de uma rebrota. O segundo ciclo de rúcula foi concluído após 30 dias do corte. Nos cultivos solteiro e consorciado, as características avaliadas na alface foram realizadas em amostras de 10 plantas retiradas aleatoriamente da área útil, por ocasião da colheita. Avaliou-se, diâmetro, altura e número de folhas por planta, rendimento de folhas, através da massa fresca da parte aérea de todas as plantas da área útil e massa seca da parte aérea. Para a rúcula, foram avaliadas altura de plantas, número de folhas por planta, rendimento de massa verde e massa seca da parte aérea, obedecendo aos mesmos critérios e utilizando-se o mesmo número de amostras adotado na avaliação da alface. O índice de eficiência do uso da área (EUA), proposto por Willey & Osiru (1972), foi usado para medir a eficiência dos agrossistemas consorciados. Fez-se uma análise de variância conjunta nos dados dos dois experimentos. Aplicou-se o teste de Tukey, a 5% de probabilidade, para se comparar os arranjos espaciais testados e os sistemas de cultivo (Banzato & Kronka, 1995). 38 RESULTADOS E DISCUSSÃO No cultivo da alface, não se observou interação significativa entre sistemas de cultivo e arranjos espaciais na altura e diâmetro de plantas, no número de folhas por planta e na massa seca da parte aérea (Tabela 1). Porém, efeito significativo de sistemas de cultivo foi registrado na altura e diâmetro de plantas e no número de folhas por planta, com os maiores valores médios destas variáveis observados no cultivo orgânico. De acordo com a Tabela 1, efeito significativo dos arranjos espaciais testados foi observado apenas no número de folhas por planta, com o maior número de folhas registrado no cultivo solteiro, seguido pelo arranjo 3A:3R, que fora estatisticamente semelhante. Verificou-se interação entre os sistemas de cultivo e os arranjos espaciais no rendimento de folhas da alface. Observou-se diferença significativa entre os sistemas de cultivo, com os maiores rendimentos de folhas registrados no cultivo orgânico (Tabela 2). O destaque do sistema de cultivo orgânico no rendimento de folhas da alface pode estar relacionado às funções que os adubos orgânicos exercem sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, uma vez que eles apresentam efeitos condicionadores e aumentam a capacidade do solo em armazenar nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas. As outras fontes de nutrientes utilizadas, como o termofosfato e o sulpomag, permitidas no cultivo orgânico, também contribuíram para o melhor desenvolvimento das hortaliças. Em condições de cultivo orgânico, Souza et al. (2002), avaliando o comportamento da alface e beterraba em Tabela 1. Altura (AP), diâmetro de plantas (DP), número de folhas por planta (NF) e massa seca (MS) da alface, em função de sistemas de cultivo e arranjos espaciais (plant height and diameter, number of leaves per plant and leaf dry matter of lettuce crop, as a function of cropping systems and spatial arrangements). Lavras, UFLA, 2006. Sistemas de cultivo Orgânico Mineral Arranjos espaciais 1A:1R 2A:2R 3A:3R 4A:4R Solteiro CV (%) AP (cm) 22,3 a 16,8 b DP (cm) 25,7 a 21,7 b NF 16,1 a 13,8 b MS (t ha-1) 1,9 a 1,7 a 19,4 a 19,8 a 20,4 a 19,4 a 19,4 a 9,8 23,4 a 22,7 a 23,8 a 23,5 a 25,3 a 8,0 13,9 b 14,5 b 14,9 ab 14,5 b 16,7 a 8,0 1,7 a 1,6 a 1,9 a 1,8 a 2,1 a 19,5 Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by different letters in the column differ significantly by Tukey test at 5% probability, p<0.05). Tabela 2. Rendimento de folhas da alface em função de arranjos espaciais e sistemas de cultivo orgânico e mineral (yield of lettuce leaves as a function of spatial arrangements and organic and mineral farming systems). Lavras, UFLA, 2006. Sistemas de cultivo Orgânico Mineral Médias 1A:1A 22,8 bA 14,4 bB 18,6 b Arranjos espaciais 2A:2A 3A:3A 4A:4A 23,4 bA 24,2 bA 20,9 bA 11,6 bB 16,3 bB 11,7 bB 17,5 b 20,3 b 16,3 b Solteiro 39,3 aA 21,9 aB 30,6 a Médias 26,1 A 15,2 B Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na coluna ou minúsculas na linha diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by different uppercase letters in the column or lowercase letters in the line differ significantly by Tukey test at 5% probability, p<0.05). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral Tabela 3. Altura de plantas (AP), número de folhas por planta (NF), rendimento de massa verde (RMV), massa seca da parte aérea (MS) de rúcula em função de sistemas, tipos de cultivo e arranjos espaciais e índice de eficiência do uso da área (EUA) proveniente de consórcios em cultivo orgânico e mineral e de rebrota de rúcula em cultivo orgânico (plant height, number of leaves per plant, yield of green mass, shoot dry matter in the rocket crop, as a function of cropping systems and spatial arrangements and land equivalent ratio from the intercropping systems of lettuce and rocket in organic and mineral farming and regrowth of rocket in organic farming). Lavras, UFLA, 2006. Sistemas de cultivo AP (cm) NF RMV (t ha-1) MS (t ha-1) Orgânico 23,9 a 10,6 a 7,9 a 1,2 a Mineral 18,3 b 7,8 b 4,5 b 0,8 b Arranjos espaciais 1A:1R 21,7 a 8,2 b 5,7 b 1,1 a 2A:2R 20,2 a 7,9 b 4,9 b 0,8 a 3A:3R 22,3 a 9,2 ab 5,6 b 0,9 a 4A:4R 20,4 a 9,3 ab 4,9 b 0,9 a Solteiro 20,9 a 11,5 a 6,9 a 0,9 a CV (%) 11,8 21,4 25,1 Primeiro cultivo 23,9 a 10,6 a 7,94 a 1,2 b Rebrota 22,1 b 11,0 a 8,78 a 1,8 a 22,1 Tipos de cultivo Arranjos espaciais 1A:1R 23,7 ab 9,8 b 7,8 a 1,5 a 2A:2R 22,1 9,5 b 7,0 a 1,3 a 3A:3R 24,0 a 10,2 b 8,3 a 1,6 a c 4A:4R 22,6 abc 11,3 ab 6,8 a 1,4 a Solteiro 22,3 bc 13,3 a 8,4 a 1,4 a 14,5 18,1 Arranjos espaciais 22,6 UET1 CV (%) Sistemas de Cultivo 4,8 Orgânico Mineral Rebrota de rúcula 1A:1R 1,55 2A:2R 1,44 3A:3R 1,63 4A:4R 1,38 1A:1R 1,53 2A:2R 1,27 3A:3R 1,53 4A:4R 1,14 1A:1R 1,62 2A:2R 1,53 3A:3R 1,70 4A:4R 1,36 Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by different letters in the column differ significantly by Tukey test at 5% probability, p<0.05). 1UET= (Yab/Yaa) + (Yba/Ybb), Yab= produção da cultura “a” em consórcio com “b”; Yaa= produção da cultura “a” em cultivo solteiro; Yba= produção da cultura “b” em consórcio com “a” e Ybb= produção da cultura “b” em cultivo solteiro (LER= (Yab/Yaa) + (Yba/Ybb), Yab= yield of crop “a” intercropped with “b”; Yaa= yield of sole crop “a”; Yba= yield of crop “b” intercropped with “a”; Ybb= yield of sole crop “b”). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 consórcio, verificaram que dentro das diferentes proporções de área ocupada pelas duas culturas, não foram observadas diferenças significativas no diâmetro e massa da cabeça da alface, entretanto a produtividade dos tratamentos com 20% da beterraba e 80% da alface; e com 40% da beterraba e 60% da alface, respectivamente, foi significativamente maior que os demais. Neste caso, a competição interespecífica apresentou-se menos intensa, devido, provavelmente, às diferenças na densidade populacional e no crescimento das plantas até a colheita. No cultivo da rúcula, não houve interação significativa entre sistemas de cultivo e arranjos espaciais para nenhuma das características avaliadas (Tabela 3). Porém, diferença significativa entre os sistemas de cultivo foi registrada em cada uma das características da rúcula, com os maiores valores médios destas variáveis registrados no cultivo orgânico. Com relação aos arranjos espaciais testados, foi observado efeito significativo apenas no número de folhas por planta e no rendimento de massa verde da rúcula, com o sistema solteiro sobressaindo-se dos demais, embora ele tenha sido estatisticamente semelhante aos dos arranjos 3A:3R e 4A:4R no número de folhas. É sabido que as hortaliças folhosas respondem muito bem à adubação orgânica. Portanto, neste experimento é possível inferir que a mineralização da matéria orgânica ocorreu em tempo hábil para o fornecimento de nutrientes para as plantas, considerando-se que a área é mantida para o sistema orgânico há cinco anos. De acordo com Souza (2005), na agricultura convencional, a utilização de adubos químicos promove, com o passar do tempo, uma redução na atividade biológica do solo podendo afetar o desempenho produtivo das culturas. No instante da colheita, procedeu-se um corte acima do caule nas plantas de rúcula, para promoção de uma rebrota. Esta característica da espécie possibilita a maximização da eficiência de um sistema, uma vez que permite um segundo ciclo da cultura. Devido o desenvolvimento de fungos de solo, conforme observado na ocasião da colheita, não 39 EQ Oliveira et al. houve rebrota na área mantida sob cultivo mineral. Não se observou interação significativa entre os cultivos de rúcula e os arranjos espaciais (Tabela 3). Diferenças significativas entre o primeiro e o segundo ciclo da rúcula expressaram-se na altura de plantas e na produção de massa seca da parte aérea, com a maior altura média registrada no primeiro cultivo e a maior quantidade de massa seca da parte aérea na rebrota. Em função dos resultados, pode-se afirmar que a presença da alface, no primeiro ciclo da rúcula, influenciou o seu crescimento, provavelmente pela competição interespecífica por fatores abióticos. Deve-se considerar que a proximidade das culturas em consórcio predispõe-nas a diversas competições interespecíficas, mais comumente por luz, água e nutrientes, embora também possam fazê-la para oxigênio, dióxido de carbono e espaço (Oliveira et al., 2004). Com relação aos arranjos espaciais, efeito significativo foi registrado na altura de plantas e no número de folhas por planta, com o cultivo solteiro se sobressaindo dos demais no número de folhas por planta, embora estatisticamente semelhante ao do arranjo 4A:4R, nesta última característica. Na altura de plantas de rúcula, o arranjo 3A:3R se sobressaiu dos demais, embora tenha apresentado comportamento estatisticamente semelhante ao do arranjo 4A:4R. Costa et al. (2007) ao avaliar os aspectos produtivos de grupos de alface e rúcula em cultivos solteiros e consorciados verificou que o sucesso da combinação destas espécies estava além das características genéticas dos grupos, podendo estar relacionado também às peculiaridades do cultivo de cada grupo. É possível acrescentar, portanto, que o êxito deste tipo de consórcio se deve também à complementaridade existente entre essas culturas e à geometria de plantio. Com base no índice de eficiência do uso da área (EUA) pode-se observar que todos os consórcios mostraram-se viáveis (Tabela 3). Os consórcios de alface e rúcula nos arranjos espaciais 1A:1R e 3A:3R tiveram a maior eficiência biológica, da ordem de 55% e 63%, respectivamente, no sistema de cultivo orgânico e de 53% em ambos os arranjos no sistema de cultivo mineral. Por outro lado, esta eficiência aumentou para 62% e 70% nestes mesmos arranjos, com o 40 cultivo da rebrota da rúcula no sistema orgânico. Os índices dos demais arranjos consorciados foram menores, porém foram superiores a 1,0 demonstrando que naquelas condições houve também maior aproveitamento dos recursos disponíveis no ambiente de cultivo. É oportuno inferir que um segundo ciclo da rúcula bem estabelecido em uma associação com alface pode propiciar eficiência do uso da área ainda maior, quando bem manejado. Por outro lado, ao se observar menor eficiência de uso da terra no primeiro cultivo da rúcula, para a maioria dos arranjos, parece evidente que algum efeito competitivo foi exercido pela cultura da rúcula sobre a alface, levando-se a repensar a melhor época de estabelecimento do consórcio entre estas duas hortaliças, com a finalidade de se obter mais eficiência neste tipo de associação. Na consorciação de hortaliças temse verificado compensação entre as culturas pelo EUA. Costa et al. (2007), avaliando o consórcio da alface e rúcula, em função de época de cultivo e da época de semeadura da rúcula em relação ao transplante de três cultivares da alface, verificou que os índices de eficiência do uso da área dos consórcios variaram de 1,08 a 2,02. Barros Júnior (2008), avaliando a influência da adubação nitrogenada no consórcio da alface e rúcula, obteve um índice de 86% de eficiência de área. Para este autor, a rúcula tem sido utilizada com sucesso como cultura secundária em consórcios de hortaliças porque suas características botânicas e seu ciclo curto têm propiciado interferência de pequena intensidade na cultura principal, resultando numa complementaridade espacial como também temporal. Este fato também se confirmou neste experimento. No entanto, a adubação orgânica exerceu maior influência no desempenho agronômico das culturas consorciadas. Estes resultados validam, portanto, a sustentabilidade deste sistema de cultivo. Nas condições em que foram executados estes experimentos, pode-se verificar que todas as associações da alface e rúcula, assim como os seus cultivos solteiros tiveram melhor desempenho produtivo sob a adubação orgânica e que a rebrota da rúcula aumentou a eficiência agronômica do sistema consorciado. REFERÊNCIAS ALTIERI M. 2002. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária. 592 p. B A N Z ATO D A ; K R O N K A S N . 1 9 9 5 . Experimentação agrícola. 3. ed. Jaboticabal: FUNEP. 247 p. BARROS JÚNIOR AP. 2008. Adubação nitrogenada no consórcio alface e rúcula. Jaboticabal: UNESP. 86p (Tese doutorado). CECILIO FILHO AB; REZENDE BLA; CANATO GHD. 2007. Produtividade de alface e rabanete em cultivo consorciado estabelecido em diferentes épocas e espaçamentos entre linhas. Horticultura Brasileira 25: 15-19. COSTA CC; CECÍLIO FILHO AB; REZENDE BLA; BARBOSA JC; GRANGEIRO LC. 2007. 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Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 RESENDE ALS; VIANA AJS; OLIVEIRA RJ; AGUIAR-MENEZES EL; RIBEIRO RLD; RICCI MSF; GUERRA JGM. 2010. Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas. Horticultura Brasileira 28: 41-46. Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas André Luis S Resende1*; Abraão José da S Viana2; Rafael J Oliveira2; Elen de L Aguiar-Menezes3; Raul de LD Ribeiro4; Marta dos SF Ricci3; José Guilherme M Guerra3 UFRRJ, Pós-graduação em Fitotecnia, Rod. BR 465, km 07, 23890-000 Seropédica-RJ; 2UFRRJ-Instituto de Agronomia; 3Embrapa Agrobiologia, C. Postal 74505, 23890-000 Seropédica-RJ; 4UFRRJ-Instituto de Agronomia, Depto Fitotecnia; *autor correspondente; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT O consórcio de culturas é comumente praticado na produção de hortaliças devido a diversos benefícios econômicos. Em alguns casos, podem reduzir infestações de pragas por favorecer a conservação dos inimigos naturais nos agroecossistemas. Avaliou-se a viabilidade agronômica do consórcio de couve e coentro, sob manejo orgânico, com base em parâmetros fitotécnicos, além de sua influência sobre populações de joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae), na comparação com os respectivos cultivos solteiros. O coentro, representando a cultura secundária, foi utilizado com a finalidade de fornecer recursos para as joaninhas. O estudo foi realizado em área do Sistema Integrado de Produção Agroecológica em Seropédica-RJ. O experimento consistiu dos consórcios: 1) couve consorciada com coentro, cujas quatro linhas de plantas foram colhidas na fase vegetativa (consórcio I), e 2) couve consorciada com coentro, cujas plantas das duas linhas internas (próximas à linha da couve) foram colhidas na fase vegetativa e as duas linhas externas foram cortadas após floração (consórcio II). Em ambos consórcios foram avaliados os parâmetros fitotécnicos da couve e do coentro na fase vegetativa (padrão comercial), enquanto que no consórcio II, também se avaliou as populações de joaninhas, por meio de coletas semanais de adultos, em comparação com a couve em cultivo solteiro. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com quatro repetições. O coentro não interferiu na produtividade da couve consorciada e sua introdução contribuiu positivamente para a abundância e diversidade de espécies de joaninhas. O índice de equivalência de área para o consórcio I, com referência aos rendimentos de biomassa aérea fresca, foi superior em 92% em relação ao cultivo solteiro. Este resultado demonstra a viabilidade do consórcio I, no manejo orgânico adotado, para plantios de outono nas condições edafoclimáticas da Baixada Fluminense. Performance of the kale-coriander intercropping in organic cultivation and its influence on the populations of ladybeetles Palavras-chave: Brassica oleracea var. acephala, Coriandrum sativum, agricultura orgânica, eficiência agronômica, controle biológico. Keywords: Brassica oleracea var. acephala, Coriandrum sativum, organic agriculture, agronomic efficiency, biological control. Intercropping is commonly practiced in the production of vegetable crops due to diverse economic benefits. In some cases, it may decrease the infestations of pests by favoring the conservation of the natural enemies in the agroecosystems. This study aimed to evaluate the agronomical viability of the kale and coriander intercropping, under organic management, based on phytotechnical parameters, and its influence on the populations of ladybeetles (Coleoptera: Coccinellidae) in comparison to respective sole crops. Coriander, representing the secondary crop, was used aiming to provide resources to ladybeetles. The study was carried out in area of the Sistema Integrado de Produção Agroecológica, Seropédica county, State of Rio de Janeiro. The experiment consisted of two types of intercropping: 1) kale intercropped with coriander, whose four lines of plants were harvested at the vegetative phase (intercropping I), and 2) kale intercropped with coriander, whose plants of the two internal lines (near to the line of kale) were harvested at the vegetable phase, and the two external lines were cut after blossom (intercropping II). In both intercropping the phytotechnical parameters of the kale and the coriander at the vegetative phase (commercial standard) were evaluated, while in the intercropping II, the populations of ladybeetles were also evaluated by weekly samples of adults, in comparison to kale sole crop. The experimental design was of randomized blocks with four replicates. Coriander did not interfere in the productivity of the kale intercropped and its introduction contributed positively to the abundance and the species diversity of ladybeetles. The land equivalent ratio for the intercropping I, taking into account the yield of fresh aerial biomass, was superior in 92% in relation to kale sole crop. This result demonstrates the viability of the intercropping I, in the organic management adopted, for cultivation of autumn in the edaphoclimatic conditions of the Baixada Fluminense region. (Recebido para publicação em 26 de fevereiro de 2009; aceito em 12 de janeiro de 2010) (Received on February 26, 2009; accepted on January 12, 2010) O consórcio de culturas é um importante componente dos sistemas agrícolas sustentáveis, nos quais se incluem os orgânicos. É uma prática agrícola bastante comum no cultivo de hortaliças em pequenas unidades de produção de regiões tropicais, sobretudo Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 aquelas de base familiar (Montezano & Peil, 2006). Entre os benefícios dos consórcios estão a otimização do aproveitamento da terra, água, insumos agrícolas e mão-de-obra, além da contribuição para estabilização da atividade rural, assegurando colheitas escalonadas e possibilitando renda adicional para o produtor (Cecílio Filho & May, 2002; Montezano & Peil, 2006). O aumento da produção por unidade de área cultivada é uma das razões mais importante para o emprego de consórcios de culturas (Montezano & 41 ALS Resende et al. Peil, 2006). Todavia, de modo geral, o sistema consorciado não infere no uso de tecnologias que busquem máxima produtividade. Há consórcios nos quais as interações biológicas representam serviços ecológicos de importância acentuada, dentre eles a redução do nível de dano ocasionado por insetos-pragas, através de estímulos aos inimigos naturais, tais como as joaninhas predadoras (Santos, 1998; Patt et al., 1997; Altieri et al., 2003). Por exemplo, em estudo sobre consórcios de berinjela (Solanum melongena L.) com duas apiáceas (coentro (Coriandrum sativum L.) ou endro (Anethum graveolens L.) no controle do inseto-praga Leptinotarsa decemlineata (Say) (Coleoptera: Chrysomelidae), Patt et al. (1997) observaram nos consórcios maior abundância e diversidade de espécies de joaninhas predadoras, principalmente Coleomegilla maculata DeGeer, Coccinella septempunctata L., Harmonia axyridis (Pallas), Hippodamia parenthesis (Say), Hippodamia variegata Goeze e Propylea quatuordecimpunctata L., comparativamente ao cultivo solteiro da berinjela, bem como observaram o aumento do consumo de massas de ovos do inseto-praga pelas joaninhas. Esses estímulos são, geralmente, proporcionados pela presença da planta “companheira” (cultura secundária) no consórcio e referem-se ao fato dessas plantas provocarem alterações microclimáticas favoráveis e/ou proverem abrigo e/ou recursos nutricionais suplementares, como pólen, néctar e presas ou hospedeiros alternativos, aos inimigos naturais, proporcionando a conservação desses agentes de controle biológico no agroecossistema (Altieri et al., 2003; Wackers et al., 2005; Montezano & Peil, 2006). Vários estudos conduzidos em sua maioria nos EUA, na Europa e na Austrália mostraram que espécies de plantas da família Apiaceae podem fornecer recursos que garantem a sobrevivência e/ou reprodução de inimigos naturais e que, portanto, poderiam compor consórcios culturais com o propósito de fornecer esse serviço ecológico (Bugg & Wilson, 1989; Patt et al., 1997). Contudo, a eficiência agronômica dos sistemas consorciados depende da complementaridade espacial e temporal 42 entre culturas, sendo necessário minimizar a competição entre as espécies e cultivares envolvidas (Montezano & Peil, 2006). Resultados positivos, em termos de produtividade, conferem aos consortes a condição de plantas “companheiras” (Kuepper & Dodson, 2001; Montezano & Peil, 2006). O índice de equivalência de área (IEA) tem sido usado com freqüência como indicador da eficiência dos consórcios. Assim, o IEA estima a área física requerida aos cultivos solteiros para que se obtenha produção equivalente à do sistema consorciado. Quando o IEA é maior que 1,0 fica demonstrada a viabilidade técnica do manejo estabelecido para o consórcio (Vandermeer, 1989; Montezano & Peil, 2006). De acordo com Montezano & Peil (2006), o consórcio de hortaliças, embora praticado com freqüência, é ainda pouco pesquisado. Segundo estes mesmos autores, as cultivares de hortaliças são selecionadas visando o monocultivo, e torna imprevisível o comportamento dos genótipos quando em cultivo consorciado, portanto, indicando a conveniência da experimentação em nível regional. Nenhum registro específico sobre o desempenho agronômico do consórcio entre couve (Brassica oleracea L. var. acephala D.C.) e coentro (Coriandrum sativum L.) foi encontrado. Tivelli et al. (2006) avaliaram o consórcio de couve com alface (Lactuca sativa L.), constatando aumentos significativos na produtividade da couve, na qualidade da alface e na eficiência do uso da terra, em relação aos respectivos cultivos solteiros. Pesquisas sobre consórcio de diversas hortaliças como o coentro têm apresentado resultados promissores, incluindo cenoura (Dacus carota L.) (Freitas et al., 2004), alface (Freitas et al., 2004; Oliveira et al., 2005), cebolinha (Allium fistulosum L.) (Zárate et al., 2005), taro [Colocasia esculenta (L.) Schott] (Zárate et al., 2007a) e rabanete (Raphanus sativus L.) (Grangeiro et al., 2008). O presente estudo teve o objetivo de avaliar a viabilidade técnica do consórcio de couve e coentro, em sistema orgânico de produção, nas condições edafoclimáticas da Baixada Fluminense, com base em parâmetros fitotécnicos, assim como sua influencia sobre populações de joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae). MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido no período de abril a outubro de 2007 em área do Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA). O SIPA representa um projeto de pesquisa em agricultura orgânica, caracterizado pelo cultivo diversificado de hortaliças, fruteiras e cereais integrado à produção animal. Está localizado no município de Seropédica (22o46’S, 43o41’W e 33 m de altitude), Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro (Neves et al., 2005). O solo da área experimental é classificado como Argissolo VermelhoAmarelo, cuja análise, realizada na fase de pré-plantio, à profundidade de 0-20 cm, revelou: pH em água= 6,7; Al+++= 0,0 cmolc dm-3; Ca++= 3,5 cmolc dm-3; Mg++= 1,3 cmolc dm-3; K+= 517,5 cmolc dm-3 e P disponível= 179,7 mg dm-3. A adubação orgânica consistiu da incorporação de 100 kg de N ha-1 aos canteiros por ocasião da semeadura do coentro e de 50 kg de N ha-1 mensalmente, ao redor das plantas de couve, até o final do ciclo produtivo. As fontes de adubo foram, respectivamente, o esterco de bovino curtido (pré-plantio) e a torta de mamona em cobertura. Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos foram: 1) couve consorciada com coentro, sendo este colhido aos 55 dias após a semeadura, ainda em fase vegetativa (consórcio I); 2) couve consorciada com coentro, cujas plantas correspondentes às duas linhas interiores (mais próximas à linha de plantio da couve) foram colhidas aos 55 dias após a semeadura e às duas linhas externas mantidas até o final da fase de floração (consórcio II); 3) coentro em cultivo solteiro; e 4) couve em cultivo solteiro. Foram utilizadas a cultivar HeviCrop de couve (Brassica oleracea var. acephala D.C.) e a cultivar Asteca de coentro (Coriandrum sativum L.). O coentro foi utilizado como cultura secundária por possuir nectários florais Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas (Diederichsen, 1996), objetivando suplementar recursos alimentares para as joaninhas. As mudas de couve foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido, abastecidas com substrato orgânico. O coentro foi semeado diretamente nos canteiros, sete dias antecedendo o transplantio das mudas de couve. A couve foi cultivada no espaçamento padrão de 1,0 x 0,5 m, enquanto o coentro foi semeado em linhas distanciadas de 0,2 m entre si, conservando-se 20 plantas por metro linear após o desbaste. Esses espaçamentos foram empregados tanto nos cultivos solteiros de cada espécie quanto nos consórcios entre elas. As parcelas experimentais ocuparam 6,0 m2 (6,0 x 1,0 m), sendo compostas por 11 plantas de couve dispostas em linha única e/ou 480 plantas de coentro dispostas em quatro linhas, independentemente do tratamento (consórcio ou cultivo solteiro). A cada colheita semanal de couve foram aferidos: número de folhas de padrão comercial por planta; área foliar específica (relação entre a área foliar e a biomassa seca das folhas); índice de área foliar (IAF = razão entre área foliar colhida e unidade de área cultivada) e produtividade (biomassa fresca das folhas de padrão comercial por metro quadrado de área cultivada). A área foliar foi determinada pelo método de referência, usando o aparelho digital integrador (LI-COR, modelo LI 3100). No total, foram realizadas 21 colheitas semanais de couve, com início aos 40 dias após o transplantio das mudas. Com respeito aos parâmetros fitotécnicos do coentro, foram avaliados: altura das plantas aos 50 dias após semeadura, rendimento em biomassa de parte aérea (fresca e seca), número de molhos de 100 g por unidade de área cultivada (m2) e número de hastes por planta (obtido pela média de 80 indivíduos por parcela), os quais foram determinados aos 55 dias após semeadura. A avaliação da eficiência agronômica do consórcio I foi feita por meio do cálculo do índice de equivalência de área (IEA), com base nas produções de biomassa da parte aérea fresca da couve (produtividade total) e do coentro, sendo este último colhido no padrão comercial Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 (aos 55 dias a contar da semeadura). Foi utilizada a seguinte equação (Vandermeer, 1989): IEA = (Icouve S-1couve) + (Icoentro S-1coentro), onde: I e S = produtividade correspondente a cada cultura no cultivo consorciado e no cultivo solteiro, respectivamente. Para aferir a diversidade de espécies e os níveis populacionais de joaninhas predadoras, foram executadas coletas desses insetos três vezes por semana nas plantas de couve e coentro no consórcio II e de couve no cultivo solteiro. Nessas plantas também foi observada a presença ou a ausência de pulgões. Os adultos de joaninhas foram removidos manualmente ou com auxílio de aspirador bucal, durante períodos de 30 minutos para cada parcela experimental, seguindo metodologia proposta por Michels Junior et al. (1996). As joaninhas foram acondicionadas em copos plásticos transparentes (250 ml), tamponados com tela de organza para permitir ventilação, sendo as amostras transportadas ao laboratório para contagem e identificação taxonômica. A freqüência relativa das espécies de joaninhas foi estabelecida pela seguinte equação: F = n x 100/N, em que n = número de adultos de determinada espécie de joaninha e N = número total de adultos, equivalendo a todas as espécies de joaninhas coletadas. Nos dados obtidos, as pressuposições de normalidade e homogeneidade de variâncias foram obtidas e análises univariada de variância foram realizadas através do programa SAEG 9.0. Diferenças significativas entre tratamentos foram estabelecidas pelo teste F (P = 0,05) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p = 0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO O consórcio com a couve não influenciou a maioria dos parâmetros fitotécnicos relativos ao coentro (Tabela 1). Houve diferença significativa apenas para altura da planta, superior no cultivo consorciado. Esse mesmo resultado foi observado em consórcios de coentro com outras espécies de hortaliças, os quais induziram maior porte da planta de coentro, caracterizando que houve competição por luz (Zárate et al., 2005; Zárate et al., 2007a; Grangeiro et al., 2008). Diferindo dos resultados obtidos no presente estudo, Zárate et al. (2007a,b) e Grangeiro et al. (2008) observaram que o rendimento em massa fresca de parte aérea do coentro foi maior no cultivo solteiro, porém, as cultivares usadas por esses autores foram outras (Português e Verdão). Em experimento de avaliação de consórcios entre alface e coentro, conduzido por Oliveira et al. (2005) em Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, a cultivar de coentro Asteca em cultivo solteiro alcançou rendimento em massa aérea fresca de 1,992 kg m-2, assim ultrapassando o valor médio obtido no presente estudo para a mesma cultivar. Tal variação pode ser atribuída a diferenças edafoclimáticas e de práticas culturais empregadas. Todavia, nos experimentos de Oliveira et al. (2005), quando em cultivo consorciado com alface, os valores referentes a número de molhos de 100 g m-2, número de haste planta-1 e rendimento em massa fresca da parte aérea para a cultivar Asteca foram mais baixos do que no consórcio com a couve aqui relatado (Tabela 1). Quanto à couve, o consórcio com o coentro não afetou o número de folhas por planta em qualquer das 21 colheitas semanais realizadas. Na maioria dessas colheitas, o consórcio também não mostrou influencia sobre a área foliar específica da couve. Efeito significativo foi apenas constatado na sétima e na nona colheitas (Tabela 2), onde se observou na couve no cultivo solteiro e no consórcio I redução de área foliar específica, em comparação ao consórcio II. O índice de área foliar (IAF) da couve também diferiu significativamente em função dos sistemas de cultivo, em apenas duas das colheitas efetuadas (Tabela 2). Na terceira colheita, o cultivo solteiro da couve resultou em valores significativamente mais altos de IAF, mas não diferindo do consórcio II. Na décima colheita, contrariamente à terceira, neste tipo de consórcio, observou-se valores de IAF inferiores aos dos dois outros tratamentos. Em 14 das 21 colheitas de couve, não houve diferença significativa na 43 ALS Resende et al. Tabela 1. Parâmetros fitotécnicos do coentro, sob manejo orgânico, em cultivo solteiro e no consórcio com couve (phytotechnical parameters of coriander, under organic management, in sole crop and intercropped with kale). Seropédica, SIPA, 2007. Sistemas de cultivos Consórcio couve-coentro Cultivo solteiro de coentro CV (%) Altura da planta aos 50 dias (cm) 37,57 a 34,67 b 4,00 Biomassa aérea fresca (kg m-2) 1,981 a 1,835 a 17,50 Biomassa aérea seca (kg m-2) No de hastes planta-1 Nº de molhos (100 g) m-2 Aos 55 dias 0,194 a 13,00 a 0,203 a 13,28 a 20,86 7,53 19,81 a 18,35 a 9,13 Valores representam médias de quatro repetições; Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade (values represent means of four replicates; Means followed by the same letter in the columns do not differ by F test at 5% probability level). produtividade da couve entre tratamentos, demonstrando que ambos os tipos de consórcio couve x coentro pouco interferiram na produtividade da cultura principal. A produtividade da couve em cultivo solteiro diferiu significativamente de apenas um dos consórcios com referência à terça parte das colheitas semanais (Tabela 2). No consórcio I, em que as quatro linhas de coentro foram colhidas de uma única vez e coincidindo com a segunda colheita da couve, constatou-se uma queda significativa na produtividade da brássica nas duas colheitas seguintes, em comparação ao cultivo solteiro (Tabela 2). No entanto, da quinta colheita em diante, a produtividade da couve consorciada equiparou-se à de seu cultivo solteiro, com exceção da 15a colheita. No consórcio II, em que as duas linhas externas de coentro foram mantidas até o final da fase de floração, a produtividade da couve foi significativamente menor em relação aos outros dois tratamentos na primeira colheita e novamente entre as 12a e 15a colheitas (Tabela 2). Tal efeito possivelmente correlacionou-se à retirada do coentro florido, que coincidiu com a data da 12a colheita. Em termos de produtividade total da couve, quando o coentro foi colhido aos 55 dias de idade (consórcio I), não se observou interferência na comparação com o cultivo solteiro, ocorrendo o contrário com o consórcio II, em que se constatou queda de produtividade da couve (Tabela 2). O índice de equivalência de área (IEA) referente ao consórcio I atingiu o valor de 1,92. Isto significa que os cultivos solteiros de couve e coentro precisariam de 92% a mais de área ocupada com os consórcios para alcançar rendimento equivalente. Oliveira et al. (2005) registraram valores de IEA, relacionados a consórcios de duas cultivares Tabela 2. Produtividade, área foliar específica (AFE) e índice de área foliar (IAF) de colheitas da couve, com diferenças significativas, obtidos no cultivo solteiro e nos cultivos consorciados com o coentro, sob manejo orgânico (productivity, specific leaf area (SLA) and index of leaf area (ILA) of harvests of kale, with significant differences, obtained in the sole crop and the intercroppings with coriander, under organic management). Seropédica, SIPA, 2007. Produtividade (kg m-2) Colheitas 1a 3a 4a 12a 13a 14a 15a Total Coentro colhido na fase vegetativa1 0,6317a3 0,2171b 0,2013b 0,2383a 0,2711ab 0,2159ab 0,2404b 5,503ab 7a 9a 149ab 140b 3a 10a 1004b 1163a Coentro mantido até o final da fase da floração2 0,4728b 0,2503ab 0,2416ab 0,1487b 0,2109b 0,1781b 0,2334b 5,017b AFE (cm2 de folhas g-1 massa aérea seca) 160a 167a IAF (cm2 de folhas m-2 de área cultivada) 1081ab 944b Cultivo solteiro CV (%) 0,6965a 0,3228a 0,3226a 0,3029a 0,3495a 0,2553a 0,2760a 6,4960a 5,29 17,24 19,37 15,46 16,72 13,83 6,30 34,71 135b 127b 5,91 4,77 1349a 1206a 13,62 8,09 Consorcio I (Intercropping I); 2Consorcio II (Intercropping II); 3Valores representam médias de quatro repetições; Médias seguidas da mesma letra nas linhas não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade; Total de 21 colheitas (values represent means of four replications; Means followed by the same letter in the rows do not differ by Tukey test at 5% probability level; Total of 21 harvests). 1 44 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas Tabela 3. Diversidade de espécies e densidades populacionais de adultos de joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae) coletados durante todo o período do experimento, no consórcio couve x coentro e no cultivo solteiro de couve, sob manejo orgânico (species diversity and adult population densities of ladybeetles (Coleoptera: Coccinellidae) collected during all period of the experiment, in kale and coriander intercropping and in sole crop of kale, under organic management). Seropédica, SIPA, 2007. Espécies Consórcio couve x coentro Cultivo solteiro de couve No total de indivíduos F1 No total de indivíduos F 1 99 32 3 5 13 2 9 1 1 0,6 59,6 19,3 1,8 3,0 7,8 1,2 5,4 0,6 0,6 0 7 1 0 0 3 0 1 0 0 0,0 58,3 8,3 0,0 0,0 25,0 0,0 8,3 0,0 0,0 Brachiacantha sp. Cycloneda sanguinea (L.) Eriopis connexa Germar Harmonia axyridis (Pallas) Hippodamia convergens Guérin Hyperaspis festiva Mulsant Hyperaspis notata Mulsant Scymnus (Pullus) sp. Nephus sp. Zagreus bimaculosus Mulsant Riqueza de espécies2 No total de indivíduos No médio de indivíduos coleta-1 CV (%) = 37,42 10 166 a 11,07 a3 4 12 b 0,8 b F = Freqüência relativa de espécies de joaninhas (Relative frequency of ladybeetle species); Número total de espécies coletadas; 3Valores seguidos da mesma letra nas linhas não diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade (values followed by the same letter in the rows do not differ by F test at 5% probability level). 1 2 de alface e de cinco cultivares coentro, variando de 1,42 a 3,21, sendo que para coentro cv. Asteca, o valor de IEA para consórcio com alface Babá de Verão foi superior ao obtido para o consórcio I, o qual, por sua vez, foi inferior ao IEA do consórcio com a alface Tainá. Valores de IEA também superiores a 1,0 foram obtidos em consórcios de coentro com outras espécies de hortaliças, como cenoura (Freitas et al., 2004), cebolinha (Zárate et al., 2005), taro (Zárate et al., 2007a) e rabanete (Grangeiro et al., 2008), mas que ficaram abaixo do IEA obtido com o consórcio I. Portanto, no presente estudo, o consórcio couve x coentro mostrou-se efetivo, conforme postulado por Vandermeer (1989), bem como foi coerente com o princípio da “produção competitiva”, o qual estabelece que “duas culturas consorciadas só irão produzir mais do que os respectivos cultivos solteiros se a competição mútua for suficientemente fraca” (Santos, 1998). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Não se registrou infestação de pulgões na couve durante todo o período experimental. O pequeno tamanho das parcelas pode ter contribuído para esse resultado, devido proporcionar baixa densidade de plantas de couve no experimento. Substâncias químicas secundárias, como a sinigrina e outros glucosinolatos, estão presentes em brássicas e servem como sinais para seleção da planta hospedeira pelos insetos, sendo normalmente usadas pelos pulgões como substancias atraentes e estimulantes da alimentação (Gabrys & Tjallingii, 2002). Portanto, uma baixa densidade de plantas pode resultar em baixa concentração de odores atrativos aos pulgões, dificultando a colonização das plantas, a qual pode ter sido agravada pelo confundimento das formas aladas de pulgões causado pelos odores dos óleos essenciais do coentro. Contudo, a abundante presença de joaninhas na área cultivada, principalmente nas parcelas do consórcio II, também pode ter cola- borado com a ausência de infestação das plantas por pulgões, visto que a maioria das espécies de joaninhas coletadas é afidófaga (Michaud, 1998; Resende et al., 2006, 2007; Weeden et al., 2008). Hyperapis notata Mulsant e Zagreus bimaculosus Mulsant constituíram as exceções porque são consideradas coccidófagas (predadoras de cochonilhas) (Wolff et al., 2004), embora Resende et al. (2007) já tenham observado larvas de H. notata predando pulgões (Lipaphis pseudobrassicae Davis) em couve. As populações de adultos de joaninhas no consórcio couve x coentro foram numericamente superiores às encontradas no cultivo solteiro de couve. A presença do coentro junto à couve, na forma de consórcio em faixas, aumentou tanto a abundância quanto a riqueza de espécies de joaninhas (Tabela 3). Patt et al. (1997), ao estudarem a influência do consórcio de berinjela com o coentro sobre populações de joaninhas, reportaram resultados análogos, também constatando número significativamente maior de indivíduos e de espécies desses insetos predadores no cultivo consorciado do que no cultivo solteiro de berinjela. No presente estudo, o estímulo às populações de joaninhas no consórcio, principalmente à época da floração do coentro, provavelmente ocorreu porque a apiácea contribuiu como local adicional de abrigo para larvas, pupas e adultos desses predadores, além de prover sítios alternativos para oviposição, acasalamento e alimentação dos mesmos. Além de se alimentarem das presas, as joaninhas predadoras necessitam de recursos nutricionais além das presas, como pólen e néctar, os quais são capazes de garantir a sobrevivência dos adultos e sustentar o metabolismo e o desenvolvimento gamético de certas espécies (Wackers et al., 2005). Isto provavelmente justifica a alta freqüência de visitação das joaninhas às inflorescências do coentro, observada na área experimental. Patt et al. (1997) também assinalaram a freqüente visitação de joaninhas às inflorescências de coentro, à semelhança do aqui relatado. Ademais, no final da fase de floração, o coentro foi infestado por pulgões, os quais serviram de alimento para as joaninhas. Assim, o arranjo espacial de uma 45 ALS Resende et al. linha central de couve e quatro linhas paralelas de coentro, mostra-se agronomicamente viável com base nos valores referentes aos índices de equivalência de área cultivada, e quando o coentro é manejado colhendo as duas linhas centrais aos 55 dias e as demais deixadas para florir estimula de modo expressivo a abundância e a diversidade de espécies de joaninhas predadoras, criando condições para o controle biológico natural. O consórcio entre couve (cv. HeviCrop) e coentro (cv. Asteca), sob manejo orgânico e no arranjo espacial adotado mostrou-se viável, baseando-se no índice de equivalência de área cultivada, e o coentro em floração beneficia as populações de joaninhas predadoras, aumentando sua diversidade e abundância na área de cultivo. AGRADECIMENTOS À CAPES e à FAPERJ, respectivamente, pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor e de iniciação científica ao terceiro autor deste artigo. REFERÊNCIAS ALTIERI MA; SILVA EN; NICHOLLS CI. 2003. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos. 226p. BUGG RL; WILSON T. 1989. Ammi visnaga (L.) Lamark (Apiaceae): associated beneficial insects and implications for biological control, with emphasis on the bell-pepper agroecosystem. Biological Agriculture and Horticulture 6: 241-268. CECÍLIO FILHO AB; MAYA. 2002. Produtividade das culturas de alface e rabanete em função da época de estabelecimento do consórcio. Horticultura Brasileira 20: 501-504. DIEDERICHSEN A. 1996. Coriander (Coriandrum sativum L.); promoting the conservation and use of underutilized and neglected crops. 3. 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Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental Raquel Silviana Neitzke1,4; Rosa Lía Barbieri1; Walter F Rodrigues3; Inez V Corrêa3; Fernando IF de Carvalho2 Embrapa Clima Temperado C. Postal 354, 96001-970, Pelotas-RS; 2UFPel-FAEM, Depto Fitotecnia, Pelotas-RS; 3Estagiário Embrapa Clima Temperado 4Estagiária e doutoranda em Agronomia, UFPel; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Alguns tipos de pimentas do gênero Capsicum são utilizados como plantas ornamentais, por possuírem caracteres, que conferem valor estético, por serem de fácil cultivo e apresentarem grande durabilidade. Entretanto, no Brasil são poucas as variedades comerciais destinadas a este propósito. O presente trabalho teve por objetivo caracterizar e estudar a distância genética dos acessos com potencial ornamental do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum da Embrapa Clima Temperado. O experimento foi realizado de julho de 2007 a fevereiro de 2008, no campo experimental da Embrapa Clima Temperado, em blocos ao acaso, com três repetições, utilizando 17 acessos, com dez plantas por parcela. As plantas foram caracterizadas morfologicamente com oito descritores quantitativos e 22 descritores qualitativos. Foram realizadas análises de comparação de médias, variáveis canônicas, agrupamento pelo método UPGMA e de Tocher, para os dados quantitativos, e agrupamento pelo método UPGMA e de Tocher para os dados qualitativos. Os acessos foram agrupados de forma distinta quando utilizado dados quantitativos e dados qualitativos. A análise dos dados qualitativos separa mais os acessos, com a formação de maior número de grupos do que na análise dos dados quantitativos. A utilização conjunta da caracterização baseada em descritores quantitativos e qualitativos, porém com análises separadas, possibilita uma interpretação mais fidedigna da dissimilaridade genética e permite o melhor direcionamento dos cruzamentos em Capsicum. Genetic dissimilarity among pepper accessions with potential for ornamental use Palavras-chave: Capsicum spp., banco ativo de germoplasma, caracterização morfológica, descritores quantitativos, descritores qualitativos. Keywords: Capsicum spp., germplasm bank, morphological characterization, quantitative descriptors, qualitative descriptors. Some plants of the Capsicum genus are used as ornamental plants because they have traits with aesthetic value, are easy to cultivate and have great durability. However, in Brazil there are few commercial varieties for this use. The goal of this work was to characterize and study genetic distance of accessions with ornamental potential from Capsicum Germplasm Bank of Embrapa Clima Temperado. The experiment was carried out from July 2007 to February 2008, at the experimental field of Embrapa Clima Temperado. The experimental design was randomized complete blocks, with three replicates, using 17 accessions. Ten plants per plot were used. Plants were morphologically characterized with eight quantitative descriptors and 22 qualitative descriptors. Quantitative data were used for analysis of means, canonical analysis, grouping by UPGMA and by Tocher methods. The qualitative data were grouped by UPGMA and by Tocher methods. The accessions were grouped in different ways when used quantitative and qualitative data. The analysis of qualitative data formed more groups than the analysis using quantitative data. The use of characterization based both on quantitative and on qualitative descriptors, but with separated analysis, allows a more reliable interpretation of genetic dissimilarity and indicates the best direction for crosses in Capsicum. (Recebido para publicação em 4 de novembro de 2008; aceito em 4 de janeiro de 2010) (Received on November 4, 2008; accepted on January 4, 2010) O processo de melhoramento genético é altamente dependente da amplitude da base genética disponível, que por sua vez é influenciada pelo acervo de recursos genéticos disponíveis, na forma de acessos coletados e caracterizados, mantidos nos bancos de germoplasma. A capacidade de acessar esses indivíduos, por coleta ou por intercâmbio, é fator fundamental para o sucesso de qualquer programa de melhoramento genético vegetal (Queiroz & Lopes, 2007). A falta ou a inadequação de informações sobre os acessos mantidos em bancos de germoplasma causa o baixo Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 interesse dos melhoristas em relação aos acessos conservados (Barbieri, 2003). O incremento das atividades de caracterização e avaliação do germoplasma deve ser prioridade entre as estratégias de abordagem e manejo dos recursos genéticos no Brasil. Superadas as deficiências de informação, o germoplasma será mais útil para os programas de melhoramento. A caracterização e a avaliação dos acessos proporcionam o melhor conhecimento do germoplasma disponível e permitem a identificação dos acessos duplicados, o estabelecimento de co- leções nucleares e a identificação dos modos de reprodução predominantes nos acessos, bem como da ocorrência ou não de variabilidade intrínseca em acessos individuais (Valls, 2007). A caracterização morfológica é um processo que, por meio da utilização de uma lista descritiva, trata de prover maiores informações sobre o germoplasma conservado, dispondo-o de uma forma mais efetiva para a utilização (Ramos et al., 1999). As pimentas do gênero Capsicum se destacam como parte do mercado de hortaliças frescas no Brasil, bem como 47 RS Neitzke et al. do forte segmento de condimentos, temperos e conservas em nível mundial (Bianchetti & Carvalho, 2005). Capsicum possui cinco espécies domesticadas: C. annuum, C. baccatum, C. chinense, C. frutescens e C. pubescens (Pickersgill, 1997). Apresenta uma diversidade impressionante (Reifschneider, 2000), todavia, a diversidade do gênero foi pouco explorada e certamente não foi esgotada (Pickersgill, 1997). Além do uso na culinária, alguns tipos de pimentas do gênero Capsicum são utilizados como plantas ornamentais, por possuírem caracteres que conferem valor estético, como folhagem variegada, pequeno porte, frutos de coloração intensa que contrastam com a folhagem (Carvalho et al., 2006), e também por serem de fácil cultivo e possuírem grande durabilidade. Um fator distintivo para uso ornamental é sua capacidade de crescer em recipientes como planta perene. No paisagismo, elas podem atingir um porte maior do que em vasos, principalmente se os vasos forem recipientes pequenos que limitam o crescimento radicular e aéreo. Cultivares ornamentais são usadas principalmente para decoração, mas os frutos podem ser usados para confecção de conservas ou serem desidratados (Witt, 1999). No Brasil são poucas as variedades comerciais destinadas a este propósito, embora os bancos de germoplasma de Capsicum do país possuam em seu acervo acessos que podem ser utilizados no melhoramento genético com o objetivo de criar novas cultivares de pimentas ornamentais. Luz (2007) encontrou uma grande variabilidade entre acessos de Capsicum chinense avaliados por meio de descritores morfológicos e com potencial de uso desse germoplasma em programas de melhoramento. Sudré et al. (2005) publicaram um estudo de distância genética entre 56 acessos de pimenta e pimentão pertencentes à Coleção de Germoplasma de Capsicum da Universidade Estadual do Norte Fluminense utilizando técnicas multivariadas, onde sugeriram acessos para este fim. A Embrapa Clima Temperado mantém desde 2003 um Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum, o qual conserva acessos de C. annuum, C. baccatum, C. chinense, C. frutescens e 48 C. pubescens. O presente trabalho teve por objetivo caracterizar e estudar a distância genética dos acessos com potencial ornamental do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum da Embrapa Clima Temperado. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização deste trabalho, foram escolhidos 17 acessos de pimenta que fazem parte do acervo do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum e que têm potencial ornamental para cultivo em vaso ou em jardim. Esta escolha foi baseada nos dados de passaporte dos acessos e em dados provenientes de caracterizações realizadas anteriormente. Os acessos utilizados no estudo de distância genética são variedades crioulas de C. annuum (P7, P22, P39, P51, P58, P77 e P119), C. baccatum (P3, P11, P14, P25, P28, P102 e P110), C. chinense (P66 e P78) e C. frutescens (P30), provenientes de coletas realizadas em feiras e de doações de agricultores. A semeadura foi realizada em 27 de julho de 2007 em bandejas de poliestireno de 72 células preenchidas com substrato comercial. Em seis de outubro do mesmo ano, quando as mudas apresentaram de cinco a sete folhas verdadeiras, foram transplantadas para o campo experimental da Embrapa Clima Temperado. O delineamento experimental empregado foi blocos completos casualizados com 17 tratamentos (acessos) e três repetições. A unidade experimental foi composta por uma fileira com 10 plantas, no espaçamento de 0,5 m entre plantas e 1,2 m entre fileiras. No período de dezembro de 2007 a fevereiro de 2008, quando as plantas apresentaram o primeiro fruto maduro, foi realizada a caracterização morfológica dos acessos. Foram utilizados oito descritores quantitativos (altura da planta, comprimento do dossel, comprimento da folha, largura da folha, comprimento do fruto, diâmetro do fruto, peso do fruto fresco e comprimento do pedúnculo) e 22 descritores qualitativos escolhidos entre os recomendados por Carvalho et al. (2003), conforme segue: 01) cor da haste: (1) verde; (2) verde com estrias violeta; (3) violeta; 02) antocianina nodal: (1) verde; (2) violeta claro; (3) violeta; (4) violeta escuro; 03) pubescência da haste: (1) esparsa; (2) intermediária; (3) densa; 04) hábito de crescimento da planta: (1) prostrado; (2) intermediário; (3) ereto; (4) outro; 05) densidade de ramificação: (1) esparsa; (2) intermediária; (3) densa; 06) brotação abaixo da primeira bifurcação: (1) ausente; (2) esparsa; (3) intermediária; (4) densa; 07) densidade de folhas: (1) esparsa; (2) intermediária; (3) densa; 08) cor da folha: (1) amarelo; (2) verde claro; (3) verde; (4) verde escuro; (5) violeta claro; (6) violeta; (7) variegada; (8) verde com antocianina; 09) pubescência da folha: (1) esparsa; (2) intermediária; (3) densa; 10) número de flores por axila: (1) uma; (2) duas; (3) três ou mais; (4) muitas com entrenó curto; (5) uma e duas; (6) uma, duas e três; (7) duas e três; (8) duas, três e quatro; 11) posição das flores na planta: (1) pendente; (2) intermediária; (3) ereta; (4) todas posições; (5) intermediária e ereta; (6) pendente e intermediária; 12) cor da corola: (1) branco; (2) amarelo claro; (3) amarelo; (4) amarelo esverdeado; (5) violeta com base branca; (6) branco com base violeta; (7) branco com margem violeta; (8) violeta; (9) branco esverdeado; (10) branco com mancha púrpura; (11) branco esverdeado com mancha púrpura; 13) cor da mancha na corola: (1) branco; (2) amarelo; (3) verde amarelado; (4) verde; (5) violeta; (6) sem mancha; 14) forma da corola: (1) rotada; (2) campanulada; (3) intermediária; 15) pigmento do cálice: (1) ausente; (2) presente; 16) cor do fruto imaturo: (1) branco; (2) amarelo; (3) verde; (4) laranja; (5) violeta; (6) violeta escuro; (7) amarelo esverdeado; (8) verde amarelado; (9) branco amarelado; (10) marrom. Quando o fruto apresenta mais de uma cor de fruto imaturo, é considerada a cor do primeiro estádio; 17) posição dos frutos na planta: (1) pendente; (2) intermediária; (3) ereta; (4) todas posições; (5) pendente e intermediária; (6) pendente e ereta; (7) intermediária e ereta; 18) cor do fruto maduro: (1) branco; (2) amarelo limão; (3) amarelo laranja pálido; (4) amarelo laranja; (5) laranja pálido; (6) laranja; (7) vermelho claro; (8) vermelho; (9) Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental vermelho escuro; (10) violeta; (11) marrom; (12) preto; (13) amarelo; (14) amarelo pálido; 19) formato do fruto: (1) alongado; (2) arredondado; (3) triangular; (4) campanulado; (5) retangular; 20) formato da ponta do fruto: (1) pontiagudo; (2) truncado; (3) afundado; (4) afundado com ponta; 21) apêndice na ponta do fruto: (1) ausente; (2) presente; 22) superfície do fruto: (1) liso; (2) semi-rugoso; (3) rugoso; (4) liso com estrias; (5) semi-rugoso com estrias. Todas as plantas da parcela experimental foram caracterizadas. Para os caracteres quantitativos foi considerada na análise a média da parcela experimental para cada descritor, sendo analisados cinco folhas e cinco frutos em cada planta para os descritores de folha e de fruto. As médias obtidas foram agrupadas pelo critério de Scott & Knott (1974). A estimativa da distância generalizada de Mahalanobis como medida de dissimilaridade foi aplicada para as análises do método de agrupamento das médias das distâncias (UPGMA) e no método de agrupamento de Tocher. Todas as análises estatísticas foram realizadas por meio do programa computacional Genes (Cruz, 2006). Na análise das variáveis canônicas, a divergência genética foi apresentada por meio de um gráfico cartesiano bidimensional de dispersão de escores. Foi construído um dendrograma pelo método UPGMA e calculado o coeficiente de correlação cofenética (r) (Sokal & Rohlf, 1962), utilizando o programa computacional NTSYS pc 2.1 (Rohlf, 2000). Para a complementação do estudo da distância genética entre os acessos foi realizada uma análise multicategórica. Para os descritores qualitativos, os dados foram obtidos por meio da moda de cada acesso para cada descritor. Os dados de caracteres qualitativos que apresentaram polimorfismo foram submetidos à análise de divergência genética pelo procedimento para dados multicategóricos do programa computacional Genes (Cruz, 2006). Esta metodologia consiste na obtenção de um índice, em que são considerados vários caracteres simultaneamente, sendo que cada caráter pode apresentar várias classes. A partir desta análise foi gerada uma matriz de dissimilaridade com base no complemento do coeficiente de coincidência simples, sendo esta empregada na formação do dendrograma pelo método UPGMA no programa computacional NTSYS pc 2.1 (Rohlf, 2000). A estimativa do ajuste de correlação do coeficiente cofenético entre a matriz de dissimilaridade e o dendrograma foi realizada no mesmo programa. RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias apresentaram diferenças significativas entre si para todos os caracteres avaliados pela análise de variância. O teste de Scott e Knott (Scott & Knott,1974) ao nível de significância de 5% de erro, agrupou as médias dos caracteres estudados (Tabela 1). O maior número de classes observado foi para Tabela 1. Médias dos acessos de Capsicum com potencial ornamental em relação a oito caracteres quantitativos (means of Capsicum accessions with ornamental potential related to eight quantitative traits). Pelotas, UFPel, 2008. Acesso AP (cm) CD (cm) CFO (cm) P3 P7 P11 P14 P22 P25 P28 P30 P39 P51 P58 P66 P77 P78 P102 P110 P119 CV (%) 71,87a 40,07b 69,70a 78,40a 15,03d 44,13b 57,23a 65,97a 29,30c 59,80a 30,83c 45,37b 47,97b 45,00b 62,27a 63,40a 52,20a 16,73 105,93a 56,00d 99,00a 95,33a 19,07f 102,37a 81,33b 81,33b 60,53d 71,97d 36,17e 86,73b 59,63d 72,40c 97,73a 84,87b 68,40c 6,41 10,50c 6,20g 12,43a 11,33b 6,80f 8,30d 8,33d 8,90d 5,13h 7,93e 7,67e 7,63e 8,30d 7,33e 7,87e 8,53d 5,27h 3,93 LFO (cm) CFR (cm) DFR (cm) PFF (g) CP (cm) 4,17b 1,83f 4,67a 3,87c 1,73f 3,53d 3,50d 3,83c 1,70f 2,37e 2,43e 3,33d 2,63e 3,47d 3,37d 3,80c 1,83f 4,93 4,23d 2,73h 5,17c 5,07c 3,37f 2,97g 2,87g 3,00g 1,40j 7,53b 8,40a 3,57e 2,73h 3,20f 2,77h 2,30i 2,67h 3,81 1,97d 2,10d 0,9h 5,63a 1,20g 2,87b 2,90b 0,77h 1,40f 1,03g 2,73c 1,77d 1,93d 1,67e 2,57c 1,90d 1,03g 7,06 5,33d 4,30d 2,07e 28,3a 2,03e 8,30c 7,80c 0,90e 1,67e 3,90e 17,7b 3,23e 4,93d 2,43e 5,13d 3,23e 1,47e 21,61 4,70a 2,43f 4,03c 4,50b 1,80h 3,40d 3,30d 2,67f 1,50i 2,33g 1,50i 2,33g 2,50f 1,93h 3,07e 4,40b 2,20g 5,15 Médias seguidas pela mesma letra, em cada coluna, pertencem ao mesmo grupo pelo critério de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade de erro. AP= altura da planta; CD= comprimento do dossel; CFO= comprimento da folha; LFO= largura da folha; CFR= comprimento do fruto; DFR= diâmetro do fruto; PFF= peso do fruto fresco; CP= comprimento do pedúnculo (means followed by the same letter, in each column, do not differ significantly among them by the Scott-Knott test at 5% of probability of error. AP= plant height; CD= dossal length; CFO= leaf length; LFO= leaf width; CFR= fruit length; DFR= fruit diameter; PFF= fresh fruit weight; CP= peduncle length). