do arquivo - Associação Brasileira de Horticultura

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Volume 28 número 1
Janeiro - Março 2010
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA
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Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
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1
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Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
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1-3,
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
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Olericultura.
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2
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de 1999 a 2001: Quadrimestral
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A partir de 2005: Sociedade de Olericultura do Brasil denomina-se Associação Brasileira de
Horticultura
ISSN 0102-0536
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de
Horticultura.
CDD 635.05
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Volume 28 número 1
Janeiro - Março 2010
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO / CONTENT
* Artigos em inglês com resumo em português
* Articles in English with an abstract in Portuguese
CARTA DO EDITOR / EDITOR'S LETTER
5
PESQUISA / RESEARCH
Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia
Evaluation of watermelon genotypes for resistance to Papaya ringspot virus, type watermelon
JV Vieira; AC Ávila; GO Silva
7
Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento
Postharvest conservation and quality of okra submitted to different temperatures and storage forms
Wagner F da Mota; Fernando L Finger; PR Cecon; DJH Silva; PC Corrêa; LP Firme; GP Mizobutsi
12
* Uso de água e produção de cebola em sistemas de plantio direto e convencional
* Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems
WA Marouelli; RP Abdalla; NR Madeira; HR Silva; AS Oliveira
19
Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto
Single head broccoli cultivars production in summer under no-tillage
RAC Melo; NR Madeira; JR Peixoto
23
Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina
Production and physiologic indicators of lettuce grown in hydroponics with saline water
D Paulus; D Dourado Neto; JA Frizzone; TM Soares
29
Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral
Productivity of lettuce and rocket in intercropping system under organic and mineral fertilization
EQ Oliveira; RJ Souza; MCM Cruz; VB Marques; AC França
36
Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas
Performance of the kale-coriander intercropping in organic cultivation and its influence on the populations of ladybeetles
ALS Resende; AJS Viana; RJ Oliveira; EL Aguiar-Menezes; RLD Ribeiro; MSF Ricci; JGM Guerra
41
Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental
Genetic dissimilarity among pepper accessions with potential for ornamental use
RS Neitzke; RL Barbieri; WF Rodrigues; IV Corrêa; FIF Carvalho
47
Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores
Respiratory rate and ethylene production of whole and minimally processed beet roots submitted to ethylene and bioregulators treatments
RA Kluge; AA Picoli; JS Aguila
54
* Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes
* Performance of lettuce in sole cropping and intercropping with green manures
ACA Negrini; PCT Melo; EJ Ambrosano; RH Sakai; EA Schammass; F Rossi
58
Germinação in vitro de sementes de alcachofra
In vitro artichoke seed germination
CF Moraes; M Suzin; AA Nienow; MF Grando; N Mantovani; EO Calvete; BT Donida
64
Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos
Growth analysis of potted gerbera grown in different substrates
F Ludwig; AC Guerrero; DM Fernandes; RL Villas Boas
70
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMMUNICATION
Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo
Successive organic cultivation of vegetable crops in two irrigation systems and two soil covers
RBF Branco; LGC Santos; R Goto; I Ishimura; S Schlickmann; CS Chiarati
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
75
3
* Alterações na qualidade de folhas de couve inteiras e minimamente processadas conservadas em diferentes temperaturas
* Effect in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures
AN Simões; M Puiatti; LCC Salomão; PR Mosquim; R Puschmann
81
Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface
Effect of organic material on the production and characteristics of lettuce cultivars
A Santi; MAC Carvalho; OR Campos; AF Silva; JL Almeida; S Monteiro
87
Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco
Quality and nutrient content of lady palm in coconut fiber substrate
FS Alves; JM Jasmim; AJC Carvalho; JTL Thiébaut
91
Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido
Nitrogen fertilization in garlic free of virus cultivated in protected environment
LJC Fernandes; LT Büll; JC Corrêa; MA Pavan; I Imaizumi
97
Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
Reaction of tomato genotypes to races 2 and 3 of Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
LT Souza; SJ Michereff; D Laranjeira; DEGT Andrade; E Ferraz; GSA Lima; A Reis
102
Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie primitiva e medicinal
Seed germination and seedling emergence of Dorstenia cayapia: primitive and medicinal species
JMQ Luz; AF Carvalho; DG Santana; MAD Silva
107
PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE
Produção de biomassa e teor do óleo essencial de cidrão em função da adubação orgânica
Biomass production and essential oil content of lemon verbena in response to organic manure application
RS Brant; JEBP Pinto; SKV Bertolucci; CJB Albuquerque
111
Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal
Performance of hybrids of cauliflower for summer season, in Jaboticabal, Brazil
BCBA Monteiro; HCO Charlo; LT Braz
115
Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino
Reproduction of Meloidogyne spp. in rootstocks and cucumber hybrids
SRS Wilcken; JMO Rosa; ARO Higuti; MJM Garcia; AII Cardoso
120
Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal
Attributes of vegetables based on consumer´s needs: a case study on bell peppers in Distrito Federal, Brazil
SS Onoyama; FJB Reifschneider; AW Moita; GS Souza
124
ERRATA
133
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
134
Artigo da capa - Zingiberales ornamentais diversificando a foricultura tropical.
4
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Carta do editor
Prezados,
Não poderia iniciar esta carta com outra informação que não a nova classificação da Horticultura Brasileira no sistema
Qualis: passamos a ser uma revista B1, ou seja, estamos ao lado das melhores revistas editadas no Brasil no campo das ciências
agrárias! Compartilhamos essa conquista com toda a família Horticultura Brasileira.
Em função da nova classificação, além de estarmos entrando em nosso segundo ano indexados pela Web of Science, passamos a receber um grande volume de trabalhos, com incremento inclusive nos trabalhos que vêm do exterior. Por isso foi
necessário que efetuássemos algumas mudanças, para continuar atendendo bem a todos.
Nosso primeiro passo foi aumentar o número de editores. Assim, saudamos e damos boas-vindas aos nossos novos editores
científicos, Marinice Oliveira Cardoso, Rosana Rodrigues, Itamar Rosa Teixeira, Juliano Tadeu Vilela de Resende e Wagner
Ferreira da Mota; além da nossa nova Editora Associada, Ronessa Bartolomeu de Souza. A todos, muito obrigado por aceitarem o convite e mãos-à-obra...
Fizemos alterações também no processo de tramitação dos trabalhos. Adicionamos duas novas solicitações para que um
trabalho entre em tramitação. Doravante, os autores devem indicar na carta de encaminhamento:
1. a relevância do trabalho (importância e distinguibilidade em relação a trabalhos já existentes), em no máximo dez
linhas;
2. pelo menos duas pessoas, de instituições distintas daquelas a que pertencem, que possam atuar como assessores ad
hoc imparciais.
Com essas alterações, esperamos manter a tramitação dos trabalhos em um ritmo adequado.
Gostaria de chamar a atenção também para a nossa capa. Em 2010, celebramos o ano da biodiversidade. Por isto, nesta
capa, homenageamos um dos nosso mais importantes patrimônios naturais: as plantas ornamentais tropicais.
Finalmente, ficam aqui as nossas despedidas ao Editor Científico Ricardo Alfredo Kluge, que após vários anos de dedicação
à nossa Horticultura Brasileira, deixa, a seu pedido, a condição de Editor. Prezado, a Horticultura Brasileira lhe é muitíssimo
grata pelo excelente trabalho realizado.
Até o próximo volume,
Paulo Melo, editor-chefe
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
5
Editor's letter
Dearest,
I could not start this letter with other information but our new rank at the Qualis system: we are now a B1 journal, i.e.,
we are side-by-side with the top journals published in Brazil in the field of agricultural sciences! We share this achievement
with the whole Horticultura Brasileira family.
In light of this new rank, in addition to be entering already our second year indexed by the Web of Science, we are receiving
a large volume of manuscripts, even from abroad. Therefore, we needed to implement a couple of changes, to continue
responding well to all.
Our first step was to increase the number of editors. So, we welcome our new scientific editors, Marinice Oliveira Cardoso,
Rosana Rodrigues, Itamar Rosa Teixeira, Juliano Tadeu Vilela de Resende and Wagner Ferreira da Mota; as well as our new
Associate Editor, Ronessa Bartolomeu de Souza. Thank you all for accepting the invitation and let´s set to work...
We made changes also in the reviewing process. We introduced two new requests for a manuscript to be eligible for peer
reviewing. Henceforth, authors should point in the cover letter:
1.
The relevance of the work (importance and distinctiveness in relation to existing papers) in no more than ten lines;
2. At least two persons, from institutions other than those authors are affiliated to, who can act as impartial peer
reviewers.
We believe these changes will allow us to keep the peer reviewing process at an adequate pace.
I would like to draw you attention also to our cover. In 2010, we celebrate the year of biodiversity. Therefore, this cover
is dedicated to one of our main natural heritages: tropical ornamental plants.
Finally, here we say goodbye to our Scientific Editor Ricardo Alfredo Kluge, who after many years of dedication to
Horticultura Brasileira, leaves, at his request, the Editorship. Dear, Horticultura Brasileira is enormously grateful for the
excellent work you have done.
See you in the next volume,
Paulo Melo, editor-in-chief
6
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Pesquisa / Research
VIEIRA JV; ÁVILA AC; SILVA GO. 2010. Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia. Horticultura
Brasileira 28: 7 - 11.
Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot
vírus, estirpe melancia
Jairo V Vieira; Antonio Carlos de Ávila; Giovani Olegário da Silva
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Verificou-se a eficiência de duas metodologias de avaliação em
nove genótipos de melancia da resistência a três isolados de Papaya
ringspot virus, estirpe melancia (PRSV-W), de três regiões brasileiras.
O delineamento do experimento foi em blocos casualizados com
quatro repetições. Cada parcela foi composta de um vaso com 5 kg
de substrato com cinco plantas de melancia por vaso. Aos 10 e 13 dias
após a semeadura, três isolados do PRSV-W coletados nos estados de
Goiás, Pernambuco e São Paulo, foram inoculados mecanicamente.
Aos 27 e 37 dias após a semeadura foram feitas avaliações visuais
de sintomas de vírus. A confirmação da presença ou não do vírus nas
plantas inoculadas foi feita através do teste sorológico Das-Elisa,
utilizando anti-soro policlonal. Foram realizadas análises de variância, estimadas as herdabilidades, calculadas as correlações entre os
caracteres, e efetuadas comparações das médias dos genótipos e dos
diferentes inóculos. Pelo comportamento diferenciado dos genótipos
em relação aos isolados avaliados, conclui-se que isolados provenientes de diferentes regiões devem ser testados nos programas de
melhoramento de melancia. Os altos valores de herdabilidade para a
maioria dos caracteres indicam que a característica em estudo está sob
o controle de poucos loci e que, portanto, a possibilidade de seleção
de materiais resistentes é alta. Em geral, os genótipos mostraram um
nível de tolerância superior ao da cultivar predominante no mercado
brasileiro (Crimson Sweet). Portanto, podem servir de base para a
produção de cultivares mais tolerantes ao PRSV-W.
Evaluation of watermelon genotypes for resistance to Papaya
ringspot virus, type watermelon
Palavras-chave: Citrullus lanatus var. lanatus, absorbância, correlação, herdabilidade.
Keywords: Citrullus lanatus var. lanatus, absorbance, correlation,
heritability.
The aim of this study was to assess the resistance of nine
watermelon genotypes against three PRSV-W isolates originated
from three Brazilian States (São Paulo, Goiás and Pernambuco).
The experiment was carried out at Embrapa Hortaliças, Brasilia,
Brazil, in April 2004. Nine watermelon genotypes were appraised,
in a randomizated block design with four replications. Each plot
was comprised of one 5 kg pot and five watermelon plants per pot.
Ten to 13 days after sowing, inoculation was carried out with three
PRSV-W isolates. Twenty-seven and 37 days after sowing, virus
symptoms were evaluated. Virus presence or absence in the inoculated
plants was confirmed by Das-Elisa. The results comprised variance
analysis, heritability estimation, correlations among the characters,
and genotype comparisons. Based on the different behavior of the
genotypes in relation to each PRSV-W isolate, it is concluded that
different isolates should be used in watermelon breeding programs.
The high heritability values for most of the characters indicated that
the characteristic in study is under the control of a few loci and,
therefore, the possibility of selection of resistant watermelon accesses
is high. The evaluated genotypes showed higher virus tolerance
compared to the most planted cultivar in the country (Crimson Sweet),
as it can be verified by the average values. The results suggest that
the selected watermelon accesses are a good source of resistance to
new watermelon cultivars tolerant to PRSV-W.
(Recebido para publicação em 26 de novembro de 2008; aceito em 25 de janeiro de 2010)
(Received on November 26, 2008; accepted on January 25, 2010)
N
o Brasil, os vírus na família
Potyviridae têm recebido maior
atenção por parte dos melhoristas de
cucurbitáceas por representarem fatores limitantes no cultivo de melancia
(Citrullus lanatus L.) e de várias outras
cucurbitáceas nas principais regiões
produtoras do país.
O gênero Potyvirus se sobressai em
importância econômica para as cucurbitáceas no Brasil, por conter três espécies
de relevância para os cultivos do meloeiro (Cucumis melo L.) e da melancia:
vírus da mancha anelar do mamoeiro
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
estirpe melancia (Papaya ringspot virus
strain watermelon, PRSV-W), vírus do
mosaico da melancia (Watermelon mosaic virus, WMV) e vírus do mosaico
amarelo do zucchini (Zucchini yellow
mosaic virus, ZYMV) (Halfeld-Vieira
et al., 2004). Destes, o PRSV-W é o
que mais causa danos econômicos na
cultura da melancia no Brasil, e até o
presente, não há no mercado brasileiro
cultivar resistente a esse vírus (Vieira
et al., 2005).
O PRSV-W tem um círculo de
hospedeiros abragendo 38 espécies
botânicas em 11 gêneros de Cucurbitaceae (Purcifull et al., 1984). O vírus é
transmitido de maneira não persistente
por várias espécies de afídeos, incluindo
Myzus persicae e Aphis spp. (Purcifull
et al., 1984; Zambolin & Dusi, 1995).
O controle químico dos vetores para o
controle da doença é inócuo devido ao
tipo de transmissão do vírus pelo vetor
(Zambolin & Dusi, 1995). O controle de
hospedeiros alternativos com herbicidas
também pode ser realizado (Strange et
al., 2002). Porém, a resistência varietal
é essencial para o controle da doença nas
7
JV Vieira et al.
nossas condições (Pereira, 1995).
Azevedo (2001), estudando a herança da resistência ao PRSV-W na
introdução PI 595201 de melancia,
estimou o número de genes em 2,61.
Maluf et al. (1997), estudando a herança
da resistência ao PRSV-W em moranga
(Cucurbita maxima), observaram que
a resistência parece ser mediada por
oligogenes e o mecanismo de resistência
é do tipo tolerância.
Os objetivos deste trabalho foram
avaliar genótipos de melancia quanto à
resistência a três isolados do PRSV-W
de três regiões brasileiras (estados de
Goiás, Pernambuco e São Paulo), e verificar a eficiência da utilização de duas
metodologias de avaliação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa de vegetação e em laboratório da
Embrapa Hortaliças em abril de 2004.
Foram avaliados nove acessos de melancia, os quais fazem parte da coleção
de germoplasma da Embrapa Hortaliças:
01433 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01494 (Crimson Sweet), 02600
(Citrulus lanatus var colocynthis),
03813 (Citrulus lanatus var colocynthis
x Crimson Sweet), 02659 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02658 (Citrulus
lanatus var colocynthis), 01537 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02599 (Citrulus lanatus var colocynthis) e 03814
(Citrulus lanatus var colocynthis). O
delineamento utilizado foi de blocos
casualizados com quatro repetições.
Cada parcela foi composta de um vaso
com 5 kg de substrato e cinco plantas
de melancia em cada vaso. Como
controles positivo e negativo foi utilizada a cultivar de melancia suscetível
Crimson Sweet, com e sem inoculação,
respectivamente, contidas no mesmo
delineamento experimental.
Aos 10 e 13 dias após a semeadura,
no estádio de plântula, foi efetuada
inoculação mecânica com três isolados
do PRSV-W coletados em três regiões
brasileiras (estados de Goiás, Pernambuco e São Paulo) em plantas de melancia,
formando um esquema fatorial 9 (genótipos) x 3 (inóculos). A identidade dos
isolados como PRSV-W foi confirmada
8
por teste sorológico Das-Elisa utilizando
anti-soros policlonais específicos para
WMV, ZYMV e PRSV-W, produzidos
no Laboratório de Virologia da Embrapa
Hortaliças, a partir de Cucurbita pepo
L. cv. Caserta, inoculada via extrato vegetal tamponado com cada uma dessas
espécies de vírus. Para a produção dos
anti-soros não foi feita purificação biológica a partir de lesões locais. A identificação das espécies de vírus foi feita
através de sorologia. Estes anti-soros são
vírus específicos não havendo reação
cruzada significativa entre eles. A inoculação mecânica do vírus foi feita polvilhando carborundum 600 mesh sobre
as folhas e o inóculo preparado através
da maceração de folhas infectadas em
tampão fosfato 0,01 M, pH 7,0. Foram
feitas duas inoculações mecânicas com
intervalo de 24 horas. O inóculo foi
esfregado com cotonete sobre as folhas
polvilhadas com carborundum.
Aos 27 e 37 dias após a semeadura
foram feitas avaliações visuais de sintomas por dois avaliadores independentes,
com notas variando de 1 a 3: (1= planta
sem sintomas; 2= planta com clareamento de nervuras; 3= plantas com clareamento de nervuras, mosaico severo e
deformação foliar). Posteriormente, foi
verificada a presença ou não do vírus
nas plantas inoculadas através do teste
sorológico Das-Elisa (Clark & Adams,
Tabela 1. Resumo da análise de variância para caracteres relacionados à tolerância ao vírus
PRSV-W em melancia, avaliados a partir de três isolados provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo, com respectivos coeficientes de variação ambiental (CV) e herdabilidades
médias no sentido amplo (Ha2), obtidos pela avaliação de nove genótipos de melancia
(summarized variance analysis for characters related to the tolerance to the virus PRSV-W
in watermelon, appraised from three isolates of Goiás, Pernambuco and São Paulo States,
with respective coefficients of environmental variation (CV) and medium heritabilities in
the wide sense (Ha2), obtained by the evaluation of nine watermelon genotypes). Brasília,
Embrapa Hortaliças, 2007.
Quadrado médio
Fontes de variação
GL
Bloco
Genótipo
Resíduo
CV
Ha2 (%) média
3
8
24
-
Bloco
Genótipo
Resíduo
CV
Ha2 (%) média
3
8
24
-
Bloco
Genótipo
Resíduo
CV
Ha2 (%) média
3
8
24
-
Avaliação aos
27 *dps
Avaliação aos Absorbância
37 dps
(405 nm)
Isolado de PRSV-W / Goiás
0,01
0,01
0,10
0,18*
0,19*
0,29*
0,01
0,01
0,08
7,65
0,01
23,52
0,94
0,99
0,73
Isolado de PRSV-W / Pernambuco
0,01
0,03
0,15
0,21*
0,07*
0,38
0,01
0,02
0,25
2,19
7,53
26,53
0,99
0,79
0,34
Isolado de PRSV-W / São Paulo
0,01
0,01
0,01
0,21*
0,16*
0,04*
0,01
0,01
0,01
0,01
8,72
2,22
0,99
0,91
0,98
*Significativo a 5% de probabilidade de erro pelo teste F. Aos 39 dias após o semeio, foi feita
a leitura de absorbância no teste Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição de substrato.
Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (*significant at 5% of error
probability by the F test. 39 days after sowing, the absorbance reading was done through
the Das-Elisa test on 405 nm, 30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were
made 27 and 37 days after sowing).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Avaliação de genótipos de melancia para resistência ao Papaya ringspot vírus, estirpe melancia
1977) utilizando anti-soro policlonal
contra o PRSV-W.
Os dados foram submetidos à análise
de homogeneidade de variância (teste
de Bartllet) e de normalidade (Lilliefors) para cada isolado de PRSV-W. Os
caracteres avaliados aos 27 e 37 dias
foram transformados por
x para
atender a pressuposição de normalidade
de distribuição.
Foi realizada análise de variância
para cada isolado viral, e análise de
variância conjunta. A herdabilidade foi
estimada pelo quadrado médio (Cruz &
Regazzi, 2001). As correlações fenotípicas entre os caracteres, e comparações
das médias dos genótipos e dos diferentes inóculos foram efetuadas através do
teste Tukey a 5% de probabilidade.
Todas as operações estatísticas foram realizadas utilizando-se o aplicativo
computacional Genes (Cruz, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a análise de variância conjunta, todos os caracteres foram
significativos em diferenciar os genó-
tipos, e da mesma forma as interações
genótipo e isolados de vírus (dados não
mostrados). Por este motivo, os dados
foram analisados em separado para cada
isolado do PRSV-W.
Para os isolados coletados nos
três estados em estudo, verificou-se
efeito significativo de genótipo para
todos os caracteres, com exceção para
absorbância em se tratando do isolado
de Pernambuco. Desta forma, para os
demais caracteres avaliados, todos os
isolados permitiram a diferenciação dos
genótipos (Tabela 1).
Os coeficientes de variação fenotípicos, que são indicativos da precisão
experimental, foram reduzidos para os
caracteres avaliados visualmente através
de notas, sendo superiores para o caráter
absorbância em relação aos isolados de
Goiás e Pernambuco (Tabela 2). Assim,
para este caráter, as conclusões devem
ser efetuadas com cautela, considerando
a menor precisão experimental.
Para os caracteres avaliados visualmente (avaliação aos 27 e aos 37 dias
após a semeadura), os valores de herdabilidade foram elevados, da mesma
forma para absorbância em relação ao
isolado do PRSV-W proveniente de
São Paulo����������������������������
. Isto sugere que a característica em estudo está sob o controle de
poucos loci, e que conseqüentemente,
a possibilidade de seleção de materiais
resistentes é alta (Beserra Junior et al.,
2006). Ainda em relação ao caráter
absorbância, com os dados relativos ao
inóculo proveniente de Goiás, a herdabilidade foi menor (0,73), enquanto
que para o inóculo de Pernambuco, que
não apresentou significância, foi muito
reduzida (0,34) (Tabela 1).
Estimativas elevadas de herdabilidade no sentido amplo para resistência
ao vírus PRSV-W em melancia estão
de acordo com os resultados de Beserra
Junior et al. (2006), que verificaram
valor de 0,80. Herdabilidades variando
de 0,39 a 0,80 também foram verificadas
por Azevedo (2001). Entretanto, em trabalho avaliando severidade de sintomas
do PRSV-W com Cucurbita moschata
Duchesne, Oliveira et al. (2003) obtiveram herdabilidades no sentido amplo
variando de 0,44 a 0,70.
Pela comparação das médias dos
genótipos para cada isolado de vírus,
verificou-se que o genótipo 01494 (Ta-
Tabela 2. Comparações de médias por Tukey a 5% de probabilidade entre nove genótipos de melancia, em relação a caracteres relacionados à
tolerância ao vírus PRSV-W em melancia, avaliados a partir de isolados provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo (means comparison
through Tukey test at 5% probability among nine watermelon genotypes, in relation to characters related to the virus PRSV-W tolerance in
watermelon, appraised from isolates coming from Goiás, Pernambuco and São Paulo States). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Goiás
Genótipo
Avaliação visual
01433**
01494***
02600
03813
02659
02658
01537
02599
03814
27 *dps
1,25 b*
3,00 a
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,50 b
1,25 b
37 dps
1,00 b
3,00 a
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
1,00 b
Pernambuco
Absorbância
(405 nm)
1,16 b
1,88 a
1,06 b
1,28 ab
1,12 b
1,01 b
1,11 b
1,12 b
1,01 b
Avaliação visual
27 dps
1,13 d
3,00 a
1,00 d
1,00 d
1,50 c
2,00 b
2,00 b
2,00 b
1,00 d
37 dps
1,50 b
3,00 a
2,13 ab
2,00 ab
2,25 ab
2,75 a
2,50 a
2,38 ab
2,00 ab
São Paulo
Absorbância
(405 nm)
1,68 a
1,55 a
1,91 a
2,60 a
2,04 a
2,03 a
1,67 a
1,74 a
1,85 a
Avaliação visual
27 dps
1,00 d
3,00 a
1,00 d
1,00 d
1,00 d
2,00 b
1,50 c
1,00 d
1,00 d
37 dps
1,13 b
3,00 a
1,00 b
1,00 b
1,13 b
1,25 b
1,38 b
1,25 b
1,00 b
Absorbância
(405 nm)
1,01 b
1,33 a
1,02 b
1,01 b
1,04 b
1,01 b
1,01 b
1,04 b
1,02 b
*médias com letras diferentes na coluna diferiram significativamente. Aos 39 dias após o semeio, foi feita a leitura de absorbância no teste
Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição de substrato. Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (*means with
different letters on the column differed significantly. 39 days after sowing the absorbance reading was done in the Das-Elisa test at 405 nm,
30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were done 27 and 37 days after sowing); **01433 (Citrulus lanatus var colocynthis),
01494 (Crimson Sweet) (***controle positivo) (*** positive witness), 02600 (Citrulus lanatus var colocynthis), 03813 (Citrulus lanatus var
colocynthis x Crimson Sweet), 02659 (Citrulus lanatus var colocynthis), 02658 (Citrulus lanatus var colocynthis), 01537 (Citrulus lanatus
var colocynthis), 02599 (Citrulus lanatus var colocynthis) e 03814 (Citrulus lanatus var colocynthis).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
9
JV Vieira et al.
Tabela 3. Comparações de médias por Tukey a 5% de probabilidade entre isolados de
PRSV-W provenientes de Goiás, Pernambuco e São Paulo, em relação a caracteres relacionados à tolerância ao PRSV-W, e correlação simples entre os caracteres, pela avaliação de
nove genótipos de melancia (means comparisons through Tukey at 5% of probability among
isolates of PRSV-W coming from Goiás, Pernambuco and São Paulo States, in relation to
characters related to the tolerance to PRSV-W, and simple correlation among the characters,
for the evaluation of nine watermelon genotypes). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
27 **dps
37 dps
Absorbância (405nm)
Absorbância (405nm) do controle
negativo***
27 dps x 37 dps
27 dps x absorbância
37 dps x absorbância
Goiás
1,38 b*
1,22 b
1,19 b
0,01
0,85*
0,56*
0,68*
Averages
Pernambuco
1,62 a
2,27 a
1,89 a
0,01
Correlação
0,67*
-
São Paulo
1,38 b
1,35 b
1,05 b
0,01
0,83*
0,82*
0,90*
*médias com letras diferentes na linha diferiram significativamente (*means with different
letters in the line differed significantly); **significativo a 5% pelo teste T. Aos 39 dias após o
semeio, foi feita a leitura de absorbância no teste Das-Elisa a 405 nm, 30 minutos após adição
de substrato. Avaliações visuais foram feitas aos 27 e 37 dias após semeio (**significant at
5% through T test. 39 days after sowing, the absorbance reading was done in the Das-Elisa
test at 405 nm, 30 minutes after substratum addition. Visual evaluations were done 27 and 37
days after sowing); ***Plantas controle negativo de melancia (Crimson Sweet) (***negative
watermelon plant witness (Crimson Sweet)).
bela 2) apresentou as maiores médias, ou
seja, sintomas mais severos do PRSV-W,
o que já era esperado devido a ser uma
cultivar conhecidamente suscetível e
cultivada amplamente no Brasil e em
outros países (Crimson Sweet). Em
geral, os demais genótipos mostraram
um nível de tolerância superior ao desta
cultivar (Tabela 2).
Apesar de todos os genótipos testados permitirem a replicação viral em
taxas elevadas (como o teste não foi
realizado de forma quantitativa, não é
possível concluir acerca de maior ou
menor taxa de replicação com base nos
valores de absorbância de genótipos
específicos), entretanto, com base nas
avaliações visuais, as plantas de alguns
acessos continuaram assintomáticas.
Pode-se verificar algumas diferenças
significativas nos valores de médias, no
entanto não caracterizando resistência à
replicação de vírus. Verificou-se que a
base genética em melancia, buscando
resistência ao PRSV-W, parece ser
bastante estreita, porém o genótipo
01433 se destaca com indicação de ser
promissor para retrocruzamentos com
cultivares comerciais por ser tolerante à
infecção viral. No entanto, a conclusão
10
definitiva da tolerância exige dados de
produção, mostrando que essa não é
reduzida devido à infecção viral.
Apesar de o isolado de Goiás ter sido
menos virulento que os demais, em geral,
para os isolados de Goiás e São Paulo,
pode-se notar uma similaridade muito
grande na classificação dos genótipos
de acordo com os diferentes métodos
de avaliação. Quanto ao inóculo proveniente de Pernambuco os genótipos não
foram classificados semelhantemente
nem com outros isolados e nem entre os
dois métodos de avaliação deste mesmo
inóculo (27 e 37 dias) (Tabela 2).
O comportamento diferenciado do
isolado de Pernambuco, em relação aos
demais, e a associação apenas mediana
entre a avaliação aos 27 e 37 dias após
a semeadura para o inóculo de Pernambuco, podem ser confirmadas com os
dados da Tabela 3, com a análise de
comparação de médias entre os inóculos
e pela correlação entre os métodos de
avaliação para cada inóculo.
Ainda, na Tabela 3 tem-se a confirmação de que para os isolados de Goiás
e São Paulo, existe associação positiva
entre as diferentes metodologias de
avaliação. Isso indica que pode ser
utilizada na avaliação visual de vírus,
com economia de custos e metodologias
laboratoriais. Pode-se verificar ainda
que, pelos valores das médias, o inóculo
de Pernambuco apresentou as maiores
médias, ou seja, foi o mais virulento.
Pelo comportamento dos genótipos
em relação aos três isolados avaliados,
conclui-se que na geração de cultivares
com resistência ao vírus PRSV-W, para
serem utilizadas em diversas regiões
brasileiras, isolados provenientes de
diferentes regiões devem ser testados
nos programas de melhoramento de
melancia para esse vírus.
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sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento. Horticultura Brasileira 28: 12-18.
Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento
Wagner F da Mota1; Fernando Luiz Finger2; Paulo Roberto Cecon4; Derly José H da Silva2; Paulo César
Corrêa3; Lúcia P Firme2; Gisele P Mizobutsi1
UNIMONTES-Depto. Ciências Agrárias, 39440-000 Janaúba-MG; 2UFV-Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; 3UFV-Depto. Eng.
Agrícola, 36571-000 Viçosa-MG; 4UFV-Depto. Informática, 36571-000 Viçosa-MG; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
O trabalho teve como objetivo avaliar a influência do filme
plástico de PVC e da temperatura de armazenamento na conservação
pós-colheita de frutos de cultivares de quiabo. O experimento foi
organizado em delineamento de blocos casualizados, em esquema de
parcelas subsubdivididas, tendo nas parcelas as duas temperaturas (5
e 10 oC), nas subparcelas um fatorial 2 (sem e com PVC) x 4 (cultivares Amarelinho, Red Velvet, Star of David e Mammoth Spinless)
e nas subsubparcelas os seis períodos de amostragem, com quatro
blocos. A temperatura de 10oC e o uso do filme de PVC foram mais
eficientes no controle da perda de massa da matéria fresca. O filme
foi mais eficiente na manutenção de maior teor relativo de água
no pericarpo dos frutos armazenados a 5 e 10oC. A cv. Amarelinho
perdeu menos massa da matéria fresca e manteve maior teor relativo
de água. Os frutos armazenados a 5oC apresentaram maiores teores
de vitamina C, com menor perda de vitamina C nas cvs. Mammoth
Spinless e Star of David. Observou-se maior incidência de injúria
por frio e escurecimento nos frutos armazenados sem PVC e a 5oC.
A cv. Amarelinho apresentou melhor conservação pós-colheita com
temperatura de 10oC e o uso da embalagem de PVC.
Postharvest conservation and quality of okra submitted to
different temperatures and storage forms
Palavras-chave: Abelmoschus esculentus, armazenamento,
qualidade.
Keywords: Abelmoschus esculentus, storage, quality.
This work had the goal to evaluate the influence of PVC film and
temperature on the postharvest storage life in four cultivars of okra.
The treatments were displayed in randomized complete blocks, in
split-split-plot design, where the parcels were the temperatures of
5 and 10oC, and in the sub parcels a 2 (control and PVC wrapped
fruits) x 4 (cultivars Amarelinho, Red Velvet, Star of David and
Mammoth Spinless) factorial, and in the sub-sub parcels six sampling
moments, containing four blocks. Storage at 10oC and wrapping the
fruits with PVC film improved the control of fresh mass loss. The
film was more efficient in maintaining higher water content in the
fruit pericarp at 5 or 10oC. The cultivar Amarelinho lost less fresh
mass and maintained higher water content. Fruits stored at 5oC had
higher vitamin C content. The cultivars Mammoth Spinless and Star of
David showed lower losses of vitamin C. Cultivar Mammoth Spinless
had the highest content of chlorophyll and Amarelinho the lowest.
In general the development of chilling and browning was higher in
fruits without PVC film at 5oC. The cultivar Amarelinho had better
postharvest conservation at 10oC and using PVC film.
(Recebido para publicação em 27 de fevereiro de 2009; aceito em 18 de janeiro de 2010)
(Received on February 27, 2009; accepted on January 18, 2010)
O
riginário da África, o quiabeiro
(Abelmoschus esculentus) é uma
hortaliça cultivada na África, Índia,
Ásia, Estados Unidos, Turquia e Austrália (Duzyaman, 1997). No Brasil as condições para o seu cultivo são excelentes,
principalmente no que diz respeito ao
clima (Mota et al., 2000).
A possibilidade de exportação para
países europeus que possuem comunidades apreciadoras do fruto surge
como ótimo investimento. No entanto,
é necessário produzir mais e com a
qualidade exigida pelo mercado europeu. Em janeiro de 1999, houve uma
primeira exportação de frutos de quiabo
fresco para a França. Porém, não houve
remessas posteriores à Europa, visto
12
que as cultivares mais plantadas no
Brasil, Amarelinho e Santa Cruz, não
satisfazem as exigências do mercado
francês quanto ao formato, tamanho,
cor e qualidade do fruto.
As hortaliças são muito perecíveis e
continuam o metabolismo respiratório
após a colheita (Fonseca et al., 2000;
Lee & Kader, 2000). Por isso o período
de conservação pós-colheita do quiabo
é muito curto, principalmente em condições de armazenamento sob temperaturas altas e baixa umidade relativa, que
aceleram a perda de água, depreciando o
valor comercial dos frutos para o consumo in natura (Finger et al., 2008).
A temperatura e umidade relativa
são importantes fatores que devem
ser controlados para manutenção da
qualidade como, aparência, textura,
valor nutricional e flavor durante a armazenagem (Paull, 1999; Lee & Kader,
2000). Assim, recomenda-se armazenar
hortaliças em temperaturas mínimas
que condicionem máxima conservação
pós-colheita. Segundo Paull (1999),
90% dos produtos que deveriam ser
armazenados à temperatura de 4oC ou
menos são armazenados acima da faixa
recomendada.
Temperaturas de armazenagem entre
5 e 15oC ocasionam injúrias por frio
e escurecimento enzimático interno e
externo em muitas espécies tropicais e
subtropicais (Fernández-Trujilio et al.,
1998a). No entanto, os frutos de feijãoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento
vagem, pepino, quiabo, pimentão, abóbora e tomate, apesar de serem sensíveis
à injúria por frio, toleram temperaturas
um pouco mais baixas, permitindo que
se faça o armazenamento em temperaturas entre 8 e 12oC (Pantástico et al.,
1975). Estas desordens ocorrem em
armazenamento prolongado, principalmente após retirada dos produtos da
refrigeração (Fernández-Trujilio et al.,
1998b). Contudo, outros atributos de
qualidade, como textura, vitamina C,
flavor e aroma podem ser perdidos antes
das mudanças externas serem observadas (Paull, 1999). Em quiabo, normalmente após três dias de armazenagem
entre 1 e 6oC, há descoloração do cálice,
depressão da superfície dos frutos e as
sementes tornam-se marrons (Tamura
& Minamide, 1984). Estes sintomas,
aliados a manchas deprimidas de coloração escura, alterações metabólicas,
amadurecimento, murchamento, perda
de sabor e apodrecimento, caracterizam
os sintomas de injúria por frio, chamado
de chilling (Wang, 1989).
Uma das técnicas utilizadas para
reduzir a incidência do chilling é a
atmosfera modificada (Saltveit, 2000)
pelo emprego de filme plástico, redução
do teor de O2 e elevação do teor de CO2
complementados da refrigeração no
armazenamento (Kader, 1995). Neste
sistema as mudanças bioquímicas e a
produção de etileno são reduzidos, retardando o amaciamento e a senescência
(Pariasca et al., 2001). Ainda, injúrias
físicas e fisiológicas são reduzidas,
como a injúria por frio, prevenindo a
perda de água (Lammertyn et al., 2000;
Pesis et al., 2000).
No presente trabalho objetivou-se
avaliar a influência de temperaturas
e formas de armazenamento sobre a
conservação e qualidade pós-colheita
de quiabo.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos de quiabo foram colhidos
no campus da UFV, em Viçosa-MG, no
ponto de colheita comercial, apresentando-se os frutos tenros, aproximadamente
aos quatro dias após a antese e 60 dias
após o plantio. Após a colheita os frutos
foram acondicionados em caixas plásticas, e em seguida transportados para
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
o Laboratório de Pós-Colheita, onde
foram selecionados.
Os frutos foram armazenados em
câmaras de refrigeração com umidade
relativa de 95%, monitoradas com termohigrógrafo. O experimento foi organizado em delineamento experimental
de blocos casualizados, no esquema
de parcelas subsubdivididas, tendo nas
parcelas duas temperaturas (5 e 10oC),
nas subparcelas um fatorial 2 x 4, ou
seja, embalagens sem e com PVC (14
μm de espessura) e quatro cultivares
(Amarelinho, Red Velvet, Star of David
e Mammoth Spinless) e nas subsubparcelas seis períodos de amostragem com
quatro blocos, sendo a unidade experimental constituída por 4 frutos.
As características físicas e químicas
avaliadas em intervalos de três dias foram: Perda de massa da matéria fresca
do fruto: a diferença de massa entre
as avaliações foi acumulada durante a
evolução do experimento e o resultado
de perda de massa da matéria fresca
em relação à massa inicial do fruto foi
expresso em porcentagem; Teor relativo de água: foi avaliado conforme
metodologia descrita por Catsky (1974),
com o emprego da equação citada por
Weatherley (1950):
Φ=
F −W
X 100
T −W
em que Φ é o teor relativo de água; F a
massa da matéria fresca; W, a massa da
matéria seca; e T, a massa da matéria
túrgida. Foram retirados discos de 7
mm de diâmetro do pericarpo do quiabo
e pesados. Os discos foram colocados
em espumas saturadas de água por sete
horas (tempo necessário para estabilização da massa) e pesados, obtendo-se a
massa da matéria túrgida. Em seguida,
foi obtida a massa da matéria seca por
secagem em estufa a 70oC por 48 a 72
horas até atingir massa constante; Teor
de clorofila: para avaliação da clorofila
a, b e total, foram retirados 3 g de massa
da matéria fresca da parte mediana dos
frutos, aos quais foram acrescentados 10
mg de sulfato de magnésio e 30 ml de
acetona 80% (v/v) (Finger et al., 2008).
Após a homogeinização, a suspensão foi
filtrada, aferida num balão volumétrico
de 50 mL, sendo os teores de clorofila
determinados espectrofotometricamente
pelo método de Arnon (1949) nos comprimentos de onda de 645 e 663 nm,
expressando-se em µ/g; Teor de
vitamina C: determinado pela técnica
recomendada pelo Instituto Adolfo Lutz
(1985), e o resultado expresso em mg de
ácido ascórbico por 100 g de matéria
fresca; Aparência visual: utilizou-se
uma escala (Finger et al., 2008), onde as
notas variam de 0 a 4, conforme o estado
de conservação desses frutos. Foram
avaliadas as lesões de injúria por frio e
o aparecimento de manchas. As lesões
de injúria por frio, relativas ao grau de
severidade de ocorrência, foram avaliadas mediante as notas: 0 - sem injúria,
ausência de ponto de injúria; 1 - levemente injuriados, menos de cinco pontos; 2 - moderadamente injuriados, 5 a
10 pontos; 3 - extremamente injuriados,
de 10 a 15 pontos; e 4 - completamente
injuriados, com mais de 15 pontos maiores e por todo o fruto; Escurecimento
do pericarpo: a presença de manchas de
descoloração foi avaliada com o auxílio
das notas: 0 - sem escurecimento, ausência de manchas escuras; 1 - levemente
escurecidos, com pequenas manchas
ou levemente escurecidos; 2 - moderadamente escurecidos, com manchas
maiores; 3 - extremamente escurecidos,
com manchas distribuídas por todo o
fruto; e 4 - completamente escurecidos
quando as manchas escuras ocupavam
mais de 50% do fruto.
Os dados foram interpretados por
meio de análise de variância e de regressão com a utilização do programa SAEG
(1997). As médias dos fatores qualitativos foram comparadas, utilizando-se o
teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Para os fatores quantitativos, os modelos
foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, a
5% de probabilidade, no coeficiente de
determinação e no potencial para explicar o fenômeno biológico em questão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve aumento linear de 1,25 e
1,55% de perda de massa da matéria
fresca por dia nas temperaturas de 5
e 10oC respectivamente, em todas as
cultivares (Figura 1C). Os frutos embalados a 10oC perderam mais massa
13
WF Mota et al.
Am
45
Red
ST
Y=1,9624**X 2r=0,9993
Y=2,9210**X 2r=0,9993
Y=2,5221**X 2r=0,9992
40
SP
Y=2,2556**X 2r=0,9997
Perda de Matéria Fresca – (%)
50
B
35
30
25
20
15
10
5
0
0
12
15
10
5
2
=0,9992
r
=0,9999
r
=0,9999
r
2
=0,9999
r
2
2
4
3
2
1
0
3
6
9
12
15
95
90
85
80
75
70
5oC Y=91,0968 - 1,7419**X
10oC Y=86,0391 - 1,2175**X
65
60
2
=0,9540
r
=0,7770
r
2
55
50
3
6
9
Dias após a colheita
Am
Red
ST
SP
8
7
12
Y=7,3762 - 0,1897**X
Y=7,2862 - 0,2217**X
Y=6,9166 - 0,1017**X
Y=7,2064 - 0,1997**X
r 2=0,7162
r 2=0,4761
r 2=0,1825
r 2=0,2479
6
5
4
0
3
6
9
Dias após a colheita
12
0
15
15
F
Vitamina C - mg/100g MT
0
Vitamina C - mg/100g MT
Y=0,4323**X
Y=0,4244**X
Y=0,3431**X
Y=0,3761**X
Dias após a colheita
0
3
5
0
D
20
E
6
15
2
5oC Y=1,2503**X r =0,9999
10oC Y=1,5598**X r2=0,9984
25
Perda de Matéria Fresca – (%)
6
9
Dias após a colheita
Teor Relativo de Água – (%)
C
3
Am
Red
ST
SP
7
Perda de Matéria Fresca – (%)
A
3
80
75
6
9
Dias após a colheita
12
5oC
Y=68,7112 - 1,3512**X
r 2=0,8550
10oC
Y=75,2163 - 1,8134**X
r 2=0,3107
15
70
65
60
55
50
45
40
0
3
6
9
12
15
Dias após a colheita
Figura 1. Perda da massa fresca (%), teor relativo de água e teor de vitamina C em frutos de quiabo das cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet
(Red), Star of David (ST) e Mammoth Spinless (SP) (fresh matter loss (%), relative water content and vitamin C content in fruits of okra
cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 1A – Perda da massa fresca em frutos sem PVC
(%) (Fresh matter loss in fruits without PVC (%)); 1B – Perda de massa de matéria fresca em frutos com PVC (Fresh matter loss in fruits
with PVC (%)); 1C – Perda de massa de matéria fresca a 5 e 10oC (%) (Fresh matter loss in fruits at 5 and 10oC (%)); 1D – Teor relativo de
água em frutos sem PVC a 5 e 10oC (relative water content in fruits stored at 5 and 10oC without PVC); 1E - Teor de vitamina C (vitamin
C content); 1F – Teor de vitamina C a 5 e 10oC (content of vitamin C in fruits stored at 5 and 10oC). Janaúba, UNIMONTES, 2008.
da matéria fresca. Esses resultados são
concordantes com os de Finger et al.
(2008), Carvalho (2002) e Modolo et al.
(2000), que também observaram maior
perda de massa para os frutos armazenados a 10oC. A maior parte da perda
de massa foi devida à perda de água
ocasionada pela diferença de pressão
de vapor de água entre os ambientes interno e externo do fruto (Taiz & Zeiger,
1991). A redução da temperatura reduz
a atividade metabólica e a troca gasosa
14
com o meio reduzindo a respiração e
aumentando a conservação pós-colheita
de produtos hortícolas (Bower, 1998;
Carvalho, 2002).
A perda de massa da matéria fresca
aumentou durante o armazenamento dos
frutos de todas as cultivares, armazenados sem e com PVC (Figura 1A, 1B),
sendo muito superior nos frutos das
cultivares armazenadas sem PVC. Essa
maior eficiência no uso da embalagem
com PVC também foi verificada por Ta-
mura & Minamide (1984), por Modolo
et al. (2000) e por Finger et al. (2008).
A cv. Amarelinho apresentou redução
da perda de massa da matéria fresca em
aproximadamente 20% com o uso de
PVC em relação aos frutos acondicionados sem este filme polimérico (Finger
et al., 2008).
A embalagem de PVC agiu passivamente no controle da perda de massa
da matéria fresca, pois a barreira física
imposta pelo filme condicionou níveis
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento
A
B
Am
Red
2
Y=42,2588 - 0,3918**X =0,5103
r
42
41
38
2
r =0,9118
r =0,2799
35
37
25
36
15
35
33
0
3
6
9
Dias após a colheita
12
5
0
15
C
D
3
6
9
Dias após a colheita
12
15
2,5
Sem PVC e 5oC
Com PVC e 5oC
Sem PVC e 10oC
Com PVC e 10oC
2
Mancha - Nota
2
Manchas - Nota
2
Y=46,0853 - 1,3361**X
45
39
34
1,5
1
1,5
1
0,5
0,5
0
0
0
3
6
9
12
0
15
3
6
E
F
3,5
2
o
Sem PVC e 5 C
12
15
Cem PVC e 5oC
1,8
o
Sem PVC e 10 C
3
9
Dias após a colheita
Dias após a colheita
Sem PVC e 10oC
1,6
2,5
1,4
Injúria por Frio - Nota
Injúria por Frio - Nota
Y=32,7043 - 0,8211**X
Y=31,5590+9,6420**X1/2 -2,3978**X r2 =0,8234
Y=57,7600
SP
55
40
2,5
ST
65
Clorofila Total - ug/g MT
Clorofila Total - ug/g MT
43
2
1,5
1
0,5
0
0
3
6
9
Dias após a colheita
12
15
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0
3
6
9
12
15
Dias após a colheita
Figura 2. Teores de clorofila, manchas escuras e de injúria por frio em frutos de quiabo das cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star
of David (ST) e Mammoth Spinless (SP) (chlorophyll content, browning and chilling symptoms in okra fruits cvs. Amarelinho (Am), Red
Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 2A - Teores de clorofila total dos frutos armazenados (total chlorophyll
content in stored fruits); 2B – Teores de clorofila total das cultivares de quiabo em função dos dias após a colheita (total chlorophyll content
in cultivars of okra fruits stored at 5 and 10oC); 2C – Desenvolvimento de manchas escuras sem PVC a 5 e 10oC ao longo do período de
armazenamento (development of browning in fruits stored without PVC stored at 5 and 10oC); 2D – Desenvolvimento de manchas escuras
em frutos armazenados com PVC a 5 e 10oC (development of browning in fruits stored with PVC at 5 and 10oC); 2E – Desenvolvimento
de injúria por frio em frutos armazenados sem PVC a 5 e 10oC (development of chilling symtoms in fruits stored without PVC at 5 and
10oC); 2F – Desenvolvimento de sintomas de injúria por frio em frutos armazenados com PVC a 5 e 10oC (development of chilling injury
symptoms in fruit stored with PVC at 5 and 10oC). Janaúba, UNIMONTES, 2008.
elevados de umidade dentro da embalagem, havendo redução do gradiente de
pressão de vapor de água entre os frutos
e a atmosfera interna da embalagem,
reduzindo então, a perda de massa da
matéria fresca (Ben-Yehoshua, 1985;
Fonseca et al., 2000; Pesis et al., 2000).
Com relação aos frutos das cvs. não
embaladas, observou-se diferenças entre
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
os materiais, sendo que os frutos da cv.
Red Velvet apresentaram maior perda de
massa da matéria fresca e os frutos das
cvs. Amarelinho e Mammoth Spinless
perderam menos.
Houve redução linear do teor relativo de água, ao longo do armazenamento,
nos frutos armazenados sem PVC, nas
temperaturas de 5 e 10oC (Figura 1D).
Contrariamente, nos frutos armazenados com PVC, o teor relativo de água
manteve-se constante nas temperaturas
de 10 e 5oC, respectivamente, demonstrando maior eficiência. Nos frutos
armazenados sem PVC, a cv. Amarelinho apresentou maior teor de água e as
cvs. Red Velvet e Mammoth Spinless
os menores teores (Tabela 1). A maior
15
WF Mota et al.
3
Sem PVC
3
Red Velvet
2,5
Mammoth Spinless
2
1
0,5
0
Star of David
Mammoth Spinless
1,5
1
0,5
0
0
3
6
9
12
0
15
3
6
C
3
Sem PVC
15
Red Velvet
2,5
Injúria por frio - nota
Star of David
Mammoth Spinless
1,5
1
Com PVC
Amarelinho
Red Velvet
2
12
D
3
Amarelinho
2,5
9
Dias após a colheita
Dias após a colheita
Injúria por frio - nota
Com PVC
Red Velvet
2
1,5
B
Amarelinho
2,5
Star of David
Manhca - nota
Mancha - nota
A
Amarelinho
Star of David
Mammoth Spinless
2
1,5
1
0,5
0,5
0
0
0
3
6
9
12
15
0
3
Dias após a colheita
6
9
12
15
Dias após a colheita
Figura 3. Desenvolvimento de manchas escuras e injúria por frio em frutos de quiabo cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of
David (ST) e Mammoth Spinless (SP) armazenados a 5 e 10oC (development of browning and chilling symtoms in okra fruits cvs. Amarelinho (Am), Red Velvet (Red), Star of David (ST) and Mammoth Spinless (SP)); 3A – Manchas escuras em frutos sem PVC (browning
in fruits of okra without PVC); 3B – Manchas escuras em frutos com PVC (browning in fruits of okra with PVC); 3C –Injúria por frio em
frutos sem PVC (chilling symptoms in fruits of okra without PVC); 3D – Injúria por frio em frutos com PVC (chilling symptoms in fruits
of okra stored with PVC). Janaúba, UNIMONTES, 2008.
eficiência relativa dos frutos armazenados com filme plástico também foi
verificada por Finger et al. (2008), ao
trabalhar com a cv. Amarelinho.
Adicionalmente à perda de água,
ocorre aumento proporcional do teor de
fibras em função da murcha dos frutos
(Carvalho, 2002). Assim, a redução da
perda de água durante o armazenamento,
que foi atingida principalmente com o
uso de frutos embalados com PVC, é
fundamental para manter as qualidades
aparente e nutricional (Burdon & Clark,
2001).
Houve redução linear do teor de vitamina C nas temperaturas de 5 e 10oC
(Figura 1F). Esta mesma tendência foi
encontrada por Finger et al. (2008). No
entanto, de acordo com Paull (1999) e
Lee & Kader (2000), as maiores perdas
ocorreriam a 10oC, pois a vitamina C é
mais sensível à degradação quando as
hortaliças estão sujeitas a temperaturas
mais elevadas. Entretanto, as perdas
de vitamina C são maiores também em
frutos sob injúria por frio, e a destruição
16
do ácido ascórbico pode ocorrer antes
do surgimento dos visíveis sintomas de
chilling. A redução da temperatura de 10
para 5oC foi praticamente insignificante
na manutenção de maiores teores de
vitamina C, e a redução provavelmente
é devida à incidência de injúria por frio
nos frutos armazenados a 5oC (Lee &
Kader, 2000).
Foi observada redução linear do
teor de vitamina C em todas as cvs.
estudadas (Figura 1E). A cultivar Red
Velvet teria vantagem comparativa, pois
apresentou maior teor de vitamina C no
dia “0”. Entretanto, foi a cultivar que
apresentou maior perda desse nutriente
ao longo do período de armazenamento. Por outro lado, as cvs. Mammoth
Spinless e Star of David manifestaram
as menores perdas ao longo do período
de armazenamento.
Frutos de quiabo embalados com
PVC apresentaram em média 6,32
mg/100g de vitamina C, 40 μg/g de
clorofila total e 23,52 μg/g de clorofila
“a” , enquanto os frutos mantidos sem
embalagem apresentaram 5,69 mg/100g,
37,67 μg/g e 22,04 μg/g, respectivamente. As condições que favorecem menor
perda de água e murchamento resultam
em menor perda de vitamina (Lee &
Kader, 2000). Finger et al. (2008), ao
armazenar frutos da cv. Amarelinho,
observaram que os armazenados com
PVC apresentaram teores médios de
vitamina C superiores nas temperaturas
de 5 e 10oC, respectivamente.
Em geral, observou-se redução dos
teores de clorofila total ao longo do armazenamento (Figura 2A). Em quiabo,
a perda de clorofila e de coloração verde
são reflexos da senescência (Beaudry,
1999). Esta redução de clorofila total
é mais elevada na cultivar Red Velvet
(Figura 2B). Com relação à cv. Star
of David, houve aumento do teor de
clorofila total até o terceiro dia aproximadamente, porém deste dia em diante
houve redução. Houve manutenção do
elevado teor de clorofila total ao longo
do período de armazenamento na cv.
Mammoth Spinless, mantendo maior
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Conservação e qualidade pós-colheita de quiabo sob diferentes temperaturas e formas de armazenamento
Tabela 1. Valores médios do teor relativo de água dos frutos das cvs. de quiabeiro Amarelinho,
Red Velvet, Star of David e Mammoth Spinless embalados sem e com PVC (average of
relative water content in fruits of okra cultivars Amarelinho, Red Velvet, Star of David and
Mammoth Spinless stored with and without PVC). Janaúba, UNIMONTES, 2008.
Cultivar
Amarelinho
Red Velvet
Star of David
Mammoth Spinless
Teor relativo de água (%)
Sem PVC
Com PVC
80,85aB
92,25aA
75,41bB
92,30aA
77,58abB
93,28aA
76,01bB
92,33aA
As medias seguidas de pelo menos uma mesma letra maiúscula, nas colunas, e minúscula,
nas linhas não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey (means followed
by the same upper case letter in the column, and lower case in the row do not differ from
each other by Tukey test at 5%).
teor em relação às outras cultivares.
Não foi observado efeito da atmosfera modificada nem da baixa temperatura
no desverdecimento de frutos de quiabo,
como observado por Pariasca et al.
(2001) em que, ao realizar a combinação
atmosfera modificada com baixa temperatura, houve redução da degradação
de clorofila em ervilha. Provavelmente,
este fato ocorreu em função da elevada
permeabilidade a gases verificada nos
filmes poliméricos de PVC (Robertson,
1993; Miller & Krochta, 1997). Apesar
de Finger et al. (2008) terem verificado eficiência no controle da perda de
clorofila com o uso da atmosfera modificada, concluiu-se que controle maior
é obtido com a redução da temperatura.
Entretanto, Carvalho (2002) também
verificou que temperaturas de 5 e 10oC
não influenciaram nos teores de clorofila, mesmo estas temperaturas causando
injúria por frio. Segundo Hakim et al.
(1999), a destruição de clorofila acontece como resultado do chilling, que
ocasiona peroxidação deteriorativa das
células da membrana.
Observa-se pelas Figuras 2C e 2D
que os frutos armazenados nas temperaturas de 5 e 10oC, embalados ou não
com PVC, mantiveram ótimo estado de
conservação até três dias após a colheita, evidenciando ausência de sintomas
de injúria por frio e escurecimento,
obtendo portanto a nota “0”. Finger et
al. (2008) verificaram esta eficiência até
o segundo dia após o armazenamento
ao trabalhar com a cv. Amarelinho nas
mesmas temperaturas, prolongando-se
a eficiência com a temperatura de 10oC
até o 10o dia.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Os frutos armazenados a 5oC com
PVC mantiveram ótimo estado de conservação até o sexto dia. Observou-se,
de maneira geral, maior incidência de
injúria por frio e escurecimento nos frutos armazenados sem PVC. Com relação
às temperaturas, a incidência foi idêntica
até 3 dias após a colheita e destes pontos
em diante os frutos armazenados a 5oC
passaram a manifestar maior incidência
de injúria e escurecimento. Essa maior
eficiência dos frutos armazenados em
filmes poliméricos no controle da injúria
por frio, e maior incidência nos frutos
armazenados a 5oC, foi verificada por
Della-Justina (1998), Carvalho (2002),
Tamura & Minamide (1984). Segundo
Awad (1993), os sintomas de injúria por
frio se tornam mais severos ainda quando os frutos são transferidos da temperatura injuriante para ambiente com
temperaturas superiores, fato este que
foi observado por Carvalho (2002).
Com relação às cultivares, foi verificado ótimo estado de conservação com
ausência de injúria e escurecimento em
todas as cultivares, sem ou com filme
polimérico de PVC até 3 dias após a colheita (Figura 3). A cultivar Red Velvet,
armazenada com PVC, manteve ótimo
estado de conservação durante o armazenamento pós-colheita com o menor
índice de escurecimento e injúria por
frio. Frutos como maçã e melão também
apresentam diferença varietal em relação ao chilling (Paull, 1999).
Tem sido demonstrado que elevados
teores de CO2 e reduzidos de O2 são
benéficos no alívio dos sintomas de
chilling em produtos sensíveis a esse
estresse, como lima, abacate, manga
e pepino (Pesis et al., 2000; Ju et al.,
2000), além de ter manifestado eficiência no presente experimento ao se
usar filme de PVC. São relatados ainda
o efeito do acúmulo de etanol e acetaldeído em frutos embalados em filmes
não perfurados no alívio dos sintomas
do chilling (Fernández-Trujilio et al.,
1998b). Por outro lado, foi sugerido
que a redução da transpiração tem efeito
mais pronunciado na redução da injúria
por frio (Hakim et al., 1999).
A temperatura de 10oC e o uso da
embalagem de PVC foram mais eficientes na conservação e qualidade póscolheita de frutos de quiabo, com maior
eficiência no controle da perda de matéria fresca do fruto, manutenção do teor
relativo de água no pericarpo, menor
incidência de injúria por frio e escurecimento. A cv. Amarelinho demonstrou
bom estado de conservação com menor
perda de matéria fresca e manutenção de
maior teor relativo de água, enquanto a
cv. Red Velvet apresentou, de maneira,
geral menor conservação.
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Oliveira3
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70351-970 Brasília-DF; 2Faculdade da Terra de Brasília, Quadra 203, Área Especial, Lote 32, 72610300 Recanto das Emas-DF; 3Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - Núcleo de Engenharia de Água e Solo, C. Postal 28, 44380000 Cruz das Almas-BA; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]
1
ABSTRACT
RESUMO
The objective of the present study was to evaluate the effects of
crop residue covers (0.0; 4.5; 9.0; 13.5 t ha-1 millet dry matter) on
water use and production of onion cultivated in no-tillage planting
system (NT) as compared to conventional tillage system (CT). The
study was carried out at Embrapa Hortaliças, Brazil, under the typical
Savanna biome. Irrigations were performed using a sprinkle irrigation
system when soil-water tension reached between 25 and 30 kPa. The
experimental design was randomized blocks with three replications.
Total net water depth applied to NT treatment was 19% smaller than
the CT treatment, however, water savings increased to 30% for the
first 30 days following seedlings transplant. Crop biomass, bulb size
and yield, and rate of rotten bulbs were not significantly affected
by treatments. The water productivity index increased linearly with
increasing crop residue in NT conditions. Water productivity index
of NT treatments with crop residue was on average 30% higher than
that in the CT system (8.13 kg m-3).
Uso de água e produção de cebola em sistemas de plantio
direto e convencional
Keywords: Allium cepa L., reduced tillage, water use efficiency,
irrigation, Savannah.
Palavras-chave: Allium cepa L., cultivo mínimo, eficiência do uso
de água, irrigação, Cerrado.
O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do nível de
palhada no solo (0,0; 4,5; 9,0; 13,5 t ha-1 de matéria seca de milheto)
em sistema de plantio direto (PD) sobre o uso de água e produção de
cebola, tendo como controle o sistema de plantio convencional (PC).
O ensaio foi conduzido na Embrapa Hortaliças, em região típica do
bioma Cerrado. As irrigações foram realizadas por aspersão a todo o
momento que a tensão de água no solo atingiu entre 25 e 30 kPa. O
delineamento experimental foi blocos ao acaso com três repetições.
A lâmina de água aplicada em PD foi de até 19% menor que no tratamento PC durante o ciclo da cultura, sendo que durante os primeiros
30 dias do ciclo após o transplante das mudas a economia chegou a
30%. O desenvolvimento de plantas, o tamanho e o rendimento de
bulbos, e a taxa de bulbos podres não foram afetados significativamente pelos tratamentos. O índice de produtividade da água no PD
aumentou linearmente com o aumento do nível de palhada, sendo que
o índice nos tratamentos PD com palhada foi em média 30% maior
que em PC (8,13 kg m-3).
(Recebido para publicação em 23 de outubro de 2008; aceito em 11 de fevereiro de 2010)
(Received on October 23, 2008; accepted on February 11, 2010)
T
he onion (Allium cepa L.) is the
third vegetable crop of economical
importance in Brazil with a total
harvested area of 62,750 hectares and
a total production of 1.3 million tons
(Embrapa Hortaliças, 2008). Generally
speaking, the use of conventional tillage
system (CT) for onion production
predominates in Brazil, however, due to
its benefits the no-tillage system (NT) has
been adopted in some production areas
of Brazil, mainly, in Santa Catarina, São
Paulo, Minas Gerais and Goiás States
(Madeira & Oliveira, 2005).
According to Gilley et al. (1990) and
Derpsch et al. (1991), the advantages of
NT include reduced machinery traffic,
soil structure improvement, increasing
infiltration and soil-water retention,
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
water loss reduction by evaporation
and runoff, superior crop root system
development, improved control of
weeds, erosion processes reduction, and
increased water use efficiency.
Field research on the use of NT
systems for vegetable production is
scarce and management practices that
include irrigation frequency and amount
of applied water are, in general, the same
as recommended for CT. As a result of
the inadequate crop water management
it is common to notice higher intensity
of diseases in NT which reduces crop
yield and harvest quality affecting farm
revenue reducing loss of the known
benefits obtained with this planting
system.
Water conservation with the NT
systems mainly occurs due to the crop
residues left on soil surface which
act as a physical barrier against water
evaporation (Derpsch et al., 1991).
During the early development stage,
onion plants only cover a fraction
of the soil surface, therefore, soil
evaporation accounts for most of the
crop evapotranspiration. Then, plant
water use during this stage is less mainly
for crops with lower capability of soil
coverage (Stone & Moreira, 2000).
On the other hand, the transpiration
process becomes predominant as plants
grow and cover larger fractions of
soil surface. According to Allen et al.
(1998), crop evapotranspiration can
be reduced in as much as 25% during
the early stage and between 5 and 10%
19
WA Marouelli et al.
during the maximum development stage
for a condition of 50% of surface soil
coverage with crop residues. Landers
(1995) reported water conservation in
NT varying between 10 and 20% in
oxysols of the Central Brazil.
The objective of the present study
was to quantify both irrigation water use
and production of onion when cultivated
in NT systems with different levels of
crop residue covers as compared to CT,
in a typical condition of climate and soil
in the Brazilian Savannahs.
MATERIAL AND METHODS
Field plots were set up in the Embrapa
Hortaliça’s experimental station,
Brasília, Brazil, during the dry season
of 2007 in the area for the management
of NT. The soil was a typical dystrophic
Red Oxysol of Savannah with clay
texture and water retention of 1.2 mm
cm-1 (Embrapa, 2006). According to the
Köppen classification, the climate is a
Cwa, i.e., temperate humid with dry
winter and hot summer.
The experimental design was
randomized blocks with five treatments
and three replications. The treatments
consisted of four rates of millet crop
residue covering the soil (0.0; 4.5; 9.0;
13.5 t ha-1 of dry mass) in NT and one
control treatment without millet residue
(CT). In order to build up the soil
cover, the millet crop was cultivated at
different sowing densities in the plots.
At harvest and following millet dry
mass plots sampling a final adjustment
was done by adding or subtracting crop
residue to match each treatment level
before transplanting of onion seedlings.
In all NT0.0t/ha plots the millet crop was
not cultivated, however, a minimum of
natural vegetation was kept while millet
was grown in the other plots. Relatively
speaking, the NT crop residue rates
proportionated a soil cover of about 0,
30, 60 and 90%, respectively, according
to visual evaluation by three judges.
A population of onion-type “Baia
Periforme” (CNPH 6400) was cultivated,
belonging to the Breeding Program of
Embrapa, which is ending development.
Seedlings were grown in soil beds
inside a greenhouse and transplanted
to plots by middle June in a 0.25-m x
20
0.07-m spacing, providing a stand of 476
thousand plants per hectare. The total
area of each plot was 38.4 m2 (6.4 x 6.0
m) from which 12.8 m2 were harvested
for evaluation of production variables.
In all NT plots the seedlings were
transplanted in small furrows (0.05 m
wide, and 0.08 m deep) mechanically
opened. On the other hand, the CT
treatment consisted of the mechanical
operations of plowing, grading,
furrowing, fertilization and transplant.
To avoid soil compaction in NT plots, a
4.0-m buffer surrounding CT plot was
left. Preplanting fertilization was done
according to soil chemical analysis
with application of 1,000 kg ha-1 of the
formula 04-30-16, and for side dressing
fertilization 600 kg ha-1 of the formula
20-0-20 split in three applications of 200
kg ha-1 at 20, 40, and 60 days following
seedlings transplant was applied. The
remaining cultural practices followed
the recommendations by Oliveira &
Boiteux (2008).
A microsprinkler irrigation system
was used in order to decrease plot size.
The emitters were set up at a 2.0-m x
2.0-m spacing with the application rate
of 16.3 mm h-1 which resulted in full
surface wetting cover. The Christiansen
coefficient ranged between 80% and
90% as a function of wind conditions.
Irrigation events followed a schedule
based on soil-water tension between 25
and 30 kPa at crop 50% effective rooting
depth (Marouelli et al., 2005), i.e., 0.08
m from transplant to beginning of bulb
forming, and 0.15 m afterward. The
soil water tension was measured using
tensiometers installed one per plot. The
depth of applied water in each irrigation
event was sufficient to bring soil moisture
content to field capacity (6 kPa) at the
onion effective rooting profile. The
effective root depth was considered as
the profile depth with 80% of onion
roots concentration. The effective root
depth was visually evaluated by opening
a trench perpendicular to crop rows,
in the buffer surrounding of CT plots.
The crop irrigation events ceased when
about 50% of leaves senesced and the
tops have fallen naturally (Marouelli et
al., 2005).
The crop was harvested 111 days
from seedlings transplant. The following
crop variables were evaluated: number
and average weight of non-marketable
bulbs (<35 mm); number and average
weight of marketable bulbs (class 2:
diameter from 35 - 50 mm, class 3: 5070 mm, class 4: 70-90 mm, and class 5:
>90 mm); and canopy biomass (13% wet
basis). The crop production variables
were evaluated after bulb curing 30 days
after harvest. To access post-harvest
conservation of bulbs, the percentage
of number of rotten bulbs caused by
bacteria and fungus at 30 and 60 days
after harvest were evaluated.
The water productivity index was
derived from bulb yield and total
depth of applied water which is given
by the ratio of marketable bulb yield
to the volume of water effectively
applied through irrigation per unit area
(Jensen, 2007). The water applied was
determined based on the average depth
from four pluviometers diagonally
installed above the crop canopy in one
plot at each treatment.
The ANOVA was applied to the
data and the variables affected by the
different crop residue covers in NT were
further analyzed by a linear regression
using orthogonal polynomials. The
multiple comparison Dunnett “t” test
was used to confront CT to NT treatment
averages at 5% maximum level of
significance.
RESULTS AND DISCUSSION
The total rainfall occurred during the
test period was 4 mm, which probably
had no effect on the results. Throughout
the entire crop cycle irrigation events
varied between 31 and 39 for NT, and
for CT totaled 39 events (Table 1).
Correspondently, the total depth of
water applied during crop cycle ranged
between 525 and 625 mm for NT, and
totaled 646 mm for CT (Table 1). Hence,
compared to CT the water savings with
NT were as much as 19%. Stone &
Moreira (2000) and Marouelli et al.
(2006) also verified significant water
savings in studies with soil surface
coverage with crop residues. Landers
(1995) and Allen et al. (1998) reported
reduction in the average water use of
15% in NT systems of different crops.
The current reduction in water
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems
Table 1. Number of irrigations and water depth effectively applied to onion cultivated in no-tillage (NT), with levels of crop residue cover
up to 13.5 t ha-1, and conventional tillage systems (CT) during the first 30 days after seedlings transplant, throughout crop cycle, and during
the last 30 days of irrigation, and water savings in NT treatments compared to CT (quantidade total de irrigações e lâmina de água efetivamente aplicada na cultura de cebola em sistemas de plantio direto (NT), com níveis de palhada até 13,5 t ha-1, e de plantio convencional
(CT) durante os primeiros 30 dias após o transplante de mudas, ao longo do ciclo e durante os últimos 30 dias de irrigação, e economia do
uso de água nos tratamentos NT em relação ao CT). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
No. of
Treatment
irrigations
NT0.0 t/ha
NT4.5 t/ha
NT9.0 t/ha
NT13.5 t/ha
CT
First 30 days
Last 30 days
Water
Water
depth (mm) depth (mm)
Water
Water
savings (%) savings (%)
39
35
33
31
39
117
97
91
85
121
applied with the NT system was twice
higher than that observed in studies by
Marouelli et al. (2006) with processing
tomatoes under similar soil and climate
conditions. Considering both crop
soil coverage capabilities, the water
losses by evaporation of onion in CT
are proportionally higher than that of
processing tomatoes cultivated in NT
(Allen et al., 1998).
The water savings in NT are due to
effect of the soil coverage which works
as a barrier preventing water evaporation
from soil surface. According to Stone
& Moreira (2000), the crop residue
cover initially acts in the soil-water
evaporation process by reducing the
305
295
289
281
312
2
5
7
10
--
3
20
25
30
--
daily evaporation rate due to higher solar
radiation reflection, and consequently,
the crop evapotranspiration.
If considered only the first 30 days
after seedling transplant, the depth of
water required for NT treatments with
residue covers was reduced between
20 and 30% as compared to CT. On
the other hand, water savings in NT
treatments were smaller for the last 30
days of irrigation ranging between 5 and
10% as compared to CT (Table 1). The
most water savings in NT treatments
during the onion initial development
stage were due to the small fraction
of soil covered by plants and to the
fact surface evaporation accounts for
11,0
-3
iWP (kg
) m-3)
iWPm(kg
10,5
iWP = 9.45 + 0.1084X
R² = 0.71
10,0
9,5
9,0
0,0
4,5
9,0
Cover crop residue (t ha-1)
Cover crop residue (t ha-1)
13,5
Figure 1. Water productivity index (iWP) for onion crop according to the amount of crop
residue covering the soil in no-tillage system (função de resposta para índice de produtividade da água (iWP) para a cultura de cebola, conforme a quantidade de palhada em sistema
de plantio direto). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Entire cycle (111 days)
Water
depth (mm)
Water
savings (%)
625
564
540
525
646
3
13
16
19
--
the most part of irrigation demand.
At the end of crop cycle, when the
plants cover most of the soil surface,
transpiration becomes the major process
in transferring water; hence, water
saving is attenuated (Derpsch et al.,
1991; Stone & Moreira, 2000).
Neither NT nor CT treatments
affected significantly (p>0.05) the crop
biomass production (in average 2.14
t ha-1), total number of bulbs per unit
area (in average 44.3 bulbs m-2), and the
weight of marketable bulbs (in average
137.4 g). Consequently, bulb yields of
class 2 (in average 2.4 t ha-1), class 3
(in average 33.7 t ha-1), and class 4 (in
average 20.1 t ha-1), and marketable
bulbs (in average 56.2 t ha-1) were not
affected by the treatments. The bulb
yield of class 5 was very small.
Apparently, the results of bulb
yields reported above differ from
those reported by Madeira & Oliveira
(2005), who showed significant
differences in onion bulb yield for
both NT and CT. The possible lack of
yield differences between both NT and
CT treatments under the current study
was due to individualized irrigation
water management by treatment, with
irrigations carried out at the right time
(soil-water tension 25-30 kPa) and in
adequate amount to meet the crop water
needs, i.e., no excess or shortage. On the
other hand, Madeira & Oliveira (2005)
applied uniform irrigation events for
both NT and CT planting systems, which
may have promoted conditions of excess
or shortage of water for either system,
hence affecting bulb yield.
21
WA Marouelli et al.
Similarly to the yield component
variables, NT and CT treatments did
not significantly affect the postharvest
conservation of bulbs as evaluated by
the number of rotten bulbs at 30 days
(in average 3.4%) and 60 days (in
average 12.4%) of storage. According to
Marouelli et al. (2005), excess irrigation
affects onion bulb storage conservation,
in special during maturation crop
development stage. In the present study,
however, despite of the total depth of
irrigation water have varied between
treatments, the conditions of soil
moisture that the plants were submitted
in all treatments were similar. Therefore,
no onion bulb storage conservation
variation was expected as a function of
treatments.
The water productivity index was
significantly affected by treatments
(p<0.05). By the Dunnett test (p<0.05),
the water index-3 of the control treatment
CT (8.13 kg m ) did not differ from the
NT0.0t/ha, but was statistically less than
NT treatments with crop residues.
The water productivity index
increased linearly with increasing level
of crop residues in NT system, ranging
from 9.07 to 10.67 kg m-3 (Figure 1)
showing no significance (p<0.05) for
polynomial coefficients of second
and third order. Based on the adjusted
regression equation an increase of 1.08
kg of onion per 10 m3 of water was
observed for each ton of crop residue
spread over the soil surface.
The cultivation of onion crop in NT
with crop residue levels between 4.5 and
13.5 t ha-1 averaged 30% more water
use efficient than CT with similar bulb
22
yield. This finding agrees with Stone
& Moreira (2000) and Marouelli et al.
(2006) studies who found that besides
reducing soil evaporation losses, the NT
system is also more efficient in water
use by the crop.
In summary, plant growth, bulb
production and postharvest conservation
in NT treatments did not differ from
that observed in control treatment CT,
however, the higher the crop residue
level the lower the irrigation water
demand. Therefore, the results allow
inferring that surface soil coverage
with crop residues endorses effective
reduction in onion crop water use with
maintenance of high levels of bulb
yield and a considerable increase in the
water productivity index for the case
irrigations are applied at both right time
and amount.
ACKNOWLEDGEMENTS
Thanks to Dr. Valter Rodrigues
Oliveira, researcher responsible for the
Onion Breeding Program of Embrapa,
for providing seeds from advanced
onion population, and to CNPq, for
partial funding of this research.
