Giselle Medeiros da Costa One Adriana Gomes Cézar Carvalho (Organizadores) NUTRIÇÃO E SAÚDE: conhecimento, integração e tecnologia 2 IBEA Campina Grande - PB 2016 Instituto Bioeducação Editor Chefe Giselle Medeiros da Costa One Corpo Editorial Adriana Gomes Cézar Carvalho Ednice Fideles Cavalcante Anízio Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque Roseanne da Cunha Uchôa Revisão Final Ednice Fideles Cavalcante Anízio Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba N976 Nutrição e saúde: conhecimento, integração e tecnologia 2 [recurso eletrônico] / Organizadores: Giselle Medeiros da Costa One, Adriana Gomes Cézar Carvalho.-- João Pessoa: Impressos Adilson, 2016. 3/4 1CD-ROM; 4 pol.(6.931kb) ISBN: 978-85-92522-04-9 1. Nutrição. 2. Nutrição e saúde. 3. Tecnologia. I. One, Giselle Medeiros da Costa. II. Carvalho, Adriana Gomes Cézar. CDU: 612.39 Esta obra tem o incentivo e apoio da Coordenação de Pós Graduação do Instituto Bioeducação Direitos desta Edição reservados ao Instituto Bioeducação www.institutobioeducacao.org.br Impresso no Brasil / Printed in Brazi IBEA INSTITUTO BIOEDUCAÇÃO Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico, gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições aplicam-se também às características gráficas e/ou editoriais. A violação dos direitos autorais é punível como Crime (Código Penal art. 184 e §§; Lei 9.895/80), com busca e apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais - arts. 122, 123, 124 e 126) Todas as opiniões e textos presentes neste livro são de inteira responsabilidade de seus autores, ficando o organizador isento dos crimes de plágios e informações enganosas. IBEA Instituo Bioeducação Rua,Eng. Lourival de Andrade, 1405- Bodocongó – Campina Grande – PB. CEP: 58.430-030 / (0xx83) 3321 4575 / www.institutobioeducacao.org.br Impresso no Brasil 2016 Aos participantes do SINASAMA pela dedicação que executam suas atividades e pelo amor que escrevem os capítulos que compõem esse livro. “Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intensões didático – pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e tediosa.” Rubem Alves PREFÁCIO Os livros “NUTRIÇÃO E SAÚDE: conhecimento, integração e interdisciplinar, tecnologia 1 contribuindo e 2” tem o aprendizado para conteúdo e compreensão de varias temáticas dentro da área em estudo. Esta obra é uma coletânea de pesquisas de campo e bibliográfica, fruto dos trabalhos apresentados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente realizado entre os dias 6, 7 e 8 de Novembro de 2015 na cidade de João Pessoa-PB. O SINASAMA é um evento que tem como objetivo proporcionar subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico, Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e Educação socioambiental para a Vida. Os eixos temáticos abordados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma ampla discussão, incentivando, promovendo e apoiando a pesquisa. Os organizadores objetivaram incentivar, promover, e apoiar a pesquisa em geral para que os leitores aproveitem cada capítulo como uma leitura prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo da equipe de autores que muito se dedicaram a escrever trabalhos de excelente qualidade direcionados a um público vasto. Esta publicação pode ser destinada aos diversos leitores que se interessem pelos temas debatidos. Espera-se que este trabalho desperte novas ações, estimule novas percepções e desenvolva novos humanos cidadãos. Aproveitem a oportunidade e boa leitura. SUMÁRIO SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR ...............................................15 CAPÍTULO 1 ......................................................................................... 16 PIZZA SEM GLÚTEN CAPÍTULO 2 ......................................................................................... 29 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB CAPITULO 3 ......................................................................................... 39 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS CAPITULO4 .......................................................................................... 51 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL CAPÍTULO 5 ......................................................................................... 65 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ CAPÍTULO 6 ......................................................................................... 77 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO CAPÍTULO 7 ......................................................................................... 92 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA CAPÍTULO 8 ....................................................................................... 105 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL CAPÍTULO 9 ....................................................................................... 114 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO CAPITULO 10...................................................................................... 129 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA CAPÍTULO 11...................................................................................... 142 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE CAPÍTULO 12...................................................................................... 158 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB CAPITULO 13...................................................................................... 172 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB CAPÍTULO 14...................................................................................... 193 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS ................................................... 204 CAPÍTULO 15...................................................................................... 205 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA CAPITULO 16...................................................................................... 218 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO CAPÍTULO 17...................................................................................... 232 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (LYCOPERSICON ESCULENTUM MILL.) CAPÍTULO 18...................................................................................... 247 ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PRODUTOS A BASE DE ABÓBORA (CUCURBITA MAXIMA) CAPÍTULO 19...................................................................................... 259 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL CAPÍTULO 20...................................................................................... 270 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA CAPÍTULO 21...................................................................................... 285 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (MANGIFERA INDICA) “ESPADA” SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO CAPÍTULO 22...................................................................................... 300 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (COFFEA ARABICA) CAFEINADO E DESCAFEINADO TECNOLOGIA DOS ALIMENTOS .................................................. 310 CAPÍTULO 23...................................................................................... 311 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO CAPÍTULO 24...................................................................................... 326 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL CAPÍTULO 25...................................................................................... 338 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO CAPÍTULO 26...................................................................................... 353 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA NUTRIÇÃO E SAÚDE PÚBLICA ..................................................... 367 CAPÍTULO 27...................................................................................... 368 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE NUTRIÇÃO E GESTÃO EM ALIMENTAÇÃO COLETIVA ................... 383 CAPÍTULO 28...................................................................................... 384 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO NUTRIÇÃO ESPORTIVA............................................................... 399 CAPÍTULO 29...................................................................................... 400 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO NUTRIÇÃO NA SENESCÊNCIA...................................................... 414 CAPÍTULO 30...................................................................................... 415 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................. 429 CAPITULO 31...................................................................................... 430 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB CAPÍTULO 32...................................................................................... 447 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL CAPÍTULO 33...................................................................................... 462 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA CAPÍTULO 34...................................................................................... 474 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB CAPÍTULO 35...................................................................................... 490 A IMPOTÂNCIA DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS NA INCIDÊNCIA DE COLONIZAÇÃO POR LEVEDURAS DO GÊNERO CÂNDIDA SPP NO AMBIENTE HOSPITALAR SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR PIZZA SEM GLÚTEN CAPÍTULO 1 PIZZA SEM GLÚTEN Rayanne Mara Maia das CHAGAS1 Jéssica Roberta Pereira MARTINS2 Renata Chastinet BRAGA 3 Séfura Maria de Assis MOURA4 1 Aluna Tecnologia em Alimentos, IFCE; 2Aluna Técnico em Meio Ambiente, IFCE; 3Professor Doutor, IFCE; 4Professor ,IFCE RESUMO: A doença celíaca é caracterizada como sendo a não digestibilidade, no intestino delgado, do glúten, fração proteica, presente no trigo, cevada e centeio. Por essa razão, buscou-se o desenvolvimento de um produto que atenda aos portadores da doença celíaca. A pizza é um alimento altamente consumido, porém não é apropriada para os celíacos. Este estudo teve como objetivo desenvolver uma fórmula de pizza que pudesse ser consumida por pessoas celíacas. A preparação da massa contou com farinhas sem glúten, farinha de arroz e a farinha de batata doce. O processo de obtenção das farinhas foi realizado com equipamentos caseiros para facilitar a produção pelos consumidores celíacos e não celíacos. A massa da pizza foi feita adaptando receitas de massas tradicionais de forma que a consistência da massa ficasse semelhante. Após o preparo foram feitas análises físico-químicas para se obter o teor de proteínas, umidade, carboidratos, lipídios e fibras alimentares. Foi feita a avaliação microbiológica e análise sensorial de aceitação, consumo e intenção de compra. A pizza apresentou baixos teores de lipídios, boas condições microbiológicas e ótima aceitação. A alta intenção de consumo e compra indica que o produto preparado pode ser uma alternativa para comercialização como opção para celíacos ou não celíacos. 16 PIZZA SEM GLÚTEN Palavras-chave: Celíacos. Arroz. Batata doce. 1 INTRODUÇÃO Os produtos fabricados a base de trigo são encontrados diariamente nas mesas dos consumidores, e isso é possível devido às propriedades de um conjunto de proteínas, que se instituem como sendo a junção da gliadina e glutenina. Essas proteínas ao serem hidratadas caracterizam a massa do alimento viscosidade e elasticidade (BURIOL et al., 2009). Em meio à produção de alimentos com glúten se encontram os celíacos, que têm de excluir da dieta tudo que tenha a presença deste conjunto de proteínas (BURIOL et al., 2009). A doença celíaca é caracterizada como sendo a não digestibilidade, no intestino delgado, do glúten, fração proteica, presente no trigo, cevada, centeio e malte. As frações proteicas tóxicas de glúten incluem gliadinas e gluteninas, com as gliadinas contendo proteínas monoméricas e a gluteninas contendo proteínas agregadas (CÉSAR et al., 2006). Ressalta-se a doença celíaca como sendo autoimune, que se sucede na presença de anticorpos específicos sorológicos, mais notavelmente soro antitransglutaminase (tTG) e antiendomísio (EMA) (SAPONE et al., 2012). Ainda no início deste milênio, a doença celíaca era considerada bastante rara fora da Europa, por isso, os profissionais da saúde ignoraram quase que completamente esse fato. 10 anos depois, marcos importantes retiram a doença celíaca da obscuridade para a ribalta popular do mundo (SAPONE et al., 2012). Com a Lei de Nº 10.674, de 16 de Maio de 2003 a rotulagem dos alimentos foi adaptada para proteger os 17 PIZZA SEM GLÚTEN celíacos indicando a presença de glúten em alimentos, mas a disponibilidade de alimentos diferenciados, adaptados ainda é pouca (SAPONE et al., 2012). No mercado brasileiro são poucos ainda os produtos industrializados especiais sem glúten e a maior parte das preparações do cardápio do paciente celíaco é caseira, demanda tempo e dedicação para o preparo. Entretanto, o desenvolvimento de produtos tem uma estreita relação com as necessidades e tendências de consumo da população, sendo análise sensorial uma importante ferramenta para o lançamento de novos produtos no mercado ou para estimar a aceitação e preferência de produtos alternativos que podem ser aderidos pela população. O arroz é um grão bastante popular nas refeições e o Brasil está entre os dez maiores produtores de arroz do mundo. Devido aos benefícios e propriedades que o arroz tem, boa parte dos grãos é quebrada, gerando um subproduto de baixo valor comercial. A farinha de arroz normalmente é produzida a partir de grãos quebrados ou triturados, sendo assim utilizada em produtos manufaturados devido a suas propriedades funcionais. Esse tipo de farinha não passa por nenhum processo químico, por esse motivo se tornou uma boa alternativa para portadores da doença celíaca cujo único tratamento é a completa retirada do trigo, centeio, cevada e aveia da dieta (ORMENESE; CHANG, 2002). Outra boa alternativa para os celíacos é a farinha de batata doce, além de poder ser utilizada em preparações sem glúten, também é possível usá-la para incrementar pratos feitos tradicionalmente com farinha de trigo. O processo de obtenção dessa farinha é um pouco mais demorado que a do arroz, mas também é possível se fazer em casa. Os 18 PIZZA SEM GLÚTEN tubérculos são lavados, secos, cortados, ralados, e levados ao forno para secagem, sendo em seguida triturados. A mistura de duas farinhas ricas em vitaminas e possuidoras de boas propriedades nutricionais e funcionais irá favorecer a nova formulação de uma pizza sem glúten. O mercado também poderá ser beneficiado com a produção dessa pizza, por conta da alta procura de alimentos sem glúten pelas pessoas portadoras da doença celíaca. Só que o consumo poderá ocorrer não apenas por pessoas celíacas, mas também pelas que não possuem a doença, pelo fato das farinhas conterem benefícios decorrentes de suas composições. Diante da necessidade de produtos ao público com restrições de glúten de forma mais fácil e diversificada foram propostas as seguintes questões: Seria possível retirar o trigo (glúten) da massa de pizza e ela permanecer saborosa e atrativa para o consumidor? A formulação diante dos aspectos físico-químicos, microbiológicos e sensorial terão bons resultados? Os portadores da doença celíaca poderá consumir a pizza? O que as pessoas sem a doença acharam dessa nova formulação de pizza? E o mercado poderá ser beneficiado com esse novo produto? Então visando a popularidade da pizza em relação aos outros produtos de forno e a qualidade de sua massa que continua sendo uma área pouco pesquisada, objetivou-se produzir uma pizza voltada aos portadores da doença celíaca (SOZO et al., 2007). Especificou-se produzir as farinhas, retirar todo o glúten da formulação da pizza e testá-la nas análises físico-químicas, microbiológicas e sensoriais. 19 PIZZA SEM GLÚTEN 2 . MATERIAIS E MÉTODO Preparo das farinhas e da pizza A farinha de arroz foi preparada triturando os grãos no liquidificador e a farinha de batata foi obtida da seguinte maneira: os tubérculos foram lavados, secos, cortados, ralados, e levados ao forno para secagem, sendo em seguida triturados. O preparo da pizza foi embasado em uma receita de uma pizza simples de liquidificador, onde todos os ingredientes são misturados juntos e liquidificados, daí, buscou-se uma textura que se aproxima da tradicional, no caso foi mudado a formulação retirando-se o glúten e enriqueceu-se as propriedades da pizza. Ressaltando-se que os ingredientes utilizados foram escolhidos para serem os de menos gordura e os mais acessíveis ao bolso do consumidor, exemplificando um pouco, o leite foi integral e o molho utilizado no recheio foi de preparo caseiro. Já o recheio foi voltado para algo menos calórico, então se utilizou frango e queijo coalho. A seguir na tabela 1 os ingredientes utilizados no preparo. Tabela 1: Ingredientes utilizados no preparo da pizza. INGREDIENTES Farinha de arroz Farinha de batata doce Leite UHT Ovo Açúcar Margarina Fermento Azeite Fonte: Autor, 2015. 20 PIZZA SEM GLÚTEN Avaliação físico-química Após o preparo foram feitas análises físico-químicas para se obter o teor de proteínas, umidade, carboidratos, cinzas, lipídios e fibras alimentares seguindo metodologia descrita por IAL, 1995. Avaliação microbiológica Nas análises microbiológicas foi utilizada a determinação do Número Mais Provável (NMP) de coliformes totais, contagem em placa de bolores e leveduras e leveduras, as seguintes análises foram feitas de acordo com a metodologia descrita por Siqueira 1995. Teste sensorial Foi feito o teste de aceitação do produto utilizando escala hedônica de nove pontos onde foram avaliados os tributos: textura, sabor, aroma, aparência, avaliação global. Foram incluídos também: intenção de consumo e compra. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No final do preparo da nova formulação de pizza sem glúten pode-se constatar que são poucas as diferenças entre ela e a tradicional quando se trata de atributos físicos. Percebe-se que os resultados obtidos diante dessa análise foram bastante satisfatórios. Houve um bom aumento da massa depois do pré-aquecimento (Figura 1). 21 PIZZA SEM GLÚTEN Figura 1: Teste de expansibilidade Fonte: Autor, 2015 A determinação da umidade está relacionada à propriedade físico-química da água de se volatizar a temperatura de 105ºC. Devido a água ter um ponto de ebulição de 100ºC, a esta temperatura ocorrem perdas, por volatização, de alguns minerais, isso faz com que esta técnica seja aplicada para determinação da fração umidade. Resíduo por incineração ou cinzas trata-se do produto que se é obtido através do aquecimento de um produto em temperatura próxima a (550 – 570) ºC. Só que não é sempre que o resíduo obtido irá representar toda a substância inorgânica presente na amostra, pois alguns sais podem sofrer redução ou volatização nesse aquecimento. As cinzas são obtidas na maioria das vezes por ignição de quantidade conhecida da amostra. Para se determinar a fração de lipídios utiliza-se o método de Soxhlet, que se baseia na extração por solvente. A fração lipídica de um alimento trata-se de uma fração solúvel em solvente apolar consequentemente extraída por éter. Daí o resíduo obtido da extração com éter corresponde ao teor de lipídios em um alimento. Nesta fração se encontra os triglicerídeos, os ácidos graxos livres, os fosfolipídios e as 22 PIZZA SEM GLÚTEN vitaminas lipossolúveis. Os triglicerídeos são relevantes, assim pode-se associar ao resíduo de lipídios obtido fornecimento calórico que vem da fração lipídica. A análise de proteínas fundamenta-se na característica química da proteína na qual possui em sua molécula o átomo de nitrogênio. Da seguinte forma o teor de proteína presente no alimento é determinado indiretamente, pois o que é analisado é o teor de nitrogênio da amostra. A fibra é um resíduo orgânico no qual é obtido em condições de extração, dá-se o nome de fibra. Os métodos de tratamento de extração da amostra variam e é de grande importância, para a comparação de resultados, seguir exatamente as condições específicas em cada um. Para a análise de alimentos de consumo humano, o conhecimento do teor fibra alimentar é mais adequado do que o de fibra bruta. As fibras tem a opção ser classificadas de acordo com a sua com a sua solubilidade. As fibras solúveis são responsáveis pelo aumento da viscosidade do conteúdo gastrointestinal, retardando o esvaziamento e a difusão de nutrientes; incluem as gomas, mucilagens, a maioria das pectinas e algumas hemiceluloses. Já as fibras insolúveis diminuem o tempo de trânsito intestinal, aumentam o peso das fezes, tornam mais lenta a absorção da glicose e retardam a digestão do amido; incluem a celulose, lignina, hemicelulose e a algumas pectinas. Embora em concentrações deferentes, a maioria dos alimentos contém uma combinação dos dois tipos de fibras: as solúveis, tendo como principais fontes alimentares as leguminosas e as frutas e as insolúveis que estão presentes nos grãos de cereais, no farelo de trigo, nas hortaliças e nas cascas de frutas. 23 PIZZA SEM GLÚTEN A análise de carboidrato foi realizada através do método de diferença. Segue na tabela 2 com as médias obtidas nas análises físico-químicas. Tabela 2: Resultados das análises físico-químicas. Análise Umidade (%) Carboidratos (%) Cinzas (%) Fibra Bruta (%) Lipídios (%) Proteínas (%) Pizza sem recheio 39,91 47,02 1,20 0,63 4,17 7,07 Pizza com recheio 45,38 35,02 1,47 1,06 6,22 10,85 Fonte: Autor, 2015. A pizza com farinha de arroz e batata doce além de não conter glúten, possui ótimas propriedades que irão beneficiar os consumidores, como por exemplo, o resultado de lipídios, comparando-se com a % da pizza sem glúten elaborada por Buriol et al. (2009), a pizza agregando duas farinhas ricas em fontes nutricionais teve um percentual bem mais baixo com uma diferença de aproximadamente 10%, que mostra que esse novo produto possui menos gordura. Já o teor de proteínas em comparação com o produto da mesma autora, teve um valor bastante significativo, diante dos objetivos que se buscava atingir, que de base era enriquecer a pizza, produto bastante consumido hoje em dia, e torná-la um produto acessível para os celíacos. O teor de carboidrato também deve ser ressaltado por conta da sua média alta, o que torna o produto uma fonte de energia. Após se fazer as análises físico-químicas e físicas foram feitas as microbiológicas. A detecção dos bolores termorresistentes em alimentos esta relacionada no tratamento térmico das amostras, no qual 24 PIZZA SEM GLÚTEN elimina as células vegetativas de bolores, leveduras e bactérias, seguido do plaqueamento em Agar Batata Dextrose para crescimento de bolores e leveduras. O teste da Salmonella tem como finalidade garantir a detecção mesmo que as condições não sejam favoráveis, como é o caso de alimentos com uma microbiota competidora muito maior do que a população de Salmonella, ou quando o alimento possui células de Salmonella em um numero muito reduzido. Também se tem o caso em que essas células presentes no alimento se encontrem ingeridas pelo processo de preservação, como a aplicação de calor, o congelamento ou secagem. Nessa análise foram utilizados os meios: Caldo Rappaport-Vissiliadis, Ágar Verde Brilhante, Salmonella Shigella, Ágar Tríplice Açúcar Ferro e Ágar Lisina Ferro. O método da detecção de coliformes ajuda a fornecer informações sobre a ocorrência de contaminação de origem fecal, sobre a provável presença de patógenos nos alimentos. Nas análises microbiológicas todos os resultados foram satisfatórios (tabela 3). Tabela 3: Resultados das análises microbiológicas. Bolores e Coliformes totais e Salmonella leveduras termotolerantes Negativo Negativo Não há presença Fonte: Autor, 2015. Diante do resultado da análise de Salmonella, para se obter um resultado 100% confirmativo para a não presença desse patógeno, foi realizado ainda o teste do Indol. Abaixo se encontra a figura 2 representando o resultado final da análise de Salmonella e logo após a figura 3, na qual mostra o teste do Indol. 25 PIZZA SEM GLÚTEN Figura 2: Teste de TSI e LIA da Salmonella. Não houve formação de cadeias típicas. Fonte: Autor, 2015. Figura 3: Teste do Indol. Feito para uma melhor garantia e confirmação da não presença de Salmonella. Fonte: Autor, 2015. Todas as amostras utilizadas nas análises foram feitas de acordo com boas práticas de manuseio e higiene. Após as análises microbiológicas foi aplicada a sensorial. O seguinte teste foi realizado no Laboratório de Sensorial do IFCE – Campus Limoeiro do Norte utilizando a escala hedônica de nove pontos. Foram avaliadas as opiniões de 120 provadores não treinados Os resultados de aceitação demostraram que os provadores qualificaram a pizza acima da média o que foi confirmado pela intenção de consumo e compra onde 47,05% certamente compraria o produto e 51,2% consumiria muito frequentemente ou sempre. Indicando que o produto sem glúten elaborado apresenta excelente potencial de comercialização (Figuras 4, 5 e 6). 26 PIZZA SEM GLÚTEN Figura 4: Teste de aceitação. Fonte: Autor, 2015. Figura 5: Intenção de consumo. Fonte: Autor, 2015. Figura 6: Intenção de compra. Fonte: Autor, 2015. 27 PIZZA SEM GLÚTEN 4 CONCLUSÕES As farinhas de arroz e batata doce são alternativas viáveis na fabricação de pizza sem glúten. A pizza sem glúten elaborada com essas farinhas apresentou boas propriedades físico-químicas e microbiológicas. As análises sensoriais indicaram que o produto elaborado é uma excelente alternativa para alimentação de celíacos e dos não celíacos. Os estudos de consumo e aceitação comprovam a qualidade do produto elaborado e abrem a perspectiva para sua comercialização, além de demonstrar que produtos sem glúten podem ser nutritivos e palatáveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURIOL, V.; MASSAROLLO, M. D.; CÓRDOVA, K. R. V.; BEZERRA, J. R. M. V. ELABORAÇÃO DE MASSA DE PIZZA SEM GLÚTEN UTILIZANDO FARINHA DE ARROZ. Anais da SIEPE. Outubro, 2009. CÉSAR, A. S. da; GOMES, J. C.; STALIANO, C. D. ; FANNI, M. L. ; BORGES, M. C. . ELABORAÇÃO DE PÃO SEM GLÚTEN. Revista Ceres. Viçosa, MG. Março/ Abril 2006. ORMENESE, R. C. S. C. de; CHANG, Y. K. . MASSAS ALIMENTÍCIAS DE ARROZ: UMA REVISÃO. Revista B. CEPPA, Curitiba, v. 20, n. 2, p. 175190, Julho/Dez. 2002. SAPONE, A. et al. Espectro das desordens relacionadas ao glúten: um consenso sobre nova nomenclatura e classificação. Fevereiro, 2012. SOZO, A. F. S.; SOUZA, L. C. de; PALHARES, M.; GUTIERREZ, E. M. R. ELABORAÇÃO E ACEITABILIDADE DA PIZZA ISENTA DE GLÚTEN. Outubro, 2007. 28 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB CAPÍTULO 2 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA1 Yohanna de OLIVEIRA2 Keylha Querino de Farias LIMA3 Tamires Ribeiro CHAVES4 Cássia Surama Oliveira da SILVA5 1 Pós-Graduanda em Nutrição Clínica: Estácio de Sá, João Pessoa-PB; 2 3 Pós-Graduanda em Nutrição Clínica e Funcional: Faculdade Integrada de Patos, João Pessoa-PB; 4 Mestranda: Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa- PB; 5 Mestre: Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa. [email protected] RESUMO: A ingestão desequilibrada de nutrientes está associada com aumento da morbidade e mortalidade por doenças, incluindo doenças cardiovasculares (DCV), câncer, diabetes, osteoporose e outras. Sabendo-se disso foi realizado um estudo epidemiológico transversal, de base populacional, onde participaram 174 idosos com idade entre 60 e 90 anos, de ambos os sexos, de diferentes condições socioeconômicas. Foram aplicados questionários para obtenção de informações de consumo alimentar onde foi utilizado como referência para o consumo das vitaminas, a Estimated Average Requirement (EAR), sendo a quantificação do consumo das vitaminas realizada com o auxílio do software Dietsys (versão 3.0). Os dados coletados permitem inferir que dos 174 idosos, 5,17%; 13,79% e 89,65% apresentaram consumo abaixo do valor de referência de vitamina A, C, e E, respectivamente. Portanto, concluindo-se que existe uma carência nutricional relacionada às vitaminas A e C, e uma alta prevalência de deficiência de vitamina E. Logo, são necessárias estratégias de educação 29 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB nutricional no intuito de informar a essa população e seus respectivos familiares a importância do consumo adequado de alimentos fontes dessas vitaminas, com destaque para os ricos em vitamina E, permitindo assim contribuir na prevenção de doenças crônicas. Palavras-chave: Morbidade. Inadequação. Consumo. 1 INTRODUÇÃO Vitaminas são substâncias orgânicas, que são exigidas pelo organismo em pequenas quantidades para manter a vida e a saúde. Eles agem como catalisadores na formação de hormônios, enzimas, células sanguíneas, neurotransmissores e material genético. São essenciais para completar o metabolismo dos hidratos de carbono, proteínas e gorduras. A necessidade do corpo relacionada as vitaminas pode ser atendida pela dieta. As vitaminas solúveis em gordura, A e E têm propriedades antioxidantes e, como tal, quer bloquear a iniciação da formação de radicais livres ou eliminação dos mesmos (UGWA, 2015). Já a vitamina C além de ser antioxidante, alguns estudos mostraram a sua importância no desenvolvimento e homeostase óssea (KIM et al., 2015). Os micronutrientes com propriedade antioxidante podem possuir um importante papel na prevenção e no tratamento da obesidade e comorbidades associadas quando incluído em um padrão alimentar saudável, e também podem participar dos mecanismos protetores desses alimentos e modular o estado inflamatório e oxidante associado à obesidade (BRESSAN et al., 2009). Além disso, o consumo de micronutrientes com capacidade antioxidante poderia inibir vários processos 30 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB próaterogênicos na parede endotelial e prevenir a aterosclerose e suas manifestações clínicas (SCHEURIG et al., 2008). Estudos indicam que pro-medidas de proteção contra o estresse oxidativo pode aumentar a expectativa de vida dos mamíferos (HEMILÄ; KAPRIO, 2011). Sendo assim, a avaliação da ingestão de nutrientes é necessário para monitorar o estado nutricional (ZHANG et al., 2015), permitindo identificar as pessoas em risco nutricional devido à ingestão inadequada ou excessiva de nutrientes específicos, e assim planejar e avaliar projetos de intervenção de nutrição com o intuito de estabelecer as recomendações dietéticas e regulamentos alimentares (GIBNEY; SANDSTRÖM, 2001; SETTE et al., 2011). Troesch, Eggersdorfer e Weber (2012) em países ocidentais, observaram uma associação entre consumo inadequado de vitaminas e Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), em dados de inquéritos de consumo alimentar, mesmo em idosos saudáveis. As ingestões de várias vitaminas foram abaixo das recomendações em indivíduos adultos, realizado na Alemanha, Reino Unido, Holanda e EUA (TROESCH et al., 2012). A população idosa é uma das faixas etárias com maior risco de desnutrição e deficiências nutricionais devido ao declínio da função física e cognitiva e que prejudicam o consumo e a metabolização de nutrientes. Assim, a vigilância alimentar e nutricional têm sido comprovadas como essencial para a caracterização práticas alimentares e seus determinantes nessa população, com o objetivo de prevenir distúrbios nutricionais e de doenças relacionadas (FISBERG et al., 2013). 31 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB Uma ingestão desequilibrada de nutrientes estáassociada com o aumento da morbidade e mortalidade por doenças, incluindo diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, doenças cardiovasculares (DCV), câncer e outras (BRANCA; NIKOGOSIAN; LOBSTEIN, 2007; POPKIN; HORTON; KIM, 2001). Portanto, este trabalho tem como objetivo avaliar a prevalência de deficiência de vitamina A, E e C, em idosos do município de João Pessoa/PB. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa epidemiológica transversal, de base populacional, onde utilizou-se uma amostragem estratificada representativa da população de idosos, realizada nos cinco Distritos Sanitários do município de João Pessoa no período de julho de 2008 a janeiro de 2010. Participaram do estudo 174 idosos com idade entre 60 e 90 anos, de ambos os sexos, de diferentes condições socioeconômicas. Foram excluídos indivíduos com distúrbios neuropsiquiátricos; usuários de suplemento polivitamínicos, minerais, anorexígenos e anabolizantes. A coleta de dados foi realizada por meio de visitas domiciliares, por uma equipe devidamente treinada. Foram aplicados questionários para obtenção de informações de consumo alimentar e utilizado como referência para o consumo de vitamina A, E e C, o Estimated Average Requirement (EAR), com a recomendação diária de 625μg EAR /dia [masculino (M)] e 500μg EAR/dia [feminino (F)]; 12mg/dia (ambos os sexos) e 75mg/dia (M) e 60mg/dia (F), respectivamente (OTTEN; HELLWIG; MEYERS, 2006), sendo 32 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB a quantificação do consumo das vitaminas realizada com o auxílio do software Dietsys, versão 3.0 (BLOCK, 1988). Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, sob o protocolo nº. 0493. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados permitem inferir que dos 174 idosos, 5,17%; 13,79% e 89,65% apresentaram consumo abaixo do valor de referência de vitamina A, vitamina C e vitamina E, respectivamente. Estes resultados corroboram com o encontrado por Oldewage-Theron, Samuel e Djoulde (2009) onde constataram que 95% (131) dos indivíduos entre 60 a 93 anos tinham consumo inadequado de vitamina E. Na pesquisa de Kolahdooz, Spearing e Sharma (2013) em 136 indivíduos entre 19-50 anos e acima de 50 anos observaram consumo inadequado pela maioria dos participantes (<70% EAR) em 59% e 50% em homens e mulheres, respectivamente. Estima-se que > 90% dos norte-americanos e europeus possuem um consumo inadequado de vitamina E (TROESCH et al., 2012), já em pesquisas com público em geral constatouse que 90% e 96% não consomem a EAR, de 12mg de vitamina E, em homens e mulheres, respectivamente (MOSHFEGH; GOLDMAN; CLEVELAND, 2014). Em estudos epidemiológicos observacionais verificou-se que a ingestão inadequada de vitamina E pode ser associado com o risco de doença cardíaca (SINGH; DEVARAJ; JIALAL I, 2005; MCCULLOUGH et al., 2002), diabetes tipo II, e certos tipos de câncer (CONSTANTINOU; PAPAS; CONSTANTINOU, 2008). 33 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB No Brasil, foram analisados 4.322 indivíduos acima de 60 anos que apresentaram elevada prevalência de inadequação de micronutrientes, em destaque a vitamina E, que independente da região apresentou 100% de inadequação da ingestão em ambos os sexos (FISBERG et al., 2013). Sendo importante enfatizar que é crescente o número de evidências científicas que apontam o papel protetor dos nutrientes da dieta na etiologia e progressão das doenças crônicas (CARR; ZHU; FREI, 2000; KALIORA; DEDOUSSIS; SCHMIDT, 2006). Em relação à vitamina C, os estudiosos constataram que o consumo inadequado de vitamina C, refletido pelo baixo consumo de frutas e vegetais, foi associado ao tabagismo, considerado fatores de risco para a deficiência de vitamina C, em duas (norte e sul) comunidades pobres da Índia, em idoso com idade ≥ 60 anos. Nessas comunidades foram evidenciadas concentrações adequadas de vitamina C em 10% e 25%, norte e sul, respectivamente (RAVINDRAN et al., 2011). Os pesquisadores observaram que são necessárias um conjunto de medidas, incluindo política agrícola, desencorajar o uso do cigarro, promover a conscientização dessas comunidades através da educação para melhorar o consumo de alimentos ricos em vitamina C e contratação de nutricionistas locais, enfatizando a necessidade de informações sobre o estado nutricional dos idosos. A alta prevalência de deficiência de vitaminas lipossolúveis, dentre elas a vitamina A, pode constituir um problema de saúde pública. A magnitude deste problema na população em geral, particularmente, em pessoas com doenças crônicas pode ser severa. Deficiências de micronutrientes são comuns entre os idosos e é um fator de 34 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB risco independente para a ―síndrome da fragilidade ― em mulheres idosas (AFFENITO et al., 2007). Destacando que a vitamina A é um composto antioxidante, estando relacionada à redução do estresse oxidativo e de doenças crônicas degenerativas (GOMES; SAUNDERS; ACCIOLY, 2005). Pesquisas demonstram que o consumo regular de alimentos ricos em vitamina A e C pode reduzir a incidência de câncer retal e de cólon (BARBOSA et al., 2010). Nascimento, Diniz e Arruda (2007), buscando identificar a prevalência da deficiência de vitamina A, em 315 indivíduos ≥ 60 anos, de ambos os sexos do Programa de Saúde da Família (PSF), no município de Camaragibe, no estado de Pernambuco/Brasil, encontraram uma prevalência de deficiência de vitamina A de 26,1%, já no estudo de Gonçalves (1995) com idosos institucionalizados foi encontrado deficiência no consumo de vitamina A em 74% das mulheres e 86% dos homens avaliados, mostrando que existe uma carência nutricional relacionada a este micronutriente. No estudo de Fisberg et al. (2013) verificou-se que as prevalências de inadequação de vitamina A foram superiores a 70% nas regiões Norte, Nordeste e Centro, resultados superiores ao presente estudo. Em dados mundiais observou-se que mais de três quarto da população consomem menos do que o mínimo recomendado de cinco porções diárias de frutas e vegetais (HALL et al., 2009). Os autores colocam que a ingestão insuficiente, destes alimentos contribuem em aproximadamente 14% para câncer gastrointestinal, 11% das Doenças Infecto Contagiosas (DIC) e 9% das mortes por Acidente Vascular Encefálico (AVE) e aproximadamente 2,9% de mortalidade em geral no mundo (WHO, 2009). 35 PREVALÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A, E E C, EM IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB 4 CONCLUSÕES Conclui-se que existe uma carência nutricional relacionada às vitaminas A e C, e uma alta prevalência de deficiência de vitamina E. Logo, são necessárias estratégias de educação nutricional no intuito de informar a essa população e seus respectivos familiares a importância do consumo adequado de alimentos fontes dessas vitaminas, com destaque para os ricos em vitamina E, permitindo assim contribuir na prevenção de doenças crônicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFFENITO, S. G. et al. 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Uma vez que é bem aceito pelo consumidor devido a sua praticidade, por apresentar preços acessíveis e ser utilizada de maneiras diversas na culinária, a carne moída é um alimento que se destaca entre os produtos obtidos da carne bovina. Dessa forma, o trabalho objetivou analisar as condições microbiológicas e higiênicas sanitárias da carnes bovinas comercializadas no Mercado Público da cidade de Patos, PB, isolando e identificando Staphylococcus spp. que é um indicador da manipulação direta e inadequada de produtos. Foram coletadas um total de dez (10) amostras de carne bovina moída, devido ao seu elevado consumo. O estudo realizado foi do tipo transversal, quantitativo e observacional. As primeiras análises foram observacionais realizadas no momento da compra, por meio de avaliação das 39 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS propriedades da carne e das condições higiênicas sanitárias. Posteriormente foi feito as analises microbiológicas das amostras, para contagem de colônias. Diante das análises observacionais realizadas pode-se constatar que as carnes se encontravam em condições insalubres, expostas às mais variadas fontes de contaminação, como poeira, lixo acumulado e odores indesejáveis. Com relação a análise microbiológica pode-se observar em 100% das amostras a presença de Staphylococcus, diante das provas realizadas, catalase, coagulase e Coloração de Gram pode concluir-se que a mesma se tratava da espécie de Staphylococcus aureus. Concluindo-se que as amostras estão impróprias ao consumo humano. Palavras-chave: Condições. Avaliação. Consumo. 1 INTRODUÇÃO Diante dos avanços na sociedade contemporânea, houve um aumento da atenção dirigida à proteção e segurança alimentar dos consumidores em relação a todos os ramos da produção alimentar. Assim, nos últimos 50 anos o entendimento da segurança alimentar cresceu, chegando a tal ponto que o consumidor não aceita a possibilidade de contrair uma doença de origem alimentar (VESNA, 2009; SHAW, 2012). Nem sempre é fácil um controle de patógenos de origem alimentar. Muitos patógenos sobrevivem por longos períodos de tempo no ambiente e podem ser transmitidos aos seres humanos de varias maneiras. O crescimento de microorganismos em alimentos por vários fatores podem propiciar, prevenir ou limitar tal crescimento, sendo que os mais importantes são: atividade de água, temperatura, pH, 40 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS atmosfera e a presença de certos ácidos orgânicos (FORSYTHE, 2013). Nos hábitos alimentares dos brasileiros a carne bovina quase sempre está presente, todos os nutrientes encontrados na carne são importantes à saúde humana, servindo para a produção de energia, formação de novos tecidos orgânicos e regulação de processos fisiológicos (OLIVEIRA; SILVA; CORREIA, 2013; SILVA et al., 2011). Seu componente mais abundante é a água, sendo um dos principais responsáveis pelas características de maciez e suculência (CHENG; SUN, 2008). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que as doenças de origem alimentar são consideradas o maior problema de saúde pública, onde os manipuladores são tidos como responsáveis na maioria das vezes como veículos de contaminação, tendo uma participação que atingem até 26% das fontes contaminantes (LUNDGREN et al., 2009). Na comercialização das carnes um dos aspectos importantes a serem observados são as características físicas e sensoriais, pois as mesmas estão ligadas com a aceitação e satisfação do consumidor no momento da compra e de modo consequente o consumo do produto (OLIVEIRA et al., 2011). Pois os consumidores cada vez mais estão interessados por produtos que possam transmitir confiança, que possuam boas características organolépticas e que sejam atrativos aos olhos (ISRAEL et al., 2010). Nas condições de higiene os bioindicadores microbianos mais usados para avaliação da manipulação direta e inadequada do produto, usualmente os Staphylococcus são os escolhidos, estes, além de 41 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS bioindicadores, são também agentes etiológicos de toxinfecções alimentares (SILVA; BERGAMINI; OLIVEIRA, 2010). Uma vez que é bem aceito pelo consumidor devido a sua praticidade, por apresentar preços acessíveis e ser utilizada de maneiras diversas na culinária, a carne moída é um alimento que se destaca entre os produtos obtidos da carne bovina (PIGARRO; SANTOS, 2008; MENDONÇA; SILVA, 2012). E por ser amplamente consumida e por possuírem fatores intrínsecos que favorecem o desenvolvimento de micro-organismos deterioradores e patogênicos, em todas as etapas de seu processamento devese ter um controle higiênico-sanitária (JURE et al., 2010). Dessa forma, o trabalho objetivou analisar as condições microbiológicas e higiênicas sanitárias da carnes bovinas comercializadas no Mercado Público da cidade de Patos, PB, isolando e identificando Staphylococcus que é um indicador da manipulação direta e inadequada de produtos. 2 MATERIAIS E MÉTODO O estudo foi realizado com amostras coletadas no Mercado Público da cidade de Patos-PB, no período de março a abril de 2015. Foram coletadas um total de dez (10) amostras de carne bovina moída, devido ao seu elevado consumo. O estudo realizado foi do tipo transversal, quantitativo e observacional. As amostras foram compradas em bancas aleatórias, da forma que estavam sendo comercializadas, adquiridas na forma de consumidor. Foram transportadas dentro de caixas 42 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS isotérmicas com gelo, para manter a temperatura de refrigeração e evitar qualquer alteração até a chegada ao laboratório de Ciências Básicas das Faculdades Integradas de Patos-PB. As primeiras análises foram observacionais realizadas no momento da compra, por meio de avaliação das propriedades da carne. E das condições higiênicas sanitárias seguindo alguns critérios, tais como: manipulação, armazenamento e comercialização das carnes. A última análise realizada foi à microbiológica utilizando o isolamento e identificação de Staphylococcus, por a mesma ser considerado um bioindicador de manipulação direta e inadequada de produtos e por a mesma ser umas das causas de intoxicações alimentares, que causam desconforto ao ser humano. No laboratório pesou-se 25g da carne, e colocada em um saco plástico estéril contendo 225 ml de água peptonada para homogeneizar a amostra, utilizando o equipamento de homogeneização do Laboratório de Tecnologia e Inspeção de Leite e derivados – UFCG, Patos- PB, que resultou na primeira diluição (10-¹). Dessa diluição (10-¹), foi retirado 1,0 ml e transferido para um tubo de ensaio com 9,0 ml de solução salina peptonada, formando a segunda diluição (10-²). Posteriormente, foi retirado 1,0 ml da diluição (10-²) e transferido para um tubo com 9,0 ml de solução salina peptonada, formando assim a terceira diluição (10-³). Das diluições (10-¹), (10-²) e (10-³) retirou-se uma alíquota de 1,0 mL que foi depositado em placas com Agar Baird-Parker suplementado com 5% de ovo contendo Telurito de Potássio. As placas foram incubadas a 37º C por 48 horas e após a 43 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS incubação foram contadas as colônias típicas. Foram realizadas as provas de catalase, coagulase e coloração de Gram, e consideradas Staphylococcus coagulase positivas (SCP) as colônias que apresentaram reação positiva nos três testes. A análise dos dados microbiológicos foi baseada nos critérios da RDC Nº 12/2001, as características higiênico sanitárias foram analisadas de acordo com a RDC Nº 216/2004. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Diante das análises observacionais realizadas pode-se constatar que as carnes se encontravam em condições insalubres, expostas às mais variadas fontes de contaminação, como poeira, lixo acumulado e odores indesejáveis (Figura 1). FIGURA 1: Carnes comercializadas em condições insalubres, em cimas de bancadas, expostas a contaminação por micro-organismos. FONTE: Dados da Pesquisa. Os boxes de modo geral, apresentavam condições de higiene precária, nas quais os moveis e utensílios que estavam em contato direto com as carnes não eram 44 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS corretamente higienizados, uma vez que as mesmas não estavam sendo comercializadas em locais apropriados, sem até uma refrigeração adequada (Tabela 01). Tabela 01: Critérios avaliados sobre a comercialização e manipulação de carnes no Mercado Público de Patos-PB. Critérios Analisados Inadequação Adequação Ambiente limpo 100% 0% Balcões higienizados 100% 0% Armazenamento em locais apropriados 100% 0% Refrigeração adequada 100% 0% FONTE: Dados da pesquisa. Tais resultados são concordantes com o estudo feito por Santos; Carvalho; Bezerra (2014) onde se realizou a análise das condições higiênica sanitárias com propriedades da carne bovina vendida em mercados públicos de TeresinaPI, apresentando valores de 100% de inadequação, constatando que no local não havia ventilação, havendo ausência de janelas, não arejado, balcões de material impróprios (cimento), não impermeáveis e de difícil higienização, facilitando o acúmulo de contaminantes prejudiciais à saúde. A RDC Nº 216 de 2004 recomenda-se a renovação do ar e a manutenção do ambiente, garantidas pela a ventilação, para que sejam livres de fungos, para não comprometer a qualidade higiênica sanitária e a saúde do consumidor. 45 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS Ressaltando ainda que as superfícies sejam isentas de sujidades, rachaduras e fissuras para que os microorganismos não se propaguem contaminando os alimentos, onde os resultados obtidos nessa pesquisa são discordantes dessas normas, uma vez que o ambiente analisado não está enquadrado nesses critérios. Para Oliveira et al. (2011) as características físicas da carne estão associadas com a satisfação e a aceitação no momento da compra e consume de produtos, por isso, é importante que se adotem nos ambientes de comercialização práticas sanitárias e higiênicas das carnes, para agradar o consumidor. Os dados desse presente estudo se assemelham também ao estudo realizado por Miranda, Barreto (2012) observando que 100% dos ambientes que comercializam carnes nos Mercados Públicos se encontravam expostos a poeira em suspensão e a fumaça provocada pelo escapamento dos carros que trafegam na rua, tornando-se um fato agravante. Constatou também que a estrutura física estava desgastada e precária, o que inviabiliza a boa conservação desses alimentos comercializados nesses locais, acontecendo muitas vezes porque os manipuladores não são conhecedores das normas que ditam os critérios em relação as boas práticas de comercialização. Com relação à análise microbiológica pode-se observar em 100% das amostras a presença de Staphylococcus, diante das provas realizadas, catalase, coagulase e Coloração de Gram (Figura 2) pode concluir-se que a mesma se tratava da espécie de Staphylococcus aureus com grande 5 quantidade/contagem das colônias, variando de 10 a 106 UFC/g. 46 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS Figura 2: Foto de microscopia das amostras analisadas após a realização da Coloração de Gram. FONTE: Dados da pesquisa. Geralmente os S. aureus são micro-organismos originados da manipulação direta do alimento pelo manipulador, uma vez que o mesmo não se preocupa com sua higiene pessoal e o não uso de EPIs adequados que venham servir de barreira para que o micro-organismo não seja transmitido para o alimento, estando relacionados geralmente com surtos de intoxicação alimentar (MENDONÇA; SILVA, 2012). O número encontrado nesse estudo é semelhante ao feito por Grüspan et al. (1996) com 10 amostras de carne moída. Tais observações revelaram que na totalidade das amostras havia a presença do agente e o número foi muito próximo do número mínimo necessário para a produção de enterotoxina estafilocócica, suficiente para ocasionar manifestações de intoxicação alimentar. A RDC Nº 201 de 2001 recomenda que nos produtos cárneos crus, refrigerados ou congelados, apresentem o número mínimo inferiores a 5x103, para que não seja considerado contaminado, mas os valores encontrados no presente estudo foram superiores, da qual refletem que as 47 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS EM CARNES COMERCIALIZADAS NO MERCARDO PÚBLICO DE PATOS amostras analisadas estão improprias ao consumo humano, da qual poderá gerar danos à saúde. Os resultados obtidos também se assemelham com o estudo feito por Lundgren et al. (2009), que analisou o perfil da qualidade higiênico-sanitária da carne bovina comercializada em feiras livres e mercados públicos da cidade de João Pessoa-PB, encontrando em todas as amostras a presença de S. aureus. 4. CONCLUSÕES Conforme todos os resultados encontrados nesse presente estudo, tanto pelas condições higiênicas na qual as carnes são comercializadas e na analise microbiológica, por meio da contagem de micro-organismos, encontrando alta contaminação, concluindo-se que as carnes adquiridas no Mercado Público de Patos-PB, encontram-se improprias ao consumo humano. Onde os serviços de vigilância sanitária devem estar atentos para que haja uma rígida fiscalização, para que boas praticas sejam adotadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o ―Regulamento sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos e seus Anexos‖. 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Technologija Mesa. 50, (2009), 31–36. 50 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL CAPITULO4 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Ana Paula Paulino DE SOUSA1 Fernanda Hellen Donato MARQUES1; Ingllis de Souza RAMOS1; Stéphanny Sallomé Sousa OLIVEIRA2; Maria do Socorro Rocha Melo PEIXOTO3. Graduada em Biomedicina – Faculdade Maurício de Nassau- Campina Grande1 Graduada em Biomedicina – Faculdade Maurício de Nassau- Campina Grande e Pós graduanda em Citologia Clínica - Centro de Capacitação Educacional – CCE – Recife 2 Doutora em Recursos Naturais - Professora da Faculdade Maurício de Nassau – Campina Grande e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)Campina Grande 3 RESUMO: A procura por comidas exóticas, principalmente o hábito de comer peixes crus ou mal cozidos, acompanhado pelo crescimento de inúmeros restaurantes que oferecem em seus cardápios pratos como sush, sashimi e salmão consumidos vêm crescendo nos últimos anos, aumentando, portanto o número de casos de difilobotríase. A difilobotríase é uma parasitose intestinal adquirida por ingestão de peixes crus ou mal cozido infectado por larvas plerocercóides de um cestódio de gênero Diphyllobothrium. Diversas espécies de Diphyllobothrium podem parasitar os seres humanos, mas na América do Sul estes casos estão restritos a duas espécies: Diphyllobothrium pacificum e o Diphyllobothrium latum, sendo esta última a mais prevalente. Objetivou-se realizar uma revisão na literatura do número de casos notificados de difilobotríase ocorridos nos estados do Brasil, na última década, pelo consumo de salmão cru. Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica junto aos bancos de dados da 51 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL LILACS, MEDLINE e da vigilância sanitária com análise reflexiva do tema Difilobotríase. Palavras-chave: Ingestão. Peixe cru. Diphyllobothrium sp. 1 INTRODUÇÃO A globalização da economia mundial eliminou fronteiras trazendo novos desafios para clínicos, epidemiologistas e profissionais que atuam na área de diagnóstico laboratorial em relação ao estudo das parasitoses emergentes (SAMPAIO, 2007). Hoje, são conhecidos mais de 250 agentes patogênicos ou contaminantes que veiculados por alimentos ou água podem causar doenças. Entre as parasitoses que vêm chamando a atenção das autoridades em saúde, corresponde a difilobotríase, causada pelo Diphyllobothrium (EDUARDO; SUZUKI; MADALOSSO et al., 2005). A Difilobotríase é uma parasitose intestinal adquirida por ingestão de peixes crus ou mal cozido infectado por larvas plerocercóides de um cestódio de gênero Diphyllobothrium. O homem e várias espécies de animais piscívoros podem ser hospedeiros definitivos. Entretanto, esse parasita tem ciclo de vida complexo com hospedeiros intermediários como copépodes e espécies de peixes predadores com fase de vida na costa marítima e/ou em água doce. Conhecido como ―tênia do peixe‖, pode atingir até dez metros de comprimento e permanecer no intestino delgado por dez anos (BRASIL, 2005b). Diversas espécies de Diphyllobothrium podem parasitar os seres humanos, mas na América do Sul estes casos estão restritos a duas espécies: Diphyllobothrium pacificum e o 52 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Diphyllobothrium latum, sendo esta a mais prevalente (EDUARDO; SAMPAIO; GONÇALVES et al., 2005). O diagnóstico, muitas vezes, não se torna fácil por não ser um parasita muito comum, correndo-se o risco de ser confundido com outra parasitose, dessa forma o exame parasitológico pode não identificar o parasita e assim, o diagnóstico correto não ser realizado. Por isso sua real incidência é muito subestimada no mundo (YOUNES, 2005). Conforme Santos (2006) o consumo de peixe vem sendo cada vez mais estimulado por médicos, nutricionistas e até mesmo pela mídia devido às inúmeras vantagens que este alimento oferece: fonte de proteína de alto valor nutritivo com lipídeos insaturados de fácil digestibilidade, pequena quantidade de tecido conjuntivo presente na musculatura, 21% a mais de aminoácidos essenciais do que a carne bovina, com altos níveis proteicos e baixa taxa de gordura. Contudo, uma vez consumidos crus, semicrus ou parcialmente defumados e não tomadas às devidas medidas de controle e prevenção, o consumo desse tipo de alimento pode se tornar um problema para a saúde pública. A procura por comidas exóticas, principalmente o hábito de comer peixes crus ou mal cozidos, acompanhado pelo crescimento de inúmeros restaurantes que oferecem em seus cardápios pratos como sushi e sashimi vêm crescendo nos últimos anos, aumentando, portanto o número de casos de Difilobotríase (SAMPAIO, 2007). Esse tema tem despertado o interesse de milhares de pessoas, persistindo a necessidade de maiores esclarecimentos da infecção atual, de como se prevenir sem abrir mão de desfrutar desses produtos e quais devem ser as exigências para termos um produto de qualidade. Havendo a 53 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL necessidade da notificação dos casos diagnosticados, a fim de que os dados obtidos possam refletir o real número de pessoas atingidas pela patologia em questão no país. Objetivou-se realizar uma revisão na literatura do número de casos notificados de Difilobotríase ocorridos nos Estados do Brasil, na última década, pelo consumo de salmão cru. 2 MATERIAIS E MÉTODO 2.1 Tipo de pesquisa Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica junto aos bancos de dados da LILACS, MEDLINE e da vigilância sanitária com análise reflexiva do tema Difilobotríase. 2.2 Cenário Na tentativa de facilitar a compreensão do leitor e esclarecer o tema em questão, procurar-se-á descrever a parasitose, número de casos confirmados na última década bem como a forma de se prevenir a doença, demonstrando as áreas mais atingidas e os órgãos envolvidos na fiscalização. 2.3 População e amostra A amostra será constituída no número de casos confirmados através dos bancos de dados da LILACS e MEDLINE e da vigilância sanitária. 2.4 Critérios de inclusão 54 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Todos os casos de Difilobotríase que foram confirmados e notificados nos bancos de dados na última década. 2.5 Critérios de exclusão Não se aplica. 2.6 Instrumentos de coleta Artigos indexados no banco de dados da LILACS e MEDLINE. 2.7 Processamento e análise Foi utilizado nesta pesquisa o software Microsoft office/Excel (2003-2007) para apuração dos dados. 3 RESULTADOS E DISCUSÃO As notificações de casos de Difilobotríase em cada estado do Brasil de 2004 a 2008, em relação ao total de pessoas que foram parasitadas pelo D. latum estão representados na Tabela 1. Apontando o total de 92 casos, sendo o maior número identificado no estado de São Paulo. Tabela 1. Casos de Difilobotríase confirmados no Brasil no período de 2004 a 2008. Local Período Nº. de casos São Paulo Rio de Janeiro 2004-2008 2004-2005 68 13 Belo Horizonte Bahia João Pessoa 2004-2005 2004 2005 05 01 01* Brasília Porto Alegre Vitória Total 2006 2004 2008 01 01 02 92 55 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL *Caso não notificado. Fonte: Dados da Vigilância Sanitária. . Mediante os dados coletados nas informações colhidas através de artigos científicos, os dados foram apresentados na Tabela 1 para facilitar apresentação dos registrados de casos de difilobotríase nos estados do Brasil. No Brasil havia casos autóctones esporádicos ou de surtos da Difilobotríase até o ano de 2003. No final de 2004 e primeiro trimestre de 2005 foram notificados 45 casos no Sistema da Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DDTHA-CVE) no estado de São Paulo (EDUADO et al., 2004) . Dos 45 casos notificados, 25 dos pacientes (56,6 %) eliminaram fragmentos ou o parasita inteiro. Os demais casos foram confirmados através das amostras de fezes com ovos do parasita. O inquérito epidemiológico demonstrou que salmão importado do Chile e consumido em pratos crus tipo sushi e sashimi foram à espécie responsável pelo surto. Sampaio et al (2007) relata que, no estado de São Paulo foram registrados os primeiros casos autoctónes em março de 2005, na capital paulista atingindo 45 casos até maio de 2005. No município de Ribeirão Preto no estado de São Paulo, o primeiro caso de Difilobotríase autóctones foi diagnosticado em um estudante de 22 anos, onde o diagnóstico foi realizado através da clarificação de proglótides e pelo encontro de ovos operculados no exame microscópico das fezes do paciente. A investigação epidemiológica demonstrou que a fonte de infecção neste caso esteve relacionada à ingestão de sashimi e salmão cru (CAPUANO, 2005). Dados oficiais mais recentes do Estado de São Paulo (BRASIL, 2009a; BRASIL, 2009b) indicaram os seguintes números de casos de difilobotríase naquele estado por ano: 56 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL 2004 (16), 2005 (39), 2006 (9), 2007 (1), 2008 (3), com um total de 68 casos identificados por diagnóstico laboratorial por meio de exames de ovos /ou estróbilo. Salmão importado do Chile (procedente de Puerto Montt) seria o veículo associado a estes casos, apesar da incapacidade de detectar a presença de larvas do cestóide em amostras de peixe (LACERDA et al., 2007). Segundo Matos et al (2009) relatam também cinco casos na cidade do Rio de Janeiro associados ao consumo de sushi e sashimi. O biólogo Alejandro Vexenat, especialista em parasitologia médica e pesquisador do Uniceub investigaram cerca de três meses a ocorrência da Difilobotríase em Brasilia, através do parasitológico de fezes de 49 consumidores de sushi e sashimi dos quais 13 deles estavam contaminados pelo Diphyllobothrium latum (MADER, 2005). De acordo com o jornal Globo de 11 de janeiro de 2006, foi detectado em Brasilia o primeiro caso suspeito de Difilobotríase. Segundo a secretaria de saúde, a vítima, uma mulher de 25 anos teria sido contaminada em outro estado antes de chegar a Brasilia. Sobral (2005) relatou que em Belo Horizonte a vigilância sanitária decidiu investigar 6 casos de difilobotríase registrado na cidade em julho de 2004 a março de 2005 (SOBRAL, 2005). Santos et al (2005) relata um caso clínico de uma mulher de 29 anos de idade, que vivia em Salvador, Bahia, que procurou com queixas de desconforto gastrointestinal, incluindo vários dias de dor abdominal, diarréia, cólicas, e náuseas. Sua história clínica revelou que ela tinha comido peixe cru (sushi) com sua família alguns dias antes. 57 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL De acordo com Lacerda et al (2007) paciente do gênero feminino, 56 anos, natural de João Pessoa, Paraíba procurou atendimento médico em 2006 relatando ocorrência de diarreia, desconforto abdominal, flatulência e dores epigátricas. Foi encaminhada para o laboratório com a requisição de um exame parasitológico de fezes seriado. As amostras foram analisadas pelo método de Hoffman tendo sido detectada a presença de ovos operculados típicos de Diphyllobothrium Latum. A referida paciente não relatou viagem a países onde a doença é comum, mas sim que consumia peixe cru, principalmente salmão, em restaurantes na grande João Pessoa. O paciente CGF, de 65 anos, residindo em Porto Alegre viajou para New Orleans no início do ano de 2004, onde algumas de suas refeições foram pratos como camarão e peixe (aparentemente não cru) e também relatou uma passagem pelo continente europeu no ano de 2003 em países como Itália, Inglaterra e Espanha. No mês de julho, relatou dores abdominais leves e azia. Ao evacuar, suas fezes apresentavam os proglotes. O exame parasitologico de fezes foi realizado, seu resultado indicou a contaminação por D. Latum. No ano de 2008, a paciente ARD, do sexo feminino, com idade de 35 anos, residente na grande Vitória, ES, buscou atendimento médico que solicitou exames no laboratório de análises clínicas Deomar Bittencourt, suspeitando de gordura fecal. A amostra foi analisada pelo método de sedimentação espontânea (Método Hoffman Pons & Janner), onde foi comprovada a presença de ovos operculados típicos do Diphyllobothrium latum.O tratamento adotado pela paciente foi praziquantel 600 mg dose única sendo que após trinta dias, 58 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL um novo exame coproparasitológico realizado verificação de cura, foi negativo (MATOS et al., 2009). como Ainda de acordo com Matos et al (2009) a paciente TR, do sexo feminino, 62 anos, moradora de Vitória, ES, encaminhou ao laboratório de análises clínicas Deomar Bittencourt, amostra de fezes, também com suspeita de gordura fecal. O método utilizado para o diagnóstico foi o método de sedimentação espontânea (Método Hoffman Pons & Janner). O diagnóstico foi comprovado pela presença de ovos operculados típicos do Diphyllobothrium latum. A terapia utilizada pelo paciente foi praziquantel 600 mg dose única, sendo que após trinta dias, um novo exame coproparasitológico realizado como verificação de cura, foi negativo.De acordo com a investigação feita em relação ao numero de casos de D. latum entre 2004 a 2012, verifica-se que não foram notificados nenhum caso de 2009 até o ano 2012. Diante desses achados pode-se inferir que a ausência de casos de D. latum no período supracitado se deve a fiscalização feita pela vigilância sanitária de forma cautelosa e periódica nos restaurantes que possuem em seu cardápio peixes servidos crus ou defumados, verificando seus fornecedores, acompanhando a procedência do estoque e seu congelamento, identificando o tipo de espécie de pescado que está sendo utilizado e coletando amostras deste para análise, com a finalidade de evitar contaminação por peixe cru.Em pesquisa realizada por Eduardo; Sampaio; Suzuki et al (2005) através de uma investigação epidemiológica do surto de difilobotríase em São Paulo os principais sintomas apresentados por 29 pacientes sintomáticos de difilobotríase correspondem à diarréia, cólicas/dor abdominal, fraqueza, emagrecimento e anemia, como mostra Tabela 2. Tabela 2: Distribuição dos sintomas apresentados por 29 pacientes sintomáticos de difilobotríase, dentre 33 casos investigados entre março de 2004 a maio de 2005. 59 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Sintomas Nº Casos % 6 20,7 Vômito 5 17,2 Cólica/dor abdominal 15 51,7 Diarréia 25 86,2 Flatulência 7 24,1 Febre 5 17,2 Prurido cutâneo 4 13,8 Prurido anal 2 6,9 Erupção cutânea 2 6,9 Outras alergias 5 17,2 Emagrecimento 9 31,0 Falta de apetite 5 17,2 Anemia 5 17,2 Fraqueza 10 34,5 Dor de estômago 3 10,3 Dor de garganta 1 3,4 Dor no corpo 2 6,9 Desidratação 1 3,4 Estresse 1 3,4 Total 29 100,0 Náuseas Fonte: Sampaio et al ( 2005). Segundo Mezzari et al (2008) dentre as limitações do estudo, a identificação de casos com base no quadro clínico é difícil, pois a difilobotríase é uma doença de longa duração, em geral assintomática, ou com manifestações gastrintestinais triviais; sua detecção, exclusivamente por meio de testes laboratoriais, pode ser acidental. Igualmente, ele afirma que é difícil para o paciente relembrar características clínicas relevantes e correlacionar uma data específica de exposição; e, por se tratar de doença com manifestações tardias, é inviável analisar, em quaisquer circunstâncias, sobras dos peixes consumidos nos surtos. 60 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Vários relatos, na literatura, apontam que o surto dessa parasitose está relacionado a uma mudança nos hábitos alimentares em curso nos últimos dez anos no com o aumento do consumo de salmão, especialmente cru, e a adesão à culinária japonesa como sinônimos de comida saudável (SANTOS e FARO, 2004; CAPUANO et al., 2005; EMMEL et al., 2006; MEZZARI et al., 2008; LACERDA et al., 2007; LLAGUNO et al., 2008). 4 CONCLUSÕES A difilobotríase não corresponde a um novo tipo de infecção. É uma patologia emergente e reemergente em todo o mundo. O diagnóstico não se torna fácil por não ser um parasita muito comum, sendo confundido com outras parasitoses. Dessa forma, sua real existência é muito subestimada em todo o mundo. A transmissão se dá através do consumo de peixe cru ou mal cozido. Não ocorrendo transmissão direta interhumanos. Tradicionalmente esse tipo de infecção era freqüente somente em países onde se praticavam hábitos alimentares relacionados à forma de transmissão. No entanto, na atualidade essa infecção tem alcançado transcendência em numerosos países, devido à popularidade crescente de alguns pratos japoneses (sushi e sashimi) e peruanos (ceviche). 61 ESTUDO DO NÚMERO DE CASOS DE DIFILOBOTRIASE NO BRASIL Faz-se necessário que seja dada uma importância maior a difilobotríase, pelas autoridades sanitárias e profissionais da área de saúde, pois apesar de ser uma parasitose que pode ser tratada facilmente, o diagnóstico incorreto pode acarretar a morte do paciente. Doença antes inexistente no Brasil, mas que no ano de 2004 foi vivido um surto em São Paulo. No Brasil no período de 2004 a 2012, foram confirmados 76 casos, porém esses dados ainda estão muito abaixo do número real. É fundamental que haja uma fiscalização de forma cautelosa e periódica nos restaurantes que possuem em seu cardápio peixes servidos crus ou defumados, verificando seus fornecedores, acompanhando a procedência do estoque e seu congelamento, identificando o tipo de espécie de pescado que está sendo utilizado e coletando amostras deste para análise, com a finalidade de evitar contaminação por peixe cru, sem deixar também de alertar e esclarecer a população sobre seu consumo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonoses and Communicable Diseases Common to Man and Animals. 3. ed. Vol. III. Scientific and Technical Publication nº 580, Parasitoses. Washington, D.C.: PAHO 2003. ARAUJO; L. O., SANGIONI; L. A, BOTTON S. A., VOGUEL; F. S. F. 