6 7 8 Transtorno bipolar Brasil é referência Deu na Imprensa Medicamentos são incorporados para tratamento da doença Novas advertências no combate ao tabagismo e alcoolismo Benefícios das pesquisas sobre o cérebro e doenças neurológicas Impresso e On-line - Boletim nº 27 - Jan-Fev-Mar 2015 CANAL ABERTO NOVOS RUMOS QUE NOS TRAZEM FORÇA No rastro do projeto “Novos Rumos”, idealizado pelo SINDHOSP para fortalecer o sistema federativo de representação da saúde do estado de São Paulo, várias ações foram planejadas. Com 76 anos de existência, o SINDHOSP possui expertise no setor, no desenvolvimento de projetos, no atendimento a associados e na articulação política. E tem somado esforços e equipe no sentido de levar essa bagagem para a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP). Alguns departamentos antes privativos do SINDHOSP migraram para o segundo grau de representação, dando maior efetividade e abrangência ao sistema como um todo. O departamento de Saúde Mental do SINDHOSP é um deles: foi substituído por um Comitê de Saúde Mental, agora na FEHOESP. Esse comitê tem por objetivo analisar, discutir, avaliar e apresentar sugestões que possam contribuir com o segmento, visando à melhoria da gestão, assim como à qualidade dos serviços ofertados aos pacientes, tanto na saúde pública como na suplementar. A primeira reunião de instalação ocorreu em janeiro de 2015, com aprovação de seu regimento, que prevê periodicidade bimestral. Temas importantes foram abordados já no primeiro encontro, como a análise da tendência de demanda por serviços de saúde mental, questionamentos sobre a necessidade de se ter normas específicas para a inspeção dos serviços, análise da Lei 13.003 de 2014 e, por fim, discussão sobre o disposto na Portaria 2.840/14, que prevê a desinstitucionalização de pacientes de longa permanência. Sentimos a necessidade de aproximar o comitê a outras organizações, tais como a Associação Brasileira de Psiquiatria, Comissão de Direitos EXPEDIENTE EDITORA: Ana Paula Barbulho (MTB 22170) Editora interina: Aline Moura (MTB 42946) REDAÇÃO E REVISÃO: Fabiane de Sá, Rebeca Salgado, Elcio Cabral e Ricardo Balego EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Carlos Eduardo e Felipe da Fonseca COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Ricardo Mendes, coordenador do Comitê de Saúde Mental da FEHOESP 2 Humanos da OAB, contatos estes que foram realizados e com boas chances de estreitamento de relações. Na segunda reunião foram trazidos à pauta diversos temas, entre eles um que será um grande desafio: o de tentar reverter a imagem comprometida que se tem na sociedade em relação ao portador de transtorno mental, bem como à própria doença, pensando em estratégias para uma propaganda institucional que possa evidenciar que o hospital psiquiátrico é um lugar onde se salvam vidas. Foi aventada a possibilidade de convidar representantes de comunidades terapêuticas ao comitê, a fim de aumentar a representatividade e enriquecer as reuniões. O programa de educação continuada é uma das ações do comitê que planeja, agora, um curso de atualização em psicologia hospitalar, após o de enfermagem psiquiátrica, que foi um sucesso. Outro projeto ousado é o de buscar uma forma de classificar os serviços psiquiátricos parametrizados por um selo de qualidade, da mesma forma que alguns hospitais buscaram a acreditação junto à Organização Nacional de Acreditação (ONA). Acreditamos nesta união de esforços para transformar a representação da saúde de São Paulo, e torná-la ainda mais forte. Esperamos que aprecie o novo Saúde Mental em Foco e seu novo projeto gráfico. A proposta da informação de qualidade continua a mesma. Boa leitura! Por Ricardo Mendes Coordenador do Comitê de Saúde Mental da FEHOESP TIRAGEM: 2.000 exemplares CIRCULAÇÃO: Entre diretores e administradores de hospitais psiquiátricos e clínicas FOTOS: Thinkstock e divulgação CORRESPONDÊNCIAS: Redação R. 24 de Maio, 208 - 14º andar CEP: 01041-000 - São Paulo - SP Tel. (11) 3224-7171 [email protected] Saúde Mental em Foco é uma publicação: EM AÇÃO COMITÊ DE SAÚDE MENTAL INICIA SUAS ATIVIDADES Especialistas discutem e encaminham ações em nível estadual A Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) criou, no