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 49 RS Neitzke et al. Tabela 2. Escores dos genótipos em relação às duas primeiras variáveis canônicas obtidas na avaliação da dissimilaridade genética em acessos de pimenta (scores of the genotypes according to two first canonical variables obtained in the evaluation of the genetic dissimilarity in pepper accessions). Pelotas, UFPel, 2008. Acesso P3 P7 P11 P14 P22 P25 P28 P30 P39 P51 P58 P66 P77 P78 P102 P110 P119 Variância (%) Variância acumulada (%) Variáveis canônicas 1° -28,53 -10,15 -16,39 -29,49 3,78 -30,36 -31,80 -23,05 -15,23 43,81 52,31 -11,41 -18,93 -14,11 -28,49 -44,30 -5,11 74,77 74,77 o caráter comprimento do fruto, que evidenciou dez classes distintas, com as médias variando de 1,40 cm (P39) a 8,40 cm (P58). O caráter que menos demonstrou classes foi a altura da planta, com quatro classes diferentes e valores médios variando de 15,03 cm (P22) a 78,40 cm (P14). O grande número de classes que foi estabelecido é um indicativo da grande variabilidade existente entre os acessos com potencial ornamental. A distância média de Mahalanobis entre os acessos (D2 = 1601,22) foi utilizada como critério para a formação dos grupos. No dendrograma houve a formação de três grupos, o primeiro formado pela grande maioria dos acessos (P3, P7, P11, P22, P25, P28, P30, P39, P66, P77, P78, P102, P110 e P119), o segundo formado exclusivamente pelo acesso P14 e o terceiro pelos acessos P51 e P58 (Figura 1). O acesso P14 se destaca em relação aos demais por possuir a maior altura da planta, maior diâmetro de fruto (5,63 cm) e o maior peso de fruto (28,27 g). Os acessos P51 e P58 são os que 50 2° 61,21 40,34 62,01 77,95 36,46 49,93 49,36 41,73 27,94 55,41 56,76 42,56 44,36 37,84 47,21 48,29 34,22 22,08 96,85 possuem os maiores valores para comprimento do fruto, com 7,53 cm e 8,4 cm, respectivamente. A alta correlação cofenética (0,91) mostra a consistência da análise de agrupamento em relação à matriz de dissimilaridade. Conforme Cruz & Regazzi (1994), para uma interpretação satisfatória da variabilidade manifestada entre genótipos é necessário que as duas primeiras variáveis canônicas permitam uma estimativa mínima de 80% da variação total contida no conjunto de caracteres. Neste trabalho as duas primeiras variáveis canônicas explicaram cerca de 96,85% da variação (Tabela 2). Com esses resultados foi possível a construção de um gráfico, de dispersão para a visualização bidimensional, dos genótipos analisados, utilizando os escores da primeira e da segunda variável canônica (Figura 2). A dispersão gráfica permitiu a separação dos acessos em grupos, podendo ser utilizada como uma estratégia para selecionar genótipos divergentes a serem utilizados em cruzamentos artificiais. Dois grupos principais foram estabelecidos pelo dendrograma, sendo o primeiro composto pelos acessos P3, P7, P11, P14, P22, P25, P28, P30, P39, P66, P77, P78, P102, P110 e P119 e o segundo pelos acessos P51 e P58. Os resultados são concordantes parcialmente com o dendrograma gerado (Figura 1), onde os acessos P51 e P58 ficaram isolados dos demais em ambos os métodos de agrupamento, porém na dispersão gráfica o acesso P14 não ficou separado da grande maioria dos acessos. A estimativa das distâncias genéticas permitiu a formação de quatro grupos distintos pelo método de Tocher para os descritores quantitativos. O primeiro grupo reuniu a grande maioria dos acessos (P3, P7, P11, P25, P28, P30, P39, P66, P77, P78, P102, P110 e P119), o segundo foi formado pelos acessos P51 e P58, o terceiro e o quarto somente por um acesso em cada grupo, P22 e P14, respectivamente. O acesso P22 possui a menor altura (15,03 cm) e o menor comprimento do dossel (19,07 cm) de todos os que foram caracterizados. Genótipos de pequeno porte são bastante desejáveis para uso ornamental, pois possibilitam o cultivo em recipientes relativamente pequenos sem comprometer o crescimento e desenvolvimento da planta. Genótipos de porte mediano a alto podem ser destinados ao paisagismo, para cultivo em jardins. A formação dos grupos nos métodos utilizados não possibilitou a separação entre as espécies de Capsicum, onde o primeiro grupo, em todas as análises, possui exemplares das quatro espécies utilizadas no estudo, C. annuum, C. baccatum, C.chinense e C. frutescens. Para complementação dos dados e uma caracterização mais detalhada foi realizada a análise de dissimilaridade por meio de descritores qualitativos. Estes descritores são muito importantes para a identificação dos acessos com maior potencial ornamental, assim como para utilizar em cruzamentos para obtenção de cultivares ornamentais de pimenta. Os descritores qualitativos mais importantes para avaliação do potencial ornamental, em relação ao aspecto estético, são coloração dos frutos quando imaturos e maduros, Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental P3 P11 P25 Disssimilaridademédia P102 P28 P30 P110 *R=0,91 P7 GI P102P77 P66 P78 P119 P39 P22 P14 GII GIII P51 P58 21.09 1326.68 2632.26 3937.85 5243.43 Figura 1. Dendrograma de análise de agrupamento de 17 acessos de pimentas do gênero Capsicum pelo método UPGMA, utilizando a distância de Mahalanobis, obtido a partir da análise de caracteres quantitativos. *R: Correlação cofenética (dendrogram resulting from grouping analysis by the UPGMA method of 17 pepper accessions of Capsicum genus, using Mahalanobis distance, obtained from quantitative traits analyses. *R: Cophenetical correlation). Pelotas, UFPel, 2008. posição dos frutos na planta, hábito de crescimento da planta, densidade de ramificação, densidade de folhas, cor das folhas e formato dos frutos. De modo geral, os acessos de Capsicum estudados revelaram diferenças para todos os descritores utilizados, com exceção do descritor presença de apêndice na ponta do fruto, para o qual todos os acessos apresentaram ausência do mesmo, sendo desta forma descartado da análise de divergência genética. O dendrograma resultante da análise de agrupamento pelo método UPGMA (Figura 3) utilizando dados qualitativos revelou a formação de seis grupos pelo corte na dissimilaridade média entre os acessos estudados (0,480). O primeiro grupo reuniu os acessos P3, P14, P22, P51, P58. Estes acessos foram monomórficos para os seguintes descritores: hábito de crescimento (intermediário), brotação abaixo da primeira bifurcação (esparsa), número de flores por axila (uma), pigmento do cálice (ausente) Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 e cor do fruto maduro (vermelho). O segundo grupo reuniu os acessos P11 e P30, muito semelhantes entre si, principalmente considerando os caracteres de fruto, onde estes apresentaram as mesmas classes para todos os descritores de fruto, porém são de espécies diferentes, o primeiro é C. baccatum e o segundo é C. frutescens. O terceiro grupo reuniu os acessos P66 e P78, ambos pertencentes à espécie C. chinense. O quarto grupo foi o que reuniu o maior número de acessos (P7, P25, P28, P39, P102, P119), todos apresentando mais do que duas cores durante o processo de maturação, com alta densidade de ramificações e folhas e com frutos eretos e vermelhos quando maduros. O quinto grupo foi formado somente pelo acesso P110, sendo este o único cujos frutos maduros apresentaram cor amarela. O acesso P77 também ficou isolado dos demais, este possui características únicas, pela alta concentração de antocianina na planta, o que lhe condiciona cor violeta nas folhas, corola e nos frutos imaturos, o que permite indicá-lo como acesso ornamental. Pelo método de Tocher, usando os dados qualitativos, houve a formação de oito grupos distintos: Grupo 1 (P11, P25, P28, P102 e P119), Grupo 2 (P3, P22, P51 e P58), Grupo 3 (P7 e P39), Grupo 4 (P66 e P78), Grupo 5 (P30), Grupo 6 (P14), Grupo 7 (P77) e Grupo 8 (P110). O agrupamento de Tocher utilizando dados quantitativos foi diferente do agrupamento utilizando dados qualitativos. Na análise de dados quantitativos houve a formação de quatro grupos. O único grupo, inalterado nas duas análises, foi aquele composto pelo acesso P14. Bento et al. (2007), no estudo da variabilidade fenotípica entre 29 acessos de pimenta, também obtiveram diferenças em relação ao número de grupos formados pelo método de Tocher usando dados quantitativos e qualitativos, com dois e sete grupos, respectivamente. A identificação de genótipos com base somente na divergência genética, sem considerar seus próprios desempenhos, pode não ser uma boa estratégia em programas de melhoramento (Carpentieri-Pípolo et al., 2000). Por isso, além dos dados resultantes da análise de divergência genética, os acessos devem ser recomendados com base no aspecto ornamental. Embora seja uma forma subjetiva de ajudar na seleção dos genótipos para o melhoramento, pode contribuir muito para o sucesso do mesmo. Para o melhoramento, são recomendados cruzamentos entre acessos pertencentes à mesma espécie de Capsicum, que possuem caracteres altamente desejáveis para uso ornamental e com maior dissimilaridade genética. Embora seja possível realizar cruzamentos interespecíficos, é mais fácil a obtenção de sucesso em cruzamentos com plantas da mesma espécie. Os resultados obtidos no presente trabalho evidenciam que os acessos de C. annuum com caracteres mais adequados ao uso ornamental e mais recomendados para o melhoramento genético são P7, P22, P39, P58, P77 e P119. Os acessos P22, P39 e P58 apresentam plantas com pequena altura e caracteres qualitativos desejáveis. As 51 P14 90 RS Neitzke et al. pois estes apresentam baixa dissimilaridade genética entre si. Os acessos P25, P11 P28, P102 e P110 possuem um porte P3 P58 relativamente alto, sendo necessária a 70 P51 realização de seleção com a finalidade P25 de diminuir o porte da planta para culP110 P28 P102 60 P77 P66 tivo em vaso. No entanto estes acessos P30 P7 podem ser perfeitamente utilizados para P78 50 P22 melhoramento de cultivares para uso em P119 paisagismo. P39 40 Os acessos de C. chinense avaliados (P66 e P78), embora possuam porte relativamente baixo, não são muito 30 promissores para o uso ornamental, pois possuem frutos pendentes que ficam 20 escondidos sob as folhas, o que impede sua visualização. Podem ser cruzados 10 com outros genótipos para incorporar caracteres que aumentem seu valor 0 de Capsicum, considerando as duas primeiras estético como: posição ereta dos frutos Figura 2. Gráfico de dispersão de 17 acessos (graphical considering the two 60 e a presença de um maior número de -60 variáveis canônicas -40 -20 dispersion of017 Capsicum accessions, 20 40 first canonical variables). Pelotas, UFPel 2008. cores durante o processo de maturação do fruto. O acesso P30 (C. frutescens) é muito interessante para cultivo em jardim, por apresentar um grande número de frutos de coloração vermelha intensa quando maduros, com posição ereta que contrastam com a folhagem. Os acessos de pequeno porte podem tanto ser cultivados em jardim quanto em vasos, mas os de porte mais alto são recomendados principalmente para cultivo em jardim. As pimentas do gênero Capsicum podem ser exploradas para o cultivo em jardins funcionais, como jardins de temperos, jardins de plantas medicinais e jardins aromáticos. Existe dissimilaridade genética entre os acessos de Capsicum estudados, evidenciada mediante a análise de Figura 3. Dendrograma de análise de agrupamento de 17 acessos de pimentas do gênero caracteres quantitativos e qualitativos, Capsicum pelo método UPGMA, utilizando complemento do índice de coincidência simples e esta pode ser explorada para compor como medida de distância genética, obtido a partir da análise dos dados qualitativos. *R: blocos de cruzamentos em programas Correlação cofenética (dendrogram resulting from grouping analysis by UPGMA analysis de melhoramento genético com objetivo of 17 pepper accessions from Capsicum genes, using complement of simple agreement index as a measurement of genetic distance, obtained from analysis of qualitative data. *R: de desenvolver cultivares ornamentais Cophenetical correlation). Pelotas, UFPel, 2008. de pimentas. A análise dos dados qualitativos separa mais os acessos, com a formação plantas dos acessos P7 e P119 possuem Os acessos de C. baccatum que apre- de maior número de grupos do que na altura mediana, entretanto, a passagem sentaram características mais indicadas análise dos dados quantitativos. por diversas cores dos frutos no pro- para serem usados no melhoramento de A caracterização baseada em descesso de maturação favorece seu uso pimenta ornamental são P25, P28, P102 critores quantitativos e a caracterização no melhoramento. P77, por apresentar e P110. É recomendado o uso do acesso baseada em descritores qualitativos intensa coloração violeta nas folhas, nas P110 como genitor em cruzamentos fornecem dados que possibilitam uma hastes, nos frutos imaturos e nas flores, com P25, P28 ou P102. Não é indicado interpretação fidedigna da dissimilaé bastante distinto dos demais. o cruzamento entre P25, P28 e P102, ridade genética e permitem o melhor 80 52 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental direcionamento dos cruzamentos em Capsicum em programas de melhoramento de pimentas ornamentais. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pela concessão da bolsa de doutorado ao primeiro autor e à Embrapa Clima Temperado, pelo fornecimento de toda a infra-estrutura necessária para a execução do trabalho. REFERÊNCIAS BARBIERI RL. 2003. Conservação e uso de recursos genéticos vegetais. In: FREITAS LB; BERED F (eds). Genética e evolução vegetal. Porto Alegre: UFRGS. p. 403-413. BENTO CS; SUDRÉ CP; RODRIGUES R; RIVA EM; PEREIRA MG. 2007. Descritores qualitativos e multicategóricos na estimativa da variabilidade fenotípica entre acessos de pimenta. Scientia Agraria 8: 149-156. BIANCHETTI L; CARVALHO SIC. 2005. 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Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores. Horticultura Brasileira 28: 54-57. Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores Ricardo Alfredo Kluge; Andressa A Picoli; Juan S del Aguila I USP-ESALQ, Depto. Ciências Biológicas, C. Postal 9, 13418-900 Piracicaba-SP; [email protected] RESUMO ABSTRACT Verificou-se o efeito do etileno e de biorreguladores sobre a atividade respiratória e a síntese de etileno em beterrabas minimamente processadas e inteiras. Para o processamento mínimo, as raízes foram selecionadas quanto à firmeza, cor e tamanho, descascadas, sanificadas, sendo em seguida cortadas em fatias (2 mm de espessura), enxaguadas e centrifugadas. Os tratamentos aplicados foram: etileno (1000 mL L-1), 1-metilciclopropeno (300 nL L-1) e ácido salicílico (500 mg L-1). Após os tratamentos, as beterrabas foram embaladas e armazenadas a 5±1ºC e 85±5% UR durante 10 dias. Observou-se que o ácido salicílico promoveu a diminuição da atividade respiratória do produto minimamente processado durante o armazenamento. Além disso, verificou-se que a resposta fisiológica de beterraba minimamente processada é diferente de beterraba inteira, o que foi comprovada ao se analisar a atividade respiratória e a produção de etileno, que foram significativamente maiores no produto minimamente processado. Respiratory rate and ethylene production of whole and minimally processed beet roots submitted to ethylene and bioregulators treatments Palavras-chave: Beta vulgaris, ácido salicílico, 1-metilciclopropeno, estresse mecânico. Keywords: Beta vulgaris, methylciclopropene, salicylic acid, mechanical stress. The objective of this work was to evaluate the effects of ethylene and bioregulators on the respiratory activity and ethylene synthesis of minimally processed and whole beet roots. For the minimal processing, beet roots were graded for firmness, color and size, and were peeled. Roots were then sanitized, shredded (2 mm thick), rinsed and centrifuged. The following treatments were applied: ethylene (1000 mL L-1), 1-methylciclopropene (300 nL L-1) and salicylic acid (500 mg L-1). After treatments, beet roots were packed and stored at 5±1 ºC and 85±5% RH during 10 days. It was observed that salicylic acid use promoted the decrease of respiratory rates of minimally processed beet roots during all storage time. It was also noted difference between whole and minimally processed beet roots physiology. This difference was observed by the high values of respiratory activity and ethylene production rates in the minimally processed beet roots. (Recebido para publicação em 24 de março de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010) (Received on March 24, 2009; accepted on February 2, 2010) F rutas e hortaliças minimamente processadas são em essência órgãos vegetais que passaram por alterações físicas, isto é, foram descascados, picados, torneados e ralados, dentre outros processos, mas que permaneceram no estado fresco e metabolicamente ativos (Moretti & Machado, 2006; Saavedra del Aguila et al., 2006a). A conservação de hortaliças minimamente processadas é um processo especialmente complexo, no qual estão envolvidas células vegetais danificadas, intactas e/ou inativadas. Em outras palavras, enquanto algumas células apresentam atividade respiratória normal, as danificadas apresentam atividade respiratória maior (Rolle & Chism, 1987; Saavedra del Aguila et al., 2008). O efeito do corte e outros danos, provocados durante as etapas do processamento mínimo, tem como conseqüência o rompimento de organelas, modificação 54 da permeabilidade das membranas, desorganização celular, ativação da síntese do etileno e aumento na respiração (Chitarra & Chitarra, 2005). As taxas respiratórias de produtos minimamente processados são geralmente, mais altas que as encontradas em frutas e hortaliças inteiras; por exemplo, as taxas respiratórias das raízes de rabanete minimamente processado em fatias são em média 95% superiores às taxas respiratórias das raízes inteiras, quando armazenadas a 5ºC e 90% UR por 10 dias (Saavedra del Aguila et al., 2007). O controle da produção de CO2 pode ser usado para prolongar a vida de prateleira de produtos minimamente processados, o que obriga sua comercialização sob refrigeração (Watada et al., 1996). Neste sentido, Vitti et al., (2005) encontraram que a taxa respiratória de beterrabas em fatias e armazenadas a 15ºC é aproximadamente o dobro das armazenadas a 5ºC. Segundo Brecht (1995) a taxa respiratória e a produção de etileno, bem como outras reações associadas ao processamento, são reduzidas quando o produto é preparado sob baixas temperaturas (Saavedra del Aguila et al., 2006b). Embora a maioria das hortaliças produza quantidades baixas de etileno, são muito sensíveis às exposições de etileno exógeno. O principal efeito deste fitohormônio, nesses produtos, é a indução de aumento da atividade respiratória, o que acelera a atividade metabólica e antecipa a senescência (Chitarra & Chitarra, 2005). O etileno pode ter a sua ação bloqueada pela aplicação do 1-metilciclopropeno (1-MCP) (Sisler & Serek, 1997). O 1-MCP apresenta a capacidade de evitar os efeitos relativos ao etileno, sendo usado para retardar a maturação de frutas e a senescência de hortaliças e flores (Blankenship & Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores Dole, 2003). A produção de etileno pode ser reduzida com a aplicação de ácido salicílico, que inibe a ACC oxidase, a enzima formadora do etileno (Jun et al., 1999). Portanto, o armazenamento refrigerado e a aplicação de ácido salicílico e 1-MCP, podem manter a qualidade do produto, possibilitando o armazenamento da beterraba minimamente processada por maior período de tempo. Entretanto, não só o conhecimento dos efeitos dos tratamentos é importante, mas também a viabilidade prática e econômica da técnica que, uma vez estabelecida, pode tornar o tratamento aplicável, a nível comercial, para as condições brasileiras. Este trabalho teve como objetivo verificar o efeito do etileno e de biorreguladores sobre a atividade respiratória e síntese de etileno de beterrabas minimamente processadas e inteiras. MATERIAL E MÉTODOS Beterrabas cv. Early Wonder foram colhidas na região de São José do Rio Preto-SP e cuidadosamente transportadas em caixas plásticas forradas com filme plástico tipo “bolha” por aproximadamente 4 horas até laboratório da ESALQ em Piracicaba, onde sofreram uma seleção quanto ao tamanho, cor, firmeza e ausência de injúrias mecânicas e patológicas. As beterrabas foram pré-lavadas em água corrente, com o objetivo de retirar as impurezas advindas do campo. A seguir, o material foi separado em dois lotes; um deles foi minimamente processado e o outro permaneceu inteiro. O fluxograma de preparo do produto minimamente processado seguiu o utilizado por Vitti et al. (2004) com modificações. O processamento ocorreu dentro de câmara a 10ºC, sobre mesa de aço inoxidável devidamente higienizada. Os operadores utilizaram botas, aventais, luvas, máscaras e toucas, como parte das condições mínimas de assepsia. Inicialmente, as beterrabas foram imersas em água resfriada (5ºC) por 2 minutos para reduzir a atividade metabólica antes do processamento. A seguir, elas tiveram a película externa retirada em descascadoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 ra industrial com disco abrasivo. Estas raízes foram sanificadas por 3 minutos em água clorada (200 mg L-1 de cloro ativo), com o objetivo de se reduzir os riscos de contaminação. A seguir foram submetidas ao corte em fatias com 2 mm de espessura, utilizando-se processadora industrial. Após essa etapa, o produto foi enxaguado em água com 3 mg L-1 de cloro ativo por 1 minuto para a retirada do excesso de cloro. Em seguida, foram centrifugadas (800 x g) em centrífuga doméstica durante 20 segundos, para a retirada do excesso de umidade. Os tratamentos aplicados, tanto nas beterrabas minimamente processadas quanto nas inteiras foram etileno, 1-MCP e ácido salicílico, além do controle. Para a aplicação do etileno, as beterrabas foram colocadas em caixas herméticas, com volume de 0,19 m3 durante 24 horas. O etileno (1000 mL L-1) foi aplicado injetando-se gás azetil® (fornecido pela White Martins, contendo 5% de etileno) no interior da caixa hermética, através de um septo de silicone. Para a aplicação de 1-MCP, na concentração de 300 nL L-1, foram utilizadas 0,089 g do produto comercial SmartFresh®, o qual foi dissolvido em 20 mL de água a 50ºC em frasco hermeticamente fechado. Após completa dissolução do produto, o frasco foi aberto no interior da caixa, para a liberação do gás. A duração deste tratamento foi de 12 horas. O ácido salicílico foi aplicado na forma de imersão do produto, durante 5 minutos, em uma solução contendo 500 mg L-1 de ácido salicílico. As beterrabas minimamente processadas e inteiras foram acondicionadas em frascos herméticos de vidro, com tampa de metal e septo de silicone, com capacidade para 600 mL e 1700 mL, respectivamente. Todos os tratamentos foram armazenados a 5±1ºC e 85±5% UR. O período de armazenamento foi de 10 dias, sendo que as avaliações foram realizadas diariamente. Imediatamente após cada leitura (produção de etileno e atividade respiratória), os frascos eram abertos, tendo suas tampas substituídas por um filme de policloreto de vinila (PVC) de 14 µm de espessura. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso com seis repetições (200 g de produto), em esquema fatorial 4 x 11, onde os fatores estudados foram quatro tratamentos (controle, etileno, ácido salicílico e 1-MCP) e onze tempos de armazenamento. As seguintes variáveis foram analisadas: a) Produção de etileno: os frascos permaneceram hermeticamente fechados com tampa de metal e septo de silicone durante 2 horas a 5oC e, ao final deste período, foi coletada, através do septo, uma alíquota de 0,5 mL de gás do interior dos frascos, utilizando-se uma seringa modelo Gastight, marca Hamilton. As amostras coletadas foram injetadas em cromatógrafo a gás (Thermo mod. Trace GC Ultra), com detector de ionização de chama (FID) e coluna “Propak N”. O gás de arraste foi o hidrogênio, a um fluxo de 30 mL/minuto. As temperaturas mantidas no aparelho foram de 100ºC para a coluna, 140ºC no injetor, 180ºC no detector e 350oC no metanador. Os resultados foram expressos em μL C2H4 kg-1 h-1; b) Atividade respiratória: foram utilizados os mesmos procedimentos adotados para a determinação de etileno. As temperaturas mantidas no aparelho foram 100ºC para a coluna, 100ºC no injetor, 250ºC no detector e 350oC no metanador. Os resultados foram expressos em mL CO2 kg-1 h-1. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste da diferença mínima significativa (p<0,05), em que as diferenças entre dois tratamentos maior que a soma de dois erros padrões foram consideradas significativas (Moretti et al., 2002; Vitti et al., 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que a taxa respiratória, dos tecidos intactos e danificados respondem diferentemente, considerando os valores superiores das taxas observadas em beterrabas minimamente processadas em relação às inteiras (Figura 1). A figura 1 (A e B) indica que a atividade respiratória de beterrabas minimamente processadas é maior que a das raízes inteiras, o que também foi 55 RA Kluge et al. A B 14 12 100 mLCO2 kg-1 h -1 mL CO2 kg-1 h -1 120 80 60 40 20 10 8 6 4 2 0 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 10 1 2 3 4 5 Controle Etileno 6 7 8 9 10 Dias Dias Ácido Salicílico Controle 1-MCP Etileno Ácido Salicílico 1-MCP Figura 1. Atividade respiratória de beterrabas minimamente processadas (A) e inteiras (B) submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores e armazenadas durante 10 dias a 5±1ºC e 85±5% UR. Barras verticais representam o erro padrão da média (n=6) (respiratory activity of minimally processed and whole beet roots submitted to bioregulators treatments and stored at 5±1ºC and 85±5% HR. Vertical bars show the average standard error (n=6)). ESALQ, Piracicaba, 2008. A B 0,25 0,8 μL C2H4 kg-1 h -1 μL C2H4 kg-1 h -1 1 0,6 0,4 0,2 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 Controle Etileno 5 6 7 8 9 10 Dias Dias Ácido Salicílico 1-MCP Controle Etileno Ácido Salicílico 1-MCP Figura 2. Produção de etileno de beterrabas minimamente processadas (A) e inteiras (B) submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores e armazenadas durante 10 dias a 5±1ºC e 85±5% UR. Barras verticais representam o erro padrão da média (n=6) (ethylene synthesis of minimally processed and whole beet roots submitted to bioregulators treatments and stored at 5±1ºC and 85±5% HR. Vertical bars show the average standard error (n=6)). ESALQ, Piracicaba, 2008. observado por Osório & Chaves (1998) e Vitti et al. (2004). Estes resultados podem ser explicados pela maior exposição dos tecidos cortados ao ambiente, que o processamento promove. A aplicação de ácido salicílico nas beterrabas minimamente processadas causou redução na atividade respiratória em comparação aos demais tratamentos, cujos resultados apresentaram uma tendência de aumento inicial, até o 5º - 6º dia de armazenamento, seguido de redução (Figura 1A). É possível que o ácido salicílico, cujo pH é 2,5, tenha reduzido o pH citosólico e diminuído o ritmo da glicólise, pois afetou suas enzimas (Taiz & Zeiger, 2009). Vitti (2003a) também observou redução na atividade respiratória de beterrabas minimamente processadas e tratadas com ácido cítrico, aditivo que como o ácido salicílico, é usado como conservante de 56 alimentos. Não foi verificado efeito do ácido salicílico na atividade respiratória de beterrabas inteiras, o que evidenciou o efeito do 1-MCP na diminuição da respiração (Figura 1B), o que também foi indicado no produto minimamente processado (Figura 1A). Vilas-Boas & Kader (2006) estudaram a taxa respiratória de bananas minimamente processadas armazenadas a 10ºC e observaram que a taxa respiratória sofreu decréscimo de 40% quando tratado com 1 µL L-1 de 1-MCP, em relação às bananas minimamente processadas sem aplicação de 1-MCP (controle); resultados similares foram obtidos por Arias et al., (2009) com peras minimamente processadas e armazenadas a 0-1ºC por 3 meses. Em contrapartida, Aguayo et al. (2006), acharam uma elevação significativa da taxa respiratória de morangos ‘Camarosa’ minimamente processados e tratados com 1-MCP até o 6 dia de armazenamento a 5ºC; assim como Budu & Joyce (2003) trabalhando com abacaxi minimamente processado e armazenado a 4,5 ºC por 12 dias. Por outro lado, Kim et al. (2007) verificaram que a atividade respiratória de coentro minimamente processado e tratado com 1-MCP e armazenado a 5ºC não apresentou diferenças em relação ao tratamento controle (sem aplicação de 1-MCP), do mesmo modo Saftner et al. (2007), em pesquisa com melão minimamente processado e armazenado a 5ºC por 6 dias não acharam diferenças entre os tratamentos com 1-MCP e o tratamento controle. Nas beterrabas minimamente processadas e inteiras houve produção de etileno apenas no primeiro dia de armazenamento, caracterizado por um Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores pico. Ele foi mais marcante nas beterrabas inteiras tratadas com etileno, que no primeiro dia de armazenamento levou a valores de produção de etileno duas vezes maiores que os dos demais tratamentos (Figuras 2A e 2B). Kim et al. (2007) observaram acréscimos significativos na produção de etileno de coentro minimamente processado e tratado com 1-MCP ao respeito do tratamento controle (sem aplicação de 1-MCP), armazenado a 5ºC por 7 dias. Vilas-Boas & Kader (2006) trabalhando com bananas minimamente processadas, tratadas ou não com 1-MCP e armazenadas a 10ºC por 3 dias, não encontraram diferenças significativas na produção de etileno entre os tratamentos controle (sem aplicação de 1-MCP) e os tratamentos submetidos a 1-MCP. Já decréscimos na produção de etileno, foram obtidos por Aguayo et al. (2006), trabalhando com morangos ‘Camarosa’ minimamente processado tratados com 1-MCP e armazenados a 5ºC por 12 dias; e por Arias et al. (2009) em peras minimamente processadas tratadas com 1-MCP e armazenadas a 0-1ºC por 3 meses. Tecidos estressados ou danificados geralmente respondem por meio da biossíntese de etileno e aumentos na taxa respiratória (Purvis, 1997), como forma de regularizar o metabolismo e/ou ativar vias para a produção de metabólitos cicatrizantes (Saltveit, 2003). O etileno só foi detectado nas beterrabas inteiras tratadas com etileno, porém em beterrabas minimamente processadas foi possível verificar esta produção de etileno, conforme relatado por Vitti (2003b). Vitti et al. (2004) observaram produção de etileno, mas esta produção, nas primeiras horas após o fatiamento, atingiu valores de 0,9 µL kg-1 h-1 , com pouca variação ao longo do armazenamento, a 5ºC e 85% UR, por 10 dias. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa de mestrado (proc. no 2006/01881-7), Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 do segundo autor; e pelo auxílio financeiro (proc. no 2005/01863-6). REFERÊNCIAS A G U AY O E ; J A N J A S I T H O R N R ; KADER AA. 2006. Combined effects of 1-Methylcyclopropene, calcium chloride dip, and/or atmosphere modification on quality changes of fresh-cut strawberries. Postharvest Biology and Technology 40: 269-278. ARIAS E; LÓPEZ-BUESA P; ORIA R. 2009. 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Postal 28, 13400-970 Piracicaba-SP; 3IAC, Pós-graduação, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; 4 APTA-Inst. Zootecnia, 13460-000 Nova Odessa-SP; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 1 ABSTRACT RESUMO The performance of lettuce in sole and intercropped with green manures was assessed under different establishment times. The lettuce fresh and dry weight, number of leaves per plant, diameter and length of head, and fresh and dry weight of green manure were evaluated. The intercropping design was additive and both cash and cover crops were planted in rows. The experimental design was of randomized complete blocks in split plot scheme, with six replicates. The plots represented the green manure sowing days (0, 20, 40 and 60 before transplanting of lettuce), and the sub-plots were assigned by cropping systems (lettuce in sole crop and intercropped with black oat, cowpea or white lupin). Simultaneous planting in the intercropping did not affect the lettuce performance. However, when the green manures were sown before lettuce, they influenced it in a negative way. Among the green manures, cowpea increased biomass and had a higher negative effect on lettuce performance compared to white lupin, which appeared to produce less competition. The sole crop and the intercropping with simultaneous planting of the green manures resulted in a better lettuce performance. Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes Keywords: Avena strigosa, Lactuca sativa, Lupinus albus, Vigna unguiculata, polycultures. Palavras-chave: Avena strigosa, Lactuca sativa, Lupinus albus, Vigna unguiculata, policultivos. Foi avaliado o efeito de adubos verdes semeados em diferentes épocas, sobre o desempenho da alface consorciada. Avaliou-se os pesos fresco e seco, número de folhas por planta, diâmetro e comprimento da cabeça da alface. Dos adubos verdes avaliaram-se o peso fresco e seco. O consórcio foi implantado em esquema aditivo e tanto alface quanto os adubos verdes foram plantados em linha. Utilizouse delineamento experimental de blocos ao acaso, com parcelas subdivididas e seis repetições. As parcelas foram representadas pelo tempo de semeadura dos adubos verdes em relação ao transplante da alface (0, 20, 40 e 60 dias) e as subparcelas foram representadas pelos sistemas de cultivo (alface solteira, e alface consorciada com aveia-preta, caupi ou tremoço-branco). O plantio simultâneo não influenciou o desempenho da alface. No entanto, quando os adubos verdes foram semeados antes do estabelecimento do consórcio, estes influenciaram negativamente o desempenho da hortaliça. Entre os adubos verdes, o caupi teve maior biomassa e maior efeito negativo no desempenho da alface do que o tremoço-branco que se mostrou menos competidor. O cultivo solteiro e o cultivo consorciado com plantio simultâneo dos adubos verdes resulta em melhor desempenho da alface. (Recebido para publicação em 29 de janeiro de 2008; aceito em 4 de janeiro de 2010) (Received on January 29, 2008; accepted on January 4, 2010) L ettuce cultivation is often intensive and made by small farmers (Costa & Sala, 2005). To maintain and improve the system’s fertility at a low price, low energy cost and high resource use efficiency is a difficult task for agroecological farmers. The use of green manures is an alternative, though this technique normally implies cultivating a non-cash crop during part of the season. In this context, the intercropping of green manures with the cash crop should be an alternative. White lupin (Lupinus albus) and black oat (Avena strigosa) are successfully cultivated in Southern 58 Brazil as green manures, cover crops and forage (Costa et al., 1992). Cowpea (Vigna unguiculata) is commonly cultivated as a crop and vegetable in Northeastern Brazil and often cultivated in intercropping in Africa (Fery, 2002). Therefore, the potentialities of intercropping and green manuring together should include benefits from both practices, such as, improve the use of resources (water, land and nutrients); increase soil fertility; transfer of nutrients; soil protection; weed and pest control; biodiversity enhancement, and others (Costa et al., 1992; Liebman & Dyck, 1993; Trenbath, 1993; Mitchell et al., 2002; Oliveira et al., 2005; Salgado et al., 2006). Some authors have been reporting the success of intercropping lettuce with other vegetables, such as carrot and peruvian carrot (Negreiros et al., 2002; Vieira et al., 2003). However, intercropping systems can pose serious challenges, such as competition, mainly for light, with negative effects on performance and morphological development of the dominated crop (Cecílio Filho & May, 2002; Oliveira et al., 2005; Santos et al., 2002; Rezende et al., 2005a). According to Wilson (1988), the advantage of intercropping Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes depends on the extent to which species do not compete with one another, and plants grown together frequently do compete, primarily for solar radiation. In terms of competition, besides species, varieties, planting time, planting density, planting date and spatial arrangement of the intercropped system also play an important role. Intercropping systems involving vegetable crops and green manures are relatively uninvestigated, so limited information about this technique is available. Thus, the goal of this study was to evaluate the agronomic performance of lettuce intercropped with three different green manure species (black oat, cowpea and white lupin) in four different sowing times. MATERIAL AND METHODS The experiment was carried out at the “Polo Regional Centro Sul” from the “Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)” in Piracicaba, São Paulo State, Brazil (22°42’S, 47°38’W; altitude 560 m above sea level) between July and November 2005. The soil on the site is classified as a Pauleudalf, with the following chemical characteristics (0-20 cm): medium pH (5.35); low Al+3 (0.0 mmolc dm-3); high in organic matter (34.75 g dm-3), medium in K (5.5 mmolc dm-3); medium in P (25.50 mg dm-3); high SB (85.8); high in Ca (55.25 mmolc dm-3); high in Mg (25.0 mmolc dm-3); low in S (3.75 mmolc dm-3); medium in Cu (4.5 mg dm-3); medium in B (0.42 mg dm-3); high in Fe (51.0 mg dm-3); high in Zn (3.1 mg dm-3); and high in Mn (45.0 mg dm-3). Total rainfall during the experimental period was 436 mm and temperature ranged from minimum 11.4°C to maximum 30.4°C. The species used in the study were lettuce (Lactuca sativa) cv. PiraRoxa, black oat (Avena strigosa), cowpea (Vigna unguiculata) cv. IPA-206 and white lupin (Lupinus albus). The experimental design was randomized complete blocks in split plot scheme, with six replicates, where plots represented the green manures sowing days (0, 20, 40 and 60 before transplanting of lettuce), and the sub-plots, which Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 measured 1.80 x 1.2 m, were represented by the cropping systems (lettuce in sole crop and intercropped with black oat, cowpea or white lupin). Field plots were established on July 22, 2005, when the first green manures were sown (60 days before lettuce transplanting). Lettuce seedlings were sown in polyethylene trays and after 28 days transplanted to the field plots. Lettuce was planted with a spacing of 0.30 x 0.30 m and the green manures were sown in rows spaced 0.30 m of each other with sowing densities of 68 seeds m-1 for black oat (1.5 cm apart), 15 seeds m-1 for cowpea (6.6 cm apart) and 15 seeds m-1 for white lupin (6.6 cm apart). The intercroppings were planted with lettuce in alternate rows between the green manures. Sowing densities were 68 seeds m-1 for black oat (1.5 cm apart), 15 seeds m-1 for cowpea (6.6 cm apart) and 15 seeds m-1 for white lupin (6.6 cm apart) and the rows were also spaced in 0.30 m. To avoid shading of lettuce plants and consequently sunlight competition, which according to Portes (1984) is the main biotic factor in intercropping systems, the green manures were periodically moved at 0.20 m above soil. The moved fresh mass was weighed and 10% of this material was dried in a forced-air oven at 65°C for 72 h for dry weight determination. The remaining fresh mass was laid on the soil surface as mulching. The only green manure plots that were moved before the lettuce transplanting were the 60 DBT treatments (sown 60 days before), to avoid excessive shading of the vegetable seedlings by the green manure’s huge amount of biomass. Automatic drip irrigation was used twice a day before the lettuce transplant (for irrigating the 20, 40 and 60 DBT treatments) and three times a day after the transplant for the rest of the growth cycle. The experimental area was weeded periodically. There was no other fertilizer application besides the green manures mulching. Lettuce plants were harvested 49 days after transplanting at September 2005. Four central lettuce plants were harvested per plot. The measured parameters were fresh weight, dry weight, number of leaves per plant, diameter and height of head. Of the four lettuce plants harvested, two of them were dried in a forced-air oven at 65°C for 72 h for dry weight determination. The parameters measured in green manures were fresh and dry weight (this measurement was done after each moving). Statistical analyses were performed using “Sanest” (Zonta et al., 1986) and treatment means were compared by Tukey test (p<0.05). Response curves were fitted to the parameters in function of the green manures sowing dates. RESULTS AND DISCUSSION The fresh and dry mass of the aboveground portion of green manures varied significantly among species. Cowpea produced a significantly higher fresh and dry mass than black oat and white lupin. The fresh and dry weight of green manures species changed significantly depending on the intercropping planting time. A quadratic effect was observed (p>0.01) of black oat on fresh weight (Ŷ = 9.53 + 1.6056x - 0.016023x²; R² = 1.00). There was a linear effect (p<0.01) of white lupin sowing dates on fresh weight (Ŷ = 14.29 + 0.7962x; R² = 0.95) and cowpea (Ŷ = 32.86 + 1.1516x; R² = 0.97). There was a quadratic effect (p<0.05) of black oat on dry mass (Ŷ = 5.43 + 0.4072x 0.002587x²[; R² = 0.99), sowing time with the maximum estimated at 79 DBT. A linear effect was observed (p<0.01) (Ŷ = 5.30 + 0.2823x; R² = 0.95) of white lupin and (Ŷ = 11.68 + 0.3991x; R² = 0.97), of cowpea. These green manures biomass influenced the lettuce fresh yield which varied according to the associated green manure and its sowing time (Table 1). Under simultaneous intercropping planting the average fresh weight of lettuce head was 182.98 g, which suggests that the competition between the component crops was not evident or was rather very weak because there was no difference between the sole crop and the intercroppings. However, when planting was not done simultaneously the intercropped lettuce reached a lower fresh yield compared to the sole 59 ACA Negrini et al. Table 1. Lettuce fresh and dry weight in sole crop and intercropped with green manures (peso fresco e seco de alface em cultivo solteiro e consorciada com adubos verdes). Piracicaba, ESALQ, 2005. Days before transplant (DBT)a 0 20 40 60 Mean CV%(a) CV%(b) F1 Linear effect Quadratic effect Cubic effect Lettuce sole crop 194.51 a 216.87 a 209.66 a 222.54 a 210.89 16.70 17.96 ns ns ns Lettuce and Lettuce and black oat white lupin fresh weight (g plant-1) 199.59 a 139.87 b 106.67 c 164.12 b 152.55 ns * ns 180.15 a 161.95 b 164.17 b 149.62 b 163.97 Lettuce and cowpea 157.76 a 137.31 b 92.96 c 148.03 b 134.01 ns ns ns Mean 182.98 164.00 143.37 171.08 ns ns ns dry weight (g plant-1) 0 20 40 60 Mean CV%(a) CV%(b) F1 Linear effect Quadratic effect Cubic effect 12.49 11.78 11.29 12.87 12.11 a 11.64 16.30 ------ns 10.54 7.92 6.68 8.33 8.37 bc 10.03 9.29 9.13 8.72 9.29 b ------ns ------ns 8.72 7.50 5.36 8.36 7.48 c 10.45 9.12 8.11 9.57 ns ** ns Means followed by the same letters in rows are not significantly different (p>0.05) by Tukey test; ¹F* = (p<0.05); ** = (p<0.01); ns= not significant (p>0.05); aSowing days of green manures before lettuce transplanting (médias seguidas de mesmas letras minusculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05); ¹F* = (p≤ 0,05); ** = (p≤0,01); ns = não significativo; aNúmero de dias de semeadura dos adubos verdes antes do transplante das alfaces). vegetables. Under 20 and 60 DBT there were no significant differences in lettuce fresh weight between the different species of green manures. However, in the 40 DBT treatment, the different green manures species had different effects in the main crop. The lettuce plants intercropped with white lupin had a smaller decrease of fresh mass (26%) compared to the ones intercropped with cowpea (58%) and black oat (42%). These results are consistent with a similar study made by Hussain (2003) who reported that lettuce intercropped with peas had a 68.4% yield loss compared to the single crop. According to Muller-Sumann (1994), yield decreases are expected when green manures are intercropped with the food crop. 60 Lettuce fresh weight showed a quadratic response (p<0.05) to black oat sowing dates (Ŷ = 202.73 – 5.0882x + 0.073188x²; R² = 0.95), with minimum value of production estimated at 35 DBT. The probable reason for this behavior is that the 40 DBT treatments were the most competitive in the early stages of the lettuce development because its biomass was not moved before the transplant of the vegetable seedlings like in the 60 DBT treatment. Thus, this treatment resulted in more shade and consequently more competition between crops. In terms of dry weight, as well as for fresh weight, the single lettuces performed better (Table 1). Among the green manure treatments were found only differences between lettuce intercropped with white lupin and cowpea, which yielded 77% and 62% of the single ones, respectively. There was a quadratic response (p<0.01) of lettuce dry yield regarding the cowpea sowing dates (Ŷ = 10.55 – 0.1224x + 0.001737x²; R² = 0.92), with the minimum yield estimated at 35 DBT as well, showing a higher level of competition related to the 40 DBT treatment. Cowpea is a fast growing plant and a good competitor as observed by Ofori & Gamedoagbao (2005). In fact, cowpea planting time relative to the associated crop has been reported to be important to cotton, millet, cassava and scarlet eggplant (Ofori & Gamedoagbao, 2005). As observed in the present experiment, Sudo et al. (1997) found that there was no yield penalty when lettuce was Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes Table 2. Number of leaves per plant, diameter and length of lettuce head in sole crop and intercropped with green manures (número de folhas por planta, diâmetro e comprimento da cabeça de alface em cultivo solteiro e consorciada com adubos verdes). Piracicaba, ESALQ, 2005. Days before transplant (DBT)a Lettuce sole crop 0 20 40 60 Mean 27.83 a 27.58 a 28.21 a 29.04 a 28.17 8.07 9.28 CV%(a) CV%(b) F1 Linear effect Quadratic effect Cubic effect ns ns ns Lettuce and Lettuce and Lettuce and black oat white lupin cowpea number of leaves per plant 28.29 a 21.21 bc 18.32 c 23.17 b 22.75 * ** ns 26.00 ab 23.25 b 22.92 b 22.75 b 23.73 23.62 b 19.21 c 16.83 c 20.67 b 20.08 ns ns ns Mean 26.44 22.81 21.57 23.91 ns * ns diameter of head (cm) 0 20 40 60 Mean CV% (a) CV% (b) F1 Linear effect Quadratic effect Cubic effect 24.77 a 26.64 a 25.48 a 25.43 a 25.58 4.68 6.83 24.95 a 24.58 ab 24.77 ab 25.12 a 24.33 ns ns ns ns ns ns 0 20 40 60 Mean CV%(a) CV%(b) F1 Linear Effect Quadratic Effect Cubic Effect 18.29 ab 18.77 a 18.25 a 18.89 a 18.55 6.23 5.60 ns ns ns 19.33 a 17.12 b 16.21 bc 18.17 ab 17.71 ns * ns 26.06 a 24.27 ab 22.64 bc 24.25 a 24.84 25.02 a 24.10 b 21.82 c 24.91 a 23.96 ns ns ns length of head (cm) 19.00 ab 17.14 b 16.98 ab 17.56 ab 17.67 ns ns ns 25.20 24.90 23.68 24.93 ns * ns 17.60 b 16.79 b 14.96 c 16.87 b 16.55 18.55 17.46 16.60 17.87 ns ns ns Means followed by the same letters in rows are not significantly different (p>0.05) by Tukey test; ¹F* = (p<0.05); ** = (p<0.01); ns = not significant (p>0.05); aSowing days of green manures before lettuce transplanting (médias seguidas de mesmas letras nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05); ¹F* = (p≤0,05); ** = (p≤0,01); ns= não significativo; aDias de semeadura dos adubos verdes antes do transplante das alfaces). intercropped with carrot in simultaneous planting. These intercropping schemes are probably successful due to the canopy height and accumulated biomass of the green manures, which were not Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 enough to offer competition to the vegetable crops. The establishment time of the intercropping has been shown to influence the companion crops performance (Cecílio Filho et al., 2008; Rezende et al., 2005a). In a tomato/lettuce intercropping at different transplanting dates, when lettuce transplanting was late, both fresh and dry mass and also the number of leaves 61 ACA Negrini et al. were lower due to light competition between the companion crops. Paula (2005) reported the same result for an onion/lettuce intercropping. The number of leaves decreased even at simultaneous planting in the intercropping with cowpea (Table 2). For the other sowing times (20, 40 and 60 DBT) the sole crop resulted in greater number of lettuce leaves compared to all intercropping treatments. The number of leaves goes along with lettuce development, thus observing the lettuce fresh weight at simultaneous planting (0 DBT treatment) (Table 1), even though the results are statistically similar, the yield under cowpea influence was lower. Thus a plausible reason for the lower number of leaves in lettuce intercropped with cowpea even at simultaneous sowing, is the competition effect due to the green manure biomass that probably caused shade and competed for light. There was a quadratic effect (p<0.01) of black oat sowing time on lettuce number of leaves (Ŷ = 28.47 – 0.5381x + 0.007447x²; R² = 0.99) with minimum number of leaves production estimated when black oat was sown at 36 DBT of lettuce, and for cowpea (p<0.05) (Ŷ = 23.83 – 0.3656x + 0.005156x²; R² = 0.96) the minimum was estimated in 35 DBT. This quadratic effect indicates that the 40 DBT treatment posed the greatest level of competition among plants, with consequent shading of lettuce that resulted in a decrease in the number of leaves. This effect tended to decrease as the green manures sowing time changed to 0, 20 and 60 DBT, resulting in a higher number of leaves per head of lettuce. According to Sala & Costa (2005), lettuce cv. PiraRoxa has around 28 leaves at the harvest time, which is supposed to occur between 35 and 45 days after transplanting. At the harvest time of this experiment, only the single lettuces had reached an average of 28.17 leaves per head (Table 2). Thus it is possible to deduce that lettuce plants suffered an extension of their cropping cycles due to an intercropping competition effect, with exception of the simultaneous planting with black oat and white lupin. The intercroppings established at 0 62 and 60 DBT did not affect the diameter of head (Table 2). However, the lettuces intercropped with cowpea presented 90% of the diameter of the sole crop in the 20 DBT treatment and 89 and 86%, respectively to white lupin and cowpea in the 40 DBT treatment. There was a quadratic effect (p<0.05) of cowpea sowing dates on lettuce diameter (Ŷ = 25.35 – 0.1631x + 0.002503x²; R² = 0.65) (Table 2) with the minimum diameter of head estimated at 33 DBT. In close agreement with this study, Cecílio Filho et al. (2008) and Negreiros et al. (2002) observed that in a lettuce/ tomato and lettuce/carrot intercropping there was a diameter decrease and fewer leaves compared to the sole lettuce cultivation due to sunlight competition imposed by the companion plants. Rezende et al. (2006) also found that the companion species interfere differently in the number of leaves and diameter reached by lettuce. In their case, cabbage influenced negatively and rocket did not. The length of lettuce head in response to intercropped green manures species changed significantly depending on the intercropping planting time (Table 2). A quadratic effect was observed (p<0.05) (Ŷ = 19.14 – 0.1785x + 0.002610x²; R² = 0.98), of black oat sowing time with the minimum length of lettuce heads estimated at 35 DBT. In accordance with this, Cecílio Filho & May (2002) reported that there was a reduction in radish plants height when intercropped with lettuce. On the other hand, in the present experiment lettuce was dominated by the green manures, having its morphological characteristics depreciated. White lupin is an erect plant and offers much less competition to a companion crop than black oat and cowpea cv. IPA 206 (which is prostrated) because there is more sunlight penetration through its branches. Plant architecture is an important consideration to maximize sunlight utilization in intercropping. In this way, the results obtained for lettuce/ white lupin intercropping agree with a previous experiment done by Ofori & Gamedoagbao (2005), who tested an erect and a semi-spreading variety of cowpea in intercropping with scarlet eggplant. Similar to the present study, the authors found that the erect green manure offered less competition to the vegetable, which obtained a better performance. There were neither nutritional deficiency nor drought stress symptoms on the lettuce plants under the different treatments, thus it is assumed that the main source of competition was sunlight. In fact, cv. PiraRoxa depends on light to develop its hallmark purple color and, once it grows under shade, it tends to present greenish leaf coloration. The lettuces under intense intercropping competition in this study showed greenish leaves due to lack of sunlight. However, within 3 days of moving the green manures with the consequent decrease of shade, the leaves of lettuce reverted to its characteristic purple. In this intercropping system, except for the simultaneous planting, for most analyzed parameters the growing cycle overlapped, causing competition between crops and domination of lettuce by the green manures, which are taller and, consequently, intercept more sunlight. In this way, under the conditions of this experiment, a better performance of lettuce would be obtained under sole cultivation or under intercropping with simultaneous planting of the main crop and the green manures. ACKNOWLEDGEMENTS To C a p e s ( C o o r d e n a ç ã o d e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) for financial support and Dr. Tony Fischer and Agustín Zsögön for useful comments on the draft manuscript. REFERENCES BARROS JUNIOR AP; BEZERRA NETO F; NEGREIROS MZ; OLIVEIRA EQ; SILVEIRA LM; CÂMARA MJT. 2005. 