O papel do professor no mundo actual Artur Ramísio 02/Novembro/2009 O provérbio chinês… Diz-me e eu esquecerei Ensina-me e eu lembrar-me-ei Envolve-me e eu aprenderei …reflecte vários modos de exercer a actividade de professor e as consequências correspondentes ao nível da aprendizagem, ilustrando, ao mesmo tempo, os vários paradigmas da educação ao longo do tempo, desde os baseados numa matriz mais comportamentalista, até aos que, na actualidade, defendem o aluno como figura central do processo de aprendizagem, numa perspectiva que se adapta à frase do provérbio: “Envolveme e eu aprenderei”. De acordo com esta nova concepção de educação, na qual se procura que o aluno seja auto-construtor dos seus conhecimentos, a aprendizagem tem de ser significativa, obrigando, para isso, a que seja despertado o seu interesse e mostradas razões que o motivem para a aprendizagem. Trata-se, então, de uma aprendizagem que tem de ser concebida como um processo dinâmico em que ocorrem adaptações e reconstruções dos conhecimentos, decorrente da interacção do que é novo com os conhecimentos prévios dos alunos, que se torna mais eficaz e proveitosa pelo facto de ser o aluno o principal protagonista do processo. No âmbito deste novo conceito, o papel do professor já não é o de mero transmissor de conhecimentos e saberes, mas sim o de alguém que tem por principal missão a criação das condições ideais para que ocorram aprendizagens significativas, fazendo uso dos recursos que estiverem disponíveis. Para tal, o professor, além de dever possuir as competências científicas necessárias relacionadas com os domínios que lecciona, deve também ser um organizador dos ambientes e dos dispositivos da aprendizagem (planificação das actividades lectivas, disposição da sala, gestão dos recursos, etc.) de modo a optimizá-los para o processo de aprendizagem. O âmbito deste novo processo de ensino / aprendizagem também não fica restrito aos conteúdos de cada uma das disciplinas. Por um lado, a interdisciplinaridade é vista como uma característica fundamental do processo, porque, ao contrário da estanquicidade das disciplinas no ensino tradicional, o inter-relacionamento das matérias dá significado e mostra a utilidade ao que se aprende. Por outro lado, hoje é atribuída à escola uma função mais abrangente, abarcando a educação de princípios e valores reconhecidos como fundamentais para a vida em sociedade, ou seja, a escola tem também a função de preparar os indivíduos para os desafios económicos, políticos, sociais, culturais e ambientais com que nos defrontamos na actualidade à escala global. Didáctica da Informática Professor Nuno Antunes Assim, o professor dos dias de hoje tem de estar também preparado para ser um dinamizador da aprendizagem de saberes considerados fundamentais na formação dos indivíduos, de modo a que, como aconselha Edgar Morin1, se possa garantir um futuro viável, devendo saber: dar a conhecer o que é o conhecimento; ensinar a apreender as relações mútuas entre partes e entre estas e o todo num mundo complexo; ensinar a condição humana, mostrando a indissolubilidade entre a sua unidade e a sua diversidade; ensinar a identidade terrena, demonstrando que o carácter global dos problemas com que hoje nos defrontamos faz com que pertençamos à mesma comunidade de destino; preparar para enfrentar riscos e incertezas; ensinar a compreensão mútua entre humanos como aspecto central para a paz; ensinar a ética, na base dos valores de cidadania. Deve ainda “ensinar com arte”, ou seja, deve reunir no seu perfil capacidades que podem ser ilustradas pela metáfora do saltimbanco2, de improvisação, flexibilidade, adaptabilidade e ecletismo, de modo a saber usar a voz, a expressão, o espaço e o tempo em consonância com as características dos seus alunos (conhecimentos, experiências, contexto familiar e local...), as finalidades da aprendizagem e o contexto em que esta ocorre. Trata-se de incluir na arte de ensinar (didáctica) não só os conteúdos das disciplinas, mas também a forma como esses conteúdos podem ser apreendidos. Este novo conceito deve estar na base do modo de estar e de agir do professor / educador sejam quais forem as condições em que a sua actividade é exercida, embora se tenha de ter presente que tanto as práticas como os seus resultados são sempre condicionados por múltiplos factores e sobretudo pelos que resultam das políticas educativas que, no real, são implementadas. Contudo, também aqui é fundamental que seja activo o papel dos professores educadores / educadores, pois é sempre obrigação sua procurar influir para que as políticas educativas propiciem as melhores condições para que o exercício da sua actividade resulte eficaz no desenvolvimento dos conhecimentos dos alunos e profícua na sua educação para a cidadania democrática. “Os homens nasceram uns para os outros; educa-os ou sofre-os.” Marco Aurélio Bibliografia: Martins, A. (2002). Didáctica das Expressões. Lisboa: Universidade Aberta. Morin, E. (1999). Os Sete Saberes para a Educação do Futuro. Lisboa: Instituto Piaget. Savater, F. (1997). O Valor de Educar. Lisboa: Dom Quixote. Didáctica da Informática Professor Nuno Antunes