início deste ano, seu Comitê de Saúde Mental. Com o objetivo de analisar, discutir, avaliar e apresentar sugestões para contribuir com o segmento, o grupo de trabalho conta com representantes da área e se reúne a cada dois meses. Assuntos para discussão não faltam. Se por um lado o governo tem fechado os leitos psiquiátricos em todo o país, inviabilizando inclusive uma política pública de saúde mental, por outro lado a relação com as operadoras de planos também representa um constante desafio, onde não são raros os problemas com remuneração e contratualização. O grupo foi formado a partir da experiência com o Comitê de Saúde Mental do SINDHOSP, que já atuava pelo Sindicato há anos. Agora, ao ser integrado pela Federação, as discussões ganham abrangência e representatividade estadual e nacional, já que a FEHOESP é filiada à Confederação Nacional de Saúde (CNS) – entidade maior na representação dos estabelecimentos prestadores de serviços em saúde no país. “Esperamos contribuir fomentando fóruns de discussão para debater temas ligados ao setor, promovendo ações para o desenvolvimento de profissionais a fim de capacitá-los, observando e avaliando as legislações pertinentes, participando de consultas públicas, representando hospitais e clínicas perante as autoridades competentes, publicando assuntos de interesse da categoria e buscando alianças e parcerias”, explicou Ricardo Nascimento Teixeira Mendes, diretor da Federação e coordenador do Comitê. Problemas do setor A primeira reunião, que instaurou oficialmente o comitê, foi realizada no dia 28 de janeiro, na sede da FEHOESP, situada na região central da capital paulista. Na ocasião, foi aprovado o regimento interno do grupo e levantados alguns dos assuntos de grande importância para o segmento. Dentre eles, já tiveram destaque a Lei 13.003/14, que trata da contratualização entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços; a Portaria 2.840/14, que cria o programa de desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos; os critérios adotados pelas vigilâncias sanitárias regionais nas vistorias a estabelecimentos psiquiátricos; e a necessidade de se resgatar a imagem dos serviços de saúde mental perante a sociedade. “A sustentabilidade do setor de uma forma geral é o principal assunto a ser discutido. Claro que é um tema complexo, mas devemos pensar em como sobreviver e poder prestar um bom serviço aos usuários tanto do SUS quanto da saúde suplementar”, destacou Mendes. Um segundo encontro também já foi realizado, no dia 18 de março, dando prosseguimento aos trabalhos. Não são poucos os problemas enfrentados pelo segmento atualmente. Não bastasse o fato de haver um estigma relacionado Comitê se reúne na sede da Federação, em SP à Saúde Mental, o setor sofre com o descaso por parte do governo, que vem mantendo uma política baseada no fechamento de leitos psiquiátricos, por exemplo. “O fechamento de leitos é uma dura realidade. A Política Nacional de Saúde Mental não prevê o hospital especializado como um recurso assistencial de uma rede integrada e hierarquizada de serviços. Preconiza apenas a internação em hospitais gerais”, pondera Ricardo Mendes. Composição A fim de contemplar os interesses do segmento, o Comitê de Saúde Mental da FEHOESP conta em sua composição com representantes tanto do setor público quanto do privado. Também compõem o grupo de trabalho Nelson Fernandes (Hospital Psiquiátrico Cairbar Schutel – Araraquara); Claudio Lopes (Centro Bezerra de Menezes – São Bernardo do Campo); Hubert Reigruber (Clínica Maia – Taboão da Serra); Antonio Carlos Braga (Pró-Saúde Mental – SP); Arnaldo Coutinho (Pró-Saúde Mental – SP); e Paulo Rogich (Hospital Santa Cruz – Salto de Pirapora). O comitê, no entanto, não é um grupo fechado e está apto a receber contribuições de outros segmentos da Saúde Mental, visando enriquecer ainda mais as discussões e encaminhar medidas benéficas para o setor. MATÉRIA DE CAPA IMAGINE A CENA: Por Fabiane de Sá e Rebeca Salgado Uma mulher de meia idade, que trabalha em tempo integral, está em seu carro, no trânsito caótico de uma cidade como São Paulo. Final de tarde. O engarrafamento para adiante, e o aplicativo que mede o trânsito e dita os caminhos indica linhas