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Revista Carta Capital, São Paulo n. 76, abril 2005. 64 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ CAPÍTULO 5 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Roana Rayara Silva SOARES 1 Suedna da Costa SILVA2 Eliacilene Alves de SOUZA2 Raabe Seabra de LIMA2 Raphaela Araújo Veloso RODRIGUES3 1 Nutricionista; 2Aluna de Nutrição da UFCG; 3Professora de Nutrição da UFCG. RESUMO: A Síndrome Metabólica (SM) consiste em um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. Associada com doenças cardiovasculares, estas responsáveis pelo aumento da mortalidade geral em 1,5 vezes. O presente estudo propõe estimar a prevalência de SM em idosos vinculados a programas assistenciais de saúde, comparar a prevalência diagnosticada pelos critérios National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III – NCEP-ATP III revisado e a International Diabetes Federation – IDF e caracterizar o perfil social, bioquímico e antropométrico do grupo avaliado. Participaram do estudo, 27 idosos de ambos os sexos, submetidos a um questionário estruturado incluindo informações clínicas, antropométricas, alimentares e bioquímicas, estas últimas comparados aos critérios citados. O resultado desse estudo apontou segundo o critério NCEP-ATP III revisado, 55,56% da prevalência de SM na amostra, enquanto que pelo IDF apresentou-se superior em mais da metade dos idosos, com 81,48%, persistindo também o 65 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ aumento de um critério para outro, em relação ao gênero, onde em sua maioria foram mulheres com 40%, segundo NCEP-ATP III revisado e 53,33% de acordo com o IDF. Diante dos dados elevados, pode-se concluir que, na população estudada, a SM é um problema de Saúde Pública. Exigindo das redes assistenciais de saúde um acompanhamento detalhado, por parte de uma equipe multidisciplinar, sobretudo em Idosos Vinculados A Programas Assistenciais De Saúde. Palavras-chave: Síndrome Metabólica. Prevalência. Idosos. 1. INTRODUÇÃO A Síndrome Metabólica (SM), inicialmente denominada ―síndrome X‖ por Gerald Reaven ou ―síndrome de resistência à insulina‖, está associada às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e embora tentativas iniciais para defini-la tenham levado a ampla discrepância de critérios de diagnósticos, as definições atuais proporcionam uma maneira útil e prática de se identificar indivíduos com risco aumentado para desenvolver diabetes mellitus do tipo 2, doença cardiovascular aterosclerótica e morte cardiovascular. Nos últimos anos, dois sistemas de classificação ou critérios de diagnósticos para a SM vêm sendo amplamente utilizados, publicados pelo International Diabetes Federation (IDF) e National Cholesterol Education Program - Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III). Eles apresentam similaridade quanto aos fatores de risco cardiovasculares, incluindo obesidade abdominal, intolerância à glicose e resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial (SAAD; ZANELLA; FERREIRA, 2006). 66 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Considerando que a transição demográfica e epidemiológica que acontece no mundo é resultado dos avanços da ciência e da melhoria das condições sanitárias, que tem como consequência o aumento absoluto e relativo da população idosa e que nos países em desenvolvimento, como o Brasil, esta transição está ocorrendo de forma rápida, tornase necessário à reorganização dos serviços de saúde objetivando melhorar a assistência prestada a esta crescente população (MONTANHOLI et al., 2006). O envelhecimento é um processo acompanhado por alterações das necessidades biológicas e psicossociais. Constatando que dentre as principais mudanças, as que são ligadas a alimentação e nutrição merecem maior atenção (CHAGAS, 2013). No Brasil a expectativa de vida apresentou uma elevação de 33 para 68 anos durante o século XX. Realidade confirmada com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2012), a qual demonstra que a população de idosos ultrapassa 24 milhões, correspondendo a aproximadamente 13% da população brasileira. As projeções para o ano 2020 estimam 32 milhões de indivíduos acima de 60 anos, o que colocará o Brasil na sexta posição mundial em número de idosos (DUARTE; REGO, 2007). Dada a associação positiva entre o avanço da idade populacional e a prevalência de doenças crônicas e incapacitantes, essas devem ser devidamente tratadas e acompanhadas ao longo dos anos, caso contrário podem apresentar complicações e sequelas que comprometam a independência do indivíduo idoso (SAKAKI et al., 2004 apud STEINMETZ et al, 2009). Neste contexto, esta pesquisa objetivou determinar a prevalência da SM em idosos vinculados a programas 67 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ assistenciais de saúde do idoso de um município de pequeno porte do Curimataú Paraibano, contribuindo tanto para o conhecimento demográfico e epidemiológico dessa população, quanto para a identificação do estado de saúde dos envolvidos no estudo, em especial sobre o risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 2. MATERIAIS E MÉTODO O estudo realizado foi do tipo observacional, analítico, utilizando-se o modelo de corte transversal, de natureza quantitativa, realizado no período de maio de 2014 a março de 2015, com idosos do município de Cuité- PB. No estudo foram incluídos idosos vinculados aos grupos de convivência Alegria de Viver e De Bem com a Vida. Estes que contam com uma frequência esporádica, em média de cinquenta pessoas. São abertos para todos os públicos, entretanto, dentre os frequentadores se inserem uma faixa etária apenas de adultos acima de 30 anos, se estendendo a idosos acima de 60 anos. Como critério de inclusão no projeto, teve-se a obrigatoriedade da idade mínima de 60 anos, o vínculo com os dois grupos acima citados, apresentar exames bioquímicos recentes, para a obtenção dos valores bioquímicos mais atualizados e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Conseguinte, deu-se início a entrevista por meio de um questionário estruturado por Medeiros (2009) e adaptado a realidade desse estudo. Este incluiu avaliação: clínica, envolvendo a presença de patologias prévias, história familiar, uso de fármacos e aferição da pressão; alimentar, por meio da 68 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ anamnese, recordatório de 24 horas e questionário de frequência alimentar; antropométrica, para a coleta de peso, altura e circunferência da cintura e bioquímica, obtidos a partir de exames recentes do paciente, fornecidos pelo serviço de saúde municipal. Para o diagnóstico da SM utilizaram-se os critérios do National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III), revisado e da International Diabetes Federation (IDF), apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Comparação entre os instrumentos utilizados para o diagnóstico da Síndrome Metabólica. IDF (2004) NCEP – ATP III revisado (2005) Para europeus: Cintura ≥ 94cm em homens ou Para europeus: Cintura ≥ 102cm (homens) ou ≥ 80cm em mulheres ≥ 88cm (mulheres) e 2 ou mais dos seguintes: e 3 ou mais dos seguintes: Glicemia ≥ 100mg/dL ≥ 100mg/dL HDL-colesterol < 40mg/dL (homens) < 50mg/dL (mulheres) < 40mg/dL (homens) < 50mg/dL(mulheres) Triglicerídios ≥ 150mg/dL ≥ 150mg/dL Obesidade Androgênica Para europeus ≥ 94cm (homens) ou Cintura ≥ 102cm (homens) ou ≥ 80cm (mulheres) ≥ 88cm (mulheres) Hipertensão ≥ 130/85mmHg ≥ ou ≥ 130/85mmHg ≥ ou em tratamento medicamentoso em tratamento medicamentoso Requerimento Fonte: Steinmetz. et al, 2009. Com o objetivo de comparar a prevalência da SM pelos dois métodos acima apresentados. Os dados foram todos 69 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ catalogados em tabela do Excel, transferidos para uma tabela do programa Sigma STAT 13.1. Todos os protocolos do estudo seguiram os princípios éticos presentes NA Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e submetidos ao Comitê de Ética e Pesquisa. Todos os voluntários ou responsáveis assinaram o TCLE em duas vias, após leitura dos objetivos e das etapas da pesquisa. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As características gerais e estilo de vida do grupo em relação ao gênero, faixa etária, escolaridade, situação do lar e previdenciária, etnia, tabagismo, etilismo e prática de atividade física por no mínimo 3x/semana, foram analisadas inicialmente. Na distribuição da amostra por gênero e faixa etária, foi observado que o maior percentual da amostra encontrava-se na faixa etária entre 60 e 69 anos (59,26%) e em sua maioria eram mulheres, compondo 88,89%. Tais resultados corroboraram com os dados do IBGE (2009), que quantifica a população idosa de Cuité em 47,86%, sendo 54,6% do gênero feminino. A maior prevalência de mulheres pode ser justificada pelo fato do presente estudo ter avaliado apenas indivíduos inseridos em grupos de idosos ativos, programas e ações voltadas à terceira idade, que mostram o grande predomínio de mulheres. Nos critérios de etnia e escolaridade, a prevalência maior foi em idosos brancos (73,08%) e alfabetizados (62,96%). Quanto à situação previdenciária o predomínio foi de idosos beneficiados pela aposentadoria (100%), entretanto esse custeio não é favorável para proporcionar ao idoso uma 70 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ melhor qualidade de vida. Em relação a etilismo e tabagismo os valores foram negativos, resultando em 88,89% e 100%, respectivamente, dos participantes que não faziam uso. Resultados similares ao estudo de Medeiros (2009) em relação a estes critérios, onde foram encontrados 59% brancos, 84% alfabetizados, 87,5% aposentados, 66% e 94,6% que não faziam uso de álcool e tabaco, respectivamente. Em relação aos dados antropométricos, os valores das medianas encontradas, foram 68,65 anos, 65,4kg e 1,53m, que são próximos aos apresentados na pesquisa de Chagas (2013), com médias de 70,7 anos, 63,7kg e 1,5m, para idade, peso e estatura, respectivamente. Para os valores médios da circunferência da cintura, entre os indivíduos que foram diagnosticados com SM, a média foi de 99,25cm, próximo aos valores de Dalacorte (2008), onde os homens apresentaram 104,5cm e as mulheres 96cm. Quanto aos valores médios dos parâmetros bioquímicos, expostos na tabela 1, apenas no parâmetro de triglicerídeo a mediana foi acima do nível adequado, resultado similar a Medeiros (2009). Tabela 1 – Valores médianos para HDL colesterol (HDL), triglicerídeos (TG) e glicose (GLC) para os Idosos Não Institucionalizados. Parâmetros bioquímicos Idosos Triglicerídeos (mg/dL) 172 (148,5-240)A HDL (mg/dl) 44,5 (37-50)A Glicose (mg/dL) 90 (75,5-109,25)A Valores são medianas (P25 – P75). Medianas que não compartilhem a mesma letra são significativamente diferentes medianas (P25 – P75) que compartilhem a mesma letra são significativamente iguais. 71 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Observando os valores dos fatores determinantes para o diagnóstico da SM pelos crietérios do IDF e NCEP-ATP III revisado, foi encontrada semelhança em ambos. O percentual de pessoas com os níveis acima do recomendado de triglicerídeos, HDL, glicose e pressão arterial, foram, de 70,37%, 74,07%, 44,44% e 81,48%, respectivamente, nos dois critérios, diferindo apenas na circunferência da cintura, com o IDF apesentando valores de inadequação mais elevados (96,29%) que o NCEP-ATP III (77,78%), em virtude dos pontos de cortes distintos, segundo Steinmetz et al. (2009). Na tabela 2 apresenta a prevalência da SM nos idosos segundo os critérios do IDF (presença de obesidade androgênica mais dois critérios) e do NCEP-ATP III revisado (presença de obesidade androgênica mais três critérios). E na tabela 3 a prevalência da SM por gênero. Tabela 2 – Distribuição dos indivíduos com e sem SM, pelos critérios do IDF e NCEP-ATP III revisado. SM (+) N(%) SM (-) N(%) Total N(%) NCEP 15 (55,56) 12 (44,44) 27 (53,00) IDF 22 (81,48) 5 (18,22) 27 (53,00) Valores definidos em números absolutos e proporções (%). SM (+): Síndrome Metabólica Presente; SM (-):Síndrome Metabólica Ausente. 72 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Tabela 3 – Distribuição dos indivíduos com e sem SM, estratificados peso gênero, por meio dos critérios IDF e NCEP-ATP III revisado. IDF NCEP SM + N(%) SM – N(%) SM + N(%) SM – N(%) 1 (11,11) 8 (88,89) 0 (0,00) 9 (100,00) 9 (37,5) 9 (60,00) 15 (62,5) Total N(%) 24 (100) H M 8 (53,33) 7 (46,67) 6 (40,00) Valores definidos em números absolutos e proporções (%). SM (+): Síndrome Metabólica Presente; SM (-):Síndrome Metabólica Ausente. H: Homem; M: Mulher. Pode-se observar que a prevalência de SM foi menor segundo o NCEP-ATP III revisado, quando comparado com o IDF, tendo unanimidades entre as mulheres nos dois critérios. Resultados similares foram os encontrados por Lima et al. (2006) que observaram prevalência da SM diagnosticada pelo critério do IDF significativamente maior do que pelo NCEPATP III revisado (51,3% vs. 38,2%). Assim como os dados de Santos e Ruiz (2007) onde a prevalência da SM em idosos foram, maiores entre as mulheres (41,66%) do que entre os homens (26,66%). O que chamou a atenção foi à alta prevalência da SM ter sido expressa entre esses idosos, visto que são ativos. É importante destacar que o exercício físico representa um fator de proteção para DCV e DM, em uma influência significativa na redução do peso, redução da circunferência abdominal, melhorando a sensibilidade à insulina e interferindo nos níveis de triglicerídeos e HDL, fatores determinantes da SM, entretanto somente a prática de atividade física não é suficiente para garantir a homeostasia do organismo. 73 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Entretanto, existe um conjunto de fatores determinantes para o desenvolvimento da SM, como alimentação balanceada e a ingestão medicamentosa correta, com horários regulares. Fatores estes que devem ser investigados na população estudada de modo a estabelecer os principais comportamentos de risco para a SM. 4. CONCLUSÕES Tendo como embasamento os resultados encontrados no presente estudo, pode-se concluir que, na população estudada a SM mostra-se como um problema de Saúde Pública, dada a prevalência significativa da patologia. O critério de diagnosticado estabelecido pelo IDF teve maior expressividade em relação ao NCEP ATP III revisado na prevalência de SM entre os idosos incluídos neste estudo, visto os pontos de cortes mais rigorosos. Diante disso, outros estudos são necessários no sentido de analisar com maior profundidade os aspectos relacionados ao estado nutricional e consumo alimentar dos idosos, incluindo: avaliação de parâmetros bioquímicos, influência de doenças e medicamentos na alimentação, avaliação quantitativa do consumo de macro e micronutrientes, assim como estudos locais que definam estes índices nas distintas populações e etnias. Observa-se ainda a necessidade de acompanhamento dos idosos por equipe multidisciplinar, com presença de um profissional Nutricionista, visto o grande impacto do fator dietético na prevenção e tratamento da SM. 74 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Fátima. et al. Validação do Índice de Barthel numa amostra de idosos não institucionalizados. Revista Portuguesa de Saúde Pública, Porto, v. 25, n. 2, p.59-66, jun./dez. 2007. CHAGAS, Layana Rodrigues. Estado Nutricional e consumo alimentar de idosos assistidos na estratégia saúde da família. 2013. 68f. Monografia (Pós-Graduação – Mestrado em Saúde da Família) – Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, 2013. DALACORTE, Roberta Rigo. Síndrome metabólica e atividade física em idosos de uma comunidade do sul do Brasil. 2008. 88 f. 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Prevalência de síndrome metabólica em idosos participantes do hiperdia no município de 75 PREVALÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS VINCULADOS A PROGRAMAS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE DO IDOSO DO MUNICÍPIO DE CUITÉ Cascavel – PR. Curso de Nutrição pela Faculdade Assis Gurgacz – FAG, Cascavel, 2007. p. 18. STEINMETZ, Q. L. et al. Prevalência de síndrome metabólica e sua associação com risco. In: SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PUCRS, 10., 2009. Porto Alegre. Anais. 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E-mail: [email protected] RESUMO: A população rural é uma das mais acometidas por adversidades ligadas ao próprio ambiente, como a seca, e possui uma maior dificuldade de acesso às ações de educação, saneamento e saúde. Assim, o presente estudo tem como objetivo determinar a prevalência de insegurança alimentar em famílias da zona rural de Cuité, Paraíba, bem como descrever o estado nutricional de um dos membros dessas famílias. Essa pesquisa considera a amostra do estudo seccional representativo da população do município de Cuité realizado em 2011, sendo, em 2014, retornados todos os domicílios rurais pesquisados. Neste ano, os entrevistadores se dirigiam aos domicílios com as informações coletadas em 2011 e com um novo questionário, o qual abordou informações socioeconômicas, ambientais e demográficas, 77 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO sobre segurança alimentar e nutricional através da EBIA e sobre dados antropométricos. Dos 100 famílias estudadas, 56% apresentaram insegurança alimentar e nutricional (ISAN), sendo mais frequente a categoria de ISAN leve (34%). Quanto ao estado nutricional, 52,5% dos entrevistados foram classificados com sobrepeso/obesidade. Dos indivíduos com insegurança alimentar, 57,1% foram classificados com sobrepeso/obesidade. Conclui-se que a insegurança alimentar pode estar relacionada não somente ao acesso e a quantidade de alimentos, mas a redução da qualidade nutritiva dos mesmos. Palavras-chaves: Segurança alimentar e nutricional; distúrbios alimentares; renda. 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o governo federal tem colocado o problema da fome na pauta política através do Programa Fome Zero e da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN). Em outubro de 2001 foi lançado o ―Projeto Fome Zero‖, pelo candidato a presidente da época, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, com a sua vitória, o projeto Fome Zero transforma-se na principal estratégia governamental para orientar as políticas econômicas e sociais, que agregou no conjunto de suas ações um arranjo complexo de programas e de modelos de intervenção (PELIANO, 2010; SILVA, DEL GROSSI, FRANÇA, 2010). A promulgação da Lei Orgânica da SAN – LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006) traz diretrizes para a instituição de uma política para garantia do Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) e também conceitua o 78 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO fenômeno da SAN. Assim, segundo a LOSAN, entende-se por SAN a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (BRASIL, 2006). Partindo desse conceito, se reconhece o quão abrangente e interdisciplinar é o conceito de SAN e sua tradução em ações públicas, pois transita por diferentes dimensões do conhecimento e setores do governo, a exemplo da agricultura, renda, nutrição, educação e programas e ações relacionadas a SAN (CAISAN, 2011). A Pesquisa Suplementar de Segurança Alimentar, que tem por objetivo estimar as prevalências da situação de SAN de famílias brasileiras, demostrou que entre 2009 e 2013, houve redução (de 30,2% para 22,6%) do número de famílias em situação de Insegurança Alimentar e Nutricional (ISAN), ou seja, sem acesso permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Entretanto, o nordeste foi a região que apresentou maior prevalência de ISAN domiciliar (38,1%). Além do mais, observou-se que a ISAN foi maior nos domicílios da área rural do que da urbana, com 35,3% e 20,4% respectivamente (IBGE, 2014). Outro indicador que caracteriza a ISAN é o estado nutricional da população adulta. A análise de indicadores de saúde e nutrição expressa as múltiplas dimensões da ISAN, permitindo analisar a situação e construir uma agenda de políticas públicas coerentes com as necessidades da 79 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO população (BRASIL, 2015). Kleppe e Segall-Corrêa (2011) relatam que alterações no estado nutricional, implicações negativas para a saúde e qualidade de vida são possíveis consequências do convívio com situações de ISAN. Apesar da redução dos índices de déficit de peso, o Brasil, como também outros países em desenvolvimento, tem aumentado a prevalência de indivíduos com excesso de peso e obesidade. Tal situação foi evidenciada na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, que avaliou o estado nutricional da população adulta, demostrando que a prevalência de déficit de peso em adultos foi de 2,7%, enquanto que o diagnóstico de obesidade foi feito em 12,5% dos homens e em 16,9% das mulheres (IBGE, 2010). Contudo, ainda são poucas as investigações em populações da zona rural, onde tal relação pode ser mais complexa devido a inúmeros fatores como desigualdade social, pobreza, entre outros. Com base nessas referências, o presente estudo tem como objetivo apresentar a prevalência de ISAN da zona rural de um município do sermiárido paraibano, bem como descrever o estado nutricional de um dos membros dessas famílias. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho trata-se de um estudo transversal e está incluído na pesquisa longitudinal intitulada: ―Segurança Alimentar e Nutricional em município de pequeno porte: uma análise longitudinal das políticas públicas e da situação de insegurança alimentar da população‖ (SAN CUITÉ II). Para realização desta pesquisa, se considerou a amostra do estudo 80 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO seccional representativo da população do município de Cuité realizado em 2011, intitulado ―Segurança Alimentar e Nutricional: formação de uma política local em município de pequeno porte‖ (SAN CUITÉ I). Assim, a amostra do SAN CUITÉ I foi baseada em dados populacionais do censo demográfico de 2010, os quais estimam 3955 domicílios situados na zona urbana de Cuité e 1914 na zona rural, totalizando 5869 domicílios particulares permanentes no município. A amostra foi calculada com a técnica de Amostragem Aleatória Estratificada, na qual o município foi dividido em área urbana e rural. Com base nestes dados foi calculada a amostra representativa do município, que resultou em 360 domicílios. Utilizou-se o erro amostral máximo de 5% sob nível de confiança de 95%. A estimativa esperada de segurança alimentar foi de 50% para maximizar o tamanho da amostra. A partir do registro municipal do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) foram sorteados os domicílios a serem pesquisados na zona urbana. Na zona rural, construiuse um plano cartesiano no mapa cartográfico rural do município, e assim foram sorteados 12 pontos aleatórios, que englobaram 16 localidades rurais. Ao final do trabalho de campo foram pesquisados 358 domicílios, sendo 114 localizados na zona rural. Em 2014, através do SAN CUITÉ II, os entrevistadores retornaram aos domicílios pesquisados em 2011. Foram pesquisados 326 domicílios, entre os meses de maio e agosto, havendo a perda de 32 domicílios. Essas perdas foram decorridas, em sua maioria, de mudança de cidade, falecimento ou demência, novos endereços não encontrados e 81 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO recusas. O período de coleta de dados tornou-se mais extenso do que planejado pela equipe devido a dificuldade enfrentada para encontrar as famílias que haviam mudado de endereço, de forma a tentar reduzir o número de perdas. Com isso, considerando o interesse em caracterizar a população rural do município, a amostra final consiste apenas em 100 domicílios rurais visitados em 2014. Houve a perda de 14 domicílios com relação a 2011, pelos mesmos motivos descritos acima. Assim, foram abordadas informações socioeconômicas, ambientais e demográficas, dados antropométricos e de SAN, através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). A EBIA é um instrumento de pesquisa para avaliação da experiência de indivíduos com situações de ISAN e fome. Esta Escala classifica a família em SAN e ISAN, podendo esta ser nas formas leve, moderada e grave. Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) afirmando que concordaram em participar da pesquisa. Os questionários, juntamente com um canhoto do TCLE, foram arquivados nas dependências do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO) na Universidade Federal de Campina Grande. Os questionários foram digitalizados utilizando o programa Microsoft Access. Para a validação dos dados e limpeza do banco utilizou-se o programa Epi info, versão 3.3.2. Após esta etapa, para a análise estatística descritiva, foi usado o Programa SPSS for Windows versão 13.0. Para a classificação da renda mensal per capita foram considerados os rendimentos totais da família, incluindo o 82 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO benefício do Programa Bolsa Família para aqueles que recebem. E para categorização do estado nutricional, adotaram-se as referências do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008). Aspectos Éticos O projeto de pesquisa SAN CUITÉ II foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides Carneiros da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) CAAE: 0102.0.133.000-1. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram estudados 100 domicílios atendendo ao baixo percentual de perdas que deve ser considerado como uma vantagem neste estudo. Na Tabela 1 estão descritos os dados socioeconômicos e ambientais das famílias pesquisadas. Do total dos domicílios estudados 93% apresentaram condições de moradia do tipo alvenaria acabada. Com relação ao esgotamento sanitário, 65% dos domicílios possuíam fossa negra ou rudimentar, seguido de 25% de esgotamento a céu aberto, condições sanitárias estas que influenciam na condição de saúde, podendo levar a agravamentos da situação do estado nutricional da população. No que diz respeito ao acesso à água, 83% dos domicílios são abastecidos por cisternas, sendo o abastecimento destas, proveniente da chuva ou de caminhão pipa fornecido pelo exército ou pelas prefeituras municipais. Para algumas famílias foi registrada, ainda, a compra de água para o abastecimento dos reservatórios, devido ao período de 83 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO estiagem vivenciado nos anos atuais. Segundo CAISAN (2011), é na região do Nordeste Brasileiro que aparecem os índices mais baixos de domicílios atendidos por rede geral de abastecimento de água no total de domicílios (78%). Na perspectiva de assegurar abastecimento de água às famílias, algumas comunidades rurais do semiárido brasileiro têm sido contempladas com programas como ―Um Milhão de Cisternas - P1MC‖ e ―Uma Terra e Duas Águas – P1+2‖, vinculados ao Ministério do Desenvolvimento Social – MDS. Brito et al (2012) referem que as cisternas são alternativas tecnológicas disponibilizadas para amenizar o quadro de instabilidade de pequenos agricultores familiares que precisam armazenar a água proveniente da chuva para garantir este bem natural para consumo humano, bem como para produzir alimentos. Durante a pesquisa de campo, a partir dos relatos dos entrevistados, observou-se a maioria das famílias rurais de Cuité possuem cisternas do programa P1MC, porém as cisternas do tipo calçadão ainda não foram disponibilizadas para a maioria da comunidade. Visando conhecer a distribuição dos rendimentos mensais, foi observado ainda que há um predomínio (76%) de famílias com renda mensal familiar per capita de até ½ salário mínimo, sendo 53% abaixo de ¼ do salário mínimo, caracterizando a situação de vulnerabilidade social. Esta prevalência se mostrou superior a da região Nordeste, na qual o município de Cuité está inserido. Segundo o IBGE (2008), 44,9% da população do Nordeste brasileiro estão abaixo da linha de pobreza (rendimento menor que ½ salário mínimo per capita). Também foi observada relação entre a situação de insegurança alimentar e nutricional e a renda mensal familiar 84 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO per capita, verificando que 66,1% das famílias com ISAN possuem renda mensal familiar per capita de até ¼ do salário mínimo. TABELA 1: Descrição das características socioeconômicas e ambientais das famílias residentes da zona rural do município de Cuité (PB), Brasil, 2014 Nº a % Alvenaria acabada 93 93 Outros b 7 7 Rede pública coletora de esgoto 4 4 Fossa séptica 6 6 Fossa negra ou rudimentar 65 65 Esgoto a céu aberto 25 25 Variável Tipo de moradia Esgotamento Origem da água Cisterna e rede pública 7 7 Cisterna 83 83 Poço artesiano 1 1 Busca água fora 9 9 Até ¼ salário mínimo c 53 53 Até ½ salário mínimo 23 23 24 24 Renda mensal familiar per capita Acima de ½ salário mínimo a Fonte: Dados coletados em Cuité, Brasil, 2014. Número na amostra. b c Outros = alvenaria inacabada, taipa e madeira. salário mínimo = 788,00 reais. Com relação aos dados sociodemográficos dos indivíduos que tiveram o peso e a altura aferidos para o cálculo do IMC, foi observado que 81% eram do sexo feminino, com maior prevalência (77%) de entrevistados com idade entre 19 e 59 anos, sendo ainda 20% com idade 85 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO superior a 60 anos. Com relação à escolaridade, 21% declararam não possuir escolaridade e 79% relataram possuir ensino fundamental incompleto. Quanto à ocupação, 53% referiram possuir trabalho, prevalecendo a agricultura como fonte de renda, e 22% eram donas de casa. Na Tabela 2, verifica-se que menos da metade das famílias residentes na zona rural do município (44%) foram classificadas na categoria de SAN, prevalecendo assim, a condição de ISAN. Dentre as categorias de ISAN, predominouse a forma leve (34%), sendo que 2% foram classificados na forma grave, ou seja, convivem com a situação real de fome, na qual os adultos e/ou as crianças residentes nesses domicílios deixaram de realizar refeições ou mesmo ficaram até um dia inteiro sem comida. TABELA 2: Prevalência de Segurança Alimentar e Nutricional da família, segundo escala EBIA, e estado nutricional de um membro da família residente na zona rural do município de Cuité (PB), Brasil, 2014 Variável EBIA Segurança Alimentar e Nutricional IAN b Leve IAN Moderada IAN Grave Estado Nutricional (IMC) Baixo Peso Eutrófico Sobrepeso Obesidade No a % 44 34 20 2 44 34 20 2 2 45 39 13 2 45,5 39,4 13,1 a Fonte: Dados coletados em Cuité, Brasil, 2014. Número na amostra. Total da amostra da variável EBIA = 100 participantes e total da Variável b estado nutricional = 99 participantes. IAN: Insegurança Alimentar e Nutricional. 86 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO Segundo o IBGE (2014), através da PNAD 2013, o estado da Paraíba apresenta uma prevalência de SAN de 63,5%, estando a zona rural do município de Cuité inferior a média do estado no qual está localizado. Entretanto, ao comparar com dados da zona rural da região Nordeste, com prevalência de SAN de 49,9%, esta pesquisa apresenta-se semelhante, mostrando que a situação de ISAN é comum nas zonas rurais desta região brasileira. Vianna e Segall-Corrêa (2012), realizaram, em 2009, um estudo sobre a situação de ISAN de municípios pobres do semiárido paraibano, os resultados apontaram para uma prevalência de ISAN superior a 50% dos domicílios pesquisados, o que mostra que municípios do interior da Paraíba convivem com a situação de, no mínimo, ter a preocupação de faltar a alimentação do dia a dia. Ainda de acordo com a Tabela 2, com relação ao estado nutricional, observou-se uma baixa frequência de déficit de peso segundo o IMC (2%) em contrapartida ao alto percentual de indivíduos classificados com sobrepeso/obesidade (52,5%). Neste estudo verificou-se, ainda, 59,2% de mulheres com o IMC acima do normal, sendo 16% classificadas como obesas. Estes dados mostram o desenvolvimento de doenças crônicas até nas populações mais vulneráveis, situação esta que vem acompanhando o cenário de transição alimentar e nutricional vivido nas ultimas décadas. Os resultados da Vigitel Brasil 2013 mostraram que o município de João Pessoa, capital Paraibana, apresenta uma das maiores frequências de homens com excesso de peso (59,3%), quando comparada a outras capitais brasileiras. Foi 87 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO visto ainda que 45% mulheres com mais de 18 anos estavam com excesso de peso e 18,3% se enquadram na categoria de mulheres obesas (BRASIL, 2014). Assim, os valores encontrados no município de Cuité se assemelham aos da capital do estado. A POF 2008-2009 relata, duas décadas depois, que o desenvolvimento de distúrbios alimentares como sobrepeso e a obesidade vêm aumentando, sendo 49% das pessoas com idade acima de 20 anos classificadas com excesso de peso e 14,8% com obesidade. A Vigitel Brasil 2013 também mostra que, tanto o excesso de peso como a obesidade aumentou de frequência com a idade até a faixa etária de 45 a 54 anos, em homens, e até a faixa etária de 55 a 64 anos, em mulheres, declinando nas idades subsequentes (BRASIL, 2014). Como é demonstrado na Tabela 3, 37,5% dos indivíduos que compõem as famílias em estado de insegurança alimentar são classificados como sobrepeso e 19,6% como obesidade, corroborando que o estado nutricional das populações está fortemente ligado com a situação de SAN. TABELA 3: Prevalência da situação de Segurança Alimentar e Nutricional relacionada ao estado nutricional na zona rural do município de Cuité (PB), Brasil, 2014 Estado nutricional SAN b ISAN c Baixo Peso No a % 1 2,3 1 1,8 Eutrófico No a % 22 51,2 23 41,1 Sobrepeso No a % 18 41,9 21 37,5 Obesidade No a % 2 4,7 11 19,6 a Fonte: Dados coletados em Cuité, Brasil, 2014. Número da amostra. b c Segurança Alimentar e Nutricional. Insegurança Alimentar e Nutricional. 88 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO Velásquez-Melendez et al (2011), a partir da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), relataram que as mulheres classificadas em ISAN podem acarretar excesso de peso. Segundo o Ministério da Saúde (2007), a garantia da SAN está relacionada as políticas de saúde e cuidados nutricionais direcionados ao baixo peso e ao sobrepeso/obesidade. 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados encontrados neste estudo, entende-se que a SAN precisa de avanços, já que a mesma parte do pressuposto de atender as condições básicas para a manutenção de uma vida digna e de garantir o Direito Humano a Alimentação Adequada. Diversos estudos têm sido realizados na tentativa de identificar os fatores determinantes da ISAN. O diagnóstico da segurança alimentar na zona rural de Cuité apontou que um dos fatores que tem influenciado é a falta de poder aquisitivo, por parte de mais da metade da população estudada, para a manutenção da sua sobrevivência, com aquisição de alimentos em quantidade e qualidade suficiente, sem comprometer os outros bens essenciais. Contudo, apesar de não haver significância estatística entre a ISAN e o estado nutricional da população rural cuiteense, deve-se comentar que, entre as famílias estudadas, a insegurança alimentar esteve relacionada não somente às condições socioeconômicas e à diminuição na quantidade de alimentos, mas também à perda da qualidade, visto que o sobrepeso e a obesidade foram as classificações de estado 89 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO nutricional mais frequentes, principalmente nas famílias com insegurança alimentar. 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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças 90 INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL COM FAMÍLIAS RESIDENTES NA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO e adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e estatística; 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Volume Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: segurança alimentar 2013. Volume Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2014. KLEPPE, A. W.; SEGALL-CORRÊA, A. M. Conceituando e medindo a segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, 16(1):187199, 2011. PELIANO, A. 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Revista de Nutrição, Campinas, 2012. 91 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA CAPÍTULO 7 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Pollyana Paula Soares de ARAÚJO Erika Maria Pereira MATOS Jordânia Raquel Araújo AUGUSTO Nutricionista formada na UFPB, pós-graduanda no curso de especialização em Saúde da Família, UFPB e Especialista em Saúde Pública pela FACISA. Graduanda do curso Nutrição pela Faculdade Mauricio de Nassau e monitora do componente curricular Bromatologia. 3 Enfermeira formada na FASER, mestranda em Ciências da Saúde RESUMO:A contribuição de uma dieta saudável para a saúde e a qualidade de vida das populações já está bem estabelecida na literatura. Em contrapartida, as mudanças nos hábitos alimentares acentuaram-se a partir da segunda metade do século XX e, aliadas à crescente redução de atividade física, tornaram a alimentação um fator de risco importante para doenças crônicas. As doenças crônicas não transmissíveis constituem atualmente a maior causa de mortes no Brasil. A educação nutricional é apontada por estudos como a principal ferramenta utilizada para promoção de práticas alimentares saudáveis. Este trabalho objetivou realizar uma revisão sistemática de literatura sobre a relação da educação nutricional como prática de promoção à saúde na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis ligadas à alimentação e à nutrição. Foram analisados artigos científicos, livros e publicações do Ministério da Saúde, totalizando 08 fontes de pesquisa consultadas, no período de fevereiro a agosto de 2014. Observou-se que artigos, assim como as publicações do Ministério da Saúde, apresentaram a educação nutricional como importante prática utilizada e indicada como estratégia de prevenção das doenças ligadas a alimentação e 92 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA nutrição, porém não deixa clara a melhor forma de realizá-la, indicando a necessidade de uma maior compreensão dos profissionais sobre o assunto. Palavras-chave: Educação Nutricional. Doenças crônicas degenerativas não transmissíveis. Promoção à saúde. 1 INTRODUÇÃO O crescimento do consumo de alimentos calóricos, com alto teor de açúcares, gorduras, sal e aditivos químicos, associado ao baixo consumo de frutas, legumes e verduras, vem se tornando o padrão mais comum de alimentação das famílias brasileiras, o que resultou em alterações significativas no perfil de morbidade e mortalidade e nos padrões do consumo alimentar e do estilo de vida da população, determinando um fenômeno chamado de transição nutricional. A transição nutricional no Brasil caracteriza-se pela coexistência da desnutrição e doenças provenientes de carências nutricionais específicas e pelas doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) relacionadas à alimentação, tais como obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer, em todas as faixas de renda da população, em particular entre as famílias de menor poder socioeconômico (CFN, 2008). As DCNT constituem atualmente o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das causas de morte no Brasil. Atingem indivíduos de todas as camadas socioeconômicas e, de forma intensa aqueles pertencentes a grupos vulneráveis, como os idosos e os de baixa escolaridade e renda. Em 2007, a taxa de mortalidade por DCNT no Brasil foi de 540 óbitos por 100 mil habitantes. As 93 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA taxas de mortalidade por diabetes e câncer aumentaram nesse mesmo período. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Neste cenário, a educação nutricional e alimentar é apontada na literatura, como estratégia de ação a ser adotada prioritariamente em saúde pública para conter o avanço da prevalência das DCNT. Ao falar em Educação alimentar e nutricional (EAN), é importante conceituar a partir do Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas (2012, p. 23) que diz que: Educação alimentar e Nutricional, no contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, é um campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. No âmbito do SUS, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição e a Política Nacional de Promoção da Saúde prevêem ações específicas para a promoção da alimentação saudável, incluindo entre elas as ações de EAN, ao nível individual e coletivo. A organização das ações de promoção da alimentação saudável na Atenção Básica deve considerar os determinantes sociais da saúde, e priorizar o desenvolvimento de habilidades e competências que gerem empoderamento e autonomia dos indivíduos, famílias e comunidades. 94 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Diante do exposto, o presente trabalho se propõe a demonstrar, através da análise de artigos e publicações do Ministério da Saúde, a importância da educação nutricional como estratégia na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, apresentando de acordo com a concepção de vários autores, argumentos que reforcem a utilização da educação nutricional pelos profissionais de nutrição para que possam através desta prática, proporcionar melhor qualidade de vida para a população e diminuir o avanço destas patologias. 2 METODOLOGIA Este trabalho foi realizado a partir de uma revisão sistemática de literatura. Realizou-se pesquisa em artigos de revistas científicas coletados na base de dados do Scielo e Revista Nutrire, utilizando os descritores em português: educação nutricional, doenças crônicas não transmissíveis, nutrição e promoção à saúde. Também foram consultados documentos e publicações do Ministério da Saúde relacionados ao tema. Foram incluídos os trabalhos que tinham como critérios: artigos em português, publicados entre 2004 a 2013, que possuíam o termo educação nutricional no título ou que relacionavam ações de educação nutricional à portadores de doenças crônicas. Encontrouse 150 artigos e após leitura dos títulos e resumos, selecionaram-se 20, que foram lidos inteiramente e destes 8 foram selecionados para serem incluídos nesta revisão. Em relação às publicações do Ministério da saúde, uma foi escolhida por se referir às Políticas de Alimentação e Nutrição para a atenção básica. A busca dos periódicos ocorreu no período de fevereiro a agosto de 2014. 95 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Organização Mundial da Saúde define como doenças crônicas as doenças cardiovasculares (cerebrovasculares, isquêmicas), as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e diabetes mellitus. As DCNT se caracterizam por terem uma etiologia múltipla, muitos fatores de risco, longos períodos de latência, curso prolongado e origem não infecciosa (OMS, 2005). Os fatores de risco podem ser classificados em ―não modificáveis‖ (sexo, idade e herança genética) e ―comportamentais‖ (tabagismo, alimentação, inatividade física, consumo de álcool e outras drogas). Os fatores de risco comportamentais são potencializados pelos fatores condicionantes socioeconômicos, culturais e ambientais. Uma vez que estas possuem fatores de risco em comum, podem contar com uma abordagem comum para sua prevenção. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). De acordo com Oliveira (2008), as práticas alimentares do indivíduo são resultadas de decisões, conscientes ou não, estreitamente relacionadas à cultura alimentar de sua região, à tradição alimentar de seu convívio social e às transformações decorridas do acesso à informação científica e popular. No entanto, no campo do conhecimento da alimentação e da nutrição, além de proporcionar o acesso a essas informações, é necessário estimular a autonomia dos indivíduos, o que 96 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA demanda um consistente processo educativo. É nesse propósito que a educação alimentar e nutricional desempenha uma função estratégica para a promoção de hábitos alimentares saudáveis (OLIVEIRA, 2008). Segundo a Política Nacional de Alimentação e Nutrição - PNAN (2012), entre suas diretrizes, é enfatizado particularmente, a orientação nutricional para a prevenção das DCNT, assim como a adoção de hábitos alimentares apropriados por seus portadores, como forma de evitar o agravamento da patologia, constituindo o meio de promoção à saúde e controle dos desvios alimentares e nutricionais mais eficazes para prevenir sua instalação e evolução. Jaime et al (2011), em seu artigo sobre as ações de alimentação e nutrição na atenção básica, apontam a educação alimentar e nutricional como estratégia para auxiliar na prevenção de agravos relacionados à alimentação, utilizando-a como ferramenta para aumentar o conhecimento da população sobre o assunto e evitar o consumo alimentar monótono, visto que os hábitos alimentares têm grande importância na determinação das deficiências nutricionais e na ocorrência das doenças crônicas. Em um estudo realizado por Zanella; Alvarez (2009), onde foram avaliados programas de intervenção nutricional educativa sobre os fatores de risco cardiovascular em pacientes obesos e hipertensos, constatou-se que o programa 97 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA de intervenção foi capaz de promover alterações favoráveis no consumo alimentar habitual, após cinco meses de acompanhamento, que resultaram em perda de peso, redução da pressão arterial e melhora do perfil metabólico, demonstrando que o aumento dos conhecimentos e a discussão em grupo possibilitaram melhores escolhas alimentares. Corroborando com este estudo, Sotero et al (2013), em um estudo de caso realizado para avaliar os efeitos de um programa de educação nutricional sobre parâmetros bioquímicos sanguíneos e consumo alimentar, em um paciente diagnosticado com diabetes mellitus tipo 2 há 10 anos, com controle glicêmico precário, demonstrou que as intervenções propostas contribuíram para melhora no perfil bioquímico, conscientização sobre a importância do consumo de uma dieta adequada e a adesão ao tratamento, colaborando para prevenção das complicações agudas e crônicas da doença e melhorando a qualidade de vida. Apesar de haver um consenso entre vários autores, a respeito da importância da educação alimentar e nutricional na promoção de práticas alimentares saudáveis, Santos (2005), em seu estudo, promove uma reflexão sobre a ausência de diretrizes bem definidas para a prática desta. O mesmo relata que a PNAN, ao passo em que enfatiza a importância das ações educativas nesse processo, refere também que a educação alimentar e nutricional, contém elementos complexos e até conflituosos, 98 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA preconizando que “deverão ser buscados consensos sobre conteúdos, métodos e técnicas do processo educativo, considerando os diferentes espaços geográficos, econômicos e culturais.(SANTOS, 2005, p. 685). Ainda segundo Santos (2005), a perspectiva educacional no contexto da atenção básica, se limita a subsidiar os indivíduos com informações, utilizando ao máximo os recursos tecnológicos da comunicação como um mecanismo que facilita o acesso e a democratização da informação, assim, estratégias como as campanhas, elaboração de material educativo e instrucional são enfatizadas. No entanto, publicizar informações, dar visibilidade aos fatos, não é necessariamente educar, são necessários mais elementos do que apenas a informação para subsidiar os indivíduos nas escolhas e decisões do que é mais significativo para as suas vidas. Boog (2004) percebe o educar em nutrição como uma tarefa complexa, pois além da busca por um certo conhecimento necessário à tomada de decisões que afetam a saúde, cabe analisar as atitudes e condutas relativas ao universo da alimentação. Atitudes são formadas por conhecimentos, crenças, valores e predisposições pessoais e sua modificação demanda reflexão, tempo e orientação competente, através de conhecimentos gerados pela ciência da nutrição, levando-se em consideração o fenômeno da alimentação não apenas do ponto de vista biológico. 99 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Outro ponto a ser considerado em relação à educação nutricional, refere-se ao fato de se fazer um reconhecimento das reais condições de nutrição do indivíduo ou população assistida para que então possam ser propostas medidas educativas de maior resolutividade, pois uma vez que os problemas alimentares decorrerem da dificuldade de acesso aos alimentos, pouco impacto terão as técnicas de aconselhamento e orientação alimentar (FERREIRA, V.A; MAGALHÃES, R, 2007). Diante da análise realizada, observa-se que existe uma relação direta entre a educação alimentar e nutricional e a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, uma vez que diversos estudos apontam os hábitos alimentares como um dos fatores determinantes para o aumento destas. Neste contexto, a EAN possibilita um aumento do conhecimento no que se refere à prevenção de doenças, através de uma alimentação saudável, permitindo que o indivíduo realize melhores escolhas alimentares, tendo sido considerada como uma medida necessária para formação e proteção de hábitos saudáveis. No entanto, apesar de todo potencial, torna-se necessário ampliar a discussão sobre suas possibilidades, limites e principalmente a forma como deve ser realizada, pois mesmo que os estudos apontem experiências positivas, ainda não há um espaço de ação definido. A abordagem da EAN precisa ir além da mera transmissão de conhecimentos e sim provocar situações de reflexão para os indivíduos. 100 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Levando em consideração que as escolhas alimentares são influenciadas por fatores que a nível individual envolvem aspectos subjetivos, o conhecimento sobre alimentação e nutrição e as percepções individuais sobre alimentação saudável, além de determinantes que no âmbito coletivo constituem-se dos fatores econômicos, culturais e sociais, as ações relacionadas a EAN precisam integrar diferentes setores e profissionais, o que lhe confere um caráter intersetorial, para que possam atingir o objetivo final da mudança no comportamento alimentar, gerando maior impacto. No campo de atuação no qual estou inserida como nutricionista, a EAN constitui-se um recurso terapêutico envolvido no processo de cuidado e cura das doenças, porém, a sua prática deve considerar a alimentação na sua integralidade, abrangendo temas e estratégias relacionadas a todas as dimensões que envolvem o fenômeno alimentar, considerar os fatores individuais e coletivos do indivíduo e grupos envolvidos, para que assim possa torná-los capazes de fazer escolhas e decidir sobre o que é melhor para suas vidas. 4 CONCLUSÃO A partir do estudo realizado fica evidente a importância da educação alimentar e nutricional como estratégia para promoção de práticas alimentares saudáveis, contribuindo dessa forma para prevenção de muitos distúrbios relacionados 101 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA à alimentação e nutrição, como as doenças crônicas degenerativas, assim como para evitar o agravamento destas patologias já instaladas. No entanto, é necessária uma compreensão maior sobre a forma como esta vem sendo realizada, uma vez que não há um consenso sobre a forma mais eficaz de realizá-la, sendo necessária uma abordagem integrada considerando todos os aspectos biológicos, sociocultural, ambiental e econômico, que envolvem o fenômeno da alimentação humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ, T.S.; ZANELLA, M.T. Impacto de dois programas de educação nutricional sobre o risco cardiovascular em pacientes hipertensos e com excesso de peso. Rev. de Nutrição, Campinas, v.22, nº 1, p.71-79, jan./fev., 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141552732009000100007> Acesso em: 09/08/2014. BOOG, M.C. Educação nutricional: por que e para quê? Jornal da UNICAMP. Campinas, agosto, 2004. Disponível em:<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju260pag02. pdf>.Acesso em: 03/02/2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 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Textos Básicos de Atenção à Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006; v. 102 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA 8). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_recomendacoes_cui dado_doencas_cronicas.pdf.> Acesso em: 28 de julho de 2014. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF: MDS; Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 2012. 68 p. Disponível em: http://www.ideiasnamesa.unb.br/files/marco_EAN_visualizacao.pdf. Acesso em: 21/08/2014 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 60 p. Disponível em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao _saude_ ed.pdf. Acesso em: 21/08/2014. FERREIRA, V.A; MAGALHÃES, R. Nutrição e promoção à saúde: perspectivas atuais.Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 7, p. 1624-1681, julho, 2007. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v23n7/19.pdf . Acesso em: 10/02/2014. JAIME, P.C. et al. Ações de alimentação e nutrição na atenção básica: a experiência de organização no governo brasileiro. Rev. Nutrição, Campinas, v.24(6), p.809-824, nov./dez., 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14155273201100 0600002>. Acesso em: 08 de abril de 2014. OLIVEIRA, S.I; OLIVEIRA, K.S. Novas perspectivas em educação alimentar e nutricional. Psicologia USP, São Paulo, v.19, p. 495-504, outubro/dezembro 2008. Disponível em:<http://www.revistas.usp.br/psicousp/article/viewFile/41976/45644.> Acesso em: 06 de fevereiro de 2014. SANTOS, L.A.S. Educação alimentar e nutricional no contexto de promoção de práticas alimentares saudáveis. 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In:12º CONGRESSO NACIONAL DA SBAN, v.38, n. suplemento,2013, Foz do Iguaçu, PR,p. 145.Disponível em: <http://revistanutrire.org.br/articles/view/id/524ece4a5ce02a4b0300000e>A cesso em: 09/08/2014. 104 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL CAPÍTULO 8 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL Yohanna de OLIVEIRA1 Keylha Querino de Farias LIMA2 Cássia Surama Oliveira da SILVA3 Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA4 1 2 Pós- Graduanda em Nutrição Clínica e Funcional – Faculdade Integrada de Patos, João Pessoa; Pós- Graduanda em Nutrição Clínica e Funcional – Faculdade Integrada de Patos, João Pessoa; 3 Mestre em Ciências da Nutrição – UFPB, João Pessoa; 4 Pós- Graduanda em Nutrição Clínica – Estácio, João Pessoa. [email protected] RESUMO: O binômio tempo X temperatura é de extrema importância para a eficiência da conservação dos alimentos e para a prevenção das toxinfecções alimentares. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar as temperaturas dos alimentos distribuídos e equipamentos disponíveis em um restaurante comercial localizado no município de João Pessoa-PB, e verificar sua conformidade em relação à legislação vigente. Utilizou-se um termômetro digital infravermelho para as aferições das temperaturas de distribuição de preparações quentes e frias, bem como para os equipamentos. Os resultados foram comparados com os padrões da resolução RDC n° 216/2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para as preparações frias, 100,0% apresentaram-se fora dos padrões (acima de 10°C). E em relação às preparações quentes, apenas 37,5% apresentaram temperaturas adequadas (acima de 60°C). Já em relação aos equipamentos utilizados no estabelecimento, os de conservação a quente obteve menor adequação, enquanto os 105 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL equipamentos de refrigeração obtiveram maior conformidade segundo a legislação vigente. Concluiu-se através do alto índice de inadequações de temperaturas que é necessária uma maior vigilância no monitoramento da temperatura ideal dos balcões de distribuição, bem como a manutenção das preparações servidas, para a garantia do fornecimento de uma alimentação segura. Palavras-chave: Controle. Restaurante. Segurança Alimentar. 1 INTRODUÇÃO O setor de alimentação coletiva está em constante expansão no Brasil e sua importância econômica pode ser expressa na geração de empregos diretos; em número de refeições produzidas; na movimentação financeira mediante comercialização das refeições e no consumo de alimentos. Segundo Monteiro et al. (2014) dentre os vários aspectos relativos à crescente demanda pelos serviços de refeição fora do lar, a qualidade sanitária dos produtos oferecidos configura, ainda, uma questão fundamental, principalmente considerando a amplitude do público atendido. Nesse sentido, diversos procedimentos devem ser adotados para a garantia de um produto final adequado e livre de agentes patógenos, como obtenção de matérias-primas não contaminadas, práticas adequadas de manipulação e de higiene durante a preparação, equipamentos e estruturas operacionais eficientes e capacitação dos manipuladores de alimentos. A qualidade de uma refeição é determinada por diversos fatores, como a qualidade da matéria-prima, a higiene dos equipamentos utilizados e dos manipuladores 106 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL participantes do processo, bem como o monitoramento do binômio tempo X temperatura. A temperatura é um fator de importância para os microrganismos que estão presentes nos alimentos, por esse motivo a distribuição deve ocorrer com o controle de tempo e temperatura, visando minimizar a multiplicação microbiana e proteger de novas contaminações (ALVES; UENO, 2010). Com a aprovação da proposta de categorização dos serviços de alimentação, visando a Copa do Mundo em 2014, os serviços de alimentação buscaram uma melhoria do perfil sanitário. Por esse motivo, as pesquisas de controle no perfil sanitário foram intensificadas. Eventos que promovem o encontro de grandes massas trazem maior risco à saúde pública. Os principais riscos de saúde esperados incluem: as doenças de origem alimentar e hídrica, doenças transmissíveis e os acidentes e outros tipos de lesões. O grande número de refeições servidas para atletas, funcionários e visitantes oportunizam surtos de doenças transmitidas por alimentos (TIMERMAN, 2012). A necessidade de investigação das condições de armazenamento dos produtos comercializados nos estabelecimentos motivou a realização desse estudo onde monitorar as temperaturas de armazenamento e de exposição dos alimentos e integrar ações visando à segurança alimentar da unidade foram objetivos da pesquisa. 2 MATERIAIS E MÉTODO O estudo do tipo transversal monitorou durante o período de quatro meses as temperaturas das preparações 107 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL produzidas e dos equipamentos em um estabelecimento na cidade de João Pessoa/PB. O comparecimento na unidade foi realizado por quatro dias consecutivos na semana, com permanência de 2 horas durante as visitas, precisamente das 13 às 15 horas. As pesquisadoras, devidamente equipadas com os utensílios de higiene e segurança adequados realizaram a aferição das temperaturas das preparações logo após o término da produção, nas cubas dentro dos balcões de distribuição. Para os alimentos quentes, foram estabelecidas as preparações de carnes, e para os alimentos frios, as saladas e molhos. Para a coleta de dados, utilizou-se um termômetro digital infravermelho a uma distância de 20 cm do ponto central dos alimentos. Após esse procedimento, foi registrado na planilha de registro de temperaturas das respectivas preparações do dia. Além disso, foram aferidas as temperaturas dos equipamentos disponíveis e utilizados na manutenção da temperatura das preparações quentes e frias. A análise dos dados foi realizada a partir das médias das temperaturas coletadas das preparações analisadas nos quatro meses de acompanhamento. Essas médias foram comparadas com os valores de temperaturas preconizadas pela legislação vigente – RDC 216/04 (ANVISA), de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Segundo esta legislação, para as preparações frias é estabelecida temperatura < 10°C e quentes > 60°C. Para análise das temperaturas dos equipamentos refrigerados, é estabelecido < 5°C (geladeira, balcão frio, 108 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL pass-through frio e câmara fria); para os congelados < - 18°C (freezer, câmara de congelamento) e para os quentes > 60°C (balcão térmico e pass-through quente). Os resultados foram registrados na forma de banco de dados no Microsoft Office Excel 2010. Utilizou-se uma estatística descritiva para a análise da média de temperatura dos alimentos expostos e dos equipamentos do estabelecimento e os resultados apresentados através de tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura média das preparações quentes dos balcões de distribuição variou de 37,8 a 67,9°C (Figura 1), três (37,5%) estavam acima de 60°C, consideradas seguras do ponto de vista microbiológico; quatro (50,0%) estavam na faixa de 41,0 a 54,2°C, e uma (12,5%) amostra encontrava-se com temperatura abaixo de 40°C. Figura 1. Valores médios das temperaturas obtidas das preparações quentes do estabelecimento. 109 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL Segundo os manipuladores do estabelecimento, os produtos processados podem permanecer expostos, sem controle da temperatura, por até três horas. De acordo com Figura 2. Valores médios das temperaturas obtidas das preparações frias do estabelecimento. Penedo et al. (2015), o desenvolvimento de agentes patógenos que contribuem para o surgimento de surtos de DTAs, podem ser motivados pela exposição dos alimentos a temperaturas inadequadas. O autor ainda afirma que vários restaurantes deixam as preparações expostas no balcão térmico por longo período e, na maioria das vezes, sob temperatura inadequada, influenciando assim para o crescimento da atividade microbiana. A temperatura média das preparações frias dos balcões de distribuição variou de 17,7 a 22,9°C (Figura 2), sendo que nenhuma apresentou temperatura ideal (< 10°C), seis (46,2%) estavam entre 10 e 21,0°C, podendo permanecer exposto até duas horas, segundo a Portaria CVC 05/2013, e sete (53,8%) estavam acima de 21°C. As temperaturas medidas nos alimentos, que deveriam estar refrigerados, são consideradas altas e podem ter 110 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL ocorrido devido à presença de alimentos cozidos nas saladas e nos preparados, em horários próximos ao da distribuição, sem a submissão dos mesmos a processo de refrigeração adequado. Frantz et al. (2008) ressalta a importância da necessidade no controle das temperaturas dos alimentos, durante o processo de produção e também de armazenamento dos produtos e da matéria-prima para garantia de sua qualidade. Ainda segundo o autor, a ausência de um controle efetivo da temperatura dos balcões possivelmente contribui para resultados indesejados nas condições das matrizes alimentares. Em relação às temperaturas dos equipamentos quentes utilizados na distribuição (balcão térmico e pass-through quente), verificou-se menor adequação à legislação (> 60°C) (Tabela 3). Os equipamentos de conservação a frio (balcão frio, pass-through frio e câmara fria), não estavam adequados quanto à legislação que determina permanência de temperatura < 5°C. Já em relação aos freezers, geladeira e câmara de congelamento, estes apresentaram maior adequação aos parâmetros estabelecidos. Equipamentos Freezer 1 Freezer 2 Freezer 3 Geladeira Câmara Fria Câmara de Congelamento Pass-Through frio Balcão frio Pass-Through quente Balcão Térmico Média de Temperatura (°C) - 12,8°C - 9,0°C - 13,2°C - 4,7°C 10,0°C - 12,1°C 6,0°C 6,7°C 85,7°C 49,5°C Tabela 3. Valores médios das temperaturas dos equipamentos disponíveis no estabelecimento. 111 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL Rocha et al. (2014) explica que é de fundamental importância à escolha e a manutenção dos equipamentos utilizados no condicionamento da temperatura desejada para a conservação dos alimentos produzidos e armazenados, não podendo ficar de fora a maneira como os mesmos são manipulados e processados. 4 CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos, a temperatura dos alimentos frios dispostos na distribuição apresentou inadequação, podendo destacar que esta irregularidade é considerada crítica na oferta de alimento seguro, podendo comprometer a saúde dos consumidores. Em relação às temperaturas dos equipamentos, vale ressaltar que os equipamentos frios obtiveram menor percentual de adequação em relação aos equipamentos quentes, sendo necessárias providências de adequação e manutenção. Devem ser implantados procedimentos de controle diário de tempo e temperatura de exposição do alimento, como determinação de horários e frequência das aferições durante o dia, como medidas corretivas ou preventivas, de forma a promover o monitoramento adequado das temperaturas e o fornecimento de uma alimentação segura. 112 MONITORAMENTO DE TEMPERATURAS DE ALIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE UM ESTABELECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO COMERCIAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Resolução RDC 216, 15 de setembro de 2004. Brasília, 2004. ALVES, M. G.; UENO, M. Restaurantes self-service: segurança e qualidade sanitária dos alimentos servidos. Revista de Nutrição, Campinas, 23(4): 573-580, jul./ago., 2010. FRANTZ, C. B.; BENDER, B.; OLIVEIRA, A. B. A.; TONDO, E. C. Avaliação de registros de processos de quinze unidades de alimentação e nutrição. 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Portaria CVS-5/13, de 09/04/2013. Regulamento Técnico de Boas Práticas para Estabelecimentos Comerciais de Alimentos e para Serviços de Alimentação, e o Roteiro de Inspeção. TIMERMAN, S. Está o Brasil Preparado para o Atendimento de Urgência e Emergência em Grandes Eventos Desportivos?. Revista Brasileira de Cardiologia. v. 25, n. 5 set/out, 2012. 113 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO CAPÍTULO 9 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO Naryelle da Rocha SILVA¹ Jaqueline Costa Dantas² Poliana de Araújo PALMEIRA³ Thaise Costa de MELO⁴ Raquel Alves de MEDEIROS¹ ¹ Alunas do curso de Bacharelado em Nutrição - UFCG e Pesquisadora Colaboradora do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva; ² Nutricionista Residente UFPB e Pesquisadora Colaboradora do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva; ³ Professora do Curso de Nutrição – UFCG e Coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva; ⁴ Pesquisadora colaboradora do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva. E-mail: [email protected] RESUMO: Este artigo visa analisar a proporção de (in)segurança alimentar e nutricional e as condições de vida de famílias titulares do Programa Bolsa Família (PBF) em um município do Curimatau paraibano, durante os anos de 2011 e 2014. Este é um estudo descritivo longitudinal baseado nos resultados das pesquisas ―SAN I‖ e ―SAN II‖. A amostra deste estudo consiste em 140 famílias titulares do PBF, residentes na zona urbana e rural do município de Cuité/PB. Durante a realização das duas pesquisas foram coletadas informações sobre as condições de vida e insegurança alimentar domiciliar através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Os resultados apresentaram que cerca de 13% das famílias entrevistadas saíram da condição de insegurança alimentar para segurança alimentar e nutricional. Porém, observa-se 114 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO ainda uma prevalência de insegurança alimentar nos dois períodos da pesquisa, estando em maior proporção na zona rural. Ademais, o total de famílias em insegurança alimentar grave reduziu de 13,6% para 1,4%, sendo que em 2014 essa gravidade ocorria apenas em famílias residentes na zona rural. Diante do exposto, é possível vislumbrar um avanço positivo na situação de segurança alimentar e nutricional das famílias entrevistadas. Palavras-chaves: Insegurança alimentar e nutricional. Transferência condicionada de renda. Estudo longitudinal. 1 INTRODUÇÃO A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) envolve diversas dimensões e de acordo com a Lei Orgânica de SAN do Brasil compreende a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde. A violação deste direito caracteriza a existência da situação de Insegurança Alimentar e Nutricional (ISAN) em famílias, comunidades, municípios ou países (BRASIL, 2006). O Brasil enquanto país marcado pela desigualdade social enfrenta problemas da fome, sendo esta a expressão mais grave da não realização do direito de todos à alimentação e tem como principal determinante a pobreza. A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) divulgada pelo IBGE em 2014, afirmou que no Brasil ainda há 7,2 milhões de pessoas que vivem em domicílios em que pelo menos uma pessoa passou fome, especialmente na zona rural do país (IBGE, 2014). 115 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO Neste sentido, um dos enfoques da política nacional de SAN, que começou a ser implementada no país em 2003, aborda o combate à pobreza por meio da transferência condicionada de renda a famílias em situação de vulnerabilidade social (BURLANDY, 2007). O IBASE (2008) realizou um estudo de base populacional com dados coletados em 2007 em 229 municípios brasileiros, tendo como um dos objetivos averiguar as repercussões do PBF na segurança alimentar e nutricional. Constatou-se uma prevalência de insegurança alimentar de 83%, sendo que mais de 50% sofriam de restrição na quantidade de alimentos disponíveis ou passavam fome. Estudos apontam que a partir da implementação do PBF no Brasil, verificou-se a melhora da renda, com consequente redução da pobreza e da ISAN (HOFFMAN, 2008). Sendo assim, levando em consideração a importância das políticas públicas de transferência de renda e SAN para o Brasil e a exposição das famílias de baixa renda à situação de ISAN, este trabalho tem como objetivo analisar a prevalência de SAN de famílias que tem acesso ao Programa Bolsa Família em um município do semiárido paraibano em dois recortes históricos, 2011 e 2014. 