6. Estratégias de Recuperação - Federação Portuguesa de Rugby

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Índice
1. Introdução ........................................................................................................................................ 3
2. Fisiologia da Recuperação ................................................................................................................ 5
3. Estratégias de Recuperação ............................................................................................................. 6
3.1. Crioterapia ................................................................................................................................. 6
3.2. Massagem.................................................................................................................................. 7
3.3. Alongamentos ........................................................................................................................... 7
3.4. Auto-Libertação Miofascial ....................................................................................................... 8
3.5. Compressão ............................................................................................................................... 9
3.6. Recuperação Ativa ................................................................................................................... 10
3.7. Nutrição ................................................................................................................................... 10
3.7.1. Hidratação......................................................................................................................... 10
3.7.2. Alimentação ...................................................................................................................... 12
3.7.3. Suplementação ................................................................................................................. 13
3.8. Sono ......................................................................................................................................... 15
3.9. Monitorização da Carga .......................................................................................................... 16
4. Conclusão ....................................................................................................................................... 19
5. Bibliografia ..................................................................................................................................... 20
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1. Introdução
A prática de alta competição envolve a aplicação sistemática de cargas de treino, seguida de
períodos de recuperação e adaptação. A recuperação após a atividade física é tão importante
como a prática do exercício ou treino, devendo por isso existir uma associação entre ambos,
funcionando como uma única unidade. Se existir um desequilíbrio entre as cargas de treino
suportadas pelo atleta e a sua recuperação, este poderá manifestar sintomas de fadiga,
sobrecarga e/ou diminuição da performance, aumentando o risco de lesão. Uma das principais
causas da fadiga crónica e/ou sobrecarga é a negligência da realização da recuperação.
Outras causas frequentes:
• Aumento da carga de treino de forma abrupta após longa paragem (por lesão ou doença);
• Treinos máximos e/ou sub-máximos;
• Volume global de treino intenso elevado;
• Tempo excessivo dedicado a aspetos técnicos ou mentais sem recuperação adequada;
• Número excessivo de competições (alterações das rotinas);
• Metodologia de treino.
Uma sessão de treino impõe níveis de stress fisiológico e psicológicos elevados, com diferentes
perturbações (nomeadamente da homeostasia intracelular) e alterações metabólicas. A natureza
destas alterações depende do tipo, intensidade e duração do treino ou jogo. A realização de treino
leve de baixa intensidade não ajustado, não induz adaptações resultando numa performance
abaixo do desejado. Por oposição, a sobrecarga imposta nos treinos poderá desencadear
incapacidade na adaptação do individuo, causando sinais e/ou sintomas de fadiga crónica e baixo
desempenho.
A recuperação deve ser um processo pró-ativo, uma parte integrante de todo o programa de
treino. Embora existam vários estudos laboratoriais que têm tentado fornecer evidência para a
eficácia dessas intervenções, muitos deles são limitados quer por que usam indivíduos não
treinados, ou usam modalidades não-específicas para induzir o dano muscular (por fadiga), ou
definem o resultado das medidas de recuperação de forma deficiente. Tomando todos estes
fatores em consideração, existem poucos estudos que podem ser usados para tomar decisões
baseadas em evidências sobre técnicas para acelerar a recuperação.
A recuperação após o treino pode ser passiva ou ativa, sendo que a recuperação passiva permite
que o corpo se regenere sem qualquer intervenção. A recuperação ativa pode ser efetuada de
diferentes formas, proporcionando tentativas de acelerar a recuperação de modo a que o atleta
esteja melhor preparado para a sessão de treino seguinte.
A recuperação deve ser encarada como um processo com múltiplas medidas, envolvendo
diferentes tempos de duração. Poderá ser realizada a curto prazo (após o treino ou competição) e
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a longo prazo (ao longo da época), sendo que para assegurar a última, é necessário um programa
de monitorização, de modo a prevenir que níveis de fadiga aumentem (ex. através da utilização de
escalas e questionários subjetivos de esforço e fadiga). Existem várias estratégias para otimizar a
recuperação de um atleta, sendo que a escolha do método dependerá do tipo de atividade
realizada, do tempo disponível até à sessão de treino (ou jogo) seguinte, e do equipamento
disponível. As medidas mais utilizadas para acelerar a recuperação no rugby são a crioterapia (ex.
banhos de gelo), massagem, alongamentos, auto-libertação miofascial, compressão (ex.
pressoterapia e vestuário de compressão), recuperação ativa, nutrição (hidratação, alimentação e
suplementação) e o sono.