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Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto1
Raphael Augusto de C e Melo²; Nuno R Madeira³; José Ricardo Peixoto4
²Embrapa Cerrados, C. Postal 08233, 73310-970 Planaltina-DF; ³Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 BrasíliaDF; 4UnB-FAMV; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O experimento foi conduzido no delineamento de blocos
casualizados, em arranjo de parcelas subdivididas com três repetições. As parcelas foram constituídas por plantas de cobertuta [milheto
(Pennisetum glaucum), milho (Zea mays), consórcio de milho com
mucuna-preta preta (Estilozobium aterrimum), sorgo-sudão (Sorghum bicolor X S. sudanense)] além do plantio convencional (PC)
(solo preparado com aração e gradagem após pousio). As cultivares
Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy e
o material HECB-01-06, constituiram as sub-parcelas. Não houve
diferença significativa entre o plantio direto (PD) e o PC quanto à
produção de brócolos. Houve diferença significativa entre cultivares
para as variáveis avaliadas. Com relação às cultivares, Avenger obteve
maior produtividade (13,2 t ha-1), peso médio de inflorescências (458
g), diâmetro (15,3 cm) e melhor qualidade das inflorescências (índice
de aspecto visual de 4,0). Portanto, considerando-se as vantagens do
PD com a manutenção de níveis de produtividade equivalentes às
obtidas no PC, deve-se recomendar sua adoção.
Single head broccoli cultivars production in summer under
no-tillage
Palavras-chave: Brassica oleracea var. italica, sistemas de cultivo,
época de plantio, produtividade.
Keywords: Brassica oleracea var. italica, crop systems, planting
season, yield.
The objective of this work was to evaluate single head broccoli
cultivars production in summer under no-tillage (NT). The
experimental design was randomized blocks with a split-plot design
and three replicates. The plots were constituted by the cover crops:
pearl millet (Pennisetum glaucum), corn (Zea mays), a mix of corn
and black velvet-bean (Estilozobium aterrimum), sorghum sudangrass
(Sorghum bicolor X S. sudanense), besides the conventional tillage
(CT) - soil after fallow prepared with plow and disk harrow. Cultivars
Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy and
the material HECB-01-06, represented the sub-plots. No differences
were found among NT and CT concerning broccoli yield. There were
significant differences between cultivars for the evaluated variables.
The cultivar Avenger presented the highest yield (13.2 t ha-1),
average weight (458 g), diameter (15.3 cm) and quality of the curds
(index for visual aspect of 4.0). Therefore, considering the benefits
proportionated by NT, with the maintenance of high productive levels,
equivalent at CT, its adoption is recommended.
(Recebido para publicação em 28 de novembro de 2008; aceito em 19 de fevereiro de 2010)
(Received on November 28, 2008; accepted on February 19, 2010)
O
brócolos (Brassica oleracea L.
var. italica Plenck) com uma única
inflorescência verde foi introduzido nos
EUA por imigrantes italianos durante
o início do século 20 e se tornou uma
hortaliça muito popular, espalhando-se
pelo mundo nos últimos 50 anos (Dixon
& Dickson, 2006). Por ser adequado ao
congelamento e comercialização em
balcões frigoríficos, o brócolos do tipo
inflorescência única apresenta importância crescente no mercado brasileiro
(Melo et al., 1994). As cultivares do
tipo inflorescência única utilizadas no
Brasil, em sua totalidade, são originárias
de países de clima temperado e por isso
apresentam dificuldade de adaptação
às condições climáticas, especialmente
no verão.
No Brasil, o plantio de verão geralmente é problemático, devido ao
excesso de chuvas e calor durante o
ciclo, com maior incidência de pragas
e doenças, especialmente na época da
colheita. O produto final colhido sob
essas condições tem aspecto comercial
inferior, com cabeças menores, mais
leves, de coloração mais clara, granulação maior, mais grossa, de pior textura
e menor conservação pós-colheita (Tavares, 2000).
A avaliação do potencial de cultivares em diferentes regiões agroclimáticas,
além de proporcionar sustentabilidade
a pesquisas subseqüentes, é imprescindível para o aumento da rentabilidade
das culturas, diretamente relacionado
ao uso de cultivares geneticamente
superiores em termos de produtividade
e outras características agronômicas
relevantes (Santa Catarina, 2001). O uso
de cultivares tolerantes a temperaturas
altas permite a ampliação das regiões
de cultivo, épocas de plantio e período
de oferta do produto no mercado, além
de aumentar a rentabilidade da cultura
(Trevisan et al., 2003).
Freitas (2002) define o Sistema
Plantio Direto (SPD) como um sistema
de manejo sustentável do solo e da água
que visa otimizar a expressão do potencial genético das plantas cultivadas,
compreendendo um complexo integrado
de processos fundamentado em três
Parte da dissertação do primeiro autor apresentada ao programa de pós-graduação na UnB, para obtenção do título de Mestre em Ciências
Agrárias, área de concentração em Produção Vegetal.
1
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
23
RAC Melo et al.
requisitos básicos: o revolvimento mínimo do solo, restrito à cova ou sulco de
plantio; a diversificação de espécies pela
rotação de culturas; e a manutenção de
resíduos vegetais com o uso de culturas
específicas para formação de palhada na
superfície do solo.
Em hortaliças, é complexo o estabelecimento de um SPD a longo prazo,
à semelhança do que ocorre em grãos.
Tem-se verificado o plantio de culturas
sobre a palhada, sem revolvimento do
solo (aração e gradagem ou encanteiramento), porem não permanentes,
devido às características intrínsecas à
olericultura, quais sejam: mercado muito dinâmico, com mudanças na tomada
de decisão quanto a “o que plantar” e
“quando plantar”; baixa produção de
palhada pela grande maioria das hortícolas para permanecer com o SPD;
adaptabilidade restrita ao plantio sem
revolvimento para espécies como, por
exemplo, cenoura e batata; muitas unidades com área restrita e, consequentemente, uso intensivo da propriedade. Por
outro lado, têm-se alguns facilitadores
para efetuar o cultivo de hortaliças em
plantio direto, sem revolvimento, ainda
que não se atinja o estágio de um sistema
de plantio direto em longo prazo, dentre
eles: a necessidade de mitigar os processos erosivos causados pelo excessivo
revolvimento de solo na época chuvosa
nos sistemas convencionais; a oportunidade de efetuar rotação de culturas,
reduzindo os problemas fitossanitários;
a amenização dos picos de temperatura
proporcionados pela palhada, conferindo melhores condições de microclima
para algumas espécies hortícolas; a
facilidade de produzir palhada na época
das chuvas para a produção de hortaliças
com irrigação na época seca, prática
já utilizada na maioria das unidades
produtivas.
Um dos fatores limitantes para a
adoção do SPD em hortaliças é a limitada diversidade botânica nas espécies
de sucessão/antecipação à cultura a ser
explorada economicamente. Isso tem
causado um aumento na incidência de
pragas e doenças, principalmente as de
solo, no Cerrado. Como alternativa,
tem-se o uso de plantas de cobertura,
com ciclos reduzidos e tolerância à seca,
permitindo aproveitar a umidade resi24
dual; estabelecimento de cobertura com
resíduos (palhada) persistentes e que
gerem renda, direta ou indiretamente via
transformação agroindustrial (Landers,
1995; Spehar & Landers, 1997).
A definição de prioridade na seleção
das espécies de cobertura deve basear-se
no seu rápido estabelecimento, tolerância ao déficit hídrico, produção de
biomassa, disponibilidade, fertilização
e ciclagem de nutrientes de utilização
humana e animal. As espécies de cobertura visam preencher o vazio existente
na entressafra, com o aproveitamento do
resíduo de umidade em antecipação ou
sucessão ao cultivo principal (Spehar &
Lara Cabezas, 2001). Outra importante
função das plantas de cobertura, principalmente na horticultura, é que estas
podem modificar as variações de temperatura no interior do solo, particularmente próximo da superfície, contribuindo
para um melhor desenvolvimento das
plantas e incremento produtivo. No
verão, temperaturas registradas às 14
horas, na superfície do solo, freqüentemente excedem 40ºC no PC, ficando em
torno de 35 e de 30ºC, respectivamente,
no PD (Sidiras & Pavan, 1986), citados
por Gasparim et al., 2005). O objetivo
deste trabalho foi avaliar a produção de
cultivares de brócolos de inflorescência
única no verão em PD estabelecido
durante um ano agrícola.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido no campo
experimental da Embrapa Hortaliças, a
15º56’00’’ latitude sul, 48º08’00’’ longitude oeste e altitude 997,6 m, durante
o verão, de novembro de 2006 a março
de 2007. O solo foi classificado como
Latossolo Vermelho Escuro Álico, textura média (Embrapa, 1999). A análise
química desse solo, realizada antes da
implantação do experimento, revelou:
pH (água)= 5,75; em cmolc dm-3: Al=
0,2; Ca+MG= 5,4; Ca= 4,2 e MG= 1,2;
e em dm-3: P= 18,5; K= 270 e 46,60 g
dm-3 de matéria orgânica.
Utilizou-se o delineamento de blocos
casualizados em parcelas subdivididas
com três repetições. Cada planta de cobertura, milheto (Pennisetum glaucum),
milho (Zea mays), consórcio de milho
com mucuna-preta preta (Estilozobium
aterrimum) e sorgo-sudão (Sorghum
bicolor X S. sudanense), além do cultivo
convencional (solo após pousio preparado com aração e gradagem), constituiu
uma parcela, sendo nelas distribuídas as
cultivares Avenger, Demoledor, Grandisimo, Green Storm Bonanza, Legacy
e o material HECB-01-06 (híbrido
experimental em fase de desenvolvimento do programa de melhoramento
da Embrapa Hortaliças), constituindo
as sub-parcelas. A unidade experimental
foi composta de 14 plantas (duas linhas
com sete plantas cada), arranjadas em
linhas simples, em área total de 4,9 m²,
plantadas no espaçamento de 0,7 m
entre linhas e 0,5 m entre plantas. Os
dados foram obtidos de 8 plantas úteis
por parcela.
O semeio das plantas de cobertura
foi feito a lanço em 1 de novembro de
2006, conforme recomendações de Burle et al. (2006). Aplicou-se aos 37 dias,
em função de dificuldades operacionais,
50 kg ha-1 de N, fazendo-se uso de uréia,
distribuída a lanço, visando correção de
deficiência nutricional. A área destinada
ao sistema convencional permaneceu
em pousio durante o desenvolvimento
das plantas de cobertura. O manejo das
plantas de cobertura foi realizado em
27 de dezembro de 2006 (57 dias após
semeadura), com o implemento Trimax,
que consiste num picador/desintegrador
utilizado para destruição de restos culturais. Foram retiradas amostras das palhadas das plantas de cobertura para análise
de matéria seca, com três repetições por
parcelas, utilizando um quadrado de 1
x 1 m e acondicionamento em sacos,
pesados e secos em estufa a 65ºC, até
peso constante após 72 horas.
O preparo do solo com aração e gradagem para o sistema convencional, que
se encontrava em pousio quando do desenvolvimento das plantas de cobertura,
ocorreu no mesmo dia do manejo destas.
A semeadura do brócolos foi realizada
em 8 de dezembro de 2006, utilizando
o substrato comercial Plantmax. A irrigação por microaspersão foi empregada
até o momento do transplante. Foram
abertas covas para o transplante, com
diâmetro de 15-20 cm e profundidade de
10 cm em 28 de dezembro. A adubação
de base foi de 2 t de cama de frango, 60
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto
kg ha-¹ de N, 400 kg ha-¹ de P2O5, 150
kg ha-¹ de K2O e 3 kg ha-¹ de B, incorporados nas covas, de acordo com as
recomendações de Trani et al. (1996). O
transplante ocorreu no dia 16 de janeiro
de 2007, vinte dias após o manejo das
plantas de cobertura.
Durante a condução do experimento, foram realizadas adubações em
cobertura com aplicações parceladas
de 200 kg ha-1 de N, aos 24 dias após o
transplante (DAT) e no início da emissão
da inflorescência, aos 42 DAT, além de
uma adubação foliar com molibdênio
aos 36 DAT. Os demais procedimentos
fitotécnicos para o controle fitossanitário e condução do experimento foram
os normalmente recomendados para a
cultura.
Foram colhidas as inflorescências
centrais, com corte na base da primeira
folha no momento em que a inflorescência atingia seu tamanho máximo, ainda
compacta e com grânulos bem fechados
(Seabra Júnior, 2005). A colheita iniciou
aos 57 DAT, finalizando aos 98 DAT,
realizando-se duas colheitas semanais.
Foram avaliados a produtividade total
em t ha-1, produtividade comercial (plantas com peso acima de 100 g e índice de
aspecto visual com nota mínima 2) em
t ha-1, peso médio (g), diâmetro (cm),
granulometria (mg), índice de aspecto
visual das inflorescências, temperatura
do solo, primeira colheita realizada,
ciclo médio e distribuição semanal da
colheita. Determinou-se o índice de
aspecto visual de inflorescências de brócolos, baseado nos defeitos descritos na
classificação de couve-flor do programa
brasileiro para a melhoria dos padrões
comerciais e embalagens de hortigranjeiros da CEAGESP (2000). Com esta
finalidade empregou-se uma escala de
notas variando de 1 a 5, onde 1= extremamente defeituosas, não comerciais;
2= comerciais defeituosas; 3= moderadamente defeituosas; 4= levemente
defeituosas; 5= sem defeitos aparentes.
A granulometria das inflorescências foi
avaliada retirando-se três inflorescências
de cada repetição. Avaliou-se a correlação entre o peso e o tamanho dos botões
florais, de modo a facilitar a avaliação
da granulometria, tanto para este trabalho como para trabalhos futuros com
brócolos de inflorescência única. As inHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
florescências foram divididas em quatro
quadrantes, dos quais foram retirados
10 botões florais, totalizando 40 botões,
que foram pesados e medidos através de
paquímetro digital e balança de precisão.
Ainda, tomou-se o peso de 60 botões florais escolhidos ao acaso, divididos em 6
grupos de 10. Foi calculada a correlação
entre altura dos 40 botões e peso dos 100
botões retirados, em uma escala de –1
a 1. Assim, quanto mais próximo de 1,
maior a correlação entre altura e peso
dos botões florais. As leituras de temperatura do solo foram realizadas durante
a fase de expansão e desenvolvimento
das folhas, segundo Kimoto (1993). As
medições foram realizadas às 14 h no
centro das parcelas (plantas de cobertura) em cada repetição, sendo medidas
à superfície e nas profundidades de 5,
10, 15 e 20 cm.
Os dados originais foram submetidos à análise de variância ao nível de
5% de probabilidade. As médias foram
comparadas, entre si, utilizando o teste
de Scott-Knott. Foi utilizado o Software
Sisvar (Ferreira, 1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas de cobertura avaliadas
obtiveram baixas produtividades de matéria seca, quando comparadas a resultados obtidos em condições semelhantes
no Cerrado, acarretando em menor permanência de seus resíduos sobre o solo.
Em regiões e em épocas de cultivo onde
temperatura e umidade são altas, como
no verão do Cerrado, Seguy et al. (1997)
indicam a necessidade de 11 a 12 t ha-1
de matéria seca produzidas anualmente
para o cultivo de grãos, devido à rapidez
de decomposição da palhada. A matéria
seca atingiu 4,4 t ha-1 para o milho e 4,3
t ha-1 para o sorgo-sudão, 3,8 t ha-1 para o
consórcio de milho com mucuna-preta e
3,1 t ha-1 para o milheto. Esses resultados
podem ser explicados pelo manejo das
plantas de cobertura, que foi realizado
aos 57 DAS (dias após semeadura). O
manejo efetuado em um período curto
se deve à necessidade de uso intensivo
de uma mesma área pelo produtor de
hortaliças, com vários ciclos culturais
durante o ano, o que difere do produtor
de grãos. Além disso, um dos fatores
que pode ter contribuído para a menor
permanência de resíduos foi o tipo de
implemento utilizado para o manejo
(triturador) pois, apesar de distribuir os
restos culturais homogeneamente, os
deixa em pequenos pedaços. A intensidade de chuvas no período também pode
ter contribuído para a decomposição
mais rápida destes resíduos (701,43 mm
de novembro/06 a janeiro/07). Deve-se
considerar também que, no caso do
cultivo de hortaliças, é necessário estar
atento a problemas fitossanitários, principalmente com doenças de solo que
podem ser favorecidas pelo excesso de
restos culturais junto às plantas. Assim,
quantidades muito grandes de resíduos
culturais não são desejáveis em plantios
de hortaliças. Este é outro fator que leva
ao manejo precoce das plantas de cobertura, de modo a se buscar a viabilidade
do plantio direto em hortaliças para sua
adoção em áreas de produção.
O curto ciclo das plantas de cobertura e, conseqüentemente menor produção
de biomassa e permanência de seus
resíduos sobre o solo contribuíram
para que não fossem observadas diferenças significativas entre as plantas de
cobertura.
A diferença significativa entre a produtividade das cultivares avaliadas (Tabela 1) deve-se basicamente ao potencial
produtivo diferenciado de cada uma
delas, isto é, ao seu potencial genético,
considerando as condições ambientais
do experimento. Cultivares híbridas
também possuem estabilidade fenotípica
e capacidade de produção em diferentes
condições edafoclimáticas (homeostase
genética), o que pode explicar os bons
níveis de produtividade apresentados
para as cultivares no verão, época que
não coincide com a recomendação de
cultivo para estas cultivares, com exceção de Green Storm Bonanza e HECB01-06. Há que se considerar, ainda que
o local do experimento apresenta clima
relativamente ameno, se comparado a
outros locais do Planalto Central, em
função de sua altitude.
Observaram-se diferenças significativas na produtividade total e comercial
das cultivares (Tabela 2). A cultivar
Avenger apresentou produtividade total
significativamente maior que as demais,
com 13,2 t ha-1, superando os resultados
obtidos no verão por Trevisan et al.
25
RAC Melo et al.
Tabela 1. Produtividade de brócolos, em t ha-1, de acordo com cultivares e plantas de cobertura (broccoli yield, in t ha-1, according to cultivars and cover crops). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Cultivar
Avenger
Legacy
Grandisimo
Demoledor
Green Storm
Bonanza
HECB-01-06
Média
Convencional
12,6
9,4
8,9
7,8
Milho
14,8
10,2
10,6
8,3
Milho + Mucuna
13,6
11,6
10,5
8,7
Milheto
12,4
10,8
10,0
6,3
Sorgo Sudão
12,7
10,9
11,9
7,4
Médias
13,2a
10,6 b
10,4 b
7,7 c
7,1
7,6
7,7
7,5
8,0
7,6
4,6
8,4
4,8
9,4
5,7
7,9
5,5
8,8
3,9
9,2
4,9
d
9,1 ns
c
Cultivares com médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidade de
erro; ns= não significativo (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05).
1
Tabela 2. Produtividade de inflorescências total e comercial e peso médio da inflorescência
de brócolos em função da cultivar (total and commercial yield and average weight of
broccoli curds, according to cultivars). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Cultivar
Avenger
Legacy
Grandisimo
Demoledor
Green Storm Bonanza
HECB-01-06
CV (%)
Produtividade
total (t ha-1) comercial (t ha-1)
13,2 a
13,2 a
10,6 b
10,5 b
10,4 b
10,3 b
7,7 c
7,3 c
7,6 c
7,5 c
4,9
d
4,6
d
14,06
14,60
Peso médio
(g)
457,5 a
370,8 b
363,0 b
270,0 c
265,0 c
172,7
d
14,41
Cultivares com médias seguidas pela mesma letra nas colunas, dentro de cada variável, não
diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de probabilidade de erro (means
followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s
test, p<0.05).
(2003) no Rio Grande do Sul com as
cultivares Green River, Baron e Hanamidori com 12,8 t ha-1, 10,8 t ha-1 e 101
t ha-1, respectivamente; e no inverno por
Lyra Filho et al. (1997) em Pernambuco
com as cultivares Hanamidori e Legacy,
respectivamente com 8,8 t ha-1e 6,4 t
ha-1, e Melo & Giordano (1995) no Distrito Federal com as cultivares Legacy e
Sabre, respectivamente com 9,4 e 13,0 t
ha-1. As cultivares Legacy e Grandisimo
não diferiram entre si, com produtividade de 10,6 e 10,4 t ha-1, respectivamente,
resultados semelhantes aos obtidos
pelos autores citados (Trevisan et al.,
2003; Lyra Filho et al., 1997; Melo
& Giordano, 1995). A cultivar Green
Storm Bonanza e o material HECB-0106 obtiveram, respectivamente, 7,6 t
ha-1 e 4,9 t ha-1. As produtividades obtidas são extremamente satisfatórias e o
1
cultivo do brócolos nesta época permite
portanto a ampliação do período de colheita pois, de acordo com Silva (1997),
embora o plantio de verão seja menos
produtivo, a rentabilidade do cultivo
é favorecida por preços mais altos em
virtude da colheita ocorrer no período
de entressafra.
As cultivares apresentaram diferenças significativas quanto à produtividade
comercial (plantas com peso acima de
100 g e nota mínima 2 para aspecto
visual). A cultivar Avenger, apresentou
todas as plantas como sendo comercias,
com produtividade de 13,2 t ha-1, seguida das cultivares Legacy e Grandisimo,
com 10,5 t ha-1 e 10,3 t ha-1, respectivamente (Tabela 2). Para o peso médio
de inflorescências, a cultivar Avenger
apresentou 458 g, seguida das cultivares
Legacy e Grandisimo, com médias de
371 e 363 g, respectivamente. As cultivares Green Storm Bonanza, Demoledor
e o material HECB-01-06 não diferiram
entre si, com médias respectivamente
de 270, 265 e 173 g (Tabela 2). Estas
cultivares possuem potencial, tanto para
venda in-natura quanto em embalagens
individuais para balcões frigoríficos de
supermercados, como normalmente
ocorre no DF e região.
O índice de aspecto visual de inflorescências, característica importante na
cultura estudada, foi significativamente
superior na cultivar Avenger, com nota
4,0 (levemente deteriorada, 1 a 9%),
seguido pela cultivar Green Storm
Bonanza com nota 3,7. Legacy com
nota 3,0 (moderadamente deterioradas,
10 a 39%). As cultivares Grandisimo,
Demoledor e o material HECB-01-06
obtiveram notas médias de 2,9, 2,8 e
2,7, respectivamente. O aspecto visual
das inflorescências é essencial para
a comercialização in natura e para o
processamento. Assim, cultivares com
notas maiores constituem-se em boa
opção para ampliar a disponibilidade de
materiais para processamento e congelamento durante o ano (Tabela 3).
Com relação à granulometria, as
correlações ficaram, em média, próximas a 0,80, o que permitiu tomar o
peso (mg) como medida para se avaliar
a granulometria, característica de avaliação muito mais fácil que o tamanho
dos botões florais. Houve diferença entre
cultivares, com o material HECB-01-06
apresentando maior granulometria, com
114,3 mg. O material HECB-01-06
MELO PE (Embrapa Hortaliças), informação pessoal, 2006.
26
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto
Tabela 3. Índice de aspecto visual das inflorescências (escala de notas variando de 1 a 5; 1= não comerciais, extremamente defeituosas;
2= comerciais defeituosas; 3= moderadamente defeituosas; 4= levemente defeituosas; 5= sem defeitos aparentes), diâmetro médio da inflorescência, primeira colheita e ciclo médio em função da cultivar (visual aspect of broccoli curds (scale from 1 to 5; 1= non commercial
with extreme defects; 2= commercial with defects; 3= moderate defects; 4= light defects; 5= no apparent defects), average diameter, first
harvest and medium cycle according to cultivars). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Índice de aspecto
visual
Cultivar
Avenger
Legacy
Grandisimo
Demoledor
Green Storm Bonanza
HECB-01-06
CV (%)
4,0 a
3,0 c
2,8 c
2,8 c
3,7 b
2,7 c
11,86
Diâmetro
(cm)
Granulometria
(mg)
15,3 a
15,1 a
15,5 a
13,5 b
13,3 b
13,1 b
9,94
42,5 a
56,5 a
31,9 a
34,4 a
39,7 a
114,3 b
73,04
1a colheita
(dias)
77 a
78 a
76 a
75 a
72 b
57 c
4,45
Ciclo médio
(dias)
86 a
85 a
84 a
84 a
78 b
63 c
4,10
Cultivares com médias não seguidas por mesma letra, dentro de cada variável, diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, em nível de 5% de
probabilidade de erro (means followed by the same letter, in the column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05).
Tabela 4. Variação de temperatura na superfície e às profundidades de 5, 10, 15 e 20 cm
no cultivo de brócolos no verão utilizando diferentes plantas de cobertura (soil temperature
variations on surface and at 5, 10, 15 and 20 cm depth in broccoli production using different
cover crops). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2007.
Cultivar
Milheto
Milho
Milho + Mucuna
Sorgo Sudão
Convencional
CV (%)
Superfície
29,6 a
29,3 a
29,6 a
29,3 a
31,6 b
1,98
5 cm
27,6 a
28,0 a
27,6 a
27,6 a
29,6 b
1,84
10 cm
26,3 a
26,3 a
26,3 a
26,3 a
27,6 b
1,85
15 cm
25,3 a
26,0 a
25,6 a
25,6 a
26,6 a
1,80
20 cm
25,0 a
24,6 a
25,3 a
25,0 a
25,3 a
1,46
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas, para cada profundidade, não diferem entre
si pelo teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade (means followed by the same letter, in the
column, did not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0.05).
1
apresentou maior granulometria por
ser proveniente do cruzamento entre
linhagens de brócolos obtidas na Embrapa Hortaliças que possuem, em sua
genealogia, cruzamentos com plantas de
brócolos do tipo ramoso. O brócolos do
tipo ramoso caracteriza-se por apresentar botões florais maiores e mais frouxos
que as plantas de inflorescência única.
Este material foi desenvolvido com o
objetivo de introduzir adaptação às condições de cultivo na região de Brasília
dos genótipos de inflorescência única.
O elevado coeficiente de variação
observado (73,4%) na granulometria
pode ser explicado, em parte, pela
grande variabilidade de tamanho de
botões florais dentro de uma mesma
inflorescência. Geralmente, os botões
florais localizados nas extremidades da
inflorescência são mais leves e frouxos
por terem se desenvolvido primeiro.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Como os botões foram escolhidos aleatoriamente, de forma a representar toda
a granulometria existente na inflorescência e não apenas aquela mais fina,
esta variação está expressa no elevado
coeficiente de variação (Tabela 3).
O material HECB-01-06 foi mais
precoce, tendo o início de colheita aos
57 DAT (dias após transplante), seguido da cultivar Green Storm Bonanza,
iniciando a colheita aos 72 DAT, mais
precoces que as demais. Este aspecto é
interessante para escolha de materiais
com menor permanência em campo,
visando a sucessão de culturas (Tabela
3). O ciclo médio foi de 63 dias para
o material HECB-01-06, seguido da
cultivar Green Storm Bonanza com
78 dias, mais precoces que as demais
(Tabela 3).
As temperaturas do solo, medidas
durante as fases de expansão e desenvolvimento das folhas propostas por
Kimoto (1993), apresentaram médias
significativas para as medições feitas
na superfície do solo, a 5 e a 10 cm de
profundidade, não apresentando diferenças significativas nas profundidades
de 15 e 20 cm, observando-se estabilidade durante o período de avaliação,
independente das diferentes condições
de radiação solar. As temperaturas do
solo nas parcelas com as plantas de
cobertura foram de 2 a 2,3ºC inferiores na superfície do solo, de 1,6 a 2oC
inferiores a 5 cm de profundidade, e
1,3oC inferior a 10 cm de profundidade,
quando comparadas ao PC, sem cobertura do solo (Tabela 4). Estes resultados
indicam que no período em que o solo
se mantém coberto ocorre uma redução
de suas temperaturas próximas ao coleto
das plantas e nas profundidades acima
mencionadas, favorecendo o desenvolvimento das plantas.
As cultivares avaliadas apresentaram
diferenças significativas quanto à distribuição semanal do percentual de plantas
colhidas. O material HECB-01-06 apresentou 52% do total das plantas sendo
colhidas entre 57 e 63 DAT, o que corresponde a 2,6 t ha-1. Ainda destaca-se,
que 90% da produção total foi colhida
até os 70 DAT, correspondendo a 4,3 t
ha-1 de um total de 4,9 t ha-1.
A cultivar Green Storm Bonanza
teve seu pico de produção entre 71 e
77 DAT, com 60% do total colhido
neste período. Em termos de produção,
27
RAC Melo et al.
a cultivar Green Storm Bonanza teve
aproximadamente 4,5 t ha-1 colhidas
neste período, de um total de 7,6 t ha-1.
A cultivar Demoledor teve colheita
praticamente constante dos 71 aos 93
DAT, com aproximadamente 78% da
produção sendo colhida neste período,
correspondendo a 6,0 t ha-1 de um total
de 7,7 t ha-1.
A cultivar Grandisimo iniciou a
colheita aos 71 DAT, com 74% da produção sendo colhida até os 93 DAT, ou
7,5 t ha-1 de um total de 10,3 t ha-1. As
cultivares Avenger e Legacy apresentaram-se mais tardias, com 40 a 50% do
total sendo colhido entre 85 e 91 DAT,
ou 4,2 e 5,3 t ha-1, respectivamente, de
um total de 13,2 t ha-1 e 10,6 t ha-1. As
diferenças apresentadas permitem um
planejamento da produção com base no
conhecimento do ciclo de cada cultivar,
sendo esta uma informação importante
para o produtor visando o atendimento
de mercado.
O desempenho das cultivares avaliadas revela a possibilidade de produzir brócolos de inflorescência única
no verão, destacando-se as cultivares
Avenger, seguida de Legacy e Grandisimo. Existe a possibilidade destas serem
indicadas para plantios comerciais em
regiões com condições edafoclimáticas
semelhantes ao DF, tanto para comércio
in-natura quanto para processamento e
congelamento no DF. O plantio de brócolos em PD, independente das plantas
de cobertura avaliadas, foi capaz de proporcionar produtividades semelhantes
às obtidas no PC. Portanto, tendo em
vista a manutenção de elevados níveis
de produtividade no PD, é recomendável
sua adoção, considerando-se os reconhecidos benefícios proporcionados pelo
Sistema Plantio Direto, como a melhoria
das características físicas, químicas e
biológicas de solo, a maximização dos
recursos água e energia e a minimização
28
dos processos erosivos.
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Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água
salina
Dalva Paulus¹; Durval Dourado Neto2; José Antônio Frizzone2; Tales M Soares3
UTFPR–Campus Dois Vizinhos, C. Postal 157, 85660-000 Dois Vizinhos-PR; ²USP-ESALQ, Depto. Irrigação e Drenagem, 13418-900 Piracicaba-SP. 3UFRP-Depto. Tecnologia Rural, 52171-900 Recife-PE; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
O uso de água salina na produção de hortaliças constitui no momento atividade essencial, tendo em vista o aumento da demanda de
água doce, tanto pela atividade agrícola quanto pelo abastecimento
urbano e industrial. O objetivo do trabalho foi avaliar a produção e
os indicadores fisiológicos de alface cultivada em hidroponia com a
utilização de água salina. O experimento foi conduzido em ambiente
protegido, em Piracicaba-SP. O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso, sendo estudados os efeitos de cinco níveis de salinidade da água de irrigação, utilizando-se NaCl [Condutividade elétrica
(Cea): 0,42, 1,53, 3,52, 5,55 e 7,43 dS m-1] em duas cultivares de alface (Verônica e Pira Roxa), em esquema fatorial. Foram determinadas
massa fresca e seca de folhas, caule, raízes e da parte aérea; teor de
nitrato, prolina e clorofila. O aumento da salinidade da água reduziu
linearmente as massas fresca e seca das folhas, caule, raízes e da
parte aérea. As massas fresca e seca foram 36% e 57% superiores na
cultivar Verônica, respectivamente. A cultivar Pira Roxa apresentou
maior teor de nitrato 25% (3008 mg L-1), clorofila total 50% (1,46
mg g-1massa fresca) e prolina, 71,43% (0,21 µM g-1massa fresca-1)
em relação à Verônica, o que pode ser um mecanismo de adaptação
daquela cultivar ao estresse salino. Com relação à produtividade
comercial, obteve-se uma perda de 69 e 64% para as cultivares Pira
Roxa e Verônica, quando se utilizou água mais salina (7,43 dS m-1).
Em relação à produção de massa seca, a perda pelo uso dessa água
foi de 53% e 44%, respectivamente. Os resultados obtidos em sistema
de cultivo hidropônico podem indicar a possibilidade do uso da água
salina como alternativa para produção de hortaliças para produtores
que têm disponibilidade de água salina e restrita disponibilidade de
água doce, embora com redução na produtividade.
Production and physiologic indicators of lettuce grown in
hydroponics with saline water
Palavras-chave: Lactuca sativa, salinidade, solução nutritiva.
Keywords: Lactuca sativa, salinity, nutrient solution.
The use of saline water in the production of vegetables constitutes
at the moment an essential activity, facing the rising demand of fresh
water, as for the agricultural activity as for the urban and industrial
supplying. This study aimed to evaluate production and physiologic
indicators of lettuce in hydroponic system with the use of saline
waters. The experiment was carried out in a greenhouse in the period
from December 2007 to January 2008, in Piracicaba, Brazil. The
experimental design was randomized blocks in factorial scheme - five
salinity levels obtained with the addition of NaCl, which resulted in
different water electrical conductivity levels (dS m-1): 0,42, 1,53, 3,52,
5,55, 7,43 - and two cultivars of lettuce - Veronica and Pira Roxa.
It was determined the fresh and dry mass of leaves, stem, roots and
shoot and the content of nitrate, proline and chlorophyll. The increase
of water salinity reduced lineally the fresh and dry mass of leaves,
stem, roots and shoot. The cv Verônica produced 36% and 57% more
shoot fresh and dry mass, respectively, than Pira Roxa. The cv. Pira
Roxa accumulated 25% more nitrate (3008 mg L-1), presented 50%
more total chlorophyll (1,46 mg g-1fresh mass) and 71,43% more
proline (0,21 µM g fresh mass -1) than the cv Verônica, showing
a mechanism of avoiding salinity stress. Cultivars Pira Roxa and
Veronica presented loss of 69% and 64% of commercial productivity,
respectively, when the most saline water (7,43 dS m-1) was used. In
the other hand dry matter was reduced in 53% and 44%, respectively,
for cv. Pira Roxa and Verônica in the most saline water. The results
obtained in this study can indicate the possibility of using saline
water as an alternative for the production of vegetables, specially for
growers that have saline water available but restricted fresh water,
even with reduction of productivity.
(Recebido para publicação em 8 de janeiro de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010)
(Received on January 8, 2009; accepted on February 3, 2010)
H
á anos vem sendo diagnosticado
o problema de escassez de água
no mundo, especialmente em países
com grandes regiões semi-áridas como
o Brasil. Diante do quadro de baixa
oferta de água potável, a geração de
tecnologias e pesquisa que permitam
o uso de águas salinas na produção de
alimentos tornam-se importantes para o
cenário agrícola. O cultivo hidropônico
representa uma alternativa ao cultivo
convencional, com vantagens para o
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
consumidor, produtor e para o meio
ambiente, como obtenção de produtos
de alta qualidade, encurtamento do ciclo
de produção, com maior produtividade,
menor gasto de água, de insumos agrícolas e de mão-de-obra. A literatura
especializada em hidroponia afirma que
a alface (Lactuca sativa L.) é a planta
cultivada em maior escala pela Técnica
do NFT (Nutrient Film Technique ou
fluxo laminar de solução) devido à sua
fácil adaptação ao sistema (Ohse, et
al., 2001).
Águas com alto conteúdo salino
podem ser utilizadas em cultivos hidropônicos, porém as plantas que se desenvolvem nessas águas estão limitadas
àquelas denominadas como tolerantes
e moderadamente tolerantes a sais, tais
como: tomates, pepinos e alface. Rodrigues (2002) aponta a alface como cultura tolerante à salinidade, contrariando a
classificação de tolerância da alface para
cultivo em solo apresentada por Ayers &
29
D Paulus et al.
Westcot (1999) que consideram a alface
moderadamente sensível à salinidade.
Em trabalhos recentes Soares (2007)
concluiu que é possível utilizar águas
salinas para produção de alface em hidroponia, podendo a tolerância aos sais
ser superior àquela obtida em cultivos
convencionais em solo.
A salinidade afeta vários processos
fisiológicos e bioquímicos ao longo
do ciclo de vida da planta. A resposta
da planta à salinidade é complexa e
variável com as condições ambientais e
da planta (fase fenológica, estado nutricional), inclusive podendo variar entre
cultivares de uma mesma espécie (Maas
& Hoffman, 1997). Além de reduzir o
crescimento, reduz o conteúdo de clorofila em plantas sensíveis e aumenta em
plantas tolerantes a salinidade (Munns,
1993). Com relação ao nitrato, existem
relatos do aumento desse com os níveis
mais elevados de salinidade (Chung et
al., 2005).
A prolina é um aminoácido que se
acumula em plantas superiores em
situação de estresse (hídrico, salino,
SO2). O acúmulo de prolina em plantas
sob estresse pode ser conseqüência
tanto do aumento na sua síntese como
do decréscimo na sua degradação (Ferreira et al., 2002). O aumento dos teores
de prolina pode ativar várias funções
celulares como ajustamento osmótico,
reserva de carbono e nitrogênio utilizado
no crescimento para restabelecimento
após estresse, desintoxicação do excesso
de amônia, estabilizador de proteínas e
membranas e eliminadores de radicais
livres. A prolina está presente em pequenas quantidades nas plantas, aproximadamente entre 1 a 5 μmol g-1 de
massa seca e devido à sua importância
no ajustamento osmótico é o composto
mais estudado em plantas sob estresses
abióticos (Kavi Kishor et al., 2005).
Pesquisas quanto à utilização de
águas salinas no preparo da solução nutritiva e reposição da água evapotranspirada para alface justificam a importância
da realização desse estudo, o que pode
ser uma alternativa de renda para o agricultor que apresenta somente a opção de
água salina na propriedade.
O objetivo do trabalho foi avaliar a
produção e os indicadores fisiológicos
de alface cultivada em hidroponia com
30
a utilização de água salina.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de
dezembro de 2007 a janeiro de 2008
em ambiente protegido, na ESALQ em
Piracicaba-SP. A casa de vegetação de
126 m2 é do tipo arco simples coberta
com filme transparente de polietileno
de baixa densidade com 0,10 mm de
espessura e nas laterais por telas com
50% de sombreamento.
Foram avaliadas as cultivares Verônica de coloração verde e a Pira Roxa
de coloração roxa, ambas do tipo crespa.
As mudas foram produzidas em espuma
fenólica e transplantadas para o berçário
com sete dias, irrigadas com solução
nutritiva (Furlani, 1998) diluída a 50%
e com sete dias após transplante com
solução nutritiva a 100%, visando sua
adaptação às condições experimentais,
ou seja, ao cultivo com águas salinas
(Soares, 2007). Utilizou-se o sistema
NFT, onde a solução nutritiva foi distribuída nos canais de cultivo numa
vazão de 1,6 L por minuto com frequência de irrigação programada com
o auxilio de temporizador para acionar
a moto-bomba durante 15 min no período diurno (07:00 - 20:00 h) e 15 min a
cada intervalo de 2 h no período noturno
(20:00 - 07:00h).
A solução nutritiva foi conduzida por
bombeamento através de uma tubulação
de PVC do reservatório até a parte mais
alta do canal de cultivo e retornada ao
reservatório por gravidade. Para o armazenamento da solução nutritiva, na
quantidade de 45 L, foram utilizados
reservatórios de polietileno com capacidade de 60 L.
Os canais de cultivo de polipropileno
tinham diâmetro comercial de 100 mm e
comprimento de 2,8 m. Estes foram sustentados por quatro pontos de apoio de
madeira instalados a uma altura média
de 0,85 m, com declividade de 3,3%. O
espaçamento utilizado foi de 0,3 x 0,25
m entre linhas e entre plantas.
A solução nutritiva utilizada foi
baseada em Furlani (1998) com condutividade elétrica próxima a 2,00 dS m-1
quando composta a partir de água com
baixa salinidade (0,20 dS m-1). Como o
experimento foi conduzido no período
de verão, optou-se em utilizar a concentração da solução nutritiva a 75%.
O delineamento experimental foi
de blocos ao acaso, sendo estudados os
efeitos de cinco níveis de salinidade da
água de irrigação, utilizando-se NaCl
(Condutividade elétrica (Cea): 0,42,
1,53, 3,52, 5,55 e 7,43 dS m-1) em duas
cultivares de alface, em esquema fatorial. As quantidades de NaCl utilizadas
nos tratamentos foram (g L-1 de NaCl):
Testemunha = 0; T1 = 0,585; T3 = 1,755;
T5 = 2,925; T7= 4,095.
Aos 23 dias após o transplantio foram colhidas quatro plantas centrais do
perfil de cultivo, que foram separadas
em parte aérea e raízes e pesadas para
obtenção da massa fresca. A parte aérea
e as raízes foram submetidas à pré-secagem e, posteriormente, levadas à estufa
com circulação de ar à temperatura de
65 0C para obtenção das respectivas
massas secas.
Os teores de clorofila a, clorofila b e
total foram determinados pelo método
extrativo, metodologia modificada de
Lee et al. (1987) e Moran (1982).
O teor de prolina foi determinado
conforme metodologia descrita por
Bates (1973).
Para avaliar o teor de nitrato na
seiva da alface coletou-se a folha mais
jovem completamente expandida de
cada parcela. Com auxílio de uma tesoura, a nervura central dessa folha foi
separada do limbo e cortada em pedaços, os quais foram prensados em uma
prensa manual (esmagador de alho). O
extrato foi avaliado em sensor eletrônico
(‘Horiba’) específico para testes rápidos
de nitrato.
Os resultados foram processados
no programa “SAS” (SAS, Institute,
1999) para análise de variância, análise de regressão polinomial e teste de
comparação de médias (Tukey a 5% de
probabilidade).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período de condução do
experimento, as condições climáticas foram favoráveis para o desenvolvimento
da alface, sendo a média das temperaturas máximas de 34ºC e a das mínimas de
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina
Tabela 1. Condutividade elétrica da solução nutritiva preparada com água salina e sua média ponderada no tempo em função da salinidade
da água de reposição ao longo do ciclo de cultivo (electric conductivity of the prepared nutrient solution with saline water and average
obtained as a result of the salinity of the water of the replacement along the cultivation cycle). Piracicaba, ESALQ, 2008.
Tratamento
Teste
T1
T3
T5
T7
CEa
(dS m-1)
0,42
1,53
3,52
5,55
7,43
0 DAT 4 DAT 8 DAT
1,74
1,77
1,82
2,78
2,90
3,13
4,87
5,25
5,71
7,04
7,60
8,36
8,98
9,76 10,82
21ºC, a radiação solar líquida incidente
média de 7 MJ/m-2dia-1.
Nas condições em que o experimento foi desenvolvido, ao utilizar águas
salinas no preparo da solução nutritiva
e na reposição da evapotranspiração da
alface, verificou-se salinização crescente nos tratamentos salinos. Para o
tratamento com água não salina verificou-se redução da salinidade da solução
nutritiva em decorrência do consumo de
nutrientes que é superior ao acúmulo
de sais dissolvidos na água (Tabela 1).
Entretanto é interessante observar que
a magnitude da salinização da água de
maior salinidade é menor (2,54 dS m-1)
que a obtida por Soares (2007) em avaliações com águas salinas em reposição
à evapotranspiração de alface Verônica
em NFT, onde a água de maior salinidade (7,46 dS m-1) elevou a CEsol de
2,24 para 7,07 dS m-1 em 25 dias, o que
pode ser atribuído a fatores climáticos,
relacionados com a evapotranspiração
da planta e características da cultivar
em resposta ao estresse salino.
Crescimento e Produção - A interação entre cultivares e níveis de salinidade foi significativa (p<0,01) para as
variáveis analisadas. A cultivar Verônica apresentou crescimento superior à
cultivar Pira Roxa de 37,71%, 20,58%,
35,80% para massa fresca das folhas,
massa fresca do caule e massa fresca
da parte aérea, respectivamente (Figura
1a, 1b e 1c). O aumento da salinidade
da água reduziu, linearmente, a massa
fresca e seca da parte aérea das cultivares, das folhas e do caule, e a massa
seca das raízes e massa fresca e seca da
parte aérea das cultivares em estudo.
Conforme os estudos de regressão, os
decréscimos relativos à água não salina
(0,42 dS m-1) para cada incremento
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
CEsol (dS m-1)
Média pon11DAT 13 DAT 16 DAT 19 DAT 22 DAT derada (dS m-1)
1,68
1,58
1,49
1,37
1,28
1,52
2,99
2,96
3,04
3,14
2,96
2,93
5,45
5,63
5,93
6,23
6,08
5,67
7,97
8,24
8,77
9,25
8,67
8,14
10,30
10,66
11,15
11,76
11,52
10,64
unitário de CE da água das cultivares
Verônica e Pira Roxa, respectivamente,
foram de 13,54% e 14,51% para massa
fresca de folha; 17,79% e 19,53% para
massa fresca do caule; 14,11% e 9,54%
massa fresca da parte aérea.
Semelhantes declividades entre os
extremos de salinidade avaliados são
encontradas ao se analisar as reduções
lineares das cultivares Verônica e Pira
Roxa, respectivamente, para a massa
seca das folhas 11% e 12%; do caule
15% e 16% ; 11% e 7,04% para massa
seca total (Figura 1d, 1e e 1g). A massa
seca das raízes, por sua vez, reduziu
5,12% para a Pira Roxa, enquanto
para Verônica não houve significância
nas diferenças da variável analisada
(Figura 1f).
Nas condições em que o experimento foi desenvolvido, as reduções lineares
das massas fresca das folhas e do caule
da cultivar Pira Roxa foram superiores
7% e 10% em relação à Verônica, sendo o efeito da salinidade da água mais
acentuado nas variáveis de crescimento
da cultivar Pira Roxa. Em trabalhos
com a cultivar Verônica e em sistema
hidropônico NFT, mas com águas
salinas utilizadas apenas na reposição
do volume consumido, Soares (2007)
obteve reduções lineares para massa
fresca das folhas (2,34%), massa fresca
do caule (4,3%) e massa fresca da parte
aérea (2,27%). Segundo o autor o efeito
da salinidade da água sobre o crescimento foi moderado devido aos valores de
declividade terem sido baixos.
As reduções lineares obtidas no
presente estudo sugerem que os íons
absorvidos e transportados para a parte
aérea possivelmente excederam o limite
necessário ao ajustamento osmótico da
planta, e desta forma acarretaram efeitos
danosos ao crescimento (Flower et al.,
1986).
A salinidade da água afetou a relação
raiz/parte aérea, com efeito quadrático
para as cultivares analisadas (Figura 1h).
Em termos relativos verificou-se que as
relações raiz/parte aérea foram de 0,27%
e 0,24% para as cultivares Pira Roxa e
Verônica, respectivamente. O estudo
da massa seca da parte aérea permitiu
observar a redução dessa variável com
o aumento da salinidade o que condiz
com o aumento da relação raiz/parte
aérea; portanto, o efeito da salinidade
sobre as raízes é menor que sobre a
parte aérea da alface em hidroponia.
Segundo Munns (1993) a redução no
crescimento da parte aérea é maior do
que no sistema radicular e essa resposta
é comum em plantas submetidas ao
estresse salino (Munns, 1993). Esse
comportamento pode estar associado a
um ajuste osmótico mais rápido e uma
perda de turgor mais lenta das raízes,
quando comparadas com a parte aérea
(Shalhevet et al, 1995).
Analisando a qualidade comercial
das cultivares Pira Roxa e Verônica
verificou-se que as cultivares não apresentaram injúrias severas que pudessem
afetar o preço de venda, portanto, toda
a massa fresca foi considerada como
produtividade comercial. Para fins
comerciais as cultivares Pira Roxa e
Verôncia apresentaram perdas de 69%
e 64% respectivamente, quando se utilizou água mais salina (7,43 dS m-1).
Em relação à produção de massa seca,
a perda pelo uso dessa água foi de 53%
e 44%.
O efeito da salinidade da água sobre
o crescimento da alface cultivar Pira
Roxa foi superior em relação a cultivar
Verônica. Além das características de
31
D Paulus et al.
a
y Verônica = -44,93x** + 331,72**
r² = 0,90
y Pira roxa = -19,08x** + 131,52**
r² = 0,92
b
300
M.F.Caule (g )
M.F.Folha (g)
400
Verônica
200
Pira Roxa
100
0
0
1
2
3
4
5
6
7
yVerônica = -8,99x** + 50,52**
r² = 0,92
50
40
30
20
10
0
Verônica
Pira Roxa
0
8
1
2
3
d
y Pira Roxa= -0,48x** + 6,28**
r = 0,85
M.S.Folha (g)
Verônica
Pira Roxa
1
2
3
f
2
Verônica
1,5
Pira Roxa
1
y Pira Roxa = -0,07x** + 1,43**
r² = 0,67
0,5
5
6
7
0
8
0
1
2
3
-1
CEa (dS m )
M.S.Total (g)
20
4
y Pira Roxa= -0,57x** + 8,09**
r² = 0,84
Verônica
10
Pira Roxa
5
h
3
4
5
-1
CEa (dS m )
8
2
0,35
2
r = 0,98
0,3
6
7
8
Verônica
0,25
Pira Roxa
0,2
0,15
y Verônica= 0,0021x2** + 0,0047x**
+ 0,1776**
0,1
2
r = 0,99
0
0
2
7
y Pira Roxa= 0,0021x ** + 0,0066x**
+ 0,2037**
0,4
0,05
1
6
CEa (dS m )
15
0
5
-1
Raiz/parte aérea (g)
yVerônica = -2,02x** + 19,02**
r² = 0,82
8
3
Pira Roxa
0,5
25
7
2,5
0
g
6
3,5
M.S.Raiz (g)
M S.Caule (g)
y Pira Roxa = -0,09x** + 0,54**
r² = 0,77
1
4
5
-1
Verônica
3
4
CEa (dSm )
1,5
2
2
16
14
12
10
8
6
4
2
0
0
2
1
8
r = 0,83
-1
0
7
y Verônica= -0,91x** + 13,52**
CEa (dS m )
yVerônica = -0,33x** + 2,16**
r² = 0,92
6
2
M.F.P.A (g)
yVerônica = -53,92x** + 382,25** y Pira Roxa = -11,65x** + 122,1**
r² = 0,90
r² = 0,90
400
350
300
Verônica
250
Pira Roxa
200
150
100
50
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
2,5
5
CEa (dS m )
CEa (dS m )
e
4
-1
-1
c
yPiraRoxa = -2,29x** + 11,71**
r² = 0,88
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-1
CEa (dS m )
Figura 1. Massa fresca das folhas (a), do caule (b) e total (c), massa seca das folhas (d), caule (e), raízes (f), total (g) e relação raiz/parte
aérea (h) de alface cultivar Verônica e Pira Roxa em função da salinidade da água ((a) leaves fresh mass, (b) stem fresh mass and (c) shoot
fresh mass, (d) leaves dry mass, (e) stem dry mass, (f) root dry mass, (g) shoot dry mass and (h) root/shoot ratio obtained as a result of the
salinity of the water). Piracicaba, ESALQ, 2008.
** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F (** significant at 1% probability through the F test).
32
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Produção e indicadores fisiológicos de alface sob hidroponia com água salina
y Verônica = 0,02x** - 0,0008**
2
0,35
r = 0,75
b
y Pira Roxa = 0,032x** + 0,09**
r² = 0,71
4000
3500
0,3
y Pira Roxa = -5,42x²** + 172x** + 2482,7**
r² = 0,96
3000
0,25
-1
Nitrato (mg L )
-1
Prolina (uM g massa fresca)
a
0,2
Verônica
0,15
Pira Roxa
0,1
2500
Verônica
2000
Pira Roxa
1500
y Verônica = -13,96x²**
' + 188,84x** +
1848,9**
r² = 0,91
1000
0,05
500
0
0
1
2
3
4
5
6
7
0
8
0
1
2
-1
d
y Pira Roxa= 0,017x** + 0,75**
r² = 0,75
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Verônica
Pira Roxa
y Verônica= -0,0048x²** + 0,07x** + 0,35**
r² = 0,98
0
1
2
3
4
5
5
6
7
8
6
7
y Pira Roxa= 0,04x** + 0,490**
1
2
r = 0,90
0,8
Verônica
0,6
Pira Roxa
y Verônica= 0,014x** + 0,19**
0,4
2
r = 0,93
0,2
0
8
0
1
2
CEa (dS m -1)
3
4
5
6
7
8
CEa (dS m -1 )
-1
Clorofila total (mg.g .massa fresca)
e
4
CEa (dS m )
Clorofila b (mg.g -¹massa fresca)
Clorofila a (mg g-1 massa fresca)
c
3
-1
CEa (dS m )
y Pira Roxa= 0,06x** + 1,24**
r² = 0,91
1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
Verônica
Pira Roxa
y Verônica= -0,0065x²** + 0,09x** + 0,52**
r² = 0,98
0,4
0,2
0
0
1
2
3
4
CEa (dS
5
6
7
8
m-1)
Figura 2. Teor de prolina (a), nitrato (b), clorofila a (c), clorofila b (d), clorofila total (e) de alface cultivar Verônica e Pira Roxa em função
da salinidade da água (contents of proline (a); nitrate (b); chlorophyll a (c), chlorophyll b (d), total chlorophyll (e) of lettuce cultivate
Verônica and Pira Roxa under salinity). Piracicaba, ESALQ, 2008.
**significativo a 1% de probabilidade pelo teste F (**significant at 1% probability through the F test).
cada cultivar, em resposta aos níveis de
salinidade, as condições climáticas que
ditam o consumo de água estão relacionadas com o potencial osmótico de
cada cultivar em estudo. De acordo com
Soares (2007) a resposta da planta à salinidade fica muito dependente das condições climáticas que ditam o consumo
de água. Os dados de produção obtidos
no presente trabalho não indicam maior
viabilidade econômica da utilização de
água salina, mas o número de plantas
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
produzidas com valor comercial equivalente. Por outro lado, se for analisar
o insumo água salina no contexto custo
oportunidade, que os agricultores estão
incorrendo por não utilizar água salina
no sistema de produção, seja por falta de
informação ou conhecimento da viabilidade da utilização dessas.
Teor de prolina - Foi significativo o efeito entre salinidade da água e
cultivares sobre os teores de prolina.
O valor médio de prolina da Pira Roxa
foi 71,43% (0,21 µM g massa fresca-1)
superior em relação a Verônica (0,06 µM
g massa fresca-1). O efeito da salinidade
da água sobre o teor de prolina das cultivares de alface foi linear (Figura 2a).
Resultados semelhantes foram obtidos por Passos (2001) com plântulas de
graviola (Annona muricata L.) e pinha
(Annona squamosa L.) em hidroponia,
com diferentes concentrações salinas,
onde o autor cita que a presença de
prolina nas folhas é um indicativo de
33
D Paulus et al.
estresse em ambas espécies submetidas
aos tratamentos de maiores concentrações de NaCl (300 e 500 mmol L-1 de
NaCl).
O incremento no teor de prolina
parece ter várias funções, primeiramente, a de não permitir o acúmulo de
NH4+, composto muito tóxico por ser
desacoplador da produção de ATP na fotofosforilação e fosforilação oxidativa.
Também, a prolina tem a propriedade
de proporcionar ajuste osmótico sem
causar injúria aos tecidos em comparação ao efetuado por íons. Plantas de
milho respondem à salinização pela
manutenção de maiores concentrações
de sacarose e prolina, visto que o nível
de prolina aumenta com a salinização e
com o tempo de exposição das plantas
ao sal, sugerindo um papel protetor da
prolina (Rodríguez et al., 1997). Nas
condições em que o experimento foi
desenvolvido, verificou-se que o acúmulo de prolina pode ser considerado
indicador fisiológico em função do
aumento da salinidade.
Teor de nitrato - Foi afetado pela
salinidade da água da solução nutritiva,
sendo quadrático o efeito dos estudos de
regressão (Figura 2b). O teor de nitrato
foi superior em 25% para Pira Roxa
(3008 mg L-1) em relação à Verônica
(2264 mg L-1). Os menores níveis de
nitrato (1960 mg kg-1 e 2620 mg kg-1 de
massa de matéria fresca) da Verônica
e Pira Roxa, respectivamente, foram
relacionados à condutividade elétrica de
0,43 dS m-1, aumentando a salinidade da
água para 7,43 dS m-1. O teor foliar de
nitrato aumentou para 2500 mg kg-1 e
3420 mg kg-1 para as cultivares Verônica
e Pira Roxa.
Os níveis mais elevados de salinidade apresentaram tendência de aumento
de nitrato foliar. Esses resultados podem
ser explicados pela alta taxa de produção
de massa fresca nos tratamentos submetidos às menores CE, uma vez que, de
acordo com Krohn et al. (2003), as folhas mais jovens acumulam mais nitrato
que as maduras. Segundo Soares (2007)
esses resultados podem ser explicados
em função da alta taxa de produção de
fitomassa nos tratamentos submetidos às
menores CE. A tendência do aumento do
teor de nitrato com os níveis mais elevados de salinidade pode ser explicada
34
pelo ajuste osmótico para que a planta
consiga absorver água quando submetida a condições de baixo potencial total
de água (Chung et al., 2005).
Por outro lado, Miceli et al. (2003),
em trabalhos com as cultivares de alface
Ballerina e Severus em sistema hidropônico, constataram que aumentando a
salinidade da solução nutritiva de 1,6
para 4,6 dS m-1 com adição de NaCl,
o teor de nitrato das folhas diminuiu
de 2218 mg kg-1 para 1634 mg kg-1 de
massa da matéria fresca.
Embora no Brasil não exista legislação específica que regularmente os
teores máximos permitidos de nitrato
em vegetais, os teores de nitrato obtidos
encontram-se abaixo do limite máximo
permitido pela comunidade européia
que estabeleceu limites máximos tolerados de 3500 a 4500 mg de NO3- kg-1
de massa fresca para cultivo de inverno
e 2500 mg de NO3- kg-1 de massa fresca
para cultivos de verão (Van Der Boon
et al., 1990).
Teor de clorofila - Os teores de clorofila a, clorofila b e clorofila total apresentaram efeito linear para as cultivares
em estudo (Figura 2c, 2d e 2e). O teor
de clorofila total da cultivar Pira Roxa
foi superior 50% (1,46 mg g-1massa
fresca) em relação à Verônica (0,73 mg
g-1 massa fresca). Os resultados do teor
de clorofila nos níveis de salinidade mais
elevados nas cultivares de alface, estão
de acordo com a classificação de Rodrigues (2002) que considera a alface como
tolerante à salinidade. Segundo Munns
(1993) o teor de clorofila aumenta com
os níveis de salinidade em espécies tolerantes e diminui em espécies sensíveis
como tomate, soja e pera.
Jamil et al. (2007), analisando o
estresse salino na cultura do rabanete
(Raphanus sativus L.) com adição de
NaCl na solução nutritiva verificaram
que os níveis de salinidade 9,4 e 14,1
dS m-1 reduziram em 39% e 59% o teor
de clorofila. Os autores afirmam que o
estresse salino ocasiona a destruição
da estrutura do cloroplasto devido à
degradação da enzima clorofilase. No
presente estudo o teor de clorofila pode
ser explicado por uma série de fatores
como composição e concentração de
sais, a duração do estresse e as diferenças entre genótipos. Ressalta-se outro
fator importante como precocidade da
alface e menor tempo de exposição aos
sais em hidroponia, que ajudam a diminuir os efeitos da salinidade.
Os resultados obtidos em sistema de
cultivo NFT podem indicar a possibilidade do uso da água salina como alternativa para produção de hortaliças para
produtores que tenham disponibilidade
de água salina e restrita disponibilidade
de água doce, porém com redução de
produtividade.
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Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação
orgânica e mineral
Eliane Q de Oliveira1; Rovilson J de Souza1; Maria do Céu M da Cruz1; Virna B Marques1; André C
França2
1
UFLA-Depto. Agricultura, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG. 2UFV-DFT, 36570-000 Viçosa-MG; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram realizados dois experimentos em Lavras-MG, nos meses
de abril a setembro de 2006. Para cada experimento, utilizou-se o delineamento de blocos completos casualizados, com cinco tratamentos
e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro arranjos
espaciais entre as culturas da alface (A) e rúcula (R), plantadas em
fileiras alternadas 1A:1R; fileiras duplas alternadas 2A:2R; fileiras
triplas alternadas 3A:3R e quatro fileiras alternadas 4A:4R e, alface
e rúcula em cultivo solteiro. Avaliou-se o diâmetro (alface), altura,
número de folhas por planta, rendimento de folhas e massa seca da
parte aérea da alface e rúcula. Os maiores rendimentos de folhas da
alface foram registrados no cultivo orgânico. O rendimento de massa
verde da rúcula, no sistema solteiro sobressaiu-se dos demais, embora
estatisticamente semelhante aos arranjos espaciais 3A:3R e 4A:4R no
número de folhas. No cultivo orgânico, diferenças significativas entre
o primeiro e o segundo ciclo da rúcula expressaram-se na altura de
plantas e na massa seca da parte aérea, com a maior altura média no
primeiro cultivo e a maior quantidade de massa seca da parte aérea na
rebrota. Os consórcios da alface e rúcula nos arranjos espaciais 1A:1R
e 3A:3R tiveram a maior eficiência do uso da área (EUA), de 55 e
63%, respectivamente, no sistema de cultivo orgânico. A eficiência
biológica aumentou para 62 e 70% nestes mesmos arranjos, com o
cultivo da rebrota da rúcula no sistema orgânico. Todas as associações
da alface e rúcula, assim como os seus cultivos solteiros tiveram
melhor desempenho produtivo sob a adubação orgânica. A rebrota da
rúcula aumentou a eficiência agronômica do sistema consorciado.
Productivity of lettuce and rocket in intercropping system
under organic and mineral fertilization
Palavras-chave: Lactuca sativa, Eruca sativa, competição, eficiência
agronômica.
Keywords: Lactuca sativa, Eruca sativa, competition, agronomic
efficiency.
Two experiments were carried out at Federal University of Lavras
Minas Gerais State, Brazil, from April to September, 2006, aiming to
evaluate the lettuce and rocket intercropping system, under organic
and mineral fertilization in different spatial arrangements. For each
experiment, the experimental design was randomized complete blocks
with five treatments and four replicates. The treatments consisted
of four spatial arrangements of lettuce (a) and rocket (r), planted in
alternate rows 1A: 1R; alternate double rows 2A: 2R; alternate triple
rows 3A: 3R, alternate four rows 4A: 4R and lettuce and rocket in
sole crop. Evaluations for diameter (lettuce), plant height, number
of leaves per plant, leaf yield and leaf dry matter were made in the
lettuce and rocket crop. The highest yield of lettuce leaves was
registered in the organic farming. The yield of rocket fresh mass, in
sole crop was higher than the others although statistically similar to
the spatial arrangements 3A: 3R and 4A: 4R for the number of leaves.
In organic farming, significant differences between first rocket growth
and regrowth were observed in plant height and shoot dry mass, with
the highest average of plant height registered in the growth and the
highest shoot dry mass in the regrowth. The intercropping systems
of lettuce and rocket in the spatial arrangements of 1A: 1R and
3A: 3R had the highest efficiency (LER), ranging from 55 to 63%,
respectively, in the organic farming. Biological efficiency increased
up to 62 and 70% in these same arrangements, with the regrowth of
the rocket in the organic farming. All the associations of the lettuce
and rocket as well as their sole crop had better productive performance
under the organic fertilization and the regrowth of rocket increased
the agronomic efficiency of the intercropping system.
(Recebido para publicação em 16 de janeiro de 2009; aceito em 11 de fevereiro de 2010)
(Received on January, 16, 2009; accepted on February 11, 2010)
A
s atuais mudanças na política
global, com diretrizes ecológicas,
a crescente demanda por produtos orgânicos no mundo e as restrições impostas
pelos países importadores quanto à qualidade e à segurança alimentar têm gerado a necessidade de estudos e técnicas
alternativas para a produção de frutos e
hortaliças que minimizem a utilização
de adubos minerais ou agroquímicos
(Fontanétti et al., 2004).
Com o aumento da modernização
36
das práticas agrícolas, principalmente
após a “Revolução Verde”, ocorreram,
juntamente com os benefícios para a
população, muitas preocupações quanto
aos impactos ambientais destas modernas técnicas, ressaltando-se o uso intensivo da mecanização, de agrotóxicos e
fertilizantes (Gliessman, 2001).
As práticas convencionais de preparo do solo e de adubação, executadas de
forma inadequada, são responsáveis pela
“erosão biológica” dos solos agrícolas.
As causas dessa degradação, na maioria das vezes, estão relacionadas aos
prejuízos que causam aos organismos
do solo. A atuação conjunta de várias
causas acelera ainda mais a degradação
deste ecossistema. Dentre as opções
para a regeneração da fertilidade do solo
pode-se citar a adubação verde, o cultivo de plantas de cobertura, o manejo
de restos culturais e ervas espontâneas,
pousio, rotação e consorciação de culturas, suplementações minerais de baixa
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral
solubilidade, ou seja, qualquer prática
que contribua para incrementar e/ou
sustentar a atividade biológica do solo
(Altieri, 2002).
Diante da perspectiva de uma agricultura sustentável, incontestavelmente
as mudanças não ocorrerão de forma
espontânea, pois elas dependerão de
práticas agrícolas que conservem os
recursos naturais e produzam alimentos mais saudáveis, que permitam ao
produtor o acesso à tecnologia, à terra
e a uma distribuição mais igualitária de
seus rendimentos.
Nas últimas décadas, várias pesquisas têm demonstrado a eficiência da consorciação de hortaliças, sobretudo para
os pequenos produtores, mesmo que
esse sistema não esteja associado ao uso
de alta tecnologia, nem à obtenção de
elevadas produções. Em compensação,
ela pode ser indicada como um modelo
sustentável de produção e consumo.
No Brasil, a eficiência da consorciação tem sido estendida ao cultivo com
hortaliças, área agrícola caracterizada
por intenso manejo e exposição do solo,
uso intensivo de defensivos agrícolas,
fertilizantes e irrigação, dificuldade
no controle de plantas invasoras, entre
outras práticas culturais que proporcionam considerável impacto ambiental.
As combinações entre hortaliças podem
ser bem sucedidas por apresentarem
crescimento e maturação rápidos, além
de alta produtividade de biomassa.
A consorciação de hortaliças tem
sido adequada às práticas da olericultura e os resultados experimentais têm
comprovado sua importância agroecológica e as vantagens agroeconômicas.
A escolha das culturas e do tipo de associação deverá levar em consideração,
por exemplo, as peculiaridades de cada
região e a preferência do mercado em
comercializar os produtos. Cecílio Filho
et al. (2007), avaliando a produtividade
de alface e rabanete em função do espaçamento e da época de estabelecimento
do consórcio, verificaram que o sistema
de cultivo demonstrou ser vantajoso em
todas as épocas de estabelecimento do
consórcio, levando em consideração o
índice de uso eficiente da terra.
Avaliando a viabilidade econômica
da alface crespa em monocultura e
em consórcio com pepino, Silva et al.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
(2008) observaram que o consórcio
tornou a cultura da alface viável economicamente, no ambiente e época de
cultivo avaliados.
A alface (Lactuca sativa L.) é uma
das hortaliças folhosas de maior importância comercial e de maior consumo
em todo o mundo. No Brasil, figura
entre as principais hortaliças, no que se
refere à produção, à comercialização e
ao valor nutricional. A rúcula (Eruca
sativa) foi introduzida no Brasil por
imigrantes italianos, pelos quais ainda é
muito apreciada. É mais consumida nas
regiões Sul e Sudeste, entretanto, o seu
consumo é crescente em outras regiões
do país, por causa do seu sabor marcante
em saladas junto a folhas mais suaves,
na cobertura de pizzas, em molhos para
massas e até mesmo em sopas (Paula
Júnior & Venzon, 2007).
O trabalho teve como objetivo avaliar agronomicamente as associações de
alface e rúcula, sob adubação orgânica e
mineral em diferentes arranjos espaciais,
nas condições do sul de Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois experimentos (um com adubação orgânica e outro com adubação
mineral) foram conduzidos em campo
da UFLA, em Lavras-MG, nos meses
de abril a setembro de 2006, com coordenadas (21°14’S; 45°00’; 910 m de
altitude), segundo a FAO (1985), em
solo classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico de textura argilosa
(Embrapa, 1999). As características
químicas do solo, em pré-instalação
dos experimentos, nas áreas de cultivo
orgânico e mineral, respectivamente,
forneceram os seguintes resultados: pH
(água)= 6,0 e 5,4; Ca= 2,7 e 1,8 cmolc
dm-3; Mg= 1,3 e 1,2 cmolc dm-3; K= 122
e 92 cmolc dm-3; Al= 0,0 e 0,2 cmolc
dm-3 e P= 16,4 e 15,0 mg dm-3.
Para cada experimento, utilizou-se
o delineamento de blocos completos
casualizados, com cinco tratamentos
e quatro repetições. Os tratamentos
consistiram de quatro arranjos espaciais
entre as culturas de alface (A), cultivar
Vera e rúcula (R), Cultivada, plantadas
em: fileiras alternadas 1A:1R; fileiras
duplas alternadas 2A:2R; fileiras triplas
alternadas 3A:3R e quatro fileiras alter-
nadas de plantas 4A:4R e alface e rúcula
em cultivo solteiro.
Na parcela consorciada, a área total
foi de 3,75 m2 (3,00 x 1,25 m) contendo
60 plantas de alface e 150 de rúcula.
A área útil foi de 2,00 m2 (2,00 x 1,00
m) contendo 32 plantas de alface nos
arranjos espaciais I, II e IV e no arranjo
III a área útil foi de 1,50 m2 (1,50 x 1,00
m) contendo 24 plantas. Para a rúcula,
o número de plantas por área útil foi de
80 plantas de rúcula nos arranjos I, II e
IV e 60 plantas no arranjo III, respectivamente. As populações respectivas da
alface e rúcula, estimadas por hectare,
foram de 160.000 e 400.000 plantas,
sem levar em consideração os 30% de
área de trânsito compostas de corredores
e estradas. As linhas de cultivo foram
dispostas transversalmente nas parcelas,
sendo a alface plantada no espaçamento
0,25 x 0,125 m e a rúcula 0,25 x 0,050
m. Para as características de rendimento
de folhas e massa seca das culturas,
foram feitas as correções para 70% da
área plantada.
As parcelas no cultivo solteiro tiveram uma área total de 1,875 m2 (1,50 x
1,25 m) e uma área útil de 0,75 m2, (1,00
x 0,75 m) para a alface e de 1,0 m2 (1,00
x 1,00 m) para a rúcula. O espaçamento
da alface neste sistema de cultivo foi
0,25 x 0,25 m e da rúcula de 0,25 x 0,10
m, proporcionando 30 plantas de alface
e 72 de rúcula por parcela. As populações de plantas estimadas por hectare de
ambas as culturas foram as mesmas do
sistema consorciado.
Para ambas hortaliças, tanto em
consórcio quanto em cultivo solteiro e
de acordo com análises do solo, foram
realizadas adubações de plantio e duas
adubações de cobertura. No cultivo orgânico, aplicou-se composto de cama de
aviário de codorna (5,0 t ha-1); bokashi
(2,0 t ha-1); termofosfato (1,5 t ha-1) e
sulpomag (0,2 t ha-1). As adubações de
cobertura foram realizadas com a aplicação de 1 t ha-1 de bokashi, parceladas
aos 15 e 30 dias após transplantio (DAT)
da alface.
Para o cultivo mineral utilizou-se na
adubação de plantio, 40 kg ha-1 de N,
60 kg ha-1 de P2O5 e 30 kg ha-1 de K2O.
Nas adubações de cobertura, aplicou-se
40 kg ha-1 de N, parcelados aos 15 e 30
DAT da alface. Como fontes de N, P2O5
37
EQ Oliveira et al.
e K2O, sulfato de amônio, superfosfato
simples e cloreto de potássio, respectivamente. Após o primeiro corte da rúcula,
fez-se uma adubação de cobertura nas
respectivas áreas, para favorecimento
das suas rebrotas.
A rúcula foi semeada diretamente
nos canteiros, deixando-se após o desbaste uma planta a cada 0,05 m para a
adequação do espaçamento entre linhas.
A alface foi semeada em bandejas
contendo 128 células, preenchidas com
substrato comercial Plantmax®. As mudas cresceram em ambiente protegido
por 26 dias e foram transplantadas para
os canteiros após 10 dias de emergência
da rúcula. Para o controle de plantas
daninhas, efetuaram-se capinas manuais
e a irrigação foi realizada em dias alternados pelo sistema de aspersão.
As colheitas da alface foram realizadas aos 40 e 46 dias após o transplantio,
para os sistemas de cultivo orgânico e
mineral, respectivamente. A rúcula foi
colhida aos 50 e 55 dias após emergência
para os respectivos sistemas de cultivo,
considerando-se um corte acima do
caule para promoção de uma rebrota. O
segundo ciclo de rúcula foi concluído
após 30 dias do corte.
Nos cultivos solteiro e consorciado,
as características avaliadas na alface
foram realizadas em amostras de 10
plantas retiradas aleatoriamente da área
útil, por ocasião da colheita. Avaliou-se,
diâmetro, altura e número de folhas por
planta, rendimento de folhas, através
da massa fresca da parte aérea de todas
as plantas da área útil e massa seca da
parte aérea.
Para a rúcula, foram avaliadas altura de plantas, número de folhas por
planta, rendimento de massa verde e
massa seca da parte aérea, obedecendo
aos mesmos critérios e utilizando-se o
mesmo número de amostras adotado na
avaliação da alface.
O índice de eficiência do uso da área
(EUA), proposto por Willey & Osiru
(1972), foi usado para medir a eficiência
dos agrossistemas consorciados.
Fez-se uma análise de variância conjunta nos dados dos dois experimentos.
Aplicou-se o teste de Tukey, a 5% de
probabilidade, para se comparar os arranjos espaciais testados e os sistemas de
cultivo (Banzato & Kronka, 1995).
38
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No cultivo da alface, não se observou interação significativa entre
sistemas de cultivo e arranjos espaciais
na altura e diâmetro de plantas, no número de folhas por planta e na massa
seca da parte aérea (Tabela 1). Porém,
efeito significativo de sistemas de cultivo foi registrado na altura e diâmetro
de plantas e no número de folhas por
planta, com os maiores valores médios
destas variáveis observados no cultivo
orgânico.
De acordo com a Tabela 1, efeito significativo dos arranjos espaciais testados
foi observado apenas no número de
folhas por planta, com o maior número
de folhas registrado no cultivo solteiro,
seguido pelo arranjo 3A:3R, que fora
estatisticamente semelhante.
Verificou-se interação entre os sistemas de cultivo e os arranjos espaciais
no rendimento de folhas da alface. Observou-se diferença significativa entre
os sistemas de cultivo, com os maiores
rendimentos de folhas registrados no
cultivo orgânico (Tabela 2).
O destaque do sistema de cultivo
orgânico no rendimento de folhas da
alface pode estar relacionado às funções que os adubos orgânicos exercem
sobre as propriedades físicas, químicas
e biológicas do solo, uma vez que eles
apresentam efeitos condicionadores
e aumentam a capacidade do solo em
armazenar nutrientes necessários ao
desenvolvimento das plantas. As outras
fontes de nutrientes utilizadas, como o
termofosfato e o sulpomag, permitidas
no cultivo orgânico, também contribuíram para o melhor desenvolvimento
das hortaliças.
