Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica Medicamentos para o tratamento da Hipertensão Arterial Pulmonar 1. Princípios e critérios utilizados A hipertensão pulmonar (HP) é uma condição definida por critérios hemodinâmicos e que é comum a diversas patologias. Estas estão agrupadas em 5 grupos de acordo com a classificação clinica em vigor. A hipertensão arterial pulmonar (HAP) corresponde ao grupo 1 e a hipertensão pulmonar tromboembólica crónica (HPTEC) ao grupo 4. Os fármacos específicos que têm surgido nos últimos anos e que têm sido alvo de estudos randomizados demonstraram a sua eficácia no tratamento da HAP e HPTEC, conforme se descreve abaixo. Atualmente não existe evidência científica robusta que suporte a sua utilização nos outros grupos de HP. O prognóstico da HAP depende não só da forma clínica e da gravidade da doença na apresentação, mas essencialmente da qualidade da gestão clínica do doente e do acesso à medicação. A busca de um diagnóstico etiológico e caracterização clínica inicial precisas, a estratificação da gravidade contínua e o ajuste da estratégia terapêutica e de seguimento, são fundamentais para o controle da doença. Estas regras estão bem definidas nas diversas Guidelines publicadas. O tratamento destes doentes em centros especializados é uma recomendação consensual. O Despacho nº 7934/2014, na linha destas recomendações, veio instituir os Centros de Tratamento para a Hipertensão Arterial Pulmonar (CT-HAP) em Portugal, restringindo o tratamento dos doentes com HAP aos Centros nomeados. Assim, recomenda-se que: Os medicamentos para a HAP devem estar disponíveis unicamente nos CT-HAP oficiais; Os fármacos disponíveis e as estratégias terapêuticas devem obedecer às recomendações das Guidelines; As entidades oficiais envolvidas devem promover a avaliação regular dos resultados dos CT-HAP e incentivar processos de avaliação económica da doença e não só de fármaco-economia. 2. Fármacos incluídos e critérios de inclusão 1 Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica Na biopatologia da vasculopatia proliferativa da HAP estão hoje identificadas 3 vias modeladoras do processo patológico e que têm sido a base para a investigação de novos fármacos para esta área: 1) Aumento da endotelina-1 circulante; 2) Diminuição da produção de óxido nítrico e 3) Diminuição dos níveis de prostaciclina. As caraterísticas dos fármacos incluídos, por classe terapêutica, estão resumidas no Quadro 1 e as indicações para cada um deles no Quadro 2. 3.1. Discriminação e justificação 3.1 Antagonistas dos receptores da endotelina-1 O Ambrisentano e o Bosentano têm sido os fármacos mais utilizados no tratamento da HAP, isoladamente ou em associação com os inibidores da fosfodiesterase-5, havendo um número apreciável de doentes medicados com qualquer um deles. A ausência de toxicidade hepática e as escassas interações medicamentosas do Ambrisentano são argumentos de peso para a sua inclusão. O Bosentano é o fármaco mais utilizado a nível mundial e para o maior número de indicações, incluindo a HAP associada a shunts sistémicopulmonares e fisiologia de Eisenmenger, sendo o único fármaco aprovado para esta indicação. O Macitentano, sucedâneo do Bosentano, foi recentemente aprovado para as indicações referidas no quadro 2. O SERAPHIN, ensaio clínico que levou à sua aprovação, foi o primeiro estudo de morbimortalidade com um fármaco para a HAP e o segundo a demonstrar uma redução significativa da mortalidade nos doentes tratados com este fármaco; passa, assim, a ser o fármaco desta classe com maior nível de evidência para redução da mortalidade nesta doença. 3.2 Estimuladores da via do Óxido Nítrico Ambos os inibidores da fosfodiesterase-5, Sildenafilo e Tadalafilo, demonstraram, nos ensaios clínicos, melhoria significativa dos endpoint habituais (Classe Funcional da WHO/NYHA, Teste dos Seis Minutos de Marcha e parâmetros hemodinâmicos). A semi-vida mais longa do Tadalafil, permitindo uma toma única diária, torna-o o fármaco mais cómodo da classe. O Sildenafilo é o fármaco mais utilizado da classe, havendo um grande número de doentes medicados com este fármaco. 