CAPÍTULO 6 Gênero e Reprodução Todas as sociedades se dividem em duas categorias, masculino e feminino. Uma divisão baseada em diferentes características, crenças e comportamentos. Ao ser estudada mais atentamente ela se mostra bem mais complexa, com inúmeras variações entre os comportamentos masculinos e femininos de cada grupo cultural. Gênero A controvérsia natureza versus cultura Basicamente, podemos dizer que essa discussão questiona principalmente se o comportamento e a mente humanos, bem como as suas diferenças, resultam num organismo propriamente dito ou num ambiente de criação. A natureza é algo imutável, mas pode ser modificada dependendo do contexto em que está inserida. No pensamento ocidental, a cultura é considerada superior e mais humana a natureza. No século XIX, esse modelo servia de explicação para justificar a superioridade dos homens, portanto a natureza das mulheres era vista como algo que deveria ainda ser conquistado. É importante ressaltar que tanto as influências biológicas e ambientais são importantes para definir o gênero de cada um de nós. Os componentes do gênero Gênero genético, baseado no genótipo e nas combinações de cromossomos. A divisão da população pode ser feita em XX e XY, podendo haver alterações, anormalidades, como por exemplo, a síndrome de Turner (XO), síndrome de Klinefelter (XXY), a polissomia Y (XYY) ou até o hermafroditismo verdadeiro (XX/YY)³. Gênero somático, baseado no fenótipo, especialmente na aparência física. Neste nível, temos o pseudo-hermafroditismo masculino e feminino, no qual o indivíduo possui a genética e gônadas de um determinado sexo e genitália externa de outro³. Gênero psicológico, baseado na autopercepção e nos comportamentos. Gênero social, baseado em categorias culturais, que definem como são vistos pela sociedade. Este é o gênero mais flexível e também o mais influenciável pelos meios sociais e culturais. As culturas de gênero O mundo masculino e feminino eram muito separados, porém no que se refere ao mundo feminino sempre houve um mistérios devido ao fato de tudo que era das mulheres estar em segredo. Essa divisão mostra que as meninas e meninos são criados de formas diferentes, para reagir diante de certas ocasiões de formas distintas. É claro que a cultura contribui para isso, pois é ela que determina como se deve pensar e agir dependendo do sexo a ser falado. São diretrizes que contribuem com isso e são elas que definem as culturas de gênero de uma sociedade, são uma parte importante do sistema simbólico. Variações nas culturas de gênero Os papéis de gênero não são fixos, eles podem sofrer alterações sob influência da urbanização e da industrialização. Estes papéis são muito relativos, pois o que é típico do comportamento de um gênero, pode não ser em outro. A subordinação das mulheres é um fenômeno universal, porém alguns antropólogos argumentam que na verdade os homens invejam as mulheres, por estas darem a luz e sustentar os seus filhos com o próprio leite. As culturas de gênero e o comportamento sexual Apesar de serem estabelecidas regras para o comportamento sexual de cara um, isso varia de cultura para cultura. Os padrões de comportamento sexual são de suma importância, dependendo das atitudes há um maior índice na transmissão de doenças. Fazer parte de uma cultura de gênero não quer dizer que seu comportamento será coerente as normas nela estabelecidas. Seja qual for o comportamento sexual, sexo biológico é o aspecto mais importante para definir o gênero. Se as práticas não pretendem ser conduzidas à gestação, seu gênero é definido por comportamentos sociais e sexuais. As culturas de gênero e a assistência à saúde A maior parte da assistência primária ocorre dentro da família, onde as principais responsáveis são as mulheres (mães e avós). São elas que normalmente se organizam em cultos ou igrejas de cura. Ainda hoje, no setor da saúde a maioria dos profissionais são do sexo feminino (enfermeiras e parteiras). A classe profissional da enfermagem A maioria das enfermeiras trabalha no setor hospitalar, onde são feitas divisões básicas de gênero existentes na cultura geral. As relações entre os médicos e enfermeiras refletem as divisões de gênero da família da época Florence Nightingale desenvolveu seu modelo de enfermagem. Dentro de uma estrutura hospitalar a relação ainda é: médico = pai, enfermeira = mãe e paciente = filho. A função da enfermeira envolve o contato íntimo com o corpo do