Em condições de cultivo orgânico,
Souza et al. (2002), avaliando o comportamento da alface e beterraba em
Tabela 1. Altura (AP), diâmetro de plantas (DP), número de folhas por planta (NF) e massa
seca (MS) da alface, em função de sistemas de cultivo e arranjos espaciais (plant height and
diameter, number of leaves per plant and leaf dry matter of lettuce crop, as a function of
cropping systems and spatial arrangements). Lavras, UFLA, 2006.
Sistemas de cultivo
Orgânico
Mineral
Arranjos espaciais
1A:1R
2A:2R
3A:3R
4A:4R
Solteiro
CV (%)
AP (cm)
22,3 a
16,8 b
DP (cm)
25,7 a
21,7 b
NF
16,1 a
13,8 b
MS (t ha-1)
1,9 a
1,7 a
19,4 a
19,8 a
20,4 a
19,4 a
19,4 a
9,8
23,4 a
22,7 a
23,8 a
23,5 a
25,3 a
8,0
13,9 b
14,5 b
14,9 ab
14,5 b
16,7 a
8,0
1,7 a
1,6 a
1,9 a
1,8 a
2,1 a
19,5
Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by different letters in the column differ
significantly by Tukey test at 5% probability, p<0.05).
Tabela 2. Rendimento de folhas da alface em função de arranjos espaciais e sistemas de
cultivo orgânico e mineral (yield of lettuce leaves as a function of spatial arrangements and
organic and mineral farming systems). Lavras, UFLA, 2006.
Sistemas de
cultivo
Orgânico
Mineral
Médias
1A:1A
22,8 bA
14,4 bB
18,6 b
Arranjos espaciais
2A:2A
3A:3A 4A:4A
23,4 bA 24,2 bA 20,9 bA
11,6 bB 16,3 bB 11,7 bB
17,5 b
20,3 b
16,3 b
Solteiro
39,3 aA
21,9 aB
30,6 a
Médias
26,1 A
15,2 B
Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na coluna ou minúsculas na linha diferem
significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by
different uppercase letters in the column or lowercase letters in the line differ significantly
by Tukey test at 5% probability, p<0.05).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Produtividade de alface e rúcula, em sistema consorciado, sob adubação orgânica e mineral
Tabela 3. Altura de plantas (AP), número de folhas por planta (NF), rendimento de massa
verde (RMV), massa seca da parte aérea (MS) de rúcula em função de sistemas, tipos de
cultivo e arranjos espaciais e índice de eficiência do uso da área (EUA) proveniente de
consórcios em cultivo orgânico e mineral e de rebrota de rúcula em cultivo orgânico (plant
height, number of leaves per plant, yield of green mass, shoot dry matter in the rocket crop,
as a function of cropping systems and spatial arrangements and land equivalent ratio from
the intercropping systems of lettuce and rocket in organic and mineral farming and regrowth
of rocket in organic farming). Lavras, UFLA, 2006.
Sistemas de cultivo
AP (cm)
NF
RMV (t ha-1)
MS (t ha-1)
Orgânico
23,9 a
10,6 a
7,9 a
1,2 a
Mineral
18,3 b
7,8 b
4,5 b
0,8 b
Arranjos espaciais
1A:1R
21,7 a
8,2 b
5,7 b
1,1 a
2A:2R
20,2 a
7,9 b
4,9 b
0,8 a
3A:3R
22,3 a
9,2 ab
5,6 b
0,9 a
4A:4R
20,4 a
9,3 ab
4,9 b
0,9 a
Solteiro
20,9 a
11,5 a
6,9 a
0,9 a
CV (%)
11,8
21,4
25,1
Primeiro cultivo
23,9 a
10,6 a
7,94 a
1,2 b
Rebrota
22,1 b
11,0 a
8,78 a
1,8 a
22,1
Tipos de cultivo
Arranjos espaciais
1A:1R
23,7 ab
9,8 b
7,8 a
1,5 a
2A:2R
22,1
9,5 b
7,0 a
1,3 a
3A:3R
24,0 a
10,2 b
8,3 a
1,6 a
c
4A:4R
22,6 abc
11,3 ab
6,8 a
1,4 a
Solteiro
22,3 bc
13,3 a
8,4 a
1,4 a
14,5
18,1
Arranjos espaciais
22,6
UET1
CV (%)
Sistemas de Cultivo
4,8
Orgânico
Mineral
Rebrota de rúcula
1A:1R
1,55
2A:2R
1,44
3A:3R
1,63
4A:4R
1,38
1A:1R
1,53
2A:2R
1,27
3A:3R
1,53
4A:4R
1,14
1A:1R
1,62
2A:2R
1,53
3A:3R
1,70
4A:4R
1,36
Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade (means followed by different letters in the column differ
significantly by Tukey test at 5% probability, p<0.05). 1UET= (Yab/Yaa) + (Yba/Ybb), Yab=
produção da cultura “a” em consórcio com “b”; Yaa= produção da cultura “a” em cultivo
solteiro; Yba= produção da cultura “b” em consórcio com “a” e Ybb= produção da cultura
“b” em cultivo solteiro (LER= (Yab/Yaa) + (Yba/Ybb), Yab= yield of crop “a” intercropped
with “b”; Yaa= yield of sole crop “a”; Yba= yield of crop “b” intercropped with “a”; Ybb=
yield of sole crop “b”).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
consórcio, verificaram que dentro das
diferentes proporções de área ocupada
pelas duas culturas, não foram observadas diferenças significativas no diâmetro
e massa da cabeça da alface, entretanto
a produtividade dos tratamentos com
20% da beterraba e 80% da alface; e
com 40% da beterraba e 60% da alface,
respectivamente, foi significativamente
maior que os demais. Neste caso, a competição interespecífica apresentou-se
menos intensa, devido, provavelmente,
às diferenças na densidade populacional e no crescimento das plantas até a
colheita.
No cultivo da rúcula, não houve
interação significativa entre sistemas de
cultivo e arranjos espaciais para nenhuma das características avaliadas (Tabela
3). Porém, diferença significativa entre
os sistemas de cultivo foi registrada
em cada uma das características da
rúcula, com os maiores valores médios
destas variáveis registrados no cultivo
orgânico. Com relação aos arranjos
espaciais testados, foi observado efeito
significativo apenas no número de folhas
por planta e no rendimento de massa
verde da rúcula, com o sistema solteiro
sobressaindo-se dos demais, embora ele
tenha sido estatisticamente semelhante
aos dos arranjos 3A:3R e 4A:4R no
número de folhas.
É sabido que as hortaliças folhosas
respondem muito bem à adubação
orgânica. Portanto, neste experimento
é possível inferir que a mineralização
da matéria orgânica ocorreu em tempo
hábil para o fornecimento de nutrientes
para as plantas, considerando-se que a
área é mantida para o sistema orgânico
há cinco anos. De acordo com Souza
(2005), na agricultura convencional, a
utilização de adubos químicos promove,
com o passar do tempo, uma redução
na atividade biológica do solo podendo
afetar o desempenho produtivo das
culturas.
No instante da colheita, procedeu-se
um corte acima do caule nas plantas de
rúcula, para promoção de uma rebrota.
Esta característica da espécie possibilita
a maximização da eficiência de um sistema, uma vez que permite um segundo
ciclo da cultura. Devido o desenvolvimento de fungos de solo, conforme
observado na ocasião da colheita, não
39
EQ Oliveira et al.
houve rebrota na área mantida sob cultivo mineral.
Não se observou interação significativa entre os cultivos de rúcula e os
arranjos espaciais (Tabela 3). Diferenças significativas entre o primeiro e o
segundo ciclo da rúcula expressaram-se
na altura de plantas e na produção de
massa seca da parte aérea, com a maior
altura média registrada no primeiro
cultivo e a maior quantidade de massa seca da parte aérea na rebrota. Em
função dos resultados, pode-se afirmar
que a presença da alface, no primeiro
ciclo da rúcula, influenciou o seu crescimento, provavelmente pela competição
interespecífica por fatores abióticos.
Deve-se considerar que a proximidade
das culturas em consórcio predispõe-nas
a diversas competições interespecíficas,
mais comumente por luz, água e nutrientes, embora também possam fazê-la para
oxigênio, dióxido de carbono e espaço
(Oliveira et al., 2004).
Com relação aos arranjos espaciais,
efeito significativo foi registrado na
altura de plantas e no número de folhas
por planta, com o cultivo solteiro se
sobressaindo dos demais no número de
folhas por planta, embora estatisticamente semelhante ao do arranjo 4A:4R,
nesta última característica. Na altura de
plantas de rúcula, o arranjo 3A:3R se
sobressaiu dos demais, embora tenha
apresentado comportamento estatisticamente semelhante ao do arranjo
4A:4R.
Costa et al. (2007) ao avaliar os
aspectos produtivos de grupos de alface e rúcula em cultivos solteiros e
consorciados verificou que o sucesso da
combinação destas espécies estava além
das características genéticas dos grupos,
podendo estar relacionado também às
peculiaridades do cultivo de cada grupo.
É possível acrescentar, portanto, que o
êxito deste tipo de consórcio se deve
também à complementaridade existente
entre essas culturas e à geometria de
plantio.
Com base no índice de eficiência
do uso da área (EUA) pode-se observar
que todos os consórcios mostraram-se
viáveis (Tabela 3). Os consórcios de
alface e rúcula nos arranjos espaciais
1A:1R e 3A:3R tiveram a maior eficiência biológica, da ordem de 55% e 63%,
respectivamente, no sistema de cultivo
orgânico e de 53% em ambos os arranjos
no sistema de cultivo mineral. Por outro
lado, esta eficiência aumentou para 62%
e 70% nestes mesmos arranjos, com o
40
cultivo da rebrota da rúcula no sistema
orgânico. Os índices dos demais arranjos
consorciados foram menores, porém
foram superiores a 1,0 demonstrando
que naquelas condições houve também
maior aproveitamento dos recursos disponíveis no ambiente de cultivo.
É oportuno inferir que um segundo
ciclo da rúcula bem estabelecido em
uma associação com alface pode propiciar eficiência do uso da área ainda
maior, quando bem manejado. Por outro
lado, ao se observar menor eficiência de
uso da terra no primeiro cultivo da rúcula, para a maioria dos arranjos, parece
evidente que algum efeito competitivo
foi exercido pela cultura da rúcula sobre
a alface, levando-se a repensar a melhor
época de estabelecimento do consórcio
entre estas duas hortaliças, com a finalidade de se obter mais eficiência neste
tipo de associação.
Na consorciação de hortaliças temse verificado compensação entre as
culturas pelo EUA. Costa et al. (2007),
avaliando o consórcio da alface e rúcula, em função de época de cultivo e
da época de semeadura da rúcula em
relação ao transplante de três cultivares
da alface, verificou que os índices de
eficiência do uso da área dos consórcios
variaram de 1,08 a 2,02. Barros Júnior
(2008), avaliando a influência da adubação nitrogenada no consórcio da alface
e rúcula, obteve um índice de 86% de
eficiência de área. Para este autor, a
rúcula tem sido utilizada com sucesso
como cultura secundária em consórcios
de hortaliças porque suas características
botânicas e seu ciclo curto têm propiciado interferência de pequena intensidade
na cultura principal, resultando numa
complementaridade espacial como
também temporal. Este fato também se
confirmou neste experimento. No entanto, a adubação orgânica exerceu maior
influência no desempenho agronômico
das culturas consorciadas. Estes resultados validam, portanto, a sustentabilidade deste sistema de cultivo.
Nas condições em que foram executados estes experimentos, pode-se verificar que todas as associações da alface
e rúcula, assim como os seus cultivos
solteiros tiveram melhor desempenho
produtivo sob a adubação orgânica e que
a rebrota da rúcula aumentou a eficiência
agronômica do sistema consorciado.
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em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas. Horticultura Brasileira 28: 41-46.
Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas
André Luis S Resende1*; Abraão José da S Viana2; Rafael J Oliveira2; Elen de L Aguiar-Menezes3; Raul
de LD Ribeiro4; Marta dos SF Ricci3; José Guilherme M Guerra3
UFRRJ, Pós-graduação em Fitotecnia, Rod. BR 465, km 07, 23890-000 Seropédica-RJ; 2UFRRJ-Instituto de Agronomia; 3Embrapa
Agrobiologia, C. Postal 74505, 23890-000 Seropédica-RJ; 4UFRRJ-Instituto de Agronomia, Depto Fitotecnia; *autor correspondente;
[email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
O consórcio de culturas é comumente praticado na produção de
hortaliças devido a diversos benefícios econômicos. Em alguns casos,
podem reduzir infestações de pragas por favorecer a conservação dos
inimigos naturais nos agroecossistemas. Avaliou-se a viabilidade
agronômica do consórcio de couve e coentro, sob manejo orgânico,
com base em parâmetros fitotécnicos, além de sua influência sobre
populações de joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae), na comparação
com os respectivos cultivos solteiros. O coentro, representando a
cultura secundária, foi utilizado com a finalidade de fornecer recursos
para as joaninhas. O estudo foi realizado em área do Sistema Integrado de Produção Agroecológica em Seropédica-RJ. O experimento
consistiu dos consórcios: 1) couve consorciada com coentro, cujas
quatro linhas de plantas foram colhidas na fase vegetativa (consórcio
I), e 2) couve consorciada com coentro, cujas plantas das duas linhas
internas (próximas à linha da couve) foram colhidas na fase vegetativa
e as duas linhas externas foram cortadas após floração (consórcio II).
Em ambos consórcios foram avaliados os parâmetros fitotécnicos da
couve e do coentro na fase vegetativa (padrão comercial), enquanto
que no consórcio II, também se avaliou as populações de joaninhas,
por meio de coletas semanais de adultos, em comparação com a
couve em cultivo solteiro. O delineamento experimental foi em
blocos ao acaso com quatro repetições. O coentro não interferiu na
produtividade da couve consorciada e sua introdução contribuiu positivamente para a abundância e diversidade de espécies de joaninhas.
O índice de equivalência de área para o consórcio I, com referência
aos rendimentos de biomassa aérea fresca, foi superior em 92% em
relação ao cultivo solteiro. Este resultado demonstra a viabilidade
do consórcio I, no manejo orgânico adotado, para plantios de outono
nas condições edafoclimáticas da Baixada Fluminense.
Performance of the kale-coriander intercropping in organic
cultivation and its influence on the populations of ladybeetles
Palavras-chave: Brassica oleracea var. acephala, Coriandrum
sativum, agricultura orgânica, eficiência agronômica, controle
biológico.
Keywords: Brassica oleracea var. acephala, Coriandrum sativum,
organic agriculture, agronomic efficiency, biological control.
Intercropping is commonly practiced in the production of
vegetable crops due to diverse economic benefits. In some cases, it
may decrease the infestations of pests by favoring the conservation
of the natural enemies in the agroecosystems. This study aimed
to evaluate the agronomical viability of the kale and coriander
intercropping, under organic management, based on phytotechnical
parameters, and its influence on the populations of ladybeetles
(Coleoptera: Coccinellidae) in comparison to respective sole crops.
Coriander, representing the secondary crop, was used aiming to
provide resources to ladybeetles. The study was carried out in area of
the Sistema Integrado de Produção Agroecológica, Seropédica county,
State of Rio de Janeiro. The experiment consisted of two types of
intercropping: 1) kale intercropped with coriander, whose four lines
of plants were harvested at the vegetative phase (intercropping I), and
2) kale intercropped with coriander, whose plants of the two internal
lines (near to the line of kale) were harvested at the vegetable phase,
and the two external lines were cut after blossom (intercropping II).
In both intercropping the phytotechnical parameters of the kale and
the coriander at the vegetative phase (commercial standard) were
evaluated, while in the intercropping II, the populations of ladybeetles
were also evaluated by weekly samples of adults, in comparison to
kale sole crop. The experimental design was of randomized blocks
with four replicates. Coriander did not interfere in the productivity
of the kale intercropped and its introduction contributed positively
to the abundance and the species diversity of ladybeetles. The land
equivalent ratio for the intercropping I, taking into account the yield
of fresh aerial biomass, was superior in 92% in relation to kale sole
crop. This result demonstrates the viability of the intercropping I, in
the organic management adopted, for cultivation of autumn in the
edaphoclimatic conditions of the Baixada Fluminense region.
(Recebido para publicação em 26 de fevereiro de 2009; aceito em 12 de janeiro de 2010)
(Received on February 26, 2009; accepted on January 12, 2010)
O
consórcio de culturas é um importante componente dos sistemas
agrícolas sustentáveis, nos quais se
incluem os orgânicos. É uma prática
agrícola bastante comum no cultivo
de hortaliças em pequenas unidades de
produção de regiões tropicais, sobretudo
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
aquelas de base familiar (Montezano
& Peil, 2006). Entre os benefícios
dos consórcios estão a otimização do
aproveitamento da terra, água, insumos
agrícolas e mão-de-obra, além da contribuição para estabilização da atividade
rural, assegurando colheitas escalonadas
e possibilitando renda adicional para o
produtor (Cecílio Filho & May, 2002;
Montezano & Peil, 2006).
O aumento da produção por unidade de área cultivada é uma das razões
mais importante para o emprego de
consórcios de culturas (Montezano &
41
ALS Resende et al.
Peil, 2006). Todavia, de modo geral, o
sistema consorciado não infere no uso
de tecnologias que busquem máxima
produtividade. Há consórcios nos quais
as interações biológicas representam
serviços ecológicos de importância
acentuada, dentre eles a redução do nível
de dano ocasionado por insetos-pragas,
através de estímulos aos inimigos naturais, tais como as joaninhas predadoras
(Santos, 1998; Patt et al., 1997; Altieri
et al., 2003). Por exemplo, em estudo
sobre consórcios de berinjela (Solanum
melongena L.) com duas apiáceas
(coentro (Coriandrum sativum L.)
ou endro (Anethum graveolens L.) no
controle do inseto-praga Leptinotarsa
decemlineata (Say) (Coleoptera: Chrysomelidae), Patt et al. (1997) observaram nos consórcios maior abundância
e diversidade de espécies de joaninhas
predadoras, principalmente Coleomegilla maculata DeGeer, Coccinella
septempunctata L., Harmonia axyridis (Pallas), Hippodamia parenthesis
(Say), Hippodamia variegata Goeze
e Propylea quatuordecimpunctata L.,
comparativamente ao cultivo solteiro
da berinjela, bem como observaram o
aumento do consumo de massas de ovos
do inseto-praga pelas joaninhas.
Esses estímulos são, geralmente,
proporcionados pela presença da planta
“companheira” (cultura secundária) no
consórcio e referem-se ao fato dessas
plantas provocarem alterações microclimáticas favoráveis e/ou proverem
abrigo e/ou recursos nutricionais suplementares, como pólen, néctar e presas ou
hospedeiros alternativos, aos inimigos
naturais, proporcionando a conservação
desses agentes de controle biológico no
agroecossistema (Altieri et al., 2003;
Wackers et al., 2005; Montezano &
Peil, 2006). Vários estudos conduzidos
em sua maioria nos EUA, na Europa e
na Austrália mostraram que espécies de
plantas da família Apiaceae podem fornecer recursos que garantem a sobrevivência e/ou reprodução de inimigos naturais e que, portanto, poderiam compor
consórcios culturais com o propósito de
fornecer esse serviço ecológico (Bugg &
Wilson, 1989; Patt et al., 1997).
Contudo, a eficiência agronômica
dos sistemas consorciados depende da
complementaridade espacial e temporal
42
entre culturas, sendo necessário minimizar a competição entre as espécies
e cultivares envolvidas (Montezano &
Peil, 2006). Resultados positivos, em
termos de produtividade, conferem aos
consortes a condição de plantas “companheiras” (Kuepper & Dodson, 2001;
Montezano & Peil, 2006).
O índice de equivalência de área
(IEA) tem sido usado com freqüência
como indicador da eficiência dos consórcios. Assim, o IEA estima a área física requerida aos cultivos solteiros para
que se obtenha produção equivalente à
do sistema consorciado. Quando o IEA
é maior que 1,0 fica demonstrada a viabilidade técnica do manejo estabelecido
para o consórcio (Vandermeer, 1989;
Montezano & Peil, 2006).
De acordo com Montezano & Peil
(2006), o consórcio de hortaliças, embora praticado com freqüência, é ainda
pouco pesquisado. Segundo estes mesmos autores, as cultivares de hortaliças
são selecionadas visando o monocultivo,
e torna imprevisível o comportamento dos genótipos quando em cultivo
consorciado, portanto, indicando a
conveniência da experimentação em
nível regional.
Nenhum registro específico sobre o
desempenho agronômico do consórcio
entre couve (Brassica oleracea L. var.
acephala D.C.) e coentro (Coriandrum
sativum L.) foi encontrado. Tivelli et
al. (2006) avaliaram o consórcio de
couve com alface (Lactuca sativa L.),
constatando aumentos significativos na
produtividade da couve, na qualidade
da alface e na eficiência do uso da terra, em relação aos respectivos cultivos
solteiros. Pesquisas sobre consórcio de
diversas hortaliças como o coentro têm
apresentado resultados promissores,
incluindo cenoura (Dacus carota L.)
(Freitas et al., 2004), alface (Freitas et
al., 2004; Oliveira et al., 2005), cebolinha (Allium fistulosum L.) (Zárate et al.,
2005), taro [Colocasia esculenta (L.)
Schott] (Zárate et al., 2007a) e rabanete
(Raphanus sativus L.) (Grangeiro et al.,
2008).
O presente estudo teve o objetivo
de avaliar a viabilidade técnica do consórcio de couve e coentro, em sistema
orgânico de produção, nas condições
edafoclimáticas da Baixada Fluminense,
com base em parâmetros fitotécnicos,
assim como sua influencia sobre populações de joaninhas (Coleoptera:
Coccinellidae).
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido no período
de abril a outubro de 2007 em área do
Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA). O SIPA representa
um projeto de pesquisa em agricultura
orgânica, caracterizado pelo cultivo diversificado de hortaliças, fruteiras e cereais integrado à produção animal. Está
localizado no município de Seropédica
(22o46’S, 43o41’W e 33 m de altitude),
Região Metropolitana do estado do Rio
de Janeiro (Neves et al., 2005).
O solo da área experimental é
classificado como Argissolo VermelhoAmarelo, cuja análise, realizada na fase
de pré-plantio, à profundidade de 0-20
cm, revelou: pH em água= 6,7; Al+++=
0,0 cmolc dm-3; Ca++= 3,5 cmolc dm-3;
Mg++= 1,3 cmolc dm-3; K+= 517,5 cmolc
dm-3 e P disponível= 179,7 mg dm-3. A
adubação orgânica consistiu da incorporação de 100 kg de N ha-1 aos canteiros
por ocasião da semeadura do coentro
e de 50 kg de N ha-1 mensalmente, ao
redor das plantas de couve, até o final
do ciclo produtivo. As fontes de adubo
foram, respectivamente, o esterco de
bovino curtido (pré-plantio) e a torta de
mamona em cobertura.
Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro
repetições. Os tratamentos foram: 1)
couve consorciada com coentro, sendo
este colhido aos 55 dias após a semeadura, ainda em fase vegetativa (consórcio
I); 2) couve consorciada com coentro,
cujas plantas correspondentes às duas
linhas interiores (mais próximas à linha
de plantio da couve) foram colhidas
aos 55 dias após a semeadura e às duas
linhas externas mantidas até o final da
fase de floração (consórcio II); 3) coentro em cultivo solteiro; e 4) couve em
cultivo solteiro.
Foram utilizadas a cultivar HeviCrop de couve (Brassica oleracea var.
acephala D.C.) e a cultivar Asteca de
coentro (Coriandrum sativum L.). O
coentro foi utilizado como cultura secundária por possuir nectários florais
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas
(Diederichsen, 1996), objetivando
suplementar recursos alimentares para
as joaninhas. As mudas de couve foram
produzidas em bandejas de poliestireno
expandido, abastecidas com substrato orgânico. O coentro foi semeado
diretamente nos canteiros, sete dias
antecedendo o transplantio das mudas
de couve.
A couve foi cultivada no espaçamento padrão de 1,0 x 0,5 m, enquanto o
coentro foi semeado em linhas distanciadas de 0,2 m entre si, conservando-se 20
plantas por metro linear após o desbaste.
Esses espaçamentos foram empregados
tanto nos cultivos solteiros de cada espécie quanto nos consórcios entre elas.
As parcelas experimentais ocuparam
6,0 m2 (6,0 x 1,0 m), sendo compostas
por 11 plantas de couve dispostas em
linha única e/ou 480 plantas de coentro
dispostas em quatro linhas, independentemente do tratamento (consórcio
ou cultivo solteiro).
A cada colheita semanal de couve
foram aferidos: número de folhas de
padrão comercial por planta; área foliar
específica (relação entre a área foliar e
a biomassa seca das folhas); índice de
área foliar (IAF = razão entre área foliar
colhida e unidade de área cultivada)
e produtividade (biomassa fresca das
folhas de padrão comercial por metro
quadrado de área cultivada). A área
foliar foi determinada pelo método de
referência, usando o aparelho digital
integrador (LI-COR, modelo LI 3100).
No total, foram realizadas 21 colheitas
semanais de couve, com início aos 40
dias após o transplantio das mudas.
Com respeito aos parâmetros fitotécnicos do coentro, foram avaliados: altura
das plantas aos 50 dias após semeadura,
rendimento em biomassa de parte aérea
(fresca e seca), número de molhos de
100 g por unidade de área cultivada (m2)
e número de hastes por planta (obtido
pela média de 80 indivíduos por parcela), os quais foram determinados aos 55
dias após semeadura.
A avaliação da eficiência agronômica do consórcio I foi feita por meio
do cálculo do índice de equivalência de
área (IEA), com base nas produções de
biomassa da parte aérea fresca da couve
(produtividade total) e do coentro, sendo
este último colhido no padrão comercial
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
(aos 55 dias a contar da semeadura). Foi
utilizada a seguinte equação (Vandermeer, 1989): IEA = (Icouve S-1couve) + (Icoentro
S-1coentro), onde: I e S = produtividade
correspondente a cada cultura no cultivo consorciado e no cultivo solteiro,
respectivamente.
Para aferir a diversidade de espécies
e os níveis populacionais de joaninhas
predadoras, foram executadas coletas
desses insetos três vezes por semana
nas plantas de couve e coentro no consórcio II e de couve no cultivo solteiro.
Nessas plantas também foi observada
a presença ou a ausência de pulgões.
Os adultos de joaninhas foram removidos manualmente ou com auxílio de
aspirador bucal, durante períodos de
30 minutos para cada parcela experimental, seguindo metodologia proposta
por Michels Junior et al. (1996). As
joaninhas foram acondicionadas em
copos plásticos transparentes (250 ml),
tamponados com tela de organza para
permitir ventilação, sendo as amostras transportadas ao laboratório para
contagem e identificação taxonômica.
A freqüência relativa das espécies de
joaninhas foi estabelecida pela seguinte
equação: F = n x 100/N, em que n =
número de adultos de determinada espécie de joaninha e N = número total de
adultos, equivalendo a todas as espécies
de joaninhas coletadas.
Nos dados obtidos, as pressuposições de normalidade e homogeneidade
de variâncias foram obtidas e análises
univariada de variância foram realizadas
através do programa SAEG 9.0. Diferenças significativas entre tratamentos
foram estabelecidas pelo teste F (P =
0,05) e as médias comparadas pelo teste
de Tukey (p = 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O consórcio com a couve não
influenciou a maioria dos parâmetros
fitotécnicos relativos ao coentro (Tabela
1). Houve diferença significativa apenas
para altura da planta, superior no cultivo
consorciado. Esse mesmo resultado foi
observado em consórcios de coentro
com outras espécies de hortaliças, os
quais induziram maior porte da planta
de coentro, caracterizando que houve
competição por luz (Zárate et al., 2005;
Zárate et al., 2007a; Grangeiro et al.,
2008).
Diferindo dos resultados obtidos no
presente estudo, Zárate et al. (2007a,b) e
Grangeiro et al. (2008) observaram que
o rendimento em massa fresca de parte
aérea do coentro foi maior no cultivo
solteiro, porém, as cultivares usadas por
esses autores foram outras (Português e
Verdão). Em experimento de avaliação
de consórcios entre alface e coentro,
conduzido por Oliveira et al. (2005)
em Mossoró, estado do Rio Grande do
Norte, a cultivar de coentro Asteca em
cultivo solteiro alcançou rendimento
em massa aérea fresca de 1,992 kg m-2,
assim ultrapassando o valor médio obtido no presente estudo para a mesma
cultivar. Tal variação pode ser atribuída
a diferenças edafoclimáticas e de práticas culturais empregadas.
Todavia, nos experimentos de Oliveira et al. (2005), quando em cultivo
consorciado com alface, os valores
referentes a número de molhos de 100
g m-2, número de haste planta-1 e rendimento em massa fresca da parte aérea
para a cultivar Asteca foram mais baixos
do que no consórcio com a couve aqui
relatado (Tabela 1).
Quanto à couve, o consórcio com o
coentro não afetou o número de folhas
por planta em qualquer das 21 colheitas
semanais realizadas. Na maioria dessas
colheitas, o consórcio também não
mostrou influencia sobre a área foliar
específica da couve.
Efeito significativo foi apenas constatado na sétima e na nona colheitas (Tabela 2), onde se observou na couve no
cultivo solteiro e no consórcio I redução
de área foliar específica, em comparação
ao consórcio II.
O índice de área foliar (IAF) da couve também diferiu significativamente
em função dos sistemas de cultivo, em
apenas duas das colheitas efetuadas
(Tabela 2). Na terceira colheita, o cultivo
solteiro da couve resultou em valores
significativamente mais altos de IAF,
mas não diferindo do consórcio II. Na
décima colheita, contrariamente à terceira, neste tipo de consórcio, observou-se
valores de IAF inferiores aos dos dois
outros tratamentos.
Em 14 das 21 colheitas de couve,
não houve diferença significativa na
43
ALS Resende et al.
Tabela 1. Parâmetros fitotécnicos do coentro, sob manejo orgânico, em cultivo solteiro e no consórcio com couve (phytotechnical parameters
of coriander, under organic management, in sole crop and intercropped with kale). Seropédica, SIPA, 2007.
Sistemas de cultivos
Consórcio couve-coentro
Cultivo solteiro de coentro
CV (%)
Altura da planta
aos 50 dias (cm)
37,57 a
34,67 b
4,00
Biomassa aérea
fresca (kg m-2)
1,981 a
1,835 a
17,50
Biomassa aérea
seca (kg m-2)
No de hastes
planta-1
Nº de molhos
(100 g) m-2
Aos 55 dias
0,194 a
13,00 a
0,203 a
13,28 a
20,86
7,53
19,81 a
18,35 a
9,13
Valores representam médias de quatro repetições; Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem pelo teste F ao nível de 5% de
probabilidade (values represent means of four replicates; Means followed by the same letter in the columns do not differ by F test at 5%
probability level).
produtividade da couve entre tratamentos, demonstrando que ambos os tipos
de consórcio couve x coentro pouco
interferiram na produtividade da cultura
principal. A produtividade da couve em
cultivo solteiro diferiu significativamente de apenas um dos consórcios com
referência à terça parte das colheitas
semanais (Tabela 2).
No consórcio I, em que as quatro
linhas de coentro foram colhidas de uma
única vez e coincidindo com a segunda
colheita da couve, constatou-se uma
queda significativa na produtividade da
brássica nas duas colheitas seguintes, em
comparação ao cultivo solteiro (Tabela
2). No entanto, da quinta colheita em
diante, a produtividade da couve consorciada equiparou-se à de seu cultivo
solteiro, com exceção da 15a colheita.
No consórcio II, em que as duas
linhas externas de coentro foram mantidas até o final da fase de floração, a
produtividade da couve foi significativamente menor em relação aos outros
dois tratamentos na primeira colheita e
novamente entre as 12a e 15a colheitas
(Tabela 2). Tal efeito possivelmente
correlacionou-se à retirada do coentro
florido, que coincidiu com a data da
12a colheita.
Em termos de produtividade total
da couve, quando o coentro foi colhido
aos 55 dias de idade (consórcio I), não
se observou interferência na comparação com o cultivo solteiro, ocorrendo
o contrário com o consórcio II, em que
se constatou queda de produtividade da
couve (Tabela 2).
O índice de equivalência de área
(IEA) referente ao consórcio I atingiu
o valor de 1,92. Isto significa que os
cultivos solteiros de couve e coentro
precisariam de 92% a mais de área ocupada com os consórcios para alcançar
rendimento equivalente. Oliveira et al.
(2005) registraram valores de IEA, relacionados a consórcios de duas cultivares
Tabela 2. Produtividade, área foliar específica (AFE) e índice de área foliar (IAF) de colheitas da couve, com diferenças significativas,
obtidos no cultivo solteiro e nos cultivos consorciados com o coentro, sob manejo orgânico (productivity, specific leaf area (SLA) and index
of leaf area (ILA) of harvests of kale, with significant differences, obtained in the sole crop and the intercroppings with coriander, under
organic management). Seropédica, SIPA, 2007.
Produtividade (kg m-2)
Colheitas
1a
3a
4a
12a
13a
14a
15a
Total
Coentro colhido na fase
vegetativa1
0,6317a3
0,2171b
0,2013b
0,2383a
0,2711ab
0,2159ab
0,2404b
5,503ab
7a
9a
149ab
140b
3a
10a
1004b
1163a
Coentro mantido até o final da
fase da floração2
0,4728b
0,2503ab
0,2416ab
0,1487b
0,2109b
0,1781b
0,2334b
5,017b
AFE (cm2 de folhas g-1 massa aérea seca)
160a
167a
IAF (cm2 de folhas m-2 de área cultivada)
1081ab
944b
Cultivo solteiro
CV (%)
0,6965a
0,3228a
0,3226a
0,3029a
0,3495a
0,2553a
0,2760a
6,4960a
5,29
17,24
19,37
15,46
16,72
13,83
6,30
34,71
135b
127b
5,91
4,77
1349a
1206a
13,62
8,09
Consorcio I (Intercropping I); 2Consorcio II (Intercropping II); 3Valores representam médias de quatro repetições; Médias seguidas da
mesma letra nas linhas não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade; Total de 21 colheitas (values represent means of
four replications; Means followed by the same letter in the rows do not differ by Tukey test at 5% probability level; Total of 21 harvests).
1
44
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Consórcio couve-coentro em cultivo orgânico e sua influência nas populações de joaninhas
Tabela 3. Diversidade de espécies e densidades populacionais de adultos de joaninhas
(Coleoptera: Coccinellidae) coletados durante todo o período do experimento, no consórcio
couve x coentro e no cultivo solteiro de couve, sob manejo orgânico (species diversity and
adult population densities of ladybeetles (Coleoptera: Coccinellidae) collected during all
period of the experiment, in kale and coriander intercropping and in sole crop of kale, under
organic management). Seropédica, SIPA, 2007.
Espécies
Consórcio couve x
coentro
Cultivo solteiro de
couve
No total de
indivíduos
F1
No total de
indivíduos
F
1
99
32
3
5
13
2
9
1
1
0,6
59,6
19,3
1,8
3,0
7,8
1,2
5,4
0,6
0,6
0
7
1
0
0
3
0
1
0
0
0,0
58,3
8,3
0,0
0,0
25,0
0,0
8,3
0,0
0,0
Brachiacantha sp.
Cycloneda sanguinea (L.)
Eriopis connexa Germar
Harmonia axyridis (Pallas)
Hippodamia convergens Guérin
Hyperaspis festiva Mulsant
Hyperaspis notata Mulsant
Scymnus (Pullus) sp.
Nephus sp.
Zagreus bimaculosus Mulsant
Riqueza de espécies2
No total de indivíduos
No médio de indivíduos coleta-1
CV (%) = 37,42
10
166 a
11,07 a3
4
12 b
0,8 b
F = Freqüência relativa de espécies de joaninhas (Relative frequency of ladybeetle species);
Número total de espécies coletadas; 3Valores seguidos da mesma letra nas linhas não diferem
entre si pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade (values followed by the same letter in
the rows do not differ by F test at 5% probability level).
1
2
de alface e de cinco cultivares coentro,
variando de 1,42 a 3,21, sendo que para
coentro cv. Asteca, o valor de IEA para
consórcio com alface Babá de Verão foi
superior ao obtido para o consórcio I, o
qual, por sua vez, foi inferior ao IEA do
consórcio com a alface Tainá. Valores
de IEA também superiores a 1,0 foram
obtidos em consórcios de coentro com
outras espécies de hortaliças, como
cenoura (Freitas et al., 2004), cebolinha
(Zárate et al., 2005), taro (Zárate et al.,
2007a) e rabanete (Grangeiro et al.,
2008), mas que ficaram abaixo do IEA
obtido com o consórcio I. Portanto, no
presente estudo, o consórcio couve x
coentro mostrou-se efetivo, conforme
postulado por Vandermeer (1989), bem
como foi coerente com o princípio da
“produção competitiva”, o qual estabelece que “duas culturas consorciadas só
irão produzir mais do que os respectivos
cultivos solteiros se a competição mútua for suficientemente fraca” (Santos,
1998).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Não se registrou infestação de pulgões na couve durante todo o período
experimental. O pequeno tamanho das
parcelas pode ter contribuído para
esse resultado, devido proporcionar
baixa densidade de plantas de couve
no experimento. Substâncias químicas
secundárias, como a sinigrina e outros
glucosinolatos, estão presentes em
brássicas e servem como sinais para
seleção da planta hospedeira pelos insetos, sendo normalmente usadas pelos
pulgões como substancias atraentes e
estimulantes da alimentação (Gabrys &
Tjallingii, 2002). Portanto, uma baixa
densidade de plantas pode resultar em
baixa concentração de odores atrativos
aos pulgões, dificultando a colonização
das plantas, a qual pode ter sido agravada pelo confundimento das formas aladas de pulgões causado pelos odores dos
óleos essenciais do coentro. Contudo, a
abundante presença de joaninhas na área
cultivada, principalmente nas parcelas
do consórcio II, também pode ter cola-
borado com a ausência de infestação das
plantas por pulgões, visto que a maioria
das espécies de joaninhas coletadas é
afidófaga (Michaud, 1998; Resende et
al., 2006, 2007; Weeden et al., 2008).
Hyperapis notata Mulsant e Zagreus
bimaculosus Mulsant constituíram as
exceções porque são consideradas coccidófagas (predadoras de cochonilhas)
(Wolff et al., 2004), embora Resende et
al. (2007) já tenham observado larvas de
H. notata predando pulgões (Lipaphis
pseudobrassicae Davis) em couve.
As populações de adultos de joaninhas no consórcio couve x coentro
foram numericamente superiores às
encontradas no cultivo solteiro de couve.
A presença do coentro junto à couve, na
forma de consórcio em faixas, aumentou
tanto a abundância quanto a riqueza de
espécies de joaninhas (Tabela 3). Patt et
al. (1997), ao estudarem a influência do
consórcio de berinjela com o coentro sobre populações de joaninhas, reportaram
resultados análogos, também constatando número significativamente maior de
indivíduos e de espécies desses insetos
predadores no cultivo consorciado do
que no cultivo solteiro de berinjela.
No presente estudo, o estímulo às
populações de joaninhas no consórcio,
principalmente à época da floração do
coentro, provavelmente ocorreu porque a apiácea contribuiu como local
adicional de abrigo para larvas, pupas
e adultos desses predadores, além de
prover sítios alternativos para oviposição, acasalamento e alimentação dos
mesmos. Além de se alimentarem das
presas, as joaninhas predadoras necessitam de recursos nutricionais além das
presas, como pólen e néctar, os quais
são capazes de garantir a sobrevivência
dos adultos e sustentar o metabolismo
e o desenvolvimento gamético de certas
espécies (Wackers et al., 2005). Isto
provavelmente justifica a alta freqüência
de visitação das joaninhas às inflorescências do coentro, observada na área
experimental. Patt et al. (1997) também
assinalaram a freqüente visitação de
joaninhas às inflorescências de coentro,
à semelhança do aqui relatado. Ademais,
no final da fase de floração, o coentro foi
infestado por pulgões, os quais serviram
de alimento para as joaninhas.
Assim, o arranjo espacial de uma
45
ALS Resende et al.
linha central de couve e quatro linhas
paralelas de coentro, mostra-se agronomicamente viável com base nos valores
referentes aos índices de equivalência
de área cultivada, e quando o coentro é
manejado colhendo as duas linhas centrais aos 55 dias e as demais deixadas
para florir estimula de modo expressivo
a abundância e a diversidade de espécies
de joaninhas predadoras, criando condições para o controle biológico natural.
O consórcio entre couve (cv. HeviCrop) e coentro (cv. Asteca), sob manejo
orgânico e no arranjo espacial adotado
mostrou-se viável, baseando-se no índice de equivalência de área cultivada,
e o coentro em floração beneficia as
populações de joaninhas predadoras, aumentando sua diversidade e abundância
na área de cultivo.
AGRADECIMENTOS
À CAPES e à FAPERJ, respectivamente, pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor e de iniciação
científica ao terceiro autor deste artigo.
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ornamental. Horticultura Brasileira 28: 47-53.
Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental
Raquel Silviana Neitzke1,4; Rosa Lía Barbieri1; Walter F Rodrigues3; Inez V Corrêa3; Fernando IF de
Carvalho2
Embrapa Clima Temperado C. Postal 354, 96001-970, Pelotas-RS; 2UFPel-FAEM, Depto Fitotecnia, Pelotas-RS; 3Estagiário Embrapa
Clima Temperado 4Estagiária e doutoranda em Agronomia, UFPel; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Alguns tipos de pimentas do gênero Capsicum são utilizados
como plantas ornamentais, por possuírem caracteres, que conferem
valor estético, por serem de fácil cultivo e apresentarem grande
durabilidade. Entretanto, no Brasil são poucas as variedades comerciais destinadas a este propósito. O presente trabalho teve por
objetivo caracterizar e estudar a distância genética dos acessos com
potencial ornamental do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum
da Embrapa Clima Temperado. O experimento foi realizado de julho
de 2007 a fevereiro de 2008, no campo experimental da Embrapa
Clima Temperado, em blocos ao acaso, com três repetições, utilizando
17 acessos, com dez plantas por parcela. As plantas foram caracterizadas morfologicamente com oito descritores quantitativos e 22
descritores qualitativos. Foram realizadas análises de comparação
de médias, variáveis canônicas, agrupamento pelo método UPGMA
e de Tocher, para os dados quantitativos, e agrupamento pelo método
UPGMA e de Tocher para os dados qualitativos. Os acessos foram
agrupados de forma distinta quando utilizado dados quantitativos
e dados qualitativos. A análise dos dados qualitativos separa mais
os acessos, com a formação de maior número de grupos do que na
análise dos dados quantitativos. A utilização conjunta da caracterização baseada em descritores quantitativos e qualitativos, porém com
análises separadas, possibilita uma interpretação mais fidedigna da
dissimilaridade genética e permite o melhor direcionamento dos
cruzamentos em Capsicum.
Genetic dissimilarity among pepper accessions with potential
for ornamental use
Palavras-chave: Capsicum spp., banco ativo de germoplasma,
caracterização morfológica, descritores quantitativos, descritores
qualitativos.
Keywords: Capsicum spp., germplasm bank, morphological characterization, quantitative descriptors, qualitative descriptors.
Some plants of the Capsicum genus are used as ornamental plants
because they have traits with aesthetic value, are easy to cultivate and
have great durability. However, in Brazil there are few commercial
varieties for this use. The goal of this work was to characterize and
study genetic distance of accessions with ornamental potential from
Capsicum Germplasm Bank of Embrapa Clima Temperado. The
experiment was carried out from July 2007 to February 2008, at the
experimental field of Embrapa Clima Temperado. The experimental
design was randomized complete blocks, with three replicates,
using 17 accessions. Ten plants per plot were used. Plants were
morphologically characterized with eight quantitative descriptors and
22 qualitative descriptors. Quantitative data were used for analysis
of means, canonical analysis, grouping by UPGMA and by Tocher
methods. The qualitative data were grouped by UPGMA and by
Tocher methods. The accessions were grouped in different ways when
used quantitative and qualitative data. The analysis of qualitative data
formed more groups than the analysis using quantitative data. The
use of characterization based both on quantitative and on qualitative
descriptors, but with separated analysis, allows a more reliable
interpretation of genetic dissimilarity and indicates the best direction
for crosses in Capsicum.
(Recebido para publicação em 4 de novembro de 2008; aceito em 4 de janeiro de 2010)
(Received on November 4, 2008; accepted on January 4, 2010)
O
processo de melhoramento genético é altamente dependente da amplitude da base genética disponível, que
por sua vez é influenciada pelo acervo de
recursos genéticos disponíveis, na forma
de acessos coletados e caracterizados,
mantidos nos bancos de germoplasma. A
capacidade de acessar esses indivíduos,
por coleta ou por intercâmbio, é fator
fundamental para o sucesso de qualquer
programa de melhoramento genético
vegetal (Queiroz & Lopes, 2007).
A falta ou a inadequação de informações sobre os acessos mantidos em
bancos de germoplasma causa o baixo
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
interesse dos melhoristas em relação aos
acessos conservados (Barbieri, 2003).
O incremento das atividades de caracterização e avaliação do germoplasma
deve ser prioridade entre as estratégias
de abordagem e manejo dos recursos
genéticos no Brasil. Superadas as deficiências de informação, o germoplasma
será mais útil para os programas de
melhoramento.
A caracterização e a avaliação dos
acessos proporcionam o melhor conhecimento do germoplasma disponível e
permitem a identificação dos acessos
duplicados, o estabelecimento de co-
leções nucleares e a identificação dos
modos de reprodução predominantes
nos acessos, bem como da ocorrência
ou não de variabilidade intrínseca em
acessos individuais (Valls, 2007). A
caracterização morfológica é um processo que, por meio da utilização de uma
lista descritiva, trata de prover maiores
informações sobre o germoplasma
conservado, dispondo-o de uma forma
mais efetiva para a utilização (Ramos
et al., 1999).
As pimentas do gênero Capsicum
se destacam como parte do mercado de
hortaliças frescas no Brasil, bem como
47
RS Neitzke et al.
do forte segmento de condimentos,
temperos e conservas em nível mundial
(Bianchetti & Carvalho, 2005). Capsicum possui cinco espécies domesticadas:
C. annuum, C. baccatum, C. chinense,
C. frutescens e C. pubescens (Pickersgill, 1997). Apresenta uma diversidade
impressionante (Reifschneider, 2000),
todavia, a diversidade do gênero foi
pouco explorada e certamente não foi
esgotada (Pickersgill, 1997).
Além do uso na culinária, alguns
tipos de pimentas do gênero Capsicum
são utilizados como plantas ornamentais, por possuírem caracteres que conferem valor estético, como folhagem
variegada, pequeno porte, frutos de
coloração intensa que contrastam com
a folhagem (Carvalho et al., 2006), e
também por serem de fácil cultivo e
possuírem grande durabilidade. Um
fator distintivo para uso ornamental é
sua capacidade de crescer em recipientes
como planta perene. No paisagismo, elas
podem atingir um porte maior do que em
vasos, principalmente se os vasos forem
recipientes pequenos que limitam o crescimento radicular e aéreo. Cultivares
ornamentais são usadas principalmente
para decoração, mas os frutos podem ser
usados para confecção de conservas ou
serem desidratados (Witt, 1999).
No Brasil são poucas as variedades
comerciais destinadas a este propósito,
embora os bancos de germoplasma de
Capsicum do país possuam em seu acervo acessos que podem ser utilizados no
melhoramento genético com o objetivo
de criar novas cultivares de pimentas
ornamentais. Luz (2007) encontrou
uma grande variabilidade entre acessos
de Capsicum chinense avaliados por
meio de descritores morfológicos e com
potencial de uso desse germoplasma
em programas de melhoramento. Sudré et al. (2005) publicaram um estudo
de distância genética entre 56 acessos
de pimenta e pimentão pertencentes à
Coleção de Germoplasma de Capsicum
da Universidade Estadual do Norte
Fluminense utilizando técnicas multivariadas, onde sugeriram acessos para
este fim. A Embrapa Clima Temperado
mantém desde 2003 um Banco Ativo
de Germoplasma de Capsicum, o qual
conserva acessos de C. annuum, C.
baccatum, C. chinense, C. frutescens e
48
C. pubescens.
O presente trabalho teve por objetivo caracterizar e estudar a distância
genética dos acessos com potencial
ornamental do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum da Embrapa Clima
Temperado.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho,
foram escolhidos 17 acessos de pimenta
que fazem parte do acervo do Banco
Ativo de Germoplasma de Capsicum e
que têm potencial ornamental para cultivo em vaso ou em jardim. Esta escolha
foi baseada nos dados de passaporte dos
acessos e em dados provenientes de caracterizações realizadas anteriormente.
Os acessos utilizados no estudo de distância genética são variedades crioulas
de C. annuum (P7, P22, P39, P51, P58,
P77 e P119), C. baccatum (P3, P11, P14,
P25, P28, P102 e P110), C. chinense
(P66 e P78) e C. frutescens (P30), provenientes de coletas realizadas em feiras
e de doações de agricultores.
A semeadura foi realizada em 27
de julho de 2007 em bandejas de poliestireno de 72 células preenchidas
com substrato comercial. Em seis de
outubro do mesmo ano, quando as mudas apresentaram de cinco a sete folhas
verdadeiras, foram transplantadas para o
campo experimental da Embrapa Clima
Temperado. O delineamento experimental empregado foi blocos completos casualizados com 17 tratamentos (acessos)
e três repetições. A unidade experimental foi composta por uma fileira com 10
plantas, no espaçamento de 0,5 m entre
plantas e 1,2 m entre fileiras.
No período de dezembro de 2007
a fevereiro de 2008, quando as plantas
apresentaram o primeiro fruto maduro,
foi realizada a caracterização morfológica dos acessos. Foram utilizados oito
descritores quantitativos (altura da planta, comprimento do dossel, comprimento
da folha, largura da folha, comprimento
do fruto, diâmetro do fruto, peso do fruto
fresco e comprimento do pedúnculo) e
22 descritores qualitativos escolhidos
entre os recomendados por Carvalho et
al. (2003), conforme segue: 01) cor da
haste: (1) verde; (2) verde com estrias
violeta; (3) violeta; 02) antocianina nodal: (1) verde; (2) violeta claro; (3) violeta; (4) violeta escuro; 03) pubescência
da haste: (1) esparsa; (2) intermediária;
(3) densa; 04) hábito de crescimento da
planta: (1) prostrado; (2) intermediário;
(3) ereto; (4) outro; 05) densidade de
ramificação: (1) esparsa; (2) intermediária; (3) densa; 06) brotação abaixo
da primeira bifurcação: (1) ausente;
(2) esparsa; (3) intermediária; (4) densa;
07) densidade de folhas: (1) esparsa;
(2) intermediária; (3) densa; 08) cor da
folha: (1) amarelo; (2) verde claro; (3)
verde; (4) verde escuro; (5) violeta claro; (6) violeta; (7) variegada; (8) verde
com antocianina; 09) pubescência da
folha: (1) esparsa; (2) intermediária;
(3) densa; 10) número de flores por
axila: (1) uma; (2) duas; (3) três ou
mais; (4) muitas com entrenó curto;
(5) uma e duas; (6) uma, duas e três;
(7) duas e três; (8) duas, três e quatro;
11) posição das flores na planta: (1)
pendente; (2) intermediária; (3) ereta;
(4) todas posições; (5) intermediária e
ereta; (6) pendente e intermediária; 12)
cor da corola: (1) branco; (2) amarelo
claro; (3) amarelo; (4) amarelo esverdeado; (5) violeta com base branca; (6)
branco com base violeta; (7) branco com
margem violeta; (8) violeta; (9) branco
esverdeado; (10) branco com mancha
púrpura; (11) branco esverdeado com
mancha púrpura; 13) cor da mancha
na corola: (1) branco; (2) amarelo; (3)
verde amarelado; (4) verde; (5) violeta;
(6) sem mancha; 14) forma da corola:
(1) rotada; (2) campanulada; (3) intermediária; 15) pigmento do cálice: (1)
ausente; (2) presente; 16) cor do fruto
imaturo: (1) branco; (2) amarelo; (3)
verde; (4) laranja; (5) violeta; (6) violeta escuro; (7) amarelo esverdeado; (8)
verde amarelado; (9) branco amarelado;
(10) marrom. Quando o fruto apresenta
mais de uma cor de fruto imaturo, é
considerada a cor do primeiro estádio;
17) posição dos frutos na planta: (1)
pendente; (2) intermediária; (3) ereta;
(4) todas posições; (5) pendente e intermediária; (6) pendente e ereta; (7)
intermediária e ereta; 18) cor do fruto
maduro: (1) branco; (2) amarelo limão;
(3) amarelo laranja pálido; (4) amarelo
laranja; (5) laranja pálido; (6) laranja;
(7) vermelho claro; (8) vermelho; (9)
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental
vermelho escuro; (10) violeta; (11)
marrom; (12) preto; (13) amarelo; (14)
amarelo pálido; 19) formato do fruto:
(1) alongado; (2) arredondado; (3) triangular; (4) campanulado; (5) retangular;
20) formato da ponta do fruto: (1)
pontiagudo; (2) truncado; (3) afundado;
(4) afundado com ponta; 21) apêndice
na ponta do fruto: (1) ausente; (2) presente; 22) superfície do fruto: (1) liso;
(2) semi-rugoso; (3) rugoso; (4) liso com
estrias; (5) semi-rugoso com estrias.
Todas as plantas da parcela experimental foram caracterizadas. Para
os caracteres quantitativos foi considerada na análise a média da parcela
experimental para cada descritor, sendo
analisados cinco folhas e cinco frutos
em cada planta para os descritores de
folha e de fruto.
As médias obtidas foram agrupadas
pelo critério de Scott & Knott (1974).
A estimativa da distância generalizada
de Mahalanobis como medida de dissimilaridade foi aplicada para as análises
do método de agrupamento das médias
das distâncias (UPGMA) e no método
de agrupamento de Tocher. Todas as
análises estatísticas foram realizadas por
meio do programa computacional Genes
(Cruz, 2006). Na análise das variáveis
canônicas, a divergência genética foi
apresentada por meio de um gráfico
cartesiano bidimensional de dispersão
de escores. Foi construído um dendrograma pelo método UPGMA e calculado
o coeficiente de correlação cofenética
(r) (Sokal & Rohlf, 1962), utilizando o
programa computacional NTSYS pc 2.1
(Rohlf, 2000).
Para a complementação do estudo da
distância genética entre os acessos foi
realizada uma análise multicategórica.
Para os descritores qualitativos, os dados
foram obtidos por meio da moda de cada
acesso para cada descritor. Os dados de
caracteres qualitativos que apresentaram polimorfismo foram submetidos
à análise de divergência genética pelo
procedimento para dados multicategóricos do programa computacional Genes
(Cruz, 2006). Esta metodologia consiste
na obtenção de um índice, em que são
considerados vários caracteres simultaneamente, sendo que cada caráter pode
apresentar várias classes. A partir desta
análise foi gerada uma matriz de dissimilaridade com base no complemento
do coeficiente de coincidência simples,
sendo esta empregada na formação do
dendrograma pelo método UPGMA no
programa computacional NTSYS pc 2.1
(Rohlf, 2000). A estimativa do ajuste
de correlação do coeficiente cofenético
entre a matriz de dissimilaridade e o
dendrograma foi realizada no mesmo
programa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias apresentaram diferenças
significativas entre si para todos os
caracteres avaliados pela análise de variância. O teste de Scott e Knott (Scott
& Knott,1974) ao nível de significância
de 5% de erro, agrupou as médias dos
caracteres estudados (Tabela 1). O maior
número de classes observado foi para
Tabela 1. Médias dos acessos de Capsicum com potencial ornamental em relação a oito caracteres quantitativos (means of Capsicum accessions with ornamental potential related to eight quantitative traits). Pelotas, UFPel, 2008.
Acesso
AP (cm)
CD (cm)
CFO (cm)
P3
P7
P11
P14
P22
P25
P28
P30
P39
P51
P58
P66
P77
P78
P102
P110
P119
CV (%)
71,87a
40,07b
69,70a
78,40a
15,03d
44,13b
57,23a
65,97a
29,30c
59,80a
30,83c
45,37b
47,97b
45,00b
62,27a
63,40a
52,20a
16,73
105,93a
56,00d
99,00a
95,33a
19,07f
102,37a
81,33b
81,33b
60,53d
71,97d
36,17e
86,73b
59,63d
72,40c
97,73a
84,87b
68,40c
6,41
10,50c
6,20g
12,43a
11,33b
6,80f
8,30d
8,33d
8,90d
5,13h
7,93e
7,67e
7,63e
8,30d
7,33e
7,87e
8,53d
5,27h
3,93
LFO (cm)
CFR (cm)
DFR (cm)
PFF (g)
CP (cm)
4,17b
1,83f
4,67a
3,87c
1,73f
3,53d
3,50d
3,83c
1,70f
2,37e
2,43e
3,33d
2,63e
3,47d
3,37d
3,80c
1,83f
4,93
4,23d
2,73h
5,17c
5,07c
3,37f
2,97g
2,87g
3,00g
1,40j
7,53b
8,40a
3,57e
2,73h
3,20f
2,77h
2,30i
2,67h
3,81
1,97d
2,10d
0,9h
5,63a
1,20g
2,87b
2,90b
0,77h
1,40f
1,03g
2,73c
1,77d
1,93d
1,67e
2,57c
1,90d
1,03g
7,06
5,33d
4,30d
2,07e
28,3a
2,03e
8,30c
7,80c
0,90e
1,67e
3,90e
17,7b
3,23e
4,93d
2,43e
5,13d
3,23e
1,47e
21,61
4,70a
2,43f
4,03c
4,50b
1,80h
3,40d
3,30d
2,67f
1,50i
2,33g
1,50i
2,33g
2,50f
1,93h
3,07e
4,40b
2,20g
5,15
Médias seguidas pela mesma letra, em cada coluna, pertencem ao mesmo grupo pelo critério de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade
de erro. AP= altura da planta; CD= comprimento do dossel; CFO= comprimento da folha; LFO= largura da folha; CFR= comprimento do
fruto; DFR= diâmetro do fruto; PFF= peso do fruto fresco; CP= comprimento do pedúnculo (means followed by the same letter, in each
column, do not differ significantly among them by the Scott-Knott test at 5% of probability of error. AP= plant height; CD= dossal length;
CFO= leaf length; LFO= leaf width; CFR= fruit length; DFR= fruit diameter; PFF= fresh fruit weight; CP= peduncle length).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
49
RS Neitzke et al.
Tabela 2. Escores dos genótipos em relação às duas primeiras variáveis canônicas obtidas
na avaliação da dissimilaridade genética em acessos de pimenta (scores of the genotypes
according to two first canonical variables obtained in the evaluation of the genetic dissimilarity in pepper accessions). Pelotas, UFPel, 2008.
Acesso
P3
P7
P11
P14
P22
P25
P28
P30
P39
P51
P58
P66
P77
P78
P102
P110
P119
Variância (%)
Variância acumulada (%)
Variáveis canônicas
1°
-28,53
-10,15
-16,39
-29,49
3,78
-30,36
-31,80
-23,05
-15,23
43,81
52,31
-11,41
-18,93
-14,11
-28,49
-44,30
-5,11
74,77
74,77
o caráter comprimento do fruto, que
evidenciou dez classes distintas, com as
médias variando de 1,40 cm (P39) a 8,40
cm (P58). O caráter que menos demonstrou classes foi a altura da planta, com
quatro classes diferentes e valores médios variando de 15,03 cm (P22) a 78,40
cm (P14). O grande número de classes
que foi estabelecido é um indicativo da
grande variabilidade existente entre os
acessos com potencial ornamental.
A distância média de Mahalanobis
entre os acessos (D2 = 1601,22) foi utilizada como critério para a formação dos
grupos. No dendrograma houve a formação de três grupos, o primeiro formado
pela grande maioria dos acessos (P3, P7,
P11, P22, P25, P28, P30, P39, P66, P77,
P78, P102, P110 e P119), o segundo
formado exclusivamente pelo acesso
P14 e o terceiro pelos acessos P51 e P58
(Figura 1). O acesso P14 se destaca em
relação aos demais por possuir a maior
altura da planta, maior diâmetro de fruto
(5,63 cm) e o maior peso de fruto (28,27
g). Os acessos P51 e P58 são os que
50
2°
61,21
40,34
62,01
77,95
36,46
49,93
49,36
41,73
27,94
55,41
56,76
42,56
44,36
37,84
47,21
48,29
34,22
22,08
96,85
possuem os maiores valores para comprimento do fruto, com 7,53 cm e 8,4
cm, respectivamente. A alta correlação
cofenética (0,91) mostra a consistência
da análise de agrupamento em relação
à matriz de dissimilaridade.
Conforme Cruz & Regazzi (1994),
para uma interpretação satisfatória da
variabilidade manifestada entre genótipos é necessário que as duas primeiras
variáveis canônicas permitam uma estimativa mínima de 80% da variação total
contida no conjunto de caracteres. Neste
trabalho as duas primeiras variáveis
canônicas explicaram cerca de 96,85%
da variação (Tabela 2).
Com esses resultados foi possível a
construção de um gráfico, de dispersão
para a visualização bidimensional, dos
genótipos analisados, utilizando os escores da primeira e da segunda variável
canônica (Figura 2). A dispersão gráfica
permitiu a separação dos acessos em
grupos, podendo ser utilizada como
uma estratégia para selecionar genótipos divergentes a serem utilizados em
cruzamentos artificiais.
Dois grupos principais foram estabelecidos pelo dendrograma, sendo o
primeiro composto pelos acessos P3,
P7, P11, P14, P22, P25, P28, P30, P39,
P66, P77, P78, P102, P110 e P119 e o
segundo pelos acessos P51 e P58. Os resultados são concordantes parcialmente
com o dendrograma gerado (Figura 1),
onde os acessos P51 e P58 ficaram isolados dos demais em ambos os métodos
de agrupamento, porém na dispersão
gráfica o acesso P14 não ficou separado
da grande maioria dos acessos.
A estimativa das distâncias genéticas
permitiu a formação de quatro grupos
distintos pelo método de Tocher para
os descritores quantitativos. O primeiro
grupo reuniu a grande maioria dos acessos (P3, P7, P11, P25, P28, P30, P39,
P66, P77, P78, P102, P110 e P119), o
segundo foi formado pelos acessos P51
e P58, o terceiro e o quarto somente por
um acesso em cada grupo, P22 e P14,
respectivamente. O acesso P22 possui a
menor altura (15,03 cm) e o menor comprimento do dossel (19,07 cm) de todos
os que foram caracterizados. Genótipos
de pequeno porte são bastante desejáveis
para uso ornamental, pois possibilitam o
cultivo em recipientes relativamente pequenos sem comprometer o crescimento
e desenvolvimento da planta. Genótipos
de porte mediano a alto podem ser
destinados ao paisagismo, para cultivo
em jardins.
A formação dos grupos nos métodos
utilizados não possibilitou a separação
entre as espécies de Capsicum, onde o
primeiro grupo, em todas as análises,
possui exemplares das quatro espécies
utilizadas no estudo, C. annuum, C. baccatum, C.chinense e C. frutescens.
Para complementação dos dados e
uma caracterização mais detalhada foi
realizada a análise de dissimilaridade
por meio de descritores qualitativos.
Estes descritores são muito importantes
para a identificação dos acessos com
maior potencial ornamental, assim
como para utilizar em cruzamentos para
obtenção de cultivares ornamentais de
pimenta. Os descritores qualitativos
mais importantes para avaliação do
potencial ornamental, em relação ao
aspecto estético, são coloração dos
frutos quando imaturos e maduros,
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental
P3
P11
P25
Disssimilaridademédia
P102
P28
P30
P110
*R=0,91
P7
GI
P102P77
P66
P78
P119
P39
P22
P14
GII
GIII
P51
P58
21.09
1326.68
2632.26
3937.85
5243.43
Figura 1. Dendrograma de análise de agrupamento de 17 acessos de pimentas do gênero
Capsicum pelo método UPGMA, utilizando a distância de Mahalanobis, obtido a partir da
análise de caracteres quantitativos. *R: Correlação cofenética (dendrogram resulting from
grouping analysis by the UPGMA method of 17 pepper accessions of Capsicum genus,
using Mahalanobis distance, obtained from quantitative traits analyses. *R: Cophenetical
correlation). Pelotas, UFPel, 2008.
posição dos frutos na planta, hábito de
crescimento da planta, densidade de ramificação, densidade de folhas, cor das
folhas e formato dos frutos. De modo
geral, os acessos de Capsicum estudados revelaram diferenças para todos os
descritores utilizados, com exceção do
descritor presença de apêndice na ponta
do fruto, para o qual todos os acessos
apresentaram ausência do mesmo, sendo
desta forma descartado da análise de
divergência genética.
O dendrograma resultante da análise
de agrupamento pelo método UPGMA
(Figura 3) utilizando dados qualitativos
revelou a formação de seis grupos pelo
corte na dissimilaridade média entre os
acessos estudados (0,480). O primeiro
grupo reuniu os acessos P3, P14, P22,
P51, P58. Estes acessos foram monomórficos para os seguintes descritores:
hábito de crescimento (intermediário),
brotação abaixo da primeira bifurcação
(esparsa), número de flores por axila
(uma), pigmento do cálice (ausente)
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
e cor do fruto maduro (vermelho). O
segundo grupo reuniu os acessos P11 e
P30, muito semelhantes entre si, principalmente considerando os caracteres de
fruto, onde estes apresentaram as mesmas classes para todos os descritores de
fruto, porém são de espécies diferentes,
o primeiro é C. baccatum e o segundo é
C. frutescens. O terceiro grupo reuniu os
acessos P66 e P78, ambos pertencentes à
espécie C. chinense. O quarto grupo foi
o que reuniu o maior número de acessos (P7, P25, P28, P39, P102, P119),
todos apresentando mais do que duas
cores durante o processo de maturação,
com alta densidade de ramificações e
folhas e com frutos eretos e vermelhos
quando maduros. O quinto grupo foi
formado somente pelo acesso P110,
sendo este o único cujos frutos maduros
apresentaram cor amarela. O acesso P77
também ficou isolado dos demais, este
possui características únicas, pela alta
concentração de antocianina na planta,
o que lhe condiciona cor violeta nas
folhas, corola e nos frutos imaturos,
o que permite indicá-lo como acesso
ornamental.
Pelo método de Tocher, usando os
dados qualitativos, houve a formação de
oito grupos distintos: Grupo 1 (P11, P25,
P28, P102 e P119), Grupo 2 (P3, P22,
P51 e P58), Grupo 3 (P7 e P39), Grupo
4 (P66 e P78), Grupo 5 (P30), Grupo 6
(P14), Grupo 7 (P77) e Grupo 8 (P110).
O agrupamento de Tocher utilizando dados quantitativos foi diferente do agrupamento utilizando dados qualitativos.
Na análise de dados quantitativos houve
a formação de quatro grupos. O único
grupo, inalterado nas duas análises, foi
aquele composto pelo acesso P14. Bento
et al. (2007), no estudo da variabilidade
fenotípica entre 29 acessos de pimenta,
também obtiveram diferenças em relação ao número de grupos formados
pelo método de Tocher usando dados
quantitativos e qualitativos, com dois e
sete grupos, respectivamente.
A identificação de genótipos com
base somente na divergência genética,
sem considerar seus próprios desempenhos, pode não ser uma boa estratégia em programas de melhoramento
(Carpentieri-Pípolo et al., 2000). Por
isso, além dos dados resultantes da análise de divergência genética, os acessos
devem ser recomendados com base no
aspecto ornamental. Embora seja uma
forma subjetiva de ajudar na seleção
dos genótipos para o melhoramento,
pode contribuir muito para o sucesso
do mesmo.
Para o melhoramento, são recomendados cruzamentos entre acessos
pertencentes à mesma espécie de Capsicum, que possuem caracteres altamente
desejáveis para uso ornamental e com
maior dissimilaridade genética. Embora
seja possível realizar cruzamentos interespecíficos, é mais fácil a obtenção de
sucesso em cruzamentos com plantas da
mesma espécie.
Os resultados obtidos no presente
trabalho evidenciam que os acessos
de C. annuum com caracteres mais
adequados ao uso ornamental e mais
recomendados para o melhoramento
genético são P7, P22, P39, P58, P77
e P119. Os acessos P22, P39 e P58
apresentam plantas com pequena altura
e caracteres qualitativos desejáveis. As
51
P14
90
RS Neitzke et al.
pois estes apresentam baixa dissimilaridade genética entre si. Os acessos P25,
P11
P28, P102 e P110 possuem um porte
P3
P58
relativamente alto, sendo necessária a
70
P51
realização de seleção com a finalidade
P25
de diminuir o porte da planta para culP110
P28
P102
60
P77
P66
tivo em vaso. No entanto estes acessos
P30
P7
podem ser perfeitamente utilizados para
P78
50 P22
melhoramento de cultivares para uso em
P119
paisagismo.
P39
40
Os acessos de C. chinense avaliados
(P66 e P78), embora possuam porte
relativamente baixo, não são muito
30
promissores para o uso ornamental, pois
possuem frutos pendentes que ficam
20
escondidos sob as folhas, o que impede
sua visualização. Podem ser cruzados
10
com outros genótipos para incorporar
caracteres que aumentem seu valor
0 de Capsicum, considerando as duas primeiras estético como: posição ereta dos frutos
Figura 2. Gráfico de dispersão de 17 acessos
(graphical
considering
the two 60 e a presença de um maior número de
-60 variáveis canônicas
-40
-20 dispersion of017 Capsicum accessions,
20
40
first canonical variables). Pelotas, UFPel 2008.
cores durante o processo de maturação
do fruto.
O acesso P30 (C. frutescens) é muito
interessante para cultivo em jardim, por
apresentar um grande número de frutos
de coloração vermelha intensa quando
maduros, com posição ereta que contrastam com a folhagem.
Os acessos de pequeno porte podem
tanto ser cultivados em jardim quanto
em vasos, mas os de porte mais alto são
recomendados principalmente para cultivo em jardim. As pimentas do gênero
Capsicum podem ser exploradas para
o cultivo em jardins funcionais, como
jardins de temperos, jardins de plantas
medicinais e jardins aromáticos.
Existe dissimilaridade genética
entre os acessos de Capsicum estudados, evidenciada mediante a análise de
Figura 3. Dendrograma de análise de agrupamento de 17 acessos de pimentas do gênero
caracteres quantitativos e qualitativos,
Capsicum pelo método UPGMA, utilizando complemento do índice de coincidência simples
e esta pode ser explorada para compor
como medida de distância genética, obtido a partir da análise dos dados qualitativos. *R:
blocos de cruzamentos em programas
Correlação cofenética (dendrogram resulting from grouping analysis by UPGMA analysis
de melhoramento genético com objetivo
of 17 pepper accessions from Capsicum genes, using complement of simple agreement
index as a measurement of genetic distance, obtained from analysis of qualitative data. *R:
de desenvolver cultivares ornamentais
Cophenetical correlation). Pelotas, UFPel, 2008.
de pimentas.
A análise dos dados qualitativos
separa mais os acessos, com a formação
plantas dos acessos P7 e P119 possuem
Os acessos de C. baccatum que apre- de maior número de grupos do que na
altura mediana, entretanto, a passagem sentaram características mais indicadas análise dos dados quantitativos.
por diversas cores dos frutos no pro- para serem usados no melhoramento de
A caracterização baseada em descesso de maturação favorece seu uso pimenta ornamental são P25, P28, P102 critores quantitativos e a caracterização
no melhoramento. P77, por apresentar e P110. É recomendado o uso do acesso baseada em descritores qualitativos
intensa coloração violeta nas folhas, nas P110 como genitor em cruzamentos fornecem dados que possibilitam uma
hastes, nos frutos imaturos e nas flores, com P25, P28 ou P102. Não é indicado interpretação fidedigna da dissimilaé bastante distinto dos demais.
o cruzamento entre P25, P28 e P102, ridade genética e permitem o melhor
80
52
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Dissimilaridade genética entre acessos de pimenta com potencial ornamental
direcionamento dos cruzamentos em
Capsicum em programas de melhoramento de pimentas ornamentais.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão da bolsa de
doutorado ao primeiro autor e à Embrapa Clima Temperado, pelo fornecimento
de toda a infra-estrutura necessária para
a execução do trabalho.
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com etileno e biorreguladores. Horticultura Brasileira 28: 54-57.
Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente
processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores
Ricardo Alfredo Kluge; Andressa A Picoli; Juan S del Aguila
I
USP-ESALQ, Depto. Ciências Biológicas, C. Postal 9, 13418-900 Piracicaba-SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Verificou-se o efeito do etileno e de biorreguladores sobre a
atividade respiratória e a síntese de etileno em beterrabas minimamente processadas e inteiras. Para o processamento mínimo, as
raízes foram selecionadas quanto à firmeza, cor e tamanho, descascadas, sanificadas, sendo em seguida cortadas em fatias (2 mm de
espessura), enxaguadas e centrifugadas. Os tratamentos aplicados
foram: etileno (1000 mL L-1), 1-metilciclopropeno (300 nL L-1) e
ácido salicílico (500 mg L-1). Após os tratamentos, as beterrabas
foram embaladas e armazenadas a 5±1ºC e 85±5% UR durante 10
dias. Observou-se que o ácido salicílico promoveu a diminuição da
atividade respiratória do produto minimamente processado durante
o armazenamento. Além disso, verificou-se que a resposta fisiológica de beterraba minimamente processada é diferente de beterraba
inteira, o que foi comprovada ao se analisar a atividade respiratória
e a produção de etileno, que foram significativamente maiores no
produto minimamente processado.
Respiratory rate and ethylene production of whole and
minimally processed beet roots submitted to ethylene and
bioregulators treatments
Palavras-chave: Beta vulgaris, ácido salicílico, 1-metilciclopropeno,
estresse mecânico.
Keywords: Beta vulgaris, methylciclopropene, salicylic acid,
mechanical stress.
The objective of this work was to evaluate the effects of ethylene
and bioregulators on the respiratory activity and ethylene synthesis
of minimally processed and whole beet roots. For the minimal
processing, beet roots were graded for firmness, color and size, and
were peeled. Roots were then sanitized, shredded (2 mm thick),
rinsed and centrifuged. The following treatments were applied:
ethylene (1000 mL L-1), 1-methylciclopropene (300 nL L-1) and
salicylic acid (500 mg L-1). After treatments, beet roots were packed
and stored at 5±1 ºC and 85±5% RH during 10 days. It was observed
that salicylic acid use promoted the decrease of respiratory rates of
minimally processed beet roots during all storage time. It was also
noted difference between whole and minimally processed beet roots
physiology. This difference was observed by the high values of
respiratory activity and ethylene production rates in the minimally
processed beet roots.
(Recebido para publicação em 24 de março de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010)
(Received on March 24, 2009; accepted on February 2, 2010)
F
rutas e hortaliças minimamente
processadas são em essência órgãos
vegetais que passaram por alterações
físicas, isto é, foram descascados, picados, torneados e ralados, dentre outros
processos, mas que permaneceram no
estado fresco e metabolicamente ativos
(Moretti & Machado, 2006; Saavedra
del Aguila et al., 2006a).
A conservação de hortaliças minimamente processadas é um processo
especialmente complexo, no qual estão
envolvidas células vegetais danificadas,
intactas e/ou inativadas. Em outras palavras, enquanto algumas células apresentam atividade respiratória normal, as
danificadas apresentam atividade respiratória maior (Rolle & Chism, 1987;
Saavedra del Aguila et al., 2008).