2 Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica O Riociguate foi recentemente aprovado pela EMA e FDA para as indicações expressas no quadro 2. É o único fármaco aprovado para o tratamento da HPTEC não operável ou residual após cirurgia de endarterectomia pulmonar. 3.3 Análogos da Prostaciclina O Epoprostenol foi o primeiro fármaco com um estudo demonstrando aumento da sobrevida na HAP. Continua a ser o único fármaco aprovado para o tratamento dos doentes em Classe Funcional IV. O Iloprost é o único prostanoide aprovado para administração por via inalatória. O Treprostinil é o único fármaco aprovado para administração subcutânea. Referências bibliográficas Taichman DB et al. Pharmacologic Therapy for Pulmonary Arterial Hypertension in Adults. Chest Guidelines and Expert Panel Report. Chest 2014;146(2):449-475. Hoeper MM et al. Definitions and Diagnosis of Pulmonary Hypertension. JACC 2013;62,25, Suppl D, D42-50. Simonneau G et al. Updated Clinical Classification of Pulmonary Hypertension. JACC 2013;62, 25, Suppl D, D34-41. Galiè N et al. Updated Treatment Algorithm of Pulmonary Arterial Hypertension. JACC 2013;62, 25, Suppl D, D60-72. Reis A et al. Recomendações para a abordagem clínica do doente com hipertensão pulmonar. Revista Portuguesa de Cardiologia 2010;29(2):253-289. McLaughlin V et al. ACCF/AHA 2009 Expert Consensus Document on Pulmonary Hypertension. Circulation 2009;119:2250-2294. Galiè N et al. Guidelines for the diagnosis and treatment of pulmonary Hypertension. European Heart Journal 2009;30,2493-2537. 3 Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica Quadro 1. Fármacos aprovados para o tratamento da HAP - características Substância activa Ambrisentano Nome comercial Volibris Bosentano Tracleer Macicentano Opsumit Riociguate Adempas Classe farmacológica Mecanismo de acção Bloqueio selectivo dos recetores ET-A Antagonistas dos receptores da endotelina (ET) Bloqueio duplo dos recetores ET-A e B Bloqueio duplo dos recetores ET-A e B Estimulador da guanilciclase solúvel Dosagem 5 e 10mg 62.5 e 125mg 10mg 0.5, 1, 1.5, 2 e 2.5mg Estimulação da via do Óxido Nítrico Sildenafilo Revatio Tadalafilo Adcirca 20mg Epoprostenol Veletri 0.5 e 1.5mg Inbidores da fosfodiesterase 5 Análogos da prostaclina Iloprost Tresprostinilo 20mg Reposição dos níveis séricos de prostaciclina Forma farmacêutica Comprimido dispersível e revestido por película Comprimido revestido por película Comprimido revestido por película Comprimido revestido por película Comprimido revestido por película Comprimido revestido por película Solução para perfusão Ventavis 10μg/mL Solução para inalação Remodulin 1, 2.5, 5 e 10mg/mL Solução para perfusão Quadro 2. Indicações para os fármacos aprovados para o tratamento da HAP* Substância Indicações conforme RCM activa Indicações aprovadas Classe funcional Ambrisentano HAP idiopática, hereditária e associada a DTC** II e III Bosentano HAP idiopática, hereditária, associada a DTC** e a II e III Macicentano HAP idiopática, hereditária e associada a DTC** e II e III Riociguate HPTEC inoperável ou residual após cirurgia e HAP II e III Sildenafilo HAP idiopática, hereditária e associada a DTC** II e III Tadalafilo HAP idiopática, hereditária e associada a DTC** II e III Epoprostenol HAP idiopática, hereditária e associada a DTC** III e IV Iloprost HAP idiopática e hereditária III HAP idiopática e hereditária Tresprostinilo *Informação constante no RCM disponível no INFARMED/EMA **Doenças do tecido conetivo III Via de administraçã o Posologia 5 a 10mg/qd Oral 62.5 a 125mg/bid 10mg/qd 0.5 a 2.5mg/tid Oral 20mg/tid Intravenosa 40mg/qd 2a 40ng/Kg/min (Ajustada à eficácia e tolerância) 2.5 a 5μg/ 6 a 9 x dia (Ajustada à eficácia e Inalatória tolerância) 0.625 a 80ng/Kg/min (Ajustada à Subcutânea e eficácia e intravenosa tolerância) Via Oral Oral Oral Oral Oral Oral Intravenosa Inalatória Subcutânea ou intravenosa 4