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O trabalho desenvolvido no Laboratório de Biotecnologia Vegetal da UPF-FAMV teve por objetivo avaliar a germinação in vitro de sementes de alcachofra cv. Nobre, em três experimentos, testando concentrações de cloro ativo na assepsia das sementes; tratamentos do tegumento (mantido intacto, com cortes laterais ou eliminação); condições de luminosidade (claro ou escuro); e dois meios de cultura [meio MS, com concentração de sais reduzida à metade (M1) e meio MS completo(M2)]. Em ambos foram adicionados 30 g L-1 de sacarose e 7 g L-1 de ágar, sendo o pH ajustado para 5,6 ± 0,1 com NaOH. Os cultivos foram realizados em câmara de crescimento. A obtenção de plântulas sadias de alcachofra em curto espaço de tempo (sete dias), para utilização como fonte de explantes é viável a partir da germinação in vitro de sementes sem o tegumento (77,5% de germinação), utilizando os meios de cultura M1 ou M2 e câmara de crescimento desprovida de luz. Nestas condições, a assepsia das sementes pode ser realizada com álcool 70% por 30 min e posterior imersão em solução contendo 2% de cloro ativo por dez minutos, antes da remoção do tegumento. Low multiplication rates and high contamination in the explants are some of the difficulties in artichoke micropropagation. In vitro seed germination may be an alternative to obtain healthy explants for use in future in vitro cultivation. This project developed at the laboratory of Universidade de Passo Fundo was established to evaluate cv. ‘Nobre’ artichoke seeds in vitro germination. In three experiments, active chloride concentrations on seed aseptic technique; tegument treatment (kept intact, with side cuts and elimination); lighting conditions (light or dark); and two cultivation media [MS medium, with salts concentration reduced by half (M1) and MS medium, full strenger (M2)] have been tested. In both cases, 30 g L-1 sucrose and 7 g L-1 agar were added, with pH adjusted to 5.6 with NaOH. Cultivation took place in a growth chamber. It is viable to obtain healthy artichoke plantlets in short time (seven days), to be used as a source of explants from in vitro seed germination without the tegument (77,5% of germination), using the M1 or M2 culture medium and growth chamber without light. In these conditions, the asepsis of seeds can be done with alcohol 70% during 30 minutes and the subsequent immersion in solution of 2% of active chlorine during 10 minutes, before the removal of the tegument. Palavras-chave: [Cynara cardunculus L. subsp. scolymus (L.) Fiori], meio de cultura, explante, cultivo in vitro. Keywords: [Cynara cardunculus L. subsp. scolymus (L.) Fiori], culture medium, explant, in vitro culture. (Recebido para publicação em 27 de março de 2009; aceito em 1 de fevereiro de 2010) (Received on March 27, 2009; accepted on February 1, 2010) A alcachofra (Cynara cardunculus L. subsp. scolymus (L.) Fiori), pertencente à família Asteraceae (Robles, 2001), é uma planta herbácea típica da bacia do Mediterrâneo (Barba et al., 2004). As inflorescências (capítulos) são muito apreciadas para o consumo in natura ou industrializado (Narváez, 2002). A demanda como planta medicinal tem aumentado durante as últimas décadas devido à grande aceitação de suas folhas e inflorescências para o tratamento de várias doenças e enfermidades (Eich et al., 2005). A alcachofra também é utilizada como planta ornamental, em hortas e jardins, devido às belas inflorescências e às folhas grandes e brilhantes. Em 1994, na região norte do Rio 64 Grande do Sul, a Cooperativa Tritícola de Erechim (Cotrel, 2005), em um convênio com a Itália, introduziu a cultura da alcachofra, criando um programa de produção entre seus associados, com a finalidade de industrializar o produto e oferecer fonte de renda alternativa para os pequenos produtores (Donida, 2004). A partir do material introduzido da Itália foram selecionados exemplares que apresentavam características adequadas para a indústria. Desta seleção surgiu a cultivar Nobre, que é hoje cultivada exclusivamente na Região do Alto Uruguai do RS, para fabricação de conservas. Esta cultivar possui como características o capítulo alongado, com brácteas compactas e de coloração interna branca, características exigidas pela indústria de conservas. Alguns problemas entretanto têm impedido a maior expansão da cultura no RS, como por exemplo a produção de mudas para a distribuição aos produtores. A partir de sementes, os materiais oriundos da Itália apresentaram boa adaptação local, com elevada produtividade. No entanto, o grau de segregação se mostrou elevado, com a produção de capítulos que não serviam para a indústria de conservas, devido ao padrão desuniforme de coloração e tamanho, não atendendo às exigências do mercado consumidor. Outro entrave tem sido o baixo índice de pega das mudas, devido aos solos da região muito argilosos e à Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Germinação in vitro de sementes de alcachofra suscetibilidade da cultura à bactéria do gênero Erwinia, muito comum nos solos da região de cultivo. A propagação da alcachofra por sementes apresenta algumas vantagens, tais como possibilidade da semeadura mecânica, reduzindo custos de mãode-obra, e rotação com outras espécies, para o controle de moléstias e nematóides (Basnizki & Zohary, 1987). Outro aspecto importante é a prevenção de viroses, que não são transmitidas através da semente (Basnizki & Zohary, 1987; Camargo, 1992). No entanto, as cultivares de alcachofra são altamente heterozigotas, uma vez que a cultura é alógama (polinização cruzada), segregando quando propagadas por semente, originando progênies com elevada variabilidade morfológica (Robles, 2001), inclusive plantas com espinhos, produtoras de capítulos não comestíveis, semelhantes ao cardo (Cynara cardunculus L.) (Camargo, 1992). Apesar disso, vem sendo observada uma tendência do melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares anuais, que se reproduzem por sementes, com certo grau de uniformidade e geração de poucos rebentos (Robles, 2001). O processo de propagação vegetativa por rebentos é utilizado por acelerar o início da colheita e reproduzir com segurança as características da planta matriz (Robles, 2001). Entretanto, é necessário ter alguns cuidados ao adquirir as mudas, pois podem ocorrer problemas com a disseminação de pragas, bacterioses e fungos (Isechi et al., 1998). A micropropagação é uma técnica alternativa de propagação assexuada, que apresenta a vantagem de reduzir a disseminação de doenças e a segregação genética. Estudando a micropropagação da alcachofra a partir de ápices vegetativos, Cadinu et al. (2003) obtiveram 50% de plantas isentas de vírus no meio MS. O sucesso da micropropagação pode estar na dependência de fatores genéticos, fisiológicos ou ambientais, podendo ser encontrada grande variabilidade nas respostas in vitro, levando à necessidade de se definirem protocolos diferenciados (Grattapaglia & Machado, 1998). Especificamente na micropropagação da alcachofra têm sido encontradas Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 dificuldades como a baixa taxa de multiplicação in vitro e alta de contaminação dos explantes. Augustin et al. (2006) avaliaram a taxa de multiplicação de ápices caulinares da alcachofra cv. Nobre em três meios de cultura e o desenvolvimento das plântulas durante cinco subcultivos. Concluíram que a taxa de multiplicação é baixa, independente do meio de cultura, sendo a maior taxa obtida de 2,68 brotos por plântula. Durante a micropropagação é comum ocorrerem perdas significativas devido à contaminação por microrganismos presentes na superfície dos explantes ou, endofíticos, principalmente fungos e bactérias. A ocorrência de contaminações é mais freqüente quando se realiza a micropropagação de espécies lenhosas, ou quando a assepsia é difícil de ser executada, devido às características do explante, ou por este estar localizado em regiões da planta matriz próximas do solo (Suzin, 2004), como no caso da alcachofra (Mauromicale, 1984). A germinação de sementes de alcachofra in vitro pode ser uma alternativa para a obtenção de explantes livres de infestações para serem utilizados no processo de micropropagação. O processo de germinação de sementes in vitro visando a produção de mudas tem sido utilizado em outras espécies, como, em aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All.) (Andrade et al., 2000), em mangabeira (Hancornia speciosa Gomez) (Pinheiro et al., 2001), em orquídeas (Bach & Castro, 2004; Castro & Bach, 2007), em fisalis (Physalis peruviana L.) (Chaves et al., 2005), em jacarandá (Jacaranda ulei Bureau e K. Schum) (Noleto et al., 2003), em pessegueiro (Prunus persica) (Barbosa et al., 1985) e em bromélia (Vriesea simplex) (Bromeliaceae) (Castro et al., 2007). O trabalho objetivou avaliar a germinação de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura, submetidas a diferentes processos de assepsia, tratamentos do tegumento e influência da presença e ausência de luz. MATERIAL E MÉTODOS No período de outubro de 2006 a fevereiro de 2007 foram realizados três experimentos no Laboratório de Biotecnologia Vegetal da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), da Universidade de Passo Fundo (UPF), em Passo Fundo-RS. Selecionou-se sementes de alcachofra, cv. Nobre, uniformes e sem deformidades (com maior tamanho e melhor aparência). As mesmas foram tratadas com o fungicida Thiram 480 TS® (ingrediente ativo Tiram 280 mL i.a. por 100 kg de semente) e lavadas três vezes com água destilada e autoclavada para retirada do excesso de fungicida e impurezas mais grosseiras. Em câmara de fluxo laminar, utilizando pinças, placas de Petri e frascos de vidro previamente esterilizados, foi realizada a assepsia das sementes com álcool 70% por 30 minutos e hipoclorito de sódio com concentrações variando conforme o experimento, sendo em seguida lavadas três vezes com água destilada e autoclavada. Antes dos tratamentos no tegumento e da semeadura, as sementes foram mantidas imersas por 24 ou 48 h, conforme o experimento, em água também destilada e autoclavada, num volume de 1 L para cada 100 sementes, em beakers fechados com papel alumínio e mantidos em câmara de fluxo laminar no escuro. Passado o período de imersão, as sementes foram lavadas por mais três vezes antes de serem submetidas aos respectivos tratamentos. Para a semeadura foram utilizados frascos de vidro de 250 mL, onde foi vertido cerca de 30 mL de meio de cultura (2 cm). Em cada frasco foram colocadas 6 sementes. Os meios de cultura utilizados para a semeadura foram: meio MS (Murashige & Skoog, 1962) com concentração de sais reduzida à metade (M1); e meio MS completo (M2). Em ambos adicionou-se 30 g L-1 de sacarose e 7 g L-1 de ágar, sendo o pH ajustado para 5,6±0,1 com NaOH. O cultivo in vitro das sementes foi realizado, em todos os experimentos, em câmara de crescimento com temperatura de 25±2ºC. Quando na presença de luz, o fotoperíodo mantido foi de 16 horas de luz e radiação de 36 µmol m-2 s-1. Experimento 1 - foi testada a germinação das sementes de alcachofra com luz e no escuro, em dois meios de cultura (M1 e M2), comparando ainda, o efeito 65 CF Moraes et al. da realização ou não de um corte longitudinal em cada lateral do tegumento das sementes. A assepsia das sementes foi realizada com álcool 70% por 30 min + hipoclorito de sódio (8,3% de cloro ativo com pH ajustado para 6,0) por dez minutos. Após a imersão em água por 24 horas, conforme descrito anteriormente, foram realizados os cortes laterais do tegumento. Os frascos com as sementes foram mantidos em câmara de crescimento, sendo parte deles mantidos sob luz (no claro) e outra no escuro. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados em parcelas subdivididas, com a presença/ausência de luz constituindo as parcelas principais e, nas subparcelas, sendo alocados os fatores meios de cultura x tratamento do tegumento, com cinco repetições e seis sementes por subparcela. Após 30 dias da semeadura foram avaliadas as sementes com rompimento do tegumento (%), com emissão de cotilédones, com emissão da radícula e de sementes contaminadas. Por não apresentar variabilidade entre os tratamentos, os dados de emissão de cotilédones e de radícula não foram submetidos à análise estatística. As demais variáveis foram submetidas à análise de variância, e as diferenças entre médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância. Para efeito de análise estatística os dados foram transformados em arco seno [raiz (x/100)]. O programa estatístico Estat (Unesp-Jaboticabal) foi utilizado na análise deste e dos demais experimentos. Experimento 2 - as sementes também foram semeadas em dois meios de cultura (M1 e M2), com e sem corte lateral do tegumento e imersão em água por 24 horas antes do corte lateral e da semeadura. Porém, a assepsia das mesmas foi realizada com menor concentração de cloro ativo (álcool 70% por 30 min + hipoclorito de sódio 5,7% de cloro ativo por dez minutos), uma vez que foi cogitada a hipótese de que altas concentrações de hipoclorito poderiam ter efeito tóxico sobre a germinação das sementes in vitro. Outro diferencial neste experimento foi que os frascos com as sementes em meio de cultura foram 66 mantidos em câmara de crescimento apenas no escuro, em razão de que, no experimento 1, foi observada menor oxidação dos cotilédones emitidos quando as sementes foram mantidas nessa condição. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados no esquema fatorial 2 x 2 (sem e com corte do tegumento x meios de cultura M1 e M2), com cinco repetições e seis sementes por parcela. Foram realizadas cinco avaliações (5, 10, 15, 20 e 25 dias após a s e m e a d u r a ) da porcentagem de sementes com rompimento do tegumento e de sementes contaminadas. Os dados foram submetidos, em cada época avaliada, à análise de variância. Para a comparação entre as datas de avaliação, em cada tratamento, foi aplicada a análise de variância da regressão. Experimento 3 - foi estudado o efeito da remoção total do tegumento, comparado com sementes mantidas intactas, em dois meios de cultura (M1 e M2). Com a remoção do tegumento foi possível visualizar e selecionar apenas as sementes sadias. A assepsia das sementes foi realizada antes da remoção do tegumento, em câmara de fluxo laminar, e constituiu-se da imersão das mesmas em álcool 70% por 30 min e, posteriormente, em hipoclorito de sódio (2% de cloro ativo) por dez minutos. O tempo de imersão das sementes em água antes da semeadura foi ampliado de 24 para 48 h para facilitar a retirada do tegumento. As sementes em meio de cultura foram mantidas em câmara de crescimento no escuro. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados no esquema fatorial 2 x 2 (sem e com a retirada do tegumento x meios de cultura M1 e M2), com cinco repetições e 24 sementes por parcela (quatro frascos com seis sementes). Os dados de germinação (%) (emissão de cotilédones + radícula) e de contaminação, aos sete dias após a semeadura, foram submetidos à análise de variância. RESULTADOS E DICUSSÃO Experimento 1 - o meio de cultura e a luz não influenciaram os resultados. As sementes com rompimento do tegumento foram beneficiada, ainda que de forma reduzida (12,5%), apenas pela realização de cortes na lateral do tegumento. Já as sementes intactas (sem cortes) apresentaram apenas 2,5% de rompimento do tegumento. Esses resultados reforçam a teoria de que a presença do tegumento realmente constitui uma barreira física à germinação das sementes. Resultados semelhantes foram observados por Custódio et al. (2002) com urucum (Bixa ollerana L.), em que a estratificação das sementes cortadas na porção distal do tegumento se mostrou eficaz para superar a dormência. Franco & Ferreira (2002) também observaram, na germinação de sementes de caixeta [Didymopanax morototoni (Aubl.) Dcne. et Planch], que a escarificação mecânica do tegumento com lixa ou a realização de cortes no mesmo favoreceu a germinação, provavelmente por tornar o tegumento mais fino, reduzindo o impedimento físico e permitindo a passagem de água até o embrião. Também foi observado que, do total de 240 sementes analisadas, apenas 2,1% apresentaram emissão dos cotilédones e nenhuma apresentou emissão de radícula. Embora vários autores relatem a influência da luz na germinação de sementes, no presente trabalho este efeito não foi verificado. Conforme Bewley & Black (1994), as sementes de muitas espécies são afetadas pela exposição à luz branca por alguns minutos ou segundos, enquanto que outras requerem iluminação intermitente. Também existem os efeitos fotoperiódicos, em que algumas espécies requerem exposições a dias longos e outras a dias curtos. Convém destacar, que o requerimento de luz freqüentemente depende da temperatura. A alface por exemplo, geralmente apresenta dormência no escuro somente acima de 23ºC. Miccolis et al., apud Donida (2004), mencionam que a redução da germinação e morte de plântulas de alcachofra podem ocorrer devido ao baixo vigor das sementes, o que estaria associado a altas temperaturas, além dos danos mecânicos e imaturidade das sementes. A precipitação pluviométrica pode interferir Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Germinação in vitro de sementes de alcachofra Tabela 1. Rompimento do tegumento de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura, com e sem o corte lateral (disruption of artichoke cv. Nobre seed tegument in two culture media with and without lateral cut). Passo Fundo, UPF, 2006. Tratamentos M1 - ½ MS M2 – MS completo Tegumento com cortes Tegumento intacto Média CV (%) 5 16,7ns 11,7 15,0ns 13,4 14,2 101,8 Rompimento do tegumento (%) Dias após a semeadura 10 15 20 ns ns 23,3 25,0 31,7ns 10,0 11,7 16,7 ns ns 20,0 23,4 33,3ns 13,4 13,4 15,0 16,7 18,4 24,2 103,6 96,4 88,6 25 31,7ns 18,3 33,4ns 16,7 25,0 84,4 Ns= não significativo pelo teste F a 5% de significância (not significant for the test F 5% of significance). diretamente na qualidade da semente e na porcentagem de germinação. Assim, não se pode descartar certo comprometimento do vigor das sementes utilizadas no experimento, uma vez provenientes de lavouras de produção, expostas a fatores adversos, como alta temperatura e excesso de chuvas. Quanto às sementes contaminadas, apenas o fator luminosidade afetou esta variável, com maior contaminação no escuro (média de 35%) e menor com luz (7,5%). A luz, quando em grande intensidade, pode ser nociva para os microrganismos, devido à ocorrência da fotoxidação do oxigênio. Nesta reação, pigmentos como clorofila, citocromos e flavinas podem absorver energia luminosa e atuar como fotosensibilizadores excitados, os quais transferem energia para o O2, originando moléculas de 1O2, que são agentes oxidantes que causam a destruição da célula (fotoxidação) e, em conseqüência, a morte dos microrganismos presentes na mesma (Moniz, 2006). Compostos como o peróxido de hidrogênio (H2O2), o superóxido de oxigênio (O2-) e radicais de hidroxila livres (OH-) podem ser produzidos em função de processos oxidativos (mediante a ativação de elétrons), injúrias no tecido vegetal e presença de fatores abióticos (UV, altas temperaturas, poluentes, estresse osmótico e mecânico). Estes podem ter diversas funções na defesa dos tecidos ou plantas a patógenos. Podem agir como agente antifúngico e antimicrobiano (efeito tóxico direto); servir como sinalizadores para a ativação de genes de defesa; e promover a morte celular no tecido infectado (Cursino-Santos et al., 2003; Resende et al., 2003). Embora a permanência das sementes no escuro tenha favorecido o aparecimento de contaminações, o aspecto visual das que apresentaram rompimento Tabela 2. Contaminação de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura, com e sem o corte lateral do tegumento (contamination of artichoke cv. Nobre seeds in two culture media, with and without lateral cut of tegument). Passo Fundo, UPF, 2006. Tratamentos M1 - ½ MS M2 – MS completo Tegumento com cortes Tegumento intacto Média CV (%) 5 5,0ns 10,0 5,0ns 10,0 7,5 153,0 Sementes contaminadas (%) Dias após a semeadura 10 15 20 28,3ns 55,0ns 65,5ns 35,0 60,0 80,0 ns ns 31,7 63,3 80,0ns 31,7 51,7 65,0 31,7 57,5 72,5 80,3 63,5 53,0 25 70,0ns 90,0 80,0ns 80,0 80,0 52,3 ns= não significativo pelo teste F a 5% de significância (not significant for the test F 5% of significance). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 de tegumento e emissão de cotilédones foi satisfatório, ou seja, não apresentavam oxidação. Assim, adotou-se para os demais experimentos a manutenção das sementes no escuro. Experimento 2 - com a concentração de cloro ativo reduzido para 5,7% e semeadura no escuro, não houve efeito, em nenhuma das épocas avaliadas (no decorrer de 25 dias da semeadura), dos dois meios de cultura e dos tratamentos de corte no tegumento (com e sem corte) sobre o rompimento do tegumento e a contaminação das sementes (Tabela 1). A porcentagem de sementes com rompimento do tegumento não foi satisfatória, variando de 14,2%, aos cinco dias após a semeadura, a 25,0%, aos 25 dias. Embora diferenças estatísticas não tenham sido verificadas, foi possível observar uma tendência de melhores resultados no meio M1 e com cortes laterais das sementes. No entanto, a germinação (com emissão de cotilédones + radícula) não foi observada em nenhum dos tratamentos. A análise de regressão demonstrou que, ao longo do período de 25 dias da semeadura, houve aumento linear significativo da porcentagem de tegumentos rompidos quando as sementes tiveram os mesmos submetidos aos cortes e semeadas no meio M2 (Figura 1). Também no meio M1 houve uma tendência de acréscimo de tegumentos rompidos, contudo a análise de regressão não se mostrou significativa. Como foi salientado anteriormente, o baixo índice de germinação das sementes de alcachofra pode estar associado ao tegumento muito duro, difícil de ser removido. A execução de cortes laterais no tegumento provavelmente permite que a água penetre e chegue ao embrião, possibilitando o início do processo germinativo. Contudo, uma vez que não houve a emissão da radícula e dos cotilédones, o processo não foi completo. O índice de contaminação, aos 25 dias, foi bastante elevado (média de 80%), não diferindo, em cada época avaliada, em função do meio de cultura e dos tratamentos de corte no tegumento (Tabela 2). Neste experimento, a contaminação das sementes foi maior do que no experimento 1, possivelmente pela 67 Rompimento do tegumento (%) CF Moraes et al. 25 20 y = 0,354 + 0,866x 15 2 R =0,94 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 Dias após semeadura Figura 1. Rompimento do tegumento de sementes de alcachofra cv. Nobre no meio de cultura M2 (MS completo), com corte lateral do tegumento (disruption of artichoke cv. Nobre seed tegument in M2 culture media (complete MS), with lateral cut of tegument). Passo Fundo, UPF, 2006. 68 (2004), obervaram a presença dos gêneros de fungos Rhizopus, Alternaria e Aspergillus associados à semente, no entanto, a melhoria da germinação foi verificada com o tratamento utilizando sulfato de 8-hydroxy quinona, tiram e captan. Experimento 3 - Diante das dificuldades em obter germinação nos experimentos anteriores, neste experimento foi testada a remoção total do tegumento para verificar se este realmente se constituía numa barreira física à germinação. As sementes foram mantidas no escuro, 120 Contaminação (%) diminuição na concentração de cloro ativo na solução utilizada na assepsia das sementes. De acordo com Hirata & Mancini Filho (2002), apud Domini et al. (2005), o mecanismo de ação do cloro ativo não é bem conhecido, mas hipóteses consideram que pode haver uma combinação do cloro com proteínas da membrana celular dos microrganismos, causando alterações estruturais da membrana, ou interferindo no transporte de nutrientes através da mesma, formando compostos tóxicos e levando à inibição de enzimas essenciais. No entanto, fatores como pH (Bizzetto & Homechin, 1999), concentração do agente esterilizante e tempo de exposição do explante ao mesmo são fatores que podem contribuir para o sucesso da desinfestação (Domini et al., 2005). A análise de regressão demonstrou que houve, ao longo do período de 25 dias após a semeadura, para todas as combinações de tratamentos (meios de cultura x tratamento do tegumento), aumento linear significativo da porcentagem de contaminação (Figura 2). A contaminação das sementes nos meios de cultura foi ocasionada pelo aparecimento de bactérias e fungos, provavelmente endógenos à semente. Segundo Donida (2004), o poder germinativo das sementes de alcachofra pode ser afetado pelos patógenos associados à mesma. Miccolis et al., apud Donida em função da menor ocorrência de oxidação dos cotilédones. Para minimizar o possível efeito residual tóxico do cloro ativo, foi reduzida a concentração do mesmo de 5,7 para 2% na assepsia das sementes. Já o tempo de imersão das sementes antes da semeadura em água foi ampliado de 24 h para 48 h, para facilitar a remoção do tegumento. Houve efeito significativo apenas do tratamento dado ao tegumento da semente sobre a porcentagem de germinação. A remoção total do tegumento possibilitou uma rápida e satisfatória germinação (77,5%), apresentando as plântulas aos sete dias porte para a retirada de explantes (repicagem). As sementes com o tegumento mantido intacto não germinaram. O meio de cultura não revelou efeito significativo sobre a germinação das sementes. Verificou-se, portanto, que o tegumento da semente de alcachofra se constitui numa barreira física à germinação. Outro aspecto a considerar é que a remoção total do tegumento permitiu visualizar e selecionar as sementes mais sadias, o que pode ter favorecido a maior porcentagem de germinação nesse tratamento. Os resultados são concordantes com Pinheiro et al. (2001) que, na germinação in vitro da mangabeira (Hancomia speciosa G.), em diferentes meios de cultura, observaram que as sementes y = 8,004 - 4,8x 2 R = 0,94 100 y = 3,672 - 3,5336x 2 R = 0,98 80 y = 7,008 - 3,1336x 2 R = 0,83 60 40 y = 2,22 + 2,6792x 2 R = 0,92 20 TCM1 0 0 5 10 15 20 Dias após semeadura 25 30 TCM2 TIM1 TIM2 Figura 2. Contaminação de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura (M1=1/2 MS e M2=MS completo), com (TC - tegumento cortado) e sem (TI – tegumento intacto) o corte lateral do tegumento. (Contamination of artichoke cv. Nobre seeds in two culture media (M1=1/2 MS and M2= complete MS), with (TC= cut tegument) and without (TI= intact tegument) lateral cut of tegument. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2006. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Germinação in vitro de sementes de alcachofra sem tegumento obtiveram maior porcentagem de germinação. Itaya et al. (2005), estudando a germinação in vitro de aquênios de Viguiera discolor (Asteraceae), obtiveram 80% de germinação quando os envoltórios externos foram retirados das sementes. Lima et al. (2007) verificaram, na germinação in vitro de sementes de urucum (Bixa orellana L.), que a retirada do tegumento incrementou a porcentagem de germinação, apresentando-se como o melhor método para superar a dormência. Não foi observado efeito do meio de cultura e do tratamento do tegumento sobre a contaminação, que foi baixa, de 16,7% após sete dias da semeadura. Assim, pode-se concluir que a obtenção de plântulas sadias de alcachofra cv. Nobre, para utilização como fonte de explantes no cultivo in vitro, é viável a partir da germinação in vitro de sementes. Com base nos experimentos realizados, pode-se indicar, para a obtenção de satisfatória taxa de germinação (77,5%), baixa porcentagem de contaminação (16,7%) e, em curto espaço de tempo (sete dias), plântulas em condições de fornecer explantes para repicagem, a técnica de assepsia das sementes com álcool 70% por 30 min, posterior imersão, por dez minutos, em solução de hipoclorito de sódio contendo 2% de cloro ativo, e retirada do tegumento. A semeadura pode ser realizada em meio de cultura MS completo ou com concentração de sais reduzida à metade, mantidas as sementes em câmara de crescimento no escuro. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Capes pela bolsa de Mestrado concedida ao primeiro autor. REFERÊNCIAS ANDRADE MW; LUZ JMQ; LACERDA AS; MELO PRA. 2000. Micropropagação da aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. Allemão). Ciência Agrotécnica 24: 174-180. 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Postal 237, 18610-307 Botucatu-SP; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. RESUMO ABSTRACT O cultivo e o comércio de gérbera em vaso são recentes e há uma grande demanda quanto à seleção de substratos adequados à sua produção. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o crescimento de duas cultivares de gérbera de vaso, conduzidas com diferentes substratos. O experimento foi realizado em casa de vegetação entre setembro e novembro de 2008, em Botucatu-SP. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso em esquema fatorial 5x2 (substratos x cultivares) e quatro repetições. Plantas de gérbera, cultivares Cherry e Red, foram avaliadas quinzenalmente (1, 15, 29 e 43 dias após aclimatação (DAA)) quanto à área foliar e a fitomassa seca da parte aérea, as quais foram ajustadas em relação ao tempo com o programa ANACRES para obtenção da razão da área foliar (RAF), taxa de crescimento relativo (TCR) e taxa de assimilação líquida (TAL). As plantas de gérbera apresentaram melhor desenvolvimento quando conduzidas no substrato 4 (30% casca de pinus, 30% C1, 20% fibra de coco granulada, 20% fibra de coco mista). A seleção de substratos adequados ao desenvolvimento de gérbera deve considerar, principalmente, as características químicas e físicas dos mesmos. Para as cultivares estudadas, valores de pH do substrato inferiores a 5,5 e superiores a 7,0 foram inadequados para o desenvolvimento, bem como densidades úmidas superiores a 530 kg m-3. Growth analysis of potted gerbera grown in different substrates Palavras-chave: Gerbera jamesonii, floricultura, cultivo sem solo. Keywords: Gerbera jamesonii, floriculture, soilless. Cultivation and commercialization of potted gerbera are recent issues and there is a great demand for adequate substrates for its production. This work aimed to evaluate the growth of two potted gerbera cultivars (Cherry and Red) grown in different substrates. The experiment was carried out in a greenhouse from September to November 2008 at Botucatu, São Paulo State, Brazil. Experimental design was randomized blocks in a 5x2 factorial arrangement (substrates x cultivars). Gerbera plants leaf area and dry phytomass were evaluated fortnightly (1, 15, 29 and 43 days after acclimation (DAA)). For the leaf area ratio (RAF), relative growth rate (TCR) and net assimilation rate (TAL), the total dry phytomass and leaf area were adjusted in relation to time using the ANACRES program. The gerbera plants had better development in substrate 4 (30% pinus bark, 30% C1, 20% granulated coconut, 20% mixed coconut). The selection of substrates for the development of gerbera plants should consider primarily its physical and chemical attributes. For the studied cultivars, the substrate pH below 5.5 and above 7.0 was unsuitable for development as well as dry densities above 530 kg m-3. (Recebido para publicação em 21 de setembro de 2009; aceito em 22 de fevereiro de 2010) (Received on September 21, 2009; accepted on February 22, 2010) A gérbera é uma planta herbácea, com inflorescência em capítulo, pertencente à classe das dicotiledôneas e família Asteraceae. É originária da África do Sul onde cresce espontaneamente em áreas sombreadas, ausente de luz direta (Mercurio, 2002). Inicialmente, restringia-se à flor de corte, cultivada diretamente em solo, sendo recente seu comércio como flor envasada. Com isso, há crescente demanda pela seleção de substratos adequados a cada cultivo. O substrato contribui para o crescimento de plantas cultivadas, principalmente pelo reduzido espaço para crescimento das raízes. Bellé (2001) afirma que os substratos bem aerados permitem o bom desenvolvimento de pêlos radiculares finos e de ramificações de raízes, o que aumenta a absorção de nutrientes. A água, um outro componen70 te do substrato, atua na fotossíntese, absorção de nutrientes, transporte e síntese de hormônios, entre outros processos fisiológicos. Desse modo, é importante estabelecer uma adequada relação entre ar e água do substrato a ser utilizado. Trabalhos desenvolvidos com gérbera de corte sugerem que a produção em substratos com maior aeração na zona radicular e melhor drenagem da água de irrigação apresentam resultados positivos, como maior precocidade, número de flores por planta e uniformidade na qualidade comercial das flores (Lenzi et al., 1998; Mascarini, 1998). Quanto às características químicas do substrato, a gérbera parece ser influenciada diretamente pelo pH e segundo recomendações obtidas na literatura, o pH pode ser mantido entre 5,5 e 6,5 (Rogers & Tjia, 1990), entretanto, autores relatam que o pH acima de 6,0 provoca diminuição da produção em plantas de gérbera (Sonneveld & Voogt, 1997; Savvas & Givas, 2002). Essas informações indicam que substratos com diferentes características físicas e químicas podem interferir no crescimento de plantas de gérbera. A análise de crescimento se baseia fundamentalmente no fato de que cerca de 90%, em média, da fitomassa seca acumulada pelas plantas, ao longo do seu crescimento resulta da atividade fotossintética. Essa análise expressa as condições morfofisiológicas da planta e avalia sua produção líquida, derivada do processo fotossintético, resultado do desempenho do sistema assimilatório durante certo período de tempo (Benincasa, 2003) e contribui para uma visão mais detalhada e até econômica de uma cultura (Charlo, 2008). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o crescimento de plantas de gérbera de vaso, cultivares Red e Cherry, conduzidas com diferentes substratos. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação, de setembro a novembro de 2008, em Botucatu (22°51’S e 48°26’W). A temperatura média no interior da casa de vegetação foi de 23ºC e a umidade relativa média do ar de 63%. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, em esquema fatorial 5x2 (5 substratos e 2 cultivares) e quatro repetições. Os substratos utilizados foram: 1= 40% terra vermelha (Latossolo Vermelho Escuro), 40% casca de pinus, 10% composição 1. (C1)= (40% casca de pinus + 30% vermiculita + 30% casca de arroz carbonizada), 10% composição 2. (C2) = (75% casca de pinus + 25% acícula de pinus); 2 = 20% terra vermelha, 30% casca pinus, 30% de C1, 20% C2; 3 = 50% casca de pinus, 20% fibra de coco granulada, 30% C1; 4 = 30% casca de pinus, 30% C1,, 20% fibra de coco granulada, 20% fibra de coco mista; 5 = substrato comercial (70% casca de pinus + 15% turfa + 15% vermiculita). As características químicas de CE e pH1:5 (Brasil, 2007), macronutrientes e micronutrientes 1:1,5 (Sonneveld & Elderen, 1994), relação C/N e matéria orgânica dos substratos (Raij et al., 2001) e físicas de densidade (Brasil, 2007) e retenção de água (De Boodt & Verdonck, 1972), são apresentadas na Tabela 1. Foram utilizadas mudas de gérbera (Gerbera jamesonii L.) com quatro folhas definitivas, cultivares Cherry e Red pertencentes à serie “Dark eyes” da empresa Sakata Seed Sudamérica®. As mudas foram transplantadas em vasos com capacidade para 1 L (11,5 cm de altura, 13 cm de base superior e 9 cm de base inferior), preenchidos com o substrato correspondente ao tratamento, de acordo com a densidade úmida. A casa de vegetação apresenta cobertura em arco com plástico transparente de 150 mícron, com laterais de tela branca, cortinas de plástico transparente Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 e pavimentada com concreto, em uma área total de 168 m² (7 x 24 m) e 2,6 m de pé direito. As plantas foram aclimatadas durante 30 dias, dispostas sobre bancada de madeira (1,2 de largura, 12 de comprimento, 0,8 m de altura) sob malha termorefletora (Aluminet®) disposta na parte superior interna da casa de vegetação, que mantinha a intensidade luminosa próxima a 25.000 Lux. Após a aclimatação, os vasos foram espaçados de 25 em 25 cm e distribuídos em duas bancadas, permanecendo na intensidade luminosa máxima de 50.000 Lux. Em cada bancada foram distribuídos dois blocos, dispostos longitudinalmente, com 11 plantas por parcela, sendo utilizada uma planta em cada coleta. A avaliação experimental iniciou após a aclimatação, encerrando quando as plantas apresentavam características adequadas para a comercialização e os resultados são apresentados em dias após aclimatação (DAA). O manejo da fertirrigação baseou-se na pesagem diária dos vasos, os quais foram mantidos na faixa de 50 a 25% da água disponível no substrato. A irrigação foi realizada via solução nutritiva com a seguinte composição em mg L-1: 121 N-NO3-, 12 N-NH4+, 92 K, 24 P, 175 Ca, 27 Mg e 39 S, 0,19 B, 0,08 Cu, 2,74 Fe, 0,19 Mn, 0,04 Mo e 0,08 Zn no período vegetativo e 168 N-NO3-, 41 N-NH4+, 303 K, 35 P, 105 Ca, 45 Mg e 55 S, 0,19 B, 0,08 Cu, 2,74 Fe, 0,19 Mn, 0,04 Mo e 0,08 Zn no reprodutivo. Durante o crescimento vegetativo, como é padrão nas produções comerciais, foram desbastados os botões florais desenvolvidos até os 29 DAA. A área foliar e a fitomassa seca das plantas foram determinadas quinzenalmente aos 1, 15, 29 e 43 DAA. A parte aérea da planta foi cortada rente ao substrato e determinou-se a área foliar em medidor modelo Li 3100, da marca Licor. A parte aérea das plantas, separada em folhas e inflorescências no período reprodutivo, iniciado aos 29 DAA, foi seca em estufa de ventilação forçada a 65ºC por um período de 48 horas, obtendo-se a fitomassa seca em balança digital. Para obtenção dos índices fisiológicos de razão da área foliar (RAF), taxa de crescimento relativo (TCR) e taxa de assimilação líquida (TAL), as variáveis de fitomassa seca total e área foliar foram ajustadas em relação ao tempo (1, 15, 29 e 43 DAA) com o programa ANACRES (Portes & Castro Junior, 1991) utilizando a equação exponencial quadrática, que foi a que melhor se ajustou ao conjunto de dados. Quando as plantas apresentaram inflorescências abertas com características para comercialização, aos 43 DAA, foram avaliadas quanto à fitomassa seca da folha (FSF) e inflorescência (FSI), número de folhas (NF), diâmetro de planta (DP), área foliar (AF), tamanho da folha (TF), número de inflorescência (NI) e diâmetro de inflorescência (DI). O diâmetro de planta foi determinado pela distância entre as extremidades da superfície foliar no vaso, com uso de régua graduada, em duas medidas perpendiculares. O diâmetro das inflorescências foi aferido com uso de paquímetro digital. Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F. As médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Procedeuse o desdobramento da interação entre substratos e cultivares quando a análise de variância revelou efeito significativo, utilizando o programa estatístico Sisvar (Ferreira, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO A razão de área foliar (RAF) é a área foliar útil para a fotossíntese, sendo a razão entre a área responsável pela interceptação de energia luminosa e CO2 e a fitomassa seca total, que é o resultado da fotossíntese (Benincasa, 2003). A RAF foi maior no início do período de avaliação, quando a planta converte maior produção fotossintética para a expansão foliar e captação de luz, declinando seus valores ao longo do ciclo (Figura 1A e B), devido à interferência das folhas superiores sobre as inferiores e redução da área foliar útil para a fotossíntese. Segundo Infoagro (2005), a gérbera tem crescimento em roseta, acarretando na sobreposição das folhas com consequente sombreamento. A partir do período reprodutivo as estruturas não-fotossintetizantes, como as flores, o auto-sombreamento e a queda de folhas, reduzem os valores desse índice (Urchei et al., 2000). Resultados semelhantes 71 F Ludwig et al. Tabela 1. Características químicas e físicas dos substratos utilizados no crescimento e desenvolvimento de gérbera (chemical and physical characteristics of substrates used in the experiment). Botucatu, UNESP. 2008. Características CE 1:5 (dS m-1) pH 1:5 (inicial) pH 1:5 (final) MO (%) C/N K1:1,5 (mg L-1) Ca1:1,5 (mg L-1) Mg1:1,5 (mg L-1) Cu1:1,5 (mg L-1) Fe1:1,5 (mg L-1) Mn1:1,5 (mg L-1) Zn1:1,5 (mg L-1) Porosidade total- PT (%) Sólidos (%) Espaço de aeração - EA (%) Água disponível - AD (%) Água remanescente - AR (%) Densidade úmida (kg m-3) Densidade seca (kg m-3) 1 0,54 5,13 5,42 19,00 10,55 70,25 52,40 50,15 0,01 0,38 0,19 0,04 78,79 21,21 23,50 28,74 26,48 750,00 538,00 2 0,49 4,81 4,86 28,00 15,55 86,00 84,98 57,60 0,02 0,62 2,48 0,11 80,62 19,38 19,33 29,40 31,89 850,00 540,00 Substrato 3 0,26 5,74 5,63 38,00 21,11 45,43 3,57 12,13 0,06 5,57 0,20 0,06 84,28 15,72 12,76 37,34 34,62 690,00 450,00 4 0,28 5,74 5,59 33,00 18,33 56,70 22,83 24,45 0,03 1,76 0,38 0,06 89,18 10,82 17,15 35,80 36,23 590,00 298,00 5 0,48 7,58 6,89 34,00 18,88 176,25 21,63 12,83 0,06 1,83 0,84 0,08 83,51 16,49 21,10 32,90 29,50 530,00 340,00 Substratos: 1= 40% terra vermelha (Latossolo Vermelho Escuro (LVE)), 40% casca de pinus (CP), 10% composição 1 (C1) (40% CP + 30% vermiculita (V) + 30% casca de arroz carbonizada), 10% composição 2 (C2) (75% CP + 25% acícula de pinus); 2= 20% LVE, 30% CP, 30% C1, 20% C2; 3= 50% CP, 20% fibra de coco granulada (FCG), 30% C1; 4= 30% CP, 30% C1, 20% FCG, 20% fibra de coco mista; 5= substrato comercial (70% CP + 15% turfa + 15% V). foram obtidos por Fontes et al. (2005) para a cultura do pimentão e Silva et al. (2009) para o girassol ornamental. A RAF foi menor nas plantas que cresceram com substratos 1 e 2 em relação aos demais (Figura 1A e B). Para as plantas conduzidas nesses substratos, foi possível constatar reduzido acréscimo da área foliar em relação às demais na fase reprodutiva, iniciada aos 29 DAA, para que as inflorescências pudessem se estabelecer, apresentando menor quantidade de material fotossintetizante em relação à fitomassa seca total. Essa maior redução da RAF pode ter sido decorrente da maior eficiência da folha em converter energia luminosa e CO2 em fitomassa seca, principalmente para as inflorescências, conforme constatado na Tabela 2. A maior conversão da massa para as inflorescências pode ser considerada uma característica da espécie, como forma de sobrevivência 72 em condição de estresse. A taxa de crescimento relativo (TCR) é definida por Aguiar Netto et al. (2000) como um índice de eficiência, já que representa a capacidade da planta em produzir material novo. A TCR decresceu ao longo do ciclo (Figura 1C e D), o que segundo Ferrari et al. (2008) era esperado, pois com o acréscimo da fitomassa seca acumulada pelas plantas, aumenta a necessidade de fotoassimilados para a manutenção das estruturas já formadas, diminuindo a quantidade disponível para o crescimento. Também, de acordo com Urchei et al. (2000), a redução desse índice fisiológico no final do ciclo pode ser explicada pelo autosombreamento e pelo menor incremento da área foliar ao longo do ciclo, além da elevação da atividade respiratória. Cometti et al. (2008) sugerem que o declínio da TCR indica a aproximação da senescência, momento em que a assi- milação líquida passa a ser negativa. O valor de TCR superior para a cultivar Cherry conduzida no substrato 5, em relação aos demais substratos (Figura 1 D), indica maior eficiência na conversão de fitomassa seca por unidade de tempo, em relação à fitomassa inicial. Essa eficiência parece estar relacionada principalmente à maior taxa de fotossíntese líquida, já que a razão de área foliar praticamente não se alterou nos diferentes substratos. A cultivar Red conduzida no substrato 3 apresentou maior taxa de crescimento relativo e taxa de fotossíntese líquida (Figura 1C e E), comparada a Cherry (Figura 1D e F), indicando que a cultivar Red foi mais eficiente na produção da fitomassa seca quando conduzida nesse substrato. Como as diferenças para a razão de área foliar foram menos perceptíveis, é possível inferir que a TCR não foi influenciada pelo tamanho da área fotossintética, e sim pela eficiência fotossintética. Analisando as características do substrato 5 (Tabela 1) verificou-se valores iniciais de pH elevados para a gérbera (7,58) o que possivelmente tenha interferido no desenvolvimento inicial das plantas. A redução do pH ao longo do ciclo e valores finais de 6,89, permitiu que as plantas recuperassem seu desenvolvimento, já que as características físicas eram adequadas, além da elevada disponibilidade de K, o nutriente absorvido em maiores quantidades pela cultura da gérbera (Ludwig et al., 2008). Segundo recomendações obtidas na literatura, o pH para gérbera pode ser mantido entre 5,5 e 6,5 (Rogers & Tjia, 1990), enquanto outros autores relatam que o pH acima de 6,0 provoca diminuição da produção (Sonneveld & Voogt, 1997; Savvas & Givas, 2002). A taxa de assimilação líquida (TAL) representa o balanço entre o material produzido pela fotossíntese e o perdido pela respiração, expressando a eficiência das folhas na produção de fitomassa seca e a estimativa da fotossíntese líquida (Benincasa, 2003). O decréscimo na fotossíntese líquida observada ao longo do ciclo de crescimento da cultura da gérbera (Figura 1E e F) está associado ao auto-sombreamento promovido pela sobreposição das folhas, a redução da Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos Tabela 2. Valores médios para fitomassa seca da folha (FSF), fitomassa seca da inflorescência (FSI), número de folhas (NF), diâmetro de planta (DP), área foliar (AF), tamanho da folha (TF), número de inflorescências (NI) e diâmetro de inflorescência (DI) aos 43 DAA em cultivares de gérbera de vaso em função dos substratos (leaf dry phytomass (FSF), inflorescence dry phytomass (FSI), leaf number (NF), plant diameter (DP), leaf area (AF), leaf size (TF), inflorescence number (NI) and inflorescence diameter (DI) at 43 DAA of gerbera cultivars, depending on substrates). Botucatu, UNESP. 2008. Substrato 1 2 3 4 5 Cultivar Red Cherry CV (%) FSF (g) 5,1 c 3,9 d 6,0 bc 8,6 a 6,7 b FSI (g) 4,2 ab 3,4 b 4,7 a 4,4 ab 4,0 ab NF 22,0 b 19,3 b 23,9 ab 28,5 a 24,3 ab DP (cm) 25,4 bc 24,1 c 27,4 b 32,8 a 31,2 a AF (dm²) 7,2 c 5,4 d 9,0 b 12,3 a 9,7 b 5,3 B 6,9 A 12,40 4,1 A 4,2 A 20,36 23,9 A 23,3 A 16,40 26,5 B 29,9 A 6,30 8,2 B 9,3 A 12,27 TF (dm²) 0,33 bc 0,28 c 0,39 ab 0,44 a 0,41 a NI 3,5 a 3,1 a 3,8 a 2,8 a 2,6 a DI (mm) 78,0 ab 73,0 b 77,1 ab 87,1 a 88,4 a 0,34 B 0,40 A 14,20 3,9 A 2,5 B 40,94 80,3 A 81,1 A 11,34 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, sendo minúsculas para substratos e maiúsculas para cultivares não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% (means followed by the same letters in the same column, being lowercase to substrates and uppercase to cultivars did not differ by the Tukey’s test at 5%). eficiência fotossintética e aumento das perdas respiratórias. A redução da TAL foi menos acentuada para as duas cultivares de gérbera desenvolvidas nos substratos 1 e 2 (Figura 1E e F). Essa informação parece estar relacionada principalmente com a maior distribuição de fitomassa seca para as inflorescências (Tabela 2) e redução do incremento da área foliar e sombreamento. Outro fator que pode ter contribuído para as menores reduções da TAL nesses substratos é o reduzido tamanho das folhas, 0,33 e 0,28 dm² para os substratos 1 e 2, respectivamente (Tabela 2), com conseqüente redução do auto-sombreamento. A maior queda da TAL para plantas submetidas ao substrato 4 é justificada pela maior área foliar, devido ao efeito do sombreamento nas folhas inferiores. Os valores de pH podem também ter influenciado o crescimento das plantas de gérbera nos substratos 1 e 2, entretanto, pelo baixo valor (5,13 e 4,81, respectivamente). De acordo com Fermino (1996) valores inadequados de pH podem afetar o desenvolvimento das plantas, principalmente sob acidez excessiva. Plantas cultivadas em ambientes ácidos têm quantidades menores de nutrientes à sua disposição, além de ficarem sujeitas à maior absorção de elementos tóxicos como Al e Mn, este último, já encontrado em quantidades superiores no substrato 2. Para o cultivo de gérbera o pH mínimo ideal deve Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 ser 5,5 (Cavins et al., 2000; Rogers & Tjia, 1990). Apesar das características iniciais de porosidade total e de aeração estarem adequadas para o desenvolvimento da maioria das culturas (De Boodt & Verdonck, 1972), a presença de solo de textura argilosa na composição dos substratos 1 e 2 pode ter promovido uma maior compactação ao longo do ciclo. Aliado a isso, a elevada densidade seca desses substratos (540 kg m-3) dificulta o crescimento radicular, especialmente em vasos com capacidade para um litro e 11,5 cm de altura. Kämpf (2000) recomenda utilizar substratos com densidade seca de 250 a 400 kg m-3 para vasos de até 15 cm de altura, indicando que altas densidades limitam o crescimento das plantas. A redução da TAL foi mais acentuada quando as plantas foram conduzidas nos substratos 3 e 4 para Red e 4 para Cherry, indicando que estes substratos contribuem para o rápido crescimento das plantas de gérbera, que é uma característica vantajosa para o produtor, pelo maior fluxo de plantas e retorno econômico. Para obter melhor qualidade das plantas desenvolvidas nos substratos 1 e 2, seria necessário proceder o desbaste dos botões florais durante um período superior a 29 DAA, o que acarretaria em atraso na produção. As características de qualidade estética variam entre os tipos de planta ornamental e para flor envasada, há que se considerar a formação da folhagem e da inflorescência. O número de inflorescências não variou entre os substratos, entretanto o diâmetro destas foi superior para os substratos 4 e 5 e inferior no substrato 2, a área foliar foi superior para aquelas produzidas no substratos 4, o que caracteriza a formação de um conjunto adequado de vaso (Tabela 2). A análise de crescimento pode ser utilizada como uma importante técnica para a avaliação das adaptações da planta em diferentes condições do meio de cultivo. Assim, pode-se inferir que as plantas de gérbera tiveram limitação de crescimento ao serem conduzidas com os substratos 1 e 2, que continham solo na sua composição, especialmente pelas suas características químicas e físicas inadequadas. Com base nos resultados obtidos foi possível concluir que as plantas de gérbera apresentam melhor desenvolvimento quando conduzidas no substrato 4 (30% casca de pinus + 30% C1 + 20% fibra de coco granulada + 20% fibra de coco mista). A seleção de substratos adequados ao desenvolvimento de gérbera deve considerar principalmente as características químicas e físicas dos mesmos. Para as cultivares Red e Cherry, o pH inferior a 5,5 e superior a 7,0 foi inadequado para o crescimento, bem como densidade seca superior a 530 kg m-3. AGRADECIMENTOS 73 F Ludwig et al. Figura 1. Valores médios de razão da área foliar (RAF) (A e B), taxa de crescimento relativo (TCR) (C e D) e taxa de assimilação líquida (TAL) (E e F) em plantas de gérbera conduzidas em diferentes substratos, ao logo dos dias após a aclimatação (DAA) (leaf area ratio (RAF) (A and B), relative growth rate (TCR) (B and C) and net assimilation rate (TAL) (E and F) of gerbera plants conducted with different substrates in days after acclimation (DAA)). Botucatu, UNESP. 2008. À Capes pela concessão de bolsa ao primeiro autor, e ao CNPq pela concessão de bolsa aos demais autores. Às empresas Sakata e Steltenpool pela contribuição no desenvolvimento da pesquisa. 