O efeito do corte e outros danos, provocados durante as etapas do processamento mínimo, tem como conseqüência
o rompimento de organelas, modificação
54
da permeabilidade das membranas,
desorganização celular, ativação da síntese do etileno e aumento na respiração
(Chitarra & Chitarra, 2005).
As taxas respiratórias de produtos
minimamente processados são geralmente, mais altas que as encontradas em
frutas e hortaliças inteiras; por exemplo,
as taxas respiratórias das raízes de
rabanete minimamente processado em
fatias são em média 95% superiores às
taxas respiratórias das raízes inteiras,
quando armazenadas a 5ºC e 90% UR
por 10 dias (Saavedra del Aguila et al.,
2007). O controle da produção de CO2
pode ser usado para prolongar a vida
de prateleira de produtos minimamente
processados, o que obriga sua comercialização sob refrigeração (Watada et al.,
1996). Neste sentido, Vitti et al., (2005)
encontraram que a taxa respiratória de
beterrabas em fatias e armazenadas a
15ºC é aproximadamente o dobro das
armazenadas a 5ºC. Segundo Brecht
(1995) a taxa respiratória e a produção
de etileno, bem como outras reações
associadas ao processamento, são reduzidas quando o produto é preparado
sob baixas temperaturas (Saavedra del
Aguila et al., 2006b).
Embora a maioria das hortaliças produza quantidades baixas de etileno, são
muito sensíveis às exposições de etileno
exógeno. O principal efeito deste fitohormônio, nesses produtos, é a indução
de aumento da atividade respiratória,
o que acelera a atividade metabólica
e antecipa a senescência (Chitarra &
Chitarra, 2005). O etileno pode ter a
sua ação bloqueada pela aplicação do
1-metilciclopropeno (1-MCP) (Sisler
& Serek, 1997). O 1-MCP apresenta a
capacidade de evitar os efeitos relativos
ao etileno, sendo usado para retardar
a maturação de frutas e a senescência
de hortaliças e flores (Blankenship &
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores
Dole, 2003). A produção de etileno pode
ser reduzida com a aplicação de ácido
salicílico, que inibe a ACC oxidase, a
enzima formadora do etileno (Jun et
al., 1999).
Portanto, o armazenamento refrigerado e a aplicação de ácido salicílico
e 1-MCP, podem manter a qualidade
do produto, possibilitando o armazenamento da beterraba minimamente
processada por maior período de tempo.
Entretanto, não só o conhecimento dos
efeitos dos tratamentos é importante,
mas também a viabilidade prática e
econômica da técnica que, uma vez
estabelecida, pode tornar o tratamento
aplicável, a nível comercial, para as
condições brasileiras.
Este trabalho teve como objetivo
verificar o efeito do etileno e de biorreguladores sobre a atividade respiratória
e síntese de etileno de beterrabas minimamente processadas e inteiras.
MATERIAL E MÉTODOS
Beterrabas cv. Early Wonder foram
colhidas na região de São José do Rio
Preto-SP e cuidadosamente transportadas em caixas plásticas forradas com
filme plástico tipo “bolha” por aproximadamente 4 horas até laboratório da
ESALQ em Piracicaba, onde sofreram
uma seleção quanto ao tamanho, cor,
firmeza e ausência de injúrias mecânicas e patológicas. As beterrabas foram
pré-lavadas em água corrente, com o
objetivo de retirar as impurezas advindas do campo. A seguir, o material
foi separado em dois lotes; um deles
foi minimamente processado e o outro
permaneceu inteiro.
O fluxograma de preparo do produto
minimamente processado seguiu o utilizado por Vitti et al. (2004) com modificações. O processamento ocorreu dentro
de câmara a 10ºC, sobre mesa de aço
inoxidável devidamente higienizada. Os
operadores utilizaram botas, aventais,
luvas, máscaras e toucas, como parte das
condições mínimas de assepsia. Inicialmente, as beterrabas foram imersas em
água resfriada (5ºC) por 2 minutos para
reduzir a atividade metabólica antes do
processamento. A seguir, elas tiveram a
película externa retirada em descascadoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
ra industrial com disco abrasivo. Estas
raízes foram sanificadas por 3 minutos
em água clorada (200 mg L-1 de cloro
ativo), com o objetivo de se reduzir os
riscos de contaminação. A seguir foram
submetidas ao corte em fatias com 2 mm
de espessura, utilizando-se processadora
industrial. Após essa etapa, o produto
foi enxaguado em água com 3 mg L-1 de
cloro ativo por 1 minuto para a retirada
do excesso de cloro. Em seguida, foram
centrifugadas (800 x g) em centrífuga
doméstica durante 20 segundos, para a
retirada do excesso de umidade.
Os tratamentos aplicados, tanto nas
beterrabas minimamente processadas
quanto nas inteiras foram etileno,
1-MCP e ácido salicílico, além do
controle. Para a aplicação do etileno,
as beterrabas foram colocadas em caixas herméticas, com volume de 0,19
m3 durante 24 horas. O etileno (1000
mL L-1) foi aplicado injetando-se gás
azetil® (fornecido pela White Martins,
contendo 5% de etileno) no interior da
caixa hermética, através de um septo
de silicone.
Para a aplicação de 1-MCP, na
concentração de 300 nL L-1, foram utilizadas 0,089 g do produto comercial
SmartFresh®, o qual foi dissolvido em
20 mL de água a 50ºC em frasco hermeticamente fechado. Após completa dissolução do produto, o frasco foi aberto
no interior da caixa, para a liberação do
gás. A duração deste tratamento foi de 12
horas. O ácido salicílico foi aplicado na
forma de imersão do produto, durante 5
minutos, em uma solução contendo 500
mg L-1 de ácido salicílico.
As beterrabas minimamente processadas e inteiras foram acondicionadas
em frascos herméticos de vidro, com
tampa de metal e septo de silicone, com
capacidade para 600 mL e 1700 mL,
respectivamente. Todos os tratamentos
foram armazenados a 5±1ºC e 85±5%
UR.
O período de armazenamento foi de
10 dias, sendo que as avaliações foram
realizadas diariamente. Imediatamente
após cada leitura (produção de etileno e
atividade respiratória), os frascos eram
abertos, tendo suas tampas substituídas
por um filme de policloreto de vinila
(PVC) de 14 µm de espessura. O delineamento experimental foi inteiramente
ao acaso com seis repetições (200 g de
produto), em esquema fatorial 4 x 11,
onde os fatores estudados foram quatro
tratamentos (controle, etileno, ácido
salicílico e 1-MCP) e onze tempos de
armazenamento.
As seguintes variáveis foram analisadas: a) Produção de etileno: os
frascos permaneceram hermeticamente
fechados com tampa de metal e septo
de silicone durante 2 horas a 5oC e, ao
final deste período, foi coletada, através
do septo, uma alíquota de 0,5 mL de gás
do interior dos frascos, utilizando-se
uma seringa modelo Gastight, marca
Hamilton. As amostras coletadas foram
injetadas em cromatógrafo a gás (Thermo mod. Trace GC Ultra), com detector
de ionização de chama (FID) e coluna
“Propak N”. O gás de arraste foi o hidrogênio, a um fluxo de 30 mL/minuto.
As temperaturas mantidas no aparelho
foram de 100ºC para a coluna, 140ºC
no injetor, 180ºC no detector e 350oC
no metanador. Os resultados foram
expressos em μL C2H4 kg-1 h-1; b) Atividade respiratória: foram utilizados os
mesmos procedimentos adotados para a
determinação de etileno. As temperaturas mantidas no aparelho foram 100ºC
para a coluna, 100ºC no injetor, 250ºC
no detector e 350oC no metanador. Os
resultados foram expressos em mL CO2
kg-1 h-1.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias
foram comparadas pelo teste da diferença mínima significativa (p<0,05), em
que as diferenças entre dois tratamentos
maior que a soma de dois erros padrões
foram consideradas significativas (Moretti et al., 2002; Vitti et al., 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se que a taxa respiratória,
dos tecidos intactos e danificados respondem diferentemente, considerando
os valores superiores das taxas observadas em beterrabas minimamente
processadas em relação às inteiras
(Figura 1).
A figura 1 (A e B) indica que a
atividade respiratória de beterrabas
minimamente processadas é maior que
a das raízes inteiras, o que também foi
55
RA Kluge et al.
A
B
14
12
100
mLCO2 kg-1 h -1
mL CO2 kg-1 h -1
120
80
60
40
20
10
8
6
4
2
0
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0
10
1
2
3
4
5
Controle
Etileno
6
7
8
9
10
Dias
Dias
Ácido Salicílico
Controle
1-MCP
Etileno
Ácido Salicílico
1-MCP
Figura 1. Atividade respiratória de beterrabas minimamente processadas (A) e inteiras (B) submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores e armazenadas durante 10 dias a 5±1ºC e 85±5% UR. Barras verticais representam o erro padrão da média (n=6) (respiratory
activity of minimally processed and whole beet roots submitted to bioregulators treatments and stored at 5±1ºC and 85±5% HR. Vertical
bars show the average standard error (n=6)). ESALQ, Piracicaba, 2008.
A
B
0,25
0,8
μL C2H4 kg-1 h -1
μL C2H4 kg-1 h -1
1
0,6
0,4
0,2
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0
1
2
3
4
Controle
Etileno
5
6
7
8
9
10
Dias
Dias
Ácido Salicílico
1-MCP
Controle
Etileno
Ácido Salicílico
1-MCP
Figura 2. Produção de etileno de beterrabas minimamente processadas (A) e inteiras (B) submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores e armazenadas durante 10 dias a 5±1ºC e 85±5% UR. Barras verticais representam o erro padrão da média (n=6) (ethylene synthesis
of minimally processed and whole beet roots submitted to bioregulators treatments and stored at 5±1ºC and 85±5% HR. Vertical bars show
the average standard error (n=6)). ESALQ, Piracicaba, 2008.
observado por Osório & Chaves (1998)
e Vitti et al. (2004). Estes resultados
podem ser explicados pela maior exposição dos tecidos cortados ao ambiente,
que o processamento promove.
A aplicação de ácido salicílico nas
beterrabas minimamente processadas
causou redução na atividade respiratória
em comparação aos demais tratamentos,
cujos resultados apresentaram uma
tendência de aumento inicial, até o
5º - 6º dia de armazenamento, seguido
de redução (Figura 1A). É possível que
o ácido salicílico, cujo pH é 2,5, tenha
reduzido o pH citosólico e diminuído
o ritmo da glicólise, pois afetou suas
enzimas (Taiz & Zeiger, 2009). Vitti
(2003a) também observou redução na
atividade respiratória de beterrabas minimamente processadas e tratadas com
ácido cítrico, aditivo que como o ácido
salicílico, é usado como conservante de
56
alimentos.
Não foi verificado efeito do ácido
salicílico na atividade respiratória de
beterrabas inteiras, o que evidenciou
o efeito do 1-MCP na diminuição da
respiração (Figura 1B), o que também
foi indicado no produto minimamente
processado (Figura 1A).
Vilas-Boas & Kader (2006) estudaram a taxa respiratória de bananas
minimamente processadas armazenadas
a 10ºC e observaram que a taxa respiratória sofreu decréscimo de 40% quando
tratado com 1 µL L-1 de 1-MCP, em relação às bananas minimamente processadas sem aplicação de 1-MCP (controle);
resultados similares foram obtidos por
Arias et al., (2009) com peras minimamente processadas e armazenadas a
0-1ºC por 3 meses. Em contrapartida,
Aguayo et al. (2006), acharam uma elevação significativa da taxa respiratória
de morangos ‘Camarosa’ minimamente
processados e tratados com 1-MCP até
o 6 dia de armazenamento a 5ºC; assim
como Budu & Joyce (2003) trabalhando
com abacaxi minimamente processado e
armazenado a 4,5 ºC por 12 dias.
Por outro lado, Kim et al. (2007)
verificaram que a atividade respiratória
de coentro minimamente processado e
tratado com 1-MCP e armazenado a 5ºC
não apresentou diferenças em relação
ao tratamento controle (sem aplicação
de 1-MCP), do mesmo modo Saftner
et al. (2007), em pesquisa com melão
minimamente processado e armazenado
a 5ºC por 6 dias não acharam diferenças
entre os tratamentos com 1-MCP e o
tratamento controle.
Nas beterrabas minimamente processadas e inteiras houve produção
de etileno apenas no primeiro dia de
armazenamento, caracterizado por um
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Respiração e produção de etileno em beterrabas inteiras e minimamente processadas submetidas a tratamentos com etileno e biorreguladores
pico. Ele foi mais marcante nas beterrabas inteiras tratadas com etileno,
que no primeiro dia de armazenamento
levou a valores de produção de etileno
duas vezes maiores que os dos demais
tratamentos (Figuras 2A e 2B).
Kim et al. (2007) observaram acréscimos significativos na produção de
etileno de coentro minimamente processado e tratado com 1-MCP ao respeito
do tratamento controle (sem aplicação
de 1-MCP), armazenado a 5ºC por 7
dias.
Vilas-Boas & Kader (2006) trabalhando com bananas minimamente processadas, tratadas ou não com 1-MCP
e armazenadas a 10ºC por 3 dias, não
encontraram diferenças significativas na
produção de etileno entre os tratamentos
controle (sem aplicação de 1-MCP) e os
tratamentos submetidos a 1-MCP.
Já decréscimos na produção de
etileno, foram obtidos por Aguayo et
al. (2006), trabalhando com morangos
‘Camarosa’ minimamente processado
tratados com 1-MCP e armazenados a
5ºC por 12 dias; e por Arias et al. (2009)
em peras minimamente processadas
tratadas com 1-MCP e armazenadas a
0-1ºC por 3 meses.
Tecidos estressados ou danificados
geralmente respondem por meio da
biossíntese de etileno e aumentos na taxa
respiratória (Purvis, 1997), como forma
de regularizar o metabolismo e/ou ativar
vias para a produção de metabólitos
cicatrizantes (Saltveit, 2003).
O etileno só foi detectado nas beterrabas inteiras tratadas com etileno,
porém em beterrabas minimamente
processadas foi possível verificar esta
produção de etileno, conforme relatado
por Vitti (2003b). Vitti et al. (2004)
observaram produção de etileno, mas
esta produção, nas primeiras horas após
o fatiamento, atingiu valores de 0,9 µL
kg-1 h-1 , com pouca variação ao longo
do armazenamento, a 5ºC e 85% UR,
por 10 dias.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa de mestrado (proc. no 2006/01881-7),
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
do segundo autor; e pelo auxílio financeiro (proc. no 2005/01863-6).
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Performance of lettuce in sole cropping and intercropping with green
manures
Ana Clarissa A Negrini1; Paulo César T de Melo1; Edmilson José Ambrosano2; Rogério Haruo Sakai3;
Eliana Aparecida Schammass4; Fabrício Rossi1
USP-ESALQ, Depto Prod. Vegetal, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; 2APTA-Pólo Regional Centro Sul, C. Postal 28, 13400-970
Piracicaba-SP; 3IAC, Pós-graduação, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; 4 APTA-Inst. Zootecnia, 13460-000 Nova Odessa-SP;
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
1
ABSTRACT
RESUMO
The performance of lettuce in sole and intercropped with green
manures was assessed under different establishment times. The
lettuce fresh and dry weight, number of leaves per plant, diameter
and length of head, and fresh and dry weight of green manure were
evaluated. The intercropping design was additive and both cash and
cover crops were planted in rows. The experimental design was of
randomized complete blocks in split plot scheme, with six replicates.
The plots represented the green manure sowing days (0, 20, 40 and 60
before transplanting of lettuce), and the sub-plots were assigned by
cropping systems (lettuce in sole crop and intercropped with black oat,
cowpea or white lupin). Simultaneous planting in the intercropping
did not affect the lettuce performance. However, when the green
manures were sown before lettuce, they influenced it in a negative
way. Among the green manures, cowpea increased biomass and had
a higher negative effect on lettuce performance compared to white
lupin, which appeared to produce less competition. The sole crop and
the intercropping with simultaneous planting of the green manures
resulted in a better lettuce performance.
Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com
adubos verdes
Keywords: Avena strigosa, Lactuca sativa, Lupinus albus, Vigna
unguiculata, polycultures.
Palavras-chave: Avena strigosa, Lactuca sativa, Lupinus albus,
Vigna unguiculata, policultivos.
Foi avaliado o efeito de adubos verdes semeados em diferentes
épocas, sobre o desempenho da alface consorciada. Avaliou-se os
pesos fresco e seco, número de folhas por planta, diâmetro e comprimento da cabeça da alface. Dos adubos verdes avaliaram-se o peso
fresco e seco. O consórcio foi implantado em esquema aditivo e tanto
alface quanto os adubos verdes foram plantados em linha. Utilizouse delineamento experimental de blocos ao acaso, com parcelas
subdivididas e seis repetições. As parcelas foram representadas pelo
tempo de semeadura dos adubos verdes em relação ao transplante
da alface (0, 20, 40 e 60 dias) e as subparcelas foram representadas
pelos sistemas de cultivo (alface solteira, e alface consorciada com
aveia-preta, caupi ou tremoço-branco). O plantio simultâneo não
influenciou o desempenho da alface. No entanto, quando os adubos
verdes foram semeados antes do estabelecimento do consórcio, estes
influenciaram negativamente o desempenho da hortaliça. Entre os
adubos verdes, o caupi teve maior biomassa e maior efeito negativo
no desempenho da alface do que o tremoço-branco que se mostrou
menos competidor. O cultivo solteiro e o cultivo consorciado com
plantio simultâneo dos adubos verdes resulta em melhor desempenho
da alface.
(Recebido para publicação em 29 de janeiro de 2008; aceito em 4 de janeiro de 2010)
(Received on January 29, 2008; accepted on January 4, 2010)
L
ettuce cultivation is often intensive
and made by small farmers (Costa
& Sala, 2005). To maintain and improve
the system’s fertility at a low price,
low energy cost and high resource
use efficiency is a difficult task for
agroecological farmers. The use of green
manures is an alternative, though this
technique normally implies cultivating a
non-cash crop during part of the season.
In this context, the intercropping of
green manures with the cash crop should
be an alternative.
White lupin (Lupinus albus)
and black oat (Avena strigosa) are
successfully cultivated in Southern
58
Brazil as green manures, cover crops
and forage (Costa et al., 1992). Cowpea
(Vigna unguiculata) is commonly
cultivated as a crop and vegetable in
Northeastern Brazil and often cultivated
in intercropping in Africa (Fery,
2002). Therefore, the potentialities
of intercropping and green manuring
together should include benefits from
both practices, such as, improve the
use of resources (water, land and
nutrients); increase soil fertility; transfer
of nutrients; soil protection; weed and
pest control; biodiversity enhancement,
and others (Costa et al., 1992; Liebman
& Dyck, 1993; Trenbath, 1993; Mitchell
et al., 2002; Oliveira et al., 2005;
Salgado et al., 2006).
Some authors have been reporting
the success of intercropping lettuce
with other vegetables, such as carrot
and peruvian carrot (Negreiros et al.,
2002; Vieira et al., 2003). However,
intercropping systems can pose serious
challenges, such as competition,
mainly for light, with negative effects
on performance and morphological
development of the dominated crop
(Cecílio Filho & May, 2002; Oliveira et
al., 2005; Santos et al., 2002; Rezende
et al., 2005a). According to Wilson
(1988), the advantage of intercropping
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes
depends on the extent to which species
do not compete with one another, and
plants grown together frequently do
compete, primarily for solar radiation.
In terms of competition, besides species,
varieties, planting time, planting density,
planting date and spatial arrangement
of the intercropped system also play an
important role.
Intercropping systems involving
vegetable crops and green manures are
relatively uninvestigated, so limited
information about this technique is
available. Thus, the goal of this study was
to evaluate the agronomic performance
of lettuce intercropped with three
different green manure species (black
oat, cowpea and white lupin) in four
different sowing times.
MATERIAL AND METHODS
The experiment was carried out at
the “Polo Regional Centro Sul” from
the “Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (APTA)” in Piracicaba,
São Paulo State, Brazil (22°42’S,
47°38’W; altitude 560 m above sea
level) between July and November
2005. The soil on the site is classified
as a Pauleudalf, with the following
chemical characteristics (0-20 cm):
medium pH (5.35); low Al+3 (0.0 mmolc
dm-3); high in organic matter (34.75 g
dm-3), medium in K (5.5 mmolc dm-3);
medium in P (25.50 mg dm-3); high SB
(85.8); high in Ca (55.25 mmolc dm-3);
high in Mg (25.0 mmolc dm-3); low in
S (3.75 mmolc dm-3); medium in Cu
(4.5 mg dm-3); medium in B (0.42 mg
dm-3); high in Fe (51.0 mg dm-3); high
in Zn (3.1 mg dm-3); and high in Mn
(45.0 mg dm-3). Total rainfall during
the experimental period was 436 mm
and temperature ranged from minimum
11.4°C to maximum 30.4°C.
The species used in the study were
lettuce (Lactuca sativa) cv. PiraRoxa,
black oat (Avena strigosa), cowpea
(Vigna unguiculata) cv. IPA-206 and
white lupin (Lupinus albus). The
experimental design was randomized
complete blocks in split plot scheme, with
six replicates, where plots represented
the green manures sowing days (0,
20, 40 and 60 before transplanting
of lettuce), and the sub-plots, which
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
measured 1.80 x 1.2 m, were represented
by the cropping systems (lettuce in sole
crop and intercropped with black oat,
cowpea or white lupin).
Field plots were established on July
22, 2005, when the first green manures
were sown (60 days before lettuce
transplanting). Lettuce seedlings were
sown in polyethylene trays and after
28 days transplanted to the field plots.
Lettuce was planted with a spacing of
0.30 x 0.30 m and the green manures
were sown in rows spaced 0.30 m of
each other with sowing densities of 68
seeds m-1 for black oat (1.5 cm apart),
15 seeds m-1 for cowpea (6.6 cm apart)
and 15 seeds m-1 for white lupin (6.6 cm
apart). The intercroppings were planted
with lettuce in alternate rows between
the green manures. Sowing densities
were 68 seeds m-1 for black oat (1.5 cm
apart), 15 seeds m-1 for cowpea (6.6 cm
apart) and 15 seeds m-1 for white lupin
(6.6 cm apart) and the rows were also
spaced in 0.30 m.
To avoid shading of lettuce plants
and consequently sunlight competition,
which according to Portes (1984) is
the main biotic factor in intercropping
systems, the green manures were
periodically moved at 0.20 m above
soil. The moved fresh mass was weighed
and 10% of this material was dried in a
forced-air oven at 65°C for 72 h for dry
weight determination. The remaining
fresh mass was laid on the soil surface
as mulching. The only green manure
plots that were moved before the
lettuce transplanting were the 60 DBT
treatments (sown 60 days before), to
avoid excessive shading of the vegetable
seedlings by the green manure’s huge
amount of biomass.
Automatic drip irrigation was used
twice a day before the lettuce transplant
(for irrigating the 20, 40 and 60 DBT
treatments) and three times a day after
the transplant for the rest of the growth
cycle. The experimental area was
weeded periodically. There was no other
fertilizer application besides the green
manures mulching.
Lettuce plants were harvested 49
days after transplanting at September
2005. Four central lettuce plants were
harvested per plot. The measured
parameters were fresh weight, dry
weight, number of leaves per plant,
diameter and height of head. Of the four
lettuce plants harvested, two of them
were dried in a forced-air oven at 65°C
for 72 h for dry weight determination.
The parameters measured in green
manures were fresh and dry weight
(this measurement was done after each
moving).
Statistical analyses were performed
using “Sanest” (Zonta et al., 1986) and
treatment means were compared by
Tukey test (p<0.05). Response curves
were fitted to the parameters in function
of the green manures sowing dates.
RESULTS AND DISCUSSION
The fresh and dry mass of the
aboveground portion of green manures
varied significantly among species.
Cowpea produced a significantly
higher fresh and dry mass than black
oat and white lupin. The fresh and
dry weight of green manures species
changed significantly depending on the
intercropping planting time. A quadratic
effect was observed (p>0.01) of black
oat on fresh weight (Ŷ = 9.53 + 1.6056x
- 0.016023x²; R² = 1.00). There was a
linear effect (p<0.01) of white lupin
sowing dates on fresh weight (Ŷ = 14.29
+ 0.7962x; R² = 0.95) and cowpea (Ŷ
= 32.86 + 1.1516x; R² = 0.97). There
was a quadratic effect (p<0.05) of black
oat on dry mass (Ŷ = 5.43 + 0.4072x 0.002587x²[; R² = 0.99), sowing time
with the maximum estimated at 79 DBT.
A linear effect was observed (p<0.01) (Ŷ
= 5.30 + 0.2823x; R² = 0.95) of white
lupin and (Ŷ = 11.68 + 0.3991x; R² =
0.97), of cowpea.
These green manures biomass
influenced the lettuce fresh yield which
varied according to the associated green
manure and its sowing time (Table
1). Under simultaneous intercropping
planting the average fresh weight
of lettuce head was 182.98 g, which
suggests that the competition between
the component crops was not evident
or was rather very weak because there
was no difference between the sole crop
and the intercroppings. However, when
planting was not done simultaneously
the intercropped lettuce reached a
lower fresh yield compared to the sole
59
ACA Negrini et al.
Table 1. Lettuce fresh and dry weight in sole crop and intercropped with green manures (peso fresco e seco de alface em cultivo solteiro e
consorciada com adubos verdes). Piracicaba, ESALQ, 2005.
Days before transplant
(DBT)a
0
20
40
60
Mean
CV%(a)
CV%(b)
F1
Linear effect
Quadratic effect
Cubic effect
Lettuce
sole crop
194.51 a
216.87 a
209.66 a
222.54 a
210.89
16.70
17.96
ns
ns
ns
Lettuce and
Lettuce and
black oat
white lupin
fresh weight (g plant-1)
199.59 a
139.87 b
106.67 c
164.12 b
152.55
ns
*
ns
180.15 a
161.95 b
164.17 b
149.62 b
163.97
Lettuce and
cowpea
157.76 a
137.31 b
92.96 c
148.03 b
134.01
ns
ns
ns
Mean
182.98
164.00
143.37
171.08
ns
ns
ns
dry weight (g plant-1)
0
20
40
60
Mean
CV%(a)
CV%(b)
F1
Linear effect
Quadratic effect
Cubic effect
12.49
11.78
11.29
12.87
12.11 a
11.64
16.30
------ns
10.54
7.92
6.68
8.33
8.37 bc
10.03
9.29
9.13
8.72
9.29 b
------ns
------ns
8.72
7.50
5.36
8.36
7.48 c
10.45
9.12
8.11
9.57
ns
**
ns
Means followed by the same letters in rows are not significantly different (p>0.05) by Tukey test; ¹F* = (p<0.05); ** = (p<0.01); ns= not
significant (p>0.05); aSowing days of green manures before lettuce transplanting (médias seguidas de mesmas letras minusculas nas linhas,
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05); ¹F* = (p≤ 0,05); ** = (p≤0,01); ns = não significativo; aNúmero de dias de semeadura
dos adubos verdes antes do transplante das alfaces).
vegetables. Under 20 and 60 DBT
there were no significant differences
in lettuce fresh weight between the
different species of green manures.
However, in the 40 DBT treatment,
the different green manures species
had different effects in the main crop.
The lettuce plants intercropped with
white lupin had a smaller decrease
of fresh mass (26%) compared to the
ones intercropped with cowpea (58%)
and black oat (42%). These results are
consistent with a similar study made by
Hussain (2003) who reported that lettuce
intercropped with peas had a 68.4%
yield loss compared to the single crop.
According to Muller-Sumann (1994),
yield decreases are expected when
green manures are intercropped with
the food crop.
60
Lettuce fresh weight showed a
quadratic response (p<0.05) to black oat
sowing dates (Ŷ = 202.73 – 5.0882x +
0.073188x²; R² = 0.95), with minimum
value of production estimated at 35 DBT.
The probable reason for this behavior is
that the 40 DBT treatments were the
most competitive in the early stages
of the lettuce development because
its biomass was not moved before the
transplant of the vegetable seedlings
like in the 60 DBT treatment. Thus,
this treatment resulted in more shade
and consequently more competition
between crops.
In terms of dry weight, as well as
for fresh weight, the single lettuces
performed better (Table 1). Among the
green manure treatments were found only
differences between lettuce intercropped
with white lupin and cowpea, which
yielded 77% and 62% of the single ones,
respectively. There was a quadratic
response (p<0.01) of lettuce dry yield
regarding the cowpea sowing dates
(Ŷ = 10.55 – 0.1224x + 0.001737x²;
R² = 0.92), with the minimum yield
estimated at 35 DBT as well, showing
a higher level of competition related to
the 40 DBT treatment. Cowpea is a fast
growing plant and a good competitor
as observed by Ofori & Gamedoagbao
(2005). In fact, cowpea planting time
relative to the associated crop has been
reported to be important to cotton,
millet, cassava and scarlet eggplant
(Ofori & Gamedoagbao, 2005).
As observed in the present experiment,
Sudo et al. (1997) found that there was
no yield penalty when lettuce was
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Desempenho de alface em cultivo solteiro e consorciado com adubos verdes
Table 2. Number of leaves per plant, diameter and length of lettuce head in sole crop and intercropped with green manures (número de
folhas por planta, diâmetro e comprimento da cabeça de alface em cultivo solteiro e consorciada com adubos verdes). Piracicaba, ESALQ,
2005.
Days before transplant
(DBT)a
Lettuce
sole crop
0
20
40
60
Mean
27.83 a
27.58 a
28.21 a
29.04 a
28.17
8.07
9.28
CV%(a)
CV%(b)
F1
Linear effect
Quadratic effect
Cubic effect
ns
ns
ns
Lettuce and
Lettuce and
Lettuce and
black oat
white lupin
cowpea
number of leaves per plant
28.29 a
21.21 bc
18.32 c
23.17 b
22.75
*
**
ns
26.00 ab
23.25 b
22.92 b
22.75 b
23.73
23.62 b
19.21 c
16.83 c
20.67 b
20.08
ns
ns
ns
Mean
26.44
22.81
21.57
23.91
ns
*
ns
diameter of head (cm)
0
20
40
60
Mean
CV% (a)
CV% (b)
F1
Linear effect
Quadratic effect
Cubic effect
24.77 a
26.64 a
25.48 a
25.43 a
25.58
4.68
6.83
24.95 a
24.58 ab
24.77 ab
25.12 a
24.33
ns
ns
ns
ns
ns
ns
0
20
40
60
Mean
CV%(a)
CV%(b)
F1
Linear Effect
Quadratic Effect
Cubic Effect
18.29 ab
18.77 a
18.25 a
18.89 a
18.55
6.23
5.60
ns
ns
ns
19.33 a
17.12 b
16.21 bc
18.17 ab
17.71
ns
*
ns
26.06 a
24.27 ab
22.64 bc
24.25 a
24.84
25.02 a
24.10 b
21.82 c
24.91 a
23.96
ns
ns
ns
length of head (cm)
19.00 ab
17.14 b
16.98 ab
17.56 ab
17.67
ns
ns
ns
25.20
24.90
23.68
24.93
ns
*
ns
17.60 b
16.79 b
14.96 c
16.87 b
16.55
18.55
17.46
16.60
17.87
ns
ns
ns
Means followed by the same letters in rows are not significantly different (p>0.05) by Tukey test; ¹F* = (p<0.05); ** = (p<0.01); ns = not
significant (p>0.05); aSowing days of green manures before lettuce transplanting (médias seguidas de mesmas letras nas linhas, não diferem
entre si pelo teste de Tukey (p>0,05); ¹F* = (p≤0,05); ** = (p≤0,01); ns= não significativo; aDias de semeadura dos adubos verdes antes do
transplante das alfaces).
intercropped with carrot in simultaneous
planting. These intercropping schemes
are probably successful due to the
canopy height and accumulated biomass
of the green manures, which were not
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
enough to offer competition to the
vegetable crops. The establishment
time of the intercropping has been
shown to influence the companion
crops performance (Cecílio Filho et
al., 2008; Rezende et al., 2005a). In a
tomato/lettuce intercropping at different
transplanting dates, when lettuce
transplanting was late, both fresh and
dry mass and also the number of leaves
61
ACA Negrini et al.
were lower due to light competition
between the companion crops. Paula
(2005) reported the same result for an
onion/lettuce intercropping.
The number of leaves decreased
even at simultaneous planting in the
intercropping with cowpea (Table 2).
For the other sowing times (20, 40 and
60 DBT) the sole crop resulted in greater
number of lettuce leaves compared
to all intercropping treatments. The
number of leaves goes along with lettuce
development, thus observing the lettuce
fresh weight at simultaneous planting (0
DBT treatment) (Table 1), even though
the results are statistically similar, the
yield under cowpea influence was lower.
Thus a plausible reason for the lower
number of leaves in lettuce intercropped
with cowpea even at simultaneous
sowing, is the competition effect due to
the green manure biomass that probably
caused shade and competed for light.
There was a quadratic effect (p<0.01)
of black oat sowing time on lettuce
number of leaves (Ŷ = 28.47 – 0.5381x
+ 0.007447x²; R² = 0.99) with minimum
number of leaves production estimated
when black oat was sown at 36 DBT
of lettuce, and for cowpea (p<0.05) (Ŷ
= 23.83 – 0.3656x + 0.005156x²; R² =
0.96) the minimum was estimated in
35 DBT. This quadratic effect indicates
that the 40 DBT treatment posed the
greatest level of competition among
plants, with consequent shading of
lettuce that resulted in a decrease in the
number of leaves. This effect tended to
decrease as the green manures sowing
time changed to 0, 20 and 60 DBT,
resulting in a higher number of leaves
per head of lettuce.
According to Sala & Costa (2005),
lettuce cv. PiraRoxa has around 28
leaves at the harvest time, which is
supposed to occur between 35 and 45
days after transplanting. At the harvest
time of this experiment, only the single
lettuces had reached an average of
28.17 leaves per head (Table 2). Thus
it is possible to deduce that lettuce
plants suffered an extension of their
cropping cycles due to an intercropping
competition effect, with exception of the
simultaneous planting with black oat
and white lupin.
The intercroppings established at 0
62
and 60 DBT did not affect the diameter
of head (Table 2). However, the lettuces
intercropped with cowpea presented
90% of the diameter of the sole crop in
the 20 DBT treatment and 89 and 86%,
respectively to white lupin and cowpea
in the 40 DBT treatment. There was
a quadratic effect (p<0.05) of cowpea
sowing dates on lettuce diameter (Ŷ
= 25.35 – 0.1631x + 0.002503x²; R²
= 0.65) (Table 2) with the minimum
diameter of head estimated at 33 DBT.
In close agreement with this study,
Cecílio Filho et al. (2008) and Negreiros
et al. (2002) observed that in a lettuce/
tomato and lettuce/carrot intercropping
there was a diameter decrease and fewer
leaves compared to the sole lettuce
cultivation due to sunlight competition
imposed by the companion plants.
Rezende et al. (2006) also found that the
companion species interfere differently
in the number of leaves and diameter
reached by lettuce. In their case, cabbage
influenced negatively and rocket did
not.
The length of lettuce head in response
to intercropped green manures species
changed significantly depending on
the intercropping planting time (Table
2). A quadratic effect was observed
(p<0.05) (Ŷ = 19.14 – 0.1785x +
0.002610x²; R² = 0.98), of black oat
sowing time with the minimum length
of lettuce heads estimated at 35 DBT.
In accordance with this, Cecílio Filho
& May (2002) reported that there was
a reduction in radish plants height when
intercropped with lettuce. On the other
hand, in the present experiment lettuce
was dominated by the green manures,
having its morphological characteristics
depreciated.
White lupin is an erect plant and offers
much less competition to a companion
crop than black oat and cowpea cv. IPA
206 (which is prostrated) because there
is more sunlight penetration through
its branches. Plant architecture is an
important consideration to maximize
sunlight utilization in intercropping. In
this way, the results obtained for lettuce/
white lupin intercropping agree with a
previous experiment done by Ofori &
Gamedoagbao (2005), who tested an
erect and a semi-spreading variety of
cowpea in intercropping with scarlet
eggplant. Similar to the present study,
the authors found that the erect green
manure offered less competition to
the vegetable, which obtained a better
performance.
There were neither nutritional
deficiency nor drought stress symptoms
on the lettuce plants under the different
treatments, thus it is assumed that
the main source of competition was
sunlight. In fact, cv. PiraRoxa depends
on light to develop its hallmark purple
color and, once it grows under shade, it
tends to present greenish leaf coloration.
The lettuces under intense intercropping
competition in this study showed
greenish leaves due to lack of sunlight.
However, within 3 days of moving the
green manures with the consequent
decrease of shade, the leaves of lettuce
reverted to its characteristic purple.
In this intercropping system, except
for the simultaneous planting, for
most analyzed parameters the growing
cycle overlapped, causing competition
between crops and domination of
lettuce by the green manures, which
are taller and, consequently, intercept
more sunlight. In this way, under
the conditions of this experiment, a
better performance of lettuce would
be obtained under sole cultivation or
under intercropping with simultaneous
planting of the main crop and the green
manures.
ACKNOWLEDGEMENTS
To C a p e s ( C o o r d e n a ç ã o d e
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) for financial support and
Dr. Tony Fischer and Agustín Zsögön
for useful comments on the draft
manuscript.
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UPF-FAMV, C. Postal 611, 99001-070 Passo Fundo-RS; 3UFSM, Frederico Westphalen-RS; 4Cooperativa Tritícola de Erechim Ltda,
Erechim-RS; 1Mestre em Agronomia, UPF-FAMV; [email protected]; [email protected]; [email protected]; beatriz@
cotrel.com.br
2
RESUMO
ABSTRACT
In vitro artichoke seed germination
A baixa taxa de multiplicação e alta de contaminação dos explantes são algumas das dificuldades na micropropagação da alcachofra. A
germinação de sementes in vitro pode ser uma alternativa de obtenção
de explantes sadios para estabelecimento de futuros cultivos in vitro.
O trabalho desenvolvido no Laboratório de Biotecnologia Vegetal
da UPF-FAMV teve por objetivo avaliar a germinação in vitro de
sementes de alcachofra cv. Nobre, em três experimentos, testando
concentrações de cloro ativo na assepsia das sementes; tratamentos
do tegumento (mantido intacto, com cortes laterais ou eliminação);
condições de luminosidade (claro ou escuro); e dois meios de cultura [meio MS, com concentração de sais reduzida à metade (M1) e
meio MS completo(M2)]. Em ambos foram adicionados 30 g L-1 de
sacarose e 7 g L-1 de ágar, sendo o pH ajustado para 5,6 ± 0,1 com
NaOH. Os cultivos foram realizados em câmara de crescimento.
A obtenção de plântulas sadias de alcachofra em curto espaço de
tempo (sete dias), para utilização como fonte de explantes é viável
a partir da germinação in vitro de sementes sem o tegumento (77,5%
de germinação), utilizando os meios de cultura M1 ou M2 e câmara
de crescimento desprovida de luz. Nestas condições, a assepsia das
sementes pode ser realizada com álcool 70% por 30 min e posterior
imersão em solução contendo 2% de cloro ativo por dez minutos,
antes da remoção do tegumento.
Low multiplication rates and high contamination in the explants
are some of the difficulties in artichoke micropropagation. In vitro
seed germination may be an alternative to obtain healthy explants
for use in future in vitro cultivation. This project developed at
the laboratory of Universidade de Passo Fundo was established
to evaluate cv. ‘Nobre’ artichoke seeds in vitro germination. In
three experiments, active chloride concentrations on seed aseptic
technique; tegument treatment (kept intact, with side cuts and
elimination); lighting conditions (light or dark); and two cultivation
media [MS medium, with salts concentration reduced by half (M1)
and MS medium, full strenger (M2)] have been tested. In both cases,
30 g L-1 sucrose and 7 g L-1 agar were added, with pH adjusted to 5.6
with NaOH. Cultivation took place in a growth chamber. It is viable
to obtain healthy artichoke plantlets in short time (seven days), to be
used as a source of explants from in vitro seed germination without
the tegument (77,5% of germination), using the M1 or M2 culture
medium and growth chamber without light. In these conditions, the
asepsis of seeds can be done with alcohol 70% during 30 minutes
and the subsequent immersion in solution of 2% of active chlorine
during 10 minutes, before the removal of the tegument.
Palavras-chave: [Cynara cardunculus L. subsp. scolymus (L.) Fiori],
meio de cultura, explante, cultivo in vitro.
Keywords: [Cynara cardunculus L. subsp. scolymus (L.) Fiori],
culture medium, explant, in vitro culture.
(Recebido para publicação em 27 de março de 2009; aceito em 1 de fevereiro de 2010)
(Received on March 27, 2009; accepted on February 1, 2010)
A
alcachofra (Cynara cardunculus
L. subsp. scolymus (L.) Fiori), pertencente à família Asteraceae (Robles,
2001), é uma planta herbácea típica da
bacia do Mediterrâneo (Barba et al.,
2004). As inflorescências (capítulos) são
muito apreciadas para o consumo in natura ou industrializado (Narváez, 2002).
A demanda como planta medicinal tem
aumentado durante as últimas décadas
devido à grande aceitação de suas folhas
e inflorescências para o tratamento de
várias doenças e enfermidades (Eich et
al., 2005). A alcachofra também é utilizada como planta ornamental, em hortas
e jardins, devido às belas inflorescências
e às folhas grandes e brilhantes.
Em 1994, na região norte do Rio
64
Grande do Sul, a Cooperativa Tritícola
de Erechim (Cotrel, 2005), em um convênio com a Itália, introduziu a cultura
da alcachofra, criando um programa de
produção entre seus associados, com a
finalidade de industrializar o produto
e oferecer fonte de renda alternativa
para os pequenos produtores (Donida,
2004). A partir do material introduzido
da Itália foram selecionados exemplares
que apresentavam características adequadas para a indústria. Desta seleção
surgiu a cultivar Nobre, que é hoje
cultivada exclusivamente na Região do
Alto Uruguai do RS, para fabricação de
conservas. Esta cultivar possui como
características o capítulo alongado,
com brácteas compactas e de coloração
interna branca, características exigidas
pela indústria de conservas.
Alguns problemas entretanto têm
impedido a maior expansão da cultura
no RS, como por exemplo a produção
de mudas para a distribuição aos produtores. A partir de sementes, os materiais
oriundos da Itália apresentaram boa
adaptação local, com elevada produtividade. No entanto, o grau de segregação
se mostrou elevado, com a produção
de capítulos que não serviam para a
indústria de conservas, devido ao padrão
desuniforme de coloração e tamanho,
não atendendo às exigências do mercado
consumidor. Outro entrave tem sido o
baixo índice de pega das mudas, devido
aos solos da região muito argilosos e à
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Germinação in vitro de sementes de alcachofra
suscetibilidade da cultura à bactéria do
gênero Erwinia, muito comum nos solos
da região de cultivo.
A propagação da alcachofra por
sementes apresenta algumas vantagens,
tais como possibilidade da semeadura
mecânica, reduzindo custos de mãode-obra, e rotação com outras espécies,
para o controle de moléstias e nematóides (Basnizki & Zohary, 1987). Outro
aspecto importante é a prevenção de
viroses, que não são transmitidas através
da semente (Basnizki & Zohary, 1987;
Camargo, 1992). No entanto, as cultivares de alcachofra são altamente heterozigotas, uma vez que a cultura é alógama
(polinização cruzada), segregando quando propagadas por semente, originando
progênies com elevada variabilidade
morfológica (Robles, 2001), inclusive
plantas com espinhos, produtoras de
capítulos não comestíveis, semelhantes
ao cardo (Cynara cardunculus L.) (Camargo, 1992). Apesar disso, vem sendo
observada uma tendência do melhoramento genético para o desenvolvimento
de cultivares anuais, que se reproduzem
por sementes, com certo grau de uniformidade e geração de poucos rebentos
(Robles, 2001).
O processo de propagação vegetativa por rebentos é utilizado por acelerar o
início da colheita e reproduzir com segurança as características da planta matriz
(Robles, 2001). Entretanto, é necessário
ter alguns cuidados ao adquirir as mudas, pois podem ocorrer problemas com
a disseminação de pragas, bacterioses e
fungos (Isechi et al., 1998).
A micropropagação é uma técnica
alternativa de propagação assexuada,
que apresenta a vantagem de reduzir a
disseminação de doenças e a segregação
genética. Estudando a micropropagação
da alcachofra a partir de ápices vegetativos, Cadinu et al. (2003) obtiveram
50% de plantas isentas de vírus no
meio MS.
O sucesso da micropropagação pode
estar na dependência de fatores genéticos, fisiológicos ou ambientais, podendo
ser encontrada grande variabilidade nas
respostas in vitro, levando à necessidade
de se definirem protocolos diferenciados (Grattapaglia & Machado, 1998).
Especificamente na micropropagação
da alcachofra têm sido encontradas
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
dificuldades como a baixa taxa de multiplicação in vitro e alta de contaminação
dos explantes. Augustin et al. (2006)
avaliaram a taxa de multiplicação de
ápices caulinares da alcachofra cv. Nobre em três meios de cultura e o desenvolvimento das plântulas durante cinco
subcultivos. Concluíram que a taxa de
multiplicação é baixa, independente
do meio de cultura, sendo a maior taxa
obtida de 2,68 brotos por plântula.
Durante a micropropagação é comum
ocorrerem perdas significativas devido
à contaminação por microrganismos
presentes na superfície dos explantes
ou, endofíticos, principalmente fungos
e bactérias. A ocorrência de contaminações é mais freqüente quando se realiza
a micropropagação de espécies lenhosas, ou quando a assepsia é difícil de
ser executada, devido às características
do explante, ou por este estar localizado
em regiões da planta matriz próximas
do solo (Suzin, 2004), como no caso da
alcachofra (Mauromicale, 1984).
A germinação de sementes de alcachofra in vitro pode ser uma alternativa
para a obtenção de explantes livres de
infestações para serem utilizados no
processo de micropropagação.
O processo de germinação de sementes in vitro visando a produção de mudas
tem sido utilizado em outras espécies,
como, em aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All.) (Andrade et al., 2000),
em mangabeira (Hancornia speciosa
Gomez) (Pinheiro et al., 2001), em orquídeas (Bach & Castro, 2004; Castro
& Bach, 2007), em fisalis (Physalis
peruviana L.) (Chaves et al., 2005), em
jacarandá (Jacaranda ulei Bureau e K.
Schum) (Noleto et al., 2003), em pessegueiro (Prunus persica) (Barbosa et al.,
1985) e em bromélia (Vriesea simplex)
(Bromeliaceae) (Castro et al., 2007).
O trabalho objetivou avaliar a germinação de sementes de alcachofra cv.
Nobre em dois meios de cultura, submetidas a diferentes processos de assepsia,
tratamentos do tegumento e influência
da presença e ausência de luz.
MATERIAL E MÉTODOS
No período de outubro de 2006 a
fevereiro de 2007 foram realizados três
experimentos no Laboratório de Biotecnologia Vegetal da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV),
da Universidade de Passo Fundo (UPF),
em Passo Fundo-RS.
Selecionou-se sementes de alcachofra, cv. Nobre, uniformes e sem
deformidades (com maior tamanho e
melhor aparência). As mesmas foram
tratadas com o fungicida Thiram 480
TS® (ingrediente ativo Tiram 280 mL
i.a. por 100 kg de semente) e lavadas
três vezes com água destilada e autoclavada para retirada do excesso de
fungicida e impurezas mais grosseiras.
Em câmara de fluxo laminar, utilizando
pinças, placas de Petri e frascos de vidro
previamente esterilizados, foi realizada
a assepsia das sementes com álcool 70%
por 30 minutos e hipoclorito de sódio
com concentrações variando conforme
o experimento, sendo em seguida lavadas três vezes com água destilada e
autoclavada. Antes dos tratamentos no
tegumento e da semeadura, as sementes
foram mantidas imersas por 24 ou 48 h,
conforme o experimento, em água também destilada e autoclavada, num volume de 1 L para cada 100 sementes, em
beakers fechados com papel alumínio e
mantidos em câmara de fluxo laminar no
escuro. Passado o período de imersão,
as sementes foram lavadas por mais três
vezes antes de serem submetidas aos
respectivos tratamentos.
Para a semeadura foram utilizados
frascos de vidro de 250 mL, onde foi
vertido cerca de 30 mL de meio de cultura (2 cm). Em cada frasco foram colocadas 6 sementes. Os meios de cultura
utilizados para a semeadura foram: meio
MS (Murashige & Skoog, 1962) com
concentração de sais reduzida à metade
(M1); e meio MS completo (M2). Em
ambos adicionou-se 30 g L-1 de sacarose
e 7 g L-1 de ágar, sendo o pH ajustado
para 5,6±0,1 com NaOH.
O cultivo in vitro das sementes foi
realizado, em todos os experimentos, em
câmara de crescimento com temperatura
de 25±2ºC. Quando na presença de luz,
o fotoperíodo mantido foi de 16 horas de
luz e radiação de 36 µmol m-2 s-1.
Experimento 1 - foi testada a germinação das sementes de alcachofra com
luz e no escuro, em dois meios de cultura
(M1 e M2), comparando ainda, o efeito
65
CF Moraes et al.
da realização ou não de um corte longitudinal em cada lateral do tegumento
das sementes. A assepsia das sementes
foi realizada com álcool 70% por 30 min
+ hipoclorito de sódio (8,3% de cloro
ativo com pH ajustado para 6,0) por dez
minutos. Após a imersão em água por 24
horas, conforme descrito anteriormente,
foram realizados os cortes laterais do
tegumento.
Os frascos com as sementes foram
mantidos em câmara de crescimento,
sendo parte deles mantidos sob luz (no
claro) e outra no escuro. O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados
em parcelas subdivididas, com a presença/ausência de luz constituindo as
parcelas principais e, nas subparcelas,
sendo alocados os fatores meios de
cultura x tratamento do tegumento,
com cinco repetições e seis sementes
por subparcela.
Após 30 dias da semeadura foram
avaliadas as sementes com rompimento do tegumento (%), com emissão de
cotilédones, com emissão da radícula
e de sementes contaminadas. Por
não apresentar variabilidade entre os
tratamentos, os dados de emissão de
cotilédones e de radícula não foram submetidos à análise estatística. As demais
variáveis foram submetidas à análise de
variância, e as diferenças entre médias
comparadas pelo teste de Tukey a 5%
de significância. Para efeito de análise
estatística os dados foram transformados
em arco seno [raiz (x/100)]. O programa
estatístico Estat (Unesp-Jaboticabal) foi
utilizado na análise deste e dos demais
experimentos.
Experimento 2 - as sementes também foram semeadas em dois meios de
cultura (M1 e M2), com e sem corte
lateral do tegumento e imersão em
água por 24 horas antes do corte lateral
e da semeadura. Porém, a assepsia das
mesmas foi realizada com menor concentração de cloro ativo (álcool 70% por
30 min + hipoclorito de sódio 5,7% de
cloro ativo por dez minutos), uma vez
que foi cogitada a hipótese de que altas
concentrações de hipoclorito poderiam
ter efeito tóxico sobre a germinação das
sementes in vitro. Outro diferencial neste experimento foi que os frascos com
as sementes em meio de cultura foram
66
mantidos em câmara de crescimento
apenas no escuro, em razão de que, no
experimento 1, foi observada menor
oxidação dos cotilédones emitidos
quando as sementes foram mantidas
nessa condição.
O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados no esquema fatorial
2 x 2 (sem e com corte do tegumento x
meios de cultura M1 e M2), com cinco
repetições e seis sementes por parcela.
Foram realizadas cinco avaliações
(5, 10, 15, 20 e 25 dias após a
s e m e a d u r a ) da porcentagem de sementes com rompimento do tegumento
e de sementes contaminadas. Os dados
foram submetidos, em cada época avaliada, à análise de variância. Para a comparação entre as datas de avaliação, em
cada tratamento, foi aplicada a análise
de variância da regressão.
Experimento 3 - foi estudado o
efeito da remoção total do tegumento,
comparado com sementes mantidas
intactas, em dois meios de cultura (M1
e M2). Com a remoção do tegumento
foi possível visualizar e selecionar apenas as sementes sadias. A assepsia das
sementes foi realizada antes da remoção
do tegumento, em câmara de fluxo
laminar, e constituiu-se da imersão das
mesmas em álcool 70% por 30 min e,
posteriormente, em hipoclorito de sódio
(2% de cloro ativo) por dez minutos.
O tempo de imersão das sementes em
água antes da semeadura foi ampliado
de 24 para 48 h para facilitar a retirada
do tegumento. As sementes em meio de
cultura foram mantidas em câmara de
crescimento no escuro.
O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, com os tratamentos arranjados no esquema fatorial
2 x 2 (sem e com a retirada do tegumento x meios de cultura M1 e M2),
com cinco repetições e 24 sementes
por parcela (quatro frascos com seis
sementes). Os dados de germinação (%)
(emissão de cotilédones + radícula) e
de contaminação, aos sete dias após a
semeadura, foram submetidos à análise
de variância.
RESULTADOS E DICUSSÃO
Experimento 1 - o meio de cultura e
a luz não influenciaram os resultados. As
sementes com rompimento do tegumento foram beneficiada, ainda que de forma
reduzida (12,5%), apenas pela realização
de cortes na lateral do tegumento. Já as
sementes intactas (sem cortes) apresentaram apenas 2,5% de rompimento do
tegumento. Esses resultados reforçam a
teoria de que a presença do tegumento
realmente constitui uma barreira física
à germinação das sementes. Resultados
semelhantes foram observados por Custódio et al. (2002) com urucum (Bixa
ollerana L.), em que a estratificação
das sementes cortadas na porção distal
do tegumento se mostrou eficaz para
superar a dormência.
Franco & Ferreira (2002) também
observaram, na germinação de sementes
de caixeta [Didymopanax morototoni
(Aubl.) Dcne. et Planch], que a escarificação mecânica do tegumento com
lixa ou a realização de cortes no mesmo
favoreceu a germinação, provavelmente
por tornar o tegumento mais fino, reduzindo o impedimento físico e permitindo
a passagem de água até o embrião.
Também foi observado que, do total
de 240 sementes analisadas, apenas
2,1% apresentaram emissão dos cotilédones e nenhuma apresentou emissão
de radícula.
Embora vários autores relatem a
influência da luz na germinação de sementes, no presente trabalho este efeito
não foi verificado. Conforme Bewley &
Black (1994), as sementes de muitas espécies são afetadas pela exposição à luz
branca por alguns minutos ou segundos,
enquanto que outras requerem iluminação intermitente. Também existem os
efeitos fotoperiódicos, em que algumas
espécies requerem exposições a dias
longos e outras a dias curtos. Convém
destacar, que o requerimento de luz
freqüentemente depende da temperatura. A alface por exemplo, geralmente
apresenta dormência no escuro somente
acima de 23ºC.
Miccolis et al., apud Donida (2004),
mencionam que a redução da germinação e morte de plântulas de alcachofra
podem ocorrer devido ao baixo vigor das
sementes, o que estaria associado a altas
temperaturas, além dos danos mecânicos
e imaturidade das sementes. A precipitação pluviométrica pode interferir
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Germinação in vitro de sementes de alcachofra
Tabela 1. Rompimento do tegumento de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios
de cultura, com e sem o corte lateral (disruption of artichoke cv. Nobre seed tegument in two
culture media with and without lateral cut). Passo Fundo, UPF, 2006.
Tratamentos
M1 - ½ MS
M2 – MS completo
Tegumento com cortes
Tegumento intacto
Média
CV (%)
5
16,7ns
11,7
15,0ns
13,4
14,2
101,8
Rompimento do tegumento (%)
Dias após a semeadura
10
15
20
ns
ns
23,3
25,0
31,7ns
10,0
11,7
16,7
ns
ns
20,0
23,4
33,3ns
13,4
13,4
15,0
16,7
18,4
24,2
103,6
96,4
88,6
25
31,7ns
18,3
33,4ns
16,7
25,0
84,4
Ns= não significativo pelo teste F a 5% de significância (not significant for the test F 5%
of significance).
diretamente na qualidade da semente e
na porcentagem de germinação. Assim,
não se pode descartar certo comprometimento do vigor das sementes utilizadas
no experimento, uma vez provenientes
de lavouras de produção, expostas a
fatores adversos, como alta temperatura
e excesso de chuvas.
Quanto às sementes contaminadas,
apenas o fator luminosidade afetou esta
variável, com maior contaminação no
escuro (média de 35%) e menor com
luz (7,5%).
A luz, quando em grande intensidade,
pode ser nociva para os microrganismos,
devido à ocorrência da fotoxidação do
oxigênio. Nesta reação, pigmentos como
clorofila, citocromos e flavinas podem
absorver energia luminosa e atuar como
fotosensibilizadores excitados, os quais
transferem energia para o O2, originando
moléculas de 1O2, que são agentes oxidantes que causam a destruição da célula
(fotoxidação) e, em conseqüência, a
morte dos microrganismos presentes na
mesma (Moniz, 2006).
Compostos como o peróxido de
hidrogênio (H2O2), o superóxido de oxigênio (O2-) e radicais de hidroxila livres
(OH-) podem ser produzidos em função
de processos oxidativos (mediante a
ativação de elétrons), injúrias no tecido
vegetal e presença de fatores abióticos
(UV, altas temperaturas, poluentes,
estresse osmótico e mecânico). Estes
podem ter diversas funções na defesa
dos tecidos ou plantas a patógenos.
Podem agir como agente antifúngico e
antimicrobiano (efeito tóxico direto);
servir como sinalizadores para a ativação de genes de defesa; e promover
a morte celular no tecido infectado
(Cursino-Santos et al., 2003; Resende
et al., 2003).
Embora a permanência das sementes
no escuro tenha favorecido o aparecimento de contaminações, o aspecto visual das que apresentaram rompimento
Tabela 2. Contaminação de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura,
com e sem o corte lateral do tegumento (contamination of artichoke cv. Nobre seeds in two
culture media, with and without lateral cut of tegument). Passo Fundo, UPF, 2006.
Tratamentos
M1 - ½ MS
M2 – MS completo
Tegumento com cortes
Tegumento intacto
Média
CV (%)
5
5,0ns
10,0
5,0ns
10,0
7,5
153,0
Sementes contaminadas (%)
Dias após a semeadura
10
15
20
28,3ns
55,0ns
65,5ns
35,0
60,0
80,0
ns
ns
31,7
63,3
80,0ns
31,7
51,7
65,0
31,7
57,5
72,5
80,3
63,5
53,0
25
70,0ns
90,0
80,0ns
80,0
80,0
52,3
ns= não significativo pelo teste F a 5% de significância (not significant for the test F 5% of
significance).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
de tegumento e emissão de cotilédones
foi satisfatório, ou seja, não apresentavam oxidação. Assim, adotou-se para os
demais experimentos a manutenção das
sementes no escuro.
Experimento 2 - com a concentração de cloro ativo reduzido para 5,7% e
semeadura no escuro, não houve efeito,
em nenhuma das épocas avaliadas (no
decorrer de 25 dias da semeadura), dos
dois meios de cultura e dos tratamentos
de corte no tegumento (com e sem corte)
sobre o rompimento do tegumento e a
contaminação das sementes (Tabela 1).
A porcentagem de sementes com
rompimento do tegumento não foi satisfatória, variando de 14,2%, aos cinco
dias após a semeadura, a 25,0%, aos 25
dias. Embora diferenças estatísticas não
tenham sido verificadas, foi possível
observar uma tendência de melhores
resultados no meio M1 e com cortes
laterais das sementes. No entanto, a germinação (com emissão de cotilédones +
radícula) não foi observada em nenhum
dos tratamentos.
A análise de regressão demonstrou
que, ao longo do período de 25 dias da
semeadura, houve aumento linear significativo da porcentagem de tegumentos
rompidos quando as sementes tiveram
os mesmos submetidos aos cortes e
semeadas no meio M2 (Figura 1). Também no meio M1 houve uma tendência
de acréscimo de tegumentos rompidos,
contudo a análise de regressão não se
mostrou significativa.
Como foi salientado anteriormente,
o baixo índice de germinação das sementes de alcachofra pode estar associado ao tegumento muito duro, difícil
de ser removido. A execução de cortes
laterais no tegumento provavelmente
permite que a água penetre e chegue
ao embrião, possibilitando o início do
processo germinativo. Contudo, uma
vez que não houve a emissão da radícula
e dos cotilédones, o processo não foi
completo.
O índice de contaminação, aos 25
dias, foi bastante elevado (média de
80%), não diferindo, em cada época
avaliada, em função do meio de cultura
e dos tratamentos de corte no tegumento
(Tabela 2). Neste experimento, a contaminação das sementes foi maior do que
no experimento 1, possivelmente pela
67
Rompimento do tegumento (%)
CF Moraes et al.
25
20
y = 0,354 + 0,866x
15
2
R =0,94
10
5
0
0
5
10
15
20
25
30
Dias após semeadura
Figura 1. Rompimento do tegumento de sementes de alcachofra cv. Nobre no meio de
cultura M2 (MS completo), com corte lateral do tegumento (disruption of artichoke cv.
Nobre seed tegument in M2 culture media (complete MS), with lateral cut of tegument).
Passo Fundo, UPF, 2006.
68
(2004), obervaram a presença dos gêneros de fungos Rhizopus, Alternaria
e Aspergillus associados à semente, no
entanto, a melhoria da germinação foi
verificada com o tratamento utilizando
sulfato de 8-hydroxy quinona, tiram e
captan.
Experimento 3 - Diante das dificuldades em obter germinação nos experimentos anteriores, neste experimento foi
testada a remoção total do tegumento
para verificar se este realmente se constituía numa barreira física à germinação.
As sementes foram mantidas no escuro,
120
Contaminação (%)
diminuição na concentração de cloro
ativo na solução utilizada na assepsia
das sementes.
De acordo com Hirata & Mancini
Filho (2002), apud Domini et al. (2005),
o mecanismo de ação do cloro ativo não
é bem conhecido, mas hipóteses consideram que pode haver uma combinação
do cloro com proteínas da membrana
celular dos microrganismos, causando
alterações estruturais da membrana, ou
interferindo no transporte de nutrientes
através da mesma, formando compostos
tóxicos e levando à inibição de enzimas
essenciais. No entanto, fatores como pH
(Bizzetto & Homechin, 1999), concentração do agente esterilizante e tempo
de exposição do explante ao mesmo
são fatores que podem contribuir para
o sucesso da desinfestação (Domini et
al., 2005).
A análise de regressão demonstrou
que houve, ao longo do período de 25
dias após a semeadura, para todas as
combinações de tratamentos (meios
de cultura x tratamento do tegumento),
aumento linear significativo da porcentagem de contaminação (Figura 2).
A contaminação das sementes nos
meios de cultura foi ocasionada pelo
aparecimento de bactérias e fungos,
provavelmente endógenos à semente.
Segundo Donida (2004), o poder germinativo das sementes de alcachofra pode
ser afetado pelos patógenos associados
à mesma. Miccolis et al., apud Donida
em função da menor ocorrência de oxidação dos cotilédones.
Para minimizar o possível efeito
residual tóxico do cloro ativo, foi reduzida a concentração do mesmo de 5,7
para 2% na assepsia das sementes. Já
o tempo de imersão das sementes antes
da semeadura em água foi ampliado de
24 h para 48 h, para facilitar a remoção
do tegumento.
Houve efeito significativo apenas
do tratamento dado ao tegumento da
semente sobre a porcentagem de germinação. A remoção total do tegumento
possibilitou uma rápida e satisfatória
germinação (77,5%), apresentando
as plântulas aos sete dias porte para a
retirada de explantes (repicagem). As
sementes com o tegumento mantido intacto não germinaram. O meio de cultura
não revelou efeito significativo sobre a
germinação das sementes. Verificou-se,
portanto, que o tegumento da semente
de alcachofra se constitui numa barreira
física à germinação. Outro aspecto a
considerar é que a remoção total do tegumento permitiu visualizar e selecionar
as sementes mais sadias, o que pode
ter favorecido a maior porcentagem de
germinação nesse tratamento.
Os resultados são concordantes com
Pinheiro et al. (2001) que, na germinação in vitro da mangabeira (Hancomia
speciosa G.), em diferentes meios de
cultura, observaram que as sementes
y = 8,004 - 4,8x
2
R = 0,94
100
y = 3,672 - 3,5336x
2
R = 0,98
80
y = 7,008 - 3,1336x
2
R = 0,83
60
40
y = 2,22 + 2,6792x
2
R = 0,92
20
TCM1
0
0
5
10
15
20
Dias após semeadura
25
30
TCM2
TIM1
TIM2
Figura 2. Contaminação de sementes de alcachofra cv. Nobre em dois meios de cultura
(M1=1/2 MS e M2=MS completo), com (TC - tegumento cortado) e sem (TI – tegumento
intacto) o corte lateral do tegumento. (Contamination of artichoke cv. Nobre seeds in two
culture media (M1=1/2 MS and M2= complete MS), with (TC= cut tegument) and without
(TI= intact tegument) lateral cut of tegument. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2006.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Germinação in vitro de sementes de alcachofra
sem tegumento obtiveram maior porcentagem de germinação. Itaya et al.
(2005), estudando a germinação in
vitro de aquênios de Viguiera discolor
(Asteraceae), obtiveram 80% de germinação quando os envoltórios externos
foram retirados das sementes. Lima et
al. (2007) verificaram, na germinação
in vitro de sementes de urucum (Bixa
orellana L.), que a retirada do tegumento incrementou a porcentagem de germinação, apresentando-se como o melhor
método para superar a dormência.
Não foi observado efeito do meio de
cultura e do tratamento do tegumento
sobre a contaminação, que foi baixa, de
16,7% após sete dias da semeadura.
Assim, pode-se concluir que a obtenção de plântulas sadias de alcachofra
cv. Nobre, para utilização como fonte de
explantes no cultivo in vitro, é viável a
partir da germinação in vitro de sementes. Com base nos experimentos realizados, pode-se indicar, para a obtenção de
satisfatória taxa de germinação (77,5%),
baixa porcentagem de contaminação
(16,7%) e, em curto espaço de tempo
(sete dias), plântulas em condições de
fornecer explantes para repicagem, a
técnica de assepsia das sementes com
álcool 70% por 30 min, posterior imersão, por dez minutos, em solução de
hipoclorito de sódio contendo 2% de
cloro ativo, e retirada do tegumento.
A semeadura pode ser realizada em
meio de cultura MS completo ou com
concentração de sais reduzida à metade,
mantidas as sementes em câmara de
crescimento no escuro.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Capes pela
bolsa de Mestrado concedida ao primeiro autor.
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Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes
substratos
Fernanda Ludwig; Amaralina C Guerrero; Dirceu M Fernandes; Roberto L Villas Boas
UNESP-FCA, Depto Recursos Naturais, Ciência do Solo, C. Postal 237, 18610-307 Botucatu-SP; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
O cultivo e o comércio de gérbera em vaso são recentes e há
uma grande demanda quanto à seleção de substratos adequados à sua
produção. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
avaliar o crescimento de duas cultivares de gérbera de vaso, conduzidas com diferentes substratos. O experimento foi realizado em casa
de vegetação entre setembro e novembro de 2008, em Botucatu-SP.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso em
esquema fatorial 5x2 (substratos x cultivares) e quatro repetições.
Plantas de gérbera, cultivares Cherry e Red, foram avaliadas quinzenalmente (1, 15, 29 e 43 dias após aclimatação (DAA)) quanto à
área foliar e a fitomassa seca da parte aérea, as quais foram ajustadas
em relação ao tempo com o programa ANACRES para obtenção da
razão da área foliar (RAF), taxa de crescimento relativo (TCR) e taxa
de assimilação líquida (TAL). As plantas de gérbera apresentaram
melhor desenvolvimento quando conduzidas no substrato 4 (30%
casca de pinus, 30% C1, 20% fibra de coco granulada, 20% fibra de
coco mista). A seleção de substratos adequados ao desenvolvimento
de gérbera deve considerar, principalmente, as características químicas e físicas dos mesmos. Para as cultivares estudadas, valores de pH
do substrato inferiores a 5,5 e superiores a 7,0 foram inadequados
para o desenvolvimento, bem como densidades úmidas superiores
a 530 kg m-3.
Growth analysis of potted gerbera grown in different
substrates
Palavras-chave: Gerbera jamesonii, floricultura, cultivo sem solo.
Keywords: Gerbera jamesonii, floriculture, soilless.
Cultivation and commercialization of potted gerbera are recent
issues and there is a great demand for adequate substrates for its
production. This work aimed to evaluate the growth of two potted
gerbera cultivars (Cherry and Red) grown in different substrates.
The experiment was carried out in a greenhouse from September to
November 2008 at Botucatu, São Paulo State, Brazil. Experimental
design was randomized blocks in a 5x2 factorial arrangement
(substrates x cultivars). Gerbera plants leaf area and dry phytomass
were evaluated fortnightly (1, 15, 29 and 43 days after acclimation
(DAA)). For the leaf area ratio (RAF), relative growth rate (TCR)
and net assimilation rate (TAL), the total dry phytomass and leaf
area were adjusted in relation to time using the ANACRES program.
The gerbera plants had better development in substrate 4 (30% pinus
bark, 30% C1, 20% granulated coconut, 20% mixed coconut). The
selection of substrates for the development of gerbera plants should
consider primarily its physical and chemical attributes. For the studied
cultivars, the substrate pH below 5.5 and above 7.0 was unsuitable
for development as well as dry densities above 530 kg m-3.
(Recebido para publicação em 21 de setembro de 2009; aceito em 22 de fevereiro de 2010)
(Received on September 21, 2009; accepted on February 22, 2010)
A
gérbera é uma planta herbácea,
com inflorescência em capítulo,
pertencente à classe das dicotiledôneas e
família Asteraceae. É originária da África do Sul onde cresce espontaneamente
em áreas sombreadas, ausente de luz
direta (Mercurio, 2002). Inicialmente,
restringia-se à flor de corte, cultivada
diretamente em solo, sendo recente seu
comércio como flor envasada. Com isso,
há crescente demanda pela seleção de
substratos adequados a cada cultivo.
O substrato contribui para o crescimento de plantas cultivadas, principalmente pelo reduzido espaço para
crescimento das raízes. Bellé (2001)
afirma que os substratos bem aerados
permitem o bom desenvolvimento de
pêlos radiculares finos e de ramificações
de raízes, o que aumenta a absorção de
nutrientes. A água, um outro componen70
te do substrato, atua na fotossíntese, absorção de nutrientes, transporte e síntese
de hormônios, entre outros processos
fisiológicos. Desse modo, é importante
estabelecer uma adequada relação entre
ar e água do substrato a ser utilizado.
Trabalhos desenvolvidos com gérbera de corte sugerem que a produção em
substratos com maior aeração na zona
radicular e melhor drenagem da água de
irrigação apresentam resultados positivos, como maior precocidade, número
de flores por planta e uniformidade na
qualidade comercial das flores (Lenzi et
al., 1998; Mascarini, 1998). Quanto às
características químicas do substrato, a
gérbera parece ser influenciada diretamente pelo pH e segundo recomendações obtidas na literatura, o pH pode ser
mantido entre 5,5 e 6,5 (Rogers & Tjia,
1990), entretanto, autores relatam que o
pH acima de 6,0 provoca diminuição da
produção em plantas de gérbera (Sonneveld & Voogt, 1997; Savvas & Givas,
2002). Essas informações indicam que
substratos com diferentes características
físicas e químicas podem interferir no
crescimento de plantas de gérbera.
A análise de crescimento se baseia
fundamentalmente no fato de que cerca
de 90%, em média, da fitomassa seca
acumulada pelas plantas, ao longo do
seu crescimento resulta da atividade
fotossintética. Essa análise expressa as
condições morfofisiológicas da planta
e avalia sua produção líquida, derivada
do processo fotossintético, resultado do
desempenho do sistema assimilatório
durante certo período de tempo (Benincasa, 2003) e contribui para uma visão
mais detalhada e até econômica de uma
cultura (Charlo, 2008).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos
O presente trabalho foi desenvolvido
com o objetivo de avaliar o crescimento
de plantas de gérbera de vaso, cultivares
Red e Cherry, conduzidas com diferentes substratos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa de vegetação, de setembro a novembro de 2008, em Botucatu (22°51’S
e 48°26’W). A temperatura média no
interior da casa de vegetação foi de 23ºC
e a umidade relativa média do ar de 63%.
O delineamento experimental utilizado
foi de blocos ao acaso, em esquema
fatorial 5x2 (5 substratos e 2 cultivares)
e quatro repetições.
Os substratos utilizados foram: 1=
40% terra vermelha (Latossolo Vermelho Escuro), 40% casca de pinus, 10%
composição 1. (C1)= (40% casca de
pinus + 30% vermiculita + 30% casca de
arroz carbonizada), 10% composição 2.
(C2) = (75% casca de pinus + 25% acícula de pinus); 2 = 20% terra vermelha,
30% casca pinus, 30% de C1, 20% C2;
3 = 50% casca de pinus, 20% fibra de
coco granulada, 30% C1; 4 = 30% casca
de pinus, 30% C1,, 20% fibra de coco
granulada, 20% fibra de coco mista;
5 = substrato comercial (70% casca de
pinus + 15% turfa + 15% vermiculita).
As características químicas de CE e
pH1:5 (Brasil, 2007), macronutrientes
e micronutrientes 1:1,5 (Sonneveld &
Elderen, 1994), relação C/N e matéria
orgânica dos substratos (Raij et al.,
2001) e físicas de densidade (Brasil,
2007) e retenção de água (De Boodt &
Verdonck, 1972), são apresentadas na
Tabela 1.
Foram utilizadas mudas de gérbera
(Gerbera jamesonii L.) com quatro
folhas definitivas, cultivares Cherry e
Red pertencentes à serie “Dark eyes” da
empresa Sakata Seed Sudamérica®. As
mudas foram transplantadas em vasos
com capacidade para 1 L (11,5 cm de
altura, 13 cm de base superior e 9 cm
de base inferior), preenchidos com o
substrato correspondente ao tratamento,
de acordo com a densidade úmida.
A casa de vegetação apresenta cobertura em arco com plástico transparente de 150 mícron, com laterais de tela
branca, cortinas de plástico transparente
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
e pavimentada com concreto, em uma
área total de 168 m² (7 x 24 m) e 2,6 m
de pé direito. As plantas foram aclimatadas durante 30 dias, dispostas sobre
bancada de madeira (1,2 de largura, 12
de comprimento, 0,8 m de altura) sob
malha termorefletora (Aluminet®) disposta na parte superior interna da casa de
vegetação, que mantinha a intensidade
luminosa próxima a 25.000 Lux. Após a
aclimatação, os vasos foram espaçados
de 25 em 25 cm e distribuídos em duas
bancadas, permanecendo na intensidade
luminosa máxima de 50.000 Lux. Em
cada bancada foram distribuídos dois
blocos, dispostos longitudinalmente,
com 11 plantas por parcela, sendo
utilizada uma planta em cada coleta.
A avaliação experimental iniciou após
a aclimatação, encerrando quando as
plantas apresentavam características
adequadas para a comercialização e os
resultados são apresentados em dias
após aclimatação (DAA).
O manejo da fertirrigação baseou-se
na pesagem diária dos vasos, os quais
foram mantidos na faixa de 50 a 25% da
água disponível no substrato. A irrigação
foi realizada via solução nutritiva com
a seguinte composição em mg L-1: 121
N-NO3-, 12 N-NH4+, 92 K, 24 P, 175 Ca,
27 Mg e 39 S, 0,19 B, 0,08 Cu, 2,74 Fe,
0,19 Mn, 0,04 Mo e 0,08 Zn no período
vegetativo e 168 N-NO3-, 41 N-NH4+,
303 K, 35 P, 105 Ca, 45 Mg e 55 S, 0,19
B, 0,08 Cu, 2,74 Fe, 0,19 Mn, 0,04 Mo
e 0,08 Zn no reprodutivo.