Figura 1 - Banhos de gelo.
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Figura 2 - Pressoterapia.
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2. Fisiologia da Recuperação
O objetivo principal da recuperação é restabelecer as funções celulares para os níveis encontrados
no pré-exercício, sem ultrapassar ou bloquear determinados níveis biológicos da regeneração
tecidular que são fundamentais para uma recuperação total. Os procedimentos para acelerar a
recuperação devem-se iniciar imediatamente após o final da sessão de treino ou jogo.
A presença de fadiga acentuada acompanhada de treino de alta intensidade prejudica a função
muscular resultando numa diminuição da regulação do Sistema Nervoso Central (SNC), ao
contrário de alguns estudos, que consideravam os metabolitos e o lactato como únicos fatores
agravantes da fadiga. Pode ser justificado pela utilização excessiva de ações de encurtamentoalongamento que diminuem a pré-ativação muscular resultando num défice do controlo da rigidez
muscular. Consequentemente, a força produzida será ineficaz e reduzida sendo proporcional ao
grau de lesão muscular induzida pelo exercício.
Durante a atividade física existe um aumento do metabolismo, medido através do aumento do
consumo de oxigénio (O2). Existe um declínio do seu consumo, imediatamente após o treino/jogo
ocorrendo numa fase inicial um declínio rápido do consumo O2 que dura cerca de 5 minutos,
seguido de um declínio mais lento que poderá durar até uma hora. O lactato circulante resultante
da escassez de O2 nos tecidos, poderá aumentar até 10 vezes durante um jogo de rugby, e levar
até uma hora para recuperar as concentrações atingidas no período pré-atividade.
As concentrações de glicogénio muscular diminuem com o exercício, podendo sofrer uma descida
acentuada caso ocorra lesão muscular. De um modo geral, os níveis de glicogénio ficam
restabelecidos 24 horas após o final do exercício. Em caso de lesão muscular, demoram cerca de
48 horas no total.
Enquanto a taxa metabólica é restabelecida para níveis idênticos aos pré-jogo, o metabolismo
associado a lesão muscular necessita de um período relativamente superior. Existe um aumento
da concentração da creatina quinase (CK - enzima que intervém no processo de energia a nível
muscular e que serve como marcador indireto de dano muscular), associado a lesão muscular. Os
níveis de CK circulante aumentam proporcionalmente com o número de placagens e contato físico
intenso. Os sintomas associados à inflamação (dor e edema) e o encurtamento muscular,
desenvolvem-se atingindo um pico de 24-48 horas após a sessão, diminuindo progressivamente
dentro de 5 a 7 dias, até correr a regeneração muscular em duas semanas.
Durante um jogo de rugby, os avançados perdem em média cerca de 1-4 Kg de peso e os 3/4 cerca
de 0.8 Kg de peso corporal. Esta mudança é transitória ocorrendo um retorno ao peso pré-jogo,
desde que haja uma ingestão adequada de líquidos.
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3. Estratégias de Recuperação
3.1. Crioterapia
A Crioterapia é um termo que descreve uma variedade de tratamentos terapêuticos com o
objetivo de diminuir a temperatura dos tecidos corporais através do frio, podendo ser aplicado
sob a forma de gelo, ar frio ou imersão em água fria, entre outros.
Principais benefícios:
• Analgesia;
• Controlo anti-inflamatório;
• Diminuição do espasmo muscular (ciclo dor-espasmo-dor);
• Estímulo do relaxamento muscular;
• Intervenção terapêutica mais precoce;
• Redução das dores musculares e articulares.
Existem várias técnicas de crioterapia, sendo uma das mais utilizadas os “banho de gelo/frio”:
 Imersão: realização de imersão continua durante 3 a 5 minutos (Temperatura a 7-11ºC);
 Banhos de contraste: realização de forma intercalada 1 minuto em água fria (Temperatura
a 10-15ºC) e 2 minutos em água quente (Temperatura a 37-40ºC) repetindo o ciclo 3 vezes
(terminando com o banho frio).
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Esta técnica deve ser utilizada após a atividade física, devendo o tipo de protocolo a realizar
depender do tipo de atividade realizada.
