OBTENÇÃO DE COMPÓSITOS HIDROXIAPATITA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
OBTENÇÃO DE COMPÓSITOS HIDROXIAPATITA-QUITOSANA
CONTENDO SULFADIAZINA DE PRATA COMPLEXADA EM βCICLODEXTRINA
GABRIELA DAS GRAÇAS GOMES TRINDADE
SÃO CRISTÓVÃO
Fevereiro
2015
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
OBTENÇÃO DE COMPÓSITOS HIDROXIAPATITA-QUITOSANA
CONTENDO SULFADIAZINA DE PRATA COMPLEXADA EM βCICLODEXTRINA
GABRIELA DAS GRAÇAS GOMES TRINDADE
Dissertação apresentada ao Núcleo de
Pós-Graduação
em
Ciências
Farmacêuticas
da
Universidade
Federal de Sergipe, como requisito à
obtenção do grau de Mestre em
Ciências Farmacêuticas.
Orientadora: Profª. Dra. Rogéria de Souza Nunes
SÃO CRISTÓVÃO
Fevereiro
2015
3
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
T833o
TrTrindade, Gabriela das Graças Gomes
Obtenção de compósitos hidroxiapatita-quitosana contendo sulfadiazina de
prata complexada em β-ciclodextrina / Gabriela das Graças Gomes Trindade;
orientador Rogéria de Souza Nunes. – São Cristovão, 2015.
90 f. : il.
Dissertação (mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Universidade Federal de
Sergipe, 2015.
1. Quitosana. 2. Sulfadiazina de prata. 3. Hidroxiapatita. 4. Farmácia. I. Nunes, Rogéria
de Souza, orient. II. Título.
CDU 615.012
4
GABRIELA DAS GRAÇAS GOMES TRINDADE
OBTENÇÃO DE COMPÓSITOS HIDROXIAPATITA-QUITOSANA
CONTENDO SULFADIAZINA DE PRATA COMPLEXADA EM βCICLODEXTRINA
Dissertação apresentada ao Núcleo de PósGraduação em Ciências Farmacêuticas da
Universidade Federal de Sergipe, como
requisito à obtenção do grau de Mestre em
Ciências Farmacêuticas.
Aprovada em: ___/____/_____
_________________________________________________
Orientador (a): Profª. Drª. Rogéria de Souza Nunes
_________________________________________________
1º Examinador (a)
_________________________________________________
2º Examinador (a)
PARECER
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
5
Aos meus pais, Joscelino e Maria e
À minha irmã, Carolina!
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, fonte de sabedoria, Te agradeço por sempre estar
presente, abençoando meus sonhos, aumentando minha fé e força para seguir;
Aos meus preciosos pais, Joscelino e Maria, que se doaram inteiros para realizar
este sonho. Por toda dedicação, confiança, cuidado e principalmente pelo amor
incondicional. Esta vitória é mais uma prova do amor e educação transmitida durante
minha formação;
A minha irmã Carolina, pelo amor incondicional, amizade, companheirismo,
dedicação, paciência, sempre ao meu lado me impulsionando com determinação, fé,
esperança e alegria. Este singelo trabalho dedico a você, que não mediu esforços
para me apoiar quando precisava;
Aos meus familiares pelo apoio e orações, em especial a minha tia avó Artemísia, tio
Gildásio e tia Margarida, por compartilhar muita sabedoria, afeto e confiança. Sou
eternamente grata a torcida de vocês;
A minha orientadora, professora Dra. Rogéria de Souza Nunes, pela orientação,
dedicação, confiança, paciência, ensinamentos, oportunidades e amizade durante
toda a minha vida acadêmica. Por todo interesse e incentivo durante esses anos de
pesquisa científica, por sempre acreditar no meu potencial e compartilhar idéias que
sempre motivaram o meu trabalho;
Ao professor Dr. Mário Ernesto, colaborador e parceiro deste trabalho. Agradeço
pelo apoio, dedicação, ensinamentos e incentivo em contribuir com seus
conhecimentos durante o desenvolvimento deste trabalho;
Ao professor Dr. Victor Hugo Sarmento, por todo incentivo e sugestões durante a
banca de seminários, por compartilhar idéias que contribuíram na construção desta
dissertação;
Ao professor Dr. Adriano Antunes, por todo apoio, incentivo, paciência, sugestões,
ensinamentos e contribuições dados ao trabalho. Pela dedicação e disposição em
contribuir durante as bancas de avaliação, sou imensamente grata;
7
Ao professor Dr. Luís Eduardo, por todo incentivo e contribuições dados ao trabalho.
Agradeço pela disposição em contribuir durante as bancas de avaliação;
A Ricardo, pela paciência, amor, amizade, companheirismo, dedicação e por estar
ao meu lado em todos os momentos diminuindo o "stress" e multiplicando a alegria a
cada conquista;
As
minhas
amigas
"Mestrandas
Lindas",
pela
amizade,
cumplicidade,
companheirismo, paciência, incentivo, carinho, pela torcida até o final de cada
apresentação nos seminários, e por todos momentos compartilhados;
Aos meus amigos, em especial a Juh, Mari, Dai, Dri, Lícia, Joyce e Drika, pela
amizade, companheirismo, alegria, compreensão e incentivo, por estarem sempre
do meu lado;
As minhas alunas de Pibic, Thay e Valéria, pela dedicação aos experimentos,
amizade e contribuições no desenvolvimento desta dissertação;
Ao LADEF, em especial a Alyne, Sarah, Joyce, Juh, Drika, Lícia, Dani, Raquel,
Kelvin, Bella e Micheline, pelo apoio, incentivo, carinho, paciência, por todos os
momentos compartilhados com muita alegria que se tornaram muito especiais;
Aos professores do NPGCF, pelo incentivo e conhecimentos compartilhados durante
as disciplinas e atividades;
A secretaria do NPGCF, em especial a André, pelo apoio e amizade durante esse
período;
Aos centros de pesquisa NUCEM- UFS, LPCM-UFS, CMNano-UFS e NUESC-UNIT,
pela oportunidade de execução das análises para o desenvolvimento desta
dissertação;
A CAPES e CNPq, pelo apoio financeiro concedido para a execução deste trabalho;
A todos,
Muito obrigada!
8
RESUMO
A utilização de compósitos contendo biocerâmicas e polímeros a fim de combinar as
vantagens dos materiais isolados, com o objetivo de produzir um sistema com
características mecânicas apropriadas para liberação de fármacos tem sido bastante
estudada nos últimos anos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi desenvolver
compósitos hidroxiapatita-quitosana contendo sulfadiazina de prata, um antibiótico
de escolha para o tratamento de queimaduras e feridas amplas da pele, complexada
em β-ciclodextrina. Os compósitos foram obtidos por meio do método de evaporação
do solvente. A fim de melhorar a solubilidade da sulfadiazina de prata em meio
aquoso, complexos de inclusão foram obtidos por malaxagem, em diferentes razões
estequiométricas
de sulfadiazina
de
prata/β-ciclodextrina
(1:1,
1:2
e
1:3)
respectivamente. Após obtenção, os complexos, os compósitos e seus componentes
isolados
foram
caracterizados
por
calorimetria
exploratória
diferencial,
termogravimetria, espectroscopia de absorção na região do infravermelho com
transformada de Fourier, difração de raios X e microscopia eletrônica de varredura.
O desenvolvimento do método de doseamento e a eficiência de complexação do
fármaco foram realizados por cromatografia líquida de alta eficiência. Os resultados
de caracterização referentes aos componentes isolados, mistura física e complexos
de inclusão obtidos, permitiram visualizar interações entre o fármaco e a βciclodextrina, sugerindo a complexação. Os resultados de caracterização dos
compósitos e seus componentes permitiram visualizar possíveis interações entre a
hidroxiapatita, quitosana e os complexos de inclusão demonstrando que houve a
formação do compósito após incorporação do fármaco. O método de doseamento foi
desenvolvido e apresentou resposta linear na faixa de concentração de 0,003 a 0,03
mg/mL, com r² = 0,9996, e o ensaio demonstrou precisão, exatidão, limite de
quantificação, limite de detecção e robustez adequadas para a investigação do
doseamento do fármaco. Os complexos de inclusão 1:1 obtiveram maior eficiência
de complexação da sulfadiazina de prata em β-ciclodextrina (32,15%). Dessa
maneira, a razão estequiométrica 1:1 mostrou-se suficiente para formação do
complexo de inclusão de sulfadiazina de prata/β-ciclodextrina, e posteriormente, foi
favorável ao ser incorporado ao compósito hidroxiapatita/quitosana.
Palavras chave: Compósitos; quitosana, sulfadiazina de prata; sistemas de
liberação.
9
ABSTRACT
The use of composites containing bioceramics and polymers in order to combine the
advantages isolated materials, with the aim of producing a system with suitable
mechanical characteristics for drug delivery has been widely studied in recent years.
Thus, the aim of this work was to develop hydroxyapatite-chitosan composites
containing silver sulfadiazine, an antibiotic of choice for treatment of burns and skin
extensive wounds, complexed in β-cyclodextrin. The composites were obtained by
solvent evaporation method. In order to improve the solubility of the silver
sulfadiazine in an aqueous medium, inclusion complexes were obtained by paste
method, at different stoichiometric ratios silver sulfadiazine/β-cyclodextrin (1:1, 1:2
and 1:3), respectively. After procurement, the complexes, composites and its
individual components were characterized by differential scanning calorimetry,
thermogravimetry, Fourier transformed infrared, X-ray diffraction and scanning
etectron microscopy. The development of the assay method and the drug
complexation efficiency was performed by high performance liquid chromatography.
The characterization results of the components, physical mixture and inclusion
complexes obtained, allowed us to visualize the interaction between the drug and βcyclodextrin,
suggesting
complexation.
The
characterization
results
of
the
components and composites showed possible interactions between hydroxyapatite,
chitosan and inclusion complexes demonstrating that there was formation of the
composite after incorporation of the drug. The drug assay method was developed
and showed a linear response in the concentration range from 0.003 to 0.03 mg/mL,
with r² = 0.9996, and the test showed precision, accuracy, quantification limit,
detection limit and robustness adequate for investigation of drug dosing. The
inclusion complexes 1:1 had higher complexation efficiency of silver sulfadiazine in βcyclodextrin (32.15%). Thus, the stoichiometric ratio 1:1 proved to be sufficient for
formation of the inclusion complex of silver sulfadiazine/β-cyclodextrin, and
subsequently was favorable to be incorporated into the hydroxyapatite/chitosan
composites.
Keywords: Composites; chitosan, silver sulfadiazine; delivery systems.
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 19
2.1 Sistemas de liberação de fármacos .................................................................... 19
2.2 Polímeros ............................................................................................................ 20
2.3 Quitosana ............................................................................................................ 20
2.4 Filmes de quitosana ............................................................................................ 22
2.5 Compósitos ......................................................................................................... 23
2.6 Sulfadiazina de prata ........................................................................................... 26
2.7 Ciclodextrinas ...................................................................................................... 27
2.8 Técnicas utilizadas para caracterização físico-química ....................................... 31
2.9 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) .................................................. 32
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 34
3.1 Geral.................................................................................................................... 34
3.2 Específicos .......................................................................................................... 34
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 35
4.1 Material................................................................................................................ 35
4.1.1 Reagentes e solventes ..................................................................................... 35
4.1.2 Equipamentos .................................................................................................. 35
4.2 Métodos............................................................................................................... 36
4.2.1 Obtenção dos complexos de inclusão .............................................................. 36
4.2.2 Obtenção da pasta de hidroxiapatita ................................................................ 37
4.2.3 Obtenção dos compósitos ................................................................................ 37
4.2.4 Caracterização dos componentes, dos complexos de inclusão e dos
compósitos ................................................................................................................ 38
4.2.4.1 Calorimetria exploratória diferencial (DSC) ................................................... 38
4.2.4.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG) ............................ 39
4.2.4.3 Determinação de umidade por Karl Fisher .................................................... 39
4.2.4.4 Espectroscopia de absorção na região do Infravermelho com transformada
de Fourier (FTIR)....................................................................................................... 39
4.2.4.5 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................ 40
11
4.2.4.6 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) .................................................. 40
4.2.5 Desenvolvimento do método de doseamento da sulfadiazina de prata por
CLAE ......................................................................................................................... 40
4.2.5.1 Condições cromatográficas ........................................................................... 41
4.2.5.2 Determinação da linearidade da curva analítica ............................................ 41
4.2.5.3 Precisão ........................................................................................................ 41
4.2.5.4 Exatidão ........................................................................................................ 42
4.2.5.5 Limite de detecção e quantificação ............................................................... 42
4.2.5.6 Robustez ....................................................................................................... 43
4.2.5.7 Determinação da eficiência de complexação da sulfadiazina de prata nos
complexos de inclusão por CLAE.............................................................................. 43
4.2.6 Análise Estatística ............................................................................................ 44
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 45
5.1 Caracterização dos complexos de inclusão ........................................................ 45
5.1.1 Calorimetria exploratória diferencial (DSC) ...................................................... 45
5.1.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG) ............................... 47
5.1.3 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada de
Fourier (FTIR)............................................................................................................ 52
5.1.4 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................... 55
5.1.5 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ..................................................... 57
5.2 Caracterização dos compósitos .......................................................................... 58
5.2.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) ..................................................... 58
5.2.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG) ............................... 60
5.2.3 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................... 64
5.2.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ..................................................... 66
5.3 Desenvolvimento do método de doseamento da sulfadiazina de prata por CLAE
.................................................................................................................................. 69
5.3.1 Linearidade....................................................................................................... 69
5.3.2 Precisão ........................................................................................................... 70
5.3.3 Exatidão ........................................................................................................... 72
5.3.4 Limite de detecção e quantificação .................................................................. 73
5.3.5 Robustez .......................................................................................................... 73
12
5.3.6 Determinação da eficiência de complexação da sulfadiazina de prata nos
complexos de inclusão por CLAE.............................................................................. 74
6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76
APÊNDICE.................................................................................................................84
13
Índice de figuras
Figura 1. Estrutura química da quitosana. Fonte: (AZEVEDO et al., 2008). ............. 21
Figura 2. Estrutura cristalina da hidroxiapatita. Fonte:(Adaptada de IVANOVA, 2001)
.................................................................................................................................. 24
Figura 3. Estrutura química da sulfadiazina de prata. Fonte: (ROCHA et al., 2011).26
Figura 4. Estrutura e propriedades de α-, β- e γ-CD. Fonte: (VENTURINI et al.,
2008). ........................................................................................................................ 28
Figura 5. Curvas DSC da Beta-ciclodextrina (β-CD), Sulfadiazina de prata (SDAg),
Mistura-física (MF), Complexo inerte (Cinerte 1:1), Complexo SDAg/β-CD 1:1
(CSDAg 1:1), Complexo SDAg/β-CD 1:2 (CSDAg 1:2) e Complexo SDAg/β-CD 1:3
(CSDAg 1:3) analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de
aquecimento de 10 °C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 400 °C. ................. 46
Figura 6. Curvas TG da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDZ 1:2 e
CSDAg 1:3 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de
aquecimento de 10 °C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 800 °C. ................. 48
Figura 7. Curvas DTG da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e
CSDAg 1:3 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de
aquecimento de 10°C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 800 °C. .................. 51
Figura 8. Espectros de FTIR da β-CD, SDAg e MF analisadas de 4000-400 cm-1. .. 53
Figura 9. Espectros de FTIR do Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3,
analisadas de 4000-400 cm-1. ................................................................................... 54
Figura 10. Difratograma de raios X da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1,
CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3. ......................................................................................... 56
Figura 11. Micrografias eletrônicas de varredura da β-CD, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e
CSDAg 1:3 com aumento de 400x e 2000x. ............................................................. 58