vermelhas em todas as rotas. Haverá um atraso de dez minutos no trajeto. “Não vai dar tempo”, pensa ela, já desesperada, atrasada, cansada, esgotada. Ela buzina e xinga o motorista do carro à frente, que não se move após o transito liberar. Irrita-se com o motoqueiro que tira uma fina do retrovisor. O telefone toca. É do trabalho, uma solicitação fora de hora que ela não poderá resolver ali, dirigindo, no meio da avenida. O whatsapp sinaliza nova mensagem, do filho que está em casa perguntando o que tem para a janta. O relógio, o tempo e o trânsito são seus maiores inimigos. Ao menos é isso o que ela pensa ao perceber que é prisioneira da cidade. Ela se sente frustrada porque perderá mais uma sessão da tão necessária terapia. As quintas-feiras acabaram virando um estresse em sua vida. Se você não se identificou com a descrição acima, é porque não sofre de ansiedade. Ou porque não faz terapia ou nunca perdeu uma sessão. Ou talvez porque seja um dos adeptos da novidade: a terapia online. Fim do divã? Com o avanço da tecnologia, as dificuldades de locomoção e a necessidade extrema de orientação psicológica, cada vez mais pacientes em todo o mundo vêm buscando orientação psicológica ou psicoterapia pela internet - via Skype ou Facetime e por e-mail, com ou sem webcam. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), os sites de psicólogos que atendiam online cresceram de 50 para 204 em sete anos (de 2005 a 2012), estimando que quatro mil pessoas tenham procurado atendimento psicológico a distância por e-mail ou via ferramentas de bate papo nesse período. Diante do crescimento de usuários deste serviço no país, o CFP publicou a resolução 11/2012, permitindo um maior número de sessões. Com esta medida as sessões online passaram de dez para 20 por paciente. A medida entrou em vigor em dezembro de 2012. Soma-se à novidade a necessidade cada vez maior de as pessoas se tratarem de transtornos afetivos. Eles crescem entre a população como rastro de pólvora. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, tem índices de depressão e transtornos de ansiedade semelhantes ao de áreas de guerra como o Líbano e a Síria. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP e que integra uma base de dados internacional identificou que 19,9% da população sofre de algum transtorno de ansiedade. Já em relação à depressão, os dados mostram que ela atinge 2,2 milhões, ou 11% dos 20 milhões de pessoas que moram na Grande São Paulo. Levantamento realizado pelo Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Psiquiatria, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, corrobora com este crescimento: 52% dos pacientes atendidos no local possuem transtornos afetivos, principalmente depressão. 4 Mas, será que a tradicional imagem do divã do psicanalista está correndo o risco de ser trocada pela tela do skype? Não tão rapidamente. "A terapia online não é melhor nem pior do que a presencial. Ela apenas atua em um espaço novo. Mas há regras e limitações que devem ser respeitadas", informa o CFP à reportagem do Saúde Mental em Foco. O conselho esclarece que a psicoterapia a distância ainda não é permitida como prática profissional no Brasil. “Ela apenas pode ser realizada no contexto de pesquisa, devendo ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Outros serviços de orientação psicológica podem ser prestados, mas não devem ter caráter terapêutico." Entre os serviços que podem ser prestados estão o de orientação profissional ou uma dificuldade momentânea emocional – entre elas, a perda do emprego, um desentendimento com o cônjuge, uma dúvida sobre que caminho seguir em determinadas situações. O atendimento tem de ter um enfoque pontual e temático. Já para o Conselho Federal de Medicina (CFM), não existe regra específica e definida para a consulta online relacionada a psicoterapia ou a qualquer especialidade. “O que o CFM considera é que a consulta é um ato médico. Para tanto, ambas as partes, paciente e médico, devem estar bastante tranquilos e orientados quanto ao uso de ferramentas eletrônicas, seja internet ou correio eletrônico, e desde que este tipo de atendimento traga algum benefício ao paciente”, explica o mestre em Bioética e conselheiro representante do Estado