3.2. Massagem
A Massagem é frequentemente realizada de modo a preparar o atleta para o exercício e acelerar a
recuperação após o treino ou competição. Tem como objetivo a diminuição do edema e redução
da dor, remoção do lactato do sangue, promovendo uma vascularização local com consequente
aumento do fluxo sanguíneo muscular.
Existem dois tipos de massagem que têm como objetivo:
• Preparação para o exercício;
• Relaxamento muscular.
A duração e a frequência são dois fatores que poderão influenciar os resultados, não existindo
coerência entre a evidência científica, e a metodologia adequada e mais eficaz.
Figura 3 - Massagem manual.
3.3. Alongamentos
Os Alongamentos são exercícios com ação de tensão aplicada aos tecidos moles que provocam a
sua extensibilidade, sendo executados como forma de aumentar a mobilidade articular.
Permitem aumentar a oxigenação dos tecidos, diminuindo a toxicidade e garantindo uma
recuperação mais rápida e eficaz, potenciando o retorno venoso e diminuindo a concentração do
ácido láctico.
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Existem várias técnicas e tipos de alongamentos para diferentes objetivos, sendo estes:
- Estáticos: consistem em alongamentos lentos e mantidos no maior comprimento muscular
tolerado e no limiar da dor. Devem ter a duração mínima de 10 segundos e a duração máxima de
60 segundos, sendo que imediatamente após a atividade física devem ser curtos (5-15 segundos) e
com uma intensidade reduzida, devendo ser realizados até ao limiar do desconforto, sem
insistência ou movimento, e englobar todos os grupos musculares. Em casos de alongamentos
posturais e com intervenção de vários grupos musculares, o seu tempo de execução deverá ser
entre 3 a 5 minutos;
- Dinâmicos: são geralmente movimentos balísticos de curta duração e repetitivos, realizados
como preparação para a atividade física, e são muitas vezes coincidentes com alguns dos
exercícios realizados no aquecimento, sendo por isso os mais indicados para preparar as
estruturas musculares para a prática do exercício;
- Facilitação Neuromuscular Propriocetiva: são alongamentos realizados com o objetivo de
fortalecimento muscular ou ganho de flexibilidade, envolvendo vários músculos em simultâneo.
São realizados com o apoio de fisioterapeuta.
3.4. Auto-Libertação Miofascial
A Auto-Libertação Miofascial (ALM) tem como objetivo melhorar a mobilidade dos tecidos moles
(fáscia, músculos, tendões) através da pressão aplicada, tentando promover o alongamento,
realinhamento muscular e o restauro das amplitudes de movimento. É realizada pelo próprio
atleta com a utilização de ferramentas próprias, incluindo rolos de espuma (foam rollers, foot
rollers), sticks (roller massager) e bolas medicinais, de ténis, cricket, ou lacrosse.
A curto prazo e/ou na fase aguda promove:
•
Melhoria da mobilidade miofascial;
•
Melhoria da flexibilidade.
A longo prazo, pode:
•
Melhorar a amplitude de movimento articular;
•
Acelerar o processo de recuperação;
•
Diminuir os efeitos da dor muscular de início tardio;
•
Alterar a função arterial e endotelial vascular;
•
Modular a atividade do sistema nervoso autónomo.
Deverá ser realizada como preparação para o exercício (fase de aquecimento) e/ou na fase de
retorno à calma de modo a promover a recuperação do atleta.
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Fase de aquecimento: através da fricção realizada, promove um aumento da temperatura e
viscoelasticidade melhorando a flexibilidade dos tecidos; deverá ser realizada previamente aos
alongamentos dinâmicos.
Fase de retorno à calma: reduz a fadiga e dor muscular após o exercício; previne a dor muscular
de início tardio; melhora o rendimento do atleta.
Figura 4 - ALM - Posteriores da Coxa.
Figura 5 - ALM - Quadricípite.
3.5. Compressão
A Compressão é uma técnica terapêutica em que uma compressão externa é aplicada após o
exercício (ou lesão), reduzindo o edema (sinais inflamatórios) ao criar um gradiente de pressão
externa, diminuindo assim o fluxo sanguíneo ao nível dos vasos (capilares). Além disso, o espaço
disponível para o vazamento do fluido é reduzida, minimizando a formação de hemorragia e
hematoma. As técnicas de compressão existentes são a pressoterapia e o vestuário de
compressão (ex. meias ou calças).
