BHLS como uma estratégia de melhoria da qualidade do serviço de ônibus Richele Cabral1; Eunice Horácio S. B. Teixeira1; Milena S. Borges1; Miguel Ângelo A. F. de Paula1; Pedro Paulo S. de Souza1; Claudio Leite1, Luciana Costa Brizon1 1 Fetranspor – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro; Rua da Assembleia,10 | 39º andar, Centro, Rio de Janeiro-RJ; Tel.: (21)3221-6300; [email protected] RESENHA Em busca de uma solução de mobilidade para locais densamente ocupados e com vias estreitas, foi desenvolvido na Europa o conceito de Bus with high level of service – troncalização do sistema de ônibus convencional, com melhorias de qualidade típicas de um sistema BRT, mas sem construção de canaletas exclusivas segregadas. PALAVRAS-CHAVE Mobilidade, Ônibus, BHLS, Bus with high level of service, Transporte Público INTRODUÇÃO É inegável o problema de imagem do transporte coletivo quando comparado com o automóvel. E mesmo entre os modos disponíveis, muitas pessoas não consideram o ônibus como uma opção alternativa para seus deslocamentos, pois, para elas, os veículos “ônibus” representam lentidão, desconforto e irregularidade, enquanto o carro representa liberdade individual, rapidez e status. “Um homem com mais de 26 anos, dentro de um ônibus, pode se considerar um fracassado". - Margaret Thatcher (1986). Para inverter essa lógica, não basta apenas melhorar a qualidade do serviço, com veículos mais confortáveis, seguros e rápidos. É preciso ir além, criando a imagem de um serviço moderno, acessível, fácil de utilizar e integrado à estrutura urbana. Uma possibilidade são os sistemas de BRT (Bus Rapid Transit), que adota as características funcionais de um serviço semi-pesado, possuindo grande potencial de captação de novos clientes. Com a reformulação da mobilidade urbana nas cidades sede da Copa do Mundo de 2014, diversos projetos de BRT estão em andamento no País, o que representa um avanço para um patamar superior de nível de serviço. No entanto, essa solução nem sempre se mostra adequada aos moldes de urbanismo europeu, de ocupação altamente densificada, devido aos altos custos de desapropriação para a implantação da infraestrutura. Diante desse cenário, foi desenvolvido na Europa o conceito de BHLS – Bus with high level of service. Nesse modelo, o aumento de eficiência operacional é atingido por meio da troncalização e racionalização do sistema de ônibus convencional. Dispensando obras de infraestrutura pesada, nesses sistemas é possível transportar até 65 mil passageiros por dia, sem que isso incorra na construção de canaletas exclusivas. Na Figura 1 é mostrado o veículo típico de um sistema BHLS em Nîmes (França). Figura 1 – Veículo do Tipo BHLS na Cidade de Nîmes (França). DIAGNÓSTICO, PROPOSIÇÕES E RESULTADOS O termo BHLS engloba uma enorme variedade de elementos, que são combinados para oferecer um serviço de ônibus de mais qualidade. Entre as várias medidas que fazem parte de um sistema de Bus with high level of service, podemos destacar: - Extensas faixas preferencias, opcionalmente com segregação; - Pequenos trechos preferenciais para evitar interseções congestionadas; - Passagens diretas em interseções; - Prioridade semafórica; - Pequenas alterações geométricas na via para dar preferência ao ônibus; - Redesenho da rede; - Horário de operação estendido, com serviços noturnos; - Controle da operação baseada em ITS (sistemas inteligentes de transporte); - Controle de direção por meio de guias físicas, ópticas ou eletrônicas; - Sistema tarifário avançado e integrado; - Informação em tempo real avançada; - Abrigos de alta qualidade; - Estruturas de Park’n Ride; - Ônibus de alta qualidade, com piso baixo, sistema automático de transmissão e baixa emissão de poluentes; - Marketing, branding e reposicionamento do produto ônibus; - Treinamento de motoristas. Embora a maioria dos sistemas BHLS seja implantada com poucas obras civis, dando maior ênfase nas soluções de ITS para a priorização do sistema, existem as exceções. No caso do sistema implantado na cidade de Cambridge (UK), foi implantada uma extensa via de canaletas em concreto ao longo de uma ferrovia desativada – como ilustrado na Figura 2. A principal vantagem dessa solução – bem próxima de um BRT sul-americano – é a economia de largura de seção obtida através do sistema de guias físicas, tornando o fator humano quase irrelevante na operação do veículo e dispensando as tradicionais margens de segurança. Figura 2 – Sistema BHLS com Guias Físicas de Cambridge (UK). Vale destacar que o contexto do BHLS na Europa é diferente do BRT no restante do mundo. Lá, o transporte de massa já é bem servido por metrôs e VLTs e ônibus raramente são utilizadoss como transporte de massa. Desse Desse modo, o objetivo principal é o de reestabelecer a confiabilidade dade e efetividade operacional do ônibus, reposicionando o produto. (FINN, 2012) Além disso, em tempos de orçamento apertado, muitos governos veem o BHLS como uma alternativa ao