Figura 12. Curvas DSC da HAP, QUI e compósitos HAP/QUI, HAP/QUI 60/40 1:1,
HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2, analisadas em
atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento de 10 °C min-1 na faixa
de temperatura entre 25 e 400 °C. ............................................................................ 59
Figura 13. Curvas TG da HAP, QUI e compósito HAP/QUI (HAP/QUI) analisadas em
atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de aquecimento de 10°C min -1 na faixa
de temperatura entre 25 °C e 800 °C. ....................................................................... 61
Figura 14. Curvas DTG da HAP, QUI e compósito HAP/QUI analisadas em
atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de aquecimento de 10°C min-1 na faixa
de temperatura entre 25 °C e 800 °C. ....................................................................... 61
14
Figura 15. Curvas TG dos compósitos HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2,
HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2 analisadas em atmosfera de N 2 (100 mL
min-1) com razão de aquecimento de 10 °C min-1. .................................................... 63
Figura 16. Curvas DTG dos compósitos HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2,
HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL
min-1) com razão de aquecimento de 10 °C min-1. .................................................... 63
Figura 17. Difratograma de raios X da HAP, QUI e do compósito HAP/QUI
(HAP/QUI). ................................................................................................................ 65
Figura 18. Difratograma de raios X dos compósitos QUI/HAP em diferentes
proporções orgânico/inorgânico incorporados com complexos de inclusão nas
razões 1:1 e 1:2 (HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e
HAP/QUI 40/60 1:2). ................................................................................................. 66
Figura 19. Micrografias eletrônicas de varredura dos compósitos na ausência de
SDAg (HAP/QUI 60/40) e na presença de SDAg (HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI
60/40 1:2) obtidas nos aumentos de 1000x e 3000x. ................................................ 67
Figura 20. Micrografias eletrônicas de varredura dos compósitos na ausência de
SDAg (HAP/QUI 40/60) e na presença de SDAg (HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI
40/60 1:2) obtidas nos aumentos de 1000x e 3000x. ................................................ 68
Figura 21. Representação gráfica da curva analítica da solução de SDAg obtido a
254 nm por CLAE. ..................................................................................................... 69
Figura 22. Cromatograma da solução estoque de SDAg na concentração de 0.005
mg/mL obtido a 254 nm por CLAE. ........................................................................... 70
15
Índice de tabelas
Tabela 1: Propriedades físico-químicas da α, β e γ- ciclodextrina. ........................... 29
Tabela 2: Razão estequiométrica entre β-ciclodextrina e sulfadiazina de prata. ...... 37
Tabela 3: Relação das diferentes proporções dos constituintes para formação dos
compósitos. ............................................................................................................... 38
Tabela 4: Percentuais de perdas de massa da β-CD, SDAg, MF, Cinerte, CSDAg
1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3, obtidos por TG em faixas de temperaturas diferentes.
.................................................................................................................................. 49
Tabela 5: Percentuais do teor de água das amostras obtidos por Karl Fischer. ....... 51
Tabela 6: Percentuais de perdas de massa dos compósitos (HAP/QUI 60/40 1:1,
HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2), em faixas de
temperaturas diferentes. ........................................................................................... 62
Tabela 7. Repetibilidade do método de quantificação da SDAg por CLAE. .............. 71
Tabela 8. Precisão intermediária do analista 1 em dias diferentes do método de
quantificação da SDAg por CLAE. ............................................................................ 71
Tabela 9. Precisão intermediária do analista 2 em dias diferentes do método de
quantificação da SDAg por CLAE. ............................................................................ 72
Tabela 10. Valores obtidos no teste de recuperação para SDAg por CLAE a 254 nm
em três níveis de concentração................................................................................. 70
Tabela 11. Parâmetros analíticos variáveis para determinação da robustez. ........... 74
Tabela 12. Percentuais da eficiência de complexação da MF e dos complexos de
SDAg/β-CD nas diferentes razões estequiométricas. ............................................... 74
16
Índice de Equações
Equação 1: Coeficiente de variação.............................................................. 42
Equação 2: Equação para determinação da Exatidão..................................
42
Equação 3: Limite de detecção.....................................................................
42
Equação 4: Limite de quantificação............................................................... 42
17
1 INTRODUÇÃO
O tratamento de desordens, defeitos e doenças envolvendo o tecido, como
no caso de queimaduras graves, é uma problemática que vem sendo tratada
clinicamente com a substituição parcial ou total do tecido lesionado. Novas
estratégias são amplamente discutidas e estudadas devido às complicações
decorrentes do processo de reposição e cicatrização, tais como infecções,
septicemia e até óbito (FAJARDO et al., 2013; HEGASY et al., 2013; MORSI et al.,
2014).
Um dos tratamentos tópicos padrão em queimaduras é a utilização de
sulfadiazina de prata, um agente antibacteriano eficaz no tratamento de feridas e
queimaduras (GURFINKEL et al., 2012). Este fármaco combina a ação inibitória do
sal de prata, juntamente com o efeito antibacteriano da sulfadiazina. Além disso, a
prata, também possui atividade antimicrobiana eficaz em uma ampla gama de
bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, bem como propriedades antifúngicas
(HEGASY et al., 2013).
Outros tipos de combinações de medicamentos da família das sulfonamidas
com prata foram testados in vitro, porém a sulfadiazina de prata pareceu ser o mais
eficaz. Uma explicação possível pra tal eficácia, pode ser relativo a forte ligação de
sulfadiazina de prata ao DNA bacteriano, que é diferente dos demais sais de prata
(KLASEN, 2000).
Nos últimos anos, tem aumentado a procura de materiais para cicatrização
de feridas provocadas por queimaduras na liberação de doses precisas de
sulfadiazina de prata.
O desenvolvimento de novos sistemas de liberação de fármacos tem sido
bastante relevante por estabelecer alternativa terapêutica mais eficiente, que
possibilitem administrar os medicamentos com mais segurança e com efeitos
colaterais
minimizados
(FELICE
(MOHAMMADPOURDOUNIGHI,
et
BEHFAR,
al.,
et
al.,
2014).
2010),
Nanopartículas
géis,
compósitos
(JAHANSHAHI et al., 2012), ciclodextrinas (HEGASY et al., 2013), filmes poliméricos
18
(FAJARDO et al., 2013), lipossomas, dentre outros, tem sido estudados como
alternativa frente ao uso dos sistemas clássicos.
A utilização de compósitos como veículo promissor na liberação de fármacos
cresceu nos últimos anos na área de Engenharia tecidual, e tem atraído a atenção
de muitos pesquisadores. Devido à possibilidade de combinar as vantagens de
diferentes materiais com o objetivo de produzir um sistema único com propriedades
e estruturas melhoradas (FAJARDO et al., 2013; MORSI et al., 2014).
O desenvolvimento de compósitos bioativos formados pela associação de
hidroxiapatita e quitosana tornou-se interessante, pois a hidroxiapatita confere uma
maior resistência mecânica ao sistema e a quitosana é uma matriz importante que
reforça a sua indicação como sistema de liberação de fármacos (FAJARDO et al.,
2013; PIGHINELLI e KUCHARSKA, 2013; BABAEI et al., 2013). Logo, o
desenvolvimento
do
compósito
hidroxiapatita/quitosana
para
liberação
da
sulfadiazina de prata no tratamento de queimaduras na pele, mostra-se adequada.
No entanto, a sulfadiazina de prata apresenta baixa solubilidade em sistemas
aquosos e sofre oxidação quando exposta a luz e umidade (HEGASY et al., 2013).
Para ser farmacologicamente ativo, todos os fármacos devem possuir algum
grau de solubilidade em água. Considerando tais aspectos, a utilização de
ciclodextrinas para formação de complexos de inclusão tem sido sugerida com o
propósito de melhorar a solubilidade e estabilidade do fármaco neles complexado.
Neste contexto, a complexação da sulfadiazina de prata em ciclodextrina torna-se
uma opção viável para contornar os problemas de solubilidade e estabilidade do
fármaco e, posteriormente, na incorporação em compósitos hidroxiapatita/quitosana
para o tratamento de feridas e queimaduras.
19
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Sistemas de liberação de fármacos
O interesse na busca de novos sistemas de liberação de fármacos é
bastante relevante para desenvolver novas formulações, otimizar preparações
farmacêuticas e contribuir com a busca de alternativas terapêuticas modernas, mais
eficientes e com efeitos colaterais minimizados.
A liberação de um fármaco a partir da sua forma farmacêutica e sua
subseqüente absorção são eventos controlados pelas propriedades físico-químicas
do fármaco, da forma farmacêutica, das características fisiológicas e fisico-químicas
do sistema biológico (AULTON, 2005).
Os sistemas de liberação modificados de fármacos permitem aperfeiçoar a
liberação de um fármaco até seu local de ação, e oferecem diversas vantagens
quando comparados com os sistemas de liberação convencional, dentre elas: a
maior eficácia terapêutica; a diminuição da toxidade e maior tempo de permanência
do fármaco na circulação; a administração segura e conveniente (menor número de
dose); o aumento da estabilidade do fármaco; o direcionamento a alvos específicos;
e a capacidade de incorporação tanto de substâncias hidrofílicas como lipofílicas
(FELICE et al., 2014).
Dentre os principais sistemas, incluem-se géis, compósitos (JAHANSHAHI et
al.,
2012),
nanopartículas
(MOHAMMADPOURDOUNIGHI
et
al.,
2010),
ciclodextrinas (HEGASY et al., 2013) e filmes poliméricos (FAJARDO et al., 2013).
Entre os sistemas de liberação utilizados para aplicações farmacêuticas,
destacam-se os sistemas poliméricos. Estes, pela sua variedade, versatilidade e
propriedades são a classe de materiais mais investigada no desenvolvimento de tais
sistemas. Dentre as principais características para que os materiais poliméricos
possam ser utilizados nesses sistemas é ser biocompatível, isto é, não produzir
reação adversa e ter habilidade de desencadear em um organismo a resposta
apropriada para uma aplicação específica, e ser, de preferência, biodegradável
(SWETHA et al., 2010; FAJARDO et al., 2013).
20
Os sistemas poliméricos de liberação modificada de fármacos podem ser
agrupados, de acordo com a sua estrutura, em sistemas matriciais e em sistemas
reservatórios. Nos sistemas matriciais, o fármaco é adsorvido ou solubilizado no
interior de uma matriz polimérica. Enquanto que nos sistemas reservatórios, o
fármaco se encontra envolvido por uma membrana polimérica, isolando o núcleo do
meio externo, retardando a liberação do fármaco (SCHAFFAZICK et al., 2003).
Dessa maneira, a melhoria no desenvolvimento de sistemas de liberação
modificada depende da seleção de um agente apropriado capaz de controlar a
liberação do fármaco, manter a ação terapêutica ao longo do tempo e/ou de liberar o
fármaco em um determinado tecido ou órgão alvo. Dentro das opções, os polímeros
são agentes versáteis e promissores para exercer tal função (LOPES et al., 2005;
SWETHA et al., 2010).
2.2 Polímeros
Vários polímeros vêm sendo estudados e utilizados nos sistemas de
liberação de fármacos com o intuito de liberá-los efetivamente no alvo pretendido e,
dessa maneira, aumentar os benefícios terapêuticos do tratamento.
Polissacarídeos naturais e seus derivados representam um grupo de
polímeros largamente utilizados em formas farmacêuticas, sendo preferidos, em
detrimento de polímeros sintéticos, devido à baixa toxicidade, baixo custo e
disponibilidade. Aliado a isto, a biodegradabilidade, características filmogênicas e
facilidade de processamento têm constituído um elemento de elevado interesse
destes como excipientes farmacêuticos. Em particular, os polímeros naturais, como
a quitosana, têm sido extensivamente utilizada em pesquisas nessa área, devido às
suas propriedades (SHI, YUBAO e ZHANG, 2008; SWETHA et al., 2010;
MUZZARELLI et al., 2011; FAJARDO et al., 2013).
2.3 Quitosana
A quitosana é um polímero natural proveniente da reação de desacetilação
da quitina, o segundo polissacarídeo mais abundante na natureza, encontrado
principalmente no exoesqueleto de insetos e nas carapaças de crustáceos (DAROZ
et al., 2008). Sua estrutura química é formada por uma sequência linear de açúcares
21
monoméricos do tipo β-(1→4)-2-amino 2-desoxi-D-glicose e β-(1→4)-2-acetamida 2desoxi-D-glicose com a presença de grupos amino; e grupos hidroxila primário e
secundário, como representado na Figura 1 (THEIN-HAN et al., 2009; XIANMIAO et
al., 2009).
Figura 1. Estrutura química da quitosana. Fonte: (AZEVEDO et al., 2008).
Do ponto de vista econômico, a principal fonte de obtenção da quitosana é
através da N-desacetilação alcalina da quitina. O processo de desacetilação
representa a proporção de grupos amino livres presentes na cadeia polimérica e é
descrito por influenciar o grau de pureza do polímero e suas propriedades físicoquímicas, como solubilidade, pKa e viscosidade (SANTOS et al., 2003; SILVA et al.,
2006). O grau de desacetilação da quitosana em produtos comerciais normalmente
se encontra na faixa de 70 a 95%, e a massa molar média entre 10 e 1000 kDa
(BARROS et al., 2006).
Os grupamentos funcionais amino e hidroxilas da quitosana estão
relacionados às características de solubilidade e reatividade que esse polímero
apresenta. Quanto à solubilidade, a quitosana é uma base fraca com valor de pKa
em torno de 6,5, sendo, portanto, insolúvel em valores de meio neutro e alcalino,
mas forma sais solúveis em água com ácidos inorgânicos e orgânicos fracos,
incluindo ácido glutâmico, clorídrico, láctico e acético, resultando em soluções
viscosas (SANTOS et al., 2003). Em meio ácido, é um polieletrólito catiônico que tem
seus grupos aminos protonados (NH+3), conferindo à molécula cargas positivas
podendo formar complexos eletrostáticos com espécies carregadas negativamente
incluindo proteínas, enzimas, outros polímeros naturais ou sintéticos, fármacos e
ânions de baixa massa molar (ZHANG et al., 2002).
22
Devido à natureza de sua configuração química e as suas propriedades, tais
como:
sua
abundância,
não
toxicidade,
hidrofilicidade,
biodegradabilidade,
biocompatibilidade e propriedades antibacterianas (AZEVEDO et al., 2007), a
quitosana tem sido empregada na preparação de filmes, géis e esferas, para os
mais diversos fins (SILVA et al., 2006; AZEVEDO et al., 2007) e tem despertado
muito interesse em diversas áreas tecnológicas, como biotecnologia, cosméticos,
processamento de alimentos, produtos biomédicos (pele artificial, adesivos cutâneos
ou curativos, lentes de contato, etc.) e sistemas de liberação de fármacos
(FAJARDO et al., 2013; SWETHA et al., 2010; MUZZARELLI et al., 2011).
Especificamente, na área médica e de farmacêutica, podemos destacar o
uso da quitosana como biomaterial e como excipiente em formulações farmacêuticas
e em sistemas de liberação de fármacos (SWETHA et al., 2010; MUZZARELLI et al.,
2011). Além disso, é capaz de formar filmes para aplicação em pele e mucosa. Silva
et al. (2008) desenvolveram filmes de quitosana com boas propriedades para a
aplicação na pele, representando uma formulação promissora para incorporação de
fármacos para administração tópica e transdérmica.
2.4 Filmes de quitosana
De uma maneira geral, pode-se definir um filme como uma barreira fina entre
duas fases (PORTER, 1990). Uma técnica simples para o preparo de filmes de
quitosana é a simples evaporação do solvente de uma solução desse polímero
disposta sobre uma placa de vidro, produzindo, geralmente, filmes flexíveis,
resistentes e com elevada absortividade à água (SCHROEDER et al., 2007). Essa
absorção de água induz o intumescimento do filme, ou seja, a separação das
cadeias do polímero permitindo a troca gasosa (DESPOND et al., 2001; ASSIS e
SILVA, 2003).
Filmes obtidos a partir da quitosana pura, têm sido utilizados com sucesso
na produção de curativos e de pele artificial para o tratamento de queimaduras, por
promover uma rápida cicatrização do tecido e diminuir os riscos de infecção da
região afetada (RHIM et al., 2006; AOYAGI et al., 2007; FAJARDO et al., 2013).
Os grupos reativos amino e hidroxilas da quitosana também permitem o
estabelecimento de diferentes tipos de interação deste polímero com diferentes tipos
23
de fármacos dando origem aos sistemas de liberação de fármacos, como por
exemplo, aqueles obtidos para liberação de antibióticos. Os fármacos quando
veiculados nesses sistemas podem ser liberados de forma gradual, em sítios de
ação local ou sistêmica, melhorando a eficácia terapêutica, além de poderem ser
aplicados na superfície da pele ou na mucosa (PEPPAS et al., 2000; FAJARDO et
al., 2013).
Senel et al. (2000) relataram que a liberação controlada de clorexidina
incorporada em filmes de quitosana é uma proposta promissora para aplicação na
cavidade oral. Denkbas et al. (2004) desenvolveram esponjas de quitosana
impregnadas de norfaloxina para recobrimento de ferida e, ao mesmo tempo,
liberação controlada do antibiótico. Outro estudo utilizando filmes de quitosana como
carreadores de antibióticos foi demonstrado por Nascimento et al. (2009) na qual, os
autores mostraram que o uso tópico do gel de quitosana com sulfadiazina de prata a
1% promoveu a neovascularização e reduziu a reação inflamatória em queimaduras
e essa nova formulação mostrou boas propriedades associadas a eficiente liberação
do fármaco.
O aumento do interesse nas aplicações biomédicas da quitosana tem gerado
oportunidades de produção de biomateriais especializados, principalmente com
novas modificações químicas e físicas, as quais têm promovido novas atividades
biológicas para fins específicos. Estas estratégias também têm envolvido a
combinação da quitosana com outros polímeros e materiais inorgânicos na produção
de compósitos (HEIN et al., 2008; SWETHA et al., 2010).
2.5 Compósitos
Geralmente, qualquer material consistindo de dois ou mais componentes
com diferentes propriedades, com fases macroscopicamente identificadas, pode ser
classificado como material compósito (FONSECA et al., 2008; YUAN et al., 2008).
Assim, a idéia principal em se produzir um compósito é combinar dois ou mais
componentes para produzir um material com propriedades que não são atingidas
com os componentes originais isoladamente (LI et al., 2009). Atualmente, um dos
caminhos para a formação de novos substitutos de tecidos é a obtenção de
compósitos contendo biocerâmica e polímeros biodegradáveis (LI et al., 2009;