Pressoterapia: é uma modalidade que se baseia num sistema de compressão mecânica e
pneumática através de um motor que permite insuflação, utilizando pressões intermitentes. O
método mais comum são as botas (utilizadas nos membros inferiores) que possuem cinco câmaras
separadas, sendo colocadas em redor dos membros, mobilizando o fluxo venoso e linfático a partir
dos tornozelos, aumentando progressivamente em direção à região superior das coxas. Tem como
principais benefícios o alivio da dor e fadiga nas pernas e/ou coxas, reduzindo a inflamação e
edema, acelerando a cicatrização através da melhoria do fluxo de oxigénio.
Vestuário de compressão: calças ou meias concebidas de modo a provocar compressão
equivalente à pressão diastólica (40 a 60 mmHg para os membros superiores e 60 a 100 mmHg
para os membros inferiores). A compressão realizada diminui o efeito vibratório oscilatório
durante a atividade, prevenindo uma fadiga muscular precoce. O vestuário de compressão tem
como principais benefícios a diminuição da dor muscular e fadiga; diminuição do edema e sinais
inflamatórios; aumento do retorno venoso promovendo a oxigenação muscular; promoção da
recuperação muscular após o exercício.
É aconselhada a utilização do vestuário de compressão após o jogo por um período de 12 horas,
de modo a alcançar uma melhor recuperação. Para promover maior recuperação entre jogos em
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situação de torneio, poderá ser aconselhado a combinação de vestuário de compressão com a
realização de cicloergómetro durante 7-10 minutos com intensidade baixa, de modo a potenciar o
mecanismo de “bomba” muscular, facilitando o retorno do sangue venoso e oxigenação muscular.
3.6. Recuperação ativa
A Recuperação ativa consiste na realização de atividade física de baixa intensidade (40 a 60% da
frequência cardíaca máxima), após a sessão de treino ou jogo (fase de retorno à calma) ou em dias
de treino ligeiro. A recuperação ativa deverá ser baseada na combinação de exercícios aeróbios
ligeiros e alongamentos musculares, de modo a não induzir fadiga muscular. Tem como objetivo
aumentar a remoção dos lactatos e metabolitos circulantes, tentando restabelecer e equilibrar os
níveis previamente existentes ao treino ou jogo. Como exemplo de técnicas de recuperação ativa é
comum a realização de atividades sem impacto articular - cicloergómetro ou bicicleta estática
(cerca de 7 minutos), alongamentos dinâmicos, hidroterapia ou sessão de piscina, deeprunning (ou corrida na água), exercícios funcionais; e com impacto articular - corrida continua de
baixa intensidade. Este tipo de recuperação beneficia da sua realização em ambiente nãocompetitivo, auxiliando também na recuperação psicológica/mental dos atletas.
Figura 6 - Sessão de recuperação - piscina.
Figura 7 - Recuperação no cicloergómetro.
3.7. Nutrição
3.7.1. Hidratação
O estado de hidratação é um fator determinante para a condição física do atleta, sendo utilizadas
estratégias de hidratação antes, durante e após o treino/jogo, como forma de manter os líquidos
corporais, e prolongar ou manter o rendimento o maior período de tempo possível.
Existem alterações das funções fisiológicas consequentes às perdas hídricas comprometendo o
desempenho, tornando-se assim fatores determinantes de fadiga. O equilíbrio hídrico corporal
representa a diferença líquida entre a ingestão e a perda de líquidos, sendo que a prevenção da
desidratação pela ingestão regular de líquidos, é uma medida importante para assegurar o bemestar físico e mental.
Consequentemente, avaliar o estado de hidratação é fundamental para evitar consequências
prejudiciais para a condição física do atleta. As técnicas de avaliação da hidratação variam muito
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em relação à sua aplicabilidade devido às limitações metodológicas. Sendo assim, são utilizadas
medidas como a quantidade e coloração da urina, e a perda de peso corporal através da sua
medição em balança, devido à sua facilidade de execução e aos custos reduzidos ou nulos.
Figura 8 - Tabela de coloração de urina.
Figura 9 - Pesagem para controlo da hidratação.