2 MATERIAIS E MÉTODO Este é um estudo descritivo e longitudinal baseado nos resultados no diagnóstico populacional sobre a situação alimentar e nutricional da população do município de Cuité-PB 116 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO no ano de 2011 e 2014, realizados com o desenvolvimento de dois projetos de pesquisa financiados pelo Ministério de Desenvolvimento social em parceria com o CNPq: ―Segurança Alimentar e Nutricional: formação de uma política local em município de pequeno porte – SANCUITÉ 1 (2011) e ―Segurança Alimentar e Nutricional em município de pequeno porte: uma análise longitudinal das políticas públicas e da situação de insegurança alimentar da população – SAN II‖, realizado em 2014. Em 2010, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o município de Cuité era composto por 5869 domicílios particulares permanentes, destes estimava-se que 3955 se localizem na zona urbana e 1914 na zona rural. Assim, para o cálculo amostral utilizou-se a Amostragem Aleatória Estratificada, onde dividiu-se o município em dois estratos: área urbana e área rural. Os tamanhos das amostras dos estratos foram calculados adotando o critério pelo qual se mantém a fração de amostragem em cada estrato igual à fração global de amostragem, ou ainda, adotando a partilha proporcional. Para fixar a precisão do procedimento, admitiu-se que 95% das estimativas poderiam diferir do valor proporcional populacional desconhecido P por no máximo 5%, isto é, o valor absoluto do erro de amostragem é igual a 0,05 sob nível de confiança de 95%. Preferiu-se adotar um valor antecipado para P de 0,5. Isso determinará maior aproximação para o valor da variância da característica na população, o que é traduzido pelo produto (P1 P) , determinando-se, desse modo, maior tamanho da amostra para a precisão fixada. 117 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO Segue abaixo a descrição do calculo do tamanho da amostra: N = 5869 , número de domicílios no município de Cuité. N1 = 3955 , número de domicílios estimados do município na área urbana. N 2 = 1914 , número de domicílios estimados do município na área rural. Dessa forma temos que, N N 3955 1914 W1 = 1 = 0,67 e W2 = 2 = 0,33 N 5869 N 5869 2 e 0 , 05 0 , 000651 e que, V Z 1 , 96 2 onde: Z 1,96é o valor da distribuição amostral (explicitada pelo modelo normal) que corresponde ao nível de confiança de 95% e, e 0,05 é o valor permitido para a diferença máxima entre um resultado da amostra e os valores reais das frequências estudadas. Logo, Wh PhQh = 0,67 0,5 0,5+ 0,33 0,5 0,5 = 0,14 + 0,11 384 n = V 0,000651 0,000651 e 384 384 384 = = 360 384 1+ 0,064 1,064 n 1+ 1+ 5869 N temos ainda que: n= n = 118 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO 360 n n1 = N1 = 3955 243 e 5869 N 360 n n2 = N 2 = 1914 117 5869 N Assim, ao final do cálculo amostral obteve-se como resultado a meta de pesquisar 360 domicílios, sendo 243 na área urbana e 117 na área rural. Ao final do trabalho de campo de 2011 foram pesquisados 358 domicílios, destes 31,8% localizados na zona rural. Em 2014, planejou-se retornar aos domicílios entrevistados em 2011. A pesquisa de campo ocorreu nos meses de maio e agosto de 2014, onde foram realizadas 326 entrevistas, havendo perda de 32 questionários por motivos de mudança de cidade, falecimento ou demência, novos endereços não encontrados e recusas. Com isso, considerando o público-alvo desta pesquisa, a amostra final consiste apenas por famílias titulares do Programa Bolsa Família pesquisada em 2011 e que continuara, a receber este beneficio em 2014, totalizando 140 famílias. Durante a realização das duas pesquisas foram coletadas informações sobre as condições de vida e insegurança alimentar domiciliar através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). A EBIA é composta por 15 perguntas referentes aos três meses antecedentes à pesquisa, a qual permite avaliar, segundo a afirmação do entrevistado, se este vivência alguma situação de insegurança alimentar, desde ao medo de passar fome até a situação real de fome. 119 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO (MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME, 2014). Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido afirmando que concordaram em participar das pesquisas. Os questionários foram digitalizados utilizando o programa Microsoft Access, o banco de dados foi transferido para o Programa SPSS for Windows versão 22.0 e posteriormente realizou-se a análise estatística descritiva dos dados. Os projetos de pesquisa foram submetidos e aprovados por Comitês de Ética em Pesquisa (CEP), o SAN I pelo CEP da Universidade Estadual da Paraíba CAAE: 0102.0.133.000-11; e o SAN II pelo CEP do Hospital Universitário Alcides Carneiros da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) CAAE: 0102.0.133.000-1. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Diversas outras pesquisas foram realizadas em municípios brasileiros a fim de verificar o nível insegurança alimentar dos beneficiários de programas de transferência de renda. As prevalências variam muito, e vários fatores interferem direta ou indiretamente nestes. As famílias analisadas nesta pesquisa foram e dessa forma, a Tabela 1 compõe-se de variáveis a fim de caracterizar tanto o individuo quanto a família. De acordo com a zona de moradia, verifica-se que há uma maior porcentagem de moradores na zona urbana que na zona rural. Santos (2014) em um estudo exploratório e descritivo realizado no município de Itabuna-BA com 200 famílias que 120 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO tem acesso ao PBF, observaram que deste total, 94% moravam na zona urbana e apenas 6% residiam na zona rural. Verificou-se que a maioria dos titulares sabe ler e escrever. No entanto, apresentam ainda baixo nível de escolaridade: 65,5% não concluíram o ensino fundamental e apenas 19,5% concluíram o ensino médio. Quanto ao esgotamento, no ano de 2011 79,9% das famílias estavam em condições inadequadas, e em 2014 essa proporção aumentou para 87,1%. Também houve aumento na condição de esgotamento adequado, em 2011 para 19,3% e em 2014 para 24,3%. Esses valores são fixados dessa maneira, pois algumas famílias estão classificadas tanto em adequadas quanto em inadequadas. Pode-se observar, então, que no período de três anos, 5% destas famílias obtiveram uma mudança positiva nesse quesito, ou seja, passou a ter em sua residência uma fossa séptica ou o recolhimento ficou a cargo da rede pública coletora de esgotos. Guerra (2011) em uma pesquisa observacional do tipo transversal com 391 famílias de quatro municípios do Mato Grosso, observou que 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário, sendo a destinação realizada através de fossa séptica, fossa rudimentar ou esgoto a céu aberto. Magalhães et al. (2013) em um estudo transversal, de abordagem quanti-qualitativa, realizado no município de Paula Candido, MG entrevistaram 116 indivíduos cadastrados no PBF. No que se refere ao escoamento sanitário, na zona rural 61,8% dos beneficiários utilizavam a fossa séptica, em oposição a todos os residentes na zona urbana que utilizavam a rede pública. A mesma tendência em relação ao predomínio da rede coletora de esgoto é observada entre os beneficiários 121 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO do PBF no país, com prevalências de 42,6% contra 19,1% para utilização de fossa séptica. Porém, ressalta-se que esse estudo não faz distinção entre zonas rural e urbana (IBASE, 2013). Considerando a Atividade/Ocupação, em 2011 2,9% não tinham emprego e 64,3% exerciam alguma atividade remunerada, já em 2014 esses dados são de 5,7% e 62,9%, respectivamente. Percebe-se uma mudança de caráter negativo, onde 2,8% (n=4) dos indivíduos passaram a não ter emprego ou estar a sua procura, e 1,4% (n=2) ficaram sem emprego. Gerhardt (2003) mostrou em sua pesquisa que existe um alto índice de desemprego entre os beneficiários do PBF. Quanto à renda familiar, verifica-se que 3,6% (n=5) das famílias não estão mais abaixo da linha da pobreza entre os anos de 2011 e 2014. Cabral el al. (2011), realizo um estudo de coorte, em uma amostra de famílias residentes nos municípios de São José dos Ramos-PB e Nova Floresta-PB e observou que quando os indivíduos foram categorizados em pobres e não pobres (abaixo ou acima da linha da pobreza) houve redução significativa do primeiro grupo e aumento proporcional da quantidade de não pobres (valor de p< 0,001) onde o percentual de pobres reduziu em mais de 20%. 122 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO Tabela 1: Caracterização do indivíduo/famílias assistidas pelo Programa Bolsa Família (PBF) no município de Cuité-PB, nos anos de 2011 e 2014. Variáveis Zona de moradia Urbana Rural Esgotamento sanitário Adequado Inadequado Idade n 73 67 2011 % 52,1% 47,9% n 73 67 2014 % 52,1% 47,9% 27 19,3% 111 79,3% 34 24,3% 122 87,1% Adulto 131 93,6% 128 91,4% Idoso 9 6,4% 12 8,6% Escolaridade Baixa escolaridadeª 34 24,3% Média escolaridadeᵇ 102 72,9% Alta escolaridadeᶜ Não sabe/não respondeu 33 23,6% 103 73,6% 0 0% 0 0% 4 2,9% 4 2,9% Atividade/Ocupação Sem trabalho/Procura trabalho Tem trabalho Aposentado/Pensionista/ Estudante/Dona de casa Renda Familiarᵈ Abaixo da linha da pobreza Acima da linha da pobreza 4 2,9% 8 5,7% 90 64,3% 88 62,9% 46 44 31,4% 32,9% 15 10,7% 125 89,3% 10 130 7,1% 92,9% Fonte: Dados coletados em Cuité-PB, Brasil, no ano de 2011 e 2014. ª Baixa escolaridade=sem escolaridade; ᵇMédia escolaridade=ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto e ensino médio completo; ᶜAlta escolaridade= ensino superior completo e ensino técnico completo; ᵇ Foram considerados os valores R$140 em 2011 e R$154 em 2014 como ponto de corte para abaixo ou acima da linha da pobreza. 123 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO Quanto a situação de SAN das famílias que tem acesso ao PBF, observa-se na Tabela 2, em 2011 27,9% famílias estavam em SAN e 72,1%em ISAN, já em 2014 40,7% estavam na situação de SAN e 59,3% em ISAN. Cerca de 13% das famílias entrevistadas saíram da condição de insegurança alimentar para SAN de acordo com os dados analisados através do instrumento EBIA. Ademais, destaca-se que o total de famílias em ISAN grave reduziu de 13,6% para 1,4%, e que em 2014 essa gravidade foi registrada apenas em famílias residentes na zona rural do município de Cuité. Monteiro et al. (2014) em um estudo de intervenção nutricional com 72 famílias ao PBF do município de Montes Claros-MG no ano de 2011, destacaram que todas estas famílias estavam em situação de ISAN, sendo 48,6% leve, 34,7% moderada e 16,7% grave. Com resultado semelhantes, Nunes et al. (2014) em um estudo de natureza transversal realizado no ano de 2011 com 150 famílias demonstraram que a maioria destas famílias apresentavam ISAN (72,0%) e dentre estes, a maior proporção foi classificada com insegurança alimentar leve, seguida de insegurança alimentar moderada e insegurança alimentar grave. Ainda quanto ao trabalho de Guerra (2011), este verificou que aproximadamente 52% dos domicílios pesquisados em quatro municípios no estado de Mato Grosso no ano de 2007 estão inseridos em algum nível de insegurança alimentar. Traldi (2011) afirmou que no município de Araraquara no estado de São Paulo, cerca de 95% das famílias vinculadas ao PBF estão situadas em algum nível de insegurança alimentar e Anschau (2008) verificou a 124 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO prevalência de insegurança alimentar em 74,6% dos domicílios pesquisados no município de Toledo, no estado do Paraná. Segundo dados divulgados pelo IBGE em 2014, o percentual de domicílios brasileiros que se encontravam em situação de insegurança alimentar caiu de 30,2% em 2009 para 22,6% em 2013. Ou seja, a diminuição da ISAN no município de Cuité segue se assemelha aos resultados obtidos a nível nacional. Tabela 2: Percentual de família titulares do PBF em situação de segurança alimentar e nutricional, e insegurança alimentar e gravidades segundo zona urbana e rural, Cuité, 2011 e 2014 Situação de San Segurança Alimentar e Nutricional Insegurança Alimentar e Nutricional Insegurança alimentar leve Insegurança alimentar moderada Insegurança Alimentar grave 2011 n % ZU % ZR 2014 n % ZU % ZR 39 27,9% 59% 41% 57 40,7% 64,9% 35,1% 101 72,1% 49,5% 50,5% 83 59,3% 43,4% 56,6% 53 37,9% 52,8% 47,2% 40 28,6% 40% 60% 29 20,7% 48,3% 51,7% 41 29,3% 48,8% 51,2% 19 13,6% 42,1% 57,9% 2 1,4% 0 100% Fonte: Dados coletados em Cuité-PB, Brasil, no ano de 2011 e 2014. 125 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE FAMÍLIAS TITULARES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE LONGITUDINAL DE UM MUNICÍPIO DO CURIMATAU PARAIBANO 4 CONCLUSÕES Os resultados permitiram concluir que o programa governamental PBF um maior acesso aos alimentos daquelas famílias titulares, acarretando no aumento do poder de escolha e de compra dos alimentos. Sendo assim, no município em estudo, o programa mostrou-se como uma estratégia importante para a garantia do acesso à quantidade suficiente de alimentos e para a diminuição da situação de ISAN, seja ela leve, moderada ou grave. Embora tenha ocorrido uma diminuição na ISAN no período de três anos ainda faz-se necessária a Políticas Públicas voltadas para o combate à fome e vulnerabilidade social, sem deixar de lado a crescente necessidade de implementação de programas de intervenção nutricional que propiciem a tomada de conhecimentos sobre alimentação, que favoreçam ao sujeito a participação consciente na tomada de decisão acerca de sua alimentação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANSCHAU, F. R. Insegurança alimentar de beneficiários de programas de transferência de renda. 2008. 107 f. Dissertação mestrado, Universidade Estadual de Londrina, 2008. Disponível em: <http://www.ccs.uel.br/pos/mestrados/mural/dissertacao/turma2006/Francie lle/Francielle%20Richetti%20Anschau.pdf>. 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Acesso em: 22 de setembro de 2015 128 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA CAPITULO 10 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Dalila Teotonio Bernardino de SOUZA1 Jordânia de Morais LÚCIO2 Jorge Vitor Barreto ARAÚJO3 Jorge Luiz Silva ARAÚJO-FILHO4 1 Discente do curso de Bacharelado em Nutrição das Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos-PB, e-mail: [email protected]; 2 Discente do curso de Bacharelado em Nutrição das FIP, São Bento–PB; 3 Médico, Clinico Geral, Recife-PE; 4 Docente das FIP, Mestre em Patologia, Doutor em Biotecnologia. RESUMO: Os ambientes que comercializam alimentos, devem oferecer serviços de qualidade e livres de contaminações que possam surgir de irregularidades nos processos de produção, armazenamento, venda ou manipulação. Este trabalho se justificou pela necessidade de divulgação das informações de segurança alimentar ao ambiente selecionado, e teve como objetivo realizar uma inspeção, planejamento de adequações e intervenção em um açougue de uma cidade do sertão Paraibano. Para a realização de uma adequação eficiente, utilizou-se os roteiros propostos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo Codex Alimentarius, entre outros de instituições relacionadas. Foram promovidas modificações estruturais no ambiente e no comportamento dos manipuladores dos alimentos. Além de ministrados treinamentos quanto as normas de segurança alimentar e higienização e manutenção dos equipamentos e ambientes. Ao término das alterações, os manipuladores foram sensibilizados sobre a importância da manutenção das normas de segurança alimentar, compreenderam os perigos eminentes relacionados a manipulação inadequada dos 129 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA alimentos, e como isso pode refletir na saúde do consumidor. Claramente as mudanças promovidas, principalmente a higienização do ambiente atraiu a atenção dos clientes, valorizando o estabelecimento, alcançando assim, os resultados propostos no início da intervenção. Palavras-chave: Segurança alimentar. Saúde Pública. Alimentos. 1 INTRODUÇÃO Com o advento da prática de conservar os alimentos, foi necessário criar bons hábitos de higienização, para se conseguir manter suas qualidades organolépticas e nutricionais, as boas práticas de serviços de alimentação foram criadas com a intenção de normatizar os cuidados necessários e assegurar a viabilidade do alimento para o consumo (CODEX ALIMENTARIUS, 2006). Visando preservá-los dos perigos físicos, químicos e microbiológicos, e para evitar as Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA‘s), problemas os quais podem afetar drasticamente a saúde dos consumidores, instituiu-se normas e órgãos nacionais, regionais, estaduais e municipais de inspeção sanitária para empresas destinadas à produção, manipulação e venda de alimentos (SREBERNICH, 2005). Os Procedimentos Operacionais Padrões (POP‘s) foram feitos para esclarecer passo-a-passo métodos sistêmicos às práticas de limpeza e organização que compreende as pessoas e ambientes destinados ao manuseio dos mantimentos, em todas empresas supra citadas. Assim, promovendo o fomento das práticas eficazes contra contaminação alimentar, ressaltando o fato de existir tais 130 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA práticas apenas nos lugares onde esses órgãos dão assistência (BRASIL, 2004). Pois, mesmo havendo a existência dos órgãos governamentais de vigilância sanitária, seus serviços e informações por vezes não chegam ao pequeno empreendimento, nas cidades interioranas ou áreas rurais, deixando tais comércios à mercê das práticas de limpeza e conservação ineficazes no combate às ameaças de contaminação dos produtos alimentícios (ANVISA, 2004). Justo posto as dificuldades enfrentadas pela vigilância em dar subsídio a todos os empreendimentos alimentícios, se faz necessária à ação de conscientizar e alertar as pessoas das consequências da má higienização das mãos, alimentos, ambientes e utensílios (SILVA, 2007). Deve-se ressaltar ainda, quando não há uma higienização e conservação eficiente dos alimentos, os mesmos estão sujeitos a se contaminarem com microrganismos, os quais segundo Franco (2008) podem ser patogênicos, são os que causam doenças e chegam ao alimento por diversas vias devido a condições higiênicas precárias, no armazenamento, através dos manipuladores, produção ou distribuição; Deteriorantes, causam deterioração pois consomem a energia do alimento, não causa doença no homem; E existem ainda os produtores de alimentos, são benéficos e não-contaminantes, utilizados pela indústria na confecção de queijos, leite fermentado, vinhos, molhos e outros. Em busca de promover uma vivência prática do aprendizado da disciplina de biossegurança, esse trabalho foi proposto, com objetivo de realizar uma ação de avaliação 131 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA sanitária em ambientes de manipulação de alimentos, produção ou comercialização. 2 MATERIAIS E MÉTODO No dia 06, 07 e 08 de abril de 2015 foi realizada uma visita à ambientes de manipulação de alimentos na cidade de São Bento-PB, e selecionado um açougue para execução do projeto. Após oficialização da pesquisa, e consentimento da proprietária, foi realizada uma avaliação inicial e registro fotográfico do ambiente. A segunda visita ocorreu no dia 13 de abril de 2015, com a finalidade de avaliar novamente aspectos estruturais e comportamentais dos funcionários do açougue. Após a vistoria realizada, foi elaborado um plano de ação. No dia 21 de Abril de 2015, o primeiro treinamento foi ministrado, com conteúdo sobre: hábitos de higiene, procedimentos na manipulação de alimentos, normas de organização, higienização, uso dos equipamentos de proteção, padronização de um fardamento mais adequado para os funcionários, e planejamento das ações corretivas dos problemas identificados. Para higienização das mãos foi utilizado o manual de higienização das mãos da ANVISA, conforme os seguintes passos, descritos na Figura 1. 132 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Figura1. Protocolo de higienização das mãos utilizado no treinamento dos manipuladores de alimentos. No dia 24 de abril de 2015, elaborou-se o orçamento necessário, na paramentação do funcionário e do melhoramento do espaço físico, dos produtos para limpeza do local e utensílios, obtendo-se o valor de R$ 150,00. E as compras foram realizadas em 27 de abril de 2015. No dia 01 e 02 de maio de 2015 foram realizadas visitas para adequação, a qual consistiu na higienização, apresentação dos métodos de segurança alimentar e manutenção do local e as demais modificações necessárias. Para realizar a reforma do espaço físico foram adquiridos os seguintes materiais: tinta de parede lavável, pincel, solvente, lixa para madeira e ferro, tinta para mesa de madeira, luminária fechada, suporte de papel toalha, tinta antiferrugem, tecido branco e plástico liso transparente para a mesa, faca com cabo de plástico branco e tábua de polipropileno. Para uniformização do funcionário, foi adquirido: farda, luvas, touca, avental de plástico e máscara. 133 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Quanto aos produtos para a limpeza utilizou-se: água sanitária, desinfetante, desengordurante, sabão líquido, vinagre, álcool em gel, papel toalha, papel filme, flanelas descartáveis, estopa, vassoura, rodo, balde, esponja e escovão. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a avaliação inicial no açougue, foram encontradas paredes manchadas de salmoura da carne, alguns materiais enferrujados, tábua de madeira, faca com cabo de aço enferrujado, luz elétrica exposta, problemas de manutenção da limpeza, entre outros problemas. Os resultados serão apresentados relatando o ―Antes‖ e ―Depois‖, referente as adequações promovidas pelo projeto. Algumas dessas alterações estão ilustradas abaixo na figura 2. Figura 2. Fotografias apresentando o ―Antes‖ e ―Depois‖ de algumas das adequações realizadas. Tábua de corte das carnes; luminária; local de pesagem; estação de manipulação das carnes, respectivamente. 134 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA A mesa: ANTES: A mesa estava totalmente fora das normas de segurança alimentar, devido ao material de limpeza estar em proximidade com o local de manipulação da carne, além de ser uma mesa de madeira apenas com um encerado, o qual era áspero e de cor escura, o que dificulta a sua limpeza pois os microrganismos adentram nas micro fissuras da mesa e encerado, tornando o local impróprio para a atividade de corte das carnes. DEPOIS: A mesa foi pintada de branco, com tinta própria para madeira e impermeável para evidenciar futuros acúmulo de sujeira, tirado os produtos químicos como medida preventiva de contaminação entre eles e as carnes, e utilizado um tecido branco revestido de plástico transparente de fácil limpeza e desinfecção. Utensílios: ANTES: Tábua de madeira, outra de plástico seco já quebrado, uma das facas com cabo de madeira, martelo enferrujado, esses eram os materiais de contato direto com as carnes, situação perigosa, pois objetos de madeira, enferrujados e quebrados são propícios para a proliferação de bactérias e fungos causadores de doenças. DEPOIS: A tábua antes de madeira, agora trocada por uma de polipropileno, material mais resistente e próprio para o corte de carnes, e também a faca com cabo de plástico branco e antiderrapante, assim como proposto pelo Codex (2006), livre de toxidade, de duração adequada, não absorventes e fácil limpeza. 135 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Balcão: ANTES: Estava repleto de coisas desnecessárias e que juntam poeira, a cerâmica com rejunto escuro, proveniente do acúmulo de sujeira, era também um local de contaminação e área de grande risco biológico. DEPOIS: Foram removidos todos os objetos desnecessários e limpado os rejunto da cerâmica, por ser uma área de contato com o alimento, e imprescindivelmente deve se manter limpa, medida preventiva ao acúmulo de sujidades e micróbios patógenos. Piso: ANTES: Ao chegarmos o piso estava sujo de poeira, com alguns indícios de salmoura e sangue pelo chão, podendo provocar escorregões, além do risco iminente de contaminação alimentar. DEPOIS: Houve a limpeza da cerâmica e rejunto, com água sanitária, desenfetante, desengordurantes, sabão líquido e água tratada e limpa, o objetivo de se ter um ambiente limpo e organizado é, justamente, controlar o número, menor possível, de microrganismos no local de trabalho. Parede e objetos: ANTES: Objetos sem uso pendurados nas armações de ferro, juntando micróbios, ganchos afiados expostos, podendo provocar acidentes, parede suja e com tinta inadequada para a atividade, com resquícios dos respingos de sangue das carnes e poeira acumulados. DEPOIS: Com a retirada dos objetos, previne-se acidentes com os ganchos e amontoamento de poeira, e a parede 136 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA revestida com tinta lavável e antimicrobiana, favorece à limpeza. Iluminação: ANTES: A iluminação também estava inadequada, devido as luzes ficarem expostas, assim, juntando poeira e bichos como besouros, além do risco de uma explosão das lâmpadas que podem, com os cacos, ferir as pessoas que estiverem no ambiente. DEPOIS: Tal comprometimento em proteger as lâmpadas é uma medida de segurança importante, e segundo a cartilha de boas práticas em serviços de alimentação (2004) a falta de tal estrutura, é perigo ao consumidor e ameaça eminente de contaminação dos alimentos, caso a lâmpada venha a se fragmentar devido a curto circuito na rede elétrica. Balança e freezer: ANTES: Tanto a balança como o freezer estavam sujos, com poeira e salmoura que atraem insetos como moscas e baratas. DEPOIS: Realizada a limpeza e desinfecção da balança e freezer, foi orientado colocar papel filme sempre ao pesar uma peça de carne, minimizando o contato do alimento com possíveis sujidades e eliminando a contaminação cruzada, devido a balança servir para pesar grãos, também vendidos no comércio em questão. Quanto ao freezer, estava bem arrumado por dentro, orientamos também fazer limpeza quinzenal, conforme a chegada da carga de carne nova, fazendo o remanejamento da carne mais ―velha‖ para cima e a mais nova ao fundo do freezer. 137 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Roupa do funcionário: ANTES: O funcionário responsável pela manipulação das carnes, estava trabalhando de calçado aberto, podendo se machucar caso uma faca caia no chão, com roupa escura, sem nenhuma proteção, e sem touca. DEPOIS: A paramentação de uma roupa mais adequada é essencial na prevenção de acidentes e meios de contaminação, o uso do calçado fechado minimiza o perigo de se cortar, caso aconteça uma queda da faca no chão, a calça, a camisa, o avental, as luvas, máscara e touca, são importantes também na segurança do funcionário e do alimento. Lixeira: ANTES: Não havia lixeira no açougue, sendo necessário sair ao exterior do prédio para colocar qualquer tipo de lixo. DEPOIS: Instalamos uma lixeira de pedal, em ponto estratégico do local, e orientamos o funcionário e a dona a maneira de se descartar o lixo e a frequência desse descarte. Além das adequações estruturais, foi realizado em paralelo um treinamento, que capacitou os manipuladores de alimentos do local de intervenção de acordo com conteúdo baseado na literatura relacionada ao tema, visando a preservação da saúde de todos os envolvidos, sejam os manipuladores e os consumidores. Quanto a lavagem adequada das mãos, tal procedimento é vital no combate a contaminação dos alimentos, neste caso, da carne, que é susceptível de perecimento e rápido crescimento microbiano, devido a sua disponibilidade de nutrientes e água para tais microrganismos 138 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA (ANVISA, 2004). Essa sensibilização auxiliou assim, na segurança e confiabilidade da carne oferecida no estabelecimento em questão. A paramentação do trabalhador responsável por manipular a carne e aqueles responsáveis pela limpeza do açougue, é crucial. O uso de equipamentos e ferramentas de segurança, devido aos riscos existentes no local de trabalho, como por exemplo os promovidos pelos materiais perfuro cortantes, piso escorregadio, além de qualquer área com rede elétrica, o funcionário está sujeito à acidentes elétricos (SESC, 2003). Adequação da limpeza no espaço de manipulação das carnes (SILVA, 2006), como esclarecido anteriormente, a carne é um alimento de fácil contaminação, e o lugar onde ela é manipulada também pode contamina-la. Devido a isso, deve-se estar atento à limpeza frequente e eficaz nas imediações do açougue. Foi realizada também adequação da pintura das paredes e mesa encontrados no local, ao aplicar tintas laváveis e antimicrobianas, reduz o risco de fragmentos da parede se desprenderem e caírem no alimento, bem como facilitou sua manutenção de limpeza, quanto a mesa, possibilitou a sua impermeabilidade contra água ou salmoura das carnes, facilitando a sua desinfecção. Necessariamente, essas modificações garantirão a manipulação segura e correta dos alimentos como manda a Resolução RDC nº 216, de 15 setembro de 2004. Os utensílios, por obrigatoriedade e segurança dos alimentos, não podem ser de madeira ou qualquer outro material com microfissuras capazes de acumular bactérias e sujidades (CODEX ALIMENTARIUS, 2006), conhecendo-se os 139 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA perigos de contaminação por patogênicos, e por incursão de restos de aditivos, acidentais (cruzadamente levados) ou intencionais, a singularidade ao fazer uso de utensílios de limpeza fácil, está na obtenção da eliminação quantitativa e qualitativamente segura dos microrganismos, proporcionando a prevenção da saúde dos consumidores. A relevância de tais práticas se refletem na contenção da avaria dos alimentos e das doenças provocadas pelos mesmos, as DTAs, consequência da ingestão das toxinas de microrganismos infecciosos e patogênicos, e também pela ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos presentes nos alimentos (ANVISA, 2004). Oportunizando assim, à vivência teórica da segurança alimentar na prática, além de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) neste ano de 2015, alertou que as DTAs matam 351 mil pessoas por ano, dados obtidos no ano de 2010, e a Organização das Nações Unidas (ONU) computou 582 milhões de infecções alimentares em todo o mundo. Dados esses que deixam claro a finalidade e a necessidade de se regularizar métodos de conservação, manipulação, limpeza e armazenamento adequado para os alimentos, reforçando com isso, a importância das medidas de proteção alimentar realizadas e descritas neste trabalho. 4 CONCLUSÕES Durante o projeto, os manipuladores perceberam a importância de seguir as normas de segurança alimentar, visto os perigos eminentes da manipulação inadequada dos alimentos podem se refletir na saúde do consumidor e até leva-lo à morte. 140 ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SANIFICAÇÃO DE UM AÇOUGUE: PROMOÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA Ao término de todas as intervenções no ambiente, bem como das orientações repassadas aos manipuladores, foi observada uma mudança de comportamento frente o combate aos microrganismos, além da higienização ter elevado a confiabilidade do ambiente consequentemente atraindo atenção dos clientes e valorizando o mesmo, alcançando assim, os resultados buscados no início da intervenção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA. Cartilha sobre boas práticas para serviços de alimentação. 2004. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/83f33080474581508d9fdd3fb c4c6735/cartilha_gicra_final.pdf?MOD=AJPERES>. Acessado em 20 de fev.de 2015. BRASIL. Resolução RDC nº 216, de 15 setembro de 2004. CODEX ALIMENTARIUS. Higiene dos alimentos: Textos básicos. Brasília: Pan-Americana da Saúde, 2006. FRANCO, Bernadette D.G.M. e LANDGRAF, Mariza. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Editora Atheneu, 2008. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Alerta que doenças transmitidas por alimentos matam 351 mil por ano. Publicado na Rádio ONU em 02 de abril de 2015. Disponível em: <http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/04/oms-alerta-quedoencas-transmitidas-por-alimentos-matam-351-mil-porano/#.Vgg1smeEc_o>. Acessado em 27 de set. de 2015. SILVA, L. F. Procedimento Operacional Padronizado de Higienização como Requisito para Segurança Alimentar em Unidade de Alimentação. 2006. 69 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006. SOUZA LHL. A manipulação inadequada dos alimentos: fator de contaminação. Hig Aliment. 2006; 20(146):32-9. SREBERNICH, S. M. et al. Microbiological evaluation of commercial sponges, used in industrial kitchens in the city of Campinas, SP. Rev. Hig. Aliment; v.19, n.132, p.75-78, jun. 2005. SESC. Banco de Alimentos e Colheita Urbana: Manipulador de Alimentos I - Perigos, DTA, Higiene Ambiental e de Utensílios. Rio de Janeiro: SESC/DN, 2003. 141 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE CAPÍTULO 11 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE Júllia Santos de SOUZA1 Thaise Anataly Maria de ARAÚJO1 Adriana Gomes Cézar CARVALHO² Marla Katiely da Silva PEREIRA3 Regina Maria Cardoso MONTEIRO4 1 Nutricionista Residente Multiprofissional em Saúde Hospitalar – UFPB; 2Nutricionista no Hospital Universitário Lauro Wanderley e Mestranda em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar pela Faculdade do Norte do Paraná; 3Nutricionista voluntária do Hospital Universitário Lauro . Wanderley; 4Nutricionista no Hospital Universitário Lauro Wanderley RESUMO: A alimentação se modificou de acordo com os processos evolutivos da sociedade, dentre eles a industrialização. Isso modificou os hábitos da população e consequentemente dos trabalhadores, inclusive os vinculados ao setor saúde. Diante disso, o presente artigo objetiva realizar uma revisão de literatura sobre o percurso da alimentação no decorrer do tempo e as possíveis estratégias de alimentação saudável para o trabalhador. O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica cujas as bases de dados consultadas foram MEDLINE e SCIELO. Ante as pesquisas, constatou-se que Políticas e Programas vem sendo desenvolvidos, visando a reincorporação de hábitos alimentares adequados e saudáveis. Todavia, esses não trazem em sua construção ênfase aos trabalhadores da saúde, que possuem jornada de trabalho extenuante e outros aspectos que dificultam o cumprimento dos aspectos relacionados ao explicitado. O nutricionista configura-se 142 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE enquanto potente ator do incentivo às práticas alimentares adequadas e saudáveis, sendo a Educação Alimentar e Nutricional condutora de tais processos. Ressalta-se que existem poucos estudos que abordam a temática em tela e que estratégias eficazes devem ser desenvolvidas, visando – inclusive – a diminuição da morbimortalidade relacionada a hábitos de vida inadequados. Palavras-chave: Alimentação adequada, Alimentação saudável, Trabalhador. 1 INTRODUÇÃO Desde o seu nascimento, o homem necessita de alimentação, uma vez que é a partir daí que recruta os nutrientes necessários para desenvolvimento e funcionamento do organismo (TOMAZONI, 2014). Contudo, além de possuir importância fisiológica, a alimentação é também um ato cultural, imprescindível para a formação da identidade do indivíduo e para preservação de sua cultura e história (ZUIN; ZUIN, 2009). Com o decorrer do tempo, diversas descobertas técnico-científicas acarretaram em um progresso e modificação dos costumes alimentares (ABREU et al., 2001) Devido a estas descobertas, surgiram diferentes tipos de alimentos e foram introduzidos novos ingredientes, com o propósito gerar produtos cada vez mais atraentes e saborosos para garantir maior aceitabilidade da população. Exemplos disso, temos o açúcar para adoçar; a gordura saturada e gordura trans para dar maior maciez, leveza e cremosidade; o sódio para acentuar o sabor; os corantes para dar cor 143 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE especial; e os aromatizantes para dar cheiro apreciável. Porém, estas inovações na produção dos alimentos reduz a qualidade nutricional dos mesmos (BRASIL, 2012). Além disto, houve uma mudança no consumo e estilo de vida da população devido ao crescimento demográfico, industrialização, urbanização, que favorece o sedentarismo, a restrição da necessidade de gasto de energia para as atividades diárias e para o trabalho, facilitando o consumo de alimentos prontos e de alta densidade calórica. Estes fatores associados têm, então, aumentado os problemas de saúde, como a obesidade, a hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer (ABREU et al., 2001). Análises sobre desfechos negativos relacionados a estes problemas de saúde no mercado de trabalho são frequentes. Podendo ressaltar a incapacidade, diminuição da qualidade de vida, aumento do uso de cuidados de saúde, diminuição da produtividade no ambiente de trabalho, e aumento do absenteísmo, o que leva ao aumento dos custos para o mercado e para a sociedade (HÖFELMANN; BLANK, 2009). Para o trabalhador da área de saúde então, esta preocupação é ainda maior, uma vez que os mesmos fazem a maior parte das refeições fora de casa. Desta maneira, foram criadas diversas políticas a fim de suprir esta deficiência no tipo de alimentação consumida pelo trabalhador. Essas possuem o intuito de que, com a melhoria da qualidade da alimentação do mesmo, haja diminuição e/ou prevenção dos casos de doenças crônicas não transmissíveis nesta população. Dessa forma, possivelmente, a produtividade 144 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE seria elevada e minimizaria a quantidade de faltas por motivos de doenças. Diante disso, o presente artigo objetiva realizar uma revisão de literatura sobre as possíveis estratégias de alimentação saudável para o trabalhador. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica onde foram utilizadas as bases de dados MEDLINE e SCIELO. Primariamente foi realizada uma busca com o objetivo de identificar as análises existentes sobre a alimentação do trabalhador e as estratégias para promover uma alimentação saudável nesta população, referida em periódicos nacionais e intenacional, através da revisão de literatura sobre o tema. Inicialmente foram incluídos na busca os títulos e os resumos dos artigos para a seleção ampla de prováveis trabalhos de interesse, utilizando-se como palavras chave os termos: alimentação do trabalhador, alimentação saudável, estratégias de alimentação saudável e educação nutricional. Foram utilizados como critérios de inclusão os textos que abordavam os conceitos e opiniões sobre o tema alimentação saudável, alimentação do trabalhador e estratégias de promoção da alimentação saudável, textos nacionais, alguns artigos de anos anteriores (com mais de 5 anos) e cartilhas sobre alimentação saudável, que foram de grande relevância para conceituarmos e atingirmos o nosso objetivo. Assim, foram encontrados 35 artigos referentes à 145 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE qualidade de vida no trabalho, sendo excluídos aqueles que não atendiam aos critérios estabelecidos. Ao final, foram selecionados 19 artigos. 3 RESULTADOS E DISCURSÃO Sabe-se que existem divergências entre a atividade de se alimentar e de nutrir-se. Enquanto a primeira associa-se aos aspectos culturais que existem por trás da preparação e consumo dos alimentos, o ato de nutrir-se está relacionado ao conjunto de nutrientes que são precisos para o funcionamento normal do organismo, como as vitaminas, proteínas e carboidratos (ZUIN; ZUIN, 2009). No Brasil, as primeiras ações em saúde do trabalhador no âmbito da alimentação, datam do final da década de 1930, quando se tornou obrigatório para as empresas com mais de quinhentos empregados instalarem um refeitório (Decreto- Lei n. 1.228, de 2 de maio de 1939). Sendo criado na mesma época o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), que, dentre outras atribuições, tinha o objetivo de promover gradativa racionalização dos hábitos alimentares dos trabalhadores brasileiros (STOLTE; HENNINGTON; BERNARDES, 2006). Como ressaltado anteriormente, diversos estudos mostram que os padrões alimentares vem modificando-se rapidamente na grande maioria dos países e, principalmente, naqueles em processo de industrialização. Dentre estas mudanças, a que mais se destaca é a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem 146 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo. No entanto, essas modificações levam a um desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias (BRASIL, 2014). Concretizado, então, o processo de industrialização do país, o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) foi instituído pelo Governo Federal, por meio da Lei n. 6.321, de 1976, regulamentada somente em 1991. O PAT visa melhorar a situação nutricional, promover a saúde e prevenir doenças profissionais, sendo direcionado ao atendimento dos trabalhadores de baixa renda (que ganham até cinco salários mínimos mensais). Cabendo salientar que o PAT foi instituído em conjunto com a criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan) e, com ele, os I e II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan), com os custos divididos entre trabalhador, empresa e governo (STOLTE; HENNINGTON; BERNARDES, 2006). Os objetivos principais do PAT são assim definidos (BRASIL, 1979): ―Proporcionar disponibilidade maior e mais eficiente de energia para o trabalho do homem e, consequentemente, concorrer para melhoria do estado nutricional do trabalhador; dividir, transitoriamente, entre o governo, a empresa e o trabalhador, o custo da energia humana necessária para o trabalho‖ (BRASIL, 1979, p.6). No entanto, com esta definição, a alimentação é considerada um ‗combustível‘ necessário ao ‗trabalhadormáquina‘, tendo este que custear parte dela, não sendo vista 147 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE como um direito do trabalhador. Ressaltando-se dessa forma que era preciso alimentar melhor a classe trabalhadora para que fosse possível garantir maior produtividade, mediante as alternativas apresentadas anteriormente à criação do PAT (ARAÚJO; COSTA-SOUZA; TRAD, 2010). Ao longo dos anos, todavia, o Brasil vem passando por transformações na área da alimentação, o que gerou a necessidade de alterações no Programa, tanto na sistemática interna de subsídios quanto na abertura de opções de atendimento às necessidades nutricionais dos clientes. Com este intuito, foi criada a Portaria Interministerial Nº 66, publicada em agosto de 2006, e que entrou em vigor em novembro de 2006, que conferiu alterações necessárias nos parâmetros nutricionais do PAT (BRASIL, 2006). Apesar de ter sido instituído como programa emergencial e transitório com o intuito de combater a desnutrição calórico-proteica, o PAT continua em vigência, com o objetivo de aprimorar o estado nutricional dos trabalhadores, que atualmente apresentam um perfil de excesso de peso, com maior risco de desenvolverem doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (ARAÚJO; COSTASOUZA; TRAD, 2010). Ante o explicitado, insere-se a discussão sobre o trabalhador da saúde e, especificamente aquele que possui enquanto ambiente de trabalho o hospital, já que existem grandes desafios, devido à carga horária extenuante, que os levam a passar maior parte de suas vidas no ambiente de trabalho (TRINDADE et al., 2007). 148 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE É nesse contexto que se questiona a não especificidade do PAT aos trabalhadores da saúde, resultando na não oferta ou em oferta inadequada de alimentos, uma vez que abre precedente para não padronização ou especificação de refeições que convirjam em alimentação adequada. Além disso, ao seguir o preconizado por um Programa, empresas preocupam-se com o monitoramento das ações do mesmo, sendo assim – ao passo que isso não norteia as ações de produção de refeição para o trabalhador da saúde – não há como averiguar a qualidade do que vem sendo ofertado aos mesmos. Nesse interim, os profissionais da saúde recebem durante sua formação acadêmica conhecimentos básicos sobre uma alimentação saudável e equilibrada, no entanto, se observa que estes continuam praticando hábitos de vida não saudáveis, assim como o consumo inadequado de alimentos (LARES et al., 2011). Ressaltando que o supracitado pode ser enquadrado também enquanto justificativa para o que acabara de ser relatado pelos autores em tela e, por isso, mais estudos devem ser realizados nesse âmbito, vislumbrando-se diagnóstico preciso do consumo dos trabalhadores da saúde e, a partir deles, políticas públicas poderem ser construídas e implantadas no setor. Em estudo comparativo e transversal Lares et al. (2011), concluiu que os profissionais de saúde possuíam hábitos alimentares que causavam riscos à saúde, no qual houve predominância do consumo de gorduras saturadas e sódio, e ainda, um baixo consumo de antioxidantes, fibra e 149 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE cálcio, o qual pode levar à obesidade, HAS e outras doenças crônicas. Diante do explicitado, cabe refletir que somente o fornecimento de alimentos saudáveis no ambiente de trabalho não seria suficiente para a prevenção e/ou tratamento efetivo destas doenças. Assim sendo, estratégias diversificadas deveriam ser aplicadas no setor saúde, com ênfase em seus trabalhadores. Nessa esfera, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNaPS) traz enquanto um dos temas prioritários a alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2014). No entanto, confere foco à promoção da educação permanente dos trabalhadores da saúde com intuito de compartilhar tais saberes com os usuários do setor, não fomentando estratégias de viabilização de práticas alimentares com este perfil por parte dos próprios trabalhadores. Santos (2005), com vistas ao supracitado, corrobora o desenvolvimento de aconselhamento dietético para reeducação alimentar, bem como a necessidade da perspectiva educacional não se limitar a subsidiar os indivíduos, sendo necessárias também estratégias, como campanhas, elaboração de material educativo e instrucional. Fisberg et al (2009) afirma que a intervenção dietoterápica é comprovadamente reconhecida como tratamento isolado ou coadjuvante de doenças como obesidade, cardiovasculares, HAS, diabetes mellitus, osteoporose e câncer. Nesse sentido, os mesmos autores afirmam que a demanda por atendimento nutricional, tanto na rede básica de Saúde quanto em clínicas e consultórios, tem 150 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE crescido significativamente, em decorrência do aumento da prevalência de doenças crônicas e do reconhecimento de que a adoção de uma dieta saudável representa um dos principais determinantes dessas doenças. Dessa maneira, desenvolver estratégias que favoreçam o acesso do trabalhador da saúde à essa intervenção, possivelmente, propiciará maior qualidade de vida ao mesmo. No bojo dos Programas e Políticas que estimulam a alimentação saudável, cabe explanar a respeito da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), a qual foi instituída no término dos anos 90, com vistas à redirecionar o preconizado para alimentação e nutrição. Em contraponto ao desempenhado até então, que era focado no assistencialismo aos trabalhadores e determinados grupos de risco, a PNAN possui enquanto propósito garantir a qualidade dos alimentos ofertados nacionalmente, bem como a promoção de práticas alimentares saudáveis, visando a prevenção das comorbidades já exemplificadas, isso por meio de ações intersetoriais que favoreçam o acesso universal aos alimentos (BRASIL, 2013). Em consonância com a PNAN, no início do século XXI, foi difundida a Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, configurando-se enquanto proposta da OMS, que vislumbrava a associação desses fatores, como estratégias efetivas para diminuição de comorbidades e taxa de mortalidade (OMS, 2003). Novamente ante o explicitado necessita-se fazer alusão ao não enfoque nos trabalhadores da saúde, que além de 151 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE atores importantes à implantação das Políticas e Programas, fazem parte das estatísticas e evidências cujos resultados se elevam a cada dia no tocante à morbimortalidade consequentes de hábitos de vida inapropriados. A educação alimentar e nutricional (EAN) possui papel central no que tange o envolvimento dos trabalhadores da saúde em não apenas propagar a importância da alimentação adequada e saudável, mas em vivenciá-la (BOCLIN; BLANK, 2010). Cabe esclarecer que a EAN fomenta o empoderamento dos sujeitos quanto à escolha e tomada de decisão no tocante à alimentação adequada e saudável, já que se baseia em práticas educativas cujos objetivos perpassam o compartilhar de temáticas consistentes, coerentes e claras, de maneira a promover um acesso à informação significativa (SANTOS, 2005). Ao elucidar sobre a EAN, vale mencionar que a permanência da prática é essencial, uma vez que diversos fatores influenciam na adesão a hábitos de alimentação adequada e saudável, podendo-se elencar aspectos como o psicológico e sociocultural, o que inclui a gama de produtos industrializados, que – por vezes – desfavorece a aquisição de alimentos in natura ou menos processados, além da dificuldade do envolvimento dos demais componentes da família, que gera pouca motivação e disponibilidade de tempo para tal (ALMEIDA-BITTENCOURT; RIBEIRO; NAVES, 2009). Dessa forma, os autores supracitados ainda tecem esclarecimentos sobre a confecção de cardápios com alimentos diferentes dos habitualmente consumidos, que se 152 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE adequem à realidade do trabalhador da saúde e seus familiares, que ofereçam a composição de receitas práticas, que demandem pouco tempo para o preparo e funcionais, bem como a orientação quanto à aquisição dos gêneros alimentícios se faz de imprescindível incentivo. Ainda nesse escopo, deve-se considerar a variabilidade e combinação dos ingredientes e preparações; observar a disponibilização dos alimentos, seja mediante à safra dos insumos e à proximidade dos locais onde os mesmos podem ser adquiridos, praticidade das receitas (técnicas de preparo e mão-de-obra disponível), tentar melhorar/viabilizar o custo, adequando-o à realidade da renda do trabalhador em questão e, um dos aspectos mais importantes, incentivar a adequação e balanceamento do valor nutricional, ajustando às recomendações de macro e micronutrientes (ALMEIDABITTENCOURT; RIBEIRO; NAVES, 2009). Diante do discutido, tem-se que a principal estratégia para o enfrentamento dos problemas do processo saúdedoença-cuidado tem sido a promoção da saúde, que visa fortalecer o caráter promocional e preventivo, envolvendo os aspectos de uma alimentação saudável que pode auxiliar tanto no tratamento como na prevenção dessas doenças (SANTOS, 2005). Nesse interim, encontra-se o trabalhador da saúde, que apesar de ser – na maioria das vezes – conhecedor das práticas alimentares adequadas e saudáveis e do que as permeiam, ainda não possuem Programas e Políticas que o englobe integralmente, sendo necessária a ampliação desse olhar por parte dos gestores e da sociedade em geral. 153 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE 4 CONCLUSÃO A partir de revisão de literatura, pode-se concluir que somente a implantação de programas de alimentação, ou mesmo simples fornecimento de alimentação saudável no ambiente de trabalho, não são suficientes para proporcionar uma alimentação saudável como um todo para os trabalhadores, incluindo os da área de saúde. Uma vez que estudos mostram que atualmente os trabalhadores ao invés de apresentarem uma condição de desnutrição, conforme ocorria antigamente, os mesmos vem se tornando obesos, o que proporciona o surgimento de outras doenças crônicas. Quanto aos trabalhadores de saúde, apesar dos poucos trabalhos envolvendo a alimentação de funcionários de hospital, pode-se observar que estes também apresentam hábitos alimentares que podem ocasionar DCNT, como obesidade, diabetes mellitus, HAS e dislipidemia. As evidências ainda demonstram que a população em geral, o que envolve os trabalhadores da saúde em consequência, costumam consumir um elevado teor de gorduras saturadas e sódio, o que eleva o risco de surgimento destas doenças e, quando o indivíduo já é portador de uma dessas patologias, pode agravar o quadro clínico, o que leva a uma menor produtividade no trabalho e maior taxa de absenteísmo. Ficou ainda perceptível que há uma quantidade ínfima de estudos que tratem estratégias que possam favorecer a alimentação adequada e saudável para trabalhadores da saúde, devendo haver o fomento por parte dos pesquisadores nesse escopo. 154 PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO: DESAFIOS DA INSERÇÃO DO TRABALHADOR DA SAÚDE É importante que para além do fornecimento de alimentos saudáveis as empresas/hospitais adotem estratégias de reeducação alimentar, como distribuição de panfletos com informações nutricionais de alguns alimentos, dicas de alimentos saudáveis, ou promoção de campanhas que abordem temas sobre hábitos de vida saudáveis. Além disso, espaços de educação permanente e locais para a realização das práticas também são prementes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S. de; VIANA, I. C.; MORENO, R. B.; TORRES, E. A. F. da S. Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saude soc., vol.10, no.2, São Paulo, Aug./Dec., 2001. 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Nutr., v. 34, n. 1, p. 225-241, São Paulo, abr. 2009. 157 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB CAPÍTULO 12 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB Hélida Thailana Silva NASCIMENTO1 Noádia Priscilla Araújo RODRIGUES2 1 Aluna do Curso de Gastronomia da UFPB em João Pessoa; 2 Autor orientador: Professora da UFPB em João Pessoa [email protected] RESUMO: A alimentação escolar deve proporcionar segurança alimentar e nutricional no seu sentido amplo. É pensando nestes aspectos que o presente trabalho se propõe como instrumento para verificar o nível de boas práticas de produção de alimentos no ambiente escolar de Pitimbu-Pb, cujos dados foram coletados através da observação das condições de funcionamento da cozinha e da aplicação de lista de verificação baseada na Resolução/CD/FNDE nº 26/2013 (Art. 33) e a RDC 216/2004. Os resultados foram adquiridos através das avaliações dos questionários os quais revelaram diversas inadequações em diferentes aspectos de condições higiênico-sanitárias colocando em riscos as refeições preparadas e oferecidas nas escolas. Concluiu-se, com este trabalho, que os problemas detectados poderiam ser minimizados com a disponibilidade do Manual de Boas Práticas e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) e de constantes treinamentos aplicados aos manipuladores de alimentos. Palavras-chave: Alimentação escolar, boas práticas, segurança alimentar. 158 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB 1 INTRODUÇÃO O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é uma das políticas públicas, mais significativas para a garantia do direito à alimentação escolar. É considerada como uma das principais ferramentas para o estabelecimento eficaz de uma política de Segurança Alimentar e Nutricional e de promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada (RANGEL et al., 2013). Tem como princípios para sua realização e execução a universalidade, a equidade, a sustentabilidade, a continuidade, o respeito aos hábitos alimentares, a descentralização e participação social. Por ser um programa de abrangência tão vasta tem sido um desafiador garantir este direito aos escolares por mais de cinco décadas (PEIXINHO, 2013; BRASIL, 2013). Alimentação escolar é um termo utilizado para todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante todo o período letivo (TANAJURA; FREITAS, 2012). O termo ―Merenda escolar‖ é utilizado em ambiente escolar por escolares e por funcionários para nomear a alimentação escolar. Estes termos são decorrentes do fato de as preparações serem servidas em horário de lanches ou merenda, nomenclatura usada na cultura brasileira para refeições pequenas realizadas entre as refeições principais, a saber, desjejum, almoço, jantar (TEO et al, 2010). A alimentação escolar deve proporcionar segurança alimentar e nutricional no seu sentido amplo, quais são: garantia de qualidade nutricional, higiênico-sanitária e respeito a cultura e a soberania alimentar de um povo. 159 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB É pensando nestes aspectos que o presente trabalho se propõe como instrumento para verificar o nível de boas práticas de produção de alimentos no ambiente escolar. 2 MATERIAIS E MÉTODO Para a avaliação das condições sanitárias das escolas foi utilizada a ―Lista de verificação em boas práticas para unidades de alimentação e nutrição escolares‖ com base nas legislações brasileiras (CECANE/FNDE, 2013). Para o seu preenchimento, foram coletados os dados referentes às condições higiênico-sanitárias das unidades escolares do município de Pitimbu-PB, localizadas nas regiões urbana e rural. Cada escola foi avaliada individualmente e ―in loco‖, visando à observação direta das condições sanitárias da estrutura física, matéria prima, práticas dos manipuladores, controle integrado de vetores e pragas, água utilizada na produção e consumo dos alimentos. Os resultados obtidos por meio dos questionários foram registrados e em seguida analisou-se através de percentuais as respostas que se apresentavam em conformidade ou não, sendo essas apresentadas na forma de tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 INSTALAÇÕES E EDIFICAÇÕES Como pode ser observado na tabela 1, o percentual total de adequação referente às instalações e edificações encontrado nas escolas foi relativamente baixo (31%) 160 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB diferentemente do encontrado por Couto et al (2005), o qual registrou (76%) de adequação durante a avaliação higiênicosanitária realizada em uma unidade hoteleira de refeições coletivas do município de Contagem-MG. Segundo Brasil (2002), a adequação da edificação e instalações, de certa forma, facilita a implementação das boas práticas em unidades de alimentação nas diferentes etapas, recebimento, armazenamento, manipulação dos alimentos, preparação das refeições e sua distribuição. Durante a pesquisa pode-se observar que os itens de instalações e edificações, tais como, paredes, pisos, tetos, portas e janelas não se encontravam íntegros, lisos e nem em bom estado de conservação, o que compromete a segurança alimentar dentro da unidade uma vez que as aberturas e /ou rachaduras sejam em paredes ou pisos acumulam sujidades atraindo pragas e insetos. As portas possuiam abertura por contato manual e as aberturas das janelas não possuiam telas milimetradas. Semelhante ao encontrado por Assis et al (2011) durante um estudo feito em quiosques instalados na companhia de entrepostos e armazéns gerais do estado de São Paulo em que pode-se observar a inexistência de fechamento automático nas portas e de tela milimétrica nas janelas em todos os quiosques. De acordo com Brasil (2004) o piso e paredes devem estar em bom estado de conservação permitindo o não acúmulo de sujidades sendo composto por acabamento liso, impermeável, lavável e de cor clara. 3.2 EQUIPAMENTOS DE TEMPERATURA CONTROLADA 161 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB Os equipamentos para armazenamento de alimentos perecíveis sejam eles frízeres e/ou refrigeradores devem apresentar bom estado de conservação e higiene, onde prevaleçam a ausência de acúmulo de gelo e obstrução nos difusores de ar, o que evidencia melhores condições higiênicosanitárias. E a temperatura deve ser regulada constantemente para fins de controle. De acordo com SENAI (2004), a distribuição dos alimentos no refrigerador deve estar na seguinte ordem, os alimentos prontos colocados nas prateleiras superiores, os semi-prontos e/ou pré-preparados nas prateleiras do meio e o restante dos alimentos, crus e outros, nas prateleiras inferiores evitando assim uma contaminação cruzada. De acordo com a tabela 2, pode-se observar um percentual equivalentemente alto (73%) de não conformidades dos equipamentos de temperatura controlada. Tais inadequações estão relacionadas ao insuficiente número de equipamentos para manter os alimentos em conservação, e más condições de higiene. Em todas as escolas não havia registro e nem controle de temperatura mostrando um fator de preocupação, já que esta é uma forma de diminuir a proliferação microbiana. São José et al (2011) encontrou em seu estudo que as principais inadequações verificadas referente aos equipamentos envolveram higienização e manutenção dos mesmos. 3.3 MANIPULADORES Segundo Ferreira (2006) por causa do alto índice de contaminação que pode ocorrer no momento da manipulação 162 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB dos alimentos se torna necessário que os manipuladores adotem políticas de higiene no seu próprio corpo, sendo oferecidos pelo responsável técnico da unidade um constante monitoramento e treinamento. Durante o estudo verificou-se um grande percentual (69%) de inadequação referente aos manipuladores (ver tabela 3) comprovando uma deficiência de informações quanto às normas de higiene e saúde dos manipuladores já que a maioria deles nunca passaram por treinamento de boas práticas de fabricação. Esses resultados foram semelhante aos encontrados por Amaral et al (2012) que verificou 88% de inadequação nas cantinas de escolas púbicas do município de São Paulo. Os manipuladores das escolas eram do sexo feminino e geralmente duas por turno de trabalho, assim como Aguiar et al (2009) citou em seu estudo que as merendeiras não usam uniformes alegando não serem fornecidos pela prefeitura e em alguns casos usavam apenas proteção para os cabelos. No que diz respeito às inadequações foram verificadas más práticas sanitárias: o manipulador não era afastado quando sofria afecções (cortes, micose, queimaduras e etc.), trabalhavam com adornos e não realizavam corretamente as técnicas de lavagem de mãos, e os exames de saúde exigidos pela legislação não eram realizados. De acordo com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) os exames em trabalhadores devem ser feitos na contratação; periodicamente; de retorno ao trabalho; de mudança de função e quando demitido, os exames realizados nos manipuladores de alimentos são hemograma, coprocultura, coproparasitológico e VDRL os 163 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB quais tem como objetivo de verificar a saúde do trabalhador e a sua condição, se está apto para o trabalho, não podendo ser portador de doença infecciosa ou parasitária já que essas podem ser transmitidas para o alimento quando manipulado de forma inadequada (BRASIL, 1978). Para a legislação paraibana Todos os profissionais da área de alimentos que trabalhem diretamente na produção e manipulação dos mesmos submeter-se-ão ao exame laboratorial – parasitológico de fezes – periodicamente, a cada 06 meses, sem prejuízo dos exames solicitados através do Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO (LEI Nº 7. 587, Art. 4º, 2004). 3.4 RECEBIMENTO A tabela 4 mostra um relativo percentual de inadequação de políticas aplicadas no momento do recebimento (65%), esse percentual equivale a falta de treinamento e monitoramento das atividades dos manipuladores. É preciso seguir as orientações necessárias para o recebimento dos alimentos bem como pesquisar e conhecer os fornecedores, tais ações são importantes para garantir uma boa e segura preparação. Segundo a ANVISA (1999) no ato do recebimento é necessário verificar as condições de higiene do transporte de entrega e do entregador, dos insumos, analisar as características organolépticas dos alimentos, as embalagens que devem estar intactas e com a data de validade em dia, em alimentos perecíveis verificar a temperatura, examinar a existência de cristais de gelo, o que podem indicar posssível recongelamento. E os alimentos 164 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB reprovados precisam ser imediatamente devolvidos ou identificados para devolução. Nas escolas estudadas os fornecedores são selecionados através de licitação e chamadas públicas. Para garantir a qualidade dos produtos a serem adquiridos na alimentação escolar, é feita uma descrição detalhada dos gêneros no edital, a merenda é entregue quinzenalmente, a entrega dos alimentos perecíveis e não perecíveis são realizadas em automovel coberto, porem sem sistema de refrigeração. Durante a recepção da merenda é analisada a data de validade (NASCIMENTO et al, 2014). 3.5 PROCESSOS DE PRODUÇÕES O processo de produções está relacionado a questões de higiene, preparo dos alimentos, recebimento, armazenamento, controle e registros sendo essas etapas, fundamental para a garantia da qualidade do produto final. O percentual de adequação nesse quesito foi relativamente baixa 31% e assim como encontrado por Seixas et al (2008) em um estudo realizado em dez unidades de alimentação esses resultados tenham sido encontrados pelo fato das unidades não possuírem Manual de Boas Práticas de Fabricação e nem Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs). Segundo a RDC n°275/2002, manual de boas práticas de fabricação é um documento que descreve e orienta o trabalho executado no estabelecimento e a forma correta de fazê-lo, incluindo, no mínimo, os requisitos sanitários dos edifícios, a manutenção e higienização das instalações, dos 165 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB equipamentos e dos utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, controle da higiene e saúde dos manipuladores e o controle e garantia de qualidade do produto final. Já os procedimentos operacionais padronizados (POPs) são procedimentos escrito de forma clara e objetiva que apresente instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras na produção, armazenamento e transporte de alimentos (BRASIL, 2002). As inconformidades mais frequentes encontradas nas escolas foram o descongelamento que não era realizado em condições seguras, sob refrigeração, pois era feito em temperatura ambiente; A higienização de hortifrutis não seguiam os critérios estabelecidos pela RDC/216, de retirar partes do alimento que estão em deterioração, lavagem em água corrente, imersão do alimento em solução clorada e em seguida proceder o enxague dos mesmos em água potável. Tais irregularidades também foram observadas por São José et al (2011) em que a manipulação dos vegetais não era realizada de forma segura. 3.6. HIGIENE AMBIENTAL A higiene ambiental avalia a higiene das instalações, dos utensílios, equipamentos e o controle de pragas e vetores urbanos, onde quase todos os procedimentos dependem da ação dos manipuladores, mas como já foi visto anteriormente a grande maioria deles não possui orientação e nem passa por treinamento. 166 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB Segundo Brasil (2004) todas as superfícies que entram em contato com os alimentos podem tramsmitir contaminantes para os memos, principalmente se esses não passarem pelo processo correto de higienização. Silva Júnior (2013) afirma que os equipamentos e utensílios que entram em contato com o alimento devem ser confeccionados em material que não transmitam substâncias tóxicas, odores e sabores; não absorventes e resistentes à corrosão e as operações de limpeza e desinfecção. As superfícies devem ser lisas e estarem isentas de rugosidade, ou outras imperfeições que comprometam a higiene dos alimentos evitando o acúmulo de sujidades, ou seja, fontes de contaminação. Em média, as escolas estão com 39% de adequação da higiene ambiental e assim como Messias et al (2013) obteve em seu estudo as principais inadequações verificadas envolveram a higienização e manutenção de equipamentos e utensílios, os quais são realizadas incorretamente e ainda são armazenados de forma desordenada e desprotegidos contra sujidades, insetos e roedores. Além da má higienização feita nas instalações, equipamentos e utensílios, em 100% das escolas não existem nenhum tipo de registro de temperatura dos equipamentos e qualquer outra operação que contribua de forma mais completa para a manutenção preventiva dos equipamentos. 167 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB Tabela 1. Percentual de adequação referente as instalações e edificações das escolas. PERCENTUAL DE ADEQUAÇÃO ESCOLAS SIM ESCOLAS DA ZONA URBANA E RURAL NÃO 31% NA 48% 22% Tabela 2. Percentual de conformidade dos equipamentos de temperatura controlada das escolas. PERCENTUAL DE CONFORMIDADE ESCOLAS SIM ESCOLAS DA ZONA URBANA E RURAL NÃO 17% NA 73% 11% Tabela 3. Percentual de conformidade dos manipuladores das escolas. PERCENTUAL DE CONFORMIDADE ESCOLAS SIM ESCOLAS DA ZONA URBANA E RURAL NÃO 20% NA 69% 11% Tabela 4. Percentual de conformidade do recebimento da merenda das escolas. PERCENTUAL DE CONFORMIDADE ESCOLAS SIM ESCOLAS DA ZONA URBANA E RURAL 35% NÃO 65% NA 0% 168 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIA DAS ESCOLAS DO MUNICIPIO DE PITIMBU-PB 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos no presente estudo podese constatar que as cozinhas das escolas se encontram em inadequações nos diferentes aspectos higiênico-sanitários comprometendo as refeições preparadas nesses locais que deveriam estar dentro dos critérios de qualidade estabelecidos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Deve-se ressaltar a importância de elaboração do Manual de Boas Práticas e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) e constantes treinamentos já que o maior índice de inadequação foi registrado nos aspecto que diz respeitos aos manipuladores e higienização de equipamentos e utensílios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, L. P.; FREITAS, H. A.; MELO, M. L. B.; SANTOS, N. F. 