24
SWETHA et al., 2010; NIKPOUR et al., 2012; ROGINA et al., 2013; MOHAMED et
al., 2014).
Biocerâmicas naturais (hidroxiapatita, carbonato de cálcio) são conhecidos
por apresentarem um arcabouço que pode prover um suporte físico que viabiliza a
manutenção de várias funções do tecido (MUZZARELLI et al., 2011; ARMENTANO
et al., 2010).
A hidroxiapatita é uma biocerâmica composta de cálcio e fósforo, que se
assemelha ao maior constituinte inorgânico dos tecidos duros, o que evita a
possibilidade de rejeição e favorece a regeneração do tecido cicatricial (NIKPOUR et
al., 2012). Ela pode ser de origem natural ou sintética (ARMENTANO et al., 2010),
as de origem natural, entretanto, apresentam como limitantes os fatores
econômicos, por tratar-se de um procedimento complexo que requer gastos, como
também de contaminações (KUMAR et al., 2010). A estrutura da hidroxiapatita está
representada na Figura 2, onde os grupos fosfatos, hidroxilas e cálcio, distribuem-se
espacialmente segundo um sistema hexagonal.
Figura 2. Estrutura cristalina da hidroxiapatita. Fonte:(Adaptada de IVANOVA, 2001)
Uma variedade de métodos sintéticos pode dar origem a cristais de
hidroxiapatita, tais como precipitação, sol-gel, microemulsão, mecânico-químico e
hidrotérmico. A depender da metodologia aplicada são formadas partículas com
diversas morfologias e cristalinidade (YUAN et al., 2008; KUMAR et al., 2010).
Dentre estes métodos, o da reação e precipitação por via úmida apresenta
vantagens como mistura homogênea, baixa temperatura de síntese e capacidade de
formar nanocristais.
25
A hidroxiapatita é altamente reconhecida em aplicações médicas por
apresentar
excelente
biocompatibilidade,
bioatividade,
osteocondutividade
e
ausência de reações inflamatórias e tóxicas (XIANMIAO et al., 2009; YUAN et al.,
2008; NIKPOUR et al., 2012; MOHAMED et al., 2014).
A combinação da hidroxiapatita com outros materiais têm sido amplamente
estudada (ROGINA et al., 2013). Vários biopolímeros têm sido empregados, tais
como colágeno, cola de fibrina, gelatina, quitosana, poliácido láctico e alginato de
sódio (YUAN et al., 2008; ROGINA et al., 2013) na preparação de compósitos com
características mecânicas melhoradas. Neste sentido, encontram-se os compósitos
formados pela associação de hidroxiapatita e quitosana (YUAN et al., 2008; LI et al.,
2009; NIKPOUR et al., 2012).
Os compósitos envolvem geralmente a presença de um componente
inorgânico (hidroxiapatita), cujas funções são dar resistência mecânica, físico e
química adequadas ao compósito e a presença de uma matriz polimérica (quitosana)
que juntos proporcionam a liberação controlada de fármacos, complementando as
propriedades dos compósitos (FONSECA et al., 2008; ROGINA et al., 2013).
A quitosana vem sendo relatada como uma boa matriz para esses sistemas,
pois apresenta boa flexibilidade, ideal para uma matriz polimérica que se objetiva
associar a hidroxiapatita. Já que a hidroxiapatita têm sido aplicada como suporte de
cargas para oferecer a resistência mecânica necessária aos compósitos, e dessa
forma prolongar ou controlar a liberação de fármacos. Alguns autores observaram
que compósitos dessa natureza são mecanicamente flexíveis e podem ser
facilmente moldáveis com formatos desejáveis (ROGINA et al., 2013; PIGHINELLI e
KUCHARSKA, 2013; MOHAMED et al., 2014).
O desenvolvimento de compósitos contendo quitosana e hidroxiapatita têm
sido preparados pelo método de evaporação do solvente para diversas aplicações
em engenharia de tecidos (KITHVA et al., 2010). A partir dos resultados obtidos, os
autores afirmaram que, além da dispersão uniforme de partículas de hidroxiapatita
na matriz de quitosana, a ligação química entre os componentes desempenhou um
papel importante nas propriedades de tensão observadas. Kong et al. (2006)
realizaram
um
estudo
in
vitro
para
investigar
a
bioatividade
da
hidroxiapatita/quitosana e observou que os compósitos apresentaram melhor
bioatividade do que a quitosana isolada.
26
Dessa
forma,
é
interessante
desenvolver
compósitos
hidroxiapatita/quitosana para estudar o comportamento mecânico a partir da
presença de hidroxiapatita como partícula de carga no perfil de liberação de
fármacos.
2.6 Sulfadiazina de prata
A sulfadiazina de prata (SDAg) é um antibiótico tópico pertencente à classe
das sulfonamidas. Foi desenvolvida por Charles L. Fox Jr., da Universidade de
Columbia, Estados Unidos, por meio da associação de dois agentes antibacterianos
já conhecidos e utilizados no tratamento de queimaduras – nitrato de prata e
sulfadiazina – criando, assim, um composto extremamente efetivo contra infecções,
aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), em 1973 (RAGONHA et al.,
2005). A partir de sua aprovação, tornou-se o fármaco de escolha para o tratamento
de queimaduras, pois possui propriedades cicatrizantes, oferecendo aumento na
sobrevida dos pacientes queimados devido ao amplo espectro de ação
antimicrobiano.
A SDAg (Figura 3), cuja fórmula é C10H9AgN4O2S, apresenta peso molecular
de 357,14 g/mol, disposta na forma de pó cristalino de coloração branca à
ligeiramente amarelada. É praticamente insolúvel em água, etanol, éter e
clorofórmio. A configuração dos íons de prata é uma bipirâmide trigonal distorcida.
Além disso, cada prata é coordenada a um nitrogênio da pirimidina e mais um íon
prata da cadeia vizinha (VOGLER; KUNKELY, 1989).
Figura 3. Estrutura química da sulfadiazina de prata. Fonte: (ROCHA et al., 2011).
Seu mecanismo de ação está diretamente ligado ao íon de prata que causa
a precipitação de proteínas e age diretamente na membrana citoplasmática da célula
27
bacteriana, exercendo ação bactericida imediata, e ação bacteriostática residual,
pela liberação de pequenas quantidades de prata iônica (PATEL et al., 2008;
HEGASY et al., 2013; MORSI et al., 2014).
MORSI et al., (2014) desenvolveram e caracterizaram um novo sistema
nanoparticulado carregado com sulfadiazina de prata para o tratamento tópico de
queimaduras de segundo grau. Lichtensteisn e Margalit (1995) desenvolveram
lipossomas contendo SDAg, com altos níveis de encapsulamento e capacidade de
liberação prolongada da SDAg, que pode agir como um bioadesivo quando aplicado
topicamente. Nascimento et al., (2009) também obtiveram uma formulação a partir
de um gel de quitosana, contendo SDAg a 1%, o qual mostrou uma maior evolução
no processo de cicatrização da pele.
Rajendran et al., (2014) avaliaram a estabilidade da hidroxiapatita na
presença de diferentes concentrações de prata, durante o processo de síntese em
temperaturas diferentes. Os resultados de difração de raios X revelaram um
aumento de cristalinidade embora a hidroxiapatita se manteve estável. Além disso, o
estudo antibacteriano contra Staphylococcus aureus a partir dos compósitos
hidroxiapatita/prata com 1, 3 e 5% (p/p) de prata mostrou que 3% em peso de prata
é suficiente para matar as bactérias envolventes, indicando aplicações potenciais
para intervenções terapêuticas.
Dessa forma, a contribuição da hidroxiapatita como partícula de carga para
melhorar as propriedades mecânicas dos compósitos torna-se também importante
no estudo do perfil de liberação da sulfadiazina de prata, a partir do sistema
formado. Porém, a sulfadiazina de prata possui baixa solubilidade em sistemas
aquosos e sofre oxidação quando exposta a luz e umidade. Neste contexto, a
utilização de ciclodextrinas é viável, pois podem melhorar a solubilidade e
estabilidade do fármaco neles complexado.
2.7 Ciclodextrinas
Um dos campos mais promissores a ser explorado na tentativa de superar a
pouca solubilidade de alguns compostos é através do uso de ciclodextrinas. As
ciclodextrinas (CDs) foram descobertas por Villiers em 1891, a partir do produto
28
de degradação do amido em um meio de cultura de Bacillus amylobacter, a qual
denominou "celulosina", por suas características semelhantes à celulose. Por volta
de 1904, Schardinger descreveu detalhes da sua preparação, caracterização,
isolamento e a determinação das suas estruturas. Também as denominou por
ciclomaltose, cicloamilose ou dextrinas de Schardinger. Nos anos posteriores
Freudenberg e French ampliaram os conhecimentos das CDs quanto à sua
produção enzimática, fracionamento e a caracterização de suas propriedades
(ELLOUZE et. al., 2011).
As CDs são oligossacarídeos cíclicos compostos de unidades de glicose. As
CDs obtidas com maior rendimento, conhecidas como naturais, contém seis, sete e
oito unidades de glicose, sendo denominadas de α-ciclodextrina (α-CD), βciclodextrina (β-CD) e γ-ciclodextrina (γ-CD), respectivamente, unidas por ligações
glicosídicas α-(1-4), como representado na Figura 4.
Figura 4. Estrutura e propriedades de α-, β- e γ-CD. Fonte: (VENTURINI et al.,
2008).
Uma conseqüência estrutural dessas ligações glicosídicas α-(1-4), é a
formação de uma molécula num formato semicircular tipo cone truncado (Figura 4),
garantindo a esta molécula uma cavidade de dimensões apropriadas, o
que
depende do número de unidades de glicose, com grupos hidroxil em suas unidades
29
de α-glicose. Os chamados grupos hidroxil primários (grupos hidroximetil: – CH2OH)
situam-se na abertura mais estreita deste cone, enquanto os grupos
hidroxil
secundários situam-se na abertura mais larga. Uma característica importante destes
grupos hidroxil é seu caráter hidrofílico, promovendo a solubilização das CDs em
meio aquoso (VENTURINI et al., 2008).
Destas, a β-ciclodextrina parece ser a mais vantajosa para utilização
farmacêutica como agente complexante, devido as suas propriedades físicoquímicas e ao tamanho da sua cavidade (Tabela 1). Pórem, a β-CD possui baixa
solubilidade em água, quando comparada aos outros tipos de CDs. A explicação
para este efeito é que a molécula de β-CD apresenta um cinto secundário
constituído de ligações de hidrogênio, e com isso forma-se uma estrutura rígida e
estável (VEIGA; PECORELLI; RIBEIRO, 2006; SZEJTLI, 1998).
Tabela 1: Propriedades físico-químicas da α, β e γ- ciclodextrina.
α-CD
β-CD
Unidade de glicose
γ-CD
6
7
8
Massa molar (g/mol)
972
1135
1297
Solubilidade aquosa (g/100 mL a 25ºC)
14,5
1,85
23,2
4,7-5,3
6,0-6,5
7,5-8,3
7,9±0,1
7,9±0,1
7,9±0,1
174
262
427
12,333
12,202
12,081
Diâmetro interno (Ǻ)
Altura da estrutura (Ǻ)
Volume da estrutura (Ǻ)
3
pKa (25ºC)
Fonte: Adaptado de SZEJTLI, 1994; VEIGA; PECORELLI; RIBEIRO, 2006.
A presença das hidroxilas livres na parte externa das CDs confere a essas
moléculas um caráter hidrofílico, devido às hidroxilas primárias e secundárias, e
uma cavidade interna relativamente hidrofóbica devido ao oxigênio das ligações
glicosídicas que, por sua vez, permite as ciclodextrinas complexarem-se com
moléculas que apresentam dimensões compatíveis com a sua cavidade. A
complexação altera as propriedades físico-químicas, como a solubilidade em água,
estabilidade e biodisponibilidade de fármacos complexados (ARAÚJO et al., 2003;
BRITTO et al., 2004; VENTURINI et al., 2008).
O complexo de inclusão em solução aquosa ocorre na medida em que a
cavidade levemente apolar da CD é ocupada por moléculas de água que são
30
energeticamente desfavoráveis, dada a natureza da interação polar-apolar e,
portanto, podem ser facilmente substituídas por um substrato que seja menos polar
que a água. Considera-se que a força motriz para a complexação seja a substituição
das moléculas de água de alta entalpia por substratos apropriados. Esse processo
leva a complexação total ou parcial da molécula hóspede na cavidade da CD,
tornando-a solúvel em água (BREWSTER; LOFTSSON, 2007).
Os compostos viáveis de se tornarem substratos em complexos de inclusão
são extensos, pode-se citar os compostos alifáticos de cadeia linear ou ramificada,
aldeídos, cetonas, álcoois, ácidos orgânicos, ácidos graxos, compostos aromáticos,
aminas, etc., que podem, ainda, se apresentar nos estados sólido, líquido e gasoso
(WANG et al., 2011). Devido a essa gama de possibilidades, vários métodos de
preparação dos complexos de inclusão são reportados a fim de se adequar melhor
ao sistema disponível, porém, todos eles se baseiam no mesmo princípio de
substituição das moléculas de água presentes na cavidade hidrofóbica das CDs
(MENEZES et al., 2011).
O método da co-precipitação consiste na adição, com agitação constante, do
composto hóspede a uma solução de CD previamente preparada, sendo o complexo
posteriormente recolhido por filtração. O método de preparação de pastas
(malaxagem) consiste na mistura da CD, do composto hóspede e de uma
quantidade mínima de solvente que são levados a um misturador durante tempo
variável, e o complexo é recolhido depois de seco sem nenhum outro tipo de
tratamento. O método de mistura física envolve a mistura da CD e da molécula
hóspede sem a presença de solvente, o que torna este método menos eficaz e com
tempos de mistura que variam entre diversas horas e dias (DEL VALLE et al.,2004).
Os complexos formados podem posteriormente ser caracterizados por
diversas técnicas, nomeadamente por Espectrometria UV-Visível, por Ressonância
Magnética Nuclear (RMN), por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), entre
outras, tendo em vista a determinação da proporção de complexação e das
propriedades físico-químicas dos complexos formados.
Dessa
maneira,
ciclodextrinas
têm
sido
bastante
utilizadas
no
desenvolvimento de produtos farmacêuticos, particularmente devido às suas
31
propriedades de inclusão molecular de fármacos com características hidrofóbicas,
alternando-lhes a solubilidade e consequente aumento da taxa de dissolução de
fármacos pouco solúveis, aumentando a estabilidade e, em alguns casos,
melhorando a biodisponibilidade (ASTRAY et al., 2009).
Diniz (2007) estudando complexos de tetraciclina com β-ciclodextrina nas
mesmas razões molares (1:1) também relatou diferenças nas propriedades
microbiológicas e físico-químicas destes compostos sugerindo a formação de
complexos diferentes entre si e com arranjos supramoleculares diferenciados.
2.8 Técnicas utilizadas para caracterização físico-química
Os compósitos e complexos de inclusão podem ser caracterizados mediante
a combinação de diversas técnicas, sendo estas, principalmente: os métodos
termoanalíticos, calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria (TG),
espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada de
Fourier (FTIR), a difratometria de raios X (DRX) e a microscopia eletrônica de
varredura (MEV).
A análise térmica dos sistemas sólidos contendo fármacos é uma das
técnicas mais utilizadas para estudar suas interações com os constituintes da
formulação. Dentre as técnicas termoanalíticas, a análise DSC é uma das mais
requisitadas nos estudos de pré-formulação, sendo utilizada para estudar as
possíveis interações intermoleculares entre fármacos e outros componentes da
formulação (DEL VALLE et al.,2004).
Através da TG pode se obter informações quantitativas quanto à perda de
massa dos materiais, além de informações importantes da estabilidade térmica dos
sistemas frente à incorporação do fármaco.
A análise de FTIR pode ser utilizada para identificar moléculas através da
análise das suas ligações. A importância em se aplicar esta técnica em estudos de
pré-formulação deve-se ao fato de identificar os grupos funcionais através da
comparação dos modos vibracionais da amostra com substâncias químicas de
referência. Além disso, a espectroscopia FTIR permite identificar algumas
características importantes ou alterações na composição dos compósitos e dos
32
complexos de inclusão e possíveis modificações (interações) nos diferentes grupos
moleculares devido à incorporação do fármaco (CAI et al., 2009).
A partir da técnica de DRX é possível observar os perfis cristalinos das
amostras, referentes à sua composição e ao ordenamento cristalino das moléculas
do sistema, além disso, mudanças decorridas das interações entre os componentes
(KUMAR et al., 2010).
A MEV é muito utilizada para a análise microestrutural de materiais sólidos,
e esta técnica pode ser utilizada para investigar a morfologia do fármaco puro e
modificações na presença de outros constituintes e do fármaco nos sistemas
formados (XIANMIAO et al., 2009).
2.9 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
A cromatografia é definida como um procedimento pelo qual solutos são
separados por um processo de migração dinâmica diferencial em um sistema que
consiste de duas fases, uma estacionária, composta por sítios ativos em que o
soluto interage por adsorção, partição, troca iônica, formação de pares iônicos,
interações hidrofóbicas, separação quiral ou exclusão por tamanho, e outra fase,
móvel, em que o soluto é transportado continuamente por um fluxo constante, e
possui mobilidades diferentes devido a sua interação com a fase estacionária
(COLLINS, 2006).
Através desta técnica é possível identificar e quantificar substâncias através
de metodologias analíticas. A CLAE é uma técnica de separação baseada em uma
fase estacionária sólida e uma fase móvel líquida. Compostos a serem analisados
são dissolvidas em um solvente adequado, e a maior parte das separações é
realizada à temperatura ambiente. Assim, a maior parte dos princípios ativos não
voláteis ou termicamente instáveis, podem ser cromatografados sem decomposição
ou necessidade de formar derivados voláteis.
Os módulos que fazem parte do cromatográfo líquido de alta eficiência são:
bomba quaternária, injetor, forno, detector e degaseificador. Dentre os diferentes
detectores para a CLAE, os detectores DAD (detector de arranjo de diodos),
merecem destaque por serem amplamente utilizados no desenvolvimento de
33
metodologias analíticas. Estes detectores possuem a habilidade de medir
absorvâncias de múltiplos comprimentos de onda simultaneamente na totalidade da
faixa do ultravioleta-visível. Isso ocorre, pois a luz emergente é dispersa por uma
grade holográfica, e os comprimentos de onda resultantes são focalizados sobre
uma fila de fotodiodos. Assim, todo o espectro pode ser armazenado.
A técnica de CLAE é amplamente utilizada para a avaliação da eficiência de
complexação de complexos de inclusão com CDs, citada em diversos trabalhos
(FLOOD et al., 2000 e KIM et al., 2010).
Apesar de ter sido criada essencialmente como uma técnica de separação,
passou a ocupar um lugar de destaque como técnica analítica qualitativa e
quantitativa nas mais diversas aplicações e áreas, contando com um enorme
número de publicações (HEGASY et al., 2013; MORSI et al., 2014).
34
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Desenvolver compósitos hidroxiapatita-quitosana contendo sulfadiazina
de prata complexada em β-ciclodextrina.
3.2 Específicos
 Caracterizar os materiais precursores e suas misturas físicas;
 Obter complexos de inclusão contendo sulfadiazina de prata em βciclodextrina nas razões estequiométricas (1:1; 1:2 e 1:3), respectivamente,
utilizando os métodos de malaxagem e mistura física para melhorar a solubilidade
do fármaco;
 Desenvolver o método de doseamento da sulfadiazina de prata
complexada em β-CD por CLAE;
 Determinar a eficiência de complexação da sulfadiazina de prata nos
complexos de inclusão por CLAE;
 Preparar
compósitos
hidroxiapatita/quitosana
e
incorporar
os
complexos de inclusão formados;
 Caracterizar os complexos de inclusão e compósitos por DSC, TG,
FTIR, DRX e MEV.
35
4 METODOLOGIA
4.1 Material
4.1.1 Reagentes e solventes

