1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Departamento de Letras e Artes – DLET Curso de Licenciatura em Letras com a Língua Inglesa JOÃO BOSCO DA SILVA ESTUDO DA CRÔNICA“SEXA” DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO Sexa. In: Comédias para se ler na escola. R. Janeiro: Objetiva, 2001. pg. 53-54. FEIRA DE SANTANA - BAHIA 2008 1 TEXTO - Pai... - Hmmm? - Como é o feminino de sexo? - O quê? - O feminino de sexo. - Não tem. - Sexo não tem feminino? - Não. - Só tem sexo masculino? - É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino. - E como é o feminino de sexo? - Não tem feminino. Sexo é sempre masculino. - Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino. - O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino. - Não devia ser “a sexa”? - Não. - Por que não? - Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino. - O sexo da mulher é masculino? - É. Não! O sexo da mulher é feminino. - E como é o feminino? - Sexo mesmo. Igual ao do homem. - O sexo da mulher é igual ao do homem? - É. Quer dizer...Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo? - Certo. - São duas coisas diferentes. - Então como é o feminino de sexo? - É igual ao masculino. - Mas não são diferentes? - Não. Ou são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra. - Mas então não muda o sexo. Sempre é masculino. - A palavra é masculina. - Não. “A palavra” é feminino. Se fosse masculina seria “o pal...” - Chega! Vai brincar, vai. O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta: - Temos que ficar de olho nesse guri... - Por quê? - Ele só pensa em gramática. 2 Iremos analisar algumas particularidades do texto “Sexa” de Luís Fernando Veríssimo, uma crônica que faz parte do livro “Comédias para se Ler na Escola”, organizado por Ana Maria Machado, a fim de despertar, nos estudantes, o prazer e a paixão pela leitura, pelo lado lúdico. 1. Gênero Feminino/masculino: Em gramática, é um aspecto que permite classificar certas classes gramaticais (substantivos, verbos, adjetivos etc.) em um número fixo de categorias. Nas línguas indo-européias, o mais comum é haver três gêneros (masculino, feminino e neutro) ou no Português, dois gêneros (masculino e feminino). Quando refere-se a seres vivos sexuados, o gênero é ligado ao sexo do indivíduo. Nos demais casos, a atribuição é aleatória; Feminino: refere-se ao ser vivo do sexo feminino ou uma idéia feminina, por razões etimológicas ou psicológicas. Masculino: designa seres do sexo masculino ou uma idéia masculina. Abrange também formas mais geral: homem (gênero humano) ou vocábulos no plural considerados masculinos e femininos. Ex: o menino (masculino) canta, ou a menina (garota) canta, mas se dizemos os meninos cantam pode ter garotos e garotas no grupo. O masculino é considerado gênero geral "não-marcado" e o feminino é "marcado", pois este designa especificamente seres femininos. Portanto, o feminino é a variação morfológica do masculino, tomado como base. 2. Origem do Português: A língua portuguesa tem origem no latim vulgar, que teve a sua no clássico. O latim clássico possuía cinco declinações, mas no latim vulgar se reduziram a três. E após a supressão do neutro, os gêneros se reduziram a dois. Uma das causas dessa redução é que o neutro singular se confundiu com o masculino. 3. Sincronia e diacronia: Um estudo sincrônico é feito no estágio (numa época) da história de uma língua. O estudo diacrônico é feito no desenvolvimento de uma língua e sua evolução ao longo do tempo, inclusive sob seus aspectos de fenômenos culturais, sociais etc. 4. Método histórico-comparativo: refere-se à gênese ( à lingua-mãe) 5. Estudo do texto: No texto analisado o conceito é o mesmo de gerações passadas, não levando em consideração a investigação do fenômeno da linguagem, tentando compreender a relação entre língua e pensamento, deixando a dúvida do que é “certo” e “errado”. Com essa inquietação e dúvida da criança é possível perceber como é difícil e ingrato ensinar gramática nas escolas. A criança não sente nenhuma necessidade 3 real ou iminente da gramática escrita, e aos poucos vai tomando consciência da estrutura sonora de cada palavra, organizando-as para formar frases, por isso é que ela questionou com tanta insistência. ISMAEL COUTINHO Segundo o professor Ismael de Lima Coutinho, o caso nominativo prevaleceu no romeno, no italiano, no provençal e no francês antigos, e também no rético. No português e no espanhol o acusativo foi o que permaneceu sendo estas as línguas românicas em que não se verificava a queda do “s” final. Surge então uma difícil questão: temos dois gêneros para o substantivo na língua portuguesa, o masculino e o feminino. Porém, grande número de gramáticas de ensino fundamental e médio e também de professores deste segmento insiste em afirmar que esta variação de “masculino e