Durante o crescimento vegetativo,
como é padrão nas produções comerciais, foram desbastados os botões
florais desenvolvidos até os 29 DAA. A
área foliar e a fitomassa seca das plantas
foram determinadas quinzenalmente aos
1, 15, 29 e 43 DAA. A parte aérea da
planta foi cortada rente ao substrato e
determinou-se a área foliar em medidor
modelo Li 3100, da marca Licor. A parte
aérea das plantas, separada em folhas e
inflorescências no período reprodutivo,
iniciado aos 29 DAA, foi seca em estufa de ventilação forçada a 65ºC por
um período de 48 horas, obtendo-se a
fitomassa seca em balança digital.
Para obtenção dos índices fisiológicos de razão da área foliar (RAF), taxa
de crescimento relativo (TCR) e taxa de
assimilação líquida (TAL), as variáveis
de fitomassa seca total e área foliar
foram ajustadas em relação ao tempo
(1, 15, 29 e 43 DAA) com o programa
ANACRES (Portes & Castro Junior,
1991) utilizando a equação exponencial quadrática, que foi a que melhor se
ajustou ao conjunto de dados.
Quando as plantas apresentaram
inflorescências abertas com características para comercialização, aos 43 DAA,
foram avaliadas quanto à fitomassa seca
da folha (FSF) e inflorescência (FSI),
número de folhas (NF), diâmetro de
planta (DP), área foliar (AF), tamanho
da folha (TF), número de inflorescência
(NI) e diâmetro de inflorescência (DI).
O diâmetro de planta foi determinado
pela distância entre as extremidades
da superfície foliar no vaso, com uso
de régua graduada, em duas medidas
perpendiculares. O diâmetro das inflorescências foi aferido com uso de
paquímetro digital.
Os resultados foram submetidos
à análise de variância pelo teste F. As
médias foram comparadas pelo teste
Tukey a 5% de probabilidade. Procedeuse o desdobramento da interação entre
substratos e cultivares quando a análise
de variância revelou efeito significativo,
utilizando o programa estatístico Sisvar
(Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A razão de área foliar (RAF) é a área
foliar útil para a fotossíntese, sendo a
razão entre a área responsável pela interceptação de energia luminosa e CO2 e
a fitomassa seca total, que é o resultado
da fotossíntese (Benincasa, 2003). A
RAF foi maior no início do período de
avaliação, quando a planta converte
maior produção fotossintética para a
expansão foliar e captação de luz, declinando seus valores ao longo do ciclo
(Figura 1A e B), devido à interferência
das folhas superiores sobre as inferiores e redução da área foliar útil para a
fotossíntese. Segundo Infoagro (2005),
a gérbera tem crescimento em roseta,
acarretando na sobreposição das folhas
com consequente sombreamento. A partir do período reprodutivo as estruturas
não-fotossintetizantes, como as flores, o
auto-sombreamento e a queda de folhas,
reduzem os valores desse índice (Urchei
et al., 2000). Resultados semelhantes
71
F Ludwig et al.
Tabela 1. Características químicas e físicas dos substratos utilizados no crescimento e desenvolvimento de gérbera (chemical and physical characteristics of substrates used in the
experiment). Botucatu, UNESP. 2008.
Características
CE 1:5 (dS m-1)
pH 1:5 (inicial)
pH 1:5 (final)
MO (%)
C/N
K1:1,5 (mg L-1)
Ca1:1,5 (mg L-1)
Mg1:1,5 (mg L-1)
Cu1:1,5 (mg L-1)
Fe1:1,5 (mg L-1)
Mn1:1,5 (mg L-1)
Zn1:1,5 (mg L-1)
Porosidade total- PT (%)
Sólidos (%)
Espaço de aeração - EA (%)
Água disponível - AD (%)
Água remanescente - AR (%)
Densidade úmida (kg m-3)
Densidade seca (kg m-3)
1
0,54
5,13
5,42
19,00
10,55
70,25
52,40
50,15
0,01
0,38
0,19
0,04
78,79
21,21
23,50
28,74
26,48
750,00
538,00
2
0,49
4,81
4,86
28,00
15,55
86,00
84,98
57,60
0,02
0,62
2,48
0,11
80,62
19,38
19,33
29,40
31,89
850,00
540,00
Substrato
3
0,26
5,74
5,63
38,00
21,11
45,43
3,57
12,13
0,06
5,57
0,20
0,06
84,28
15,72
12,76
37,34
34,62
690,00
450,00
4
0,28
5,74
5,59
33,00
18,33
56,70
22,83
24,45
0,03
1,76
0,38
0,06
89,18
10,82
17,15
35,80
36,23
590,00
298,00
5
0,48
7,58
6,89
34,00
18,88
176,25
21,63
12,83
0,06
1,83
0,84
0,08
83,51
16,49
21,10
32,90
29,50
530,00
340,00
Substratos: 1= 40% terra vermelha (Latossolo Vermelho Escuro (LVE)), 40% casca de
pinus (CP), 10% composição 1 (C1) (40% CP + 30% vermiculita (V) + 30% casca de arroz
carbonizada), 10% composição 2 (C2) (75% CP + 25% acícula de pinus); 2= 20% LVE,
30% CP, 30% C1, 20% C2; 3= 50% CP, 20% fibra de coco granulada (FCG), 30% C1; 4=
30% CP, 30% C1, 20% FCG, 20% fibra de coco mista; 5= substrato comercial (70% CP +
15% turfa + 15% V).
foram obtidos por Fontes et al. (2005)
para a cultura do pimentão e Silva et al.
(2009) para o girassol ornamental.
A RAF foi menor nas plantas que
cresceram com substratos 1 e 2 em relação aos demais (Figura 1A e B). Para as
plantas conduzidas nesses substratos, foi
possível constatar reduzido acréscimo
da área foliar em relação às demais na
fase reprodutiva, iniciada aos 29 DAA,
para que as inflorescências pudessem
se estabelecer, apresentando menor
quantidade de material fotossintetizante
em relação à fitomassa seca total. Essa
maior redução da RAF pode ter sido
decorrente da maior eficiência da folha
em converter energia luminosa e CO2
em fitomassa seca, principalmente para
as inflorescências, conforme constatado na Tabela 2. A maior conversão
da massa para as inflorescências pode
ser considerada uma característica da
espécie, como forma de sobrevivência
72
em condição de estresse.
A taxa de crescimento relativo
(TCR) é definida por Aguiar Netto et al.
(2000) como um índice de eficiência, já
que representa a capacidade da planta
em produzir material novo. A TCR decresceu ao longo do ciclo (Figura 1C e
D), o que segundo Ferrari et al. (2008)
era esperado, pois com o acréscimo da
fitomassa seca acumulada pelas plantas,
aumenta a necessidade de fotoassimilados para a manutenção das estruturas
já formadas, diminuindo a quantidade
disponível para o crescimento. Também,
de acordo com Urchei et al. (2000), a
redução desse índice fisiológico no final
do ciclo pode ser explicada pelo autosombreamento e pelo menor incremento
da área foliar ao longo do ciclo, além
da elevação da atividade respiratória.
Cometti et al. (2008) sugerem que o
declínio da TCR indica a aproximação
da senescência, momento em que a assi-
milação líquida passa a ser negativa.
O valor de TCR superior para a
cultivar Cherry conduzida no substrato
5, em relação aos demais substratos
(Figura 1 D), indica maior eficiência na
conversão de fitomassa seca por unidade
de tempo, em relação à fitomassa inicial.
Essa eficiência parece estar relacionada
principalmente à maior taxa de fotossíntese líquida, já que a razão de área
foliar praticamente não se alterou nos
diferentes substratos.
A cultivar Red conduzida no substrato 3 apresentou maior taxa de crescimento relativo e taxa de fotossíntese líquida
(Figura 1C e E), comparada a Cherry
(Figura 1D e F), indicando que a cultivar
Red foi mais eficiente na produção da
fitomassa seca quando conduzida nesse
substrato. Como as diferenças para a
razão de área foliar foram menos perceptíveis, é possível inferir que a TCR
não foi influenciada pelo tamanho da
área fotossintética, e sim pela eficiência
fotossintética.
Analisando as características do
substrato 5 (Tabela 1) verificou-se
valores iniciais de pH elevados para
a gérbera (7,58) o que possivelmente
tenha interferido no desenvolvimento
inicial das plantas. A redução do pH ao
longo do ciclo e valores finais de 6,89,
permitiu que as plantas recuperassem
seu desenvolvimento, já que as características físicas eram adequadas, além da
elevada disponibilidade de K, o nutriente absorvido em maiores quantidades
pela cultura da gérbera (Ludwig et al.,
2008). Segundo recomendações obtidas
na literatura, o pH para gérbera pode ser
mantido entre 5,5 e 6,5 (Rogers & Tjia,
1990), enquanto outros autores relatam
que o pH acima de 6,0 provoca diminuição da produção (Sonneveld & Voogt,
1997; Savvas & Givas, 2002).
A taxa de assimilação líquida (TAL)
representa o balanço entre o material
produzido pela fotossíntese e o perdido
pela respiração, expressando a eficiência
das folhas na produção de fitomassa seca
e a estimativa da fotossíntese líquida
(Benincasa, 2003). O decréscimo na
fotossíntese líquida observada ao longo
do ciclo de crescimento da cultura da
gérbera (Figura 1E e F) está associado
ao auto-sombreamento promovido pela
sobreposição das folhas, a redução da
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Análise de crescimento de gérbera de vaso conduzida em diferentes substratos
Tabela 2. Valores médios para fitomassa seca da folha (FSF), fitomassa seca da inflorescência (FSI), número de folhas (NF), diâmetro de
planta (DP), área foliar (AF), tamanho da folha (TF), número de inflorescências (NI) e diâmetro de inflorescência (DI) aos 43 DAA em cultivares de gérbera de vaso em função dos substratos (leaf dry phytomass (FSF), inflorescence dry phytomass (FSI), leaf number (NF), plant
diameter (DP), leaf area (AF), leaf size (TF), inflorescence number (NI) and inflorescence diameter (DI) at 43 DAA of gerbera cultivars,
depending on substrates). Botucatu, UNESP. 2008.
Substrato
1
2
3
4
5
Cultivar
Red
Cherry
CV (%)
FSF (g)
5,1 c
3,9 d
6,0 bc
8,6 a
6,7 b
FSI (g)
4,2 ab
3,4 b
4,7 a
4,4 ab
4,0 ab
NF
22,0 b
19,3 b
23,9 ab
28,5 a
24,3 ab
DP (cm)
25,4 bc
24,1 c
27,4 b
32,8 a
31,2 a
AF (dm²)
7,2 c
5,4 d
9,0 b
12,3 a
9,7 b
5,3 B
6,9 A
12,40
4,1 A
4,2 A
20,36
23,9 A
23,3 A
16,40
26,5 B
29,9 A
6,30
8,2 B
9,3 A
12,27
TF (dm²)
0,33 bc
0,28 c
0,39 ab
0,44 a
0,41 a
NI
3,5 a
3,1 a
3,8 a
2,8 a
2,6 a
DI (mm)
78,0 ab
73,0 b
77,1 ab
87,1 a
88,4 a
0,34 B
0,40 A
14,20
3,9 A
2,5 B
40,94
80,3 A
81,1 A
11,34
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, sendo minúsculas para substratos e maiúsculas para cultivares não diferem entre si pelo teste
Tukey a 5% (means followed by the same letters in the same column, being lowercase to substrates and uppercase to cultivars did not differ
by the Tukey’s test at 5%).
eficiência fotossintética e aumento das
perdas respiratórias.
A redução da TAL foi menos acentuada para as duas cultivares de gérbera
desenvolvidas nos substratos 1 e 2 (Figura 1E e F). Essa informação parece
estar relacionada principalmente com
a maior distribuição de fitomassa seca
para as inflorescências (Tabela 2) e
redução do incremento da área foliar e
sombreamento. Outro fator que pode ter
contribuído para as menores reduções
da TAL nesses substratos é o reduzido
tamanho das folhas, 0,33 e 0,28 dm²
para os substratos 1 e 2, respectivamente
(Tabela 2), com conseqüente redução do
auto-sombreamento. A maior queda da
TAL para plantas submetidas ao substrato 4 é justificada pela maior área foliar,
devido ao efeito do sombreamento nas
folhas inferiores.
Os valores de pH podem também
ter influenciado o crescimento das
plantas de gérbera nos substratos 1 e
2, entretanto, pelo baixo valor (5,13 e
4,81, respectivamente). De acordo com
Fermino (1996) valores inadequados
de pH podem afetar o desenvolvimento
das plantas, principalmente sob acidez
excessiva. Plantas cultivadas em ambientes ácidos têm quantidades menores
de nutrientes à sua disposição, além de
ficarem sujeitas à maior absorção de
elementos tóxicos como Al e Mn, este
último, já encontrado em quantidades
superiores no substrato 2. Para o cultivo de gérbera o pH mínimo ideal deve
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
ser 5,5 (Cavins et al., 2000; Rogers &
Tjia, 1990).
Apesar das características iniciais de
porosidade total e de aeração estarem
adequadas para o desenvolvimento
da maioria das culturas (De Boodt &
Verdonck, 1972), a presença de solo
de textura argilosa na composição dos
substratos 1 e 2 pode ter promovido uma
maior compactação ao longo do ciclo.
Aliado a isso, a elevada densidade seca
desses substratos (540 kg m-3) dificulta
o crescimento radicular, especialmente
em vasos com capacidade para um litro
e 11,5 cm de altura. Kämpf (2000) recomenda utilizar substratos com densidade
seca de 250 a 400 kg m-3 para vasos de
até 15 cm de altura, indicando que altas
densidades limitam o crescimento das
plantas.
A redução da TAL foi mais acentuada quando as plantas foram conduzidas
nos substratos 3 e 4 para Red e 4 para
Cherry, indicando que estes substratos
contribuem para o rápido crescimento
das plantas de gérbera, que é uma característica vantajosa para o produtor, pelo
maior fluxo de plantas e retorno econômico. Para obter melhor qualidade das
plantas desenvolvidas nos substratos 1
e 2, seria necessário proceder o desbaste
dos botões florais durante um período
superior a 29 DAA, o que acarretaria
em atraso na produção.
As características de qualidade
estética variam entre os tipos de planta
ornamental e para flor envasada, há que
se considerar a formação da folhagem e
da inflorescência. O número de inflorescências não variou entre os substratos,
entretanto o diâmetro destas foi superior
para os substratos 4 e 5 e inferior no
substrato 2, a área foliar foi superior
para aquelas produzidas no substratos
4, o que caracteriza a formação de um
conjunto adequado de vaso (Tabela 2).
A análise de crescimento pode ser
utilizada como uma importante técnica
para a avaliação das adaptações da planta em diferentes condições do meio de
cultivo. Assim, pode-se inferir que as
plantas de gérbera tiveram limitação de
crescimento ao serem conduzidas com
os substratos 1 e 2, que continham solo
na sua composição, especialmente pelas
suas características químicas e físicas
inadequadas.
Com base nos resultados obtidos
foi possível concluir que as plantas de
gérbera apresentam melhor desenvolvimento quando conduzidas no substrato
4 (30% casca de pinus + 30% C1 + 20%
fibra de coco granulada + 20% fibra de
coco mista). A seleção de substratos
adequados ao desenvolvimento de gérbera deve considerar principalmente
as características químicas e físicas
dos mesmos. Para as cultivares Red e
Cherry, o pH inferior a 5,5 e superior a
7,0 foi inadequado para o crescimento,
bem como densidade seca superior a
530 kg m-3.
AGRADECIMENTOS
73
F Ludwig et al.
Figura 1. Valores médios de razão da área foliar (RAF) (A e B), taxa de crescimento relativo
(TCR) (C e D) e taxa de assimilação líquida (TAL) (E e F) em plantas de gérbera conduzidas
em diferentes substratos, ao logo dos dias após a aclimatação (DAA) (leaf area ratio (RAF)
(A and B), relative growth rate (TCR) (B and C) and net assimilation rate (TAL) (E and
F) of gerbera plants conducted with different substrates in days after acclimation (DAA)).
Botucatu, UNESP. 2008.
À Capes pela concessão de bolsa
ao primeiro autor, e ao CNPq pela
concessão de bolsa aos demais autores.
Às empresas Sakata e Steltenpool pela
contribuição no desenvolvimento da
pesquisa.
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Cultivo orgânico sequencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação
e duas coberturas de solo
Roberto BF Branco1; Luiz Geraldo de C Santos2; Rumy Goto3; Issao Ishimura4; Sônia Schlickmann2;
Cristiano S Chiarati5
APTA-Centro-Leste, 14030-670 Ribeirão Preto-SP; 2Ensistec, 18130-510 São Roque-SP; 3UNESP-FCA, 18603-970 Botucatu-SP; 4IACUPD, 18133-445 São Roque-SP; 5APO-Horta & Arte, 18130-000 São Roque-SP, bolsista CNPq; [email protected]; luizgcs@uol.
com.br; [email protected]
1
Resumo
ABSTRACT
Com o aumento da demanda por produtos ecologicamente corretos tornaram-se necessários estudos de novas tecnologias para inserilas no método de cultivo orgânico para que se tenha um crescimento
sustentável da atividade. Neste trabalho avaliou-se o desempenho
de cultivares e híbridos de hortaliças cultivados seqüencialmente no
método orgânico, em diferentes ambientes. O delineamento experimental foi de parcelas sub-subdivididas com 3 repetições, resultando
em 24 unidades experimentais. Foram estudados dois métodos de
irrigação (aspersão convencional e localizada por gotejamento); duas
coberturas do solo (plástico e palha) e dois híbridos ou cultivares
de espécies de hortaliças, sendo que para o cultivo do feijão-vagem
utilizou-se apenas uma cultivar. Conduziram-se concomitantemente
dois cultivos seqüenciais de hortaliças: (1) alface americana – tomate
– brócolis e; (2) alface crespa – feijão-vagem – repolho. Avaliaramse as características produtivas de cada espécie. Na seqüência (1) o
cultivo da alface americana teve melhor desempenho quando irrigada
por gotejamento, não havendo diferença entre as coberturas do solo,
sendo a cv ‘Rubette’ a mais produtiva. O tomateiro foi mais produtivo
no “mulching” plástico, independentemente do método de irrigação
e o brócolis teve desempenho semelhante entre os tratamentos. Na
seqüência (2) a alface crespa e o feijão-vagem foram mais produtivos quando irrigados por gotejamento e cultivados em cobertura
plástica. O repolho teve melhor desempenho na cobertura do solo
com filme plástico.
Successive organic cultivation of vegetable crops in two
irrigation systems and two soil covers
Palavras-chave: gotejamento, aspersão, mulching plástico, bagaço
de cana-de-açúcar.
Keywords: drip, sprinkler, plastic mulching, straw of sugar cane.
With the growing demand for ecological products new
technologies are required for organic cultivation systems in order
to provide a sustainable growth of this activity. This experiment
evaluated the performance of vegetable cultivars and hybrids growing
successively in the organic system, in different growth environments.
The experimental design was randomized blocks with split split-plots
with 3 replications, resulting in 24 experimental units. The following
treatments were assessed: a) two irrigation systems, sprinkle and
drip, b) two soil covers, plastic and straw of sugar cane and c) two
hybrids or cultivars. Two different cropping sequences were carried
out: (1) iceberg lettuce - tomato - broccoli and; (2) crisp lettuce - snap
beans - cabbage. The agronomic characteristics of each species were
evaluated. In sequence 1, iceberg lettuce growth performed better
when irrigated by the drip system, but there was no difference between
the soil covers and ‘Rubette’ presented higher yield. Higher tomato
yields were observed in “mulching” plastic regardless the irrigation
system and broccoli was unaffected by treatments. In sequence 2,
crisp lettuce and snap beans were more productive when irrigated by
drip and grown on plastic covering. Cabbage performed better with
plastic film covering soil surface.
(Recebido para publicação em 26 de janeiro de 2009; aceito em 8 de fevereiro de 2010)
(Received on January 26, 2009; accepted on February 8, 2010)
O
cultivo orgânico de hortaliças sofreu aumento expressivo em área
de produção e também em produtividade, devido principalmente à demanda
de mercado por produtos ecológicos.
De acordo com a Fundação Agricultura e Ecologia da Alemanha (Soel),
o consumo mundial de orgânicos tem
movimentado mais de US$ 30 milhões
em exportações brasileiras, US$ 200
milhões em vendas no Brasil, US$ 13 bilhões em vendas só nos Estados Unidos
e US$ 30 bilhões no mundo (Willer et
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
al, 2008). O setor orgânico apresenta um
crescimento estimado em 30% ao ano, e,
segundo o Ministério da Agricultura, a
produção orgânica no Brasil ocupa uma
área de aproximadamente 800.000 ha
(Portal Fator Brasil, 2007). Entretanto,
há necessidade por pesquisas em todo
método produtivo, desde melhoramento
genético, nutrição, fitossanidade, manejo de irrigação e do solo, até comercialização dos produtos.
Entre as tecnologias de produção,
o método de irrigação localizada por
gotejamento é bastante interessante por
melhorar a eficiência do uso da água e
também proporcionar a fertilização das
plantas de maneira mais racional ao
longo do ciclo de cultivo (López, 2001).
No tomateiro, estudos têm indicado
economia em água de até 30%, incremento em produtividade em até 40% e
também melhoria na qualidade dos frutos pelo uso da irrigação localizada por
gotejamento e da prática da fertirrigação
(Marouelli & Silva, 2002).
Entretanto, o método de irrigação
75
RBF Branco et al.
por aspersão continua sendo preferido
pelos olericultores, principalmente pela
viabilidade econômica de implantação
do método e também por proporcionar
alguns benefícios fitossanitários aos
cultivos, como por exemplo, segundo
Marouelli et al. (2005), redução na
incidência de murcha bacteriana em
tomateiro quando comparado com a
irrigação por gotejamento.
A prática da cobertura do solo com
plásticos e palhas proporciona diversos
benefícios ao agricultor e ao ambiente,
dentre os quais podemos mencionar o
controle de plantas invasoras, menor
evaporação da água do solo, economia
de água de irrigação e diminuição do
custo de produção. Strek et al. (1995)
estudaram mulches de polietileno como
cobertura do solo na cultura do tomate,
sendo que os tratamentos não proporcionaram aumento das características
produtivas do tomateiro, alterando
apenas a dinâmica da temperatura no
perfil do solo.
Na avaliação de coberturas do solo
com plástico preto e palhas vegetais na
cultura da alface, Andrade Júnior et al.
(2005) verificaram que a cobertura com
casca de café foi a que proporcionou
melhores resultados nos componentes
produtivos da alface do tipo lisa. Na
alface americana os melhores resultados
de produção foram proporcionados pela
cobertura plástica dupla face (prateado/
preto) e também foi o tratamento em que
se obteve maiores valores para a quantidade de clorofila, nitrogênio, fósforo,
enxofre, boro e ferro acumulado nas
folhas (Verdial et al., 2001).
Outro fator a se considerar é a
adaptação de cultivares e híbridos de
hortaliças às distintas situações ambientais, já que o mercado de sementes de
hortaliças disponibiliza enorme quantidade de cultivares, cada uma com sua
particularidade. Entretanto, tornam-se
necessários estudos para auxiliarem na
escolha de variedades ou híbridos para
determinadas condições edafoclimáticas, fator preponderante para o sucesso
da produção (Trevisan et al., 2003;
Feltrim et al., 2005).
O objetivo neste trabalho foi avaliar
métodos de irrigação e coberturas do
solo na produção seqüencial de cultivares e híbridos de hortaliças sob manejo
76
orgânico.
Material e métodos
O experimento foi conduzido na
APTA de São Roque-SP, local situado
a 23° 18’ N e 47° 4’ S, com precipitação
média anual de 1.320 mm e temperatura
média anual de 19,8°C. O solo da propriedade é classificado como Latossolo
Vermelho Amarelo (Embrapa, 1999)
com a seguinte composição química: pH
(H2O) = 6,2; P = 95 mg dm-3; K = 3,5
mmolc dm-3; Ca = 71 mmolc dm-3; Mg =
16 mmolc dm-3; Al = 0 mmolc dm-3; H+Al
= 2,2 mmolc dm-3; T = 113 mmolc dm-3;
V = 82 % e MO = 2,9 g dm-3;
O delineamento experimental foi
de parcelas sub-subdivididas (2 x 2
x 2) com 3 repetições, resultando em
24 unidades experimentais. Os fatores
estudados foram: a) dois métodos de irrigação (aspersão e gotejamento); b) duas
coberturas do solo (plástico e palha) e c)
dois híbridos ou cultivares de espécies
de hortaliças. Somente no caso do cultivo do feijão-vagem, utilizou-se apenas
uma cultivar, sendo estudados apenas os
fatores método de irrigação e coberturas
do solo, resultando em delineamento de
parcelas subdivididas.
As espécies hortícolas foram cultivadas, dentro de cada tratamento, em
duas seqüências de plantio da seguinte
maneira: (1) alface americana – tomate
– brócolis; (2) alface crespa – feijãovagem – repolho. Entre um cultivo e
outro instalou-se a cultura em sistema de
plantio direto sem preparo do solo.
Na sequência (1), as cultivares
de alface americana foram ‘Raider’ e
‘Rubette’; os híbridos de tomate foram
‘Débora’ e ‘Kyndio’ e os de brócolis
foram ‘Legacy’ e ‘Marathon’. Na sequência (2) as cultivares de alface crespa
foram ‘Marisa’ e ‘Verônica’; no cultivo
do feijão-vagem utilizou-se a cultivar de
crescimento determinado ‘Paulista’ e,
no do repolho, cultivaram-se os híbridos
Kenzan e Ombrios.
Todos os cultivos foram conduzidos
em método orgânico de produção, de
acordo com normas estabelecidas pela
Certificadora da Associação de Agricultura Orgânica (AAOCERT). Realizou-se
o cultivo mínimo do solo, sendo feito
o preparo com enxada rotativa apenas
para o plantio da primeira espécie,
aproveitando-se o preparo do solo do
primeiro cultivo para os cultivos posteriores de tomate e brócolis da seqüência
1 e feijão-vagem e repolho da seqüência
2, respectivamente.
Realizou-se a aplicação de calcário
calcítico para melhorar o equilíbrio
de bases entre Ca/K/Mg, visto que a
CTC estava em 82%. A adubação de
base foi feita com 6 L m-2 de composto
orgânico, 0,4 kg m-2 do fertilizante orgânico “Bokashi”, 0,15 kg m-2 de torta
de mamona e 0,10 kg m-2 de termofosfato. Os canteiros foram formados com
aproximadamente 0,2 m de altura, 1,0 m
de largura e 50 m comprimento, sendo
dois canteiros para cada repetição do
experimento.
As sequências de produção foram
instaladas após incorporação de aveia
preta, cultivada por 75 dias. As semeaduras das culturas foram feitas em
bandejas de poliestireno expandido de
288 células para alfaces e de 128 células
para brócolis, repolho, tomate e feijãovagem. A produção das mudas foi feita
em ambiente protegido.
As alfaces americana e crespa, das
seqüências 1 e 2, foram semeadas em
05/06/02. O transplante das mudas para
o local definitivo foi feito 32 dias após a
semeadura (DAS), no espaçamento de
0,3 x 0,3 m.
As semeaduras do tomate e do
feijão-vagem, espécies do segundo
cultivo das seqüências (1) e (2) de
plantio foram realizadas em 10/09/02 e
08/09/02 respectivamente. O transplante
das mudas de tomateiro para o local
definitivo realizou-se com 30 DAS,
no espaçamento de 1,50 x 0,60 m. O
feijão-vagem foi transplantado no local
definitivo com 15 DAS, em espaçamento de 0,30 x 0,30 m.
As espécies do terceiro cultivo
sequencial, brócolis e repolho, das
sequências (1) e (2), respectivamente, foram semeadas em 18/01/03 e
07/01/03. As mudas de brócolis foram
transplantadas para o local definitivo 30
DAS, no espaçamento de 0,60 x 0,60 m
e as de repolho no espaçamento de 0,30
x 0,30 m.
Utilizaram-se dois tipos de coberturas para os canteiros. A cobertura feita
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo
com bagaço de cana-de-açúcar formou
na superfície do solo uma camada de
palha de aproximadamente 35 mm. O
outro tipo de cobertura do solo foi feito
com plástico de polietileno de dupla
face prata-preto de 35 micras, fixado
nas bordas dos canteiros com grampos
de arame.
A irrigação das culturas foi feita por
dois métodos, aspersão convencional e
localizada por gotejamento. Na aspersão, utilizou-se aspersores (Netafim)
com vazão aferida de 960 L h-1, com
intensidade de aplicação de 55 mm h-1
e raio de alcance de 12 m. No gotejamento utilizou-se tubos gotejadores
autocompensados RAM (Netafim) com
emissores espaçados a 0,3 m, com vazão
aferida de 1,67 L h-1 a pressão de serviço
de 1,6 kPa. O monitoramento da irrigação foi feito com auxílio de tensiômetros
instalados a 0,2 m de profundidade e em
dez pontos da área experimental, sendo
cinco na área com aspersão e cinco no
gotejamento. A irrigação foi acionada
sempre que a tensão da água no solo
atingisse valores específicos para cada
cultura: alface e brócolis = -40 kPa; re-
polho = -60 kPa; tomate e feijão-vagem
= -30 kPa (Marouelli et al., 1994). A
lâmina d’água aplicada em cada irrigação foi de 5 mm nos dois métodos de
irrigação e em todas as culturas.
Os tratos culturais foram realizados
em função da especificidade de cada
espécie, sendo utilizados somente produtos liberados pela certificadora de
produção orgânica AAOCERT. Realizou-se a adubação de cobertura com
bokashis e biofertilizantes líquidos via
foliar e via solo, e no caso da irrigação
por gotejamento, essa adubação foi feita
via água de irrigação (fertirrigação).
O manejo de nutrição foi monitorado
pela análise rápida da solução do solo,
obtida através de extratores instalados
nas profundidades de 0,2, 0,4 e 0,6 m.
Para aporte dos fertilizantes levou-se em
consideração a solução do solo extraída
da profundidade de 0,20 m e, sempre
que a condutividade elétrica do solo
fosse inferior a 1,5 mS cm-1 realizava-se
a fertirrigação na quantidade de 3 mL
do biofertilizante líquido para cada L
d’água de irrigação.
O tutoramento do tomateiro foi rea-
lizado com fitilho, conduzindo a planta
com altura de 1,7 m. O feijão-vagem foi
conduzido sem estaqueamento por ser
a variedade de hábito de crescimento
determinado.
O ciclo de cultivo da alface americana foi de 55 dias e o da alface crespa foi
de 44 dias. O ciclo do tomateiro foi de
109 dias e o do feijão-vagem foi de 70
dias. O ciclo de cultivo do brócolis foi de
90 dias e de 114 dias para o repolho.
Avaliaram-se somente as características de produção comercial de cada
cultura. Para as alfaces e repolho mediram-se a massa fresca da parte aérea
comercial; para o brócolis mediu-se a
massa fresca da inflorescência comercial
e para o tomate e feijão-vagem a massa
fresca dos frutos comerciais.
Resultados e discussão
Sequência (1) alface americana
– tomate – brócolis: Na média, a irrigação por gotejamento proporcionou
maior produção de massa fresca de
alface americana que a irrigação por
Tabela 1. Produção (g planta-1) de cultivares de alface americana, híbridos de tomateiro e de brócolis em dois métodos de irrigação e dois
tipos de cobertura de solo (mulching), em cultivo orgânico (production of iceberg lettuce, tomatoes and broccoli hybrids in two irrigation
methods and two types of soil cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003.
Métodos de irrigação
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Cobertura do solo
Palha
Plástico
642,48 a B
750,05 a A
686,46 a A
632,25 b B
664,47 A
691,15 A
5,61
Cobertura do solo
Palha
Plástico
1,80
1,90
1,32
1,91
1,55 B
1,90 A
18,66
Cobertura do solo
Palha
Plástico
459,82
551,72
473,02
496,87
466,41 A
524,29 A
16,28
Média
696,26 a
659,35 b
Média
1,84 a
1,61 a
Média
505,76 a
484,94 a
Cultivares de alface
Raider
Rubette
696,26 a A
694,26 a A
606,63 b B
714,08 a A
651,45 B
704,17 A
5,61
Híbridos de tomateiro
Débora
Kyndio
1,82
1,88
1,46
1,78
1,63 A
1,82 A
18,66
Híbridos de brócolis
Legacy
Marathon
549,38
462,15
476,08
493,80
512,73 A
477,97 A
16,28
*Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade (capital letters compare values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each
other by the Tukey test at 5% of probability).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
77
RBF Branco et al.
Tabela 2. Produção (g planta-1) de cultivares de alface crespa e de híbridos de repolho em dois métodos de irrigação e dois tipos de cobertura
do solo (mulching), em cultivo orgânico (production of crisp lettuce and cabbage hybrid in two irrigation methods and two types of soil
cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003.
Métodos de irrigação
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Cobertura do solo
Palha
Plástico
426,50
458,80
347,33
349,00
386,91 B
403,91 A
4,63
Cobertura do solo
Palha
Plástico
627,20
943,00
671,80
1013,30
649,50 B
978,13 A
10,11
Média
442,66 a
348,16 b
Média
785,10 a
842,54 a
Cobertura
do solo
Palha
Plástico
média
Cobertura
do solo
Palha
Plástico
média
Cultivares
Marisa
Verônica
368,16 b B
405,66 a A
406,66 a A
401,16 a A
387,41 A
403,41 A
4,63
Híbridos
Kenzam
Ombrios
660,91 b A
638,10 b A
897,18 a B
1059,08 a A
779,05 A
848,59 A
10,11
*Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a
5 % de probabilidade (capital letters compare values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each
other by the Tukey test at 5% of probability).
aspersão (Tabela 1). Entre as coberturas
de solo não houve diferença na produção
de alface americana. No cultivo com
mulching plástico, a irrigação por gotejamento proporcionou maior produção
de massa fresca de alface americana
que a irrigação por aspersão, sendo
que na palha não houve diferença de
produção de alface americana entre os
dois métodos de irrigação. A irrigação
por gotejamento foi mais eficiente na
cobertura plástica e a aspersão na cobertura com palha para a produção de
alface americana.
Com relação às cultivares, ‘Rubette’
foi, na média, mais produtiva que ‘Raider’. Quando irrigada por gotejamento
a cultivar Raider foi mais produtiva que
na irrigação por aspersão, sendo que
‘Rubette’ teve desempenho produtivo
semelhante nos dois métodos de irrigação. Na irrigação por aspersão, ‘Rubette’
foi superior à ‘Raider’.
Para o tomateiro, a maior produtividade foi quando cultivado com cobertura plástica que em bagaço de cana.
Nas parcelas irrigadas por gotejamento
e por aspersão, as produtividades dos
tomateiros foram semelhantes. Os dois
híbridos avaliados tiveram o mesmo
desempenho produtivo nos diferentes
ambientes de cultivo.
O brócolis foi a única espécie estudada que não teve alteração em produção frente aos tratamentos aplicados no
experimento. Portanto, os híbridos de
brócolis Legacy e Marathon tiveram o
mesmo desempenho produtivo nos distintos tipos de cobertura de solo, palha
e plástico e nos métodos de irrigação,
aspersão e gotejamento.
Sequência (2) alface crespa –
feijão-vagem – repolho: Quando
Tabela 3. Produção de feijão-vagem (g planta-1) em dois métodos de irrigação e dois tipos de
cobertura do solo (mulching), em cultivo orgânico (production of bean pods in two irrigation
methods and two types of soil cover, in organic growth). São Roque, APTA, 2003.
Métodos de irrigação
Gotejamento
Aspersão
Média
CV (%)
Coberturas do solo
Palha
Plástico
67,86 a B
99,00 a A
54,30 a A
51,13 b A
75,06 A
61,08 B
13,16
Média
83,43 a
52,76 b
*Letras maiúsculas comparam valores na linha e minúsculas na coluna. Valores seguidos de
mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (capital letter compare
values at line and tiny at column. Values followed by the same letters don’t differ from each
other by the Tukey test at 5% of probability).
78
cultivadas na palha, a cultivar de alface
crespa Verônica teve melhor desempenho em massa fresca por planta que
‘Marisa’, sendo que no plástico não
teve diferença entre as cultivares. A
cultivar Marisa se desenvolveu melhor
no cultivo com cobertura do solo com
plástico (Tabela 2).
Na média, a cobertura do solo com
plástico proporcionou maior massa fresca de planta de alface do grupo crespa,
quando comparada com a cobertura de
palha. As plantas irrigadas pelo método
de gotejamento tiveram maior massa
fresca que as plantas irrigadas por aspersão.
Os híbridos de repolho Kenzan e
Ombrios tiveram, na média, desempenho semelhante. Quando cultivados no
solo coberto com mulching plástico,
os híbridos de repolho foram mais
produtivos do que no cultivo em solo
coberto com palha. O híbrido Ombrios
foi mais produtivo que o ‘Kenzan’ no
cultivo com cobertura plástica do solo.
Com relação ao método de irrigação,
não houve diferença de produtividade
do repolho irrigado por gotejamento ou
aspersão.
Quando cultivada com cobertura do
solo com bagaço de cana, a produção de
feijão-vagem não diferiu entre o método
de irrigação por aspersão e gotejamento.
Entretanto, na cobertura do solo com
plástico, foi mais produtiva quando
irrigada por gotejamento. Na aspersão
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Cultivo orgânico seqüencial de hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo
não houve diferença de produção do
feijão-vagem entre as diferentes coberturas do solo. Na média, a produção do
feijão-vagem foi superior na cobertura
do solo com plástico e na irrigação por
gotejamento (Tabela 3).
Percebe-se com os resultados que as
espécies hortícolas apresentam desempenhos produtivos distintos em relação
aos métodos de irrigação e coberturas
do solo, fato relacionado à habilidade
das espécies em se adaptar e produzirem com maior ou menor resposta ao
ambiente.
A maneira de como fornecer a água
de irrigação as plantas, em “bulbo” no
caso do gotejamento ou em área total
no caso da aspersão e também em relação ao ambiente proporcionado pela
cobertura do solo com alterações na
variação térmica do solo, manutenção
da umidade, são fatores que podem
melhorar as condições de absorção de
nutrientes pelas plantas favorecendo a
produção.
Verdial et al. (2001) relataram maior
produção de massa fresca e seca da parte
aérea da alface americana quando cultivadas em mulching plástico de dupla
face, com média de 491 g por planta,
e de coloração preta, média de 409 g
planta-1 em relação à cobertura com
bagaço de cana-de-açúcar e testemunha
sem cobertura do solo, com respectivamente 141 g por planta e 148 g por
planta. Os autores atribuíram o ganho
em produtividade à maior quantidade
de nutrientes absorvidos pela plantas
cultivadas no mulching plástico e também pelo aumento na temperatura do
solo proporcionado pelos tratamentos
com cobertura plástica, o que pode ter
favorecido a atividade radicular para
absorção de nutrientes.
Zizas et al. (2002) também observaram efeito positivo da cobertura plástica
vermelha, preta e branca e da casca de
arroz no número de folhas da alface lisa
‘Regina’. Os autores observaram que
a temperatura média do solo coberto
com casca de arroz foi semelhante à
testemunha (sem cobertura), 23,9°C,
e as coberturas com plástico vermelho
e preto foram as que proporcionaram
maiores valores de temperatura do solo,
25,3°C e 25,0°C, respectivamente.
Em Três Corações-MG, Andrade
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Júnior et al. (2005) verificaram melhor
rendimento produtivo de alfaces lisas
quando o solo foi coberto com palha de
café em relação às coberturas plástica,
capim braquiária, casca de arroz e testemunha (sem cobertura), sendo a cultivar
Regina superior à Elisa em aspectos
produtivos. Os autores observaram que
o elevado conteúdo de potássio na palha
do café pode ter contribuído para o aumento da produtividade da alface.
Testando o uso de métodos de irrigação por gotejamento e por aspersão
na cultura do tomateiro, Marouelli et
al. (2005) encontraram maior incidência de murcha bacteriana na irrigação
por gotejamento, devido à formação de
bulbo saturado próximo ao gotejador, o
que favoreceu a ação do patógeno. Tal
fato não aconteceu nas condições deste
experimento.
Em condições de cultivo em ambiente protegido e convencional, Branco et
al. (2007) relataram produtividade do
tomateiro semelhante ao deste ensaio
com aproximadamente 2,0 kg de frutos
comerciais por planta. Streck et al.
(1995), estudando cobertura do solo com
diferentes mulchings plásticos também
observaram produtividade em torno de
2,0 kg por planta de tomateiro.
Com relação à produção do feijãovagem, Oliveira, et al. (2007) encontraram resultados superiores ao deste
ensaio estudando doses de K2O, produzindo até 171 g de massa fresca de
feijão-vagem comercial por planta, na
melhor dose economicamente viável.
Sob cultivo orgânico foram relatadas
produções de massa fresca de feijãovagem comercial por planta de até
112 g no outono/inverno e de 82 g na
primavera/verão (Vidal et al., 2007),
corroborando com os resultados deste
ensaio, sendo que o melhor tratamento
atingiu a marca de 99 g de massa fresca
de feijão-vagem comercial por planta,
no cultivo de primavera.
Em sistema de plantio direto do brócolis, Perin et al. (2004) não constataram
diferença entre os tratamentos com adubação verde de pré-cultivo utilizando-se
crotalária, milheto, crotalária + milheto
e vegetação espontânea, assim como
ocorrido neste experimento, sendo que
a produção individual de cabeça comercial foi em média de 322 g, um pouco
inferior aos destes resultados, mas o
que justifica a adaptação da espécie ao
cultivo mínimo do solo.
Em plantio convencional de brócolis
no Rio Grande do Sul, Trevisan et al.
(2003) relataram que os híbridos Baron
e Hana Midori tiveram melhor desempenho produtivo em relação a outros
híbridos e cultivares, apresentando
massa média de cabeça comercial de
430 e 359 g, respectivamente, resultados produtivos que corroboram com os
deste trabalho, indicando que a produção
orgânica em cultivo mínimo do solo
proporcionam produtividades viáveis
ao brócolis.
Com adubação verde na cultura do
repolho, Fontanétti et al. (2006) observaram massa fresca de cabeça comercial
do híbrido Kenzan de 1.215 a 1.960
g, sendo o maior valor relacionado ao
tratamento com vegetação espontânea
seguido pela crotalária. Esses valores
foram superiores aos encontrados neste
trabalho talvez pelo fato da condução do
cultivo em condições de temperaturas
amenas ter favorecido a produtividade
do repolho, posto que neste ensaio
realizou-se o cultivo no verão.
Moura et al. (2006) não observaram
diferença de produção de massa fresca
da parte aérea do repolho quando irrigado por aspersão e cultivado em solo com
ou sem cobertura. Entretanto, quando se
utilizou irrigação por sulco a cobertura
vegetal proporcionou maior produção de
massa fresca. Neste caso o maior valor
de massa fresca da parte aérea foi de 528
g, ficando abaixo dos resultados deste
experimento, justificando-se por ter sido
cultivado em condições de temperaturas
mais elevadas, em São Luís-MA, e também por ter se utilizado outro híbrido,
no caso o ‘Astrus’.
A produtividade alcançada pelas
culturas demonstrou que o cultivo mínimo do solo com o seqüenciamento
de produção de três espécies hortícolas
é viável do ponto de vista agronômico.
Contudo, a irrigação por gotejamento
proporcionou maiores produtividades
para as culturas da alface americana,
alface crespa e feijão-vagem e como
cobertura do solo o mulching plástico
proporcionou melhores resultados para
as culturas do tomateiro, da alface cres79
RBF Branco et al.
pa, do feijão-vagem e do repolho.
Agradecimentos
Ao CNPq, à APO-Horta & Arte, à
FCA/UNESP e à Netafim.
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UFRPE-Unid. Acad. Serra Talhada, Fazenda Saco, s/n, C. Postal 063, 56900-000, Serra Talhada-PE; 2UFV-Depto. Biol. Vegetal, 36570000 Viçosa-MG; 3UFV-Depto.Fitotecnia; [email protected]
1
ABSTRACT
RESUMO
The storage of minimally processed vegetables at low
temperatures, in association with proper packaging, represents one
of the available technological solutions to mitigate the variations
that hinder the quality of final products during storage. We studied
the physicochemical variations that occur straight after minimal
processing, as well as those that occur during the storage of minimally
processed and intact leaves of collard greens (Brassica oleracea var.
acephala), stored in 50-µm thick polypropylene bags, with 810-μm
diameter perforations. Leaves were stored for 15 and 9 days, at 5 and
10±1ºC, respectively. There were losses of total chlorophyll, soluble
sugars, starch, and soluble amino acids immediately after the minimal
processing. The rates of degradation and/or use of chlorophyll,
ascorbic acid, soluble sugars, and starch during storage were similar
on minimally processed and intact leaves, independently of the
storage temperature. On contrary, fresh mass loss was almost two
fold larger in minimally processed leaves after nine days of storage,
regardless of temperature. We also observed a transient increase in
the content of soluble amino acids at the end of storage in minimally
processed leaves. The increase in the storage temperature to 10°C
enhanced the chemical variations both in minimally processed and
intact leaves. As consequence, the rates of degradation and/or use
of chlorophyll, ascorbic acid, sugars and starch mounted, and the
accumulation of soluble amino acids was stimulated. We concluded
that it is necessary to keep on searching for alternative packaging for
minimally processed collard greens, and to associate it with storage at
low temperatures, but mimicking distribution and commercialization
conditions of the cold-chain. Thus, we can succeed in adequately
reducing the physicochemical variations that induce quality losses
in minimally processed vegetables.
Alterações na qualidade de folhas de couve inteiras
e minimamente processadas conservadas em diferentes
temperaturas
Keywords: Brassica oleraceae var. acephala, minimal processing,
shelf life, postharvest.
Palavras-chave: Brassica oleraceae var. acephala, processamento
mínimo, vida útil, pós-colheita.
A conservação de hortaliças minimamente processadas em baixas
temperaturas, em associação com o uso de embalagens adequadas,
continua sendo uma das soluções tecnológicas utilizadas para minimizar ou retardar as mudanças que ocorrem durante a conservação.
Foram estudadas as alterações físico-químicas causadas logo após o
processamento mínimo e durante a conservação de folhas de couvecomum (Brassica oleracea var. acephala) inteiras e minimamente
processadas, mantidas em sacos de polipropileno de 50 µm de espessura, com perfurações de 810 µm de diâmetro. As folhas foram
conservadas por 15 e 9 dias, a 5 e 10±1ºC, respectivamente. Logo após
o processamento mínimo observou-se perda de clorofilas totais, açúcares solúveis, amido e aminoácidos solúveis. As taxas de degradação
e/ou utilização da clorofila total, ácido ascórbico, açúcares solúveis
e amido durante a conservação das folhas inteiras e minimamente
processadas mantidas a 5 e/ou 10±1ºC foram semelhantes, com exceção para perda de massa fresca e aminoácidos solúveis. As folhas
minimamente processadas apresentaram perda de massa fresca quase
duas vezes superior às folhas inteiras com nove dias de conservação,
independentemente da temperatura. Um aumento transitório no teor
de aminoácidos solúveis no final da conservação também foi observado em folhas minimamente processadas. O aumento da temperatura de
conservação para 10ºC potencializou as alterações químicas tanto em
folhas inteiras e minimamente processadas, resultando em elevadas
taxas de degradação e/ou utilização de clorofilas, ácido ascórbico,
açúcares e amido, além de estimular o acúmulo de aminoácidos
solúveis. É necessária a contínua busca de embalagens alternativas
àquelas existentes para couve minimamente processada, associado
à conservação em baixas temperaturas, para simular as condições
de distribuição e comercialização e, assim, minimizar as alterações
físico-químicas que reduzem a qualidade do produto final.
(Recebido para publicação em 30 de janeiro de 2008; aceito em 21 de maio de 2009)
(Received on January 30, 2008; accepted on May 21, 2009)
T
he conservation of minimally
processed vegetables at low
temperatures associated with adequate
packaging, remains as one of the
technological solutions to mitigate or
delay the physicochemical, biochemical,
physiological, and microbiological decay
that takes place during storage (Rico et
al., 2007). In the past decade, research
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
on vegetable minimal processing is
achieving major technological and
scientific advances in Brazil (Puschmann
et al., 2008). However, minimally
processed vegetables continue to be
sold under unsatisfactory conditions,
such as temperatures around 10ºC
in supermarket shelves. Minimally
processed collard greens, when kept
in polypropylene bags, produce an
unpleasant smell in the first days
after opening the packaging (Teles,
2001). In addition, minimally processed
collard greens have both the respiration
and ethylene synthesis transiently
enhanced (Carnelossi et al., 2005), and
undergo also variations of chemical
nature, such as vitamin C and total
81
AN Simões et al.
chlorophyll losses (Carnelossi, 2000). It
is known that Cryovac® (PD 941) is the
most suitable packaging for minimally
processed collard greens (Carnelossi et
al., 2005). However, Cryovac® films
are relatively expensive, which makes
price of the final product even higher.
An alternative packaging for minimally
processed collard greens, cheaper than
Cryovac® films, but still appropriate,
are the microperforated polypropylene
bags, similar to the polypropylene with
oriented microperforations, which is in
use by European processing companies
in Spain, England, and Ireland for
leafy vegetables and mixed vegetable
salads (Varoquauz & Mazollier, 2002;
Al-Ati & Hotchkiss, 2002). However,
microperforated packaging has been
having little use in minimally processed
vegetables in Brazil.
Several studies were used as basis to
draw flowcharts of minimal processing,
as well as for the optimization of storage
conditions (Carnelossi, 2000; Teles,
2001). However, the continuous search
for alternative packaging is always
relevant due to the applicability to the
industry. Moreover, the assessment of
other variations in the physicochemical
properties that may occur immediately
after the minimal processing of collard
greens, as well as those that take
place in the medium and long term
during storage, at suitable and not
suitable temperatures, may bring to light
additional knowledge to study quality
in collard greens. It is expected that the
physicochemical changes that occur
soon after the minimal processing of
collard greens will not progress if the
product is stored at 5°C.
Therefore, the aim of this study was
to assess the physicochemical variations
that happen instantly after the minimal
processing of collard greens, as well as
along the storage period, and use them
as tools to evaluate the quality of the
final product.
MATERIAL AND METHODS
Plants of collard greens (Brassica
oleracea var. acephala) accession
BGH 1578, which correspond to the
Portuguese variety, were grown in the
82
experimental garden of the Universidade
Federal de Viçosa, Minas Gerais State,
Brazil (20 o45’14’’S, 42º52’53’’W).
Leaves were harvested when 35 cm long
and brought instantly to the laboratory.
Petioles were immersed in containers
filled with tap water for 24 hours, at
5±1ºC (Carnelossi, 2000). Following,
a number of leaves were minimally
processed, while the others remained
intact.
The minimal processing was
performed according to Carnelossi et
al. (2005), in approximately one hour, at
18±2ºC. Next, the minimally processed
leaves, as well as those that remained
intact, were packed in respectively
22 x 26 cm and 39 x 26 cm (length x
width) polypropylene bags. In both
cases, bags were 50 μm thick and had
648 holes (810 µm in diameter). In the
bags in which intact leaves were placed,
holes were located at the petiole ends.
Each package contained four leaves,
which corresponded to 100 and 200 g
of minimally processed and intact leaves
respectively.
Packages were sealed with the
commercial sealer Selamut, R. Baião,
and placed in a display with forced air
ventilation, protected from light, at 5
and 10±1ºC, 90±5% relative humidity,
up to 15 and 9 days, respectively for
each temperature. We evaluated the
leaves every other day until the sixth
day, and then in three-day intervals.
The following characteristics were
assessed: (a) Fresh mass: obtained
by gravimetry in a scale with 0.5
g precision. The loss of fresh mass
corresponded to the difference between
the fresh mass in each evaluation date
and in the beginning of the storage; (b)
Total chlorophyll content: determined
according to Lichtenthaler (1987). Leaf
discs of 200 mg for the intact leaves or
leaf slices for the minimally processed
product were mixed with 0.2 g of
calcium carbonate and acetone (80%).
The extract was centrifuged (Sorvall RT
6000-D) at 6000 rpm, for 10 minutes,
at 10ºC. Next, the supernatant volume
was adjusted to 25 mL with acetone
(80%). Samples were protected from
white light and the absorbance readings
were carried out at 646.8 and 663.2 nm;
(c) Vitamin C: determined according
to the American Official Analysis of
Chemistry (AOAC, 39,051), with the
adaptations proposed by Carnelossi
(2000); (d) Contents of soluble sugars,
starch, and soluble amino acids: assessed
by immersion of 1 g of leaf blade discs in
6 mL of ethanol 80%, at 80°C, followed
by grinding in a mortar with washed
sand. The extract was homogenized and
centrifuged at 2000 g, for 10 minutes.
The precipitate was resuspended three
times in 5 mL of ethanol 80%, at 80°C.
The supernatants were combined and the
volume was adjusted to 25 mL to make
the ethanol extract I. The ethanol extract
II was obtained by removing pigments
and lipids from a 10 mL aliquot from
the ethanol extract I, using a separating
funnel and adding 10 mL of chloroform
and 10 mL of distilled water. The
aqueous phase was evaporated at 45°C
in a rotary evaporator, under vacuum.
The residue was resuspended with 2 mL
of distilled water for the determination
of soluble sugars and amino acids.
The precipitate that resulted from the
centrifugation after the ethanol extraction
was used to evaluate the starch content
according to the methodology described
by McCready et al. (1950), adapted to
coffee leaves by Patel (1970).
The total soluble sugars and the
starch were quantified using the Antrona
method (Disch, 1962). For starch, the
results were multiplied by a factor
of 0.9. The content of soluble amino
acids was determined according to
Moore & Stein (1948), employing the
ethanol extract II. A 20 µL aliquot of
the ethanol extract II were added to the
reaction medium containing 1.5 mL of
ninhydrin and 180 µL of citrate buffer,
pH 5.0 (200 mM). The samples were
boiled for 20 minutes and, after cooling,
8 mL of 80% ethanol were added, under
stirring, to reach a final volume of 11.5
mL. After a 10-minute rest, the readings
were carried out in a spectrophotometer
(Model U-2000 Hitachi), at 570 nm.
A mix of 0.25 mM glycine, 0.25 mM
glutamic acid, 0.25 mM phenylalanine,
and 0.25 mM arginine, were used as
standard. Ninhydrin was prepared using
32 mg of SnCl22H2O, dissolved in 20
mL of 0.2 M citrate buffer, pH 5.0.
Following, 20 mL of ethylene glycol
monomethyl ether were added into 0.8 g
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Effect in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures
of the dissolved ninhydrin. After mixing,
the final volume was completed to 100
mL with distilled water.
We used a completely randomized
design for each storage temperature, in a
split plot scheme, where types of leaves
(intact and minimally processed) were
assigned to the plots, and evaluation
dates (0, 2, 4, 6, 9, 12, and 15 days after
the beginning of the storage), to the subplots, with three replications. Data were
submitted to the analysis of variance,
using the software SAEG 5, from the
Central Data Processing of UFV.
RESULTS AND DISCUSSION
Fresh mass loss in leaves increased
with the storage period (Figure 1).
However, the storage temperature did
not influence the loss progress, as also
observed by Shim et al. (2007). Higher
loss rates in fresh mass were observed
in minimally processed than in intact
leaves (Figure 1), probably due to the
increase in the evaporation surface
when leaves were chopped for the
minimal processing. In addition, tissues
are structurally modified when cut: the
cells that become exposed do not have
specialized components such as cutin,
like the epidermal cells, which remain
undamaged in intact leaves (Amarante,
1991). Thus, processed tissues are
subjected to severe dehydration during
storage (Simões et al., 2010).
Dehydration is a physical response
that leads to critical difficulties during
the storage of minimally processed
products, such as whitening in carrots
(Simões et al., 2010) and beets (Vitti et
al., 2004). This results in an oldish and
unattractive visual aspect. In the case
of minimally processed collard greens,
this symptom was not observed, unlike
the turgor loss, which was promptly
noticeable after opening the package.
Fresh mass loss was close to 10% after
nine days of storage, at both 5 and 10°C
(Figure 1). Intact leaves were clearly
wilted, even within the sealed packages
and especially after nine days of storage,
when the fresh mass loss was close to
4%, at both 5 and 10°C (Figure 1).
The perforations in the packaging
probably worsened the fresh mass
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Figure 1. Fresh mass loss on intact (●/■) and minimally processed leaves (Ο/□) of collard
greens, stored at 5 and 10oC (perda de massa fresca em folhas de couve inteiras (●/■) e
minimamente processadas (Ο/□), mantidas a 5 e 10ºC). Viçosa, UFV, 2007.
*
Vertical bars represent the means standard error, n= 3 (as barras verticais representam o
erro padrão da media, n= 3).
loss both in minimally processed and
in intact leaves. This occurs because
the pores reduce the resistance to
the diffusion of water vapor through
the film. So, to minimally processed
collard greens is very important to go
on studying alternative polypropylene
films, as well as searching for the ideal
number of perforations.
The initial content of total chlorophyll
was lower in minimally processed
leaves right after processing than in the
leaves that remained intact (p<0.05)
(Figure 2). The slicing, coupled with
immersion in water and rinsing during
sanitation, probably accounted for such
difference. In the first rinse, the residual
water became deeply pigmented after
83
AN Simões et al.
Figure 2. Contents of total chlorophyll, ascorbic acid, soluble sugars, and soluble amino
acids in intact (●/■) and minimally processed leaves of collard greens (Ο/□), stored at 5
and 10oC (clorofilas totais, ácido ascórbico, açúcares solúveis e aminoácidos solúveis em
folhas de couve inteiras (●/■) e minimamente processadas (Ο/□), mantidas a 5 e 10ºC).
Viçosa, UFV, 2007.
*
Vertical bars represent the means standard error, n= 3 (as barras verticais representam o
erro padrão da media, n= 3).
immersing the chopped leaves, while
the residual solution from the sanitation
and final rinse was only faintly stained
(data not shown). The variations in the
total chlorophyll content of non-injured
tissues that were adjacent to the cut and
the pigmentation observed in the residual
water as consequence of the processing
84
resulted from the leakage of the contents
of cells injured by the processing, as also
observed in carrots (Smith, 2003), beets
(Vitti et al., 2004), and other vegetables
with high pigmentation levels. However,
we believe that in collard greens, the
high initial pigment loss did not affect
tissue color or quality. Probably the
instantaneous loss of the cellular content
occurred only in cells that were cut
or injured during chopping. Tissues
adjacent to the cut, proportionally in
much larger amount than injured tissues,
kept their initial characteristics.
Minimally processed and intact
leaves had similar losses of total
chlorophyll during storage, close to 38
and 29% when kept at 10 and 5°C, for six
and nine days, respectively (Figure 2).
This behavior could be followed by the
naked eye by observing leaf yellowing.
Moreover, minimally processed leaves
showed signs of browning, especially in
areas closer to the cut, as also reported
in minimally processed lettuce (Ke
& Saltveit, 1989). In our study, the
rate of chlorophyll degradation in
minimally processed and intact leaves
was speeded up in 10°C, very likely
because of the higher enzyme activity
at this temperature, particularly enzymes
that degrade chlorophyll (Matile et al.,
1996) and those involved in senescence
(Maragoni & Heaton, 1996). Tulio et
al. (2002) observed the same in stored
jute leaves. These results strengthen
the usual recommendation: the use
of low temperatures during storage
reduces the losses caused by minimal
processing (Rico et al., 2007, Simões et
al., 2007). We could conclude also that
the minimal processing led to significant
chlorophyll leakage. However, during
storage, minimally processed and intact
leaves had similar rates of chlorophyll
degradation and/or use.
There were no ascorbic acid
significant losses (p<0.05) in minimally
processed leaves when compared to
intact leaves (Figure 2). We believe
that, depending on the tissue and also
on the handling during processing, it is
possible to preserve the initial ascorbic
acid levels. Drops in the ascorbic acid
contents as consequence of minimal
processing indeed occur, as observed in
cabbage (Simões et al., 2007). Contrary
to what was observed in the beginning
of the experiment, there was a marked
decrease in ascorbic acid contents during
storage, both in minimally processed
and intact leaves, at both temperatures
(Figure 2). Nevertheless, it should be
highlighted that the rate of loss was
much lower at 5°C, independently of
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Effect`in the quality of intact and minimally processed leaves of collard greens stored at different temperatures
processing or keeping leaves intact
(Figure 2). Therefore, the influence
of temperature over the ascorbic acid
content was more pronounced than that
caused by the minimal processing.
A recent study associated ascorbic
acid with protection against enzymatic
browning in rocket leaves (Del’Innocent
et al., 2007). The same might happen in
collard greens, due to its high ascorbic
acid content (Figure 2). In our work, we
observed a strengthening of the enzymatic
browning only when the ascorbic acid
and the chlorophyll contents dropped
(Figure 2), and leaves started showing
chlorosis (Simões, 2004). The ascorbic
acid role in o-quinone reduction and in
the inhibition of the catalytic action of
polyphenol oxidase is known (Walker,
1977; Saper, 1993). However, studies
that show the possible involvement of
the ascorbic acid on the tolerance to
darkening in chopped vegetal tissues
are still lacking. The current results
indicated that the storage temperature
influenced the ascorbic acid content, a
nutritional and functional attribute of
quality (Reyes et al., 2007). On contrary,
minimal processing did not affect the
ascorbic acid content, since the losses
were similar in minimal processed and
intact leaves.
There was a significant decrease
(p<0.05) on soluble sugars (Figure 2)
and starch (data not shown) contents
in minimally processed in relation to
intact leaves. Moreover, we noticed
that storage enhanced the degradation
and/or use of sugars in both minimally
processed and intact leaves (Figure
2). Probably, the perforations in the
bags allow the diffusion of high O2
levels inside the package, resulting
in an intense respiration and, thus,
inducing the use of substrates such as
sugars. On the other hand, minimum
processing did not significantly speed
up the rate of degradation and/or use of
these substrates in relation to what was
observed in intact leaves.
The contents of soluble amino acids
increased during storage (Figure 2),
particularly in the minimally processed
leaves kept at 10oC, reaching the peak
after six days of storage. Minimally
processed leaves stored at 5oC showed
the highest contents of soluble amino
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
acids only after twelve days (Figure 2).
Therefore, the contents of amino acids
were significantly influenced by the
storage temperature and processing,
resulting in the differential accumulation
of soluble amino acids observed in the
leaves. The increase in the amino acids
content can be attributed to protein
degradation in association with the
beginning of leaf senescence (Backer
1987; Tulio et al., 2002). At this point,
the rate of protein degradation and/or
use is higher than the rate of synthesis.
In addition, it is likely that proteases
were much more active in minimally
processed than in intact leaves (Martin,
1972a, b; Kays, 1991b).
In general, we found that the
immediate chemical changes in the leaves
induced by the minimal processing, such
as loss of total chlorophyll, total soluble
sugars, starch, and soluble amino acids,
did not hinder the quality of the final
product in collard greens. Throughout
storage, the rate of degradation and/
or use of these nutrients was similar in
minimally processed and intact leaves,
expect for fresh mass loss and soluble
amino acids. These results indicate that,
although the minimal processing causes
an immediate loss of some nutrients, the
storage at low temperatures is crucial to
mitigate the chemical variations that take
place at mid term, and consequently, to
keep the quality of minimally processed
collard greens.
Finally, we believe that the perforated
packaging may have stimulated the
physicochemical variations we observed,
resulting in dehydration, yellowing, and
enzymatic browning, probably due to
the high polyphenol oxidase activity
(Simões et al., 2007). Hence, we must go
on searching for alternative packaging
for minimally processed collard greens
to replace those currently available for
the market. Additionally, the use of
suitable packaging should be associated
to storage at low temperatures. This
is the most promising approach to
succeed in keeping the physicochemical
variations involved in quality loss of
minimally processed products at low
levels.
ACKNOWLEDGEMENTS
We would like to thank the
Foundation for Research Support of
the State of Minas Gerais (FAPEMIG),
Coordination of Improvement of Higher
Educational Personnel (CAPES) and
The National Council for Scientific and
Technological Development (CNPq) for
partially financing this work.
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Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais
de cultivares de alface
Adalberto Santi¹; Marco AC Carvalho²; Ostenildo R Campos²; Amilton F da Silva³; Jefferson L de
Almeida³; Stéfan Monteiro³
UNEMAT-Campus Tangará da Serra-MT; ²UNEMAT-Campus Alta Floresta-MT; ³Acadêmico, curso de Agronomia, UNEMAT-Campus
Alta Floresta; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Cultivares de alface foram avaliadas utilizando adubo orgânico
contendo serragem, em cultivo protegido em Alta Floresta-MT. O
delineamento experimental foi blocos casualizados em esquema
fatorial com 12 tratamentos e quatro repetições, constituídos pela
combinação de seis cultivares (americana: Lucy Brown e Great
Lakes; crespa: Isabela e Vera; lisa: Elisa e Babá de Verão) e duas
fontes de material orgânico [esterco bovino puro (100%) e composto
com pó-de-serra (50% de esterco bovino + 50% de pó-de-serra) na
razão de 10 L m-2]. A presença de pó-de-serra no composto orgânico,
proporcionou redução na massa fresca comercial, no comprimento do
caule, na circunferência da planta, no número de folhas comerciais
e no número de folhas totais, quando comparado com o tratamento
contendo apenas esterco bovino curtido. Nas cultivares lisas, apesar
do maior número de folhas totais e comerciais, o fato não se refletiu
em maior massa comercial. A cultivar Lucy Brown conteve a maior
massa fresca comercial.
Effect of organic material on the production and characteristics
of lettuce cultivars
Palavras-chave: Lactuca sativa L., serragem, ambiente protegido,
adubo orgânico, competição.
Keywords: Lactuca sativa L., saw dust, greenhouse, manure, competition.
Lettuce cultivars cultivated under greenhouse were evaluated with
the application of cattle manure mixed to sawdust in Alta Floresta,
Mato Grosso State, Brazil. The experimental design was randomized
blocks in a factorial scheme with 12 treatments and four replications.
The treatments consisted of combinations of six cultivars (Lucy
Brown, Great Lakes, Isabela, Vera, Elisa and Babá de Verão) and two
sources of organic material - cattle manure (100%) and cattle manure
mixed to sawdust (50% manure + 50% sawdust composte) - applied
at the level of 10 L m-2. Plots measured 1.2 x 1.2 m with 16 plants
spaced by 0.3 m over the useful area. Samples were constituted by
the four central plants in each plot. Application of bovine manure
mixed to sawdust reduced fresh mass, stem length, plant diameter,
commercial leaf number and total leaf number when compared to the
application of pure manure. Although the cultivars Elisa and Babá
de Verão presented higher total and commercial leaf number, it did
not reflect in higher commercial mass. The cultivar Lucy Brown
presented the highest commercial fresh mass.
(Recebido para publicação em 17 de outubro de 2008; aceito em 24 de fevereiro de 2010)
(Received on October 17, 2008; accepted on February 24, 2010)
A
alface (Lactuca sativa L.), devido
a sua importância alimentar como
fonte de vitaminas e sais minerais,
destaca-se entre outras hortaliças folhosas mais consumidas em todo mundo.
A modernização dos segmentos locais
de comercialização, evoluindo sempre
em função de um consumo crescente
e versátil, exige qualidade e, principalmente, regularidade do produto. Isso
tem refletido diretamente nas áreas de
produção que, para atender a esta nova e
importante demanda do mercado, têm se
modernizado com conseqüente aprimoramento técnico da mão-de-obra.
O desenvolvimento da alface é
bastante influenciado pelas condições
ambientais. Temperaturas acima de 20ºC
estimulam o seu pendoamento, que é
acelerado à medida que a temperatura
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
aumenta. Dias longos associados a
temperaturas elevadas, aceleram ainda
mais o pendoamento, mas há variação
de comportamento entre cultivares
(Viggiano, 1990). O processo produtivo
brasileiro passa por uma fase em que a
produtividade, a eficiência, a lucratividade e a sustentabilidade são aspectos
que precisam ser considerados. Nesse
contexto, a obtenção de cultivares adaptadas às condições climáticas regionais,
torna-se preponderante.
Por serem fontes de nutrientes e
por beneficiarem propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo, os adubos
orgânicos são amplamente recomendados para as hortaliças (Kiehl, 1985;
Sonnenberg, 1985; Comissão, 1999),
em decorrência da maior disponibilidade de nutrientes, do aumento do pH,
do aumento da atividade de macro e
microorganismos, bem como pelos
efeitos indiretos da melhoria de propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo (Mazur et al., 1983; Kiehl, 1985;
Siqueira, 1988). Entretanto, o valor
fertilizante do composto depende do
material utilizado como matéria-prima
(Miyasaka et al., 1997).
A atuação conjunta desse e de inúmeros outros efeitos resulta, em muitos
casos, em produtividades de alface que
podem superar as obtidas com adubos
minerais (Hartrath, 1986).
A grande maioria dos trabalhos disponíveis refere-se ao uso de estercos,
resíduos líquidos e restos vegetais, reportando seus efeitos como melhoradores do solo e fornecedores de nutrientes.
Embora parte dessa informação possa
87
A Santi et al.
ser extrapolada e assumida como válida
no que diz respeito ao uso de compostos,
estes têm uma dinâmica no solo bastante
diversa dos materiais em estado natural,
por ser uma matéria orgânica decomposta e estabilizada (Kiehl, 1985).
Com relação à alface, tem-se observado que os produtores utilizam geralmente um sistema de produção, com uso
excessivo de fertilizantes minerais. Uma
das alternativas para contornar este tipo
de problema seria o uso de compostos
orgânicos. Tendo em vista a região norte
mato-grossense ser grande pólo madeireiro e pecuário, verifica-se uma fácil
disponibilidade de matérias-primas para
a confecção de compostos orgânicos de
qualidade, tais como serragem, esterco
de curral e capineiras. As altas produtividades obtidas com uso intensivo de
adubos minerais têm sido questionadas
nos últimos anos, devido aos aspectos
relacionados à sustentabilidade do sistema de produção (Santos et al., 1994).
Pelo exposto e pelo alto custo de fertilizantes minerais, cultiva-se hortaliças
com adubos orgânicos de várias origens,
visando melhorar as propriedades físicas
e químicas do solo (Costa, 1994).
Neste sentido o adubo orgânico
adicionado ao solo tem efeito imediato e
ainda residual por meio de um processo
mais lento de decomposição e liberação
de nutrientes (Vidigal et al., 1997). O
presente trabalho teve como objetivo
avaliar características produtivas de seis
cultivares de alface, utilizando adubo
orgânico contendo serragem, cultivadas
em ambiente protegido no município de
Alta Floresta-MT.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
ambiente protegido, na Universidade do
Estado de Mato Grosso, no município
de Alta Floresta-MT, tendo como coordenadas geográficas 09º53’02” latitude
sul, 56º14’38” longitude oeste Gr. e,
altitude de 290 m.
O solo é classificado como Latossolo
Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd)
típico argiloso, A moderado, hipodistrófico, caulinítico, compactado, muito
profundo, moderadamente ácido. A
temperatura média anual é de 24°C.
88
A área de pesquisa foi constituída
por uma estrutura de proteção, modelo
túnel alto, com 21,0 m de comprimento;
5,20 m de largura, contendo 2,30 m de
pé-direito e coberta com película de
polietileno transparente de baixa densidade aditivada anti UV de 100 micras
de espessura.
O delineamento experimental foi
blocos casualizados em esquema fatorial
6 x 2 com tratamentos resultantes da
combinação de seis cultivares (americana: Lucy Brown e Great Lakes; crespa:
Isabela e Vera; lisa: Elisa e Babá de Verão) e duas fontes de matéria orgânica,
esterco bovino e combinação de esterco
com pó-de-serra (50% de esterco bovino
+ 50% de pó-de-serra) na razão de 10
L m-2, e quatro repetições. A adubação
química básica constituiu-se de 150 kg
de N, 400 kg de P2O5 e 90 kg de K2O,
sendo que o N e o K foram utilizados
de forma parcelada, segundo Fontes
(1999).
As mudas foram preparadas em bandejas de poliestireno (isopor) contendo
144 células, preenchidas com substrato
comercial e postas em um ambiente
de produção de mudas. O transplante
das mudas para a área experimental foi
realizado quando as mesmas atingiram
quatro folhas definitivas.
As parcelas foram de 1,2 x 1,2 m
com 16 plantas em espaçamento de
0,3 x 0,3 m, sendo que na área útil
analisaram-se as quatro plantas centrais
de cada parcela.
Foram avaliadas as variáveis: massa
fresca total (as plantas foram cortadas
rente ao solo e medidas suas massas em
balança analítica, através da pesagem do
número total de folhas de cada planta
analisada), massa fresca comercial
(referente à estimativa da massa, sem a
presença das folhas com danos que prejudicam visualmente a comercialização
da planta), circunferência da planta (obtida após retirada das folhas externas não
comerciais, medindo-se através de régua
o diâmetro da circunferência de uma
extremidade a outra da planta), comprimento e diâmetro do caule (expressos após a retirada de todas as folhas,
medindo-se o comprimento do caule e
seu diâmetro através de paquímetro) e
contagem do número total e comercial
de folhas (expresso pelo número total
de folhas e número de folhas sem danos
visuais respectivamente).
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância, sendo as médias
comparadas pelo teste Tukey, em 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve interação significativa entre
as fontes de variação adubos orgânicos
(AO) e cultivares (C) de alface, apenas
para a massa fresca total e diâmetro do
caule, o que indica que em presença do
adubo orgânico, isoladamente, ou com
a adição de serragem, as cultivares não
revelaram variação quanto às demais
características agronômicas avaliadas.
No entanto, o tratamento adubo orgânico
expressou efeitos significativos para as
Tabela 1. Desdobramento da interação significativa entre adubo orgânico e cultivares de
alface para massa fresca total (g/planta) (parametrization of the significant interaction
between organic fertilization and lettuce cultivars for total fresh mass). Alta Floresta,
UNEMAT, 2006.
Cultivar
Lucy Brown
Great Lakes
Elisa
Babá de Verão
Isabela
Vera
Esterco
400,12 A a
210,44 A b
157,05 A b
174,29 A b
221,62 A b
242,82 A b
Adubo orgânico
Esterco + serragem
322,25 B a
194,47 A bc
119,47 A c
116,61 A c
231,22 A b
218,73 A b
Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas nas linhas e minúscula na coluna não diferem
entre si, teste Tukey, p<0,05 (means followed by the same capital letter in the rows and small
letter in the columns did not differ from each other by Tukey’s test (p<0,05)).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Ação de material orgânico sobre a produção e características comerciais de cultivares de alface
Tabela 2. Desdobramento da interação significativa entre adubo orgânico e cultivares de alface
para diâmetro do caule (mm) (parametrization of the significant interaction between organic
fertilization and lettuce cultivars for stem diameter). Alta Floresta, UNEMAT, 2006.
Adubo orgânico
Esterco
Esterco + serragem
22,98 A b
22,23 A a
16,95 A b
18,58 A a
21,85 A b
18,27 A a
33,18 A a
20,64 B a
18,25 A b
20,18 A a
19,10 A b
18,55 A a
Cultivar
Lucy Brown
Great Lakes
Elisa
Babá de Verão
Isabela
Vera
Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas nas linhas e minúscula na coluna não diferem
entre si, teste Tukey, p<0,05 (means followed by the same capital letter in the rows and small
letter in the columns did not differ from each other by Tukey’s test (p<0,05).
características avaliadas, exceto para
diâmetro do caule.