Sulfadiazina de prata (HENRIFARMA®);

Quitosana média viscosidade (SIGMA ALDRICH®);

β-ciclodextrina cristalina (SIGMA ALDRICH®);

Metanol grau CLAE (PANREAC®);

Hidróxido de amônio 28-30% (NEON®);

Acetonitrila grau CLAE (PANREAC®);

Ácido o-Fosfórico 85% (SYNTH®);

Ácido acético glacial (ISOFAR®);

Fosfato de amônio dibásico (NEON®);

Nitrato de cálcio (NEON®);

Água ultra pura Milli-Q (MEGAPURITY®);

Membrana 0,45 µm (MILLIPORE®)
4.1.2 Equipamentos

Balança analítica (DENVER® APX-200);

Balança semi-analítica (ACCULAB® VIC-612);

Agitador magnético (FISATOM®);

Titulador Potenciométrico (METROHM® Titrando 836);

Capela de fluxo laminar;

Cromatógrafo líquido de alta eficiência – CLAE – Cromatógrafo líquido
Young Lin Instrument modelo YL9100 CLAE System, equipamento
com bomba modelo YL 9110, detector com comprimento de onda
variável UV/VIS modelo YL 9160;

Banho ultra-som (UNIQUE® USC 1450);

Difratômetro de raios-X (RIGAKU DMAX 2000);

Espectrofotômetro de absorção na região do Infravermelho com
transformada de Fourier (PERKIN ELMER®);
36

Termobalança (TGA Instruments TG-DTA 2960 SDT);

Calorímetro exploratório diferencial (TA Instruments DSC 2010);