Recomendações gerais:
• Ingerir 500-600 ml de líquidos 2 horas antes do treino ou competição;
• Durante o treino, ingerir 120-150 ml de líquidos a cada 10-15 minutos;
• Bebidas para desportistas (ex. Powerade®/Gatorade®) que contenham 4-8gr de Hidratos
de Carbono (HC) por 100ml (4-8% HC);
• Ingerir 200-500ml durante a fase de aquecimento;
• Durante a competição, aproveitar as interrupções para ingerir líquidos (intervalo, lesão,
entre outros);
• Após a competição ingerir 1L líquidos/hora, durante 3 horas;
• Após o jogo, ingerir uma quantidade de líquidos que equivale a 150% do peso perdido;
• Pesagem antes e após o treino, com objetivo de estimar o peso (de líquidos) perdido;
• Adicionar Sal à sopa ou a outro constituinte da refeição – promove a retenção hídrica,
favorece a hidratação.
A ingestão de líquidos após a competição, permite o aumento dos níveis de glicogénio durante
seis horas comparando com a ingestão de hidratos de carbono duas horas após a competição.
A ingestão de álcool diminui a reposição do glicogénio após o exercício, uma vez que este atua
diretamente sobre a síntese do glicogénio, ou indiretamente através da redução da ingestão de
hidratos de carbono imediatamente após o exercício. Como consequência, o álcool também
promove a diurese, retardando o processo de reidratação. Por sua vez, o álcool também promove
a vasodilatação, que poderá aumentar os sinais inflamatórios (edema) reduzindo o processo de
cicatrização.
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Figura 10 - Inibição do consumo de álcool. Figura 11 - Água, bebidas isotónicas e suplementação.
3.7.2. Alimentação
A alimentação é fundamental antes o treino ou competição, fornecendo a energia essencial para
um desempenho (muscular) eficaz, e após a atividade desportiva, promovendo a recuperação e
regeneração muscular, garantindo um melhor rendimento, diminuindo o risco de lesão muscular,
e por conseguinte uma melhor recuperação global.
Pré-atividade:
• Refeição completa cerca de 3-4 horas antes da atividade (pequeno-almoço ou almoço);
• 1 a 2 horas antes do início do exercício: ingestão suficientemente leve para não atrasar a
digestão e causar desconforto gástrico, rica em hidratos de carbono de baixo índice
glicémico, que evitam a libertação elevada de insulina e a queda brusca da glicémia,
permitindo um fornecimento de energia gradual e prevenindo uma possível hipoglicémia e
sensação de fraqueza ao longo da atividade;
• Evitar a ingestão de alimentos ricos em gorduras ou fibras nas 2 a 3 horas que antecedem a
atividade física, por serem de digestão mais lenta e poderem causar mal-estar gástrico;
• Caso não exista oportunidade de alimentação até 1 hora antes do exercício, o ideal será
dar preferência a alimentos de moderado a alto índice glicémico (tais como banana, barra
de cereais) para que os hidratos de carbono sejam convertidos em glicose de forma mais
célere, transformando-se em energia.
Pós-atividade:
• Alimentação equilibrada com nutrientes necessários para repor a energia consumida
durante o exercício e favorecer a recuperação dos tecidos;
• Ingerir hidratos de carbono nos 30 a 60 minutos subsequentes ao exercício de duração
prolongada (ex. cereais integrais, naturalmente ricos em vitaminas e minerais e com
quantidade apreciável de proteína, fundamental quer para a reposição de energia quer
para a reconstrução do tecido muscular; 1-2 peças de fruta (ex. banana), para além dos
hidratos de carbono que possui, a fruta é geralmente rica em minerais, importantes no
processo de recuperação muscular após o esforço;
• Ingerir alimentos ricos em antioxidantes (frutos vermelhos, frutos secos, entre outros), que
bloqueiam a ação dos radicais livres (moléculas produzidas naturalmente pela respiração e
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produção de energia que afetam negativamente o organismo) formados durante o
exercício.
Figura 12 - Exemplos de pequeno almoço.
3.7.3. Suplementação
Existem vários tipos de suplementação desportiva que potenciam a recuperação após a atividade
desportiva do atleta, ainda que nem todos revelem evidência científica dos seus benefícios e sua
utilização no rugby. Contudo a sua utilização depende das necessidades específicas de cada atleta,
pelo que os atletas deverão ser acompanhados por um departamento médico (com equipa de
nutrição e dietética).