do Piauí do CFM, Leonardo Servio Luz. Leonardo Servio Luz O CFM aborda essa questão em dois documentos: na resolução nº 1.643/2002, que define e disciplina como deve ocorrer a prestação de serviços por meio da telemedicina; e na Declaração de Tel Aviv, de 1999, que trata das responsabilidades e normas éticas na utilização da telemedicina. Nesses documentos estão algumas orientações sobre o atendimento a distância, como em casos de pacientes que moram em locais geograficamente isolados, ou quando um profissional de medicina precisa da opinião de outro especialista. “Nesses casos o atendimento deve ocorrer exatamente como o presencial: com prontuário, registro de atendimento, remuneração, se for o caso, e seguir todas as regras de segurança.” E é exatamente aí que está a maior preocupação do conselheiro. “Se pensar que estamos num país onde ainda se discute a questão da segurança dos prontuários eletrônicos, a gente se pergunta como está a segurança MATÉRIA DE CAPA no atendimento eletrônico. Porque nesse tipo de atendimento a confiabilidade e segurança são de responsabilidade do médico.” Leonardo Servio Luz pondera que o atendimento online seja sugerido apenas para pacientes que já fazem acompanhamento médico, como se fosse um apoio em momentos de estresse e pânico. “O benefício tem que ser sempre do paciente, mas o médico tem de estar preparado e à vontade para fazer. Eu tenho receio que a questão da pessoalidade na relação terapêutica possa se perder. Muitas vezes, a interação com o médico, em casos de transtornos mentais, é mais importante do que os medicamentos. Talvez este momento precioso de uma relação presencial possa se perder e se tornar uma rotina, e não mais uma exceção. O tratamento convencional, o olho no olho, traz muitos ganhos para o paciente e para o profissional de medicina.” “No Psicolink trabalhamos com uma dinâmica de no máximo vinte sessões online, nas quais o paciente pode tirar suas dúvidas, discutir alguma questão ou até mesmo buscar uma orientação rápida”, afirma Milene. O acesso fácil, sem a necessidade de deslocamento para o consultório, é uma das principais vantagens da terapia online. Outro destaque é a facilidade de consultar um profissional a qualquer hora do dia, e em qualquer lugar do mundo. Do outro lado da conexão A visão do paciente, que se beneficia diretamente da nova modalidade de terapia, é parecida com a dos especialistas. Eduardo**, 26 anos, sofre de depressão, e faz sessões de terapia online. “Minha terapeuta e eu trabalhamos presencialmente por um ano e meio, mas por problemas familiares ela teve de se mudar para outro Estado. Comentei o quanto gostaria que ela mesma desse continuidade ao meu tratamento, e ela me sugeriu a terapia online”, explica. Embora esteja dando certo, Eduardo confessa que a presença física faz diferença na condução do tratamento. “Faço todos os exercícios propostos, reflito sobre cada uma das minhas ações e enxergo com muito bons olhos o fato de poder pegar meu computador, sentar-se confortavelmente na cama ou no sofá e poder conversar com a terapeuta numa hora que seja mais adequada pra mim. Ao mesmo tempo, me faz falta a presença dela na minha frente, me provocando para revelar os sentimentos mais íntimos. A internet é sim uma aliada, mas ainda acho importante uma conversa cara a cara. Por isso, toda vez que minha psicóloga está na cidade, nós marcamos uma sessão”, relata. De olho neste nicho, a psicóloga Milene Rosenthal teve a ideia de criar o Psicolink, uma startup de saúde mental lançada em 2014 que reúne profissionais e pacientes em uma plataforma única de acesso. Lá, o paciente cria uma conta, seleciona o profissional desejado e agenda a consulta. Tudo bem rápido e prático. “Curiosa sobre o assunto, iniciei uma vasta pesquisa, identificando que no Brasil essa era uma área pouco explorada, com baixo número de psicólogos atuantes desta maneira”, explica. “Depois disso realizei duas certificações como Cybercounsellor pela Universidade de Toronto, li livros e trabalhos científicos sobre o tema e busquei conhecer a fundo a regulamentação definida pelo Conselho de Psicologia para, somente depois, iniciar o desenvolvimento da plataforma”, explica. Milene Rosenthal A seleção de psicólogos para