Microscópio eletrônico de varredura (JSM-6510LV).
4.2 Métodos
4.2.1 Obtenção dos complexos de inclusão
Os complexos de inclusão foram obtidos por malaxagem, em diferentes
razões estequiométricas de sulfadiazina de prata/β-ciclodextrina (1:1, 1:2 e 1:3)
respectivamente (CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3). Essas quantidades
estequiométricas foram calculadas a partir da massa molar de cada uma delas
(MMSDAg= 357,14 g. mol-1 e MMβ-CD= 1135 g. mol-1), pesadas e homogeneizadas em
um gral com auxílio de pistilo. Uma quantidade de 3 mL de solução de hidróxido de
amônio (28-30% v/v), solvente utilizado para solubilizar a sulfadiazina de prata, além
de umedecer a mistura para formação de uma pasta foi acrescentado aos poucos. A
amostra foi acondicionada em um dessecador até a formação de um filme seco.
Após a formação do filme a mesma foi triturada e homogeneizada em gral com
auxílio de pistilo, acondicionada em frascos plásticos hermeticamente fechados e
armazenada em dessecador para uma melhor conservação (Adaptado de
MARRETO et al., 2008; FOROUTAN et al., 2002).
A mistura física (MF) foi obtida com o objetivo de realizar as devidas
comparações entre os componentes e os complexos de inclusão formados. Para a
MF foram pesadas quantidades estequiométricas de sulfadiazina de prata/βciclodextrina (SDAg: β-CD), como apresentada na Tabela 2. Esse método consistiu
na simples mistura mecânica em um gral com auxílio de pistilo sem adição de
solvente. Após 30 minutos da formação da mistura, foi acondicionada em
dessecador e logo após, armazenada em plásticos hermeticamente fechados para
melhor conservação. Os complexos de inclusão foram obtidos no Laboratório de
Desenvolvimento Farmacotécnico - Departamento de Farmácia - Universidade
Federal de Sergipe (UFS).
37
Tabela 2: Razão estequiométrica entre β-ciclodextrina e sulfadiazina de prata.
Composição
Razão estequiométrica 1:1
β-ciclodextrina
1,8916g
Sulfadiazina de prata
0,5952 g
4.2.2 Obtenção da pasta de hidroxiapatita
A síntese da hidroxiapatita ocorreu pelo processo de reação e precipitação
por via úmida, como citada por Gonsalves (2012). O nitrato de cálcio [Ca
(NO3)2.4H2O] a 0,167 mol.L-1 (fonte de íons Ca2+) foi gotejado com a vazão de 2
mL.min-1, sob a solução doadora de íons fosfato (PO4
3-
), solução de fosfato de
amônio dibásico [(NH4)2HPO4] a 0,1 mol.L-1.
Durante o processo de precipitação e síntese da hidroxiapatita, o controle do
pH do meio reacional foi mantido em 10,4 através da adição de uma base de
hidróxido de amônio (NH4OH) 28-30% (v/v) e mantido sob agitação magnética
constante em temperatura ambiente. A hidroxiapatita em pasta foi mantida em
processo de maturação, a qual envolve o crescimento de cristais em um período de
24 horas e posteriormente foi seguida de lavagem com água destilada até que o pH
da pasta formada atingisse a neutralidade. A pasta de hidroxiapatita foi obtida no
Laboratório de Desenvolvimento Farmacotécnico - Departamento de Farmácia UFS.
4.2.3 Obtenção dos compósitos
Inicialmente, foi preparada uma dispersão de quitosana 1,5% (m/v) em
solução aquosa de ácido acético 2% (v/v), a qual permaneceu sob agitação
magnética constante durante 24 horas. Após este período, o hidrogel de quitosana
foi filtrado sob vácuo, para remoção de impurezas.
O compósito hidroxiapatita/quitosana (HAP/QUI) foi obtido a partir da
proporção 60:40 em massa, na qual a pasta de hidroxiapatita foi adicionada sob o
hidrogel de quitosana sem fármaco e permaneceu em agitação por 2 horas a
temperatura ambiente.
38
Devido a baixa solubilidade da sulfadiazina de prata em solução aquosa, a
incorporação do fármaco ao compósito, foi inviável nesta etapa da metodologia.
Além disso, a solubilidade da sulfadiazina de prata em solução de hidróxido de
amônio (28-30% v/v), torna-se incompatível com a faixa de estabilidade da quitosana
(meio ácido). Dessa forma, os complexos de inclusão obtidos foram incorporados ao
hidrogel de quitosana e, posteriormente, a pasta de hidroxiapatita foi adicionada,
permanecendo em agitação por 2 horas para a obtenção dos compósitos contendo
fármaco. Na Tabela 3 está representada a relação das diferentes proporções dos
constituintes para formação dos compósitos.
Tabela 3: Relação das diferentes proporções dos constituintes para formação dos
compósitos.
COMPLEXOS DE
AMOSTRAS
% HIDROXIAPATITA
% QUITOSANA
INCLUSÃO
HAP/QUI
60
40
-
HAP/QUI I
60
40
SDAg: β-CD 1:1
HAP/QUI II
40
60
SDAg: β-CD 1:1
HAP/QUI III
60
40
SDAg: β-CD 1:2
HAP/QUI IV
40
60
SDAg: β-CD 1:2
A formação dos compósitos foi baseado no método de evaporação de
solvente, tal como sugerida por Xianmiao et al. (2009). O hidrogel do compósito
formado foi transferido para uma superfície lisa (placas do tipo Petri) de diâmetro de
5 cm e mantidos em estufa na temperatura de 60º C permanecendo durante 10
horas para completa evaporação dos solventes. Os compósitos foram conservados
em dessecador, para assim, evitar a absorção de umidade.
4.2.4 Caracterização dos componentes, dos complexos de inclusão e dos
compósitos
4.2.4.1 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)
As análises referentes à calorimetria exploratória diferencial foram
executadas em um instrumento TA Instruments DSC 2010, onde 2 mg de amostras
foram colocadas em cápsula de alumínio. O aparelho foi programado para operar na
39
faixa de temperatura de 25 a 400 ºC, com razão de aquecimento de 10 ºC min-1, em
atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1). As análises foram realizadas no
Laboratório Multiusuário do Departamento de Física da Universidade Federal de
Sergipe.
4.2.4.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG)
As análises termogravimétricas foram executadas em instrumento TGA
Instruments TG-DTA 2960 SDT, onde 5 mg de amostras foram colocadas em um
cadinho de platina aberto e o aparelho programado para trabalhar na faixa de 25 a
800 °C, com razão de aquecimento de 10 °C min-1, em atmosfera dinâmica de
nitrogênio (100 mL min-1). As análises foram realizadas no Laboratório Multiusuário
do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe.
4.2.4.3 Determinação de umidade por Karl Fisher
O teor de umidade dos componentes isolados e dos complexos de inclusão
foi mensurado através do método de titulação potenciométrica empregando um
Titulador Potenciométrico Metrohm® Titrando 836 com o reagente Karl Fischer. O
método aplicado é uma modificação da norma ASTM D1744. O solvente de titulação
empregado é constituído de uma mistura de metanol seco (pureza 99,8%) e
clorofórmio (pureza 99%) na proporção 3:1. A análise foi realizada em triplicata. A
análise foi realizada no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) no Núcleo de
Estudo de Sistemas Coloidais (NUESC) da Universidade Tiradentes (UNIT).
4.2.4.4 Espectroscopia de absorção na região do Infravermelho com
transformada de Fourier (FTIR)
A HAP, QUI, SDAg, β-CD, MF e os complexos de inclusão foram analisados
a partir da preparação de pastilhas de KBr fazendo uma varredura na faixa de 4000
a 400 cm-1, com resolução de 4 cm-1 e acúmulo de 16 espectros por medida. Os
compósitos foram analisados pelo modo ATR na faixa de 4000 a 700 cm-1, com
resolução de 4 cm-1 e acúmulo de 16 espectros por medida. As análises foram
realizadas no Laboratório Multiusuário II no Departamento de Química-UFS.
40
4.2.4.5 Difração de Raios X (DRX)
Os difratogramas de raios X das amostras foram obtidos utilizando um
difratômetro, operando em modo de varredura, com radiação Cu-Kα (λ = 1,5418 Ǻ) e
filtro de níquel com voltagem de 40 kV e corrente de 40 mÅ, velocidade de varredura
2 º/mim em 2θ (5 – 60 º). As análises foram realizadas no Laboratório Multiusuário
do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe.
4.2.4.6 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
A análise estrutural e morfológica da β-CD, dos complexos de inclusão e dos
compósitos com e sem fármaco foram avaliados por MEV em diferentes seções e
aumentos para obtenção de uma melhor área analisada. As amostras foram
montadas em stubs de alumínio e depositadas em fita de grafite, a qual foi revestida
com uma fina camada de ouro. Posteriormente, os materiais foram submetidos à
análise de imagem em microscópio JSM-6510LV, com voltagem de aceleração de 5
kV e magnitude de 1000x e 3000x, no Centro Multiusuário de Nanotecnologia
(CMNano) da UFS.
4.2.5 Desenvolvimento do método de doseamento da sulfadiazina de prata
por CLAE
O procedimento de desenvolvimento de métodos deve incluir todas as
etapas necessárias para demonstrar que os resultados obtidos são confiáveis e
reprodutíveis. Os parâmetros da metodologia analítica para quantificação da SDAg
utilizados foram baseados na Resolução RE nº 899, de 29 de maio de 2003 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2003). A metodologia foi
desenvolvida pela determinação dos seguintes parâmetros: linearidade, precisão,
exatidão, seletividade, robustez, limite de detecção e limite de quantificação.
O doseamento da SDAg foi realizado por CLAE, segundo metodologia
descrita por Foroutan et al. (2002). As análises foram realizadas a partir de uma
solução padrão de sulfadiazina de prata na concentração de 1mg/mL, na qual 10 mg
de fármaco foi dissolvido em 3 mL de solução de hidróxido de amônio (28-30% v/v) e
completou-se num balão volumétrico de 10 mL com metanol. A solução padrão foi
41
homogeneizada por 5 minutos. Em seguida, foram feitas as devidas diluições com
fase móvel composta por água:acetonitrila:ácido fosfórico (900:99:1 v/v) sendo
homogeneizada, filtrada e sonicada para realização das demais análises.
4.2.5.1 Condições cromatográficas
As análises foram realizadas em um cromatógrafo líquido de alta eficiência
modelo YL9100 da YL instrument co.,LTD., utilizando-se detector ultravioleta
(UV/VIS) configurado para o comprimento de onda de 254 nm, baseado na
metodologia descrita por Foroutan et al. (2002).
A separação cromatográfica por eluição isocrática foi realizada com uma
coluna C18 (Phenomenex®) com dimensões de 150 x 4,6 mm e tamanho de
partícula de 5 µm, a temperatura ambiente. A fase móvel foi composta por
água:acetonitrila:ácido fosfórico (900:99:1 v/v) sendo sonicada e bombeada a um
fluxo de 1,2 mL/min. O volume de injeção foi de 20 L. As determinações foram
realizadas em triplicatas.
4.2.5.2 Determinação da linearidade da curva analítica
A linearidade do método analítico, ou seja, a proporcionalidade entre a
concentração e a resposta, foi determinada pela obtenção da curva analítica, a partir
da diluição da solução padrão de SDAg em fase móvel. A partir desta solução, a
curva analítica foi construída nas concentrações de 0,003; 0,005; 0,008; 0,01; 0,02 e
0,03 mg/mL, utilizando-se a fase móvel como solvente. A curva analítica foi
preparada e analisada em triplicata. As áreas médias, correspondentes a três
determinações para cada diluição de SDAg foram plotadas no eixo das ordenadas e
as concentrações (mg/mL), no eixo das abscissas. A curva analítica e sua respectiva
equação da reta foram determinadas através do estudo de regressão linear, pelo
método dos mínimos quadrados.
4.2.5.3 Precisão
A precisão é o parâmetro que avalia a proximidade entre as várias medidas
efetuadas na mesma amostra. A precisão pode ser estimada em três níveis:
42
repetibilidade (precisão intra-corrida), precisão intermediária (precisão inter-corrida)
e reprodutibilidade.
Desta forma, foram preparadas três concentrações de baixa (0,003 mg/mL),
média (0,008 mg/mL) e alta (0,03 mg/mL), em triplicata. A precisão do método foi
avaliada nos níveis de repetibilidade (precisão intra-corrida) e precisão intermediária
(precisão inter-corrida), sendo expressa matematicamente através do coeficiente de
variação (CV%), calculado pela seguinte fórmula:
CV% = (desvio padrão/média) x 100
(Equação 1)
A precisão intermediária foi realizada em dois dias diferentes e por analistas
diferentes.
4.2.5.4 Exatidão
A exatidão representa o grau de concordância entre os resultados individuais
e um valor aceito como referência. Pode ser calculada como a porcentagem de
recuperação da quantidade conhecida do analito adicionada à amostra. Desta
maneira, foram preparadas soluções com três concentrações diferentes, baixa,
média e alta, com triplicatas. A exatidão (E%) do método foi expressa pelo quociente
da concentração de SDAg obtida e o valor teórico, sendo determinada segundo a
Equação 2:
E% = [Sulfadiazina de prata]Média medida x 100
(Equação 2)
[Sulfadiazina de prata]Teórica
4.2.5.5 Limite de detecção e quantificação
Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram determinados,
matematicamente, a partir da curva analítica resultante da média das três curvas
analíticas. Foram determinados de acordo com os modelos matemáticos propostos
pela resolução 899/2003 (Equação 3 e 4) (BRASIL, 2003).
LD=DPx3/IC (Equação 3)
LQ=DPx10/IC (Equação 4)
Onde:
DP = Desvio padrão do intercepto com o eixo Y de, no mínimo 3 curvas analíticas;
43
IC = Inclinação da curva analítica.
4.2.5.6 Robustez
A robustez de um método analítico é a medida de sua capacidade em resistir
a pequenas variações dos parâmetros analíticos sem alterar significativamente sua
exatidão e precisão, portanto é uma medida da quantidade de variabilidade que o
método pode suportar, sem perder a confiabilidade, e sua estimativa depende do
tipo de metodologia analítica utilizada.
A robustez do método de quantificação da SDAg foi verificada a partir da
variação de temperatura da coluna cromatográfica (35 °C e 45 °C) e do pH da fase
móvel (3,0 e 4,0). A partir da concentração média (0,008 mg/mL), as análises foram
avaliadas e realizadas em triplicata. Os resultados da avaliação da robustez foram
submetidos à análise estatística utilizando o teste de One-way ANOVA, seguido de
Pós-Teste de Tukey com o auxílio do software GraphPad Prism versão 5.0.
4.2.5.7 Determinação da eficiência de complexação da sulfadiazina de
prata nos complexos de inclusão por CLAE
A eficiência de complexação da sulfadiazina de prata nos complexos de
inclusão foi realizado por CLAE segundo metodologia analítica de doseamento
desenvolvida.
As análises foram realizadas em cromatógrafo YL9100 HPLC, utilizando-se
detector ultravioleta 254 nm, Coluna C18 (Phenomenex® 150 x 4,6 mm), tamanho de
partícula de 5 µm, a temperatura ambiente e fase móvel composta por
água:acetonitrila:ácido fosfórico (900:99:1 v/v), com fluxo de 1,2 mL/min, baseado na
metodologia descrita por Foroutan et al. (2002).
Para a preparação das amostras, foi pesado o equivalente de 10 mg de
amostra e diluiu-se em 3 mL de solução de hidróxido de amônio (28-30% v/v) e
completou-se num balão volumétrico de 10 mL com metanol, da mesma forma da
preparação da solução padrão da curva analítica do método, baseado na
metodologia descrita por Foroutan et al. (2002). A partir desta solução, preparou-se
as diluições (concentração média = 0,008 mg/mL) com fase móvel (água:
44
acetonitrila:
ácido
fosfórico)
numa
proporção
de
900:99:1
(v/v),
sendo
posteriormente, homogeneizadas e filtradas para realização das análises.
4.2.6 Análise Estatística
Os experimentos foram analisados por análise de variância de uma via
(ANOVA), seguidos do pós-teste de Tukey e os gráficos foram gerados pelo
Software estatístico Graph Pad Prism 5.0. O valor de p menor que 0,05 foi
considerado significativo.
45
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo, foram discutidos os resultados de caracterização físicoquímica dos componentes e complexos de inclusão da sulfadiazina de prata com a
β-ciclodextrina (SDAg: β-CD) nas razões estequiométricas de 1:1, 1:2 e 1:3,
respectivamente, utilizando o método de malaxagem; a caracterização físico-química
dos componentes e compósitos formados, e por fim, o desenvolvimento da
metodologia analítica para doseamento da SDAg por CLAE.
5.1 Caracterização dos complexos de inclusão
5.1.1 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)
A técnica DSC permite a detecção quantitativa de todos os processos que
requerem energia (FIGUEIRAS et al., 2007) e é considerada como um instrumento
analítico importante na caracterização de interações de fármacos e os componentes
da formulação (ARAÚJO et al., 2009). É amplamente utilizada na caracterização das
ciclodextrinas e dos seus complexos, pela rapidez das análises.
Na Figura 5, estão representadas as curvas DSC da β-CD, SDAg, MF e dos
complexos de inclusão. A curva DSC da β-CD exibiu um evento endotérmico na
faixa de temperatura de 43-120 °C (Tpico = 101,6 °C), correspondente à desidratação
da molécula. Este evento é relatado na literatura, referente à perda de moléculas de
água de solvatação para o ambiente, em temperaturas até 120 °C. Na faixa de
temperatura de 220-230 °C, é possível observar uma transição de fase cristalina, já
relatado por Serafini et al., (2012) e Menezes et al., (2014). A partir de 300 °C,
ocorreu um evento endotérmico na faixa de 306-320 °C (Tpico = 316,68 °C)
característico da fusão da molécula, seguido de sua decomposição térmica e
eliminação do material carbonáceo, a partir de 334 °C. Resultados semelhantes
foram também encontrados por Falcão et al., (2011) e Silva (2012).
A curva DSC da SDAg mostrou um patamar de estabilidade térmica para o
composto até a temperatura próxima de 280 °C, provavelmente devido a presença
do íon prata. A partir de 280 °C, pode-se observar um evento exotérmico
46
apresentando um pico máximo a 290 °C, relacionado a decomposição do fármaco.
Resultados semelhantes foram relatados por Hegasy et al., (2013).
Na curva DSC da MF pode-se observar uma sobreposição dos eventos
térmicos dos componentes. Na faixa de temperatura entre 43-120 °C (Tpico = 104 °C)
exibiu um evento endotérmico, devido à desidratação da estrutura molecular da βCD, com forma mais acentuada em relação aos eventos térmicos dos complexos.
Isso ocorre provavelmente por apresentar pouca interação do fármaco com a
molécula hospedeira (β-CD). A partir de 267 °C, pode-se observar o evento
exotérmico relacionado a decomposição térmica da SDAg apresentando pico
máximo a 277° C.
334
-CD
316,68
353
SDAg
-1
Fluxo de Calor (mW.min )
290
101,6
277
MF
333
Cinerte
104
316,92
CSDAg 1:1
Endo
88
278
CSDAg 1:2
282
CSDAg 1:3
114
116
281
104
50
100
150
200
250
300
350
400
Temperatura (°C)
Figura 5. Curvas DSC da Beta-ciclodextrina (β-CD), Sulfadiazina de prata (SDAg),
Mistura-física (MF), Complexo inerte (Cinerte 1:1), Complexo SDAg/β-CD 1:1
(CSDAg 1:1), Complexo SDAg/β-CD 1:2 (CSDAg 1:2) e Complexo SDAg/β-CD 1:3
(CSDAg 1:3) analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de
aquecimento de 10 °C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 400 °C.
47
A curva DSC do complexo inerte apresentou uma sobreposição dos eventos
térmicos da β-CD. Isso demonstra que a presença da solução de hidróxido de
amônio (28-30% v/v) para formação do complexo, provavelmente não interfere na
estabilidade térmica da β-CD.
Nas curvas DSC dos três complexos de inclusão (CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e
CSDAg 1:3) pode-se verificar algumas mudanças nos perfis das curvas: o evento
endotérmico da β-CD na faixa de temperatura de 43-120 °C está ligeiramente
deslocado nos complexos: CSDAg 1:1 (Tpico = 114 °C); CSDAg 1:2 (Tpico = 116 °C),
isso pode ser explicado pela provável interação do fármaco com a β-CD ao deslocar
os eventos relacionados a perda de água para temperaturas mais altas, quando as
proporções de SDAg/β-CD são 1:1 e 1:2, sugerindo a substituição de moléculas de
água por moléculas de SDAg que portanto dá uma maior estabilidade térmica
quando comparado a curva DSC da MF. O evento de decomposição térmica para
todos os complexos, sofreu deslocamento para temperaturas menores (na faixa de
temperatura de 270-290 °C, CSDAg 1:1 (Tpico = 278 °C); CSDAg 1:2 (Tpico = 282 °C)
e CSDAg 1:3 (Tpico = 281 °C), sugerindo a possível complexação da SDAg na
cavidade da β-CD. Além disso, verifica-se que o evento exotérmico de
decomposição da SDAg não se manifesta na curva dos complexos, o que pode ser
associado que quando moléculas de SDAg se encontram no interior da cavidade da
