Ética e Legislação: Trabalhista e Empresarial Professora conteudista: Anabel Cruz Dionísio Revisor: Clecius E. A. Salomé Sumário Ética e Legislação: Trabalhista e Empresarial Unidade I 1 ASPECTOS DA ÉTICA ..........................................................................................................................................1 2 ASPECTOS FILOSÓFICOS SOBRE A ÉTICA...................................................................................................1 2.1 Ética e sociologia .....................................................................................................................................4 2.2 Ética e direito ............................................................................................................................................5 2.3 Ética e direito constitucional ............................................................................................................7 2.4 Ética e direito penal ...............................................................................................................................7 2.5 Ética e direito civil...................................................................................................................................8 Unidade II 3 ÉTICA NAS EMPRESAS E LEGISLAÇÃO .......................................................................................................9 3.1 Ética empresarial ...................................................................................................................................11 3.2 Ética nos negócios e nas relações comerciais .......................................................................... 12 4 PRINCÍPIOS PARA A ÉTICA NOS NEGÓCIOS ......................................................................................... 12 4.1 Inspire confiança .................................................................................................................................. 12 4.2 Relações com fornecedores ............................................................................................................. 13 4.3 Mantenha um bom relacionamento com seu público interno e externo ..................... 13 4.4 Tenha documentos claros ................................................................................................................. 13 4.5 Compromisso com a comunidade ................................................................................................. 14 4.6 Compromisso com o meio ambiente ........................................................................................... 14 4.7 Tenha um bom controle contábil .................................................................................................. 14 5 REGISTRO DAS EMPRESAS .......................................................................................................................... 14 6 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES........................................................................................................... 15 7 SOCIEDADES EMPRESARIAIS ...................................................................................................................... 20 7.1 Sociedade em nome coletivo .......................................................................................................... 20 7.2 Sociedade em comandita simples ................................................................................................. 20 7.3 Sociedade limitada .............................................................................................................................. 21 7.4 Sociedade anônima ou companhia .............................................................................................. 23 7.5 Sociedade em comandita por ações............................................................................................. 24 Unidade III 8 OS DIREITOS E GARANTIAS DAS PESSOAS RESIDENTES NO PAÍS, BRASILEIRAS OU ESTRANGEIRAS .................................................................................................................................................... 25 9 DIREITOS SOCIAIS............................................................................................................................................ 28 9.1 Despedida arbitrária ou sem justa causa ................................................................................... 36 9.2 Salário mínimo e piso salarial ......................................................................................................... 36 9.3 Piso salarial ............................................................................................................................................. 37 9.4 Participação nos lucros ...................................................................................................................... 37 9.5 Liberdade sindical ................................................................................................................................. 37 10 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ....................................................................................................................... 37 11 DIREITO DO TRABALHO ............................................................................................................................... 