atuar na plataforma também é criteriosa. “O profissional interessado nos envia uma mensagem, solicitamos seu currículo e verificamos se o CRP está ativo ou se este profissional tem algum impedimento legal para atender. Depois agendamos uma conversa online para conhecer e passar as informações mais detalhadas sobre a forma de trabalho”, diz Milene. “É imprescindível ter a formação completa em psicologia e pelo menos dois anos de experiência clínica presencial em qualquer linha de atendimento.” Regras rígidas Conforme determina o Conselho Federal de Psicologia, os sites de serviços e/ou pesquisas devem ser cadastrados em comitê de ética e pesquisa aprovado e reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde. Os usuários podem verificar se o site está cadastrado clicando na imagem da permissão de funcionamento. Após o clique, será direcionado para a página do CFP, na qual consta o status do site e o período de validade do cadastro – que é de três anos. Em 2014, o Sistema de Conselhos de Psicologia avaliou 181 novos pedidos de cadastro de sites, sendo que 98 foram aprovados, 53 foram reprovados e 30 não propuseram à realização de serviços psicológicos online, portanto, não se aplicam à resolução CFP nº 11/2012. Atualmente, de acordo com o CFP, há 233 sites aprovados (sites cadastrados somados com os sites renovados), além dos que estão em análise. O psicólogo que não cumprir a resolução 11/2012 do CFP pode sofrer processo ético, de acordo com o artigo 21 do Código de Ética Profissional. A punição pode ser advertência, multa, censura pública, suspensão do exercício profissional por até 30 (trinta) dias e até a cassação do exercício profissional, dependendo da infração. **O nome real de Eduardo foi preservado a pedido do entrevistado. 5 SAÚDE PÚBLICA MS incorpora tratamento completo para transtorno bipolar Os brasileiros que sofrem Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) contarão com a linha completa de tratamento para a doença após a incorporação dos medicamentos Clozapina, Lamotrigina, Olanzapina, Quetiapina e Risperidona. A decisão publicada em 10 de abril no Diário Oficial da União deverá representar um investimento do Ministério da Saúde da ordem de R$ 755 milhões em cinco anos. Outra novidade importante é a publicação do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) que servirá como guia para a orientação do diagnóstico, tratamento e acompanhamento desses doentes. Segundo estimativas de associações de pacientes, o transtorno pode afetar até dois milhões de brasileiros. acesso ao melhor tratamento existente. Com essa incorporação a expectativa do Ministério da Saúde é que até o final deste primeiro semestre os medicamentos já estejam à disposição da população”, estima o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Protocolo Além disso, o Ministério da Saúde acaba de publicar o primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) destinado para a orientação sobre diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos doentes, que é fundamental para a ampliação do acesso aos tratamentos. Por acometerem adultos jovens e por se tratar de doença crônica de longa evolução que prejudica os aspectos familiar, social e profissional dos doentes, o tratamento é muito importante para garantir a qualidade de vida das pessoas, das famílias e da sociedade. “Esse protocolo vai orientar os médicos no SUS a prescreverem os medicamentos combinados de acordo com o quadro clínico do paciente com o objetivo de conseguir o melhor resultado possível no tratamento do transtorno bipolar. Além das pessoas terem acesso aos medicamentos de maneira facilitada, os pacientes passam a contar com um protocolo padrão feito com base em evidências científicas disponíveis e consultando especialistas de forma a ter uma padronização do tratamento desse transtorno”, explica o secretário. Para a inclusão de qualquer medicamento no SUS, é necessário que sejam obedecidas as regras da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), que garantem a proteção do cidadão quanto ao uso e eficácia do medicamento, por meio da comprovação da evidência clínica consolidada e o custo-efetividade dos produtos. Após a incorporação, o medicamento ou tecnologia pode levar