Produção de alho-semente da cultivar Amarante proveniente de material livre de vírus em pequenos agricultores da Bahia. Werito Fernandes de Melo1; Francisco Vilela Resende1; André Nepomuceno Dusi1 1 Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970, Brasília – DF E-mail: [email protected] RESUMO A Embrapa Hortaliças iniciou os trabalhos com alho Amarante proveniente de material livre de vírus em Cristópolis-BA no ano de 2002, com a implantação de unidades demonstrativas. A partir do ano de 2003, iniciou-se a validação do sistema de produção própria de alhosemente de alta qualidade sanitária e fisiológica. O sistema no primeiro ano consiste do plantio de um pequeno telado antiafídeos com aproximadamente 18 m2 de área total (2.000 bulbilhos), mais 100 m2 de área fora do telado (9.000 bubilhos). No segundo ano o material colhido no telado é novamente plantado no telado e na área de 100 m2, e o material colhido na área de 100 m2 é plantado numa área de 1.000 m2 (63.000 bubilhos). No terceiro ano o material colhido no telado é novamente plantado no telado e na área de 100 m2, e o material colhido na área de 100 m2 é plantado numa área de 1.000 m2 e o material colhido na área de 1.000 m2 é plantado numa área de 10.000 m2 (400.000 bulbilhos). Ou seja, no terceiro ano é possível ter material de boa qualidade fitossanitária suficiente para plantio de 1 ha de lavoura comercial. Para validação do sistema foram utilizados bulbilhos-semente de alho da cultivar Amarante de identidade genética garantida, provenientes de multiplicações em condições fitossanitárias controladas. Neste trabalho foram avaliados os resultados alcançados nas unidades em 2004. O alho proveniente de material livre de vírus produziu de 74 a 520% a mais que os materiais utilizados pelos produtores. O peso médio de bulbo e a proporção de alho de maior valor comercial (tipo 4, 5 e 6) também aumentaram consideravelmente. Palavras chave: Allium sativum L., sistema de multiplicação, validação. ABSTRACT- Garlic-seed production of the cultivars Amarante originated from virusfree material by growers from Bahia, Brazil. Embrapa Vegetables began, in 2002, a work in a demonstrative plot with “Amarante” garlic originated from virus-free clones in Cristópolis-BA, Brazil. After 2003, began the validation of the own production system of garlic-seed with high sanitary and physiologic quality. The system in the first year consist of the cultivation an aphid-proof screenhouse with 18 m2 and capacity for 2,000 virus-free cloves, more a field of 100 m2 with circa of 9,000 cloves. In the second year the material harvested in the aphid-proof screenhouse is again planted in the the aphid-proof screenhouse and in the area of 100 m2, and the material harvested in area of 100 m2 is planted in an area of 1.000 m2 with circa of 63,000 cloves. In the third year the material harvested in the aphid-proof screenhouse is again planted in the aphid-proof screenhouse, in the area of 100 m2, the material harvested in the area of 100 m2 is planted in an area of 1,000 m2 and the material harvested in an area of 1,000 m2 is planted in an area of 10,000 m2 with circa 400,000 cloves. So, in the third year is possible to have material of good phytossanitary quality enough to plant 1 ha of commercial field. In 2004, the garlic originated of the virus-free material produced from 74 to 520% more than the materials used by growers. The bulb weight and the marketable bulb yield were higher than the ordinary common garlic cultivated by growers. Key Words: Allium sativum L., multiplication system, validation INTRODUÇÃO O alho é uma espécie propagada vegetativamente e as viroses assumem um papel preponderante na redução da produção e qualidade do alho produzido no Brasil. Este tipo de propagação favorece a transmissão de pragas e doenças em plantios sucessivos, acarretando uma perda gradual na capacidade produtiva da planta e na longevidade dos bulbos em armazenamento (Carvalho, 1986; Dusi, 1995). A Embrapa Hortaliças desenvolveu um novo conceito de produção própria de alhosemente a partir de material livre de vírus. O sistema preconizado pela Empresa consiste no primeiro ano o plantio de um pequeno telado antiafídeos com aproximadamente 18 m2 de área total (2.000 bulbilhos), mais 100 m2 de área fora do telado (9.000 bubilhos). No segundo ano o material colhido no telado é novamente plantado no telado e na área de 100 m2, e o material colhido na área de 100 m2 é plantado numa área de 1000 m2 (63.000 