43 Unidade IV 12 O CONSUMIDOR E SEUS DIREITOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL.......................................... 48 13 CONCEITO E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................... 52 13.1 Responsabilidade social com limitação e sem limitação ................................................. 53 13.2 Período de maximização do lucro ............................................................................................... 53 13.3 Período de administração por ouvidoria (anos 30).............................................................. 54 13.4 Período de ativismo (início da década de 1960) ................................................................... 55 13.5 Período de compreensão social ................................................................................................... 56 14 A RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS .............................................................................. 56 15 ADMINISTRAR UMA EMPRESA COM RESPONSABILIDADE ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL .......................................................................................................................... 59 15.1 Proteção ambiental ........................................................................................................................... 61 15.2 Controle de poluição ........................................................................................................................ 61 15.3 Assistência educacional .................................................................................................................. 61 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL Unidade I 1 ASPECTOS DA ÉTICA Neste módulo iremos abordar conceito e classificação de ética, moral e ética, ética empresarial e nos negócios. Nunca foi tão importante e necessário falar sobre ética como na atualidade em que vivemos. A crise da humanidade 5 é refletida através da violência, da discriminação, da pobreza, da indiferença, entre tantos outros problemas sociais que as pessoas vivem e com que convivem. 2 ASPECTOS FILOSÓFICOS SOBRE A ÉTICA A palavra “ética” vem do grego ethos, que significa costume, ou seja, ética é a ciência dos costumes, que tem como objeto a 10 moral. Moral vem do latim mores, que tem o mesmo sentido de costumes, apesar de ser considerada uma ciência. Podemos concluir que, apesar da identidade semelhante entre ética e moral, a ética é uma ciência e a moral é o objeto dessa 15 ciência, ou seja, o conjunto de normas adquiridas pelo hábito de sua prática. Para o filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), o homem é um ser feito para a convivência social. Por meio das constituições e dos códigos em vigor, ele procura discernir uma forma justa e racional, a fim de encontrar o justo meio 20 (equilíbrio ou equidade). O maior objetivo da ética é a felicidade (sumo bem). O bem é o fim buscado para a convivência social e ocorre por meio da virtude1. Pode-se dizer que a felicidade é a própria virtude ou uma certa virtude. Na verdade, ética não se ensina porque ela é a moral, que é o conjunto dos valores pessoais, os quais representam o verdadeiro eu. O que podemos é inspirar para transformar e polir os valores. Assim, ética será a consequência. 1 1 Unidade I Ética, nos dias de hoje, reporta-nos à ciência que de fato tem por objeto a investigação da conduta dos homens; e a abstração feita dos juízos relacionados à conduta humana nem sempre poderá ser objeto de estudo, uma vez que o 5 comportamento dos homens segue em conformidade aos seus próprios juízos sobre o valor dos atos. Dessa forma, quando se fala sobre ética, aborda-se termos como o bem, o mal, o certo, o errado, o permitido, o proibido, a virtude, o vício, dentre outros. A grande questão 10 é a seguinte: os valores morais de um grupo, de uma organização, enfim, de uma sociedade, devem ser definidos claramente para os indivíduos através de normas de conduta que mostram o que é ser ético para si e para os outros. Nesses aspectos, temos como campo de atuação da ética 15 os problemas que estão relacionados ao comportamento humano, com o objetivo de minimizar o nível de conflito de interesses dentro de um grupo ou sociedade. A partir daí, ou seja, a partir da existência do comportamento humano, surge o que chamamos de dilemas morais. De acordo com 20 Valle (2003, p.19), “os dilemas morais estão relacionados ao cotidiano de cada sociedade, o que nos permite afirmar que um mesmo comportamento pode ser visto por uma sociedade como desprovido de moral, enquanto aos olhos de outra sociedade pode ser considerado moralmente aceito”. 25 Um exemplo básico sobre o tema acima é o que ocorre nos países árabes, onde se pode casar com várias mulheres (Poliginia), sem que ocorra o fenômeno da amoralidade, pois nessas regiões esse tipo de procedimento é aceito não só pela comunidade, mas pela própria lei. 30 Já em alguns países, como no Brasil, o tema é tratado como crime (bigamia2) pela nossa legislação (artigo 235 do Código Penal): “Contrair alguém, sendo casado, novo casamento - Pena de reclusão, de dois a seis anos”. Estado matrimonial em que um homem convive com duas mulheres ou uma mulher com dois homens. 