O desdobramento da interação cultivares versus adubo orgânico (Tabela
1) para a variável massa fresca total,
quando se analisa cultivares em relação
ao adubo orgânico, revelou superioridade da cultivar Lucy Brown para o
tratamento em que se utilizou apenas
esterco ou esterco com serragem. Para
esta sendo fato ainda que apenas o uso
de esterco foi superior ao composto
esterco + serragem.
Analisando a variável diâmetro do
caule no desdobramento de cultivares
dentro de adubo orgânico (Tabela 2),
verificam-se semelhanças tanto para o
tratamento em que se utilizou do esterco
+ serragem quanto para o tratamento que
conteve apenas o esterco, exceto para a
cultivar Babá de Verão, que demonstrou
superioridade para com as demais cultivares. Avaliando o adubo orgânico, para
cada cultivar, verifica-se que não houve
diferença estatística entre os adubos nas
diferentes cultivares, exceto para Babá
de Verão, em que no cultivo apenas com
esterco foi comparativamente superior
em relação à adição de serragem.
Comparando-se a aplicação das duas
fontes de matéria orgânica, ou seja,
esterco e esterco+serragem em plantas
de alface, nota-se que as avaliações
de massa fresca comercial (177,69 g/
planta), comprimento do caule (50,83
mm), circunferência da planta (25,45
cm), número de folhas totais (23,58)
e número de folhas comerciais (20,26)
dos tratamentos com esterco+serragem,
revelaram redução nas características
avaliadas nos tratamentos com apenas
a aplicação de esterco, sendo a massa
Tabela 3. Características1 avaliadas em plantas de alface em função de cultivares (lettuce
characteristics1 evaluated in function of cultivars). Alta Floresta, UNEMAT, 2006.
Cultivar
MFC
(g planta-1)
CC
(mm)
CP (cm)
NFT
NFC
Lucy Brown
Great Lakes
Elisa
Babá de Verão
Isabela
Vera
315,27 a
183,61 bc
123,86 d
127,04 cd
200,31 b
200,34 b
58,02 abc
40,19 c
51,79 bc
53,24 bc
67,55 ab
72,72 a
31,86 a
28,56 ab
21,44 d
22,93 cd
26,97 b
26,80 bc
22,15 b
15,59 c
34,96 a
31,01 a
20,77 b
23,32 b
19,44 c
13,59 d
30,75 a
26,51 b
17,67 c
19,92 c
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, teste de Tukey, p<0,05
(means followed by the same letter in the column did not differ from each other by Tukey’s
test, p<0,05). 1MFC: massa fresca comercial; CC= comprimento do caule; CP= circunferência da planta; NFT= número de folhas totais; NFC= número de folhas comerciais. (MFC=
commercial fresh mass; CC= stem length; CP= plant circumference; NFT= total number of
leaves; NFC= commercial number of leaves).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
fresca comercial (205,78 g/planta),
comprimento do caule (63,68 mm),
circunferência da planta (27,41 cm), número de folhas totais (25,69) e número
de folhas comerciais (22,37).
As relações C/N entre os adubos
orgânicos são diferentes principalmente se considerarmos esterco e
esterco+serragem de madeira. Para este
último com maior relação C/N, a liberação de nutrientes é mais lenta para as
plantas de alface. Esta inferência pode
ser reforçada pelo fato de que alguns
compostos possuem estruturas de difícil
decomposição pela população microbiana do solo, tais como a celulose e a lignina, presentes na serragem de madeira
(Villas Boas et al., 2004). Além disso, a
decomposição de materiais provenientes
de madeira, resulta em liberação para o
meio de resinas, terpenóides e substâncias fenólicas, dentre outros compostos,
que podem causar injúrias nas plantas
(Kiehl, 1985).
Baseado nos dados contidos n�����
a Tabela 3, a cultivar Lucy Brown revelou
os maiores valores para massa fresca
comercial e circunferência da planta
sendo que a Great Lakes foi similar à
cultivar Lucy Brown quanto à circunferência da planta. Já para comprimento
do caule, as cultivares Vera, Isabela e
Lucy Brown expressaram os maiores valores. A cultivar Elisa revelou os maiores
valores, para o número de folhas totais e
comerciais, bem como a Babá de Verão
expressou semelhança quanto ao número de folhas totais à cultivar Elisa.
Os resultados ratificam que o uso de
esterco bovino isoladamente produziu
melhores resultados para as características avaliadas, com exceção da massa
fresca total e diâmetro de caule, em que
houve semelhança em relação ao composto de esterco + serragem. A cultivar
Lucy Brown destacou-se comparativamente às demais.
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Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com
fibra de coco
Flávia dos S Alves1; Janie M Jasmim1; Almy JC de Carvalho1; José Tarcísio L Thiébaut2
UENF-CCTA-LFIT Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-602, Campos dos Goytacazes-RJ; 2UENF-LEAG; [email protected];
[email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
As avaliações foram realizadas em quatro substratos compostos
de mistura de fibra de coco triturada (FC) e substrato comercial Plantmax HT® (SC), nas proporções de 0, 25, 50 e 75% de FC, em vasos
com capacidade para 35 L, em delineamento de blocos ao acaso, com
quatro repetições e três vasos por parcela, com uma planta por vaso.
A adubação das plantas foi feita alternando-se, a cada três meses, 25
g de 4-14-8 com 10 g de uréia por vaso, a partir do plantio e durante
os 24 meses do período experimental. O crescimento foi avaliado
medindo-se a altura da haste inicial (da base do caule à inserção da
última folha completamente expandida), número de folhas da haste
inicial, número de perfilhos, número de folhas dos perfilhos, altura
dos perfilhos e teores de nutrientes da última folha completamente
expandida da haste inicial. A qualidade foi avaliada através de análise
sensorial visual, baseado nos critérios “gostei” (muito ou pouco) e
“compraria” (sim ou não). Não houve diferença entre os tratamentos sobre as características de crescimento, exceto para o número
de folhas da haste inicial. As plantas com melhor aceitação foram
aquelas cultivadas na mistura com 50% FC e 50% SC. Nenhuma
das plantas apresentou sintoma visual de deficiência de nutrientes,
sendo os teores foliares encontrados em plantas sadias com padrão
de qualidade para comercialização de: 17,80 - 18,29 g kg-1 de N; 0,66
- 0,81 g kg-1 de NO-3; 2,02 - 2,34 g kg-1 de P; 18,11 - 20,40 g kg-1 de
K; 11,63 - 13,84 g kg-1 de Cl; 2,69 - 4,04 g kg-1 de Ca; 1,61 - 2,07 g
kg-1 de S; 1,98 - 2,64 g kg-1 de Mg.
Quality and nutrient content of lady palm in coconut fiber
substrate
Palavras-chave: Rhapis excelsa, casca de coco, adubos.
Keywords: Rhapis excelsa, coconut husk, fertilizers.
It was evaluated the quality and nutrient content of lady palm
in four substrates made up of a mixture of shredded coconut fiber
(FC) and commercial substrate Plantmax HT® (SC), in proportions
of 0, 25, 50 and 75% of FC, in 35 liters containers, in a randomized
block experiment with four replicates and three pots per plot, with
one plant per pot. The plants were fertilized every three months
alternating 25 g of 4-14-8 with 10 g of urea per pot, at planting and
throughout the 24 months of the experimental period. Growth was
evaluated by measuring the height of the initial stem (from the stem
base to leaf insertion of the most recently expanded leaf), number of
leaves in the original stem, number of offsets, number of leaves in
offsets, offset height and nutrient content of last completely expanded
leaf in the initial stem. The quality was evaluated by visual sensorial
analysis using the criteria “I liked it” (a lot or a little) and “ I would
buy it” (yes or no). There was no significant difference on the growth
characteristics among treatments, except on the number of leaves of
the initial stem. Plants with the best acceptance were those grown in
the mixture 50% FC and 50 % SC. None of the plants showed visual
nutrient deficiency symptoms; the leaf nutrient content of healthy
plants with market quality standards were: 17.80 - 18.29 g kg-1 of N;
0.66 - 0.81 g kg-1 of NO-3 ; 2.02 - 2.34 g kg-1 of P; 18.11 - 20.40 g kg-1
of K; 11.63 - 13.84 g kg-1 of Cl; 2.69 - 4.04 g kg-1 of Ca; 1.61 - 2.07
g kg-1 of S; 1.98 - 2.64 g kg-1 of Mg.
(Recebido para publicação em 20 de fevereiro de 2009; aceito em 10 de dezembro de 2009)
(Received on February 20, 2009; accepted on December 10, 2009)
A
produção de palmeiras para uso
comercial, visando o paisagismo
(exterior e interior) tem-se desenvolvido
muito, tornando-se um importante segmento da horticultura ornamental.
Uma das espécies de palmeira muito
utilizada no paisagismo é a palmeirarápis [Rhapis excelsa (Thunberg) Henry
ex. Rehder], que é muito cultivada no
Brasil em vasos, parques e jardins, em
locais sombreados ou de meia-sombra,
e é de fácil desenvolvimento (Lorenzi
& Souza, 2001).
No estado do Rio de Janeiro, a floricultura é uma atividade que vem se
desenvolvendo de maneira expressiva
em diversos municípios, destacandoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
se aqueles das regiões metropolitanas,
Costa Verde, e baixadas litorâneas
(EMATER-RIO, 2004). Segundo o relatório Projeto Floricultura Fluminense
(SEBRAE-FIRJAN-AGRAR, 2003), o
cultivo de palmeiras em recipientes, por
apresentar boa viabilidade econômica e
facilidade de manejo, é uma modalidade
com grande potencialidade nos mercados externo e interno.
Dentre os aspectos importantes para
o cultivo de plantas em recipientes, destaca-se o substrato. O substrato exerce
influência significativa na arquitetura do
sistema radicular, no estado nutricional
das plantas, bem como no movimento da
água no sistema solo-planta-atmosfera.
O cultivo em recipientes, limitando o
espaço de crescimento das raízes, requer
que o substrato apresente algumas características como boa retenção de umidade, facilidade de rehidratação, porosidade suficiente para permitir as trocas
gasosas, suporte ou ancoragem para a
planta, alta capacidade de adsorção, boa
capacidade de tamponamento, ausência
de pragas e patógenos, e alguma reserva
de nutrientes (Kämpf, 2000; Hartmann
& Kester, 1975; Röber, 1999).
Um bom substrato para produção de
palmeiras em recipientes deve ser bem
drenado, bem aerado, e de lenta decomposição, posto que algumas palmeiras
permanecem no mesmo recipiente por
91
FS Alves et al.
MATERIAL E MÉTODOS
Mudas de palmeira-rápis (Rhapis
excelsa), com aproximadamente oito
meses e sete cm de altura, oriundas de
sementes, foram cultivadas de maio
de 2002 a maio de 2004, em casa de
vegetação com cobertura de plástico
leitoso 100µ e sombrite® 30%, e aberturas laterais com sombrite® de 70%, na
UENF, em Campos dos Goytacazes-RJ.
As plantas foram cultivadas em vasos
plásticos pretos, com capacidade para 35
L, contendo uma das misturas de fibra
de coco (0, 25, 50 e 75%) e substrato
comercial Plantmax HT®, em um experimento com os seguintes tratamentos:
T1= 0% FC; T2= 25% FC; T3= 50% FC;
T4= 75% FC, no delineamento de blocos
ao acaso, com quatro repetições e três
plantas por parcela, sendo uma planta
por vaso, totalizando 48 plantas.
O mesocarpo foi preparado conforme descrito por Jasmim et al. (2006).
Todas as plantas receberam a mesma
adubação, iniciada aos três meses após
o plantio, com a formulação de 25 g de
4-14-8 por vaso, intercalados com 10
g de uréia por vaso, em intervalos de
aproximadamente três meses.
As plantas foram avaliadas quanto
ao número de folhas da haste inicial,
determinado por contagem; alturas da
haste inicial e dos perfilhos (da base
do caule à inserção da última folha
completamente expandida), medidas
por meio de uma trena portátil; número
de perfilhos e número de folhas por
perfilho, por contagem. Foram feitas 20
medições durante o período experimental de 24 meses.
A matéria seca e os teores de nu92
trientes foram determinados em cinco
épocas, a saber, 6, 10, 16, 20 e 25 meses
após o plantio, retirando-se uma folha
recém-expandida da haste inicial de
cada vaso, juntando-se as três plantas da
parcela, por tratamento em cada bloco.
Para determinação de nutrientes,
cada última folha completamente expandida da haste inicial era limpa com algodão umedecido com água desionizada,
para retirada de impurezas, e colocada
para secar dentro de saco de papel em
estufa com ventilação forçada a 70ºC
por um período de 72 horas, e triturada
em moinho Wiley, com peneira de 20
mesh. Em seguida, o material vegetal
foi submetido às digestões sulfúrica
e nitro-perclórica, separadamente,
conforme descrito por Malavolta et al.
(1997). Os extratos foram utilizados
para a determinação dos teores de (N,
P, K, Ca, Mg e S).
O nitrogênio orgânico foi determinado pelo método de Nessler (Jackson,
1965), após a digestão sulfúrica dos
materiais; o fósforo pela redução do
complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C (Braga & Defelipo, 1974);
para nitrogênico nítrico, utilizou-se a
metodologia descrita por Cataldo et al.
(1975). O cloro foi determinado por
titulometria (Malavolta et al., 1997).
Os teores de potássio, cálcio e magnésio
foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica e o enxofre
por turbidimetria do sulfato de bário
(Malavolta et al., 1997).
O experimento foi implantado
segundo delineamento em blocos
casualizados com quatro repetições,
onde os tratamentos foram todas as
combinações entre épocas e teor de FC,
a 5% de probabilidade. Para comparar
os teores de FC, utilizou-se a análise de
regressão até segundo grau em função
de época, também utilizando a 5% de
probabilidade.
A análise de qualidade das mudas
de palmeira-rápis foi realizada através
do preenchimento por 10 avaliadores de
formulários individuais para cada planta, combinando os percentuais de FC e
a aceitação para compra pelos critérios
“gostei” (muito ou pouco) e “compraria” (sim ou não); os resultados foram
analisados em intervalo de confiança a
5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas cultivadas nos diferentes
substratos não diferiram significativamente entre si em altura da haste
inicial, nem em número de perfilhos,
altura de perfilhos e número de folhas
dos perfilhos, mas diferiram em número
de folhas da haste inicial. A análise de
regressão mostrou um efeito quadrático
significativo do aumento do percentual
de fibra sobre o número de folhas que
17
Número de folhas da haste inicial
um longo período, com espaço ocupado
pelo ar de 10 a 15% e com capacidade
de retenção de água de 30 a 40% v/v
(Broschat & Meerow, 2000). Meerow
(1994 e 1995) indica o potencial de utilização da fibra de coco como substituto
da turfa nas misturas para o cultivo de
palmeiras.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade e teor de nutrientes de
palmeira-rápis (Rhapis excelsa) em
substrato com fibra de coco em mistura
com substrato comercial.
16
15
14
*y = -0,0009x 2 + 0,0474x + 15,594
*R2 = 0,86
13
0
25
50
75
Percentual de fibra de coco
Figura 1. Número de folhas de Rhapis excelsa ao longo do período experimental de 24 meses
de cultivo em função do percentual de fibra de coco (FC) no substrato. *p≥0,05 (number of
leaves of Rhapis excelsa along an experimental period of 24 months of growth as a function
of the percentage of coconut fiber (FC) in the substrate. *p≥0.05). Campos dos Goytacazes,
UENF, 2005.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco
a)
b)
Haste inicial (cm)
Número de folhas da
haste inicial
25
20
15
10
*y =- 0, 0147x2 +0, 8841x +7, 0914
5
*R2 =0, 98
35
30
25
20
15
10
5
0
0
0
5
10
15
20
2
*y =-0,0262x +1,7691x +4,8253
2
*R =0,99
25
0
5
25
8
N. folhas de perfilhos
Número de perfilhos
20
d)
12
10
8
6
4
2
*y =-0,0092x +0,7164x - 1,8507
2
*R =0,97
2
0
15
Meses de cultivo
Meses de cultivo
c)
10
0
5
10
15
20
7
6
5
4
3
2
1
0
25
2
*y =-0,01x +0,6127x - 1,3777
2
*R =0,97
0
5
10
Meses de cultivo
e)
15
20
25
Meses de cultivo
20
18
Perfilhos (cm)
16
14
12
10
8
6
4
2
*y =-0,0034x +0,9904x - 2,3065
2
*R =0,99
2
0
0
5
10
15
20
25
Meses de cultivo
Figura 2. Características de crescimento de Rhapis excelsa em função do tempo de cultivo em meses após o plantio: a) número de folhas da
haste inicial; b) altura da haste inicial (cm); c) número de perfilhos; d) número de folhas nos perfilhos; e) altura de perfilhos (cm). *p≥0,05
(growth characteristics of Rhapis excelsa as a function of growth period in months after planting: a) number of leaves of the initial stem;
b) height of initial stem (cm); c) number of offshoots; d) number of leaves of offshoots; e) height of offshoots (cm). *p≥0.05). Campos dos
Goytacazes, UENF, 2005.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
93
FS Alves et al.
Tabela 1. Teores de nutrientes (g kg-1) na matéria seca das folhas de Rhapis excelsa ao longo
do período experimental de 24 meses de cultivo (leaf dry matter nutrient contents of Rhapis
excelsa along an experimental period of 24 months of growth). Campos dos Goytacazes,
UENF, 2005.
Nutrientes
N
NO3
P
K
Cl
Ca
S
Mg
0% FC
18,29
0,81
2,16
19,96
13,84
3,97
1,80
2,22
Tratamentos
25% FC
50% FC
17,80
17,93
0,80
0,66
2,04
2,02
20,40
18,74
11,89
11,63
2,75
2,69
1,61
1,77
1,98
2,08
75% FC
18,29
0,72
2,34
18,11
13,74
4,04
2,07
2,64
FC= fibra de coco (coconut fiber)
apresentou ponto de máximo estimado
de 16 folhas nas plantas cultivadas em
substrato com 26% de fibra (Figura 1).
Os resultados do número de folhas da
haste inicial das plantas aos 24 meses
de cultivo diferem daqueles observados
por Jasmim & Alves (2003) que não
encontraram diferenças no número de
folhas da haste inicial das plantas dos
diferentes tratamentos aos seis meses
de cultivo.
Todas as características de crescimento avaliadas variaram significativamente em função do número de meses
decorridos no período experimental,
independentemente do substrato utilizado (Figura 2a, b, c, d, e) e não foram
observadas interações entre substratos e
épocas de avaliação.
Os valores das médias de altura
da haste inicial, observados aos seis
meses de cultivo são próximos àqueles
encontrados por Luz et al. (2006) para
o mesmo período de cultivo (médias de
12,60 a 15,40 cm), estudando o efeito
de diferentes alturas de recipientes no
cultivo de palmeira-rápis. Entretanto,
os valores máximos de altura da haste
inicial, observados no presente trabalho,
não são tão elevados, em termos absolutos, quanto os encontrados por aqueles
autores (31,85 a 38,65 cm) aos 18 meses
de cultivo. Porém, no trabalho de Luz et
al. (2006), as plantas não apresentaram
perfilhamento, enquanto no presente as
hastes principais perfilharam e houve
crescimento destes perfilhos em número,
altura e número de folhas, bem maior
que aquele observado na haste inicial,
94
podendo esse fato ter restringido o
crescimento da haste inicial.
Através da derivação das equações
de regressão, estimou-se o número de
meses para as plantas de palmeira-rápis
atingirem o crescimento máximo, no
mesmo recipiente e nas mesmas condições de cultivo, permitindo-se desta
forma julgar qual seria o momento mais
propício para a mudança de recipiente.
Assim, o crescimento máximo estimado
foi de 20 folhas em 30 meses para o
número de folhas da haste inicial; 35
cm em 34 meses para a altura da haste
inicial; 12 perfilhos em 40 meses para
o número de perfilhos; 8 folhas em
31 meses para o número de folhas de
perfilhos; e 70 cm em 146 meses para a
altura dos perfilhos.
Na avaliação da qualidade das plantas, observou-se que o maior percentual
de entrevistados gostou muito das plantas e as compraria (Figura 03b), tendo
maior aceitação, as plantas cultivadas
em 50% FC e 50% SC (Figura 03a).
Apesar de esse substrato ter apresentado o melhor resultado na avaliação
da qualidade, as plantas cultivadas nos
substratos com outros percentuais de
FC e SC também estavam dentro do
padrão de comercialização, ou seja,
sendo igualmente aceitas no comércio
local, e não foram descartadas. Esteticamente, todas as plantas estavam vigorosas, sadias, com grande número de
folhas e perfilhos, com a coloração das
folhas verde brilhante, o que chamava
a atenção dos entrevistados. Assim, as
características de qualidade confirmam
os resultados da análise de crescimento,
que indicam a adequação da adição dos
diferentes percentuais de fibra de coco
ao substrato sem prejuízo na qualidade
do produto.
As razões para gostarem muito das
plantas e não comprá-las, mesmo em
menor percentual, variou entre os entrevistados, como, por exemplo, o porte
grande da planta, a não preferência pela
espécie, entre outros.
Não foram observados sintomas
visuais de deficiência de nutrientes nas
plantas. Na Tabela 1 estão os teores de
nutrientes na matéria seca das folhas
de palmeira-rápis ao longo do período
experimental de 24 meses de cultivo.
A análise de regressão não mostrou
diferenças significativas nos teores de
N, NO-3, Ca, Mg e S das folhas das
plantas em função do percentual de FC
no substrato de cultivo e nem em função
do número de meses de cultivo ao longo
do período experimental; as médias
originais estão na Tabela 1. Os valores
desses nutrientes observados em todas
as plantas estão dentro da faixa de teores
foliares descrita por Jones et al. (1991)
como adequada para a espécie, com
exceção do Ca que apresentou valores
abaixo do considerado adequado pelo
autor. Os valores observados para Ca,
bem como para os demais nutrientes,
podem ser considerados adequados uma
vez que não foram observados sintomas
visuais de deficiência em nenhuma das
plantas.
Diferentemente dos resultados dos
teores de N e Ca descritos, Amaral
(2007) observou menores teores foliares
de N em Vriesea gigantea em função do
aumento da FC no substrato (30, 40, 50,
60, 70, 80, 90 e 100% de FC) e maiores
teores foliares de Ca em Aechmea ramosa x fulgens nas mesmas condições;
porém, não observou diferenças entre
os teores foliares de Mg, NO-3 e S das
mesmas plantas.
Os teores foliares de P variaram
significativamente em função do percentual de FC no substrato. A equação
de regressão, y= 0,0002x2 – 0,0114x +
2,1727 (R2=0,95), mostra que os teores
foliares de P nas plantas cultivadas no
substrato com 25% de FC foram menores que nas plantas do substrato sem
FC, e que os maiores teores foliares de P
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Qualidade e teores de nutrientes de palmeira-rápis em substrato com fibra de coco
a
b
Figura 3. Qualidade das mudas de Rhapis excelsa cultivadas em substrato composto 0, 25, 50 e 75% de fibra de coco (FC) e substrato
comercial (SC) Plantmax HT: a) com base na aceitação pelos entrevistados; b) com base na avaliação visual e perspectiva de aquisição
pelos entrevistados. *p≥0,05 (quality of Rhapis excelsa plants grown in substrate consisting of 0, 25, 50 and 75% of coconut fiber (FC)
and commercial substrate (SC) Plantmax HT: a) base on the acceptance of the interviewed people; b) based on the visual evaluation and
acquisition perspective of the interviewed people. *p≥0.05). Campos dos Goytacazes, UENF, 2005.
foram observados nas plantas cultivadas
em 75% de FC, embora todos os valores
de teores foliares de P estejam dentro
da faixa considerada adequada (Jones
et al., 1991).
Esses resultados diferem daqueles
observados por Jasmim & Alves (2003)
que não encontraram diferenças significativas entre os teores foliares de P
em plantas de Rhapis excelsa, aos seis
meses de cultivo, e de Ravenala madagascariensis em substratos contendo 0,
25, 50 e 75% de FC.
Nos teores foliares de K foram obHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
servadas diferenças significativas (y=
-0,0288x + 20,383; R2=0,77) em função
do percentual de FC no substrato, com
decréscimo nos teores desse nutriente à
medida que se aumentou o percentual
de FC, apresentando os valores mais
baixos com 75% de FC. Não foram
observadas interações significativas. Os
teores foliares de K observados estão
dentro da faixa considerada adequada
(Jones et al., 1991).
A alta concentração de K no substrato com FC, decorrente de altas concentrações presentes na fibra de coco,
não afetou a sua disponibilidade para
o crescimento das plantas cultivadas
nos substratos com maiores percentuais
de fibra, como também foi observado
por Souza (2002) e Amaral (2003)
em singônio e Quesnelia quesneliana
(Bromeliaceae), respectivamente. Da
mesma forma Jasmim & Alves (2003)
observaram que os teores foliares de K
em palmeira-rápis não aumentaram em
função do aumento da fibra de coco no
substrato nas plantas de palmeira-rápis,
aos seis meses de cultivo.
De acordo com a análise dos resul95
FS Alves et al.
tados, pode-se concluir que a fibra de
coco poderá compor o substrato para a
produção de palmeira-rápis nos percentuais de 25 a 75%, com melhor aceitação
pelos entrevistados àquelas cultivadas
em 50% FC e 50% SC. Não houve sintoma visual de deficiência de nutrientes
em nenhuma das plantas, cujos teores
foliares encontrados em plantas sadias
com padrão de comercialização foram
de: 17,80 - 18,29 g kg-1 de N; 0,66 - 0,81
g kg-1 de NO-3 ; 2,02 - 2,34 g kg-1 de P;
18,11 - 20,40 g kg-1 de K; 11,63 - 13,84
g kg-1 de Cl; 2,69 - 4,04 g kg-1 de Ca;
1,61 - 2,07 g kg-1 de S; 1,98 - 2,64 g
kg-1 de Mg.
AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos à FAPERJ,
Setor de Nutrição Mineral de Plantas,
LFIT-CCTA da UENF.
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Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente
protegido
Lucilene JC Fernandes1,3; Leonardo T Büll1; Juliano C Corrêa1; Marcelo A Pavan1; Isao Imaizumi2
UNESP–FCA-Faz. Exp. Lageado, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; 2Genove Agronegócios, Rod. BR 452, km 225, C. Postal 27,
38175-000 Santa Juliana-MG; 3Bolsista CAPES; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
A adubação nitrogenada associada ao uso de bulbos isentos de
vírus contribui para o aumento de produtividade e qualidade do alho,
fato que pode incentivar o produtor rural a investir na cultura, pois
garante maior retorno econômico. O objetivo do trabalho foi avaliar
o índice relativo de clorofila, estado nutricional, a produção total e
comercial do alho livre de vírus e a correlação entre essas variáveis
em função de doses de nitrogênio. O experimento foi instalado sob
condições de ambiente protegido de maio a setembro de 2006, utilizando o delineamento em blocos casualizados, com seis repetições.
Os tratamentos consistiram da aplicação em cobertura de doses
crescentes de N (0, 20, 40, 80, 160 e 320 kg ha-1), utilizando como
fonte o nitrato de amônio, na proporção de 25% da dose no estádio
de 3 a 4 folhas, 25% antes da formação dos bulbilhos e 50% após a
diferenciação. O aumento das doses de N resultou em maior índice
relativo de clorofila, aumentou a absorção de N e reduziu absorção de
P e K nas folhas, proporcionou maior produtividade total e comercial,
sem que ocorresse pseudoperfilhamento.
Nitrogen fertilization in garlic free of virus cultivated in
protected environment
Palavras-chave: Allium sativum, clorofilômetro, nutrição.
Keywords: Allium sativum, chlorophyll meter, nutrition.
Nitrogen fertilization associated to the utilization of bulb free of
virus enhances garlic yield and quality and it can incentive growers to
invest in the crop whereas it allows a better economic return. The aim
of this research was to evaluate the relative chlorophyll index (RCI),
plant nutrition and total and commercial garlic yield and verify the
correlation among these variables in relation to nitrogen fertilization.
The experiment was carried out under greenhouse from May to
September 2006. The experimental design consisted of randomized
blocks with six replications. The treatments were application of
crescent levels of nitrogen corresponding to 0, 20, 40, 80, 160, and
320 kg N ha-1. The N source was ammonium nitrate; 25% of the
dose was applied when plants presented 3 or 4 leaves, 25% when
plants presented 5 or 6 leaves, and 50% after the differentiation. The
application of crescent levels of nitrogen proportioned higher relative
chlorophyll index (RCI), increased the N content and reduced P and
K content in leaves, enhanced total and commercial yield without
secondary growth.
(Recebido para publicação em 4 de novembro de 2008; aceito em 8 de fevereiro de 2010)
(Received on November 4, 2008; accepted on February 8, 2010)
O
principal fator que possibilita
maiores rendimentos na cultura do
alho (Allium sativum) é a aplicação de
fertilizantes, em especial o nitrogênio,
pois é o nutriente que mais contribui para
o aumento da produtividade de bulbos
por exercer efeito rápido e pronunciado
sobre o desenvolvimento vegetal nessa
cultura (Büll et al., 2002).
Repostas à adubação com N na cultura do alho foram obtidas desde a dose
de 40 kg ha-1 até a dose de 180 kg ha-1
(Patel et al., 1996; Verma et al.,1996;
Resende et al., 1993; Resende et al.,
2000; Resende & Souza, 2001a; Büll
et al., 2002; Marouelli et al., 2002). Ao
contrário, Costa et al. (1993), Lipinski
et al. (1995) e Sadaria et al. (1997) não
verificaram efeitos significativos do N
na produtividade total e comercial do
alho. Vale ressaltar que quando o N é
aplicado em cobertura no período de
bulbificação ocorre maior incidência
de pseudoperfilhamento (Resende &
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Souza, 2001a,b; Büll et al., 2001, 2002).
Portanto, a dose de N em cobertura deve
resultar na máxima produtividade, desde
que aplicada na época correta para evitar
o pseudoperfilhamento.
O alho é propagado assexuadamente, permitindo que patógenos sejam
facilmente disseminados através das
gerações, causando acúmulo de viroses
e degenerescência dos clones. A técnica de cultura de tecidos possibilita a
obtenção de plantas de alho isentas de
patógenos, em especial os vírus, que
condiciona respostas diferentes à adubação nitrogenada, quando comparadas
com plantas obtidas convencionalmente.
Assim, a associação da aplicação de
fertilizantes à técnica de cultura de
tecidos, possibilitará que estas plantas
apresentem maior potencial produtivo
em razão do aumento do peso e diâmetro
de bulbos, refletindo em maior retorno
econômico para o produtor (Resende et
al., 2000).
Conduziu-se este trabalho com o
objetivo de avaliar o índice relativo de
clorofila, estado nutricional, produção
total e comercial do alho livre de vírus
e a correlação entre essas variáveis
em função das doses de nitrogênio
aplicadas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no
município de Santa Juliana-MG, sob
condições de ambiente protegido de
12/05/06 a 01/09/06. O solo, classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo
(Embrapa, 1999) foi amostrado na camada de 0-20 cm para realização da
análise química (Raij et al., 2001), que
apresentou os seguintes resultados:
pH(CaCl 2)= 6,0; M.O.= 24 g kg -1;
P(resina)= 104 mg dm-3; H+Al= 25
mmolc dm-3; K= 4 mmolc dm-3; Ca= 54
mmolc dm-3; Mg= 14 mmolc dm-3; CTC=
97 mmolc dm-3; V= 74 %; B= 0,44 mg
97
LJC Fernandes et al.
98
As avaliações de índice relativo de
clorofila (IRC) foram realizadas nos
mesmos dias das aplicações dos tratamentos e 15 dias após a última aplicação
das doses de N, amostrando-se 10 plantas por parcela. O IRC foi determinado
com o auxílio do medidor portátil, o
clorofilômetro, modelo SPAD-502 da
Minolta Corporation Ltda, amostrandose a parte central da folha recentemente
expandida e fisiologicamente madura.
As folhas em que foram realizadas as
leituras de IRC, à exceção da primeira
época de avaliação, foram coletadas para
análise química dos teores foliares de
macronutrientes, segundo metodologia
descrita por Malavolta et al. (1997).
As plantas destinadas à avaliação
da produção foram coletadas a partir
de 0,5 m de cada extremidade da parcela, coletando 10 plantas por linha,
totalizando 50 plantas por parcela.
Após a colheita, as plantas passaram
pelo período de cura por 30 dias, a fim
de favorecer gradual perda de umidade
e concentração de sólidos nos bulbos,
melhorando a conservação (Filgueira,
2000). Após esse intervalo, os bulbos
foram classificados em função do diâmetro transversal em classes de 3 a 7,
segundo a Comissão Técnica de Normas
e Padrões do Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Para cada tratamento foi calculada
a produtividade total e comercial. Na
produtividade comercial foram considerados bulbos de classe 3 ou superior, isentos de sintomas de ataque de
pragas e doenças ou outra anomalia. A
ocorrência do pseudoperfilhamento foi
quantificada nas 50 plantas destinadas
à análise da produção, no momento da
colheita.
Os resultados foram submetidos à
análise de variância seguida de análise
de regressão, ajustando-se as equações
aos dados obtidos a partir das doses de
nitrogênio, tendo como critério para
escolha do modelo matemático o teste F
significativo a 1 e 5% e a magnitude dos
coeficientes de determinação. A análise
de correlação foi realizada pelo método
de Pearson. As análises estatísticas foram realizadas nos programas Sisvar v.
4.2 (Ferreira, 2003) e Sigmastat v. 3.11
(Systat, 2008).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aplicação de doses crescentes de
N em cobertura elevou o índice relativo
de clorofila (IRC), quando as folhas de
alho foram amostradas nos estádios fe-
70
IRC (S pad)
dm-3; Zn= 5,2 mg dm-3.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados,
com seis repetições. Os tratamentos
consistiram de aplicações em cobertura
com doses crescentes de N (0, 20, 40,
80, 160 e 320 kg N ha-1), tendo como
fonte o nitrato de amônio. Essas doses
foram parceladas em razão do estádio
fenológico da cultura, aplicando-se 25%
da dose quando as plantas apresentaram
de 3 a 4 folhas, 25% quando apresentaram de 5 a 6 folhas, o que ocorreu antes
da diferenciação, e 50% após a fase
de diferenciação, estádio de início do
crescimento dos bulbilhos.
As parcelas foram dimensionadas
com 2,0 m de comprimento por 1,2 m de
largura do canteiro, com espaçamento de
10 cm entre plantas e 20 cm entre linhas.
A adubação de plantio foi ajustada para
a camada de 0-20 cm e foram aplicados
680 kg ha-1 de P2O5 antes da gradagem,
sendo 1/3 na forma de termofosfato e
2/3 de superfosfatosimples, 50 kg ha-1
de KCl, 10 kg ha-1 de ácido bórico e 10
kg ha-1 de sulfato de zinco. Junto com
a primeira adubação nitrogenada de
cobertura foi adicionado o equivalente
a 50 kg ha-1 de KCl.
Utilizou-se a cv. Caçador LV (livre
de vírus), pertencente ao grupo dos
“alhos nobres” e das cultivares tardias.
Os bulbos caracterizam-se por apresentar bulbilhos graúdos e em pequeno
número, coloração externa roxa e alta
capacidade de conservação (Filgueira,
2000), sendo bem aceitos no mercado
por ter qualidade comparável à do alho
argentino. Os bulbilhos isentos de vírus
foram obtidos através de cultura de tecidos e termoterapia, na UNESP-FCA,
aclimatizados em casa-de-vegetação e
multiplicados por quatro gerações em
telado no município de GuarapuavaPR. Foram utilizados para o plantio
bulbilhos pesando entre 3 e 4 gramas,
de bulbos nº 6 (diâmetro transversal
maior que 47 até 56 mm), de acordo com
a classificação da Circular nº 50/81 da
Comissão Técnica de Normas e Padrões
do Ministério da Agricultura.
A colheita ocorreu aos 112 dias após
o plantio (DAP). Foram adotados os tratos culturais referentes à cultura do alho
como medidas preventivas de controle
de pragas e doenças.
65
60
74 DAP
Y = 63,6 + 0,014x R2 =0,76 **
89 DAP
Y = 56,6 + 0,035x - 0,00007x2
R2 =0,80 *
55
0
40
80
120
160
Doses de N (kg
200
240
280
320
ha-1 )
Figura 1. Índice Relativo de Clorofila (IRC) em folhas de plantas de alho, na fase de
diferenciação (74 DAP) e 15 dias após (89 DAP) em função de doses de nitrogênio (relative
chlorophyll index (RCI) in leaves of garlic plants, at differentiation (74 DAP) and 15 days
after (89 DAP) in response to the nitrogen rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido
Fase de diferenciação
5,3
30
5
-1
-1
35
25
0
20
40
80
160
320
<3
5
4
3
4
2
2
ns
3
26
16
25
15
12
9
L**
20
4,4
0
40
80
120
160
200
-1
240
280
320
Doses de N (kg ha )
Figura 2. Teores foilares de N, P e K, na fase de diferenciação (74 DAP), em plantas de alho,
em função de doses de nitrogênio (leaves concentrations of N, P and K, at differentiation (74
DAP), in garlic plants, in response to the nitrogen rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006.
consideradas adequadas para a cultura
do alho, apresentam valores entre 25 a
30 g kg-1 de N, 3,0 a 5,0 g kg-1 de P e de
30 a 44 g kg-1 de K. Assim, os teores de
N, P e K obtidos podem ser considerados
adequados, pois estão dentro ou próximos da faixa de suficiência considerada
adequada à cultura, tendo como principais parâmetros o desenvolvimento da
planta e a produtividade alcançada.
A redução nos teores de P e K nas
folhas de alho em função das doses
crescentes de N (Figura 2) pode ser justificada em razão das maiores doses de N
terem proporcionado maiores bulbilhos,
causando o efeito de diluição para esses
Classes
4
44
43
36
39
35
27
L**
5
22
30
33
30
35
39
L**
6
3
6
3
13
16
23
L**
ns: não significativo; **significativo a 1% pelo teste F; L: equação linear (ns: not significant,
**1% significant by F test; L: linear equation)
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
4,7
T eor de N Y = 25,1 + 0,04x - 0,00007x 2 R2 =0,85 **
T eor de K Y = 5,39 + 0,003x R2 =0,94 **
T eor de P Y = 33,5 + 0,015x R2 =0,50 **
Tabela 1. Distribuição dos bulbos (%), nas classes <3, 3, 4, 5, e 6, em função de doses crescentes de N (kg ha-1) (distribution of bulbs (%), in the class <3, 3, 4, 5, and 6, in response to
the nitrogen rates (kg ha-1)). Santa Juliana, GENOVE, 2006.
Doses de N
5,6
Teores de P (g kg )
40
Teores de N e K (g kg )
nológicos de diferenciação (74 DAP) e
15 dias após (89 DAP) (Figura 1). Não
houve, no entanto, efeito significativo
para essa variável quando a amostragem
foi realizada nos estádios de 3 a 4 folhas
(13 DAP) e de 5 a 6 folhas (28 DAP).
Esse resultado pode ser justificado em
razão do N ser componente do grupo
pirrólico na molécula de clorofila, ou
seja, seu fornecimento em função das
doses estaria contribuindo na formação
dessa molécula e, consequentemente,
aumentando os valores de IRC (Lima,
2005).
Os maiores valores de IRC foram
obtidos nas doses de 320 kg ha-1 de N
quando a folha de alho foi amostrada
no estádio de diferenciação e de 250
kg ha-1 de N quando a folha foi amostra
15 dias após a diferenciação. Resende
(1994) sugeriu o período de 6 a 9 dias
como intervalo para se obter o máximo
de aumento do teor de clorofila devido
à aplicação de N. Entretanto, Büll et
al. (2002) não verificaram aumento no
teor de clorofila em função de doses
crescentes de N, utilizando-se a cultivar
Caçador, com bulbilhos sem a utilização
da técnica de cultura de tecidos.
As plantas de alho absorveram mais
N e menos P e K em função do aumento
das doses de N (Figura 2), com a amostragem das plantas realizada no mesmo
estádio da variável IRC. Os teores médios de N aumentaram de acordo com
as doses desse nutriente aplicado, sendo
que o maior teor de N na folha de alho
foi observado na dose de 320 kg ha-1 de
N. De acordo com Raij et al. (1996),
as faixas de suficiência para N, P e K
nutrientes, pois no estádio de enchimento dos bulbilhos, o dreno mais forte passa a ser esse órgão, portanto deve existir
redistribuição mais eficiente do P e K
no sentido folha – bulbilhos, principalmente, quando os bulbilhos são maiores.
É nesse órgão que está havendo maior
gasto energético, bem como a absorção
e transporte dos direcionados, preferencialmente, para os bulbilhos. Tanto o P
como o K, são nutrientes móveis dentro
da planta, sendo muito exigidos nos
locais de maior crescimento, no caso o
bulbilho, pois estão envolvidos fisiologicamente com as funções de transporte
de energia (ATP) e o desencadeamento
das atividades enzimáticas, entre outras
(Taiz & Zeiger, 2004).
A adubação nitrogenada em cobertura proporcionou maior produtividade
total e comercial, as quais apresentaram
comportamento linear crescente com
o aumento das doses de N (Figura 3),
sendo que a dose de 320 kg ha-1 de N
proporcionou valores de 9,1 t ha-1 para
a produtividade total e de 9,0 t ha-1 para
a comercial, respectivamente. Efeitos
significativos da adubação com N foram
obtidos até a dose de 97 kg N ha-1 por
Marouelli et al. (2002), de 149 kg N
ha-1 por Resende & Souza (2001a), e
de 160 kg N ha-1 por Büll et al., (2002).
Ao contrário, Costa et al. (1993) não
99
LJC Fernandes et al.
9,5
Produtividade (t ha -1 )
9,0
8,5
8,0
7,5
Total
7,0
6,5
Comercial
0
40
80
Y = 7,49 + 0,0048x R
Y = 7,35 + 0,0052x R
2
2
=0,90 **
=0,89 **
120 160 200
-1
)
Doses de N (kg ha
240
280
320
Figura 3. Produtividades total e comercial (t ha-1) de bulbos de alho, em função de doses
de nitrogênio (total and commercial yield (t ha-1) of garlic bulbs, in response to the nitrogen
rates). Santa Juliana, GENOVE, 2006.
Tabela 2. Coeficiente de correlação entre índice relativo de clorofila (IRC), teor de nitrogênio
na folha e produtividades total e comercial (coefficient of correlation between relative
chlorophyll index (RCI), nitrogen concentration in leaves, and total and commercial yield.
Santa Juliana, GENOVE, 2006.
Fatores correlacionados
Fase de amostragem
5 a 6 folhas
IRC x N foliar
0,73**
15 dias após diferenciação
0,80**
0,49**
15 dias após diferenciação
0,60**
IRC x Produtividade comercial Diferenciação
15 dias após diferenciação
5 a 6 folhas
ns
0,48**
0,57**
ns
Diferenciação
0,47**
15 dias após diferenciação
0,47**
5 a 6 folhas
N foliar x Produtividade comercial
ns
Diferenciação
5 a 6 folhas
N foliar x Produtividade total
ns
Diferenciação
5 a 6 folhas
IRC x Produtividade total
Coeficiente de
correlação
ns
Diferenciação
0,47**
15 dias após diferenciação
0,47**
ns: não significativo; **significativo a 1% pela correlação de Pearson (ns: not significant;
**1% significant by Pearson correlation).
100
verificaram efeito significativo do N na
produtividade total e comercial do alho
quando utilizaram até 120 kg ha-1, assim
como, Lipinski et al. (1995), até dose de
240 kg ha-1 de N e Sadaria et al. (1997)
quando foram aplicados até 75 kg ha-1 de
N. Vale ressaltar, que esse experimento
foi plantado com bulbos provenientes
de cultura de tecido, portanto, livres
de vírus e em condições de ambiente
protegido e irrigação por gotejamento,
fatores que contribuíram para a resposta
positiva das plantas de alho ao N.
A adubação nitrogenada aumentou
o diâmetro dos bulbos das classes 5
e 6, e reduziu os da classe 3 e 4. Não
houve efeito significativo para as classes <3 (Tabela 1). Esse fato deve ser
destacado, pois bulbos das classes 5 e
6 são maiores que os da classes 3 e 4,
apresentando maior valor comercial
e preferência pelo consumidor. Vale
ressaltar que a disponibilidade de N no
solo exerce influência relevante sobre
o valor nutritivo do alimento, sendo
considerado o macronutriente que proporciona qualidade ao produto, por fazer
parte de compostos como aminoácidos
e proteínas (Malavolta, 1996).
As correlações entre o índice relativo
de clorofila (IRC), teor de nitrogênio na
folha e produtividades total e comercial
foram significativas quando as plantas
de alho se encontravam nos estádios
de diferenciação e 15 dias após essa
fase, não havendo efeito significativo
entre essas variáveis quando as plantas
estavam no início do desenvolvimento, ou seja, no estádio de 5 a 6 folhas
(Tabela 2).
A correlação positiva entre o IRC e
N foliar (0,73** e 0,80**) pode ser explicada pela maior quantidade de clorofila
em função do maior teor de N, uma
vez que esse nutriente participa com 4
moléculas na sua composição química
(Taiz & Zeiger, 2004). Dados semelhantes foram obtidos por Lima (2005),
que avaliou a correlação entre IRC e N
foliar a cada 10 dias durante o ciclo da
cultura de 130 dias, utilizando a cultivar
Caçador, obtendo o maior coeficiente
de correlação (0,76**) aos 70 dias após
a emergência das plantas.
Houve correlação positiva, também,
entre o IRC e as variáveis produtividade total (0,49** e 0,60**) e comercial
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Resposta de plantas de alho livres de vírus ao nitrogênio em ambiente protegido
(0,48** e 0,57**), permitindo estimar
a produtividade em função das leituras
IRC, quando as plantas forem amostradas no estádio de diferenciação ou após
15 dias a diferenciação (Tabela 2). As
produtividades total e comercial também se correlacionaram positivamente
com o teor de N nas folhas (0,47** e
0,47**, respectivamente), mostrando
que os teores de nitrogênio, até a concentração de 31 g kg-1 nas folhas de alho,
amostradas no estádio de diferenciação
floral ou 15 dias após esta fase, condicionam maior produtividade total e
comercial às plantas de alho.
Não foram obtidas plantas pseudoperfilhadas, devido, provavelmente, à
suspensão da irrigação, no período que
antecedeu a diferenciação, e também à
cobertura com 50% da dose somente
após a diferenciação, práticas essas
utilizadas por produtores de alho para
evitar o surgimento dessa anomalia.
A ocorrência de pseudoperfilhamento
está associada, dentre outros fatores,
à disponibilidade de água no solo e à
adubação nitrogenada próxima à fase
de diferenciação. Assim, quanto maior
a disponibilidade de água no solo e mais
próxima a adubação de cobertura da
diferenciação, maior é a porcentagem
de plantas pseudoperfilhadas. Portanto,
recomenda-se que manejos como a adubação de cobertura com N e a irrigação
sejam realizados no estádio adequado de
desenvolvimento da cultura, permitindo
que essa anomalia seja minimizada ou
até eliminada, como foi o caso desse
experimento.
Pode-se concluir que, nas condições
deste experimento, a melhor dose para
a produção de clorofila foi de 320 kg
de N ha-1; os teores de nitrogênio, até a
concentração de 31 g kg-1 nas folhas de
alho, amostradas no estádio de diferenciação floral ou 15 dias após esta fase,
resultaram em maior produtividade total
e comercial; a adubação nitrogenada de
cobertura, em plantas de alho livre de
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
vírus, proporcionou maior produtividade total e comercial sem ocorrência de
superbrotamento.
AGRADECIMENTOS
À CAPES pela concessão da bolsa
de mestrado à primeira autora e à empresa Genove Agronegócios pela estrutura
e apoio técnico para o desenvolvimento
do experimento.
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Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum
f. sp. lycopersici
Leonardo T Souza1; Sami J Michereff1; Delson Laranjeira1; Domingos EGT Andrade2; Edinardo Ferraz3;
Gaus SA Lima4; Ailton Reis5
UFRPE-Depto. Agronomia, Fitossanidade, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, 52171-900 Recife-PE; 2IPA-EE Itapirema, 55900-000
Goiana-PE; 3IPA-EE Belém de São Francisco, 56440-000, Belém de São Francisco-PE; 4UFAL–CCA, 57100-000, Rio Largo-AL; 5Embrapa Hortaliças, 70351-970 Brasília-DF; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
A murcha-de-fusário, causada por Fusarium oxysporum f. sp.
lycopersici, é uma importante doença do tomateiro (Solanum lycopersicon L.) no Nordeste brasileiro. Visando selecionar genótipos
com potencial de utilização no manejo da doença, foram avaliadas
60 linhagens (geração F7) oriundas do cruzamento entre o acesso
BHRS-2,3 e a cultivar Viradoro, em relação a isolados das raças
fisiológicas 2 e 3 de F. oxysporum f. sp. lycopersici. Os isolados
foram inoculados em mudas com 21 dias de idade pelo método do
corte de raízes e imersão na suspensão de conídios do patógeno.
A avaliação foi realizada após 21 dias, com o auxílio de escala de
notas de 1 a 5, para agrupamento dos genótipos em cinco classes
de reação. A maioria dos genótipos (73,3%) se comportou como
altamente resistente ao isolado da raça 2, enquanto 45,0% foram
classificados como suscetíveis e 28,3% como altamente suscetíveis
ao isolado da raça 3. Somente a linhagem L-1 apresentou reação de
alta resistência aos dois isolados de ambas as raças. A estabilidade
da resistência dessa linhagem foi avaliada em relação a cinco isolados de cada raça (2 e 3) do patógeno. A linhagem L-1 apresentou
reação de alta resistência a todos os isolados da raça 2, evidenciado
estabilidade da resistência. No entanto, em relação aos isolados da
raça 3, essa linhagem apresentou três classes de reação distintas,
variando de altamente resistente a suscetível, indicando instabilidade
da resistência à essa raça.
Reaction of tomato genotypes to races 2 and 3 of Fusarium
oxysporum f. sp. lycopersici
Palavras-chave: Solanum lycopersicon, murcha-de-fusário, resistência genética.
The Fusarium wilt caused by Fusarium oxysporum f. sp.
lycopersici, is an important disease of tomato (Solanum lycopersicon
L.) in Northeastern Brazil. In order to select genotypes with potential
for use in the disease management, 60 strains were evaluated (F7
generation) from the crossing of access BHRS-2, 3 and Viradoro
cultivar in relation to isolates from the physiologic races 2 and 3 of F.
oxysporum f. sp. lycopersici. The isolates were inoculated on 21-day
old seedling using the method of cutting the roots and soaking it in
the suspension of the pathogen conidia. The evaluation was carried
out after 21 days, with the scale of grades ranging from 1 to 5. The
genotypes were grouped into five classes of reaction. Most genotypes
(73.3%) behaved as highly resistant to the race 2 isolate, while 45.0%
were classified as susceptible and 28.3% as highly susceptible to the
race 3 isolate. Only the L-1 strain showed high resistance reaction
to both isolates. The stability of this line of resistance was evaluated
to five isolates of each race (2 and 3). The line L-1 showed high
levels of resistance to all race 2 isolates, therefore indicating high
stability of resistance. However, for race 3 isolates, this strain showed
three distinct classes of reaction, ranging from highly resistant to
susceptible, indicating instability of resistance to this race.
Keywords: Solanum lycopersicon, Fusarium wilt, genetic
resistance.
(Recebido para publicação em 30 de abril de 2009; Aceito em 3 de fevereiro de 2010)
(Received on April 30, 2009; accepted on February 3, 2010)
O
Brasil é um dos 10 maiores produtores mundiais de tomate (Solanum
lycopersicon L.) (Camargo et al., 2006).
Anualmente, a área cultivada com
tomateiro no país supera os 50 mil hectares, com uma produção em torno de 3
milhões de toneladas (FNP, 2008). No
estado de Pernambuco, a tomaticultura
é uma importante atividade agrícola,
levando grande destaque pela geração
de mão-de-obra e fixação do homem no
campo (Andrade & Michereff, 2000).
A tomaticultura é bastante sensível
a problemas fitossanitários. Cerca de
duzentas doenças de causas bióticas e
abióticas já foram relatadas afetando a
102
tomaticultura em todo o mundo (Lopes
& Ávila, 2005). Dentre as doenças
bióticas, destaca-se a murcha-de-fusário, causada pelo fungo habitante do solo
Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
(Sacc.) Snyder & Hansen. Uma vez
introduzido em áreas de cultivo, este
patógeno pode permanecer viável durante anos devido a sua capacidade de
produzir estruturas de resistência (clamidósporos) (Reis & Lopes, 2007).
Em áreas infestadas por F. oxysporum f. sp. lycopersici, a doença pode
se manifestar em qualquer estádio de
desenvolvimento da planta (Kurozawa
& Pavan, 2005). Os sintomas mais
típicos são: amarelecimento das folhas,
geralmente a partir das mais velhas,
queda prematura dos frutos e murcha
nas horas mais quentes do dia até que
a mesma se torne irreversível (Vale et
al., 2004).
A espécie F. oxysporum f. sp. lycopersici é agrupada em três raças fisiológicas, conforme sua habilidade de
infectar e causar doença em uma série
de cultivares diferenciadoras contendo
diferentes loci de resistência. No Brasil,
as raças 1 e 2 encontram-se amplamente
distribuídas, enquanto a raça 3 foi recentemente relatada no país em regiões mais
restritas, afetando cultivos comerciais
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
nos estados do Espírito Santo (Reis
et al., 2005) e Rio de Janeiro (Reis &
Boiteux, 2007).
Apesar do cultivo do tomate ser uma
das mais importantes atividades agrícolas no estado de Pernambuco, estudos
realizados demonstraram o decréscimo
da produção em áreas produtoras devido
à presença da murcha-de-fusário (Andrade & Michereff, 2000). A introdução
de uma terceira raça fisiológica em áreas
de cultivo no estado agravaria a situação, ocasionando resultados catastróficos para a tomaticultura regional.
Nenhuma medida de controle químico é efetiva e economicamente viável
no controle da murcha-de-fusário em
tomateiro (Blancard, 1996), sendo o uso
de genótipos resistentes o único meio
seguro e eficiente de controle da doença
(Kurozawa & Pavan, 2005). Apesar de
existir uma ampla diversidade de cultivares comerciais resistentes às raças 1
e 2 de F. oxysporum f. sp. lycopersici
no Brasil, genótipos resistentes à raça 3
ainda não estão facilmente disponíveis.
Recentemente, no Brasil foram identificadas fontes de resistência múltipla às
três raças de F. oxysporum f. sp. lycopersici em acessos das espécies Solanum
habrochaites L., Solanum chilense L.,
Solanum pennellii L. e Solanum peruvianum L. (Reis et al., 2004).
Com o constante desenvolvimento
de novos genótipos de tomateiro por diversos programas de melhoramento, se
faz necessária a avaliação destes visando
a utilização no controle genético da
murcha-de-fusário. Genótipos promissores na resistência à murcha-de-fusário
poderão ser utilizados extensivamente
em programas de melhoramento do
tomateiro, podendo auxiliar também na
produção de cultivares com resistência
simples ou múltipla a doenças. Desta
forma, visando selecionar genótipos
com potencial de utilização nos programas de melhoramento ou no manejo
integrado da murcha-de-fusário, este
trabalho teve como objetivos avaliar
as respostas de resistência de 60 genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de F.
oxysporum f. sp. lycopersici e verificar a
estabilidade da resistência de genótipos
promissores em relação a diferentes
isolados dessas raças.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
MATERIAL E MÉTODOS
A avaliação da resistência foi
realizada em dois experimentos, sendo
inicialmente efetuada a seleção de genótipos promissores e depois analisada
a estabilidade da resistência desses genótipos. As duas etapas foram realizadas
em casa de vegetação na UFRPE, em
Recife-PE.
Seleção de genótipos promissores
- foi realizada em casa de vegetação
com temperatura ambiente variando de
22,1 a 34,4°C, umidade relativa do ar
de 62,3 a 89,6% e temperatura do solo
de 21,3 a 33,5°C. Uma coleção de 60
genótipos de tomateiro foi avaliada em
relação a dois isolados de F. oxysporum
f. sp. lycopersici, pertencentes às raças
fisiológicas 2 (CMM-1252) e 3 (FUS89). A coleção de genótipos foi formada
por linhagens de tomateiro desenvolvidas pela Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária (IPA), oriundas
do cruzamento entre o acesso BHRS-2,3
e a cultivar Viradoro, através do método de melhoramento bulk e seleção de
plantas individuais com o controle de
pedigree. Todos os genótipos avaliados
se encontravam na geração F7. Como
controle, foram utilizados os genótipos
diferenciadores das raças fisiológicas
de F. oxysporum f. sp. lycopersici,
incluindo Floradade (suscetível à raça
3 e resistente às raças 1 e 2), Viradoro
(suscetível às raças 2 e 3) e BHRS-2,3
(resistente às raças 1, 2 e 3), bem como
à cultivar Santa Clara (suscetível às
raças 2 e 3), amplamente cultivada em
Pernambuco até 1999, e o híbrido SM16 (resistente às raças 1 e 2 e suscetível
à raça 3), cultivado em larga escala neste
estado a partir de 2000.
Os isolados de F. oxysporum f. sp.
lycopersici foram obtidos de plantas
de tomateiro das cultivares Santa Clara
(CMM-1252) e Carmen (FUS-89) com
sintomas de murcha-de-fusário, coletadas em Camocim de São Félix-PE
(Andrade et al., 2001) e Venda Nova
do Imigrante-ES (Reis et al., 2005),
respectivamente. O inóculo do patógeno foi preparado em frascos de Erlenmeyer contendo 250 mL de meio de
cultura batata-dextrose (BD) (Dhingra
& Sinclair, 1995). Após autoclavagem
(120oC, 30 min, 1 atm) e resfriamento
(25oC), em cada frasco foram colocados
três discos de 5 mm de diâmetro de
cultura do fungo, previamente cultivado
em meio batata-dextrose-ágar (BDA)
(Dhingra & Sinclair, 1995), com 10 dias
de idade. Após quinze dias em incubadora tipo BOD à temperatura de 25oC e
luminosidade contínua, a suspensão do
inóculo foi homogeneizada em agitador
mecânico e filtrada em duas camadas
de gaze esterilizada. Posteriormente,
a contagem de microconídios nas suspensões foi realizada com o auxílio de
câmara de Neubauer e a concentração
do inóculo ajustada para 1x106 microconídios mL-1.
A inoculação dos isolados de F.
oxysporum f. sp. lycopersici foi efetuada
pelo método do corte de raízes (Santos,
1997) adaptado. Plantas de tomateiro,
aos 21 dias após a semeadura, cultivadas
sob condições de casa de vegetação em
substrato Plantmax (Eucatex Mineral
Ltda., Paulínia-SP), foram removidas de
bandejas tipo “plantágio”, submetidas
à lavagem para remoção do substrato
e ao corte das raízes (cerca de 2 cm)
com tesoura flambada. Em seguida, as
plantas foram imersas por cinco minutos
na suspensão de conídios até a altura
da região do colo e transplantadas para
vasos plásticos (18 x 15 cm) contendo
solo areno-argiloso (pH = 6,3; matéria
orgânica= 34,68 g kg-1; N= 998 ppm;
P= 6 mg dm-3; K= 0,18 cmolc dm-3; Na=
0,43 cmolc dm-3; Al= 0,30 cmolc dm-3;
Ca+Mg= 0,70 cmolc dm-3) esterilizado
em autoclave (120°C, 1 atm, 60 min,
dois dias consecutivos). A testemunha
consistiu de plantas com raízes cortadas
e imersas no referido meio de cultura,
sem a presença de conídios do fungo. As
plantas foram adubadas semanalmente,
a partir do dia do transplantio, com
300 mL vaso-1 de solução composta de:
0,02g/L de Quelatec® (B 0,65% p/p; Fe
7,5% p/p; S 7,5% p/p; Mn 3,5% p/p;
Zn 0,7% p/p; Cu 0,65% p/p; Mo 0,3%
p/p), 0,613 g L-1 de Krista-K45® (N20
12%; K2O 45%; SO4 1,2%), 1 g L-1
de Calcint® (NO3 14,4%; NH4 1,1 %;
cálcio hidrossolúvel 19%), 0,2 g L-1 de
fosfato-monopotássico (P2O5 51%; K2O
33%) e 0,52 g L-1 de sulfato de magnésio
(MgSO4.7H2O 99%).
Para cada raça do patógeno, o delineamento experimental foi inteiramente
103
LT Souza et al.
casualizado, consistindo de 65 tratamentos com quatro repetições, sendo cada
repetição constituída por um vaso com
quatro plantas.
A reação das plantas foi avaliada aos
21 dias após a inoculação, com escala
de notas de 1 a 5 (Santos, 1997), onde:
1= planta sem sintomas; 2= planta sem
sintoma de murcha e apresentando pequena descoloração vascular, 3= planta
com sintomas de murcha e descoloração
vascular; 4= planta com severa murcha
associada com a presença de clorose e
necrose foliar; 5= planta morta. A reação
média foi calculada para cada genótipo
e utilizada para agrupar os genótipos
em cinco classes de reação: 1,0= semelhante à imune (SI); 1,1-2,0= altamente
resistente (AR); 2,1-3,0= medianamente
resistente (MR); 3,1-4,0= suscetível
(SU); 4,1-5,0= altamente suscetível
(AS) (Reis et al., 2004).
Análise da estabilidade da resistência de um genótipo promissor - foi
realizada em casa de vegetação com
temperatura ambiente variando de 23,6
a 35,1°C, a umidade relativa do ar de
61,7 a 86,5% e a temperatura do solo
de 22,7 a 33,9°C. O genótipo L-1, que
demonstrou reação de alta resistência
(AR) às raças 2 e 3 de F. oxysporum f.
sp. lycopersici na seleção preliminar,
juntamente com a cultivar Santa Clara
e o acesso BHRS-2,3, foram avaliados
em relação a cinco isolados da raça 2
(CMM-1102, CMM-1103, CMM-1106,
CMM-1113 e CMM-1598) oriundos de
diferentes áreas de cultivo de tomateiro
em Pernambuco (Andrade et al., 2001)
e cinco isolados da raça 3 (FUS-89,
FUS-90, FUS-94, FUS-116 e FUS-145),
cedidos pela Embrapa Hortaliças (Reis
et al., 2005, 2007).
Os procedimentos de produção de
mudas de tomateiro, produção do inóculo e inoculação do patógeno, adubação
das plantas e avaliação da doença foram
os mesmos adotados na seleção de genótipos promissores.
Para cada raça de F. oxysporum f.
sp. lycopersici, o delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em
arranjo fatorial 5x3, representado por
cinco isolados do patógeno e três genótipos de tomateiro, com três repetições,
sendo cada repetição constituída por um
vaso com quatro plantas.
104
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os 60 genótipos de tomateiro
na geração F7 avaliados, oriundas do
cruzamento entre o acesso BHRS-2,3 e
a cultivar Viradoro, somente a linhagem
L-2 apresentou reação semelhante à
imunidade ao isolado da raça 2 (CMM1252) de F. oxysporum f. sp. lycopersici,
sem a constatação de sintomas da doença. A maioria dos genótipos (73,3%) se
comportou como altamente resistente
a esse isolado, enquanto 16,7% como
medianamente resistente e 8,3% como
altamente suscetível (Figura 1). Por
outro lado, quando inoculados com o
isolado da raça 3 (FUS-89) do patógeno,
nenhum genótipo apresentou reação
semelhante à imunidade e somente a
linhagem L-1 se comportou como altamente resistente, enquanto 25,0% se
comportou como medianamente resistente, 45,0% como suscetível e 28,3%
como altamente suscetível (Figura 1).
A linhagem L-2 que se destacou como
excelente fonte de resistência à raça 2
de F. oxysporum f. sp. lycopersici, se
comportou como medianamente resistente à raça 3. No entanto, a linhagem
L-1, que se destacou como altamente
resistente em relação à raça 2 do patógeno, apresentou a mesma reação quando
inoculada com o isolado da raça 3. Com
base nestes resultados sugerem-se que a
penetrância do gene de resistência I-3,
na maioria dos genótipos, pode ter sido
afetada devido a alguns fatores, tais
como a alta concentração de inóculo
utilizada (Alon et al., 1974), a severa injúria das raízes realizada na metodologia
de inoculação (Juliatti et al., 1994), bem
como a variabilidade genética gerada
pela segregação dos materiais avaliados
(Santos et al., 1993).
Em relação aos cinco genótipos
de referência incluídos na avaliação,
BHRS-2,3, Floradade e SM-16 comportaram-se como altamente resistentes
ao isolado da raça 2 (CMM-1252),
enquanto Santa Clara e Viradoro como
Tabela 1. Reação de genótipos de tomateiro a isolados das raças fisiológicas 2 e 3 de
Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, sob condições de casa de vegetação (reaction of
tomato genotypes to Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici isolates from races 2 and 3 in
greenhouse). Recife, UFRPE, 2008.
Raça
Raça 2
Raça 3
Isolado
CMM-1102
CMM-1103
CMM-1106
CMM-1113
CMM-1598
FUS-89
FUS-90
FUS-94
FUS-116
FUS-145
Genótipo/média1 (reação)2
L-1
BHRS-2,3
Santa Clara
1
2
1,72 (AR)
1,75 (AR)
4,00 (SU)
1,58 (AR)
1,50 (AR)
2,83 (MR)
1,44 (AR)
1,67 (AR)
2,25 (MR)
1,33 (AR)
1,42 (AR)
2,75 (MR)
1,17 (AR)
1,33 (AR)
4,42 (AS)
1,33 (AR)
1,82 (AR)
3,42 (SU)
3,19 (SU)
1,82 (AR)
4,10 (AS)
2,28 (MR)
2,10 (MR)
3,74 (SU)
1,75 (AR)
2,19 (MR)
4,00 (SU)
1,92 (AR)
2,10 (MR)
3,67 (SU)
Média de reação da doença conforme escala de notas de 1 a 5 (Santos, 1997), onde: 1=
planta sem sintomas; 2= planta sem sintoma de murcha e apresentando pequena descoloração
vascular, 3= planta com sintomas de murcha e descoloração vascular; 4= planta com severa
murcha associada com a presença de clorose e necrose foliar; 5= planta morta. Média de três
repetições; 2Classe de reação da doença: 1,0= semelhante à imune (SI); 1,1-2,0= altamente
resistente (AR); 2,1-3,0= medianamente resistente (MR); 3,1-4,0= suscetível (SU); 4,1-5,0=
altamente suscetível (AS) (Reis et al., 2004) (1mean disease reaction class according to the
disease scale from 1 to 5 (Santos, 1997), where: 1= symptom-free plant; 2= wilt symptom-free
plant but presenting conspicuous vascular browning; 3= plant showing vascular browning
and wilt symptoms; 4= severe wilting associated with the presence of foliar necrosis and
chlorosis; 5= dead plant; 2Disease reaction classes: 1.0= similar to immune (SI); 1.1-2.0=
highly resistant (HR); 2.1-3.0= moderately resistant (MR); 3.1-4.0= susceptible (SU); 4.15.0= highly susceptible).
1
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Reação de genótipos de tomateiro às raças 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
Figura 1. Frequência de classes de reação dos 60 genótipos de tomateiro a isolados das
raças fisiológicas 2 e 3 de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, sob condições de casa de
vegetação (frequency of reaction classes of 60 tomato genotypes to Fusarium oxysporum f.
sp. lycopersici isolates from races 2 and 3 in greenhouse). Recife, UFRPE, 2008.
suscetíveis. A reação de resistência do
acesso BHRS-2,3 e das cultivares SM16 e Floradade, que possuem genes
de resistência à raça 2 do patógeno,
assemelha-se ao constatado em outros
estudos com isolados dessa raça (Juliatti
et al., 1994; Andrade et al., 2000).
Quando inoculado com o isolado
da raça 3 (FUS-89), o acesso BHRS2,3 se comportou como medianamente
resistente, enquanto as demais cultivares
Floradade, Viradoro, Santa Clara e SM16 como altamente suscetíveis. Não há
relatos da ocorrência da raça 3 em cultivos de tomate no estado de Pernambuco.
Considerando-se que a cultivar SM-16,
avaliada no presente trabalho, foi altamente suscetível a esta raça e sendo esta
vastamente cultivada por tomaticultores
no estado, uma possível introdução desta
terceira raça fisiológica de áreas infestadas, via semente, poderia ocasionar
consequências catastróficas para a tomaticultura pernambucana. Resultados
obtidos por Reis & Boiteux (2007) reforçam a possibilidade da disseminação
da raça 3 através de sementes. Estes
autores relataram a ocorrência da raça
3 em municípios no estado do Rio de
Janeiro, geograficamente isolados de
áreas infestadas do estado do Espírito
Santo, onde foi observada a primeira
ocorrência da raça 3 no Brasil.
Na avaliação da estabilidade da
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
resistência a isolados da raça 2 de F.
oxysporum f. sp. lycopersici, a linhagem
L-1 e o acesso BHRS-2,3 apresentaram
reações de alta resistência a todos os
isolados (Tabela 1). Estes resultados
sugerem que a estabilidade da resistência na linhagem L-1 em relação à raça
2 pode ter sido garantida pela herdabilidade do gene I-2, já que este mesmo
genótipo apresenta como um dos seus
genitores o acesso BHRS-2,3, possuidor
dos genes I-1, I-2 e I-3, responsáveis
pela resistência às três raças do patógeno
(Mcgrath, 1988). Estudos realizados já
identificaram reações de alta resistência
à raça 2 no acesso BHRS-2,3 (Juliatti et
al., 1994), bem como reações semelhantes à imunidade (Reis et al., 2004; Reis
et al., 2005; Reis & Boiteux, 2007).
A cultivar Santa Clara apresentou
três classes de reação distintas em
relação aos isolados da raça 2, sendo
medianamente resistente aos isolados
da CMM-1103, CMM-1106 e CMM1113, suscetível ao isolado CMM-1102
e altamente suscetível ao isolado CMM1598 (Tabela 1). A reação de resistência
mediana em Santa Clara para três dos
cincos isolados avaliados não era esperada, já que o mesmo é desprovido
do gene I-2, que confere a resistência
à raça 2 do patógeno, como verificado
por Juliatti et al (1994) e Andrade et al.
(2000). Porém, ressalta-se que mesmo
dentro de uma mesma raça fisiológica
pode ocorrer variabilidade quanto à
agressividade entre diferentes isolados,
levando desta forma a diferentes níveis
de severidade da doença (Lugo & Sanabria, 2001).
A linhagem L-1 e o acesso BHRS2,3, apesar de apresentarem reações de
alta resistência a todos isolados da raça
2, comportaram-se de forma diferenciada quando submetidos à inoculação
com isolados da raça 3 (Tabela 1). A
linhagem L-1 apresentou três classes de
reações distintas, sendo altamente resistente aos isolados FUS-116, FUS-145
e FUS-89, medianamente resistente ao
isolado FUS-94 e suscetível ao isolado
FUS-90. Apesar de apresentar algumas
plantas sintomáticas, não foram constatadas reações de alta suscetibilidade
ou suscetibilidade no acesso BHRS2,3 em relação aos isolados da raça 3,
assemelhando-se ao verificado em estudos previamente realizados no Brasil
(Reis et al., 2004; Reis et al., 2005).
Este acesso apresentou reação de alta
resistência aos isolados FUS-89 e FUS90, e resistência mediana aos isolados
FUS-145, FUS-116 e FUS-94. Reações
de suscetibilidade a alta suscetibilidade
foram constatadas na cultivar Santa Clara, sendo suscetível aos isolados FUS94, FUS-116, FUS-145 e FUS-89, e
altamente suscetível ao isolado FUS-90
(Tabela 1). A resposta de suscetibilidade
deste genótipo à raça 3 era esperada, já
que o mesmo é considerado suscetível
às raças 2 e 3 do patógeno (Santos et
al., 1993).
Uma das hipóteses mais prováveis
para a instabilidade da resistência na
linhagem L-1 seria a penetrância incompleta e/ou segregação do gene I-3 proveniente do genitor BHRS-2,3 (Scott &
Jones, 1989). Segundo Mcgrath (1988),
a possibilidade da perda de genes menores capazes de modular as respostas de
resistência através de retrocruzamentos
realizados pode elucidar as diferentes
respostas de resistência no hospedeiro,
o que poderia explicar as reações variadas de resistência e suscetibilidade na
linhagem L-1. Entretanto, mais estudos
devem ser realizados para a confirmação
desta hipótese, como foi ressaltado por
Reis et al. (2004).
Outra possível explicação para a
105
LT Souza et al.
reação de suscetibilidade na linhagem
L-1 em relação ao isolado FUS-90 e resistência mediana ao isolado FUS-94 é a
existência de diferença na agressividade
entre os isolados. Conforme destacado
por Schuman & D´Arcy (2006), a classificação em raças se baseia em reação
qualitativa, ou seja, capacidade ou não
de causar doença, mas isolados dentro
de uma mesma raça do patógeno podem variar nos níveis de agressividade,
entendendo-se agressividade como uma
reação quantitativa, na qual os isolados
podem induzir níveis de intensidade de
doença variando de baixo a elevado.
Os resultados obtidos neste trabalho
evidenciam o potencial da linhagem L-1
de tomateiro como material resistente às
raças fisiológicas 2 e 3 de F. oxysporum
f. sp. lycopersici, mas se faz necessária
a realização de estudo complementar
em nível de campo com plantas até
o estádio de frutificação para melhor
compreensão da resistência genética à
murcha-de-fusário.
AGRADECIMENTOS
Os autores expressam seus agradecimentos à Empresa Pernambucana
de Pesquisa Agronômica (IPA, Belém
de São Francisco-PE) pela doação das
sementes das linhagens utilizadas nos
experimentos, à Embrapa Hortaliças
(Brasília-DF) pelo fornecimento dos
isolados da raça 3 de F. oxysporum f. sp.
lycopersici, e ao CNPq pela concessão
das bolsas de Produtividade em Pesquisa
de Sami J. Michereff, Gaus SA Lima e
Ailton Reis.
106
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Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie
primitiva e medicinal
José Magno Q Luz1; André F Carvalho1; Denise G de Santana1; Monalisa AD Silva2
UFU–ICA, Bloco 2E, Campus Umuarama, 38400-902 Uberlândia-MG; 2UFRPE-UAST, 56900-000 Serra Talhada-PE; jmagno@
umuarama.ufu.br; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Dorstenia cayapia Vellozo (Moraceae), popularmente conhecida
por carapiá, é uma espécie primitiva do ponto de vista geológico e ao
mesmo tempo evoluída do ponto de vista de estruturas morfológicas;
com amplo uso medicinal é pouco estudada quanto à sua capacidade
reprodutiva. Diante disso, e pelo fato de Dorstenia cayapia ser uma
espécie ameaçada de extinção, o objetivo deste trabalho foi determinar
o potencial da espécie para propagação por sementes por meio de
seus atributos biológicos e tecnológicos. O experimento foi instalado
em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 3
sendo o primeiro fator correspondente à temperatura (constante em
25ºC e alternada 20-30ºC) e o segundo fator ao substrato (vermiculita, papel mata-borrão e papel de filtro), com quatro repetições de
20 sementes por parcela. O uso dos substratos vermiculita e papel
mata-borão à temperatura de 25oC aumentaram o percentual de plântulas normais e de sementes germinadas. A germinação das sementes
tornou-se mais lenta quando as sementes foram dispostas em papel
de filtro, assim como se tornaram mais assíncronas nesse substrato.
A temperatura alternada 20-30oC atrasou o início do processo de
germinação das sementes de carapiá.