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Email do autor responsável: [email protected] RESUMO: Os Equipamentos Públicos de Apoio a Produção, Abastecimento e Consumo de Alimentos são instrumentos importantes para a estruturação dos Sistemas Públicos Agroalimentares Locais. O Restaurante Popular é um dos programas integrados à rede de ações do Fome Zero tendo como princípios a produção e distribuição de refeições saudáveis, para pessoas em situação de insegurança alimentar. Assim, Este trabalho teve como objetivo avaliar o perfil dos usuários e da aceitabilidade do Restaurante Popular do bairro de mangabeira em João Pessoa, PB. Os dados foram obtidos através da aplicação de um questionário para conhecer o perfil dos usuários do restaurante e a aceitação global dos serviços oferecidos. A população total foi de 50 pessoas, sendo 68,0% do sexo masculino e 32,0% do sexo feminino dentre jovens, adultos e idosos, sendo que 66,0% frequenta o estabelecimento 5 vezes por semana, possuem escolaridade do ensino fundamental incompleto ao superior, a qualidade das refeições, do atendimento e do cardápio foi 172 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB aceitável em sua maioria. Conclui-se que o objetivo do programa vem sendo atingido e contribuindo para a diminuição dos riscos de agravos decorrentes da alimentação inadequada. Palavras-chave: Segurança alimentar. Equipamentos públicos. Qualidade dos serviços. 1 INTRODUÇÃO Fome e insegurança alimentar são problemas antigos na realidade brasileira, associados principalmente à pobreza, a falta de educação alimentar e de políticas públicas efetivas para a resolução do problema. O conceito de Segurança Alimentar veio à luz a partir da 2ª Grande Guerra com mais de metade da Europa devastada e sem condições de produzir o seu próprio alimento. Esse conceito leva em conta três aspectos principais: quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos alimentos (BELIK, 2003). Assim, a Segurança Alimentar e Nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável (PEIXOTO, 2015). Para além do esforço de atribuir significado ao termo segurança alimentar e nutricional, a Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) avançou ao criar os meios para sua realização por meio de um sistema de políticas públicas que contemplasse a transversalidade do 173 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB tema, o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), a quem delegou o objetivo de formular e implementar políticas e planos de segurança alimentar e nutricional, estimular a integração dos esforços entre governo e sociedade civil, assim como promover o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da segurança alimentar e nutricional (BRASIL, 2006). Segundo os dados da 4a Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a Paraíba ocupa o 3º lugar no ranking dos estados com maior taxa de insegurança alimentar e nutricional, ficando atrás do Maranhão e Roraima, no nordeste ocupa o 2º lugar. Em 2004, 1,4 milhões de paraibanos estavam em situação de insegurança alimentar (aproximadamente 50%), sendo 15,1% em situação grave no estado enquanto o país apresentava 6,5% nesta situação (IBGE, 2006). A medida do grau de insegurança alimentar foi realizada de acordo com a Escala Brasileira de insegurança Alimentar – EBIA. O Relatório de Insegurança Alimentar no Mundo de 2014, publicado pela FAO, revela que o Brasil reduziu de forma muito expressiva a fome, a desnutrição e subalimentação nos últimos anos (KEPPLE, 2014). Apesar da sensível melhoria nos indicadores sociais obtidos nos últimos anos, ainda representa um imenso desafio fazer avançar o enfrentamento à questão da fome e da pobreza extrema no Brasil. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD- 2009), 30,9% dos domicílios no Brasil estava em situação de insegurança alimentar. Estratificando apenas a região Nordeste este índice passa a 46,1%, sendo que no estado da Paraíba 41% dos domicílios apresentavam uma situação de insegurança alimentar (IBGE, 2010). 174 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Os Equipamentos Públicos de Apoio a Produção, Abastecimento e Consumo de Alimentos são instrumentos importantes para a estruturação dos Sistemas Públicos Agroalimentares Locais com vistas à promoção do Direito Humano a Alimentação Adequada de populações em risco, contribuindo na construção do SISAN. Entre os Equipamentos Públicos de Apoio a Produção, Abastecimento e Consumo de Alimentos, cabe destacar o papel da Rede de Equipamentos direcionados a oferta de refeições adequadas e saudáveis, entre eles estão os Restaurantes Populares, as Cozinhas Comunitárias e os Bancos de Alimentos. O Programa Restaurante Popular é um dos programas integrados à rede de ações e programas do Fome Zero, política de inclusão social estabelecida em 2003. O bom funcionamento deste programa é papel do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e espera-se com ele, criar uma rede de proteção alimentar em áreas de grande circulação de pessoas que realizam refeições fora de casa, atendendo dessa maneira, os segmentos mais vulneráveis nutricionalmente. (BRASIL 2004). Segundo Nogueira Neto et al. (2007), Restaurantes Populares são Unidades de Alimentação e Nutrição que têm como princípios fundamentais a produção e a distribuição de refeições saudáveis, com alto valor nutricional, a preços acessíveis, para pessoas em situação de insegurança alimentar. A instalação de restaurantes populares visa ampliar a oferta de refeições adequadas, comercializadas a preços baixos. O estado da Paraíba conta com 4 unidades localizadas nas cidades de João pessoa, em Santa Rita, em Campinha Grande e em Patos, atendendo entorno de 3500 pessoas 175 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB diariamente. O restaurante de João Pessoa apresenta um salão com 40 mesas com 4 assentos cada, comportando 160 pessoas sentadas simultaneamente. Os benefícios sócioeconômicos dos restaurantes populares não se restringem aos seus usuários diretos. Os restaurantes podem atuar como reguladores de preços dos estabelecimentos localizados em seu entorno, contribuindo também para uma elevação da qualidade das refeições servidas e higiene dos estabelecimentos comercializadores (BRASIL, 2007). O Restaurante Popular foi instituído como um estabelecimento a ser administrado pelo setor público, devendo oferecer um serviço de venda de refeições prontas, balanceadas nutricionalmente, originadas de processos seguros, preponderantemente com produtos regionais da agricultura familiar, servidas em locais apropriados e confortáveis, de forma a garantir a dignidade ao ato de se alimentar e ao valor de R$1,00 (um real) (MDS, 2004). No entanto, na Paraíba administração estadual optou por terceirizar a operacionalização dos restaurantes, por meio da contratação de empresas de alimentação industrial. Nesse modelo de gestão, fica transferida à iniciativa privada a exploração comercial do restaurante, cabendo à administração pública a função de avaliação e monitoramento dos serviços (BRASIL, 2007). Para executar estas funções a caracterização dos usuários dos restaurantes populares é de fundamental importância para que possam ser articuladas outras ações que compõem a atual política nacional. (GOBATO, 2010; PINIGASSI, 2010; VILLALBA, 2010). O presente trabalho tem como objetivo avaliar o perfil dos usuários e da aceitabilidade do Restaurante Popular sob 176 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB administração estadual localizado no bairro de mangabeira em João Pessoa – PB. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O estudo realizado foi quantitativo a partir da elaboração e aplicação de questionário estruturado para conhecer o perfil do usuário do restaurante e a aceitação global dos serviços do restaurante. 2.1 Campo de pesquisa O campo de investigação foi o Restaurante Popular localizado no bairro de Mangabeira no município de João Pessoa, Estado da Paraíba. A unidade é de responsabilidade do Governo do Estado da Paraíba e a gerencia é de responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano. 2.2 Coleta de dados A coleta dos dados foi realizada no período de setembro de 2014 entre 10h00min e 13h00min enquanto os usuários do restaurante estavam na fila de espera para entrada. A obtenção de dados relacionados ao perfil de usuários foi realizada a partir da aplicação de um questionário específico com 50 pessoas para o fim e desenvolvido pelo pesquisador, no qual continha perguntas para a caracterização do perfil do usuário como idade, sexo, escolaridade e frequência que utiliza o estabelecimento, além de perguntas relativas à aceitação global do restaurante como qualidade da 177 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB comida, atendimento e do cardápio. A aplicação do questionário foi realizada por alunos da Universidade Federal da Paraíba do curso de Tecnologia de Alimentos e os dados foram expressos em porcentagem simples. Os instrumentos foram aplicados pelo pesquisador após esclarecimentos sobre a pesquisa e consentimento do órgão responsável. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A população participante do estudo totalizou 50 pessoas, sendo 68,0% do sexo masculino e 32,0% do sexo feminino, numa população jovem adulta com idades entre 18 a 29 anos (20%), seguida de adultos de 30 a 39 anos (18%), 40 a 49 anos (28%), 50 a 59 anos (22%) e idosos com idades acima de 60 anos (12%) (Figura 1). Nº de usuários (%) 30 25 20 15 10 5 0 18-29 30-39 40-49 Idade 50-59 >60 Figura 1 – Distribuição da idade dos usuários do restaurante popular do bairro de mangabeira – JP. Para identificar a frequência de consumo dos entrevistados, os mesmos foram perguntados quantas vezes por semana almoçavam no restaurante popular, os resultados obtidos encontram-se na (Tabela 1). De acordo com os dados 178 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB da Tabela 1, a maioria dos usuários frequenta o estabelecimento de segunda à sexta-feira, ou seja, 5 vezes por semana, correspondendo à 66,0% do total. Silva (2012) fez um estudo no restaurante popular de Santa Maria – RS e obteve resultado semelhante, no qual grande parte dos entrevistados (49,01%) o frequentam diariamente. Amorim et al (2010) obtiveram o mesmo (42,8%) em estudo no restaurante popular de Belo Horizonte - MG. Comparando os resultados quanto ao sexo masculino e feminino, houve predominância de frequência diária em ambos os sexos correspondendo a 67,7% e 62,50%, respectivamente, conforme mostra a Tabela 1. Um dos fatores que determinam esta significativa frequência em restaurantes pode ser a tendência na modificação da estrutura familiar, na medida em que há um aumento gradativo de pessoas morando sozinhas, como, jovens estudantes, solteiros, divorciados e idosos (NOBRE, 2004). A idade dos usuários nos revela que há uma predominância da população adulta na frequência do restaurante, correspondendo a 68% dos entrevistados, o mesmo foi encontrado por Portella (2010) com 53,6%, Silva (2012) com 43,08%, no restaurante de Manaus (AM) 60% (MDS, 2010). Em todas as faixas de idade há uma frequência durante os cinco dias da semana (Tabela 1), sendo 60% de 18 a 29 anos, 66,66% de 30 a 39 anos, 57,14% de 40 a 49 anos, 81,81% de 50 a 59 anos e 100% acima de 60 anos. Nota-se que a população idosa, que compreende os usuários acima de 60 anos, frequenta o restaurante em sua totalidade. 179 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Tabela 1 – Frequência que os usuários almoçam no restaurante popular . Item Gênero Sexo masculino Quantidade 34 Sexo feminino 16 Total 50 Escolaridade Fundam. incompleto Quantidade 13 Fundam. completo 6 Médio incompleto 6 Médio completo 16 Superior incompleto Superior completo 2 3 Idade 18-29 30-39 Quantidade 10 9 40-49 14 50-59 11 >60 6 (%) Frequência em dias por semana 1 2 3 4 5 2,90 2,90 20,60 5,90 67,7 0 12,50 6,25 12,50 6,25 62,5 0 6,00 4,00 18,00 6,00 66,0 0 1 2 3 4 5 7,70 15,30 77,0 0 16,60 83,4 0 16,70 16,70 66,6 0 6,25 6,25 12,50 6,25 68,7 5 100 33,40 66,6 0 1 2 3 4 5 10,00 20,00 10,00 60 11,12 22,22 66,6 6 14,28 14,28 14,28 57,1 4 18,29 81,8 1 100 Com relação à escolaridade dos entrevistados, observou-se neste estudo que 6% superior completo, 4% superior incompleto, 32% possuem ensino médio completo, 12% médio incompleto, 10% fundamental completo, 26% fundamental incompleto, e 10% não responderam (Figura 2). Pode-se considerar um alto nível de escolaridade (médio completo ou acima) de quase metade dos usuários. Dados do MDS (2010) mostram que, em Manaus (AM) 38% concluíram 180 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB ou cursam o ensino fundamental, 53,5% possuem ou cursam o ensino médio e 7,7% concluíram ou cursam o ensino superior, em Maceió (AL) mais de 50% iniciaram ou concluíram o ensino médio e cerca de 15% iniciaram ou concluíram o ensino superior, em Belo Horizonte (MG) 44% têm até o ensino fundamental e 40% o ensino médio, no Rio de Janeiro (RJ) 58% concluíram ou apenas iniciaram o ensino fundamental e apenas 27% o ensino médio. A escolaridade dos usuários é considerada um dos fatores de importância que determina a vulnerabilidade alimentar e nutricional da população, uma vez que influencia diretamente na ocupação profissional e na situação financeira pessoal, além de trazer riscos de insegurança alimentar por falta de instruções sobre alimentação saudável e adequada (PORTELLA, 2010). Figura 2 – Escolaridade dos usuários do restaurante popular do bairro de mangabeira – JP. De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, a frequência dos usuários em relação à escolaridade foi em todos os níveis predominante nos cinco dias da semana, sendo que apenas os usuários que possuem ensino superior incompleto frequentam o restaurante popular apenas duas 181 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB vezes por semana. Os usuários que possuem ensino médio completo foram os mais frequentes com 32% (Figura 2), e como mostra a Tabela 1 tiveram uma maior distribuição de frequência no decorrer da semana, nos quais 6,52% frequentam por 1 dia na semana, 12,5% por 3 dias, 6,25% por 2 dias, 6,25% por 4 dias, e 68,75% por 5 dias na semana, seguido dos que possuem ensino fundamental incompleto com 26% dos usuários. Estes resultados foram similar aos encontrados por Machado et al (2012), onde a escolaridade mais frequente foi também o ensino médio completo (43,6%), e o ensino fundamental correspondendo a 24,1% dos entrevistados. Já Dutra (2007) em estudo realizado no restaurante popular de Fortaleza-CE obteve o contrário, sendo dentre os frequentadores do restaurante 30,43% possuem ensino fundamental completo, 23,36% incompleto e 22,22% possuíam ensino médio. Considerando que, em geral, maior grau de escolaridade corresponde consequentemente a maior nível de renda, os resultados obtidos deveriam apresentar uma tendência inversa, uma vez que incluindo usuários que possuem ensino médio completo e nível superior completo e incompleto tem-se um total de 42% dos entrevistados, dado que se opõe ao público alvo preferencial do programa por teoricamente tenderem a possuir rendimentos superiores. Conforme relata Gonçalves et al (2011), os restaurantes populares são destinados ao atendimento das populações carentes de regiões metropolitanas que se alimentam fora do domicílio ou não tem condições de renda para o acesso a uma refeição de qualidade. 182 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Quando os usuários foram perguntados sobre a qualidade dos serviços prestados pelo restaurante popular os resultados obtidos foram satisfatórios, onde a maioria dos entrevistados qualificaram os mesmos como sendo ótimo e bom, no qual foi avaliada a satisfação dos usuários quanto ao atendimento, à qualidade das refeições e o cardápio. O atendimento é um serviço atribuído e desperta diferentes significados para cada cliente. Kotler (2000), ressalta que a qualidade no atendimento ao cliente diz respeito a todas as atividades que possibilitam respostas adequadas aos clientes em relação aos produtos, serviços e solução de eventuais problemas dentro de um estabelecimento de maneira satisfatória. Em relação ao atendimento (Tabela 2), 28% dos entrevistados qualificaram o estabelecimento como sendo Ótimo, 58% como Bom, 10% Regular e 4% Ruim. Os resultados foram satisfatórios visto que 86% dos usuários consideraram que o atendimento oferecido era Ótimo e Bom. Comparando os resultados do sexo masculino com o feminino, 91% dos homens classificaram o atendimento como ótimo e bom, sendo apenas 9% como regular ou ruim, enquanto para as mulheres obteve-se 75% e 25%, respectivamente. Nota-se uma diferença significativa na satisfação entre os sexos, sendo as mulheres consideradas um pouco mais exigentes na avaliação. Tabela 2 – Satisfação dos usuários do Restaurante Popular de Mangabeira – JP, em relação ao atendimento, qualidade das refeições e cardápio . Global Atendimento Ótimo 28 (%) Satisfação Bom Regular 58 10 Ruim 4 183 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Qualidade das refeições Cardápio Sexo masculino Atendimento Qualidade das refeições Cardápio Sexo feminino Atendimento Qualidade das refeições Cardápio 32 14 Ótimo 29 35 15 Ótimo 25 31 14 50 54 Bom 62 56 59 Bom 50 31 56 16 28 Regular 6 6 20 Regular 19 39 31 2 4 Ruim 3 3 6 Ruim 6 - Quanto à qualidade das refeições (Tabela 2), 32% dos usuários consideraram como sendo Ótimo, 50% como Bom, 16% Regular e apenas 2% como Ruim. Quanto ao sexo masculino, 35% classificaram como Ótimo, 56% Bom, 6% Regular e 3% Ruim, já o sexo feminino obteve-se 31% Ótimo, 31% Bom, 39% Regular e nenhuma como Ruim. Os resultados obtidos podem ser considerados como satisfatórios, visto que 82% dos usuários avaliaram este quesito como Ótimo e Bom, como também 91% do sexo masculino e 62% do sexo feminino. Interessante notar que as pessoas do sexo feminino apresentaram-se mais exigentes, tendo em vista que 39% consideraram a qualidade regular. Estes resultados coincidem com o interesse principal do programa de iniciativa do governo federal, cujo objetivo é oferecer refeições prontas, balanceadas nutricionalmente e originadas de processos seguros (MDS, 2004). Silva (2012), também observou um alto índice satisfatório (46,65%). Em levantamento idealizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social - MDS no ano de 2010 em restaurantes populares de diferentes cidades do Brasil, observou-se que em Manaus (AM) a qualidade das refeições não foi satisfatória, uma vez que 39% dos usuários classificaram como Regular, 25% como Ruins e 13% como 184 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Péssimos, já em Belo Horizonte (MG) obteve-se 90% de aprovação, em Teresina (PI) foi considerado razoável, no Rio de Janeiro (RJ) foi avaliado como mediana, assim como em Diadema (SP). A fim de avaliar a qualidade da refeição sob a luz da resolução RDC 216 da Anvisa, foram observados e quantificados alguns aspectos presentes nesta resolução. Durante o presente estudo no restaurante, o balcão quente de serviço apresentou defeito no termostato. A fim de evitar que a comida atingisse temperatura abaixo da permitida pela ANVISA e que o alimento sofresse alguma contaminação bacteriana por influência desta temperatura inadequada foi decidido pela administração que fosse colocada água fervente no balcão quente na tentativa de controlar a temperatura do alimento. A Figura 3 apresenta a variação da temperatura do alimento no balcão de serviço quente durante duas horas para três alimentos: arroz, feijão e carne. Percebe-se que no tempo zero (momento em que o alimento foi colocado no balcão) a temperatura de todos os três alimentos já encontravam-se abaixo de 60 oC. De acordo com a resolução RDC 216 da ANVISA, que dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação, os pratos prontos e os alimentos perecíveis expostos para o consumo ou em espera para a distribuição devem permanecer protegidos de contaminações e sob controle de temperatura e tempo, segundo os seguintes critérios e parâmetros: I. Alimentos quentes: a) Em temperaturas superiores a 60 oC, por no máximo por 6 horas. Para um processo de resfriamento de um alimento preparado a temperatura deste deve ser reduzida de 60 oC (sessenta graus Celsius) a 10 oC (dez graus Celsius) em 185 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB até duas horas. De acordo com a Figura 3, após 2h os alimentos apresentaram temperatura entre 40-50 oC, demonstrando que o processo escolhido para manter a temperatura enquanto o equipamento não era reparado foi ineficaz. Considerando-se as práticas aplicadas a alimentos crus no restaurante, neste existe uma sala para corte de vegetais e uma sala para corte de carnes. Na sala de corte de vegetais, é feita a salada, onde os vegetais e utensílios são higienizados com solução clorada para que a contaminação bacteriana seja evitada. De acordo com a RDC 216, os alimentos crus devem ser submetidos a processo de higienização a fim de reduzir a contaminação superficial. Os produtos utilizados na higienização dos alimentos devem estar regularizados no órgão competente do Ministério da Saúde e serem aplicados de forma a evitar a presença de resíduos no alimento preparado. Assim, percebe-se que, apesar do público considerar os alimentos servidos pelo restaurante de boa/ótima qualidade, a resolução RDC 216 não é plenamente cumprida. pois mesmo que o balcão estivesse funcionando plenamente, o alimento é posto nas cubas a uma temperatura abaixo da mínima exigida para evitar o crescimento microbiano acelerado. Por outro lado, as práticas com os alimentos crus mostraram-se adequadas. 186 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Feijão Arroz Carne 70 Temperatura (ºC) 60 50 40 30 20 10 0 0 1 Tempo na cuba (h) 2 Figura 3 – Variação da temperatura do alimento no balcão de serviço quente do restaurante popular do bairro de mangabeira – JP. A refeição oferecida pelos restaurantes populares à população que se alimenta fora do domicilio, possuem cardápios variados, mantendo o equilíbrio entre os nutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios, fibras, vitaminas, sais minerais e água) em uma mesma refeição, tornando possível ao máximo o aproveitamento pelo organismo, minimizando os riscos de agravos à saúde decorrentes de uma alimentação inadequada (MDS, 2004). Quando perguntados sobre o cardápio oferecido, de forma geral os resultados obtidos foram: 14%, 54%, 28% e 4% para os quesitos Ótimo, Bom, Regular e Ruim, respectivamente. Quanto ao sexo masculino foram: 15%, 59%, 20% e 6% para os mesmos quesitos, e para o sexo feminino foram: 14%, 56%, 31% e nenhum como Ruim, respectivamente. Os resultados demonstram que o cardápio oferecido foi bastante aceitável pelos usuários, visto que, de forma geral 68% classificaram o mesmo como Ótimo e Bom. Já o restaurante de Teresina (PI), teve uma desaprovação de 187 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB 16%, em Curitiba (PR) 12% e no Rio de Janeiro 24%, porém de forma geral os restaurantes tiveram uma aprovação de mais de 95% dos usuários, onde foram avaliados itens como: conforto, tempo de atendimento, quantidade e variedade do cardápio, condições de higiene e limpeza, qualidade das refeições e instalações físicas (MDS, 2010). Esta grande aceitação global do restaurante também pode está sendo influenciado devido este programa do governo federal oferecer refeições a preços bastante acessíveis para a população, onde neste é vendido por apenas um R$1,00, o que não comprometeria a renda mensal dos usuários. Considerando que os usuários almocem 5 vezes por semana, no final do mês teriam um custo de R$20,00 apenas, 2,6% de um salário mínimo. De acordo com dados da ASSERT Brasil (2015) (Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador) em pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas DataFolha, em João Pessoa o preço médio de uma refeição custa R$24,05, que se calcularmos durante um mês teria um custo médio de R$481,00 (Figura 4), correspondendo a 62,63% de um salário mínimo pago atualmente (R$768,00), o que tornaria incompatível com renda do público-alvo do programa. 188 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Figura 4 – Relação entre o preço ofertado pelo Restaurante Popular e outro restaurantes. A Figura 4 mostra a relação do preço ofertado no restaurante popular e em outros restaurantes, nota-se a diferença bastante significativa entre os preços ofertados para as refeições pelos restaurantes e é perceptível a diminuição do impacto na renda do usuário com refeições realizadas nos restaurantes populares. 4 CONCLUSÕES A partir dos resultados, pode-se caracterizar o perfil dos usuários do restaurante popular, obtendo-se que o restaurante atende pessoas de sexos distintos, predominantemente adultas, e possuindo escolaridade variável, sendo em sua maioria com ensino médio completo. Os usuários em sua maioria frequentam o estabelecimento durante os cinco dias na semana, confirmando o objetivo do programa que é atender pessoas que se alimentam fora de seu domicílio e que possuem condições de vulnerabilidade nutricional. A qualidade dos serviços oferecidos foi satisfatória em todos os itens avaliados. No entanto, quando quesitos de qualidade 189 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB microbiológica foram analisados a luz da resolução RDC 2016 da Anvisa percebeu-se falhas no processo de boas práticas, como a temperatura a qual o alimento é mantido durante o serviço de distribuição da comida. De uma forma geral, podese concluir que o restaurante está oferecendo os serviços conforme o prometido pelo programa que é oferecer refeições que possuem cardápios variados, mantendo o equilíbrio entre os nutrientes tornando possível ao máximo o aproveitamento pelo organismo, assim minimizando os riscos de agravos à saúde decorrentes de uma alimentação inadequada, contribuindo para a diminuição dos indicadores de insegurança alimentar. No entanto, fiscalizações mais severas devem ser realizadas pelos responsáveis pela manutenção do restaurante. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, S. S; SILVA, M. M. S; GOMES, S. T. 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Diário Oficial da União 2006. 190 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB BRASIL. Lei no. 11.346 de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de setembro de 2006. BRASIL. Ministério do desenvolvimento social e combate a fome - MDS. Rede de Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição: resultados de avaliações. Brasília, 2010. BRASIL.; Manual Programa Restaurante Popular. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a fome. Brasília, Setembro, 2004. DUTRA, M. M. M. Fome de Cidadania e o Direito à Alimentação: a percepção dos usuários do Restaurante Popular Mesa do Povo em Fortaleza-CE. 128f. 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Monografia (Especialização)- 191 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUÁRIO E DA ACEITABILIDADE DO RESTAURANTE POPULAR ESTADUAL DE MANGABEIRA EM JOÃO PESSOA – PB Universidade de Brasília, Especialização em Qualidade em Alimentos, Brasília, 2004. NOGUEIRA NETO, A.L., et.al; Restaurantes Populares: Roteiro de Implantação 2007. Brasília- DF, 2007 PEIXOTO, M.; Segurança Alimentar e Nutricional; Brasília – DF, 2015 PORTELLA, E. A; BASSO, C; MEDINA, V. B. PERFIL DO USUÁRIO DO RESTAURANTE POPULAR DA CIDADE DE SANTA MARIARS1. Disciplinarum Scientia: Série Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 14, n. 1, p. 111-117, 2013. SILVA, T. X. Avaliação do equipamento público de segurança alimentar e nutricional restaurante popular de Santa Maria-RS. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialização em Gestão Pública, Santa Maria (RS), 2012. 192 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB CAPÍTULO 14 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB Jullyane de Oliveira Maia LEMOS 1 1 Professora das Faculdades Integradas de Patos – FIP Mestre em Ciências da Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba João Pessoa/PB E-mail: [email protected] RESUMO: A pesquisa objetivou analisar o estado nutricional de crianças participantes do Programa Bolsa Família no município de Cabedelo entre 2008 e 2010 e verificar o perfil de famílias cadastradas. Foi realizada a análise de um banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, da situação nutricional de 90 crianças de 0 a 7 anos de idade, cadastradas no Bolsa Família entre 2008 e 2010 e foram feitas entrevistas com responsáveis pelas crianças participantes do programa. Constatou-se que a maior parte das crianças se manteve em situação de eutrofia, das que em 2008 estavam em risco de sobrepeso apenas duas evoluíram para sobrepeso ou obesidade em 2010, e 13 passaram a eutrofia. Sugere-se que o programa ajudou na manutenção da situação nutricional adequada das crianças e que é necessária maior articulação para que as condicionalidades influenciem de maneira satisfatória a qualidade de vida dos participantes. Palavras-chave: políticas públicas de saúde, programas e políticas de alimentação e nutrição, programa saúde da família. 193 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB 1 INTRODUÇÃO O perfil nutricional de uma população está relacionado ao padrão de alimentação, educação, saneamento e serviços básicos de saúde. Distúrbios nutricionais afetam as habilidades físicas e intelectuais da população e expõem os indivíduos a riscos de morbidade e mortalidade. Os hábitos alimentares podem ser uma fonte importante de informações, dada a relevância da composição da dieta na manutenção de um estado nutricional adequado (LOBSTEIN; JACKSONLEACH, 2006). A preocupação com a alimentação da população veio a se consolidar em políticas públicas no Brasil apenas a partir do século XX. Essas políticas se desenvolveram até o surgimento do Programa Fome Zero, principal política de segurança alimentar do Brasil. A partir do Fome Zero se originou o Programa Bolsa Família (PBF). Criado em 2004, com a finalidade de unificar a gestão e execução das ações de transferência de renda de outros programas pré-existentes como Bolsa Escola e Bolsa Alimentação o Bolsa Família se constitui hoje na maior política de transferência condicional de renda existente no país, sendo considerado um dos maiores da América Latina (COSTA, 2009; TAVARES; PAZELLO, 2009). Um dos principais objetivos do PBF é promover a segurança alimentar e nutricional de famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, com dificuldades de acesso e consumo de alimentos em quantidade e qualidade adequada, além de contribuir no processo de construção da cidadania e de redução das desigualdades sociais (MONTEIRO; SCHMIDT, 2015). 194 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB Sendo PBF uma das estratégias governamentais desenvolvidas para combate a fome e a pobreza das famílias no Brasil a expectativa é que desse incremento financeiro decorra, também, a melhora do estado nutricional das crianças. O Programa possui três eixos principais: transferência de renda, condicionalidades e programas complementares (NASCIMENTO; REIS, 2009; OLIVEIRA et al., 2011; MOURÃO; JESUS, 2011). Diante do exposto, a presente pesquisa se propôs a analisar o estado nutricional das crianças participantes do Programa Bolsa Família no município de Cabedelo no período de 2008 a 2010, bem como verificar o perfil de famílias cadastradas, aspectos relacionados ao uso dos recursos e o cumprimento das condicionalidades do programa. 2 MATERIAIS E MÉTODO A pesquisa foi realizada no município de Cabedelo/Paraíba – Brasil, pertencente à Região Metropolitana de João Pessoa que possui área territorial de 31,915 km², população estimada de 57.944 habitantes. PIB per capita de 33.592 reais (IBGE, 2010) e conta com 19 Unidades de Saúde da Família (USF). O estudo caracteriza-se como avaliativo-participativo, foram utilizados dados oriundos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) disponíveis no Departamento de Informática do SUS (DATASUS), onde foram obtidas as medidas antropométricos das crianças de 0 a 7 anos de idade cadastradas no PBF nos anos de 2008 a 2010. Foram incluídas todas as crianças nesta faixa de idade, totalizando 208 indivíduos. Entretanto, apenas 90 crianças participaram 195 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB de todas as seis avaliações (vigências). Sendo considerado, na análise de resultados, como casos perdidos aqueles que não participaram da vigência correspondente. As variáveis do banco de dados proveniente do Sisvan Bolsa Família/DATASUS, de domínio público e de livre acesso pela Internet foram obtidas mediante uma solicitação à Secretaria de Saúde do Município. Neste banco, foram utilizadas para a análise da situação nutricional das crianças a idade, sexo, peso e altura, sendo estas coletadas pelos profissionais nutricionistas em cada USF, durante os períodos de avaliação das vigências do programa que ocorrem duas vezes ao ano e sistematizadas no município através dos mapas do Sisvan. O diagnóstico nutricional das crianças foi realizado a partir do indicador antropométrico IMC/IDADE (índice de massa corporal por idade), tomando-se como base o padrão de referência da Organização Mundial de Saúde (ONIS et al., 2007), por ser o parâmetro utilizado pelos profissionais de nutrição nas USF do município de Cabedelo. Com esses dados das crianças foram calculados os percentis e foi realizado o diagnóstico da situação nutricional, durante as seis vigências analisadas entre os anos de 2008 a 2010. Para análise estatística dos dados das duas etapas da pesquisa, os resultados foram expressos através de medidas descritivas (frequência absoluta e relativa). O programa estatístico utilizado para digitação dos dados e obtenção dos cálculos estatísticos nas duas fases da pesquisa foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 17 (DOUGLAS; ALTMAN, 1991) O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley de acordo 196 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB com a Resolução 196/96 e aprovado sob protocolo CEP/HULW de número 788/10. Os indivíduos entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta a análise do estado nutricional das 208 crianças avaliadas durante o período de 2008 a 2010. Destaca-se que a maioria das crianças em todas as avaliações foram classificadas como eutróficas, com percentuais que variaram de 58,2% (Avaliação 1) até 70,7% (Avaliação 2). Na avaliação 1, o segundo e terceiro maiores percentuais corresponderam aos que tinham sobrepeso (13,5%) e risco de sobrepeso (15,9%). Devido à existência de diferença no número de categorias do estado nutricional não foi possível aplicar teste comparativo entre as avaliações, pois as caselas sem valores impossibilitam os testes. Esses dados demonstram que depois do estado de eutrofia, os estados nutricionais mais constantes foram sobrepeso e risco de sobrepeso. 197 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB Tabela 1: Avaliação do estado nutricional por ano de vigência no período de 2008 a 2010 no município de Cabedelo - PB. Avaliação Estado nutricional Magreza acentuada Magreza Eutrofia Risco de sobrepeso Sobrepeso Obesidade Casos perdidos* Vigência 2008 Vigência 2009 Vigência 2010 Avaliação 1 n %(1) Avaliação 3 N %(1) Avaliação 5 n %(1) 1 Avaliação 2 n %(1) 0,5 Avaliação 4 n %(1) Avaliação 6 N %(1) 3 1,4 2 1,0 3 1,4 1 0,5 0,0 1,9 70,7 11,5 5 138 27 2,4 66,3 13,0 4 131 23 1,9 63,0 11,1 9 139 20 4,3 66,8 9,6 6 130 14 2,9 62,5 6,7 5 121 33 2,4 58,2 15,9 0 4 147 24 28 3 13,5 1,4 16 5 7,7 2,4 21 1 10,1 0,5 16 7 7,7 3,4 17 4 8,2 1,9 17 3 8,2 1,4 17 8,2 10 4,8 13 6,3 25 12,0 16 7,7 37 17,8 (1) Os valores percentuais foram obtidos do número total de 208 crianças analisadas. * Casos perdidos: crianças que não foram avaliadas na avaliação vigente. Na Tabela 2, são expressos os dados da situação nutricional das crianças quando começaram a serem acompanhadas pelo programa na primeira avaliação na vigência, em 2008, e como estas crianças estavam classificadas na segunda avaliação na vigência do ano de 2010. A única criança que estava em magreza acentuada na primeira vigência de 2008, bem como as crianças em magreza, evoluíram para eutrofia na última vigência de 2010. Das 53 que estavam eutróficas, em 2008, 46 se mantiveram nesta situação em 2010, duas passaram para situação de magreza e cinco crianças passaram para risco de sobrepeso ou sobrepeso. Das 16 com sobrepeso, apenas quatro ficaram eutróficas e doze passaram a risco de sobrepeso ou sobrepeso e as crianças que estavam em situação de 198 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB sobrepeso em 2008 passaram a eutrofia em 2010. Destacamse as crianças que em 2008 estavam em risco de sobrepeso onde apenas duas passaram para sobrepeso ou obesidade em 2010 e 13 passaram a eutrofia. Tabela 2: Evolução do estado nutricional das 90 crianças entre os anos de 2008 e 2010, Cabedelo, PB. Classificação do Estado Nutricional Primeira Avaliação Vigência 2008 Segunda Avaliação Vigência de 2010 Classificação do Estado Nutricional Magreza Eutrofia Risco Soprepeso de Soprepeso Obesidade Magreza acentuada 1 (1,1%) - 1 (1,1%) - - - Magreza 3 ( 3,3%) - 3 (3,3%) - - - Eutrofia 53 (58,8%) 2 (2,2%) 46 (51,1%) 2 (2,2%) 3 (3,3%) - Risco de sobrepeso 15 (16,6%) - 13 (14,4%) - 1 (1,1%) 1(1,1%) Soprepeso 16 (17,7%) - 4 (4,4%) 7 (7,7%) 5 (5,5%) - Obesidade 2 (2,2%) - 2 (2,2%) - - - 90 (100%) 2 (2,2%) 69 (76,5%) 9 (9,9%) 9 (9,9%) TOTAL 1 (1,1%) O formato e o escopo do PBF visam atender uma das mais importantes demandas da população pobre: o aumento da sua capacidade regular de consumo e romper o ciclo de intergeracional da pobreza. Por isso, a adequação das condicionalidades exigidas e seu cumprimento por parte dos beneficiários é de fundamental importância (ESTRELLA; RIBEIRO, 2008; SENNA et al., 2007) . Neste estudo foi observada a maior proporção de crianças eutróficas em todas as avaliações. O estudo de Monteiro et al. (2009) relacionou a redução de cerca de 50% na prevalência da desnutrição infantil no Brasil entre os anos de 1996 à 2007, dentre outros fatores, a melhoria no poder 199 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB aquisitivo das famílias (sobretudo das mais pobres) e o acesso à assistência à saúde. Para Oliveira et al. (2011), em pesquisa realizada com crianças beneficiárias do PBF durante setembro e novembro de 2007, a partir do recebimento do benefício, houve melhora no estado nutricional das crianças, atribuída ao incremento financeiro e ao acompanhamento nutricional. O acompanhamento em nosso estudo foi feito no período de três anos consecutivos (2008-2010) seguidos aos estudos supracitados, seguindo a mesma tendência de melhoria na renda da população, afetando assim o estado nutricional. A pesquisa de Saldiva, Silva e Saldiva (2010), com crianças menores de cinco anos de um município nordestino, apontou para um déficit de peso e altura, mas sem diferenças estatísticas entre o estado nutricional de crianças beneficiárias e não-beneficiárias do PBF. O sobrepeso é uma realidade em crianças de nível socioeconômico desfavorável, residentes em favelas na cidade de Recife, conforme verificado por Silva et al. (2005) que detectaram excesso de peso em 10,1% das crianças. Pesquisa desenvolvida por Camelo (2009) salienta o aumento do sobrepeso em crianças caracterizando o fenômeno de transição nutricional que vem sendo descrito em todo o território nacional predominantemente entre a população carente e de baixa escolaridade. Na pesquisa de Oliveira (2011), ao comparar o estado nutricional das crianças beneficiárias em função do tempo de recebimento do benefício, não houve diferença entre o grupo que recebia a mais ou a menos de 15 meses. Também não foi verificada correlação entre o tempo de recebimento do benefício e o estado nutricional para os índices IMC/I, a prevalência de baixo IMC para idade foi de 0,5%. Para Tapajós et al. (2011), a proporção de crianças beneficiárias 200 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB consideradas nutridas foi, por sua vez, mais alta em comparação com crianças não beneficiárias, considerando-se o IMC. Uma das maiores preocupações do Bolsa Família é a nutrição das crianças beneficiárias, é consenso que as condições nutricionais de crianças de até seis anos impactam fortemente não só o bem-estar imediato das mesmas, mas também determina o desenvolvimento físico e mental para toda a vida do indivíduo. Soares e Satyro (2009) em pesquisa de avaliação de impacto do PBF sobre o estado nutricional das crianças beneficiárias não detectou nenhuma diferença significativa no estado nutricional de participantes e não participantes. As avaliações de programas como o PBF evidenciam desafios para que sejam igualmente impactados outros fatores que condicionam o consumo alimentar, como, por exemplo, o acesso aos serviços de saúde e os investimentos em educação, saneamento, água potável e transporte, entre outros. A avaliação do estado nutricional infantil foi diferenciada nesta pesquisa devido ao fato de que essas crianças foram avaliadas durante um período contínuo de participação no PBF. O programa hoje vem se consolidando e demonstrando suas reais características, sendo importante avaliações de caráter longitudinal. 4 CONCLUSÕES Nosso estudo apontou que as crianças participantes do Programa Bolsa Família tiveram a manutenção da situação nutricional adequada, através da permanência de quadros de eutrofia e melhora de situações nutricionais inadequadas para 201 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PARTICIPANTES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB eutrofia. O uso dos recursos referido pelos responsáveis se mostrou efetivo no auxílio da melhoria da alimentação das famílias participantes. Através da preocupação em relação ao cumprimento das condicionalidades exigidas pelo PBF é possível a melhoria na educação e no estado de saúde dos beneficiários, porém ainda existem metas a serem conquistadas como maior acesso à profissionalização o que auxiliará na intervenção do ciclo intergeracional da pobreza. 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[email protected] RESUMO: Cabras são animais domesticados desde a antiguidade, e por muito tempo, foram consideradas espécies marginais, subestimando seu papel econômico e potencialidades. Cerca de 1,1% do rebanho mundial localizase no Brasil. O leite caprino possui características bastante benéficas, seus glóbulos de gordura são menores dando uma textura mais suave ao leite e produtos manufaturados. O principal carboidrato presente é a lactose, em relação ao conteúdo proteico, o mesmo varia de acordo com a raça, genética, estação climática, estágio de lactação e alimentação, técnicas de análise de DNA genômico tornaram possível o estudo dos genes das proteínas do leite para identificação dos genótipos favoráveis para uma maior produção de leite. Os minerais Ca, P, K, Mg e Cl estão em maior quantidade, enquanto que Na e S em menor quantidade, em comparação ao leite de vaca, as vitaminas A (retinol) e E (tocoferol), são predominantemente encontradas. Para a conservação, os processos utilizados são a refrigeração e o congelamento. O leite caprino, por possuir características nutricionais e 205 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA tecnológicas únicas, o que representa um grande potencial para indústria de lácteos. Palavras – chave: Cabras. Produtos Lácteos. Caprinocultura. 1 INTRODUÇÃO Cabras são animais domesticados desde a antiguidade, e constituem um setor importante na economia de muitos países, especialmente na região do Mediterrâneo e do Oriente Médio (PARK et al., 2007; RIBEIRO; RIBEIRO, 2010). No Brasil, a caprinocultura vem se destacando no agronegócio, estando a produção de leite, concentrada principalmente nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste (COSTA; QUEIROGA; PEREIRA, 2009). O rebanho de caprinos está estimado em 14 milhões de animais, distribuídos em 436 mil estabelecimentos agropecuários, colocando o Brasil em 18º lugar do ranking mundial de exportações. A produção de leite atingiu 21 milhões de litros e envolve, em grande parte, empresas de pequeno porte (BRASIL, 2014). Leite de cabra define-se, como o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de animais da espécie caprina sadios, bem alimentados e descansados (BRASIL, 2000). Este produto sofre variações em sua composição química de acordo com a genética do animal, fisiologia, clima ao qual está inserido, alimentação e estágio de lactação (COSTA; QUEIROGA; PEREIRA, 2009). O conhecimento sobre esta matriz alimentar, facilita a adaptação de tecnologias ao seu processamento e o desenvolvimento de novos produtos. As propriedades nutricionais e funcionais do leite de cabra justificam sua 206 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA singularidade e demonstram que o leite caprino e seus produtos representam um nicho promissor para diversificar e inovar a indústria láctea (CENACHI et al., 2011). 2 MATERIAIS E MÉTODOS Para a seguinte revisão bibliográfica foi realizada uma busca de artigos científicos nas bases de dados da Science Direct, Wiley Online Library, Scientific Electronic Library Online (SciELO), que foram acessados através do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por intermédio do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As palavras-chave utilizadas para pesquisa foram ―leite de cabra‖, ―composição leite caprino‖, ―leite caprino + proteínas‖, ―leite caprino + vitaminas‖, ―leite caprino + gordura‖, em inglês, ―goat milk‖, ―composition goat milk‖, ―minerals goat milk‖, ―goat milk in nutrition‖. Os dados pesquisados foram compilados, de acordo com os tópicos de interesse, para formatação da revisão. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CAPRINOCULTURA LEITEIRA No passado, as cabras foram consideradas espécies marginais, utilizadas para a agricultura de subsistência das populações rurais, subestimando o seu papel econômico e suas potencialidades (SELVAGGI et al., 2014). 207 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA As raças Alpina, Saanen, Toggenburg e Alpina Suiça (Oberhasli), são conhecidas como raças leiteiras, tendo produção deste elemento em grandes quantidades (MORANDFEHR et al, 2007). De acordo com dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), cerca de 1,1% do rebanho mundial localiza-se no Brasil. A região Nordeste representa 94% deste rebanho, tendo predominantemente, um modelo de criação extensivo (FAOSTAT, 2013). A produção brasileira de leite caprino atingiu em 2011, 148 mil toneladas, com a região Nordeste contribuindo com 90% desta produção. Atingindo uma produção diária de 14 mil litros, a Paraíba foi considerada o maior produtor de leite de cabra do país (FAOSTAT, 2013; BRASIL, 2007; GONZALO, 2013). O governo incentiva a produção de leite caprino na Paraíba através do ―Programa Leite da Paraíba‖, sendo este uma modalidade do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que tem por objetivo propiciar o consumo do leite a 120 mil famílias na Paraíba, que estão em estado de insegurança alimentar e nutricional (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2012). A pecuária caprina revela um caráter promissor no desenvolvimento socioeconômico, sobretudo em regiões semiáridas. Na Paraíba, tende a apresentar produção ainda insuficiente para um padrão industrial nacional (ALMEIDA et al., 2011; OLIVEIRA et al., 2011). Esta atividade vem se desenvolvendo devido a ações conjuntas do governo, centros de pesquisa e associações de criadores, tendo como resultado o aumento no consumo do leite de cabra e seus derivados, através da divulgação das suas propriedades nutricionais e inovações tecnológicas (QUITANS; MELO, 2002). 208 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA 3.2 LEITE CAPRINO O leite caprino possui características sensoriais específicas de odor e sabor acentuados, o que implica diretamente na sua aceitabilidade quando comparado ao leite bovino (CENACHI et al., 2011). Constituído de proteínas de alto valor biológico, excelente fonte de cálcio, melhor digestibilidade em relação ao leite de vaca, são alguns dos efeitos benéficos à saúde atrelados a este tipo de leite, o que leva a um maior interesse por parte da comunidade científica, em incentivar o consumo deste alimento, assim como o desenvolvimento de derivados lácteos (GARCÍA et al., 2014; HAENLEIN, 2004; PARK et al., 2007). Uma maior divulgação de suas propriedades benéficas, levam a melhorar a qualidade e desenvolvimento de tecnologias de fabricação de derivados, diversificando a produção industrial, promovendo o desenvolvimento das regiões produtoras (GARCÍA et al 2014). 3.3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA As características físico-químicas do leite e derivados lácteos são grandemente influenciadas por fatores inerentes ao animal, como espécie, raça, estado de lactação e alimentação, assim como pelo sistema de criação e tecnologias empregadas após ordenha (COSTA; QUEIROGA; PEREIRA, 2009; PARK et al., 2007). De acordo com a legislação, o leite de cabra deve apresentar as seguintes características: densidade a 15ºC, 209 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA 1.028 a 1.034 g/L; acidez em % ácido lático, 0,13 a 0,18; sólidos não-gordurosos, mínimo 8,2 % (m/m); proteína total (N x 6,38), mínimo 2,8 % (m/m); lactose, mínimo 4,3% (m/v) e cinzas, mínimo 0,7 % (m/v) (BRASIL, 2000) . 3.4 CONSTITUINTES LIPÍDICOS Os triacilgliceróis (TAG) constituem o maior grupo lipídico, cerca de 98%, sendo os responsáveis por características físicas e sensoriais específicas deste tipo de leite (PARK et al., 2007). A composição de ácidos graxos depende da dieta do animal. Quimicamente seus glóbulos de gordura são menores em relação ao leite bovino, dando uma textura mais suave ao leite e produtos manufaturados, seus ácidos graxos são de cadeia média, capróico, caprílico, cáprico, o que lhe confere odor característico, possuem ação antibacteriana e antiviral, inibem o desenvolvimento e desprendimento do colesterol, sendo rapidamente absorvidos pelo intestino (SHINGFIELD et al., 2010). 3.5 CARBOIDRATOS A lactose é o principal carboidrato do leite de cabra. Sintetizado a partir da glicose na glândula mamária com a participação ativa da proteína α-lactalbumina. Favorece a absorção intestinal de cálcio, magnésio e fósforo, e o aproveitamento da vitamina D. A lactose é um dissacarídeo constituído por dois monossacarídeos, glicose e galactose, sendo de grande importância para a manutenção do equilíbrio osmótico entre o sangue e as células alveolares da glândula 210 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA mamária durante a síntese de leite e secreção no lúmen alveolar e no sistema de condutas do úbere (PARK et al., 2007) Os oligossacarídeos lácteos possuem consideráveis propriedades antiinfecciosas e prebióticas, favorecendo o crescimento da microbiota intestinal humana, principalmente das Bifidobactérias, protegendo a mucosa intestinal de patógenos oportunistas (AMIGO; FONTECHA, 2011). 3.6 PERFIL PROTEICO A composição proteica do leite caprino não se diferencia das outras espécies, no qual as principais proteínas são as caseínas (κ-, β-, αs1-, αs2- e γ-caseína) e soroproteínas, β- lactoglobulina, α-lactoalbumina, albumina do soro bovino e imunoglobulinas. No entanto, o leite caprino pode ser diferenciado de acordo com a presença de variadas proporções dos diferentes tipos de caseína (CN), αs1-CN, αs2-CN, β-CN e κ-CN, suas proteínas são mais digeríveis e apresenta níveis mais altos de alguns aminoácidos (PARK et al., 2007; COSTA et al, 2014). O Leite também apresenta proteínas menores, tais como soroalbumina, imunoglobulinas, transferrina, lactoferrina, proteínas de ligação ao cálcio, prolactina, proteína de ligação de folato e proteosepeptone. O teor de componentes de nitrogênio varia de acordo com raça, genética, estação climática, estágio de lactação e alimentação. Os principais componentes da fração não proteica são a ureia, aminoácidos livres, nucleósidos, nucleótidos e poliaminas (SELVAGGI et al., 2014). 211 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA O perfil de aminoácidos do leite de cabra é semelhante ao de vaca, exceto no teor de cisteína. Os principais aminoácidos livres são taurina, glicina e ácido glutâmico, apresentando particularmente 20-40 vezes mais taurina que o leite de origem bovina (RUTHERFURD et al., 2008). Atualmente, marcadores moleculares podem desempenhar um papel importante para o melhoramento genético dos animais. Com o advento das técnicas de análise de DNA genômico, é possível estudar os polimorfismos dos genes das proteínas do leite para identificar os genótipos favoráveis em relação a uma produção de leite mais elevada, ou para o melhor perfil proteico. Há uma relação direta entre as variantes alélicas dos genes proteicos e teor de proteína no leite, o que influencia diretamente as propriedades físicoquímicas, podendo o melhoramento genético ser utilizado em esquemas de seleção que visam melhorar a qualidade do leite (SELVAGGI et al., 2014). 3.7 PERFIL MINERAL O teor de minerais, varia entre raças diferentes e até mesmo entre animais de mesma raça, onde observou-se variações correlacionadas ao clima, estágio de lactação e alimentação (KONDYLI; KATSIARI; VOUTSINAS 2007). O leite de cabra possui mais Ca, P, K, Mg e Cl e menos Na e S do que o leite de vaca, o conteúdo de lactose é inversamente proporcional ao Na, K, e Cl, sendo os cloretos associados positivamente com K (PARK; CHUKWU, 1988; CHANDAN et al., 1992). Os elementos traços já encontrados foram Mn, Cu, Fe e Zn, nas raças Anglo-Nubiana e Alpina-Francesa. O Zn foi o 212 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA elemento encontrado em maior quantidade, enquanto que o Fe está em menor quantidade, quando comparados aos teores encontrados no leite humano (PARK;CHUKWU, 1989; UNDERWOOD, 1977). 3.8 VITAMINAS As vitaminas A (retinol) e E (tocoferol), são predominantemente encontradas, variando suas concentrações de acordo com raça, alimentação e estação climática (MORAND-FEHR et al.,2007; KONDYLI, 2007; KONDYLI, 2012). Apresenta ausência do pigmento β-caroteno conhecido como provitamina A, que origina a cor amarela no leite de vaca, no entanto, possui teores elevados de vitamina A (1850 UI a 2264UI de retinol), disponíveis após o consumo (LAGUNA, 2003). Ocorrem variações sazonais em relação ao teor de vitamina A, sendo encontrada em maior concentração no verão do que no inverno (KONDYLI, 2007; CREMIN & POWER, 1985). As vitaminas hidrossolúveis, tiamina (B1), riboflavina (B2) e ácido ascórbico, foram encontradas em leite caprino e também apresentaram variações sazonais. Normalmente o leite caprino não é uma boa fonte de vitamina C, mas a mesma já foi encontrada em concentrações consideráveis (KONDYLI, 2007; KONDYLI, 2012). 3.9 CONSERVAÇÃO PELO FRIO A conservação de pelo uso do frio é um dos métodos mais antigos empregados na conservação de alimentos. Para 213 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA a conservação do leite sob baixa temperatura, utilizam-se os processos de refrigeração e congelamento, uma vez que a legislação brasileira permite o congelamento do leite da espécie caprina nos estabelecimentos produtores (BRASIL, 2000). O armazenamento a baixas temperaturas pode resultar em alterações nos indicadores de qualidade do leite caprino, quantidade de micro-organismos e contagem de células somáticas (DUTRA et al., 2014). Estudos realizados por Fonseca et al, 2013, demonstraram que leite fresco de cabra, armazenado sob refrigeração de quatro graus celsius, não apresentou diferenças significativas em sua composição. A qualidade microbiológica, nestas mesmas condições, também não apresentou diferenças significativas. Em relação as bactérias mesófilas, o nível máximo permitido foi obedecido até o terceiro dia sob refrigeração obedecendo a mesma temperatura (DUTRA et al., 2014). A acidez média do leite caprino não é alterada pelo frio ou congelamento (SILVA; SANTOS, 2010; PINTO JÚNIOR et al., 2012). A densidade, teor de gordura, teor de proteína também não foram alterados (DUTRA et al., 2014). 4 CONCLUSÕES O leite de cabra tem tido grande desenvolvimento em sua produção, devido a esforços entre pesquisadores, produtores e órgãos governamentais. Descobertas em relação a sua composição química, são motivadoras à uma produção em maior escala deste produto. Além dos efeitos benéficos à saúde, melhor digestibilidade, proteínas com atividades 214 LEITE CAPRINO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONSERVAÇÃO PELO FRIO – UMA REVISÃO DE LITERATURA biológicas, riqueza em minerais, a caprinocultura é de fácil manejo, no entanto, havendo a necessidade de uma maior organização para que esta deixe de ter um caráter extensivo e atinja níveis de produção industrial. O leite caprino, por possuir características nutricionais e tecnológicas únicas, representa um grande potencial para indústria de lácteos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A. A.; SILVA, R. A.; OLIVEIRA, A. V. B.; LEITE, D. T. MELO, B. A. Perfil sócio-econômico e nível tecnológico dos produtores de palma (Opuntia fícus indica Mill.) no Cariri Paraibano. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 6, n. 2, p. 86-92, 2011. AMIGO, L.; FONTECHA, J. Milk | Goat Milk. In: FUQUAY, J. W., FOX P. F.; MCSWEENEY, P. L. H. 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RESUMO: O licopeno é um pigmento carotenóide que confere a cor avermelhada ao tomate, morango, entre outras frutas e vegetais, sendo que quanto mais intensa for a cor vermelha, maior a quantidade de licopeno presente. A biodisponibilidade do licopeno está relacionada às formas isoméricas, sendo o calor responsável pela modificação da sua forma. A absorção de licopeno é maior em produtos que utilizam tomates cozidos e é influenciada pela quantidade de gordura da refeição. É um antioxidante que combate os radicais livres e retarda o envelhecimento. Como antioxidante, ele é duas vezes mais potente que o betacaroteno, em relação à proteção de leucócitos de lesão da membrana celular provocada pelos radicais livres. O licopeno previne a divisão de células tumorais prevenindo o câncer. Ou seja, eles agem nas células cancerígenas, impedindo seu crescimento. Orienta-se que seja estimulado o consumo de alimentos fontes de licopeno, ricos em antioxidantes de maneira geral, tendo como objetivo suprir as necessidades diárias, para evitar o estresse oxidativo e os danos celulares. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da ação antioxidante do licopeno por meio de uma revisão bibliográfica atualizada. Constata-se que esta substância é um potente antioxidante e acarreta inúmeros benefícios a saúde. Palavras-chave: Carotenóides. Licopeno. Radicais Livres. 218 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO 1 INTRODUÇÃO Os antioxidantes são agentes que mesmo em baixas concentrações conseguem surgir efeitos benéficos no nosso organismo (COSTA; MONTEIRO, 2009). Considerado como um sistema de defesa ele é formado por compostos enzimáticos ou endógenos e não-enzimáticos ou exógenos, estando presentes tanto no organismo como nos alimentos ingeridos (SHAMI; MOREIRA, 2004). Atuam em diversos níveis de proteção em nosso organismo e tem as seguintes funções: de inibir ou retardar ou reparar as lesões nas células causadas por radicais livres; protegem a integridade de nossas células e impede o ataque sobre as bases do DNA e lipoproteínas (SHAMI; MOREIRA, 2004) (BIANCHI; ANTUNES, 1999). Os antioxidantes endógenos são nossa defesa primária contra os radicais livres, porém para impedir os danos celulares decorrente do estresse oxidativo o aporte exógeno proveniente da dieta é de fundamental interesse (CATANIA; BARROS; FERREIRA, 2009). Diante disto uma carência alimentar de antioxidantes pode resultar na não eficácia da proteção de nossas células contra os radicais livres. O licopeno é um pigmento carotenóide, sem atividade próvitamina A caracterizado por uma estrutura simétrica e acíclica. É constituído somente por átomos de carbono e hidrogênio, contendo 11 ligações duplas conjugadas e 2 ligações não conjugadas. Sua estrutura é responsável pela coloração vermelho-alaranjada de frutas e vegetais nas quais está presente (TRAMONTE; MORITZ, 2006). 219 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO O organismo humano não sintetiza este pigmento carotenóide, sendo obtido através de uma dieta rica em alimentos fontes, tais como: tomate, mamão, goiaba vermelha, pitanga e melancia. É importante enfatizar o consumo de frutas e vegetais ricos em qualquer antioxidante para evitar o estresse oxidativo causado pelos radicais livres (SHAMI; MOREIRA 2004). O licopeno é um poderoso antioxidante, regula a função imunológica e tem uma forte influência na prevenção de vários cânceres como o câncer de estomago, gástrico, próstata, pulmão, colón, reto, mama entre outros. Os órgãos de saúde ainda não consideram o licopeno como um nutriente essencial, mas os estudos em torno de seus benefícios vêm aumentando consideravelmente, tendo ele, grandes efeitos quimioterápicos (TIUZZI, 2008). Esta revisão bibliográfica vem mostrando os efeitos da ação antioxidante, o metabolismo do licopeno e seu papel protetor na prevenção do câncer e seus efeitos quimioprotetores. 2 MATERIAS E MÉTODO A revisão bibliográfica segundo Severino (2007) e Gil (2002) é aquela executada através de registros disponíveis, contendo categorias teóricas já estudadas por outros pesquisadores devidamente registrados. Desta forma, podemos afirmar que este estudo se constitui deste tipo de pesquisa, no qual se realizou consultas a livros presentes nas bibliotecas da Maurício de Nassau. Também foram realizadas pesquisas na internet por artigos científicos sobre o tema abordado. As buscas foram feitas utilizando o Google Acadêmico, que direcionou a pesquisa 220 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO para endereços eletrônicos científicos, em especial, Bireme, Pubmed e Scielo. De forma quantitativa, as fontes de investigação estão expressas no esquema a seguir: Anais 4 (2003-2007) Livros 12 (1994-2009) Artigos 29 (2000- 2011) A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando às terminologias comuns em português, inglês e espanhol. As palavras-chave utilizadas na busca foram: carotenóides, licopeno, radicais livres. A pesquisa foi realizada desde agosto de 2015 a setembro de 2015, sob orientação e supervisão da professora Giovanna Pontes Vidal. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Antioxidantes são agentes que ajudam a inibir ou retardar os danos causados pelos radicais livres nas células (SANTOS, 2013). Os Radicais livres são moléculas que contém um ou mais elétrons, que não são pareados e que se localizam em sua última camada eletrônica. Essa molécula precisa se ligar a 221 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO outros radicais livres, para conseguir se estabilizar, sendo que, quando elas não conseguem o seu objetivo, elas captam elétrons de outras moléculas saudáveis. Que irá iniciar uma reação em cadeia, podendo danificar outras células, se não houver a interrupção dos antioxidantes (SANTOS, 2013). A eficiência dos antioxidantes nos alimentos depende da sua biodisponibilidade e da ingestão de quantidades adequadas do nutriente. Porém, o consumo excessivo de algumas vitaminas antioxidantes pode causar hipervitaminose, que nada mais é do que o excesso de vitaminas no organismo. Os antioxidantes podem ser definidos como qualquer substância que, presente em baixas concentrações, quando comparada a um substrato oxidável, atrasa ou inibe a oxidação desse substrato de maneira eficaz (SHAMI; MOREIRA 2004). O sistema de defesa antioxidante é formado por compostos enzimáticos (endógenos) e não-enzimáticos (exógenos), estando presentes tanto no organismo (localizados dentro das células ou na circulação sangüínea) como nos alimentos ingeridos (SHAMI, MOREIRA 2004). Que como o próprio nome já diz, são enzimas que catalisam a decomposição do peróxido de hidrogênio e a Glutationa reduzida (GSH), que é um tripeptídeo que é encontrado no meio intracelular em altas concentrações, em todos os organismos aeróbicos. Já no exógeno destacam-se a Vitamina C que tem como sua principal função a hidroxilação de colágeno. E também é extremamente estável, ou seja, todos os alimentos que contenham essa vitamina devem ser ingeridos rapidamente. Temos os flavonóides que desempenham um papel fundamental na proteção do vegetal atuando na proteção contra agentes oxidantes (raios ultravioletas, poluição). E temos os carotenóides que são um 222 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO grupo de pigmentos que estão presentes na natureza, com mais de 600 estruturas caracterizadas, que são identificados em organismos fotossintetizantes e não fotossintetizantes, algas, fungos, plantas superiores, bactérias. Esses pigmentos são responsáveis pelas cores do amarelo ao vermelho de frutas, vegetais, fungos e flores e são utilizados no comercio como corantes alimentícios (SANTOS, 2013). Os antioxidantes atuam de diferentes maneiras no organismo humano, impedindo a formação dos radicais livres (RL) e a perda da integridade das células, evita e reparando lesões causadas pelos radicais, atua inibindo as reações de cadeia com ferro e cobre. O metabolismo celular gera RL naturalmente e os antioxidantes agem interrompendo esse processo e minimizando a proliferação de doenças crônicas e inclusive do câncer nos seres humanos (JUNIOR et al., 2011). De acordo com um estudo desenvolvido por Simões (2014) a presença do licopeno nas fibras musculares do sóleo e tibial anterior foram constatadas alterações teciduais no grupo treinado sem suplementação de licopeno como: hipertrofia de fibras musculares, aumento de macrófagos, arredondamento de fibras musculares e aumento do tecido endomisial. Já o grupo treinado com suplementação de licopeno apresentou aspecto morfológico normal com as fibras em formato poligonal, núcleos periféricos e padrão fascicular, com discreto aumento do endomísio e redução celular intersticial. 223 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO Figura 1: A) (200X) músculo gastrocnêmio e B) (400X)músculo tibial anterior exercitado sem suplementação de licopeno; C )(200X) músculo gastrocnêmio e D) (200X) músculo tibial anterior exercitado com suplementação de licopeno. Fonte: Simões, 2014. O licopeno é um pigmento carotenoide, sem atividade pró-vitamina que está presente no plasma e em alguns tecidos humanos, é constituído por átomos de carbono e hidrogênio, sendo responsável pela cor vermelho-alaranjado, ele tem um efeito protetor contra os radicais livres e é considerado um potente antioxidante. Este carotenóide não pode ser sintetizado pelo organismo humano, sendo assim, ele só vai se faz presente no corpo através do consumo de alimentos fonte, como: tomate, melancia, mamão, pitanga, goiaba vermelha (TIUZZI, 2008). 224 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO Figura 2. Fontes de extração do licopeno Fonte: http://www.mundoboaforma.com.br/licopeno-o-que-e-para-queserve-beneficios-e-alimentos-ricos/ O licopeno tem uma forte influencia na inibição da proliferação celular, é absorvido pelo intestino sem gasto de energia e possui 11 ligações duplas conjugadas e 2 não conjugadas, sendo mais eficiente em extinguir o oxigênio e os radicais livres com mais abundancia do que outros carotenóides (INOCENCIO, 2011). A presença destas duplas ligações em sua estrutura permite a existência do licopeno nas formas ―cis‖ (Figura 3) ou ―trans‖ (Figura 4). Tendo como predominante a forma trans, presente nos alimentos vegetais (INOCENCIO, 2011). 225 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO Figura 3. Estrutura dos isômeros do licopeno ―cis‖. Fonte: Inocencio, 2011 Figura 4. Estrutura dos isômeros do licopeno ―trans‖. Fonte: Inocencio, 2011 A estrutura do licopeno é considerada mais importante de todos os carotenóides. Do total de licopeno consumido, mais de 85% vem do tomate e de seus derivados se fazendo pouco presente em outras fontes. Com sua ação antioxidante se torna eficiente na prevenção das doenças cancerígenas e as doenças cardiovasculares que são as mais temidas. Os licopenos são encontrados em maior concentração em alimentos processados e concentrados (TRAMONTE; MORITZ, 2006). 