β-CD estas não mais interagem entre si no estado sólido, pois são essas interações
que teriam que ser rompidas para se iniciar a decomposição do fármaco
propriamente dito.
Resultados semelhantes foram encontrados por Araújo et al., (2009),
Figueiras et al., (2007) e Ribeiro et al., (2008) em seus trabalhos de complexo de
inclusão com β-CD e fármacos, também observaram o desaparecimento de picos
endotérmicos ou exotérmicos nos complexos e concluíram como um indicativo de
formação de complexo.
5.1.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG)
A estabilidade térmica da β-CD, SDAg, MF e dos complexos de inclusão foi
analisada por TG/DTG. As curvas TG/DTG, para todas as amostras analisadas,
48
estão apresentadas nas Figuras 6 e 7. A Tabela 4 apresenta as perdas de massa
calculadas a partir das faixas de temperatura específicas para cada material.
A análise das curvas TG/DTG da β-CD permite identificar que na faixa de
temperatura de 43-120 °C (Tpico ~ 84 ºC) ocorreu um evento de perda de massa de
15,85%, referente à liberação de moléculas de água a partir da cavidade e superfície
da β-CD. Em seguida, é verificado um patamar de estabilidade térmica, entre 120 e
290 °C. Enquanto que na faixa de temperatura de 290-400 °C (Tpico ~ 325 ºC),
ocorreu uma perda de massa de 76,56%, relacionada a decomposição térmica da βCD. Subsequentemente, ocorre um evento de perda de massa de 4,42%, referente a
eliminação de material carbonáceo (400-800 °C). Tais resultados encontram-se de
acordo com a literatura que relata para a β-CD, perda de massa relativa à saída de
água, em temperatura compreendida entre 25 e 90 °C. Já a decomposição térmica
inicia-se próximo a 280 °C, onde são detectados seus produtos de decomposição
(SIQUEIRA‐LIMA et al., 2014; SERAFINI et al., 2012; MENEZES et al., 2014).
100
Perda de massa (%)
80
-CD
60
SDAg
MF
40
Cinerte 1:1
CSDAg 1:1
20
CSDAg 1:2
CSDAg 1:3
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Temperatura (°C)
Figura 6. Curvas TG da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDZ 1:2 e
CSDAg 1:3 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de
aquecimento de 10 °C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 800 °C.
49
A partir das curvas TG/DTG da SDAg, não foi verificado nenhum evento
evolvendo perda de massa até a temperatura próxima de 276 °C. Essa característica
provavelmente está relacionada a estabilidade que o íon metálico da prata promove
ao composto (EL-BARADIE, 2005). Esse resultado pode ser confirmado através da
análise da curva DSC da SDAg, na qual não houve eventos térmicos na temperatura
citada. A partir de 276 °C, pode-se observar três eventos envolvendo perda de
massa. A primeira perda de massa (51,68%) ocorreu entre 276-400 °C (Tpico ~ 289
ºC), correspondente à decomposição da 2-aminopirimidina (EL-BARADIE, 2005). Em
seguida, observa-se o segundo evento envolvendo perda de massa (5,81%) entre
400-550 °C (Tpico ~ 418 ºC), referente a decomposição do anel aromático e das duas
moléculas de dióxido de enxofre. A terceira perda de massa está relacionada a
decomposição final do fármaco, tendo como resíduo final à prata metálica em um
percentual igual a 7,42% (550-800 °C).
Tabela 4: Percentuais de perdas de massa da β-CD, SDAg, MF, Cinerte, CSDAg
1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3, obtidos por TG em faixas de temperaturas diferentes.
∆m (%)
∆m (%)
∆m (%)
∆m (%)
∆m (%)
Amostras
43 – 120 °C
120 – 290 °C
290 – 400 °C
β-CD
15,85
-
76,56
SDAg
-
-
51,68
5,81
7,42
MF
6,45
-
35,06
5,86
4,30
Cinerte 1:1
13,87
-
71,78
CSDAg 1:1
12,95
-
60,58
7,21
6,72
CSDAg 1:2
13,44
-
57,22
6,12
4,45
CSDAg 1:3
11,57
-
48,12
4,94
4,95
400 – 550 °C
550 – 800
°C
4,42
5,06
As curvas TG/DTG da MF mostraram uma sobreposição dos eventos
térmicos obtidos para os componentes isolados. A primeira perda de massa (6,45%)
ocorreu entre 43-120 °C, referente à liberação de moléculas de água a partir da
cavidade e superfície da β-CD. A segunda perda de massa (35,06%), ocorreu entre
276-400 °C (Tpico ~ 276 ºC) referente às perdas de massa de decomposição inicial
tanto do fármaco quanto da β-CD, apresentando um percentual inferior quando
50
comparado aos complexos (Tabela 4), o que pode indicar uma baixa eficiência de
inclusão e interação entre as moléculas do hóspede e da molécula hospedeira. As
demais perdas de massa (5,86%) entre 400-550 °C, e (4,30%) entre 550-800 °C,
correspondem à decomposição final dos materiais de partida.
Resultados semelhantes foram discutidos por Siqueira‐Lima et al., (2014) na
qual relaciona a baixa eficiência de complexação, por ser a mistura física o método
menos eficiente de interação e substituição das moléculas de água da cavidade da
ciclodextrina pela molécula do hóspede.
A partir da análise das curvas TG/DTG do complexo inerte pode-se observar
que as perdas de massa são muito semelhantes com aquelas encontradas para a βCD pura (Tabela 4), evidenciando que a presença da solução de hidróxido de
amônio (28-30% v/v), utilizada para solubilizar a SDAg para formação do complexo,
provavelmente não interfere na estabilidade térmica da β-CD.
As curvas TG/DTG dos complexos mostraram-se bastante semelhantes. A
partir da Tabela 4 pode-se observar um aumento das perdas de massa entre 43-120
°C quando comparado à mistura física, (CSDAg 1:1-12,95%; CSDAg 1:2- 13,44%;
CSDAg 1:3- 11,57%) sugerindo a substituição de moléculas de água de solvatação
da cavidade e da superfície da β-CD pela presença do íon da prata de constituição
do fármaco, provavelmente incluso. Resultados semelhantes foram observados por
Hegasy et al., (2013) quando analisaram por TG o comportamento e estabilidade
térmica da SDAg e dos complexos de SDAg em carboximetil-β-CD e compararam os
resultados de perda de água da mistura física. Pode-se observar também (Figura 7)
que os complexos apresentaram uma redução na Tpico da decomposição térmica
(CSDAg 1:1 – Tpico ~ 280 ºC; CSDAg 1:2 – Tpico ~ 284 ºC; CSDAg 1:3 – Tpico ~ 284
°C) quando comparados a Tpico da decomposição térmica da β-CD (Tpico ~ 325 °C),
indicando assim maior estabilidade térmica com a formação dos complexos de
inclusão. Esses resultados podem ser confirmados ao analisar as curvas DSC dos
complexos, observando o deslocamento dos eventos térmicos relacionados à
decomposição térmica para temperaturas menores, sugerindo a complexação.
Posteriormente, a partir de 400 ºC para ambos os complexos ocorre perda de massa
relacionada ao final da decomposição térmica dos componentes e liberação de
material carbonáceo.
51
-CD
SDAg
MF
Cinerte 1:1
1ª Derivada
CSDAg 1:1
CSDAg 1:2
CSDAg 1:3
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Temperatura (°C)
Figura 7. Curvas DTG da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e
CSDAg 1:3 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de
aquecimento de 10°C min-1 na faixa de temperatura entre 25 e 800 °C.
Os resultados dos percentuais de perdas de massa dos complexos
encontrados por termogravimetria (TG) foram corroborados pela análise de
determinação do teor de água pelo método potenciométrico de Karl Fischer com o
objetivo de calcular as perdas totais de água nas amostras. A partir da análise da
Tabela 5, pode-se observar que os percentuais de água referentes aos complexos
foram menores quando comparados com a β–CD pura. De acordo com Serafini et
al., (2012), a diminuição do teor de água está relacionada à formação de complexo
de inclusão, pois as moléculas de água originalmente encontradas na cavidade da
β–CD teriam sido substituídas pela molécula do hóspede (SDAg).
Tabela 5: Percentuais do teor de água das amostras obtidos por Karl Fischer.
Amostras
Teor de água % (n-2)
β-CD
SDAg
MF
Cinerte 1:1
CSDAg 1:1
CSDAg 1:2
CSDAg 1:3
12,25
5,45
6,06
12,12
8,23
8,95
8,63
52
5.1.3 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com
transformada de Fourier (FTIR)
Para os componentes necessários para formação dos complexos de
inclusão, a análise dos espectros de FTIR pode ser realizada comparando-se a
posição das bandas da molécula hóspede, da ciclodextrina e da mistura física com
as dos complexos. Geralmente, quando ocorre a complexação, é possível observar
que as bandas de absorção podem mudar de posição, diminuir ou até mesmo
desaparecer (SPRICIGO et al., 2008).
Os espectros de FTIR da β-CD, SDAg e MF estão representados na Figura
8. Como podemos observar, o espectro da β-CD apresentou bandas largas
características, entre 3500-3200 cm-1, associada ao estiramento assimétrico do
grupamento hidroxila (OH) e na região entre 1154-1000 cm-1, associada ao
estiramento assimétrico (1154 cm-1) e simétrico (1032 cm-1) de éteres (C-O-C),
referente à ligação α-(1-4). Evidenciou-se também uma banda em 2927 cm-1,
relacionada às vibrações de estiramento C-H, e em 1639 cm-1, deformação angular
da ligação H-O-H presente na amostra, além de modos vibracionais referentes às
deformações (C-H) na região entre 1250 e 1450 cm-1 (WANG et al., 2014; SERAFINI
et al., 2012).
A observação do espectro de FTIR da SDAg permitiu identificar bandas
características em 3340 e 3385 cm-1 correspondente à deformação axial do
grupamento NH2 (amina primária) e bandas que estão entre 1352 a 1140 cm-1
correspondente a ligação S=O. Em 3247 e 1642 cm -1, pode-se observar bandas
referentes à deformação axial e angular do grupamento NH da sulfonamida,
respectivamente. Em 1595 cm-1, pode-se evidenciar uma banda atribuída ao
estiramento vibracional do anel fenólico conjugado ao grupamento NH2, e as bandas
em 1547 e 834 cm-1 estão associadas à vibração da ligação (C=C) do anel
pirimidínico e do anel aromático para substituído. Além disso, podem ser observadas
vibrações simétricas em SO2 a 1129 cm-1 (BORGES et al., 2005; PRIETO et al.,
2006; FAJARDO et al., 2013).
53
 -CD)
938
1639
1369
2927
Transmitância (%)
1154
1595
1352
1032
1547
834
(SDAg)
3409
1642
3247
1222
3340
3385
1129
2929
(MF)
1226
3247
1636
1424
1127
1031
3409
4000
3500
3000
1500
1000
500
-1
Número de onda (cm )
Figura 8. Espectros de FTIR da β-CD, SDAg e MF analisadas de 4000-400 cm-1.
O espectro de FTIR para a MF mostrou uma sobreposição das bandas
características de β-CD e SDAg. Pode-se perceber que algumas bandas de
absorção da SDAg são visualizadas no espectro da MF (1595 cm -1, 1547 cm-1, 1352
cm-1, 834 cm-1), porém as bandas características da β-CD (3409 cm-1, 2927 cm-1,
1639 cm-1, 1032 cm-1) destacaram-se no espectro. Pode-se observar pela Figura 8,
que não houve deslocamento significativo das bandas de absorção, o que se
observa é apenas uma diminuição da intensidade destas causada pela vizinhança
química diferenciada. De acordo com Corti et al. (2007), o espectro da mistura física
corresponde à sobreposição dos espectros da molécula hóspede e da ciclodextrina.
Os espectros de FTIR dos complexos (Cinerte; CSDAg 1:1; CSDAg 1:2;
CSDAg 1:3) estão apresentados na Figura 9. Como podemos observar, no espectro
de FTIR para o complexo inerte, as bandas características da β-CD (3409 cm-1,
2927 cm-1, 1639 cm-1, 1032 cm-1) foram predominantes no espectro, e desta forma, a
solução de hidróxido de amônio (28-30% v/v) utilizada na preparação dos complexos
obtidos por malaxagem, provavelmente não interfere na reação de complexação.
54
1638
(Cinerte)
2927
1650
1028
3400
1158
Transmitância (%)
(CSDAg 1:1)
(CSDAg 1:2)
(CSDZ 1:3)
1420
1130
4000
3500
3000
1500
1000
500
-1
Número de onda (cm )
Figura 9. Espectros de FTIR do Cinerte 1:1, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3,
analisadas de 4000-400 cm-1.
Os espectros de FTIR dos complexos (Cinerte; CSDAg 1:1; CSDAg 1:2;
CSDAg 1:3) foram muito semelhantes. Verifica-se pela Figura 9, que as bandas
características da SDAg em 3340 e 3385 cm-1, correspondente à deformação axial
do grupamento NH2 (amina primária) foram suprimidas, dando lugar ao surgimento
de uma banda larga (principalmente, observado no complexo CSDAg 1:3). Estas
observações podem sugerir a saída de moléculas de água da cavidade da β-CD e a
quebra de ligações de hidrogênio após a inclusão da SDAg. Na região de 1650 cm-1,
a banda característica da deformação angular C=N foi também suprimida, bem como
ocorreu
redução
na
intensidade
das
bandas
características
da
SDAg,
compreendidas entre 1650 e 1130 cm-1. Tais observações indicam algum tipo de
interação entre a molécula hospedeira (β-CD) e o hóspede (SDAg), sugerindo a
formação do complexo de inclusão.
Periasamy et al. (2014) em um trabalho de investigação espectral e de
caracterização
estrutural
do
complexo
de
dibenzalacetona:β-CD
obtiveram
resultados semelhantes aos encontrados no presente estudo, na qual o espectro de
FTIR do complexo apresentou modificações na posição ou intensidade de algumas
55
bandas características da dibenzalacetona, sugerindo a formação do complexo de
inclusão.
Delrivo, Zoppi e Longhi (2012) observaram a partir do FTIR das misturas
físicas com β-CD e metil-β-CD e sulfadiazina, que os espectros das misturas físicas
apresentaram uma sobreposição dos espectros obtidos para os componentes
isolados. Em contraste, os espectros de FTIR dos complexos preparados por
diferentes métodos, não revelaram o aparecimento de novas bandas, embora tenha
sido observado diferenças nos espectros em relação a sulfadiazina pura. Estes
resultados puderam confirmar a existência de interações intermoleculares entre a
sulfadiazina e as ciclodextrinas no estudo.
Os resultados de caracterização por FTIR corroboraram com os resultados
obtidos anteriormente por DSC e TG/DTG, indicando a formação dos complexos de
inclusão.
5.1.4 Difração de Raios X (DRX)
A Figura 10 apresenta os difratogramas de raios X da β-CD, SDAg, MF e
dos complexos de inclusão obtidos. A partir da análise da figura, faz-se a
comparação dos difratogramas dos componentes puros com os do complexos.
O difratograma de raios X da β-CD (Figura 10) apresenta um perfil
predominantemente cristalino, entre 5º e 60º, destacando-se picos de difração
característicos de grande intensidade em 2θ= 5,2º; 10,4º; 12,3º; 13,6º; 14,6º; 20,5º;
22º e 26,4º. Resultados semelhantes são encontrados nos trabalhos de Siqueiralima et al., (2014) e Periasamy et al., (2014).
O difratograma de raios X da SDAg exibiu picos finos e intensos,
característicos de um fármaco que se apresenta na forma cristalina, com ângulos de
difração em 2θ= 10,1º; 11,8º; 23,1º; 24º e 28,2º. Um perfil tipicamente semelhante ao
difratograma em estudo, também foi encontrado por Hegasy et al., (2013).
No difratograma de raios X da MF, verifica-se a sobreposição dos padrões
cristalinos da β-CD e da SDAg, demonstrando a presença dos principais picos
56
característicos de cada material, embora os picos fortes indicam a retenção da
estrutura cristalina da SDAg na mistura física.
CD)
(SDAg)
(MF)
(Cinerte)
(CSDZ 1:1)
(CSDZ 1:2)
(CSDZ 1:3)
10
20
30
40
50
60
2
Figura 10. Difratograma de raios X da β-CD, SDAg, MF, Cinerte 1:1, CSDAg 1:1,
CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3.
A partir da análise dos difratogramas de raios X dos complexos de inclusão
na Figura 10, foi possível observar um novo perfil de difração com a presença de
novos padrões de difração, verificando-se uma diminuição no grau de cristalinidade
com tendência para amorfização. Estas características podem confirmar a
complexação entre a SDAg e β-CD. O complexo CSDAg 1:3 apresentou entre os
demais complexos o perfil mais próximo ao da ciclodextrina com um pico de
57
intensidade máxima em 2θ= 14,5º, como aquele encontrado no difratograma da βCD em 2θ= 14,6º. Isto pode estar relacionado pelo alto teor de ciclodextrina no
mesmo.
De acordo com os difratogramas apresentados sugere-se que ocorreu a
formação de um novo perfil de difração e portanto, a interação da β-CD e da SDAg
para formação dos complexos de inclusão nas razões molares obtidas, quando são
comparados com o difratograma da MF, na qual se verifica uma sobreposição dos
padrões cristalinos. Estes resultados podem ser confirmados pelos resultados de
DSC, TG/DTG e FTIR discutidos anteriormente.
5.1.5 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
A MEV é uma técnica bastante utilizada para definir qualitativamente a
formação de complexos de inclusão (TAKAHASHI, 2009). Na Figura 11 estão
representadas as micrografias eletrônicas de varredura da β-CD, CSDAg 1:1,
CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3.
A morfologia da superfície da β-CD pura, como mostrado na Figura 11,
apresenta partículas cristalinas de tamanho irregular e na forma de paralelogramos
monoclínicos, com superfície e contorno bem definidos. Carvalho e Pinto (2014)
obtiveram micrografias da β-CD semelhantes ao presente estudo.
Por sua vez, os complexos de inclusão (CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg
1:3) obtidos pelo método da malaxagem, apresentaram drásticas mudanças na
forma e no tamanho das partículas, resultando em aglomerados que sugerem uma
modificação do cristal e do pó, sugerindo assim a formação de complexos. Essa
observação está de acordo com resultados obtidos por Hegasy et al., (2013), os
quais observaram nos complexos de inclusão com SDAg uma tendência para
agregação, sugerindo a existência de materiais amorfos com a formação dos
complexos. Esse resultado confirma os resultados de DRX obtidos anteriormente, na
qual a formação de um novo perfil de difração foi acompanhado pela diminuição no
grau de cristalinidade com tendência para amorfização, indicando a complexação.
58
Figura 11. Micrografias eletrônicas de varredura da β-CD, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e
CSDAg 1:3 com aumento de 400x e 2000x.
5.2 Caracterização dos compósitos
5.2.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
Na Figura 12, estão representadas as curvas DSC das amostras de HAP,
QUI e compósitos HAP/QUI, HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI
40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2. A curva DSC obtida para a QUI apresentou dois
eventos claros e característicos do polímero. O primeiro, um evento endotérmico
em 96°C, correspondente à perda de água e o segundo, exotérmico (306°C) está
relacionado ao início da decomposição térmica dos grupos aminos deste polímero
(GUINESI, CAVALHEIRO, 2006). O DSC da HAP mostrou claramente a formação
de dois eventos endotérmicos: em 37°C e 124°C, correspondente a perda de
água (EGUES, 2005).
59
Foi possível a visualização de três eventos para o compósito HAP/QUI: um
endotérmico em 55°C; outro endotérmico em 110°C e um exotérmico em 267°C.
Através da análise da curva DSC, podemos inferir que houve pequenos
deslocamentos e modificações de intensidade, quando comparados aos eventos
térmicos obtidos para as amostras isoladas. Isso permite confirmar a interação entre
a HAP e a QUI na formação do compósito.
Figura 12. Curvas DSC da HAP, QUI e compósitos HAP/QUI, HAP/QUI 60/40 1:1,
HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2, analisadas em
atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento de 10 °C min-1 na faixa
de temperatura entre 25 e 400 °C.
As curvas DSC dos compósitos após a incorporação dos complexos de
inclusão mostraram-se bastante semelhantes e estão representadas na Figura 12.
Foi possível a visualização de dois eventos para os compósitos formados: um
60
endotérmico na faixa 90 a 100 °C; relacionado a liberação de água proveniente da
composição dos constituintes e um exotérmico próximo a 300 °C, referente a
decomposição térmica dos materiais. Através da análise da curvas DSC, podemos
inferir que houve pequenos deslocamentos e modificações de intensidade, quando
comparados as diferentes proporções de quitosana e hidroxiapatita. Isso permite
confirmar a formação dos compósitos após a incorporação dos complexos de
inclusão nas diferentes razões molares.
5.2.2 Termogravimetria e termogravimetria derivada (TG/DTG)
As curvas TG/DTG da HAP, QUI e HAP/QUI estão apresentadas nas
Figuras 13 e 14. As curvas TG/DTG da HAP apresentaram dois eventos envolvendo
perda de massa. O primeiro, na faixa de temperatura entre 50 e 100 ºC, indicando
perda de 72,45%, atribuído à evaporação de água e o segundo com temperatura
próxima a 300°C, perda de massa de 1,87%, atribuído à decomposição térmica com