Seed germination and seedling emergence of Dorstenia
cayapia: primitive and medicinal species
Palavras-chave: Dorstenia cayapia, espécie medicinal, germinação
de sementes.
Keywords: Dorstenia cayapia, medicinal species, seeds
germination.
Dorstenia cayapia Vellozo (Moraceae), popularly known as
carapiá, is a primitive species from the geological point of view but
well evolved from the point of view of morphological structures; of
large medicinal use, this plant reproductive capacity was not well
studied . Since this species is threatened with extinction, the objective
of this study was to evaluate the physiological quality of its seeds
by their biological and technological attributes. The experiment
was set up in a completely randomized design with a factorial 2x3
scheme, in which the first factor was the temperature (constant of
25ºC and alternated 20-30ºC) and the second factor was the substrate
(vermiculite, rolled paper and filter paper), with four replications of
20 seeds per plot. The use of the substrates vermiculite and rolled
paper at 25oC increased the percentage of normal seedlings and
germinated seeds. The seeds germination was slower when they
were placed on filter paper, and it was more asynchronous in this
substrate. Additionally, the alternating temperature 20-30oC delayed
the beginning of the germination of Dorstenia cayapia seeds.
(Recebido para publicação em 27 de abril de 2009; aceito em 1 de fevereiro de 2010)
(Received on April 27, 2009; accepted on February 1, 2010)
A
família Moraceae apresenta aproximadamente 61 gêneros, com mais
de 1000 espécies frequentes nas regiões
tropicais e subtropicais de todo o mundo
e menos comuns em climas temperados
(Cronquist, 1981; Joly, 1991). Da família, o gênero Dorstenia está dividido em
nove seções baseadas no habitat e nas
características morfológicas (Berg &
Hijman, 1999) e tem se distinguido dos
demais pela predominância de espécies
herbáceas (Berg, 2001; Zerega et al.,
2005).
As espécies de Dorstenia teriam
surgido no Cretáceo há cerca de 100 milhões de anos, quando a América do Sul
e a África estavam parcialmente unidas
(Carauta & Valente, 1974; McLoughin,
2001). É um gênero primitivo, sob o
ponto de vista da geologia histórica e, ao
mesmo tempo, evoluído considerandoHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
se as estruturas morfológicas, como nervação, adaptação e resistência à seca e
polinização entomófila (Carauta, 1978).
O gênero tem distribuição pantropical,
com 37 espécies no Brasil (Carauta,
1978; Carauta & Valente, 1983; Carauta & Albuquerque, 2002). São mais
conhecidas popularmente por carapiás,
embora sejam também nominadas de
caiapiá, contra-erva, tiú, figueirilha,
chupa-chupa, liga-liga, capa-homem,
conta-de-cobra, sabugo-roxo, liga-osso,
figueirinha, figueira-da-terra, dentre outros (Carauta, 1978; Lifchitz, 1981).
Em condições ecológicas favoráveis,
os carapiás florescem e frutificam todo
ano (Carauta, 1978) e têm preferência
por sub-bosques sombreados e úmidos
das florestas tropicais (Araújo et al.,
2007). Os frutos são do tipo drupa
(Granville, 1971), mas pouco se conhece
sobre o papel do exocarpo na dispersão
das espécies de carapiás (Kaufmann et
al., 1991), embora se saiba que, quando maduro, exerce pressão e ejeta o
endocarpo contendo a semente (Berg,
1977).
São numerosos os trabalhos científicos publicados sobre a composição
química e a ação medicinal dos carapiás,
principalmente pela ação das furanocumarinas em doenças de pele (Celeghini
et al., 2007), alguns de etnobotânica
(Rodrigues & Carvalho, 2001; Guarim
Neto & Morais, 2003; Oliveira et al.,
2003), apenas um de micropropagação
com uma espécie africana, Dorstenia
gigas (Krogstrup et al., 2005) e nenhum
sobre as formas de propagação dos carapiás brasileiros.
Diante disso, e pelo fato de carapiá
ser uma espécie ameaçada de extin107
JMQ Luz et al.
ção (Fahrig, 2003), o objetivo deste
trabalho foi determinar o potencial da
espécie para propagação por sementes
por meio de seus atributos biológicos e
tecnológicos.
MATERIAL E MÉTODOS
De 400 plantas de carapiá localizadas no município de Raul Soares-MG,
foram coletados em 2007, 21 cenantos
femininos (receptáculo carnoso). Desses, os frutos foram extraídos (1159
frutos), contando-se o número médio
de sementes viáveis por cenanto e o
número de frutos (drupas) por cenanto.
Após secagem à sombra e com a pressão
dos dedos foram eliminados os frutos
chochos e imaturos, restando os inteiros,
que serão referenciados como sementes,
ainda que sejam uma drupa.
Para determinação do teor de água,
as sementes foram colocadas em estufa
à temperatura de 105±3ºC por 24 horas
a partir de duas subamostras de 20 sementes. A determinação da massa de mil
sementes foi feita conforme prescrições
incluídas nas Regras para Análise de
Sementes (Brasil, 1992).
No teste de germinação, sementes
de carapiá foram dispostas segundo
delineamento experimental inteiramente
casualizado em esquema fatorial 2 x 3
sendo o primeiro fator correspondente
à temperatura (constante em 25ºC e
alternada 20-30ºC) e o segundo fator
ao substrato (vermiculita, papel mataborrão e papel de filtro), com quatro
repetições de 20 sementes por parcela.
O recipiente utilizado com vermiculita
e papel mata-borão foi caixa de plástico
(11,0 x 11 x 3,5 cm), enquanto que, com
papel de filtro, o recipiente foi a placa
de Petri.
Para testar o efeito temperatura, câmaras de germinação foram ajustadas e
equipadas com lâmpadas fluorescentes
brancas, com irradiância de 440 mW
cm-2 e fotoperíodo de 12 h de luz e 12
h de escuro. Os substratos, previamente
esterilizados, foram umedecidos com
água desionizada na proporção de 2,5
vezes a massa do substrato seco. Aos 44
dias após a instalação, o teste foi encerrado quando verificado que as sementes
ainda não germinadas mostraram-se
108
visivelmente deterioradas.
Dois critérios distintos foram aplicados na avaliação do processo, o de
plântulas normais, critério agronômico
(Brasil, 1992) e o de protrusão radicular
ou percentual de germinação, critério
fisiológico. Ainda, baseado no critério
fisiológico, foram calculados os tempos
inicial, médio e final de germinação,
velocidade de emergência e sincronia.
As expressões e autores dessas medidas
podem ser consultados em Ranal &
Santana (2006).
Todas as características foram inicialmente testadas quanto às pressuposições de normalidade dos resíduos (teste
de Shapiro-Wilk) e homogeneidade
entre as variâncias (teste de Bartlett).
Como para todas as características as
pressuposições foram atendidas, transformações de dados não foram utilizadas
e por isso a análise de variância para o
modelo fatorial foi aplicada aos dados
originais. Em função dos fatores temperatura e substrato serem qualitativos do
ponto de vista estatístico, as comparações das médias foram feitas pelo teste
de Tukey a α=0,05 de significância. Para
o estudo do comportamento da semente
ao longo do período de germinação,
gráficos de distribuição de frequência
foram construídos para cada temperatura e substrato.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As 400 plantas de carapiá analisadas,
produziram em média 55 cenantos,
sendo o número de frutos por cenanto
extremamente variável, entre 10 a 94,
com média de 55 frutos por cenanto.
Esse valor foi muito próximo à média
de 61 frutos por cenanto obtida para
plantas de Dorstenia bonijesu cultivadas
em casa de vegetação (Araújo et al.,
2007). Apesar das espécies de Dorstenia apresentarem grande produção
de frutos, esta característica, segundo
Venable (1997), não é medida confiável
do sucesso reprodutivo. Ainda segundo
o autor, a avaliação de sucesso deverá
levar em conta, além do percentual de
germinação, a porcentagem de plântulas
normais. O peso de mil sementes estimado foi de 1,724 g, com teor de água,
em média, de 6,5%.
De maneira geral, as sementes foram
mais rápidas para iniciar o processo de
germinação (to) em temperatura constante de 25oC, embora quando semeadas
sobre papel mata-borão tenham sido
indiferentes à temperatura (Tabela 1). As
sementes demoraram mais para iniciar a
germinação (23 dias) quando dispostas
em papel de filtro e em temperatura
alternada. Quanto ao tempo médio, as
sementes foram indiferentes à temperatura, com exceção da semeadura sobre
papel de filtro que além de aumentar o
tempo médio em relação aos demais
substratos, exigiu menor tempo médio
em temperatura alternada 20-30oC.
As temperaturas e os substratos utilizados não afetaram o tempo final de germinação das sementes, que variou entre
28 e 30 dias (Tabela 2). A temperatura
constante de 25oC estimulou de forma
semelhante o percentual de germinação
das sementes (critério fisiológico) e de
plântulas normais, em relação à temperatura alternada (Tabela 1). Em revisão
sobre a temperatura ótima para a germinação de sementes de espécies da família Moraceae, Brancalion et al. (2007)
encontraram temperaturas constantes
de 25ºC para Brosimum gaudichaudii,
25, 30 e 35ºC para Brosimum rubescens, 30ºC para Clarisia racemosa, 25
e 30ºC para Helicostylis tomentosa e
20, 25 e 30ºC para Maclura tinctoria.
Isso indica que espécies da família não
respondem à alternância de temperatura.
Soma-se a isso, o fato de D. cayapia,
habitar locais sombreados (Araújo et
al., 2007), ou mesmo microhabitats
ciliares como Dorstenia asarioides
(Lima et al., 2007), onde possivelmente
as oscilações de temperatura sejam mínimas. Ausência de plântulas normais
em temperaturas alternadas (Tabela 2)
reforça essa constatação.
Valores de velocidade de emergência (VE) abaixo de 1, indicam que em
média o número de plântulas por dia é
baixo e por vezes nenhuma germinação
é observada (Tabela 2). Como reflexo,
a sincronia (Z) de germinação das sementes é baixa. A falta de sincronia na
germinação parece ser característica
comum entre espécies florestais, sejam
elas arbóreas, sub-arbóreas ou arbustivas, para evitar que toda a produção de
sementes fique concentrada num curto
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Germinação de sementes e emergência de plântulas de carapiá: espécie primitiva e medicinal
Tabela 1. Tempos inicial e médio de germinação de sementes de carapiá (initial and average
time to the beginning of carapiá seeds germination). Uberlândia, UFU, 2008.
to (dia)
Temperatura (oC)
25
20-30 média
Vermiculita
14,2 aA 17,2 aB 15,7
Papel mata-borão 14,8 aA 15,8 aA 15,3
Papel de filtro
15,8 aB 22,0 bA 18,9
média
14,9
18,3
Substrato
t (dia)
Temperatura (oC)
25
20-30 média
20,2 aA 19,8 aA 20,0
21,4 aA 19,5 aA 20,5
25,7 bB 20,6 aA
22,4
20,0
DMStemperatura
2,47
0,98
DMSsubstrato
2,99
3,48
to= tempo inicial de germinação;
ning of germination;
t
t
= tempo médio de germinação (to= initial time to begin-
= average time to beginning of germination).
Tabela 2. Medidas de germinação e de plântulas normais de carapiá (Dorstenia cayapia)
submetidas a diferentes substratos e temperaturas de incubação (germination periods of
carapiá seeds in relation to different substrates and incubation temperatures). Uberlândia,
UFU, 2008.
VE
(plânt. dia-1)
0,459 a
0,308 b
Temperatura (oC)
tf (dia)
G (%)
P (%)
25
20-30
29,60 a
27,93 a
42,33 a
31,67 b
41,60 a
0,00 b
4,17
8,15
9,23
0,083
0,055
29,10 a
29,10 a
28,10 a
42,50 a
52,00 a
16,50 b
25,00 a
37,00 a
0,00 b
0,453 a
0,536 a
0,159 b
0,148 a
0,103 ab
0,032 b
6,19
12,09
18,21
0,123
0,082
DMStemperatura
Substrato
Vermiculita
Papel mata-borão
Papel de filtro
DMSsubstrato
Z
0,080 a
0,108 a
tf= ; G= ; P= ; VE= ; Z= sincronia de germinação
período de tempo. Apesar das dorstênias
serem de um gênero de predominância
de espécies herbáceas, o gênero evolui
de uma família (Moraceae) de gêneros
em sua totalidade arbóreos ou arbustivos, como o Ficus, Morus, Artocarpus,
Brosimum e Cecropia (Barth, 1976).
Fatores genéticos e ambientais
podem afetar a uniformidade e a sincronia de germinação. A protoginia,
que é processo de amadurecimento dos
frutos a partir de flores pistiladas antes
das estaminadas, comuns em espécies de
Dorstenia (Carauta, 1978; Berg, 2001),
podem produzir sementes com graus
diferentes de maturação e consequentemente irregularidade no processo de
germinação.
Com exceção do tempo final, o uso
de papel de filtro reduziu a capacidade
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
de germinação das sementes, de plântulas normais, além da velocidade de
emergência das plântulas e sincronia.
Como Dorstenia cayapia é espécie umbrófila ou semi-umbrófila de ocorrência
em solos arenosos (Carauta, 1978), provavelmente a retenção excessiva de água
do papel de filtro afetou negativamente
o processo de germinação e emergência
das plântulas.
As distribuições de frequência indicam que a semeadura sob vermiculita e
papel de filtro de sementes de carapiá
à temperatura alternada (20-30 o C)
atrasou o início do processo de germinação das sementes, sendo que no papel
mata-borão, o início da germinação foi
indiferente à temperatura (Figura 1).
Maiores picos de germinação foram
observados em temperaturas alternadas
(20-30oC), principalmente para a vermiculita e papel de filtro, com tendência da
germinação ficar concentrada próxima
ao pico. Sob temperaturas constantes,
embora não apresentassem altos picos,
a germinação se prolongou ao longo do
tempo de observação.
As frequências com vários picos,
independente da temperatura e do
substrato, indicam distribuição não
normal às sementes de carapiá. Essa
característica implica em germinação
incerta (Labouriau & Valadares, 1976;
Labouriau, 1983), típica de espécies
não melhoradas. Este comportamento
pode ser importante para a manutenção
de suas sementes do banco no solo
(Garwood, 1989).
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JMQ Luz et al.
30
25
25
20
20
15
10
30
Frequencia relativa
30
5
15
10
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0
45
vermiculita a 20-30oC
25
20
15
10
5
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0
45
0
papel mata-borrão a 20-30oC
30
25
25
25
20
20
15
10
15
10
5
5
0
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
T em po de germinação (dias)
Frequencia relativa
30
20
5
10
15
20
25
30
35
40
45
40
45
papel de filtro a 20-30oC
30
Frequencia relativa
Frequencia relativa
papel de filtro a 25oC
papel mata-borrão a 25oC
Frequencia relativa
Frequencia relativa
vermiculita a 25oC
15
10
5
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Tempo de germinação (dias)
0
5
10
15
20
25
30
35
T em po d e germinação (d ias)
Figura 1. Distribuições de frequência relativa à germinação de sementes de carapiá (Dorstenia cayapia) submetidas a diferentes substratos
para semeadura (vermiculita, papel mata-borão, papel de filtro) e temperaturas de incubação (25oC e alternada 20-30oC) (Frequency distribution
from the germination of carapiá seeds submitted to various substrata(vermiculite, rolled paper and filter paper)). Uberlândia, UFU, 2008.
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adubação orgânica. Horticultura Brasileira 28: 111-114.
Produção de biomassa e teor do óleo essencial de cidrão em função da
adubação orgânica
Renata da S Brant1; José Eduardo BP Pinto2; Suzan KV Bertolucci2; Carlos Juliano B Albuquerque3
Universidade Estadual de Montes Claros-Depto.Ciências Agrárias, C. Postal 91, 39440-000 Janaúba-MG; 2UFLA-Depto.Agricultura, C.
Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; 3EPAMIG-Centro Tecnológico do Norte de Minas Gerais, C. Postal 12, 39525-000 Nova PorteirinhaMG; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Objetivou-se com a realização deste trabalho avaliar a influência da adubação orgânica na produção de massa e no teor do óleo
essencial de Aloysia triphylla (L´Hérit) Britton. O experimento foi
conduzido em casa de vegetação e foram aplicadas cinco doses de
esterco bovino curtido: 0, 3, 6, 9 e 12 kg m-2, com quatro vasos por
repetição, dispostos em delineamento inteiramente casualizado. Após
198 dias de cultivo, foi realizada a secagem em estufa e extração
por hidrodestilação do óleo essencial a partir de folhas secas, em
Clevenger modificado. As plantas de A. triphylla crescidas com 12
kg m-2 de esterco bovino tiveram maior rendimento de massa. Maior
teor de óleo essencial foi verificado nas plantas crescidas com 9 kg
m-2 de esterco bovino.
Biomass production and essential oil content of lemon verbena
in response to organic manure application
Palavras-chave: Aloysia triphylla, planta medicinal, matéria seca.
Keywords: Aloysia triphylla, medicinal plant, dry matter.
This work evaluated the influence of organic manure in biomass
production and in essential oil content of Aloysia triphylla (L´Hérit)
Britton. Plants growing under greenhouse received five tanned cattle
manure rates: 0, 3, 6, 9 and 12 kg m-2 with four pots per replication,
in randomized complete design. After 198 days of growth, plants
were dried and the essential oil was extracted from leaves by the
Clevenger’s modified apparatus. The highest biomass was presented
by plants cultivated with 12 kg m-2 and the highest oil yield was
obtained from A. triphylla treated with 9 kg m-2 of cattle manure.
(Recebido para publicação em 5 de janeiro de 2009; aceito em 23 de dezembro de 2009)
(Received on January 5, 2009; accepted on December 23, 2009)
A
loysia triphylla (L´Hérit) Britton
(Verbenaceae) é conhecida popularmente como cidrão, limonete e possui
a sinonímia científica Lippia citriodora.
Possui de 2 a 3 metros de altura, nativa
da América do Sul, provavelmente do
Chile e cultivada no sul do Brasil. É
adstringente e aromática, rica em óleo
volátil, que age como sedativo brando.
Suas folhas são utilizadas internamente
contra resfriados febris, como estimulante, tônico, antiespasmódico, carminativo, eupéptico e calmante. Também
é usada para tratamento de melancolia,
afecções do coração e histeria (Lorenzi
& Matos, 2002).
Análises fitoquímicas das folhas de
cidrão revelaram a presença predominante de citral, além de limoneno, citroneol, geraniol, alfa e beta pineno, cineol,
etil-eugenol, linalol e outros. Suas folhas
retêm o aroma de citral, mesmo após a
secagem, o que a torna um componente
indispensável nos potpourris, muito
empregados para aromatizar residências
na Europa. (Lorenzi & Matos, 2002).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Além do uso como aromatizante, o
citral é empregado na síntese de ionona
(perfume da violeta), beta-caroteno e
vitamina A (Czepak, 2003).
Na dinâmica de crescimento e desenvolvimento em seu ciclo fenológico, as
plantas medicinais e aromáticas podem
apresentar alterações bioquímicas e fisiológicas capazes de afetar a elaboração
dos princípios ativos, tanto no aspecto
quantitativo quanto qualitativo (Taiz &
Zeiger, 2004). Estas alterações ocorrem
devido à influência de fatores intrínsecos
e extrínsecos. Alguns autores os classificam em fatores genotípicos (indivíduo,
populações, etc.), fatores fisiológicos
(estádios de desenvolvimento, ritmo
estacional, rotas metabólicas alternativas, hormônios e estádio reprodutivo),
fatores fitotécnicos (como adubações,
densidades de plantio, consorciamento,
etc.) e fator ecológico (pressões de variações no clima, solos, competidores,
entre outros) (Dey & Harborne, 1997;
Simões et al., 1999; Hook et al., 1999;
Martins et al., 2000; Morvillo & Gil,
2004).
Técnicas de cultivo podem ser empregadas na maximização da produção
de princípios ativos e a adubação orgânica representa uma boa opção (Pinto &
Bertolucci, 2002). A adubação orgânica
exerce efeitos importantes nas propriedades químicas, físicas e biológicas do
solo como o fornecimento de macro e
micronutrientes, aumento da capacidade de troca catiônica (CTC), aumenta
o poder tampão do solo, melhoria nas
condições de infiltração e aeração,
aumento da presença e da atividade
dos microrganismos no solo (Ribeiro
et al., 1999).
As respostas das espécies medicinais
à adubação orgânica no rendimento de
fitomassa e teores de princípios ativos
são variáveis e, até o momento, não
existe definição da dose de adubos
recomendados no cultivo de Aloysia
triphylla. O trabalho teve como objetivo
avaliar a influência da adubação orgânica na produção de massa seca e no teor
do óleo essencial de Aloysia triphylla
111
RS Brant et al.
(L´Hérit) Britton.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no município de Lavras (21º 14’ S; 45º 00’;
919 m de altitude) que está situado na
região Sul do estado de Minas Gerais e
realizado de novembro de 2002 a maio
de 2003.
A identificação botânica da A. triphylla (L´Hérit) Britton foi efetuada
pelo professor Manuel Losada Gavilanes, do Departamento de Biologia
da Universidade Federal de Lavras
(UFLA). Exsicatas foram depositadas
no Herbário ESAL do Departamento
de Biologia da UFLA, sob o registro
nº 19677.
As mudas foram obtidas por estaquia
a partir de planta matriz. Microestacas
apicais de 5 cm de comprimento e 2 mm
de diâmetro foram postas para enraizar
em bandejas de poliestireno expandido
de 72 células, contendo o substrato comercial Plantmax®.
Mudas de 12 cm de altura foram
transplantadas em vasos de 10 L contendo substrato. A análise química do
solo resultou: pH em água = 5,7; P e K
disponíveis = 0,4 e 11 mg dm-3; Ca, Mg,
H+Al, Al, soma de bases, capacidade de
troca catiônica efetiva e pH = 7,0; 1,3;
0,5; 1,9; 0,0; 1,8; 1,8 e 3,7 cmol dm-3,
respectivamente; índice de saturação por
bases e índice de saturação de alumínio
= 49,1% e 0%; M.O.= 0,8 dag kg-1; P
remanescente= 1,3 mg L-1; Zn, Fe, Mn,
Cu, B e S = 1,0; 38,6; 12,7; 2,7; 0,2 e 4,5
cmol dm-3. A composição física do solo
foi: 19% de areia, 12% de silte e 69%
de argila, e, classificado como sendo de
textura muito argilosa.
Com base nesses resultados verificou-se a necessidade de elevar a
saturação de bases de 49,1% para 60%,
por meio da aplicação de calcário, após
realizados cálculos de necessidade de
calagem (NC).
Foram estabelecidos cinco tratamentos e quatro repetições, sendo cada
parcela composta de quatro vasos (uma
planta por vaso). Os cinco tratamentos
utilizados foram: 0, 3, 6, 9 e 12 kg m-2
de esterco bovino curtido. A análise
química do esterco bovino resultou:
pH CaCl2 0,01M (Ref. 1:5)= 8,3; den112
sidade (g cm-3)= 0,53; umidade perdida
a 60-65°C= 57,93%; umidade perdida
entre 65 e 110° C= 1,81%; umidade
total= 59,71; materiais inertes= 0%.
resultados a base seca – 110°C: N total= 2,07%; M.O. total (combustão)=
61,10; M.O. compostável (titulação)=
41,82%; M.O. resistente à compostagem= 19,28; C total (orgânico e mineral)= 33,94%; C orgânico= 23,23%;
resíduo mineral total= 2,07%; resíduo
mineral insolúvel= 16,91%; resíduo
mineral solúvel= 22,71%; relação C/N
(C total e N total)= 16/1; relação C/N
(C orgânico e N total)= 11/1; P (P2O5
total)= 0,96%; K (K2O total)= 6,29%;
Ca total= 3,69%; Mg total= 0,99%; S
total= 0,46%; B total= 42 mg kg-1; Cu
total= 54 mg kg-1; Fe total= 19.965 mg
kg-1; Mn total= 554 mg kg-1; Zn total= 90
mg kg-1; Na total= 4277 mg kg-1. Resultados umidade natural: N total= 0,87% ;
M.O. total (combustão)= 25,82%; M.O.
compostável (titulação)= 17,67%; M.O.
resistente à compostagem= 8,15%; C
total (orgânico e mineral)= 14,34%; C
orgânico= 9,82%; resíduo mineral total=
16,74%; resíduo mineral nsolúvel=
7,15%; resíduo mineral solúvel= 9,59%;
relação C/N (C total e N total)= 16/1;
relação C/N (C orgânico e N total)=
11/1; P (P2O5 total)= 0,41%; K (K2O
total)= 2,66%; Ca total= 1,56%; Mg total= 0,42%; S total= 0,19%; B total= 18
mg kg-1; Cu total= 23 mg kg-1; Fe total=
8437 mg kg-1; Mn total= 234 mg kg-1;
Zn total= 38 mg kg-1; Na total= 1807
mg kg-1. As plantas foram irrigadas três
vezes por semana.
Após 198 dias de cultivo, as plantas
foram colhidas no período da manhã,
destacando-se as folhas dos caules e ambos colocados em estufa de circulação
forçada de ar a 35ºC, enquanto as raízes
foram lavadas e após retirada a umidade
excessiva foram também conduzidas à
estufa a 60ºC até peso constante.
As variáveis de crescimento avaliadas foram massa (g) seca de parte aérea
total, de raízes, de folhas e de caules.
Para a extração do óleo essencial,
as plantas foram submetidas a uma
triagem, selecionando-se apenas as
folhas sadias.
Para o tratamento de 0 kg m-2 de
esterco bovino curtido foi utilizado 10 g,
pois o material vegetal obtido foi insu-
ficiente. Para os demais tratamentos foi
feita uma correlação entre a massa fresca
(40 g, padrão utilizado pelo laboratório)
e seca em estufa e, assim, foram utilizados seis repetições de 14,63 g de folhas
secas em estufa por repetição.
As folhas secas foram colocadas em
balão volumétrico de 1.000 mL acrescentado de 700 mL de água destilada,
de forma que o material vegetal ficou
completamente imerso e submetidos
à técnica de hidrodestilação utilizando
Clevenger modificado, por 90 minutos.
O hidrolato obtido de cada hidrodestilação foi então, submetido à partição
líquido-líquido em funil de separação,
com três porções de 25 mL de diclorometano. As frações orgânicas de cada
repetição foram reunidas e secas com
três gramas de sulfato de magnésio
anidro. O sal foi removido por filtração
simples. O solvente foi evaporado à
temperatura ambiente, em capela de
exaustão de gases, até peso constante,
obtendo-se assim, o óleo essencial purificado. A partir da massa obtida, o teor
foi calculado pela fórmula:
T% = Massa do óleo (g) / 14,63g x 100
A análise estatística dos dados
obtidos foi realizada pelo programa
SANEST (Zonta & Machado, 1984). As
médias dos tratamentos foram submetidas à análise de variância pelo teste de
F e à análise de regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aplicação de 12 kg m-2 de esterco
bovino curtido resultou na maior produção de massa seca de folhas, caule e
raiz (Figura 1).
As dosagens de esterco bovino
proporcionaram correlação positiva
com a massa seca da parte aérea total
e das raízes, indicando boa resposta de
Aloysia triphylla à adubação orgânica
(Figura 1). Isto ocorreu, provavelmente,
devido ao solo utilizado ser muito pobre
em macronutrientes, sendo necessária
adição de grande quantidade de fertilizante orgânico para uma maior produção
de massa seca.
À medida que aumentou a quantidade de esterco bovino houve ganho
de massa em A. triphylla, com um
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Produção de biomassa e teor do óleo essencial de cidrão em função da adubação orgânica
P.A.
Raízes
y = 2,2667x + 6,2
R² = 0,99
y = 1,51x + 10,25
R² = 0,99
0
3
Folhas
y = 0,7417x + 3,1
R² = 0,99
Caules
2
y = -0,0496x + 2,103x + 2,657
R² = 0,98
Massa seca (gramas)
35
30
25
20
15
10
5
0
6
9
-2
Doses de esterco bovino (kg m )
12
Figura 1. Massa seca das partes aéreas, raízes, folhas e caules de Aloysia triphylla, cultivada
em diferentes doses de esterco bovino curtido (canopy, roots, leaves and stems dry matter
of Aloysia triphylla, cultivated in differents tanned cattle manure rates). Lavras, UFLA,
2003.
Figura 2. Teores de óleo essencial de folhas secas de Aloysia triphylla cultivada em
diferentes doses de esterco bovino curtido (essential oil content of Aloysia triphylla dry
leaves cultivated in differents tanned cattle manure rates.) Lavras, UFLA, 2003.
incremento de 406% na massa de parte
aérea e 186% na massa de raízes, entre
os tratamentos mínimo e máximo (0 kg
m-2 de esterco bovino: 6,65 g de parte
aérea e 9,88 g de raízes; 12 kg m-2 de
esterco bovino: 33,64 g de parte aérea e
28,24 g de raízes). Um substrato muito
argiloso, como o utilizado nesse trabalho
dificulta o crescimento radicular. Assim,
além de ter menor massa, as raízes
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
terão menos superfície de contato, por
explorarem área menor, o que impossibilita a absorção de nutrientes do solo.
As doses crescentes de esterco bovino
adicionadas ao substrato promoveram
melhor estruturação do solo e, consequentemente, melhor desenvolvimento
das plantas de A. triphylla.
Houve ajuste quadrático para caules
enquanto que para folhas, parte aérea
e raiz o ajuste foi linear. Isso indicou
que o aumento na produção de folhas
à medida que acresceu-se as doses foi
maior que o incremento de caules, e
assim, originou maior massa foliar em
doses elevadas (Figura 1). Resultados
similares foram obtidos por Ferreira
(2003) no qual doses crescentes de 0 a
6 kg m-2 de esterco bovino proporcionaram aumento de massa seca total em
Catharanthus roseus (L.).
Tais resultados vão ao encontro com
os relatados de Ribeiro et al. (1999) e
Silva (1997), que verificaram efeitos
benéficos da incorporação de esterco
bovino ao substrato de cultivo, pois,
promoveram a melhoria física do solo
e, consequentemente, contribuiu para o
crescimento e desenvolvimento de um
sistema radicular mais vigoroso, com
maior eficiência de exploração edáfica
e maior disponibilização de nutrientes
resultando em uma parte aérea mais
desenvolvida.
Pela análise de regressão concluiu-se
que houve aumento nos teores de óleo
essencial nas folhas secas de A. triphylla
até a dose de 9 kg m-2 de esterco bovino,
caracterizado como pico de produção.
Os teores de óleo essencial apresentaram
ajuste cúbico, destacando a dose de 12
kg m-2 de esterco bovino, que apresentou
menor teor médio de óleo em relação às
folhas tratadas com 6 kg m-2 e 9 kg m-2
(Figura 2) e maior rendimento de massa
seca (Figura 1). Isto pode ter ocorrido
por um efeito de diluição, pois, quando
ocorreu incremento de massa de A. triphylla, os teores de óleo essencial em
folhas e flores diminuíram, conforme
verificado por Gil et al. (2003). Similarmente, Scheffer (1998) observou que
houve um aumento na massa de Achillea
millefolium L. (mil-folhas) e no rendimento de óleo essencial, acrescendo-se
as doses de adubo até a dose de 3 kg m-2
de adubo orgânico. Doses superiores
causaram, por outro lado, queda nas
produções do óleo essencial.
Chaves et al. (2002), estudando
o crescimento de Lippia sidiodes
(alecrim-pimenta), em substratos com
0; 1,5; 3,0; 4,5 e 6,0 kg m-2 de esterco
de aves observaram que, à medida que
se aumentou a dose do adubo orgânico,
houve maior produção de massa seca,
similarmente ao verificado nesse estudo.
113
RS Brant et al.
Por outro lado, o maior rendimento de
óleo essencial encontrado foi na dose de
1,5 kg m-2 de esterco de aves.
Verificou-se menor teor médio de
óleo essencial na ausência de adubação
com esterco bovino e assim, inferiu-se
que a utilização de esterco bovino favoreceu a produção de óleo essencial para
a espécie estudada. Porém, há espécies
que não respondem bem à adubação
orgânica em relação à produção de óleo
(Correa Júnior et al., 1994), como, por
exemplo, a Baccharis trimera (carqueja)
que produz maior teor de óleo essencial
na ausência do adubo (Silva, 2001).
A aplicação de 3 a 5 kg m-2 de esterco
bovino é recomendada para a produção
de massa de cada espécie medicinal
(Pinto & Bertolucci, 2002). Entretanto,
para A. triphylla verificou-se que a dose
de 9 kg m-2 de esterco bovino apresentou
alta produção de massa seca e teor de
óleo essencial.
Assim, a dose de 12 kg m-2 de esterco
bovino proporcionou maior ganho de
massa seca e a dose de 9 kg m-2 de esterco bovino maior teor de óleo essencial
de A. triphylla.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, FAPEMIG e CAPES pelo
apoio financeiro.
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Beatriz Cristina B de Almeida Monteiro; Hamilton César de O Charlo; Leila T Braz
UNESP-FCAV, Depto. Prod. Vegetal, Rod. Prof. Paulo Donato Castellane s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Instalou-se um experimento, em campo aberto, com o objetivo
de comparar o desempenho de oito híbridos de couve-flor de verão.
Adotou-se o delineamento em blocos casualizados, com oito tratamentos e quatro repetições. A parcela experimental de 14 m² constou
de 28 plantas distribuídas no espaçamento de 1,0 m entre linhas
e 0,5 m entre plantas. Foram avaliados os híbridos de couve-flor:
TPX00123, TPC00218, Sarah AF-1169, Sharon, Snow-Flake, FirstSnow, Veneza e Verona. As adubações de cobertura foram realizadas
com 10,5 kg de sulfato de amônio e 2,8 kg de cloreto de potássio,
aplicados aos 15, 30, 45 e 60 dias após o transplante das mudas.
A colheita das cabeças foi realizada quando começaram a atingir
o ponto ideal de colheita com cabeças compactas e botões florais
ainda unidos. Os híbridos TPC00218 e TPX00123 mostraram-se
promissores, com produtividades comerciais de 23,8 e 23,2 t ha-1,
respectivamente. O híbrido First-Snow possui baixo desenvolvimento
de plantas e boa produtividade, podendo ser cultivado mais adensado.
O híbrido Snow-Flake foi o que obteve menor produtividade, não
sendo recomendado para plantio na região de Jaboticabal. Todos os
híbridos testados apresentaram produção classificada na categoria
extra e na classe 8 (maiores que 230 mm).
Performance of hybrids of cauliflower for summer season,
in Jaboticabal, Brazil
Palavras-chave: Brassica oleracea var. botrytis, adaptabilidade,
produtividade.
Keywords: Brassica oleracea var. botrytis, adaptability,
productivity.
The experiment was installed in field and aimed to compare the
performance of eight hybrids of summer cauliflower. The statistical
design was the randomized blocks with eight treatments and four
replicates. The experimental plot measured 14 m², with 28 plants of
cauliflower spacing 1.0 m between rows and 0.5 m between plants.
It was considered for evaluation 10 plants of the two central rows
of each plot and the following hybrids of cauliflower: TPX00123,
TPC00218, Sarah AF-1169, Sharon, Snow-Flake, First-Snow, Veneza
and Verona. Top-dressing was carried out with 10,5 kg of ammonium
sulfate and 2,8 kg of potassium chloride, applied at 15, 30, 45 and
60 days after the seedlings transplantation. The cauliflowers were
harvested at the ideal moment, with compact heads and united
flower buds. The hybrids TPC00218 and TPX00123 were promising,
with commercial productivity of 23.8 and 23.2 t ha-1, respectively.
The hybrid First-Snow presented low plant development and good
productivity, so it can be cultivated with smaller spacing among
plants. The hybrid Snow-Flake presented the lowest productivity,
so it is not recommended for the region of Jaboticabal. All tested
hybrids had its production classified as “extra” and class 8 (greater
than 230 mm).
(Recebido para publicação em 25 de setembro de 2008; aceito em 10 de dezembro de 2009)
(Received on September 25, 2008; accepted on December 10, 2009)
A
produção de hortaliças pode gerar
retornos econômicos e terapêuticos,
porém, exige um intenso envolvimento
de capital, trabalho qualificado e conhecimentos. É uma atividade que integra
o agronegócio e envolve diversos setores da cadeia produtiva, devendo-se
produzir com preços competitivos, alta
qualidade e constância (Fontes, 2005).
No estado de São Paulo, a couveflor está entre as quinze hortaliças mais
produzidas (May et al., 2007), portanto,
o seu valor econômico é bastante expressivo. Essa olerícola tem grande importância, particularmente, para os agricultores familiares que, em geral, cultivam
pequenas áreas ao longo do ano. Nesse
caso, o fato de ser bastante exigente em
mão-de-obra, principalmente, na fase
de colheita, não se constitui embaraço,
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
sendo considerada uma cultura lucrativa
(May et al., 2007).
A couve-flor é uma planta exigente
em relação às condições climáticas,
sendo originária de regiões de clima
temperado ameno e bienal. Devido a
essa exigência em baixa temperatura,
seu cultivo era restrito a regiões de temperaturas mais amenas (Blanco et al.,
1997). Mais recentemente, através do
melhoramento genético houve desenvolvimento de híbridos de couve-flor que
podem ser cultivados em condições de
clima mais quente, permitindo a produção durante todo o ano (Filgueira, 2003).
Entretanto, a sensibilidade das cultivares
à temperatura é bastante variável. Desse
modo, estudos relacionados a tolerância
das novas cultivares às condições das
diferentes regiões, são importantes sob
pena do olericultor não obter colheita
ou produto adequado às necessidades
do mercado.
O plantio de cultivares de inverno em condições de alta temperatura
pode ocasionar o não florescimento da
planta, ou cabeças semivegetativas, de
coloração esverdeada e intercalada por
folíolos, impróprias para comercialização. Segundo Freitas (1995), é de grande
importância a escolha de cultivares
adaptadas às diferentes condições de
cultivo, que apresentem produtividade
elevada, qualidade e ainda que ofereçam
baixo custo de produção, considerando
a duração do ciclo produtivo específico
de cada uma.
Assim, o presente trabalho teve
por objetivo avaliar o desempenho de
híbridos de couve-flor de verão, em
115
BCBA Monteiro et al.
Jaboticabal - SP.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido entre
01/02/07 e 03/06/07, no Câmpus de Jaboticabal da UNESP, cujas coordenadas
geográficas são 21° 14’ 05” Latitude Sul,
48° 17’ 09” Longitude Oeste e altitude
de 614 m. O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw com transição para Cwa (VOLPE1). O solo da área
experimental é do tipo, (LR) Latossolo
Roxo Eutrófico, A moderado, textura
muito argilosa, caulinítico, hipoférrico,
relevo suave ondulado ou ondulado
(Andrioli & Centurion, 1999).
O delineamento experimental adotado foi de blocos casualizados, com
oito tratamentos (híbridos) e quatro
repetições. Os tratamentos foram representados por oito híbridos de couve-flor
(TPX00123 e TPC00218 (Agristar do
Brasil); Sarah AF-1169 e Sharon (Sakata
Seed Sudamerica); Snow-Flake e FirstSnow (ISLA Sementes); Veneza e Verona (Seminis)). A parcela experimental
tinha 14 m², constando de 28 plantas de
couve-flor distribuídas no espaçamento
definido de 1,0 m entre linhas e 0,5 m
entre plantas. Foram consideradas para
avaliação 10 plantas das duas linhas
centrais de cada parcela.
Para a instalação do experimento, o
solo foi amostrado na profundidade de
0-0,20 m. Sua análise química revelou:
pH em CaCl2= 5,3; MO=18,0 g dm-3;
P-resina= 64,0 mg dm-3; K= 3,1 mmolc
dm-3; Ca= 62,0 mmolc dm-3; Mg= 30,0
mmolc dm-3; H+Al= 22,0 mmolc dm-3;
SB= 70,1 mmolc dm-3; T= 99,6 mmolc
dm-3; V%= 67. Com base na análise da
fertilidade do solo e na recomendação
de Trani & Raij (1997), procedeu-se a
correção do solo com calcário para elevar a saturação de bases (V%) a 80% e
o teor de magnésio a um mínimo de 9
mmolc.dm-3. O calcário foi aplicado em
área total e incorporado por meio de
aração e gradagem.
A adubação de plantio, também
de acordo com Trani & Raij (1997),
correspondeu à aplicação de 300 kg
ha-1 de sulfato de amônio, 1100 kg ha-1
1
superfosfato simples, 215 kg ha-1 cloreto
de potássio, e 3 kg ha-1 de B, como fonte
Bórax, em solo anteriormente preparado
(aração e gradagem).
As adubações de cobertura foram
feitas de acordo com as doses recomendadas por Trani & Raij (1997),
equivalentes a 600 kg ha-1 de sulfato de
amônio misturado a 160 kg ha-1 de cloreto de potássio, o que correspondeu a
aproximadamente 9,5 g planta-1 da mistura. Foi aplicado 2,4 g da mistura aos
15, 30, 45 e 60 dias após o transplantio
das mudas.
Para a formação das mudas, utilizouse o sistema de semeadura em bandejas.
As sementes dos híbridos de couveflor foram semeadas em 01/02/07 em
bandejas de poliestireno expandido,
com capacidade para 128 células,
com substrato Plantmax Hortaliças,
colocando-se uma semente por célula,
sendo a irrigação feita automaticamente
por microaspersão.
O transplante foi realizado aos 37
dias após a semeadura, quando as plântulas apresentavam quatro a cinco folhas
definitivas. Para o controle de pragas e
doenças foram utilizados inseticidas e
fungicidas recomendados para a cultura,
de acordo com a ocorrência do agente,
inseto ou patógeno na área experimental,
adotando-se a dose recomendada pelo
fabricante.
O controle de plantas invasoras foi
feito com capina manual. As irrigações
foram feitas durante todo o ciclo da
cultura e em complementação às chuvas. Utilizou-se o sistema de aspersão
convencional.
A colheita foi realizada à medida que
as cabeças começaram a atingir o ponto
ideal de colheita, isto é, cabeças compactas com botões florais ainda unidos.
Iniciou aos 91 dias após a semeadura e
se estendeu por mais 30 dias. As plantas
centrais de cada parcela foram mensuradas ainda em campo, antes da colheita,
quanto ao diâmetro da planta na linha e
na entrelinha (cm) e precocidade média
(dias da semeadura até a colheita). Após
a colheita, foram levadas ao laboratório
para avaliações de massa (g), altura
(cm), diâmetro (cm) e diâmetro do caule
(cm) e calculada a produtividade média
estimada por hectare (kg ha-1).
A classificação das cabeças foi feita
por tamanho e qualidade ( Programa
Horti & Fruti Padrão, 1999), Para esta
classificação observaram-se os parâmetros de classificação por diâmetro
transversal das inflorescências, com
oito classes de produto e classificação
por qualidade ou categoria da couveflor sendo mensurada pela ocorrência
de defeitos graves e leves, associados à
tonalidade de coloração.
Para a caracterização da tonalidade
considerou-se a variação da coloração,
sendo a branca caracterizada pela predominância absoluta da cor branca, a creme pela coloração creme, em qualquer
proporção e a amarela pela cor amarela,
em qualquer proporção. As tonalidades
de inflorescências usadas na classificação comercial de couve-flor para
definição do tipo ou categoria foram as
cores branca, creme e amarela.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância (teste F) e as médias comparadas pelo teste de Tukey,
segundo o delineamento proposto,
utilizando-se o programa estatístico
Estat (UNESP, Jaboticabal-SP).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1, são apresentadas as
médias do diâmetro da planta na linha,
diâmetro da planta na entrelinha, diâmetro do caule e precocidade média de oito
híbridos de couve-flor de verão. Para
todas as características avaliadas, foram
observadas diferenças estatísticas significativas entre os híbridos avaliados.
Para o diâmetro da planta na linha
verificou-se que os híbridos Verona e
Sharon apresentaram as maiores médias
para esta característica, com 97,07 e
95,30 cm, respectivamente, não diferindo estatisticamente apenas do híbrido
TPX 00123 (88,40 cm). Observa-se que
estes híbridos tiveram maior desenvolvimento e que o espaçamento adotado
de 50 cm entre plantas pode ter sido
insuficiente para que as cultivares expressassem seu potencial produtivo, pois
pode ter ocorrido competição entre as
VOLPE CA. UNESP-FCAV, Câmpus de Jaboticabal) Comunicação pessoal, 2005.
116
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal
Tabela 1. Médias do diâmetro da planta na linha (DPL), diâmetro da planta na entrelinha
(DPT), diâmetro do caule (DC) e precocidade média (PM) de oito híbridos de couve-flor de
verão (means of diameter of plants in the row, diameter of plants in inter-row, diameter of stem
and mean precocity in eight hybrids of Summer cauliflower). Jaboticabal, UNESP, 2007.
Híbridos
Snow-Flake
First-Snow
TPX 00123
TPC 00218
Sharon
Veneza
Verona
Sarah
Teste F
DMS (Tukey, 5%)
CV (%)
DPL (cm)
71,37 cd
67,40 d
88,40 ab
80,71 bc
95,30 a
80,82 bc
97,07 a
71,50 cd
22,43 **
11,2496
5,81
DPT (cm)
90,55 e
97,75 de
111,17 ab
106,40 bcd
115,40 a
107,90 abc
112,77 ab
99,40 cde
20,46 **
8,9497
3,59
DC (cm)
2,81 b
2,99 ab
3,09 a
2,89 ab
2,97 ab
3,09 a
3,07 ab
2,82 b
4,17 **
0,2701
3,84
PM (dias)
95,00 d
107,00 c
111,00 bc
109,00 c
116,00 ab
108,00 c
119,00 a
108,00 c
36,09 **
5,6231
2,17
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo Teste de Tukey, a 5%
de probabilidade (means followed by the same letter in the column don’t differ significantly,
according to Tukey’s test at 5% level of probability).
plantas por luz, e/ou nutrientes.
Observou-se no híbrido First-Snow
o menor diâmetro da planta na linha, o
qual não diferiu estatisticamente dos
híbridos Snow-Flake e Sarah. Estes
híbridos apresentam plantas mais compactas, o que é altamente desejável, pois
pode-se adensar o plantio, obtendo-se
maiores produtividades.
Com relação ao diâmetro da planta
na entrelinha, verificou-se que o híbrido
Sharon apresentou a maior média para
esta característica, com 115,40 cm, o que
não diferiu estatisticamente dos híbridos
Verona, TPX00123 e Veneza (112,77
cm, 111,17 cm e 107,90 cm, respectivamente). Estes híbridos apresentaram
grande desenvolvimento da planta, o que
pode ter ocasionado competição entre as
plantas da cultura.
Para o híbrido Snow-Flake, observou-se a menor média de diâmetro da
planta na entrelinha, com 90,55 cm, o
qual não diferiu estatisticamente dos
híbridos First-Snow e Sarah (97,75 e
99,40 cm, respectivamente).
Vale ressaltar que a produção de
uma cultura é o somatório de todas as
interações planta-ambiente. A biomassa
vegetal, seja como produto de interesse
econômico ou do ponto de vista ecológico, é estritamente dependente do processo fotossintético. Portanto, plantas
com maior desenvolvimento possuem
maior área foliar e consequentemente
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
apresentam maior probabilidade de
converter os açúcares da fotossíntese
em produto de interesse econômico.
Porém, nem sempre maior área foliar
significa maiores produções, pois pode
haver auto-sombreamento das plantas,
ou ainda competição por luz com plantas
vizinhas.
Visando maior aumento na produtividade em virtude do adensamento de
plantas, os melhoristas têm desenvolvido cultivares que apresentam boa pro-
dução com menor desenvolvimento das
plantas. Portanto, cultivares de couveflor que apresentem bom peso médio de
cabeça com pequeno desenvolvimento
constituem boa alternativa ao produtor
para garantir maior produtividade em
função do adensamento e se tornar mais
competitivo no mercado.
Para diâmetro do caule, observouse que os híbridos Veneza e TPX00123
apresentaram as maiores médias para
esta característica, não diferindo dos
híbridos Verona (3,07 cm), First-Snow
(2,99 cm), Sharon (2,97 cm) e TPC00218
(2,89 cm). Os híbridos Snow-Flake e
Sarah apresentaram as menores médias
de diâmetro do caule, 2,81 e 2,82 cm,
respectivamente, diferindo significativamente apenas dos híbridos Veneza e
TPX 00123. É de se esperar que cultivares que apresentem maior diâmetro
de caule também apresente maior peso
de cabeça e consequentemente maior
produtividade, pois há mais vasos de
transporte para translocação de água,
e fotoassimilidos. Além disso, caules
mais espessos suportam cabeças mais
pesadas.
Para precocidade média observou-se
que o híbrido Verona foi o mais tardio,
com 119 dias, não diferindo estatisticamente do híbrido Sharon (116 dias)
sendo considerados, portanto, cultivares
de ciclo longo. Este resultado difere dos
Tabela 2. Médias da massa média da cabeça (MC), altura da cabeça (AC), diâmetro da
cabeça (DC) e produtividade média estimada por hectare (PMEH), de híbridos de couve-flor
de verão (means of weight, height and diameter of the head and estimated productivity per
hectare, in eight hybrids of cauliflower of Summer). Jaboticabal, UNESP, 2007.
Híbridos
MC (kg)
AC (cm)
DC (cm)
Snow Flake
First Snow
TPX 00123
TPC 00218
Sharon
Veneza
Verona
Sarah
Teste F
DMS (Tukey, 5%)
CV (%)
0,73 c
1,09 ab
1,16 a
1,19 a
1,06 ab
0,97 b
1,12 ab
1,11 ab
13,84 **
0,19
7,51
10,03 b
12,84 a
12,13 a
12,02 a
12,22 a
11,52 ab
11,99 a
12,44 a
6,08 **
1,5842
5,63
24,95 ab
23,55 b
24,37 ab
25,65 ab
26,37 a
23,80 b
25,27 ab
24,72 ab
4,08 **
2,2090
3,75
PMEH (t
ha-1)
14,56 c
21,80 ab
23,25 a
23,76 a
21,25 ab
19,43 b
22,43 ab
22,30 ab
13,90 **
3,76
7,50
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo Teste de Tukey, a 5%
de probabilidade (means followed by the same letter in the column do not differ significantly,
according to Tukey’s test at 5% level of probability).
117
BCBA Monteiro et al.
Tabela 3. Classificação das cabeças de oito híbridos de couve-flor de verão (classification of
heads of eight hybrids of cauliflower for Summer). Jaboticabal, UNESP, 2007.
Híbrido
Snow-Flake
First-Snow
TPS00123
TPC00218
Sharon
Veneza
Verona
Sarah
Classe
8
8
8
8
8
8
8
8
Classificação das cabeças
Categoria
Tonalidade
extra
0
extra
100
extra
0
extra
0
extra
0
extra
0
extra
0
extra
0
8= diâmetro de cabeça maior que 230 mm; extra= isentas de defeitos; 0= coloração creme de
cabeça; 100= coloração branca de cabeça (8= diameter of head over 230 mm; extra= without
defects; 0= cream coloration of head; 100= white coloration of head).
observados por Oliveira et al. (2007)
que, avaliando a dinâmica de crescimento da cultura de couve-flor, verificaram
que o híbrido Verona, aos 101 dias
após a semeadura, atingiram o ponto de
colheita. Esta diferença de precocidade
se deve ao fato do experimento dos
referidos autores ter sido conduzido no
outono/inverno, época que é mais propicia para a cultura da couve-flor, o que
consequentemente resultou num período
menor entre a semeadura e a colheita.
Períodos prolongados de temperatura acima de 25°C podem retardar
a formação da cabeça em plantas que
se encontram em fase de crescimento
vegetativo, enquanto que plantas com
cabeças em formação podem reverter
para crescimento vegetativo, reduzindo o tamanho das cabeças e causando
desenvolvimento de folhas ou brácteas
nos pedúnculos florais (University of
California, 1987).
O híbrido Snow-Flake foi o mais
precoce entre os oito híbridos avaliados, com ciclo de 95 dias. Os híbridos
First-Snow, Sarah, Veneza, TPC00218 e
TPX00123 não diferiram entre si, com
respectivamente 107, 108, 108, 109 e
111 dias de ciclo, sendo consideradas
cultivares de ciclo médio.
Na Tabela 2, são apresentadas as médias da massa das cabeças de couve-flor,
altura das cabeças, diâmetro das cabeças
e produtividade média estimada por
hectare de oito híbridos de couve-flor
de verão. Para todas as características
avaliadas, foram observadas diferenças
estatísticas significativas entre os híbri118
dos avaliados.
Para massa das cabeças de couveflor, pode-se observar que os híbridos
TPC00218 e TPX00123 apresentaram
as maiores médias (1,19 kg e 1,16 kg,
respectivamente), diferindo apenas dos
híbridos Snow-Flake e Veneza, que
apresentaram as menores médias para
esta característica, com 0,73 kg e 0,97
kg, respectivamente.
O híbrido Verona apresentou massa
média de cabeça de 1,12 kg. Este resultado difere do apresentado por Oliveira
et al. (2007) que verificou para a cultivar
Verona valor inferior ao do presente
trabalho, 0,77 kg de massa de cabeça.
Este fato pode estar relacionado à época de realização do experimento que
aconteceu um ano antes, no período de
23/02/06 a 05/06/06, ao estado nutricional da cultura ou ao manejo adotado nos
diferentes experimentos.
O híbrido Sharon apresentou massa
média de cabeça de 1,06 kg, não diferindo dos híbridos com maiores massas.
Este valor foi superior ao encontrado
por Kikuti (2006), que observou cabeças de 0,89 kg nesta cultivar. Esta
diferença pode estar relacionada ao
local de realização do experimento, desenvolvido em Piracicaba ou ao menor
espaçamento adotado pelo referido autor
(0,7 x 0,6 m), podendo ter ocasionado
maior competição entre as plantas da
cultura prejudicando o desenvolvimento
da cabeça.
Godoy & Cardoso (2005), avaliando a produção de couve-flor cultivar
Shiromaru II, observaram massa fresca
da cabeça de 0,34 kg. Observa-se que
os valores encontrados no presente
trabalho são superiores aos observados
pelos autores acima citados. Este fato
pode estar relacionado à diferença de
cultivares utilizadas, ao local e época
de realização dos experimentos, pois o
experimento dos autores acima citados
foi realizado em São Manuel-SP, de
novembro a abril de 2001, período este
que favorece a formação da parte vegetativa da planta.
Para diâmetro de cabeça verifica-se
que o híbrido Sharon obteve a maior média, com 26,37 cm, diferindo apenas do
híbrido First Snow. Esta média é superior
à apresentada por Kikuti (2006), que foi
de 20,33 cm, em experimento realizado
em Piracicaba com a cultivar Sharon.
Isto pode estar relacionado à diferente
época de realização do experimento,
que foi de dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, época esta que favorece o
desenvolvimento da parte vegetativa da
planta, e ainda ao espaçamento adotado,
que no presente trabalho é superior (0,5
x 1,0 m). Os demais híbridos, TPC00218
(25,65 cm), Verona (25,27 cm), SnowFlake (24,95 cm), Sarah (24,72 cm)
e TPX00123 (24,37 cm) não diferem
estatisticamente do híbrido Sharon e não
diferem entre si para esta característica.
Vale destacar que todos os híbridos apresentaram diâmetro de cabeça superior ao
mínimo exigido para comercialização,
conforme o PROGRAMA HORTI &
FRUTI PADRÃO (1999).Oliveira et
al. (2007) constataram para a cultivar
Verona diâmetro de cabeça de 25,25
cm, resultado semelhante ao observado
neste trabalho.
Com relação à altura das cabeças de
couve-flor, o híbrido Snow-Flake apresentou a menor altura, com 10,03 cm,
não diferindo apenas do híbrido Veneza,
fato este que provavelmente está relacionado ao menor desenvolvimento da
cabeça nesta cultivar. Esta característica,
juntamente com o diâmetro da planta
dão idéia do formato da cabeça.
Godoy & Cardoso (2005) avaliando
a produção de couve-flor cultivar Shiromaru II, observaram diâmetro de cabeça
de 13,7 cm. Observa-se que os valores
encontrados na presente pesquisa são
superiores aos observados pelos autores acima citados. Este fato pode estar
relacionado à diferença de cultivares
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Desempenho de híbridos de couve-flor de verão em Jaboticabal
utilizadas ou ao local e época de realização do experimento (São Manuel-SP),
de novembro a abril de 2001.
Com relação à produtividade média estimada por hectare, os híbridos
TPC00218 e TPX00123 apresentaram
as maiores médias, com 23,76 e 23,25
t ha-1, diferindo apenas dos híbridos
Veneza e Snow-Flake. A cultivar Verona
apresentou média de produtividade de
22,43 t ha-1. Este resultado é superior ao
apresentado por Oliveira et al. (2007)
que constataram para a cultivar Verona, produtividade estimada de 15,47 t
ha-1. O híbrido Snow-Flake apresentou
a menor média para esta característica
(14,56 t ha-1).
Para o híbrido Sharon constatouse produtividade estimada de 21,25 t,
resultado semelhante ao apresentado
por Kikuti (2006) (21,3 t ha-1). Os espaçamentos utilizados foram diferentes,
sendo o da presente pesquisa de 1,0 m
entrelinhas e 0,5 m entre plantas e o
utilizado por Kikuti (2006) de 0,7 m
entre plantas e 0,6 m entrelinhas. Dessa
forma, o número de cabeças por hectare
é menor no presente trabalho, porém
com maiores massas o que compensa a
produtividade semelhante.
Pizetta et al. (2005) avaliando o
desenvolvimento da couve-flor híbrido
Júlia, com diferentes teores de boro aplicados no solo, verificaram que a maior
produtividade foi de 29,6 t ha-1, resultado superior a presente pesquisa. Este
fato pode ser explicado pela diferença
de cultivar utilizada e pela quantidade
de boro aplicada.
Trani & Raij (1997) consideram
como boa produtividade de couve-flor
uma faixa de 8 a 16 t ha-1. No presente
trabalho verificaram-se produtividades
de 14,5 a 23,7 t ha-1. Sendo assim, todos
os híbridos avaliados estão dentro ou
acima da faixa considerada boa pelos
referidos autores. Esta superioridade na
produção de couve-flor, em grande parte, deve-se a cultivares mais produtivas
desenvolvidas nos últimos anos.
O híbrido com menor desenvolvimento de plantas, o First-Snow, apresentou boa produtividade, não diferindo
estatisticamente dos híbridos de maior
produtividade, TPX00123 e TPC00218,
indicando que é uma boa escolha para
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
o produtor, pois permite adensamento
do plantio, obtendo-se maior produtividade.
Para a classificação das cabeças de
couve-flor, foram levados em consideração diâmetro transversal, categoria (danos) e tonalidade (coloração) da cabeça,
seguindo recomendações do Programa
Horti & Fruti Padrão (1999).
A Tabela 3 contém a classificação das
cabeças dos oito híbridos de couve-flor
de verão, avaliados neste experimento.
Todos estes híbridos foram incluídos
na classe 8, por possuírem diâmetro de
cabeça superior a 230 mm. Com relação
à categoria (danos), todas as cabeças dos
híbridos foram classificadas como extra,
isentas de defeitos.
Quanto à tonalidade, todos os híbridos foram classificados como 0 por
apresentarem coloração creme de cabeça, exceto o híbrido First-Snow que foi
classificado como 100, por apresentar
coloração branca de cabeça.
A produtividade de couve-flor para
os híbridos avaliados foi expressiva,
porém há uma carência de informações
na literatura sobre os híbridos testados
e sobre comparação entre cultivares.
Portanto, fazem-se necessários novos
estudos sobre o assunto, como comparação entre as cultivares, diferentes
espaçamentos, uso de cobertura de solo,
dentre outros.
Com base nos resultados obtidos
no cultivo de couve-flor de verão em
campo aberto, para as condições edafoclimáticas de Jaboticabal, é possível
concluir que os híbridos TPC00218 e
TPX00123 mostraram-se promissores,
com produtividades comerciais de 23,8
e 23,2 t ha-1, respectivamente. O híbrido
First-Snow possui baixo desenvolvimento de planta, e boa produtividade.
O híbrido Snow-Flake, por apresentar
menor produtividade, não é recomendado para plantio na região de Jaboticabal.
Todos os híbridos testados apresentaram
produção classificada na categoria extra
e na classe 8 (maiores que 230 mm).
REFERÊNCIAS
A N D R I O L I I ; C E N T U R I O N J F. 1 9 9 9 .
Levantamento detalhado dos solos da Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal. In:CONGRESSO BRASILEIRO
DE CIÊNCIA DO SOLO, 27. Anais... Brasília:
SBCS, 32 p.
BLANCO MCSG; GROPPO GA; NETO JT. 1997.
Couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis
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Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino
Silvia Renata S Wilcken1; Juliana MO Rosa1; Andréa RO Higuti1; Maria José de M Garcia2; Antonio
Ismael Inácio Cardoso1
UNESP-FCA-Depto. Prod. Vegetal. C. Postal 23, 18610-307 Botucatu-SP; 2APTA-Pólo Centro Oeste, Unid. de Pesquisa e Desenvolvimento de Bauru, Av Rodrigues Alves 40-40, 17030-000 Bauru-SP; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
A enxertia é uma técnica alternativa frequentemente recomendada
para a cultura do pepino em áreas infestadas com nematóides das
galhas. O presente trabalho teve como objetivo determinar o fator
de reprodução de Meloidogyne javanica e de Meloidogyne incognita raça 2 em seis porta-enxertos para pepino (abóbora ‘Menina
Brasileira’, moranga ‘Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’, ‘B8-A
Tetsukabuto’ e ‘Excite Ikki’) e quatro híbridos de pepino (Cucumis
sativus) tipo japonês (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’ e ‘Tsuyataro’).
Foram conduzidos dois experimentos em casa-de-vegetação, um com
cada espécie do nematóide, sendo cada parcela constituída de uma
planta mantida em vaso contendo 2 litros de solo autoclavado. Nove
dias após transplante, cada planta foi inoculada com 5.000 ovos e
juvenis de segundo estádio (população inicial - Pi) de M. javanica
ou M. incognita raça 2. Tomateiros ‘Rutgers’ foram utilizados como
padrão de viabilidade do inóculo, em ambos os experimentos. O
delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco
repetições por tratamento. Sessenta dias após a inoculação, cada
planta foi avaliada, quanto ao peso fresco da raiz, número total de
nematóides presentes no solo e na raiz (população final - Pf), número
de nematóides/g de raiz e fator de reprodução de ambas as espécies
de Meloidogyne (FR=Pf/Pi). Todos os porta-enxertos e híbridos de
pepino testados apresentaram fatores de reprodução superiores a um,
proporcionando a multiplicação de M. javanica e de M. incognita
raça 2, porém, os valores nos híbridos de pepino foram superiores
aos dos porta-enxertos.
Reproduction of Meloidogyne spp. in rootstocks and
cucumber hybrids
Palavras-chave: Cucumis sativus, Meloidogyne javanica,
Meloidogyne incognita, enxertia.
Keywords: Cucumis sativus, Meloidogyne javanica, Meloidogyne
incognita, grafting.
Grafting is an alternative technique often recommended for the
cucumber crop in root-knot nematodes infested areas. This study
aimed to determine the reproduction factor of Meloidogyne javanica
and M. incognita race 2 on six rootstocks for cucumber (squash
‘Menina Brasileira, pumpkim ‘Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’,
‘B8-A Tetsukabuto’ and ‘Excite Ikki’) and four cucumber (Cucumis
sativus) Japanese type hybrids of (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’
and ‘Tsuyataro’). Two experiments were carried out in greenhouse,
each one with a nematode specie. Each plot consisted of one plant
per pot containing 2 liters of autoclaved soil. Nine days after the
seedlings transplantation, each plant was inoculated with 5,000 eggs
and second-stage juveniles (initial population - Pi) of M. javanica or
M. incognita race 2. ‘Rutgers’ tomatoes were used as a standard for
inoculum viability in both experiments. The experimental design was
completely randomized with five replicates per treatment. Sixty days
after inoculated, each plant was evaluated, when root fresh weight,
total number of nematodes in the soil and in the roots (final population
- Pf), nematodes number per gram of root and the reproduction
factor of both Meloidogyne species (FR=Pf/Pi) were determined. All
rootstocks and cucumber hybrids allowed the M. javanica and M.
incognita race 2 multiplication, but, generally, reproduction factor
values were greater in cucumbers than in rootstocks.
(Recebido para publicação em 12 de maio de 2009; aceito em 3 de fevereiro de 2010)
(Received on May 12, 2009; accepted on February 3, 2010)
O pepino (Cucumis sativus L.) é uma
espécie adaptada ao cultivo sob temperaturas superiores a 20ºC. Temperaturas
inferiores afetam o desenvolvimento e a
produtividade da cultura. Além disso, a
necessidade de obtenção do produto no
inverno, quando os preços são mais elevados, levou os produtores brasileiros,
localizados em regiões sujeitas a baixas
temperaturas, a cultivar pepino em ambiente protegido a partir da década de 80
(Cañizares, 1998; Cardoso & Wilcken,
2008). Entre as cucurbitáceas, o pepino
é a espécie mais cultivada sob essas
condições em todo o mundo (Robinson
& Decker-Walters, 1999).
Embora o cultivo de pepino em
120
ambientes protegidos contribua para o
aumento da produtividade e qualidade
do produto comercializado, quando
feito de maneira intensiva, propicia o
aumento de problemas relacionados à
sanidade da cultura (Cañizares & Goto,
1998). Dentre os patógenos do solo que
afetam o pepino, os fitonematóides,
são responsáveis por aproximadamente
67,7% dos replantios necessários em
hortaliças (Oda, 1995).
Huang & Viana (1980), estudando a
suscetibilidade de pepino ‘Aodai Melhorado’ a M. incognita em diferentes níveis
populacionais, verificaram que um mês
após a semeadura, 100% das plântulas
inoculadas com 20.000 e 100.000 ovos/L
morreram, e quando foram inoculadas
com 1.000 ovos de M. incognita/L de
solo houve redução superior a 50% na
produção de frutos de pepino.
Devido à falta de cultivares de pepinos comerciais com resistência a M.
incognita e M. javanica, espécies mais
freqüentes em cultivo protegido, outras
medidas de controle têm sido recomendadas, dentre estas a desinfecção do
solo com produtos químicos, rotações
de cultura com espécies vegetais não
hospedeiras de nematóides e técnicas
culturais como a enxertia (Cardoso &
Wilcken, 2008; Cardoso, 2009).
A enxertia em pepinos é uma técnica
que propicia, dependendo da combiHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino
nação enxerto/porta-enxerto, melhoria
da qualidade dos frutos com a retirada
de cera, resultando em maior brilho,
aumento do vigor da copa da planta
e conseqüente aumento de produção,
aumento da resistência do porta-enxerto
a fatores adversos, menor incidência de
doenças fúngicas do solo e infestação
por nematóides (Kawaide, 1985; Cañizares & Goto, 1998).
A técnica de enxertia também tem
sido considerada uma alternativa freqüentemente recomendada para a cultura do pepino em áreas infestadas com
nematóides das galhas. As taxas de multiplicação de M. javanica e M. incognita
nos porta-enxertos recomendados ainda
são desconhecidas, embora já tenham
sido determinadas em diferentes cultivares de pepino plantadas em pé-francos
em estufa e no campo, variando estas de
66,0 a 170,0 em estufa e de 3,0 a 59,7 a
campo (Charchar et al., 2005).
O presente trabalho teve como objetivo determinar o fator de reprodução
de Meloidogyne javanica e M. incognita
raça 2 em seis porta-enxertos e quatro
híbridos de pepino.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois experimentos, com M. javanica
e M. incognita raça 2, foram conduzidos
separadamente em casa-de-vegetação da
UNESP em Botucatu-SP.
Populações puras das espécies foram
isoladas a partir da retirada da massa
de ovos de cada fêmea devidamente
identificada e multiplicadas em raízes
de tomateiro ‘Rutgers’ em vasos com
substratos previamente autoclavado, em
casa-de-vegetação.
A população de M. javanica foi
isolada a partir de raízes de pimentão
‘Magali’ proveniente do município de
Santa Rosa-RS; e a população de M.
incognita raça 2 a partir de raízes de
cafeeiro provenientes do município de
Osvaldo Cruz-SP.
Ovos e eventuais juvenis infectantes
de M. javanica ou M. incognita raça 2
foram extraídos das raízes de tomateiro
60 dias após a inoculação, seguindo o
método de extração proposto por Hussey
& Barker (1973), modificado por Bonetti & Ferraz (1981), que consiste em proHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
cessar o sistema radicular infectado em
liquidificador com hipoclorito a 0,5%
e, em sequência, passar o processado
por um jogo de peneiras de 20, 80 e 500
mesh, para a obtenção da suspensão de
inóculo que é constituída pelos ovos e
eventuais juvenis retidos na peneira de
500 mesh.
Foram avaliadas seis cultivares de
abóboras e morangas recomendadas
para utilização como porta-enxerto para
pepino (‘Menina Brasileira’, ‘Moranga
Exposição’, ‘Shelper’, ‘Tetsukabuto’,
‘B8-A Tetsukabuto’ e ‘Excite Ikki’) e
quatro híbridos de pepino tipo japonês (‘Yoshinari’, ‘Kouki’, ‘Taisho’ e
‘Tsuyataro’).
Sementes destes dez tratamentos
foram semeadas em bandeja de poliestireno expandido (isopor) de 128 células
com substrato comercial (Plantmax).
O transplante das mudas foi efetuado
quando as mesmas apresentavam aproximadamente 5 cm de altura para vasos
de 2 L contendo substrato composto por
solo, areia e esterco bovino, na proporção 1:2:1, previamente autoclavado.
A inoculação foi realizada nove
dias após o transplante das mudas das
cultivares de abóboras e/ou morangas e
dos híbridos de pepino com 5.000 ovos
e juvenis de segundo estádio do nematóide estudado/vaso (População inicial=
Pi) suspensos em 2 mL. A inoculação
foi realizada em dois orifícios com 2
cm de profundidade, ao redor da muda.
Tomateiros ‘Rutgers’ foram utilizados
como padrão de viabilidade do inóculo
em ambos os experimentos.
Os experimentos foram conduzidos
em casa-de-vegetação, sendo cada
parcela constituída de uma planta por
vaso. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado com cinco
repetições por tratamento.
Sessenta dias após a inoculação, os
sistemas radiculares de cada parcela
foram separados da parte aérea, lavados
e pesados após a retirada do excesso de
umidade com auxílio de papel toalha.
Em seguida, foram submetidos à solução de floxine B por 15 minutos, para
a coloração das massas de ovos externa
dos nematóides, as quais tiveram seus
números contados juntamente com os
números de galhas, ambos relacionados com a escala de notas proposta por
Taylor & Sasser (1978). Por esta escala,
são conferidas as notas 0, 1, 2, 3, 4 e 5
se o número de galhas (ou massas de
ovos) for nulo, 1-2, 3-10, 11-30, 31-100
e >100, respectivamente.
Em seguida, foram processados 250
mL de solo e todo o sistema radicular de
cada parcela, de acordo com a metodologia flutuação, peneiramento e centrifugação e processamento em liquidificador,
peneiramento e centrifugação, descritas
por Jenkins (1964) e Coolen & D´Herde
(1972), respectivamente. O número total
de nematóides presentes no solo e na
raiz de cada parcela (População final=
Pf) foi obtido através da multiplicação
do número de nematóides presentes em
250 mL de solo por oito, para estimar
em 2 L, e em seguida somado ao número
de nematóides presentes na raiz. A partir
destes dados calcularam-se os fatores de
reprodução (FR= Pf/Pi). As plantas que
apresentaram valor de FR maior ou igual
a 1,0, foram classificadas como plantas
hospedeiras e, aquelas que apresentaram
FR menor que 1,0, como plantas não
hospedeiras (Oostenbrink, 1966).
Os dados obtidos foram submetidos
à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan a 5%, após
serem transformados em log (x + 1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os porta-enxertos e híbridos
de pepino estudados apresentaram índice de galhas (IG) e de massa de ovos
(IMO) igual a 5, ou seja, apresentaram
mais de 100 galhas e mais de 100 massas
de ovos no sistema radicular, tanto para
M. javanica (Tabela 1) como para M.
incognita raça 2 (Tabela 2). O tomateiro
‘Rutgers’ proporcionou um FR igual a
21,8 e 17,8 para M. javanica e M. incognita raça 2, comprovando a viabilidade
do inóculo utilizado.
Todos os porta-enxertos e híbridos
de pepino estudados se comportaram
como suscetíveis (ou hospedeiros) (Oostenbrink, 1966) a M. javanica (Tabela
1) e a M. incognita raça 2 (Tabela 2),
ou seja, permitiram sua multiplicação.
O fator de reprodução (FR) foi estatisticamente menor nos porta-enxertos do
que nos híbridos de pepinos estudados
para M. javanica (Tabela 1). Portanto, os
híbridos de pepinos proporcionam maior
121
SRS Wilcken et al.
Tabela 1. Peso da massa fresca de raiz (PFR), índice de galhas (IG), índice de massa de ovos (IMO), número de nematóides por grama de
raiz (NN/g raiz), número de nematóides total (NNT) e fator de reprodução (FR) de Meloidogyne javanica em diferentes híbridos de pepino
e porta-enxertos (root weight (PFR), gall index (IG), egg mass index (IMO), nematode number per root gram (NN/g raiz), total nematode
number (NNT) and reproduction factor (FR) of Meloidogyne javanica in different cucumber hybrids and rootstocks). Botucatu, UNESP,
2008.
PFR (g)
Pepinos
Kouki
Tsuyataro
Taisho KY
Yoshinari
Porta-enxertos
Tetsukabuto
Moranga Exposição
B8-A Tetsukabuto
Excite Ikki KY
Menina Brasileira
Ab. Shelper
CV(%)
IG
IMO
NN/g raiz
FR
NNT
47,7
34,6
43,6
48,0
a
ab
a
a
5
5
5
5
5
5
5
5
3733,4
3981,0
2589,0
2042,3
a
a
ab
abc
191.228
132.578
121.574
106.598
37,1
25,9
28,5
16,7
36,0
20,4
7,6
ab
bc
bc
d
ab
cd
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
965,2
1484,4
894,7
1122,9
542,0
759,9
9,8
bcd
abc
cd
bc
d
cd
42.934
38.992
32.166
22.028
20.438
20.200
4,6
a
a
a
a
b
bc
bcd
bcd
d
cd
38,2
26,5
24,3
21,3
a
a
a
a
8,6 b
7,8 bc
6,4 bcd
4,4 bcd
4,1 d
4,0 cd
20,3
*médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5% de probabilidade (means followed by the same
letter at column did not differ from each other by Duncan test at 5% of probability).
Tabela 2. Peso da massa fresca de raiz (PFR), índice de galhas (IG), índice de massa de ovos (IMO), número de nematóides por grama de
raiz (NN/g raiz), número de nematóides total (NNT) e fator de reprodução (FR) de Meloidogyne incognita raça 2 em diferentes híbridos
de pepino e porta-enxertos (root weight (PFR), gall index (IG), egg mass index (IMO), nematode number per root gram (NN/g raiz), total
nematode number (NNT) and reproduction factor (FR) of Meloidogyne incognita in different cucumber hybrids and rootstocks). Botucatu,
UNESP, 2008.