VLT, ao mesmo tempo em que elevam a qualidade e a demanda de linhas de ônibus existentes, tornando-as as mais sustentáveis e diminuindo a necessidade de subsídios. Tabela 1 – Dados de BHLS na Europa. Europa No contexto carioca, o BHLS surge como uma evolução natural às faixas BRS já implantadas, ao mesmo tempo em que complementa e dá permeabilidade à rede BRT planejada para o Rio de Janeiro. Já n no o momento da implantação do BRS foram adotadas algumas das medidas as típicas de BHLS, como a racionalização e o escalonamento de pontos, reordenando o sistema. Levando essas medidas para um próximo patamar – com a implantação de uma frota dedicada no padrão metrobus,, melhorias nos abrigos e na informação ao usuário em tempo t real – será possível atingir o nível de qualidade de um sistema BHLS, aumentando ainda mais o potencial de atração de usuários de automóveis. Estão sendo estudados inicialmente dois trechos para a implantação de um sistema BHLS no Rio de Janeiro: Alvorada-Leblon Leblon e Leblon-Santos Leblon Dumont (Aeroporto) (Aeroporto). O primeiro representa um dos eixos de maior congestionamento da cidade, onde a saturação das vias já atingiu seu nível crítico e há relutância em conversão modal por parte dos usuários. O segundo engloba, em sua maior parte parte, vias que já contam com faixas preferenciais BRS, estendendo os serviços até o centro da cidade e integrando com o futuro BRT TransBrasil. Dando um passo adiante na racionalização obtid obtida a com o BRS, linhas radiais dessas dess regiões deverão ser fundidas e operadas por um único consórcio, com um centro centro de controle centralizado nos os moldes do que já existe para o BRT. Desse Des e modo, em conjunto com sistemas ITS, o CCO passa a interferir ativamente na operação, enviando ordens para os motoristas e alterando prioridades semafóricas. Figura 3 – Visão conceitual do BHLS Alvorada - Leblon Outro ponto ainda em desenvolvimento é a questão tarifária. Com o aumento das dimensões dos veículos, é necessário prover um meio rápido para embarcar os passageir passageiros sem que isso afete significativamente o dwell time.. Embora a utilização de veículos de piso baixo já impacte positivamente na redução re deste tempo (LEVINE, 1994),, é preciso prever algum tipo de pré-pagamento pagamento para maximizar a eficiência da operação, aliado a um sistema de proof-of-payment que evite a evasão. Somando isto à implantação de pontos de parada modernos, com sistema de previsão de tempo de chegada e informações estáticas complementares; e à utilização de tecnologias limpas já em desenvolvimento no país e no mundo (biocombustíveis, híbridos ou elétricos), será possível atingir um elevado nível de qualidade com pouco custo de implantação e sem maiores impactos na operação. Com isso, espera-se uma evolução ainda maior no sistema de transporte público do Rio de Janeiro, indo além dos corredores de BRS, trazendo mais qualidade de vida para a população. CONCLUSÕES Entre diversas soluções disponíveis para a melhoria do transporte público por ônibus, com aumento de confiabilidade e de efetividade operacional, pode-se citar o BHLS. Sistema esse que nada mais é do que a troncalização do sistema de ônibus convencional, aliado às melhorias de qualidade típicas de um sistema BRT, sem que isso incorra na construção de canaletas exclusivas segregadas. Isso é possível por meio da implementação tanto de soluções de ITS como de melhorias no ambiente operacional, tais como informações dinâmicas nos pontos de parada, bilhetagem totalmente eletrônica, totens de informação nos pontos de parada, adoção de ônibus de piso baixo e com transmissão automática e sistemas ópticos de direção, entre outros. Dessa forma, observa-se um aumento da velocidade e da eficiência do serviço ao mesmo tempo em que há um aumento de confiabilidade e um reposicionamento do produto, que podem ser reforçados por ações de marketing. E um dos aspectos que tornam o BHLS uma excelente alternativa para grandes cidades, com pouco espaço disponível para alterações viárias, é a questão de custo monetário – inferior ao de um VLT ou BRT, por exemplo. Isso é um dos pontos mais importantes quando se pensa em soluções de mobilidade em países com menos recursos disponíveis para o transporte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A. Mais uma opção de Transporte Público. Transportes em Revista, p. 62-64, Abril/2010. EUROPEAN COOPERATION IN SCIENCE AND TECHNOLOGY. Buses with High Level of Service - Fundamental characteristics and recommendations. [S.l.]. October 2007 October 2011. FINN, B. Bus with High Level of Service. Brasília: ETTS LTD, Ireland, 2012. HIDALGO, D.; CARRIGAN, A. Modernizing Public Transportation. EMBARQ/World Resources Institute. Washington DC. 2010. LEVINE, J. Dwell-Time Effects of Low-Floor Bus Design. Journal of Transportation Engineering, Michigan, 1994. 914-929. RABUEL, S. BHLS or tramway in France : scope of application and choice. 12th WCTR, Lisboa, 2010.