226 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO O licopeno tem um número limitado de alimentos fontes. Ele pode ser encontrado na goiaba vermelha, na melancia, no mamão, na pitanga e no tomate. Quanto mais avermelhado for o alimento fonte, maior vai ser a presença deste pigmento. Vários fatores contribuem para a quantidade de licopeno nos alimentos como: a estação do ano, local do plantio, efeitos climáticos e geográficos, entre outros (TRAMONTE; MORITZ, 2006). O tomate vermelho maduro contém a maior fonte de licopeno, visto em grande concentração nos alimentos derivados deste fruto, como é o caso do extrato, molho, sopa, ketchup e suco de tomate. As cascas dos alimentos também apresentam maior concentração do licopeno, se comparado com as polpas, sendo mais presente em alimentos produzidos em regiões quentes. (INOCENCIO, 2011). Fonte: Inocencio, 2011 Apesar de o licopeno ter mostrado sua eficácia na prevenção de doenças, ainda não é considerado um nutriente essencial. Por esta razão não existe uma recomendação de ingestão diária do licopeno. Porém, é possível sugerir uma dose de licopeno que possa ser ingerida diariamente para que 227 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO ele exerça seus efeitos funcionais. Para seres humanos saudáveis uma ingestão de 5 a 7mg já seria suficiente para combater o estresse oxidativo causado pelos radicais livres e prevenir doenças. Em condições de doença, níveis maiores são recomendados, entre 35 a 75mg por dia (INOCÊNCIO, 2011). Figura 5. Ação do antioxidante contra o radical livre Fonte:http://www.nutrecenter.com.br/novo/verNoticia.php?id=2 Uma orientação dietética com alimentos fontes de licopeno tem sido estimulada, devido a sua ação antioxidante na prevenção do estresse oxidativo e danos celulares (SHAMI; MOREIRA, 2004). O licopeno é o primeiro carotenóide a acumular-se, após a absorção, em tecidos e fluidos humanos, aparece no plasma das lipoproteínas como VLDL (verylowdensitylipoprotein), LDL (LowDensityLipoprotein) e HDL (High DensityLipoprotein). As maiores concentrações são encontradas no LDL. A ação do licopeno na prevenção de doenças cardiovasculares está relacionada à proteção das lipoproteínas através de sua propriedade antioxidante que combate a oxidação das mesmas (BORGUINI, 2006). O uso de substancias antioxidante tem sido recomendada no tratamento quimioterápico de pacientes oncologicos, por demonstrar a redução da toxidade diminuindo assim os efeitos 228 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO colaterais que são causados durante a quimioterapia e radioterapia (JUNIOR et al., 2011). O consumo de tomate na prevenção de câncer é indicado por ser um alimento fonte de licopeno, de fácil acesso e presente em muitas dietas. O licopeno apresenta um efeito protetor contra os danos ao DNA e sua alta concentração no sangue esta associada à diminuição do desenvolvimento do câncer de próstata (JUNIOR et al., 2011).Porém, estudos realizados têm questionado a eficácia do efeito deste carotenóide sobre o câncer de próstata que de maneira parcial pode ser explicada mediante a biodisponibilidade do licopeno em várias fontes alimentares (SHAMI; MOREIRA, 2004). O licopeno também desempenhou função na prevenção do câncer de pulmão, foi verificado que em fumantes o uso de substancias antioxidantes na redução de câncer era mínima, pois o fumo alterava a concentração dessas substancias, porém a do licopeno continuava a mesma. Diante disto foi notada a redução de risco de câncer com o alto consumo de licopeno (SHAMI; MOREIRA, 2004). 4 CONCLUSÃO Neste artigo foi apresentada uma revisão bibliográfica com relação ao licopeno e sua ação antioxidante na prevenção e redução do risco de algumas doenças crônicas e do risco do desenvolvimento do câncer. O desenvolvimento deste estudo vem mostrando a importância do consumo deste pigmento na dieta, e assim incentivar os profissionais de nutrição a prescrever o consumo do mesmo, tendo em vista os benefícios acima citados. 229 EFEITOS DA AÇÃO ANTIOXIDANTE DO LICOPENO Porém, estudos a fim de esclarecer e descobrir mais benefícios a cerca deste carotenóide estão sendo realizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIANCHI, M. L. P.; ANTUNES, L. M. G. Radicais livres e os antioxidantes da dieta. Ver. Nutr., Campinas, 12 (2): 123-130, maio/ago., 1999. Disponível em<http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n2/v12n2a01.pdf> Acesso em 15 Set. 2015. BORGUINI, R. G. Avaliação do potencial antioxidante e de algumas características físico-químicas do tomate (lycopersiconesculentum) orgânico em comparação ao convencional. Julh, 2006. Disponível em <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILAC S&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=478042&indexSearch=ID> Acesso em 27 Ago 2015. CATANIA, A. S.; BARROS, C. R.; FERREIRA, S. R. G. Vitaminas e minerais com propriedades antioxidantes e risco cardiometabólico: controvérsias e perspectivas. Jun, 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/abem/v53n5/08.pdf>. Acesso em 26, Ago 2015. COSTA, P. R. F.; MONTEIRO, A. R. G. Benefícios dos antioxidantes na dieta. 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Licopeno e câncer: Bases moleculares. 2008.Disponível em:<http://nutritotal.com.br/publicacoes/files/687-MonoLicopenoCancer.pdf>. Acesso em 27, Ago2015 231 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) CAPÍTULO 17 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Maria Lucimar da Silva MEDEIROS1 Alfredina dos Santos ARAÚJO2 Jessica de Sousa NEGREIROS1 Moisés Sesion de MEDEIROS NETO1 Vanderleia SANTOS1 1 Graduando em Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Campina Grande, PB. 2 Prof. Dr. Sc. Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Paraíba, Brasil. [email protected] RESUMO: As hortaliças são consideradas veículos de microrganismos patogênicos, tornando-se importante à adoção de medidas que propiciem uma melhoria na qualidade desses produtos. Desse modo, a higienização é indispensável na manutenção da qualidade dos alimentos, por diminuir o número de microrganismos presentes. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a eficácia dos métodos de higienização mais aplicados em tomates. Desenvolveu-se um questionário, o qual foi aplicado com 60 consumidores em feira livre no município de Pombal/PB. Verificou-se que 85% dos entrevistados consomem tomate todos os dia e os métodos mais empregados para sanitização são: água corrente (32%), vinagre (35%) e água sanitária (19%). Estes métodos foram testados quanto a redução de coliformes à 35 e 45°C, Escherichia coli. e Salmonella sp.. Para coliformes a 45°C todas as amostras apresentaram contagem dentro dos padrões exigidos pela legislação e quanto a Salmonella sp. apenas o tratamento com água sanitária apresentou eficácia. Palavras-chave: Saúde pública. Hortaliças. Higienização. 232 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) 1 INTRODUÇÃO A busca por alimentação mais saudável e de fácil preparo tem aumentado o consumo de hortaliças no Brasil e no mundo, (CASTRO, 2013) por fornecerem inúmeros benefícios ao organismo e colaborar para o desenvolvimento e a regulação orgânica do corpo, devido ao elevado teor de vitaminas e minerais (SANTOS et al. 2012). O tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) é uma das hortaliças mais difundidas no mundo e ocupa um lugar de destaque na mesa do consumidor. Apresenta um dos maiores volumes de produção mundial, apenas ultrapassado pela batata e batata-doce. É a principal fonte de licopeno da dieta dos brasileiros, além de ser rico em vitaminas B e C, ácido fólico, betacaroteno, potássio, dentre outros (CASTRO, 2013). É amplamente consumido como ingrediente de saladas, em forma de concentrado, sumo de tomate, desidratado como ingrediente em sopas, molhos como ketchup, etc. (BORGUINI, 2002). Segundo Ferreira (2004), a caracterização das condições higiênico-sanitárias do tomate é de grade importância e como, na maioria das vezes é consumido cru, pode atuar como veículo de microrganismos que podem causar toxinfeções alimentares. Alguns trabalhos tem investigado a presença de microrganismo em vegetais. Pacheco et al. (2002) encontrou contaminação fecal por Escherichia coli. em 74,29% das 105 amostras de olericulturas investigadas sendo que o tomate juntamente com outras hortaliças (34), apresentaram 55,88%. 233 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Silva (2002) ao investigar nove produtos de origem vegetal, registrou no tomate presença de mesófilos aeróbicos, coliformes à 35°C e coliformes à 45°C. A presença desses microrganismos, além de outros patógenos em tomates e outras hortaliças, possibilitam a ocorrência de enfermidades intestinais, por serem frequentemente adubadas e/ou irrigadas com água contaminada por dejetos fecais (GOMES; MACHADO, MÜCHE, 2011). A lavagem dos vegetais é a prática mais comum para se obter um produto mais seguro. Segundo Santos et al. (2012), a lavagem em água corrente de boa qualidade pode reduzir em até 90% a carga microbiana dos vegetais, porém não é suficiente para manter a contaminação em níveis seguros, sendo essencial a aplicação de uma etapa de sanitização com agentes antimicrobianos. De acordo com Food and Drug Administration (FDA, 2009), a sanitização relacionada aos alimentos, como frutas e hortaliças frescas, consiste no tratamento do produto limpo por um processo eficaz em destruir ou reduzir o número dos microrganismos patogênicos sem afetar a qualidade ou segurança do produto para o consumidor. O uso de desinfetantes nos alimentos age de forma a completar um programa de sanitização, vinagres, hipoclorito, ácido peracético e outros, frequentemente são utilizados por serem considerados eficazes na sanitização de frutas e hortaliças (FONTANA, 2006). O cloro, em suas várias formas, especialmente na de sais de hipoclorito, é um dos sanitizantes empregados com mais sucesso nas indústrias de alimentos (GOMES; MACHADO, MÜCHE, 2011). Todavia, apesar do vinagre ser 234 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) um condimento, também pode ser utilizado como agente sanitizante (FONTANA, 2006). Segundo Gomes e colaboradores (2011), em determinadas concentrações, os ácidos orgânicos tem potencial para serem utilizados na inativação de microrganismos. Com este fim são empregados na redução da carga microbiana de alimentos não processados termicamente como carnes frescas e carcaças de aves, frutas e hortaliças frescas (GOMES; MACHADO, MÜCHE, 2011). A partir do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia dos métodos de higienização mais utilizados para o tomate (Lycopersicon esculentum Mill.). 2 MATERIAIS E MÉTODO O presente estudo foi conduzido em duas etapas. Na primeira realizou-se um estudo observacional, onde foram aplicados questionários com a finalidade de conhecer quais os métodos de higienização aplicados ao tomate. Na segunda etapa os métodos mais utilizados foram testados quanto a redução da população de bactérias do grupo coliformes e Salmonella sp.. Para avaliar o perfil dos consumidores, desenvolveu-se um questionário contendo informações sobre a frequência de consumo e os métodos utilizados para higienizar tomates, o qual foi aplicado com 60 consumidores na feira livre do município de Pombal/PB. Foram analisadas 4 amostras de tomate, adquiridas em feira livre no município de Pombal-PB. Em cada ocasião, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos e 235 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) encaminhadas à temperatura ambiente para o Centro Vocacional Tecnológico – CVT/UFCG, onde foram recepcionadas no Laboratório de Preparação de Amostras para análises Microbiológicas. Os tomates foram selecionados quanto a presença de injurias e em seguida distribuídos ao acaso em quatro grupos, correspondentes aos tratamentos descritos a seguir:T0 – Amostra controle (sem tratamento); T1 – Lavagem com água corrente; T2 – Lavagem com água corrente e imersão em solução de vinagre 5% por 30 minutos e T3 – Lavagem com água corrente e imersão em solução de água sanitária 200 ppm por 30 minutos. As amostras submetidas aos tratamentos T 2 e T3 foram novamente enxaguadas em água corrente, para retirar os resíduos dos sanitizantes e em seguida encaminhadas para as análises microbiológicas. Um porção de aproximadamente 75 g de cada amostra higienizada foi acondicionada em sacos plásticos e armazenada em geladeira com temperatura entre 5 à 7°C, sendo novamente analisadas após 10 dias. 2.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS Utilizou-se o método de tubos múltiplos, onde cada diluição foi semeada em três tubos, empregando-se inicialmente o caldo Lauril Sulfato Triptose para a realização do teste presuntivo, seguido do teste confirmativo com o meio Caldo Verde Bile Brilhante (CVBB) para os Coliformes a 35°C. Para os coliformes a 45°C, utilizou-se Caldo Escherichia coli (Caldo EC). A determinação do Número Mais Provável (NMP) 236 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) de bactérias coliformes foi realizada a partir do número de porções positivas, usando-se a tabela. Os tubos que apresentaram-se positivos no caldo EC foram semeados em placas de Petri contendo meio Eosina Azul de metileno (EMB) com o auxílio de uma alça de repique, sendo as placas invertidas e incubadas à 35°C durante 48 horas. A análise de Salmonella sp. foi realizada por meio de enriquecimento seletivo com meio Rambach e por confirmação preliminar das colônias típicas, com resultados expressos como ausência e presença do microrganismo em 25g de amostra. Para os resultados das bactérias do grupo coliformes foi calculado a eficiência do método de higienização quanto a redução do nível de microrganismos, pela seguinte fórmula: Eficiência (%) = -( ⁄ ⁄ ( ) ( ) ) Onde, T0 é o tratamento controle e Tn representa os demais tratamentos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O questionário foi aplicado na feira livre de Pombal/PB, com a participação de 60 consumidores, com faixa etária entre 18 a 63 anos, distribuidos como mostra a Figura 1, sendo 69% do sexo feminino e 31% do sexo masculino. 237 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Figura 1. Faixa etária dos entrevistados. Na Figura 2 podemos observar que o tomate é a hortaliça consumida com mais frequência durante a semana, cerca de 85% dos entrevistados afirmaram consumir tomate todos os dias, seguido do coentro (83,33%) e da cebola (71,67%). Figura 2. Consumo semanal do tomate e outras hortaliças. 100% Alface 80% Couve folha 60% Coentro 40% Cebola 20% Tomate 0% Não consume 2 a 3 vezes 4 a 5 vezes Todos os dias Esse resultado condiz com o obtido por Gomes, Machado & Müche (2011) que ao avaliarem os métodos de higienização empregados pela população de Medianeira/PR, registraram o tomate como a segunda hortaliça mais consumida (63%). Assim como Araújo e colaboradores (2007), 65% Até 19 anos 20 a 29 anos 16% 30 a 49 anos 50 a 69 anos [PORCENT AGEM] [PORCENT AGEM] 238 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) que ao avaliarem o consumo de hortaliças por adolescente de Pelotas/RS, verificaram que o tomate foi o mas citado (26,2%). Quanto ao hábito de higienização dos vegetais para o consumo, 32% dos entrevistados afirmaram fazer uso apenas de água corrente, enquanto os demais fazem uso de compostos para auxiliar na higienização. Cerca de 35% fazem uso de vinagre e 19% utilizam água sanitária comercial, como pode ser observado na Figura 3. Figura 3. Métodos de higienização utilizados para o tomate. 3% 8% 3% 32% Água corrente Vinagre Água sanitária Vinagre + Água sanitária Detergente Limão 19% 35% Na pesquisa de Gomes, Machado & Müche (2011), 48% dos entrevistados afirmaram utilizar apenas água corrente, enquanto 26% utilizam vinagre e 11% água sanitária. Foi questionada a preferência dos consumidores em utilizar água sanitária ou vinagre para completar a higienização. Como mostra a Figura 4, dos 60 entrevistados, 53% escolheram o vinagre, por acreditar que este seja o mais eficaz. 239 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Figura 4. Método de higienização escolhido como mais eficaz. 53% Vinagre Água sanitária 47% Pode-se observar na Tabela 1 que a matéria-prima analisada apresentou elevada contaminação inicial por coliforme totais, uma vez que na amostra controle (sem tratamento) a população de coliformes a 35°C variou de 0,36 à 46 NMP/g. Para todas as amostras, houve uma redução nesse número de microrganismos quando reanalisadas após 10 dias. Tabela 1. Resultado de coliformes à 35°C para os tomates submetidos à higienização. Tratamentos Amostra 1 2 3 4 Tempo (dias) Controle NMP/g NMP/g EF (%) NMP/g EF (%) NMP/g D0 2,4 x 102 4,6 x 102 0 2,1 x 101 91,3 2,3 x 101 90,4 D10 9,3 x 101 >1,1x103 0 1,1 x 102 0 < 3 x 100 96,8* D0 4,6 x 102 < 3 x 100 99,4* < 3 x 100 99,4* < 3 x 100 99,3* D10 3,6 x 10 0 1 2,3 x 10 0 2,4 x 10 0 4,3 x 101 0 D0 4,6 x 102 4,6 x 102 0 4,2 x 101 90,9 3,9 x 101 91,5 D10 1,5 x 102 2,4 x 102 0 1,5 x 102 0 2,9 x 101 80,7 D0 9,3 x 10 1 2 1,1 x 10 0 0 9,1 x 10 90,2 3,6 x 10 0 96,1 D10 3,6 x 100 7,3 x 100 0 1,1 x 102 0 3,0 x 100 16,7 Água corrente Vinagre 2 Água sanitária EF (%) NMP/g – Número Mais Provável por grama; EF (%) – Eficiência; * – Eficiência mínima. Praticamente em quase todas as amostras tratadas com água corrente não houve diminuição significativa do número de coliformes totais. Na amostra 2 houve uma redução de pelo menos 99,4% das bactérias desse grupo. Para a amostra 3, a 240 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) população de coliformes totais manteve-se constante (46,0 NMP/g) e para as amostras 1 e 4, houve aumento de coliformes após o tratamento. Rodrigues e colaboradores (2011), verificaram que a utilização de água e sabão não demostrou ser uma técnica eficaz quanto a segurança alimentar, uma vez que na maioria das amostras analisadas, também não apresentou diminuição significativa do número de coliformes totais e/ou fecais. Segundo Berbari; Paschoalino & Silveira (2001), a lavagem dos vegetais é a prática mais comum para se obter um produto mais seguro, no entanto, é primordial que essa água seja de boa qualidade. Se esse requisito não for atendido, a água passa a ser fonte de contaminação primária dentro da planta de processamento. Além de estar relacionado com a qualidade da água (RODRIGUES et al., 2011), estes resultados podem estar relacionados com os utensílios e manipuladores que estiveram em contato com a amostra durante o procedimento de higienização. O tratamento com vinagre mostrou-se eficiente para todas as amostras analisadas no dia da higienização, com eficiência entre 90,2 a 99,4%. Quando reanalisadas, foi constatado um número de microrganismos maior do que o tratamento controle. Já a água sanitária apresentou eficiência em praticamente todas as amostras analisadas, com exceção apenas da amostra 2 quando analisada no décimo dia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, com a Resolução RDC n°12, de 2 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001), estabelece como padrão microbiológico para hortaliças frescas, "in natura", preparadas (descascadas ou selecionadas ou fracionadas), sanificadas, refrigeradas ou congeladas destinadas ao consumo, presença de coliformes fecais de até 102 NMP/g e ausência de Salmonella sp. em 25g do produto. 241 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Com relação aos coliformes à 45°C, observa-se na Tabela 2 que todas as amostras analisadas apresentaram-se dentro do estabelecido pela legislação. Em todas as amostras sem tratamento houve o desenvolvimento de Coliformes à 45°C, porém dentro do limite preconizado. Já o tratamento com água corrente proporcionou diminuição em praticamente todas as amostras, com eficiência de 16,7 a 80,0%, com exceção do décimo dia das amostras 2 e 4. Tabela 2. Resultado de Coliformes a 45°C para os tomates submetidos à higienização. Tratamentos Amostra 1 2 3 4 Tempo (dias) Controle NMP/g NMP/g EF (%) NMP/g EF (%) NMP/g D0 3,6 x 100 3,0 x 100 16,7 3,6 x 100 0 9,1 x 100 0 D10 1,5 x 101 < 3 x 100 80,0* 3,6 x 101 0 < 3 x 100 80,0* D0 7,3 x 100 3,6 x 100 50,7 3,6 x 100 0 < 3 x 100 58,9* D10 < 3 x 10 0 1 0 D0 Água corrente Vinagre Água sanitária EF (%) 2,3 x 10 0 < 3 x 10 0 < 3 x 100 0 7,2 x 100 < 3 x 100 58,3 < 3 x 100 58,3* < 3 x 100 58,3* D10 4,3 x 101 2,1 x 101 51,2 1,2 x 102 0 7,3 x 100 83,0 D0 9,1 x 10 0 0 7,2 x 10 20,9 0 9,1 x 10 0 < 3 x 100 67,0* D10 < 3,0 x 100 7,3 x 100 0 2,0 x 101 0 < 3 x 100 0 NMP/g – Número Mais Provável por grama; EF (%) – Eficiência; * – Eficiência mínima. O tratamento com vinagre apresentou eficiência apenas para a amostra 3 quando analisado no dia da higienização, porém ao ser analisado no décimo dia, esta amostra apresentou elevada concentração de coliformes a 45°C, 1,2 x 102, estando a cima do estabelecido pela legislação. O tratamento com água sanitária mais uma vez mostrou ser o método mais eficaz, com redução entre 58,3 e 83,0%. Para três amostras não houve redução do número de 242 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) coliformes a 45°C, porém a concentração de microrganismos presentes variou de < 0,3 a 0,91. Dartora (2007) ao avaliar a descontaminação do tomate, observou que os processos de higienização aos quais as amostras de tomate foram submetidas, são mais eficientes em relação aos coliformes fecais do que para coliformes totais. De acordo com Ferreira (2004) o maior risco de contaminação de olerícolas é relatado nas práticas de agricultura que envolve adubo de origem animal e vegetal. No entanto, a presença desses microrganismos também pode estar relacionada com a água utilizada para irrigação, a qual pode estar contaminada com dejetos fecais (GOMES; MACHADO, MÜCHE, 2011). Nenhuma das amostras apresentaram contaminação por Escherichia coli. Conforme observado na Tabela 3, todos os tomates que não passaram por tratamento apresentaram contaminação por Salmonella sp., assim como os tomates tratados com água corrente. Amostra 1 2 3 4 Tempo (dias) Controle D0 D10 D0 D10 D0 D10 D0 D10 Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Tratamentos Água Vinagre corrente Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Presença Ausente Presença Ausente Presença Presença Presença Água Sanitária Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Resultados expressos como presença ou ausência em 25 gramas da amostra. Tabela 3. Resultado de Salmonella sp. para os tomates submetidos a higienização. 243 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) Segundo Gomes; Machado & Müche (2011) a Salmonella sp. é um dos microrganismos mais envolvidos em caos e surtos de doenças de origem alimentar em diversos países, inclusive no Brasil, o que reforça a importância de uma higienização eficiente, que garanta a segurança do alimento. A água sanitária foi o único método capaz de eliminar a presença de Salmonella sp., uma vez que todas as amostras tratadas com este composto apresentaram ausência para este microrganismo. Nos estudos de Dartora (2007) com tomates submetidos a diferente métodos de higienização, foi constatado que somente a utilização de vinagre 6% não é capaz de eliminar a contaminação por Salmonella ap., porém a utilização do vinagre em conjunto com a água sanitária e a imersão em solução de água sanitária 200 ppm mostrou-se eficiente, assim como a retirada da casca do tomate. 4 CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos neste estudo, pode-se verificar a presença de bactérias em tomates comercializados em feira livre no município de Pombal, principalmente de Salmonella sp. No tratamento com os agentes sanitizantes, constatou-se maior eficiência da água sanitária 200 ppm, por ter reduzido o número de bactérias do grupo coliformes e eliminar a presença de Salmonella sp. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, E. S.; et al. Frutas, legumes e verduras mais consumidas entre adolescentes. In: XVI Congresso de iniciação Científica. 2007. 244 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) BERBARI, S. A. G.; PASCHOALINO, J. E.; SILVEIRA, N. F. A; Efeito do cloro na água de lavagem para desinfecção de alface minimamente processada. Rev. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campiinas, 21(2): 197-201, mai-ago. 2001. BORGUINI, R. G. Tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) orgânico: o conteúdo nutricional e a opinião do consumidor. Dissertação (Mestrado). Piracicaba/SP, 2002. BRASIL. Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2001. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a47bab8047458b909541d53f bc4c6735/RDC_12_2001.pdf?MOD=AJPERES>, acesso em setembro de 2015. CASTRO, R. S. 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Piracicaba/SP, 2002. 246 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) CAPÍTULO 18 ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PRODUTOS A BASE DE ABÓBORA (Cucurbita maxima) 1 1 Victor de Souza PEREIRA 2 Alfredina dos Santos ARAÚJO 1 Maria Lucimar da Silva MEDEIROS 1 Moisés Sesion de MEDEIROS NETO 3 Maria do Socorro Araújo RODRIGUES Graduando em Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Campina Grande, PB. 2 Prof. Dra. Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Paraíba, Brasil. 3 Dotouranda em Engenharia de Processos. Universidade Federal de Campina Grande, PB. [email protected] RESUMO: A abóbora é uma leguminosa pertencente à família das Cucurbitáceas, amplamente cultivada no Brasil. Encontrase disponível o ano todo e pode ser consumida de várias formas, inclusive na forma de doces. Este trabalho teve como objetivo a elaboração, caracterização físico-química e a análise do perfil microbiológico de doce cristalizado e geleia de abóbora. As análises físico-químicas de acidez, pH, sólidos solúveis, lipídios, proteínas, umidade e cinzas e as análises microbiológicas de Bolores e Leveduras, Coliformes a 35 e 45°C, Salmonella spp. e Staphylococcus spp. foram realizadas no Centro Vocacional Tecnológico – CVT/UFCG campus Pombal. Com relação as determinações físico-químicas, os teores de proteínas e lipídios de ambos os produtos elaborados, preservaram as características da polpa. Dos microrganismos pesquisados, houve ausência de Coliformes a 45°C e Salmonella spp. tanto na polpa como nos produtos desenvolvidos, e os demais apresentaram-se dentro dos limites estabelecidos. A partir dos resultados conclui-se que a elaboração do doce cristalizado e da geleia de abóbora constitui-se uma alternativa viável para a utilização desta 247 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) matéria-prima, diminuindo o desperdício gerado pela cadeia produtiva e agregando valor a abóbora. Palavras-chave: Novos produtos. Conservação. Jerimum. 1 INTRODUÇÃO A produção e conservação dos alimentos são processos que vem sendo desenvolvidos pelo homem desde épocas remotas, assim o uso da tecnologia de alimentos para o desenvolvimento de novos produtos, pode ser uma alternativa viável para o processamento, aproveitamento e consumo de frutas e vegetais por proporcionar maior oferta de produtos no mercado e contribuir para a agregação de valor ao fruto (SANTOS et al, 2012). O processamento de frutas e vegetais, consiste numa forma de conservar o alimento por um maior período de tempo, além de ser uma alternativa para a utilização de frutos fora do padrão para consumo in natura, contribuindo para minimizar as perdas pós colheita (FERREIRA et al, 2011). As abóboras são leguminosas pertencentes à família das Cucurbitáceas. São amplamente cultivadas em todo território brasileiro e desempenham um importante papel para a alimentação humana, estão presentes em nossa dieta desde a formação das primeiras civilizações do mundo até os dias atuais (SANTOS, 2013b) e podem ser consumidas tanto no preparo de doces em calda e pasta, como no preparo de pratos salgados. As abóboras estão entre as espécies de hortaliças mais comercializadas e de acordo com o último censo Agropecuário (2006) foram produzidas cerca de 384 mil toneladas de 248 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) abóboras, sendo a região Nordeste a segunda maior produtora do país (CARVALHO, 2013). Os frutos de Cucurbita maxima apresentam tamanhos relativamente grandes, são vegetais de fácil produção e encontram-se disponíveis em abundancia o ano todo, podendo ser preservados intactos durante meses, mesmo que acondicionados a temperatura ambiente (SANTOS, 2013a). A produção de doce cristalizado de abóbora, assim como a produção de geleia, propicia uma alternativa para o seu consumo, procurando assim agregar mais valor à agroindústria destes produtos e consequente melhoria de renda para o produtor (SILVA, 2013). Baseado no exposto, este trabalho teve como objetivo a utilização de abóbora como matéria prima para a elaboração de geleia e doce cristalizado, assim como a caracterização físico-química e microbiológica dos mesmos. 2 MATERIAIS E MÉTODO Para o presente trabalho as abóboras maduras da variedade conhecida como Jerimum de leite, foram adquiridas em feira livre no munícipio de Pombal/PB, onde foram préselecionadas quanto ao tamanho, cor da casca e ausência de injúrias e encaminhadas para o Centro Vocacional Tecnológico (CVT) pertencente a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Inicialmente as abóboras foram submetidas a lavagem com água corrente e escova, e sanitização com solução de Iodo 0,5%, por 15 minutos, seguida de enxague com água destilada. Posteriormente foram descascadas e cortadas para 249 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) a retirada das sementes e a separação da polpa, a qual foi imediatamente processada. 2.1 Elaboração da Geleia A polpa da abóbora foi levada ao fogo para um breve cozimento e após a drenagem do líquido foi amassada com o auxílio de uma peneira, obtendo consistência pastosa. Adicionou-se a polpa, ácido cítrico para favorecer a diminuição do pH e 2% de pectina para auxiliar na formação do gel. Em seguida, foi novamente aquecida sob agitação manual, para proporcionar a evaporação da água e aumento do teor de sólidos solúveis, por meio da adição de açúcar, verificando a cada 2 minutos com refratômetro digital. Após a concentração da mistura, o ponto final da geleia foi determinado ao atingir 65°Brix. Na sequência, a geleia foi envasada a quente em embalagens de vidro com capacidade para 200 g, previamente esterilizadas, fechadas com tampa de metal e estocadas à temperatura ambiente para posterior caracterização. 2.2 Elaboração do doce cristalizado A polpa foi cortada em cubos de aproximadamente 1,5 cm x 1,5 cm x 1,5 cm (L x A x P), os quais foram lavados, branqueados e imersos em solução de Óxido de Cálcio (CaO) 1% por 6 horas, a fim de tornar o doce cristalizado crocante por fora e macio por dentro. Os cubos foram cozidos em calda de açúcar a 85% por 50 minutos e após o cozimento, permaneceram na calda de 250 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) açúcar ficando em repouso por 2 horas. Em seguida foram drenados em peneira para retirada do excesso de calda e posteriormente levados a estufa de circulação de ar forçada a 70°C por 4 horas. Após a secagem, os cubos foram passados em açúcar cristal e logo em seguida embalados em recipientes previamente esterilizados e acondicionados em temperatura ambiente para posterior análise. 2.3 Análises microbiológicas e físico-químicas As análises microbiológicas foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Silva (2010). Para a contagem de Bolores e Leveduras utilizou-se o método de plaqueamento em profundidade utilizando o meio Batata Dextrose Ágar (BDA). A determinação do número mais provável de coliformes a 35 e 45°C foi realizada através do método de tubos múltiplos, por meio do teste presuntivo com o Caldo Lauril Sulfato Triptose e confirmativo com o Caldo Verde Bile Brilhante para os Coliformes a 35°C, empregando-se o Caldo Escherichia coli para a confirmação dos Coliformes a 45°C. A detecção de Salmonella spp. foi realizada por meio de enriquecimento seletivo com meio Rambach e por confirmação preliminar das colônias típicas. A contagem de Staphylococcus spp. foi realizada por plaqueamento em superfície em meio Ágar Sal Manitol. As determinações físico-químicas de acidez, pH e sólidos solúveis foram realizadas conforme a metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (2008), assim como as análises de composição química, as quais foram definidas pelos seguintes procedimentos: Cinzas por incineração a 550°C, lipídios pelo 251 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) método de extração por solvente (Soxhlet), proteínas por nitrogênio total e umidade em estufa a 105°C. Os carboidratos totais foram calculados por diferença e o valor calórico foi determinado a partir do fator de conversão de Atwater: 9 para lipídios e 4 para as proteínas e carboidratos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados microbiológicos expressos na Tabela 1, houve o desenvolvimento de Bolores e Leveduras tanto na polpa como nos produtos elaborados. Segundo Gava (2004) a presença de açúcar aumenta a pressão osmótica do meio e, consequentemente, diminui a atividade de água do alimento, criando, condições desfavoráveis para o crescimento de bactérias, bolores e leveduras. Contudo, o pH dos produtos, principalmente o da geleia, é bastante favorável ao desenvolvimento desses microrganismos, os quais desenvolvem-se sobretudo em pH ácido. É importante ressaltar também, que ambos os produtos elaborados apresentaram umidade acima do recomendado, fator este que pode favorecer o desenvolvimento de bolores e leveduras. Foi observado a presença de coliformes a 35°C apenas na polpa de abóbora, e ausência na geleia e no doce cristalizado. Não foi evidenciado o desenvolvimento de coliformes a 45°C em nenhuma das amostras. As contagens de coliformes são muito utilizadas nas análises de alimentos tratados termicamente, visto que a presença dessas bactérias é um indicativo de tratamentos térmicos inadequados ou de uma provável contaminação posterior. Nesse contexto, pode252 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) se afirmar que o tratamento térmico aplicado foi eficiente para a eliminação desses microrganismos. Tabela 1. Resultados microbiológicos da polpa (PA), geleia (GA) e doce cristalizado (DA) de abóbora. Analises PA GA Bolores e leveduras (UFC/g) 2,17 x 10 Coliformes a 35°C (NMP/g) 1 DA 2 3,52 x 10 1,88 x 10 9,3 Ausente Ausente Coliformes a 45°C (NMP/g) Ausente Ausente Ausente Salmonella (UFC/g) Ausente Ausente Ausente Staphylococcus (UFC/g) 5,5 x 10 1 1,67 x 10 2 5,0 x 10 2 1 UFC/g – Unidade formadora de colônias por gramas; NMP/g – Número mais provável por gramas. Não foi detectada a presença de Salmonella spp. na polpa de abóbora, assim como nos produtos elaborados, ausente em 25 g assim como determina a legislação. Houve o desenvolvimento de Staphylococcus spp. tanto na polpa como nos produtos elaborados, o que pode indicar contaminação no processo de produção ou após a elaboração do produto, através dos manipuladores ou dos utensílios que estiveram em contato com o doce e com a geleia. Porém a contagem apresentada esteve dentro dos limites aceitáveis pela legislação RDC n° 12/2001, que preconiza o limite máximo de 103 UFC/g. A presença de Staphylococcus spp. no doce cristalizado também pode estar relacionada ao fato do 253 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) processo de elaboração ser demorado e em alguns momentos necessitar ficar em temperatura ambiente. Na Tabela 2, observa-se que o doce apresentou baixa acidez, 0,66%, valor próximo ao encontrado por Kato et al (2013) para o doce de abóbora com coco, sendo este de 0,71%. A geleia apresentou acidez mais elevada, em torno de 3,74%. Tabela 2. Média dos resultados físico-químicos obtidos para a polpa (PA), geleia (GA) e doce cristalizado (DA) de abóbora. Analises Acidez titulável (%) pH Sólidos solúveis (°Brix) Cinzas (%) Lipídios (%) Proteínas (%) Umidade (%) Carboidratos totais1 (%) Valor calórico2 (Kcal) 1 2 PA GA DA 1,52 0,22 6,36 0,04 0,90 0,02 0,99 0,05 2,44 0,58 88,25 0,07 7,42 48,35 3,74 0,16 4,77 0,09 66,10 0,02 0,33 0,02 0,40 0,04 2,34 0,75 51,41 0,14 45,52 195,04 0,66 0,28 6,70 0,12 59,40 0,04 0,45 0,05 0,70 0,25 1,71 0,26 28,81 2,53 68,33 286,46 – Calculado por diferença; – Cálculo a partir do fator de conversão de Atwater; O pH obtido para o doce cristalizado foi de 6,70, valor próximo ao encontrado por Kato et al (2013) que foi de 6,23. Para a geleia obteve-se pH de 4,77. Ferreira et al (2010) em estudos com 4 formulações de geleia de melancia com tamarindo, analisando-as em função do tempo de armazenamento obteve uma variação de 1,84 a 5,26. Segundo Santana et al (2012) a formação de geleias está relacionada com o pH da fruta e o intervalo de pH ideal para a formação do gel depende do teor de sólidos solúveis 254 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) presentes nas geleias, deste modo, para geleias com sólidos solúveis entre 68% e 72% o pH ótimo está na faixa de 3,0 a 3,3. O teor de sólidos solúveis obtido para a geleia foi de 66,1%. Este valor está em conformidade com o estabelecido pela Resolução n°12/1978 que recomenda teor mínimo de 65%. O percentual obtido para a polpa de abóbora foi de 0,9%, valor próximo ao encontrado por Silva (2013) para a abóbora da variedade moranga, que foi de 0,5%, assim como ao valor descrito pela Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – TACO (2006), que é de 0,4%. O doce cristalizado e a geleia obtiveram teores de 0,45 e 0,33%, respectivamente, sendo análogos ao teor registrado por Taco (2006) para o doce cremoso de abóbora, 0,4%. A geleia e o doce cristalizado de abóbora apresentaram baixos teores de lipídios, 0,40 e 0,70%, respectivamente, e estão próximos ao resultado obtido para a polpa, 0,99%. Esses teores foram superiores aos registrados por Taco (2006) para a polpa in natura e para o doce cremoso de abóbora, 0,1 e 0,2%, simultaneamente. Observa-se que ambos os produtos elaborados apresentaram teores de proteínas próximo ao encontrado para a polpa, 2,44%, sendo estes de 1,71 e 2,34% simultaneamente para o doce cristalizado e a geleia. O teor de umidade obtido para a geleia foi de 51,41%. Viana (2012) obteve teor de umidade entre 25,99 e 29,93% para três formulações de geleia mista de araçá-boi com mamão. A Resolução n°12/1978 determina que a umidade das geleias seja de no máximo 38%, valor inferior ao encontrado neste trabalho, indicando que não houve adequação quanto a 255 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) este parâmetro, porém segundo Mota (2006) a determinação da umidade pela metodologia secagem em estufa a 105 °C até peso constante, não é adequada a este tipo de produto, devido à caramelização do açúcar, sendo estes valores teores aproximados. Valor próximo foi registrado por Medeiros et al (2015) para 3 formulações de geleia de tamarindo com adição de pimenta, que obteve variação de 51,39 a 52,98%. A legislação brasileira determina umidade máxima de 25% para frutas cristalizadas (Anvisa, 1977), com isso, observa-se que o resultado encontrado para o doce cristalizado foi superior ao estabelecido para este produto, visto que foi de 28,81%. Silva (2013) estudando duas variedades de abóbora, obteve o valor de 22,31 e 23,97% para o doce cristalizado das variedades moranga e jacarezinho, respectivamente. Dias et al (2011) obteve variação de 23,77 a 26,91% para 5 formulações de doce da casca de maracujá, valor próximo ao encontrado para o doce de abóbora. 4 CONCLUSÕES Os produtos elaborados apresentam-se seguros, ausentes de bactérias do grupo coliformes e salmonella sp., com baixas contagens de Bolores e Leveduras e presença de Staphylococcus spp. dentro do limite preconizado pela legislação. As análises físico-químicas tanto da geleia como do doce cristalizado confirmaram que constituem-se excelentes alternativas para a conservação e o aproveitamento da abóbora, uma vez que os produtos mantiveram os teores de lipídios e proteínas próximo ao da polpa in natura, mas proporcionaram uma melhoria no teor de 256 EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS CASEIROS DE SANITIZAÇÃO APLICADOS A TOMATES (Lycopersicon esculentum Mill.) carboidratos totais e valor calórico. Desse modo, a utilização da abóbora como matéria-prima para o desenvolvimento desses produtos, além de reduzir o desperdício gerado pela cadeia produtiva, agrega valor ao legume. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA. Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Brasil, 2001. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a47bab8047458b909541d53f bc4c6735/RDC_12_2001.pdf?MOD=AJPERES>, acesso em setembro de 2015. BRASIL. Resolução n°12, 1978. 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Tese (Doutorado em melhoramento genético de plantas), 2013. 258 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL CAPÍTULO 19 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Roberta Conceição Ribeiro VARANDAS1 Vilma Barbosa da Silva ARAÚJO1 Roberto SASSI2 Cristiane Francisca Costa SASSI2 Alerson Araújo de SOUZA 3 1 Alunas da Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFPB, João Pessoa/PB; 2 Professores da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB; 3 Aluno de Tecnologia e Alimentos da UFPB, João Pessoa/PB e-mail: [email protected] RESUMO: As microalgas são micro-organismos fotossintéticos capazes de armazenar energia solar, convertendo-a em energia biológica. A Spirulina foi uma fonte de alimentos para muitas culturas durante toda a história. O mercado de alimentos funcionais, utilizando microalgas em massas, pães, iogurtes e bebidas, apresenta rápido desenvolvimento em vários países. O objetivo desta pesquisa foi cultivar e avaliar a composição físico-química da biomassa da microalga Spirulina platensis cultivada em laboratório. O cultivo da microalga foi realizado no Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas (LARBIMN/UFPB), em bancada. Foi utilizado o meio de cultua Zarrouk (1966). A composição físico-química foi determinada através da análise do teor de proteínas(Método de micro Kjedahl), carboidratos( método Derner, 2006 adaptado de Korchet (1976)) e lipídios totais (Folch et al., (1957) adaptado por Lourenço (2006)). Pode-se constatar que o cultivo foi interrompido no dia 11, no início da fase estacionária. Constatou-se que os teores de 259 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL proteínas, lipídios e carboidratos foram similares tanto para spirulina comercial como para spirulina cultivada. Palavras-chave: Níveis. Alimentos. Biomassa. 1 INTRODUÇÃO O consumo de proteína é uma necessidade constante na alimentação humana e animal. A desnutrição e a má alimentação são problemas atuais no mundo inteiro, existindo assim a necessidade da produção de alimentos que possuam perfis nutricionalmente equilibrados. Além disso, devido ao crescimento populacional, as demandas alimentícias são cada vez maiores. Assim, a produção de alimentos e compostos de interesse por meio de microalgas torna-se muito interessante, pois podem ser cultivadas em locais impróprios para a agricultura e pecuária tradicionais. Além de produzirem grande quantidade de biomassa em um curto período de tempo, também há a possibilidade de seleção de estirpes e condições de cultivo apropriadas à produção do composto desejado. (VOLKMAN, 2006). Microalgas são algas microscópicas cujas células possuem uma composição bioquímica variada (carboidrato, proteína, lipídios, ácidos graxos) e essa composição depende da natureza de cada espécie e também de fatores ambientais relacionados à região onde o cultivo está sendo realizado e ao meio de cultura utilizado (ZAMALLOA et al., 2011). A Spirulina foi uma fonte de alimentos para muitas culturas durante toda a história. Os Astecas e os Maias usaram a Spirulina como parte central de sua alimentação. Na África, os povos de Kanembu, na República do Chade, alimentam-se destas algas até hoje (SILVA, 2008). 260 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL A Spirulina é uma microalga certificada pelo FDA (Food and Drug Administration) como GRAS (Generally Recognized As Safe), podendo ser utilizada como alimento ou fármaco sem oferecer riscos à saúde. Esta microalga tem sido produzida em grande escala para uso como alimentos e como fonte de produtos farmacêuticos e bioquímicos por ela ser rica em proteínas, em ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais. As microalgas têm sido estudadas nos EUA, Japão, Índia e França para produção de alimentos no combate a desnutrição. No sul do Brasil, as margens da Lagoa Mangueira, um projeto piloto produz 50 kg/mês de Spirulina para enriquecimento de alimentos, distribuídos na merenda de crianças da região (MORAIS et al.,2010). Existem diversos usos da Spirulina ao redor do mundo: os comprimidos desta microalga são ingeridos em diversos países para tratamento de uma variedade de enfermidades. Em mais de 40 países, pessoas já estão familiarizadas com as pílulas, o pó e as cápsulas (HENRIKSON, 2009). Segundo Pulz e Gross (2004), o mercado de alimentos funcionais, utilizando microalgas em massas, pães, iogurtes e bebidas, apresenta rápido desenvolvimento em vários países, como França, Estados Unidos, China e Tailândia. Segundo Becker (2004), a Spirulina apresenta vitaminas A e C, importantes antioxidantes naturais, e ácido fólico (B9), o qual é necessário para a formação de células e bom funcionamento de alguns órgãos. Esta microalga destaca-se, sobretudo, pelo seu conteúdo de vitamina B12, difícil de encontrar em dietas vegetarianas, bem como pela presença dos minerais: zinco, magnésio, cromo, selênio e ferro em sua biomassa. 261 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Estudos ‗in vitro‘ e ‗in vivo‘ mostram que as propriedades nutricionais da microalga Spirulina têm sido relacionadas com possíveis propriedades terapêuticas que podem ajudar no tratamento de problemas de saúde como diabetes, anemia, desnutrição, obesidade, tensão prémenstrual, doenças cardiovasculares, câncer, entre outros (CHU et al., 2010). Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi cultivar e avaliar a composição físico-química da biomassa da microalga Spirulina platensis (= Arthospira platensis) cultivada e comercial. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 PRODUÇÃO DA BIOMASSA DA Spirulina platensis O cultivo de S. platensis (Figura 1) microalga foi realizado no Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas (LARBIMN/UFPB), em bancada (Figura 2), utilizando balões de fundo chato de 6 litros contendo 6 litros do meio Zarrouk (Zarrouk (1966) (Tabela 1), em ambiente climatizado com temperatura mantida em 25±1 °C, dotada de sistema de iluminação com lâmpadas fluorescentes de 40 W (4,5±0,3 Klux) e fotoperíodo de 12 horas e sistema de agitação por injeção contínua de ar atmosférico (2ml.min-1) com um micro compressor de ar. O crescimento foi acompanhado por contagem celular em câmaras Sedgewick-Rafter em microscópio binocular e também por análises da fluorescência ―in vivo‖ das amostras em um fluorômetro Turner Design, modelo 10005R. O experimento foi interrompido no início da fase estacionária. A 262 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL biomassa foi concentrada em centrifuga refrigerada a 18º C, os concentrados congelados (-30 °C), e liofilizados. A biomassa seca foi pesada e guardada em um recipiente. Figura 1. Linhagem de Spirulina platensis utilizada na pesquisa. Figura 2. Cultivo da microalga Spirulina plantesis em bancada. 263 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Tabela 1. Composição do meio Zarrouk Soluções estoque Quantidades 1-Nitrato de Potássio (KNO3) 15,0 g em 200 ml 2-Cloreto de Sódio (NaCl) 33,0 g em 200 ml 3-Sulfato de Magnésio 7-hidratado 1,5 g em 200 ml (MgSO4.7H2O) 4-Fosfato de Potássio (K2HPO4) 1,5 g em 200 ml 5-Cloreto de Cálcio 2-hidratado (CaCl2.H2O) 0,58 g em 200 ml 6-Solução dissódica (Na2EDTA) 6,4 g em 100 ml 7-Sulfato Ferroso7-hidratado (FeSO4.7H2O) 0,5 g em 100 ml 8-Ácido Bórico (H3BO3) 1,14 g em 100 ml 9-Solução mista Solução mista Quantidades Dissolver os 5 sais abaixo g) em 100 ml, preparando uma única solução Nitrato Cobaltoso 6-hidratado[Co(NO3)2.6H2O] 0,049 Cloreto de Manganês 4-hidratado 0,144 (MnCl2.4H2O) Sulfato de Zinco 7-hidratado (ZnSO4.7H2O) 0,882 Sulfato de Cobre 5-hidratado (CuSO4.5H2O) 0,0157 Oxido de Molibdênio (MoO3) 0,071 Preparação de 1 Lt de meio de cultura: 1. Dissolver em 600 ml de água 15,0 g de NaHCO3 2. Na solução anterior, dissolver 2 g de Na2CO3 3. Acrescentar 10 ml das soluções 1,2,3,4 e 5 4. Acrescentar 1,0 ml das soluções 6,7,8 e 9 5. Completar o volume a 1.000 ml e autoclavar Fonte: (ZARROUK, 1966) 2.2 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DA BIOMASSA DA Spirulina platensis CULTIVADA E COMERCIAL 264 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Proteínas totais: Foi realizado pelo método de micro Kjedahl e o nitrogênio formado é quantificado usando o reativo de Nessler com base no teor de Nitrogênio de 6,25 para a Spirulina. Carboidratos totais: Foi realizado pelo método descrito em Derner, 2006 adaptado de Korchet (1976). Lipídios totais: Foi realizado pelo método de Folch et al., (1957) adaptado por Lourenço (2006). 2.3 SPIRULINA COMERCIAL A spirulina comercial foi obtida no comércio local de João Pessoa-PB. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CURVA CULTIVADA DE CRESCIMENTO DA SPIRULINA unidades de fluorescência A Spirulina tem sua curva de crescimento apresentada na Figura 3, sendo que a duração do experimento foi de 11 dias quando o cultivo estava na fase estacionária. 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 -5,00 0 5 10 15 Dias Figura 3. Curva de crescimento de S. platensis obtida nesta pesquisa. Valor médio dos ensaios realizados. 265 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Sabe-se que o crescimento da microalga Spirulina pode variar segundo o meio de cultura utilizado e as condições externas de cultivo. Os principais grupos de nutrientes considerados essenciais para o crescimento das microalgas são: os macronutrientes (Oxigênio, Nitrogênio, Hidrogênio, Fósforo, Cálcio, Magnésio, Potássio e Enxofre) e os micronutrientes (Ferro, Boro, Cobre, Cobalto, Zinco, Vanádio, Molibdênio e Sódio) (LOURENÇO, 2006). A biomassa da Spirulina obteve o rendimento de 0,206 g/L. 3.2 COMPOSIÇÃO SPIRULINAS FÍSICO-QUÍMICA DAS Os resultados quanto a proteínas, carboidratos e lipídios da Spirulina platenses cultivada e comercial, estão apresentados na Tabela 2. Microalga Spirulina cultivada Proteínas 50,36±0,55 Composição Carboidratos 3,93±0,64 Spirulina Comercial 50 ± 1,00 5,0± 1,00 Fonte: Pesquisa própria. Legenda (%)-porcentagem. Resultados das análises com média e ± desvio padrão Lipídios 32,63±0,07 30± 0,5 Tabela 2. Níveis de proteínas, carboidratos e lipídios encontrados na biomassa da Spirulina platensis cultivada e comercial. 266 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Constatou-se que os teores de proteínas, lipídios e carboidratos foram similares tanto para spirulina comercial como para spirulina cultivada. O valor proteico da spirulina cultivada encontrado foi de 50,3%, e para comercial foi de 50% similar ao estudo de Volkman et al., (2008) no qual analisaram Spirulina cultivada em diferentes meios de cultivo e reportaram um conteúdo de proteína de 56,17%. O valor de carboidrato encontrado neste estudo foi de 3,9% (Tabela 1). A pesquisa realizada por Jiang et al. (2015),obtiveram na composição bioquímica da Spirulina 5,6% de carboidrato com meio Zarrouk modificado suplementado com um complexo de águas residuais. A Spirulina cultivada apresentou altos teores de lipídios (32,6%) e a spirulina comercial também (30%) (Tabela 2). O valor obtido foi superior aos valores encontrados por Ferreira et al. (2012), que cultivaram a Spirulina plantesis em fotobiorreatores tubulares com diferentes sistemas de circulações, obtendo 8,94% de lipídios. Segundo a VII lista dos novos ingredientes aprovados pelas Comissões Técnico-Científicas de Assessoramento em Alimentos Funcionais e Novos Alimentos (CTCAF), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite a comercialização da Spirulina, desde que o produto final ao qual o micro-organismo tenha sido adicionado seja devidamente registrado. De acordo com Decreto de número 55871/65 a Spirulina deve ser classificada como ―outros alimentos‖ e a ANVISA estipula que a recomendação diária de consumo do produto não deve resultar na ingestão acima de 1,6 g (ANVISA, 2009). 267 CARACTERIZACAO FÍSICO-QUÍMICA DA MICROALGA SPIRULINA PLANTESIS CULTIVADA E COMERCIAL Vale ressaltar que diferenças encontradas nos valores de alguns nutrientes em relação a alguns resultados da literatura podem ter ocorrido devido a fatores como: os métodos de análises utilizados, diferenças no metabolismo da microalga estudada ou aos sistemas de cultivos utilizados pelos diferentes autores. 4 CONCLUSÕES Este estudo demonstrou que a Spirulina platensis cultivada e a comercial obtiveram teores de proteínas, carboidratos e lipídios similiares mostrando assim que esta microalga possui composição apropriada para uso como complemento alimentar, podendo ser uma boa fonte a ser empregada no combate à desnutrição. 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The techno-economic potential of renewable energy through the anaerobic digestion of microalgae Bioresource Technology, v.102, n.2, p. 1149-1158, 2011 269 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA CAPÍTULO 20 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA Viviane Pereira TIBÚRCIO1 Evandro Bernardo de LIRA2 Roberto SASSI3 Cristiane Francisca Costa SASSI3 1 Aluna de Pós Graduação da Universidade Federal de Campina Grande , Departamento de Engenharia Química, Campina Grande-PB, LARBIM/UFPB, João Pessoa-PB, Brasil: 2 Aluno de Graduação da Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Exatas e da Natureza/LEA, Campus I, João Pessoa, 59040-900 – PB: 3 Professores da Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Exatas e da Natureza/LEA, Campus I, João Pessoa, 59040-900 – PB [email protected] RESUMO: O estilo de vida da população atual vem sendo marcado cada vez mais pelo uso da biotecnologia na indústria de alimentos. Neste sentido, o interesse pelas microalgas vem se destacando, devido à capacidade que esses organismos têm de produzir uma ampla variedade de metabólitos de grande interesse à saúde humana. A procura por espécies produtoras de ácidos graxos, antioxidantes, e diversos aditivos alimentares tem aumentado, tornando premente a necessidade de estudos de bioprospecção desses produtos metabolizados por esses organismos. Este trabalho teve o propósito de isolar espécies de microalgas de diversos mananciais da região do semiárido da Paraíbae estudar em laboratório sua capacidade de produção de biomassa e de ácidos graxos. Os cultivos foram desenvolvidos em meio sintético, a 25°C±1ºC com sistema de iluminação efotoperíodo de 12 horas. Oscultivos foram acompanhados por medidas de 270 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA fluorescênciain vivo, sendo interrompidos na fase estacionária.A biomassa seca e os teores de ácidos graxosforam quantificados. Os maiores rendimentos de ésteres de ácidos graxos em relação à soja foram encontrados nas cepas D115WC Scenedesmus acuminatus (211,1%) e D121WC Pediastrum tetras (802,1%). Divergências nas quantidades de biomassa e dos totais de ésteres de ácidos graxos foram encontrados inclusive em clones de uma mesma espécie. Palavras-chave: Cultivos monoespecíficos; Alimentos; Compostos Bioquímicos 1 INTRODUÇÃO A procura por uma alimentação prática caracteriza o modelo de vida da população atual, com isso gerando problemas nutricionais, onde as pessoas estão passando de uma desnutrição para a obesidade. Diante dessa problemática a busca por especiarias de alto valor nutricional, de baixo custo e sem alteração sensorial vem ganhando prioridade nas indústrias alimentícias (BARROS, 2010). Como ingrediente alternativo, tem-se explorado as microalgas que são organismos fotossintetizantes encontradas em água doce, marinha, salobra ou em locais úmidos, e em uma vasta faixa de temperatura, ocorrendo, portanto, em todos os ecossistemas da terra e em uma grande amplitude de variações ambientais (MATA et al., 2010). De acordo com Richmond (2004), microalgas comoSpirulina, Chlorella e Scenedesmus quando tratadas de forma correta possuem um fascinante sabor podendo ser adicionadas em diversos alimentos, aumentando a procura do 271 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA produto no mercado. Hoje em dia tanto a Chlorella quanto a Spirulina são comercializadas como alimento vegan ou suplemento alimentar podendo ser encontrada de diversas formas (DERNER et al., 2006; DANTAS, 2013). É possível citar várias microalgas que podem ser utilizadas em diversos processos biotecnológicos. Dentre as clorofíceas e cianobactérias, por exemplo, diversas espécies contêm em sua composição proteínas, carotenoides, alguns imunoestimuladores, polissacarídeos, vitaminas e minerais com diversas aplicações para a saúde humana, produção de alimento e aditivos alimentares (DANTAS, 2013). Usualmente as populações naturais de microalgas podem ser limitadas pelo fornecimento denutrientes, luz, alguns minerais, pH e temperatura, resultando na maioria das vezes em baixas densidades celulares de cada espécie individual. Mas quando isoladas individualmente, o crescimento é favorecido pelos meios de cultura utilizados e pelas condições de cultivo, resultando na produção de biomassa em quantidades suficientes para serem usadas em diversos processos biotecnológicos, em muitas espécies. Em condições de cultivo o metabolismo celular pode ser direcionado para a realização da síntese de compostos de interesse, como os ácidos graxos, por exemplo, visto que cada espécie selecionada necessita de estrutura e condições (aporte de macro e micronutrientes, iluminação e troca de gás) convenientes(DANTAS, 2013). Desde que as microalgas possuem grande variedade de estratégias fisiológicas e bioquímicas para lidar com situações de estresse e são capazes de alterar seu metabolismo quando mudam as condições de cultivo, é possível desviar seu metabolismo para 272 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA a síntese de uma variedade de produtos químicos bioativos (CHU, 2012) de interesse biotecnológico, razão pela qual se torna premente a realização de estudos acerca dos compostos que são produzidos por diferentes espécies de microalgas em diferentes situações de cultivo. Este trabalho teve o propósito de isolar microalgas de diferentes ambientes aquáticos da região semiárida de Paraíba visando caracterizar o perfil de ácidos graxos sintetizados por essas espécies, com vistas a subsidiar possíveis aplicações na indústria alimentícia. 2 MATERIAIS E MÉTODO Este trabalho foi desenvolvido nas dependências do Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas (LARBIM), da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, Campus 1. As espécies de microalga estudadas foram isoladas de açudes, barreiros, tanques de dessedentação de animais e rios temporários da região semiárida da Paraíba, a partir de coletas efetuadas com garrafas pet, sendo o material armazenado em caixas de isopor durante seu transporte ao laboratório. As amostras coletadas foram inoculadas em frascos de 250 ml contendo 100 ml de meio de cultura sintético Zarrouk (ZARROUK, 1966) e WC (GUILLARD; LORENZEN, 1972), os quais foram mantidos em câmara de cultura climatizada (25º ±1º C) com sistema de iluminação fornecido por lâmpadas fluorescentes tipo luz-do-dia e fotoperíodo ajustado para 12 horas. Os meios de cultura foram preparados com água destilada e autoclavada e deixada em repouso por 24 horas 273 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA em temperatura constante para reoxigenarão, adicionando-se, em seguida, todos os macronutrientes, micronutrientes e vitaminas presentes nas suas respectivas formulações. Ao se constatar crescimento de células as cepas foram isoladas em microscópio bionocular LEICA, transferindo-as para tubos de ensaio com meio de cultura usando microcapilares. Reisolamentos sucessivos foram efetuados por esta técnica, até que cultivos monoespecíficos fossem obtidos. As cepas isoladas foram codificadas e incorporadas ao banco de microalgas do LARBIM/UFPB, sendo os cultivos mantidos mediante repicagens mensais. A identificação das espécies foi feita mediante o uso de bibliografias especializadas e buscas na internet, usando critérios morfológicos. Ensaios de produção de biomassa foram realizadoscom cepas selecionadas, na câmara de cultivo acima referida. Os experimentos foram realizados em balões de 6L contendo 5L de meio de cultura, mantendo-se os inóculos iniciais na ordem de 5000 a 20000 células.mL-1. O desenvolvimento dos cultivos foi acompanhado através de medidas da fluorescência ―in vivo‖ usando um fluorômetro Turner Design, modelo 10005R, e por meio de contagens celulares em microscópio binocular Leica, em câmaras de Fuchs-Rozenthal para as células mais diminutas e com câmara de Sedgwick-Rafter, para as formas filamentosas. Os ensaios foram interrompidos no início da fase estacionária, a biomassa produzida foi concentrada em centrifuga refrigerada (18º C), congelada em ultrafreezer (-30º C) e em seguida liofilizada. O rendimento final em biomassa seca (g.L-1) foi anotado para cada espécie efetuando-se em seguida a análise dos ésteres metílicos de ácidos graxos em 274 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA cromatógrafo a gás, conforme procedimentos de Menezes et al. (2013). Os teores de ácidos graxos de cada amostra, foram determinados no LARBIM/UFPB, gravimetricamente. A metodologia usada nessas análises seguiu o método de Hartman e Lago adaptado para microanálises, conforme procedimentos de Menezes et al., (2013). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram estudadas 12 cepas de microalgas em cultivos monoespecíficos, oriundas de vários tipos de ambientes aquáticos da região semiárida da Paraíba, incluídas em 7 espécies das quais 4 pertencem ao grupo das clorofíceas e 3 são cianobactérias. Dentre as cepas estudadas, 4 são clones da cianobactéria Synechococcusnidulanse 3 são clones da clorofícea Chlorococcumcf. hypnosporum(Tabela. 1). Todas as espécies foram fotografadas em microscópio LEICA DM 2500 e suas respectivas imagens estão agrupadas nas Pranchas1 e 2. 275 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA Tabela 1. Microalgas oriundas da região semiárida da Paraíba utilizadas nos ensaios de produção de biomassa e análises de ácidos graxos. Z = Zarrouk água doce; WC = meio WC água doce, CLO = Clorofícea; CIA = Cianobactéria Código Táxon Procedência D26Z Desmodesmus sp cf. costato-granulatus(CLO) D28Z Chlorococcumcf. hypnosporum(CLO) D37Z Chlorococcumcf. hypnosporum(CLO) D39Z Oscillatoria tenuis (?)(CIA) D40Z Synechococcus nidulans(CIA) D46Z Synechococcus nidulans(CIA) D74Z Rhabdoderma lineares(CIA) D76Z Chlorococcumcf. hypnosporum(CLO) D82Z Synechococcus nidulans(CIA) D112WC Synechococcus nidulans(CIA) D115WC Scenedesmus acuminatus(CLO) D121WC Pediastrum tetras (CLO) Açude do Cais, Cuité – PB Açude do Cais, Cuité – PB Açude do Cais, Cuité – PB Açude de Acauã, Itatuba – PB Açude de Acauã, Itatuba – PB Rio Quinturaré, Frei Martinho-PB Barreiro Sacramento, Frei Martinho-PB Rio Quinturaré, Frei Martinho-PB Açude da Quixaba, Frei Martinho-PB Açude da Quixaba, Frei Martinho-PB Bebedouro de ovelhas, Frei Martinho-PB Açude Prainha, Frei Martinho – PB Fonte: Própria. 276 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA Prancha I.Microalgas oriundas da região semiárida da Paraíba utilizadas nos ensaios de produção de biomassa e análises de ácidos graxos.Figura a: Desmodesmusspcfcostato-granulatus, b: Chlorococcumcf. hypnosporum (?), c:Chlorococcumcf.hypnosporum, d: Planktothrix isothrix, e: Synechococcusnidulans, f: Synechococcusnidulans. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Prancha II. Microalgas isoladas de diferentes habitats da região semiáriada do estado da Paraíba. Figura a: Rhabdodermalineare, 277 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA b:Chlorococcum cf.hypnosporum, c:Synechococcusnidulans, d: Synechococcusnidulans, e: Scenedesmusacuminatus, f: Pediastrum tetras. (a) (c) (f) (b) (d) (e) 278 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA O rendimento relativo de ácidosgraxos de cada uma das microalgas estudadas, determinado por cromatografia a gás, se acha representado na Tabela 2. Pode se evidenciar que os maiores rendimentos de ésteres de ácidos graxos em relação à soja (%) foram encontrados nas cepas D112Z (143,3%), D115WC (211,1%) e D121WC (802,1%), valores estes que qualificam estas microalgas como potenciais para o enriquecimento de alimentos. Tabela 2. Rendimento em biomassa (g) e totais de ésteres metílicos de ácidos graxos (%) das microalgas isoladas da região semiárida da Paraíba. Código da cepa Biomassa (g/L) Rendimento relativo em ésteres de ácidos graxos em relação à soja (%) D26Z 0,52 40,93 D28Z 0,75 4,7 D37Z 0,49 54,5 D39Z 0,63 39,0 D40Z 0,54 9,5 D46Z 0,38 47,0 D74Z 0,32 0,5 D76Z 0,64 60,2 D82Z 0,39 42,4 D112Z 0,63 143,3 D115WC D121WC 0,45 0,49 211,1 802,1 Fonte: Própria. 279 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA A princípio, é possível analisar que clones da espécie Chlorococcumcf.hypnosporum (D28Z, D37Z, D76Z) demonstraram uma divergência nos valores na quantidade de biomassa (0,30 g/L a 0,51 g/L) e no rendimento de ácidos graxos (4,7% a 60,2%), assim como os clones da espécie Synechococcusnidulans (D40Z, D46Z, D82Z e D112Z) que também exibiram uma variação na quantidade de biomassa total (0,38 g/L a 0,63 g/L) e no percentual dos ácidos graxos totais (9,5% a 143,3% em relação à soja). Esses resultados mostram que independente da microalga ser a mesma espécie, a adaptação ao meio, as condições do habitat onde as espécies foram coletadas, bem como as condições fisiológicas e metabólicas de cada clone no momento do seu isolamento podem alterar a resposta bioquímica assim como o rendimento em biomassa (SANTANA, 2014).As análises cromatográficas realizadas na biomassa das espécies cultivadas mostraram um perfil variado dos ésteres metílicos de ácidos graxos (Figura 1). 280 Ésteres metílicos de ácidos graxos (%) BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA Linolênico Linoléico Oléico Hexadecatrienóico Palmitoléico Palmítico Mirístico Cepas Figura 1- Diversidade de ésteres metílicos de ácidos graxos para as cepas de cianobactérias cultivadas Foi possível observar a predominância do ácido palmítico com maiores percentuais nos clones de S. nidulansD82Z e D112Z e do ácido palmitoleico, com maiores percentuais nas cepas D40Z e D46Z (clones de S. nidulans) e D74Z (Rhabdodermalineare). Cultivos realizados com S. nidulanstambém apresentaram valores consideráveis do ácido palmitoléico (RADMANN; COSTA, 2008; SANTANA, 2014). O ácido mirístico só foi identificado com valores consideráveis nas cepas D40Z e D46Z (clones de S. nidulans) e D74Z (R.lineare). A cepa D121WC (Pediastrum tetras) apresentou um valor alto para o ácido oléico com relação às demais. A cepa D39Z (Planktothrix isothrix) apresentou os maiores 281 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA percentuais para oácido linoleico e uma dominância do ácido palmítico. Os ácidos graxos são constituintes estruturais das membranas celulares, cumprem funções energéticas e de reservas metabólicas, formando também hormônios e sais biliares (VALENZUELA; NIETO, 2003). O ácido palmítico encontrado (saturado) é de grande importância na alimentação infantil, podendo ser encontrada no leite materno em concentraçõesde 20% a 30% (SILVA et al., 2007; SANTANA 2014). O ácido graxo essencial encarregado pelo metabolismo dos lipídeos é o palmitoléico (WHEN; CHEN, 2000). Estes, associados ao oléico e mirístico apresentam algumas propriedades físicas e químicas similares às dos óleos vegetais podendo caracterizar uma fonte de alimentação vegan (CHISTI, 2007). 4 CONCLUSÕES A pesquisa permitiu concluir que a bioprospecção de ácidos graxos que foi realizada nas 12 espécies de microalgas isoladas da região semiárida da Paraíba,e cultivadas em condições de laboratoriais controladas, mostrou diferentes respostas na produção de biomassa e nos teores de ácidos graxos sintetizados. Todas as cepas cultivadas apresentaram rendimento em biomassa inferior a 1,0 g.L-1, sendo que nem todas as que tiveram os maiores rendimentos apresentaram as maiores concentrações de ácidos graxos.As espécies com maior rendimento em ácidos graxos e que, portanto, apresenta potencial para serem utilizadas na indústria alimentícia foram Pediastrum tetras (cepa D121WC, com 802,1% em relação à soja) eScenedesmusacuminatos(cepa D115WC, com 211,1% em relação a soja).Ressalta-se, entretanto, que os rendimentos em biomassa nos cultivos com essas duas espécies foram baixos (máximo de 0,49 g.L-1). 282 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, K. K. S. Produção de biomassa de Arthrospiraplatensis(Spirulinaplatensis) para alimentação humana. 2010. 111 p. 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Microalgas sob a ótica da biotecnologia e do uso popular em comunidades rurais com ênfase em espécies isoladas do 283 BIOPROSPECÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM DIFERENTES ESPÉCIES DE MICROALGAS ISOLADAS DA REGIÃO SEMIÁRIDA DA PARAÍBA bioma caatinga. 141 P. Dissertação (Mestrado Desenvolvimento e Meio Ambiente).PRODEMA. Unversidade Federal da Paraíba,João Pessoa, 2014. SILVA, D. R. B.; MIRANDA JÚNIOR; P. F.; SOARES, E. A. A importância dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa na gestação e lactação. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 7, n. 2, p. 123-133, 2007. VALENZUELA, A.; SANHUEZA, J.; NIETO, S. Cholesterol oxidation: Health hazard and the role of antioxidants in prevention. BiologicaResearch[online], v. 36, n. 3-4, p. 291-302, 2003. WEN, Z. Y.; CHEN, F. Heterotrophic production of eicosapentaenoid acid by the diatom Nitzschialaevis: effects of silicate and glucose. 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RESUMO: Este trabalho objetivou avaliar as alterações físicas, físico-químicas e sensoriais de mangas da variedade espada submetidas a diferentes condições de armazenamento. As mangas foram adquiridas no mercado público central em João Pessoa-PB, sanitizadas, selecionadas em diferentes estágios de maturação e acondicionadas em bandejas de poliestireno, sendo metade delas envolvidas com filme de cloreto de polivinila (PVC) para a modificação da atmosfera. As análises realizadas foram: perda de massa (%), cor da casca (L, a*, b*), textura, pH, sólidos solúveis totais (SST) e avaliação sensorial. As mangas verdes armazenadas em temperatura ambiente sem atmosfera modificada apresentaram maior perda de massa (6,51 %). As mangas maduras armazenadas a temperatura ambiente sem atmosfera modificada apresentaram as maiores variações de pH (4,62 – 5,34), maior concentração de SST (20,45 ± 0,21), maior intensidade de cor amarela e maiores alterações na aparência, variando significativamente dos demais estágios de maturação no 5º dia. Na análise sensorial, as mangas em estágio de maturação intermediário armazenadas em 285 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO temperatura ambiente sem atmosfera modificada receberam os maiores escores no 5º dia. Os resultados confirmam a eficácia da temperatura de refrigeração e presença de atmosfera modificada no retardamento do amadurecimento demonstrando ser a melhor alternativa, prolongando a vida útil pós-colheita das mangas. Palavras-chave: conservação, manga espada, pós-colheita. 