até 180 dias para estar disponível ao paciente. MEDICAMENTOS INCORPORADOS Os medicamentos incorporados servem para o tratamento dos sintomas associados à doença, caracterizada por alterações de humor – fases de depressão e euforia (mania). Além disso, auxiliam na prevenção dos diferentes estágios dos episódios de mania e depressão, sintomas clássicos da doença. A estimativa é que, já em 2015, cerca de 270 mil pessoas sejam atendidas com esse novo tratamento, e a previsão é que esse número chegue a 330 mil em 2019. CLOZAPINA Medicamento indicado para esquizofrenia resistente ao tratamento; risco de comportamento suicida recorrente em pacientes com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo; e psicose durante a doença de Parkinson. Estima-se que os pacientes diagnosticados com transtorno bipolar podem desenvolver mais de dez episódios de mania e de depressão durante toda a vida. A duração das crises e dos intervalos entre elas em geral se estabiliza após a quarta ou quinta crises. Frequentemente, o intervalo entre os primeiro e segundo episódios pode durar cinco anos ou mais, embora 50% dos pacientes possam apresentar outra crise maníaca dois anos após sua crise inicial. OLANZAPINA Indicado para o tratamento de episódios de mania aguda ou mistos do TAB (com ou sem sintomas psicóticos e com ou sem ciclagem rápida) e para prolongar o tempo entre os episódios e reduzir as taxas de recorrência dos episódios de mania, mistos ou depressivos no TAB. “O transtorno bipolar pode se apresentar em diferentes graus, do mais leve ao mais grave, por isso é importante promover o diagnóstico correto e o 6 LAMOTRIGINA Indicado para prevenir episódios de alteração do humor, especialmente episódios depressivos. QUETIAPINA Indicado como adjuvante no tratamento dos episódios de mania, depressão, manutenção do transtorno afetivo bipolar I. DROGAS Brasil: exemplo no combate a vícios lícitos País é referência na luta contra o tabagismo, e passa a atuar também no alcoolismo A dependência da nicotina expõe os fumantes continuamente a mais de quatro mil substâncias tóxicas, que são fatores de risco para aproximadamente 50 doenças, principalmente as respiratórias e cardiovasculares, além de vários tipos de câncer. Hoje, o fumo responde por 90% dos casos de câncer de pulmão e 25% das doenças vasculares, como infarto. O tabagismo é responsável por cerca de 6 milhões de mortes por ano em todo o mundo, sendo 200 mil no Brasil. Segundo escreveu o médico Drauzio Varella no artigo “A Lei Antifumo”, publicado em seu site oficial, o produto “causa dependência química e rouba, em média, 12 anos da vida de um homem e 11 anos da vida de uma mulher”. Felizmente, o número de fumantes permanece em queda. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de pessoas que consomem cigarros e outros produtos derivados do tabaco hoje é 20,5% menor que o registrado cinco anos atrás. O trabalho desenvolvido no Brasil para tentar controlar o tabagismo foi reconhecido internacionalmente pela Bloomberg Philanthropies, que entregou o “Prêmio Bloomberg para o Controle Global do Tabaco” ao ministro da Saúde, Arthur Chioro, em março deste ano. Em 1989, 34% da população brasileira adulta fumava. Em 2014 esse índice caiu para 11%, segundo o IBGE. Dentre os motivos citados por especialistas para essa diminuição estão a proibição da publicidade, o aumento de disponibilidade de tratamento para quem quiser largar o mau hábito, a restrição de locais onde é permitido fumar e o aumento dos impostos. Os anos 80 foram dominados pela música, e grandes eventos eram patrocinados por marcas de cigarro, como o Hollywood Rock e o Free Jazz Festival. As propagandas de tabaco também ligavam o cigarro ao esporte, tentando associar ao produto uma imagem mais saudável. Foi em 1988 que o Brasil começou a lutar efetivamente contra o tabagismo, e a frase “O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde” passou a ser obrigatória nas embalagens dos produtos derivados do tabaco. Em 1996, os comerciais de produtos derivados do tabaco começaram a ser regulados e sua veicula- ção só era permitida entre as 21 e 6 horas. No mesmo ano, fumar em locais fechados passou a ser proibido – exceto em fumódromos. Em 2000, foi proibida a propaganda