paciente (externa) e com suas excreções, enquanto os médicos não mantêm este contato e possuem um conhecimento especializado sobre os funcionamentos biológicos do paciente (interna). Mais dois tipos de profissionais estão se tornando cada vez mais comuns: enfermeiro (do sexo masculino) e médica (do sexo feminino). O enfermeiro produz um grande impacto na qualidade de vida do paciente, pois compreende o valor que eles dão à vida e acompanham o seu sofrimento. Faz a negociação entre os objetivos do médico e do paciente. A medicalização A medicina atual atua como um agente de controle social, tornando as pessoas dependentes dos médicos e dos farmacêuticos. A medicalização pode ser melhor entendida se comparada com uma máquina e vista à parte de seu contexto social e cultural. Outra explicação possível seria por alguns homens verem as mulheres e a sua fisiologia feminina como incontrolável, imprevisível e perigosamente poluidora, então os médicos e a sua tecnologia representam uma forma de domesticar o incontrolável. A mulher e a prescrição de drogas psicotrópicas A partir de estudos realizados em vários países e ocidentais foi concluído que as receitas médicas de psicotrópicos são duas vezes mais freqüentes para mulheres do que para homens. Muitas vezes isso se dá por influência da propaganda da indústria farmacêutica que promove as drogas como solução para os conflitos próprios do papel da mulher. Já no caso dos homens o álcool e o fumo são o principal consolo químico usado em diversas sociedades. A fisiologia feminina e o ciclo vital Nesse aspecto devemos ressaltar que as mulheres não vêm a medicalização como algo necessariamente ruim, muito pelo contrário, recebe muito bem o tratamento estabelecido pelo médico. A menstruação É um processo que envolve vários tabus e condutas criados para proteger de certa forma a mulher durante esse período vulnerável e proteger o homem contra o perigoso poder poluidor do sangue menstrual. De uns anos para cá a síndrome pré-menstrual (SPM) tem sido considerada uma patologia de deficiência hormonal e não um simples fenômeno fisiológico. È causada pela deficiência de progesterona, isto se dá por contraste com a menopausa que também é vista como uma doença de deficiência hormonal, mas nesse caso de estrógeno. Segundo Johnson na sociedade industrializada moderna, as tarefas destinadas às mulheres estão mudando, porém a sociedade espera que elas sejam produtivas e reprodutivas, ou seja, tenham tanto careira como família. As mulheres que escolhem apenas uma das opções ou quando tentam fazer ambas ao mesmo tempo são criticadas pela sociedade, e é durante esse processo que fica fortemente estabelecido o estereótipo de mulher delicada, frágil e incapaz. A menopausa No século XIX achava-se que a menopausa causava doenças, mas a partir da metade do século XX passou a ser uma doença propriamente dita. Por ser uma deficiência hormonal só pode ser diagnosticada por um médico, assim como seu tratamento. Nesse período está ocorrendo uma importante alteração fisiológica, o fim da menstruação e da fertilidade. Essa mudança coincide com outros acontecimentos socioculturais que por sua vez estão relacionados a outras transições sociais. É uma mudança de vida. Culturas de gênero e saúde Ao nascer o indivíduo é imediatamente inserido em uma categoria social (masculino ou feminino) e isto pode afetar a saúde do mesmo. Quando uma determinada cultura de gênero contribui para os problemas de saúde, estas serão denominadas doenças do gênero social. Doenças do gênero social masculino Os homens, quando comparados às mulheres, podemos concluir que estão mais expostos às situações em que ingerem mais bebidas alcoólicas, fumam mais cigarros, competem mais e correm mais risco de vida. Diante do sofrimento e da dor, os homens normalmente não demonstram emoções, o que os prejudica mais, pois pode levá-los a ignorar os sintomas inicias de uma doença grave ou o próprio médico a subestimar a gravidade de uma doença. Doenças do gênero social feminino O mundo feminino está muito ligado aos perfis de beleza, com isso podem ter mais problemas ortopédicos, dermatites, urticárias. Além disso, temos as doenças ligadas às alterações mais radicais nas formas do corpo, podendo levar a manias de dieta que contribuem para o desenvolvimento da anorexia nervosa e de depressão entre as mulheres obesas, onde as formas corporais não se encaixam nos padrões normais de beleza. Vivian Tod Trotz