1 INTRODUÇÃO A manga é uma fruta climatérica , geralmente colhida no estágio de maturação verde que vai concluindo seu amadurecimento durante o processo de comercialização (transporte, armazenamento, etc.). No entanto, devido à aplicação de tecnologia convencional para o transporte do produto e a um período de armazenagem irregular, o seu desperdício é superior a 30%. A variação de fatores pré e póscolheita afetam a qualidade e contribuem no fornecimento de lotes heterogêneos de manga em termos de tamanho do fruto, qualidade gustativa, nutrientes essenciais , vitaminas e minerais, sendo necessário efetuar uma gestão pós-colheita na cadeia de abastecimento (BALOCH & BIBI, 2012). A vida pós-colheita da manga é limitada pela deterioração fisiológica causada pelo excessivo amadurecimento da fruta e pelo desenvolvimento de patógenos que ocasionam podridões. Além disso, a perda de água pelos frutos pode atingir níveis que causam enrugamento e murchamento das mangas e que comprometem o aspecto visual e reduzem seu valor comercial (PFAFFENBACH et al., 2003). 286 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO A perda de água de produtos armazenados não só resulta em perda de peso, mas também em perda de qualidade, principalmente pelas alterações na textura. Alguma perda de água pode ser tolerada, mas àquelas responsáveis pelo murchamento ou enrugamento devem ser evitadas. O murchamento pode ser retardado, reduzindo-se a taxa de transpiração, o que pode ser feito por: aumento da umidade relativa do ar; diminuição da temperatura; redução do movimento do ar e o uso de embalagens protetoras (VICENTINI et al., 1999). O emprego da refrigeração prolonga o período de conservação dos frutos e o uso de atmosfera modificada durante o armazenamento pode reduzir os danos ocasionados pela respiração e pela transpiração, como perda de massa e mudança na aparência (PFAFFENBACH et al., 2003). A habilidade para regular a atmosfera estabelecida na embalagem dependerá da respiração do fruto e da permeabilidade da embalagem. Esses fatores, por sua vez, são dependentes da temperatura, já que a elevação da mesma promove aumento da atividade respiratória dos produtos e da permeabilidade do filme utilizado. (JERONIMO et al., 2007). Tendo em vista o exposto, esse trabalho teve como objetivo avaliar as alterações físicas, químicas e sensoriais de mangas (Mangifera indica) in natura do tipo espada submetidas à atmosfera modificada ou não, durante armazenamento em diferentes condições de temperatura. 287 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO 2 MATERIAL E MÉTODOS As mangas foram compradas no Mercado Central na cidade de João Pessoa em três diferentes estádios de maturação. A cultivar estudada foi a espada. As mangas foram transportados ao Laboratório de Química de Alimentos (LAQA) do Programa de PósGraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFPB onde foi conduzido o experimento. Foram selecionadas cuidadosamente quanto ao tamanho, cor e formato, descartando aqueles que não se encaixavam nos padrões, em seguida foram higienizados, onde passaram por uma lavagem com água corrente e em seguida imersão em água potável contendo hipoclorito de sódio1% e foram secos com papel toalha. Na sequência, os frutos foram divididos através de análise subjetiva em: - maduros (80% amarelo – 20% verde); - intermediários (20% amarelo – 80% verde); - verdes (2% amarelo – 98% verde). Posteriormente, todos os frutos receberam os mesmos tratamentos, onde foram acondicionados 3 frutos de cada estágio de maturação em bandejas de polietileno tereftalato (11 x 11 x 2,5 cm – dimensões internas) com e sem embalagem (filme plástico de polietileno), nas temperaturas ambiente (25ºC) e refrigerada (4ºC) durante 5 dias, totalizando assim 4 tratamentos, sendo eles: - sem embalagem a temperatura ambiente (T1); - com embalagem a temperatura ambiente (T2); - sem embalagem a temperatura de refrigeração (T 3); 288 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO - com embalagem a temperatura de refrigeração (T 4). Durante o armazenamento, as análises foram realizadas no 1º, 3º e 5º dia para todos os tratamentos e estágios de maturação. Para cada estágio de maturação 3 frutos foram selecionados aleatoriamente e considerados o 1º dia. Para cada dia de análise, foram escolhidos 2 frutos ao acaso, de cada grupo de tratamento (T1, T2, T3 e T4) para realizar as análises físico-químicas (cor da casca, textura, pH e sólidos solúveis) e análise de aparência dos frutos. A perda de massa dos frutos durante o período de armazenamento foi avaliada pesando-se a cada dia de análise a bandeja contendo os 3 frutos. Para a análise sensorial foi escolhido 1 fruto de cada grupo de tratamento que foram analisados sensorialmente no 1º e 5º dia do experimento. Os frutos foram avaliados quanto ao comprimento (C) e largura (L) – através do uso de paquímetro digital no início e no final do experimento, para se ter uma melhor uniformidade durante a seleção dos mesmos e para análise da turgidez (perda de água = perda de peso) pela comparação das medidas. Para as análises de perda de massa, os frutos foram pesados em balança semi-analítica nos dias especificados. Os resultados foram determinados pela diferença entre o peso inicial e o peso final dos frutos, e foram expressos em porcentagem. Para determinação da aparência, os frutos foram analisados subjetivamente por análise visual quanto à cor da 289 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO casca, presença de manchas e firmeza, tomando como base as observações feitas no 1º dia. Na análise da textura foi utilizado o Texturômetro da Extralab Brasil modelo TA-XT Plus Texture Analyse. O teste adotado foi o de penetração utilizando o pobre cilíndrico P/3, com apenas uma penetração em cada fruto. As análises das leituras foram realizadas e registradas em software (STABLE MICRO SYSTEMS®, TE32L, versão 4.0, Surrey, Inglaterra), e os resultados foram expressos em Newton (N). Essa análise foi realizada nos frutos com o objetivo de avaliar a firmeza de acordo com o estágio de maturação em função do tempo, temperatura e da presença e ausência de embalagem. Para determinação da cor da casca foi realizada uma avaliação objetiva utilizando-se um colorímetro digital (Konica Minolta, modelo CHROMA METER CR-400), medindo-se os parâmetros do sistema CIELAB, definido como L* (luminosidade variando de 0 – cores opacas ou escuras a 100 – cores brancas ou de máximo brilho), a* (cromaticidade variando de verde [-] a vermelho [+]) e b* (cromaticidade oscilando de azul [-] a amarelo [+]). Os frutos foram dispostos numa superfície plana branca, evitando-se interferência da superfície. Para essa análise utilizou-se os frutos inteiros e foram avaliados os dois lados dos frutos, considerando-se assim uma análise em duplicata para cada fruto. Ainda foram realizadas análises de pH (AOAC, 2006) e determinado o teor de sólidos solúveis totais (AOAC, 2005). Uma análise sensorial das mangas, foi desenvolvida com 13 provadores que não possuíam nenhum tipo de treinamento específico, porém foram instruídos e orientados 290 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO para a realização do teste, onde utilizaram de suas habilidades sensoriais, para analisar as amostras disponíveis. As avaliações dos provadores foram realizadas individualmente, onde avaliaram os atributos: sabor, doçura, acidez, aparência, textura e avaliação global utilizando escala hedônica estruturada de 9 pontos, variando de gostei extremamente (9) até desgostei extremamente (1), utilizandose a metodologia recomendada pelo Instituto Adolfo Lutz – IAL (BRASIL, 2005). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Aparência das mangas De um modo geral, foi observado que o armazenamento das mangas a 4ºC (refrigeração) com embalagem permitiu que o desenvolvimento da cor da casca ocorresse de forma mais lenta e gradativa do que os demais tratamentos aplicados. E que as maiores intensidades de alterações foram verificadas nas mangas que foram armazenadas em temperatura ambiente e sem embalagem. Mesmo assim, foi observado que para todos os tratamentos aplicados, as mangas se mantiveram aptas para consumo após o 5º dia em armazenamento. 3.2. Medidas de comprimento, largura e perda de massa Foi possível observar que para todas as mangas nas diferentes condições de armazenamento durante os 5 dias de análise houve redução nas medidas de comprimento e largura. 291 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO Dentre as mangas maduras as que apresentaram a maior redução das medidas de comprimento e largura foram as mangas maduras sem embalagem armazenadas em temperatura ambiente. No caso das mangas intermediárias, as que apresentaram a menor redução das medidas foram as mangas intermediárias com embalagem armazenadas em temperatura de refrigeração. Já para as mangas verdes, as que apresentaram a menor redução das medidas foram as mangas verdes com embalagem armazenadas em temperatura de refrigeração, sendo as mesmas as que apresentaram a maior redução das medidas em relação aos diferentes estágios de maturação. Esse fenômeno possivelmente se deu devido à perda de massa das mangas, já que com o decorrer do tempo todas as amostras nos diferentes estágios de amadurecimento e diferentes condições de armazenamento sofreram perda de massa, perdendo água para o ambiente. 3.3 Textura Os valores de textura das mangas em seus diferentes estágios de maturação e condições de armazenamento estão indicados na Tabela 1. De um modo geral, foi observado que com o decorrer do tempo para todas as mangas em seus diferentes estágios de amadurecimento e condições de armazenamento houve um decréscimo de sua firmeza. Esse perfil já era esperado, uma vez que durante o amadurecimento, ocorrem alterações tanto na estrutura da parede celular devido à ação das enzimas pectinolíticas provocando o amolecimento do tecido vegetal, como a degradação de amido, além da perda de 292 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO turgidez devido a perda de água. De acordo com Kays (1991) e Sousa et al. (2002) a atividade das enzimas pectinolíticas atuam solubilizando as substancias pécticas presentes na parede celular, e em decorrência disso promove o amaciamento dos frutos. De acordo com a tabela 1 foi possível observar para a análise de textura que as mangas com embalagem mostraram-se mais firmes do que as mangas sem embalagem independente da temperatura de armazenamento e do estágio de maturação nos dias analisados. Sendo que as mangas submetidas a refrigeração apresentaram uma maior firmeza do que as mangas submetidas a temperatura ambiente, para todos os estágios de maturação com presença e ausência de embalagem. Tabela 1 - Valores de textura das mangas nos diferentes estágios de maturação e condições de armazenamento. TEXTURA (N) Tratamentos Madura (T2) Madura (T1) Madura (T4) Madura (T3) intermediária (T2) intermediária (T1) intermediária (T4) intermediária (T3) Verde (T2) Verde (T1) Verde (T4) 3º dia 11,50* 10,51 14,97 11,41 15,82 15,37 27,69 21,67 19,21 17,80 32,13 5º dia 8,96 7,96 9,78 9,50 11,00 10,28 24,10 18,29 13,14 11,11 22,59 293 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO Verde (T3) 29,767 19,897 *Valores em Newton (N). 3.4. Cor da casca De acordo com os resultados das análises de cor da manga madura foi observado que não houve diferença significativa (p≤0,05) para os parâmetros L e b* com relação ao período e as diferentes condições de armazenamento. Para o parâmetro a* houve diferença significativa (p≤0,05) apenas para a manga madura com embalagem armazenada a temperatura ambiente do 1º para o 2º dia. As mangas armazenadas com embalagem diferiram significativamente sua coloração (p≤0,05) das mangas armazenadas sem embalagem independentemente da temperatura de armazenamento. Isso indica que a embalagem influenciou diretamente na coloração, diminuindo a taxa respiratória das mangas, retardando os processos metabólicos que estão relacionados com a degradação da clorofila, e consequentemente a diminuição da coloração verde. Com relação aos resultados das análises de cor da manga intermediária foi observado que não houve diferença significativa (p≤0,05) para o parâmetro L nas diferentes condições de armazenamento com relação ao tempo. Para o parâmetro a* houve diferença significativa (p≤0,05) dos demais tratamentos apenas para a manga intermediária sem embalagem armazenada a temperatura ambiente no 5º dia. O resultado para o parâmetro b* da manga intermediária sem embalagem armazenada a temperatura ambiente analisada no 5º dia apresentou diferença significativa (p≤0,05) para todos os tratamentos do 1º dia, isso 294 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO possivelmente ocorreu devido às condições favoráveis para o aumento da taxa respiratória da manga e consequentemente elevação na velocidade das reações responsáveis pelo amadurecimento, provocando assim uma maior intensidade na coloração amarela da manga. Os resultados das análises de cor para a manga verde demonstraram que para o parâmetro L não houve diferença significativa (p≤0,05) nas diferentes condições de armazenamento e tempo. Para o parâmetro a* houve diferença significativa (p≤0,05) com relação aos tratamentos apenas no 5º dia, onde a manga verde sem embalagem a temperatura ambiente diferiu da verde com embalagem a temperatura ambiente. Já para o parâmetro b* apenas a manga verde sem embalagem a temperatura ambiente no 5º dia diferiu significativamente (p≤0,05) da manga verde sem embalagem a temperatura ambiente no 1º dia. De acordo com os resultados das análises de cor para o parâmetro *L (luminosidade) foi observado que a manga madura em todos os tratamentos apresentou os maiores valores e foi diminuindo ao longo do armazenamento. Para o parâmetro a* (intensidade de vermelho/ verde), foi observado para as mangas maduras os maiores valores, o que pode ser justificado pelo grau de amadurecimento da manga, já que quanto maior o estágio de maturação menos clorofila se tem e mais intensidade do vermelho a manga possui devido a formação de outros pigmentos. Já para o parâmetro b* (intensidade de amarelo/azul) foi observado que os maiores valores foram encontrados para a manga madura o que já era esperado, já que a manga madura apresenta maior coloração amarela do que a manga de vez e a manga verde, 295 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO respectivamente, devido ao próprios do amadurecimento. surgimento dos pigmentos 3.5 pH e Sólidos solúveis totais (SST) Foi observado que houve uma variação no pH em relação aos diferentes tratamentos durante o período estudado. De modo geral foi observado que as mangas maduras apresentaram os maiores valores de pH durante todos os dias de estudo e as verdes os menores valores, e que o pH apresentou valores crescentes com o decorrer do tempo. Pfaffenbach et al. (2003), também observaram que manga espada vermelha em diferentes condições de armazenamento (temperatura de refrigeração e ambiente) apresentaram valores crescentes de pH durante 28 dias de estudos. De acordo com os teores de SST foi verificado diferença significativa (p≤0,05) entre os tratamentos para o mesmo dia e entre os dias de estudo. E observou-se que os maiores teores de SST foram encontrados para as mangas madura e os menores teores para as mangas verdes. De acordo com Cruz (2010), o aumento no teor de sólidos solúveis totais durante o amadurecimento dos frutos é atribuído principalmente a hidrólise de carboidratos de reserva acumulados durante o crescimento dos mesmos na planta. Além disso, as mangas sem embalagem armazenadas a temperatura ambiente em todos os estágios de maturação foram as que apresentaram os maiores teores de SST, comportamento já esperado, pois nessas condições o processo de maturação das mangas acontece mais rápido 296 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO devido ao aumento da velocidade metabólica proporcionada pelas condições de armazenamento e consequentemente aumenta a hidrólise de carboidratos liberando os açucares simples elevando assim o teor desse componente. 3.6 Análise Sensorial Para os resultados das análises sensoriais, foi observado que para as mangas maduras houve diferença significativa (p≤0,05) apenas entre as mangas com embalagem a temperatura de refrigeração e as mangas sem embalagem à temperatura ambiente com relação ao atributo doçura no 5º dia. Para as mangas no estágio de maturação intermediário, houve diferença significativa (p≤0,05) para o atributo doçura, entre os frutos armazenados à temperatura ambiente e sem embalagem no 5º dia de experimento com relação aos frutos armazenados com embalagem à temperatura de refrigeração, e também com relação àqueles avaliados no primeiro dia do experimento. Os mesmos foram os que receberam os maiores escores médios para todos os atributos avaliados. Contudo, foi observado que as mangas verdes que foram armazenadas sem embalagem à temperatura ambiente após 5 dias receberam os maiores escores quando comparado aos outros tratamentos, para todos os atributos avaliados, isso pode ser explicado devido aos frutos ficarem armazenados à temperatura ambiente e sem embalagem, o que permitiu um aumento na atividade respiratória, consequente aceleramento na maturação, e obtenção de sabor, aroma e textura mais agradáveis. 297 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO 4 CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos, foi possível concluir que o tratamento com temperatura de refrigeração e presença de embalagem demonstrou ser a melhor alternativa para prolongar a vida útil pós-colheita das mangas, tendo em vista que as mangas submetidas a esse tratamento apresentaram as menores alterações em todos os critérios analisados, com melhor preservação das suas características no decorrer do experimento. E ainda, com relação à análise sensorial se pôde concluir que as mangas no estágio intermediário sem embalagem a temperatura ambiente foram as mais aceitas pelos provadores após os 5 dias de experimento. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AOAC - Association of Official Analytical Chemists. Official methods of analysis. Washington DC USA, 2006. AOAC. Association of Official Analytical Chemists. Official methods of analysis. 18th. ed. Gaithersburg, 2005. BALOCH, M. K. ; BIBI, F. Effect of harvesting and storage conditions on the post harvest quality and shelf life of mango (Mangifera indica L.) fruit. South African Journal of Botany, Volume 83, November 2012, Pages 109–116. BRASIL. Instituto Adolfo Lutz. Métodos Físico-Químicos para análise de Alimento. Brasília. IV ed. 2005. CRUZ, J. N. da. Estudo de tratamentos fitossanitários na manga (Mangífera indica L.) para exportação. 2010. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Nuclear – Aplicações) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, 2010. 298 AVALIAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MANGAS (Mangifera indica) ―ESPADA‖ SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO JERONIMO, E. M.; BRUNINI, M. A.; MARIA CECÍLIA DE ARRUDA, M. C.; KAYS, J.S. Postharvest physiology of perishables plant produtcs. New York: AVI., 1991. 543p. PFAFFENBACH, L. B.; CASTRO, J. V.; CARVALHO, C. R. L.; ROSSETTO, C. J. Efeito da atmosfera modificada e da refrigeração na conservação pós-colheita de manga espada vermelha. Rev. Bras. Frutic. v.25, n.3 Jaboticabal Dec. 2003. SOUSA, J. P. de.; ALVES, R. E.; NETO, F. B.; DANTAS, F. F. Influência do armazenamento refrigerado em associação com atmosfera modificada por filmes plásticos na qualidade de mangas 'Tommy Atkins. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, v. 24, n. 3, 2002. VICENTINI, N. M.; CASTRO, T. M. R.; CEREDA, M. P. Influência de películas de fécula de mandioca na qualidade pós-colheita de frutos de pimentão (Capsicum annuumL.). Food Scienc. and Technology, V. 19, n. 1, 1999. 299 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO CAPÍTULO 22 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO Alerson Araújo de SOUZA1 Roberta Conceição Ribeiro VARANDAS2 Vânia Maria Barbosa da SILVA2 Vilma Barbosa da Silva ARAÚJO2 2 1 Aluno de Graduação em Tecnologia de Alimentos da UFPB, João Pessoa/PB Alunas da Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFPB, João Pessoa/PB *[email protected] RESUMO: O café está entre as bebidas mais populares e consumidas no mundo. Sua produção detém considerável fatia na economia do ramo de alimentos. Rico em macro e micronutrientes como a cafeína, polímeros fenólicos, ácidos clorogênicos, lipídeos e terpenos, que em associação possuem diferentes efeitos biológicos. Sabe-se que o café possui ação antioxidante. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial antioxidante de café (cafeinado e descafeinado). Para a determinação do potencial antioxidante, utilizamos quantidades de pó de café equivalentes a três, duas e uma xícara de café cafeinado; três, duas e uma xícara de café descafeinado. Para o preparo de uma xícara de café cafeinado e descafeinado foi utilizado 13,3 e 6,7g de pó de café diluído em 150ml e 150ml de água respectivamente. A capacidade antioxidante foi determinada por meio do método DPPH. Os resultados de três, duas e uma xícara de café cafeinado possuíam capacidade antioxidante total de 75,3±0,7; 80,9±0,1 e 77,3±0,3 µmol. Enquanto que três, duas e uma xícara de descafeinado correspondiam a 84,0±0,3; 84,3±0,0 e 84, 0±0,4 µmol. Concluímos então que, descritivamente, um café descafeinado consumido 300 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO regionalmente na cidade de João Pessoa parece possuir maior capacidade antioxidante total do que o cafeinado. PALAVRAS-CHAVE: fenólicos; ácido clorogênico; descafeinado. 1 INTRODUÇÃO O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e o Brasil é o segundo maior consumidor mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em diversos estudos científicos o café é apontado como benéfico para saúde humana, agindo em várias partes do organismo. De composição química complexa, o café tem como principal substância a cafeína, porém, seus nutrientes são renovados após a torrefação, o que garante a presença de outras substâncias nutritivas e bioativas (ABIC, 2007). A bebida do café descafeinado responde por 10% do consumo mundial de café e tem mobilizado estudiosos do mundo inteiro para atender à demanda crescente de pessoas que querem se livrar dos efeitos colaterais provocados por essa substância estimulante, como a insônia (SILVAROLLA, 2004). Com isso tem-se feito diversos estudos sobre a composição química do mesmo, como a sua atividade antioxidante após a extração da cafeína. Uma nova forma de consumo da bebida que demonstra alto crescimento anual é o mercado de café do tipo superior e gourmet. Voltado aos consumidores do mercado de luxo, é adicionado de diversos sabores e misturas, podendo ser oferecido quente ou gelado. Com isso o Brasil busca avançar no conceito de exportador de matéria prima ou commodities para produtos derivados de qualidade (SEBRAE, 2010). 301 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO Outras substâncias presentes no café, além da cafeína são os polímeros fenólicos, ácidos clorogênicos, lipídios, terpenos que, em associação, também possuem diferentes efeitos biológicos, como: ação antioxidante, antimutagênica, antibiótica, anti-hipercolesterolêmica e antihipertensiva (SAKAMOTO, 2001). O café é a principal fonte de ácido clorogênico da dieta humana (LAFAY, 2006). Sendo assim, sua atividade antioxidante pode ser determinada pela contribuição de substâncias antioxidantes de ocorrência natural e induzidas pela torrefação e processamento do café (LÓPEZ, 2006). A torrefação pode levar à perda de polifenóis, devido à degradação térmica progressiva. Contudo, este efeito pode ser minimizado pela formação de produtos antioxidantes da reação de Maillard (DAGLIA, 2000). O interesse de antioxidantes de fontes naturais tem aumentado, principalmente para prevenir o dano oxidativo às células vivas. O papel de antioxidantes e seus benefícios para a saúde têm atraído grande atenção nos últimos anos, especialmente aqueles extraídos de plantas (ZHENG, 2001). Os compostos fenólicos constituem uma das principais classes de antioxidantes naturais. Eles são largamente distribuídos em frutos, legumes, grãos, sementes, folhas e raízes, cascas, dentre outras matérias. Estes constituintes são capazes de retardar o aparecimento de doenças e o envelhecimento corporal, e até de impedi-las (SÄÄKSJÄRVI, K., KAWACHI, I., 2007). A atividade antioxidante de compostos fenólicos está unida às suas propriedades redutoras e estrutura química. São características que desempenham um papel importante na neutralização de radicais livres e quelação de metais de 302 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO transição, tem efeito tanto na etapa de iniciação como na propagação do processo oxidativo. Os intermediários formados pela ação de antioxidantes fenólicos são relativamente estáveis, em função da ressonância do anel aromático contido na estrutura dessas substâncias (Souza et al., 2007). Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antioxidante da bebida café (cafeinado e descafeinado) através da atividade antioxidante total. 2 MATERIAIS E MÉTODO Amostra: o café adotado para o presente estudo era da marca São Braz (Cabedelo, Brasil) consumido cotidianamente pela população da cidade de João Pessoa-PB. De acordo com os dados informados pelo fabricante, o café cafeinado possuía cerca de 1,2% de cafeína, enquanto que o descafeinado tinha aproximadamente 0,3% de cafeína. Foram utilizadas seis amostras de café, sendo três de café cafeinado, e as demais de descafeinado. Tanto as três amostras de cafeinado quanto as de descafeinado estavam em uma concentração de uma, duas e três xícaras. Para o preparo de uma, duas e três xícaras de café cafeinado foram utilizados respectivamente 13,3g, 26,6g e 39,9g de pó de café diluídos em 150, 300 e 450ml de água. Quanto ao preparo de café descafeinado, foram utilizados 6,7g, 13,4g e 20,1g de pó de café diluído em 150ml, 300 e 450ml de água respectivamente. 303 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO Figura 1. Soluções de DPPH em diferentes diluições. Determinação da Capacidade Antioxidante In Vitro (Ensaio para avaliação do sequestro do Radical 2,2-difenil-1picril-hidrazil - DPPH): para o preparo de 250 ml da solução de DPPH, foi pesado 5,90 mg de DPPH solubilizado com etanol e completado o volume para 250ml em um balão volumétrico com etanol. Logo após foi preparado o controle positivo, por meio do ácido ascórbico a 0,1 mg/mL. Para tanto, foi pesado 1,0mg de ácido ascórbico e transferido para um balão volumétrico de 10mL. O volume foi completado com etanol. Quanto ao preparo da amostra para uma concentração de 5,0mg/mL, foi utilizado 240 µL da amostra para 60µL de etanol além de 2.700µL de DPPH. Após isso, a amostra foi mantida em repouso, ao abrigo da luz, durante 30 minutos para que logo em seguida fosse realizada a leitura a uma onda de 517nm. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com as análises realizadas, por meio da figura 2 é possível observar que duas doses de café cafeinado possuíam uma capacidade antioxidante total descritivamente maior do que uma e três doses. Sendo assim, foram observados valores de capacidade antioxidante total 75,3±0,7, 304 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO 80,9±0,1 e 77,3±0,3 para três, duas e uma dose de café cafeinado. Figura 2. Capacidade Antioxidante Total encontrada em uma, duas e três doses de café cafeinado. Dados estão apresentados como média . Quanto a atividade antioxidante total do café descafeinado, também foi observado que duas doses de descafeinado possuíam melhor atividade antioxidante total do que uma e três xícaras. Assim, foram observados valores de 84,0±0,3, 84,4±0,0 e 83,9±0,4µmol de capacidade antioxidante total de três, duas e uma dose de descafeinado. Figura 3. Capacidade Antioxidante Total encontrada em uma, duas e três doses de café cafeinado. Dados estão apresentados como média. 305 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO Os dados do presente estudo demonstram que o café descafeinado apresenta maior capacidade antioxidante total quando observada a concentração do cafeinado. Sabe-se que o café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo depois da água (O'KEEFE et al., 2013). Todavia, a ingestão dessa bebida sempre esteve vinculada ao desenvolvimento de inúmeros males ao organismo, dentre eles o acometimento por doenças cardiovasculares. Esses problemas estão comumente vinculados à presença de cafeína no café. Contudo, sabemos que essa bebida possui diversas outras substâncias bioativas com ação protetora do organismo a exemplo dos polifenóis e ácidos clorogênicos que desempenham um papel antioxidante. Alguns estudos identificaram que a concentração desses compostos antioxidantes bioativos são modulados pelas variações na torra, formas de preparo e tipos de café. Assim, é comum observarmos que parte dos estudos já determinaram a concentração dos antioxidantes nos cafés do tipo Gourmet, Conilon e mesmo o café arábica, mas ainda não era determinada a atividade antioxidante total de um café consumido cotidianamente pela população da cidade de João Pessoa. Segundo Abrahão et al. (2010), existem indícios de ocorrência de maior concentração de compostos fenólicos totais em cafés de pior qualidade. Lima et al. (2010) demonstrou que o processo de torra, independente da descafeinação, influenciaram na atividade antioxidante das bebidas de café, sendo a atividade antioxidante potencializada com a torração. Ribeiro et al. (2014) realizaram estudo para determinação de flavonoides e atividades antioxidante total de 306 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO cafés solúveis cafeinado e descafeinado. Assim, os pesquisadores observaram que as bebidas possuíam compostos flavonoides e CAT independentemente de serem cafeinado e descafeinado. Abrahão et al. (2010) também encontraram atividade antioxidante total, porém, no café verde dos tipos rio e mole. Esses pesquisadores também observaram a presença de ácidos clorogênico e teor de fenólicos totais. Os dados do nosso estudo corroboram com Ribeiro et al. (2014) uma vez que encontramos concentrações semelhantes de CAT no café cafeinado e descafeinado. Tomados em conjunto os nossos dados demonstram que, embora o café esteja vinculado com o acometimento por malefícios na saúde dos habituados ao seu consumo, também devemos considerar que essa bebida possui compostos bioativos capazes de melhorar a saúde cardiovascular de quem ingere essa bebida. Assim, esse não é um estudo destinado apenas para a alimentação saudável, mas também para demonstrar a importância da ingestão de café de um ponto de vista ainda mais amplo. 4 CONCLUSÕES O seguinte estudo demonstrou que, descritivamente, um café descafeinado consumido regionalmente na cidade de João Pessoa parece possuir maior capacidade antioxidante total quando comparado ao café cafeinado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=38#58, acessada em Agosto de 2015. 307 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO http://www.sebraemercados.com.br/cafe-gourmet-qualidade-erentabilidade/, acessada em setembro de 2015. Sääksjärvi, K.; Knekt, P.; Rissanen, H.; Laaksonen, M. A.; Reunanen, A.; Männistö, S.; Eur. J. Clin. Nutr. 2007, 5, 1. Kawachi, I.; Willett, W. C.; Colditz, G. A.; Stampfer, M. J.; Speizer, F. E.; Archives of Internal Medicine 1996, 156, 521. Lafay, S.; Gil-Izquierdo, A.; Manach, C.; Morand, C.; Besson, C.; Scalbert, A.; J. Nutr. 2006, 136, 1192. López-Galilea, I.; Andueza, S.; Di Leonardo, I.; Peña, M. P.; Cid, C.; Food Chem. 2006, 94, 75. Daglia, M.; Papetti, A.; Gregotti, C.; Bertè, F.; Gazzani, G.; J. Agric. Food Chem. 2000, 48, 1449. Zheng, W.; Wang, S. Y.; J. Agric. Food Chem. 2001, 49, 5165. Silvarolla, M. B.; Mazzafera, P.; Fazuoli, L. C.; Nature 2004, 429, 826. Sakamoto, W.;Nishihira, J.; Fujie, K.; Izuka, T.; Handa, H.; Ozaki, M.; Yukama, S.; Effect of Coffe Consumption on Bone Metabolism. Bone, New York, v. 28, n. 5, p. 332-336, 2001. Souza, C.M.M.; Silva, H.R.; Vieira-Junior, G.M.; Ayres, C.L.S.C.; Araujo, D.S.; Cavalcante, L.C.D.; Barros, E.D.S.; Araujo, P.B.M.; Brandao, M.S.; Chaves, M.H. Fenóis totais e atividade antioxidante de cinco plantas medicinais. Química Nova, São Paulo, v.30, n.2, p.351-355, jul. 2007. Sheila Andrade Abrahão, Rosemary Gualberto Fonseca Alvarenga Pereira, Stella Maris da Silveira Duarte, Adriene Ribeiro Lima, Dalila Junqueira Alvarenga, Eric Batista Ferreira. Compostos Bioativos E Atividade Antioxidante Do Café (Coffea arabica L.). Ciênc. agrotec., Lavras, v. 34, n. 2, p. 414-420, mar./abr., 2010. Adriene Ribeiro Lima*, Rosemary Gualberto Fonseca Alvarenga Pereira e Sheila Andrade Abrahão. Compostos bioativos do café: atividade antioxidante in vitro do café verde e torrado antes e após a descafeinação. Quim. Nova, Vol. 33, No. 1, 20-24, 2010. J.M. Ribeiro*, A. P. Galli, N. A.V. Dessimoni – Pinto, M. L. L. de Amorim. Correlação entre o teor de flavonoides e a atividade antioxidante de cafés solúveis cafeinado e descafeinado. XXVIII Encontro Regional da Sociedade Brasileira de Química – MG, 10 a 12 de Novembro de 2014, Poços de Caldas – MG. O'KEEFE, J. H. et al. Effects of habitual coffee consumption on cardiometabolic disease, cardiovascular health, and all-cause mortality. Jam Coll Cardiol, v. 62, n. 12, p. 1043-51, Sep 17 2013. Sheila Andrade Abrahão, Rosemary Gualberto Fonseca Alvarenga Pereira, Stella Maris da Silveira Duarte, Adriene Ribeiro Lima, Dalila Junqueira Alvarenga, Eric Batista Ferreira. Compostos bioativos e atividade 308 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAFÉ (coffea arabica) CAFEINADO E DESCAFEINADO antioxidante do café (coffea arabica l.). Ciênc. agrotec., Lavras, v. 34, n. 2, p. 414-420, mar./abr., 2010. 309 TECNOLOGIA DOS ALIMENTOS 310 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO CAPÍTULO 23 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO Analha Dyalla Feitosa LINS1 Cícera Gomes Cavalcante de LISBÔA2 Regilane Marques FEITOSA3 Emanuel Neto Alves de OLIVEIRA2 Dyego da Costa SANTOS2 1 Mestranda em Engenharia Agrícola –UFCG, Campina Grande- PB; 2 Doutoranda em Engenharia Agrícola– UFCG, Campina Grande- PB; 3 Pesquisadora PNPD/CAPES, Engenharia de Processos– UFCG, Campina Grande- PB. [email protected] RESUMO: Este trabalho teve como objetivo desenvolver néctares mistos a base de água de coco, abacaxi e hortelã, com a pretensão de obter um produto mais rico nutricionalmente, além de disponibilizar uma nova opção de bebida no setor alimentício. A elaboração dos néctares atendeu as normas preconizadas pelas Boas Práticas de Fabricação, sendo em seguida caracterizados quanto à parâmetros físicos e químicos. Os resultados obtidos evidenciaram que o processamento é alternativa para o aproveitamento dos frutos e planta. Sugere-se a escolha do N3, pois esta formulação indicou o menor valor de pH e o maior teor de acidez, assim, apresentou-se como um produto atraente para comercialização. Com o desenvolvimento de néctar misto, conseguiu-se preservar o conjunto de atributos, além de agregar o valor medicinal, atendendo, também, as necessidades do mundo atual com praticidade e busca por alimentos mais ricos nutricionalmente. 311 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO Palavras-chave: Tecnologia pós-colheita, alcoólica, Parâmetros físico-químicos 1 Bebida não INTRODUÇÃO O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de frutas tropicais. Segundo o levantamento sistemático de produção agrícola realizado pelo IBGE em 2013, o Brasil teve uma produção de 1.650.936 toneladas de abacaxi em 2012 (IBGE, 2012). Porém, segundo Martins e Farias (2002), os prejuízos decorrentes dos desperdícios de frutas e hortaliças, encontram-se ao redor de 30 a 40% da produção. Ultimamente, o país é o quarto maior produtor mundial de coco, com uma produção aproximada de 2,8 milhões de toneladas (MARTINS, 2014). Entretanto, de acordo com Rosa e Abreu (2000), o coco após colhido, deve ser consumido em um período máximo de 10 dias, em virtude do início dos processos de deterioração que comprometem a acidez do água. Nesse sentido, o uso de tecnologias de pós-colheita adequadas pode favorecer o aumento da vida útil deste produto, bem como a diversificação do seu uso. Segundo a Embrapa (2015) o abacaxi é rico em potássio, magnésio, cálcio, vitaminas A, C, B1 e D. Auxilia na digestão, devido à presença de bromelina em sua composição. A água de coco é uma bebida considerada refrescante, com poucas calorias, rica em minerais e aminoácidos (LIMA et al., 2008), vem sendo utilizada em substituição da água natural na formulação de néctares, devido as suas propriedades nutricionais e terapêuticas. A hortelã é uma folha que contém vitaminas A, C e minerais como cálcio e ferro, além de exercer uma função tônica e 312 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO estimulante no aparelho digestivo, portanto estaria acrescentando qualidades nutricionais e um sabor refrescante ao produto (DAMIANI et al., 2011). A produção de suco de frutas naturais favorece a riqueza em sabores, texturas e cores, características sensoriais que são atrativas para as dietas alimentares (BARROS, 2011), bem como proporciona o aproveitamento do excedente da produção de determinados alimentos, tornandose uma alternativa economicamente viável. Este trabalho tem como objetivo desenvolver néctares mistos de abacaxi, água de coco e hortelã, com a pretensão de um produto mais rico nutricionalmente, agregar valor e dar origem a uma nova opção de produto aos consumidores, além de aumentar a vida útil das matérias-prima utilizadas. 2 MATERIAIS E MÉTODOS As matérias primas utilizadas, abacaxi pérola (Ananas comosus L.), coco anão (Cocos nucifera var. nana) e hortelãde-folha-miúda (Mentha piperita L.), foram adquiridas no comércio local de Campina Grande-PB, e conduzidas ao Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola (UAEA) da Universidade do Federal de Campina Grande (UFCG), onde o estudo foi realizado. A Figura 1 apresenta as etapas de elaboração dos néctares de abacaxi, água de coco e hortelã. 313 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO Figura 1. Fluxograma de elaboração dos néctares de abacaxi, água de coco e hortelã. Aquisição das matérias- prima Higiene e Sanitização Abacaxi Descacamento, corte e trituração Caracterização da polpa integral Água de coco Hortelã Perfuração e retirada da água Corte e trituração Caracterização da água Elaboração das formulações dos néctares (N1, N2, N3) Caracterização Os abacaxis foram lavados em água corrente, sanitizados em água clorada (50 ppm de cloro ativo) por 10 minutos, descascados manualmente e triturados em liquidificador doméstico; os cocos e as folhas de hortelã foram pré-lavados para remoção de resíduos de sujeira e contaminantes grosseiros, com água corrente e submetidos a uma sanitização em água clorada (50 ppm de cloro ativo) por 10 minutos, enxaguados em água corrente e escorridos para a retirada total da solução de lavagem. Os cocos foram perfurados com furador em aço inoxidável. Após a abertura, a água de coco foi vertida em um recipiente dotado de malha capaz de reter os sólidos ou resíduos. Em seguida foram elaboradas três formulações de néctares, conforme apresentado na Tabela 1. 314 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO Tabela 1. Formulações para elaboração dos néctares misto de abacaxi, água de coco e hortelã COMPONENTES (g) Abacaxi Água de coco Hortelã N1 40 100 0,5 N2 50 100 0,5 N3 60 100 0,5 Após as formulações as bebidas foram homogeneizadas em liquidificador domestico por um minuto e envasadas em garrafas de polietileno devidamente higienizadas. A polpa do abacaxi integral, água de coco e os néctares foram caracterizados de acordo com as normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008), quantos aos parâmetros físico-químicos de teor de água, sólidos totais, acidez total titulável (ATT) em ácido cítrico, sólidos solúveis totais (SST), relação SST/ATT e pH. A atividade de água (aw) foi realizada em aparelho Aqualab a 25°C e a Cor (L*, a*, b*, c* e h°) foi determinada em colorímetro MiniScan Hunterlab XE Plus, no sistema CieLab, com valores expressos em L*, a* e b* que indicam, respectivamente, L*= luminosidade, a* a transição da cor verde (-a*) para o vermelho (+a*) e b* a transição da cor azul (-b*) para a cor amarela (+b*). A partir destes valores, calcularam-se os valores de croma (C*) pela equação C*= [(a*)2+(b*)2]0,5 e os valores de ângulo de tonalidade (ângulo h°) pela equação h°= tan-1 b*/a*. Os dados das análises foram tratados de acordo com o delineamento experimental inteiramente casualizado, com três repetições para cada parâmetro, onde foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, através o programa computacional ASSISTAT versão 7.7 beta. 315 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2 encontram-se os valores médios dos parâmetros físico- químicos para a polpa de abacaxi integral e água de coco. Tabela 2. Resultado da caracterização físico-química das matérias-primas Parâmetros Teor de água Sólidos totais (%) Aw pH ATT (%) SST (°Brix) Relação SST/ATT Matéria- prima Abacaxi 85,32 14,68 0,988 4,36 0,377 13,0 38,53 Água de coco 93,14 6,86 0,996 6,08 0,032 4,0 125,59 Aw- Atividade de água; ATT – Acidez total titulável; SST – Sólidos solúveis totais. No teor de água da polpa de abacaxi integral nota-se que o valor foi de 85,32%, sendo próximo ao apresentado na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011) para o abacaxi in natura que é de 86,30% e superior ao encontrado por Gonçalves et al. (2010) com valor igual a 83,62%. A atividade de água (Aw) obtida por Miranda et al. (2015) foi idêntica a encontrada nesta pesquisa, com valor igual a 0,988, isso pode ser justificado devido o abacaxi ser da mesma variedade Pérola. Tratando-se dos parâmetros de acidez e de pH do abacaxi, Miranda et al. (2015) obteve um valor de acidez 0,333% valor este próximo ao encontrado neste estudo com 0,377% e pH igual a 3,68, inferior ao encontrado nesta pesquisa , com valor igual a 4,36. O pH da água do coco pode variar de acordo com a idade do fruto, sendo que, quando a 316 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO idade atinge os 5 meses, o pH encontra-se em torno de 4,7 a 4,8, podendo elevar-se a 5 ou acima ou até o final do crescimento do fruto. Os valores médios de pH das amostras in natura obtidas por Aragão et al. (2001) foram de 5,45 e 5,22 e o resultado obtido neste estudo foi de 6,08 onde indicam que as águas de coco analisadas foram adquiridas de frutos maduros e adequados para consumo humano como bebida, de acordo com a Instrução Normativa Nº 39, de 28 de maio de 2002, que estabelece um pH de 4,3. Fernandes et al. (2011), ao analisarem água de coco, obtiveram de sólidos totais (ST) igual a 4,22%, valor este inferior ao encontrado nesse estudo que foi 6,86% e pH com valor de 4,5 também inferior ao encontrado nesta pesquisa, com 6,08, assim como os níveis de pH encontrados por Magalhães et al. (2005), na faixa de 4,0-5,6. Carvalho et al. (2014) encontraram valores de sólidos solúveis (SS) iguais a 4,69 e 4,75 ºBrix, valores estes próximos ao encontrado na água de coco usada na elaboração dos néctares desse trabalho que foi a 4,0 °Brix. Os valores de acidez apresentaram-se iguais a 0,06% e 0,05%, sendo estes superiores ao índice de acidez constatada nesta pesquisa com valor de 0,032%, onde encontra-se dentro dos padrões exigidos pela Instrução Normativa Nº 39/02, onde a acidez fixa em ácido cítrico (g/100ml) deve apresentar mínimo de 0,03 e máximo de 0,18. A relação SST e ATT para as águas de coco adquiridas por Silva et al. (2013) foram todas superiores a encontrada neste estudo, com valores de 244,6 e 372,5. A Tabela 3 mostra os resultados da caracterização colorimétrica da polpa de abacaxi e água de coco. 317 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO Tabela 3. Resultado da caracterização colorimétrica das matérias-primas Matéria-prima PARÂMETROS Abacaxi Água de coco Luminosidade (L*) 65,19 55,80 Cromaticidade a* -1,56 -2,67 Cromaticidade b* 21,51 1,12 Chroma (C*) 21,57 2,93 Ângulo de hue (h°) 94,16 157,24 O valor de L* expressa a luminosidade ou claridade da amostra, sendo que o valor de L* pode variar de 0 (preto) a 100 (branco) e quanto mais próximo de 100 mais clara é a amostra. Assim pode-se considerar que a polpa de abacaxi e a água de coco apresentam-se claras. Verifica-se que as leituras das amostras ficaram na escala negativa para o a* (-1,56 e -2,67), significando presença de tonalidade verde, mesmo que não perceptível. Para o b* (21,51 e 1,12) os valores foram positivos, o que representa tonalidade de amarelo para a polpa de abacaxi e água de coco, todavia sendo mais evidente na polpa de abacaxi. Resultados semelhantes aos encontrados neste estudo foram mencionados por Miranda et al. (2015), quando caracterizou a polpa de abacaxi onde obteve um valor de a* -3,27 e b* 15,57. O chroma (C*), que define a intensidade de cor, indica que o abacaxi e água de coco apresentam intensidade de cor neutra, pois o C* encontra-se mais próximo ao 0 do que ao 60 que indica cor intensa. O ângulo h° que apresentou valores de 94,16 e 157,24 para abacaxi e água de coco respectivamente, 318 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO onde indicam que eles possuem tonalidade entre a região do amarelo/verde. Tabela 4. Resultado da caracterização físico-química dos néctares de água de coco, abacaxi e hortelã Néctares Parâmetros MG FC N1 N2 N3 Teor de água 91,98a 91,9a 91,89a 91,92 0,187ns Sólidos totais (%) 8,02a 8,10a 8,11a 8,08 0,187ns AW 0,991a 0,99a 0,989a 0,991 4,65ns pH 5,07a 5,00b 4,96c 5,01 139,5** ATT (%) 0,13c 0,15b 0,17a 0,15 127,0** SST (°Brix) 6,0a 6,0a 6,0a 6,0 0,00ns 47,12a 40,9b 35,39c 45,15 123,6** Relação SST/ATT Aw- Atividade de água; ATT- Acidez total titulável; SST- Sólidos solúveis totais; MG- Média Geral; FC- F Calculado; *Significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0,05); **Significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < 0,01). Tratando-se do teor de água, sólidos totais, sólidos solúveis totais e Aw das amostras de néctares (Tabela 4), nota-se que não houve diferença significativa entre as amostras. Já no que diz respeito à ATT, verifica-se que os três néctares apresentaram diferença (p<0,05), em que o N3 apresentou o maior percentual (0,17%). Isso pode ser justificado devido à utilização de maior proporção de abacaxi, visto que é o ingrediente mais ácido. Para Brasil (2001), os produtos alimentícios com alto teor de ácido cítrico além de não necessitarem de adição de ácidos, tornam o meio impróprio ao desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Os valores de pH foram inversamente 319 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO relacionados à ATT, reduzindo com o aumento de abacaxi, com valores variando de 4,96 (N3) a 5,07 (N1). A relação SST/ATT indicou que todas as formulações de néctares apresentaram diferença significativa. Isso se deve a quantidade de polpa empregada. O teor de água encontrado por Bagano et al. (2013) ao analisarem néctar de água de coco com maracujá foi de 83,8%, sendo este valor inferior ao encontrado nesse estudo para as três formulações de néctares de abacaxi, água de coco e hortelã com valores superiores a 90%. O alto valor da atividade de água e teor de água dos néctares de abacaxi, água de coco e hortelã elaborados para este estudo era esperado, uma vez que os néctares em sua totalidade foram constituídos por água de coco e esses resultados são similares aos de Mattietto et al. (2007) ao estudar o néctar misto de caju e umbu. Daltro et al. (2014) ao analisarem físico-quimicamente bebida mista de graviola com água de coco, encontraram resultado de pH de 3,98. Pereira et al. (2009) verificou que o pH manteve-se abaixo de 4,5 em todas as formulações de bebida mista de água de coco, polpa de abacaxi e acerola, apresentando valores entre 3,82 e 4,32. Contudo nas formulações de néctares deste trabalho, todos os valores de pH foram superiores a 5,0. No estudo dos autores citados anteriormente, a ATT variou de 0,24 a 0,52%, valores superiores aos encontrados neste trabalho. O néctar de abacaxi e hortelã elaborado por Cruz et al. (2014) apresentou valores de pH iguais a 4,19, 3,97 e 3,96, para as concentrações de 40, 45 e 50% de abacaxi e 1% de hortelã, respectivamente, valores estes todos inferiores aos encontrados nesse estudo. As ATT foram de 0,35%, 0,31% e 320 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO 0,41%, onde se apresentaram superiores aos encontrados nessa pesquisa. Nos resultados obtidos por Bagano et al. (2013) para SST, foi evidenciado teor de 15,5 °Brix no néctar de água de coco e maracujá. Verificou-se muita semelhança aos resultados obtidos no trabalho de Damiani et al. (2011) com néctar misto de cajá-manga com hortelã, que foi de 15 °Brix, embora tenham sido utilizados matérias- prima diferentes. Em estudos com bebidas mista à base de água de coco e suco de acerola, Lima et al. (2008) encontraram SST na faixa de 11,93 a 12,15 °Brix e o néctar de abacaxi e hortelã elaborado por Cruz et al. (2014), com 10,5, 10,25 e 10,06 °Brix. Pereira et al. (2009), ao desenvolverem bebidas mistas à base de água de coco, polpa de abacaxi e acerola, observaram que os teores de SST nas formulações apresentaram pequenas variações, obtendo-se valores entre 10,33 e 11,76 °Brix. Os resultados obtidos por Daltro et al. (2014) obteve um resultado de SST de 13,2 °Brix da bebida mista de graviola com água de coco. Todos estes trabalhos citados acima apresentaram SST superiores aos encontrados nos néctares de abacaxi, água de coco e hortelã que foi de 6,0 °Brix para as três formulações. O aumento da proporção da mistura influenciou a quantidade de SST nos estudos de Neves & Lima (2010), porém não influenciou nos SST desse estudo. Pereira et al. (2009), ao desenvolverem bebida mista à base de água de coco, polpa de abacaxi e acerola, tratando-se da relação SST/AAT, o néctar elaborado com 73,75g de água de coco, 23,75g de polpa de abacaxi e 2,50g de polpa de acerola obteve uma relação de 47,43, semelhante ao encontrado neste estudo para a formulação N1 (47,12). No 321 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO néctar elaborado com 65,00g água de coco, 23,75g polpa de abacaxi e 11,25g polpa de acerola, a relação foi de 40,26, semelhante à encontrada nesse estudo com a formulação N2 (40,90). O néctar elaborado com 65,00g de água de coco, 15,00g de polpa de abacaxi e 20,00g de acerola, obteve um relação de 34,37, resultado próximo ao encontrado no N3 (35,39). Tabela 5. Resultado da caracterização colorimétrica dos néctares de água de coco, abacaxi e hortelã Parâmetros Néctares N1 N2 N3 MG FC Luminosidade L* 50,25a 49,62b 47,37c 49,08 613,84** Cromaticidade a* -4,63c -5,33a -4,98b -4,98 334,32** Cromaticidade b* 18,06c 22,69b 24,32a 21,69 618,79** Croma (C*) 18,64c 23,31b 24,82a 22,26 624,54** 104,39a 103,22b 101,56c 103,0 396,13** Ângulo de hue h* MG- Média geral; FC- F Calculado; *Significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0,05); **Significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < 0,01). Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. O valor de L* expressou que os néctares são claros, porém o mais claro é a formulação N1, sendo que todos apresentaram diferença significativa. Verifica-se que as leituras das amostras ficaram na escala negativa para o a*, representando a intensidade de verde, provavelmente devido ao emprego da hortelã nas formulações. Para o b* os valores foram positivos, representando a intensidade de amarelo. Na bebida mista de 322 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO graviola com água de coco, Daltro et al. (2014), obtiveram valores de L* de 44,19, a* de 0,62 e b* de -1,17. O chroma (C*), indicou que os néctares apresentaram uma intensidade de cor neutra e ângulo de hue (h*) indicou que os néctares possuem tonalidade entre a região do amarelo/verde. 4 CONCLUSÕES Os resultados obtidos mostraram que o processamento indicou uma potente alternativa para o aproveitamento dos frutos e planta, aumentando a oferta dos mesmos. Sugere-se a escolha do N3, pois esta formulação indicou o menor valor de pH e maior teor de acidez, assim, apresentou-se como um produto atraente para comercialização. Com o desenvolvimento de néctar misto, conseguiu-se preservar o conjunto de atributos, além de agregar o valor medicinal, atendendo, também, as necessidades do mundo atual com praticidade e busca por alimentos mais ricos nutricionalmente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAGÃO, W. M.; ISBERNER, I. V.; CRUZ, E. M. O. Água-de-coco. Aracaju: Embrapa CPATC/ Tabuleiros Costeiros, 2001. BAGANO, J. S.; GOMES, R. B.; CARDOSO, R. L.; TAVARES, T. Q.; SANTOS, D. B. Aceitação sensorial e caracterização físico-química de néctar de água de coco com maracujá. Enciclopédia Biosfera, v.9, n.16; p. 37. 2013. BARROS, Z. M. P. Cascas de frutas tropicais como fonte de antioxidantes para enriquecimento de sucos prontos. 2011. 84 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) – Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura ―Luiz de Queiroz‖, São Paulo, 2011. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Dispõem sobre 323 AGREGAÇÃO DE VALOR A FRUTOS E PLANTA ATRAVES DO DESENVOLVIMENTO DE NÉCTAR MISTO os princípios gerais para o estabelecimento de critérios e padrões microbiológicos para alimentos. BRASIL. Instrução Normativa n. 9, 29 de maio de 2002. Aprova o regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade da água de coco, constante no Anexo 1.39. Documento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. CRUZ, N. M. F; MENDONÇA, A. S.; SOUZA, J. do S.da S.; SANTOS, J. S.; MACIEL, L. G.; SOUZA, R. V.; Néctar de abacaxi (Ananas comosus l.) com hortelã (Mentha piperita): elaboração, caracterização físico-química e sensorial. III Simpósio de estudos e pesquisas em ciências ambientais. ISSN 2316-7637. P. 71-77. Anais... Belém (PA), 18 a 20 de Novembro de 2014. DAMIANI, C.; SILVA, F. A.; AMORIM, C. C. M.; SILVA, S. T. P.; BASTOS, I. M.; ASQUIERI, E. R.; VERA, R. Néctar misto de cajá-manga com hortelã: caracterização química, microbiológica e sensorial. 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Campinas: NEPAUNICAMP, 161 p. 325 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL CAPÍTULO 24 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL Regilane Marques FEITOSA1 Emanuel Neto Alves de OLIVEIRA2 Analha Dyalla Feitosa LINS3 Cícera Gomes Cavalcante de LISBÔA2 Viviane Brasileiro de HOLANDA4 1 Pesquisadora PNPD/CAPES Engenharia de Processos; 2 Doutorando (a) de Engenharia Agrícola – UFCG; 3 Mestranda Engenharia Agrícola – UFCG; 4 Professora Assistente – UFCG. RESUMO: Mesmo diante de tantas tecnologias aplicadas nos alimentos, a rápida perda de qualidade das frutas in natura perdura até os dias de hoje, dificultando a comercialização de frutas frescas. Diariamente técnicas são aplicadas com o intuito de minimizar as perdas pós-colheita, tendo em vista o aumento da vida de prateleira e a redução do desperdício. No interesse da utilização de produtos biodegradáveis, avaliou-se a vida útil pós-colheita da seriguela, utilizando o revestimento de pectina em diferentes proporções (2 e 4%) e armazenadas em temperatura ambiente (± 22 oC). As avaliações foram realizadas aos 0, 2, 4 e 6 dias de armazenamento quanto ao teor de água, sólidos solúveis totais, acidez total titulável, Relação SST/ATT e pH. A proporção de pectina influenciou nas características físicoquímicas dos frutos de seriguela. O uso de biofilme comestível de pectina na concentração de 4% se destacou com maior eficiência em retardar o metabolismo pós-colheita e prolongar a conservação da seriguela armazenada em temperatura ambiente, proporcionando também perdas reduzidas, conferindo ainda melhor aspecto para o fruto. Palavras-chave: Pós-colheita. Qualidade. Biofilme. 326 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL 1 INTRODUÇÃO Em razão das frutas in natura apresentarem alto teor de água, vários problemas relacionados à sua conservação ocorrerão desde o momento da colheita, quando dá início a uma série de processos que influenciam na qualidade do produto e nas suas consequentes perdas até a mesa do consumidor. A redução dessas perdas será otimizada utilizando uma estocagem adequada e correta comercialização, proporcionando grandes benefícios, tanto ao produtor, distribuidor e ao consumidor (LEMOS et al. 2007). Segundo Bobbio e Bobbio (1984) o uso de películas comestíveis, que podem ser usadas diretamente sobre os alimentos, é uma proposta que pode ser usada com a mesma finalidade da cera. Para Mussi e Pereira (2014) os filmes comestíveis tem potencial para melhorar a qualidade de produtos alimentícios, entretanto ainda há pouca aplicação industrial. Por isso, os estudos desses processos são importantes para delinear as propriedades funcionais dos filmes comestíveis visando diversas aplicações possíveis. Embalagens comestíveis utilizando matérias-primas renováveis e tecnologias capazes de minimizar os danos ao meio ambiente vêm despertando grande interesse nas últimas décadas. Esses filmes conferem proteção mecânica e previnem a deterioração, possibilitando a agregação de fatores sensoriais e nutricionais aos alimentos (SILVA et al., 2014). Segundo Scalon et al. (2011) as mesmas auxiliam no controle da perda de massa pela transpiração, reduzindo as trocas gasosas pela respiração. Para Silva et al. (2011), as 327 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL coberturas comestíveis representam uma alternativa para aumentar a vida útil de frutas e hortaliças, e além de serem atóxicas, preservam a qualidade, retardando a deterioração, uma vez que regulam suas atividades metabólicas, melhorando a aparência do fruto armazenado, conferindo brilho como fator atraente para o consumidor. O uso de filmes comestíveis na conservação póscolheita de frutas vem ganhando espaço no mercado alimentício, em razão de influenciar de forma benéfica nos frutos, porém os efeitos são variáveis dependendo da composição dos alimentos e do material utilizado para compor esse biofilme. Diante disso objetivou-se neste trabalho avaliar o uso de biofilme a base de pectina em diferentes proporções (2 e 4%) para conservação da seriguela armazenada em temperatura ambiente. 2 MATERIAIS E MÉTODO O experimento foi realizado no laboratório de Processamento de Frutos do IFRN – Campus Pau dos Ferros. Foram utilizadas seriguelas, provenientes do comércio local da cidade Pau dos Ferros-RN, e pectina de alto teor de metoxilação (150° SAG). Os frutos foram lavados em água corrente, higienizados com solução de hipoclorito de sódio a 100 ppm por 15 minutos e secos com papel toalha. Em seguida os frutos foram mergulhados em suspensões que foram divididos em dois lotes: seriguelas revestidas com biofilmes com 2% (P1) e 4% (P2) de solução de pectina. Para se obter as concentrações propostas do biofilme, utilizaram-se as seguintes quantidades de pectina 328 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL (formulação de 1 L): 20 g (solução de 2%) e 40 g (solução de 4%). As formulações foram homogeneizadas em liquidificador por 30 segundos, até a geleificação da pectina. Os lotes P1 e P2 foram imersos nas soluções de pectina (concentrações de 2 e 4%, respectivamente) por aproximadamente 1 minuto e colocadas em cestas metálicas vazadas, até secarem naturalmente. Posteriormente todos os lotes foram acomodados em bandejas de isopor e colocados em bancadas à temperatura ambiente (22,07 ± 5 °C). As seriguelas foram avaliadas nos tempos 0, 2, 4 e 6 dias de armazenamento, quantos aos parâmetros teor de água, sólidos solúveis totais, acidez total titulável, relação SST/ATT e pH segundo a metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). Os parâmetros físico-químicos foram determinados em três frutos com três repetições, para cada tratamento. Os experimentos foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, com os tratamentos dispostos em esquema fatorial 4×2×3, sendo 4 tempos de armazenamento (0, 2, 4, 6 dias), 2 concentrações de pectina (2 e 4%) e 3 repetições. Os resultados obtidos das análises foram submetidos à análise de variância pelo teste F e a comparação das médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 observa-se os resultados obtidos do teor de água e sólidos solúveis totais das amostras de seriguelas 329 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL revestidas com armazenamento. 2 e 4% de pectina ao longo do Tabela 1. Caracterização físico química dos frutos de seriguela revestidos com 2 e 4% de pectina durante armazenamento a temperatura ambiente. Armazenamento (dias) 0 2 4 6 Média geral DMS CV (%) Teste F Teor de água 2% 4% 76,47 aA 76,47 aA 72,50 bB 74,68 aA 68,40 cB 71,23 bA 64,23 dB 69,46 cA 70,40 72,96 2,83 3,03 1,53 1,59 28,37** 22,72** SST 2% 8,00 dA 10,00 cA 13,00 bA 16,00 aA 11,75 1,70 2,50 464,15** 4% 8,00 cA 9,00 cB 12,00 bB 14,00 aB 10,75 1,77 2,80 428,03** DMS - Diferença mínima significativa; CV - Coeficiente de variação; SST Sólidos solúveis totais; ** - Significativo ao nível de 1% de probabilidade; As médias seguidas pela mesma letra na coluna e nas linhas não diferem estatisticamente entre si segundo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Verifica-se que ocorreu uma redução significativa do teor de água ao longo do armazenamento para as amostras revestidas com 2 e 4% de pectina; pode-se ver que a amostra com 4% de pectina manteve-se estatisticamente inalterada do tempo zero ao segundo dia de armazenamento, em seguida foi reduzindo ao longo do armazenamento. A amostra com 2% de pectina reduziu diferindo estatisticamente em todos os tempos estudados. O revestimento com 4% de pectina manteve os teores de água superiores ao revestimento com 2%, ou seja, as amostras com 4% controlaram melhor a migração de água do produto, apresentando perda sutil para o ambiente ao longo do armazenamento. 330 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL Os sólidos solúveis totais (SST) apresentaram comportamento de aumento ao longo do armazenamento, para as amostras estudadas, comportamento este esperado. Sendo que as amostras de seriguelas com 4% de pectina apresentaram valores inferiores aos das seriguelas ao longo do armazenamento, indicando que o aumento dos SST foi bem menos acelerado do que as amostras que apresentavam 2% de pectina. Segundo Chitarra e Chitarra (2005) espera-se que durante o amadurecimento ocorra aumento de SST em decorrência da transformação dos polissacarídeos insolúveis em açúcares solúveis. Comportamento contrário a deste estudo foi observado por Scalon et al. (2011) que verificaram, que os teores de SST das guaviras (Campomanesia adamantium Camb.) diminuiram em todos os revestimentos aplicados e temperaturas ao longo do período de armazenamento. Para os mesmos autores a diminuição desses teores pode significar que os teores iniciais estão servindo de substrato para a senescência e que esta mesma redução pode estar relacionada com o estádio avançado de maturação dos frutos no início do armazenamento. Mezzalira et al. (2010) ao estudarem os SST de frutos de Framboesa ‗Heritage‘ armazenados na temperatura de 3 ºC ± 0,5 ºC com uso de diferentes biofilmes observaram valor de 8,83 para 3% de fécula de mandioca; observaram também que o uso de fécula de mandioca não afetou os teores de SST durante os seis dias de armazenamento. Lemos et al. (2007) verificaram que os teores de sólidos solúveis totais dos frutos de pimentão não foram afetados significativamente pelos tratamentos com fécula de mandioca e pelo armazenamento em temperatura ambiente até 20 dias, 331 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL porém observaram aumento no teor de sólidos solúveis no decorrer do período de armazenamento para alguns tratamentos. Na Tabela 2, encontram-se os parâmetros da acidez total titulável e relação SST/ATT. Verifica-se que a acidez total titulável da seriguela armazenada com 2% de pectina reduziu de forma mais acentuada, durante todo o armazenamento; a seriguela armazenada com 4% de pectina apresentou degradação mais lenta. Pode-se verificar que a mesma se manteve estatisticamente estável entre o tempo 0 e 2, 4 e 6; verifica-se que ocorreu um declínio do tempo zero ao tempo 3, mantendo-se estatisticamente igual até o final do armazenamento. Ao comparar as concentrações de aplicação de pectina pode-se observar que a concentração de 2% de pectina apresentou índices inferiores estatisticamente, quando comparados aos da pectina 4%, ou seja, ocorreu uma degradação maior em relação a acidez para as frutas revestidas com 2%. Ribeiro et al. (2010) ao compararem os revestimentos de fécula a 3 e 5 % aplicados no limão cayne, constataram que o tratamento com fécula a 5% foi o que apresentou menor perda de acidez durante o período de armazenamento. Tabela 2. Caracterização físico química dos frutos de seriguela revestidos com 2 e 4% de pectina durante armazenamento a temperatura ambiente. Armazenamento (dias) 0 2 4 6 ATT (%) 2% 4% 0,66 aA 0,66 aA 0,60 bB 0,62 aA 0,51 cB 0,56 bA 0,48 dB 0,52 bA SST/ATT 2% 12,19 dA 16,67 cA 25,49 bA 33,33 aA 4% 12,19 dA 14,59 cB 21,53 bB 26,76 aB 332 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL Média geral DMS CV (%) Teste F 0,56 0,05 2,56 43,54** 0,59 0,04 2,75 40,66** 21,92 1,30 2,45 578,46** 18,77 1,27 2,59 558,01** DMS - Diferença mínima significativa; CV - Coeficiente de variação; ATT – Acidez total titulável em ácido cítrico; ** - Significativo ao nível de 1% de probabilidade; as médias seguidas pela mesma letra na coluna e na linha não diferem estatisticamente entre si segundo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Silva et al. (2011) avaliaram o efeito de diferentes concentrações de fécula de mandioca na conservação póscolheita de frutos de ‗Mexerica-do-Rio‘ armazenados em temperatura ambiente em suspensões de fécula de mandioca a 0, 2, 3 e 4% verificaram que o teor de acidez titulável nos frutos reduziu. Observaram também que os frutos tratados com fécula de mandioca, na dose de 4%, reduziram em menor quantidade quando comparados aos outros tratamentos durante o tempo de armazenamento, constatando que o uso de biofilme foi eficiente, com aumento no teor de sólidos e solúveis, redução nos de acidez titulável. Ainda na Tabela 2, observa-se quanto ao parâmetro SST/ATT verifica-se que as amostras apresentaram comportamento similar, ambas aumentaram o teor de SST/ATT ao longo do armazenamento. Verifica-se que o revestimento a 2% de pectina apresentou valores superiores ao da pectina 4% ao longo do armazenamento. Para Chitarra e Chitarra (2005) a relação SST/ATT é uma das formas mais utilizadas para avaliação do sabor, sendo mais representativa do que a medição isolada de açúcares ou acidez. Esta relação dá uma boa ideia do equilíbrio entre esses dois componentes, devendo-se especificar o teor mínimo de sólidos e o máximo de acidez, propiciando uma ideia mais real do sabor. 333 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL Scanavaca Júnior et al. (2007) avaliaram a vida útil póscolheita de mangas ‗Surpresa‘ utilizando recobrimento com película de fécula de mandioca, nas proporções de 0, 1, 2 e 3% e observaram que os tratamentos não influenciaram na relação SST/ATT das mangas. Na Tabela 3 encontra-se os valores do pH da seriguela revestida com 2 e 4% de pectina, durante o armazenamento. Verifica-se que no decorrer do tempo de armazenamento houve uma tendência de aumento desse parâmetro para ambas amostras. Sendo que a amostra com 2% de pectina apresentou um comportamento de aumento em todos os tempos de armazenamento; enquanto a amostra com 4% apresentou um aumento mais sutil. Pode-se verificar, ainda na Tabela 3, que o pH da seriguela revestida com 4% de pectina sofreu menor influencia durante o armazenamento quando comparada com a amostra de 2%. Scalon et al. (2011) observaram que o pH apresentou valores iniciais de 4,5 e finais de 3,4, indicando que houve diminuição durante o período de armazenamento em todos os revestimentos e temperaturas aplicadas, e essa mesma tendência também foi observada nas coberturas de pectina, com e sem cálcio, podendo esses resultados serem devidos ao estádio de maturação das frutas. Comportamento esse completamente inverso ao ocorrido no fruto de seriguela. Scanavaca Júnior et al. (2007) também verificaram aumento do pH ao longo do armazenamento, observaram também que a amostra testemunha, o pH passou de 3,25 na colheita para 5,03 aos 12 dias e, para o tratamento com 2% de fécula de mandioca, que estava mais verde, estes números são, respectivamente, 3,21 e 4,92, indicando o baixo consumo dos 334 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL ácidos orgânicos e a não-interferência dos tratamentos no pH durante a maturação. Tabela 3. Caracterização físico química dos frutos de seriguela revestidos com 2 e 4% de pectina durante armazenamento a temperatura ambiente. Armazenamento (dias) 0 2 4 6 Média geral DMS CV (%) Teste F pH 2% 3,75 dA 3,90 cA 3,96 bA 4,05 aA 3,92 0,07 0,70 30,52** 4% 3,75 cA 3,84bB 3,89abB 3,95 aB 3,86 0,08 0,74 25,72** DMS - Diferença mínima significativa; CV - Coeficiente de variação; ** Significativo ao nível de 1% de probabilidade; as médias seguidas pela mesma letra na coluna e na linha não diferem estatisticamente entre si segundo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. O consumo de ácidos orgânicos no processo respiratório é o principal responsável pela diminuição da acidez e o aumento do pH (ROCHA et al., 2001) De modo geral verifica-se que com o amadurecimento do fruto, diminuiu a acidez total titulável (Tabela 2) e aumentaram os teores de sólidos solúveis totais (Tabela 1), a relação SST/ATT (Tabela 2) e o pH (Tabela 3), comportamento este esperado, observando também que o biofilme com 4% de pectina apresentou um amadurecimento mais lento quando comparado aos frutos com 2% de pectina. Segundo Chitarra e Chitarra (2005) esse amadurecimento é em função da respiração e/ou da conversão de ácidos orgânicos em açúcares. 