de produtos derivados de tabaco em revistas, jornais, outdoors, televisão e rádios, bem como o patrocínio de eventos culturais e esportivos. Imagens de advertência agressivas foram introduzidas nos rótulos de produtos derivados do tabaco em 2008. Em 2011, uma Lei Federal proibiu o fumo em locais fechados. “Restrições públicas ao cigarro ajudam a lidar com as crises de ansiedade que a abstinência dispara, sempre que caem os níveis sanguíneos da droga, aprendizado fundamental para ficar livre dela”, afirmou Varella. Agora, quem está na mira dos governantes são as bebidas alcoólicas. Dados de 2014 do “Relatório Global sobre Álcool e Saúde”, publicado pela Organização Mundial da Saúde, afirmam que quase 6% de todas as mortes em todo o mundo são atribuídas total ou parcialmente ao álcool. Atualmente a legislação permite a propaganda comercial de bebidas alcoólicas nas emissoras de rádio e televisão entre as 21 e 6 horas. Os rótulos das embalagens de bebidas contêm advertência, e os locais que vendem bebidas alcoólicas são obrigados a afixar advertência escrita de forma legível e ostensiva de que é crime dirigir sob a influência de álcool, punível com detenção – a chamada Lei Seca, em vigor desde 2012. O golpe mais recente na luta contra o alcoolismo aconteceu por meio da Lei 13.106 de 17 de março de 2015. Apesar de a venda de bebidas para menores de idade ser proibida desde o Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado há 25 anos, só agora foi instituída penalização: vender ou oferecer bebida alcoólica para crianças e adolescentes é crime, com pena de dois a quatro anos de detenção, além de multa que fica entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, e interdição do estabelecimento comercial que for flagrado. Novas advertências nas embalagens A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no início de abril, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), que dá cumprimento ao que prevê a Lei Federal nº 12.546/2011 e o Decreto nº 8262/2014. A resolução altera as embalagens de produtos fumígenos derivados do tabaco: conforme o texto, os maços deverão trazer advertências sanitárias que ocupem 30% da parte inferior da face frontal desses produtos, mantendo as fotos já existentes na face posterior. A mensagem de advertência sanitária deverá ser impressa da seguinte forma: “Este produto causa câncer. Pare de fumar Disque Saúde 136”, escrita de forma legível e destacada, com letras brancas, em negrito, caixa alta, fonte Arial 8, espaçamento simples, sobre fundo de cor preta, conforme modelo disponível no portal eletrônico da Anvisa. Ainda segundo a RDC, fica proibido o uso de qualquer tipo de invólucro ou dispositivo que impeça ou dificulte, de forma total ou parcial, a visualização da advertência sanitária, inclusive pela abertura da embalagem. Os produtores terão até o dia 1º de janeiro de 2016 para iniciar a comercialização dos produtos com a nova advertência. DEU NA IMPRENSA em psiquiatria há 30 anos “ Trabalho e ainda não sei muito bem o que é isso da loucura “ Não há uma fronteira exata. Quando dou aulas traço uma linha em que num extremo está o zero (a ausência absoluta de doença) e o infinito (a pessoa completamente doente). E depois traço a área das pessoas normais, antes do meio da linha. Não há ninguém que esteja no zero porque todos temos traços de personalidade que, maximizados, seriam doença. Traços obsessivos, depressivos. Nos achados da Internet, que globaliza a informação e a democratiza para o mundo, o Saúde Mental em Foco encontrou esta entrevista, concedida ao jornal português “I”, pelo psiquiatra José Salgado, diretor clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. O mês era março de 2015, ocasião em que se comemorou a Semana Internacional do Cérebro, de 16 a 22. Trata-se de uma campanha global de sensibilização para o progresso e os benefícios das pesquisas sobre o cérebro, e divulgação e conhecimento das doenças neurológicas. Confira e acesse o link http://www.ionline.pt/artigos/portugal/jose-salgado-trabalho-psiquiatria-ha-30-anos-ainda-nao-sei-muito-bem-isso-da/pag/-1 para ler a entrevista na íntegra, já que ainda não conseguimos ultrapassar as fronteiras do papel e disponibilizar tudo que queremos