2 2 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL O assunto em pauta é tão importante que não poderíamos deixar de mencionar alguns princípios éticos que devem ser adotados pelos indivíduos. São eles: 5 10 15 20 • Responsabilidade: o indivíduo deve procurar adotar um critério livre e imparcial em sua vida pessoal e profissional, evitando participar de conflitos de interesses, de discriminação, de situações injustas e desleais. • Lealdade: o ser humano necessita exercitar a lealdade em todas as situações pessoais e profissionais, tanto em conflitos, como em discussões que possam interferir no seu comportamento. • Respeito às pessoas: a cordialidade, a educação e o bom relacionamento com os outros são pontos primordiais para que o indivíduo seja ético. O homem contemporâneo enfrenta muitos problemas ao discutir a respeito da moral, do individualismo e do relativismo moral. Esse mesmo homem, ao se comportar moralmente, preocupa-se em saber distinguir o bem do mal. O homem como sujeito moral se pergunta como deve agir diante de determinada situação e certamente se aproxima das seguintes questões teóricas e abstratas: Em que consiste o bem e o mal? Que devo fazer? Como devo ser? Como devo agir? Alguns autores definem claramente a moral absoluta 25 e a moral relativa. Afirma Nalini (2004, p. 30): “para a moral absoluta, a pessoa que é dotada de um mínimo de consciência é dotada de uma bússola natural que a predispõe ao discernimento do que é certo e errado em termos éticos”. Podemos entender, nesse caso, que a pessoa sabe que precisa 30 se definir, bastando atentar para a sua consciência e o seu conceito de valor. 3 Unidade I Já na moral relativa, o aspecto empírico3 sinaliza a existência de inúmeras morais, o que revela o lado subjetivo da questão. De acordo com Nalini (2004, p.31), “os relativistas entendem não haver sentido falar em valores à margem da 5 subjetividade humana, ou seja, o bom e o mau são palavras cujo conteúdo é condicionado por referenciais de tempo e espaço”. Segundo Saldanha (2002, p.23), “sustentam os empiristas que as teorias de conduta se baseiam no exame da vida moral onde os preceitos disciplinadores do comportamento estão implícitos 10 no próprio comportamento”. Podemos entender que não se deve questionar o que a pessoa deve fazer, e sim o que sempre faz, pois deve-se enfatizar que o comportamento natural não deve ser substituído. Devemos entender que o valor moral não se baseia na ideia 15 do dever e esse valor não é convencionado, pois cada indivíduo descobre, identifica seu valor. Enfim, a ética formal aborda a moralidade de uma ação a partir do foro íntimo do indivíduo, ou seja, do momento ético de escolher a melhor decisão, isto é, de praticar ou não determinada ação. 2.1 Ética e sociologia A Sociologia estuda as relações entre as pessoas que convivem em um grupo social, em uma comunidade, e a Ética estuda o ser humano em contato com o seu semelhante. Segundo Saldanha (2002, p.75), ”a ética estuda o ser humano como entidade gregária, no seu contato com os semelhantes, onde esse contato 25 ou contágio acarreta que a criatura se comporte sob o efeito de influências sociais”. Assim como a ciência da psique (Psicologia) auxilia a ética, a ciência da sociedade (Sociologia) auxilia, mas, ao mesmo tempo, é incompleta para a compreensão do fenômeno ética nos indivíduos de uma sociedade, pois, se o indivíduo fosse 30 apenas um ser coletivo, não poderia responder por suas atitudes, suas escolhas, e quem responderia seria um grupo em que ele estivesse inserido. 20 Que se baseia somente na experiência ou observação, ou por elas se guia, sem levar em consideração teorias ou métodos científicos. 3 4 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 2.2 Ética e direito Segundo Nalini (2004, p.78), “dentre todas as formas de comportamento humano, a jurídica é a que guarda maior intimidade com a moral, e é com base na profunda vinculação moral/direito que se pode estabelecer o relacionamento Ética/ 5 Direito”. Existem alguns fatores que aproximam o Direito da moral. São eles: • As normas jurídicas e as normas morais não são meras recomendações. Elas são estabelecidas de maneira imperativa. 10 15 • A moral e o Direito são ligados ao comportamento do indivíduo, modificando-se o sentido de sua função social no decorrer da história. • O Direito e a moral obrigam conduta aos indivíduos, disciplinando a relação entre as pessoas, através de normas e regras. Não podemos esquecer também de elencar alguns aspectos divergentes entre a moral e o Direito. São eles: A moral é interior e o Direito é exterior, ou seja, a moral trabalha com a intimidade e a consciência individual, enquanto a norma jurídica (Direito) não depende da consciência, podendo 20 o ato jurídico ser praticado inconscientemente. De acordo com Maynez (2003, p.166), “a legalidade de um proceder consiste na mera adequação externa do ato à regra; sua moralidade, na concordância interna”. 25 30 • Em relação ao Direito, a coação é externa; e em relação à moral, a coação é interna. No caso de o indivíduo ou o grupo descumprirem um preceito moral, ocorre uma reação da consciência, conceituada como remorso ou reprovação social. No caso do descumprimento da norma jurídica, as consequências serão a reparação no nível civil, a prisão no nível penal, ou seja, há uma sanção (punição) concreta. 