Pep. Yoshinari
Pep. Taisho KY
Pep. Kouki
Ab. Tetsukabuto
Ab. B8-A Tetsukabuto
Ab. Excite Ikki KY
Ab. Moranga Exposição
Ab. Shelper
Ab. Menina Brasileira
Pep. Tsuyataro
CV(%)
PFraiz (g)
76,8 a
62,4 abc
71,3 ab
34,1 e
34,8 de
19,4 f
35,3 de
16,8 f
46,5 cde
50,3 bcd
7,3
IG
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
IMO
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
NN/g (g)
2110,7 a
1841,9 a
2159,3 a
2036,9 a
1216,5 a
1783,1 a
1121,8 a
1529,1 a
579,6 a
515,4 a
13,9
NNT
153.486 a
114.222 ab
139.244 abc
66.092 cd
50.500 abcd
45.042 ab
44.242 abcd
37.652 bcd
30.788 cd
25.246 d
7,4
FR
30,7
22,8
27,8
13,2
10,1
9,0
8,8
7,5
6,2
5,0
31,9
a
ab
ab
abc
abc
abc
abc
bc
c
c
*médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5% de probabilidade (means followed by the same
letter at column did not differ from each other by Duncan test at 5% of probability).
aumento da população de M. javanica
em um mesmo período de tempo, do
que as abóboras que são utilizadas como
porta-enxertos.
Os híbridos de pepino não diferiram
estatisticamente entre si, apresentando
fatores de reprodução de M. javanica
elevados, variando de 21 a 38. Estes
valores são inferiores aos obtidos por
Charchar & Aragão (2005) em estufa
122
(66 a 170) e semelhantes aos a campo (3,0 a 59,7). Entretanto, entre os
porta-enxertos houve diferença significativa na reprodução do nematóide,
demonstrada em todos os parâmetros
analisados, sendo a abóbora ‘Shelper’ a
que propiciou menor FR de M. javanica
(FR= 4,0); embora não tenha diferido
estatisticamente dos FRs obtidos em
‘Menina Brasileira’ (FR= 4,1), ‘Excite
Ikki’ (FR=4,4) e ‘B8-A Tetsukabuto’
(FR=6,4).
Também foi observada a multiplicação do M incognita em todos os portaenxertos e híbridos de pepino estudados
(Tabela 2), assim como no experimento
com M. javanica. O pepino ‘Tsuyataro’
foi o que proporcionou menor fator de
reprodução (FR= 5,0) para esta espécie,
embora não diferindo estatisticamente
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Reprodução de Meloidogyne spp. em porta-enxertos e híbridos de pepino
de todos os porta-enxertos:‘Menina
Brasileira’ (FR= 6,2), ‘Shelper’ (7,5),
‘Excite Ikki’ (FR= 9,0), ‘Tetsukabuto’
(FR= 13,2) e ‘B8-A Tetsukabuto’ (FR=
13,2). Os híbridos de pepino ‘Yoshinari’, ‘Taisho’ e ‘Kouki’ apresentaram os
maiores valores de fator de reprodução,
superiores a 22. Carneiro et al. (2000),
verificando a taxa de multiplicação de
M. javanica, M. incognita raça 3, M.
arenaria raça 2 e M. hapla em diferentes
hortaliças, consideraram as abóboras
‘Caserta’ e ‘Branca de Virgínea’ resistentes apenas a M. hapla, assim como
os pepinos ‘SMR58’ e ‘Marketer’. As
cultivares de pepinos e abóboras ora
estudados apresentaram os fatores de
multiplicação mais elevados aos obtidos
por Carneiro et al. (2000).
Em uma área infestada apenas com
M. incognita, o pepino ‘Tsuyataro’ não
terá benefícios com a enxertia visando
o manejo deste patógeno. Porém, em algumas áreas a infestação do solo ocorre
com as duas espécies (M. incognita e M.
javanica) conjuntamente (Charchar &
Moita, 2001). Nesta situação, as plantas
enxertadas apresentarão menor multiplicação de pelo menos M. javanica ou
de ambas as espécies do nematóide se
o híbrido de pepino for o ‘Yoshinari’,
‘Taisho’ ou ‘Kouki’.
Considerando-se a ausência de cultivares comerciais resistentes a M. javanica e M. incognita raça 2, a adoção de
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
mudas de pepinos enxertadas em áreas
infestadas com esses nematóides, além
de interferir de maneira positiva na qualidade e produtividade da cultura (Goto
et al., 2003), pode também proporcionar,
dependendo do porta-enxerto escolhido, menor multiplicação dessa espécie
do nematóide das galhas comparada
ao plantio de pés-franco dos híbridos
estudados (Tabela 1). Entretanto, devese ressaltar que, embora os fatores de
reprodução dos nematóides estudados
sejam menores nos porta-enxertos que
nos pepinos pé-franco, estes não são
nulos, podendo elevar a população dos
mesmos se cultivados de forma sucessiva em uma mesma área.
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Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do
pimentão no Distrito Federal
Silvia S Onoyama1; Francisco José B Reifschneider1;2; Antônio Williams Moita1; Geraldo da S e Souza2
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70351-970 Brasília-DF; 2Embrapa Sede, Parque Estação Biológica, 70770-901 Brasília-DF; silvia@
cnph.embrapa.br; [email protected]; [email protected]; [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Melhoristas de Capsicum da Embrapa Hortaliças estão orientando
parte de seus esforços sob a ótica dos consumidores intermediários
e finais com objetivo de aumentar as chances de sucesso de longo
prazo do desenvolvimento de novas cultivares. Nesse cenário, este
trabalho ilustra uma pesquisa, iniciada em 2007, com consumidores
de pimentão do Distrito Federal para conhecer as principais características que são levadas em consideração no ato da compra. O estudo
foi dividido em duas partes: um piloto com 444 consumidores de um
grande supermercado e um levantamento com 500 consumidores
finais de pimentão in natura de cinco supermercados de Brasília.
Utilizou-se a análise de dados categóricos por meio do procedimento
CATMOD do SAS para verificar a ordenação de importância dos
atributos, os contrastes das médias, bem como a influência do perfil
do comprador na avaliação das características envolvidas na compra. Em complemento, usou-se a análise de correspondência para a
representação gráfica das relações multidimensionais das distâncias
do grau de importância dos atributos do pimentão. Os consumidores
enfatizaram a textura e as características relacionadas ao aspecto
visual durante a compra do pimentão. Em adição, foram detectadas
diferenças de percepção de alguns atributos dentre os consumidores
quando segmentados por gênero, idade, grau de escolaridade, estado civil e localização do supermercado. Destaca-se, ainda, a maior
preocupação das características funcionais por pessoas mais idosas.
Estudos dessa natureza são essenciais para melhor orientar os programas de melhoramento genético vegetal.
Attributes of vegetables based on consumer´s needs: a case
study on bell peppers in Distrito Federal, Brazil
Palavras-chave: Capsicum annuum, consumo, qualidade,
supermercado.
K e y w o r d s : C a p s i c u m a n n u u m , c o n s u m p t i o n , q u a l i t y,
supermarket.
Capsicum (chili and bell peppers) breeders at Embrapa Vegetables
are focusing project activities to satisfy the demands of both growers
and final consumers in order to increase the chances of success in,
long-term development of new cultivars. So, a prospection study on
consumer demands and perception on bell peppers was started in
2007 in order to identify the main attributes taken in consideration
during the act of purchase. This work was divided in two parts: a
pilot study with 444 consumers at one supermarket and a survey
with 500 consumers of fresh bell pepper, carried out by interviews
at five supermarkets in Brasilia, Brazil, which represent distinct
income segments. Data were analyzed by categorical data analysis
using SAS (Procedure CATMOD) to rank the attributes in order
of importance; to contrast the attribute means; and to verify the
psychosocial influence on ranking the attributes during the purchase
act. In addition, correspondence analysis was used for graphical
representation of the attributes separated by the level of importance.
During purchase, consumers prioritize the attributes related to the
visual aspect (appearance) and firmness of the fruits. Also, differences
of perception by gender, age, educational level, marital status and
supermarket location were detected. Based on the collected evidence,
elderly people are more concerned about nutritional value. Plant
breeding programs can be better focused utilizing inputs from similar
studies.
(Recebido para publicação em 14 de agosto de 2009; aceito em 26 de fevereiro de 2010)
(Received on august 14, 2009; accepted on february 26, 2010)
O
pimentão está entre as hortaliças
mais consumidas no Brasil e ocupa
uma área significativa de plantio, concentrada em São Paulo, Santa Catarina,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e estados
do Nordeste (Maldonado, 2000). Henz
et al. (2007) enfatizam também a produção do estado do Paraná no cenário
do pimentão e o Distrito Federal como
um dos principais pólos de produção de
pimentão em cultivo protegido no país,
tendo área aproximada de 50 ha cultivada anualmente. Dados do Instituto
de Economia Agrícola (IEA) revelam
que, em 2008, a produção do estado
de São Paulo foi de aproximadamente
60.140 toneladas. No Paraná e em Santa
124
Catarina, as Secretarias de Agricultura
informaram que a produção foi 63.600
toneladas em 2003. Em Minas Gerais,
em 2008 foram comercializados em
torno de 12.000 toneladas de pimentão
na Ceasa de Belo Horizonte (Seapa,
2009).
Dada a importância econômica dessa
hortaliça, as empresas de sementes têm
lançado muitas cultivares no mercado,
com grandes variações de formato,
tamanho e cor. Esse mercado de sementes movimenta R$ 8,7 milhões por
ano (Della Vecchia, 2007). Atualmente,
conta-se com mais de 60 cultivares,
com destaque para os híbridos que
predominam no cultivo protegido e têm
presença significativa em campo aberto
(Abcsem, 2007). Entre estes, os híbridos
Margarita, Paloma, Rúbia, Escarlata e
Magali R são de grande importância no
Distrito Federal. No entanto, observase uma rápida e constante substituição
de genótipos pelas companhias produtoras de semente, fazendo com que a
vida média do híbrido no mercado seja
curta. Vale ressaltar que ainda há forte
presença de cultivares de polinização
aberta de pimentão em campo aberto
(Abcsem, 2007) e, pela característica
do setor público, há interesse no desenvolvimento deste tipo de genótipo que
possa competir com os híbridos que têm
alto custo de semente.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal
Presentemente, nota-se que os híbridos são obtidos com o objetivo de suprir
principalmente os interesses das companhias globalizadas de sementes, assim
como as necessidades do produtor, já
que os atributos ressaltados são resistência a doenças, alto vigor, produtividade,
precocidade de produção e uniformidade. Mesmo em outras espécies, principalmente frutas e hortaliças, os projetos
de pesquisa buscam principalmente
atender problemas de cultivo da planta.
Por outro lado, os atributos-chave para
os demais agentes da cadeia, em especial
a preferência do consumidor, têm sido
pouco considerados como alvos das
pesquisas de melhoramento genético
(Matsuura et al., 2004).
Na esfera do consumidor final,
pesquisas sobre o seu comportamento
frente aos setores de frutas e hortaliças
sinalizaram uma preocupação incipiente
sobre a captação das necessidades dos
diversos agentes da cadeia. Segundo
Saabor (2001), a compreensão dos
hábitos do consumidor é uma vantagem competitiva na venda de frutas e
hortaliças.
Souza (2005) menciona que, na
pesquisa realizada pela ABRAS sobre
frutas e hortaliças em 1998, foram identificados oito estratos socioeconômicos:
“...o valor nutricional, a qualidade e o
sabor foram apontados como fundamentais para a decisão de compra...”. Em
complemento, Kader (2002) pondera
que os atributos que mais influenciam
na decisão de compra de alimentos
frescos são: sabor ou aroma, textura e
aparência, uma vez que os consumidores
se baseiam no visual e no que aparentam
ter gosto bom. Como o cliente não tem
acesso à visualização interior do fruto,
utiliza-se de sua experiência anterior
para avaliar o produto (Andreuccetti et
al., 2005). Os mesmos autores reforçam
a idéia de que a aparência é fator decisivo no ato da compra, em uma pesquisa
realizada com tomate de mesa. Ragaert
et al. (2004) enfatizam frescor e sabor e
Van der Pol & Ryan (1996) mencionam
que há consumidores pontuando preço
e qualidade (frescor, aparência e valor
nutricional) como atributos mais importantes de frutas e hortaliças.
Para o pimentão, Frank et al. (2001)
relatam que um número de atributos
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
pode afetar a preferência de consumidores americanos, incluindo os relacionados com aspecto (cor, tamanho,
formato), valor nutricional (vitamina
C, pro-vitamina A, minerais e fibras),
intenção de uso (congelado, pré-cortado,
fruto inteiro para consumo) e preço.
Dentre esses atributos, cor, preço e valor
nutricional foram analisados pela técnica de análise conjunta com 435 consumidores e o atributo “cor” foi três vezes
mais importante que preço no processo
de compra. Todavia, a vitamina C foi
considerada um atributo irrelevante aos
consumidores americanos, contrariando
a afirmação de Souza (2005) para os
consumidores brasileiros.
Estudos à parte destacam características do pimentão relacionados à
pós-colheita que são enfatizadas pelos
agentes intermediários (atacadistas e varejistas). Esforços do Instituto Brasileiro
de Qualidade em Horticultura, vinculado à Ceagesp tiveram como resultado a
elaboração de normas de classificação
do pimentão quanto a comprimento,
diâmetro, cor e defeitos (Gorenstein &
Gutierrez, 2000). Estes estão relacionados com incidência de frutos tortos,
murchos e danos fisiológicos, mecânicos e relacionados a doenças e pragas
(Lana et al., 1999) que influenciam na
aparência e na textura do pimentão, são
características ressaltadas pelos consumidores na literatura.
Na perspectiva de Gorenstein &
Gutierrez (2000), os padrões visam
proporcionar uma linguagem comum
no comércio entre os agentes da cadeia
para se ter uma remuneração de incentivo que valorize os produtos de melhor
qualidade. Entretanto, em visitas aos supermercados e centrais de distribuição,
os agentes da cadeia seguem só alguns
pontos da norma para classificação do
produto, haja vista que ela é de adesão
voluntária.
Face a esse cenário, pesquisadores
do programa de melhoramento de
Capsicum (pimentão e pimentas) da
Embrapa Hortaliças estão procurando
determinar as características de pimentas e pimentões de maior interesse por
parte dos consumidores intermediários e
finais, dada a importância do agronegócio destas culturas no Brasil. Blackwell
et al. (2005) referendam que um produto
novo deve satisfazer às necessidades,
desejos e expectativas de seus principais
consumidores, sejam intermediários e/
ou finais. Pesquisadores como Clark
& Wheelwright (1993), Ciccantelli
& Magidson (1993) e Cooper (1999),
dentre outros, mencionam a importância de articular o processo de novos
produtos com as necessidades de todos
os seus consumidores com objetivo de
garantir o sucesso no lançamento desses
produtos.
Assim, iniciou-se um estudo de
prospecção de demandas da cadeia de
Capsicum no intuito de conhecer melhor
as searas dos consumidores (intermediários e finais), em congruência
com a sinalização por parte da academia
em conhecer o comportamento do consumidor de frutas e hortaliças (Van der
Pol & Ryan, 1996; Frank et al., 2001;
Fillion & Kildcast, 2002; Kader, 2002;
Ragaert et al., 2004; Andreuccetti et al.,
2005; Peres et al., 2008).
Este trabalho teve como objetivo
estudar uma das etapas de prospecção,
com o foco na cadeia de pimentão. A
pesquisa foi realizada primeiramente
com 444 consumidores de um grande
supermercado do Distrito Federal e
posteriormente com 500 consumidores
finais de pimentão in natura de cinco
supermercados distintos do Distrito
Federal para conhecer os principais
atributos do pimentão que são levados
em consideração no ato da compra.
Material e Métodos
Utilizou-se o método survey na
pesquisa, com questionário padronizado
e estruturado, por meio de entrevistas
com os consumidores, para descobrir
certos traços e atributos da população
estudada (Babbie, 2003). A estratégia
selecionada foi de natureza quantitativa,
uma vez que o foco foi quantificar quais
atributos do pimentão são considerados
mais importantes no ato da compra.
A elaboração do questionário foi
realizada por meio de uma pesquisa
exploratória: entrevistou-se quarenta
compradores/consumidores de pimentão
de um grande supermercado de Brasília,
no final de dezembro de 2007. Perguntou-se quais atributos os consumidores
levam em conta no ato da compra do
125
SS Onoyama et al.
pimentão.
Os resultados foram tabulados e
agregados e, a partir deles, elaborou-se
um questionário fechado com perguntas sobre o grau de importância dos
atributos: preço, tamanho, firmeza, cor
uniforme, brilho, sem manchas, sem
estrias, superfície lisa, não amassado,
teor de vitamina, peso e sabor na hora
da compra. Os itens foram mensurados
na escala Likert com variação de 1
(nenhuma importância) a 5 (muito importante). Além disso, perguntou-se para
os atributos tamanho, formato e peso a
preferência de seus tipos aos respondentes que pontuaram nota acima de 3.
Na etapa seguinte, no período de
janeiro a fevereiro de 2008, às terças,
quartas, quintas e sábados, realizou-se
a pesquisa piloto com 444 consumidores de um grande supermercado de
Brasília. As entrevistas estruturadas da
primeira pesquisa ocorreram na seção
de hortifrutigranjeiros, em que foram
abordados consumidores de diferentes
faixas etárias, grau de escolaridade, sexo
e estado civil.
Por último, realizou-se uma segunda
pesquisa com 500 consumidores de pimentão que abrangesse os consumidores
do Distrito Federal. Sendo assim, a
pesquisa envolveu cinco supermercados
localizados em cinco localidades do
Distrito Federal: Ceilândia, Taguatinga,
Asa Norte, Riacho Fundo e Recanto das
Emas. O supermercado (A) é pequeno e
situa-se em Ceilândia. O supermercado
(B), em Taguatinga, pertencente a uma
rede de supermercados, atende quatro
estados e o Distrito Federal, contabilizando 25 lojas. O hipermercado (C),
localizado na Asa Norte, pertence a uma
rede com 80 lojas em 12 estados e no
Distrito Federal. O supermercado (D),
em Riacho Fundo, é uma das quatro
lojas de um grupo local, que abrange
também Samambaia e Taguatinga;
e o supermercado (E), localizado no
Recanto das Emas, advém de uma rede
do Distrito Federal que possui 13 lojas
em Ceilândia, Taguatinga, Samambaia,
Riacho Fundo e Recanto das Emas.
A escolha desses locais foi baseada
nos dados sobre estratificação das regiões administrativas do Distrito Federal
em cinco grupos por classe de renda
(Codeplan, 1997): a população da Asa
126
Norte está inserida no primeiro grupo de
renda, seguida por Taguatinga, Riacho
Fundo, Ceilândia e Recanto das Emas.
Nos meses de novembro de 2008 a
fevereiro de 2009 as entrevistas também
foram realizadas às terças, quartas, quintas e sábados. Para o cálculo do tamanho
das amostras dos dois casos, o intervalo
de confiança foi de 95%. O tamanho da
amostra foi calculado a partir de uma
amostra piloto, com a utilização dos
preceitos de Matar (1997).
O tratamento descritivo dos dados
envolveu a preparação deles, cálculo
das médias, dos desvios-padrões e distribuição do grau de importância dos
atributos. Para verificar a ordenação de
importância dos atributos, os contrastes
das médias, bem como a influência
do perfil do comprador na avaliação
dos atributos envolvidos na compra,
utilizou-se o procedimento CATMOD
do SAS (Stokes et al., 2000), com estudo
das características por meio de análise
de dados categóricos. De acordo com
os autores, dados categóricos resultam
de observações de variáveis aleatórias
(atributos) cujos valores possíveis são
classificados em um conjunto finito de
classes ou categorias disjuntas. Exemplos típicos são fornecidos por atributos
tais como grau de infestação de uma
cultura (forte, médio ou fraco), cor dos
olhos e nacionalidade. Tipicamente temse interesse no estudo da distribuição de
freqüências de ocorrência das possíveis
categorias que são apresentadas em
forma de tabelas conhecidas como tabelas de contingência. Estas podem ser
uni ou multidimensionais dependendo
da dimensão do vetor de atributos de
interesse.
Vale ressaltar que a análise de dados categóricos diz respeito à análise
das freqüências representadas por uma
tabela de contingência. Neste contexto
procura-se modelar estatisticamente
uma função de interesse das freqüências
relativas ou probabilidades empíricas
de ocorrência das várias categorias envolvidas. As regressões logísticas para
respostas binárias enquadram-se nesta
ordem de idéias.
Em adição, usou-se a análise de
correspondência para a representação
gráfica das relações multidimensionais
das distâncias do grau de importância
dos atributos do pimentão. A análise
de correspondência é uma técnica estatística para representar em um gráfico
bi-dimensional as linhas e colunas de
uma tabela de contigência. Essa metodologia foi utilizada porque todas as
variáveis tomadas são qualitativas (não
paramétricas), impossibilitando então
um estudo quantitativo que explorasse
as relações entre as variáveis (Hair et
al., 1998).
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos foram agregados em dois tópicos: o primeiro descreve
sucintamente o perfil dos consumidores
estudados (Tabela 1). O segundo identifica a percepção dos entrevistados na escolha dos atributos que irão influenciar o
processo de compra do pimentão.
Observou-se a predominância feminina na compra de pimentão e alguns respondentes masculinos mencionaram que
compram hortaliças de vez em quando,
pois suas parceiras são as que efetuam
as compras. Os dados convergem com as
pesquisas realizadas com consumidores
de hortaliças minimamente processadas
e de tomate por Ragaert et al. (2004),
Andreuccetti et al. (2005) e Peres et al.
(2008), ao indicar que a mulher ainda é
a maior responsável pelas compras de
alimentação da família.
Na pesquisa piloto, a idade dos
entrevistados concentrou-se entre 31
e 50 anos (56%). Na segunda, a idade
dos entrevistados apresentou maior
porcentagem nas seguintes categorias:
até 30 anos com 21,5% e entre 50 e 60
com 25,4%. Nas duas pesquisas, mais
de 50% das pessoas entrevistadas possuem mais de 30 anos, inferindo que o
perfil de compradores de pimentão é de
pessoas com maior experiência como
consumidores.
Em adição, as pessoas casadas
corresponderam na primeira pesquisa a
72,3% e na segunda, 43,6%. Isso sugere
que uma parte considerável dos compradores de pimentão dos supermercados
está numa faixa etária entre 30 e 60
anos, são casados e possivelmente têm
o hábito de cozinhar em casa.
O grau de escolaridade diferiu
entre as duas pesquisas: na primeira
prevaleceram indivíduos com nível suHortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal
Tabela 1. Perfil dos entrevistados quanto ao gênero, idade, estado civil e grau de
escolaridade (profile of respondents by gender, age, maritus status and scholar
degree). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Perfil dos entrevistados
2007-2008
2008-2009
Sexo
Feminino
72,8%
62,9%
Masculino
27,2%
37,1%
Idade
Até 30 anos
14,8%
21,3%
31-40 anos
27,6%
15,4%
41-50 anos
28,4%
19,1%
51-60 anos
17,1%
25,4%
Acima de 60 anos
12,1%
18,7%
Estado civil
Solteiro
16,4%
32,9%
Casado
72,6%
43,0%
Divorciado
8,0%
12,4%
Outros
3,0%
11,7%
Grau de escolaridade
Primeiro grau incompleto
2,3%
19,3%
Primeiro grau completo
6,8%
17,6%
Segundo grau completo
35,1%
43,6%
Terceiro grau completo
55,8%
19,5%
perior (55,8%); na segunda, as pessoas
que possuem segundo grau completo
(43,6%). Não foi perguntado o nível
de renda dos entrevistados, já que esse
dado pode ser parcialmente inferido pela
localização dos supermercados e pelo
grau de escolaridade dos respondentes.
O grau de escolaridade de uma pessoa
pode ser aceito como indicativo de
classe social, já que segundo Schiffman
& Kanuk (2000), quanto maior o grau
de instrução de um indivíduo, maior a
probabilidade de ter uma renda maior,
uma posição social admirada e respeitada. Justifica-se a alta concentração de
pessoas com terceiro grau na primeira
amostra pela localização do supermercado em uma região de classe média.
A segunda parte da pesquisa foi pautada na identificação das principais características do pimentão. Para ordenar
os dados quanto ao grau de importância,
utilizou-se procedimento CATMOD do
SAS, mediante a técnica de regressão
múltipla e distribuição não normal
(Tabela 2). Alguns contrastes entre os
atributos apresentaram diferenças não
significativas ao nível de 5%.
Verificou-se poucas diferenças
na ordenação dos atributos das duas
pesquisas. Oito características (entre
as treze perguntadas) obtiveram notas
acima de quatro (importante). Preço e
valor nutricional apresentaram médias
acima de 3,4 (entre alguma importância
a importante). Na primeira pesquisa,
somente peso teve nota abaixo de 3,
enquanto que na segunda ocorreu com
as características tamanho, formato e
peso.
Os desvios-padrões dos atributos
que tiveram as menores médias foram
os mais elevados, conforme Tabela 2.
Tabela 2. Ordenação de atributos do pimentão utilizando a técnica do CATMOD (ranking of bell pepper´s attributes using the CATMOD
technique). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Pesquisa 2007-2008
Atributos
Média
Não amassado
4,86a*
Firmeza
4,76 b
Sem manchas
4,62 c
Sabor do pimentão
4,41 d
Superfície lisa
4,39 d
Sem estrias
4,22 e
Cor uniforme
4,15 f
Brilho
4,05 fg
Preço
3,67
g
Valor Nutricional
3,42
h
Tamanho
3,27
h
Formato
3,05
i
Peso
2,64
j
Desvio padrão 0,40
0,46
0,61
0,89
0,93
1,16
1,15
1,17
1,34
1,69
1,20
1,46
1,56
Pesquisa 2008-2009
Atributo
Média
Desvio padrão
Não amassado
4,76a
0,54
Sem manchas
4,62 b
0,69
Firmeza
4,53 c
0,76
Superfície lisa
4,48 cd
0,90
Sem estrias
4,38 d
1,05
Sabor do pimentão
4,12 e
1,10
Cor uniforme
4,08 e
1,21
Brilho
4,07 e
1,25
Preço
3,88 f
1,47
Valor Nutricional
3,74
g
1,52
Tamanho
2,96
i
1,61
Formato
2,88
i
1,56
Peso
2,63
i
1,81
*Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro (means with different letters on
the collumn differ significantly to 5% of error probability).
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
127
SS Onoyama et al.
Observou-se que as notas de importância foram polarizadas nos extremos
“nenhuma importância” e “importante/
muito importante”. Para as demais, os
desvios-padrões não excederam 1,45,
com pouca dispersão dos dados.
Efetuou-se análise de correspondência para uma melhor visualização
da disposição dos atributos quanto à
importância, com variância no eixo x
(dimensão 1) de78,8% (pesquisa piloto)
e 90,9% (segunda pesquisa), ilustradas
Figura 1. Distribuição espacial dos atributos de pimentão em função da importância (spatial distribution of Bell pepper attributes based on
importance). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Legenda: e= muito importante; d= importante; c= alguma importância; b= pouca importância; a= nenhuma importância (e = very important;
d = important; c = slightly important; b = less important; a = unimportant).
Tabela 3a. Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da pesquisa de 2007/2008 (importance of attributes according to
the profile of survey respondents 2007/2008). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Sexo
Não
amassado
Firmeza
Sem
manchas
Sabor do Superfície
pimentão
lisa
p=0,43
p=0,02
p=0,28
p=0,38
p=0,009
Sem
estrias
Cor
uniforme
Brilho
p<0,001
p=0,83
p=0,01
Masculino
4,84a*
4,67a
4,56a
4,35a
4,19a
3,79a
4,13a
3,81a
Feminino
4,88a
4,79 b
4,64a
4,44a
4,46 b
4,38 b
4,16a
4,14b
Grau de escolaridade
p=0,07
p=0,53
p=0,29
p=0,69
p=0,15
p=0,73
p=0,79
p=0,70
Primeiro grau incompleto
4,43ab
4,42a
4,57a
4,29a
3,14a
4,00a
4,29a
3,57a
Primeiro grau completo
4,95a
4,77a
4,77a
4,27a
4,50a
3,95a
4,09a
4,18a
Segundo grau completo
4,82 b**
4,78a
4,65a
4,48a
4,34a
4,27a
4,22a
4,14a
Terceiro grau completo
4,89ab
4,74a
4,59a
4,43a
4,48a
4,19a
4,10a
4,05a
Idade
p=0,63
p=0,34
p=0,95
p=0,68
p=0,19
p=0,33
p=0,02
p=0,50
Até 30 anos
4,82a
4,71a
4,68a
4,52a
4,51a
4,38a
4,41a
4,15a
31-40 anos
4,89a
4,74a
4,61a
4,47a
4,50a
4,24a
4,10 b***
4,14a
41-50 anos
4,88a
4,82a
4,62a
4,38a
4,35a
4,23a
4,28a
4,04a
51-60 anos
4,91a
4,73a
4,63a
4,39a
4,31a
4,21a
3,83 b
3,95a
Mais que 60 anos
4,83a
4,79a
4,60a
4,45a
4,19a
3,89a
4,04ab
3,83a
Estado civil
p=0,34
p=0,60
p=0,76
p=0,39
p=0,86
p=0,31
p=0,16
p=0,81
Solteiro
4,82a
4,78a
4,64a
4,50a
4,39a
4,32a
3,96a
4,11a
Casado
4,88a
4,75a
4,62a
4,42a
4,41a
4,18a
4,19a
4,08a
*Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro; **2-3 foi significativa porque
as estimativas do desvio padrão foram maiores do que 1-4; ***1-2 e 2-3 foram significativas porque as estimativas do desvio padrão foram
maiores do que 1-5 e 3-5. (means with different letters on the collumn differ significantly to 5% of error probability; **2-3 was significant
because the estimates of standard deviation were higher than 1-4; ***1-2 and 2-3 were significant because the estimates of standard
deviation were higher than 1-5 and 3-5).
128
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal
Tabela 3a. (continuação ...) Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da
pesquisa de 2007/2008 (continuation ... importance of attributes according to the profile of
survey respondents 2007/2008) . Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Preço
Valor
Tamanho Formato Peso
nutricional
Sexo
p=0,19
p=0,77
p=0,88
p=0,13
p=0,92
Masculino
3,53a
3,22a
3,41a
3,22a
2,62a
Feminino
3,72a
3,27a
3,43a
2,99a
2,64a
Grau de escolaridade
p=0,28
P<0,0001
p=0,0008
p=0,03
p=0,29
Primeiro grau incompleto 4,00a
1,43 b
4,28a
2,71ab
3,14a
Primeiro grau completo
3,72a
3,50a
3,04b
2,18b
2,50a
Segundo grau completo
3,78a
3,41a
3,60b
3,11a
2,78a
Terceiro grau completo
3,52a
3,21a
3,31b
3,08a
2,49a
Idade
p=0,09
p=0,04
p=0,51
p=0,24
p=0,51
Até 30 anos
3,65ab
3,11b
3,58a
2,85a
2,63a
31-40 anos
3,69ab
2,97b
3,54a
3,24a
2,45a
41-50 anos
3,42 b
3,36ab
3,35a
3,16a
2,74a
51-60 anos
3,77ab
3,67ab
3,39a
2,88a
2,59a
Mais que 60 anos
4,00a
3,49a
3,30a
2,94a
2,81a
Estado civil
p=0,36
p=0,58
p=0,05
p=0,04
p=0,97
Solteiro
3,76a
3,17a
3,64a
2,75a
2,60a
Casado
3,60a
3,29a
3,36a
3,10 b
2,61a
*Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro; **2-3 foi significativa porque as estimativas do desvio padrão foram maiores
do que 1-4; ***1-2 e 2-3 foram significativas porque as estimativas do desvio padrão foram
maiores do que 1-5 e 3-5 (means with different letters on the collumn differ significantly to
5% of error probability; **2-3 was significant because the estimates of standard deviation
were higher than 1-4; ***1-2 and 2-3 were significant because the estimates of standard
deviation were higher than 1-5 and 3-5).
nas Figuras 1 e 2. Pelos dados das
variâncias, a leitura da ordenação
espacial das características quanto à
importância seguiu o eixo X.
Esses resultados indicam que os
consumidores priorizam os atributos
relacionados à textura, pois gostam do
pimentão não amassado e firme. Fillion
& Kildcast (2002) pontuam que a textura é qualidade desejável em frutas e
hortaliças, pois está relacionada com
frescor. Além disso, os consumidores
destacaram os atributos relacionados
ao aspecto visual do pimentão, já que
eles selecionam os pimentões que não
estejam manchados, sem estrias, lisos,
com coloração uniforme e brilhantes.
Essas características são enfatizadas
tanto pelos consumidores quanto pela
norma de classificação do pimentão.
Destaca-se também a importância do
sabor, mesmo sem experimentá-lo no
ato da compra. Aparentemente, os consumidores utilizam-se de experiências
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
anteriores para julgar qual produto comprar (Andreuccetti et al., 2005).
Uma característica relegada a segundo plano foi preço, que de acordo
com a literatura existente é uma das
mais importantes na decisão de compra (Rojo, 1998). Infere-se que esse
resultado esteja relacionado à forma de
consumir o pimentão, que é usado em
pequena quantidade, o que torna o preço
não muito importante nas compras do
consumidor.
Valor nutricional também não foi
pontuado como muito relevante, em
concordância com Frank et al. (2001) e
em contraposição a Souza (2005). Segundo relatos de entrevistados, como o
pimentão é mais utilizado para acentuar
o sabor de muitos pratos, eles demonstraram pouco interesse nas propriedades
funcionais dessa hortaliça.
No ordenamento do grau de importância, tamanho, formato e peso apareceram nas últimas posições. Tamanho
e formato, todavia, merecem atenção
por apresentarem médias próximas à
tipologia de alguma importância e os
desvios-padrões tiveram valores acima
de 1,45. Entre os entrevistados, 355
respondentes na primeira pesquisa e 306
respondentes na segunda relataram que
o tamanho varia de alguma importância
a muito importante e desses 24,8% e
35,9% preferem os pequenos e 63,1 e
43,8% os médios, respectivamente. Sobre o formato, 257 pessoas no primeiro
estudo e 282 no segundo responderam
que a característica tem mais que alguma
importância e dentre eles 41,6% e 47,2%
preferem os cônicos enquanto que
58,5% e 40,8% escolhem o pimentão de
formato bloco respectivamente.
Mesmo assim, observou-se que
os pimentões dispostos no mercado
apresentam um padrão de tamanho de
médio para grande e formato de bloco
e que a presença do formato cônico está
diminuindo nas prateleiras dos supermercados, pelo menos sazonalmente.
Dessa forma, pode-se deduzir que os
consumidores não foram consultados
na definição do padrão do pimentão,
ressaltando a afirmação feita por Matsuura et al. (2004), de que os projetos
de pesquisa atentam principalmente para
os problemas de cultivo da planta e que
os atributos-chave para os clientes finais
têm sido pouco considerados como
alvos das pesquisas de melhoramento
genético.
A pesquisa também avaliou as diferenças de percepção dos perfis dos
consumidores com relação aos atributos,
ilustradas nas Tabelas 3a e 3b. É fundamental identificar as variáveis demográficas que estão relacionadas como
a propensão a consumir determinados
produtos para definir um posicionamento adequado no mercado. No âmbito do
gênero, em algumas sociedades este
pode ainda ser determinador no papel
de compra (Sheth et al., 2001).
Pelos resultados, foram verificadas
diferenças significativas entre homens
e mulheres em relação à importância
de algumas características nas duas
pesquisas. Na primeira, as mulheres atribuíram maior importância para firmeza
e atributos relacionados à superfície do
pimentão. Na segunda, maior importância foi atribuída à característica firmeza
129
SS Onoyama et al.
Tabela 3b. Importância dos atributos segundo o perfil dos entrevistados da pesquisa de 2008/2009 (importance of attributes according to
the profile of survey respondents 2007/2008). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009.
Não
amassado
Sexo
p=0,40
Masculino
4,73a*
Feminino
4,77a
Grau de escolaridade
p=0,23
Primeiro grau incompleto
4,74a
Primeiro grau completo
4,71a
Segundo grau completo
4,74a
Terceiro grau completo
4,85a
Idade
p=0,47
31-40 anos
4,70a
41-50 anos
4,83a
51-60 anos
4,76a
Mais que 60 anos
4,77a
31-40 anos
4,75a
Estado civil
p=0,38
Solteiro
4,71a
Casado
4,76a
Local
p=0,78
Ceilândia
4,77a
Taguatinga
4,79a
Asa Norte
4,75a
Riacho Fundo
4,78a
Recanto das Emas
4,71a
Sem
mancha
p=0,41
4,58a
4,64a
p=0,55
4,70a
4,60a
4,59a
4,61a
p=0,34
4,52a
4,66a
4,72a
4,58a
4,64a
p=0,41
4,53a
4,59a
p=0,008
4,75a
4,75a
4,56ab
4,57ab
4,48b
Firmeza
p=0,023
4,41a
4,59b
p=0,41
4,43a
4,49a
4,53a
4,63a
p=0,75
4,44a
4,57a
4,59a
4,54a
4,49a
p=0,71
4,51a
4,48a
p=0,35
4,63a
4,57a
4,51a
4,55a
4,38a
Superfície
Sem estria
lisa
p=0,6
p=0,18
4,45a
4,29a
4,49a
4,43a
p=0,71
p=0,33
4,42a
4,18a
4,41a
4,51a
4,40a
4,41a
4,55a
4,41a
p=0,74
p=0,04
4,46a
4,42ab
4,49a
4,22b
4,49a
4,37ab
4,54a
4,57a
4,37a
4,19b
p=0,45
p=0,49
4,51a
4,37a
4,44a
4,29a
p<0,0001 p<0,0001
4,46b
4,50ab
4,76a
4,73a
4,50b
4,45b
4,30b
3,86c
4,38b
4,38b
Sabor
p=0,37
4,06a
4,15a
p=0,59
3,97a
4,20a
4,15a
4,11a
p=0,98
4,06a
4,16a
4,13a
4,11a
4,14a
p=0,31
4,14a
4,02a
p=0,76
4,07a
4,17a
4,10a
4,04a
4,21a
Cor
Brilhante
uniforme
p=0,54
p=0,78
4,03a
4,09a
4,10a
4,05a
p=0,29
p=0,08
3,94a
3,74b
4,24a
4,09ab
4,12a
4,20a
3,97a
4,13ab
p=0,67
p=0,57
3,90a
3,96a
4,12a
4,23a
4,09a
4,10a
4,15a
4,10a
4,11a
3,98a
p=0,88
p=0,98
4,04a
4,04a
4,02a
4,04a
p=0,13
p=0,004
4,09ab
4,05a
4,29a
4,35a
3,90a
4,20a
3,95b
3,71b
4,19ab
4,04a
*Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferiram significativamente a 5% de probabilidade de erro (means with different letters on
the collumn differ significantly to 5% of error probability).
pelas mulheres, enquanto que os homens
mostraram maior preocupação com o
tamanho e o formato.
Quanto ao grau de escolaridade,
tanto na primeira quanto na segunda pesquisa, as pessoas com maior instrução
formal deram maior destaque ao valor
nutricional do pimentão. Cabe salientar
também que preço, tamanho e peso têm
importância maior para os entrevistados
com primeiro grau. Para as demais características, o grau de escolaridade não
interferiu. Como Schiffman & Kanuk
(2000) pressupõem uma associação
entre renda e escolaridade, pode-se deduzir que os entrevistados com primeiro
grau naturalmente têm uma preocupação
maior com preço.
Ao analisar as características sob a
ótica da localização dos supermercados,
não se pode concluir que exista relação
do local com a renda e com nível de
escolaridade, pois os entrevistados da
Asa Norte onde, em geral, residem
pessoas com boa renda e bom nível de
130
escolaridade, relataram que preço está
entre importante e muito importante.
Por outro lado, os entrevistados do Recanto das Emas onde, em geral residem
pessoas de menor poder aquisitivo e
com baixa escolaridade, valorizaram o
teor de vitamina da mesma forma que
os entrevistados da Asa Norte.
A diferença de idade interferiu na
pontuação do nível de importância de
cor e valor nutricional no preço, teor de
vitamina, tamanho, formato e peso, na
segunda pesquisa. Na primeira, as pessoas mais jovens demonstraram maior
preocupação com a coloração uniforme.
Na segunda, os entrevistados com idade
entre 51 e 60 anos enfatizaram mais
tamanho, formato e peso do pimentão.
Em adição, as pessoas acima dos 30 anos
consideraram mais o preço quando vão
comprar o produto. Em ambas as pesquisas, pessoas com maior faixa etária
ressaltaram a necessidade de consumir
alimentos com propriedades funcionais.
Por último, na esfera do estado civil, as
pessoas casadas atentaram mais a preço
e, as solteiras, ao peso do produto. Para
as demais características, a percepção
foi a mesma.
As informações obtidas nessa pesquisa sugerem que os consumidores
enfatizam a textura e as características
relacionadas ao aspecto quando vão
comprar o pimentão. Em adição, foram
detectadas diferenças de percepção entre
gênero, idade, estado civil, grau de escolaridade e localização do supermercado.
Observou-se que os dois últimos itens
não são suficientes para explicar os
segmentos de renda.
Ressalta-se que essa pesquisa analisou o comportamento de 944 consumidores do Distrito Federal. Mesmo com
poucos contrastes nas duas pesquisas
sobre o ranqueamento dos atributos,
as diferenças de percepções entre as
classes estudadas são úteis para estudos
de segmentação de consumidores com
o intuito de posicionar melhor um novo
produto no mercado.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Atributos de hortaliças sob a ótica de consumidores: estudo de caso do pimentão no Distrito Federal
Tabela 3b. continuação ...(continuation ...)
Valor
Preço
nutricional
Sexo
p=0,39 p=0,4519
Masculino
3,80a
3,81a
Feminino
3,92a
3,70a
Grau de escolaridade
p=0,01 p<0,001
Primeiro grau incompleto 3,79bc 3,17c
Primeiro grau completo
3,43c
3,73b
Segundo grau completo
3,96ab 3,82b
Terceiro grau completo
4,15a
4,22a
Idade
p=0,009 p<0,0001
31-40 anos
3,38b
3,67b
41-50 anos
3,97a
3,30b
51-60 anos
4,14a
3,68b
Mais que 60 anos
3,98a
4,32a
31-40 anos
3,93a
3,51b
Estado civil
p=0,02
p=0,29
Solteiro
3,75b
3,79a
Casado
4,10a
3,61a
Local
p<0,0001 p<0,0001
Ceilândia
3,56b
2,25c
Taguatinga
3,16b
4,30a
Asa Norte
4,21a
4,43a
Riacho Fundo
4,21a
3,39b
Recanto das Emas
4,25a
4,34a
A extrapolação para outros estados
necessitará de estudos adicionais para
inferir o comportamento dos demais
consumidores. Propõe-se, no futuro,
realizar um trabalho em outros estados
no intuito de comparar e validar a diferença de perfil dos consumidores quanto
aos atributos do pimentão.
Por fim, as informações desse estudo
apoiarão a pesquisa de melhoramento
de Capsicum para desenvolver novas
cultivares de pimentão que atendam às
exigências dos consumidores preocupados com a firmeza e a aparência, que
é um valor cosmético (Reifschneider
& Lopes, em consulta). Considerando
o tempo e o investimento necessários
nos programas de melhoramento para
produzir novas cultivares, é necessário o
entendimento da demanda presente dos
consumidores para que sejam desenvolvidas cultivares dentro das tendências
de consumo, que são temporariamente
relevantes.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos Drs.Gilmar P.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Tamanho Formato
Peso
p=0,02
p=0,039
3,18a
3,06a
2,84b
2,77b
p=0,07
p=0,03
3,07ab
2,78b
3,29a
3,31a
2,91ab
2,87b
2,69b
2,66b
p=0,08
p=0,005
2,74b
2,66b
2,77b
2,63b
3,14ab
3,06ab
3,22a
3,24a
2,81ab
2,66b
p=0,16
p=0,08
2,95a
2,98a
2,72a
2,70a
p=0,0003 p<0,0001
2,85a
2,39c
3,29a
3,45a
2,39b
2,47c
3,13a
2,93b
3,16a
3,16ab
p=0,075
2,78a
2,53a
p=0,04
2,55b
3,06a
2,54b
2,53b
p=0,002
2,38c
2,32c
2,83ab
2,98a
2,45bc
p=0,048
2,73a
2,42b
p<0,0001
2,13c
2,99a
2,34bc
2,65ab
3,02a
Henz, Carlos Alberto Lopes e Jadir Borges Pinheiro pela valiosa contribuição
neste trabalho; aos gerentes dos supermercados pela colaboração na realização da pesquisa; ao analista Osório Filho
pela revisão; e aos estagiários Franque
Salviano e Arlysson Barros Ulhoa pelo
apoio à realização do trabalho.
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metodologia, planejamento. 4.ed. São Paulo:
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PEREZ R; RAMOS AM; BINOTI ML; SOUSA
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SEAPA. Secretaria de Estado de Agricultura,
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distribuição de hortaliças de folhas na cidade
de São Paulo. Campinas, UNICAMP-IE. 150p
(Tese mestrado).
STOKES ME; DAVIS CS; KOCH GG. 2000.
Categorical Data Analysis Using SAS System.
Second Edition. Cary, NC: SAS Institute Inc,
623p.
VAN DER POL M; RYAN M. 1996. Using conjoint
analysis to establish consumer preferences for
fruit and vegetablesUsing conjoint analysis to
establish consumer preferences for fruit and
vegetables. British Food Journal 98: 5-12.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Errata
No artigo publicado no v. 27, n. 4, página 505, entre os autores, onde está escrito “Mohammad-Madi
Jowkar”, leia-se “Mohammad-Mahdi Jowkar”.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
133
Normas para publicação / Instructions for authors
NORMAS PARA PREPARAÇÃO E SUBMISSÃO
DE TRABALHOS
GUIDELINES FOR PREPARATION AND SUBMISSION OF PAPERS
O periódico Horticultura Brasileira é a revista oficial da
Associação Brasileira de Horticultura. Horticultura Brasileira destina-se à publicação de artigos técnico-científicos
que envolvam hortaliças, plantas medicinais, condimentares
e ornamentais e que contribuam significativamente para o
desenvolvimento desses setores. O periódico Horticultura
Brasileira é publicado a cada três meses. Os artigos podem ser
enviados e/ou publicados em português, inglês ou espanhol.
Para publicar em Horticultura Brasileira é necessário que o
primeiro autor do trabalho seja membro da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) ou das Associações Nacionais
com que a ABH mantém Acordo de Reciprocidade, e esteja
em dia com o pagamento da anuidade. Trabalhos em que
o primeiro autor não cumpra os requisitos acima também
poderão ser submetidos. Neste caso, é necessário que seja
recolhida a taxa de tramitação ampliada, tão logo o trabalho
seja aceito para tramitação.
Os trabalhos enviados para Horticultura Brasileira devem
ser originais, ainda não relatados ou submetidos à publicação
em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também
implícito que os aspectos éticos e o atendimento à legislação
vigente do copyright tenham sido observados durante o desenvolvimento do trabalho. Após a submissão à Horticultura
Brasileira e até o final de sua tramitação, é vedada a submissão
do trabalho, em todo ou em parte, a qualquer outro periódico
ou veículo de divulgação. Caso o trabalho seja aceito para
publicação, Horticultura Brasileira adquire o direito exclusivo
de copyright para todas as línguas e países. Não é permitida
a reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem
autorização por escrito da Comissão Editorial.
O periódico Horticultura Brasileira é composto das seguintes seções:
1. Artigo convidado: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial;
2. Carta ao Editor: assunto de interesse geral. Será
publicada a critério da Comissão Editorial que poderá, ainda,
submetê-la ao processo de revisão;
3. Pesquisa: artigo relatando informações provenientes
de resultados originais de pesquisa obtidos por meio de aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade
é claramente demonstrada;
4. Comunicação Científica: comunicação ou nota
científica relatando informações originais resultantes de observações de campo ou provenientes de experimentos menos
complexos, realizados com aplicação rigorosa de metodologia
científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada;
5. Página do Horticultor: trabalho original referente a
resultados de utilização imediata pelo setor produtivo como,
por exemplo, ensaios originais com agrotóxicos, fertilizantes
ou competição de cultivares, realizados com aplicação rigorosa
de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente
Horticultura Brasileira is the official journal of the
Brazilian Association for Horticultural Science. Horticultura
Brasileira publishes papers on vegetable crops, medicinal
and condimental herbs, and ornamental plants. Papers must
represent a significant contribution to the scientific and
technological development of these crops. Horticultura
Brasileira is published quarterly and accepts and publishes
papers in English, Portuguese, and Spanish. Papers are eligible
for publication if the first author is member of the Brazilian
Association for Horticultural Science (ABH) or of a National
Horticultural Association that has a Reciprocity Agreement
with ABH, in both cases with the annual fee paid. In case first
author does not fall into the previous categories, papers may
be still submitted, regarding that the broad processing fee is
paid as soon as the manuscript is accepted for reviewing.
Horticultura Brasileira publishes original papers, which
have not been submitted to publication elsewhere. It is implicit
that ethical aspects and fully compliance with the copyright
laws were observed during the development of the work.
From the submission up to the end of the reviewing process,
partial or total submission elsewhere is forbidden. With
the acceptance for publication, publishers acquire full and
exclusive copyright for all languages and countries. Unless
the publishers grant special permission, no photographic
reproductions, microform, and other reproduction of a similar
nature may be made of the journal, of individual contributions
contained therein or of extracts therefrom.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Horticultura Brasileira has the following sections:
1. Invited paper: papers dealing with topics that arouse
interest, invited by the Editorial Board;
2. Letter to the Editor: deals with a subject of general
interest. The Editorial Board makes a preliminary evaluation
and can accept or reject it, as well as submit it to the reviewing
process;
3. Research: paper describing an original study, carried
out under strict scientific methods. The reproducibility of
studies should be clearly demonstrated;
4. Scientific Communication: communication or
scientific note, reporting field observations or results of less
complex, but still original studies, carried out under strict
scientific methods. The reproducibility of studies should be
clearly demonstrated;
5. Grower’s page: original communication or short
note describing information readily usable by farmers, as
for example, results from studies regarding the evaluation of
pesticides or fertilizers, or cultivar comparative performance.
Such studies must have been carried out under strict
134
demonstrada;
6. Nova Cultivar: relato de novas cultivares e germoplasma, contendo origem, descrição e disponibilidade, com
dados comparativos.
Submissão dos trabalhos
O texto deve ser composto em programa Word ou compatível, em espaço 1,5, fonte Times New Roman, tamanho
doze. Páginas e linhas devem ser numeradas. Adicione ao final
do texto todos os demais componentes do trabalho (figuras,
tabelas e gráficos). Formate o arquivo para página A4 e todas
as margens para 3 cm, imprima e envie uma cópia. Inclua
também um CD contendo o arquivo do trabalho. Imagens de
baixa resolução, com menos de 600 Kb, não serão aceitas. Os
trabalhos deverão ter no máximo 36.000 caracteres, excluindo
os espaços. Se forem necessárias outras orientações, entre
em contato com a Comissão Editorial ou consulte os últimos
números de Horticultura Brasileira.
Os trabalhos submetidos entrarão em tramitação somente
se:
1. estiverem em total acordo com estas normas;
2. estiverem dentro do escopo e apresentarem nível
técnico-científico compatível com Horticultura Brasileira;
3. estiverem acompanhados da anuência de todos os
autores, que devem assinar a carta de submissão ou a primeira
página do trabalho. Caso um ou mais autores não possa(m)
assinar, a razão deve ser mencionada na carta de submissão.
Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar
pela(s) anuência(s) faltante(s). Mensagens eletrônicas da
anuência ou cópias gráficas destas serão aceitas, desde que
indubitavelmente enviadas da conta eletrônica de quem as
concedeu;
4. estiverem acompanhados da indicação por escrito
da relevância do trabalho (importância e distinguibilidade em
relação a trabalhos já existentes), em não mais que dez linhas,
na carta ou mensagem de submissão;
5.
estiverem acompanhados da indicação de pelo
menos duas pessoas (nome, endereço, e-mail e telefone), de
instituições distintas daquelas a que pertencem os autores, que
possam atuar como assessores ad hoc imparciais.
Quando aceito para tramitação, o autor correspondente
receberá uma mensagem eletrônica e será solicitado o recolhimento da taxa de tramitação, no valor de R$ 55,00, quando
o primeiro autor for associado à ABH ou associações-irmãs
e estiver com a anuidade em dia; ou da taxa de tramitação
ampliada, no valor de R$ 295,00, quando o primeiro autor
não é associado da ABH. Trabalhos rejeitados não serão
devolvidos.
A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro:
1. Título: limitado a 90 caracteres, excluindo os espaços. Utilize nomes científicos somente quando as espécies em
questão não possuírem nomes comuns no idioma utilizado no
trabalho;
2. Nome dos autores: nome(s) próprio(s) completo(s)
do(s) autor(es). Abrevie somente o(s) sobrenome(s)
135
scientific methods and their reproducibility should be clearly
demonstrated;
6. New Cultivar: communications or scientific notes
reporting recent cultivar and germplasm release. It must
include information on origin, description, seed availability,
and comparative data.
Manuscript submission
Prepare your text in Word® or compatible software, in
1,5 space, font Times New Roman 12 points, with pages and
lines numbered. Add images, figures, tables, and charts in the
end of your text and compile all files (text, figures, tables, and
charts) in a single document. Format the document for A4
page, 3-cm margins. Print and submit. Send along a CD-ROM
containing the file. Low-resolution images, below 600 Kb,
will not be accepted for publication. The file must not exceed
36,000 characters, excluding spaces. If further information is
needed, please contact the Editorial Board or refer to recently
released issues.
A paper will be eligible for the reviewing process if:
1. It is in full compliance with these guidelines;
2. It falls into the journal scope and presents a technicalscientific standard compatible with Horticultura Brasileira;
3. It is accompanied by a signed agreement-onpublishing from all authors. A signature on the first page of the
original paper or on the cover letter is accepted. In case one
or more authors can not sign it, the reason(s) must be stated
in the cover letter. In this case, the corresponding author takes
the responsibility. Electronic messages or their hardcopies with
the agreement-on-publishing are accepted when sent from an
electronic account unequivocally managed by the agreeing
author.
4. It is accompanied by a written description of the
relevance of the work (importance and distinctiveness in
relation to the existing literature), not longer than ten lines,
at the cover letter or message;
5. It is accompanied by the nomination of at least two
persons (name, address, email and phone), from institutions
other than those authors are affiliated to, who can act as
impartial peer reviewers.
When accepted for reviewing, the corresponding author
will receive an e-mail alert with instructions for paying the
processing fee (US$ 50.00; E$ 40.00, plus US$ 20.00 or E$
20.00 for covering the fees of international money transference,
when first author is affiliated to ABH and sister-associations
and has no debts with it) or the broad processing fee (US$
185.00; E$ 150.00, plus US$ 20.00 or E$ 20.00 for covering
the fees of international money transference) when first author
is not affiliated. Rejected papers will not be returned.
Papers published in Horticultura Brasileira have the
following format:
1. Title: limited to 90 characters, excluding spaces. Use
scientific names for the species only if the paper deals with
plants that do not have common name in the idiom used in
the paper;
2. Name of authors: Author(s) name(s) in full.
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
intermediário(s). Por exemplo, José Maria Fontana Cardoso,
deve aparecer como José Maria F Cardoso. Utilize números
super-escritos para relacionar autor(es) e endereço(s). Observe
o padrão nos números mais recentes de Horticultura Brasileira;
3. Endereço dos autores: nome da instituição e departamento, instituto, faculdade ou similar, quando for o caso,
com endereço completo para correspondência, de todos os
autores. Inclua o endereço de correio eletrônico de todos
os autores. Utilize números super-escritos para relacionar
autor(es) e endereço(s). Observe o padrão nos números mais
recentes de Horticultura Brasileira;
4. Resumo e palavras-chave: limitado a 1.700 caracteres, excluídos os espaços. Selecione até seis palavras-chave
ou termos para indexação, iniciando sempre pelo nome(s)
científico (s) da(s) espécie(s) em questão. Não repita palavras
que já estejam no título;
5. Title, abstract, and keywords: o título em inglês,
o abstract e as keywords devem ser versões adequadas de
seus similares em inglês. Não utilize tradutores eletrônicos
de texto;
6. Introdução
7. Material e Métodos
8. Resultados e Discussão
9. Agradecimentos, quando for o caso;
10. Referências (não exceda o limite de 30 referências
bibliográficas): assegure-se de que no mínimo a metade das
referências foi publicada recentemente (no máximo, há dez
anos). Casos excepcionais serão considerados. Para tanto,
solicita-se que os autores apresentem suas razões na carta de
submissão. Evite citar resumos e trabalhos apresentados e
publicados em congressos e similares;
11. Figuras, quadros e tabelas: o limite para figuras,
quadros e tabelas é três para cada categoria, com limite total
de cinco. Casos excepcionais serão considerados. Para tanto,
solicita-se que os autores apresentem suas razões na carta de
submissão. Assegure-se de que figuras, quadros e tabelas não
sejam redundantes. Enunciados e notas de rodapé devem ser
bilíngues. Os enunciados devem terminar sempre indicando,
nesta ordem, o local, instituição responsável e o ano de realização do trabalho. Observe a formatação de tabelas em números
anteriores de Horticultura Brasileira. Não insira os gráficos
como figuras. Permita o acesso ao conteúdo original.
Este roteiro deverá ser utilizado para trabalhos destinados
às seções Pesquisa e Comunicação Científica. Para as demais
seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos
últimos números de Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consulte os números mais recentes de Horticultura
Brasileira, disponíveis também nos sítios eletrônicos www.
scielo.br/hb e www.abhorticultura.com.br/Revista.
Prefira a citação bibliográfica no texto entre parênteses,
como segue: (Resende & Costa, 2005). Quando houver mais
de dois autores, utilize a expressão latina et alli abreviada,
em itálico, como segue: (Melo Filho et al., 2005). Quando
houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, diferencie-os por uma letra minúscula, logo após a
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Abbreviate only middle family names. Do not abbreviate
Christian names. For example, Anne Marie Sullivan Radford
should appear as Anne Marie S Radford. Use superscript
numbers to relate authors to addresses. Please refer the most
recent issues of Horticultura Brasileira for formatting;
3. Addresses: Name of the Institution and Department,
if applicable, with full corresponding post address for all
authors. Include authors´ e-mail addresses. Use superscript
numbers to relate addresses to authors. Please refer the most
recent issues of Horticultura Brasileira for formatting;
4. Abstract and keywords: abstract limited to 1,700
characters (excluding spaces). Select up to six keywords or
indexing terms, starting with the scientific name(s) of the
organism(s) the study deals with. Do not repeat words that
appear in the title;
5. Abstract, title, and keywords in Portuguese
or Spanish: abstract, title, and keywords in Portuguese or
Spanish must be adequate versions of their similar in English.
Horticultura Brasileira will provide Portuguese versions for
non-Portuguese speaking authors;
6. Introduction;
7. Material and Methods;
8. Results and Discussion;
9. Acknowledgements, when applicable;
10. References: authors are asked to not exceed 30
bibliographic references. Make sure that at least half of
the references were published recently (up to 10 years).
Exceptional cases will be considered, regarding that authors
state their reasons at the cover letter. Avoid citing conference
abstracts;
11. Figures and tables: tables, figures, and charts are
limited to three each, with a total limit of five. Exceptional
cases will be considered, regarding that authors state their
reasons at the cover letter. Please, make sure that tables,
figures, and charts are not redundant. Titles and footnotes must
be bilingual. Titles should always be finished by presenting,
in this sequence, place, responsible institution, and year(s) of
data gathering. For table formatting, please refer to recently
released issues. Do not insert graphics as figures. Allow access
to the original content.
This structure will be used for manuscripts of the sections
Research and Scientific Communication. For other sections,
please refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira,
available also at www.scielo.br/hb e www.abhorticultura.
com.br/Revista.
Bibliographic references within the text should be cited
as (Resende & Costa, 2005). When there are more than two
authors, abbreviate the Latin expression et alli, in italics, as
follows: (Melo Filho et al., 2005). References to studies done
by the same authors in the same year should be distinguished
in the text and in the Reference list by the letters a, b, etc.,
as for example: 1997a, 1997b. In citations involving more
than one paper from the same author(s) published in different
years, separate years with commas: (Inoue-Nagata et al., 2003,
2004). When citing papers in tandem in the text, sort them
136
data de publicação do trabalho, como segue: 2005a, 2005b,
no texto e nas referências. Quando houver mais de um artigo
do(s) mesmo(s) autor(es), em anos diferentes, separe os anos
por vírgula, como segue: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004).
Quando vários trabalhos forem citados em série, utilize a
ordem cronológica de publicação.
Na seção Referências, organize os trabalhos em ordem
alfabética pelo sobrenome do primeiro autor. Quando houver
mais de um trabalho citado cujos autores sejam exatamente os
mesmos, utilize a ordem cronológica de publicação. Utilize
o padrão internacional na seção Referências, conforme os
exemplos:
a) Periódico
MADEIRA NR; TEIXEIRA JB; ARIMURA CT; JUNQUEIRA CS. 2005.
Influência da concentração de BAP e AG3 no desenvolvimento in vitro
de mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira 23: 982-985.
b) Livro
FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de olericultura. Viçosa: UFV.
402p.
c) Capítulo de livro
FONTES EG; MELO PE de. 1999. Avaliação de riscos na introdução no
ambiente de plantas transgênicas. In: TORRES AC; CALDAS LS; BUSO
JA (eds). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília:
Embrapa Informação Tecnológica/Embrapa Hortaliças. p. 815-843.
d) Tese
SILVA C. 1992. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão
na fase juvenil. Piracicaba: USP – ESALQ. 72p (Tese mestrado).
e) Trabalhos completos apresentados em congressos
(quando não incluídos em periódicos. Evite citar trabalhos
apresentados em congresso).
Anais
HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI PR; FURLANI
AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977. Composição mineral de
frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 4. Anais... Salvador: SBF. p. 357-364.
CD-ROM
AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF. 2004.
Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 44. Resumos...
Campo Grande: SOB (CD-ROM).
f) Trabalhos apresentados em meio eletrônico:
Periódico
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism.
APS News Online. Disponível em http://www.hps.org/hpsnews/19065.
html. Acessado em 25 de novembro de 1998.
Trabalhos completos apresentados em congresso (evite
citar trabalhos apresentados em congressos)
SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do paradigma
de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Disponível
em: http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Acessado em 21
de janeiro de 1997.
Sítios eletrônicos
USDA - United States Department of Agriculture. 2004, 15 de novembro.
World asparagus situation & outlook. Disponível em http://www.fas.
usda.gov/
Em caso de dúvidas, entre em contato com a Comissão
Editorial ou consulte os números mais recentes de Horticultura Brasileira.
Processo de tramitação
137
chronologically.
In the section References, order citations alphabetically,
according to first author’s family name, without numbering.
When there is more than one paper from exactly the same
authors, list them chronologically. References should appear
accordingly to the international format, as follows:
a) Journal
GARCIA-GARRIDO JM; OCAMPO JA. 2002. Regulation of the plant
defense response in arbuscular mycorrhizal symbiosis. Journal of
Experimental Botany 53: 1377-1386.
b) Book
BREWSTER JL. 1994. Onions and other vegetable alliums. Wallingford:
CAB International. 236p.
c) Book chapter
ATKINSON D. 2000. Root characteristics: why and what to measure?
In: SMIT AL; BENGOUGH AG; ENGELS C; van NORDWIJK M;
PELLERIN S; van de GEIJN SC (eds). Root methods: a handbook. Berlin:
Springer-Verlag. p. 1-32.
d) Thesis
DORLAND E. 2004. Ecological restoration of heaths and matgrass swards:
bottlenecks and solutions. Utrecht: Utrecht University. 86p (Ph.D.
thesis).
e) Full papers presented in conferences (when not
included in referred journals. Avoid citing papers presented
in conferences)
Proceedings
van JOST M; CLARCK CK; BENSON W. 2007. Lettuce growth in high soil
nitrate levels. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON NITROGEN
USE IN HORTICULTURE, 4. Annals... Utrecht: ISHS p. 122-123.
CD-ROM
LÉMANGE PA; DEBRET L. 2004. Rhizoctonia resistance in green asparagus
lines In: EUROPEAN SYMPOSIUM OF VEGETABLE BREEDING, 17.
Proceedings... Lyon: Eucarpia (CD-ROM).
f) Papers published in electronic media
Journal
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism.
APS News Online. Available in http://www.hps.org/hpsnews/19065.html.
Accessed in November 25, 1998.
Full papers presented in conferences (Avoid as much as
possible citing papers presented in conferences)
DONOVAN WR; JONHSON L. 2007. Limits to the progress of natural
resources exploration. In: International congress of plant genetic resources,
12. Annals... Adelaide: ASGR. Available in http://www.asgr.au/annals/
conference/aus012.htm. Accessed in January 21, 2008.
Electronic Sites
USDA - United States Department of Agriculture. 2004, November 15. World
asparagus situation & outlook. Available in http://www.fas.usda.gov/
For further orientation, please contact the Editorial Board
or refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira.
The reviewing process
Manuscripts are submitted to the Editorial Board for a
preliminary evaluation (scope, adherence to the publication
guidelines, scientific relevance, technical quality, and
command of language). The Editorial Board decision (eligible,
not eligible) will be e-mailed to the correspondent author.
If modifications are needed, the author may submit a new
version. If the manuscript is adequate for reviewing, the
Editorial Board forwards it to at least two ad hoc reviewers
of the specific research area. As soon as they evaluate the
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Os artigos serão submetidos à Comissão Editorial, que fará
uma avaliação preliminar (escopo do trabalho, atendimento às
normas de publicação, relevância científica e qualidade técnica
e do texto). A decisão da Comissão Editorial (adequado para
tramitação, ou não adequado) será comunicada ao autor de
correspondência por via eletrônica. Caso sejam necessárias
modificações, os autores poderão submeter uma nova versão
para avaliação. Caso a tramitação seja aprovada, a Comissão
Editorial encaminhará o trabalho a pelo menos dois assessores
ad hoc, especialistas na área em questão. Tão logo haja dois
pareceres, o trabalho é enviado a um dos Editores Científicos
da área, que emitirá seu parecer: (1) recomendado para publicação, (2) necessidade de alterações ou (3) não recomendado
para publicação. Nas situações 1 e 3, o trabalho é encaminhado
ao Editor Associado. Na situação 2, o trabalho é encaminhado
aos autores, que devem elaborar uma nova versão. Esta é enviada à Comissão Editorial, que a remeterá ao Editor Científico
para avaliação. O Editor Científico poderá recomendar ou não
a nova versão. Em ambos os casos, o trabalho é remetido para
o Editor Associado, que emitirá o parecer final. A Comissão
Editorial encaminhará o parecer para os autores.
Nenhuma alteração é incorporada ao trabalho sem a aprovação dos autores. Após o aceite em definitivo do trabalho,
o autor de correspondência receberá uma cópia eletrônica
da prova tipográfica, que deverá ser devolvida à Comissão
Editorial em 48 horas. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. Alterações, adições, deleções e
edições implicarão em novo exame do trabalho pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova
tipográfica corrigida e devolvida à Comissão Editorial são de
inteira responsabilidade dos autores. Horticultura Brasileira
não adota a política de distribuição de separatas.
Idioma de publicação
Em qualquer ponto do processo de tramitação, os autores
podem manifestar seu desejo de publicar o trabalho em um
idioma distinto daquele em que foi escrito, desde que o idioma
escolhido seja um dos três aceitos em Horticultura Brasileira, a
saber, Espanhol, Inglês e Português. Por exemplo: um trabalho
pode ser submetido e ter toda a sua tramitação em português
e, ainda assim, ser publicado em inglês. Neste caso, os autores
tanto podem providenciar a versão final para o idioma desejado, quanto autorizar a Comissão Editorial a providenciá-la.
Quando a versão traduzida fornecida pelos autores não atingir
o padrão idiomático requerido para publicação, a Comissão
Editorial encaminhará o texto para revisão por um especialista.
Todos os custos decorrentes de tradução e revisão idiomática
serão cobertos pelos autores.
Cobrança por página publicada
Horticultura Brasileira tem uma taxa por página de R$
50,00.
Impressão em cores
Horticultura Brasileira tem uma taxa de R$ 400,00 por
página impressa em cores.
Os originais devem ser enviados para:
Horticultura Brasileira
Caixa Postal 190
70.359-970 Brasília – DF
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
manuscript, it is sent to a related Scientific Editor. The
Scientific Editor analyzes the manuscript and forwards it
back to the Editorial Board (1) recommending for publication,
(2) asking for modifications or (3) do not recommending for
publication. In situations 1 and 3, the manuscript is reviewed
by the Associate Editor, who holds the responsibility for the
final decision. In situation 2, the manuscript is returned to the
author(s), who produces a new version, which is forwarded to
the Editorial Board. Following, the Scientific Editor checks
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139
Hortic. bras., v. 28, n. 1, jan.- mar. 2010
Imagens da capa (da esquerda para direita, para cada
três imagens na horizontal):
Heliconia X ‘Orange Torch’; H.
stricta ‘Sharonii’; H. orthotricha
‘Eclipse Total’; Etlingera elatior
‘Cacheffo’; Costus comosus var.
bakeri; Etlingera elatior; Zingiber spectabile; Cheilocostus
speciosus; Costus productus.
Autoria: Carlos E. F. de Castro e Arlete M. T. de Melo
Zingiberales ornamentais
diversificando a floricultura
tropical
Nos últimos anos vem ocorrendo uma substancial alteração
no perfil da floricultura praticada no Brasil, com produtos
tradicionais compartilhando o
mercado com flores e folhagens
de origem tropical.
Parte dessa alteração pode
ser atribuída à demanda mundial
por novos produtos e à organização das bases produtivas em
países da América Latina – com
destaque para a Costa Rica – que
impulsionaram sua oferta no
mercado internacional. Quanto
à demanda por novidades, as
flores e folhagens tropicais, pela
diversidade de formas, cores e
uso, passaram a atender prontamente à necessidade existente.
Para consumidores de climas
frios, as flores e folhagens tropicais reúnem exotismo e beleza,
além de sensação de bem-estar,
aconchego e calor em um mesmo produto.
Para adequar uma espécie ao
uso como flor ou folhagem de
corte ou como planta de vaso,
outras características também
vêm sendo consideradas. No primeiro caso, as flores e folhagens
de origem tropical devem apresentar: haste com tamanho que
permita os cortes necessários à
padronização; boa durabilidade
pós-colheita; não persistência
das flores inclusas nas brácteas,
evitando sua retirada posterior;
e produção economicamente
viável por planta e por ciclo. No
caso de planta de vaso, as espécies devem reunir: porte baixo
e arquitetura uniforme; manutenção de folhas nas hastes; alta
capacidade de recobrimento do
solo; coloração e dimensões
proporcionais das hastes florais,
foliares e folhas; persistência
e longo período de floração; e
bom número de inflorescências
por ciclo.
No contexto da floricultura
tropical, grande destaque atualmente é dado para o cultivo de
espécies da ordem Zingiberales,
constituída por oito famílias:
Heliconiaceae, Zingiberaceae,
Costaceae, Marantaceae, Cannaceae, Lowiaceae, Musaceae
e Strelitziaceae.
A família Heliconiaceae é monogenérica. São 183
espécies classificadas no gênero
Heliconia, sendo 33 nativas do
Brasil.
No país, são cultivadas mais
intensivamente cultivares de
H. bihai, H. psittacorum, H.
wagneriana, H. angusta, H.
collinsiana, H. rostrata, H.
stricta e alguns híbridos interespecíficos.
Na família Zingiberaceae,
têm valor ornamental espécies
dos gêneros Alpinia, Zingiber
e Etlingera.
O gênero Alpinia reúne mais
de 200 espécies, com destaque
para A. purpurata. As principais
variedades dessa espécie são
Red Ginger, Rose Ginger, Eileen
McDonald, Tahithian Ginger,
Jungle King e Jungle Queen. O
seu potencial como flor de corte
é estabelecido pelo florescimento sucessivo durante o ano e sua
longevidade pós-colheita de até
14 dias.
Em Zingiber, o gênero tipo
da família Zingiberaceae, as
espécies com valor ornamental
apresentam desenvolvimento
vigoroso, inflorescências de
grande durabilidade e brácteas
com colorido brilhante, características que as tornam amplamente utilizadas como flores
de corte em arranjos florais. A
mudança gradual da coloração
das brácteas das inflorescências,
em algumas espécies, passando
do verde ao amarelo, seguido
de vários tons de vermelho até
um vermelho intenso, agrega
um fator de interesse adicional
às plantas. Cultivadas no Brasil,
encontram-se Zingiber zerumbet
e Z. spectabile.
O bastão do imperador é
originário da Ásia e classificado
no gênero Etlingera. Em cultivo,
destacam-se E. elatior e E. haemespherica.
A família Costaceae é dividida em sete gêneros que
compreendem de 120 a 150 espécies. Os gêneros mais importantes são Costus, Cheilocostus,
Chamaecostus, Dimerocostus e
Tapeinochilos.
O interesse por algumas
espécies como flor de corte, caso
de Costus lasius, C. productus,
C. arabicus, C. stenophyllus, C.
comosus var. bakeri, C. scaber,
Cheilocostus speciosus variegata e Dimerocostus strobilaceus,
é devido à grande durabilidade
pós-colheita das inflorescências.
Quanto ao uso no paisagismo,
destacam-se, além dos já citados, Costus malortieanus, C.
pictus, C. arabicus variegata e
C. pulverulentus. Tal uso está
relacionado ao longo período da
floração, à arquitetura da planta,
à variação da textura, forma e
cor de folhas e inflorescências e
à adaptação a diferentes locais
de cultivo. Costus stenophyllus,
C. pictus, Cheilocostus speciosus variegata e Dimerocostus
strobilaceus podem ser comercializadas como hastes foliares
cortadas.
Em Marantaceae, os gêneros
Calathea, Maranta, Ctenanthe e
Stromanthe são os mais interessantes, embora muitas espécies
possam ser usadas como plantas
de vaso, de jardim ou folhagem
ornamental. Como flores de
corte, destacam-se Calathea
cylindrica, C. crotolifera e C.
burle-marxii.
Da família Musaceae, Musa
velutina, M. coccinea, M. ornata
e Ensete ventricosum são cultivadas como ornamentais.
Strelitziaceae é constituída
por três gêneros e sete espécies:
Strelitzia, Ravenala e Phenakospermum. No Brasil, destacam-se
S. reginae e Ravenala madagascariensis, esta conhecida como
a árvore do viajante.
Cannaceae tem importância
apenas como planta de jardim na
composição de maciços florais.
Quanto à monogenérica família
Lowiaceae, suas espécies não
são cultivadas no Brasil.
A ampliação do cultivo e
comercialização de espécies de
Zingiberales vêm exigindo o
estabelecimento de programas
de pesquisa específicos nas
universidades e instituições nacionais de P, D & I. Sem dúvida,
a partir dos trabalhos pioneiros
realizados no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, em
1982, a pesquisa nacional com
flores tropicais não deixou de
evoluir. Como resultado, nosso
país é um dos centros de referência mundial e, anualmente,
mais pesquisadores se agregam
à atividade. Entretanto, muitas
respostas tecnológicas ainda são
necessárias, em se tratando de
um novo universo de pesquisa e
de cultivo. As soluções esperadas só serão possíveis mediante
o estabelecimento de políticas
públicas robustas de apoio à
atividade e ao ingresso e capacitação de maior contingente de
recursos humanos. Bem vindos,
portanto, à causa da floricultura
tropical.
Carlos Eduardo Ferreira de
Castro (Instituto Agronômico
(IAC), Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13012-970
Campinas-SP, ccastro@iac.
sp.gov.br)
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