bubilhos). No terceiro ano o material colhido no telado é novamente plantado no telado e na área de 100 m2, e o material colhido na área de 100 m2 é plantado numa área de 1.000 m2 e o material colhido na área de 1.000 m2 é plantado numa área de 10.000 m2 (400.000 bulbilhos). Ou seja, no terceiro ano é possível ter material de boa qualidade fitossanitária suficiente para plantio de 1 ha de lavoura comercial, gerando um fluxo contínuo de produção de alho-semente de alta qualidade fisiológica e sanitária (Tabela 1). Neste trabalho foram avaliados os resultados alcançados nas unidades de validação de produção de alho-semente proveniente de material livre de vírus, implantadas em Cristópolis-BA no ano de 2004. MATERIAL E MÉTODOS No ano de 2003 foram implantadas as primeiras unidades de validação do sistema de produção própria de alho-semente, a partir de material proveniente de plantas livre de vírus. Utilizou-se para o plantio bulbilhos-semente da cultivar Amarante (identidade genética garantida), provenientes de multiplicações em condições fitossanitárias controladas. Em cada propriedade foi instalado um telado de 18 m2 mais uma área de 100 m2 no campo. No ano de 2004, dando continuidade ao sistema de produção de alho-semente, foram instaladas em três propriedades, o telado, a área de 100 m2 (primeiro ano de exposição ao campo) e a área de 1.000 m2 (segundo ano de exposição ao campo). Para avaliação da produtividade, foram retiradas em cada área 4 amostras de 1 m2. Para avaliação do peso médio de bulbo e da classificação do material colhido, retirou-se 1 amostra de 10 m2 de cada área. RESULTADOS E DISCUSSÃO As avaliações das unidades em 2004 apresentaram resultados surpreendentes pelo desempenho superior do alho-semente proveniente de plantas livres de vírus em relação ao material comum utilizado pelo produtor. Mesmo com a tecnologia incipiente utilizada pelos produtores da região de Cristópolis, a produtividade da maioria das unidades ultrapassou significativamente a produtividade média brasileira que se situa ente 7,0 e 8,0 t/ha. O alho proveniente de material livre de vírus produziu de 74 a 520% a mais que os materiais utilizados pelos produtores. O peso médio de bulbo e a proporção de alho de maior valor comercial (tipo 4, 5 e 6) também aumentaram consideravelmente (Tabela 2). LITERATURA CITADA CARVALHO, M. G. Viroses do alho. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.12, n.142, p.41-46, 1986. (b) DUSI, A. N. Doencas causadas por vírus em alho. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.183, p.19-21, 1995. Tabela 1. Fluxograma do sistema de produção de alho-semente livre de vírus por pequenos produtores. Ano Telado Campo 1o Ciclo 2o Ciclo 3o Ciclo 1 2.000 → 12.000 10.000 → 60.000 2 2.000 → 12.000 10.000 → 60.000 60.000 → 400.000 3 2.000 → 12.000 10.000 → 60.000 60.000 → 400.000 400.000 = 1,0 ha de alho consumo Tabela 2. Características de produção e classificação comercial de bulbos de alho comum utilizado pelo produtor e oriundo de alho semente livres de vírus introduzido pela Embrapa Hortaliças em 1ª e 2ª exposição ao campo nas unidades de validação (UV) de Cristópolis – BA, 2004. Classificação do alho colhido em kg/10 m2 e Produção % Total tipo tipo tipo tipo tipo Refugo (t/ha) * 07 06 05 04 03 Unidade 01 (Produtor José Alves de Brito) Alho livre de vírus de 1ª exposição 1,10 6,16 4,00 0,70 0,14 12,16 a % 8,20 50,73 31,91 5,87 3,29 Alho livre de vírus de 2ª exposição 0,10 0,76 6,27 3,07 0,65 0,13 11,05 ab % 1,09 7,03 56,81 27,82 5,98 1,27 Alho comum do produtor 0,19 2,00 2,35 0,96 0,64 6,17 c % 3,23 32,54 38,14 15,65 10,44 Unidade 2 (Produtor Valcy Xavier de Lima) Alho livre de vírus de 1ª exposição 0,90 3,20 1,18 1,50 6,81 b % 13,27 47,00 17,46 22,27 Alho livre de vírus de 2ª exposição 0,85 2,65 2,94 1,38 7,86 a % 10,93 33,79 37,62 17,66 3,89 c Alho comum do produtor 0,88 1,01 0,37 0,41 2,69 Alho do telado 32,75 37,85 14,00 15,40 Unidade 3 (Produtor Adécio Messias Brandão) Peso médio bulbo (g) 31,02 29,39 22,04 18,50 20,00 15,50 5,35 Alho livre de vírus de 1ª exposição % 2,59 4,74 1,80 26,26 47,89 18,33 0,74 7,52 9,90 a 24,28 Alho livre de vírus de 2ª exposição % 3,21 4,33 1,55 33,03 44,46 15,98 0,62 6,53 9,73 a 24,34 1,57 b 4,48 3,08 6,88 Alho comum do produtor Alho do telado * 0,21 1,56 0,93 7,29 50,74 30,65 0,19 6,63 0,13 4,69 As medias seguidas de mesma letra na coluna, para o mesmo produtor, não diferiram entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste t student e Mann-Whitney.