5 Unidade I 5 10 • A moral é mais complexa do que o Direito, pois todo descumprimento à norma jurídica é também um descumprimento à moralidade. A moral abrange um domínio amplo das relações humanas, como, por exemplo, as relações familiares, de vizinhança, de solidariedade, de amizade, de negócios, entre outras. Extremamente importante saber diferenciar Ética, Moral e Direito. Essas três áreas de conhecimento se distinguem, porém, mantêm grandes vínculos e até mesmo sobreposições. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-viver; independe das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam esse mesmo referencial moral comum. O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras a um Estado4. As leis limitam-se a uma base territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica onde uma determinada população ou seus delegados vivem. O Direito Civil, que é o referencial utilizado no Brasil, baseia-se na 20 lei escrita e também dos costumes5. 15 Diante de todo o estudo até aqui aplicado, estaremos adentrando nas matérias em que exista a relação da Ética X Direito com as normas aplicadas no Direito Nacional. Preliminarmente, devemos conhecer o que diz a Constituição 25 da República Federativa do Brasil: É a Lei Maior – Suprema em nosso país. Segundo definição de Pedro Calmon, “O corpo de leis que rege o Estado, limitando o poder de governo e determinando a sua realização”. Não há propriamente uma só definição, mas inúmeras. O mais importante para o nosso estudo é saber o significado que nos leve a um fácil entendimento, que é: o Estado é uma sociedade política e juridicamente organizada para atender o bem comum, ou seja, sua organização é determinada por normas de Direito (leis) e hierarquizada na forma de governo e governados e tem uma finalidade própria, que é o bem (Interesse Público). 5 É o princípio ou regra não escrita de Direito que se introduziu pelo uso contínuo. A lei que o uso estabeleceu. Exemplo: fila de banco. 4 6 ÉTICA E LEGISLAÇÃO: TRABALHISTA E EMPRESARIAL 2.3 Ética e direito constitucional De acordo com Vasquez (2002, p.101), “existe um pacto entre a ética e o Direito Constitucional, pois obriga uma normatividade complexa, não sendo um mero conjunto de regras jurídicas e sem o núcleo ético, histórico, econômico, político e social, condensado pela 5 constituinte, num preciso momento para a nacionalidade”. Podemos concluir que a Constituição Federal atual aborda os vários temas de cunho moral e ético, em que a conduta ética do cidadão deve produzir efeitos para a sociedade em geral, como preceitua o artigo 5º e seus 78 incisos. Cabe ressaltar que 10 as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais possuem aplicação imediata, conforme o parágrafo 1º do próprio artigo. O tema é de suma importância para que o cidadão não seja compelido de suas garantias fundamentais determinadas pela Carta Constitucional.6 2.4 Ética e direito penal 15 De acordo com Leisinger (2004, p.90), “quase todo crime é também falta moral, pois ao iniciar a vulneração dos valores protegidos pela comunidade até atingir aqueles mais vitais à subsistência do pacto de convívio, o infrator percorrerá, necessariamente, a área reservada à moral”. Temos como exemplo os crimes de homicídio, em que tirar a vida de alguém não é só um crime, mas também é falta de moral, é contra todas as religiões, etc., mas devemos observar com cautela cada caso, pois em muitas situações o agente do ato poderá estar agindo em Estado de Necessidade, Legítima 25 Defesa, no Estrito Cumprimento de Dever Legal ou no Exercício Regular de um Direito7, não havendo que se falar em crime. 20 Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 7 Artigo 23 do Código Penal, que são causas que excluem a própria ilicitude ou a antijuridicidade. Por isso a legislação penal diz que não há crime nesses casos. 6 7 Unidade I Outras infrações penais também atingem diretamente a moral, como as especificadas no Código Penal Brasileiro em sua Parte Especial do Título VI — Dos Crimes contra os Costumes (Artigos 213 a 234). 5 Segundo Nalini (2004, p.89), “o Direito Penal é muito mais do que a leitura e a aplicação do Código Penal, ou seja, o que está em jogo, quando se pune alguém por uma conduta considerada delitiva, é a noção de moral nutrida pela sociedade considerada sobre o que está a merecer castigo e repressão”. 10 A grande pergunta que se faz é: será que tudo que é legal é moral e ético? A resposta deverá ser bem analisada para que não se cometa injustiças. Um fato que não é especificado em lei, moralmente e eticamente poderá ser reprovado pela sociedade, mesmo que o cidadão argumente que em momento algum 15 estava proibido de fazer. O nepotismo8 no Serviço Público é uma clara indicação sobre esse tema. 2.5 Ética e direito civil Numa sociedade organizada, a lei civil é que regula as relações entre as pessoas privadas, seu estado, sua capacidade, sua família e, principalmente, sua propriedade, consagrando-se 20 como o reino da liberdade individual. Muitos dos conceitos trabalhados no Direito Civil são intimamente ligados à moral. De acordo com Vasquez (2002, p.103), “a moral permeia todo o Direito Civil, principalmente no Direito de Família e no Direito das Obrigações, pois ao obrigar-se, o ser humano vincula-se 25 também moralmente”. Logicamente que outras relações entre Ética e Moral existem noutros ramos do Direito, os quais estaremos analisando durante o desenvolvimento de nosso curso. Favoritismo de certos governantes aos seus parentes e familiares, facilitando-lhes a ascensão social, independentemente de suas aptidões. 8 8