feminino” se dá por meio de flexão. CELSO CUNHA O estatuto mórfico da vogal temática e do morfema de gênero não se acha bem assentado na nossa tradição gramatical. Celso Cunha menciona apenas a vogal temática verbal. O elemento vocálico “-o” é considerado desinência de gênero, se o nome se opõe a “-a” (ex.: gato/gata). As outras vogais terminais, “-a” e “-o” (não opositivas) e “-e” não recebem classificação. Não há acordo entre os lingüistas quanto à inclusão das VOGAIS TEMÁTICAS entre os morfemas. Parece-nos que, assim como as desinências, elas fazem parte dos morfemas gramaticais categóricos, pois também distribuem os radicais em classes. Por si mesmas, nada significam, mas poder-se-ia, talvez, dizer que, no caso, a função é a significação. NAPOLEÃO MENDES: Considerados quanto à flexão genérica, certos substantivos se denominam "epicenos". É o caso de Sexa, que ocorre quando tem seu uso consagrado "uma única forma, com um único gênero gramatical", para designar os dois sexos. Ex: "baleia, cobra, tubarão, jacaré". "baleia e cobra" (com o artigo “a”) são substantivos do gênero gramatical feminino. Já "tubarão e jacaré" (com o artigo “o”) são masculino. Para designar o sexo é mediante o acréscimo dos adjetivos "macho" e "fêmeo": "a baleia macha, a baleia fêmea; o tubarão macho, o tubarão fêmeo". COMPOSIÇÃO E DERIVAÇÃO (Segundo Evanildo Bechara (2000) ) As palavras novas penetram na língua por diversos motivos e por vários processos, como a derivação e a composição. Bechara (2000:370) diz que além dos processos de derivação e composição, o português possui ainda formação regressiva, abreviação, reduplicação, conversão e combinação. 1. COMPOSIÇÃO: 4 Na composição ocorre a formação de novas palavras, que inclusive adquirem outro significado. Ex.: Guarda-chuva. E também na composição aparece pelo menos dois radicais. Tipos de composição a) Por justaposição: se dá quando dois vocábulos se unem formando um novo, sem que haja perda de elemento. Ex.: Couve-flor. b) Por aglutinação: é a união de dois radicais em que a palavra sofre alterações. Ex.: Planalto. A composição consiste na criação de uma palavra nova de significado único e constante, sempre e somente por meio de dois radicais relacionados entre si. No processo de formação de palavras compostas por aglutinação ocorre a fusão ou maior integração dos dois radicais. Essa maior integração manifesta-se pela perda da delimitação vocabular decorrente da existência de um único acento tônico ou da troca ou perda de fonema. Quando um vocábulo é formado de um só radical, a que se anexam afixos (prefixos e sufixos), tem-se a derivação. A composição ocorre quando dois ou mais radicais se combinam. Toda palavra deve ser classificada levando em conta três prismas diferentes: a) o seu aspecto material, fônico; b) a sua significação gramatical; c) a sua significação lexical. A palavra não pode ser observada, levando-se em consideração somente a sua constituição formal (letras ou os fonemas que a constituem). A adaptação de uma palavra pode-ser dar de quatro formas: a) mudança da parte final em relação à mesma palavra isolada, ex.: lobis (comparar lobo, em lobisomem); b) redução da palavra ao seu elemento radical, ex.: planalto (plan-é o radical de plano); c) elemento radical alterado em relação à palavra quando isolada, ex.: vinicultura (vin- vinh); d) elemento radical que não aparece em português em palavra isolada, ex.: agricultura (agr- corresponde a campo, em palavra isolada). 2. DERIVAÇÃO: Segundo Bechara, esse procedimento consiste em formar palavras de outra primitiva por meio de afixos. Compreende-se assim que essa maneira de enriquecer o léxico, articula-se em torno das formas presas – em posição anterior com os prefixos e posterior com os sufixos. Daí as classificações: Derivação Prefixal 5 Acréscimo de um prefixo à palavra primitiva; também chamado de prefixação. Exemplo: antepasto, reescrever, infeliz. Derivação Sufixal Acréscimo de um sufixo à palavra primitiva; também chamado de sufixação. Exemplo: felizmente, igualdade, florescer. Derivação Prefixal e Sufixal Acréscimo de um prefixo e de um sufixo, em tempos diferentes; também chamado de prefixação e sufixação. Exemplo: infelizmente, desigualdade, reflorescer. Derivação Parassintética Acréscimo de um prefixo e de um sufixo, simultaneamente; também chamado de parassíntese. Exemplo: envernizar, enrijecer, anoitecer. REFERÊNCIAS: ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. São Paulo: Editora Caminho Suave Ltda., 1981 BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed. Rev. e ampl. Rio de Janeiro : Lucerna, 2000 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2005. CUNHA, Celso Ferreira da e CINTRA, Luís Filipe Lindley. (1985) Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Sexa. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. pg. 53-54.