formação de produtos carbonáceos (SIVAKUMAR, MANJUBALA E RAO, 2002). A
pasta de HAP contém um elevado teor de água e, quando levada ao aquecimento
ocorre maior perda de massa, devido à evaporação de moléculas de água presentes
na amostra.
Os dados de TG/DTG para a QUI mostraram dois eventos de perda de
massa: o primeiro, inferior a 100 ºC, o segundo (275-450 ºC) e um terceiro evento
entre 450-670 ºC. A primeira perda de massa foi de 11,18% e pode ser atribuída à
liberação de água adsorvida na amostra. A segunda e a terceira perda de 47,32% e
7,66% correspondem à decomposição térmica do polímero e eliminação de material
carbonáceo (PANG E ZHITOMIRSKY, 2008).
A partir das curvas TG/DTG do compósito HAP/QUI foram observados
quatro eventos de perda de massa: o primeiro (34-80 °C) com 12,37%, o segundo
entre 80 e 146 °C com 4,88%, o terceiro (146-325 °C) com 18,35% e o quarto entre
325 e 700 °C com 3,23%. A perda de massa observada em 285 ºC para a QUI
desapareceu na curva obtida para o compósito HAP/QUI, podendo indicar uma
possível interação entre os grupos amino da QUI e os grupos fosfato da HAP. A
perda de massa do compósito devido à presença de HAP é mínima, porque como
61
observado na curva da HAP sua maior perda de massa ocorre devido o processo de
evaporação de água contida na amostra.
Perda de massa (%)
100
(HAP)
(QUI)
80
(HAP/QUI)
60
40
20
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Temperatura (C)
Figura 13. Curvas TG da HAP, QUI e compósito HAP/QUI (HAP/QUI) analisadas em
atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de aquecimento de 10°C min-1 na faixa
de temperatura entre 25 °C e 800 °C.
(HAP)
1ª Derivada
(QUI)
(HAP/QUI)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Temperatura (°C)
Figura 14. Curvas DTG da HAP, QUI e compósito HAP/QUI analisadas em
atmosfera de N2 (100 mL min-1) com razão de aquecimento de 10°C min-1 na faixa
de temperatura entre 25 °C e 800 °C.
As curvas TG/DTG dos compósitos após a incorporação dos complexos de
inclusão mostraram-se bastante semelhantes e estão representadas nas Figuras 15
e 16. A partir da análise da Tabela 6 pode-se observar uma diminuição das perdas
de massa dos compósitos contendo SDAg entre 34-80 °C quando comparado ao
62
compósito HAP/QUI, apesar de que o compósito HAP/QUI 60/40 1:1 apresentou um
aumento de perda de massa (14,13%), provavelmente devido a maior interação dos
grupamentos aminos da quitosana (em maior proporção) com grupamentos fosfato
da HAP, durante a formação dos compósitos. Pode-se observar também que os
compósitos contendo fármaco apresentaram, maiores percentuais de perda de
massa durante a decomposição térmica dos componentes na faixa de temperatura
de 146-325 ºC, indicando assim maior estabilidade desses sistemas quando
comparado ao compósito HAP/QUI (18,35%). Posteriormente, a partir de 400 ºC
para ambos os compósitos ocorre perda de massa relacionada à decomposição
térmica dos componentes e liberação de material carbonáceo.
Tabela 6: Percentuais de perdas de massa dos compósitos (HAP/QUI 60/40 1:1,
HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2), em faixas de
temperaturas diferentes.
Δm%
Δm%
Δm%
Δm%
Amostras
34 – 80 °C
80 – 146 °C
146 – 325 °C
325 – 800 °C
HAP/QUI
12,37
4,88
18,35
3,23
HAP/QUI 60/40
1:1
14,13
4,55
34,11
19,01
HAP/QUI 60/40
1:2
12,11
4,47
34,52
13,35
HAP/QUI 40/60
1:1
11,46
4,41
28,30
17,22
HAP/QUI 40/60
1:2
11,28
4,21
28,83
23,36
63
Figura 15. Curvas TG dos compósitos HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2,
HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL
min-1) com razão de aquecimento de 10 °C min-1.
(HAP/QUI 40/60 1:1)
(HAP/QUI 40/60 1:2)
1ª Derivada
(HAP/QUI 60/40 1:1)
(HAP/QUI 60/40 1:2)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Temperatura (°C)
Figura 16. Curvas DTG dos compósitos HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2,
HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2 analisadas em atmosfera de N2 (100 mL
min-1) com razão de aquecimento de 10 °C min-1.
64
5.2.3 Difração de Raios X (DRX)
As análises de difração de raios X avaliam qualquer mudança no grau de
cristalinidade das substâncias. Na Figura 17, estão representados os difratogramas
da HAP, QUI e do compósito HAP/QUI. Como pode ser observado, a HAP possui
picos característicos que correspondem a seus planos cristalinos. Os picos intensos
em ângulos de difração em 25.8º, 32.2º, 34.1º e 40º representam os principais
planos cristalinos da HAP, e foram também observados nos difratogramas dos
compósitos com algumas modificações. Cai et al. (2009) e Li et al. (2012)
encontraram resultados semelhantes ao difratograma da HAP apresentado.
No DRX da QUI foi observado dois halos, um de alta intensidade em 24° e
um de menor intensidade próximo a 10°, correspondentes a estrutura polimérica e
ligações amino terminais (HU et al., 2004). Entretanto, predomina a estrutura
amorfa, característico de um polímero como a QUI. As ligações amino terminais de
sua estrutura também contribuem para o seu caráter amorfo, pois as pontes de
hidrogênio que atuam como ligações secundárias também contribuem para a
mudança do ângulo de ligação entre as moléculas de QUI (COSTA Jr. e MANSUR,
2008).
O difratograma do compósito HAP/QUI apresentou um novo perfil de
difração, indicando a formação de uma nova estrutura cristalina. Pode-se observar
picos cristalinos em ângulos de difração em 13.8º, 16.2º e 19.7º, apesar da
diminuição da cristalinidade dos picos característicos do polímero. Ângulos de
difração em 32.2º e 39º, confirmam a formação e a presença da HAP no compósito.
Pode-se observar que após a formação do compósito, picos cristalinos da HAP
ainda existiam, entretanto diminuíram, o que provavelmente indica a formação de
uma nova espécie a partir da interação entre a HAP e o polímero (MANJUBALA et
al., 2006) e que são confirmados pelos resultados de DSC e TG/DTG observados
anteriormente. O pico em 32.2º da HAP é diminuído após a formação do compósito,
o que também indica a interação com o polímero, provavelmente devido a interação
molecular entre a HAP e a matriz polimérica.
65
(HAP)
(QUI)
(HAP/QUI)
10
20
30
2
40
50
60
Figura 17. Difratograma de raios X da HAP, QUI e do compósito HAP/QUI
(HAP/QUI).
A partir da análise dos difratogramas de raios X dos compósitos após a
incorporação dos complexos de inclusão na Figura 18, foi possível observar um
novo perfil de difração para os compósitos formados, apesar dos difratogramas
apresentarem-se bastante semelhantes entre si. Pode-se observar que os picos
cristalinos em ângulos de difração em 13.8º, 16.2º e 19.7º, do difratograma do
compósito HAP/QUI não foram significativamente alterados, confirmando a formação
dos compósitos após incorporação dos complexos de inclusão. Além disso, pode-se
observar uma diminuição nos ângulos de difração em 32.2º e 39º, planos cristalinos
característicos da HAP, confirmando a ligação da quitosana com cristais da HAP. A
ausência de picos cristalinos dos complexos de inclusão, indica que a incorporação
do fármaco não alterou o grau de cristalinidade dos compósitos formados.
66
(HAP/QUI 60/40 1:1)
(HAP/QUI 60/40 1:2)
(HAP/QUI 40/60 1:1)
(HAP/QUI 40/60 1:2)
10
20
30
40
50
60
2
Figura 18. Difratograma de raios X dos compósitos QUI/HAP em diferentes
proporções orgânico/inorgânico incorporados com complexos de inclusão nas
razões 1:1 e 1:2 (HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e
HAP/QUI 40/60 1:2).
5.2.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
A MEV foi utilizada como técnica comprobatória e suplementar as
observações sugeridas pelas análises de DSC, TG/DTG e DRX descritas nas
secções anteriores. É uma técnica bastante utilizada para definir qualitativamente a
superfície de compósitos formados pela associação de HAP e QUI. Nas Figura 19 e
20 estão representadas as micrografias eletrônicas de varredura dos compósitos na
ausência de SDAg (HAP/QUI 60/40 e HAP/QUI 40/60) e na presença de SDAg
(HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI 60/40 1:2, HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI 40/60 1:2).
A partir da Figura 19, foi possível observar as alterações na morfologia de
superfície dos compósitos após incorporação dos complexos de inclusão de
SDAg/β-CD nas proporções 1:1 e 1:2, principalmente quando são alteradas as
proporções de HAP e QUI nos compósitos. Esse resultados de MEV corroboram
com os resultados obtidos anteriormente, confirmando a formação dos compósitos a
partir da interação dos grupos da HAP e dos grupos da QUI. Além disso, a presença
67
dos complexos de inclusão não alteraram a constituição dos sistemas, sendo
portanto favorável a formação dos compósitos.
Figura 19. Micrografias eletrônicas de varredura dos compósitos na ausência de
SDAg (HAP/QUI 60/40) e na presença de SDAg (HAP/QUI 60/40 1:1, HAP/QUI
60/40 1:2) obtidas nos aumentos de 1000x e 3000x.
68
Figura 20. Micrografias eletrônicas de varredura dos compósitos na ausência de
SDAg (HAP/QUI 40/60) e na presença de SDAg (HAP/QUI 40/60 1:1 e HAP/QUI
40/60 1:2) obtidas nos aumentos de 1000x e 3000x.
69
5.3 Desenvolvimento do método de doseamento da sulfadiazina de prata por
CLAE
A determinação quantitativa de fármacos exige o uso de procedimentos
analíticos validados para que os resultados gerados sejam reprodutíveis e
confiáveis. Assim, após estabelecidas as condições cromatográficas para a
quantificação da SDAg por cromatografia líquida de alta eficiência, o método foi
desenvolvido com base na Resolução RE nº 899, de 29 de maio de 2003 da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2003). Os parâmetros avaliados foram:
linearidade, precisão, exatidão, limite de detecção e quantificação e robustez.
5.3.1 Linearidade
A linearidade foi determinada pela obtenção da curva analítica preparada
conforme descrita no item 4.2.5.2. A representação gráfica da curva analítica e o
coeficiente de regressão das soluções de SDAg em concentrações de 0.003 a 0.03
mg/mL pelo método de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) na região do
ultravioleta a 254 nm estão representados na Figura 21. Na Figura 22 está
representado o cromatograma da solução estoque de SDAg na concentração de
0.005 mg/mL obtido a 254 nm por CLAE durante a realização da curva analítica.
6000
5000
y = 176964x - 169,84
2
R = 0,9996
Área (a.u.)
4000
3000
2000
1000
0
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,025
0,030
Concentração (mg/mL)
Figura 21. Representação gráfica da curva analítica da solução de SDAg obtido a
254 nm por CLAE.
70
Figura 22. Cromatograma da solução estoque de SDAg na concentração de 0.005
mg/mL obtido a 254 nm por CLAE.
A equação da reta, determinada através do método dos mínimos quadrados,
é: y = 176964x - 169,84 onde x é a concentração em mg/mL e y a área obtidos por
CLAE, apresentando um coeficiente de correlação (R2) igual a 0,9996. O coeficiente
de correlação é um parâmetro que permite uma estimativa da qualidade da curva
obtida, pois valores superiores a 0,99 indicam que existe uma resposta linear na
faixa de concentração trabalhada (BRASIL, 2003).
Os resultados encontrados demonstram que a curva analítica pode ser
utilizada para quantificar amostras contendo SDAg, conferindo a validade do método
de acordo com a linearidade.
5.2.2 Precisão
Repetibilidade é a concordância entre os resultados dentro de um curto
período de tempo, sendo realizado pelo mesmo analista e a mesma instrumentação
(BRASIL, 2003). A repetibilidade do método cromatográfico em estudo foi avaliada
através de 9 determinações contemplando o intervalo linear da curva analítica, ou
seja, 3 concentrações: baixa (0,003 mg/mL), média (0,008 mg/mL) e alta (0,03
mg/mL), em triplicata (Tabela 7).
71
Tabela 7. Repetibilidade do método de quantificação da SDAg por CLAE.
Concentração de SDAg (mg/mL)
Área média ± DP
CV (%)
0,003
361,42 ± 0,58
0,16
0,008
1304,65 ± 0,73
0,36
0,03
5139,41 ± 1,84
0,07
DP = Desvio Padrão
CV (%) = Coeficiente de Variação em porcentagem
Os resultados obtidos na avaliação da repetibilidade das amostras
apresentaram coeficiente de variação (CV%) entre 0,07 e 0,36%, demonstrando que
o método é preciso, de acordo com o estabelecido pela RE 899/03, onde o CV
preconizado para este estudo deve ser abaixo de 5%.
A precisão intermediária é a avaliação da proximidade dos resultados
obtidos de uma mesma amostra. Esta foi determinada a partir da média, desvio
padrão e coeficiente de variação entre analistas e dias diferentes. Os resultados
obtidos para o ensaio de precisão intermediária das amostras encontram-se nas
Tabelas 8 e 9.
Tabela 8. Precisão intermediária do analista 1 em dias diferentes do método de
quantificação da SDAg por CLAE.
Concentração de SDAg
Área média ± DP
CV (%)
(mg/mL)
Dia 1
0,003
361,42 ± 0,58
0,16
0,008
1304,65 ± 1,73
0,36
0,03
5139,41 ± 1,84
0,07
0,003
361,19 ± 1,20
0,33
0,008
1301,59 ± 1,58
0,35
0,03
5136, 41 ± 1,84
0,05
Dia 2
DP = Desvio Padrão
CV (%) = Coeficiente de Variação em porcentagem
72
Tabela 9. Precisão intermediária do analista 2 em dias diferentes do método de
quantificação da SDAg por CLAE.
Concentração de SDAg
Área média ± DP
CV (%)
(mg/mL)
Dia 1
0,003
360,30 ± 0,70
0,19
0,008
1301,38 ± 1,55
0,11
0,03
5139,38 ± 1,24
0,04
0,003
362,15 ± 0,91
0,25
0,008
1302,19 ± 1,84
0,29
0,03
5142, 97 ± 1,29
0,06
Dia 2
DP = Desvio Padrão
CV (%) = Coeficiente de Variação em porcentagem
Os valores de CV (%) determinados pelo ensaio de precisão intermediária
por analistas e em dias diferentes encontram-se abaixo do valor preconizado pela
ANVISA, que é no máximo 5%, portanto o método pode ser considerado preciso sob
as condições estabelecidas.
5.2.3 Exatidão
A exatidão é a relação entre a concentração média determinada
experimentalmente e a concentração teórica correspondente. Os valores de
recuperação obtidos para cada concentração estudada estão apresentados na
Tabela 10.
Para os valores descritos na Tabela 10, é possível observar que a
porcentagem de recuperação varia de 100,02 a 103,59%, portanto todos os
resultados foram satisfatórios, ou seja, todas as porcentagens de recuperação
ficaram entre os limites preconizados, demonstrando dessa forma, uma boa exatidão
do método e uma recuperação adequada.
73
Tabela 10. Valores obtidos no teste de recuperação para SDAg por CLAE a 254 nm
em três níveis de concentração.
Concentração de SDAg
Área média ± DP CV (%)
Exatidão (%)
(mg/mL)
0,003
363,18 ± 0,74
0,20
100,40
0,008
1296,81 ± 1,17
0,32
103,59
0,03
5140,41 ± 1,29
0,03
100,02
DP = Desvio Padrão
CV (%) = Coeficiente de Variação em porcentagem
5.2.4 Limite de detecção e quantificação
O limite de detecção (LD) é a menor quantidade do analito presente em uma
amostra que pode ser detectado, porém não necessariamente quantificado, sob as
condições experimentais estabelecidas. O limite de quantificação (LQ), por sua vez,
é a menor quantidade do analito em uma amostra que pode ser determinada com
precisão e exatidão aceitáveis sob as condições experimentais estabelecidas
(BRASIL, 2003).
O método apresentou um valor de LD de 0,0019 mg.mL-1 e LQ de 0,0026
mg.mL-1. Demonstrando limites satisfatórios, uma vez que os valores foram
inferiores à menor concentração utilizada na construção da curva de linearidade
(0,003 mg.mL-1).
5.2.5 Robustez
A robustez do método foi determinada pela comparação entre a alteração de
temperatura da coluna cromatográfica e pH da fase móvel (Tabela 11). A partir dos
resultados obtidos pela análise estatística ANOVA, é possível observar que não há
diferença significativa entre as amostras, com o valor de p<0,05, além disso
apresentaram coeficiente de variação entre 0,11 e 0,26%, demonstrando ser um
método robusto nos fatores analisados.
74
Tabela 11. Parâmetros analíticos variáveis para determinação da robustez.
Amostras
pH
Temperatura (ºC)
Área média ± DP
CV(%)
1
3,0
35
1302,37 ± 1,47
0,19
2
4,0
35
1301,38 ± 1,55
0,11
3
3,0
45
1299,69 ± 1,33
0,25
4
4,0
45
1300,46 ± 1,49
0,26
*Diferença significativa em p<0,05 (ANOVA).
5.2.5 Determinação da eficiência de complexação da sulfadiazina de prata
nos complexos de inclusão por CLAE
A eficiência de complexação da SDAg nos complexos de SDAg/β-CD foi
determinado por CLAE utilizando a curva analítica padrão. As concentrações das
amostras analisadas no cromatógrafo foram calculadas utilizando-se as áreas e a
equação da reta, apresentadas na Tabela 12.
A partir dos resultados obtidos (Tabela 12), pode-se observar que a
formação dos complexos de inclusão com a SDAg, em diferentes razões molares,
apresentaram percentuais de eficiência de complexação bastante próximos. Porém
o complexo de inclusão obtido com a menor razão estequiométrica (1:1) apresentou
o maior eficiência de complexação (32,15%). Este fato pode ser observado pois, a
molécula de SDAg apresenta um ambiente hidrofóbico que é compatível com as
características do interior da cavidade da β-CD.
Tabela 12. Percentuais da eficiência de complexação da MF e dos complexos de
SDAg/β-CD nas diferentes razões estequiométricas.
Eficiência de
Amostras
Massa teórica
Massa experimental complexação
(Complexos)
SDAg/β-CD (mg/mg)
(%)
SDAg/β-CD 1:1
3,14
1,00952
32,15
SDAg/β-CD 1:2
3,14
0,86804
27,64
SDAg/β-CD 1:3
3,14
0,78417
24,97
Mistura Física
3,14
0,69125
22,01
75
Além disso, as dimensões das moléculas devem ser compatíveis com o
tamanho da cavidade da ciclodextrina. Dessa maneira, a razão estequiométrica 1:1
pode ser suficiente para formação do complexo de inclusão SDAg/ β-CD.
O baixo teor de inclusão para a mistura física (22,01%), em relação aos
complexos, pode ser explicado pela não adição de água durante a preparação da
amostra. Apesar de não haver formação de ligações, acredita-se que a substituição
das moléculas de água de alta entalpia da cavidade da ciclodextrina por outra
substância menos polar que a água seria a força principal envolvida na formação
dos complexos.
76
6 CONCLUSÕES
A partir do presente estudo, foi possível obter complexos de inclusão de
sulfadiazina de prata com a β-ciclodextrina através do método de malaxagem, que
mostrou-se eficiente e aplicável a moléculas com baixa solubilidade em meio
aquoso. Além disso, foi possível obter compósitos hidroxiapatita/quitosana após
incorporação dos complexos de inclusão pelo método de evaporação do solvente;
Os resultados de (DSC/TG/DTG/DRX/MEV) dos componentes, mistura física
e dos complexos de inclusão obtidos nas diferentes razões molares, permitiram
visualizar interações entre o fármaco e a β-ciclodextrina, sugerindo a complexação.
Além disso, a caracterização dos complexos de inclusão por espectroscopia na
região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) demonstrou que houve
deslocamentos e redução na intensidade das bandas características da SDAg,
sugerindo a formação dos complexos de inclusão;
Os
resultados
(DSC/TG/DTG/DRX/MEV)
dos
componentes
e
dos
compósitos permitiram visualizar possíveis interações entre a hidroxiapatita e a
quitosana,
demonstrando
que
houve
a
formação
do
compósito
hidroxiapatita/quitosana após incorporação dos complexos de inclusão;
O método desenvolvido para o doseamento de sulfadiazina de prata por
CLAE apresentou valores satisfatórios que atendem os limites preconizados para os
parâmetros de validação de um método quantitativo, conforme as normas nacionais.
O método apresentou linearidade satisfatória com r2 > 0,99, com equação da reta, y
= 176964x - 169,84. Obteve-se boa precisão, exatidão e robustez com valores de
coeficiente de variação menores que 5%;
A eficiência de complexação da sulfadiazina de prata nos complexos de
inclusão foi determinado a partir do método desenvolvido. O complexo de inclusão
obtido com a menor razão estequiométrica (1:1) apresentou o maior percentual de
eficiência de complexação (32,15%). Dessa maneira, a razão estequiométrica 1:1 é
suficiente para formação do complexo de inclusão sulfadiazina de prata/βciclodextrina, e posteriormente, foi favorável ao ser incorporado ao compósito
hidroxiapatita/quitosana.
77
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85
APÊNDICE – Resumo expandido publicado em anais de Congresso