Creatina: promove o aumento da massa muscular magra e de força, das reservas de energia no
músculo que poderão ser aplicadas em exercícios intensos, e ajuda na recuperação e melhoria das
adaptações ao treino. O uso de suplementos de creatina deve ser limitado em jogadores com
idade inferior a 18 anos, uma vez que não existe evidência da segurança de utilização em crianças
e adolescentes. Deverá também ser evitada em jogadores com insuficiência renal, hipertensão
arterial, e em conjunto com terapêutica anti-inflamatória não esteroide.
• Fase de carga máxima: são recomendadas 20-25 g de monohidrato de creatina
(aproximadamente 0,3 g/kg/dia) dividida em 4 doses em intervalos regulares por 3-5 dias
para ser tomado com 50-100 g de HC de alto índice glicêmico (IG);
• Período de manutenção: são recomendadas 2-5 g/dia;
• Para evitar um ganho de peso abrupto, deverá diminuir a dosagem progressivamente para
2-5g/dia durante 28 dias com 50-100g de HC de alto IG e reposição de líquidos após o
exercício. É aconselhável realizar uma pausa de 4-6 semanas na sequência do período de
suplementação ativa.
Proteína de Soro (Whey): a mais rica fonte de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), tem um
elevado valor biológico, sendo estes os pilares da síntese proteica no organismo, promovendo o
desenvolvimento de massa muscular, a sua recuperação após o exercício físico e a (re)construção
celular. Em conjunto com hidratos de carbono, ajuda na recuperação e diminuição da fadiga
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muscular. A dose recomendada para atletas de rugby é de 2-3g/Kg de peso corporal, incluída num
plano alimentar individualizado, podendo as doses proteicas ser ajustadas.
Beta alanina: é um aminoácido frequentemente encontrado nas carnes brancas e peixe, que
aumenta os níveis de carnosina no músculo esquelético inibindo a acidose causada pelo aumento
do lactato e do ião hidrogénio (H+), evitando uma das causas da fadiga muscular (através do efeito
“tampão”). A dose recomendada é aproximadamente 65 mg/kg para 4-10 semanas.
ZMA: é uma fórmula composta por zinco e magnésio com vitamina B6. Estes dois minerais são
essenciais no suporte das funções como a contração muscular e produção de testosterona. A
vitamina B6 promove absorção destes minerais e tem função importante no metabolismo das
proteínas e respiração celular, favorecendo a recuperação. A dosagem recomendada para a
fórmula ZMA é: Homens - 30mg de zinco, 450mg de magnésio, e 10-11mg de vitamina B6;
Mulheres - 20mg de zinco, 300mg de magnésio, e 6-7mg de vitamina B6.
Aminoácidos: os três aminoácidos essenciais leucina, isoleucina e valina, BCAA´s ou aminoácidos
de cadeia ramificada, particularmente a leucina, desempenham um papel vital na síntese proteica
(crescimento muscular) e recuperação. A dosagem dependerá da associação com outros
suplementos e com o tipo treino.
Cafeina: a resposta à cafeína e os seus efeitos sobre o desempenho do atleta variam
individualmente, dependendo da forma de administração (pastilhas, comprimidos e em pó são
mais eficazes do que o café) e da sua ingestão habitual. Em doses elevadas (> 6-9 mg/kg) a cafeína
pode causar náuseas, diarreia, tremores, dores de cabeça, insónias, distúrbios visuais, ansiedade e
nervosismo. O seu principal efeito é a modificação da perceção de fadiga, aumentando o estado
de alerta, melhorando o tempo de reação a um estímulo. Pode ainda aumentar o metabolismo das
gorduras, poupando o glicogénio.
• A evidência sugere 2-6mg/Kg peso corporal uma hora antes do treino;
• Bebidas com cafeina - 1 copo de café (60-100 mg); 1 copo de chá preto (27 mg); 1 copo de
340ml de Coca-cola® (49 mg); Red Bull® (80 mg).
Glucosamina e condroitina: não existe coerência nos estudos com evidência cientifica disponível
para comprovar que este tipo de suplementação retarde o envelhecimento da cartilagem e reduza
o grau de dor nas articulações em indivíduos ativos e/ou atletas.