em apenas uma página. Jornal I: Se o cérebro comanda todos os órgãos, quem o manda adoecer? José Salgado: Penso que o temos de ver mais como constituinte, em permanente interação. Vamos supor uma pessoa cujo fígado e rins não funcionam enquanto filtros ou o coração não bombeia bem o sangue para o cérebro. Pode ter problemas cerebrais, quer por ficarem em circulação substâncias tóxicas ou não havendo uma adequada oxigenação. Ou seja, o cérebro adoece da mesma forma que os outros órgãos, por razões genéticas ou adquiridas, sendo que estas também interagem. Mas é curioso: por vezes pensa-se que a depressão só existe se houver uma causa externa. Não é verdade: há pessoas deprimidas sem fatos negativos nas suas vidas. Imagino que seja algo ainda mais desvalorizado. No geral a depressão ainda é toda muito desvalorizada. Ainda há muito a ideia de que basta ter força de vontade quando o problema reside nessa incapacidade. É como dizer a um atleta com o pé torcido que para superar a lesão tem de correr. Das doenças mentais a depressão é a mais incompreendida? É mais comum. É das maiores causas mundiais de incapacidade. Condiciona o prognóstico de doenças físicas, sejam infecciosas, oncológicas ou auto-imunes. Por ser tão abrangente é muito incompreendida. Por quê? Por confundir-se com tristeza? Acho que a razão será a mesma em todas as doenças mentais. O estigma sempre existiu. Passe o excesso, a grande diferença em relação à atitude na Idade Média e hoje em dia é que na Idade Média queimavam-se literalmente os doentes. Hoje queimam-se socialmente. Há pouco falou da tristeza. O que é a tristeza normal? É normal que a pessoa quando tem uma perda fique triste, mas nem todas as pessoas que têm a mesma perda têm o mesmo nível de tristeza. E até há pessoas que não têm perdas e têm tristeza e pessoas que têm grandes perdas e passam bem. Na psiquiatria existe mais tentativa e erro que noutras especialidades? Não. Algumas doenças como a depressão crônica deixam marcas no cérebro e quando prescrevemos por um exemplo um antidepressivo fazemo-lo consoante o tipo de depressão, se há mais queixas do tipo físico ou não, maior ou menor insónia, mais ou menos ansiedade, a hora do dia em que a pessoa está mais deprimida. Muitos mecanismos só foram identificados depois dos primeiros medicamentos nos anos 50, mas hoje há muita informação. A depressão é o problema mais comum. No futuro serão as demências? Ainda bem que as pessoas estão alerta porque com o aumento da esperança de vida há de fato mais demências, já que na maioria das vezes estão ligadas ao envelhecimento. Mas os últimos dados indicam que nos países mais desenvolvidos tem havido uma diminuição dos casos, pelo que poderá não ser tão expressivo. Qual é a explicação? Provavelmente a melhoria das condições de vida, aspectos nutricionais, exercício, o estímulo a nível intelectual. É de qualquer forma um dado positivo. Que relatos lhe chegam? Muitas pessoas têm de esconder no trabalho que têm uma depressão, se não são discriminadas. Mas se formos para outras doenças ainda é pior. Vemos políticos, comentadores e jornalistas a usar o termo esquizofrênico como insulto. O mesmo se passa quando se diz que alguém mais irascível é bipolar. O estigma e desvalorização são notórios no dia a dia. O que é que isto diz sobre o país? É um problema mundial. Acho que no fundo é um reflexo do medo que vem da ignorância. Se falarmos com uma pessoa com esquizofrenia vemos que tem uma história muito semelhante à nossa. Tem apenas um determinante biológico que favoreceu a doença. É essa proximidade que assusta a sociedade. A curta distância da loucura? Exatamente. Trabalho há 30 anos em psiquiatria e ainda não sei muito bem o que é isso da loucura. Muitos doentes que vemos e são oficialmente doentes são menos loucos, passe a expressão, que pessoas que vemos fora deste contexto. 8 Mas o aumento da carga de doença mental não pode favorecer a demência? Sim. Sabemos que qualquer doença que provoque danos cerebrais pode favorecer o aparecimento da demência. Acontece com a depressão crônica mas também pode surgir com traumatismos cranianos, AVC e até há demências ligadas aos enfartes múltiplos, que geralmente até são quadros mais rápidos do que o de Alzheimer.