Obtenção e caracterização de complexos de inclusão de sulfadiazina de prata
em β-ciclodextrina - IX Congresso Brasileiro de Análise térmica e Calorimetria
- 09 a 12 de Novembro de 2014 - Serra Negra - SP - Brasil.
Obtenção e caracterização de complexos de inclusão de sulfadiazina de prata
em β-ciclodextrina
Gabriela das Graças G. Trindade1*, Juliana G. Galvão1, Adriana de Jesus Santos1,
Rogéria de Souza Nunes1
1
Departamento de Farmácia, Universidade Federal de Sergipe, Sergipe, Brasil.
E-mail: *[email protected]
Resumo
Este trabalho teve como objetivo a obtenção e caracterização dos complexos de inclusão de
sulfadiazina de prata em β-ciclodextrina por calorimetria exploratória diferencial (DSC),
termogravimetria (TG) e determinação do teor de umidade por Karl Fischer. Os complexos de
inclusão foram obtidos por malaxagem, em diferentes razões estequiométricas de sulfadiazina de
prata/β-ciclodextrina (1:1, 1:2 e 1:3) respectivamente. De acordo com a análise de DSC, é possível
observar que o evento de fusão (Tpico = 290 °C) e início de decomposição do fármaco desapareceu na
curva dos complexos de inclusão, o que pode ser associado a complexação de moléculas de
sulfadiazina de prata no interior da cavidade da β-ciclodextrina. Os resultados de TG referentes aos
complexos de inclusão apresentaram maiores percentuais de perda de massa quando comparados à
mistura física de sulfadiazina de prata/ β-ciclodextrina. Essa observação sugere maior estabilidade
desses sistemas. Os complexos obtidos mostraram interessantes propriedades térmicas sugerindo
sua aplicação no desenvolvimento de um sistema para liberação.
Palavras-chave: β-ciclodextrina, sulfadiazina de prata, complexação, análise térmica.
Abstract
This study aimed the obtaining and characterization of the silver sulfadiazine inclusion complexes in βcyclodextrin by differential scanning calorimetry (DSC), thermogravimetry (TG) and moisture
determination by Karl Fischer method. The inclusion complexes were obtained by paste method, at
different stoichiometric ratios of the silver sulfadiazine/β-cyclodextrin (1:1, 1:2 and 1:3) respectively.
According to the DSC analysis, it can be possible to observe that melting point (T peak = 290 °C) and
beginning of the drug decomposition disappeared in the inclusion complexes curves, which may be
associated with the complexation of silver sulfadiazine molecules within β-cyclodextrin cavity. TG data
related to inclusion complexes presented higher mass loss values when compared to the silver
sulfadiazine/β-cyclodextrin physical mixture. This observation suggests a greater stability of these
systems. The inclusion complexes showed interesting thermal properties suggest its application in the
development of delivery system.
Keywords: β-cyclodextrin, silver sulfadiazine, complexation, thermal analysis.
86
INTRODUÇÃO
O tratamento de desordens, defeitos e doenças envolvendo o tecido, como no caso de
queimaduras graves, é uma problemática que vem sendo tratada clinicamente com a substituição
parcial ou total do tecido lesionado [1].
Um dos tratamentos tópicos padrão em queimaduras é a utilização de sulfadiazina de prata
(SDAg), um agente antibacteriano eficaz no tratamento de feridas e queimaduras [2]. Este fármaco
combina a ação inibitória do sal de prata, juntamente com o efeito antibacteriano da sulfadiazina.
Além disso, a prata, também possui atividade antimicrobiana eficaz em uma ampla gama de bactérias
gram-negativas e gram-positivas, bem como propriedades antifúngicas. No entanto, a sulfadiazina de
prata apresenta baixa solubilidade em sistemas aquosos e sofre oxidação quando exposta a luz e
umidade [3].
Considerando tais aspectos, a utilização de ciclodextrinas para formação de complexos de
inclusão tem sido sugerida com o propósito de melhorar a solubilidade e estabilidade do fármaco
neles associado.
As ciclodextrinas (CDs) são oligossacarídeos cíclicos que apresentam conformação química
peculiar: suas unidades de glicopiranose arranjam-se na forma de cones, e podem ser consideradas
moléculas anfifílicas. Por apresentarem duas regiões de comportamento diferentes, o exterior das
CDs é formado por grupos hidroxilas sendo altamente polar, enquanto seu interior da cavidade é
relativamente apolar. As principais ciclodextrinas naturais conhecidas são a α, a β e a γ-ciclodextrina.
A β-ciclodextrina (β-CD) é a mais vantajosa para utilização farmacêutica como agente complexante,
devido as suas propriedades físico-químicas e ao tamanho da sua cavidade [4].
Neste contexto, a complexação da sulfadiazina de prata em ciclodextrina torna-se uma opção
viável para contornar os problemas de solubilidade e estabilidade do fármaco. E, posteriormente, na
incorporação em formulações tópicas para o tratamento de feridas e queimaduras.
MATERIAL E MÉTODOS
®
Material. A β-ciclodextrina cristalina foi adquirida da SIGMA ALDRICH . A sulfadiazina de prata foi
®
®
adquirida da Henrifarma . O hidróxido de amônio (28-30% v/v) foi adquirido da NEON .
Preparação dos complexos de inclusão. Os complexos de inclusão foram obtidos por malaxagem,
em diferentes razões estequiométricas de sulfadiazina de prata/β-ciclodextrina (1:1, 1:2 e 1:3)
respectivamente. Essas quantidades estequiométricas foram calculadas a partir da massa molar de
cada uma delas (PMSDAg= 357.14 g e PMβ-CD= 1135 g), pesadas e homogeneizadas em um gral com
auxílio de pistilo. Uma quantidade de 3 mL de solução de hidróxido de amônio (28-30% v/v), solvente
utilizado para solubilizar a sulfadiazina de prata, além de umedecer a mistura para formação de uma
pasta foi acrescentado aos poucos. A amostra foi acondicionada em um dessecador até a formação
de um filme seco. Após a formação do filme a mesma foi triturada e homogeneizada em gral com
auxílio de pistilo, acondicionada em frascos plásticos hermeticamente fechados e armazenada em
dessecador para uma melhor conservação. A mistura física (MF) foi obtida com o objetivo de realizar
as devidas comparações entre os componentes e os complexos de inclusão formados. Para a MF
foram pesadas quantidades estequiométricas de sulfadiazina de prata/β-ciclodextrina (SDAg: β-CD).
87
Esse método consistiu na simples mistura mecânica em um gral com auxílio de pistilo sem adição de
solvente. Após formação da mistura, foi acondicionada em dessecador e logo após, armazenada em
plásticos hermeticamente fechados para melhor conservação [5, 6].
Caracterização: Calorimetria exploratória diferencial. As curvas DSC foram obtidas utilizando um
-1
calorímetro TA Instruments DSC 2010, em atmosfera dinâmica de N 2 (50 mL min ), razão de
-1
aquecimento de 10 ºC min , na faixa de temperatura entre 25 e 400 ºC, utilizando cerca de 2 mg de
amostra seladas hermeticamente em cápsula de alumínio. O equipamento foi calibrado utilizando
padrão de Índio e Zinco metálico.
Termogravimetria. As curvas TG/DTG foram obtidas a partir de uma termobalança TGA Instruments
-1
TG-DTA 2960 SDT, em atmosfera dinâmica de N2 (100 mL min ), razão de aquecimento de 10 ºC
-1
min , na faixa de temperatura entre 25 e 800 ºC, utilizando cerca de 5 mg de amostra em porta
amostra de platina.
Determinação do teor de umidade por Karl Fischer. O teor de umidade dos complexos de inclusão
foi mensurado através do método de titulação potenciométrica empregando um Titulador
Potenciométrico Metrohm® Titrando 836 com o reagente Karl Fischer. O solvente de titulação
empregado é constituído de uma mistura de metanol seco (pureza 99.8%) e clorofórmio (pureza 99%)
na proporção 3:1. As análises foram realizadas em triplicata.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) para os complexos de
inclusão e seus componentes isolados estão representados na Fig. 1. A curva de DSC da β-CD exibiu
um evento endotérmico na faixa de temperatura de 43-120 °C (Tpico = 101.6 °C), que pode estar
relacionado à desidratação da molécula. Na faixa de temperatura de 220-230 °C é possível observar
uma transição de fase cristalina, já relatado por [7, 8]. A partir de 300 °C ocorreu um evento
endotérmico na faixa de 306-320 °C (Tpico = 316.68 °C) característico da fusão da molécula, seguido
de sua termodecomposição e eliminação do material carbonáceo, a partir de 334 °C. A análise das
curvas TG/DTG da β-CD, representadas na Fig. 2, permite identificar que na faixa de temperatura de
43-120 °C (Tpico ~ 84 ºC) ocorreu um evento de perda de massa de 15.85%, referente à liberação de
moléculas de água a partir da cavidade da β-CD, confirmando os resultados obtidos na curva DSC.
Em seguida, é verificado um patamar de estabilidade térmica, entre 120 e 290 °C. Enquanto que na
faixa de temperatura de 290-400 °C (Tpico ~ 325 ºC), ocorreu uma perda de massa de 76.56 %,
relacionada a rápida fusão/decomposição da β-CD. Subsequentemente, ocorre um evento de perda
de massa de 4.42 %, referente ao final de sua decomposição (400-800 °C).
A curva de DSC da SDAg (Fig. 1) mostrou um patamar de estabilidade térmica até a temperatura
próxima de 280 °C. A partir de 280 °C, pode-se observar um evento exotérmico apresentando um
pico máximo a 290 °C, relacionado a rápida fusão seguido de decomposição do fármaco. A partir das
curvas TG/DTG da SDAg, representadas na Fig. 2, não foi verificado nenhum evento evolvendo
perda de massa até a temperatura próxima de 276 °C. Essa característica provavelmente está
relacionada a estabilidade que o íon metálico da prata promove ao composto [9]. Esse resultado é
confirmado através da curva de DSC, que não exibiu evento térmico. A partir de 276 °C, pode-se
88
observar três eventos envolvendo perda de massa. A primeira perda de massa (Δm =51.68 %)
ocorreu entre 276-400 °C (Tpico ~ 289 ºC), correspondente à decomposição da 2-aminopirimidina. Em
seguida, observa-se o segundo evento envolvendo perda de massa (5.81 %) entre 400-550 °C (Tpico ~
418 ºC), referente a decomposição do anel aromático e das duas moléculas de dióxido de enxofre. A
terceira perda de massa está relacionada a decomposição final do fármaco, tendo como resíduo final
à prata metálica em um percentual igual a 7.42 % (550-800 °C).
Na curva de DSC da MF (Fig. 1) pode-se observar uma sobreposição dos eventos térmicos dos
componentes isolados. Na faixa de temperatura entre 43-120 °C (Tpico = 104 °C) exibiu um evento
endotérmico, devido à desidratação da estrutura molecular da β-CD, com forma mais acentuada em
relação aos eventos térmicos dos complexos. Isso ocorre provavelmente por apresentar pouca
interação do fármaco com a molécula hospedeira (β-CD). A partir de 267 ° C, pode-se observar o
evento exotérmico relacionado a fusão da SDAg seguido da sua termodecomposição apresentando
pico máximo a 277° C.
As curvas TG/DTG da MF (Fig. 2) mostraram uma sobreposição dos eventos térmicos obtidos
para os componentes isolados. A primeira perda de massa (6.45 %) ocorreu entre 43-120 °C,
referente à liberação de moléculas de água a partir da cavidade da β-CD. A segunda perda de massa
(35.06 %), ocorreu entre 276-400 °C (Tpico ~ 276 ºC) referente às perdas de massa de decomposição
inicial tanto do fármaco quanto da β-CD, apresentando um percentual inferior quando comparado aos
complexos, o que pode indicar uma baixa eficiência de inclusão e interação entre as moléculas do
hóspede e da molécula hospedeira. As demais perdas de massa (5.86 %) entre 400-550 °C, e (4.30
%) entre 550-800 °C, correspondem à decomposição final dos materiais de partida. Resultados
semelhantes foram discutidos por [10] na qual relaciona a baixa eficiência de complexação, por ser a
mistura física o método menos eficiente de interação e substituição das moléculas de água da
cavidade da ciclodextrina pela molécula do hóspede.
A curva de DSC do complexo inerte apresentou uma sobreposição dos eventos térmicos da β-CD.
Isso demonstra que a presença da solução de hidróxido de amônio (28-30% v/v) para formação do
complexo, provavelmente não interfere na estabilidade térmica da β-CD. Esse resultado pode ser
confirmado ao analisar as curvas TG/DTG do complexo inerte e da β-CD, observando as perdas de
massa em temperatura próxima.
Nas curvas de DSC (Fig. 1) dos três complexos de inclusão (CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg
1:3) pode-se verificar algumas mudanças nos perfis das curvas: o evento endotérmico da β-CD na
faixa de temperatura de 43-120 °C está ligeiramente deslocado em todos os complexos: CSDAg 1:1
(Tpico = 114 °C); CSDAg 1:2 (Tpico = 116 °C) e CSDAg 1:3 (Tpico = 104 °C), isso pode ser explicado
pela interação do fármaco com a β-CD, sugerindo a inclusão da molécula de SDAg em substituição e
liberação de água da cavidade da β-CD. O evento de fusão da β-CD para todos os complexos, sofreu
deslocamento e passou a ocorrer na faixa de temperatura de 270-290 °C, CSDAg 1:1 (Tpico = 278
°C); CSDAg 1:2 (Tpico = 282 °C) e CSDAg 1:3 (Tpico = 281 °C), sugerindo a complexação da SDAg na
cavidade da β-CD. Além disso, verifica-se que o evento exotérmico de fusão e início de
decomposição da SDAg não se manifesta na curva dos complexos, o que pode ser associado que
quando moléculas de SDAg se encontram no interior da cavidade da β-CD estas não mais interagem
89
entre si no estado sólido, pois são essas interações que teriam que ser rompidas para se iniciar a
fusão do fármaco propriamente dito.
As curvas TG/DTG dos complexos mostraram-se bastante semelhantes. A partir da Tabela 1
pode-se observar um aumento das perdas de massa entre 43-120 °C quando comparado à mistura
física, (CSDAg 1:1- 12.95 %; CSDAg 1:2- 13.44 %; CSDAg 1:3- 11.57 %) indicando saída de
moléculas de água de solvatação da cavidade do complexo formado para substituição de moléculas
do fármaco, provavelmente incluso. Pode-se observar também que os complexos apresentam,
percentuais maiores de perda de massa (CSDAg 1:1 – 60.58 %; CSDAg 1:2 - 57.22 %; CSDAg 1:3 48.12 %) na faixa de temperatura de 290-400 ºC, indicando assim maior estabilidade desses sistemas
quando comparados à mistura física (35.06%). Posteriormente, a partir de 400 ºC para ambos os
complexos ocorre perda de massa relacionada à decomposição térmica dos componentes e liberação
de material carbonáceo.
334
(a)
316,68
353
(b)
-1
Fluxo de Calor (mW min )
290
101,6
277
(c)
333
(d)
104
316,92
(e)
Endo
88
278
(f)
282
(g)
114
116
281
104
50
100
150
200
250
300
350
400
Temperatura (°C)
Fig. 1 Curvas DSC da Beta-ciclodextrina (a), Sulfadiazina de prata (b), Mistura-física (c),
Complexo inerte (d), Complexo SDAg/β-CD 1:1 (e), Complexo SDAg/β-CD 1:2 (f) e Complexo
-1
SDAg/β-CD 1:3 (g) analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min ), com razão de aquecimento 10 ºC
-1
min na faixa de temperatura entre 25 e 400 ºC.
Os resultados de perdas de massa encontrados por termogravimetria (TG) foram corroborados
pela análise de determinação do teor de água pelo método potenciométrico de Karl Fischer com o
objetivo de calcular as perdas totais de água nas amostras. A partir da análise da Tabela 1, pode-se
observar que as porcentagens de água referentes aos complexos foram menores quando
comparadas com a mistura física e a β–CD pura. De acordo com [7], a diminuição do teor de água
está relacionado com a formação de complexo de inclusão, pois as moléculas de água originalmente
encontradas na cavidade da β–CD teriam sido substituídas pela molécula do hóspede (SDAg).
90
Fig. 2 Curvas de TG/DTG da Beta-ciclodextrina (β-CD), Sulfadiazina de prata (SDAg), Mistura-física
(MF), Complexo inerte (Cinerte 1:1), Complexo SDAg/β-CD 1:1 (CSDAg 1:1), Complexo SDAg/β-CD
1:2 (CSDZ 1:2) e Comlexo SDAg/β-CD 1:3 (CSDAg 1:3) analisadas em atmosfera de N2 (100 mL
-1
-1
min ) com razão de aquecimento 10 °C min na faixa de temperatura entre 25 e 800 ºC.
Tabela 1: Perdas de massa da β-CD, SDAg, MF, Cinerte, CSDAg 1:1, CSDAg 1:2 e CSDAg 1:3, e
determinação do teor de umidade por Karl Fischer.
Amostras
Perda de massa
(%)
1ª Etapa
a
β-CD
15.85
SDAg
-
MF
6.45
Cinerte 1:1
13.87
a
12.95
a
13.44
a
11.57
a
a
CSDAg 1:1
CSDAg 1:2
CSDAg 1:3
Karl Fischer
2ª Etapa
3ª Etapa
4ª Etapa
d
76.56
c
4.42
51.68
b
5.81
35.06
c
5.86
71.78
c
5.06
60.58
c
57.22
c
48.12
c
12.25
d
7.42
d
4.30
d
5.45
d
6.06
d
d
7.21
d
6.12
d
4.94
Teor de água (%)
12.12
d
8.23
d
8.95
d
8.63
6.72
4.45
4.95
a
Porcentagem de água liberada até 120 °C.
Perda de massa relacionada ao início da decomposição da SDAg.
c
Decomposição térmica na faixa de 290 a 400 °C.
d
Formação de material carbonáceo devido a carbonização da amostra na faixa de 400 a 800 °C.
b
CONCLUSÕES
A partir do presente estudo, foi possível obter complexos de inclusão de sulfadiazina de prata com a
β-ciclodextrina através do método de malaxagem, que mostrou-se eficiente e aplicável a moléculas
com baixa solubilidade em meio aquoso. Os resultados obtidos a partir dos estudos de DSC e
TG/DTG dos componentes, mistura física e dos complexos de inclusão obtidos em diferentes razões
91
molares, permitiram visualizar interações entre o fármaco e a β-ciclodextrina, sugerindo a
complexação. A partir destes resultados, conclui-se que é possível preparar complexos a partir da
mistura entre a sulfadiazina de prata e a β-ciclodextrina, vislumbrando a utilização destes em
sistemas de liberação.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e a CAPES, pelo apoio financeiro outorgado durante a realização deste trabalho.
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of silver sulfadiazine with cyclodextrin. Int J Pharm Pharm Sci. 2013;5:461-468.
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10 Siqueira‐Lima PS, Araújo AAS, Lucchese AM, Quintans JSS, Menezes PP, Alves PB, Lucca Júnior
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