Melatonina: pode ser utilizada em combinação com outras estratégias para reduzir os sintomas de
jet-lag e fadiga (3-5 mg por dia durante 5 dias), podendo causar dores de cabeça e tonturas. Não
deverá ser utilizado sem prescrição médica.
Vitaminas e Minerais: a adição de vitaminas e minerais a um plano alimentar equilibrado e
individualizado não promoverá uma melhoria no desempenho físico dos atletas. No entanto, num
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plano alimentar restritivo, fará sentido a toma de um suplemento multivitamínico e mineral para
garantir as necessidades de nutrientes essenciais diárias.
3.8. Sono
O sono é uma das principais estratégias de recuperação muscular. À medida que a luminosidade
diminui, o corpo aumenta a produção de neurotransmissores como a serotonina e a melatonina,
ao mesmo tempo que ocorre a redução de substâncias estimulantes como a adrenalina e a
dopamina. Estas alterações permitem o relaxamento do corpo, preparando-o para o sono. É
composto por vários ciclos - Rapid Eye Movement (REM) - e não REM, com a duração média de 90
minutos, sendo que os atletas deverão dormir entre quatro a seis ciclos por noite (ou seja entre 6
a 9 horas por noite).
Existem 5 estadios de consciência associados ao sono (1,2,3,4 – REM e não REM):
• 1º estadio - responsável pela transição entre o estado de vigília e de sono. Ocorre
diminuição do tónus muscular, libertação de melatonina, e eventual resposta reflexa
desencadeando espasmos musculares;
• 2º estadio - designado como sono leve. Existe uma diminuição da ativação dos neurónios
corticais e por conseguinte, diminuição do ritmo cardíaco e respiratório, relaxamento dos
músculos e descida drástica da temperatura corporal;
• 3º estadio - o tónus muscular continua a diminuir, os movimentos oculares são raros e são
necessários mais estímulos que o estadio anterior para o individuo acordar;
• 4º estadio - fase de sono mais profundo, as frequência das ondas cerebrais mudam para
delta. Ocorre libertação da hormona do crescimento, a leptina (responsável pelo controlo
do apetite, massa corporal, reprodução, cicatrização, imunidade) e o cortisol (responsável
por influenciar o metabolismo). O 3º e 4º estadios são denominados de sono de ondas
lentas. Após 30 a 40 minutos ocorre uma inversão voltando ao 3º e 4º estadio;
• 5º estadio/ REM - no sono REM ou paradoxal, ocorre um aumento da pressão arterial,
temperatura, frequência respiratória, frequência cardíaca e fluxo sanguíneo. Os olhos
movem-se de forma rápida, ocorrendo sonhos durante esta fase. Há também um retorno
das ondas cerebrais beta, o que sugere que o cérebro esteja mais ativo.
A repetição do ciclo do sono (4-6 ciclos por noite) leva a uma diminuição do 3º e 4º estado e um
aumento do sono REM. Se o sono for perturbado antes do 3º/4º estadio, todo o processo é
reiniciado. Sabe-se que os distúrbios do sono (má qualidade, tempo insuficiente, distúrbios do
ritmo circadiano) são os principais fatores que afetam a capacidade reparadora do sono.
As seguintes indicações tornam-se relevantes em situações de viagem, em que ocorrem alterações
dos fusos horários (geralmente superiores a 4 ou mais horas), e que requerem adaptações no
ritmo circadiano (biológico) e do sono:
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 Identificar as necessidades individuais de sono e tentar descansar a quantidade diária
adequada (7 a 9 horas para a maioria dos atletas);
 Manter um ambiente escuro, fresco, calmo dentro do quarto (usar uma máscara, tampões
de ouvido se necessário);
 Desenvolver uma rotina de adormecer e acordar (terminar uso de computador ou televisão
pelo menos uma hora antes de adormecer);
 Praticar técnicas de relaxamento antes de ir para a cama;
 Evitar preocupações antes de ir para a cama;
 Dormir numa cama com pelo menos 15 cm superior à altura do atleta;
 Manter a cabeça mais fria do que o corpo;
 Se não conseguir adormecer dentro de 30 minutos, deverá realizar algum trabalho de
relaxamento, e evitar a ingestão de cafeína ou álcool antes de ir para a cama.