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Cultivo orgânico sequencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo Roberto BF Branco1; Luiz Geraldo de C Santos2; Rumy Goto3; Issao Ishimura4; Sônia Schlickmann2; Cristiano S Chiarati5 APTA-Centro-Leste, 14030-670 Ribeirão Preto-SP; 2Ensistec, 18130-510 São Roque-SP; 3UNESP-FCA, 18603-970 Botucatu-SP; 4IACUPD, 18133-445 São Roque-SP; 5APO-Horta & Arte, 18130-000 São Roque-SP, bolsista CNPq; [email protected]; luizgcs@uol. com.br; [email protected] 1 Resumo ABSTRACT Com o aumento da demanda por produtos ecologicamente corretos tornaram-se necessários estudos de novas tecnologias para inserilas no método de cultivo orgânico para que se tenha um crescimento sustentável da atividade. Neste trabalho avaliou-se o desempenho de cultivares e híbridos de hortaliças cultivados seqüencialmente no método orgânico, em diferentes ambientes. O delineamento experimental foi de parcelas sub-subdivididas com 3 repetições, resultando em 24 unidades experimentais. Foram estudados dois métodos de irrigação (aspersão convencional e localizada por gotejamento); duas coberturas do solo (plástico e palha) e dois híbridos ou cultivares de espécies de hortaliças, sendo que para o cultivo do feijão-vagem utilizou-se apenas uma cultivar. Conduziram-se concomitantemente dois cultivos seqüenciais de hortaliças: (1) alface americana – tomate – brócolis e; (2) alface crespa – feijão-vagem – repolho. Avaliaramse as características produtivas de cada espécie. Na seqüência (1) o cultivo da alface americana teve melhor desempenho quando irrigada por gotejamento, não havendo diferença entre as coberturas do solo, sendo a cv ‘Rubette’ a mais produtiva. O tomateiro foi mais produtivo no “mulching” plástico, independentemente do método de irrigação e o brócolis teve desempenho semelhante entre os tratamentos. Na seqüência (2) a alface crespa e o feijão-vagem foram mais produtivos quando irrigados por gotejamento e cultivados em cobertura plástica. O repolho teve melhor desempenho na cobertura do solo com filme plástico. Successive organic cultivation of vegetable crops in two irrigation systems and two soil covers Palavras-chave: gotejamento, aspersão, mulching plástico, bagaço de cana-de-açúcar. Keywords: drip, sprinkler, plastic mulching, straw of sugar cane. With the growing demand for ecological products new technologies are required for organic cultivation systems in order to provide a sustainable growth of this activity. This experiment evaluated the performance of vegetable cultivars and hybrids growing successively in the organic system, in different growth environments. The experimental design was randomized blocks with split split-plots with 3 replications, resulting in 24 experimental units. The following treatments were assessed: a) two irrigation systems, sprinkle and drip, b) two soil covers, plastic and straw of sugar cane and c) two hybrids or cultivars. Two different cropping sequences were carried out: (1) iceberg lettuce - tomato - broccoli and; (2) crisp lettuce - snap beans - cabbage. The agronomic characteristics of each species were evaluated. In sequence 1, iceberg lettuce growth performed better when irrigated by the drip system, but there was no difference between the soil covers and ‘Rubette’ presented higher yield. Higher tomato yields were observed in “mulching” plastic regardless the irrigation system and broccoli was unaffected by treatments. In sequence 2, crisp lettuce and snap beans were more productive when irrigated by drip and grown on plastic covering. Cabbage performed better with plastic film covering soil surface. (Recebido para publicação em 26 de janeiro de 2009; aceito em 8 de fevereiro de 2010) (Received on January 26, 2009; accepted on February 8, 2010) O cultivo orgânico de hortaliças sofreu aumento expressivo em área de produção e também em produtividade, devido principalmente à demanda de mercado por produtos ecológicos. De acordo com a Fundação Agricultura e Ecologia da Alemanha (Soel), o consumo mundial de orgânicos tem movimentado mais de US$ 30 milhões em exportações brasileiras, US$ 200 milhões em vendas no Brasil, US$ 13 bilhões em vendas só nos Estados Unidos e US$ 30 bilhões no mundo (Willer et Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 al, 2008). O setor orgânico apresenta um crescimento estimado em 30% ao ano, e, segundo o Ministério da Agricultura, a produção orgânica no Brasil ocupa uma área de aproximadamente 800.000 ha (Portal Fator Brasil, 2007). Entretanto, há necessidade por pesquisas em todo método produtivo, desde melhoramento genético, nutrição, fitossanidade, manejo de irrigação e do solo, até comercialização dos produtos. Entre as tecnologias de produção, o método de irrigação localizada por gotejamento é bastante interessante por melhorar a eficiência do uso da água e também proporcionar a fertilização das plantas de maneira mais racional ao longo do ciclo de cultivo (López, 2001). No tomateiro, estudos têm indicado economia em água de até 30%, incremento em produtividade em até 40% e também melhoria na qualidade dos frutos pelo uso da irrigação localizada por gotejamento e da prática da fertirrigação (Marouelli & Silva, 2002). Entretanto, o método de irrigação 75 RBF Branco et al. por aspersão continua sendo preferido pelos olericultores, principalmente pela viabilidade econômica de implantação do método e também por proporcionar alguns benefícios fitossanitários aos cultivos, como por exemplo, segundo Marouelli et al. (2005), redução na incidência de murcha bacteriana em tomateiro quando comparado com a irrigação por gotejamento. A prática da cobertura do solo com plásticos e palhas proporciona diversos benefícios ao agricultor e ao ambiente, dentre os quais podemos mencionar o controle de plantas invasoras, menor evaporação da água do solo, economia de água de irrigação e diminuição do custo de produção. Strek et al. (1995) estudaram mulches de polietileno como cobertura do solo na cultura do tomate, sendo que os tratamentos não proporcionaram aumento das características produtivas do tomateiro, alterando apenas a dinâmica da temperatura no perfil do solo. Na avaliação de coberturas do solo com plástico preto e palhas vegetais na cultura da alface, Andrade Júnior et al. (2005) verificaram que a cobertura com casca de café foi a que proporcionou melhores resultados nos componentes produtivos da alface do tipo lisa. Na alface americana os melhores resultados de produção foram proporcionados pela cobertura plástica dupla face (prateado/ preto) e também foi o tratamento em que se obteve maiores valores para a quantidade de clorofila, nitrogênio, fósforo, enxofre, boro e ferro acumulado nas folhas (Verdial et al., 2001). Outro fator a se considerar é a adaptação de cultivares e híbridos de hortaliças às distintas situações ambientais, já que o mercado de sementes de hortaliças disponibiliza enorme quantidade de cultivares, cada uma com sua particularidade. Entretanto, tornam-se necessários estudos para auxiliarem na escolha de variedades ou híbridos para determinadas condições edafoclimáticas, fator preponderante para o sucesso da produção (Trevisan et al., 2003; Feltrim et al., 2005). O objetivo neste trabalho foi avaliar métodos de irrigação e coberturas do solo na produção seqüencial de cultivares e híbridos de hortaliças sob manejo 76 orgânico. Material e métodos O experimento foi conduzido na APTA de São Roque-SP, local situado a 23° 18’ N e 47° 4’ S, com precipitação média anual de 1.320 mm e temperatura média anual de 19,8°C. O solo da propriedade é classificado como Latossolo Vermelho Amarelo (Embrapa, 1999) com a seguinte composição química: pH (H2O) = 6,2; P = 95 mg dm-3; K = 3,5 mmolc dm-3; Ca = 71 mmolc dm-3; Mg = 16 mmolc dm-3; Al = 0 mmolc dm-3; H+Al = 2,2 mmolc dm-3; T = 113 mmolc dm-3; V = 82 % e MO = 2,9 g dm-3; O delineamento experimental foi de parcelas sub-subdivididas (2 x 2 x 2) com 3 repetições, resultando em 24 unidades experimentais. Os fatores estudados foram: a) dois métodos de irrigação (aspersão e gotejamento); b) duas coberturas do solo (plástico e palha) e c) dois híbridos ou cultivares de espécies de hortaliças. Somente no caso do cultivo do feijão-vagem, utilizou-se apenas uma cultivar, sendo estudados apenas os fatores método de irrigação e coberturas do solo, resultando em delineamento de parcelas subdivididas. As espécies hortícolas foram cultivadas, dentro de cada tratamento, em duas seqüências de plantio da seguinte maneira: (1) alface americana – tomate – brócolis; (2) alface crespa – feijãovagem – repolho. Entre um cultivo e outro instalou-se a cultura em sistema de plantio direto sem preparo do solo. Na sequência (1), as cultivares de alface americana foram ‘Raider’ e ‘Rubette’; os híbridos de tomate foram ‘Débora’ e ‘Kyndio’ e os de brócolis foram ‘Legacy’ e ‘Marathon’. Na sequência (2) as cultivares de alface crespa foram ‘Marisa’ e ‘Verônica’; no cultivo do feijão-vagem utilizou-se a cultivar de crescimento determinado ‘Paulista’ e, no do repolho, cultivaram-se os híbridos Kenzan e Ombrios. Todos os cultivos foram conduzidos em método orgânico de produção, de acordo com normas estabelecidas pela Certificadora da Associação de Agricultura Orgânica (AAOCERT). Realizou-se o cultivo mínimo do solo, sendo feito o preparo com enxada rotativa apenas para o plantio da primeira espécie, aproveitando-se o preparo do solo do primeiro cultivo para os cultivos posteriores de tomate e brócolis da seqüência 1 e feijão-vagem e repolho da seqüência 2, respectivamente. Realizou-se a aplicação de calcário calcítico para melhorar o equilíbrio de bases entre Ca/K/Mg, visto que a CTC estava em 82%. A adubação de base foi feita com 6 L m-2 de composto orgânico, 0,4 kg m-2 do fertilizante orgânico “Bokashi”, 0,15 kg m-2 de torta de mamona e 0,10 kg m-2 de termofosfato. Os canteiros foram formados com aproximadamente 0,2 m de altura, 1,0 m de largura e 50 m comprimento, sendo dois canteiros para cada repetição do experimento. As sequências de produção foram instaladas após incorporação de aveia preta, cultivada por 75 dias. As semeaduras das culturas foram feitas em bandejas de poliestireno expandido de 288 células para alfaces e de 128 células para brócolis, repolho, tomate e feijãovagem. A produção das mudas foi feita em ambiente protegido. As alfaces americana e crespa, das seqüências 1 e 2, foram semeadas em 05/06/02. O transplante das mudas para o local definitivo foi feito 32 dias após a semeadura (DAS), no espaçamento de 0,3 x 0,3 m. As semeaduras do tomate e do feijão-vagem, espécies do segundo cultivo das seqüências (1) e (2) de plantio foram realizadas em 10/09/02 e 08/09/02 respectivamente. O transplante das mudas de tomateiro para o local definitivo realizou-se com 30 DAS, no espaçamento de 1,50 x 0,60 m. O feijão-vagem foi transplantado no local definitivo com 15 DAS, em espaçamento de 0,30 x 0,30 m. As espécies do terceiro cultivo sequencial, brócolis e repolho, das sequências (1) e (2), respectivamente, foram semeadas em 18/01/03 e 07/01/03. As mudas de brócolis foram transplantadas para o local definitivo 30 DAS, no espaçamento de 0,60 x 0,60 m e as de repolho no espaçamento de 0,30 x 0,30 m. Utilizaram-se dois tipos de coberturas para os canteiros. A cobertura feita Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo com bagaço de cana-de-açúcar formou na superfície do solo uma camada de palha de aproximadamente 35 mm. O outro tipo de cobertura do solo foi feito com plástico de polietileno de dupla face prata-preto de 35 micras, fixado nas bordas dos canteiros com grampos de arame. A irrigação das culturas foi feita por dois métodos, aspersão convencional e localizada por gotejamento. Na aspersão, utilizou-se aspersores (Netafim) com vazão aferida de 960 L h-1, com intensidade de aplicação de 55 mm h-1 e raio de alcance de 12 m. No gotejamento utilizou-se tubos gotejadores autocompensados RAM (Netafim) com emissores espaçados a 0,3 m, com vazão aferida de 1,67 L h-1 a pressão de serviço de 1,6 kPa. O monitoramento da irrigação foi feito com auxílio de tensiômetros instalados a 0,2 m de profundidade e em dez pontos da área experimental, sendo cinco na área com aspersão e cinco no gotejamento. A irrigação foi acionada sempre que a tensão da água no solo atingisse valores específicos para cada cultura: alface e brócolis = -40 kPa; re- polho = -60 kPa; tomate e feijão-vagem = -30 kPa (Marouelli et al., 1994). A lâmina d’água aplicada em cada irrigação foi de 5 mm nos dois métodos de irrigação e em todas as culturas. Os tratos culturais foram realizados em função da especificidade de cada espécie, sendo utilizados somente produtos liberados pela certificadora de produção orgânica AAOCERT. Realizou-se a adubação de cobertura com bokashis e biofertilizantes líquidos via foliar e via solo, e no caso da irrigação por gotejamento, essa adubação foi feita via água de irrigação (fertirrigação). O manejo de nutrição foi monitorado pela análise rápida da solução do solo, obtida através de extratores instalados nas profundidades de 0,2, 0,4 e 0,6 m. Para aporte dos fertilizantes levou-se em consideração a solução do solo extraída da profundidade de 0,20 m e, sempre que a condutividade elétrica do solo fosse inferior a 1,5 mS cm-1 realizava-se a fertirrigação na quantidade de 3 mL do biofertilizante líquido para cada L d’água de irrigação. O tutoramento do tomateiro foi rea- lizado com fitilho, conduzindo a planta com altura de 1,7 m. O feijão-vagem foi conduzido sem estaqueamento por ser a variedade de hábito de crescimento determinado. O ciclo de cultivo da alface americana foi de 55 dias e o da alface crespa foi de 44 dias. O ciclo do tomateiro foi de 109 dias e o do feijão-vagem foi de 70 dias. O ciclo de cultivo do brócolis foi de 90 dias e de 114 dias para o repolho. Avaliaram-se somente as características de produção comercial de cada cultura. Para as alfaces e repolho mediram-se a massa fresca da parte aérea comercial; para o brócolis mediu-se a massa fresca da inflorescência comercial e para o tomate e feijão-vagem a massa fresca dos frutos comerciais. Resultados e discussão Sequência (1) alface americana – tomate – brócolis: Na média, a irrigação por gotejamento proporcionou maior produção de massa fresca de alface americana que a irrigação por Tabela 1. Produção (g planta-1) de cultivares de alface americana, híbridos de tomateiro e de brócolis em dois métodos de irrigação e dois tipos de cobertura de solo (mulching), em cultivo orgânico (production of iceberg lettuce, tomatoes and broccoli hybrids in two irrigation methods and two types of soil cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003. Métodos de irrigação Gotejamento Aspersão Média CV (%) Gotejamento Aspersão Média CV (%) Gotejamento Aspersão Média CV (%) Cobertura do solo Palha Plástico 642,48 a B 750,05 a A 686,46 a A 632,25 b B 664,47 A 691,15 A 5,61 Cobertura do solo Palha Plástico 1,80 1,90 1,32 1,91 1,55 B 1,90 A 18,66 Cobertura do solo Palha Plástico 459,82 551,72 473,02 496,87 466,41 A 524,29 A 16,28 Média 696,26 a 659,35 b Média 1,84 a 1,61 a Média 505,76 a 484,94 a Cultivares de alface Raider Rubette 696,26 a A 694,26 a A 606,63 b B 714,08 a A 651,45 B 704,17 A 5,61 Híbridos de tomateiro Débora Kyndio 1,82 1,88 1,46 1,78 1,63 A 1,82 A 18,66 Híbridos de brócolis Legacy Marathon 549,38 462,15 476,08 493,80 512,73 A 477,97 A 16,28 *Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (capital letters compare values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each other by the Tukey test at 5% of probability). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 77 RBF Branco et al. Tabela 2. Produção (g planta-1) de cultivares de alface crespa e de híbridos de repolho em dois métodos de irrigação e dois tipos de cobertura do solo (mulching), em cultivo orgânico (production of crisp lettuce and cabbage hybrid in two irrigation methods and two types of soil cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003. Métodos de irrigação Gotejamento Aspersão Média CV (%) Gotejamento Aspersão Média CV (%) Cobertura do solo Palha Plástico 426,50 458,80 347,33 349,00 386,91 B 403,91 A 4,63 Cobertura do solo Palha Plástico 627,20 943,00 671,80 1013,30 649,50 B 978,13 A 10,11 Média 442,66 a 348,16 b Média 785,10 a 842,54 a Cobertura do solo Palha Plástico média Cobertura do solo Palha Plástico média Cultivares Marisa Verônica 368,16 b B 405,66 a A 406,66 a A 401,16 a A 387,41 A 403,41 A 4,63 Híbridos Kenzam Ombrios 660,91 b A 638,10 b A 897,18 a B 1059,08 a A 779,05 A 848,59 A 10,11 *Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade (capital letters compare values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each other by the Tukey test at 5% of probability). aspersão (Tabela 1). Entre as coberturas de solo não houve diferença na produção de alface americana. No cultivo com mulching plástico, a irrigação por gotejamento proporcionou maior produção de massa fresca de alface americana que a irrigação por aspersão, sendo que na palha não houve diferença de produção de alface americana entre os dois métodos de irrigação. A irrigação por gotejamento foi mais eficiente na cobertura plástica e a aspersão na cobertura com palha para a produção de alface americana. Com relação às cultivares, ‘Rubette’ foi, na média, mais produtiva que ‘Raider’. Quando irrigada por gotejamento a cultivar Raider foi mais produtiva que na irrigação por aspersão, sendo que ‘Rubette’ teve desempenho produtivo semelhante nos dois métodos de irrigação. Na irrigação por aspersão, ‘Rubette’ foi superior à ‘Raider’. Para o tomateiro, a maior produtividade foi quando cultivado com cobertura plástica que em bagaço de cana. Nas parcelas irrigadas por gotejamento e por aspersão, as produtividades dos tomateiros foram semelhantes. Os dois híbridos avaliados tiveram o mesmo desempenho produtivo nos diferentes ambientes de cultivo. O brócolis foi a única espécie estudada que não teve alteração em produção frente aos tratamentos aplicados no experimento. Portanto, os híbridos de brócolis Legacy e Marathon tiveram o mesmo desempenho produtivo nos distintos tipos de cobertura de solo, palha e plástico e nos métodos de irrigação, aspersão e gotejamento. Sequência (2) alface crespa – feijão-vagem – repolho: Quando Tabela 3. Produção de feijão-vagem (g planta-1) em dois métodos de irrigação e dois tipos de cobertura do solo (mulching), em cultivo orgânico (production of bean pods in two irrigation methods and two types of soil cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003. Métodos de irrigação Gotejamento Aspersão Média CV (%) Coberturas do solo Palha Plástico 67,86 a B 99,00 a A 54,30 a A 51,13 b A 75,06 A 61,08 B 13,16 Média 83,43 a 52,76 b *Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (capital letter compare values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each other by the Tukey test at 5% of probability). 78 cultivadas na palha, a cultivar de alface crespa Verônica teve melhor desempenho em massa fresca por planta que ‘Marisa’, sendo que no plástico não teve diferença entre as cultivares. A cultivar Marisa se desenvolveu melhor no cultivo com cobertura do solo com plástico (Tabela 2). Na média, a cobertura do solo com plástico proporcionou maior massa fresca de planta de alface do grupo crespa, quando comparada com a cobertura de palha. As plantas irrigadas pelo método de gotejamento tiveram maior massa fresca que as plantas irrigadas por aspersão. Os híbridos de repolho Kenzan e Ombrios tiveram, na média, desempenho semelhante. Quando cultivados no solo coberto com mulching plástico, os híbridos de repolho foram mais produtivos do que no cultivo em solo coberto com palha. O híbrido Ombrios foi mais produtivo que o ‘Kenzan’ no cultivo com cobertura plástica do solo. Com relação ao método de irrigação, não houve diferença de produtividade do repolho irrigado por gotejamento ou aspersão. Quando cultivada com cobertura do solo com bagaço de cana, a produção de feijão-vagem não diferiu entre o método de irrigação por aspersão e gotejamento. Entretanto, na cobertura do solo com plástico, foi mais produtiva quando irrigada por gotejamento. Na aspersão Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo não houve diferença de produção do feijão-vagem entre as diferentes coberturas do solo. Na média, a produção do feijão-vagem foi superior na cobertura do solo com plástico e na irrigação por gotejamento (Tabela 3). Percebe-se com os resultados que as espécies hortícolas apresentam desempenhos produtivos distintos em relação aos métodos de irrigação e coberturas do solo, fato relacionado à habilidade das espécies em se adaptar e produzirem com maior ou menor resposta ao ambiente. A maneira de como fornecer a água de irrigação as plantas, em “bulbo” no caso do gotejamento ou em área total no caso da aspersão e também em relação ao ambiente proporcionado pela cobertura do solo com alterações na variação térmica do solo, manutenção da umidade, são fatores que podem melhorar as condições de absorção de nutrientes pelas plantas favorecendo a produção. Verdial et al. (2001) relataram maior produção de massa fresca e seca da parte aérea da alface americana quando cultivadas em mulching plástico de dupla face, com média de 491 g por planta, e de coloração preta, média de 409 g planta-1 em relação à cobertura com bagaço de cana-de-açúcar e testemunha sem cobertura do solo, com respectivamente 141 g por planta e 148 g por planta. Os autores atribuíram o ganho em produtividade à maior quantidade de nutrientes absorvidos pela plantas cultivadas no mulching plástico e também pelo aumento na temperatura do solo proporcionado pelos tratamentos com cobertura plástica, o que pode ter favorecido a atividade radicular para absorção de nutrientes. Zizas et al. (2002) também observaram efeito positivo da cobertura plástica vermelha, preta e branca e da casca de arroz no número de folhas da alface lisa ‘Regina’. Os autores observaram que a temperatura média do solo coberto com casca de arroz foi semelhante à testemunha (sem cobertura), 23,9°C, e as coberturas com plástico vermelho e preto foram as que proporcionaram maiores valores de temperatura do solo, 25,3°C e 25,0°C, respectivamente. Em Três Corações-MG, Andrade Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Júnior et al. (2005) verificaram melhor rendimento produtivo de alfaces lisas quando o solo foi coberto com palha de café em relação às coberturas plástica, capim braquiária, casca de arroz e testemunha (sem cobertura), sendo a cultivar Regina superior à Elisa em aspectos produtivos. Os autores observaram que o elevado conteúdo de potássio na palha do café pode ter contribuído para o aumento da produtividade da alface. Testando o uso de métodos de irrigação por gotejamento e por aspersão na cultura do tomateiro, Marouelli et al. (2005) encontraram maior incidência de murcha bacteriana na irrigação por gotejamento, devido à formação de bulbo saturado próximo ao gotejador, o que favoreceu a ação do patógeno. Tal fato não aconteceu nas condições deste experimento. Em condições de cultivo em ambiente protegido e convencional, Branco et al. (2007) relataram produtividade do tomateiro semelhante ao deste ensaio com aproximadamente 2,0 kg de frutos comerciais por planta. Streck et al. (1995), estudando cobertura do solo com diferentes mulchings plásticos também observaram produtividade em torno de 2,0 kg por planta de tomateiro. Com relação à produção do feijãovagem, Oliveira, et al. (2007) encontraram resultados superiores ao deste ensaio estudando doses de K2O, produzindo até 171 g de massa fresca de feijão-vagem comercial por planta, na melhor dose economicamente viável. Sob cultivo orgânico foram relatadas produções de massa fresca de feijãovagem comercial por planta de até 112 g no outono/inverno e de 82 g na primavera/verão (Vidal et al., 2007), corroborando com os resultados deste ensaio, sendo que o melhor tratamento atingiu a marca de 99 g de massa fresca de feijão-vagem comercial por planta, no cultivo de primavera. Em sistema de plantio direto do brócolis, Perin et al. (2004) não constataram diferença entre os tratamentos com adubação verde de pré-cultivo utilizando-se crotalária, milheto, crotalária + milheto e vegetação espontânea, assim como ocorrido neste experimento, sendo que a produção individual de cabeça comercial foi em média de 322 g, um pouco inferior aos destes resultados, mas o que justifica a adaptação da espécie ao cultivo mínimo do solo. Em plantio convencional de brócolis no Rio Grande do Sul, Trevisan et al. (2003) relataram que os híbridos Baron e Hana Midori tiveram melhor desempenho produtivo em relação a outros híbridos e cultivares, apresentando massa média de cabeça comercial de 430 e 359 g, respectivamente, resultados produtivos que corroboram com os deste trabalho, indicando que a produção orgânica em cultivo mínimo do solo proporcionam produtividades viáveis ao brócolis. Com adubação verde na cultura do repolho, Fontanétti et al. (2006) observaram massa fresca de cabeça comercial do híbrido Kenzan de 1.215 a 1.960 g, sendo o maior valor relacionado ao tratamento com vegetação espontânea seguido pela crotalária. Esses valores foram superiores aos encontrados neste trabalho talvez pelo fato da condução do cultivo em condições de temperaturas amenas ter favorecido a produtividade do repolho, posto que neste ensaio realizou-se o cultivo no verão. Moura et al. (2006) não observaram diferença de produção de massa fresca da parte aérea do repolho quando irrigado por aspersão e cultivado em solo com ou sem cobertura. Entretanto, quando se utilizou irrigação por sulco a cobertura vegetal proporcionou maior produção de massa fresca. Neste caso o maior valor de massa fresca da parte aérea foi de 528 g, ficando abaixo dos resultados deste experimento, justificando-se por ter sido cultivado em condições de temperaturas mais elevadas, em São Luís-MA, e também por ter se utilizado outro híbrido, no caso o ‘Astrus’. A produtividade alcançada pelas culturas demonstrou que o cultivo mínimo do solo com o seqüenciamento de produção de três espécies hortícolas é viável do ponto de vista agronômico. Contudo, a irrigação por gotejamento proporcionou maiores produtividades para as culturas da alface americana, alface crespa e feijão-vagem e como cobertura do solo o mulching plástico proporcionou melhores resultados para as culturas do tomateiro, da alface cres79 RBF Branco et al. pa, do feijão-vagem e do repolho. Agradecimentos Ao CNPq, à APO-Horta & Arte, à FCA/UNESP e à Netafim. REFERÊNCIAS ANDRADE JÚNIOR VC; YURI JE; NUNES UR; PIMENTA FL; MATOS CSM; FLORIO FCA; MADEIRA DM. 2005. Emprego de tipos de cobertura de canteiro no cultivo da alface. Horticultura Brasileira 23: 899-903. BRANCO, RBF; GOTO, R; CARNEIRO JÚNIOR, AG; GUIMARÃES, VF; RODRIGUES, JD; TRIVELIN, PCO. 2007. Transporte do 15N e produtividade do tomateiro enxertado irrigado com água carbonatada. Horticultura Brasileira 25: 77-81. EMBRAPA. 1999. Método brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa produção de informações; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 412p. 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In: Congresso Brasileiro de Olericultura, 42. Resumos... Uberlândia: SOB (CD-ROM). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 SIMÕES AN; PUIATTI M; SALOMÃO LCC; MOSQUIM PR; PUSCHMANN R. 2009. Effect in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures. Horticultura Brasileira 28: 81-86. Variations in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures Adriano do N Simões1; Mário Puiatti3; Luiz CC Salomão3; Paulo R Mosquim2; Rolf Puschmann2 UFRPE-Unid. Acad. Serra Talhada, Fazenda Saco, s/n, C. Postal 063, 56900-000, Serra Talhada-PE; 2UFV-Depto. Biol. Vegetal, 36570000 Viçosa-MG; 3UFV-Depto.Fitotecnia; [email protected] 1 ABSTRACT RESUMO The storage of minimally processed vegetables at low temperatures, in association with proper packaging, represents one of the available technological solutions to mitigate the variations that hinder the quality of final products during storage. We studied the physicochemical variations that occur straight after minimal processing, as well as those that occur during the storage of minimally processed and intact leaves of collard greens (Brassica oleracea var. acephala), stored in 50-µm thick polypropylene bags, with 810-μm diameter perforations. Leaves were stored for 15 and 9 days, at 5 and 10±1ºC, respectively. There were losses of total chlorophyll, soluble sugars, starch, and soluble amino acids immediately after the minimal processing. The rates of degradation and/or use of chlorophyll, ascorbic acid, soluble sugars, and starch during storage were similar on minimally processed and intact leaves, independently of the storage temperature. On contrary, fresh mass loss was almost two fold larger in minimally processed leaves after nine days of storage, regardless of temperature. We also observed a transient increase in the content of soluble amino acids at the end of storage in minimally processed leaves. The increase in the storage temperature to 10°C enhanced the chemical variations both in minimally processed and intact leaves. As consequence, the rates of degradation and/or use of chlorophyll, ascorbic acid, sugars and starch mounted, and the accumulation of soluble amino acids was stimulated. We concluded that it is necessary to keep on searching for alternative packaging for minimally processed collard greens, and to associate it with storage at low temperatures, but mimicking distribution and commercialization conditions of the cold-chain. Thus, we can succeed in adequately reducing the physicochemical variations that induce quality losses in minimally processed vegetables. Alterações na qualidade de folhas de couve inteiras e minimamente processadas conservadas em diferentes temperaturas Keywords: Brassica oleraceae var. acephala, minimal processing, shelf life, postharvest. Palavras-chave: Brassica oleraceae var. acephala, processamento mínimo, vida útil, pós-colheita. A conservação de hortaliças minimamente processadas em baixas temperaturas, em associação com o uso de embalagens adequadas, continua sendo uma das soluções tecnológicas utilizadas para minimizar ou retardar as mudanças que ocorrem durante a conservação. Foram estudadas as alterações físico-químicas causadas logo após o processamento mínimo e durante a conservação de folhas de couvecomum (Brassica oleracea var. acephala) inteiras e minimamente processadas, mantidas em sacos de polipropileno de 50 µm de espessura, com perfurações de 810 µm de diâmetro. As folhas foram conservadas por 15 e 9 dias, a 5 e 10±1ºC, respectivamente. Logo após o processamento mínimo observou-se perda de clorofilas totais, açúcares solúveis, amido e aminoácidos solúveis. As taxas de degradação e/ou utilização da clorofila total, ácido ascórbico, açúcares solúveis e amido durante a conservação das folhas inteiras e minimamente processadas mantidas a 5 e/ou 10±1ºC foram semelhantes, com exceção para perda de massa fresca e aminoácidos solúveis. As folhas minimamente processadas apresentaram perda de massa fresca quase duas vezes superior às folhas inteiras com nove dias de conservação, independentemente da temperatura. Um aumento transitório no teor de aminoácidos solúveis no final da conservação também foi observado em folhas minimamente processadas. O aumento da temperatura de conservação para 10ºC potencializou as alterações químicas tanto em folhas inteiras e minimamente processadas, resultando em elevadas taxas de degradação e/ou utilização de clorofilas, ácido ascórbico, açúcares e amido, além de estimular o acúmulo de aminoácidos solúveis. É necessária a contínua busca de embalagens alternativas àquelas existentes para couve minimamente processada, associado à conservação em baixas temperaturas, para simular as condições de distribuição e comercialização e, assim, minimizar as alterações físico-químicas que reduzem a qualidade do produto final. (Recebido para publicação em 30 de janeiro de 2008; aceito em 21 de maio de 2009) (Received on January 30, 2008; accepted on May 21, 2009) T he conservation of minimally processed vegetables at low temperatures associated with adequate packaging, remains as one of the technological solutions to mitigate or delay the physicochemical, biochemical, physiological, and microbiological decay that takes place during storage (Rico et al., 2007). In the past decade, research Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 on vegetable minimal processing is achieving major technological and scientific advances in Brazil (Puschmann et al., 2008). However, minimally processed vegetables continue to be sold under unsatisfactory conditions, such as temperatures around 10ºC in supermarket shelves. Minimally processed collard greens, when kept in polypropylene bags, produce an unpleasant smell in the first days after opening the packaging (Teles, 2001). In addition, minimally processed collard greens have both the respiration and ethylene synthesis transiently enhanced (Carnelossi et al., 2005), and undergo also variations of chemical nature, such as vitamin C and total 81 AN Simões et al. chlorophyll losses (Carnelossi, 2000). It is known that Cryovac® (PD 941) is the most suitable packaging for minimally processed collard greens (Carnelossi et al., 2005). However, Cryovac® films are relatively expensive, which makes price of the final product even higher. An alternative packaging for minimally processed collard greens, cheaper than Cryovac® films, but still appropriate, are the microperforated polypropylene bags, similar to the polypropylene with oriented microperforations, which is in use by European processing companies in Spain, England, and Ireland for leafy vegetables and mixed vegetable salads (Varoquauz & Mazollier, 2002; Al-Ati & Hotchkiss, 2002). However, microperforated packaging has been having little use in minimally processed vegetables in Brazil. Several studies were used as basis to draw flowcharts of minimal processing, as well as for the optimization of storage conditions (Carnelossi, 2000; Teles, 2001). However, the continuous search for alternative packaging is always relevant due to the applicability to the industry. Moreover, the assessment of other variations in the physicochemical properties that may occur immediately after the minimal processing of collard greens, as well as those that take place in the medium and long term during storage, at suitable and not suitable temperatures, may bring to light additional knowledge to study quality in collard greens. It is expected that the physicochemical changes that occur soon after the minimal processing of collard greens will not progress if the product is stored at 5°C. Therefore, the aim of this study was to assess the physicochemical variations that happen instantly after the minimal processing of collard greens, as well as along the storage period, and use them as tools to evaluate the quality of the final product. MATERIAL AND METHODS Plants of collard greens (Brassica oleracea var. acephala) accession BGH 1578, which correspond to the Portuguese variety, were grown in the 82 experimental garden of the Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais State, Brazil (20 o45’14’’S, 42º52’53’’W). Leaves were harvested when 35 cm long and brought instantly to the laboratory. Petioles were immersed in containers filled with tap water for 24 hours, at 5±1ºC (Carnelossi, 2000). Following, a number of leaves were minimally processed, while the others remained intact. The minimal processing was performed according to Carnelossi et al. (2005), in approximately one hour, at 18±2ºC. Next, the minimally processed leaves, as well as those that remained intact, were packed in respectively 22 x 26 cm and 39 x 26 cm (length x width) polypropylene bags. In both cases, bags were 50 μm thick and had 648 holes (810 µm in diameter). In the bags in which intact leaves were placed, holes were located at the petiole ends. Each package contained four leaves, which corresponded to 100 and 200 g of minimally processed and intact leaves respectively. Packages were sealed with the commercial sealer Selamut, R. Baião, and placed in a display with forced air ventilation, protected from light, at 5 and 10±1ºC, 90±5% relative humidity, up to 15 and 9 days, respectively for each temperature. We evaluated the leaves every other day until the sixth day, and then in three-day intervals. The following characteristics were assessed: (a) Fresh mass: obtained by gravimetry in a scale with 0.5 g precision. The loss of fresh mass corresponded to the difference between the fresh mass in each evaluation date and in the beginning of the storage; (b) Total chlorophyll content: determined according to Lichtenthaler (1987). Leaf discs of 200 mg for the intact leaves or leaf slices for the minimally processed product were mixed with 0.2 g of calcium carbonate and acetone (80%). The extract was centrifuged (Sorvall RT 6000-D) at 6000 rpm, for 10 minutes, at 10ºC. Next, the supernatant volume was adjusted to 25 mL with acetone (80%). Samples were protected from white light and the absorbance readings were carried out at 646.8 and 663.2 nm; (c) Vitamin C: determined according to the American Official Analysis of Chemistry (AOAC, 39,051), with the adaptations proposed by Carnelossi (2000); (d) Contents of soluble sugars, starch, and soluble amino acids: assessed by immersion of 1 g of leaf blade discs in 6 mL of ethanol 80%, at 80°C, followed by grinding in a mortar with washed sand. The extract was homogenized and centrifuged at 2000 g, for 10 minutes. The precipitate was resuspended three times in 5 mL of ethanol 80%, at 80°C. The supernatants were combined and the volume was adjusted to 25 mL to make the ethanol extract I. The ethanol extract II was obtained by removing pigments and lipids from a 10 mL aliquot from the ethanol extract I, using a separating funnel and adding 10 mL of chloroform and 10 mL of distilled water. The aqueous phase was evaporated at 45°C in a rotary evaporator, under vacuum. The residue was resuspended with 2 mL of distilled water for the determination of soluble sugars and amino acids. The precipitate that resulted from the centrifugation after the ethanol extraction was used to evaluate the starch content according to the methodology described by McCready et al. (1950), adapted to coffee leaves by Patel (1970). The total soluble sugars and the starch were quantified using the Antrona method (Disch, 1962). For starch, the results were multiplied by a factor of 0.9. The content of soluble amino acids was determined according to Moore & Stein (1948), employing the ethanol extract II. A 20 µL aliquot of the ethanol extract II were added to the reaction medium containing 1.5 mL of ninhydrin and 180 µL of citrate buffer, pH 5.0 (200 mM). The samples were boiled for 20 minutes and, after cooling, 8 mL of 80% ethanol were added, under stirring, to reach a final volume of 11.5 mL. After a 10-minute rest, the readings were carried out in a spectrophotometer (Model U-2000 Hitachi), at 570 nm. A mix of 0.25 mM glycine, 0.25 mM glutamic acid, 0.25 mM phenylalanine, and 0.25 mM arginine, were used as standard. Ninhydrin was prepared using 32 mg of SnCl22H2O, dissolved in 20 mL of 0.2 M citrate buffer, pH 5.0. Following, 20 mL of ethylene glycol monomethyl ether were added into 0.8 g Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Effect in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures of the dissolved ninhydrin. After mixing, the final volume was completed to 100 mL with distilled water. We used a completely randomized design for each storage temperature, in a split plot scheme, where types of leaves (intact and minimally processed) were assigned to the plots, and evaluation dates (0, 2, 4, 6, 9, 12, and 15 days after the beginning of the storage), to the subplots, with three replications. Data were submitted to the analysis of variance, using the software SAEG 5, from the Central Data Processing of UFV. RESULTS AND DISCUSSION Fresh mass loss in leaves increased with the storage period (Figure 1). However, the storage temperature did not influence the loss progress, as also observed by Shim et al. (2007). Higher loss rates in fresh mass were observed in minimally processed than in intact leaves (Figure 1), probably due to the increase in the evaporation surface when leaves were chopped for the minimal processing. In addition, tissues are structurally modified when cut: the cells that become exposed do not have specialized components such as cutin, like the epidermal cells, which remain undamaged in intact leaves (Amarante, 1991). Thus, processed tissues are subjected to severe dehydration during storage (Simões et al., 2010). Dehydration is a physical response that leads to critical difficulties during the storage of minimally processed products, such as whitening in carrots (Simões et al., 2010) and beets (Vitti et al., 2004). This results in an oldish and unattractive visual aspect. In the case of minimally processed collard greens, this symptom was not observed, unlike the turgor loss, which was promptly noticeable after opening the package. Fresh mass loss was close to 10% after nine days of storage, at both 5 and 10°C (Figure 1). Intact leaves were clearly wilted, even within the sealed packages and especially after nine days of storage, when the fresh mass loss was close to 4%, at both 5 and 10°C (Figure 1). The perforations in the packaging probably worsened the fresh mass Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Figure 1. Fresh mass loss on intact (●/■) and minimally processed leaves (Ο/□) of collard greens, stored at 5 and 10oC (perda de massa fresca em folhas de couve inteiras (●/■) e minimamente processadas (Ο/□), mantidas a 5 e 10ºC). Viçosa, UFV, 2007. * Vertical bars represent the means standard error, n= 3 (as barras verticais representam o erro padrão da media, n= 3). loss both in minimally processed and in intact leaves. This occurs because the pores reduce the resistance to the diffusion of water vapor through the film. So, to minimally processed collard greens is very important to go on studying alternative polypropylene films, as well as searching for the ideal number of perforations. The initial content of total chlorophyll was lower in minimally processed leaves right after processing than in the leaves that remained intact (p<0.05) (Figure 2). The slicing, coupled with immersion in water and rinsing during sanitation, probably accounted for such difference. In the first rinse, the residual water became deeply pigmented after 83 AN Simões et al. Figure 2. Contents of total chlorophyll, ascorbic acid, soluble sugars, and soluble amino acids in intact (●/■) and minimally processed leaves of collard greens (Ο/□), stored at 5 and 10oC (clorofilas totais, ácido ascórbico, açúcares solúveis e aminoácidos solúveis em folhas de couve inteiras (●/■) e minimamente processadas (Ο/□), mantidas a 5 e 10ºC). Viçosa, UFV, 2007. * Vertical bars represent the means standard error, n= 3 (as barras verticais representam o erro padrão da media, n= 3). immersing the chopped leaves, while the residual solution from the sanitation and final rinse was only faintly stained (data not shown). The variations in the total chlorophyll content of non-injured tissues that were adjacent to the cut and the pigmentation observed in the residual water as consequence of the processing 84 resulted from the leakage of the contents of cells injured by the processing, as also observed in carrots (Smith, 2003), beets (Vitti et al., 2004), and other vegetables with high pigmentation levels. However, we believe that in collard greens, the high initial pigment loss did not affect tissue color or quality. Probably the instantaneous loss of the cellular content occurred only in cells that were cut or injured during chopping. Tissues adjacent to the cut, proportionally in much larger amount than injured tissues, kept their initial characteristics. Minimally processed and intact leaves had similar losses of total chlorophyll during storage, close to 38 and 29% when kept at 10 and 5°C, for six and nine days, respectively (Figure 2). This behavior could be followed by the naked eye by observing leaf yellowing. Moreover, minimally processed leaves showed signs of browning, especially in areas closer to the cut, as also reported in minimally processed lettuce (Ke & Saltveit, 1989). In our study, the rate of chlorophyll degradation in minimally processed and intact leaves was speeded up in 10°C, very likely because of the higher enzyme activity at this temperature, particularly enzymes that degrade chlorophyll (Matile et al., 1996) and those involved in senescence (Maragoni & Heaton, 1996). Tulio et al. (2002) observed the same in stored jute leaves. These results strengthen the usual recommendation: the use of low temperatures during storage reduces the losses caused by minimal processing (Rico et al., 2007, Simões et al., 2007). We could conclude also that the minimal processing led to significant chlorophyll leakage. However, during storage, minimally processed and intact leaves had similar rates of chlorophyll degradation and/or use. There were no ascorbic acid significant losses (p<0.05) in minimally processed leaves when compared to intact leaves (Figure 2). We believe that, depending on the tissue and also on the handling during processing, it is possible to preserve the initial ascorbic acid levels. Drops in the ascorbic acid contents as consequence of minimal processing indeed occur, as observed in cabbage (Simões et al., 2007). Contrary to what was observed in the beginning of the experiment, there was a marked decrease in ascorbic acid contents during storage, both in minimally processed and intact leaves, at both temperatures (Figure 2). Nevertheless, it should be highlighted that the rate of loss was much lower at 5°C, independently of Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Effect`in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures processing or keeping leaves intact (Figure 2). Therefore, the influence of temperature over the ascorbic acid content was more pronounced than that caused by the minimal processing. A recent study associated ascorbic acid with protection against enzymatic browning in rocket leaves (Del’Innocent et al., 2007). The same might happen in collard greens, due to its high ascorbic acid content (Figure 2). In our work, we observed a strengthening of the enzymatic browning only when the ascorbic acid and the chlorophyll contents dropped (Figure 2), and leaves started showing chlorosis (Simões, 2004). The ascorbic acid role in o-quinone reduction and in the inhibition of the catalytic action of polyphenol oxidase is known (Walker, 1977; Saper, 1993). However, studies that show the possible involvement of the ascorbic acid on the tolerance to darkening in chopped vegetal tissues are still lacking. The current results indicated that the storage temperature influenced the ascorbic acid content, a nutritional and functional attribute of quality (Reyes et al., 2007). On contrary, minimal processing did not affect the ascorbic acid content, since the losses were similar in minimal processed and intact leaves. There was a significant decrease (p<0.05) on soluble sugars (Figure 2) and starch (data not shown) contents in minimally processed in relation to intact leaves. Moreover, we noticed that storage enhanced the degradation and/or use of sugars in both minimally processed and intact leaves (Figure 2). Probably, the perforations in the bags allow the diffusion of high O2 levels inside the package, resulting in an intense respiration and, thus, inducing the use of substrates such as sugars. On the other hand, minimum processing did not significantly speed up the rate of degradation and/or use of these substrates in relation to what was observed in intact leaves. The contents of soluble amino acids increased during storage (Figure 2), particularly in the minimally processed leaves kept at 10oC, reaching the peak after six days of storage. Minimally processed leaves stored at 5oC showed the highest contents of soluble amino Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 acids only after twelve days (Figure 2). Therefore, the contents of amino acids were significantly influenced by the storage temperature and processing, resulting in the differential accumulation of soluble amino acids observed in the leaves. The increase in the amino acids content can be attributed to protein degradation in association with the beginning of leaf senescence (Backer 1987; Tulio et al., 2002). At this point, the rate of protein degradation and/or use is higher than the rate of synthesis. In addition, it is likely that proteases were much more active in minimally processed than in intact leaves (Martin, 1972a, b; Kays, 1991b). In general, we found that the immediate chemical changes in the leaves induced by the minimal processing, such as loss of total chlorophyll, total soluble sugars, starch, and soluble amino acids, did not hinder the quality of the final product in collard greens. Throughout storage, the rate of degradation and/ or use of these nutrients was similar in minimally processed and intact leaves, expect for fresh mass loss and soluble amino acids. These results indicate that, although the minimal processing causes an immediate loss of some nutrients, the storage at low temperatures is crucial to mitigate the chemical variations that take place at mid term, and consequently, to keep the quality of minimally processed collard greens. Finally, we believe that the perforated packaging may have stimulated the physicochemical variations we observed, resulting in dehydration, yellowing, and enzymatic browning, probably due to the high polyphenol oxidase activity (Simões et al., 2007). Hence, we must go on searching for alternative packaging for minimally processed collard greens to replace those currently available for the market. Additionally, the use of suitable packaging should be associated to storage at low temperatures. This is the most promising approach to succeed in keeping the physicochemical variations involved in quality loss of minimally processed products at low levels. ACKNOWLEDGEMENTS We would like to thank the Foundation for Research Support of the State of Minas Gerais (FAPEMIG), Coordination of Improvement of Higher Educational Personnel (CAPES) and The National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) for partially financing this work. REFERENCES AL-ATI TAREQ; HOTCHKISS JH. 2002. Application of packaging modified atmosphere the fresh-cut fruits and vegetables. In: FreshCut Fruits and Vegetables, Science, Technology and Market. New York: CRC Press. 467p. AMARANTE CVT. 1991. Relação entre horário de colheita e senescência em folhas de couve (Brassica oleracea L. acephala). Viçosa: UFV. 65p (Tese mestrado). CARNELOSSI MAG. 2000. Fisiologia póscolheita de couve (Brassica oleracea var. acephala) minimamente processada. Viçosa: UFV. 81p (Tese doutorado). 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Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface. Horticultura Brasileira 28: 87-90. Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface Adalberto Santi¹; Marco AC Carvalho²; Ostenildo R Campos²; Amilton F da Silva³; Jefferson L de Almeida³; Stéfan Monteiro³ UNEMAT-Campus Tangará da Serra-MT; ²UNEMAT-Campus Alta Floresta-MT; ³Acadêmico, curso de Agronomia, UNEMAT-Campus Alta Floresta; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Cultivares de alface foram avaliadas utilizando adubo orgânico contendo serragem, em cultivo protegido em Alta Floresta-MT. O delineamento experimental foi blocos casualizados em esquema fatorial com 12 tratamentos e quatro repetições, constituídos pela combinação de seis cultivares (americana: Lucy Brown e Great Lakes; crespa: Isabela e Vera; lisa: Elisa e Babá de Verão) e duas fontes de material orgânico [esterco bovino puro (100%) e composto com pó-de-serra (50% de esterco bovino + 50% de pó-de-serra) na razão de 10 L m-2]. A presença de pó-de-serra no composto orgânico, proporcionou redução na massa fresca comercial, no comprimento do caule, na circunferência da planta, no número de folhas comerciais e no número de folhas totais, quando comparado com o tratamento contendo apenas esterco bovino curtido. Nas cultivares lisas, apesar do maior número de folhas totais e comerciais, o fato não se refletiu em maior massa comercial. A cultivar Lucy Brown conteve a maior massa fresca comercial. Effect of organic material on the production and characteristics of lettuce cultivars Palavras-chave: Lactuca sativa L., serragem, ambiente protegido, adubo orgânico, competição. Keywords: Lactuca sativa L., saw dust, greenhouse, manure, competition. Lettuce cultivars cultivated under greenhouse were evaluated with the application of cattle manure mixed to sawdust in Alta Floresta, Mato Grosso State, Brazil. The experimental design was randomized blocks in a factorial scheme with 12 treatments and four replications. The treatments consisted of combinations of six cultivars (Lucy Brown, Great Lakes, Isabela, Vera, Elisa and Babá de Verão) and two sources of organic material - cattle manure (100%) and cattle manure mixed to sawdust (50% manure + 50% sawdust composte) - applied at the level of 10 L m-2. Plots measured 1.2 x 1.2 m with 16 plants spaced by 0.3 m over the useful area. Samples were constituted by the four central plants in each plot. Application of bovine manure mixed to sawdust reduced fresh mass, stem length, plant diameter, commercial leaf number and total leaf number when compared to the application of pure manure. Although the cultivars Elisa and Babá de Verão presented higher total and commercial leaf number, it did not reflect in higher commercial mass. The cultivar Lucy Brown presented the highest commercial fresh mass. (Recebido para publicação em 17 de outubro de 2008; aceito em 24 de fevereiro de 2010) (Received on October 17, 2008; accepted on February 24, 2010) A alface (Lactuca sativa L.), devido a sua importância alimentar como fonte de vitaminas e sais minerais, destaca-se entre outras hortaliças folhosas mais consumidas em todo mundo. A modernização dos segmentos locais de comercialização, evoluindo sempre em função de um consumo crescente e versátil, exige qualidade e, principalmente, regularidade do produto. Isso tem refletido diretamente nas áreas de produção que, para atender a esta nova e importante demanda do mercado, têm se modernizado com conseqüente aprimoramento técnico da mão-de-obra. O desenvolvimento da alface é bastante influenciado pelas condições ambientais. Temperaturas acima de 20ºC estimulam o seu pendoamento, que é acelerado à medida que a temperatura Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 aumenta. Dias longos associados a temperaturas elevadas, aceleram ainda mais o pendoamento, mas há variação de comportamento entre cultivares (Viggiano, 1990). O processo produtivo brasileiro passa por uma fase em que a produtividade, a eficiência, a lucratividade e a sustentabilidade são aspectos que precisam ser considerados. Nesse contexto, a obtenção de cultivares adaptadas às condições climáticas regionais, torna-se preponderante. Por serem fontes de nutrientes e por beneficiarem propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, os adubos orgânicos são amplamente recomendados para as hortaliças (Kiehl, 1985; Sonnenberg, 1985; Comissão, 1999), em decorrência da maior disponibilidade de nutrientes, do aumento do pH, do aumento da atividade de macro e microorganismos, bem como pelos efeitos indiretos da melhoria de propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (Mazur et al., 1983; Kiehl, 1985; Siqueira, 1988). Entretanto, o valor fertilizante do composto depende do material utilizado como matéria-prima (Miyasaka et al., 1997). A atuação conjunta desse e de inúmeros outros efeitos resulta, em muitos casos, em produtividades de alface que podem superar as obtidas com adubos minerais (Hartrath, 1986). A grande maioria dos trabalhos disponíveis refere-se ao uso de estercos, resíduos líquidos e restos vegetais, reportando seus efeitos como melhoradores do solo e fornecedores de nutrientes. Embora parte dessa informação possa 87 A Santi et al. ser extrapolada e assumida como válida no que diz respeito ao uso de compostos, estes têm uma dinâmica no solo bastante diversa dos materiais em estado natural, por ser uma matéria orgânica decomposta e estabilizada (Kiehl, 1985). Com relação à alface, tem-se observado que os produtores utilizam geralmente um sistema de produção, com uso excessivo de fertilizantes minerais. Uma das alternativas para contornar este tipo de problema seria o uso de compostos orgânicos. Tendo em vista a região norte mato-grossense ser grande pólo madeireiro e pecuário, verifica-se uma fácil disponibilidade de matérias-primas para a confecção de compostos orgânicos de qualidade, tais como serragem, esterco de curral e capineiras. As altas produtividades obtidas com uso intensivo de adubos minerais têm sido questionadas nos últimos anos, devido aos aspectos relacionados à sustentabilidade do sistema de produção (Santos et al., 1994). Pelo exposto e pelo alto custo de fertilizantes minerais, cultiva-se hortaliças com adubos orgânicos de várias origens, visando melhorar as propriedades físicas e químicas do solo (Costa, 1994). Neste sentido o adubo orgânico adicionado ao solo tem efeito imediato e ainda residual por meio de um processo mais lento de decomposição e liberação de nutrientes (Vidigal et al., 1997). O presente trabalho teve como objetivo avaliar características produtivas de seis cultivares de alface, utilizando adubo orgânico contendo serragem, cultivadas em ambiente protegido no município de Alta Floresta-MT. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em ambiente protegido, na Universidade do Estado de Mato Grosso, no município de Alta Floresta-MT, tendo como coordenadas geográficas 09º53’02” latitude sul, 56º14’38” longitude oeste Gr. e, altitude de 290 m. O solo é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd) típico argiloso, A moderado, hipodistrófico, caulinítico, compactado, muito profundo, moderadamente ácido. A temperatura média anual é de 24°C. 88 A área de pesquisa foi constituída por uma estrutura de proteção, modelo túnel alto, com 21,0 m de comprimento; 5,20 m de largura, contendo 2,30 m de pé-direito e coberta com película de polietileno transparente de baixa densidade aditivada anti UV de 100 micras de espessura. O delineamento experimental foi blocos casualizados em esquema fatorial 6 x 2 com tratamentos resultantes da combinação de seis cultivares (americana: Lucy Brown e Great Lakes; crespa: Isabela e Vera; lisa: Elisa e Babá de Verão) e duas fontes de matéria orgânica, esterco bovino e combinação de esterco com pó-de-serra (50% de esterco bovino + 50% de pó-de-serra) na razão de 10 L m-2, e quatro repetições. A adubação química básica constituiu-se de 150 kg de N, 400 kg de P2O5 e 90 kg de K2O, sendo que o N e o K foram utilizados de forma parcelada, segundo Fontes (1999). As mudas foram preparadas em bandejas de poliestireno (isopor) contendo 144 células, preenchidas com substrato comercial e postas em um ambiente de produção de mudas. O transplante das mudas para a área experimental foi realizado quando as mesmas atingiram quatro folhas definitivas. As parcelas foram de 1,2 x 1,2 m com 16 plantas em espaçamento de 0,3 x 0,3 m, sendo que na área útil analisaram-se as quatro plantas centrais de cada parcela. Foram avaliadas as variáveis: massa fresca total (as plantas foram cortadas rente ao solo e medidas suas massas em balança analítica, através da pesagem do número total de folhas de cada planta analisada), massa fresca comercial (referente à estimativa da massa, sem a presença das folhas com danos que prejudicam visualmente a comercialização da planta), circunferência da planta (obtida após retirada das folhas externas não comerciais, medindo-se através de régua o diâmetro da circunferência de uma extremidade a outra da planta), comprimento e diâmetro do caule (expressos após a retirada de todas as folhas, medindo-se o comprimento do caule e seu diâmetro através de paquímetro) e contagem do número total e comercial de folhas (expresso pelo número total de folhas e número de folhas sem danos visuais respectivamente). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey, em 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve interação significativa entre as fontes de variação adubos orgânicos (AO) e cultivares (C) de alface, apenas para a massa fresca total e diâmetro do caule, o que indica que em presença do adubo orgânico, isoladamente, ou com a adição de serragem, as cultivares não revelaram variação quanto às demais características agronômicas avaliadas. No entanto, o tratamento adubo orgânico expressou efeitos significativos para as Tabela 1. Desdobramento da interação significativa entre adubo orgânico e cultivares de alface para massa fresca total (g/planta) (parametrization of the significant interaction between organic fertilization and lettuce cultivars for total fresh mass). Alta Floresta, UNEMAT, 2006. Cultivar Lucy Brown Great Lakes Elisa Babá de Verão Isabela Vera Esterco 400,12 A a 210,44 A b 157,05 A b 174,29 A b 221,62 A b 242,82 A b Adubo orgânico Esterco + serragem 322,25 B a 194,47 A bc 119,47 A c 116,61 A c 231,22 A b 218,73 A b Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas nas linhas e minúscula na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p<0,05 (means followed by the same capital letter in the rows and small letter in the columns did not differ from each other by Tukey’s test (p<0,05)). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface Tabela 2. Desdobramento da interação significativa entre adubo orgânico e cultivares de alface para diâmetro do caule (mm) (parametrization of the significant interaction between organic fertilization and lettuce cultivars for stem diameter). Alta Floresta, UNEMAT, 2006. Adubo orgânico Esterco Esterco + serragem 22,98 A b 22,23 A a 16,95 A b 18,58 A a 21,85 A b 18,27 A a 33,18 A a 20,64 B a 18,25 A b 20,18 A a 19,10 A b 18,55 A a Cultivar Lucy Brown Great Lakes Elisa Babá de Verão Isabela Vera Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas nas linhas e minúscula na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p<0,05 (means followed by the same capital letter in the rows and small letter in the columns did not differ from each other by Tukey’s test (p<0,05). características avaliadas, exceto para diâmetro do caule. O desdobramento da interação cultivares versus adubo orgânico (Tabela 1) para a variável massa fresca total, quando se analisa cultivares em relação ao adubo orgânico, revelou superioridade da cultivar Lucy Brown para o tratamento em que se utilizou apenas esterco ou esterco com serragem. Para esta sendo fato ainda que apenas o uso de esterco foi superior ao composto esterco + serragem. Analisando a variável diâmetro do caule no desdobramento de cultivares dentro de adubo orgânico (Tabela 2), verificam-se semelhanças tanto para o tratamento em que se utilizou do esterco + serragem quanto para o tratamento que conteve apenas o esterco, exceto para a cultivar Babá de Verão, que demonstrou superioridade para com as demais cultivares. Avaliando o adubo orgânico, para cada cultivar, verifica-se que não houve diferença estatística entre os adubos nas diferentes cultivares, exceto para Babá de Verão, em que no cultivo apenas com esterco foi comparativamente superior em relação à adição de serragem. Comparando-se a aplicação das duas fontes de matéria orgânica, ou seja, esterco e esterco+serragem em plantas de alface, nota-se que as avaliações de massa fresca comercial (177,69 g/ planta), comprimento do caule (50,83 mm), circunferência da planta (25,45 cm), número de folhas totais (23,58) e número de folhas comerciais (20,26) dos tratamentos com esterco+serragem, revelaram redução nas características avaliadas nos tratamentos com apenas a aplicação de esterco, sendo a massa Tabela 3. Características1 avaliadas em plantas de alface em função de cultivares (lettuce characteristics1 evaluated in function of cultivars). Alta Floresta, UNEMAT, 2006. Cultivar MFC (g planta-1) CC (mm) CP (cm) NFT NFC Lucy Brown Great Lakes Elisa Babá de Verão Isabela Vera 315,27 a 183,61 bc 123,86 d 127,04 cd 200,31 b 200,34 b 58,02 abc 40,19 c 51,79 bc 53,24 bc 67,55 ab 72,72 a 31,86 a 28,56 ab 21,44 d 22,93 cd 26,97 b 26,80 bc 22,15 b 15,59 c 34,96 a 31,01 a 20,77 b 23,32 b 19,44 c 13,59 d 30,75 a 26,51 b 17,67 c 19,92 c Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, teste de Tukey, p<0,05 (means followed by the same letter in the column did not differ from each other by Tukey’s test, p<0,05). 1MFC: massa fresca comercial; CC= comprimento do caule; CP= circunferência da planta; NFT= número de folhas totais; NFC= número de folhas comerciais. (MFC= commercial fresh mass; CC= stem length; CP= plant circumference; NFT= total number of leaves; NFC= commercial number of leaves). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 fresca comercial (205,78 g/planta), comprimento do caule (63,68 mm), circunferência da planta (27,41 cm), número de folhas totais (25,69) e número de folhas comerciais (22,37). As relações C/N entre os adubos orgânicos são diferentes principalmente se considerarmos esterco e esterco+serragem de madeira. Para este último com maior relação C/N, a liberação de nutrientes é mais lenta para as plantas de alface. Esta inferência pode ser reforçada pelo fato de que alguns compostos possuem estruturas de difícil decomposição pela população microbiana do solo, tais como a celulose e a lignina, presentes na serragem de madeira (Villas Boas et al., 2004). Além disso, a decomposição de materiais provenientes de madeira, resulta em liberação para o meio de resinas, terpenóides e substâncias fenólicas, dentre outros compostos, que podem causar injúrias nas plantas (Kiehl, 1985). Baseado nos dados contidos n����� a Tabela 3, a cultivar Lucy Brown revelou os maiores valores para massa fresca comercial e circunferência da planta sendo que a Great Lakes foi similar à cultivar Lucy Brown quanto à circunferência da planta. Já para comprimento do caule, as cultivares Vera, Isabela e Lucy Brown expressaram os maiores valores. A cultivar Elisa revelou os maiores valores, para o número de folhas totais e comerciais, bem como a Babá de Verão expressou semelhança quanto ao número de folhas totais à cultivar Elisa. Os resultados ratificam que o uso de esterco bovino isoladamente produziu melhores resultados para as características avaliadas, com exceção da massa fresca total e diâmetro de caule, em que houve semelhança em relação ao composto de esterco + serragem. A cultivar Lucy Brown destacou-se comparativamente às demais. REFERÊNCIAS COSTA CA. 1994. Crescimento e teores de sódio e de metais pesados na alface e na cenoura adubadas com composto orgânico de lixo urbano. 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Goiânia: UFG, 189p. VIDIGAL SM; SEDIYAMA MAN; GARCIA NCP; MATOS AT. 1997. Produção de alface cultivada com diferentes compostos orgânicos e dejetos suínos. Horticultura Brasileira 15: 35-39. VILLAS BÔAS RL; PASSOS JC; FERNANDES M; BULL LT; CEZAR, VRS; GOTO R. 2004. Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido. Horticultura Brasileira 22: 28-34. VIGGIANO J. 1990. Produção de sementes de alface. In: CASTELLANE PD. Produção de Sementes de Hortaliças. Jaboticabal: FCAVFUNEP, p.1-15. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 ALVES FS; JASMIM JM; CARVALHO AJC; THIÉBAUT JTL. 2010. Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco. Horticultura Brasileira 28:91-96. Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco Flávia dos S Alves1; Janie M Jasmim1; Almy JC de Carvalho1; José Tarcísio L Thiébaut2 UENF-CCTA-LFIT Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-602, Campos dos Goytacazes-RJ; 2UENF-LEAG; [email protected]; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT As avaliações foram realizadas em quatro substratos compostos de mistura de fibra de coco triturada (FC) e substrato comercial Plantmax HT® (SC), nas proporções de 0, 25, 50 e 75% de FC, em vasos com capacidade para 35 L, em delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e três vasos por parcela, com uma planta por vaso. A adubação das plantas foi feita alternando-se, a cada três meses, 25 g de 4-14-8 com 10 g de uréia por vaso, a partir do plantio e durante os 24 meses do período experimental. O crescimento foi avaliado medindo-se a altura da haste inicial (da base do caule à inserção da última folha completamente expandida), número de folhas da haste inicial, número de perfilhos, número de folhas dos perfilhos, altura dos perfilhos e teores de nutrientes da última folha completamente expandida da haste inicial. A qualidade foi avaliada através de análise sensorial visual, baseado nos critérios “gostei” (muito ou pouco) e “compraria” (sim ou não). Não houve diferença entre os tratamentos sobre as características de crescimento, exceto para o número de folhas da haste inicial. As plantas com melhor aceitação foram aquelas cultivadas na mistura com 50% FC e 50% SC. Nenhuma das plantas apresentou sintoma visual de deficiência de nutrientes, sendo os teores foliares encontrados em plantas sadias com padrão de qualidade para comercialização de: 17,80 - 18,29 g kg-1 de N; 0,66 - 0,81 g kg-1 de NO-3; 2,02 - 2,34 g kg-1 de P; 18,11 - 20,40 g kg-1 de K; 11,63 - 13,84 g kg-1 de Cl; 2,69 - 4,04 g kg-1 de Ca; 1,61 - 2,07 g kg-1 de S; 1,98 - 2,64 g kg-1 de Mg. Quality and nutrient content of lady palm in coconut fiber substrate Palavras-chave: Rhapis excelsa, casca de coco, adubos. Keywords: Rhapis excelsa, coconut husk, fertilizers. It was evaluated the quality and nutrient content of lady palm in four substrates made up of a mixture of shredded coconut fiber (FC) and commercial substrate Plantmax HT® (SC), in proportions of 0, 25, 50 and 75% of FC, in 35 liters containers, in a randomized block experiment with four replicates and three pots per plot, with one plant per pot. The plants were fertilized every three months alternating 25 g of 4-14-8 with 10 g of urea per pot, at planting and throughout the 24 months of the experimental period. Growth was evaluated by measuring the height of the initial stem (from the stem base to leaf insertion of the most recently expanded leaf), number of leaves in the original stem, number of offsets, number of leaves in offsets, offset height and nutrient content of last completely expanded leaf in the initial stem. The quality was evaluated by visual sensorial analysis using the criteria “I liked it” (a lot or a little) and “ I would buy it” (yes or no). There was no significant difference on the growth characteristics among treatments, except on the number of leaves of the initial stem. Plants with the best acceptance were those grown in the mixture 50% FC and 50 % SC. None of the plants showed visual nutrient deficiency symptoms; the leaf nutrient content of healthy plants with market quality standards were: 17.80 - 18.29 g kg-1 of N; 0.66 - 0.81 g kg-1 of NO-3 ; 2.02 - 2.34 g kg-1 of P; 18.11 - 20.40 g kg-1 of K; 11.63 - 13.84 g kg-1 of Cl; 2.69 - 4.04 g kg-1 of Ca; 1.61 - 2.07 g kg-1 of S; 1.98 - 2.64 g kg-1 of Mg. (Recebido para publicação em 20 de fevereiro de 2009; aceito em 10 de dezembro de 2009) (Received on February 20, 2009; accepted on December 10, 2009) A produção de palmeiras para uso comercial, visando o paisagismo (exterior e interior) tem-se desenvolvido muito, tornando-se um importante segmento da horticultura ornamental. Uma das espécies de palmeira muito utilizada no paisagismo é a palmeirarápis [Rhapis excelsa (Thunberg) Henry ex. Rehder], que é muito cultivada no Brasil em vasos, parques e jardins, em locais sombreados ou de meia-sombra, e é de fácil desenvolvimento (Lorenzi & Souza, 2001). No estado do Rio de Janeiro, a floricultura é uma atividade que vem se desenvolvendo de maneira expressiva em diversos municípios, destacandoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 se aqueles das regiões metropolitanas, Costa Verde, e baixadas litorâneas (EMATER-RIO, 2004). Segundo o relatório Projeto Floricultura Fluminense (SEBRAE-FIRJAN-AGRAR, 2003), o cultivo de palmeiras em recipientes, por apresentar boa viabilidade econômica e facilidade de manejo, é uma modalidade com grande potencialidade nos mercados externo e interno. Dentre os aspectos importantes para o cultivo de plantas em recipientes, destaca-se o substrato. O substrato exerce influência significativa na arquitetura do sistema radicular, no estado nutricional das plantas, bem como no movimento da água no sistema solo-planta-atmosfera. O cultivo em recipientes, limitando o espaço de crescimento das raízes, requer que o substrato apresente algumas características como boa retenção de umidade, facilidade de rehidratação, porosidade suficiente para permitir as trocas gasosas, suporte ou ancoragem para a planta, alta capacidade de adsorção, boa capacidade de tamponamento, ausência de pragas e patógenos, e alguma reserva de nutrientes (Kämpf, 2000; Hartmann & Kester, 1975; Röber, 1999). Um bom substrato para produção de palmeiras em recipientes deve ser bem drenado, bem aerado, e de lenta decomposição, posto que algumas palmeiras permanecem no mesmo recipiente por 91 FS Alves et al. MATERIAL E MÉTODOS Mudas de palmeira-rápis (Rhapis excelsa), com aproximadamente oito meses e sete cm de altura, oriundas de sementes, foram cultivadas de maio de 2002 a maio de 2004, em casa de vegetação com cobertura de plástico leitoso 100µ e sombrite® 30%, e aberturas laterais com sombrite® de 70%, na UENF, em Campos dos Goytacazes-RJ. As plantas foram cultivadas em vasos plásticos pretos, com capacidade para 35 L, contendo uma das misturas de fibra de coco (0, 25, 50 e 75%) e substrato comercial Plantmax HT®, em um experimento com os seguintes tratamentos: T1= 0% FC; T2= 25% FC; T3= 50% FC; T4= 75% FC, no delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e três plantas por parcela, sendo uma planta por vaso, totalizando 48 plantas. O mesocarpo foi preparado conforme descrito por Jasmim et al. (2006). Todas as plantas receberam a mesma adubação, iniciada aos três meses após o plantio, com a formulação de 25 g de 4-14-8 por vaso, intercalados com 10 g de uréia por vaso, em intervalos de aproximadamente três meses. As plantas foram avaliadas quanto ao número de folhas da haste inicial, determinado por contagem; alturas da haste inicial e dos perfilhos (da base do caule à inserção da última folha completamente expandida), medidas por meio de uma trena portátil; número de perfilhos e número de folhas por perfilho, por contagem. Foram feitas 20 medições durante o período experimental de 24 meses. A matéria seca e os teores de nu92 trientes foram determinados em cinco épocas, a saber, 6, 10, 16, 20 e 25 meses após o plantio, retirando-se uma folha recém-expandida da haste inicial de cada vaso, juntando-se as três plantas da parcela, por tratamento em cada bloco. Para determinação de nutrientes, cada última folha completamente expandida da haste inicial era limpa com algodão umedecido com água desionizada, para retirada de impurezas, e colocada para secar dentro de saco de papel em estufa com ventilação forçada a 70ºC por um período de 72 horas, e triturada em moinho Wiley, com peneira de 20 mesh. Em seguida, o material vegetal foi submetido às digestões sulfúrica e nitro-perclórica, separadamente, conforme descrito por Malavolta et al. (1997). Os extratos foram utilizados para a determinação dos teores de (N, P, K, Ca, Mg e S). O nitrogênio orgânico foi determinado pelo método de Nessler (Jackson, 1965), após a digestão sulfúrica dos materiais; o fósforo pela redução do complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C (Braga & Defelipo, 1974); para nitrogênico nítrico, utilizou-se a metodologia descrita por Cataldo et al. (1975). O cloro foi determinado por titulometria (Malavolta et al., 1997). Os teores de potássio, cálcio e magnésio foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica e o enxofre por turbidimetria do sulfato de bário (Malavolta et al., 1997). O experimento foi implantado segundo delineamento em blocos casualizados com quatro repetições, onde os tratamentos foram todas as combinações entre épocas e teor de FC, a 5% de probabilidade. Para comparar os teores de FC, utilizou-se a análise de regressão até segundo grau em função de época, também utilizando a 5% de probabilidade. A análise de qualidade das mudas de palmeira-rápis foi realizada através do preenchimento por 10 avaliadores de formulários individuais para cada planta, combinando os percentuais de FC e a aceitação para compra pelos critérios “gostei” (muito ou pouco) e “compraria” (sim ou não); os resultados foram analisados em intervalo de confiança a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO As plantas cultivadas nos diferentes substratos não diferiram significativamente entre si em altura da haste inicial, nem em número de perfilhos, altura de perfilhos e número de folhas dos perfilhos, mas diferiram em número de folhas da haste inicial. A análise de regressão mostrou um efeito quadrático significativo do aumento do percentual de fibra sobre o número de folhas que 17 Número de folhas da haste inicial um longo período, com espaço ocupado pelo ar de 10 a 15% e com capacidade de retenção de água de 30 a 40% v/v (Broschat & Meerow, 2000). Meerow (1994 e 1995) indica o potencial de utilização da fibra de coco como substituto da turfa nas misturas para o cultivo de palmeiras. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade e teor de nutrientes de palmeira-rápis (Rhapis excelsa) em substrato com fibra de coco em mistura com substrato comercial. 16 15 14 *y = -0,0009x 2 + 0,0474x + 15,594 *R2 = 0,86 13 0 25 50 75 Percentual de fibra de coco Figura 1. Número de folhas de Rhapis excelsa ao longo do período experimental de 24 meses de cultivo em função do percentual de fibra de coco (FC) no substrato. *p≥0,05 (number of leaves of Rhapis excelsa along an experimental period of 24 months of growth as a function of the percentage of coconut fiber (FC) in the substrate. *p≥0.05). Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco a) b) Haste inicial (cm) Número de folhas da haste inicial 25 20 15 10 *y =- 0, 0147x2 +0, 8841x +7, 0914 5 *R2 =0, 98 35 30 25 20 15 10 5 0 0 0 5 10 15 20 2 *y =-0,0262x +1,7691x +4,8253 2 *R =0,99 25 0 5 25 8 N. folhas de perfilhos Número de perfilhos 20 d) 12 10 8 6 4 2 *y =-0,0092x +0,7164x - 1,8507 2 *R =0,97 2 0 15 Meses de cultivo Meses de cultivo c) 10 0 5 10 15 20 7 6 5 4 3 2 1 0 25 2 *y =-0,01x +0,6127x - 1,3777 2 *R =0,97 0 5 10 Meses de cultivo e) 15 20 25 Meses de cultivo 20 18 Perfilhos (cm) 16 14 12 10 8 6 4 2 *y =-0,0034x +0,9904x - 2,3065 2 *R =0,99 2 0 0 5 10 15 20 25 Meses de cultivo Figura 2. Características de crescimento de Rhapis excelsa em função do tempo de cultivo em meses após o plantio: a) número de folhas da haste inicial; b) altura da haste inicial (cm); c) número de perfilhos; d) número de folhas nos perfilhos; e) altura de perfilhos (cm). *p≥0,05 (growth characteristics of Rhapis excelsa as a function of growth period in months after planting: a) number of leaves of the initial stem; b) height of initial stem (cm); c) number of offshoots; d) number of leaves of offshoots; e) height of offshoots (cm). *p≥0.05). Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 93 FS Alves et al. Tabela 1. Teores de nutrientes (g kg-1) na matéria seca das folhas de Rhapis excelsa ao longo do período experimental de 24 meses de cultivo (leaf dry matter nutrient contents of Rhapis excelsa along an experimental period of 24 months of growth). Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. Nutrientes N NO3 P K Cl Ca S Mg 0% FC 18,29 0,81 2,16 19,96 13,84 3,97 1,80 2,22 Tratamentos 25% FC 50% FC 17,80 17,93 0,80 0,66 2,04 2,02 20,40 18,74 11,89 11,63 2,75 2,69 1,61 1,77 1,98 2,08 75% FC 18,29 0,72 2,34 18,11 13,74 4,04 2,07 2,64 FC= fibra de coco (coconut fiber) apresentou ponto de máximo estimado de 16 folhas nas plantas cultivadas em substrato com 26% de fibra (Figura 1). Os resultados do número de folhas da haste inicial das plantas aos 24 meses de cultivo diferem daqueles observados por Jasmim & Alves (2003) que não encontraram diferenças no número de folhas da haste inicial das plantas dos diferentes tratamentos aos seis meses de cultivo. Todas as características de crescimento avaliadas variaram significativamente em função do número de meses decorridos no período experimental, independentemente do substrato utilizado (Figura 2a, b, c, d, e) e não foram observadas interações entre substratos e épocas de avaliação. Os valores das médias de altura da haste inicial, observados aos seis meses de cultivo são próximos àqueles encontrados por Luz et al. (2006) para o mesmo período de cultivo (médias de 12,60 a 15,40 cm), estudando o efeito de diferentes alturas de recipientes no cultivo de palmeira-rápis. Entretanto, os valores máximos de altura da haste inicial, observados no presente trabalho, não são tão elevados, em termos absolutos, quanto os encontrados por aqueles autores (31,85 a 38,65 cm) aos 18 meses de cultivo. Porém, no trabalho de Luz et al. (2006), as plantas não apresentaram perfilhamento, enquanto no presente as hastes principais perfilharam e houve crescimento destes perfilhos em número, altura e número de folhas, bem maior que aquele observado na haste inicial, 94 podendo esse fato ter restringido o crescimento da haste inicial. Através da derivação das equações de regressão, estimou-se o número de meses para as plantas de palmeira-rápis atingirem o crescimento máximo, no mesmo recipiente e nas mesmas condições de cultivo, permitindo-se desta forma julgar qual seria o momento mais propício para a mudança de recipiente. Assim, o crescimento máximo estimado foi de 20 folhas em 30 meses para o número de folhas da haste inicial; 35 cm em 34 meses para a altura da haste inicial; 12 perfilhos em 40 meses para o número de perfilhos; 8 folhas em 31 meses para o número de folhas de perfilhos; e 70 cm em 146 meses para a altura dos perfilhos. Na avaliação da qualidade das plantas, observou-se que o maior percentual de entrevistados gostou muito das plantas e as compraria (Figura 03b), tendo maior aceitação, as plantas cultivadas em 50% FC e 50% SC (Figura 03a). Apesar de esse substrato ter apresentado o melhor resultado na avaliação da qualidade, as plantas cultivadas nos substratos com outros percentuais de FC e SC também estavam dentro do padrão de comercialização, ou seja, sendo igualmente aceitas no comércio local, e não foram descartadas. Esteticamente, todas as plantas estavam vigorosas, sadias, com grande número de folhas e perfilhos, com a coloração das folhas verde brilhante, o que chamava a atenção dos entrevistados. Assim, as características de qualidade confirmam os resultados da análise de crescimento, que indicam a adequação da adição dos diferentes percentuais de fibra de coco ao substrato sem prejuízo na qualidade do produto. As razões para gostarem muito das plantas e não comprá-las, mesmo em menor percentual, variou entre os entrevistados, como, por exemplo, o porte grande da planta, a não preferência pela espécie, entre outros. Não foram observados sintomas visuais de deficiência de nutrientes nas plantas. Na Tabela 1 estão os teores de nutrientes na matéria seca das folhas de palmeira-rápis ao longo do período experimental de 24 meses de cultivo. A análise de regressão não mostrou diferenças significativas nos teores de N, NO-3, Ca, Mg e S das folhas das plantas em função do percentual de FC no substrato de cultivo e nem em função do número de meses de cultivo ao longo do período experimental; as médias originais estão na Tabela 1. Os valores desses nutrientes observados em todas as plantas estão dentro da faixa de teores foliares descrita por Jones et al. (1991) como adequada para a espécie, com exceção do Ca que apresentou valores abaixo do considerado adequado pelo autor. Os valores observados para Ca, bem como para os demais nutrientes, podem ser considerados adequados uma vez que não foram observados sintomas visuais de deficiência em nenhuma das plantas. Diferentemente dos resultados dos teores de N e Ca descritos, Amaral (2007) observou menores teores foliares de N em Vriesea gigantea em função do aumento da FC no substrato (30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100% de FC) e maiores teores foliares de Ca em Aechmea ramosa x fulgens nas mesmas condições; porém, não observou diferenças entre os teores foliares de Mg, NO-3 e S das mesmas plantas. Os teores foliares de P variaram significativamente em função do percentual de FC no substrato. A equação de regressão, y= 0,0002x2 – 0,0114x + 2,1727 (R2=0,95), mostra que os teores foliares de P nas plantas cultivadas no substrato com 25% de FC foram menores que nas plantas do substrato sem FC, e que os maiores teores foliares de P Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco a b Figura 3. Qualidade das mudas de Rhapis excelsa cultivadas em substrato composto 0, 25, 50 e 75% de fibra de coco (FC) e substrato comercial (SC) Plantmax HT: a) com base na aceitação pelos entrevistados; b) com base na avaliação visual e perspectiva de aquisição pelos entrevistados. *p≥0,05 (quality of Rhapis excelsa plants grown in substrate consisting of 0, 25, 50 and 75% of coconut fiber (FC) and commercial substrate (SC) Plantmax HT: a) base on the acceptance of the interviewed people; b) based on the visual evaluation and acquisition perspective of the interviewed people. *p≥0.05). Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. foram observados nas plantas cultivadas em 75% de FC, embora todos os valores de teores foliares de P estejam dentro da faixa considerada adequada (Jones et al., 1991). Esses resultados diferem daqueles observados por Jasmim & Alves (2003) que não encontraram diferenças significativas entre os teores foliares de P em plantas de Rhapis excelsa, aos seis meses de cultivo, e de Ravenala madagascariensis em substratos contendo 0, 25, 50 e 75% de FC. Nos teores foliares de K foram obHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 servadas diferenças significativas (y= -0,0288x + 20,383; R2=0,77) em função do percentual de FC no substrato, com decréscimo nos teores desse nutriente à medida que se aumentou o percentual de FC, apresentando os valores mais baixos com 75% de FC. Não foram observadas interações significativas. Os teores foliares de K observados estão dentro da faixa considerada adequada (Jones et al., 1991). A alta concentração de K no substrato com FC, decorrente de altas concentrações presentes na fibra de coco, não afetou a sua disponibilidade para o crescimento das plantas cultivadas nos substratos com maiores percentuais de fibra, como também foi observado por Souza (2002) e Amaral (2003) em singônio e Quesnelia quesneliana (Bromeliaceae), respectivamente. Da mesma forma Jasmim & Alves (2003) observaram que os teores foliares de K em palmeira-rápis não aumentaram em função do aumento da fibra de coco no substrato nas plantas de palmeira-rápis, aos seis meses de cultivo. De acordo com a análise dos resul95 FS Alves et al. tados, pode-se concluir que a fibra de coco poderá compor o substrato para a produção de palmeira-rápis nos percentuais de 25 a 75%, com melhor aceitação pelos entrevistados àquelas cultivadas em 50% FC e 50% SC. Não houve sintoma visual de deficiência de nutrientes em nenhuma das plantas, cujos teores foliares encontrados em plantas sadias com padrão de comercialização foram de: 17,80 - 18,29 g kg-1 de N; 0,66 - 0,81 g kg-1 de NO-3 ; 2,02 - 2,34 g kg-1 de P; 18,11 - 20,40 g kg-1 de K; 11,63 - 13,84 g kg-1 de Cl; 2,69 - 4,04 g kg-1 de Ca; 1,61 - 2,07 g kg-1 de S; 1,98 - 2,64 g kg-1 de Mg. AGRADECIMENTOS Nossos agradecimentos à FAPERJ, Setor de Nutrição Mineral de Plantas, LFIT-CCTA da UENF. REFERÊNCIAS AMARAL TL. 2003. Aplicação de benzilaminopurina (BAP) e de nitrogênio em Quesnelia quesneliana Brongniart cultivada em diferentes substratos. Campos dos Goytacazes-RJ: UENF. 50p (Tese mestrado). AMARAL TL. 2007. Substratos com fibra de coco e fungos micorrízicos no cultivo de bromélias. Campos dos Goytacazes-RJ: 96 UENF. 181p (Tese doutorado). BRAGA JM; DEFELIPO BV. 1974. Determinação espectrofotométrica de fósforo em extratos de solos e material vegetal. Revista Ceres 21: 73-85. 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Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido Lucilene JC Fernandes1,3; Leonardo T Büll1; Juliano C Corrêa1; Marcelo A Pavan1; Isao Imaizumi2 UNESP–FCA-Faz. Exp. Lageado, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; 2Genove Agronegócios, Rod. BR 452, km 225, C. Postal 27, 38175-000 Santa Juliana-MG; 3Bolsista CAPES; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT A adubação nitrogenada associada ao uso de bulbos isentos de vírus contribui para o aumento de produtividade e qualidade do alho, fato que pode incentivar o produtor rural a investir na cultura, pois garante maior retorno econômico. O objetivo do trabalho foi avaliar o índice relativo de clorofila, estado nutricional, a produção total e comercial do alho livre de vírus e a correlação entre essas variáveis em função de doses de nitrogênio. O experimento foi instalado sob condições de ambiente protegido de maio a setembro de 2006, utilizando o delineamento em blocos casualizados, com seis repetições. Os tratamentos consistiram da aplicação em cobertura de doses crescentes de N (0, 20, 40, 80, 160 e 320 kg ha-1), utilizando como fonte o nitrato de amônio, na proporção de 25% da dose no estádio de 3 a 4 folhas, 25% antes da formação dos bulbilhos e 50% após a diferenciação. O aumento das doses de N resultou em maior índice relativo de clorofila, aumentou a absorção de N e reduziu absorção de P e K nas folhas, proporcionou maior produtividade total e comercial, sem que ocorresse pseudoperfilhamento. Nitrogen fertilization in garlic free of virus cultivated in protected environment Palavras-chave: Allium sativum, clorofilômetro, nutrição. Keywords: Allium sativum, chlorophyll meter, nutrition. Nitrogen fertilization associated to the utilization of bulb free of virus enhances garlic yield and quality and it can incentive growers to invest in the crop whereas it allows a better economic return. The aim of this research was to evaluate the relative chlorophyll index (RCI), plant nutrition and total and commercial garlic yield and verify the correlation among these variables in relation to nitrogen fertilization. The experiment was carried out under greenhouse from May to September 2006. The experimental design consisted of randomized blocks with six replications. The treatments were application of crescent levels of nitrogen corresponding to 0, 20, 40, 80, 160, and 320 kg N ha-1. The N source was ammonium nitrate; 25% of the dose was applied when plants presented 3 or 4 leaves, 25% when plants presented 5 or 6 leaves, and 50% after the differentiation. The application of crescent levels of nitrogen proportioned higher relative chlorophyll index (RCI), increased the N content and reduced P and K content in leaves, enhanced total and commercial yield without secondary growth. (Recebido para publicação em 4 de novembro de 2008; aceito em 8 de fevereiro de 2010) (Received on November 4, 2008; accepted on February 8, 2010) O principal fator que possibilita maiores rendimentos na cultura do alho (Allium sativum) é a aplicação de fertilizantes, em especial o nitrogênio, pois é o nutriente que mais contribui para o aumento da produtividade de bulbos por exercer efeito rápido e pronunciado sobre o desenvolvimento vegetal nessa cultura (Büll et al., 2002). Repostas à adubação com N na cultura do alho foram obtidas desde a dose de 40 kg ha-1 até a dose de 180 kg ha-1 (Patel et al., 1996; Verma et al.,1996; Resende et al., 1993; Resende et al., 2000; Resende & Souza, 2001a; Büll et al., 2002; Marouelli et al., 2002). Ao contrário, Costa et al. (1993), Lipinski et al. (1995) e Sadaria et al. (1997) não verificaram efeitos significativos do N na produtividade total e comercial do alho. Vale ressaltar que quando o N é aplicado em cobertura no período de bulbificação ocorre maior incidência de pseudoperfilhamento (Resende & Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Souza, 2001a,b; Büll et al., 2001, 2002). Portanto, a dose de N em cobertura deve resultar na máxima produtividade, desde que aplicada na época correta para evitar o pseudoperfilhamento. O alho é propagado assexuadamente, permitindo que patógenos sejam facilmente disseminados através das gerações, causando acúmulo de viroses e degenerescência dos clones. A técnica de cultura de tecidos possibilita a obtenção de plantas de alho isentas de patógenos, em especial os vírus, que condiciona respostas diferentes à adubação nitrogenada, quando comparadas com plantas obtidas convencionalmente. Assim, a associação da aplicação de fertilizantes à técnica de cultura de tecidos, possibilitará que estas plantas apresentem maior potencial produtivo em razão do aumento do peso e diâmetro de bulbos, refletindo em maior retorno econômico para o produtor (Resende et al., 2000). Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o índice relativo de clorofila, estado nutricional, produção total e comercial do alho livre de vírus e a correlação entre essas variáveis em função das doses de nitrogênio aplicadas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no município de Santa Juliana-MG, sob condições de ambiente protegido de 12/05/06 a 01/09/06. O solo, classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo (Embrapa, 1999) foi amostrado na camada de 0-20 cm para realização da análise química (Raij et al., 2001), que apresentou os seguintes resultados: pH(CaCl 2)= 6,0; M.O.= 24 g kg -1; P(resina)= 104 mg dm-3; H+Al= 25 mmolc dm-3; K= 4 mmolc dm-3; Ca= 54 mmolc dm-3; Mg= 14 mmolc dm-3; CTC= 97 mmolc dm-3; V= 74 %; B= 0,44 mg 97 LJC Fernandes et al. 98 As avaliações de índice relativo de clorofila (IRC) foram realizadas nos mesmos dias das aplicações dos tratamentos e 15 dias após a última aplicação das doses de N, amostrando-se 10 plantas por parcela. O IRC foi determinado com o auxílio do medidor portátil, o clorofilômetro, modelo SPAD-502 da Minolta Corporation Ltda, amostrandose a parte central da folha recentemente expandida e fisiologicamente madura. As folhas em que foram realizadas as leituras de IRC, à exceção da primeira época de avaliação, foram coletadas para análise química dos teores foliares de macronutrientes, segundo metodologia descrita por Malavolta et al. (1997). As plantas destinadas à avaliação da produção foram coletadas a partir de 0,5 m de cada extremidade da parcela, coletando 10 plantas por linha, totalizando 50 plantas por parcela. Após a colheita, as plantas passaram pelo período de cura por 30 dias, a fim de favorecer gradual perda de umidade e concentração de sólidos nos bulbos, melhorando a conservação (Filgueira, 2000). Após esse intervalo, os bulbos foram classificados em função do diâmetro transversal em classes de 3 a 7, segundo a Comissão Técnica de Normas e Padrões do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para cada tratamento foi calculada a produtividade total e comercial. Na produtividade comercial foram considerados bulbos de classe 3 ou superior, isentos de sintomas de ataque de pragas e doenças ou outra anomalia. A ocorrência do pseudoperfilhamento foi quantificada nas 50 plantas destinadas à análise da produção, no momento da colheita. Os resultados foram submetidos à análise de variância seguida de análise de regressão, ajustando-se as equações aos dados obtidos a partir das doses de nitrogênio, tendo como critério para escolha do modelo matemático o teste F significativo a 1 e 5% e a magnitude dos coeficientes de determinação. A análise de correlação foi realizada pelo método de Pearson. As análises estatísticas foram realizadas nos programas Sisvar v. 4.2 (Ferreira, 2003) e Sigmastat v. 3.11 (Systat, 2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação de doses crescentes de N em cobertura elevou o índice relativo de clorofila (IRC), quando as folhas de alho foram amostradas nos estádios fe- 70 IRC (S pad) dm-3; Zn= 5,2 mg dm-3. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com seis repetições. Os tratamentos consistiram de aplicações em cobertura com doses crescentes de N (0, 20, 40, 80, 160 e 320 kg N ha-1), tendo como fonte o nitrato de amônio. Essas doses foram parceladas em razão do estádio fenológico da cultura, aplicando-se 25% da dose quando as plantas apresentaram de 3 a 4 folhas, 25% quando apresentaram de 5 a 6 folhas, o que ocorreu antes da diferenciação, e 50% após a fase de diferenciação, estádio de início do crescimento dos bulbilhos. As parcelas foram dimensionadas com 2,0 m de comprimento por 1,2 m de largura do canteiro, com espaçamento de 10 cm entre plantas e 20 cm entre linhas. A adubação de plantio foi ajustada para a camada de 0-20 cm e foram aplicados 680 kg ha-1 de P2O5 antes da gradagem, sendo 1/3 na forma de termofosfato e 2/3 de superfosfatosimples, 50 kg ha-1 de KCl, 10 kg ha-1 de ácido bórico e 10 kg ha-1 de sulfato de zinco. Junto com a primeira adubação nitrogenada de cobertura foi adicionado o equivalente a 50 kg ha-1 de KCl. Utilizou-se a cv. Caçador LV (livre de vírus), pertencente ao grupo dos “alhos nobres” e das cultivares tardias. Os bulbos caracterizam-se por apresentar bulbilhos graúdos e em pequeno número, coloração externa roxa e alta capacidade de conservação (Filgueira, 2000), sendo bem aceitos no mercado por ter qualidade comparável à do alho argentino. Os bulbilhos isentos de vírus foram obtidos através de cultura de tecidos e termoterapia, na UNESP-FCA, aclimatizados em casa-de-vegetação e multiplicados por quatro gerações em telado no município de GuarapuavaPR. Foram utilizados para o plantio bulbilhos pesando entre 3 e 4 gramas, de bulbos nº 6 (diâmetro transversal maior que 47 até 56 mm), de acordo com a classificação da Circular nº 50/81 da Comissão Técnica de Normas e Padrões do Ministério da Agricultura. A colheita ocorreu aos 112 dias após o plantio (DAP). Foram adotados os tratos culturais referentes à cultura do alho como medidas preventivas de controle de pragas e doenças. 65 60 74 DAP Y = 63,6 + 0,014x R2 =0,76 ** 89 DAP Y = 56,6 + 0,035x - 0,00007x2 R2 =0,80 * 55 0 40 80 120 160 Doses de N (kg 200 240 280 320 ha-1 ) Figura 1. Índice Relativo de Clorofila (IRC) em folhas de plantas de alho, na fase de diferenciação (74 DAP) e 15 dias após (89 DAP) em função de doses de nitrogênio (relative chlorophyll index (RCI) in leaves of garlic plants, at differentiation (74 DAP) and 15 days after (89 DAP) in response to the nitrogen rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido Fase de diferenciação 5,3 30 5 -1 -1 35 25 0 20 40 80 160 320 <3 5 4 3 4 2 2 ns 3 26 16 25 15 12 9 L** 20 4,4 0 40 80 120 160 200 -1 240 280 320 Doses de N (kg ha ) Figura 2. Teores foilares de N, P e K, na fase de diferenciação (74 DAP), em plantas de alho, em função de doses de nitrogênio (leaves concentrations of N, P and K, at differentiation (74 DAP), in garlic plants, in response to the nitrogen rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006. consideradas adequadas para a cultura do alho, apresentam valores entre 25 a 30 g kg-1 de N, 3,0 a 5,0 g kg-1 de P e de 30 a 44 g kg-1 de K. Assim, os teores de N, P e K obtidos podem ser considerados adequados, pois estão dentro ou próximos da faixa de suficiência considerada adequada à cultura, tendo como principais parâmetros o desenvolvimento da planta e a produtividade alcançada. A redução nos teores de P e K nas folhas de alho em função das doses crescentes de N (Figura 2) pode ser justificada em razão das maiores doses de N terem proporcionado maiores bulbilhos, causando o efeito de diluição para esses Classes 4 44 43 36 39 35 27 L** 5 22 30 33 30 35 39 L** 6 3 6 3 13 16 23 L** ns: não significativo; **significativo a 1% pelo teste F; L: equação linear (ns: not significant, **1% significant by F test; L: linear equation) Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 4,7 T eor de N Y = 25,1 + 0,04x - 0,00007x 2 R2 =0,85 ** T eor de K Y = 5,39 + 0,003x R2 =0,94 ** T eor de P Y = 33,5 + 0,015x R2 =0,50 ** Tabela 1. Distribuição dos bulbos (%), nas classes <3, 3, 4, 5, e 6, em função de doses crescentes de N (kg ha-1) (distribution of bulbs (%), in the class <3, 3, 4, 5, and 6, in response to the nitrogen rates (kg ha-1)). Santa Juliana, GENOVE, 2006. Doses de N 5,6 Teores de P (g kg ) 40 Teores de N e K (g kg ) nológicos de diferenciação (74 DAP) e 15 dias após (89 DAP) (Figura 1). Não houve, no entanto, efeito significativo para essa variável quando a amostragem foi realizada nos estádios de 3 a 4 folhas (13 DAP) e de 5 a 6 folhas (28 DAP). Esse resultado pode ser justificado em razão do N ser componente do grupo pirrólico na molécula de clorofila, ou seja, seu fornecimento em função das doses estaria contribuindo na formação dessa molécula e, consequentemente, aumentando os valores de IRC (Lima, 2005). Os maiores valores de IRC foram obtidos nas doses de 320 kg ha-1 de N quando a folha de alho foi amostrada no estádio de diferenciação e de 250 kg ha-1 de N quando a folha foi amostra 15 dias após a diferenciação. Resende (1994) sugeriu o período de 6 a 9 dias como intervalo para se obter o máximo de aumento do teor de clorofila devido à aplicação de N. Entretanto, Büll et al. (2002) não verificaram aumento no teor de clorofila em função de doses crescentes de N, utilizando-se a cultivar Caçador, com bulbilhos sem a utilização da técnica de cultura de tecidos. As plantas de alho absorveram mais N e menos P e K em função do aumento das doses de N (Figura 2), com a amostragem das plantas realizada no mesmo estádio da variável IRC. Os teores médios de N aumentaram de acordo com as doses desse nutriente aplicado, sendo que o maior teor de N na folha de alho foi observado na dose de 320 kg ha-1 de N. De acordo com Raij et al. (1996), as faixas de suficiência para N, P e K nutrientes, pois no estádio de enchimento dos bulbilhos, o dreno mais forte passa a ser esse órgão, portanto deve existir redistribuição mais eficiente do P e K no sentido folha – bulbilhos, principalmente, quando os bulbilhos são maiores. É nesse órgão que está havendo maior gasto energético, bem como a absorção e transporte dos direcionados, preferencialmente, para os bulbilhos. Tanto o P como o K, são nutrientes móveis dentro da planta, sendo muito exigidos nos locais de maior crescimento, no caso o bulbilho, pois estão envolvidos fisiologicamente com as funções de transporte de energia (ATP) e o desencadeamento das atividades enzimáticas, entre outras (Taiz & Zeiger, 2004). A adubação nitrogenada em cobertura proporcionou maior produtividade total e comercial, as quais apresentaram comportamento linear crescente com o aumento das doses de N (Figura 3), sendo que a dose de 320 kg ha-1 de N proporcionou valores de 9,1 t ha-1 para a produtividade total e de 9,0 t ha-1 para a comercial, respectivamente. Efeitos significativos da adubação com N foram obtidos até a dose de 97 kg N ha-1 por Marouelli et al. (2002), de 149 kg N ha-1 por Resende & Souza (2001a), e de 160 kg N ha-1 por Büll et al., (2002). Ao contrário, Costa et al. (1993) não 99 LJC Fernandes et al. 9,5 Produtividade (t ha -1 ) 9,0 8,5 8,0 7,5 Total 7,0 6,5 Comercial 0 40 80 Y = 7,49 + 0,0048x R Y = 7,35 + 0,0052x R 2 2 =0,90 ** =0,89 ** 120 160 200 -1 ) Doses de N (kg ha 240 280 320 Figura 3. Produtividades total e comercial (t ha-1) de bulbos de alho, em função de doses de nitrogênio (total and commercial yield (t ha-1) of garlic bulbs, in response to the nitrogen rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006. Tabela 2. Coeficiente de correlação entre índice relativo de clorofila (IRC), teor de nitrogênio na folha e produtividades total e comercial (coefficient of correlation between relative chlorophyll index (RCI), nitrogen concentration in leaves, and total and commercial yield. Santa Juliana, GENOVE, 2006. Fatores correlacionados Fase de amostragem 5 a 6 folhas IRC x N foliar 0,73** 15 dias após diferenciação 0,80** 0,49** 15 dias após diferenciação 0,60** IRC x Produtividade comercial Diferenciação 15 dias após diferenciação 5 a 6 folhas ns 0,48** 0,57** ns Diferenciação 0,47** 15 dias após diferenciação 0,47** 5 a 6 folhas N foliar x Produtividade comercial ns Diferenciação 5 a 6 folhas N foliar x Produtividade total ns Diferenciação 5 a 6 folhas IRC x Produtividade total Coeficiente de correlação ns Diferenciação 0,47** 15 dias após diferenciação 0,47** ns: não significativo; **significativo a 1% pela correlação de Pearson (ns: not significant; **1% significant by Pearson correlation). 100 verificaram efeito significativo do N na produtividade total e comercial do alho quando utilizaram até 120 kg ha-1, assim como, Lipinski et al. (1995), até dose de 240 kg ha-1 de N e Sadaria et al. (1997) quando foram aplicados até 75 kg ha-1 de N. Vale ressaltar, que esse experimento foi plantado com bulbos provenientes de cultura de tecido, portanto, livres de vírus e em condições de ambiente protegido e irrigação por gotejamento, fatores que contribuíram para a resposta positiva das plantas de alho ao N. A adubação nitrogenada aumentou o diâmetro dos bulbos das classes 5 e 6, e reduziu os da classe 3 e 4. Não houve efeito significativo para as classes <3 (Tabela 1). Esse fato deve ser destacado, pois bulbos das classes 5 e 6 são maiores que os da classes 3 e 4, apresentando maior valor comercial e preferência pelo consumidor. Vale ressaltar que a disponibilidade de N no solo exerce influência relevante sobre o valor nutritivo do alimento, sendo considerado o macronutriente que proporciona qualidade ao produto, por fazer parte de compostos como aminoácidos e proteínas (Malavolta, 1996). As correlações entre o índice relativo de clorofila (IRC), teor de nitrogênio na folha e produtividades total e comercial foram significativas quando as plantas de alho se encontravam nos estádios de diferenciação e 15 dias após essa fase, não havendo efeito significativo entre essas variáveis quando as plantas estavam no início do desenvolvimento, ou seja, no estádio de 5 a 6 folhas (Tabela 2). A correlação positiva entre o IRC e N foliar (0,73** e 0,80**) pode ser explicada pela maior quantidade de clorofila em função do maior teor de N, uma vez que esse nutriente participa com 4 moléculas na sua composição química (Taiz & Zeiger, 2004). Dados semelhantes foram obtidos por Lima (2005), que avaliou a correlação entre IRC e N foliar a cada 10 dias durante o ciclo da cultura de 130 dias, utilizando a cultivar Caçador, obtendo o maior coeficiente de correlação (0,76**) aos 70 dias após a emergência das plantas. Houve correlação positiva, também, entre o IRC e as variáveis produtividade total (0,49** e 0,60**) e comercial Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido (0,48** e 0,57**), permitindo estimar a produtividade em função das leituras IRC, quando as plantas forem amostradas no estádio de diferenciação ou após 15 dias a diferenciação (Tabela 2). As produtividades total e comercial também se correlacionaram positivamente com o teor de N nas folhas (0,47** e 0,47**, respectivamente), mostrando que os teores de nitrogênio, até a concentração de 31 g kg-1 nas folhas de alho, amostradas no estádio de diferenciação floral ou 15 dias após esta fase, condicionam maior produtividade total e comercial às plantas de alho. Não foram obtidas plantas pseudoperfilhadas, devido, provavelmente, à suspensão da irrigação, no período que antecedeu a diferenciação, e também à cobertura com 50% da dose somente após a diferenciação, práticas essas utilizadas por produtores de alho para evitar o surgimento dessa anomalia. A ocorrência de pseudoperfilhamento está associada, dentre outros fatores, à disponibilidade de água no solo e à adubação nitrogenada próxima à fase de diferenciação. Assim, quanto maior a disponibilidade de água no solo e mais próxima a adubação de cobertura da diferenciação, maior é a porcentagem de plantas pseudoperfilhadas. Portanto, recomenda-se que manejos como a adubação de cobertura com N e a irrigação sejam realizados no estádio adequado de desenvolvimento da cultura, permitindo que essa anomalia seja minimizada ou até eliminada, como foi o caso desse experimento. Pode-se concluir que, nas condições deste experimento, a melhor dose para a produção de clorofila foi de 320 kg de N ha-1; os teores de nitrogênio, até a concentração de 31 g kg-1 nas folhas de alho, amostradas no estádio de diferenciação floral ou 15 dias após esta fase, resultaram em maior produtividade total e comercial; a adubação nitrogenada de cobertura, em plantas de alho livre de Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 vírus, proporcionou maior produtividade total e comercial sem ocorrência de superbrotamento. AGRADECIMENTOS À CAPES pela concessão da bolsa de mestrado à primeira autora e à empresa Genove Agronegócios pela estrutura e apoio técnico para o desenvolvimento do experimento. REFERÊNCIAS AGRIANUAL-Anuário Agrícola Brasileiro. 2007. São Paulo: Instituto FNP. 520p. BÜLL LT; BERTANI RMA; VILLAS BÔAS RL; FERNANDES DM. 2002. Produção de bulbos e incidência de pseudoperfilhamento na cultura do alho vernalizado em função de adubações potássicas e nitrogenadas. 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É uma verdade - o nitrogênio é exigido pelas plantas. Tradução e adaptação do original “It’s the Truth –Nitrogen Is Required by Plants”, PPI, Norcross, EUA. (Arquivo do Agronomo no 10). MALAVOLTA E; VITTI GC; OLIVEIRA SA. 1997. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba: POTAFOS. 317p. MAROUELLI WA; SILVA WLC; CARRIJO OA; SILVA HR. 2002. Produção e qualidade de alho sob regimes de água no solo e doses de nitrogênio. Horticultura Brasileira 20: 191-194. PATEL BG; KHANAPARA VD; MALAVIA DD; KANERIA BB. 1996. Performance of drip and surface methods of irrigation for garlic (Allium sativum L.) under varying nitrogen levels. Indian Journal of Agronomy 41: 174-176. RAIJ BV; ANDRADE JC; CANTARELLA H; QUAGGIO JA. 2001. Análise Química para avaliação da fertilidade de solos tropicais. Campinas: Instituto Agronômico. 285p. RAIJ BV; CANTARELLA H; QUAGGIO JA; FURLANI AMC. 1996. Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. 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Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici Leonardo T Souza1; Sami J Michereff1; Delson Laranjeira1; Domingos EGT Andrade2; Edinardo Ferraz3; Gaus SA Lima4; Ailton Reis5 UFRPE-Depto. Agronomia, Fitossanidade, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, 52171-900 Recife-PE; 2IPA-EE Itapirema, 55900-000 Goiana-PE; 3IPA-EE Belém de São Francisco, 56440-000, Belém de São Francisco-PE; 4UFAL–CCA, 57100-000, Rio Largo-AL; 5Embrapa Hortaliças, 70351-970 Brasília-DF; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT A murcha-de-fusário, causada por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, é uma importante doença do tomateiro (Solanum lycopersicon L.) no Nordeste brasileiro. Visando selecionar genótipos com potencial de utilização no manejo da doença, foram avaliadas 60 linhagens (geração F7) oriundas do cruzamento entre o acesso BHRS-2,3 e a cultivar Viradoro, em relação a isolados das raças fisiológicas 2 e 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici. Os isolados foram inoculados em mudas com 21 dias de idade pelo método do corte de raízes e imersão na suspensão de conídios do patógeno. A avaliação foi realizada após 21 dias, com o auxílio de escala de notas de 1 a 5, para agrupamento dos genótipos em cinco classes de reação. A maioria dos genótipos (73,3%) se comportou como altamente resistente ao isolado da raça 2, enquanto 45,0% foram classificados como suscetíveis e 28,3% como altamente suscetíveis ao isolado da raça 3. Somente a linhagem L-1 apresentou reação de alta resistência aos dois isolados de ambas as raças. A estabilidade da resistência dessa linhagem foi avaliada em relação a cinco isolados de cada raça (2 e 3) do patógeno. A linhagem L-1 apresentou reação de alta resistência a todos os isolados da raça 2, evidenciado estabilidade da resistência. No entanto, em relação aos isolados da raça 3, essa linhagem apresentou três classes de reação distintas, variando de altamente resistente a suscetível, indicando instabilidade da resistência à essa raça. Reaction of tomato genotypes to races 2 and 3 of Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici Palavras-chave: Solanum lycopersicon, murcha-de-fusário, resistência genética. The Fusarium wilt caused by Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, is an important disease of tomato (Solanum lycopersicon L.) in Northeastern Brazil. In order to select genotypes with potential for use in the disease management, 60 strains were evaluated (F7 generation) from the crossing of access BHRS-2, 3 and Viradoro cultivar in relation to isolates from the physiologic races 2 and 3 of F. oxysporum f. sp. lycopersici. The isolates were inoculated on 21-day old seedling using the method of cutting the roots and soaking it in the suspension of the pathogen conidia. The evaluation was carried out after 21 days, with the scale of grades ranging from 1 to 5. The genotypes were grouped into five classes of reaction. Most genotypes (73.3%) behaved as highly resistant to the race 2 isolate, while 45.0% were classified as susceptible and 28.3% as highly susceptible to the race 3 isolate. Only the L-1 strain showed high resistance reaction to both isolates. The stability of this line of resistance was evaluated to five isolates of each race (2 and 3). The line L-1 showed high levels of resistance to all race 2 isolates, therefore indicating high stability of resistance. However, for race 3 isolates, this strain showed three distinct classes of reaction, ranging from highly resistant to susceptible, indicating instability of resistance to this race. Keywords: Solanum lycopersicon, Fusarium wilt, genetic resistance. (Recebido para publicação em 30 de abril de 2009; Aceito em 3 de fevereiro de 2010) (Received on April 30, 2009; accepted on February 3, 2010) O Brasil é um dos 10 maiores produtores mundiais de tomate (Solanum lycopersicon L.) (Camargo et al., 2006). Anualmente, a área cultivada com tomateiro no país supera os 50 mil hectares, com uma produção em torno de 3 milhões de toneladas (FNP, 2008). No estado de Pernambuco, a tomaticultura é uma importante atividade agrícola, levando grande destaque pela geração de mão-de-obra e fixação do homem no campo (Andrade & Michereff, 2000). A tomaticultura é bastante sensível a problemas fitossanitários. Cerca de duzentas doenças de causas bióticas e abióticas já foram relatadas afetando a 102 tomaticultura em todo o mundo (Lopes & Ávila, 2005). Dentre as doenças bióticas, destaca-se a murcha-de-fusário, causada pelo fungo habitante do solo Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (Sacc.) Snyder & Hansen. Uma vez introduzido em áreas de cultivo, este patógeno pode permanecer viável durante anos devido a sua capacidade de produzir estruturas de resistência (clamidósporos) (Reis & Lopes, 2007). Em áreas infestadas por F. oxysporum f. sp. lycopersici, a doença pode se manifestar em qualquer estádio de desenvolvimento da planta (Kurozawa & Pavan, 2005). Os sintomas mais típicos são: amarelecimento das folhas, geralmente a partir das mais velhas, queda prematura dos frutos e murcha nas horas mais quentes do dia até que a mesma se torne irreversível (Vale et al., 2004). A espécie F. oxysporum f. sp. lycopersici é agrupada em três raças fisiológicas, conforme sua habilidade de infectar e causar doença em uma série de cultivares diferenciadoras contendo diferentes loci de resistência. No Brasil, as raças 1 e 2 encontram-se amplamente distribuídas, enquanto a raça 3 foi recentemente relatada no país em regiões mais restritas, afetando cultivos comerciais Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici nos estados do Espírito Santo (Reis et al., 2005) e Rio de Janeiro (Reis & Boiteux, 2007). Apesar do cultivo do tomate ser uma das mais importantes atividades agrícolas no estado de Pernambuco, estudos realizados demonstraram o decréscimo da produção em áreas produtoras devido à presença da murcha-de-fusário (Andrade & Michereff, 2000). A introdução de uma terceira raça fisiológica em áreas de cultivo no estado agravaria a situação, ocasionando resultados catastróficos para a tomaticultura regional. Nenhuma medida de controle químico é efetiva e economicamente viável no controle da murcha-de-fusário em tomateiro (Blancard, 1996), sendo o uso de genótipos resistentes o único meio seguro e eficiente de controle da doença (Kurozawa & Pavan, 2005). Apesar de existir uma ampla diversidade de cultivares comerciais resistentes às raças 1 e 2 de F. oxysporum f. sp. lycopersici no Brasil, genótipos resistentes à raça 3 ainda não estão facilmente disponíveis. Recentemente, no Brasil foram identificadas fontes de resistência múltipla às três raças de F. oxysporum f. sp. lycopersici em acessos das espécies Solanum habrochaites L., Solanum chilense L., Solanum pennellii L. e Solanum peruvianum L. (Reis et al., 2004). Com o constante desenvolvimento de novos genótipos de tomateiro por diversos programas de melhoramento, se faz necessária a avaliação destes visando a utilização no controle genético da murcha-de-fusário. Genótipos promissores na resistência à murcha-de-fusário poderão ser utilizados extensivamente em programas de melhoramento do tomateiro, podendo auxiliar também na produção de cultivares com resistência simples ou múltipla a doenças. Desta forma, visando selecionar genótipos com potencial de utilização nos programas de melhoramento ou no manejo integrado da murcha-de-fusário, este trabalho teve como objetivos avaliar as respostas de resistência de 60 genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici e verificar a estabilidade da resistência de genótipos promissores em relação a diferentes isolados dessas raças. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 MATERIAL E MÉTODOS A avaliação da resistência foi realizada em dois experimentos, sendo inicialmente efetuada a seleção de genótipos promissores e depois analisada a estabilidade da resistência desses genótipos. As duas etapas foram realizadas em casa de vegetação na UFRPE, em Recife-PE. Seleção de genótipos promissores - foi realizada em casa de vegetação com temperatura ambiente variando de 22,1 a 34,4°C, umidade relativa do ar de 62,3 a 89,6% e temperatura do solo de 21,3 a 33,5°C. Uma coleção de 60 genótipos de tomateiro foi avaliada em relação a dois isolados de F. oxysporum f. sp. lycopersici, pertencentes às raças fisiológicas 2 (CMM-1252) e 3 (FUS89). A coleção de genótipos foi formada por linhagens de tomateiro desenvolvidas pela Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), oriundas do cruzamento entre o acesso BHRS-2,3 e a cultivar Viradoro, através do método de melhoramento bulk e seleção de plantas individuais com o controle de pedigree. Todos os genótipos avaliados se encontravam na geração F7. Como controle, foram utilizados os genótipos diferenciadores das raças fisiológicas de F. oxysporum f. sp. lycopersici, incluindo Floradade (suscetível à raça 3 e resistente às raças 1 e 2), Viradoro (suscetível às raças 2 e 3) e BHRS-2,3 (resistente às raças 1, 2 e 3), bem como à cultivar Santa Clara (suscetível às raças 2 e 3), amplamente cultivada em Pernambuco até 1999, e o híbrido SM16 (resistente às raças 1 e 2 e suscetível à raça 3), cultivado em larga escala neste estado a partir de 2000. Os isolados de F. oxysporum f. sp. lycopersici foram obtidos de plantas de tomateiro das cultivares Santa Clara (CMM-1252) e Carmen (FUS-89) com sintomas de murcha-de-fusário, coletadas em Camocim de São Félix-PE (Andrade et al., 2001) e Venda Nova do Imigrante-ES (Reis et al., 2005), respectivamente. O inóculo do patógeno foi preparado em frascos de Erlenmeyer contendo 250 mL de meio de cultura batata-dextrose (BD) (Dhingra & Sinclair, 1995). Após autoclavagem (120oC, 30 min, 1 atm) e resfriamento (25oC), em cada frasco foram colocados três discos de 5 mm de diâmetro de cultura do fungo, previamente cultivado em meio batata-dextrose-ágar (BDA) (Dhingra & Sinclair, 1995), com 10 dias de idade. Após quinze dias em incubadora tipo BOD à temperatura de 25oC e luminosidade contínua, a suspensão do inóculo foi homogeneizada em agitador mecânico e filtrada em duas camadas de gaze esterilizada. Posteriormente, a contagem de microconídios nas suspensões foi realizada com o auxílio de câmara de Neubauer e a concentração do inóculo ajustada para 1x106 microconídios mL-1. A inoculação dos isolados de F. oxysporum f. sp. lycopersici foi efetuada pelo método do corte de raízes (Santos, 1997) adaptado. Plantas de tomateiro, aos 21 dias após a semeadura, cultivadas sob condições de casa de vegetação em substrato Plantmax (Eucatex Mineral Ltda., Paulínia-SP), foram removidas de bandejas tipo “plantágio”, submetidas à lavagem para remoção do substrato e ao corte das raízes (cerca de 2 cm) com tesoura flambada. Em seguida, as plantas foram imersas por cinco minutos na suspensão de conídios até a altura da região do colo e transplantadas para vasos plásticos (18 x 15 cm) contendo solo areno-argiloso (pH = 6,3; matéria orgânica= 34,68 g kg-1; N= 998 ppm; P= 6 mg dm-3; K= 0,18 cmolc dm-3; Na= 0,43 cmolc dm-3; Al= 0,30 cmolc dm-3; Ca+Mg= 0,70 cmolc dm-3) esterilizado em autoclave (120°C, 1 atm, 60 min, dois dias consecutivos). A testemunha consistiu de plantas com raízes cortadas e imersas no referido meio de cultura, sem a presença de conídios do fungo. As plantas foram adubadas semanalmente, a partir do dia do transplantio, com 300 mL vaso-1 de solução composta de: 0,02g/L de Quelatec® (B 0,65% p/p; Fe 7,5% p/p; S 7,5% p/p; Mn 3,5% p/p; Zn 0,7% p/p; Cu 0,65% p/p; Mo 0,3% p/p), 0,613 g L-1 de Krista-K45® (N20 12%; K2O 45%; SO4 1,2%), 1 g L-1 de Calcint® (NO3 14,4%; NH4 1,1 %; cálcio hidrossolúvel 19%), 0,2 g L-1 de fosfato-monopotássico (P2O5 51%; K2O 33%) e 0,52 g L-1 de sulfato de magnésio (MgSO4.7H2O 99%). Para cada raça do patógeno, o delineamento experimental foi inteiramente 103 LT Souza et al. casualizado, consistindo de 65 tratamentos com quatro repetições, sendo cada repetição constituída por um vaso com quatro plantas. A reação das plantas foi avaliada aos 21 dias após a inoculação, com escala de notas de 1 a 5 (Santos, 1997), onde: 1= planta sem sintomas; 2= planta sem sintoma de murcha e apresentando pequena descoloração vascular, 3= planta com sintomas de murcha e descoloração vascular; 4= planta com severa murcha associada com a presença de clorose e necrose foliar; 5= planta morta. A reação média foi calculada para cada genótipo e utilizada para agrupar os genótipos em cinco classes de reação: 1,0= semelhante à imune (SI); 1,1-2,0= altamente resistente (AR); 2,1-3,0= medianamente resistente (MR); 3,1-4,0= suscetível (SU); 4,1-5,0= altamente suscetível (AS) (Reis et al., 2004). Análise da estabilidade da resistência de um genótipo promissor - foi realizada em casa de vegetação com temperatura ambiente variando de 23,6 a 35,1°C, a umidade relativa do ar de 61,7 a 86,5% e a temperatura do solo de 22,7 a 33,9°C. O genótipo L-1, que demonstrou reação de alta resistência (AR) às raças 2 e 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici na seleção preliminar, juntamente com a cultivar Santa Clara e o acesso BHRS-2,3, foram avaliados em relação a cinco isolados da raça 2 (CMM-1102, CMM-1103, CMM-1106, CMM-1113 e CMM-1598) oriundos de diferentes áreas de cultivo de tomateiro em Pernambuco (Andrade et al., 2001) e cinco isolados da raça 3 (FUS-89, FUS-90, FUS-94, FUS-116 e FUS-145), cedidos pela Embrapa Hortaliças (Reis et al., 2005, 2007). Os procedimentos de produção de mudas de tomateiro, produção do inóculo e inoculação do patógeno, adubação das plantas e avaliação da doença foram os mesmos adotados na seleção de genótipos promissores. Para cada raça de F. oxysporum f. sp. lycopersici, o delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 5x3, representado por cinco isolados do patógeno e três genótipos de tomateiro, com três repetições, sendo cada repetição constituída por um vaso com quatro plantas. 104 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os 60 genótipos de tomateiro na geração F7 avaliados, oriundas do cruzamento entre o acesso BHRS-2,3 e a cultivar Viradoro, somente a linhagem L-2 apresentou reação semelhante à imunidade ao isolado da raça 2 (CMM1252) de F. oxysporum f. sp. lycopersici, sem a constatação de sintomas da doença. A maioria dos genótipos (73,3%) se comportou como altamente resistente a esse isolado, enquanto 16,7% como medianamente resistente e 8,3% como altamente suscetível (Figura 1). Por outro lado, quando inoculados com o isolado da raça 3 (FUS-89) do patógeno, nenhum genótipo apresentou reação semelhante à imunidade e somente a linhagem L-1 se comportou como altamente resistente, enquanto 25,0% se comportou como medianamente resistente, 45,0% como suscetível e 28,3% como altamente suscetível (Figura 1). A linhagem L-2 que se destacou como excelente fonte de resistência à raça 2 de F. oxysporum f. sp. lycopersici, se comportou como medianamente resistente à raça 3. No entanto, a linhagem L-1, que se destacou como altamente resistente em relação à raça 2 do patógeno, apresentou a mesma reação quando inoculada com o isolado da raça 3. Com base nestes resultados sugerem-se que a penetrância do gene de resistência I-3, na maioria dos genótipos, pode ter sido afetada devido a alguns fatores, tais como a alta concentração de inóculo utilizada (Alon et al., 1974), a severa injúria das raízes realizada na metodologia de inoculação (Juliatti et al., 1994), bem como a variabilidade genética gerada pela segregação dos materiais avaliados (Santos et al., 1993). Em relação aos cinco genótipos de referência incluídos na avaliação, BHRS-2,3, Floradade e SM-16 comportaram-se como altamente resistentes ao isolado da raça 2 (CMM-1252), enquanto Santa Clara e Viradoro como Tabela 1. Reação de genótipos de tomateiro a isolados das raças fisiológicas 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, sob condições de casa de vegetação (reaction of tomato genotypes to Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici isolates from races 2 and 3 in greenhouse). Recife, UFRPE, 2008. Raça Raça 2 Raça 3 Isolado CMM-1102 CMM-1103 CMM-1106 CMM-1113 CMM-1598 FUS-89 FUS-90 FUS-94 FUS-116 FUS-145 Genótipo/média1 (reação)2 L-1 BHRS-2,3 Santa Clara 1 2 1,72 (AR) 1,75 (AR) 4,00 (SU) 1,58 (AR) 1,50 (AR) 2,83 (MR) 1,44 (AR) 1,67 (AR) 2,25 (MR) 1,33 (AR) 1,42 (AR) 2,75 (MR) 1,17 (AR) 1,33 (AR) 4,42 (AS) 1,33 (AR) 1,82 (AR) 3,42 (SU) 3,19 (SU) 1,82 (AR) 4,10 (AS) 2,28 (MR) 2,10 (MR) 3,74 (SU) 1,75 (AR) 2,19 (MR) 4,00 (SU) 1,92 (AR) 2,10 (MR) 3,67 (SU) Média de reação da doença conforme escala de notas de 1 a 5 (Santos, 1997), onde: 1= planta sem sintomas; 2= planta sem sintoma de murcha e apresentando pequena descoloração vascular, 3= planta com sintomas de murcha e descoloração vascular; 4= planta com severa murcha associada com a presença de clorose e necrose foliar; 5= planta morta. Média de três repetições; 2Classe de reação da doença: 1,0= semelhante à imune (SI); 1,1-2,0= altamente resistente (AR); 2,1-3,0= medianamente resistente (MR); 3,1-4,0= suscetível (SU); 4,1-5,0= altamente suscetível (AS) (Reis et al., 2004) (1mean disease reaction class according to the disease scale from 1 to 5 (Santos, 1997), where: 1= symptom-free plant; 2= wilt symptom-free plant but presenting conspicuous vascular browning; 3= plant showing vascular browning and wilt symptoms; 4= severe wilting associated with the presence of foliar necrosis and chlorosis; 5= dead plant; 2Disease reaction classes: 1.0= similar to immune (SI); 1.1-2.0= highly resistant (HR); 2.1-3.0= moderately resistant (MR); 3.1-4.0= susceptible (SU); 4.15.0= highly susceptible). 1 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici Figura 1. Frequência de classes de reação dos 60 genótipos de tomateiro a isolados das raças fisiológicas 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, sob condições de casa de vegetação (frequency of reaction classes of 60 tomato genotypes to Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici isolates from races 2 and 3 in greenhouse). Recife, UFRPE, 2008. suscetíveis. A reação de resistência do acesso BHRS-2,3 e das cultivares SM16 e Floradade, que possuem genes de resistência à raça 2 do patógeno, assemelha-se ao constatado em outros estudos com isolados dessa raça (Juliatti et al., 1994; Andrade et al., 2000). Quando inoculado com o isolado da raça 3 (FUS-89), o acesso BHRS2,3 se comportou como medianamente resistente, enquanto as demais cultivares Floradade, Viradoro, Santa Clara e SM16 como altamente suscetíveis. Não há relatos da ocorrência da raça 3 em cultivos de tomate no estado de Pernambuco. Considerando-se que a cultivar SM-16, avaliada no presente trabalho, foi altamente suscetível a esta raça e sendo esta vastamente cultivada por tomaticultores no estado, uma possível introdução desta terceira raça fisiológica de áreas infestadas, via semente, poderia ocasionar consequências catastróficas para a tomaticultura pernambucana. Resultados obtidos por Reis & Boiteux (2007) reforçam a possibilidade da disseminação da raça 3 através de sementes. Estes autores relataram a ocorrência da raça 3 em municípios no estado do Rio de Janeiro, geograficamente isolados de áreas infestadas do estado do Espírito Santo, onde foi observada a primeira ocorrência da raça 3 no Brasil. Na avaliação da estabilidade da Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 resistência a isolados da raça 2 de F. oxysporum f. sp. lycopersici, a linhagem L-1 e o acesso BHRS-2,3 apresentaram reações de alta resistência a todos os isolados (Tabela 1). Estes resultados sugerem que a estabilidade da resistência na linhagem L-1 em relação à raça 2 pode ter sido garantida pela herdabilidade do gene I-2, já que este mesmo genótipo apresenta como um dos seus genitores o acesso BHRS-2,3, possuidor dos genes I-1, I-2 e I-3, responsáveis pela resistência às três raças do patógeno (Mcgrath, 1988). Estudos realizados já identificaram reações de alta resistência à raça 2 no acesso BHRS-2,3 (Juliatti et al., 1994), bem como reações semelhantes à imunidade (Reis et al., 2004; Reis et al., 2005; Reis & Boiteux, 2007). A cultivar Santa Clara apresentou três classes de reação distintas em relação aos isolados da raça 2, sendo medianamente resistente aos isolados da CMM-1103, CMM-1106 e CMM1113, suscetível ao isolado CMM-1102 e altamente suscetível ao isolado CMM1598 (Tabela 1). A reação de resistência mediana em Santa Clara para três dos cincos isolados avaliados não era esperada, já que o mesmo é desprovido do gene I-2, que confere a resistência à raça 2 do patógeno, como verificado por Juliatti et al (1994) e Andrade et al. (2000). Porém, ressalta-se que mesmo dentro de uma mesma raça fisiológica pode ocorrer variabilidade quanto à agressividade entre diferentes isolados, levando desta forma a diferentes níveis de severidade da doença (Lugo & Sanabria, 2001). A linhagem L-1 e o acesso BHRS2,3, apesar de apresentarem reações de alta resistência a todos isolados da raça 2, comportaram-se de forma diferenciada quando submetidos à inoculação com isolados da raça 3 (Tabela 1). A linhagem L-1 apresentou três classes de reações distintas, sendo altamente resistente aos isolados FUS-116, FUS-145 e FUS-89, medianamente resistente ao isolado FUS-94 e suscetível ao isolado FUS-90. Apesar de apresentar algumas plantas sintomáticas, não foram constatadas reações de alta suscetibilidade ou suscetibilidade no acesso BHRS2,3 em relação aos isolados da raça 3, assemelhando-se ao verificado em estudos previamente realizados no Brasil (Reis et al., 2004; Reis et al., 2005). Este acesso apresentou reação de alta resistência aos isolados FUS-89 e FUS90, e resistência mediana aos isolados FUS-145, FUS-116 e FUS-94. Reações de suscetibilidade a alta suscetibilidade foram constatadas na cultivar Santa Clara, sendo suscetível aos isolados FUS94, FUS-116, FUS-145 e FUS-89, e altamente suscetível ao isolado FUS-90 (Tabela 1). A resposta de suscetibilidade deste genótipo à raça 3 era esperada, já que o mesmo é considerado suscetível às raças 2 e 3 do patógeno (Santos et al., 1993). Uma das hipóteses mais prováveis para a instabilidade da resistência na linhagem L-1 seria a penetrância incompleta e/ou segregação do gene I-3 proveniente do genitor BHRS-2,3 (Scott & Jones, 1989). Segundo Mcgrath (1988), a possibilidade da perda de genes menores capazes de modular as respostas de resistência através de retrocruzamentos realizados pode elucidar as diferentes respostas de resistência no hospedeiro, o que poderia explicar as reações variadas de resistência e suscetibilidade na linhagem L-1. Entretanto, mais estudos devem ser realizados para a confirmação desta hipótese, como foi ressaltado por Reis et al. (2004). Outra possível explicação para a 105 LT Souza et al. reação de suscetibilidade na linhagem L-1 em relação ao isolado FUS-90 e resistência mediana ao isolado FUS-94 é a existência de diferença na agressividade entre os isolados. Conforme destacado por Schuman & D´Arcy (2006), a classificação em raças se baseia em reação qualitativa, ou seja, capacidade ou não de causar doença, mas isolados dentro de uma mesma raça do patógeno podem variar nos níveis de agressividade, entendendo-se agressividade como uma reação quantitativa, na qual os isolados podem induzir níveis de intensidade de doença variando de baixo a elevado. Os resultados obtidos neste trabalho evidenciam o potencial da linhagem L-1 de tomateiro como material resistente às raças fisiológicas 2 e 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici, mas se faz necessária a realização de estudo complementar em nível de campo com plantas até o estádio de frutificação para melhor compreensão da resistência genética à murcha-de-fusário. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agronômica (IPA, Belém de São Francisco-PE) pela doação das sementes das linhagens utilizadas nos experimentos, à Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) pelo fornecimento dos isolados da raça 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici, e ao CNPq pela concessão das bolsas de Produtividade em Pesquisa de Sami J. Michereff, Gaus SA Lima e Ailton Reis. 106 REFERÊNCIAS ALON H; KATAN J; KEDAR N. 1974. Factors affecting penetrance of resistance to Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici in tomatoes. Phytopathology 64: 455-461. ANDRADE DEGT; MICHEREFF SJ. 2000. Incidência da murcha-de-fusário do tomateiro no Agreste de Pernambuco e determinação do tamanho da amostra para quantificação da doença. Fitopatologia Brasileira. 25: 36-41. ANDRADE DEGT; MARTINS RB; MICHEREFF SJ. 2000. Avaliação de cultivares de tomateiro para resistência à raça 2 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici. Summa Phytopatologica 26: 161-167. 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Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie primitiva e medicinal José Magno Q Luz1; André F Carvalho1; Denise G de Santana1; Monalisa AD Silva2 UFU–ICA, Bloco 2E, Campus Umuarama, 38400-902 Uberlândia-MG; 2UFRPE-UAST, 56900-000 Serra Talhada-PE; jmagno@ umuarama.ufu.br; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Dorstenia cayapia Vellozo (Moraceae), popularmente conhecida por carapiá, é uma espécie primitiva do ponto de vista geológico e ao mesmo tempo evoluída do ponto de vista de estruturas morfológicas; com amplo uso medicinal é pouco estudada quanto à sua capacidade reprodutiva. Diante disso, e pelo fato de Dorstenia cayapia ser uma espécie ameaçada de extinção, o objetivo deste trabalho foi determinar o potencial da espécie para propagação por sementes por meio de seus atributos biológicos e tecnológicos. O experimento foi instalado em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3 sendo o primeiro fator correspondente à temperatura (constante em 25ºC e alternada 20-30ºC) e o segundo fator ao substrato (vermiculita, papel mata-borrão e papel de filtro), com quatro repetições de 20 sementes por parcela. O uso dos substratos vermiculita e papel mata-borão à temperatura de 25oC aumentaram o percentual de plântulas normais e de sementes germinadas. A germinação das sementes tornou-se mais lenta quando as sementes foram dispostas em papel de filtro, assim como se tornaram mais assíncronas nesse substrato. A temperatura alternada 20-30oC atrasou o início do processo de germinação das sementes de carapiá. Seed germination and seedling emergence of Dorstenia cayapia: primitive and medicinal species Palavras-chave: Dorstenia cayapia, espécie medicinal, germinação de sementes. Keywords: Dorstenia cayapia, medicinal species, seeds germination. Dorstenia cayapia Vellozo (Moraceae), popularly known as carapiá, is a primitive species from the geological point of view but well evolved from the point of view of morphological structures; of large medicinal use, this plant reproductive capacity was not well studied . Since this species is threatened with extinction, the objective of this study was to evaluate the physiological quality of its seeds by their biological and technological attributes. The experiment was set up in a completely randomized design with a factorial 2x3 scheme, in which the first factor was the temperature (constant of 25ºC and alternated 20-30ºC) and the second factor was the substrate (vermiculite, rolled paper and filter paper), with four replications of 20 seeds per plot. The use of the substrates vermiculite and rolled paper at 25oC increased the percentage of normal seedlings and germinated seeds. The seeds germination was slower when they were placed on filter paper, and it was more asynchronous in this substrate. Additionally, the alternating temperature 20-30oC delayed the beginning of the germination of Dorstenia cayapia seeds. (Recebido para publicação em 27 de abril de 2009; aceito em 1 de fevereiro de 2010) (Received on April 27, 2009; accepted on February 1, 2010) A família Moraceae apresenta aproximadamente 61 gêneros, com mais de 1000 espécies frequentes nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo e menos comuns em climas temperados (Cronquist, 1981; Joly, 1991). Da família, o gênero Dorstenia está dividido em nove seções baseadas no habitat e nas características morfológicas (Berg & Hijman, 1999) e tem se distinguido dos demais pela predominância de espécies herbáceas (Berg, 2001; Zerega et al., 2005). As espécies de Dorstenia teriam surgido no Cretáceo há cerca de 100 milhões de anos, quando a América do Sul e a África estavam parcialmente unidas (Carauta & Valente, 1974; McLoughin, 2001). É um gênero primitivo, sob o ponto de vista da geologia histórica e, ao mesmo tempo, evoluído considerandoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 se as estruturas morfológicas, como nervação, adaptação e resistência à seca e polinização entomófila (Carauta, 1978). O gênero tem distribuição pantropical, com 37 espécies no Brasil (Carauta, 1978; Carauta & Valente, 1983; Carauta & Albuquerque, 2002). São mais conhecidas popularmente por carapiás, embora sejam também nominadas de caiapiá, contra-erva, tiú, figueirilha, chupa-chupa, liga-liga, capa-homem, conta-de-cobra, sabugo-roxo, liga-osso, figueirinha, figueira-da-terra, dentre outros (Carauta, 1978; Lifchitz, 1981). Em condições ecológicas favoráveis, os carapiás florescem e frutificam todo ano (Carauta, 1978) e têm preferência por sub-bosques sombreados e úmidos das florestas tropicais (Araújo et al., 2007). Os frutos são do tipo drupa (Granville, 1971), mas pouco se conhece sobre o papel do exocarpo na dispersão das espécies de carapiás (Kaufmann et al., 1991), embora se saiba que, quando maduro, exerce pressão e ejeta o endocarpo contendo a semente (Berg, 1977). São numerosos os trabalhos científicos publicados sobre a composição química e a ação medicinal dos carapiás, principalmente pela ação das furanocumarinas em doenças de pele (Celeghini et al., 2007), alguns de etnobotânica (Rodrigues & Carvalho, 2001; Guarim Neto & Morais, 2003; Oliveira et al., 2003), apenas um de micropropagação com uma espécie africana, Dorstenia gigas (Krogstrup et al., 2005) e nenhum sobre as formas de propagação dos carapiás brasileiros. Diante disso, e pelo fato de carapiá ser uma espécie ameaçada de extin107 JMQ Luz et al. ção (Fahrig, 2003), o objetivo deste trabalho foi determinar o potencial da espécie para propagação por sementes por meio de seus atributos biológicos e tecnológicos. MATERIAL E MÉTODOS De 400 plantas de carapiá localizadas no município de Raul Soares-MG, foram coletados em 2007, 21 cenantos femininos (receptáculo carnoso). Desses, os frutos foram extraídos (1159 frutos), contando-se o número médio de sementes viáveis por cenanto e o número de frutos (drupas) por cenanto. Após secagem à sombra e com a pressão dos dedos foram eliminados os frutos chochos e imaturos, restando os inteiros, que serão referenciados como sementes, ainda que sejam uma drupa. Para determinação do teor de água, as sementes foram colocadas em estufa à temperatura de 105±3ºC por 24 horas a partir de duas subamostras de 20 sementes. A determinação da massa de mil sementes foi feita conforme prescrições incluídas nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992). No teste de germinação, sementes de carapiá foram dispostas segundo delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3 sendo o primeiro fator correspondente à temperatura (constante em 25ºC e alternada 20-30ºC) e o segundo fator ao substrato (vermiculita, papel mataborrão e papel de filtro), com quatro repetições de 20 sementes por parcela. O recipiente utilizado com vermiculita e papel mata-borão foi caixa de plástico (11,0 x 11 x 3,5 cm), enquanto que, com papel de filtro, o recipiente foi a placa de Petri. Para testar o efeito temperatura, câmaras de germinação foram ajustadas e equipadas com lâmpadas fluorescentes brancas, com irradiância de 440 mW cm-2 e fotoperíodo de 12 h de luz e 12 h de escuro. Os substratos, previamente esterilizados, foram umedecidos com água desionizada na proporção de 2,5 vezes a massa do substrato seco. Aos 44 dias após a instalação, o teste foi encerrado quando verificado que as sementes ainda não germinadas mostraram-se 108 visivelmente deterioradas. Dois critérios distintos foram aplicados na avaliação do processo, o de plântulas normais, critério agronômico (Brasil, 1992) e o de protrusão radicular ou percentual de germinação, critério fisiológico. Ainda, baseado no critério fisiológico, foram calculados os tempos inicial, médio e final de germinação, velocidade de emergência e sincronia. As expressões e autores dessas medidas podem ser consultados em Ranal & Santana (2006). Todas as características foram inicialmente testadas quanto às pressuposições de normalidade dos resíduos (teste de Shapiro-Wilk) e homogeneidade entre as variâncias (teste de Bartlett). Como para todas as características as pressuposições foram atendidas, transformações de dados não foram utilizadas e por isso a análise de variância para o modelo fatorial foi aplicada aos dados originais. Em função dos fatores temperatura e substrato serem qualitativos do ponto de vista estatístico, as comparações das médias foram feitas pelo teste de Tukey a α=0,05 de significância. Para o estudo do comportamento da semente ao longo do período de germinação, gráficos de distribuição de frequência foram construídos para cada temperatura e substrato. RESULTADOS E DISCUSSÃO As 400 plantas de carapiá analisadas, produziram em média 55 cenantos, sendo o número de frutos por cenanto extremamente variável, entre 10 a 94, com média de 55 frutos por cenanto. Esse valor foi muito próximo à média de 61 frutos por cenanto obtida para plantas de Dorstenia bonijesu cultivadas em casa de vegetação (Araújo et al., 2007). Apesar das espécies de Dorstenia apresentarem grande produção de frutos, esta característica, segundo Venable (1997), não é medida confiável do sucesso reprodutivo. Ainda segundo o autor, a avaliação de sucesso deverá levar em conta, além do percentual de germinação, a porcentagem de plântulas normais. O peso de mil sementes estimado foi de 1,724 g, com teor de água, em média, de 6,5%. De maneira geral, as sementes foram mais rápidas para iniciar o processo de germinação (to) em temperatura constante de 25oC, embora quando semeadas sobre papel mata-borão tenham sido indiferentes à temperatura (Tabela 1). As sementes demoraram mais para iniciar a germinação (23 dias) quando dispostas em papel de filtro e em temperatura alternada. Quanto ao tempo médio, as sementes foram indiferentes à temperatura, com exceção da semeadura sobre papel de filtro que além de aumentar o tempo médio em relação aos demais substratos, exigiu menor tempo médio em temperatura alternada 20-30oC. As temperaturas e os substratos utilizados não afetaram o tempo final de germinação das sementes, que variou entre 28 e 30 dias (Tabela 2). A temperatura constante de 25oC estimulou de forma semelhante o percentual de germinação das sementes (critério fisiológico) e de plântulas normais, em relação à temperatura alternada (Tabela 1). Em revisão sobre a temperatura ótima para a germinação de sementes de espécies da família Moraceae, Brancalion et al. (2007) encontraram temperaturas constantes de 25ºC para Brosimum gaudichaudii, 25, 30 e 35ºC para Brosimum rubescens, 30ºC para Clarisia racemosa, 25 e 30ºC para Helicostylis tomentosa e 20, 25 e 30ºC para Maclura tinctoria. Isso indica que espécies da família não respondem à alternância de temperatura. Soma-se a isso, o fato de D. cayapia, habitar locais sombreados (Araújo et al., 2007), ou mesmo microhabitats ciliares como Dorstenia asarioides (Lima et al., 2007), onde possivelmente as oscilações de temperatura sejam mínimas. Ausência de plântulas normais em temperaturas alternadas (Tabela 2) reforça essa constatação. Valores de velocidade de emergência (VE) abaixo de 1, indicam que em média o número de plântulas por dia é baixo e por vezes nenhuma germinação é observada (Tabela 2). Como reflexo, a sincronia (Z) de germinação das sementes é baixa. A falta de sincronia na germinação parece ser característica comum entre espécies florestais, sejam elas arbóreas, sub-arbóreas ou arbustivas, para evitar que toda a produção de sementes fique concentrada num curto Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie primitiva e medicinal Tabela 1. Tempos inicial e médio de germinação de sementes de carapiá (initial and average time to the beginning of carapiá seeds germination). Uberlândia, UFU, 2008. to (dia) Temperatura (oC) 25 20-30 média Vermiculita 14,2 aA 17,2 aB 15,7 Papel mata-borão 14,8 aA 15,8 aA 15,3 Papel de filtro 15,8 aB 22,0 bA 18,9 média 14,9 18,3 Substrato t (dia) Temperatura (oC) 25 20-30 média 20,2 aA 19,8 aA 20,0 21,4 aA 19,5 aA 20,5 25,7 bB 20,6 aA 22,4 20,0 DMStemperatura 2,47 0,98 DMSsubstrato 2,99 3,48 to= tempo inicial de germinação; ning of germination; t t = tempo médio de germinação (to= initial time to begin- = average time to beginning of germination). Tabela 2. Medidas de germinação e de plântulas normais de carapiá (Dorstenia cayapia) submetidas a diferentes substratos e temperaturas de incubação (germination periods of carapiá seeds in relation to different substrates and incubation temperatures). Uberlândia, UFU, 2008. VE (plânt. dia-1) 0,459 a 0,308 b Temperatura (oC) tf (dia) G (%) P (%) 25 20-30 29,60 a 27,93 a 42,33 a 31,67 b 41,60 a 0,00 b 4,17 8,15 9,23 0,083 0,055 29,10 a 29,10 a 28,10 a 42,50 a 52,00 a 16,50 b 25,00 a 37,00 a 0,00 b 0,453 a 0,536 a 0,159 b 0,148 a 0,103 ab 0,032 b 6,19 12,09 18,21 0,123 0,082 DMStemperatura Substrato Vermiculita Papel mata-borão Papel de filtro DMSsubstrato Z 0,080 a 0,108 a tf= ; G= ; P= ; VE= ; Z= sincronia de germinação período de tempo. Apesar das dorstênias serem de um gênero de predominância de espécies herbáceas, o gênero evolui de uma família (Moraceae) de gêneros em sua totalidade arbóreos ou arbustivos, como o Ficus, Morus, Artocarpus, Brosimum e Cecropia (Barth, 1976). Fatores genéticos e ambientais podem afetar a uniformidade e a sincronia de germinação. A protoginia, que é processo de amadurecimento dos frutos a partir de flores pistiladas antes das estaminadas, comuns em espécies de Dorstenia (Carauta, 1978; Berg, 2001), podem produzir sementes com graus diferentes de maturação e consequentemente irregularidade no processo de germinação. Com exceção do tempo final, o uso de papel de filtro reduziu a capacidade Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 de germinação das sementes, de plântulas normais, além da velocidade de emergência das plântulas e sincronia. Como Dorstenia cayapia é espécie umbrófila ou semi-umbrófila de ocorrência em solos arenosos (Carauta, 1978), provavelmente a retenção excessiva de água do papel de filtro afetou negativamente o processo de germinação e emergência das plântulas. As distribuições de frequência indicam que a semeadura sob vermiculita e papel de filtro de sementes de carapiá à temperatura alternada (20-30 o C) atrasou o início do processo de germinação das sementes, sendo que no papel mata-borão, o início da germinação foi indiferente à temperatura (Figura 1). Maiores picos de germinação foram observados em temperaturas alternadas (20-30oC), principalmente para a vermiculita e papel de filtro, com tendência da germinação ficar concentrada próxima ao pico. Sob temperaturas constantes, embora não apresentassem altos picos, a germinação se prolongou ao longo do tempo de observação. As frequências com vários picos, independente da temperatura e do substrato, indicam distribuição não normal às sementes de carapiá. Essa característica implica em germinação incerta (Labouriau & Valadares, 1976; Labouriau, 1983), típica de espécies não melhoradas. Este comportamento pode ser importante para a manutenção de suas sementes do banco no solo (Garwood, 1989). 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Otimização das condições de extração hidroalcoólica das furanocumarinas de Dorstenia brasiliensis Lam. por maceração 109 JMQ Luz et al. 30 25 25 20 20 15 10 30 Frequencia relativa 30 5 15 10 5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 45 vermiculita a 20-30oC 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 45 0 papel mata-borrão a 20-30oC 30 25 25 25 20 20 15 10 15 10 5 5 0 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 T em po de germinação (dias) Frequencia relativa 30 20 5 10 15 20 25 30 35 40 45 40 45 papel de filtro a 20-30oC 30 Frequencia relativa Frequencia relativa papel de filtro a 25oC papel mata-borrão a 25oC Frequencia relativa Frequencia relativa vermiculita a 25oC 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Tempo de germinação (dias) 0 5 10 15 20 25 30 35 T em po d e germinação (d ias) Figura 1. Distribuições de frequência relativa à germinação de sementes de carapiá (Dorstenia cayapia) submetidas a diferentes substratos para semeadura (vermiculita, papel mata-borão, papel de filtro) e temperaturas de incubação (25oC e alternada 20-30oC) (Frequency distribution from the germination of carapiá seeds submitted to various substrata(vermiculite, rolled paper and filter paper)). Uberlândia, UFU, 2008. com ultra-som e análise quantitativa por CLAE/UV e fluorescência. Revista Brasileira de Plantas Medicinais 9: 61-66. CRONQUIST A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University. 1262p. FAHRIG L. 2003. Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annual Review of Ecology and Systematics 34: 487-515. GARWOOD NC. 1989. Tropical soil seed banks: a review. In: LECK MA; PARKER VT; SIMPSON RL (eds). Ecology of soil seed banks. London: Academic Press. p. 149-209. Granville jj. 1971. 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Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; 3EPAMIG-Centro Tecnológico do Norte de Minas Gerais, C. Postal 12, 39525-000 Nova PorteirinhaMG; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Objetivou-se com a realização deste trabalho avaliar a influência da adubação orgânica na produção de massa e no teor do óleo essencial de Aloysia triphylla (L´Hérit) Britton. O experimento foi conduzido em casa de vegetação e foram aplicadas cinco doses de esterco bovino curtido: 0, 3, 6, 9 e 12 kg m-2, com quatro vasos por repetição, dispostos em delineamento inteiramente casualizado. Após 198 dias de cultivo, foi realizada a secagem em estufa e extração por hidrodestilação do óleo essencial a partir de folhas secas, em Clevenger modificado. As plantas de A. triphylla crescidas com 12 kg m-2 de esterco bovino tiveram maior rendimento de massa. Maior teor de óleo essencial foi verificado nas plantas crescidas com 9 kg m-2 de esterco bovino. Biomass production and essential oil content of lemon verbena in response to organic manure application Palavras-chave: Aloysia triphylla, planta medicinal, matéria seca. Keywords: Aloysia triphylla, medicinal plant, dry matter. This work evaluated the influence of organic manure in biomass production and in essential oil content of Aloysia triphylla (L´Hérit) Britton. Plants growing under greenhouse received five tanned cattle manure rates: 0, 3, 6, 9 and 12 kg m-2 with four pots per replication, in randomized complete design. After 198 days of growth, plants were dried and the essential oil was extracted from leaves by the Clevenger’s modified apparatus. The highest biomass was presented by plants cultivated with 12 kg m-2 and the highest oil yield was obtained from A. triphylla treated with 9 kg m-2 of cattle manure. (Recebido para publicação em 5 de janeiro de 2009; aceito em 23 de dezembro de 2009) (Received on January 5, 2009; accepted on December 23, 2009) A loysia triphylla (L´Hérit) Britton (Verbenaceae) é conhecida popularmente como cidrão, limonete e possui a sinonímia científica Lippia citriodora. Possui de 2 a 3 metros de altura, nativa da América do Sul, provavelmente do Chile e cultivada no sul do Brasil. É adstringente e aromática, rica em óleo volátil, que age como sedativo brando. Suas folhas são utilizadas internamente contra resfriados febris, como estimulante, tônico, antiespasmódico, carminativo, eupéptico e calmante. Também é usada para tratamento de melancolia, afecções do coração e histeria (Lorenzi & Matos, 2002). Análises fitoquímicas das folhas de cidrão revelaram a presença predominante de citral, além de limoneno, citroneol, geraniol, alfa e beta pineno, cineol, etil-eugenol, linalol e outros. Suas folhas retêm o aroma de citral, mesmo após a secagem, o que a torna um componente indispensável nos potpourris, muito empregados para aromatizar residências na Europa. (Lorenzi & Matos, 2002). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Além do uso como aromatizante, o citral é empregado na síntese de ionona (perfume da violeta), beta-caroteno e vitamina A (Czepak, 2003). Na dinâmica de crescimento e desenvolvimento em seu ciclo fenológico, as plantas medicinais e aromáticas podem apresentar alterações bioquímicas e fisiológicas capazes de afetar a elaboração dos princípios ativos, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo (Taiz & Zeiger, 2004). Estas alterações ocorrem devido à influência de fatores intrínsecos e extrínsecos. Alguns autores os classificam em fatores genotípicos (indivíduo, populações, etc.), fatores fisiológicos (estádios de desenvolvimento, ritmo estacional, rotas metabólicas alternativas, hormônios e estádio reprodutivo), fatores fitotécnicos (como adubações, densidades de plantio, consorciamento, etc.) e fator ecológico (pressões de variações no clima, solos, competidores, entre outros) (Dey & Harborne, 1997; Simões et al., 1999; Hook et al., 1999; Martins et al., 2000; Morvillo & Gil, 2004). Técnicas de cultivo podem ser empregadas na maximização da produção de princípios ativos e a adubação orgânica representa uma boa opção (Pinto & Bertolucci, 2002). A adubação orgânica exerce efeitos importantes nas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo como o fornecimento de macro e micronutrientes, aumento da capacidade de troca catiônica (CTC), aumenta o poder tampão do solo, melhoria nas condições de infiltração e aeração, aumento da presença e da atividade dos microrganismos no solo (Ribeiro et al., 1999). As respostas das espécies medicinais à adubação orgânica no rendimento de fitomassa e teores de princípios ativos são variáveis e, até o momento, não existe definição da dose de adubos recomendados no cultivo de Aloysia triphylla. O trabalho teve como objetivo avaliar a influência da adubação orgânica na produção de massa seca e no teor do óleo essencial de Aloysia triphylla 111 RS Brant et al. (L´Hérit) Britton. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no município de Lavras (21º 14’ S; 45º 00’; 919 m de altitude) que está situado na região Sul do estado de Minas Gerais e realizado de novembro de 2002 a maio de 2003. A identificação botânica da A. triphylla (L´Hérit) Britton foi efetuada pelo professor Manuel Losada Gavilanes, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Exsicatas foram depositadas no Herbário ESAL do Departamento de Biologia da UFLA, sob o registro nº 19677. As mudas foram obtidas por estaquia a partir de planta matriz. Microestacas apicais de 5 cm de comprimento e 2 mm de diâmetro foram postas para enraizar em bandejas de poliestireno expandido de 72 células, contendo o substrato comercial Plantmax®. Mudas de 12 cm de altura foram transplantadas em vasos de 10 L contendo substrato. A análise química do solo resultou: pH em água = 5,7; P e K disponíveis = 0,4 e 11 mg dm-3; Ca, Mg, H+Al, Al, soma de bases, capacidade de troca catiônica efetiva e pH = 7,0; 1,3; 0,5; 1,9; 0,0; 1,8; 1,8 e 3,7 cmol dm-3, respectivamente; índice de saturação por bases e índice de saturação de alumínio = 49,1% e 0%; M.O.= 0,8 dag kg-1; P remanescente= 1,3 mg L-1; Zn, Fe, Mn, Cu, B e S = 1,0; 38,6; 12,7; 2,7; 0,2 e 4,5 cmol dm-3. A composição física do solo foi: 19% de areia, 12% de silte e 69% de argila, e, classificado como sendo de textura muito argilosa. Com base nesses resultados verificou-se a necessidade de elevar a saturação de bases de 49,1% para 60%, por meio da aplicação de calcário, após realizados cálculos de necessidade de calagem (NC). Foram estabelecidos cinco tratamentos e quatro repetições, sendo cada parcela composta de quatro vasos (uma planta por vaso). Os cinco tratamentos utilizados foram: 0, 3, 6, 9 e 12 kg m-2 de esterco bovino curtido. A análise química do esterco bovino resultou: pH CaCl2 0,01M (Ref. 1:5)= 8,3; den112 sidade (g cm-3)= 0,53; umidade perdida a 60-65°C= 57,93%; umidade perdida entre 65 e 110° C= 1,81%; umidade total= 59,71; materiais inertes= 0%. resultados a base seca – 110°C: N total= 2,07%; M.O. total (combustão)= 61,10; M.O. compostável (titulação)= 41,82%; M.O. resistente à compostagem= 19,28; C total (orgânico e mineral)= 33,94%; C orgânico= 23,23%; resíduo mineral total= 2,07%; resíduo mineral insolúvel= 16,91%; resíduo mineral solúvel= 22,71%; relação C/N (C total e N total)= 16/1; relação C/N (C orgânico e N total)= 11/1; P (P2O5 total)= 0,96%; K (K2O total)= 6,29%; Ca total= 3,69%; Mg total= 0,99%; S total= 0,46%; B total= 42 mg kg-1; Cu total= 54 mg kg-1; Fe total= 19.965 mg kg-1; Mn total= 554 mg kg-1; Zn total= 90 mg kg-1; Na total= 4277 mg kg-1. Resultados umidade natural: N total= 0,87% ; M.O. total (combustão)= 25,82%; M.O. compostável (titulação)= 17,67%; M.O. resistente à compostagem= 8,15%; C total (orgânico e mineral)= 14,34%; C orgânico= 9,82%; resíduo mineral total= 16,74%; resíduo mineral nsolúvel= 7,15%; resíduo mineral solúvel= 9,59%; relação C/N (C total e N total)= 16/1; relação C/N (C orgânico e N total)= 11/1; P (P2O5 total)= 0,41%; K (K2O total)= 2,66%; Ca total= 1,56%; Mg total= 0,42%; S total= 0,19%; B total= 18 mg kg-1; Cu total= 23 mg kg-1; Fe total= 8437 mg kg-1; Mn total= 234 mg kg-1; Zn total= 38 mg kg-1; Na total= 1807 mg kg-1. As plantas foram irrigadas três vezes por semana. Após 198 dias de cultivo, as plantas foram colhidas no período da manhã, destacando-se as folhas dos caules e ambos colocados em estufa de circulação forçada de ar a 35ºC, enquanto as raízes foram lavadas e após retirada a umidade excessiva foram também conduzidas à estufa a 60ºC até peso constante. As variáveis de crescimento avaliadas foram massa (g) seca de parte aérea total, de raízes, de folhas e de caules. Para a extração do óleo essencial, as plantas foram submetidas a uma triagem, selecionando-se apenas as folhas sadias. Para o tratamento de 0 kg m-2 de esterco bovino curtido foi utilizado 10 g, pois o material vegetal obtido foi insu- ficiente. Para os demais tratamentos foi feita uma correlação entre a massa fresca (40 g, padrão utilizado pelo laboratório) e seca em estufa e, assim, foram utilizados seis repetições de 14,63 g de folhas secas em estufa por repetição. As folhas secas foram colocadas em balão volumétrico de 1.000 mL acrescentado de 700 mL de água destilada, de forma que o material vegetal ficou completamente imerso e submetidos à técnica de hidrodestilação utilizando Clevenger modificado, por 90 minutos. O hidrolato obtido de cada hidrodestilação foi então, submetido à partição líquido-líquido em funil de separação, com três porções de 25 mL de diclorometano. As frações orgânicas de cada repetição foram reunidas e secas com três gramas de sulfato de magnésio anidro. O sal foi removido por filtração simples. O solvente foi evaporado à temperatura ambiente, em capela de exaustão de gases, até peso constante, obtendo-se assim, o óleo essencial purificado. A partir da massa obtida, o teor foi calculado pela fórmula: T% = Massa do óleo (g) / 14,63g x 100 A análise estatística dos dados obtidos foi realizada pelo programa SANEST (Zonta & Machado, 1984). As médias dos tratamentos foram submetidas à análise de variância pelo teste de F e à análise de regressão. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação de 12 kg m-2 de esterco bovino curtido resultou na maior produção de massa seca de folhas, caule e raiz (Figura 1). As dosagens de esterco bovino proporcionaram correlação positiva com a massa seca da parte aérea total e das raízes, indicando boa resposta de Aloysia triphylla à adubação orgânica (Figura 1). Isto ocorreu, provavelmente, devido ao solo utilizado ser muito pobre em macronutrientes, sendo necessária adição de grande quantidade de fertilizante orgânico para uma maior produção de massa seca. À medida que aumentou a quantidade de esterco bovino houve ganho de massa em A. triphylla, com um Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Produção de biomassa e teor do óleo essencial de cidrão em função da adubação orgânica P.A. Raízes y = 2,2667x + 6,2 R² = 0,99 y = 1,51x + 10,25 R² = 0,99 0 3 Folhas y = 0,7417x + 3,1 R² = 0,99 Caules 2 y = -0,0496x + 2,103x + 2,657 R² = 0,98 Massa seca (gramas) 35 30 25 20 15 10 5 0 6 9 -2 Doses de esterco bovino (kg m ) 12 Figura 1. Massa seca das partes aéreas, raízes, folhas e caules de Aloysia triphylla, cultivada em diferentes doses de esterco bovino curtido (canopy, roots, leaves and stems dry matter of Aloysia triphylla, cultivated in differents tanned cattle manure rates). Lavras, UFLA, 2003. Figura 2. Teores de óleo essencial de folhas secas de Aloysia triphylla cultivada em diferentes doses de esterco bovino curtido (essential oil content of Aloysia triphylla dry leaves cultivated in differents tanned cattle manure rates.) Lavras, UFLA, 2003. incremento de 406% na massa de parte aérea e 186% na massa de raízes, entre os tratamentos mínimo e máximo (0 kg m-2 de esterco bovino: 6,65 g de parte aérea e 9,88 g de raízes; 12 kg m-2 de esterco bovino: 33,64 g de parte aérea e 28,24 g de raízes). Um substrato muito argiloso, como o utilizado nesse trabalho dificulta o crescimento radicular. Assim, além de ter menor massa, as raízes Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 terão menos superfície de contato, por explorarem área menor, o que impossibilita a absorção de nutrientes do solo. As doses crescentes de esterco bovino adicionadas ao substrato promoveram melhor estruturação do solo e, consequentemente, melhor desenvolvimento das plantas de A. triphylla. Houve ajuste quadrático para caules enquanto que para folhas, parte aérea e raiz o ajuste foi linear. Isso indicou que o aumento na produção de folhas à medida que acresceu-se as doses foi maior que o incremento de caules, e assim, originou maior massa foliar em doses elevadas (Figura 1). Resultados similares foram obtidos por Ferreira (2003) no qual doses crescentes de 0 a 6 kg m-2 de esterco bovino proporcionaram aumento de massa seca total em Catharanthus roseus (L.). Tais resultados vão ao encontro com os relatados de Ribeiro et al. (1999) e Silva (1997), que verificaram efeitos benéficos da incorporação de esterco bovino ao substrato de cultivo, pois, promoveram a melhoria física do solo e, consequentemente, contribuiu para o crescimento e desenvolvimento de um sistema radicular mais vigoroso, com maior eficiência de exploração edáfica e maior disponibilização de nutrientes resultando em uma parte aérea mais desenvolvida. Pela análise de regressão concluiu-se que houve aumento nos teores de óleo essencial nas folhas secas de A. triphylla até a dose de 9 kg m-2 de esterco bovino, caracterizado como pico de produção. Os teores de óleo essencial apresentaram ajuste cúbico, destacando a dose de 12 kg m-2 de esterco bovino, que apresentou menor teor médio de óleo em relação às folhas tratadas com 6 kg m-2 e 9 kg m-2 (Figura 2) e maior rendimento de massa seca (Figura 1). Isto pode ter ocorrido por um efeito de diluição, pois, quando ocorreu incremento de massa de A. triphylla, os teores de óleo essencial em folhas e flores diminuíram, conforme verificado por Gil et al. (2003). Similarmente, Scheffer (1998) observou que houve um aumento na massa de Achillea millefolium L. (mil-folhas) e no rendimento de óleo essencial, acrescendo-se as doses de adubo até a dose de 3 kg m-2 de adubo orgânico. Doses superiores causaram, por outro lado, queda nas produções do óleo essencial. Chaves et al. (2002), estudando o crescimento de Lippia sidiodes (alecrim-pimenta), em substratos com 0; 1,5; 3,0; 4,5 e 6,0 kg m-2 de esterco de aves observaram que, à medida que se aumentou a dose do adubo orgânico, houve maior produção de massa seca, similarmente ao verificado nesse estudo. 113 RS Brant et al. Por outro lado, o maior rendimento de óleo essencial encontrado foi na dose de 1,5 kg m-2 de esterco de aves. Verificou-se menor teor médio de óleo essencial na ausência de adubação com esterco bovino e assim, inferiu-se que a utilização de esterco bovino favoreceu a produção de óleo essencial para a espécie estudada. Porém, há espécies que não respondem bem à adubação orgânica em relação à produção de óleo (Correa Júnior et al., 1994), como, por exemplo, a Baccharis trimera (carqueja) que produz maior teor de óleo essencial na ausência do adubo (Silva, 2001). A aplicação de 3 a 5 kg m-2 de esterco bovino é recomendada para a produção de massa de cada espécie medicinal (Pinto & Bertolucci, 2002). Entretanto, para A. triphylla verificou-se que a dose de 9 kg m-2 de esterco bovino apresentou alta produção de massa seca e teor de óleo essencial. Assim, a dose de 12 kg m-2 de esterco bovino proporcionou maior ganho de massa seca e a dose de 9 kg m-2 de esterco bovino maior teor de óleo essencial de A. triphylla. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, FAPEMIG e CAPES pelo apoio financeiro. 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Adotou-se o delineamento em blocos casualizados, com oito tratamentos e quatro repetições. A parcela experimental de 14 m² constou de 28 plantas distribuídas no espaçamento de 1,0 m entre linhas e 0,5 m entre plantas. Foram avaliados os híbridos de couve-flor: TPX00123, TPC00218, Sarah AF-1169, Sharon, Snow-Flake, FirstSnow, Veneza e Verona. As adubações de cobertura foram realizadas com 10,5 kg de sulfato de amônio e 2,8 kg de cloreto de potássio, aplicados aos 15, 30, 45 e 60 dias após o transplante das mudas. A colheita das cabeças foi realizada quando começaram a atingir o ponto ideal de colheita com cabeças compactas e botões florais ainda unidos. Os híbridos TPC00218 e TPX00123 mostraram-se promissores, com produtividades comerciais de 23,8 e 23,2 t ha-1, respectivamente. O híbrido First-Snow possui baixo desenvolvimento de plantas e boa produtividade, podendo ser cultivado mais adensado. O híbrido Snow-Flake foi o que obteve menor produtividade, não sendo recomendado para plantio na região de Jaboticabal. Todos os híbridos testados apresentaram produção classificada na categoria extra e na classe 8 (maiores que 230 mm). Performance of hybrids of cauliflower for summer season, in Jaboticabal, Brazil Palavras-chave: Brassica oleracea var. botrytis, adaptabilidade, produtividade. Keywords: Brassica oleracea var. botrytis, adaptability, productivity. The experiment was installed in field and aimed to compare the performance of eight hybrids of summer cauliflower. The statistical design was the randomized blocks with eight treatments and four replicates. The experimental plot measured 14 m², with 28 plants of cauliflower spacing 1.0 m between rows and 0.5 m between plants. It was considered for evaluation 10 plants of the two central rows of each plot and the following hybrids of cauliflower: TPX00123, TPC00218, Sarah AF-1169, Sharon, Snow-Flake, First-Snow, Veneza and Verona. Top-dressing was carried out with 10,5 kg of ammonium sulfate and 2,8 kg of potassium chloride, applied at 15, 30, 45 and 60 days after the seedlings transplantation. The cauliflowers were harvested at the ideal moment, with compact heads and united flower buds. The hybrids TPC00218 and TPX00123 were promising, with commercial productivity of 23.8 and 23.2 t ha-1, respectively. The hybrid First-Snow presented low plant development and good productivity, so it can be cultivated with smaller spacing among plants. The hybrid Snow-Flake presented the lowest productivity, so it is not recommended for the region of Jaboticabal. All tested hybrids had its production classified as “extra” and class 8 (greater than 230 mm). (Recebido para publicação em 25 de setembro de 2008; aceito em 10 de dezembro de 2009) (Received on September 25, 2008; accepted on December 10, 2009) A produção de hortaliças pode gerar retornos econômicos e terapêuticos, porém, exige um intenso envolvimento de capital, trabalho qualificado e conhecimentos. É uma atividade que integra o agronegócio e envolve diversos setores da cadeia produtiva, devendo-se produzir com preços competitivos, alta qualidade e constância (Fontes, 2005). No estado de São Paulo, a couveflor está entre as quinze hortaliças mais produzidas (May et al., 2007), portanto, o seu valor econômico é bastante expressivo. Essa olerícola tem grande importância, particularmente, para os agricultores familiares que, em geral, cultivam pequenas áreas ao longo do ano. Nesse caso, o fato de ser bastante exigente em mão-de-obra, principalmente, na fase de colheita, não se constitui embaraço, Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 sendo considerada uma cultura lucrativa (May et al., 2007). A couve-flor é uma planta exigente em relação às condições climáticas, sendo originária de regiões de clima temperado ameno e bienal. Devido a essa exigência em baixa temperatura, seu cultivo era restrito a regiões de temperaturas mais amenas (Blanco et al., 1997). Mais recentemente, através do melhoramento genético houve desenvolvimento de híbridos de couve-flor que podem ser cultivados em condições de clima mais quente, permitindo a produção durante todo o ano (Filgueira, 2003). Entretanto, a sensibilidade das cultivares à temperatura é bastante variável. Desse modo, estudos relacionados a tolerância das novas cultivares às condições das diferentes regiões, são importantes sob pena do olericultor não obter colheita ou produto adequado às necessidades do mercado. O plantio de cultivares de inverno em condições de alta temperatura pode ocasionar o não florescimento da planta, ou cabeças semivegetativas, de coloração esverdeada e intercalada por folíolos, impróprias para comercialização. Segundo Freitas (1995), é de grande importância a escolha de cultivares adaptadas às diferentes condições de cultivo, que apresentem produtividade elevada, qualidade e ainda que ofereçam baixo custo de produção, considerando a duração do ciclo produtivo específico de cada uma. Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho de híbridos de couve-flor de verão, em 115 BCBA Monteiro et al. Jaboticabal - SP. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido entre 01/02/07 e 03/06/07, no Câmpus de Jaboticabal da UNESP, cujas coordenadas geográficas são 21° 14’ 05” Latitude Sul, 48° 17’ 09” Longitude Oeste e altitude de 614 m. O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw com transição para Cwa (VOLPE1). O solo da área experimental é do tipo, (LR) Latossolo Roxo Eutrófico, A moderado, textura muito argilosa, caulinítico, hipoférrico, relevo suave ondulado ou ondulado (Andrioli & Centurion, 1999). O delineamento experimental adotado foi de blocos casualizados, com oito tratamentos (híbridos) e quatro repetições. Os tratamentos foram representados por oito híbridos de couve-flor (TPX00123 e TPC00218 (Agristar do Brasil); Sarah AF-1169 e Sharon (Sakata Seed Sudamerica); Snow-Flake e FirstSnow (ISLA Sementes); Veneza e Verona (Seminis)). A parcela experimental tinha 14 m², constando de 28 plantas de couve-flor distribuídas no espaçamento definido de 1,0 m entre linhas e 0,5 m entre plantas. Foram consideradas para avaliação 10 plantas das duas linhas centrais de cada parcela. Para a instalação do experimento, o solo foi amostrado na profundidade de 0-0,20 m. Sua análise química revelou: pH em CaCl2= 5,3; MO=18,0 g dm-3; P-resina= 64,0 mg dm-3; K= 3,1 mmolc dm-3; Ca= 62,0 mmolc dm-3; Mg= 30,0 mmolc dm-3; H+Al= 22,0 mmolc dm-3; SB= 70,1 mmolc dm-3; T= 99,6 mmolc dm-3; V%= 67. Com base na análise da fertilidade do solo e na recomendação de Trani & Raij (1997), procedeu-se a correção do solo com calcário para elevar a saturação de bases (V%) a 80% e o teor de magnésio a um mínimo de 9 mmolc.dm-3. O calcário foi aplicado em área total e incorporado por meio de aração e gradagem. A adubação de plantio, também de acordo com Trani & Raij (1997), correspondeu à aplicação de 300 kg ha-1 de sulfato de amônio, 1100 kg ha-1 1 superfosfato simples, 215 kg ha-1 cloreto de potássio, e 3 kg ha-1 de B, como fonte Bórax, em solo anteriormente preparado (aração e gradagem). As adubações de cobertura foram feitas de acordo com as doses recomendadas por Trani & Raij (1997), equivalentes a 600 kg ha-1 de sulfato de amônio misturado a 160 kg ha-1 de cloreto de potássio, o que correspondeu a aproximadamente 9,5 g planta-1 da mistura. Foi aplicado 2,4 g da mistura aos 15, 30, 45 e 60 dias após o transplantio das mudas. Para a formação das mudas, utilizouse o sistema de semeadura em bandejas. As sementes dos híbridos de couveflor foram semeadas em 01/02/07 em bandejas de poliestireno expandido, com capacidade para 128 células, com substrato Plantmax Hortaliças, colocando-se uma semente por célula, sendo a irrigação feita automaticamente por microaspersão. O transplante foi realizado aos 37 dias após a semeadura, quando as plântulas apresentavam quatro a cinco folhas definitivas. Para o controle de pragas e doenças foram utilizados inseticidas e fungicidas recomendados para a cultura, de acordo com a ocorrência do agente, inseto ou patógeno na área experimental, adotando-se a dose recomendada pelo fabricante. O controle de plantas invasoras foi feito com capina manual. As irrigações foram feitas durante todo o ciclo da cultura e em complementação às chuvas. Utilizou-se o sistema de aspersão convencional. A colheita foi realizada à medida que as cabeças começaram a atingir o ponto ideal de colheita, isto é, cabeças compactas com botões florais ainda unidos. Iniciou aos 91 dias após a semeadura e se estendeu por mais 30 dias. As plantas centrais de cada parcela foram mensuradas ainda em campo, antes da colheita, quanto ao diâmetro da planta na linha e na entrelinha (cm) e precocidade média (dias da semeadura até a colheita). Após a colheita, foram levadas ao laboratório para avaliações de massa (g), altura (cm), diâmetro (cm) e diâmetro do caule (cm) e calculada a produtividade média estimada por hectare (kg ha-1). A classificação das cabeças foi feita por tamanho e qualidade ( Programa Horti & Fruti Padrão, 1999), Para esta classificação observaram-se os parâmetros de classificação por diâmetro transversal das inflorescências, com oito classes de produto e classificação por qualidade ou categoria da couveflor sendo mensurada pela ocorrência de defeitos graves e leves, associados à tonalidade de coloração. Para a caracterização da tonalidade considerou-se a variação da coloração, sendo a branca caracterizada pela predominância absoluta da cor branca, a creme pela coloração creme, em qualquer proporção e a amarela pela cor amarela, em qualquer proporção. As tonalidades de inflorescências usadas na classificação comercial de couve-flor para definição do tipo ou categoria foram as cores branca, creme e amarela. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (teste F) e as médias comparadas pelo teste de Tukey, segundo o delineamento proposto, utilizando-se o programa estatístico Estat (UNESP, Jaboticabal-SP). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1, são apresentadas as médias do diâmetro da planta na linha, diâmetro da planta na entrelinha, diâmetro do caule e precocidade média de oito híbridos de couve-flor de verão. Para todas as características avaliadas, foram observadas diferenças estatísticas significativas entre os híbridos avaliados. Para o diâmetro da planta na linha verificou-se que os híbridos Verona e Sharon apresentaram as maiores médias para esta característica, com 97,07 e 95,30 cm, respectivamente, não diferindo estatisticamente apenas do híbrido TPX 00123 (88,40 cm). Observa-se que estes híbridos tiveram maior desenvolvimento e que o espaçamento adotado de 50 cm entre plantas pode ter sido insuficiente para que as cultivares expressassem seu potencial produtivo, pois pode ter ocorrido competição entre as VOLPE CA. UNESP-FCAV, Câmpus de Jaboticabal) Comunicação pessoal, 2005. 116 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal Tabela 1. Médias do diâmetro da planta na linha (DPL), diâmetro da planta na entrelinha (DPT), diâmetro do caule (DC) e precocidade média (PM) de oito híbridos de couve-flor de verão (means of diameter of plants in the row, diameter of plants in inter-row, diameter of stem and mean precocity in eight hybrids of Summer cauliflower). Jaboticabal, UNESP, 2007. Híbridos Snow-Flake First-Snow TPX 00123 TPC 00218 Sharon Veneza Verona Sarah Teste F DMS (Tukey, 5%) CV (%) DPL (cm) 71,37 cd 67,40 d 88,40 ab 80,71 bc 95,30 a 80,82 bc 97,07 a 71,50 cd 22,43 ** 11,2496 5,81 DPT (cm) 90,55 e 97,75 de 111,17 ab 106,40 bcd 115,40 a 107,90 abc 112,77 ab 99,40 cde 20,46 ** 8,9497 3,59 DC (cm) 2,81 b 2,99 ab 3,09 a 2,89 ab 2,97 ab 3,09 a 3,07 ab 2,82 b 4,17 ** 0,2701 3,84 PM (dias) 95,00 d 107,00 c 111,00 bc 109,00 c 116,00 ab 108,00 c 119,00 a 108,00 c 36,09 ** 5,6231 2,17 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo Teste de Tukey, a 5% de probabilidade (means followed by the same letter in the column don’t differ significantly, according to Tukey’s test at 5% level of probability). plantas por luz, e/ou nutrientes. Observou-se no híbrido First-Snow o menor diâmetro da planta na linha, o qual não diferiu estatisticamente dos híbridos Snow-Flake e Sarah. Estes híbridos apresentam plantas mais compactas, o que é altamente desejável, pois pode-se adensar o plantio, obtendo-se maiores produtividades. Com relação ao diâmetro da planta na entrelinha, verificou-se que o híbrido Sharon apresentou a maior média para esta característica, com 115,40 cm, o que não diferiu estatisticamente dos híbridos Verona, TPX00123 e Veneza (112,77 cm, 111,17 cm e 107,90 cm, respectivamente). Estes híbridos apresentaram grande desenvolvimento da planta, o que pode ter ocasionado competição entre as plantas da cultura. Para o híbrido Snow-Flake, observou-se a menor média de diâmetro da planta na entrelinha, com 90,55 cm, o qual não diferiu estatisticamente dos híbridos First-Snow e Sarah (97,75 e 99,40 cm, respectivamente). Vale ressaltar que a produção de uma cultura é o somatório de todas as interações planta-ambiente. A biomassa vegetal, seja como produto de interesse econômico ou do ponto de vista ecológico, é estritamente dependente do processo fotossintético. Portanto, plantas com maior desenvolvimento possuem maior área foliar e consequentemente Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 apresentam maior probabilidade de converter os açúcares da fotossíntese em produto de interesse econômico. Porém, nem sempre maior área foliar significa maiores produções, pois pode haver auto-sombreamento das plantas, ou ainda competição por luz com plantas vizinhas. Visando maior aumento na produtividade em virtude do adensamento de plantas, os melhoristas têm desenvolvido cultivares que apresentam boa pro- dução com menor desenvolvimento das plantas. Portanto, cultivares de couveflor que apresentem bom peso médio de cabeça com pequeno desenvolvimento constituem boa alternativa ao produtor para garantir maior produtividade em função do adensamento e se tornar mais competitivo no mercado. Para diâmetro do caule, observouse que os híbridos Veneza e TPX00123 apresentaram as maiores médias para esta característica, não diferindo dos híbridos Verona (3,07 cm), First-Snow (2,99 cm), Sharon (2,97 cm) e TPC00218 (2,89 cm). Os híbridos Snow-Flake e Sarah apresentaram as menores médias de diâmetro do caule, 2,81 e 2,82 cm, respectivamente, diferindo significativamente apenas dos híbridos Veneza e TPX 00123. É de se esperar que cultivares que apresentem maior diâmetro de caule também apresente maior peso de cabeça e consequentemente maior produtividade, pois há mais vasos de transporte para translocação de água, e fotoassimilidos. Além disso, caules mais espessos suportam cabeças mais pesadas. Para precocidade média observou-se que o híbrido Verona foi o mais tardio, com 119 dias, não diferindo estatisticamente do híbrido Sharon (116 dias) sendo considerados, portanto, cultivares de ciclo longo. Este resultado difere dos Tabela 2. Médias da massa média da cabeça (MC), altura da cabeça (AC), diâmetro da cabeça (DC) e produtividade média estimada por hectare (PMEH), de híbridos de couve-flor de verão (means of weight, height and diameter of the head and estimated productivity per hectare, in eight hybrids of cauliflower of Summer). Jaboticabal, UNESP, 2007. Híbridos MC (kg) AC (cm) DC (cm) Snow Flake First Snow TPX 00123 TPC 00218 Sharon Veneza Verona Sarah Teste F DMS (Tukey, 5%) CV (%) 0,73 c 1,09 ab 1,16 a 1,19 a 1,06 ab 0,97 b 1,12 ab 1,11 ab 13,84 ** 0,19 7,51 10,03 b 12,84 a 12,13 a 12,02 a 12,22 a 11,52 ab 11,99 a 12,44 a 6,08 ** 1,5842 5,63 24,95 ab 23,55 b 24,37 ab 25,65 ab 26,37 a 23,80 b 25,27 ab 24,72 ab 4,08 ** 2,2090 3,75 PMEH (t ha-1) 14,56 c 21,80 ab 23,25 a 23,76 a 21,25 ab 19,43 b 22,43 ab 22,30 ab 13,90 ** 3,76 7,50 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo Teste de Tukey, a 5% de probabilidade (means followed by the same letter in the column do not differ significantly, according to Tukey’s test at 5% level of probability). 117 BCBA Monteiro et al. Tabela 3. Classificação das cabeças de oito híbridos de couve-flor de verão (classification of heads of eight hybrids of cauliflower for Summer). Jaboticabal, UNESP, 2007. Híbrido Snow-Flake First-Snow TPS00123 TPC00218 Sharon Veneza Verona Sarah Classe 8 8 8 8 8 8 8 8 Classificação das cabeças Categoria Tonalidade extra 0 extra 100 extra 0 extra 0 extra 0 extra 0 extra 0 extra 0 8= diâmetro de cabeça maior que 230 mm; extra= isentas de defeitos; 0= coloração creme de cabeça; 100= coloração branca de cabeça (8= diameter of head over 230 mm; extra= without defects; 0= cream coloration of head; 100= white coloration of head). observados por Oliveira et al. (2007) que, avaliando a dinâmica de crescimento da cultura de couve-flor, verificaram que o híbrido Verona, aos 101 dias após a semeadura, atingiram o ponto de colheita. Esta diferença de precocidade se deve ao fato do experimento dos referidos autores ter sido conduzido no outono/inverno, época que é mais propicia para a cultura da couve-flor, o que consequentemente resultou num período menor entre a semeadura e a colheita. Períodos prolongados de temperatura acima de 25°C podem retardar a formação da cabeça em plantas que se encontram em fase de crescimento vegetativo, enquanto que plantas com cabeças em formação podem reverter para crescimento vegetativo, reduzindo o tamanho das cabeças e causando desenvolvimento de folhas ou brácteas nos pedúnculos florais (University of California, 1987). O híbrido Snow-Flake foi o mais precoce entre os oito híbridos avaliados, com ciclo de 95 dias. Os híbridos First-Snow, Sarah, Veneza, TPC00218 e TPX00123 não diferiram entre si, com respectivamente 107, 108, 108, 109 e 111 dias de ciclo, sendo consideradas cultivares de ciclo médio. Na Tabela 2, são apresentadas as médias da massa das cabeças de couve-flor, altura das cabeças, diâmetro das cabeças e produtividade média estimada por hectare de oito híbridos de couve-flor de verão. Para todas as características avaliadas, foram observadas diferenças estatísticas significativas entre os híbri118 dos avaliados. Para massa das cabeças de couveflor, pode-se observar que os híbridos TPC00218 e TPX00123 apresentaram as maiores médias (1,19 kg e 1,16 kg, respectivamente), diferindo apenas dos híbridos Snow-Flake e Veneza, que apresentaram as menores médias para esta característica, com 0,73 kg e 0,97 kg, respectivamente. O híbrido Verona apresentou massa média de cabeça de 1,12 kg. Este resultado difere do apresentado por Oliveira et al. (2007) que verificou para a cultivar Verona valor inferior ao do presente trabalho, 0,77 kg de massa de cabeça. Este fato pode estar relacionado à época de realização do experimento que aconteceu um ano antes, no período de 23/02/06 a 05/06/06, ao estado nutricional da cultura ou ao manejo adotado nos diferentes experimentos. O híbrido Sharon apresentou massa média de cabeça de 1,06 kg, não diferindo dos híbridos com maiores massas. Este valor foi superior ao encontrado por Kikuti (2006), que observou cabeças de 0,89 kg nesta cultivar. Esta diferença pode estar relacionada ao local de realização do experimento, desenvolvido em Piracicaba ou ao menor espaçamento adotado pelo referido autor (0,7 x 0,6 m), podendo ter ocasionado maior competição entre as plantas da cultura prejudicando o desenvolvimento da cabeça. Godoy & Cardoso (2005), avaliando a produção de couve-flor cultivar Shiromaru II, observaram massa fresca da cabeça de 0,34 kg. Observa-se que os valores encontrados no presente trabalho são superiores aos observados pelos autores acima citados. Este fato pode estar relacionado à diferença de cultivares utilizadas, ao local e época de realização dos experimentos, pois o experimento dos autores acima citados foi realizado em São Manuel-SP, de novembro a abril de 2001, período este que favorece a formação da parte vegetativa da planta. Para diâmetro de cabeça verifica-se que o híbrido Sharon obteve a maior média, com 26,37 cm, diferindo apenas do híbrido First Snow. Esta média é superior à apresentada por Kikuti (2006), que foi de 20,33 cm, em experimento realizado em Piracicaba com a cultivar Sharon. Isto pode estar relacionado à diferente época de realização do experimento, que foi de dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, época esta que favorece o desenvolvimento da parte vegetativa da planta, e ainda ao espaçamento adotado, que no presente trabalho é superior (0,5 x 1,0 m). Os demais híbridos, TPC00218 (25,65 cm), Verona (25,27 cm), SnowFlake (24,95 cm), Sarah (24,72 cm) e TPX00123 (24,37 cm) não diferem estatisticamente do híbrido Sharon e não diferem entre si para esta característica. Vale destacar que todos os híbridos apresentaram diâmetro de cabeça superior ao mínimo exigido para comercialização, conforme o PROGRAMA HORTI & FRUTI PADRÃO (1999).Oliveira et al. (2007) constataram para a cultivar Verona diâmetro de cabeça de 25,25 cm, resultado semelhante ao observado neste trabalho. Com relação à altura das cabeças de couve-flor, o híbrido Snow-Flake apresentou a menor altura, com 10,03 cm, não diferindo apenas do híbrido Veneza, fato este que provavelmente está relacionado ao menor desenvolvimento da cabeça nesta cultivar. Esta característica, juntamente com o diâmetro da planta dão idéia do formato da cabeça. Godoy & Cardoso (2005) avaliando a produção de couve-flor cultivar Shiromaru II, observaram diâmetro de cabeça de 13,7 cm. Observa-se que os valores encontrados na presente pesquisa são superiores aos observados pelos autores acima citados. Este fato pode estar relacionado à diferença de cultivares Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal utilizadas ou ao local e época de realização do experimento (São Manuel-SP), de novembro a abril de 2001. Com relação à produtividade média estimada por hectare, os híbridos TPC00218 e TPX00123 apresentaram as maiores médias, com 23,76 e 23,25 t ha-1, diferindo apenas dos híbridos Veneza e Snow-Flake. A cultivar Verona apresentou média de produtividade de 22,43 t ha-1. Este resultado é superior ao apresentado por Oliveira et al. (2007) que constataram para a cultivar Verona, produtividade estimada de 15,47 t ha-1. O híbrido Snow-Flake apresentou a menor média para esta característica (14,56 t ha-1). Para o híbrido Sharon constatouse produtividade estimada de 21,25 t, resultado semelhante ao apresentado por Kikuti (2006) (21,3 t ha-1). Os espaçamentos utilizados foram diferentes, sendo o da presente pesquisa de 1,0 m entrelinhas e 0,5 m entre plantas e o utilizado por Kikuti (2006) de 0,7 m entre plantas e 0,6 m entrelinhas. Dessa forma, o número de cabeças por hectare é menor no presente trabalho, porém com maiores massas o que compensa a produtividade semelhante. Pizetta et al. (2005) avaliando o desenvolvimento da couve-flor híbrido Júlia, com diferentes teores de boro aplicados no solo, verificaram que a maior produtividade foi de 29,6 t ha-1, resultado superior a presente pesquisa. Este fato pode ser explicado pela diferença de cultivar utilizada e pela quantidade de boro aplicada. Trani & Raij (1997) consideram como boa produtividade de couve-flor uma faixa de 8 a 16 t ha-1. No presente trabalho verificaram-se produtividades de 14,5 a 23,7 t ha-1. Sendo assim, todos os híbridos avaliados estão dentro ou acima da faixa considerada boa pelos referidos autores. Esta superioridade na produção de couve-flor, em grande parte, deve-se a cultivares mais produtivas desenvolvidas nos últimos anos. O híbrido com menor desenvolvimento de plantas, o First-Snow, apresentou boa produtividade, não diferindo estatisticamente dos híbridos de maior produtividade, TPX00123 e TPC00218, indicando que é uma boa escolha para Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 o produtor, pois permite adensamento do plantio, obtendo-se maior produtividade. Para a classificação das cabeças de couve-flor, foram levados em consideração diâmetro transversal, categoria (danos) e tonalidade (coloração) da cabeça, seguindo recomendações do Programa Horti & Fruti Padrão (1999). A Tabela 3 contém a classificação das cabeças dos oito híbridos de couve-flor de verão, avaliados neste experimento. Todos estes híbridos foram incluídos na classe 8, por possuírem diâmetro de cabeça superior a 230 mm. Com relação à categoria (danos), todas as cabeças dos híbridos foram classificadas como extra, isentas de defeitos. Quanto à tonalidade, todos os híbridos foram classificados como 0 por apresentarem coloração creme de cabeça, exceto o híbrido First-Snow que foi classificado como 100, por apresentar coloração branca de cabeça. A produtividade de couve-flor para os híbridos avaliados foi expressiva, porém há uma carência de informações na literatura sobre os híbridos testados e sobre comparação entre cultivares. Portanto, fazem-se necessários novos estudos sobre o assunto, como comparação entre as cultivares, diferentes espaçamentos, uso de cobertura de solo, dentre outros. Com base nos resultados obtidos no cultivo de couve-flor de verão em campo aberto, para as condições edafoclimáticas de Jaboticabal, é possível concluir que os híbridos TPC00218 e TPX00123 mostraram-se promissores, com produtividades comerciais de 23,8 e 23,2 t ha-1, respectivamente. O híbrido First-Snow possui baixo desenvolvimento de planta, e boa produtividade. O híbrido Snow-Flake, por apresentar menor produtividade, não é recomendado para plantio na região de Jaboticabal. Todos os híbridos testados apresentaram produção classificada na categoria extra e na classe 8 (maiores que 230 mm). REFERÊNCIAS A N D R I O L I I ; C E N T U R I O N J F. 1 9 9 9 . Levantamento detalhado dos solos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 27. Anais... Brasília: SBCS, 32 p. BLANCO MCSG; GROPPO GA; NETO JT. 1997. Couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis L.). Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, v. 2, p. 57-61. ESTAÇÃO AGROCLIMATOLÓGICA. 2007. Resenha metereológica do período 19712000. Jaboticabal: Departamento de Ciências Exatas, FCAV-UNESP. 2003. Disponível em : www.fcav.unesp.br/departamento/ exatas/estação/resenha, Acessado em 30 agosto de 2007. FILGUEIRA FAR. 2003. Novo manual de olericultura.Viçosa: UFV, p. 275-280. FONTES PCR. 2005. 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O presente trabalho teve como objetivo determinar o fator de reprodução de Meloidogyne javanica e de Meloidogyne incognita raça 2 em seis porta-enxertos para pepino (abóbora ‘Menina Brasileira’, moranga ‘Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’, ‘B8-A Tetsukabuto’ e ‘Excite Ikki’) e quatro híbridos de pepino (Cucumis sativus) tipo japonês (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’ e ‘Tsuyataro’). Foram conduzidos dois experimentos em casa-de-vegetação, um com cada espécie do nematóide, sendo cada parcela constituída de uma planta mantida em vaso contendo 2 litros de solo autoclavado. Nove dias após transplante, cada planta foi inoculada com 5.000 ovos e juvenis de segundo estádio (população inicial - Pi) de M. javanica ou M. incognita raça 2. Tomateiros ‘Rutgers’ foram utilizados como padrão de viabilidade do inóculo, em ambos os experimentos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições por tratamento. Sessenta dias após a inoculação, cada planta foi avaliada, quanto ao peso fresco da raiz, número total de nematóides presentes no solo e na raiz (população final - Pf), número de nematóides/g de raiz e fator de reprodução de ambas as espécies de Meloidogyne (FR=Pf/Pi). Todos os porta-enxertos e híbridos de pepino testados apresentaram fatores de reprodução superiores a um, proporcionando a multiplicação de M. javanica e de M. incognita raça 2, porém, os valores nos híbridos de pepino foram superiores aos dos porta-enxertos. Reproduction of Meloidogyne spp. in rootstocks and cucumber hybrids Palavras-chave: Cucumis sativus, Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, enxertia. Keywords: Cucumis sativus, Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, grafting. Grafting is an alternative technique often recommended for the cucumber crop in root-knot nematodes infested areas. This study aimed to determine the reproduction factor of Meloidogyne javanica and M. incognita race 2 on six rootstocks for cucumber (squash ‘Menina Brasileira, pumpkim ‘Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’, ‘B8-A Tetsukabuto’ and ‘Excite Ikki’) and four cucumber (Cucumis sativus) Japanese type hybrids of (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’ and ‘Tsuyataro’). Two experiments were carried out in greenhouse, each one with a nematode specie. Each plot consisted of one plant per pot containing 2 liters of autoclaved soil. Nine days after the seedlings transplantation, each plant was inoculated with 5,000 eggs and second-stage juveniles (initial population - Pi) of M. javanica or M. incognita race 2. ‘Rutgers’ tomatoes were used as a standard for inoculum viability in both experiments. The experimental design was completely randomized with five replicates per treatment. Sixty days after inoculated, each plant was evaluated, when root fresh weight, total number of nematodes in the soil and in the roots (final population - Pf), nematodes number per gram of root and the reproduction factor of both Meloidogyne species (FR=Pf/Pi) were determined. All rootstocks and cucumber hybrids allowed the M. javanica and M. incognita race 2 multiplication, but, generally, reproduction factor values were greater in cucumbers than in rootstocks. (Recebido para publicação em 12 de maio de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010) (Received on May 12, 2009; accepted on February 3, 2010) O pepino (Cucumis sativus L.) é uma espécie adaptada ao cultivo sob temperaturas superiores a 20ºC. Temperaturas inferiores afetam o desenvolvimento e a produtividade da cultura. Além disso, a necessidade de obtenção do produto no inverno, quando os preços são mais elevados, levou os produtores brasileiros, localizados em regiões sujeitas a baixas temperaturas, a cultivar pepino em ambiente protegido a partir da década de 80 (Cañizares, 1998; Cardoso & Wilcken, 2008). Entre as cucurbitáceas, o pepino é a espécie mais cultivada sob essas condições em todo o mundo (Robinson & Decker-Walters, 1999). Embora o cultivo de pepino em 120 ambientes protegidos contribua para o aumento da produtividade e qualidade do produto comercializado, quando feito de maneira intensiva, propicia o aumento de problemas relacionados à sanidade da cultura (Cañizares & Goto, 1998). Dentre os patógenos do solo que afetam o pepino, os fitonematóides, são responsáveis por aproximadamente 67,7% dos replantios necessários em hortaliças (Oda, 1995). Huang & Viana (1980), estudando a suscetibilidade de pepino ‘Aodai Melhorado’ a M. incognita em diferentes níveis populacionais, verificaram que um mês após a semeadura, 100% das plântulas inoculadas com 20.000 e 100.000 ovos/L morreram, e quando foram inoculadas com 1.000 ovos de M. incognita/L de solo houve redução superior a 50% na produção de frutos de pepino. Devido à falta de cultivares de pepinos comerciais com resistência a M. incognita e M. javanica, espécies mais freqüentes em cultivo protegido, outras medidas de controle têm sido recomendadas, dentre estas a desinfecção do solo com produtos químicos, rotações de cultura com espécies vegetais não hospedeiras de nematóides e técnicas culturais como a enxertia (Cardoso & Wilcken, 2008; Cardoso, 2009). A enxertia em pepinos é uma técnica que propicia, dependendo da combiHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino nação enxerto/porta-enxerto, melhoria da qualidade dos frutos com a retirada de cera, resultando em maior brilho, aumento do vigor da copa da planta e conseqüente aumento de produção, aumento da resistência do porta-enxerto a fatores adversos, menor incidência de doenças fúngicas do solo e infestação por nematóides (Kawaide, 1985; Cañizares & Goto, 1998). A técnica de enxertia também tem sido considerada uma alternativa freqüentemente recomendada para a cultura do pepino em áreas infestadas com nematóides das galhas. As taxas de multiplicação de M. javanica e M. incognita nos porta-enxertos recomendados ainda são desconhecidas, embora já tenham sido determinadas em diferentes cultivares de pepino plantadas em pé-francos em estufa e no campo, variando estas de 66,0 a 170,0 em estufa e de 3,0 a 59,7 a campo (Charchar et al., 2005). O presente trabalho teve como objetivo determinar o fator de reprodução de Meloidogyne javanica e M. incognita raça 2 em seis porta-enxertos e quatro híbridos de pepino. MATERIAL E MÉTODOS Dois experimentos, com M. javanica e M. incognita raça 2, foram conduzidos separadamente em casa-de-vegetação da UNESP em Botucatu-SP. Populações puras das espécies foram isoladas a partir da retirada da massa de ovos de cada fêmea devidamente identificada e multiplicadas em raízes de tomateiro ‘Rutgers’ em vasos com substratos previamente autoclavado, em casa-de-vegetação. A população de M. javanica foi isolada a partir de raízes de pimentão ‘Magali’ proveniente do município de Santa Rosa-RS; e a população de M. incognita raça 2 a partir de raízes de cafeeiro provenientes do município de Osvaldo Cruz-SP. Ovos e eventuais juvenis infectantes de M. javanica ou M. incognita raça 2 foram extraídos das raízes de tomateiro 60 dias após a inoculação, seguindo o método de extração proposto por Hussey & Barker (1973), modificado por Bonetti & Ferraz (1981), que consiste em proHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 cessar o sistema radicular infectado em liquidificador com hipoclorito a 0,5% e, em sequência, passar o processado por um jogo de peneiras de 20, 80 e 500 mesh, para a obtenção da suspensão de inóculo que é constituída pelos ovos e eventuais juvenis retidos na peneira de 500 mesh. Foram avaliadas seis cultivares de abóboras e morangas recomendadas para utilização como porta-enxerto para pepino (‘Menina Brasileira’, ‘Moranga Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’, ‘B8-A Tetsukabuto’ e ‘Excite Ikki’) e quatro híbridos de pepino tipo japonês (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’ e ‘Tsuyataro’). Sementes destes dez tratamentos foram semeadas em bandeja de poliestireno expandido (isopor) de 128 células com substrato comercial (Plantmax). O transplante das mudas foi efetuado quando as mesmas apresentavam aproximadamente 5 cm de altura para vasos de 2 L contendo substrato composto por solo, areia e esterco bovino, na proporção 1:2:1, previamente autoclavado. A inoculação foi realizada nove dias após o transplante das mudas das cultivares de abóboras e/ou morangas e dos híbridos de pepino com 5.000 ovos e juvenis de segundo estádio do nematóide estudado/vaso (População inicial= Pi) suspensos em 2 mL. A inoculação foi realizada em dois orifícios com 2 cm de profundidade, ao redor da muda. Tomateiros ‘Rutgers’ foram utilizados como padrão de viabilidade do inóculo em ambos os experimentos. Os experimentos foram conduzidos em casa-de-vegetação, sendo cada parcela constituída de uma planta por vaso. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições por tratamento. Sessenta dias após a inoculação, os sistemas radiculares de cada parcela foram separados da parte aérea, lavados e pesados após a retirada do excesso de umidade com auxílio de papel toalha. Em seguida, foram submetidos à solução de floxine B por 15 minutos, para a coloração das massas de ovos externa dos nematóides, as quais tiveram seus números contados juntamente com os números de galhas, ambos relacionados com a escala de notas proposta por Taylor & Sasser (1978). Por esta escala, são conferidas as notas 0, 1, 2, 3, 4 e 5 se o número de galhas (ou massas de ovos) for nulo, 1-2, 3-10, 11-30, 31-100 e >100, respectivamente. Em seguida, foram processados 250 mL de solo e todo o sistema radicular de cada parcela, de acordo com a metodologia flutuação, peneiramento e centrifugação e processamento em liquidificador, peneiramento e centrifugação, descritas por Jenkins (1964) e Coolen & D´Herde (1972), respectivamente. O número total de nematóides presentes no solo e na raiz de cada parcela (População final= Pf) foi obtido através da multiplicação do número de nematóides presentes em 250 mL de solo por oito, para estimar em 2 L, e em seguida somado ao número de nematóides presentes na raiz. A partir destes dados calcularam-se os fatores de reprodução (FR= Pf/Pi). As plantas que apresentaram valor de FR maior ou igual a 1,0, foram classificadas como plantas hospedeiras e, aquelas que apresentaram FR menor que 1,0, como plantas não hospedeiras (Oostenbrink, 1966). Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan a 5%, após serem transformados em log (x + 1). RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os porta-enxertos e híbridos de pepino estudados apresentaram índice de galhas (IG) e de massa de ovos (IMO) igual a 5, ou seja, apresentaram mais de 100 galhas e mais de 100 massas de ovos no sistema radicular, tanto para M. javanica (Tabela 1) como para M. incognita raça 2 (Tabela 2). O tomateiro ‘Rutgers’ proporcionou um FR igual a 21,8 e 17,8 para M. javanica e M. incognita raça 2, comprovando a viabilidade do inóculo utilizado. Todos os porta-enxertos e híbridos de pepino estudados se comportaram como suscetíveis (ou hospedeiros) (Oostenbrink, 1966) a M. javanica (Tabela 1) e a M. incognita raça 2 (Tabela 2), ou seja, permitiram sua multiplicação. O fator de reprodução (FR) foi estatisticamente menor nos porta-enxertos do que nos híbridos de pepinos estudados para M. javanica (Tabela 1). Portanto, os híbridos de pepinos proporcionam maior 121 SRS Wilcken et al. Tabela 1. Peso da massa fresca de raiz (PFR), índice de galhas (IG), índice de massa de ovos (IMO), número de nematóides por grama de raiz (NN/g raiz), número de nematóides total (NNT) e fator de reprodução (FR) de Meloidogyne javanica em diferentes híbridos de pepino e porta-enxertos (root weight (PFR), gall index (IG), egg mass index (IMO), nematode number per root gram (NN/g raiz), total nematode number (NNT) and reproduction factor (FR) of Meloidogyne javanica in different cucumber hybrids and rootstocks). Botucatu, UNESP, 2008. PFR (g) Pepinos Kouki Tsuyataro Taisho KY Yoshinari Porta-enxertos Tetsukabuto Moranga Exposição B8-A Tetsukabuto Excite Ikki KY Menina Brasileira Ab. Shelper CV(%) IG IMO NN/g raiz FR NNT 47,7 34,6 43,6 48,0 a ab a a 5 5 5 5 5 5 5 5 3733,4 3981,0 2589,0 2042,3 a a ab abc 191.228 132.578 121.574 106.598 37,1 25,9 28,5 16,7 36,0 20,4 7,6 ab bc bc d ab cd 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 965,2 1484,4 894,7 1122,9 542,0 759,9 9,8 bcd abc cd bc d cd 42.934 38.992 32.166 22.028 20.438 20.200 4,6 a a a a b bc bcd bcd d cd 38,2 26,5 24,3 21,3 a a a a 8,6 b 7,8 bc 6,4 bcd 4,4 bcd 4,1 d 4,0 cd 20,3 *médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5% de probabilidade (means followed by the same letter at column did not differ from each other by Duncan test at 5% of probability). Tabela 2. Peso da massa fresca de raiz (PFR), índice de galhas (IG), índice de massa de ovos (IMO), número de nematóides por grama de raiz (NN/g raiz), número de nematóides total (NNT) e fator de reprodução (FR) de Meloidogyne incognita raça 2 em diferentes híbridos de pepino e porta-enxertos (root weight (PFR), gall index (IG), egg mass index (IMO), nematode number per root gram (NN/g raiz), total nematode number (NNT) and reproduction factor (FR) of Meloidogyne incognita in different cucumber hybrids and rootstocks). Botucatu, UNESP, 2008. Pep. Yoshinari Pep. Taisho KY Pep. Kouki Ab. Tetsukabuto Ab. B8-A Tetsukabuto Ab. Excite Ikki KY Ab. Moranga Exposição Ab. Shelper Ab. Menina Brasileira Pep. Tsuyataro CV(%) PFraiz (g) 76,8 a 62,4 abc 71,3 ab 34,1 e 34,8 de 19,4 f 35,3 de 16,8 f 46,5 cde 50,3 bcd 7,3 IG 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 IMO 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 NN/g (g) 2110,7 a 1841,9 a 2159,3 a 2036,9 a 1216,5 a 1783,1 a 1121,8 a 1529,1 a 579,6 a 515,4 a 13,9 NNT 153.486 a 114.222 ab 139.244 abc 66.092 cd 50.500 abcd 45.042 ab 44.242 abcd 37.652 bcd 30.788 cd 25.246 d 7,4 FR 30,7 22,8 27,8 13,2 10,1 9,0 8,8 7,5 6,2 5,0 31,9 a ab ab abc abc abc abc bc c c *médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5% de probabilidade (means followed by the same letter at column did not differ from each other by Duncan test at 5% of probability). aumento da população de M. javanica em um mesmo período de tempo, do que as abóboras que são utilizadas como porta-enxertos. Os híbridos de pepino não diferiram estatisticamente entre si, apresentando fatores de reprodução de M. javanica elevados, variando de 21 a 38. Estes valores são inferiores aos obtidos por Charchar & Aragão (2005) em estufa 122 (66 a 170) e semelhantes aos a campo (3,0 a 59,7). Entretanto, entre os porta-enxertos houve diferença significativa na reprodução do nematóide, demonstrada em todos os parâmetros analisados, sendo a abóbora ‘Shelper’ a que propiciou menor FR de M. javanica (FR= 4,0); embora não tenha diferido estatisticamente dos FRs obtidos em ‘Menina Brasileira’ (FR= 4,1), ‘Excite Ikki’ (FR=4,4) e ‘B8-A Tetsukabuto’ (FR=6,4). Também foi observada a multiplicação do M incognita em todos os portaenxertos e híbridos de pepino estudados (Tabela 2), assim como no experimento com M. javanica. O pepino ‘Tsuyataro’ foi o que proporcionou menor fator de reprodução (FR= 5,0) para esta espécie, embora não diferindo estatisticamente Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino de todos os porta-enxertos:‘Menina Brasileira’ (FR= 6,2), ‘Shelper’ (7,5), ‘Excite Ikki’ (FR= 9,0), ‘Tetsukabuto’ (FR= 13,2) e ‘B8-A Tetsukabuto’ (FR= 13,2). Os híbridos de pepino ‘Yoshinari’, ‘Taisho’ e ‘Kouki’ apresentaram os maiores valores de fator de reprodução, superiores a 22. Carneiro et al. (2000), verificando a taxa de multiplicação de M. javanica, M. incognita raça 3, M. arenaria raça 2 e M. hapla em diferentes hortaliças, consideraram as abóboras ‘Caserta’ e ‘Branca de Virgínea’ resistentes apenas a M. hapla, assim como os pepinos ‘SMR58’ e ‘Marketer’. As cultivares de pepinos e abóboras ora estudados apresentaram os fatores de multiplicação mais elevados aos obtidos por Carneiro et al. (2000). Em uma área infestada apenas com M. incognita, o pepino ‘Tsuyataro’ não terá benefícios com a enxertia visando o manejo deste patógeno. Porém, em algumas áreas a infestação do solo ocorre com as duas espécies (M. incognita e M. javanica) conjuntamente (Charchar & Moita, 2001). Nesta situação, as plantas enxertadas apresentarão menor multiplicação de pelo menos M. javanica ou de ambas as espécies do nematóide se o híbrido de pepino for o ‘Yoshinari’, ‘Taisho’ ou ‘Kouki’. Considerando-se a ausência de cultivares comerciais resistentes a M. javanica e M. incognita raça 2, a adoção de Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 mudas de pepinos enxertadas em áreas infestadas com esses nematóides, além de interferir de maneira positiva na qualidade e produtividade da cultura (Goto et al., 2003), pode também proporcionar, dependendo do porta-enxerto escolhido, menor multiplicação dessa espécie do nematóide das galhas comparada ao plantio de pés-franco dos híbridos estudados (Tabela 1). Entretanto, devese ressaltar que, embora os fatores de reprodução dos nematóides estudados sejam menores nos porta-enxertos que nos pepinos pé-franco, estes não são nulos, podendo elevar a população dos mesmos se cultivados de forma sucessiva em uma mesma área. REFERÊNCIAS BONETTI JI; FERRAZ S. 1981. Modificações do método de Hussey & Barker para extração de ovos de Meloidogyne exigua em raízes de cafeeiro. Fitopatologia Brasileira 6: 553. CAÑIZARES KAL. 1998. A cultura de pepino. In: GOTO R; TIVELLI SW (eds). Produção de hortaliças em ambiente protegido: condições subtropicais. São Paulo: Fundação Editora UNESP. p.195-223. CAÑIZARES KAL; GOTO R. 1998. Crescimento e produção de híbridos de pepino em função da enxertia. Horticultura Brasileira 16: 110-112. CARDOSO AII. 2009. Enxertia em pepino. Campo & Negócio 52: 70-71. CARDOSO AII; WILCKEN SRS. 2008. Nematóides assustam produtores de tomate e pepino. Campo & Negócio 34: 38-39. CARNEIRO RMDG; RANDIG O; ALMEIDA MRA; CAMPOS AD. 2000. 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Postal 218, 70351-970 Brasília-DF; 2Embrapa Sede, Parque Estação Biológica, 70770-901 Brasília-DF; silvia@ cnph.embrapa.br; [email protected]; [email protected]; [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Melhoristas de Capsicum da Embrapa Hortaliças estão orientando parte de seus esforços sob a ótica dos consumidores intermediários e finais com objetivo de aumentar as chances de sucesso de longo prazo do desenvolvimento de novas cultivares. Nesse cenário, este trabalho ilustra uma pesquisa, iniciada em 2007, com consumidores de pimentão do Distrito Federal para conhecer as principais características que são levadas em consideração no ato da compra. O estudo foi dividido em duas partes: um piloto com 444 consumidores de um grande supermercado e um levantamento com 500 consumidores finais de pimentão in natura de cinco supermercados de Brasília. Utilizou-se a análise de dados categóricos por meio do procedimento CATMOD do SAS para verificar a ordenação de importância dos atributos, os contrastes das médias, bem como a influência do perfil do comprador na avaliação das características envolvidas na compra. Em complemento, usou-se a análise de correspondência para a representação gráfica das relações multidimensionais das distâncias do grau de importância dos atributos do pimentão. Os consumidores enfatizaram a textura e as características relacionadas ao aspecto visual durante a compra do pimentão. Em adição, foram detectadas diferenças de percepção de alguns atributos dentre os consumidores quando segmentados por gênero, idade, grau de escolaridade, estado civil e localização do supermercado. Destaca-se, ainda, a maior preocupação das características funcionais por pessoas mais idosas. Estudos dessa natureza são essenciais para melhor orientar os programas de melhoramento genético vegetal. Attributes of vegetables based on consumer´s needs: a case study on bell peppers in Distrito Federal, Brazil Palavras-chave: Capsicum annuum, consumo, qualidade, supermercado. K e y w o r d s : C a p s i c u m a n n u u m , c o n s u m p t i o n , q u a l i t y, supermarket. Capsicum (chili and bell peppers) breeders at Embrapa Vegetables are focusing project activities to satisfy the demands of both growers and final consumers in order to increase the chances of success in, long-term development of new cultivars. So, a prospection study on consumer demands and perception on bell peppers was started in 2007 in order to identify the main attributes taken in consideration during the act of purchase. This work was divided in two parts: a pilot study with 444 consumers at one supermarket and a survey with 500 consumers of fresh bell pepper, carried out by interviews at five supermarkets in Brasilia, Brazil, which represent distinct income segments. Data were analyzed by categorical data analysis using SAS (Procedure CATMOD) to rank the attributes in order of importance; to contrast the attribute means; and to verify the psychosocial influence on ranking the attributes during the purchase act. In addition, correspondence analysis was used for graphical representation of the attributes separated by the level of importance. During purchase, consumers prioritize the attributes related to the visual aspect (appearance) and firmness of the fruits. Also, differences of perception by gender, age, educational level, marital status and supermarket location were detected. Based on the collected evidence, elderly people are more concerned about nutritional value. Plant breeding programs can be better focused utilizing inputs from similar studies. (Recebido para publicação em 14 de agosto de 2009; aceito em 26 de fevereiro de 2010) (Received on august 14, 2009; accepted on february 26, 2010) O pimentão está entre as hortaliças mais consumidas no Brasil e ocupa uma área significativa de plantio, concentrada em São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e estados do Nordeste (Maldonado, 2000). Henz et al. (2007) enfatizam também a produção do estado do Paraná no cenário do pimentão e o Distrito Federal como um dos principais pólos de produção de pimentão em cultivo protegido no país, tendo área aproximada de 50 ha cultivada anualmente. Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) revelam que, em 2008, a produção do estado de São Paulo foi de aproximadamente 60.140 toneladas. No Paraná e em Santa 124 Catarina, as Secretarias de Agricultura informaram que a produção foi 63.600 toneladas em 2003. Em Minas Gerais, em 2008 foram comercializados em torno de 12.000 toneladas de pimentão na Ceasa de Belo Horizonte (Seapa, 2009). Dada a importância econômica dessa hortaliça, as empresas de sementes têm lançado muitas cultivares no mercado, com grandes variações de formato, tamanho e cor. Esse mercado de sementes movimenta R$ 8,7 milhões por ano (Della Vecchia, 2007). Atualmente, conta-se com mais de 60 cultivares, com destaque para os híbridos que predominam no cultivo protegido e têm presença significativa em campo aberto (Abcsem, 2007). Entre estes, os híbridos Margarita, Paloma, Rúbia, Escarlata e Magali R são de grande importância no Distrito Federal. No entanto, observase uma rápida e constante substituição de genótipos pelas companhias produtoras de semente, fazendo com que a vida média do híbrido no mercado seja curta. Vale ressaltar que ainda há forte presença de cultivares de polinização aberta de pimentão em campo aberto (Abcsem, 2007) e, pela característica do setor público, há interesse no desenvolvimento deste tipo de genótipo que possa competir com os híbridos que têm alto custo de semente. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal Presentemente, nota-se que os híbridos são obtidos com o objetivo de suprir principalmente os interesses das companhias globalizadas de sementes, assim como as necessidades do produtor, já que os atributos ressaltados são resistência a doenças, alto vigor, produtividade, precocidade de produção e uniformidade. Mesmo em outras espécies, principalmente frutas e hortaliças, os projetos de pesquisa buscam principalmente atender problemas de cultivo da planta. Por outro lado, os atributos-chave para os demais agentes da cadeia, em especial a preferência do consumidor, têm sido pouco considerados como alvos das pesquisas de melhoramento genético (Matsuura et al., 2004). Na esfera do consumidor final, pesquisas sobre o seu comportamento frente aos setores de frutas e hortaliças sinalizaram uma preocupação incipiente sobre a captação das necessidades dos diversos agentes da cadeia. Segundo Saabor (2001), a compreensão dos hábitos do consumidor é uma vantagem competitiva na venda de frutas e hortaliças. Souza (2005) menciona que, na pesquisa realizada pela ABRAS sobre frutas e hortaliças em 1998, foram identificados oito estratos socioeconômicos: “...o valor nutricional, a qualidade e o sabor foram apontados como fundamentais para a decisão de compra...”. Em complemento, Kader (2002) pondera que os atributos que mais influenciam na decisão de compra de alimentos frescos são: sabor ou aroma, textura e aparência, uma vez que os consumidores se baseiam no visual e no que aparentam ter gosto bom. Como o cliente não tem acesso à visualização interior do fruto, utiliza-se de sua experiência anterior para avaliar o produto (Andreuccetti et al., 2005). Os mesmos autores reforçam a idéia de que a aparência é fator decisivo no ato da compra, em uma pesquisa realizada com tomate de mesa. Ragaert et al. (2004) enfatizam frescor e sabor e Van der Pol & Ryan (1996) mencionam que há consumidores pontuando preço e qualidade (frescor, aparência e valor nutricional) como atributos mais importantes de frutas e hortaliças. Para o pimentão, Frank et al. (2001) relatam que um número de atributos Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 pode afetar a preferência de consumidores americanos, incluindo os relacionados com aspecto (cor, tamanho, formato), valor nutricional (vitamina C, pro-vitamina A, minerais e fibras), intenção de uso (congelado, pré-cortado, fruto inteiro para consumo) e preço. Dentre esses atributos, cor, preço e valor nutricional foram analisados pela técnica de análise conjunta com 435 consumidores e o atributo “cor” foi três vezes mais importante que preço no processo de compra. Todavia, a vitamina C foi considerada um atributo irrelevante aos consumidores americanos, contrariando a afirmação de Souza (2005) para os consumidores brasileiros. Estudos à parte destacam características do pimentão relacionados à pós-colheita que são enfatizadas pelos agentes intermediários (atacadistas e varejistas). Esforços do Instituto Brasileiro de Qualidade em Horticultura, vinculado à Ceagesp tiveram como resultado a elaboração de normas de classificação do pimentão quanto a comprimento, diâmetro, cor e defeitos (Gorenstein & Gutierrez, 2000). Estes estão relacionados com incidência de frutos tortos, murchos e danos fisiológicos, mecânicos e relacionados a doenças e pragas (Lana et al., 1999) que influenciam na aparência e na textura do pimentão, são características ressaltadas pelos consumidores na literatura. Na perspectiva de Gorenstein & Gutierrez (2000), os padrões visam proporcionar uma linguagem comum no comércio entre os agentes da cadeia para se ter uma remuneração de incentivo que valorize os produtos de melhor qualidade. Entretanto, em visitas aos supermercados e centrais de distribuição, os agentes da cadeia seguem só alguns pontos da norma para classificação do produto, haja vista que ela é de adesão voluntária. Face a esse cenário, pesquisadores do programa de melhoramento de Capsicum (pimentão e pimentas) da Embrapa Hortaliças estão procurando determinar as características de pimentas e pimentões de maior interesse por parte dos consumidores intermediários e finais, dada a importância do agronegócio destas culturas no Brasil. Blackwell et al. (2005) referendam que um produto novo deve satisfazer às necessidades, desejos e expectativas de seus principais consumidores, sejam intermediários e/ ou finais. Pesquisadores como Clark & Wheelwright (1993), Ciccantelli & Magidson (1993) e Cooper (1999), dentre outros, mencionam a importância de articular o processo de novos produtos com as necessidades de todos os seus consumidores com objetivo de garantir o sucesso no lançamento desses produtos. Assim, iniciou-se um estudo de prospecção de demandas da cadeia de Capsicum no intuito de conhecer melhor as searas dos consumidores (intermediários e finais), em congruência com a sinalização por parte da academia em conhecer o comportamento do consumidor de frutas e hortaliças (Van der Pol & Ryan, 1996; Frank et al., 2001; Fillion & Kildcast, 2002; Kader, 2002; Ragaert et al., 2004; Andreuccetti et al., 2005; Peres et al., 2008). Este trabalho teve como objetivo estudar uma das etapas de prospecção, com o foco na cadeia de pimentão. A pesquisa foi realizada primeiramente com 444 consumidores de um grande supermercado do Distrito Federal e posteriormente com 500 consumidores finais de pimentão in natura de cinco supermercados distintos do Distrito Federal para conhecer os principais atributos do pimentão que são levados em consideração no ato da compra. Material e Métodos Utilizou-se o método survey na pesquisa, com questionário padronizado e estruturado, por meio de entrevistas com os consumidores, para descobrir certos traços e atributos da população estudada (Babbie, 2003). A estratégia selecionada foi de natureza quantitativa, uma vez que o foco foi quantificar quais atributos do pimentão são considerados mais importantes no ato da compra. A elaboração do questionário foi realizada por meio de uma pesquisa exploratória: entrevistou-se quarenta compradores/consumidores de pimentão de um grande supermercado de Brasília, no final de dezembro de 2007. Perguntou-se quais atributos os consumidores levam em conta no ato da compra do 125 SS Onoyama et al. pimentão. Os resultados foram tabulados e agregados e, a partir deles, elaborou-se um questionário fechado com perguntas sobre o grau de importância dos atributos: preço, tamanho, firmeza, cor uniforme, brilho, sem manchas, sem estrias, superfície lisa, não amassado, teor de vitamina, peso e sabor na hora da compra. Os itens foram mensurados na escala Likert com variação de 1 (nenhuma importância) a 5 (muito importante). Além disso, perguntou-se para os atributos tamanho, formato e peso a preferência de seus tipos aos respondentes que pontuaram nota acima de 3. Na etapa seguinte, no período de janeiro a fevereiro de 2008, às terças, quartas, quintas e sábados, realizou-se a pesquisa piloto com 444 consumidores de um grande supermercado de Brasília. As entrevistas estruturadas da primeira pesquisa ocorreram na seção de hortifrutigranjeiros, em que foram abordados consumidores de diferentes faixas etárias, grau de escolaridade, sexo e estado civil. Por último, realizou-se uma segunda pesquisa com 500 consumidores de pimentão que abrangesse os consumidores do Distrito Federal. Sendo assim, a pesquisa envolveu cinco supermercados localizados em cinco localidades do Distrito Federal: Ceilândia, Taguatinga, Asa Norte, Riacho Fundo e Recanto das Emas. O supermercado (A) é pequeno e situa-se em Ceilândia. O supermercado (B), em Taguatinga, pertencente a uma rede de supermercados, atende quatro estados e o Distrito Federal, contabilizando 25 lojas. O hipermercado (C), localizado na Asa Norte, pertence a uma rede com 80 lojas em 12 estados e no Distrito Federal. O supermercado (D), em Riacho Fundo, é uma das quatro lojas de um grupo local, que abrange também Samambaia e Taguatinga; e o supermercado (E), localizado no Recanto das Emas, advém de uma rede do Distrito Federal que possui 13 lojas em Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Riacho Fundo e Recanto das Emas. A escolha desses locais foi baseada nos dados sobre estratificação das regiões administrativas do Distrito Federal em cinco grupos por classe de renda (Codeplan, 1997): a população da Asa 126 Norte está inserida no primeiro grupo de renda, seguida por Taguatinga, Riacho Fundo, Ceilândia e Recanto das Emas. Nos meses de novembro de 2008 a fevereiro de 2009 as entrevistas também foram realizadas às terças, quartas, quintas e sábados. Para o cálculo do tamanho das amostras dos dois casos, o intervalo de confiança foi de 95%. O tamanho da amostra foi calculado a partir de uma amostra piloto, com a utilização dos preceitos de Matar (1997). O tratamento descritivo dos dados envolveu a preparação deles, cálculo das médias, dos desvios-padrões e distribuição do grau de importância dos atributos. Para verificar a ordenação de importância dos atributos, os contrastes das médias, bem como a influência do perfil do comprador na avaliação dos atributos envolvidos na compra, utilizou-se o procedimento CATMOD do SAS (Stokes et al., 2000), com estudo das características por meio de análise de dados categóricos. De acordo com os autores, dados categóricos resultam de observações de variáveis aleatórias (atributos) cujos valores possíveis são classificados em um conjunto finito de classes ou categorias disjuntas. Exemplos típicos são fornecidos por atributos tais como grau de infestação de uma cultura (forte, médio ou fraco), cor dos olhos e nacionalidade. Tipicamente temse interesse no estudo da distribuição de freqüências de ocorrência das possíveis categorias que são apresentadas em forma de tabelas conhecidas como tabelas de contingência. Estas podem ser uni ou multidimensionais dependendo da dimensão do vetor de atributos de interesse. Vale ressaltar que a análise de dados categóricos diz respeito à análise das freqüências representadas por uma tabela de contingência. Neste contexto procura-se modelar estatisticamente uma função de interesse das freqüências relativas ou probabilidades empíricas de ocorrência das várias categorias envolvidas. As regressões logísticas para respostas binárias enquadram-se nesta ordem de idéias. Em adição, usou-se a análise de correspondência para a representação gráfica das relações multidimensionais das distâncias do grau de importância dos atributos do pimentão. A análise de correspondência é uma técnica estatística para representar em um gráfico bi-dimensional as linhas e colunas de uma tabela de contigência. Essa metodologia foi utilizada porque todas as variáveis tomadas são qualitativas (não paramétricas), impossibilitando então um estudo quantitativo que explorasse as relações entre as variáveis (Hair et al., 1998). Resultados e Discussão Os resultados obtidos foram agregados em dois tópicos: o primeiro descreve sucintamente o perfil dos consumidores estudados (Tabela 1). O segundo identifica a percepção dos entrevistados na escolha dos atributos que irão influenciar o processo de compra do pimentão. Observou-se a predominância feminina na compra de pimentão e alguns respondentes masculinos mencionaram que compram hortaliças de vez em quando, pois suas parceiras são as que efetuam as compras. Os dados convergem com as pesquisas realizadas com consumidores de hortaliças minimamente processadas e de tomate por Ragaert et al. (2004), Andreuccetti et al. (2005) e Peres et al. (2008), ao indicar que a mulher ainda é a maior responsável pelas compras de alimentação da família. Na pesquisa piloto, a idade dos entrevistados concentrou-se entre 31 e 50 anos (56%). Na segunda, a idade dos entrevistados apresentou maior porcentagem nas seguintes categorias: até 30 anos com 21,5% e entre 50 e 60 com 25,4%. Nas duas pesquisas, mais de 50% das pessoas entrevistadas possuem mais de 30 anos, inferindo que o perfil de compradores de pimentão é de pessoas com maior experiência como consumidores. Em adição, as pessoas casadas corresponderam na primeira pesquisa a 72,3% e na segunda, 43,6%. Isso sugere que uma parte considerável dos compradores de pimentão dos supermercados está numa faixa etária entre 30 e 60 anos, são casados e possivelmente têm o hábito de cozinhar em casa. O grau de escolaridade diferiu entre as duas pesquisas: na primeira prevaleceram indivíduos com nível suHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal Tabela 1. Perfil dos entrevistados quanto ao gênero, idade, estado civil e grau de escolaridade (profile of respondents by gender, age, maritus status and scholar degree). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Perfil dos entrevistados 2007-2008 2008-2009 Sexo Feminino 72,8% 62,9% Masculino 27,2% 37,1% Idade Até 30 anos 14,8% 21,3% 31-40 anos 27,6% 15,4% 41-50 anos 28,4% 19,1% 51-60 anos 17,1% 25,4% Acima de 60 anos 12,1% 18,7% Estado civil Solteiro 16,4% 32,9% Casado 72,6% 43,0% Divorciado 8,0% 12,4% Outros 3,0% 11,7% Grau de escolaridade Primeiro grau incompleto 2,3% 19,3% Primeiro grau completo 6,8% 17,6% Segundo grau completo 35,1% 43,6% Terceiro grau completo 55,8% 19,5% perior (55,8%); na segunda, as pessoas que possuem segundo grau completo (43,6%). Não foi perguntado o nível de renda dos entrevistados, já que esse dado pode ser parcialmente inferido pela localização dos supermercados e pelo grau de escolaridade dos respondentes. O grau de escolaridade de uma pessoa pode ser aceito como indicativo de classe social, já que segundo Schiffman & Kanuk (2000), quanto maior o grau de instrução de um indivíduo, maior a probabilidade de ter uma renda maior, uma posição social admirada e respeitada. Justifica-se a alta concentração de pessoas com terceiro grau na primeira amostra pela localização do supermercado em uma região de classe média. A segunda parte da pesquisa foi pautada na identificação das principais características do pimentão. Para ordenar os dados quanto ao grau de importância, utilizou-se procedimento CATMOD do SAS, mediante a técnica de regressão múltipla e distribuição não normal (Tabela 2). Alguns contrastes entre os atributos apresentaram diferenças não significativas ao nível de 5%. Verificou-se poucas diferenças na ordenação dos atributos das duas pesquisas. Oito características (entre as treze perguntadas) obtiveram notas acima de quatro (importante). Preço e valor nutricional apresentaram médias acima de 3,4 (entre alguma importância a importante). Na primeira pesquisa, somente peso teve nota abaixo de 3, enquanto que na segunda ocorreu com as características tamanho, formato e peso. Os desvios-padrões dos atributos que tiveram as menores médias foram os mais elevados, conforme Tabela 2. Tabela 2. Ordenação de atributos do pimentão utilizando a técnica do CATMOD (ranking of bell pepper´s attributes using the CATMOD technique). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Pesquisa 2007-2008 Atributos Média Não amassado 4,86a* Firmeza 4,76 b Sem manchas 4,62 c Sabor do pimentão 4,41 d Superfície lisa 4,39 d Sem estrias 4,22 e Cor uniforme 4,15 f Brilho 4,05 fg Preço 3,67 g Valor Nutricional 3,42 h Tamanho 3,27 h Formato 3,05 i Peso 2,64 j Desvio padrão 0,40 0,46 0,61 0,89 0,93 1,16 1,15 1,17 1,34 1,69 1,20 1,46 1,56 Pesquisa 2008-2009 Atributo Média Desvio padrão Não amassado 4,76a 0,54 Sem manchas 4,62 b 0,69 Firmeza 4,53 c 0,76 Superfície lisa 4,48 cd 0,90 Sem estrias 4,38 d 1,05 Sabor do pimentão 4,12 e 1,10 Cor uniforme 4,08 e 1,21 Brilho 4,07 e 1,25 Preço 3,88 f 1,47 Valor Nutricional 3,74 g 1,52 Tamanho 2,96 i 1,61 Formato 2,88 i 1,56 Peso 2,63 i 1,81 *Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro (means with different letters on the collumn differ significantly to 5% of error probability). Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 127 SS Onoyama et al. Observou-se que as notas de importância foram polarizadas nos extremos “nenhuma importância” e “importante/ muito importante”. Para as demais, os desvios-padrões não excederam 1,45, com pouca dispersão dos dados. Efetuou-se análise de correspondência para uma melhor visualização da disposição dos atributos quanto à importância, com variância no eixo x (dimensão 1) de78,8% (pesquisa piloto) e 90,9% (segunda pesquisa), ilustradas Figura 1. Distribuição espacial dos atributos de pimentão em função da importância (spatial distribution of Bell pepper attributes based on importance). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Legenda: e= muito importante; d= importante; c= alguma importância; b= pouca importância; a= nenhuma importância (e = very important; d = important; c = slightly important; b = less important; a = unimportant). Tabela 3a. Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da pesquisa de 2007/2008 (importance of attributes according to the profile of survey respondents 2007/2008). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Sexo Não amassado Firmeza Sem manchas Sabor do Superfície pimentão lisa p=0,43 p=0,02 p=0,28 p=0,38 p=0,009 Sem estrias Cor uniforme Brilho p<0,001 p=0,83 p=0,01 Masculino 4,84a* 4,67a 4,56a 4,35a 4,19a 3,79a 4,13a 3,81a Feminino 4,88a 4,79 b 4,64a 4,44a 4,46 b 4,38 b 4,16a 4,14b Grau de escolaridade p=0,07 p=0,53 p=0,29 p=0,69 p=0,15 p=0,73 p=0,79 p=0,70 Primeiro grau incompleto 4,43ab 4,42a 4,57a 4,29a 3,14a 4,00a 4,29a 3,57a Primeiro grau completo 4,95a 4,77a 4,77a 4,27a 4,50a 3,95a 4,09a 4,18a Segundo grau completo 4,82 b** 4,78a 4,65a 4,48a 4,34a 4,27a 4,22a 4,14a Terceiro grau completo 4,89ab 4,74a 4,59a 4,43a 4,48a 4,19a 4,10a 4,05a Idade p=0,63 p=0,34 p=0,95 p=0,68 p=0,19 p=0,33 p=0,02 p=0,50 Até 30 anos 4,82a 4,71a 4,68a 4,52a 4,51a 4,38a 4,41a 4,15a 31-40 anos 4,89a 4,74a 4,61a 4,47a 4,50a 4,24a 4,10 b*** 4,14a 41-50 anos 4,88a 4,82a 4,62a 4,38a 4,35a 4,23a 4,28a 4,04a 51-60 anos 4,91a 4,73a 4,63a 4,39a 4,31a 4,21a 3,83 b 3,95a Mais que 60 anos 4,83a 4,79a 4,60a 4,45a 4,19a 3,89a 4,04ab 3,83a Estado civil p=0,34 p=0,60 p=0,76 p=0,39 p=0,86 p=0,31 p=0,16 p=0,81 Solteiro 4,82a 4,78a 4,64a 4,50a 4,39a 4,32a 3,96a 4,11a Casado 4,88a 4,75a 4,62a 4,42a 4,41a 4,18a 4,19a 4,08a *Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro; **2-3 foi significativa porque as estimativas do desvio padrão foram maiores do que 1-4; ***1-2 e 2-3 foram significativas porque as estimativas do desvio padrão foram maiores do que 1-5 e 3-5. (means with different letters on the collumn differ significantly to 5% of error probability; **2-3 was significant because the estimates of standard deviation were higher than 1-4; ***1-2 and 2-3 were significant because the estimates of standard deviation were higher than 1-5 and 3-5). 128 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal Tabela 3a. (continuação ...) Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da pesquisa de 2007/2008 (continuation ... importance of attributes according to the profile of survey respondents 2007/2008) . Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Preço Valor Tamanho Formato Peso nutricional Sexo p=0,19 p=0,77 p=0,88 p=0,13 p=0,92 Masculino 3,53a 3,22a 3,41a 3,22a 2,62a Feminino 3,72a 3,27a 3,43a 2,99a 2,64a Grau de escolaridade p=0,28 P<0,0001 p=0,0008 p=0,03 p=0,29 Primeiro grau incompleto 4,00a 1,43 b 4,28a 2,71ab 3,14a Primeiro grau completo 3,72a 3,50a 3,04b 2,18b 2,50a Segundo grau completo 3,78a 3,41a 3,60b 3,11a 2,78a Terceiro grau completo 3,52a 3,21a 3,31b 3,08a 2,49a Idade p=0,09 p=0,04 p=0,51 p=0,24 p=0,51 Até 30 anos 3,65ab 3,11b 3,58a 2,85a 2,63a 31-40 anos 3,69ab 2,97b 3,54a 3,24a 2,45a 41-50 anos 3,42 b 3,36ab 3,35a 3,16a 2,74a 51-60 anos 3,77ab 3,67ab 3,39a 2,88a 2,59a Mais que 60 anos 4,00a 3,49a 3,30a 2,94a 2,81a Estado civil p=0,36 p=0,58 p=0,05 p=0,04 p=0,97 Solteiro 3,76a 3,17a 3,64a 2,75a 2,60a Casado 3,60a 3,29a 3,36a 3,10 b 2,61a *Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro; **2-3 foi significativa porque as estimativas do desvio padrão foram maiores do que 1-4; ***1-2 e 2-3 foram significativas porque as estimativas do desvio padrão foram maiores do que 1-5 e 3-5 (means with different letters on the collumn differ significantly to 5% of error probability; **2-3 was significant because the estimates of standard deviation were higher than 1-4; ***1-2 and 2-3 were significant because the estimates of standard deviation were higher than 1-5 and 3-5). nas Figuras 1 e 2. Pelos dados das variâncias, a leitura da ordenação espacial das características quanto à importância seguiu o eixo X. Esses resultados indicam que os consumidores priorizam os atributos relacionados à textura, pois gostam do pimentão não amassado e firme. Fillion & Kildcast (2002) pontuam que a textura é qualidade desejável em frutas e hortaliças, pois está relacionada com frescor. Além disso, os consumidores destacaram os atributos relacionados ao aspecto visual do pimentão, já que eles selecionam os pimentões que não estejam manchados, sem estrias, lisos, com coloração uniforme e brilhantes. Essas características são enfatizadas tanto pelos consumidores quanto pela norma de classificação do pimentão. Destaca-se também a importância do sabor, mesmo sem experimentá-lo no ato da compra. Aparentemente, os consumidores utilizam-se de experiências Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 anteriores para julgar qual produto comprar (Andreuccetti et al., 2005). Uma característica relegada a segundo plano foi preço, que de acordo com a literatura existente é uma das mais importantes na decisão de compra (Rojo, 1998). Infere-se que esse resultado esteja relacionado à forma de consumir o pimentão, que é usado em pequena quantidade, o que torna o preço não muito importante nas compras do consumidor. Valor nutricional também não foi pontuado como muito relevante, em concordância com Frank et al. (2001) e em contraposição a Souza (2005). Segundo relatos de entrevistados, como o pimentão é mais utilizado para acentuar o sabor de muitos pratos, eles demonstraram pouco interesse nas propriedades funcionais dessa hortaliça. No ordenamento do grau de importância, tamanho, formato e peso apareceram nas últimas posições. Tamanho e formato, todavia, merecem atenção por apresentarem médias próximas à tipologia de alguma importância e os desvios-padrões tiveram valores acima de 1,45. Entre os entrevistados, 355 respondentes na primeira pesquisa e 306 respondentes na segunda relataram que o tamanho varia de alguma importância a muito importante e desses 24,8% e 35,9% preferem os pequenos e 63,1 e 43,8% os médios, respectivamente. Sobre o formato, 257 pessoas no primeiro estudo e 282 no segundo responderam que a característica tem mais que alguma importância e dentre eles 41,6% e 47,2% preferem os cônicos enquanto que 58,5% e 40,8% escolhem o pimentão de formato bloco respectivamente. Mesmo assim, observou-se que os pimentões dispostos no mercado apresentam um padrão de tamanho de médio para grande e formato de bloco e que a presença do formato cônico está diminuindo nas prateleiras dos supermercados, pelo menos sazonalmente. Dessa forma, pode-se deduzir que os consumidores não foram consultados na definição do padrão do pimentão, ressaltando a afirmação feita por Matsuura et al. (2004), de que os projetos de pesquisa atentam principalmente para os problemas de cultivo da planta e que os atributos-chave para os clientes finais têm sido pouco considerados como alvos das pesquisas de melhoramento genético. A pesquisa também avaliou as diferenças de percepção dos perfis dos consumidores com relação aos atributos, ilustradas nas Tabelas 3a e 3b. É fundamental identificar as variáveis demográficas que estão relacionadas como a propensão a consumir determinados produtos para definir um posicionamento adequado no mercado. No âmbito do gênero, em algumas sociedades este pode ainda ser determinador no papel de compra (Sheth et al., 2001). Pelos resultados, foram verificadas diferenças significativas entre homens e mulheres em relação à importância de algumas características nas duas pesquisas. Na primeira, as mulheres atribuíram maior importância para firmeza e atributos relacionados à superfície do pimentão. Na segunda, maior importância foi atribuída à característica firmeza 129 SS Onoyama et al. Tabela 3b. Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da pesquisa de 2008/2009 (importance of attributes according to the profile of survey respondents 2007/2008). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Não amassado Sexo p=0,40 Masculino 4,73a* Feminino 4,77a Grau de escolaridade p=0,23 Primeiro grau incompleto 4,74a Primeiro grau completo 4,71a Segundo grau completo 4,74a Terceiro grau completo 4,85a Idade p=0,47 31-40 anos 4,70a 41-50 anos 4,83a 51-60 anos 4,76a Mais que 60 anos 4,77a 31-40 anos 4,75a Estado civil p=0,38 Solteiro 4,71a Casado 4,76a Local p=0,78 Ceilândia 4,77a Taguatinga 4,79a Asa Norte 4,75a Riacho Fundo 4,78a Recanto das Emas 4,71a Sem mancha p=0,41 4,58a 4,64a p=0,55 4,70a 4,60a 4,59a 4,61a p=0,34 4,52a 4,66a 4,72a 4,58a 4,64a p=0,41 4,53a 4,59a p=0,008 4,75a 4,75a 4,56ab 4,57ab 4,48b Firmeza p=0,023 4,41a 4,59b p=0,41 4,43a 4,49a 4,53a 4,63a p=0,75 4,44a 4,57a 4,59a 4,54a 4,49a p=0,71 4,51a 4,48a p=0,35 4,63a 4,57a 4,51a 4,55a 4,38a Superfície Sem estria lisa p=0,6 p=0,18 4,45a 4,29a 4,49a 4,43a p=0,71 p=0,33 4,42a 4,18a 4,41a 4,51a 4,40a 4,41a 4,55a 4,41a p=0,74 p=0,04 4,46a 4,42ab 4,49a 4,22b 4,49a 4,37ab 4,54a 4,57a 4,37a 4,19b p=0,45 p=0,49 4,51a 4,37a 4,44a 4,29a p<0,0001 p<0,0001 4,46b 4,50ab 4,76a 4,73a 4,50b 4,45b 4,30b 3,86c 4,38b 4,38b Sabor p=0,37 4,06a 4,15a p=0,59 3,97a 4,20a 4,15a 4,11a p=0,98 4,06a 4,16a 4,13a 4,11a 4,14a p=0,31 4,14a 4,02a p=0,76 4,07a 4,17a 4,10a 4,04a 4,21a Cor Brilhante uniforme p=0,54 p=0,78 4,03a 4,09a 4,10a 4,05a p=0,29 p=0,08 3,94a 3,74b 4,24a 4,09ab 4,12a 4,20a 3,97a 4,13ab p=0,67 p=0,57 3,90a 3,96a 4,12a 4,23a 4,09a 4,10a 4,15a 4,10a 4,11a 3,98a p=0,88 p=0,98 4,04a 4,04a 4,02a 4,04a p=0,13 p=0,004 4,09ab 4,05a 4,29a 4,35a 3,90a 4,20a 3,95b 3,71b 4,19ab 4,04a *Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro (means with different letters on the collumn differ significantly to 5% of error probability). pelas mulheres, enquanto que os homens mostraram maior preocupação com o tamanho e o formato. Quanto ao grau de escolaridade, tanto na primeira quanto na segunda pesquisa, as pessoas com maior instrução formal deram maior destaque ao valor nutricional do pimentão. Cabe salientar também que preço, tamanho e peso têm importância maior para os entrevistados com primeiro grau. Para as demais características, o grau de escolaridade não interferiu. Como Schiffman & Kanuk (2000) pressupõem uma associação entre renda e escolaridade, pode-se deduzir que os entrevistados com primeiro grau naturalmente têm uma preocupação maior com preço. Ao analisar as características sob a ótica da localização dos supermercados, não se pode concluir que exista relação do local com a renda e com nível de escolaridade, pois os entrevistados da Asa Norte onde, em geral, residem pessoas com boa renda e bom nível de 130 escolaridade, relataram que preço está entre importante e muito importante. Por outro lado, os entrevistados do Recanto das Emas onde, em geral residem pessoas de menor poder aquisitivo e com baixa escolaridade, valorizaram o teor de vitamina da mesma forma que os entrevistados da Asa Norte. A diferença de idade interferiu na pontuação do nível de importância de cor e valor nutricional no preço, teor de vitamina, tamanho, formato e peso, na segunda pesquisa. Na primeira, as pessoas mais jovens demonstraram maior preocupação com a coloração uniforme. Na segunda, os entrevistados com idade entre 51 e 60 anos enfatizaram mais tamanho, formato e peso do pimentão. Em adição, as pessoas acima dos 30 anos consideraram mais o preço quando vão comprar o produto. Em ambas as pesquisas, pessoas com maior faixa etária ressaltaram a necessidade de consumir alimentos com propriedades funcionais. Por último, na esfera do estado civil, as pessoas casadas atentaram mais a preço e, as solteiras, ao peso do produto. Para as demais características, a percepção foi a mesma. As informações obtidas nessa pesquisa sugerem que os consumidores enfatizam a textura e as características relacionadas ao aspecto quando vão comprar o pimentão. Em adição, foram detectadas diferenças de percepção entre gênero, idade, estado civil, grau de escolaridade e localização do supermercado. Observou-se que os dois últimos itens não são suficientes para explicar os segmentos de renda. Ressalta-se que essa pesquisa analisou o comportamento de 944 consumidores do Distrito Federal. Mesmo com poucos contrastes nas duas pesquisas sobre o ranqueamento dos atributos, as diferenças de percepções entre as classes estudadas são úteis para estudos de segmentação de consumidores com o intuito de posicionar melhor um novo produto no mercado. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal Tabela 3b. continuação ...(continuation ...) Valor Preço nutricional Sexo p=0,39 p=0,4519 Masculino 3,80a 3,81a Feminino 3,92a 3,70a Grau de escolaridade p=0,01 p<0,001 Primeiro grau incompleto 3,79bc 3,17c Primeiro grau completo 3,43c 3,73b Segundo grau completo 3,96ab 3,82b Terceiro grau completo 4,15a 4,22a Idade p=0,009 p<0,0001 31-40 anos 3,38b 3,67b 41-50 anos 3,97a 3,30b 51-60 anos 4,14a 3,68b Mais que 60 anos 3,98a 4,32a 31-40 anos 3,93a 3,51b Estado civil p=0,02 p=0,29 Solteiro 3,75b 3,79a Casado 4,10a 3,61a Local p<0,0001 p<0,0001 Ceilândia 3,56b 2,25c Taguatinga 3,16b 4,30a Asa Norte 4,21a 4,43a Riacho Fundo 4,21a 3,39b Recanto das Emas 4,25a 4,34a A extrapolação para outros estados necessitará de estudos adicionais para inferir o comportamento dos demais consumidores. Propõe-se, no futuro, realizar um trabalho em outros estados no intuito de comparar e validar a diferença de perfil dos consumidores quanto aos atributos do pimentão. Por fim, as informações desse estudo apoiarão a pesquisa de melhoramento de Capsicum para desenvolver novas cultivares de pimentão que atendam às exigências dos consumidores preocupados com a firmeza e a aparência, que é um valor cosmético (Reifschneider & Lopes, em consulta). Considerando o tempo e o investimento necessários nos programas de melhoramento para produzir novas cultivares, é necessário o entendimento da demanda presente dos consumidores para que sejam desenvolvidas cultivares dentro das tendências de consumo, que são temporariamente relevantes. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos Drs.Gilmar P. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Tamanho Formato Peso p=0,02 p=0,039 3,18a 3,06a 2,84b 2,77b p=0,07 p=0,03 3,07ab 2,78b 3,29a 3,31a 2,91ab 2,87b 2,69b 2,66b p=0,08 p=0,005 2,74b 2,66b 2,77b 2,63b 3,14ab 3,06ab 3,22a 3,24a 2,81ab 2,66b p=0,16 p=0,08 2,95a 2,98a 2,72a 2,70a p=0,0003 p<0,0001 2,85a 2,39c 3,29a 3,45a 2,39b 2,47c 3,13a 2,93b 3,16a 3,16ab p=0,075 2,78a 2,53a p=0,04 2,55b 3,06a 2,54b 2,53b p=0,002 2,38c 2,32c 2,83ab 2,98a 2,45bc p=0,048 2,73a 2,42b p<0,0001 2,13c 2,99a 2,34bc 2,65ab 3,02a Henz, Carlos Alberto Lopes e Jadir Borges Pinheiro pela valiosa contribuição neste trabalho; aos gerentes dos supermercados pela colaboração na realização da pesquisa; ao analista Osório Filho pela revisão; e aos estagiários Franque Salviano e Arlysson Barros Ulhoa pelo apoio à realização do trabalho. Referências ABCSEM. 2007. Pesquisa de mercado de sementes de hortaliças 2007. Disponível em http://www. abcsem.com.br/docs/pesquisa_mercado_2007. pdf. 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Comportamento do cliente: indo além do comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas. SOUZA RAM. 2005. Mudanças no consumo e na distribuição de alimentos – O caso da distribuição de hortaliças de folhas na cidade de São Paulo. Campinas, UNICAMP-IE. 150p (Tese mestrado). STOKES ME; DAVIS CS; KOCH GG. 2000. Categorical Data Analysis Using SAS System. Second Edition. Cary, NC: SAS Institute Inc, 623p. VAN DER POL M; RYAN M. 1996. Using conjoint analysis to establish consumer preferences for fruit and vegetablesUsing conjoint analysis to establish consumer preferences for fruit and vegetables. British Food Journal 98: 5-12. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Errata No artigo publicado no v. 27, n. 4, página 505, entre os autores, onde está escrito “Mohammad-Madi Jowkar”, leia-se “Mohammad-Mahdi Jowkar”. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 133 Normas para publicação / Instructions for authors NORMAS PARA PREPARAÇÃO E SUBMISSÃO DE TRABALHOS GUIDELINES FOR PREPARATION AND SUBMISSION OF PAPERS O periódico Horticultura Brasileira é a revista oficial da Associação Brasileira de Horticultura. Horticultura Brasileira destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que envolvam hortaliças, plantas medicinais, condimentares e ornamentais e que contribuam significativamente para o desenvolvimento desses setores. O periódico Horticultura Brasileira é publicado a cada três meses. Os artigos podem ser enviados e/ou publicados em português, inglês ou espanhol. Para publicar em Horticultura Brasileira é necessário que o primeiro autor do trabalho seja membro da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) ou das Associações Nacionais com que a ABH mantém Acordo de Reciprocidade, e esteja em dia com o pagamento da anuidade. Trabalhos em que o primeiro autor não cumpra os requisitos acima também poderão ser submetidos. Neste caso, é necessário que seja recolhida a taxa de tramitação ampliada, tão logo o trabalho seja aceito para tramitação. Os trabalhos enviados para Horticultura Brasileira devem ser originais, ainda não relatados ou submetidos à publicação em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também implícito que os aspectos éticos e o atendimento à legislação vigente do copyright tenham sido observados durante o desenvolvimento do trabalho. Após a submissão à Horticultura Brasileira e até o final de sua tramitação, é vedada a submissão do trabalho, em todo ou em parte, a qualquer outro periódico ou veículo de divulgação. Caso o trabalho seja aceito para publicação, Horticultura Brasileira adquire o direito exclusivo de copyright para todas as línguas e países. Não é permitida a reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem autorização por escrito da Comissão Editorial. O periódico Horticultura Brasileira é composto das seguintes seções: 1. Artigo convidado: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial; 2. Carta ao Editor: assunto de interesse geral. Será publicada a critério da Comissão Editorial que poderá, ainda, submetê-la ao processo de revisão; 3. Pesquisa: artigo relatando informações provenientes de resultados originais de pesquisa obtidos por meio de aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada; 4. Comunicação Científica: comunicação ou nota científica relatando informações originais resultantes de observações de campo ou provenientes de experimentos menos complexos, realizados com aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada; 5. Página do Horticultor: trabalho original referente a resultados de utilização imediata pelo setor produtivo como, por exemplo, ensaios originais com agrotóxicos, fertilizantes ou competição de cultivares, realizados com aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente Horticultura Brasileira is the official journal of the Brazilian Association for Horticultural Science. Horticultura Brasileira publishes papers on vegetable crops, medicinal and condimental herbs, and ornamental plants. Papers must represent a significant contribution to the scientific and technological development of these crops. Horticultura Brasileira is published quarterly and accepts and publishes papers in English, Portuguese, and Spanish. Papers are eligible for publication if the first author is member of the Brazilian Association for Horticultural Science (ABH) or of a National Horticultural Association that has a Reciprocity Agreement with ABH, in both cases with the annual fee paid. In case first author does not fall into the previous categories, papers may be still submitted, regarding that the broad processing fee is paid as soon as the manuscript is accepted for reviewing. Horticultura Brasileira publishes original papers, which have not been submitted to publication elsewhere. It is implicit that ethical aspects and fully compliance with the copyright laws were observed during the development of the work. From the submission up to the end of the reviewing process, partial or total submission elsewhere is forbidden. With the acceptance for publication, publishers acquire full and exclusive copyright for all languages and countries. Unless the publishers grant special permission, no photographic reproductions, microform, and other reproduction of a similar nature may be made of the journal, of individual contributions contained therein or of extracts therefrom. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Horticultura Brasileira has the following sections: 1. Invited paper: papers dealing with topics that arouse interest, invited by the Editorial Board; 2. Letter to the Editor: deals with a subject of general interest. The Editorial Board makes a preliminary evaluation and can accept or reject it, as well as submit it to the reviewing process; 3. Research: paper describing an original study, carried out under strict scientific methods. The reproducibility of studies should be clearly demonstrated; 4. Scientific Communication: communication or scientific note, reporting field observations or results of less complex, but still original studies, carried out under strict scientific methods. The reproducibility of studies should be clearly demonstrated; 5. Grower’s page: original communication or short note describing information readily usable by farmers, as for example, results from studies regarding the evaluation of pesticides or fertilizers, or cultivar comparative performance. Such studies must have been carried out under strict 134 demonstrada; 6. Nova Cultivar: relato de novas cultivares e germoplasma, contendo origem, descrição e disponibilidade, com dados comparativos. Submissão dos trabalhos O texto deve ser composto em programa Word ou compatível, em espaço 1,5, fonte Times New Roman, tamanho doze. Páginas e linhas devem ser numeradas. Adicione ao final do texto todos os demais componentes do trabalho (figuras, tabelas e gráficos). Formate o arquivo para página A4 e todas as margens para 3 cm, imprima e envie uma cópia. Inclua também um CD contendo o arquivo do trabalho. Imagens de baixa resolução, com menos de 600 Kb, não serão aceitas. Os trabalhos deverão ter no máximo 36.000 caracteres, excluindo os espaços. Se forem necessárias outras orientações, entre em contato com a Comissão Editorial ou consulte os últimos números de Horticultura Brasileira. Os trabalhos submetidos entrarão em tramitação somente se: 1. estiverem em total acordo com estas normas; 2. estiverem dentro do escopo e apresentarem nível técnico-científico compatível com Horticultura Brasileira; 3. estiverem acompanhados da anuência de todos os autores, que devem assinar a carta de submissão ou a primeira página do trabalho. Caso um ou mais autores não possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de submissão. Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar pela(s) anuência(s) faltante(s). Mensagens eletrônicas da anuência ou cópias gráficas destas serão aceitas, desde que indubitavelmente enviadas da conta eletrônica de quem as concedeu; 4. estiverem acompanhados da indicação por escrito da relevância do trabalho (importância e distinguibilidade em relação a trabalhos já existentes), em não mais que dez linhas, na carta ou mensagem de submissão; 5. estiverem acompanhados da indicação de pelo menos duas pessoas (nome, endereço, e-mail e telefone), de instituições distintas daquelas a que pertencem os autores, que possam atuar como assessores ad hoc imparciais. Quando aceito para tramitação, o autor correspondente receberá uma mensagem eletrônica e será solicitado o recolhimento da taxa de tramitação, no valor de R$ 55,00, quando o primeiro autor for associado à ABH ou associações-irmãs e estiver com a anuidade em dia; ou da taxa de tramitação ampliada, no valor de R$ 295,00, quando o primeiro autor não é associado da ABH. Trabalhos rejeitados não serão devolvidos. A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Título: limitado a 90 caracteres, excluindo os espaços. Utilize nomes científicos somente quando as espécies em questão não possuírem nomes comuns no idioma utilizado no trabalho; 2. Nome dos autores: nome(s) próprio(s) completo(s) do(s) autor(es). Abrevie somente o(s) sobrenome(s) 135 scientific methods and their reproducibility should be clearly demonstrated; 6. New Cultivar: communications or scientific notes reporting recent cultivar and germplasm release. It must include information on origin, description, seed availability, and comparative data. Manuscript submission Prepare your text in Word® or compatible software, in 1,5 space, font Times New Roman 12 points, with pages and lines numbered. Add images, figures, tables, and charts in the end of your text and compile all files (text, figures, tables, and charts) in a single document. Format the document for A4 page, 3-cm margins. Print and submit. Send along a CD-ROM containing the file. Low-resolution images, below 600 Kb, will not be accepted for publication. The file must not exceed 36,000 characters, excluding spaces. If further information is needed, please contact the Editorial Board or refer to recently released issues. A paper will be eligible for the reviewing process if: 1. It is in full compliance with these guidelines; 2. It falls into the journal scope and presents a technicalscientific standard compatible with Horticultura Brasileira; 3. It is accompanied by a signed agreement-onpublishing from all authors. A signature on the first page of the original paper or on the cover letter is accepted. In case one or more authors can not sign it, the reason(s) must be stated in the cover letter. In this case, the corresponding author takes the responsibility. Electronic messages or their hardcopies with the agreement-on-publishing are accepted when sent from an electronic account unequivocally managed by the agreeing author. 4. It is accompanied by a written description of the relevance of the work (importance and distinctiveness in relation to the existing literature), not longer than ten lines, at the cover letter or message; 5. It is accompanied by the nomination of at least two persons (name, address, email and phone), from institutions other than those authors are affiliated to, who can act as impartial peer reviewers. When accepted for reviewing, the corresponding author will receive an e-mail alert with instructions for paying the processing fee (US$ 50.00; E$ 40.00, plus US$ 20.00 or E$ 20.00 for covering the fees of international money transference, when first author is affiliated to ABH and sister-associations and has no debts with it) or the broad processing fee (US$ 185.00; E$ 150.00, plus US$ 20.00 or E$ 20.00 for covering the fees of international money transference) when first author is not affiliated. Rejected papers will not be returned. Papers published in Horticultura Brasileira have the following format: 1. Title: limited to 90 characters, excluding spaces. Use scientific names for the species only if the paper deals with plants that do not have common name in the idiom used in the paper; 2. Name of authors: Author(s) name(s) in full. Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 intermediário(s). Por exemplo, José Maria Fontana Cardoso, deve aparecer como José Maria F Cardoso. Utilize números super-escritos para relacionar autor(es) e endereço(s). Observe o padrão nos números mais recentes de Horticultura Brasileira; 3. Endereço dos autores: nome da instituição e departamento, instituto, faculdade ou similar, quando for o caso, com endereço completo para correspondência, de todos os autores. Inclua o endereço de correio eletrônico de todos os autores. Utilize números super-escritos para relacionar autor(es) e endereço(s). Observe o padrão nos números mais recentes de Horticultura Brasileira; 4. Resumo e palavras-chave: limitado a 1.700 caracteres, excluídos os espaços. Selecione até seis palavras-chave ou termos para indexação, iniciando sempre pelo nome(s) científico (s) da(s) espécie(s) em questão. Não repita palavras que já estejam no título; 5. Title, abstract, and keywords: o título em inglês, o abstract e as keywords devem ser versões adequadas de seus similares em inglês. Não utilize tradutores eletrônicos de texto; 6. Introdução 7. Material e Métodos 8. Resultados e Discussão 9. Agradecimentos, quando for o caso; 10. Referências (não exceda o limite de 30 referências bibliográficas): assegure-se de que no mínimo a metade das referências foi publicada recentemente (no máximo, há dez anos). Casos excepcionais serão considerados. Para tanto, solicita-se que os autores apresentem suas razões na carta de submissão. Evite citar resumos e trabalhos apresentados e publicados em congressos e similares; 11. Figuras, quadros e tabelas: o limite para figuras, quadros e tabelas é três para cada categoria, com limite total de cinco. Casos excepcionais serão considerados. Para tanto, solicita-se que os autores apresentem suas razões na carta de submissão. Assegure-se de que figuras, quadros e tabelas não sejam redundantes. Enunciados e notas de rodapé devem ser bilíngues. Os enunciados devem terminar sempre indicando, nesta ordem, o local, instituição responsável e o ano de realização do trabalho. Observe a formatação de tabelas em números anteriores de Horticultura Brasileira. Não insira os gráficos como figuras. Permita o acesso ao conteúdo original. Este roteiro deverá ser utilizado para trabalhos destinados às seções Pesquisa e Comunicação Científica. Para as demais seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos números de Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consulte os números mais recentes de Horticultura Brasileira, disponíveis também nos sítios eletrônicos www. scielo.br/hb e www.abhorticultura.com.br/Revista. Prefira a citação bibliográfica no texto entre parênteses, como segue: (Resende & Costa, 2005). Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et alli abreviada, em itálico, como segue: (Melo Filho et al., 2005). Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, diferencie-os por uma letra minúscula, logo após a Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Abbreviate only middle family names. Do not abbreviate Christian names. For example, Anne Marie Sullivan Radford should appear as Anne Marie S Radford. Use superscript numbers to relate authors to addresses. Please refer the most recent issues of Horticultura Brasileira for formatting; 3. Addresses: Name of the Institution and Department, if applicable, with full corresponding post address for all authors. Include authors´ e-mail addresses. Use superscript numbers to relate addresses to authors. Please refer the most recent issues of Horticultura Brasileira for formatting; 4. Abstract and keywords: abstract limited to 1,700 characters (excluding spaces). Select up to six keywords or indexing terms, starting with the scientific name(s) of the organism(s) the study deals with. Do not repeat words that appear in the title; 5. Abstract, title, and keywords in Portuguese or Spanish: abstract, title, and keywords in Portuguese or Spanish must be adequate versions of their similar in English. Horticultura Brasileira will provide Portuguese versions for non-Portuguese speaking authors; 6. Introduction; 7. Material and Methods; 8. Results and Discussion; 9. Acknowledgements, when applicable; 10. References: authors are asked to not exceed 30 bibliographic references. Make sure that at least half of the references were published recently (up to 10 years). Exceptional cases will be considered, regarding that authors state their reasons at the cover letter. Avoid citing conference abstracts; 11. Figures and tables: tables, figures, and charts are limited to three each, with a total limit of five. Exceptional cases will be considered, regarding that authors state their reasons at the cover letter. Please, make sure that tables, figures, and charts are not redundant. Titles and footnotes must be bilingual. Titles should always be finished by presenting, in this sequence, place, responsible institution, and year(s) of data gathering. For table formatting, please refer to recently released issues. Do not insert graphics as figures. Allow access to the original content. This structure will be used for manuscripts of the sections Research and Scientific Communication. For other sections, please refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira, available also at www.scielo.br/hb e www.abhorticultura. com.br/Revista. Bibliographic references within the text should be cited as (Resende & Costa, 2005). When there are more than two authors, abbreviate the Latin expression et alli, in italics, as follows: (Melo Filho et al., 2005). References to studies done by the same authors in the same year should be distinguished in the text and in the Reference list by the letters a, b, etc., as for example: 1997a, 1997b. In citations involving more than one paper from the same author(s) published in different years, separate years with commas: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004). When citing papers in tandem in the text, sort them 136 data de publicação do trabalho, como segue: 2005a, 2005b, no texto e nas referências. Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), em anos diferentes, separe os anos por vírgula, como segue: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004). Quando vários trabalhos forem citados em série, utilize a ordem cronológica de publicação. Na seção Referências, organize os trabalhos em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor. Quando houver mais de um trabalho citado cujos autores sejam exatamente os mesmos, utilize a ordem cronológica de publicação. Utilize o padrão internacional na seção Referências, conforme os exemplos: a) Periódico MADEIRA NR; TEIXEIRA JB; ARIMURA CT; JUNQUEIRA CS. 2005. Influência da concentração de BAP e AG3 no desenvolvimento in vitro de mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira 23: 982-985. b) Livro FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de olericultura. Viçosa: UFV. 402p. c) Capítulo de livro FONTES EG; MELO PE de. 1999. Avaliação de riscos na introdução no ambiente de plantas transgênicas. In: TORRES AC; CALDAS LS; BUSO JA (eds). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica/Embrapa Hortaliças. p. 815-843. d) Tese SILVA C. 1992. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: USP – ESALQ. 72p (Tese mestrado). e) Trabalhos completos apresentados em congressos (quando não incluídos em periódicos. Evite citar trabalhos apresentados em congresso). Anais HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4. Anais... Salvador: SBF. p. 357-364. CD-ROM AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF. 2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB (CD-ROM). f) Trabalhos apresentados em meio eletrônico: Periódico KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism. APS News Online. Disponível em http://www.hps.org/hpsnews/19065. html. Acessado em 25 de novembro de 1998. Trabalhos completos apresentados em congresso (evite citar trabalhos apresentados em congressos) SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Disponível em: http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Acessado em 21 de janeiro de 1997. Sítios eletrônicos USDA - United States Department of Agriculture. 2004, 15 de novembro. World asparagus situation & outlook. Disponível em http://www.fas. usda.gov/ Em caso de dúvidas, entre em contato com a Comissão Editorial ou consulte os números mais recentes de Horticultura Brasileira. Processo de tramitação 137 chronologically. In the section References, order citations alphabetically, according to first author’s family name, without numbering. When there is more than one paper from exactly the same authors, list them chronologically. References should appear accordingly to the international format, as follows: a) Journal GARCIA-GARRIDO JM; OCAMPO JA. 2002. Regulation of the plant defense response in arbuscular mycorrhizal symbiosis. Journal of Experimental Botany 53: 1377-1386. b) Book BREWSTER JL. 1994. Onions and other vegetable alliums. Wallingford: CAB International. 236p. c) Book chapter ATKINSON D. 2000. Root characteristics: why and what to measure? In: SMIT AL; BENGOUGH AG; ENGELS C; van NORDWIJK M; PELLERIN S; van de GEIJN SC (eds). Root methods: a handbook. Berlin: Springer-Verlag. p. 1-32. d) Thesis DORLAND E. 2004. Ecological restoration of heaths and matgrass swards: bottlenecks and solutions. Utrecht: Utrecht University. 86p (Ph.D. thesis). e) Full papers presented in conferences (when not included in referred journals. Avoid citing papers presented in conferences) Proceedings van JOST M; CLARCK CK; BENSON W. 2007. Lettuce growth in high soil nitrate levels. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON NITROGEN USE IN HORTICULTURE, 4. Annals... Utrecht: ISHS p. 122-123. CD-ROM LÉMANGE PA; DEBRET L. 2004. Rhizoctonia resistance in green asparagus lines In: EUROPEAN SYMPOSIUM OF VEGETABLE BREEDING, 17. Proceedings... Lyon: Eucarpia (CD-ROM). f) Papers published in electronic media Journal KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism. APS News Online. Available in http://www.hps.org/hpsnews/19065.html. Accessed in November 25, 1998. Full papers presented in conferences (Avoid as much as possible citing papers presented in conferences) DONOVAN WR; JONHSON L. 2007. Limits to the progress of natural resources exploration. In: International congress of plant genetic resources, 12. Annals... Adelaide: ASGR. Available in http://www.asgr.au/annals/ conference/aus012.htm. Accessed in January 21, 2008. Electronic Sites USDA - United States Department of Agriculture. 2004, November 15. World asparagus situation & outlook. Available in http://www.fas.usda.gov/ For further orientation, please contact the Editorial Board or refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira. The reviewing process Manuscripts are submitted to the Editorial Board for a preliminary evaluation (scope, adherence to the publication guidelines, scientific relevance, technical quality, and command of language). The Editorial Board decision (eligible, not eligible) will be e-mailed to the correspondent author. If modifications are needed, the author may submit a new version. If the manuscript is adequate for reviewing, the Editorial Board forwards it to at least two ad hoc reviewers of the specific research area. As soon as they evaluate the Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Os artigos serão submetidos à Comissão Editorial, que fará uma avaliação preliminar (escopo do trabalho, atendimento às normas de publicação, relevância científica e qualidade técnica e do texto). A decisão da Comissão Editorial (adequado para tramitação, ou não adequado) será comunicada ao autor de correspondência por via eletrônica. Caso sejam necessárias modificações, os autores poderão submeter uma nova versão para avaliação. Caso a tramitação seja aprovada, a Comissão Editorial encaminhará o trabalho a pelo menos dois assessores ad hoc, especialistas na área em questão. Tão logo haja dois pareceres, o trabalho é enviado a um dos Editores Científicos da área, que emitirá seu parecer: (1) recomendado para publicação, (2) necessidade de alterações ou (3) não recomendado para publicação. Nas situações 1 e 3, o trabalho é encaminhado ao Editor Associado. Na situação 2, o trabalho é encaminhado aos autores, que devem elaborar uma nova versão. Esta é enviada à Comissão Editorial, que a remeterá ao Editor Científico para avaliação. O Editor Científico poderá recomendar ou não a nova versão. Em ambos os casos, o trabalho é remetido para o Editor Associado, que emitirá o parecer final. A Comissão Editorial encaminhará o parecer para os autores. Nenhuma alteração é incorporada ao trabalho sem a aprovação dos autores. Após o aceite em definitivo do trabalho, o autor de correspondência receberá uma cópia eletrônica da prova tipográfica, que deverá ser devolvida à Comissão Editorial em 48 horas. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. Alterações, adições, deleções e edições implicarão em novo exame do trabalho pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova tipográfica corrigida e devolvida à Comissão Editorial são de inteira responsabilidade dos autores. Horticultura Brasileira não adota a política de distribuição de separatas. Idioma de publicação Em qualquer ponto do processo de tramitação, os autores podem manifestar seu desejo de publicar o trabalho em um idioma distinto daquele em que foi escrito, desde que o idioma escolhido seja um dos três aceitos em Horticultura Brasileira, a saber, Espanhol, Inglês e Português. Por exemplo: um trabalho pode ser submetido e ter toda a sua tramitação em português e, ainda assim, ser publicado em inglês. Neste caso, os autores tanto podem providenciar a versão final para o idioma desejado, quanto autorizar a Comissão Editorial a providenciá-la. Quando a versão traduzida fornecida pelos autores não atingir o padrão idiomático requerido para publicação, a Comissão Editorial encaminhará o texto para revisão por um especialista. Todos os custos decorrentes de tradução e revisão idiomática serão cobertos pelos autores. Cobrança por página publicada Horticultura Brasileira tem uma taxa por página de R$ 50,00. Impressão em cores Horticultura Brasileira tem uma taxa de R$ 400,00 por página impressa em cores. Os originais devem ser enviados para: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 manuscript, it is sent to a related Scientific Editor. The Scientific Editor analyzes the manuscript and forwards it back to the Editorial Board (1) recommending for publication, (2) asking for modifications or (3) do not recommending for publication. In situations 1 and 3, the manuscript is reviewed by the Associate Editor, who holds the responsibility for the final decision. In situation 2, the manuscript is returned to the author(s), who produces a new version, which is forwarded to the Editorial Board. Following, the Scientific Editor checks the new version and recommend it or not for publication. In both cases, it is sent to the Associate Editor, for the final decision. The Editorial Board informs authors about the final decision. No modifications are incorporated to the manuscript without the approval of the author(s). Once the paper is accepted, an electronic copy of the galley proof is sent to the correspondence author who should make any necessary corrections and send it back within 48 hours. Extensive text corrections, whose format and content have already been approved for publication, will not be accepted. Alterations, additions, deletions, and editing imply that a new examination of the manuscript will be made by the Editorial Board. Authors are held responsible for any errors and omissions present in the text of the corrected galley proof that has been returned to the Editorial Board. No offprint is supplied. The publishing idiom In any point of the reviewing process, authors can indicate their will on publishing in a language other than the one originally used to write the paper, considering that the choice falls into one of the three idioms used in Horticultura Brasileira, namely English, Portuguese, and Spanish. For example, a paper may be submitted and reviewed in Portuguese and, even though, it may be published in English. In this case, authors can either produce a translated version of the approved paper, or authorize the Editorial Board to forward it to translating. If the translated version provided by authors is below the idiomatic standard required for publication, the Editorial board will redirect the text for specialized reviewing. All costs related to translating and idiomatic reviewing are charged to authors. Page charge Horticultura Brasileira charges US$ 30.00 or E$ 22.00 per page, plus US$ 20.00 or E$ 20.00 for covering the fees of international money transference. Color Printing Horticultura Brasileira charges US$ 220.00 or E$ 180.00 per page printed in colors, plus US$ 20.00 or E$ 20.00 for covering the fees of international money transference. Manuscripts should be addressed to: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Brazil 138 Tel.: (0xx61) 3385-9088 Fax: (0xx61) 3556-5744 E-mail: [email protected]; hortbras@gmail. com Assuntos relacionados a mudanças de endereço, filiação à Associação Brasileira de Horticultura (ABH), pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à Diretoria da ABH, no seguinte endereço: Associação Brasileira de Horticultura IAC - Centro de Horticultura Caixa Postal 28 13.001-970 Campinas – SP Tel./Fax: (0xx19) 3241 5188 ramal 374 E-mail: [email protected] Tel.: 00 55 (61) 3385-9088 Fax: 00 55 (61) 3556-5744 E-mail: [email protected]; hortbras@gmail. com Change in address, membership in the Brazilian Association for Horticultural Science (ABH), and payment of fees related to the ABH should be addressed to: Associação Brasileira de Horticultura IAC - Centro de Horticultura Caixa Postal 28 13.001-970 Campinas – SP Brazil Tel./Fax: 00 55 (19) 3241-5188 extension 374 E-mail: [email protected] Informações para assinatura: Brasil: R$ 130,00 Número avulso: R$ 35,00 Exterior: US$ 150,00 Aceitamos intercâmbio 139 Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010 Imagens da capa (da esquerda para direita, para cada três imagens na horizontal): Heliconia X ‘Orange Torch’; H. stricta ‘Sharonii’; H. orthotricha ‘Eclipse Total’; Etlingera elatior ‘Cacheffo’; Costus comosus var. bakeri; Etlingera elatior; Zingiber spectabile; Cheilocostus speciosus; Costus productus. Autoria: Carlos E. F. de Castro e Arlete M. T. de Melo Zingiberales ornamentais diversificando a floricultura tropical Nos últimos anos vem ocorrendo uma substancial alteração no perfil da floricultura praticada no Brasil, com produtos tradicionais compartilhando o mercado com flores e folhagens de origem tropical. Parte dessa alteração pode ser atribuída à demanda mundial por novos produtos e à organização das bases produtivas em países da América Latina – com destaque para a Costa Rica – que impulsionaram sua oferta no mercado internacional. Quanto à demanda por novidades, as flores e folhagens tropicais, pela diversidade de formas, cores e uso, passaram a atender prontamente à necessidade existente. Para consumidores de climas frios, as flores e folhagens tropicais reúnem exotismo e beleza, além de sensação de bem-estar, aconchego e calor em um mesmo produto. Para adequar uma espécie ao uso como flor ou folhagem de corte ou como planta de vaso, outras características também vêm sendo consideradas. No primeiro caso, as flores e folhagens de origem tropical devem apresentar: haste com tamanho que permita os cortes necessários à padronização; boa durabilidade pós-colheita; não persistência das flores inclusas nas brácteas, evitando sua retirada posterior; e produção economicamente viável por planta e por ciclo. No caso de planta de vaso, as espécies devem reunir: porte baixo e arquitetura uniforme; manutenção de folhas nas hastes; alta capacidade de recobrimento do solo; coloração e dimensões proporcionais das hastes florais, foliares e folhas; persistência e longo período de floração; e bom número de inflorescências por ciclo. No contexto da floricultura tropical, grande destaque atualmente é dado para o cultivo de espécies da ordem Zingiberales, constituída por oito famílias: Heliconiaceae, Zingiberaceae, Costaceae, Marantaceae, Cannaceae, Lowiaceae, Musaceae e Strelitziaceae. A família Heliconiaceae é monogenérica. São 183 espécies classificadas no gênero Heliconia, sendo 33 nativas do Brasil. No país, são cultivadas mais intensivamente cultivares de H. bihai, H. psittacorum, H. wagneriana, H. angusta, H. collinsiana, H. rostrata, H. stricta e alguns híbridos interespecíficos. Na família Zingiberaceae, têm valor ornamental espécies dos gêneros Alpinia, Zingiber e Etlingera. O gênero Alpinia reúne mais de 200 espécies, com destaque para A. purpurata. As principais variedades dessa espécie são Red Ginger, Rose Ginger, Eileen McDonald, Tahithian Ginger, Jungle King e Jungle Queen. O seu potencial como flor de corte é estabelecido pelo florescimento sucessivo durante o ano e sua longevidade pós-colheita de até 14 dias. Em Zingiber, o gênero tipo da família Zingiberaceae, as espécies com valor ornamental apresentam desenvolvimento vigoroso, inflorescências de grande durabilidade e brácteas com colorido brilhante, características que as tornam amplamente utilizadas como flores de corte em arranjos florais. A mudança gradual da coloração das brácteas das inflorescências, em algumas espécies, passando do verde ao amarelo, seguido de vários tons de vermelho até um vermelho intenso, agrega um fator de interesse adicional às plantas. Cultivadas no Brasil, encontram-se Zingiber zerumbet e Z. spectabile. O bastão do imperador é originário da Ásia e classificado no gênero Etlingera. Em cultivo, destacam-se E. elatior e E. haemespherica. A família Costaceae é dividida em sete gêneros que compreendem de 120 a 150 espécies. Os gêneros mais importantes são Costus, Cheilocostus, Chamaecostus, Dimerocostus e Tapeinochilos. O interesse por algumas espécies como flor de corte, caso de Costus lasius, C. productus, C. arabicus, C. stenophyllus, C. comosus var. bakeri, C. scaber, Cheilocostus speciosus variegata e Dimerocostus strobilaceus, é devido à grande durabilidade pós-colheita das inflorescências. Quanto ao uso no paisagismo, destacam-se, além dos já citados, Costus malortieanus, C. pictus, C. arabicus variegata e C. pulverulentus. Tal uso está relacionado ao longo período da floração, à arquitetura da planta, à variação da textura, forma e cor de folhas e inflorescências e à adaptação a diferentes locais de cultivo. Costus stenophyllus, C. pictus, Cheilocostus speciosus variegata e Dimerocostus strobilaceus podem ser comercializadas como hastes foliares cortadas. Em Marantaceae, os gêneros Calathea, Maranta, Ctenanthe e Stromanthe são os mais interessantes, embora muitas espécies possam ser usadas como plantas de vaso, de jardim ou folhagem ornamental. Como flores de corte, destacam-se Calathea cylindrica, C. crotolifera e C. burle-marxii. Da família Musaceae, Musa velutina, M. coccinea, M. ornata e Ensete ventricosum são cultivadas como ornamentais. Strelitziaceae é constituída por três gêneros e sete espécies: Strelitzia, Ravenala e Phenakospermum. No Brasil, destacam-se S. reginae e Ravenala madagascariensis, esta conhecida como a árvore do viajante. Cannaceae tem importância apenas como planta de jardim na composição de maciços florais. Quanto à monogenérica família Lowiaceae, suas espécies não são cultivadas no Brasil. A ampliação do cultivo e comercialização de espécies de Zingiberales vêm exigindo o estabelecimento de programas de pesquisa específicos nas universidades e instituições nacionais de P, D & I. Sem dúvida, a partir dos trabalhos pioneiros realizados no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, em 1982, a pesquisa nacional com flores tropicais não deixou de evoluir. Como resultado, nosso país é um dos centros de referência mundial e, anualmente, mais pesquisadores se agregam à atividade. Entretanto, muitas respostas tecnológicas ainda são necessárias, em se tratando de um novo universo de pesquisa e de cultivo. As soluções esperadas só serão possíveis mediante o estabelecimento de políticas públicas robustas de apoio à atividade e ao ingresso e capacitação de maior contingente de recursos humanos. Bem vindos, portanto, à causa da floricultura tropical. Carlos Eduardo Ferreira de Castro (Instituto Agronômico (IAC), Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP, ccastro@iac. sp.gov.br)