3.9. Monitorização da Carga
O controlo da fadiga em treino e/ou jogo é realizado para monitorizar a adequação das cargas de
treino em função da competição, permitindo identificar a necessidade de descarga de
determinado atleta, com o objetivo final de melhoria do rendimento desportivo. Pode ser aplicado
através de medidores hormonais, neuromusculares (ex. salto vertical), sistema nervoso autónomo
(i.e variabilidade da frequência cardíaca) e questionários subjetivos de fadiga.
Os questionários e escalas de fadiga, são individuais e visam interpretar o estado em que o atleta
se encontra, servindo como base de referência e adaptação à intensidade e à integração no
contexto de treino ou jogo.
Rate of Perceived Exertion Scale ou RPE (Perceção subjetiva do esforço) – uma das principais
escalas/questionários utilizados; no final da sessão de treino o atleta quantifica a atividade
realizada de acordo com o grau de dificuldade: 1 (atividade muito leve); 2-3 (atividade ligeira); 4-6
(atividade moderada); 7-8 (atividade vigorosa); 9 (atividade muito exigente); 10 (esforço máximo
durante a atividade).
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Figura 13 - RPE Scale – Escala de perceção subjetiva do esforço.
Questionário de Fadiga (FPR) – é um questionário que visa obter a sensação subjetiva de fadiga,
em que o atleta preenche uma ficha individual antes de realizar o esforço. Os parâmetros de
avaliação incluídos no questionário de fadiga são: tempo de sono, qualidade do sono, motivação,
apetite e sensação muscular. O somatório de todos os parâmetros permite obter valores entre 0 e
30, sendo 0 (overeaching ou overtraining) e 30 (máximo aconselhado).
Poderá ser aplicado de forma aguda (i.e. avaliação após jogos/treinos e comparar com valores de
referência) ou de forma crónica (i.e. avaliação ao longo do tempo).
Nota: Em competição, utilizado ao acordar para verificar estado de fadiga e controlo do peso.
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Figura 14 - Questionário de fadiga da FPR.
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4. Conclusão
As estratégias de recuperação devem ser parte integrante de todo o programa de treino como um
procedimento pró-ativo. Todas as estratégias referidas anteriormente têm um objetivo comum - a
otimização da recuperação do atleta. A opção quanto à técnica dependerá do tipo de atividade
realizada, do tempo disponível até à sessão de treino ou jogo seguinte e do equipamento
disponível. É fundamental realizar uma re-hidratação adequada imediatamente após o treino ou
jogo. Apesar de existirem oportunidades para a reidratação durante o exercício, o período
imediatamente após o exercício é um período crítico para a otimização da re-hidratação, e
reparação tecidular.
Para as restantes estratégias de recuperação, o fisioterapeuta e o preparador físico deverão
elaborar um modelo de recuperação, e avaliar a relação custo-eficácia da utilização de qualquer
das medidas escolhidas, tendo sempre em conta o tempo de recuperação disponível. Em
contextos de pós-competição sugere-se o seguinte plano de recuperação:
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5 minutos iniciais – Re-hidratar e reabastecer (beber e comer hidratos de carbono de alto
IG e proteínas, ex. gomas, água, Gatorade®, Powerade®). Alertar os jogadores que a sede
representa um sinal de desidratação;
5-20 minutos – Retorno à calma – Caminhar (5 minutos) ou realizar cicloergómetro (7
minutos) e alongamentos estáticos ligeiros durante 5 a 10 minutos;
15-20 minutos – banho de contraste ou banho de gelo; técnicas de relaxamento dos
membros inferiores (shaking/vibração); continuar a hidratação;
Primeiros 60 minutos – hidratação, ingerir alimentos ricos em hidratos de carbono de
baixo IG e proteína; iniciar período de descanso ou relaxamento (ouvir música); usar
vestuário de compressão.
Em caso de torneio com diferentes jogos no mesmo dia, os atletas deverão preparar o jogo
através das rotinas individuais e coletivas, e após cada jogo repetir os procedimentos de
recuperação descritos acima.
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Dia seguinte – Sessão de recuperação ativa (i.e sessão de piscina com exercícios aeróbios
de intensidade baixa); banhos de contraste e/ou banhos de imersão (segundo as normas
descritas no capítulo da Crioterapia). Caso exista novamente competição, a sessão da
piscina não deverá ser realizada uma vez que induz relaxamento muscular acentuado.
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5. Bibliografia
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