335 ESTABILIDADE DA SERIGUELA REVESTIDA COM PELÍCULA BIODEGRADÁVEL 4 CONCLUSÕES A proporção de pectina influenciou nas características físico-químicas dos frutos de seriguela. O uso de biofilme comestível de pectina na concentração de 4% se destacou com maior eficiência em retardar o metabolismo pós-colheita e prolongar a conservação da seriguela armazenada em temperatura ambiente, proporcionando também perdas reduzidas, conferindo ainda melhor aspecto para o fruto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHITARRA, M. I. F; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: Editora da Universidade Federal de Lavras, 2005. v.1, 785p. LEMOS, O. L.; REBOUÇAS, T. N. H.; JOSÉ, A. R. S.; VILA, M. T. R.; SILVA, K. S. Utilização de biofilme comestível na conservação de pimentão ‗magali r‘ em duas condições de armazenamento. 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E. C. Uso de fécula de mandioca na pós-colheita de manga 'surpresa'. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.29, n.1, p.67-71, 2007. 337 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO CAPÍTULO 25 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO Cícera Gomes Cavalcante de LISBÔA1 Regilane Marques FEITOSA2 Rossana Maria Feitosa de FIGUEIRÊDO3 Analha Dyalla Feitosa LINS4 Emanuel Neto Alves de OLIVEIRA1 1 Doutorando (a) em Engenharia Agrícola – UFCG Campina Grande; 2 Pesquisadora PNPD/CAPES em Engenharia de Processos - UFCG Campina Grande; 3 Professora de Engenharia Agrícola- UFCG Campina Grande; 4 Mestranda em Engenharia Agrícola- UFCG Campina Grande ; RESUMO: O yacon é considerado alimento funcional, uma vez que é fonte de frutooligossacarídeos e de fibras dietéticas, além de apresentar um reduzido valor calórico. Durante o processamento do yacon, ocorre à oxidação enzimática, assim, tem-se por hipótese que o suco de limão pode ser empregado contra o escurecimento oxidativo do yacon, pois as frutas cítricas são conhecidas por sua ação antioxidante. A liofilização é um processo que permite que as propriedades químicas e sensoriais praticamente não se alterem. Este trabalho teve como objetivo obter o pó da mistura yacon com suco de limão através do processo de liofilização, e caracterizá-lo quanto a parâmetros físicos e físico-químicos. A adição de maltodextrina a mistura de yacon com suco de limão influenciou na redução da atividade de água, teor de água, acidez e intensidade de amarelo dos pós e os mesmos apresentaram valores de atividade de água dentro da faixa de segurança contra o desenvolvimento de micro-organismos. Palavras-chave: Smallanthus sonchifolia. Secagem. Alimento funcional. 1 INTRODUÇÃO 338 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO O yacon (Smallanthus sonchifollius) conhecido também como batata yacon possui raízes tuberosas utilizadas na alimentação sendo considerado um alimento nutracêutico, em decorrência de seus componentes designados como fibras alimentares solúveis, e prebiótico, devido a sua baixa digestibilidade por enzimas do trato gastrointestinal humano, estímulo seletivo do crescimento e atividade de bactérias intestinais promotoras da saúde (CORRÊA et al., 2009; VANINI et al., 2009). Suas características têm sido vinculadas aos inúmeros benefícios para os consumidores em geral, representando um novo produto a ser explorado. Dessa forma as investigações sobre alimentos com tais propriedades, como o yacon, são importantes, inclusive, para a conscientização da população quanto aos seus benefícios e estímulo de consumo (BORGES et al., 2012). O yacon apresenta compostos bioativos de importância à saúde humana, sendo considerado alimento funcional, uma vez que é fonte de frutooligossacarídeos e suas propriedades funcionais decorrem do fato de que possuem fibras dietéticas, além de apresentar um reduzido valor calórico (OLIVEIRA et al., 2012; OJANSIVU et al., 2011). Durante o descascamento e processamento da batata yacon, quando as membranas celulares são rompidas os polifenóis se misturam aos demais componentes, especialmente as enzimas (fenoloxidases), fazendo com que ocorra a oxidação enzimática na presença de oxigênio, formando pigmentos marrons ou pretos, muito comum em frutas e outros vegetais (VALENTOVÁ e ULRICHOVÁ, 2003). A presença destes fenólicos torna a raiz suscetível a reações 339 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO de escurecimento causadas pelas enzimas peroxidase e polifenoloxidase, essa reação faz com que o produto fique escuro e deprecie sua qualidade, sendo seu controle ou prevenção facilmente realizado por meio da desidratação, do armazenamento em baixas temperaturas, do tratamento térmico, da eliminação do oxigênio do meio, da utilização de agentes químicos, dentre outros (CABELLO, 2005; LUPETTI et al., 2005; NEVES e SILVA, 2007). Para prolongar a conservação desse tubérculo recomenda-se desidratá-lo, podendo ser conservados por até um ano quando guardados em recipientes herméticos (MICHELS, 2005). No entanto, pode ocorrer ainda o escurecimento em razão da oxidação enzimática, causando alterações indesejáveis das características visuais que, segundo RAMALHO e JORGE (2006), podem ser reduzidas pelo emprego de antioxidantes. O suco de limão pode ser empregado contra o escurecimento oxidativo em vários alimentos, pois as frutas cítricas são reconhecidas como fonte de constituintes antioxidantes que apresentam várias ações benéficas ao ser humano (SÁNCHEZ-MORENO et al., 2003; REBELLO et al., 2008). A secagem de produtos é um processo que é utilizado, para preservar e/ou inibir a atividade enzimática. Esse processo consiste na remoção de água e substâncias voláteis de um produto diminuindo assim sua atividade de água (CORRÊA et al., 2007). A liofilização é um processo de desidratação de produtos em condições de pressão e temperatura, tais que a água previamente congelada, passa do estado sólido para o estado gasoso por sublimação. Como esse é realizado a baixa 340 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO temperatura e ausência do ar atmosférico permite que as propriedades químicas e sensoriais praticamente não se alterem (MENEZES et al., 2009). Os produtos alimentícios em pó são cada vez mais utilizados pela indústria de alimentos, uma vez que eles reduzem significativamente os custos de certas operações como embalagens, transporte, armazenamento e, pela conservação, elevam o valor comercial do produto (SANTOS et al.,2012). Este trabalho teve como objetivo obter o pó da mistura yacon com suco de limão através do processo de liofilização, e caracterizá-lo quanto a parâmetros físicos e físico-químicos. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas LAPPA, da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. As matérias-primas utilizadas foram yacon, limão Tahiti, e maltodextrina com dextrose equivalente igual a 20. As batatas yacon e os limões foram lavados e sanitizados para a realização da extração do suco de limão e a obtenção da batata yacon descascada manualmente. A batata yacon cortada em pedaços antes da liofilização foi tratada através da imersão dos pedaços no suco integral de limão na proporção de 2:1 (yacon: suco de limão), onde se utilizou 300 gramas de batata yacon para 150 gramas de suco integral de limão, por um período de quinze minutos, com a finalidade de evitar a oxidação e inativar as enzimas. Em seguida a mistura yacon e suco de limão foi triturada em liquidificador doméstico, esta amostra foi separada em duas porções: uma porção (FSM – 341 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO formulação sem maltodextrina) e na outra porção foi adicionada 10% de maltodextrina (FCM – formulação com maltodextrina). Os dois tipos de amostras foram congeladas em freezer doméstico durante 48 horas e submetidas ao processo de liofilização, em liofilizador da marca Terroni modelo LS 3000. Após a liofilização as amostras foram trituradas em almofariz com pistilo obtendo-se o pó. Foi realizada a caracterização físico-química e física, em triplicata, das amostras quanto aos seguintes parâmetros: teor de água; acidez total titulável, expressos em % de ácido cítrico; pH, por leitura direta em phmetro de bancada; e sólidos solúveis totais, leitura direta em refratômetro seguindo-se as metodologias do Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2005). Também foi determinada a atividade de água a 25 °C, através de leitura direta em higrômetro Aqualab 3TE (Decagon), e a cor, realizada em espectrofotômetro portátil Hunter Lab Mini Scan XE Plus, modelo 4500 L, obtendo-se os parâmetros luminosidade (L*) (L* = 0 – preto; e L* = 100 – branco) e a* e b* são responsáveis pela cromaticidade (+a* = vermelho; –a* = verde; +b* = amarelo; –b* = azul). Foi aplicado o teste de Tukey a 5% de probabilidade para comparar as médias dos parâmetros analisados dos tratamentos FSM e FCM liofilizadas utilizando-se o programa computacional Assistat versão 7.5 Beta (SILVA e AZEVEDO, 2009). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 tem-se os valores médios dos parâmetros físico-químicos e físicos analisados no yacon e no suco de limão e nas formulações FSM e FCM após a mistura em liquidificador. Observa-se que o yacon apresentou um teor de 342 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO água de 85,77% sendo compatível com o alto valor da sua atividade de água que foi de 0,985, indicando que este produto é bastante susceptível ao desenvolvimento de reações indesejáveis causadas por micro-organismos. VASCONCELOS et al. (2010) verificaram para a batata yacon um teor de água superior de cerca de 91,10%; e BISINELLA et al. (2015) encontraram teor de água para o yacon próximo de cerca de 83,40%. O teor de água do suco de limão foi maior do que o do yacon e o de FCM menor do que o de FSM, em razão da adição de sólidos (maltodextrina). Entretanto, todas as amostras avaliadas apresentaram altos teores de água. As amostras apresentaram alta atividade de água uma média de 0,98, sendo recomendando a desidratação como forma de reduzir a atividade de água e aumento da vida útil. Constata-se que o yacon é um tubérculo de baixa acidez, apresentando um valor de 0,09% de ácido cítrico, estando em consonância com o pH que apresentou valor superior a seis, sendo considerado um alimento pouco ácido (pH > 4,5). Estes valores são superiores aos encontrados por PRATI et al. (2009) que foi de 0,05% de acidez total titulável e pH de 6,02 para este mesmo tubérculo. TRINDADE et al. (2012) encontraram para o yacon da cultivar Achat um teor de acidez superior de 1,78%. Constata-se que o yacon apresenta uma acidez baixa quando comparada com a batata doce que tem 7,93% (LEONEL e CEREDA, 2002). Os valores da acidez (7,19% em ácido cítrico) e pH (2,24) obtidos para o suco de limão, comprovam que este é um produto muito ácido (pH < 3,7), sendo uma característica dos antioxidantes. DUZZIONI et al. (2010) confirmaram essa atividade antioxidante ao estudarem essa propriedade em limão tahiti. Observa-se que as formulações de yacon com 343 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO limão ficaram ainda na categoria de alimentos muito ácidos (pH < 3,7). Tabela 1 Valores médios dos parâmetros físicos e físico-químicos do yacon in natura, do suco de limão e das formulações com maltodextrina e sem maltodextrina. Parâmetros Teor de água (% b.u.) Atividade de água (aw) Acidez total titulável (% ácido cítrico) pH Sólidos solúveis totais (º Brix) Luminosidade (*L) Intensidade de vermelho (+*a) Intensidade de verde (-*a) Intensidade de amarelo (+b) Yacon 85,77 0,985 0,09 Limão 91,36 0,981 7,19 FSM 89,65 0,987 2,62 FCM 85,49 0,987 2,28 6,61 9,00 54,40 2,90 20,69 2,24 7,00 25,35 -3,84 1,30 2,49 8,00 50,53 -1,06 15,85 2,43 13,33 42,53 -2,63 11,30 FSM: Formulação sem maltodextrina; FCM: Formulação com maltodextrina Verifica-se que o teor de sólidos solúveis totais foi de 9 e 7 ºBrix para o yacon e o suco de limão, respectivamente. PEREIRA et al. (2010) encontraram teor superior de sólidos solúveis totais no yacon in natura de 15 ºBrix. FERNANDES et al. (2010) quantificaram teor de sólidos solúveis totais menor para a batata da variedade Asterix (4,32 ºBrix). BRITO et al. (2015) verificaram para a polpa de limão valor próximo dos sólidos solúveis totais de 8,20 ºBrix. Este parâmetro está relacionado com os sólidos solúveis presentes no alimento, bem como o grau de doçura dos mesmos, e como o yacon possui uma elevada quantidade de açúcar na sua composição, principalmente inulina, o seu teor de sólidos solúveis tende a ser mais elevado quando comparado com outros tubérculos (DUPONT e DUPONT, 2011). Observa-se que houve um aumento do teor de sólidos solúveis totais com a adição de maltodextrina a mistura de yacon com suco de limão, o que 344 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO era esperado em razão da maltodextrina ser um polissacarídeo. Verifica-se, de acordo com os valores da luminosidade, que o yacon (54,40) é mais claro do que o suco de limão (25,35), em razão de que quanto maior L* mais clara é a amostra. A formulação com maltodextrina (FCM) apresentou menor luminosidade (42,53) em relação a FSM. O yacon é um pouco mais escuro do que a mandioquinha salsa in natura que apresentou L* = 64,69 (BORGES et al., 2013). O yacon teve leitura na escala da intensidade de vermelho (+a*), enquanto que o limão e as formulações na escala da intensidade de verde (-a*). Todas as amostras apresentaram leitura na escala da intensidade de amarelo (+b*) com o yacon com o maior valor (20,69) e entre as formulações a FSM apresentou o maior valor +b* (15,85). Tem-se na Tabela 2 os resultados obtidos dos parâmetros analisados para os pós de yacon com suco de limão liofilizados com e sem adição de maltodextrina. Constata-se que o teor de água na amostra com 10% de maltodextrina apresentou um valor menor, que foi de 14,73%, mostrando que incorporação de sólidos interferiu na retirada da água do produto. Verifica-se que os teores de água dos pós das misturas de yacon com suco de limão foram superiores ao da mucilagem de inhame liofilizado determinado por CONTADO et al. (2009) que foi de 4,36%; ao da farinha de yacon secada em estufa a 55 ºC por 48 horas que apresentou um teor de água de 6,59% (VASCONCELOS et al., 2010); e ao da polpa de yacon com maltodextrina desidratada em secador por atomização que obteve um pó com 2,34% de teor de água (NISHI et al., 2013). Uma provável explicação para os altos teores de água dos pós do presente trabalho deve-se a 345 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO etapa de trituração no almofariz fazendo com que a amostra absorva água do ambiente. Tabela 2. Valore médios dos parâmetros físicos e físico-químicos do pó de batata yacon com suco de limão com e sem maltodextrina Parâmetros Teor de água (% b.u.) Atividade de água (aw) Acidez total titulável (%ácido cítrico) pH Sólidos solúveis totais (ºBrix) Luminosidade (L*) Intensidade de vermelho (+a*) Intensidade de verde (-a*) Intensidade de amarelo (+b*) PSM 23,39 a 0,351 a 2,63 a 2,69 b 31,00 b 69,48 b 4,15 33,28 a PCM 14,73 b 0,309 b 1,23 b 2,77 a 38,33 a 84,29 a -0,04 19,95 b PSM – Pó sem maltodextrina; PCM – Pó com maltodextrina; Obs.: As médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Constata-se para o parâmetro atividade de água que tanto o pó sem maltodextrina como o com maltodextrina apresentaram baixos valores de 0,351 e 0,309, respectivamente. Observa-se que a atividade de água do pó com maltodextrina foi estatisticamente inferior ao do pó sem maltodextrina. Esses valores encontram-se dentro faixa de segurança, que segundo FELLOWS (2006) é de aw < 0,6, valores acima desse é que ocorre o desenvolvimento de alguns micro-organismos, causando reações indesejáveis ao produto. Os valores encontrados nesse estudo são menores quando comparados a outros alimentos liofilizados. ANGELIM et al. (2014) determinaram na carambola liofilizada atividade de água de 0,423. Os valores de acidez dos pós sem e com maltodextrina foram de 2,63% e 1,23% de ácido cítrico, respectivamente, verificando-se diminuição da acidez com a adição de maltodextrina. Comportamento semelhante foi observado por 346 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO OLIVEIRA et al. (2014) ao compararem o efeito da adição de maltodextrina (17%) à polpa de cajá verificaram que a maltodextrina provocou uma drástica diminuição na acidez titulável quando comparado ao pó integral. As duas amostras em pó de yacon com suco de limão apresentaram valores baixos de pH, em torno de 2,73. Verifica-se para o pH comportamento inverso ao da acidez, com a adição de maltodextrina a mistura de yacon com limão o pH do pó aumentou. Nota-se que mesmo após a liofilização os pós apresentaram pH < 3,7, sendo ainda considerados alimentos muito ácidos. Valor superior de pH foi encontrado por SOARES et al. (2012) para o pó de limão tahiti com um pH de 4,34, obtido através da secagem em estufa a 105 ºC por 3 horas, comprovando a influencia da temperatura de secagem sobre o pH. Quanto aos valores médios do teor de sólidos solúveis totais das amostras em pó, verifica-se que o maior valor foi encontrado no pó com maltodextrina, que foi de 38,33 ºBrix. Valor próximo foi observado por PEREIRA et al. (2013) para a farinha de yacon obtida através da secagem em estufa com circulação de ar a 55 ºC por 6 horas, que foi de 42,00 ºBrix. Observa-se que houve aumento significativo da luminosidade com a adição da maltodextrina, indicando que houve clareamento da amostra. Este comportamento se deve a cor clara da maltodextrina. Com relação ao parâmetro de cor a* nota-se que para o pó sem maltodextrina encontrava-se na escala da intensidade de vermelho, enquanto que para o pó com maltodextrina apresentou-se na escala do verde. A intensidade de amarelo (+b*) diminuiu com a adição da maltodextrina. Diante destes valores constata-se que a adição da maltodextrina influenciou na cor do pó. Resultado da 347 LIOFILIZAÇÃO DA MISTURA BATATA YACON COM SUCO DE LIMÃO luminosidade próximo foi encontrado por SANTOS et al. (2010) para a farinha da batata ―Markies‖ seca em secador de bandejas a uma temperatura de 60 ºC, com L* = 72,92. 4 CONCLUSÕES Pode-se concluir que a adição de maltodextrina a mistura de yacon com suco de limão influenciou na redução da atividade de água, teor de água, acidez e intensidade de amarelo do pó; os pós obtidos pelo processo de liofilização apresentaram valores de atividade de água abaixo de 0,6 estando dentro da faixa de segurança contra o desenvolvimento de micro-organismos. Os pós obtidos são produtos que podem ser inseridos na alimentação humana, onde o limão além de funcionar como antioxidante enriquece o produto com a incorporação da vitamina C, agregando ainda mais valor ao pó obtido, pois o yacon possui em sua composição nutrientes que são indispensáveis à saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELIM, G.L.; LEITE, A.K.F.; RAMOS, A.R.C.; QUEIROZ, A.P.S; LIMA, C.S.D.L.; TORRES, L.B.V. 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Devido a sua praticidade e diversidade de sabores, o consumo de biscoitos é crescente, assim como as inovações tecnológicas deste alimento. No entanto, o elevado consumo de gorduras trans industriais e saturadas, e de açucares, tem elevado os índices de sobrepeso, obesidade e doenças crônicas. Neste contexto, a utilização de novas formulações e o desenvolvimento de biscoitos e cookies com substituição parcial e/ou total de farinha, açúcar e gordura é um nicho crescente no mercado. Em especial, os cookies tratam-se de matrizes alimentares propícias para o enriquecimento nutricional, sensorial e até funcional em sua formulação e, desta forma, o aumento do consumo de produtos com esse apelo funcional torna-se um opção de melhoria da qualidade de saúde dos consumidores. 353 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA Palavras-chave: Biscoito. Cookies. Inovações. 1 INTRODUÇÃO Segundo a RDC n° 263 de 2005, biscoitos ou bolachas ―são os produtos obtidos pela mistura de farinha(s), amido(s) e ou fécula(s) com outros ingredientes, submetidos a processos de amassamento e cocção, fermentados ou não. Podem apresentar cobertura, recheio, formato e textura diversos‖ (BRASIL, 2005a). O Brasil se encontra em quarto lugar no ranking mundial de vendas, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e Índia, tendo um aumento de 23% no ano de 2014 em relação à 2013 (ABIMAPI, 2015). Em 2014, a Associação Nacional das Indústrias de Biscoito - ANIB divulgou uma pesquisa que constatou a presença de biscoitos em 99% dos domicílios brasileiros, representando um consumo per capita em 2014 de 8,40 kg/ano (ABIMAPI, 2015). Um dos ingredientes em comum utilizado na formulação dos biscoitos (sejam eles recheados, crackers, cookies, waffler, rosquinha e champanhe) é a gordura, que juntamente com a farinha e o açúcar compõem a base destes produtos. A gordura é responsável por características essenciais na produção e qualidade dos biscoitos, pois interfere na textura, na palatabilidade, e vida de prateleira. Sendo a gordura hidrogenada a mais utilizada pela indústria alimentícia, devido ao seu baixo custo e elevado ponto de fusão. Essa gordura, quando consumida em maiores quantidades agrava o risco de doenças crônicas 354 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA degenerativas, sendo também um cofator no aumento dos índices de sobrepeso e obesidade (SILVA, 2015). Os novos padrões de vida acabam por acarretar em mudanças nos hábitos do consumo alimentar, sobretudo, no que diz respeito aos alimentos industrializados. A preocupação dos consumidores em relação ao bem-estar e à composição dos produtos estão ganhando importância dentre os fatores que influenciam a compra (BAYARRI et al., 2010). Desta forma, as preocupações com a saúde estão se tornando um dos elementos mais relevantes para o consumo dos alimentos (KALLAS; REALINI; GIL, 2014). Esta tendência deu origem a uma nova gama de produtos no mercado que melhora a saúde pelo aumento do bem-estar e reduz o risco de certas doenças (BAYARRI et al., 2010). Assim, alimentos com níveis reduzidos de gordura total e níveis elevados de ácidos graxos insaturados ganharam participação no mercado (GANGULY; PIERCE, 2015). Neste cenário percebe-se um aumento das campanhas de sensibilização em torno do consumo de alimentos funcionais (YOO et al., 2013). Os quais, de acordo com Candido e Campos (2005), podem trazer benefícios fisiológicos específicos, quando consumidos diariamente, devido à presença de compostos bioativos naturais. Assim sendo, os cookies tidos como saudáveis também estão apresentando taxas de crescimento bastante expressivas, evidenciando uma oportunidade de expansão da produção (PAREYT; DELCOUR, 2008). Nesse contexto, neste trabalho objetivou-se fazer uma revisão de literatura à respeito das inovações tecnológicas 355 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA desenvolvidas com biscoitos tipo cookies, que buscam substituições na composição físico-química e/ou nutricional deste alimento. 2 MATERIAIS E MÉTODO O presente trabalho consiste em uma revisão da literatura científica referente à abordagem de biscoitos e cookies e seus constituintes, buscando também os novos produtos com uma melhor composição nutricional. Foram pesquisados artigos científicos, publicados de 2000 a 2015, escritos em português e inglês, nas bases de dados: Pubmed, Lilacs, Scielo e Medline; utilizando os termos descritores: lipídios, biscoitos, cookies, alimentos funcionais, inovações tecnológicas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 LIPÍDIOS NOS ALIMENTOS A qualidade dos produtos de panificação é afetada pelas propriedades dos lipídios, como: incorporação de ar, lubrificação, transferência de calor, maciez, umidade, palatabilidade, estrutura e vida de prateleira (ZHONG; ALLEN; MARTINI, 2014). As propriedades físico-químicas (estrutura molecular, proporção líquido-sólido, tamanho e forma dos cristais, ponto de fusão) dos lípidos exercem influência na textura e no volume final dos produtos alimentícios. O elevado consumo de ácidos graxos trans industriais (AGTi) e ácidos graxos saturados (AGS) está associado a 356 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA distúrbios metabólicos, ao aumento das doenças crônicas, devido a elevação na concentração dos níveis das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), e ao aumento nos níveis das lipoproteínas de alta densidade (HDL) (NESTEL, 2014). Devido a esses fatores, ao longo dos últimos anos, tem sido abordado em todo o mundo a reformulação dos produtos alimentares, juntamente com a redução na ingestão de gorduras parcialmente hidrogenadas, seja de forma voluntária ou imposta por restrições legais de conteúdos de AGS e AGTi nos alimentos industrializados. Em 2003, a Dinamarca foi o primeiro país a adptar a alegislação, definindo um limite máximo de 2% em relação ao nível de AGTs industrializados em alimentos processados (SANTOS; CRUZ; CASAL, 2015). Além disso, desde 2006, a Food and Drug Administration (FDA) exige a indicação dos AGTi na rotulagem dos produtos alimentícios que contenham no minimo 0,5 g por porção (SANTOS; CRUZ; CASAL, 2015). No entanto, no Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), permite a utilização de ―livre de gordura trans‖ nos rótulos de produtos alimentícios que contém uma quantidade máxima de 0,2 g de AGTs ou de 2 g de AGS por porção de 100 g. Com isso, muitas indústrias vêm utilizando a ferramenta de diminuição da porção para alegar no rótulo que o produto é livre de gorduras trans. 3.2 CONSTITUINTES DOS BISCOITOS Proveniente da massa elástica e extensa, o biscoito é elaborado comumente em duas etapas, incialmente pela 357 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA mistura da massa e, posteriormente, pela sua modelagem, que ocorre antes da cocção. Durante o cozimento, a massa tende a se espalhar, devido a sua extensibilidade, que depende quantitativamente e qualitativamente dos ingredientes utilizados, como farinha, açúcar e gordura; da forma de preparo da massa; e das condições de cocção aplicadas (MANLEY, 2011). Sendo durante o processo de cocção da massa a ocorrência das reações bioquímicas e físico-químicas, que darão característica ao produto final. No processo de cocção ocorrem as principais reações; entre elas, as relacionadas aos carboidratos (gelatinização do amido), lipídeos (oxidação), proteínas (desnaturação proteica), interações proteína-água, evaporação da água, expansão da massa pela produção de gás e reações de escurecimento (Maillard e caramelização). De acordo com Chevallier et al. (2000), os ingredientes utilizados podem ser divididos em duas categorias: amaciadores e estruturadores. Os primeiros compreendem o açúcar, gema de ovos, gorduras e fermentos, e como estruturadores podemos citar a farinha e a água. 3.3 LIPÍDIOS E BISCOITOS A gordura, por sua vez, desempenha um papel fundamental na elaboração dos biscoitos e contribui com algumas características físico-químicas e sensoriais importantes, dependendo do tipo e teor da gordura, melhorando o paladar e o sabor (HADNADEV et al., 2011; PAREYT; DELCOUR, 2008). Gorduras ou produtos de gordura sólida são necessários na fabricação dos biscoitos, pois possuem propriedades 358 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA plásticas adequadas (consistência, temperatura de fusão elevada), permitindo a incorporação do ar durante a formação da massa e o alcance de altas temperaturas durante o cozimento, que é fundamental no formato final dos biscoitos (LEE; AKOH, 2008). Margarina, gordura vegetal e manteiga são as gorduras mais frequentemente utilizadas. Elas contêm altos níveis de ácidos graxos saturados e, em alguns casos, os ácidos gordos trans (GHOTRA; DYAL; NARINE, 2002). Lubrificar a massa, facilitar o processo, reduzir os tempos de mistura, melhorar a absorção, o volume, a cor, suavizar as superfícies, a estabilidade, a vida útil e o amaciamento da massa são contribuições essenciais da gordura (BENASSI; WATANABE; LOBO, 2001). De acordo com Jacob e Leelavathi (2007), o lipídio é um dos componentes básicos da formulação de biscoitos e se apresenta em níveis relativamente altos. Algumas formulações apresentam conteúdo entre 30 e 60% de lipídios, 30 e 75% de açúcar e possuem baixo teor de umidade, variando entre 7 e 20%. Os lipídios influenciam na maciez e maleabilidade do biscoito; já os açúcares, como a sacarose contribuem para o aumento do diâmetro do biscoito bem como para a característica de fraturabilidade ou quebra (PERRY et al., 2003). No entanto, os efeitos negativos sobre a saúde estão associados ao consumo de gorduras trans industriais, e saturadas, que têm uma grande utilização na indústria alimentícia, devido à maior estabilidade oxidativa, a elevados pontos de fusão, e ao fato de se comportarem como sólidas 359 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA em temperatura ambiente (WALKER; SEETHARAMAN; GOLDSTEIN, 2012). Segundo Seker et al. (2010) as propriedades físicas e sensoriais de biscoitos preparados com substitutos de gordura diferem dos biscoitos convencionais, pois são mais duros e quebradiços e têm um conteúdo de umidade e atividade de água maior. Neste sentido, Tarancón (2013) concluiu que quando houve a remoção de parte significativa da gordura dos biscoitos, os consumidores perceberam importantes diferenças na textura e no sabor. No entanto, com a redução moderada da gordura, os biscoitos apresentaram propriedades sensoriais semelhantes aos elaborados com o máximo de gordura. 3.3 SUBSTITUIÇÕES E INOVAÇÕES NA ELABORAÇÃO E COMPOSIÇÃO DE COOKIES Devido à diversidade na produção de biscoitos, os cookies, particularmente, caracterizam-se por uma menor exigência em força de glúten (RAE, 2011), e elevado teor de gordura. Assim sendo, cookie, é uma excelente matriz alimentar para a substituição parcial ou total da farinha de trigo, por outras farinhas (arroz, coco, amêndoas, banana), e da gordura saturada e trans industriais, por gorduras poliinsaturas, havendo também a possibilidade da adição de outros ingredientes, com o intuito de elevar a qualidade nutricional e/ou sensorial. Ao longo dos anos, têm sido relatados vários estudos para melhorar o valor nutritivo dos cookies através da incorporação de proteína de soja e fibras (SHRESTHA; NOOMHORM, 2002) grão de bico e lentilha (ZUCCO; 360 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA BORSUK; ARNTFIELD, 2011), aveia e bagaço da uva (PIOVESANA, 2013) e farinha desengordurada de gergelim (CLERECI, 2013). Hyun-Jung Chung (2014), a partir da elaboração de cookies com farinha de trigo, arroz branco, arroz integral e de arroz integral germinado, desenvolveu cinco formulações, sendo a controle com 100% farinha de trigo, e as outras com substituição de 30, 50, 70 e 100%. O estudo constatou que os cookies contendo qualquer uma das farinhas de arroz apresentaram teores de umidade mais elevados do que o biscoito controle, exceto os biscoitos contendo 100% farinha de arroz. Conclui-se que através das substituições, os biscoitos podem ter aumentado a heterogeneidade nas alterações dos componentes, tais como proteínas, amidos e fibras, o que podem contribuir para a mudança de retenção da umidade durante o cozimento. Resultado semelhante foi encontrado por AgamaAcevedo (2012), em cookies elaborados com farinha de banana verde, que obtiveram o teor de umidade mais elevado que a mostra controle, com 100% farinha de trigo. O autor associa a maior absorção de água às fibras dietéticas, que são utilizadas em produtos alimentares, como ingrediente funcional. Pareyt e Delcour (2008) afirmaram a importância da água na determinação da textura e da aceitabilidade dos cookies, fato que tem relação direta com a umidade. Pareyt et al. (2009) descreveu as consequências estruturais e texturais da redução de gordura e açúcar nos cookies. Eles relataram uma modificação no padrão da microestrutura, diâmetro, altura e superfície de craqueamento do biscoito. No entanto, as consequências sensoriais da 361 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA diminuição da gordura e do açúcar vão depender do produto e do nível de redução. Em biscoitos com uma redução de 50% de manteiga não foi distinguível, ao passo que uma redução de 25% de açúcar foi considerada como significativamente menos doce do que uma bolacha padrão. Em outro estudo, Biguzzi, Schlich e Lange (2014) observou que a redução do teor de gordura e/ou açúcar em biscoitos pode ser uma forma de melhorar a sua composição nutricional. Setenta e nove consumidores de biscoitos analisaram o impacto dessas reduções no gosto, através da avaliação da crocância. Os biscoitos com pouca redução no teor de açúcar foram percebidos como menos doce em relação aos biscoitos padrão; ao passo que os biscoitos com maior redução no teor de gordura foram percebidos como menos gordurosos, do que biscoitos padrão. A redução no teor de açúcar não teve nenhum efeito sobre a percepção de gordura, enquanto que a redução do teor de gordura induziu uma sensação de menor doçura. Costa, Soares e Cavalcanti (2014) com o intuito de desenvolver cookies para celíacos e melhorar sua composição nutricional, fizeram a substituição de 100% da farinha de trigo por farinha de arroz, e substituíram a gordura vegetal por pasta de amendoim. O estudo foi realizado com cinquenta e dois provadores, onde analisaram aparência, cor, textura, sabor, aroma e avaliação global, todos os atributos obtiveram média superior a sete, sendo nove a nota máxima, e 62,26% dos provadores responderam ao Teste de Intenção de Compra que comprariam os cookies. Sendo estes cookies uma opção de alimento sem glúten para celíacos e intolerantes ao glúten, e também para os que buscam alimentos mais nutritivos. 362 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA Biguzzi, Schlich e Lange (2014), observaram que, a redução da gordura é sensorialmente mais aceita que a do teor de açúcar em biscoitos, visto que produtos percebidos como menos doce possuem um baixo nível de aceitação. O impacto causado pela redução de açúcar é mais notável do que o causado pela redução de gordura pelo fato de que a percepção da gordura é sabidamente mais complexa para ser percebida e caracterizada do que a da doçura (DREWNOWSKI; ALMIRON-ROIG, 2010). 4 CONCLUSÃO Os estudos mostram o quão é importante substituir e/ou reduzir os ingredientes básico presente nas formulações dos biscoitos e cookies, por ingredientes que aumentem o valor nutricional e sensorial destes alimentos. Visto que os biscoitos estão presentes quantitativamente na alimentação das pessoas, e que seu consumo excessivo pode promover malefícios à saúde. Assim, os cookies são uma alternativa para a utilização de ingredientes funcionais, bem como um veículo para a incorporação de resíduos e/ou subprodutos, e adição de compostos bioativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIMAPI. Dados Globais: biscoitos vendas. São Paulo. Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados, 2014. Disponível em: http://www.abimapi.com.br/estatistica-biscoito.php. Acesso em: 10 jun. 2015. ABIMAPI. Dados Nacionais: biscoitos per capita. São Paulo. Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos 363 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS NA ELABORAÇÃO DE COOKIES: UMA REVISÃO DE LITERATURA Industrializados, 2014. Disponível em: http://www.abimapi.com.br/estatistica-biscoito.php. Acesso em: 20 jun. 2015. 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[email protected] RESUMO: O Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil buscou fortalecer a atenção dos serviços de saúde aos seus portadores. O PET-Saúde em Unidades de Saúde da Família construiu Projetos Terapêuticos Singulares para usuários portadores de DCNT restritos ao domicílio, sendo importante avaliar o consumo alimentar e determinar o estado nutricional destes indivíduos acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PETSaúde. Foi realizada uma pesquisa de campo com um grupo de 18 indivíduos adultos e idosos, de ambos os gêneros. Para a coleta de dados utilizou-se uma ficha clínica com dados antropométricos e recordatório de 24 horas. Com relação aos resultados encontrados, dos 18 indivíduos, 61,1% eram homens. A hipertensão isolada e associada (89,13%) foi a patologia mais encontrada. A média do IMC (27,42±6,82 kg/m²) indicou sobrepeso. A média da circunferência da cintura classificou risco muito elevado para as mulheres. A 368 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Circunferência do Braço para ambos indicou eutrofia. A média do consumo alimentar consistiu em dieta hipocalórica, hiperglicídica, hiperprotéica e hipolipídica para ambos os gêneros. Todos os micronutrientes apresentaram alguma prevalência de inadequação. Conclui-se que a maioria dos indivíduos tinha sobrepeso/obesidade. Observou-se um consumo abaixo das necessidades calóricas e uma elevada prevalência de inadequação de micronutrientes. Palavras-chave: Doenças crônicas. Cuidados nutricionais. Pacientes domiciliares. 1 NTRODUÇÃO As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são as principais causas de óbitos no mundo, gerando um elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida com alto grau de limitação nas atividades de trabalho e de lazer, além de impactos econômicos para as famílias, comunidades e a sociedade em geral, agravando as injustiças e aumentando a pobreza (OPAS, 2005). Como resposta ao desafio das DCNT, o Ministério da Saúde (MS) do Brasil tem implementado importantes políticas para o combate a essas doenças, exigindo esforços do setor saúde e outros setores conjuntamente. Com isso, o MS lançou o ‗Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT no Brasil 2011-2022‘ (BRASIL, 2011). Neste sentindo, insere-se o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), que visa efetivar mudanças nos modelos de formação dos profissionais de saúde, tendo como princípios orientadores as Diretrizes 369 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Curriculares Nacionais e as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) (CAMPOS, 2009). O grupo tutorial Estratégia Saúde da Família (ESF) e Redes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) viabilizou como ferramenta de cuidado em resposta as necessidades do SUS, a construção de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) para usuários portadores de DCNT restritos ao domicílio, oferecendo qualidade de vida a essas pessoas, que em sua maioria o acesso aos serviços de saúde são limitados, pelas próprias condições da restrição. Frente a isso, a avaliação nutricional tem papel determinante, uma vez que utilizando indicadores específicos, permite identificar os distúrbios nutricionais, possibilitando uma intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do estado de saúde do indivíduo, bem como fornecer informações sobre a adequação nutricional em relação a um padrão compatível com a saúde a longo prazo (GOMES; ANJOS; VASCONCELLOS, 2010). A antropometria destaca-se entre os métodos objetivos de avaliação nutricional por ser um método com a obtenção rápida dos resultados; a utilização de equipamentos de fácil aquisição e de técnicas não invasivas, podendo ser realizadas no leito. Entre suas limitações tem-se: a incapacidade de detecção de distúrbios recentes no estado nutricional e de identificação de deficiência específicas devendo ser utilizadas em conjunto com outros indicadores, como inquéritos dietéticos, exames físicos e bioquímicos (PASSONI, 2005). Os inquéritos dietéticos são os métodos utilizados para avaliação do consumo alimentar de indivíduos e populações e 370 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE devem ser escolhidos de acordo com as características do indivíduo e a proposta de atendimento. Esses métodos podem fornecer informações qualitativas e quantitativas a respeito da ingestão alimentar, possibilitando, dessa forma, relacionar a dieta ao estado nutricional do indivíduo e ao aparecimento de doenças crônico degenerativas (PONT, 2009). Dessa forma, o acompanhamento desses usuários restritos ao domicílio por meio da avaliação do estado nutricional tem extrema importância por melhorar a qualidade dos anos de vida, garantir maior autonomia ao indivíduo enfermo, além de prevenir a ocorrência de reinternações e, consequentemente, os gastos públicos com esses pacientes. Sendo assim, esse estudo tem por objetivo avaliar o consumo alimentar e determinar o estado nutricional de usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo PET-Saúde ESF e Redes. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizada uma pesquisa de campo em quatro Unidades de Saúde da Família (USF) do município de João Pessoa/PB, ao qual o PET-SAÚDE ESF e Redes acompanhava, onde preceptores e estudantes desenvolviam atividades no espaço de trabalho, especificamente, a construção de PTS com a equipe de saúde e os indivíduos envolvidos. Tutores (professores da UFPB) eram responsáveis pela coordenação de estudantes e preceptores, e por meio de reuniões pactuavam todas as 371 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE atividades de educação em saúde e pesquisas realizadas no território. A coleta de dados foi realizada por meio das visitas domiciliares dos preceptores e alunos junto com os agentes comunitários de saúde para a construção dos PTS. A população estudada consistiu de um grupo de 18 indivíduos, entre adultos e idosos na faixa etária de 54 a 90 anos, de ambos os sexos, residentes nas áreas de abrangência das USF acompanhadas pelo PET-Saúde ESF e Redes da UFPB. Foram excluídos da pesquisa os usuários que não caracterizavam-se como restritos ao domicílio e/ou não eram portadores de DCNT, bem como por ausência de um cuidador. Os dados foram coletados por meio de uma ficha clínica contendo dados sobre identificação do indivíduo, escolaridade, doenças acometidas, motivo da restrição domiciliar e variáveis antropométricas (Peso, Estatura, IMC, Circunferência da Cintura e Circunferência do Braço) e por um Recordatório de 24 horas (R-24hrs) aplicado três vezes em três momentos distintos para avaliar o consumo alimentar. Para realizar o tratamento e análise dos dados foi utilizado o software AvaNutri versão 4.0 (Demo) para analisar os macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais). Já os dados referentes a antropometria e a ficha clínica foram analisadas no Microsoft Office Excel® 2007, a fim de mensurar a média e o desviopadrão dos indicadores. Em seguida, usou-se o pacote estatístico SPSS 13.0 para a realização da estatística descritiva. 372 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Esse estudo é parte de um projeto de pesquisa intitulado ―PET-SAÚDE Estratégia Saúde da Família e Redes de Atenção: um projeto para o enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis‖, que submetido à análise pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) do Centro de Ciências da Saúde da UFPB, foi aprovado pelo Parecer CEP/CCS nº 170.051/2012. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa teve participação de 18 indivíduos, cuja idade variou de 54 a 90 anos, com média de 71,44±10,78 anos, sendo que a maioria era do sexo masculino. Pouco mais da metade dos indivíduos não eram alfabetizados (55,66%). Metade dos indivíduos estava em sobrepeso/obesidade. Dentre as DCNT mais frequentes, a hipertensão isolada e associada a outras patologias obteve maior prevalência (89,13%). Todos os usuários eram restritos ao domicilio, sendo Acidente Vascular Encefálico (AVE) (33,3%), fraqueza de membros inferiores (33,3%) e a própria DCNT (33,4%) como as causas apontadas para a restrição, como pode-se observar na Tabela 1. Segundo Campos et al. (2006), a população idosa vem crescendo de forma acelerada, devido ao declínio da taxa de fecundidade e mortalidade, e a expectativa em 2050 é que 14,2% da população seja de idosos. Em estudo de Leite-Cavalcanti et al. (2009) que avaliaram a prevalência de doenças crônicas e o estado 373 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE nutricional de um grupo de idosos do município de João Pessoa/PB, demonstraram que 82,1% dos idosos afirmaram ter ao menos uma doença crônica, sendo que 37,6 % relataram possuir uma única doença crônica não transmissível, e a doença crônica mais prevalente foi a hipertensão arterial (HA) (56,4%), seguida de dislipidemia (33,3%) e diabetes mellitus (DM) (20,5%). Tabela 1. Distribuição absoluta e em percentual dos indivíduos de acordo com as variáveis sócio demográficas, nutricionais e de saúde dos usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PET-Saúde. Frequência Variáveis N % Sexo Feminino 07 38,9% Masculino Faixa etária 11 61,1% >60 anos 14 77,88% 04 22,22% Não sabe ler/escrever 10 55,66% Ensino Fundamental I 05 27,82% 04 16,7% <60 anos Escolaridade Ensino Médio Estado Nutricional Magreza 03 16,7% Eutrofia 06 33,33% Sobrepeso / Obesidade DCNT 09 50% Hipertensão 06 33,33% Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) 02 11,11% Hipertensão e DM2 03 16,7% Hipertensão e outras patologias 07 39,1% Motivos da restrição 374 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Acidente Vascular Encefálico (AVE) 06 33,3% Fraqueza de membros inferiores 06 33,3% DCNT 06 33,4% Em relação à antropometria realizada, observou-se que a média do peso dos indivíduos é de 65,23±16,03Kg e a altura média é de 1,54±0,08m. A média obtida do IMC foi de 27,42±6,82Kg/m², cuja classificação indica sobrepeso, conforme tabela 2. A média da circunferência da cintura é de 92,17±11,8cm, e quando analisado conjuntamente, 50% apresentaram-se com CC inadequada, conforme figura 1. A média percentual da adequação da circunferência do braço foi de 97,16±18,95%, indicando eutrofia, podendo-se observar o estado nutricional detalhadamente na figura 2. Gonçalves e Mattos (2008) avaliaram o perfil nutricional de 15 pacientes restritos ao domicilio em Santa Maria/RS, onde 67% apresentavam algum grau de desnutrição, de acordo com o IMC. Pont (2009) afirma que o sobrepeso é crescente em países desenvolvidos, questionando-se suas implicações na morbimortalidade futura, principalmente na população envelhecida. Tabela 2. Análise descritiva do estado nutricional dos usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PET-Saúde. Peso (kg) Estatura (m) IMC (kg/m²) CC (cm) Adequação da CB (%) Média 65,23 1,54 27,42 92,17 Mínimo 40,23 1,41 15,41 70 Máximo 96,0 1,71 44,74 108 Desvio Padrão 16,03 0,08 6,82 11,8 97,16 71,66 146,1 18,95 375 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE 8 10 5 1 6 3 Sexo Feminino Sexo Masculino 0 Sem risco Risco muito elevado Figura 1. Risco nutricional para desenvolvimento de Doenças Cardiovasculares segundo a Circunferência da Cintura, dos usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PET-Saúde. Em relação à Circunferência da Cintura, a média foi de 90,18±11,59cm nos indivíduos do sexo masculino, sendo classificados como sem risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Por outro lado, os indivíduos do sexo feminino (figura 1) apresentaram CC média de 95,28±12,34cm indicando risco elevado para DCV. Já a média percentual da adequação da Circunferência do Braço para os homens foi de 90,16±13,19% classificando-se em eutrofia, bem como para a média encontrada nas mulheres (108,17±22,75%), porém, 45% dos indivíduos demonstraram algum tipo de desnutrição, conforme figura 2. A CC aumentada proporciona risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular, e o individuo idoso já apresenta um maior risco devido ao envelhecimento, que apresenta como características vasos sanguíneos menos elásticos e resistência periférica total aumentada, elevando também o risco de hipertensão (VILLAREAL et al., 2005). 376 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Já a CB reflete redução tanto da gordura subcutânea quanto da massa magra. Estudos sugerem que a CB tem alta correlação com o IMC e pode ser um bom indicador em substituição ao IMC ou mais um mensurador de avaliação do estado nutricional da população geriátrica (ARAUJO; FARIA; PEREIRA, 2007). Segundo Menezes e Marucci (2010), apesar da CB não ser o melhor indicador de massa muscular, o perímetro do braço sofre modificações com o declínio da quantidade de tecido muscular, visto que ele apresenta o somatório das áreas constituídas pelos tecidos ósseo, muscular, gorduroso e epitelial do braço, mostrando-se reduzido com o decorrer da idade. 11% 17% Desnutrição moderada 28% Desnutrição leve 11% 33% Eutrofia Figura 2. Classificação do estado nutricional de acordo com o percentual da adequação da circunferência do braço, dos usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PET-Saúde. A partir da análise do consumo alimentar observou-se que a adequação do Gasto Energético Estimado (GEE) foi de 83,54±31,15% para os indivíduos do sexo masculino, e de 85,65±21,22% para o sexo feminino, ressaltando-se que uma dieta é considerada adequada quando o percentual de adequação encontra-se entre 95% e 105%, tendo em vista o 377 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE valor energético médio recomendado para homens (1628,98±300,28kcal) e mulheres (1888,99±283,87kcal) e o consumido de 1409,52±496,09kcal e 1604,08±414,21kcal para os indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamente. No estudo de Gonçalves e Mattos (2008), verificaram uma inadequação da ingesta alimentar por parte dos pacientes avaliados, devido ao baixo consumo calórico, o que pode ser um fator desencadeante da alta prevalência de desnutrição encontrado no estudo. Os autores ainda relatam o fato de haverem pessoas na amostra com ingesta alimentar superior ao recomendado o que poderia modificar alguns resultados do estudo, assemelhando-se com o encontrado nesse estudo. A figura 3 expressa, em percentual, a distribuição média recomendada e consumida dos macronutrientes, sendo que os carboidratos (CHO) e proteínas (PTN) apresentaram média de consumo, em ambos os sexos, acima do recomendado, em relação à ingestão média de lipídeos (LIP), apresentou-se abaixo das recomendações em ambos os sexos. Portanto, caracterizou-se a dieta dos indivíduos do sexo masculino e feminino em hipocalórica, hiperglicídica, hiperproteica e hipolipídica. 378 62,89 55 66,22 55 30 22,42 19,07 15 30 21,58 17,77 15 Recomendado Consumido Mulheres CHO PTN LIP 70 60 50 40 30 20 10 0 CHO PTN LIP Percentual (%) AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Homens Figura 3. Distribuição, em percentual, da ingestão média dos macronutrientes recomendada e consumida pelos usuários restritos ao domicílio acompanhados pelo grupo tutorial ESF e Redes do PET-Saúde. Fonte: Institute of Medicine – Dietary Reference Intakes: 45-65% para carboidratos; 10-35% para proteínas e 20-35% para lipideos, 2002. O estudo de Schmaltz (2011), que utilizou como recomendação 55% de carboidratos, 15% de proteínas, e 30% de lipídios para o valor calórico total das refeições, encontrou uma média de consumo maior que as recomendações de carboidratos e proteínas, e consumo inferior para os lipídios. O autor destacou, no entanto, que apesar de o consumo de proteínas ter sido elevado, predominava na instituição a oferta de proteínas de baixo valor biológico (cereais e leguminosas). A gordura total da dieta deve estar entre 25-30%, as faixas de valores de ingestão são associadas à diminuição do risco de doenças crônicas provenientes da alimentação; então, se o indivíduo ingerir acima ou abaixo do recomendado, o risco pode estar aumentado ou ocorrer deficiências (VITOLO, 2008). 379 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE Em relação aos micronutrientes, observou-se que as maiores prevalências de inadequação, em ambos os sexos, ocorreram para Magnésio, Cobre e Folato, apresentando 99,99% para todos. Além desses, a Vitamina A e Vitamina B6 em mulheres, e Vitamina E em homens, apresentaram a maior prevalência de inadequação (99,99%). Todos os micronutrientes apresentam alguma prevalência de inadequação em ambos os sexos, e o Fósforo em homens é o com menor prevalência de inadequação (0,14%). Em estudo de Araújo et al. (2013), que estimou o consumo de energia e nutrientes e a prevalência de ingestão inadequada de micronutrientes em adultos brasileiros, observaram uma acentuada inadequação na ingestão de vários micronutrientes na alimentação dos adultos brasileiros, sendo observado que os grupos com maior risco de inadequação foram as mulheres e os indivíduos que residem na área rural e na região Nordeste. O atual perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira pode implicar nas elevadas prevalências de inadequação observadas neste estudo, caracterizado pelo crescente número de adultos e idosos e pela elevada carga de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas ao envelhecimento (LEBRÃO; LAURENTI, 2005). 4 CONCLUSÕES Portanto, pode-se concluir que os usuários restritos ao domicílio que participaram do estudo, tinham em sua maioria, sobrepeso e obesidade; a CC nas mulheres apresentou risco 380 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE muito elevado para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Por outro lado, a CB quando analisou a desnutrição conjuntamente obteve um resultado maior que a eutrofia indicada, confirmando que com o declínio da idade, ocorre perda de tecido muscular e aumento da gordura na região abdominal. Com relação ao consumo alimentar, as necessidades calóricas estavam abaixo para ambos os sexos. Porém, devese ressaltar que os dados referentes ao gasto energético no Recordatório de 24 horas podem estar subestimados. A elevada prevalência de inadequação na ingestão de quase todos os micronutrientes para os indivíduos pode ser vista como parte da mudança ocorrida no perfil demográfico e epidemiológico da população, logo que estes podem ser fatores que estão diretamente ligados à elevada carga de DCNT e seus comprometimentos à saúde. Assim como, o papel protetor de alguns micronutrientes na etiologia das DCNT também está comprometido devido às dietas apresentarem baixa ingestão desses micronutrientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, C. R.; FARIA, H. M. R.; PEREIRA, O. A. V. Análise do perfil nutricional de idosos do movimento da terceira idade praticantes de hidroginástica. Revista Nutrir Gerais, v. 1, n. 1, 2007. ARAÚJO, M. C. et al. Consumo de macronutrientes e ingestão inadequada de micronutrientes em adultos. Rio de Janeiro, Revista de Saúde Pública, v. 47, supp. 1, p. 177s-89s, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: 381 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS RESTRITOS AO DOMICÍLIO ACOMPANHADOS PELO GRUPO TUTORIAL ESF E REDES DO PET-SAÚDE <portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_plano.pdf>. Acesso em: 20 set. 2015. CAMPOS, H. O desafio de formar o médico contemporâneo. Cad. Ciência e Saúde, Jornal O Povo, v. 18, 2009. CAMPOS, M. A. G. et al. Estado nutricional e fatores associados em idosos. Rev Assoc Med Bras., v. 52, n. 4, p. 214-21, 2006. GOMES, F. S.; ANJOS, L. A.; VASCONCELLOS, M. T. L. Antropometria como ferramenta de avaliação do estado nutricional coletivo de adolescentes. Rev. 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Programa de Atendimento Multidisciplinar a Saúde do Idoso: avaliação do Estado Nutricional e do Consumo Alimentar. 2009. Tese [Graduação em Nutrição] - Universidade do Extremo Sul Catarinense, Tubarão. SCHMALTZ, R. M. L. C. Avaliação do consumo alimentar de idosos institucionalizados da cidade de Paracatu, MG. Revista Augustus, Rio de Janeiro, v. 16, n. 32, p. 21-7, 2011. VILLAREAL et al. Obesity in older adults: position statement of the American Society for Nutrition and The Obesity Society. Am J Clin Nutr., v. 82, p. 923, 2005. 382 NUTRIÇÃO E GESTÃO EM ALIMENTAÇÃO COLETIVA 383 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO CAPÍTULO 28 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Louyse Patrícia Vale DINIZ1 Edjeyse de Oliveira CUNHA1 Julia Santos de SOUZA¹ Washington Luís Fernandes da SILVA2 Giseuda Dias MONTEIRO2 1 Nutricionista Residente Multiprofissional em Saúde Hospitalar, com ênfase em Paciente Crítico, no Hospital Universitário Lauro Wanderley, UFPB, João Pessoa; 2 Nutricionista no Hospital Universitário Lauro Wanderley, UFPB, João Pessoa. RESUMO: As Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) são responsáveis pela administração e produção de refeições de forma nutricionalmente equilibrada, com um bom padrão higiênico-sanitário, a fim de contribuir na manutenção ou recuperação da saúde de coletividades, e ainda, auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. Para garantir a qualidade, tanto do ponto de vista nutricional quanto operacional da refeição servida por uma UAN, um nutricionista deve dispor de ferramentas que o auxiliem nessa tarefa. Este trabalho, portanto, tem como objetivo a elaboração e implantação do uso de Fichas Técnicas de Preparação (FTP), instrumento que beneficia todo o processo de produção, na UAN de um Hospital Psiquiátrico. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e de caráter quantitativo. Acompanhouse os procedimentos de preparo das 3 preparações principais servidas durante o almoço, em 6 dias de análise. Percebeu-se diferenças significativas na produção das refeições, no que diz respeito aos manipuladores de alimentos, ausência de padronização das refeições, forma de cocção ou preparo dos 384 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO alimentos, ressaltando a importância das FTPs para um melhor funcionamento do serviço e maior qualidade do serviço prestado aos usuários. Palavras chave: Unidade de Alimentação e Nutrição; Ficha Técnica de Preparo; Refeição. 1 INTRODUÇÃO A alimentação é necessidade básica para qualquer sociedade. Influencia a qualidade de vida por ter relação com a manutenção, prevenção ou recuperação da saúde. Deve ser saudável, completa, variada, agradável ao paladar e segura para que, assim, possa exercer seu papel (ZANDONADI, et. al., 2007). Nutrição é a ciência que estuda os alimentos, seus nutrientes, bem como sua ação, interação e balanço em relação à saúde e doença, além dos processos pelos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza e excreta os nutrientes. Dieta é o conjunto de alimentos que o indivíduo consome diariamente com as substâncias nutritivas denominadas nutrientes (FISBERG, et al., 2005). Uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) é considerada como a unidade de trabalho ou órgão de uma empresa que desempenha atividades relacionadas à alimentação e à nutrição, independentemente da posição que ocupa na escala hierárquica da instituição (CARDOSO; SOUZA; SANTOS, 2005). As UANs, portanto, são unidades que pertencem ao setor de alimentação coletiva, cuja finalidade é administrar a produção de refeições de forma nutricionalmente equilibrada, com um bom padrão higiênico-sanitário para consumo fora do lar, que possam contribuir na manutenção ou recuperação da 385 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO saúde de coletividades, e ainda, auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (COLARES e FREITAS, 2007). Em uma unidade hospitalar, vários critérios são estabelecidos com a finalidade principal de recuperar a saúde do paciente, enquadrando nessas exigências a dieta, a qual faz parte do seu tratamento. Assim, os funcionários, de um modo geral, estão envolvidos nesse processo, mas aqueles que trabalham em UAN hospitalar têm uma responsabilidade particular, porque estão alimentando pessoas enfermas, cujo sistema imunológico provavelmente encontra-se debilitado (SOUSA e CAMPOS, 2003). De acordo com a Resolução CFN 380/2005, o trabalho de um nutricionista em uma UAN visa planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição, realizar assistência e educação nutricional a coletividade ou indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas. Além disso, no que se refere às UAN de ambientes especiais, como em hospitais, o nutricionista tem de prestar assistência dietética e promover educação nutricional a indivíduos, sadios ou enfermos, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde. Dentre outras das atribuições específicas deste profissional, estão as seguintes atividades: planejar cardápios de acordo com a necessidade de seus clientes; coordenar e executar os cálculos de valor nutritivo, rendimento e custo das refeições e/ou preparações culinárias; e planejar, implantar, coordenar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações culinárias (ABREU; SPINELLI e PINTO, 2009). 386 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Então, para garantir a qualidade, tanto do ponto de vista nutricional quanto operacional da refeição servida por uma UAN, um nutricionista deve dispor de ferramentas que o auxiliem nessa tarefa. Para Akutsu et al. (2005), a Ficha Técnica de Preparação (FTP) é um instrumento gerencial de apoio operacional, pelo qual se fazem o levantamento dos custos, a ordenação do preparo e o cálculo do valor nutricional da preparação. FTPs, ou também denominadas receitas padrão, são fórmulas escritas para produzir um item alimentar em quantidade e qualidade específicas para uso num determinado estabelecimento. Esse item deve apresentar as quantidades e qualidades exatas dos ingredientes juntamente com a sequência correta de preparação e serviços. Com isso, tem como objetivo: determinar a quantidade e a qualidade dos ingredientes que devem ser usados; o rendimento que é possível conseguir com a receita programada; o custo por porção dos alimentos e o valor nutritivo de determinado prato padrão (ABREU; SPINELLI e PINTO, 2009). Assim, além de permitir uma padronização da qualidade e um planejamento de operações e de custo, a FTP, permite também que se incorporem novas receitas à unidade sem esquecimento das demais e que, se um prato for retirado temporariamente do cardápio, possa retornar com as mesmas características. (ABREU; SPINELLI e PINTO, 2009). Portanto, este trabalho tem como objetivo a elaboração e implantação do uso de FTP na UAN de um Hospital Psiquiátrico, em Natal, Rio Grande do Norte. 2 MATERIAIS E MÉTODO 387 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO 2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA O trabalho caracteriza-se como um estudo exploratório, descritivo e de caráter quantitativo, com ênfase na elaboração e utilização de FTPs na UAN de um Hospital Psiquiátrico, em Natal-RN. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO O trabalho foi realizado em um Hospital Psiquiátrico, o qual foi pioneiro, no Rio Grande do Norte, no tratamento psiquiátrico especializado e, atualmente, configura-se em uma instituição filantrópica, sem fins econômicos. Trata-se de um complexo de assistência em saúde mental, oferecendo internação em tempo integral, semi-internamento em hospitaldia, pronto socorro psiquiátrico e atendimento ambulatorial em psiquiatria. A UAN do Hospital conta com um corpo de 19 funcionários, dentre estes 2 cozinheiros por dia, fornecendo, em média, 280 refeições/dia (desjejum, almoço, jantar e ceia), sendo 170 destas refeições, para os pacientes atendidos e mantidos através do Sistema Único de Saúde (SUS). 2.3 COLETA DE DADOS O objetivo da pesquisa concentrou-se na elaboração de FTP das preparações servidas no almoço. Para tanto, foi acompanhada a elaboração de 3 preparações servidas durante esta refeição, 1 vez por semana, em 6 semanas, no período de 04 de abril à 09 de maio de 2013, totalizando 6 dias de análise. 388 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO O modelo de FTP (Apêndice 1) utilizada possui as seguintes informações: ingredientes, descrição do peso líquido (PL), valores per capita de PL, Fator de Correção (FC), Peso Bruto (PB), quantidade total, medidas caseiras, modo de preparo, cálculos referentes ao custo (total e per capita), rendimento (porção média e total), ao Fator de Cocção (Fcç), além do valor nutricional dos ingredientes da preparação. Dessa forma, os ingredientes deveriam ser pesados, antes de ir à cocção ou preparo, com o auxílio de balança com capacidade para 150 kg, para obtenção dos valores de PB, PL, quantidade total e, consequentemente, identificação das medidas caseiras e cálculo do valor nutricional. Porém, devido à ausência de balança nestas condições no local, estes valores foram estimados pelo relato dos funcionários e, quando possível, por aferição em balança digital de cozinha, de marca Imperial, com capacidade máxima para 5 kg (valores aferidos demonstrados no Quadro 1). Quadro 1. Valores de gramatura de alimentos obtidos por aferição em balança digital de cozinha, de marca Imperial, com capacidade máxima para 5 kg. ALIMENTO PESO AFERIDO (medida caseira) Alho (triturado) 1 colher de servir: 100g Cebola 1 unidade média: 133g Cebolinha 1 molho médio: 54g Cenoura 1 unidade média: 193g Coentro 1 molho médio: 35g Margarina 1 colher de servir: 70g Óleo de soja 1 colher de servir: 50mL / 1 concha: 60mL Pimentão 1 unidade grande: 190g Sal de ervas 1 colher de sopa cheia: 21g Sal refinado 1 colher de sopa cheia: 29g Tomate 1 unidade média: 107g Vinagre 1 C servir: 50mL 389 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Pelo mesmo motivo anterior, foram utilizados os valores teóricos para FC, segundo o livro ―Alimentos Per Capita‖ (ARAÚJO e GUERRA, 2007). E, de acordo com a lista de pedido de gêneros, pertencente ao Hospital e fornecida pela Nutricionista do local, foi estabelecido o custo dos ingredientes. 2.4 ANÁLISE DOS DADOS Foi analisado, portanto, o valor nutricional das preparações referente à: proteína, carboidrato, lipídio, gordura saturada, colesterol, fibras, sódio, cálcio, ferro, vitamina A e C, através do programa Microsoft Office Excel 2007, e de acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, da UNICAMP); Tabela de Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no Brasil, através da pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009 (IBGE); Tabela de Composição de Alimentos: suporte para decisão nutricional, de Sônia Tucunduva Philippi, ou ainda por meio de FTP ou rótulo do alimento, seguindo esta ordem de prioridade. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A alimentação é caracterizada, portanto, como fenômeno de extrema complexidade, que envolve aspectos psicológicos, fisiológicos e socioculturais. (Recomendações de Alimentação e Nutrição Saudável para a População Brasileira). Em âmbito hospitalar, a preocupação com a alimentação e com os indicadores do estado nutricional dos indivíduos enfermos é ainda maior, uma vez que a desnutrição neste ambiente continua sendo a causa mais frequente do aumento 390 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO da morbimortalidade na internação (SOUSA; GLORIA e CARDOSO, 2011). Em se tratando do Hospital Psiquiátrico em questão, as refeições servidas pela UAN do mesmo são simples e, geralmente, são produzidos os mesmos cardápios por cada dia da semana. Por esse motivo, durante as 6 semanas de análise, não foi possível a coleta de preparações distintas, visto que o acompanhamento deste trabalho se deu em um mesmo dia da semana. Mas, ainda assim, sabendo-se da importância de FTP em um serviço de alimentação, foram elaboradas nove FTP (de acordo com o modelo encontrado em Apêndice 1) das três preparações principais servidas no almoço, de três dias diferentes de análise, visto que nos outros três dias de coleta as preparações se repetiram e, dessa forma, foram selecionados os melhores dados para elaboração das fichas. As preparações contempladas pela elaboração das FTP se encontram descritas no quadro abaixo (Quadro 2). Quadro 2. Demonstração das preparações que deram origem as Fichas Técnicas de Preparação (FTP). Fichas Técnicas de Preparação (FTP) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Arroz refogado Arroz com sal de ervas Arroz com cenoura Feijão branco com vinagrete Frango cozido à primavera Feijão branco com sal de ervas Frango assado com sal de ervas Feijão branco com farofa Frango assado Com a análise dos resultados obtidos através da elaboração das FTP dos dias 1, 2 e 3, percebem-se diferenças significativas na produção das refeições, as quais são decorrentes, possivelmente, no que diz respeito aos 391 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO manipuladores de alimentos, ausência de padronização das refeições e/ou FTP, forma de cocção ou preparo dos alimentos. Grande parte dos problemas relacionados à falta de padronização na produção de refeições, deve-se a funcionários que trabalham em turnos/escalas diferentes, executando a mesma tarefa de forma diferente, acarretando variabilidade no processo de produção e, consequentemente, perdas em qualidade e em produtividade (CAMPOS, 1992). Isso pode ser visto na UAN em questão, já que nos três dias em que foram coletados os dados para as FTP, os funcionários, principalmente os dois cozinheiros em escala, eram diferentes. Dessa forma, percebeu-se claramente que a refeição é produzida de acordo com a preferência do funcionário responsável, fazendo uso dos ingredientes por meio da disponibilidade, sua experiência e gosto pelos gêneros, ao invés de seguir um padrão estabelecido. A divergência na utilização e quantidade dos condimentos e no modo de preparo do mesmo cardápio é presente nos três tipos de preparação: arroz, feijão branco e frango. No que diz respeito ao arroz, este foi preparado de maneira refogada nos dias 1 e 3, e cozido no dia 2. Com isso, o valor nutricional dos dias 1 e 3 foram bem próximos (74 e 73 Kcal, respectivamente); já no dia 2, a quantidade per capita correspondeu apenas a 63 Kcal, considerando que foram produzidos apenas 14Kg de arroz, ao invés de 16Kg, como nos outros dias. O feijão branco foi preparado de forma diferenciada nos 3 dias de análise. Nos dias 1 e 2, com o modo de preparo semelhante, porém com condimentos diferenciados. E, no dia 392 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO 3, com o acréscimo de farinha de mandioca e linguiça calabresa, além dos condimentos já normalmente utilizados. Dessa forma, o valor nutricional das preparações dos dias 1 e 2 se apresentaram bem semelhantes (77 e 76 Kcal, respectivamente), enquanto que a preparação do dia 3, com mais ingredientes em sua composição, representou 181 Kcal, ou seja, mais do que o dobro das anteriores. Com relação ao frango, foi preparado cozido no dia 1, e assado nos dias 2 e 3. No dia 1, vale ressaltar, que foram cozidos apenas 16 unidades de frango inteiro, com acréscimo de verduras, representando um valor nutricional de 298 Kcal per capita. Nos outros dois dias (2 e 3) foram assados, em cada um, 25 unidades de frango inteiro, o que resultou em 504 Kcal e 511 Kcal per capita, respectivamente. A utilização do sal de ervas nas preparações do dia 2 foi resultado de um teste para a implantação deste em substituição ao sal refinado, com objetivo de prevenir de forma ainda mais eficiente (visto que o consumo de sal já é reduzido nesta instituição) o surgimento de doenças relacionadas ao consumo de sal, principalmente a Hipertensão Arterial, além de as ervas servirem também como tempero, resultando em sabor maior às receitas. Percebeu-se o benefício, portanto, desta implantação, ao comparar o valor nutricional do sódio nestas preparações, o qual se encontra reduzido significativamente em relação às preparações dos dias 1 e 3. A análise do valor nutricional das preparações, assim como o planejamento adequado dos cardápios a serem servidos nesta instituição torna-se ainda mais importante, visto que se trata de um Hospital Psiquiátrico, o qual atende em sua maior demanda pacientes com dependência química, usuários 393 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO frequentes de substâncias psicoativas que podem comprometer o estado nutricional dos usuário. Deficiências nutricionais são comuns neste tipo de paciente, normalmente causadas pelo aumento das necessidades de nutrientes para desintoxicar ou metabolizar a droga, pela inativação de vitaminas e coenzimas necessárias para a metabolização de energia, pelos danos no epitélio intestinal e fígado e pelo aumento da perda de nutrientes com a diurese e diarreia decorrentes do consumo das substâncias psicoativas (ADA, 1990). Uma ingestão alimentar insuficiente é sempre atribuída aos aspectos clínicos. No entanto, já tem se visto que pacientes não ingerem boa parte da alimentação que lhes é oferecida não apenas pela doença que lhe acomete, pela falta de apetite e alterações do paladar, mas também devido a mudança de hábitos e insatisfação com as preparações e o ambiente hospitalar. Por isso, ainda se observa que alimentação hospitalar é alvo de críticas e rejeições por parte dos pacientes e da população em geral, sendo percebida, geralmente, como insossa, sem gosto, fria, entre outras atribuições (SOUSA; GLORIA e CARDOSO, 2011). Em se tratando deste assunto, na UAN em questão, não foi possível avaliar a sobra de comida, pois o que restava no balcão de distribuição era servido, na maioria das vezes, novamente aos pacientes, principalmente os do sexo masculino e atendidos pelo SUS. Dessa forma, não se sabe exatamente o quanto de um alimento pode ser rejeito ou consequência de um planejamento superestimado, já que, por meio de observações em horário da distribuição do almoço, foi 394 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO percebido que as pacientes do sexo feminino reclamaram e rejeitaram bastante a refeição. Em consequência disso, a falta de padronização e utilização de medidas caseiras ou utensílios específicos para determinação da porção média foi, também, um limitante para elaboração das FTP e obtenção de um resultado fidedigno dos rendimentos de cada preparação, visto que, por falta de balança, o rendimento de todas as preparações prontas foi estimado pela multiplicação do valor encontrado para a porção média pelo número de refeições a serem servidas (280, em média). Valor este, de porção média, estimado pela observação dos funcionários responsáveis pela distribuição das refeições, sabendo-se que as mulheres comem em volume muito menor que os homens e que há um índice relevante de rejeito por parte do sexo feminino, enquanto que alta aceitação e repetição pelo sexo masculino. Dessa forma, percebe-se que a FTP é de grande importância para um melhor funcionamento da UAN deste Hospital Psiquiátrico, já que esta proporciona o planejamento adequado da quantidade de ingredientes utilizados, minimizando as perdas em refeição e em custo, além de padronizar a refeição servida, independente do funcionário responsável que se encontre em escala e responsável pelo preparo, atentando para a preferência e benefício da clientela. 4 CONCLUSÃO Diante de todos os resultados expostos, analisados e discutidos anteriormente, entende-se que, apesar das limitações, principalmente pela utilização de valores 395 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO estimados, a elaboração e utilização de FTP podem beneficiar o funcionamento do serviço prestado e, em geral, da UAN. Apesar do Hospital Psiquiátrico em questão ser uma instituição filantrópica e funcionar produzindo refeições que dependem de ajudas/doações, é possível estabelecer padronização para produção dos cardápios, visto que as preparações são simples e, principalmente, que o padrão estabelecido na produção poderia resultar, inclusive, em benefício com redução de custos para o local. Sugeriu-se, portanto, a implantação e uso das FTP elaboradas na UAN do Hospital em questão, como também a aquisição de balança para alimentos, com o objetivo de garantir a continuação deste trabalho de forma ainda mais fidedigna, com valores exatos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; e PINTO, A. M. S. Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição: um modo de fazer. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Metha, 2009. AKUTSU, R. C., et al. A ficha técnica de preparação como instrumento de qualidade na produção de refeições. Rev. Nutr., v.18, n.2, p.277-79, 2005. 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MODELO DE FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO (FTP) FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO PREPARAÇÃO: ______________________________ PORÇÕES: X Foto da preparação PER CAPITA INGREDIENTES Descrição do PL PL FC PB CUSTO (R$) QUANTIDADE TOTAL MEDIDA CASEIRA Kg /L/ mlh / fd TOTAL Somatória Legenda: Kg= quilo; L: litro; mlh: molho; fd: fardo. MODO DE PREPARO: CÁLCULOS RENDIMENTO CUSTO FATOR DE COCÇÃO (Fcç) 397 IMPLANTAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DE PREPARO EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Total Porção média: Total Somatório dos PL‘s = Número de porções = Rendimento Total (Rt)= Per capita Fcç = Rt/PL‘s x Nº Porções Fcç = Cálculo referente ao valor nutricional dos ingredientes da preparação (Per Capita) Vitamina Lipídeos Minerais s PL Prot Glicí Fib Alim (g/ Kc eína Gordur Cole dios ras Tot Sódi A C ento mL al s as stero Cálcio Ferro (g) (g) ais o (mc (m ) (g) Satura l (mg) (mg) (g) (mg) g) g) das (g) (mg) Tota l Con vers ão para Kcal Tota l em Kcal x4 x4 x9 VCT (Kcal) = Legenda: Fonte do valor nutricional dos alimentos. 398 NUTRIÇÃO ESPORTIVA 399 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO CAPÍTULO 29 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO Marina Ramalho RIBEIRO1 Renata Layne Paixão VIEIRA1 Sara Cavalcanti MENDES1 Thamires Ribeiro CHAVES1 Jessica Vicky Bernardo de OLIVEIRA2 1 Mestranda: Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa - PB; 2 Pós-Graduanda em Nutrição Clínica: Estácio, João Pessoa – PB [email protected] RESUMO: Na adolescência ocorrem alterações nos hábitos alimentares, necessitando de observações quanto ao cumprimento dos requerimentos nutricionais desta faixa etária, especialmente se for atleta, pois, no âmbito esportivo as alterações orgânicas necessitam de mecanismos de recuperação provenientes de uma alimentação correta, proporcionando bom desempenho físico. Diante da importância que alimentação adequada exerce sobre o desempenho esportivo do adolescente atleta, são necessários estudos que analisem os hábitos alimentares destes indivíduos. Foi realizada uma pesquisa de campo com adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa – PB, cuja coleta de dados foi feita através de um inquérito contendo questionamentos sobre seus hábitos alimentares. Os dados foram apresentados em estatística descritiva expressa em valores percentuais apresentados através de figuras. Observou-se que 44% da amostra referiu realizar de 3-4 refeições/dia, uma alta prevalência de consumo de 2-3 porções de frutas/dia (48%) e de 1 porção de verduras/dia (42%). A modificação da alimentação durante os períodos 400 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO competitivos é realizada por 60% dos atletas e 54% usavam suplementos alimentares, sendo aqueles à base de proteína os mais consumidos (39%); 74% não recebem acompanhamento alimentar por profissional capacitado. Conclui-se que há necessidade de intervenções nutricionais nos hábitos alimentares dos adolescentes estudados visando melhora do desempenho esportivo. Palavras-chave: Consumo alimentar. Adolescência. Atividade física. 1 INTRODUÇÃO A adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o período compreendido entre 10 e 19 anos de idade no qual ocorrem diversas mudanças no estilo de vida, dentre eles estão as alterações nos hábitos alimentares que afetam a ingestão e as necessidades de nutrientes. Nas últimas três décadas têm ocorrido uma diminuição no consumo de frutas e verduras associada a crescente ingestão de alimentos processados (MONTEIRO et al., 2009). Segundo o Relatório Mundial da Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) (2003), a baixa ingestão destes alimentos contribui para o aumento de doenças crônicas não transmissíveis. Sabe-se que o consumo de alimentos ricos em gorduras é crescente entre os adolescentes (CUI; DIBLEY, 2012), e estes, quando comparados aos adultos, consomem menores quantidades de frutas e maiores de gordura (LARSON; HARNACK; NEUMARK-SZTAINER, 2012). A atividade física regular tem sido reconhecida como um importante componente de estilo de vida saudável, 401 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO trazendo benefícios para a saúde física e mental (WERUTZKY, 2008). Neste âmbito esportivo, as alterações orgânicas e o equilíbrio interno do atleta necessitam de mecanismos de recuperação que são obtidos através de uma alimentação correta. Uma alimentação saudável e adequadas às exigências funcionais do gasto energético diário oferece ao organismo os elementos essenciais para a síntese de novos tecidos, bem como a reparação das células danificadas durante o esforço físico,melhorando, assim, a qualidade do treino, maximiza a performance e melhora o tempo de recuperação após o esforço (SILVA; SILVA; SANTOS, 2012). Os atletas adolescentes são bastante vulneráveis à informação nutricional errônea e práticas não seguras que podem prejudicar seu desempenho esportivo (SPEAR, 2005). As necessidades nutricionais deste grupo incluem a reposição das reservas hídricas e a ingestão adequada de macronutrientes e micronutrientes para prevenir a fadiga, promover a recuperação e manter a massa magra que é crítica para a produção de potência, velocidade e força (PETRIE; STOVER; HORSWILL, 2004). As necessidades de energia, macronutrientes e micronutrientes são modificadas com a prática de atividade física, variando de acordo com peso, altura, gênero, idade, taxa metabólica, frequência, intensidade e duração do treinamento (VIEBIG; NACIF, 2007; DORFMAN, 2011). Ainda que não existam recomendações nutricionais específicas para praticantes de futebol, as altas exigências metabólicas e energéticas, em situações de treino ou competição, fazem com que haja a necessidade de aportes nutricionais adequados visando bom desempenho físico (SILVA, SILVA e SANTOS, 2012). 402 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO A energia adequada a um atleta é aquela que promove equilíbrio entre a energia ingerida e a energia gasta, para que a massa e composição corporal se mantenham a um nível consistente com a manutenção da saúde e de um desempenho atlético ótimo (EXTREIA, 2005). Entretanto, nem todos os atletas consomem dietas variadas com quantidades suficientes de energia (BURKE, 2011). Considerando que frutas e verduras são as principais fontes de vitaminas e minerais, a diminuição da ingestão destes alimentos pode resultar na carência destes nutrientes que possuem importantes funções orgânicas como atividade enzimática, imunológica, antioxidante e anti-inflamatória. Estas carências nutricionais são ainda mais preocupantes em atletas, pois os micronutrientes contidos nos alimentos fontes participam de processos celulares relacionados ao metabolismo energético, contração, reparação e crescimento muscular e transporte de oxigênio e diminuição do estresse oxidativo (TAGHIYAR et al., 2013; LUKASKI, 2004), essenciais para um bom desempenho físico. Mesmo diante de tantos benefícios ao praticante de atividade física, poucos estudos têm focado na análise dos hábitos alimentares de adolescentes atletas. Portanto, diante do exposto, este estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar os hábitos alimentares de adolescentes atletas de futebol, a fim de observar a presença de comprometimento do desempenho físico. 403 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO 2 MATERIAIS E MÉTODO Foi realizada uma pesquisa de campo contando com a participação de adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa – PB, com faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, tendo o projeto sido aceito no Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, possuindo o número de protocolo CEP 013/2013. Foram utilizados como critérios de exclusão o atleta que não estava dentro da faixa etária especificada para adolescentes ou aquele que não possuiu autorização emitida pelo responsável ou por si próprio (quando este apresentava-se em maioridade), para participar da pesquisa. Os dados foram coletados através de um questionário elaborado pelas próprias pesquisadoras, contendo questionamentos sobre hábitos alimentares dos mesmos. Os resultados foram registrados na forma de banco de dados no Microsoft Office Excel para o Windows, versão 2013. Utilizando-se uma estatística descritiva expressa em valores percentuais apresentados através de figuras. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A comunidade Kambiwá tem na agricultura o seu principal meio de subsistência, apesar da má qualidade do solo, da carência de água e das condições climáticas, pois a região apresenta clima seco e as chuvas irregulares provocam constantes períodos de estiagem, o que dificulta a atividade agrícola. 404 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO Quando questionados sobre a quantidade de refeições realizadas por dia, a maioria dos adolescentes atletas referiu consumir de 3 a 4 refeições, e apenas 8% referiram o consumo de 5 a 6 refeições por dia, conforme mostra a figura 1. 3 refeições Avaliação dos Hábitos Alimentares de Adolescentes Atletas de Futebol de Campo 8% 24% 24% 3 a 4 refeições 4 a 5 refeições 5 a 6 refeições 44% Mais de 6 refeições Figura 1. Quantidade de refeições realizadas por dia por adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. Sichieri et al., (2000) mostraram que o consumo de 4 refeições por dia seria adequado para se atingirem as necessidades dietéticas recomendadas. No entanto, segundo a Associação Portuguesa de Nutricionistas (2011), o consumo de 6 refeições por dia seria o ideal para que fossem atingidas as necessidades energéticas para um bom desempenho esportivo. No que diz respeito a quantidade de frutas ingeridas por dia (Figura 2), a maioria dos atletas (48%) relataram consumir de 2 a 3 porções por dia e apenas 4% dos 405 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO entrevistados referiram o consumo superior a mais de 4 porções. 4%6% 2% 1 porção 26% 3 a 4 porções 3 a 4 porções Mais de 4 porções 48% Nenhuma Figura 2. Quantidade de porções de frutas ingeridas por dia por adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. Muniz et al., (2013) observaram que cerca de 10% dos adolescentes estudados não consumiam frutas, um resultado semelhante ao que foi encontrado no presente estudo. Porém, ainda com relação ao estudo supracitado, foi visto que a maioria (52,1%) dos adolescentes consumiam frutas apenas 1 vez ao dia, seguido do consumo de 1-2 vezes por dia (26% e 3 vezes por dia (7%), diferindo, assim, do que foi encontrado neste estudo. O consumo de verduras é mostrado na Figura 3, onde se pôde observar um maior consumo de 1 porção de verdura por dia (42%), seguido do consumo de 2-3 porções (32%) e de nenhuma porção (20%). 406 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO 20% 2% 4% 32% 1 porção 42% 2 a 3 porções 3 a 4 porções Mais de 4 porções Nenhuma Figura 3. Quantidade de porções de verdura ingeridas por dia por adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. Em estudo realizado por Jesus, Filho e Santini (2012) foi observado que 20% dos adolescentes atletas não consumiam vegetais, corroboram com o que foi encontrado. Notando-se, portanto, uma inadequação nutricional em relação a ingestão deste grupo alimentar que possui fundamental importância na regulação do organismo, sendo amplo fornecedor de vitaminas e minerais, nutrientes indispensáveis à manutenção dos tecidos. A figura 4 mostra a quantidade de adolescentes que realizam alguma modificação na alimentação durante o período de competições. Foi encontrado que a maioria da amostra (60%) referiram que realizam a modificação dietética durantes as competições 407 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO 40% Sim 60% Não Figura 4. Modificação da alimentação durante competições adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. por A Figura 5 mostra a frequência de consumo de suplementos alimentares, a partir da qual se pode observar que a maioria dos adolescentes (54%) referiram não fazer uso deste tipo de alimento. No entanto, dentre aqueles que relataram o consumo, 39% referiram consumir suplementos proteicos, seguidos de 30% que referiram uso de suplementos a base de carboidratos (Figura 46% 54% Sim Não Figura 5. Frequência de uso de suplemento alimentar por adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. O estudo realizado por Jesus, Filho e Santini (2012) obteve resultados diferentes aos da presente pesquisa no que diz respeito ao consumo e ao tipo de suplementos 408 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO alimentares. Os autores supracitados observaram que 100% dos atletas referiram consumo de suplementos alimentares, sendo os multivitamínicos os mais consumidos, seguidos daqueles a base de proteína. 0% Carboidratos (Maltodextrina, Dextrose) 9% 30% Proteínas (Whey Protein, Creatina, BCAA) Multivitamínico 39% Outros Figura 6. Tipo de suplemento alimentar mais utilizado por adolescentes atletas de futebol de um time de João Pessoa. Resultados diferentes também foram encontrados por Chiaverini e Oliveira (2013) ao observaram que a maioria dos atletas que compuseram a amostra (86%) consumia algum tipo de suplemento alimentar. No entanto, os mais consumidos foram os suplementos proteicos, corroborando com o que foi encontrado no presente estudo. Na Figura 7 pode ser observado que a maior parte dos adolescentes referiram que o próprio é o responsável pelo controle da alimentação (74%) e apenas 4% referiram ter o nutricionista como responsável por tal ação. 409 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO 6% 4% 4% 2% Próprio 10% Médico Nutricionista Treinados Pais 74% Outros Figura 7. Responsável entrevistados. pelo controle da alimentação dos Sussmann (2013) observou resultados que corroboram com os supracitados. Dos participantes de sua pesquisa 65% referiram não ter acompanhamento profissional para controle de sua alimentação. Porém, ainda quanto a este estudo, foi observado que a ajuda profissional foi relatada por 35% da amostra, diferente do que foi obtido no presente estudo. Ao comparar os relatos de consumo de suplementos alimentares com a quantidade de atletas que referiram ser o nutricionista o responsável por sua alimentação, pôde-se observar que há grande consumo destes sem a indicação do profissional citado, sendo o este o responsável pela sua prescrição (Lei nº 8.234/91, de 17 de setembro de 1991). 410 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO 4 CONCLUSÕES A partir da análise dos dados pôde-se observar a necessidade de intervenções nutricionais no comportamento alimentar dos adolescentes estudados, realizado a partir do incentivo a adesão a hábitos alimentares mais saudáveis e adequados a prática de atividade física, como o número adequado de refeições por dia e consumo de frutas e vegetais nas porções recomendadas, devido a importância que estas práticas exercem sobre o crescimento do adolescente e em seu desempenho esportivo. O consumo de suplementos alimentares e o planejamento dietético realizado de forma autônoma também podem acarretar em prejuízos ao rendimento esportivo do indivíduo, portanto sugere-se que sejam realizadas explanações a respeito da importância da atuação do nutricionista neste âmbito, visando o cumprimento das necessidades nutricionais dos atletas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Portuguesa dos Nutricionistas. Alimentação adequada: faça mais pela sua saúde!. Abril, 2011. BRASIL. Lei nº 8.234/91, de 17 de setembro de 1991. Regulamenta a profissão de Nutricionista e determina outras providências. Diário Oficial da União, Brasília – DF, 17 setembro de 1991. BURKE, L. M. Nutrição nos esportes. In: MANN, J.; TRUSWELL, A. S. Nutrição Humana. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. p. 541 – 556. CHIAVERINI, L. C. T.; OLIVEIRA, E. P. Avaliação do consumo de suplementos alimentares por praticantes de atividade física em academias 411 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO de Botucatu-SP. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 7, n. 38, p. 106-117, 2013. CUI, Z.; DIBLEY, M. J. Trends in dietary energy, fat, carbohydrate and protein intake in Chinese children and adolescents from 1991 to 2009. British Journal of Nutrition, v. 108, n. 7, p. 1292-1299, 2012. DORFMAN, L. Nutrição voltada ao exercício e desempenho esportivo. In: MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia. 12 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 587 – 603. EXTREIA, R. M. C. Estado nutricional de uma equipa de futebol numa semana de treino e competição: aporte energético, macronutrientes e hidratação. 55 f. Monografia. Universidade de Coimbra. Coimbra, 2005. JESUS, S. B.; FILHO, A. D. R.; SANTINI, E. 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São Paulo: Sarvier, 2008. p. 325 – 333. 413 NUTRIÇÃO NA SENESCÊNCIA 414 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) CAPÍTULO 30 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) Maria Luiza Azevedo Feitosa da SILVA1 Maria Elieidy Gomes de OLIVEIRA2 Janaína Almeida Dantas ESMERO2 Marília Ferreira FRAZÃO2 1 Aluna de Pós-graduação em Nutrição Esportiva da AVM Faculdade Integrada, Brasília-DF; 2 Professora do Curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG, Cuité-PB. RESUMO: Com o envelhecimento, o perfil nutricional pode sofrer forte influência de fatores ambientais, biológicos e sociais, que interferem na ingestão alimentar e no aproveitamento dos nutrientes. Estas alterações podem impactar (positiva ou negativamente) as percepções de qualidade de vida. Assim sendo, a mini avaliação nutricional (MAN) torna-se um método apropriado para avaliar o estado nutricional, além de identificar causas de desnutrição em pessoas que necessitam de uma intervenção precoce. A MAN contém 18 itens divididos em 4 categorias: antropometria; cuidados gerais; dieta e autonomia para comer; e visão pessoal. O presente estudo objetivou avaliar o estado nutricional de idosos de uma instituição de longa permanência no município de Parelhas- RN utilizando a MAN. Os resultados apontaram que 57% dos idosos encontravam-se em risco de subnutrição e 43% estavam desnutridos, de acordo com a MAN. Nas condições do presente estudo, conclui-se que a alimentação na vida do idoso tem uma importância emocional e está intimamente ligada a um comportamento apreendido e às questões ligadas ao relacionamento familiar. Fazer uma 415 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) dieta saudável está atrelado aos sentimentos e frustrações, independente das condições econômicas e culturais. Palavras-chave: Promoção da Saúde; Nutrição; Terceira Idade. 1 INTRODUÇÃO O papel da nutrição na promoção e manutenção da independência e autonomia dos idosos deve ser bem estudado devido o aumento do envelhecimento das populações no mundo (RAMOS, VERAS e CALACHE, 1987; SAMPAIO e FIGUEIREDO, 2005). No processo de senescência, diversas alterações ocorrem, como a diminuição e redução da estatura e massa muscular, mudanças na elasticidade e compressibilidade da pele, as mudanças corporais relacionadas ao peso, na quantidade e no padrão da gordura corporal, nas circunferências e pregas cutâneas (KUCZMARSKI M.; KUCZMARSKI R.; NAJJAR, 2000). A determinação do diagnóstico nutricional e a identificação dos fatores que contribuem para esse diagnóstico, na pessoa idosa, são processos fundamentais, mas complexos. A complexidade se deve à ocorrência das alterações, além de modificações dos aspectos econômicos e de estilo de vida, entre outros, com o avançar da idade (SAMPAIO; FIGUEIREDO, 2005). A avaliação do estado nutricional objetiva identificar distúrbios nutricionais que possibilitem uma intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação e/ ou manutenção da saúde (KAMIMURA et al., 2014). A Mini Avaliação Nutricional (MAN), é um método multidimensional de avaliação nutricional que permite o 416 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) diagnóstico da desnutrição e do risco de desnutrição em idosos, de modo a permitir intervenção precoce. O questionário foi traduzido em várias línguas e utilizado por várias instituições do mundo. Na França, mas precisamente em Toulouse, realizaram-se estudos para o teste e validação da MAN com idosos saudáveis e enfermos, o que comprovou uma acurácia de 92% a 98%, quando comparada, respectivamente, com a avaliação clinica e nutricional completa, no qual inclui a antropometria, exames bioquímicos e dietéticos, sendo estas técnicas consideradas padrão-ouro para classificar os idosos diretamente como subnutridos e em risco de subnutrição, fazendo uso apenas da MAN, sem precisar realizar a avaliação bioquímica (GUIGOZ, VELLAS e GARRY, 1994; SANTOS, 2011). A sensibilidade da MAN é de 96%, a especificidade de 98% e o valor de prognóstico para a desnutrição é de 97%, quando se considera como referência o estado clínico (GUIGOZ; LAUQUE; VELLAS, 2002). Esta mini avaliação nutricional compreende 18 (dezoito) itens agrupados em 4 (quatro) categorias: antropometria (peso, altura e perda de peso), avaliação dietética (número de refeições, ingestão de alimentos e líquidos, autonomia para comer sozinho) cuidados gerais (estilo de vida, uso de medicação e mobilidade) e auto avaliação (percepção da saúde e do estado nutricional) (HUDGENS e LANGKAMP – HENKEN, 2004; SALVÁ, BOLIVAR e SACRISTANACRIS, 1996; SANTOS, 2011). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo diagnosticar o estado nutricional de idosos residentes de uma Instituição de Longa Permanência no município de Parelhas- RN, utilizando a Mini Avaliação Nutricional (MAN). 417 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) 2 MATERIAIS E MÉTODO Foi realizada uma pesquisa experimental, de campo, do tipo quantitativa e com procedimentos de coleta experimental, bibliográfica e participativa na Instituição Casa do Idoso Guiomar Virgílio da Costa, localizada no município de Parelhas- RN. A amostra foi constituída por 30 (trinta) idosos de ambos os sexos, sendo 19 (dezenove) do sexo feminino e 11 (onze) do sexo masculino, com idades de 60 a 100 anos, no período de Junho a Julho de 2014. Foram incluídos na pesquisa todos os idosos que residiam na referida ILP, tanto os lúcidos tanto os que apresentavam demência senil, e que aceitaram participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ressaltando que, os idosos que apresentavam demência, a autorização para participação da pesquisa se deu por meio da assinatura de familiares e/ou responsáveis pelo local (Direção). Para aplicação da MAN, os 30 (trinta) idosos inicialmente deslocaram-se para uma sala de reuniões. Em seguida, foram sendo chamados um por vez para aferição das medidas antropométricas, após este procedimento foram feitas as perguntas aos cuidadores semanalmente até finalizar o questionário. É válido destacar que no decorrer da pesquisa alguns idosos chegaram a falecer, outros retornaram para suas residências, outros desistiram da pesquisa, pois se recusaram aos procedimentos para avaliação nutricional que a pesquisa exigia. Desta forma, o estudo finalizou-se com 21 idosos de ambos os sexos. 418 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) A MAN foi adaptada pela própria pesquisadora sendo constituída inicialmente de dados para obtenção de caracterização da amostra (nome, sexo, idade) e os dados adicionais, que compreendem 37 (trinta e sete) itens agrupados em 5 (cinco) categorias: Antropometria (peso, estatura, circunferências e perda de peso), triagem (cuidados gerais); Avaliação global (número de refeições, ingestão de alimentos, líquidos e autonomia para comer sozinho); Auto avaliação e Exame físico (percepção do estado nutricional e da saúde do indivíduo). Desta forma, ao final de toda a avaliação as alternativas marcadas em cada quesito foram somadas de acordo com o escore que valia, classificando o estado nutricional, da seguinte forma: valores de 17 a 23,5 pontos foram considerados - risco de desnutrição e valores menores que 17 pontos - desnutrição. A pesquisadora ao adaptar a MAN avaliou também o exame físico em relação a 12 itens (cabelos, olhos, boca, pele, unhas, respiração, tecido subcutâneo, sistema gastrointestinal, sistema muscular esquelético, sistema nervoso, presença de patologia e os exames laboratoriais realizados). Em se tratando da avaliação antropométrica foram utilizados: medida da cintura, quadril, relação cintura quadril, prega cutânea subescapular e altura do joelho. Todas as medidas foram aferidas e as informações coletadas pela pesquisadora após treinamento prévio devido ao fato de muitos idosos apresentarem demência senil, as perguntas foram feitas aos funcionários/cuidadores. Todos os procedimentos utilizados foram padronizados, como medida de controle da qualidade e consistência das informações. 419 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) A pesquisa atendeu aos requisitos éticos, conforme estabelece a Resolução 466/2012/CNS, sendo aprovada pelo Comitê de Ética com processo nº CAAE 31863514.8.0000.5182. Para a avaliação dos resultados utilizou-se o percentual de cada categoria e o banco de dados foi construído no programa Microsoft Excel for Windows (NEUFELD, 2003). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Este estudo foi constituído de uma amostra total de 21 idosos, residentes na Casa do Idoso Guiomar Virgílio da Costa, Parelhas, RN. Na Figura 1 ilustra a condição nutricional dos idosos, com idades entre 60 a 100 anos, a partir dos critérios estabelecidos pela ―Mini Avaliação Nutricional‖ (MAN), onde 43% apresentavam subnutrição e 57% encontravam-se em risco de desnutrição. Figura 1. Estado Nutricional em idosos residentes na Casa do Idoso Guiomar Virgílio da Costa, Parelhas-RN, pelo método da Mini Avaliação Nutricional (MAN). Os resultados encontrados no presente estudo, estão em consonância com os achados de Kuzuya et al. (2005), que ao avaliarem o estado nutricional de 226 idosos japoneses 420 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) com média de idade de 78 anos de ambos os sexos, utilizando o mesmo instrumento (MAN), constataram que a maioria dos entrevistados se encontravam em risco de subnutrição. Outro estudo, realizado com 126 idosos Venezuelanos, provenientes de diversos centros geriátricos, com idades entre 60 a 96 anos, observou que 5,6% dos idosos encontravam-se desnutridos, 48,4% em risco de subnutrição e 46% eram eutróficos (RODRIGUEZ et al., 2005). No Brasil, um trabalho desenvolvido por Emed, Kronbauer e Magnoni (2006), também obtiveram resultados semelhantes ao nosso, a partir da aplicação da mini avaliação nutricional em 114 idosos de uma instituição de Curitiba–PR, considerando ambos os sexos, constatou que mais da metade 61% dos idosos avaliados também se encontravam em risco de desnutrição. Os resultados do presente estudo também corroboram com Sperotto e Spinelli (2010) que em seu estudo avaliaram 20 idosos independentes e observou que existe uma prevalência considerável de desnutrição em diferentes métodos utilizados por eles. Em se tratando da MAN observaram que 35% tiveram escore de <17, apontando para desnutrição, e 65% da amostra estavam em risco nutricional, com escore entre 17 – 23,5. Os mesmos relataram que a avaliação realizada sugere uma maior atenção quanto ao cuidado dos idosos, por não ter encontrado nenhum idoso dentre os assistidos em eutrofia. Durante a senescência, o estado nutricional apresenta alta relação com a morbi–mortalidade. Segundo Coelho e Amorim (2007), os idosos estão propícios a riscos nutricionais, devido a diversos fatores, que relacionam as alterações fisiológicas, sociais, ocorrência de doenças, uso de diversos medicamentos, problemas altamente importantes e voltados 421 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) para a alimentação, como o comprometimento da mastigação e deglutição devido ao uso de próteses e alterações relacionadas à mobilidade com dependência funcional. Saad e Camargo (1989) e Santelle, Lefevre e Cervato (2007), afirmam a necessidade de um atendimento diferenciado para a atenção à saúde do idoso. Schuman (1998) destaca que algumas mudanças dietéticas na alimentação durante a senescência podem ser necessárias devido a mudanças fisiológicas que podem afetar a habilidade para digerir e absorver alimentos, contudo, ressalta a importância dos alimentos serem nutritivos e da refeição proporcionar momento agradável. Morley (1993) relata que a presença de problemas de saúde, interferindo na alimentação do idoso, é citada como algo comum em instituições de longa permanência, indicando um fato que merece ser valorizado pelas equipes de saúde e pelas pessoas responsáveis pela alimentação. No presente estudo, a MAN foi realizada em paralelo ao exame físico afim de aprofundar a semiologia e obter uma maior precisão no diagnóstico nutricional. Nela, foram avaliados 10 (dez) quesitos, sendo eles: cabelos, olhos, boca, pele, unhas, respiração, tecido subcutâneo, sistema gastrointestinal, sistema muscular esquelético, sistema nervoso e presença de patologias, e que estão representados a seguir (Tabela 1). 422 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) Tabela 1 - Representação percentual das categorias de avaliação física da Mini Avaliação Nutricional de idosos residentes na Instituição de Longa Permanência Casa do Idoso Guiomar Virgílio da Costa, em Parelhas-RN. Parâmetro Cabelo Cabelos finos Cabelos secos Cabelos com perda de brilho Cabelos sendo fácil de arrancar Olhos Olhos com vermelhidão Olhos com manchas Olhos com inflamação Conjuntival Nenhuma alternativa Boca Dente Dentição incompleta Dentição completa Sem a presença de dentes Língua Língua com fissuras Língua com inflamação Nenhuma alternativa Gengiva Gengiva com inflamação Nenhuma alternativa Pele Pele com manchas Pele flácida Pele ressecada Nenhuma alternativa Unhas Unhas quebradiças Unhas opacas Unhas coloníqueas Respiração Nenhuma alteração Tecido subcutâneo Nenhuma alteração Sistema gastrointestinal Nenhuma alteração Sistema muscular Nenhuma alteração Sistema nervoso Demência Desorientação aguda Nenhuma alternativa Idosos N % 9 6 4 2 43 28 19 10 11 6 1 3 52 29 5 14 6 3 12 29 14 57 12 1 8 57 5 38 8 13 38 62 1 5 13 2 5 24 62 9 16 2 3 76 10 14 21 100 21 100 21 100 21 100 16 1 4 76 5 19 423 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) De todos os parâmetros avaliados os que mais influenciam o processo de nutrição, estão ligados à boca, parte integrante do sistema digestório. Os resultados do presente estudo constataram que a maior parte dos idosos não apresentavam dentição, fator que pode ter influenciado no risco de desnutrição. A perda de dentes acarreta deficiência na mastigação, podendo modificar a seleção de alimentos, resultando no consumo de dieta rica em carboidratos e carente de fibras e proteínas, acarretando assim, risco de má nutrição (PEDRO, 2008). Segundo Cervato et al. (1997) e Giglio (2003), o processo do envelhecimento pode acarretar mudanças fisiológicas e estruturais em diversos órgãos do aparelho digestivo do idoso, e em se tratando da boca, referem que as mudanças na insuficiência da secreção salivar, decorrente da atrofia da glândula parótida, degeneração acinar, aderência e obstrução de ductos, agravados pelo hábito da respiração bucal, próteses mal adaptadas, utilização de algumas drogas e febre, causa consequências nas alterações do paladar, além de dificuldades de mastigação e deglutição que contribuem para má digestão e aceleração da deterioração dos dentes. O autor também relata que as alterações involuntárias dos dentes, gengiva, mandíbula e maxilar, levam ao ressecamento da mucosa oral, que gera processos inflamatórios e dificulta a mastigação. Outro ponto que merece destaque é o fato de que 62% dos idosos estudados apresentaram pele ressacada, condição que está relacionada, entre outros fatores, com a pouca ingestão de líquidos. A hidratação é fundamental nessa fase da vida e na senilidade há uma redução do mecanismo de sede, o qual decorre de alterações nos mecanismos fisiológicos do equilíbrio hídrico do envelhecimento, sendo 424 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) necessária uma ingestão de dois litros de líquido por dia, quando não existe contraindicação (DIOGO, 1996). Brevis (2000) pontua que a perda de água causa consequências na saúde do idoso, já que ela é um dos nutrientes mais importantes para manter a homeostase do organismo devido seu papel na regulação do volume celular, no transporte de nutrientes, na remoção de resíduos e na regulação da temperatura. Menciona que a água corporal total diminui com a idade e que a sede se torna o principal mecanismo de controle da ingestão de água, fato que alerta para o risco de desidratação. A água também pode atuar como proteção na hipertermia ou hipotermia, uma vez que nessa fase da vida apresentam redução da resposta termoregulatória e da sudorese. Assim, se torna relevante a garantia da ingestão de quantidades suficientes de água pois caso esteja presente a inabilidade para deglutir líquidos, correse os riscos de agravar as situações citadas anteriormente, ampliando as necessidades de cuidados e atenção (GIGLIO, 2003). Diante do contexto, o exame físico foi muito importante para o acompanhamento nutricional dos idosos, uma vez que possibilitou um melhor diagnóstico, além de um conhecimento suficiente de informação, obtendo assim, uma melhor instrumentalização para obtenção de dados, interpretação na assistência da nutrição. 4 CONCLUSÕES A qualidade da alimentação consumida durante todos os ciclos da vida, em especial na fase idosa, é responsável pela manutenção da saúde e prevenção das doenças. Nas 425 SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: UM ESTUDO COM A MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) condições que foram realizadas o presente estudo, conclui-se em relação aos idosos da instituição de longa permanência que mais da metade apresentaram risco de desnutrição, quando avaliados através da MAN. A necessidade de manter uma alimentação saudável e equilibrada, rica em macronutrientes e micronutrientes ao longo dos anos é muito importante, uma vez que nesse ciclo da vida existe uma maior dificuldade de absorção de nutrientes devido às alterações funcionais que a senilidade traz. Portanto, sugere-se que os profissionais da saúde busquem a melhor forma de tratá-los, realizando exames físicos periódicos e intervenções nutricionais objetivando assim a melhoria da qualidade de vida que lhes resta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BREVIS, C. A. Evaluacion del estado nutricional em el anciano. 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Esse estudo teve como objetivo produzir um diagnóstico do cenário atual da gestão dos resíduos sólidos no município de Borborema – PB, considerando a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. A metodologia adotada foi baseada em visitas in loco para realizar levantamento de dados, através do órgão público responsável pela gestão dos resíduos sólidos do município, e registros fotográficos em campo. Os resultados revelaram que o manejo dos resíduos sólidos desse município sucede-se de forma inadequada e em discordância com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Destacou-se também a fraca estrutura e o espaço limitado da sede da Secretaria de Infraestrutura, o seu quadro de funcionários insuficiente, a inadequação de alguns equipamentos e veículos utilizados para a realização dos serviços de limpeza e manejo dos resíduos sólidos. 430 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Palavras-chave: Meio Ambiente. Gerenciamento. Consciência Ambiental. 1 INTRODUÇÃO A preocupação com os problemas associados aos resíduos sólidos e seu mau gerenciamento nas cidades brasileiras ganhou maior proporção nos últimos anos, e tem sido bastante discutido por diversos sujeitos individuais e coletivos. O gerenciamento dos resíduos, quando feito de forma equivocada, além de provocar gastos financeiros significativos, pode causar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem estar humano. Assim, justifica-se o crescente interesse dos pesquisadores sobre os resíduos. A gestão de resíduos sólidos está envolvida diretamente com várias áreas, sendo as principais economia e meio ambiente. E sua crescente importância deve-se a três fundamentos: vasta quantidade de resíduo gerado; gastos financeiros em relação ao seu gerenciamento; os danos causados ao meio ambiente e a saúde da população No município de Borborema, localizado no estado da Paraíba, ainda inexiste Gestão de Resíduos Sólidos - GRS que vise à destinação e disposição final ambientalmente adequada devido à ausência de políticas públicas voltadas para a gestão dos resíduos sólidos. A necessidade de haver um estudo que venha abranger a discussão da GRS neste município motivou a produção de um diagnóstico do cenário atual da GRS no município considerando a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 431 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Objetivo geral Diagnosticar o modelo atual da gestão de resíduos sólidos do município de Borborema - PB. Localização da área de estudo O local estudado é o Município de Borborema – PB (Figura 1), situado na mesorregião do Agreste Paraibano e na Microrregião do Brejo Paraibano. Segundo o IBGE (2010), o município apresenta a população de 5.111 habitantes, registrando uma densidade demográfica de 196,74 hab/km². Foi criado em 1959, e seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM é de 0,558 (Atlas, 2013). Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Autor 432 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Procedimentos metodológicos A pesquisa compreendeu o diagnóstico da situação da GRS no município de Borborema – PB. As informações contidas nesse estudo foram estruturadas seguindo o ciclo da gestão dos resíduos sólidos: serviços de limpeza urbana, coleta, destinação e disposição final; e, finalmente, apresentadas algumas conclusões e recomendações. O levantamento dos dados, fornecidos pela prefeitura foi realizado durante o mês de junho de 2015, através de visitas in loco na secretaria municipal de infraestrutura do município estudado e na área de disposição inadequada dos resíduos. O instrumento utilizado para este levantamento de dados foi a aplicação de questionário com perguntas abertas, diretamente e indiretamente ligadas a GRS no município de Borborema. Foram realizados registros fotográficos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Gestão dos resíduos sólidos em Borborema – PB A estrutura organizacional do município de Borborema PB é composta pelo gabinete do prefeito e 09 secretarias. Para melhor entendimento foi elaborado um organograma (Figura 2) onde é exposta a composição organizacional da Prefeitura Municipal de Borborema. 433 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Figura 2. Estrutura organizacional da Prefeitura Municipal de Borborema - PB. Fonte: Autor A Prefeitura Municipal de Borborema faz sua gestão sem planos ou estratégias que venham atingir metas com prazos estipulados. As tomadas de decisões ocorrem sem a participação comunitária, o que contribui para fragilizar os processos democráticos. O município não possui um conselho municipal que discuta assuntos pertinentes ao planejamento da política urbana e rural, onde considere as sugestões de todos os atores sociais, levando assim, as propostas para a gestão pública municipal avalia-las e torná-las passíveis de execuções. Os serviços de limpeza e manejo de resíduos sólidos urbanos são em geral realizados de forma direta pela secretaria municipal de Infraestrutura, pois não há uma secretaria de Meio Ambiente que seja responsável por este tipo de serviço. A secretaria funciona numa sede local de apoio com pouco espaço e baixa qualidade estrutural, situado no centro da cidade, onde também se concentram o pessoal dos serviços de limpeza e manejo dos resíduos sólidos, assim como suas ferramentas e outros materiais armazenados. Destaca-se a falta de espaço adequado para armazenar equipamentos, ferramentas e materiais. Por causa disto, são armazenados no mesmo espaço alguns equipamentos esportivos, material escolar (mesas), materiais de construção civil (porta) e equipamentos de limpeza (carrinho de limpeza). A gestão atual da Secretaria de Infraestrutura tem problemas de execução diariamente devido à falta de algumas máquinas e ferramentas que poderiam oferecer suporte ao 434 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB seu funcionamento, bem como a produção de informações para a comunidade. Segundo a Secretaria de Infraestrutura, entre suas atribuições, encontram-se: identificar a necessidade de serviços e obras de engenharia e limpeza urbana bem como iluminação pública, tais como, varrição, capina, coleta de lixo e disposição final de resíduos sólidos sob a forma de concessão e permissão. Como consequência de não ter estrutura e apoio técnico (pessoas capacitadas e fator financeiro), falta, na secretaria, Equipamento de Proteção Individual - EPI‘s tanto para os trabalhadores que fazem os serviços de limpeza urbana, quanto para os que coletam os resíduos e que efetivam sua destinação e disposição final. Coleta, destinação e disposição final dos RS A Secretaria de Infraestrutura tem 24 funcionários. Sua distribuição se dá de acordo com a Tabela 1. Recursos humanos do Órgão responsável pela gestão de RS do Município de Borborema - PB. 1 abaixo. Tabela 1. Recursos humanos do Órgão responsável pela gestão de RS do Município de Borborema - PB. 435 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Visto a quantidade de atribuições da Secretaria de Infraestrutura, o quantitativo de funcionários se faz insuficiente para realizar os serviços de limpeza e manejo dos resíduos sólidos. Nos finais de semana, mas especificamente, no domingo, só o serviço de limpeza urbana funciona, onde realiza a varrição de todos os resíduos oriundos da feira e mercado público. A Secretaria de Infraestrutura, no momento, para o serviço de limpeza urbana possui apenas um veículo pesado, sendo um trator. Já para os serviços de coleta, destinação e disposição final dos resíduos sólidos, conta com dois veículos pesados, sendo um trator com carroção e uma caçamba. Este último opera em condições precárias, pois constantemente tem problemas em sua mecânica. A caçamba é inadequada para realizar os serviços de coleta, destinação e disposição final, pois os resíduos são transportados a céu aberto podendo acarretar riscos tanto para o meio ambiente quanto para os trabalhadores. Já para o serviço de limpeza urbana, a Secretaria de Infraestrutura conta apenas com 3 carrinhos para realizar a 436 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB limpeza de todos os logradouros da zona urbana. Estes são inadequados para realizar os serviços de limpeza urbana, já que não possuem estrutura especial para transportar os resíduos sólidos, estando sujeito a implicar desconforto ao trabalhador, sendo um deles, o incomodo olfativo. Segundo a Secretaria de Infraestrutura do município, a mesma solicita equipamentos de segurança para os trabalhadores que operam nos serviços de limpeza e manejo dos resíduos sólidos, mas ainda não foi atendida. Esta também tentou realizar reuniões a respeito da problemática dos resíduos sólidos, entretanto, não se concretizaram. Os serviços de limpeza atendem a zona urbana, mas não atendem a zona rural. Os resíduos sólidos gerados na zona rural são dispostos no solo e queimados quando há uma certa concentração de resíduos. Destaca-se também, a ampla variedade de serviços realizados pela secretaria de Infraestrutura do município de Borborema. Apesar de haver recursos operacionais e humanos limitados, os serviços são executados. Na área urbana, 100% dos domicílios são atendidos pela coleta de lixo. A coleta é realizada de forma regular, ou seja, de forma mista, coletando todos os tipos de resíduos de uma só vez, incluindo também os rejeitos. O município não apresenta coleta diferenciada para os resíduos especiais (RSS). Vale ressaltar que no município não é cobrada tarifa pelos serviços de limpeza e manejo dos resíduos sólidos, sendo os custos arcados com recursos próprios da prefeitura municipal. Não há dados relativos à quantidade de resíduos gerados na zona urbana e rural. 437 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Figura 3. Rotas da coleta realizada na zona urbana do município de Borborema - PB. Fonte: Autor A realização da coleta dos resíduos oriundos de feiras é feita semanalmente, coincidindo com o seu término no fim do dia, aos domingos. No caso dos resíduos provenientes da construção civil, a coleta é feita pela Secretaria de Infraestrutura do município, quando o serviço é solicitado. A destinação e disposição final dos resíduos sólidos do município de Borborema se resumem na Figura 4 que ilustra um esquema da situação atual. 438 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Figura 4. Esquema de ilustração das formas de destinação e disposição final dos resíduos sólidos do município Fonte: Autor O lixão de Borborema funciona desde que o município foi criado. O lixão surgiu a partir da necessidade de se atribuir um destino ao lixo que era gerado e coletado na zona urbana. Sendo mais uma característica da realidade encontrada em diversas gestões de resíduos sólidos em muitos municípios brasileiros. Durante esta pesquisa foi identificado um lixão, localizado no sítio chamado Maria do Ó, distante aproximadamente 5 km da sede do município, num local de difícil acesso. Sua área corresponde a aproximadamente 0,5 km². Sua localização pode ser observada na Figura 5. 439 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Figura 5. Localização do lixão no Município de Borborema - PB. Fonte: Autor Também foi possível constatarmos a prática de queima diária no lixão municipal, para minimizar a presença de patógenos, o que acaba causando impactos ambientais ainda maiores no local. Entre os resíduos coletados na zona urbana do município, apenas os resíduos de serviços de saúde (RSS) não são dispostos no lixão. Os RSS são lançados num incinerador com estrutura que tem base de cimento, localizado por trás do Posto de Saúde Familiar - PSF. A seguir, na Figura 6, é exibido o local que os RSS são dispostos. 440 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB Figura 6. Incinerador utilizado para disposição final dos RSS e RSS que não sofreram queima total Fonte: Autor, 28/07/2015. Ao verificarmos a estrutura do incinerador, foi possível constatarmos que ele é inadequado, pois não dispõe de uma estrutura que realize a queima total dos materiais utilizados. A prática de queima dos RSS ocorre diariamente a céu aberto, podendo causar riscos à saúde humana e ao meio ambiente em curto, médio e longo prazo. Quanto ao meio ambiente, o chorume formado pelos RSS pode afetar os lençóis freáticos, contaminando a água dos poços artesanais da comunidade ao entorno. Outro fator que nos chamou a atenção foi o fácil acesso a este incinerador, onde deveria ser cercado para impedir o acesso de animais e pessoas. Dentre os materiais que o incinerador não conseguiu queimar totalmente, elencam-se as ampolas, seringas, agulhas, recipientes com substâncias químicas, além dos materiais perfurocortantes. Atendimento a Política Nacional e o Plano Nacional dos Resíduos Sólidos 441 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB No que se refere à existência de legislação pertinente à questão dos resíduos sólidos no âmbito local, o município de Borborema não possui uma legislação que dê norteamento aos problemas relacionados ao meio ambiente, e mais especificamente, aos resíduos que são gerados no município. Buscou-se também, nesta pesquisa, identificar ações concretizadas pela prefeitura municipal junto à secretaria de Infraestrutura do município que visassem o atendimento das diretrizes da Política Nacional dos Resíduos Sólidos - PNRS. Feito isso, foi elaborado um organograma que ilustra as ações que consistiram no atendimento das diretrizes da PNRS. Na Figura 7 é apresentado o resultado deste levantamento: Legenda: Vermelho – Não implementado; Azul – Em implementação. Figura 7. Ações feitas pela Prefeitura de Borborema para atender às diretrizes da PNRS, até o presente momento. Fonte: Autor Foram consideradas ações em implementação aquelas que constam em registros de ações, pela prefeitura municipal, 442 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB e as não implementadas, as que não tiveram nenhum passo dado para o atendimento das diretrizes da PNRS. Segundo a gestão responsável pela Prefeitura Municipal de Borborema, os representantes do município já se reuniram três vezes com vários outros gestores dos municípios da microrregião do Brejo Paraibano, na qual o município está inserido, para debater sobre a criação de um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos dos Municípios - PMGIRS e realizar encaminhamentos no sentido de se agruparem em consórcio e construir um grande aterro sanitário na região, a fim de depositar todo rejeito gerado em cada município, oferecendo assim, o seu destino ambientalmente adequado, conforme previsto na legislação. Outros dois propósitos são realizar a reciclagem dos materiais passíveis de tratamento e criar uma usina de compostagem de materiais orgânicos. Ainda segundo a gestão responsável pela Prefeitura Municipal de Borborema, os prefeitos envolvidos em questão assinaram um termo de cooperação se comprometendo em formar o consórcio. 4 CONCLUSÕES A execução deste diagnóstico nos permitiu identificar um panorama do modelo atual da gestão dos resíduos sólidos do município de Borborema, assim como as formas de destinação e disposição final dos resíduos sólidos, relacionando sua realidade à luz da PNRS (Lei nº 12.305, 02 de Agosto de 2010), com o intuito de contribuir com a produção de um possível modelo de gestão de resíduos (prognóstico). 443 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB O referido diagnóstico nos fez concluir que o município de Borborema não possui uma política de gestão relativa aos resíduos sólidos. De forma que ainda não se adequa à PNRS e ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos que juntos dispõem sobre a criação dos PMGIRS que tinha prazo inicial de até 02 de agosto de 2012. No caso o prazo já encerrou e até o momento o município ainda não começou o processo para a elaboração do PMGIRS. A atual gestão da secretaria promove a destinação e disposição de todos os tipos de resíduos, exceto os RSS, sem qualquer tratamento prévio, em local inadequado, em lixão. Outro fator inconveniente é a prática de queima dos resíduos, feita frequentemente na área do lixão, com o propósito de minimizar os patógenos. Através das visitas técnicas à secretaria de Infraestrutura, foi possível constatar quanto precária é a sua situação organizacional, tanto no que diz respeito à dimensão dos espaços disponíveis, quanto às condições de trabalho. A realização deste diagnóstico da gestão dos resíduos sólidos do município de Borborema contribui para subsidiar a elaboração do PMGIRS, à medida que representa a conjuntura atual, detalhando os aspectos concernentes à gestão dos resíduos sólidos do município. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013. (Com dados dos Censos 1991, 2000 e 2010). Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/borborema_pb, acesso em 21/05/2015; BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Disponível em: 444 DIAGNÓSTICO DO MODELO DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE BORBOREMA - PB http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=250270&se arch=paraiba|borborema|infograficos:-informacoes-completas. Acesso em: 12/07/2015; BRASIL. Lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm, acesso em: 02/10/2014; Agradecimentos À prefeitura municipal de Borborema – PB, em especial à Secretaria de Infraestrutura pelo atendimento cordial e disponibilização de dados e entrevistas. 445 NUTRIÇÃO E MICROBIOLOGIA 446 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL CAPÍTULO 32 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL Ana Emilia NASCIMENTO1 Natália Fernandes do NASCIMENTO1 Priscila Silva CUNHA1 Raabe Seabra de LIMA1 Jefferson Carneiro de BARROS2 1 Aluno do Curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG, Cuité-PB Professor do Curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG, Cuité-PB [email protected]. 2 RESUMO: Em serviços de alimentação, o controle higiênicosanitário é algo dinâmico e constante, por se basear em ações que fazem parte da rotina de trabalho que envolve procedimentos de manipulação de alimentos, objetivando a produção de refeições com qualidade higiênico-sanitária e com baixo risco para doenças veiculadas por alimentos aos seus usuários. O objetivo deste trabalho foi verificar o nível de contaminação microbiológica de equipamentos e utensílios das áreas de pré-preparo de alimentos de uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional do município de Cuité-PB. Foram coletadas amostras das superfícies de contato de dois utensílios e dois equipamentos de uso contínuo das áreas de pré-preparo de carnes e vegetais pela técnica de swab. Os resultados obtidos para bactérias aeróbias mesófilas apresentaram-se acima dos limites recomendados, tanto para os utensílios quanto para os equipamentos, indicando falhas nos procedimentos de higienização. Em contrapartida, os resultados para coliformes totais e termotolerantes apresentaram contagens abaixo do preconizado, indicando condições higiênico-sanitárias satisfatórias. Os resultados 447 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL apontam para a necessidade de implementação de medidas de segurança higiênico-sanitária através do emprego rotineiro das boas práticas pelos manipuladores das áreas de prépreparo a fim de reduzir ou evitar os riscos de contaminação. Palavras-chave: Higienização. Contaminação. Microrganismos. 1 INTRODUÇÃO De acordo com Souza (2004), entende-se como qualidade em unidades de alimentação o fornecimento de alimentos íntegros, seguros e próprios para o consumo humano, com boa aceitação em relação ao sabor e apresentação, e que atenda às necessidades nutricionais e expectativas do cliente. Desta forma, o acompanhamento dos procedimentos de higienização dos equipamentos e utensílios torna-se uma necessidade constante, uma vez que os mesmos podem estar associados à contaminação dos alimentos, seja por microrganismos alojados nestes equipamentos e/ou por resíduos de materiais utilizados para limpeza causando, em ambos os casos, condições inaceitáveis para segurança das refeições produzidas que se relacionam diretamente aos processos de higienização (BRASIL, 2002). Segundo Silva Júnior (2008), os equipamentos e utensílios que entram em contato com o alimento devem ser confeccionados de material atóxico, isentos de odores e sabores, não absorventes, resistentes à corrosão e às repetidas operações de limpeza e desinfecção, e terem superfícies lisas e isentas de rugosidade, frestas ou outras imperfeições que comprometam a higiene dos alimentos. 448 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL A higienização deficiente de equipamentos e utensílios tem sido responsável, isoladamente ou associada a outros fatores, por surtos de doenças de origem alimentar ou por alterações de alimentos processados (ANDRADE, 2008; DOMÉNECH-SÁNCHEZ et al., 2011). Outro fator importante é o desgaste destes utensílios e equipamentos com o uso, o que pode favorecer a multiplicação microbiana (MÜRMANN et al., 2008). De acordo com Souza (2004), as bactérias tem a capacidade de se multiplicar em resíduos que permanecem na forma de biofilmes nos utensílios, equipamentos e no ambiente de trabalho, contaminando de forma cruzada os alimentos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2010), mostram que mais de 60% dos casos de doenças de origem alimentar decorrem do descuido higiênico-sanitário de manipuladores, das técnicas inadequadas de processamento e da deficiência de higiene da estrutura física, utensílios e equipamentos. Em serviços de alimentação, o controle higiênicosanitário é algo dinâmico e constante, por se basear em ações que fazem parte da rotina de trabalho que envolve esses procedimentos, objetivando a produção de refeições com qualidade higiênico-sanitária, reduzindo os riscos de doenças alimentares para seus consumidores (CARNEIRO; LANDIM, 2013). Para que a qualidade dos alimentos seja garantida ao consumidor, devem-se evitar as doenças de origem alimentar, enfatizando as situações que visem à prevenção da veiculação de agentes patogênicos de maior severidade e as condições de maior risco (ABREU; PINTO; SPINELLI, 2013). 449 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL Neste sentido, este trabalho teve como objetivo verificar o nível de contaminação microbiológica das superfícies de equipamentos e utensílios das áreas de pré-preparo de carnes e hortifrutis quanto à contagem de bactérias aeróbias mesófilas, coliformes totais e termotolerantes, após os procedimentos de higienização em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional do município de Cuité-PB, como forma de se verificar a eficácia dos procedimentos de higienização adotados pelo serviço. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória e quantitativa, realizada no mês de julho de 2014 em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional, a qual se empregou procedimentos técnicos de campo e de laboratório. A coleta das amostras foi realizada no período da manhã após os procedimentos de higienização das áreas de pré-preparo de carnes e vegetais, sendo em seguida transportadas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos do curso de Bacharelado em Nutrição da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, campus de Cuité – PB, onde se procederam as análises. Para a pesquisa, foi utilizada a técnica de swab conforme procedimento proposto pela APHA (EVANCHO et al., 2001), que consistiu em friccionar um swab estéril umedecido em solução diluente (água peptonada 0,1% estéril) nas superfícies de dois utensílios (tábua de corte e faca) e dois equipamentos (amaciador de carne e cortador de 450 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL legumes) das áreas de pré-preparo de carnes e vegetais. Na superfície das tábuas de corte, o swab foi friccionado vinte vezes em movimento ―zigue-zague‖ e nos sentidos das diagonais, usando-se um molde previamente esterilizado (10 x 10 cm) para delimitar a área de coleta. Após as coletas, o material foi transportado sob refrigeração em caixa isotérmica refrigerada para ser analisado logo em seguida. A contagem de bactérias aeróbias mesófilas foi realizada a partir do espalhamento de 0,1 mL das diluições na superfície das placas de Petri contendo Ágar Nutriente (Biolog), com incubação a 35 ± 2 ºC por 48 h, com os resultados expressos em UFC/cm² de superfície. Para a contagem de coliformes, utilizou-se a técnica de fermentação em tubos múltiplos, descrita pela APHA (EVANCHO et al., 2001), empregando-se na fase presuntiva o caldo Lactose Bili Verde Brilhante 2% estéril, onde uma alíquota de 1,0 mL foi inoculada em tubos com diluições até 10-3, seguido de sua incubação a 37 °C/48 horas e avaliados quanto à presença de turbidez e tubos gás-positivo. Para o teste confirmativo, foi retirada uma alçada com alíquota de 10 µL dos tubos gás-positivos e inoculados em tubos contendo Caldo EC (Acumedia) estéril, seguido de sua incubação em banho-maria a 44,5 ± 0,2 °C/24horas. Após esse período foram verificados os tubos com produção de gás e determinado o Número Mais Provável (NMP)/cm². 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da análise microbiológica de Bactérias Aeróbias Mesófilas em utensílios e equipamentos das áreas 451 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL de pré-preparo de carnes e vegetais estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 – Contaminação de superfícies de utensílios e equipamentos por bactérias aeróbias mesófilas nas áreas de processamento de alimentos de um restaurante institucional. Materiais Microrganismos aeróbios mesófilos Utensíliosa Contagens (UFC/utensílio) ˃ 3,0 x 105 ˃ 3,0 x 105 ˃ 3,0 x 105 ˃ 3,0 x 105 Faca (setor de vegetais) Faca (setor de carnes) Tábua de corte (setor de vegetais) Tábua de corte (setor de carnes) Equipamentosa Amaciador de carnes Cortador de legumes Contagens (UFC/cm2) 1,6 x 105 1,5 x 104 Padrão Oficial Internacionalb Utensílios Superfície de equipamentos 100 UFC/utensílio 2,0 UFC/cm2 Recomendação Nacionalc Utensílios e equipamentos ≤ 50 UFC a Examinado pela técnica de swab. APHA (EVANCHO et al., 2001) c Proposto por Silva Jr et al. (2010) b As análises de utensílios e equipamentos das duas áreas pesquisadas demonstraram contagens elevadas para as bactérias aeróbias mesófilas (Tabela 2), quando comparados aos valores recomendados pela APHA (EVANCHO et al., 2001) e Silva Jr et al. (2010). Esses resultados pressupõem falhas nos procedimentos de higienização empregados pelo serviço para o controle bacteriano durante a rotina de prépreparo. Por esta razão, se faz necessário maior atenção aos 452 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e às Boas Práticas na referida UAN para sistematizar e padronizar a higienização. Porém, a simples existência dos procedimentos e normas escritas não garante a sua execução, sendo necessário, além do treinamento dos manipuladores, também um constante monitoramento e avaliação dos processos por parte do Nutricionista. Em estudo conduzido por Barros e Strasburg (2014), ao avaliarem utensílios utilizados na área de vegetais de uma Unidade Produtora de Refeição, obtiveram contagens totais de bactérias aeróbias acima de 100 UFC/utensílio. Outro estudo realizado por Castro et al. (2013), ao pesquisarem em uma Unidade de Alimentação Industrial, constataram contagens de 3,3 x 103 UFC/mL a 2,5 x 104 UFC/mL para utensílios da área de pré-preparo de carnes, excedendo o limite recomendado. Estes resultados assemelham-se aos encontrados no presente estudo. Em contrapartida, utensílios da área de pré-preparo de vegetais apresentaram valores abaixo de 10 UFC/mL que, de acordo com a recomendação de Silva Jr et al. (2010), constituem condições satisfatórias para o uso, divergindo dos os resultados obtidos no presente estudo. Considerando que estes utensílios têm utilização constante nas atividades de pré-preparo e preparo de alimentos, o surgimento de danos à sua superfície por excesso de uso ou quedas pode contribuir para o surgimento de biofilmes, comprometendo a segurança dos alimentos (BARROS; STRASBURG, 2014). Em outra pesquisa realizada por Coelho et al. (2010), ao analisarem três restaurantes comerciais, encontraram valores de 2,2 x 107 a 8,3 x 107 UFC/cm2 em um equipamento da área de pré-preparo de vegetais, cujas contagens foram 453 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL expressivamente maiores em relação ao encontrado no presente estudo. Esses resultados indicam condições insatisfatórias quanto à segurança dessas superfícies, podendo comprometer a qualidade microbiológica dos alimentos, especialmente se este for consumido cru. Na pesquisa realizada por Carneiro e Landim (2013), os resultados encontrados para bactérias aeróbias mesófilas em utensílios e equipamentos de uma UAN, tiveram contagens abaixo de 1,0 x 101 UFC/cm2, sendo considerado adequado de acordo com a recomendação descrita por Silva Jr et al. (2010), diferindo das contagens obtidas neste estudo. Porém, os autores ressaltam que mesmo com valores abaixo do aceitável, deve-se atentar para as contagens destes microrganismos, pois podem encontrar condições favoráveis para proliferação microbiana. As superfícies de equipamentos e utensílios podem demonstrar-se visualmente higienizadas, dando falsa percepção de segurança. Uma vez que essas superfícies permaneçam úmidas e com presença de resíduos alimentares, favorecem a adesão desses microrganismos, pois algumas colónias bacterianas tendem a aderir às superfícies como estratégia de sobrevivência e podem gerar matriz extracelular formando biofilmes (ANDRADE, 2008; DOMÉNECHSÁNCHEZ et al., 2011) justificando, portanto, os achados verificados nos estudos relatados. A produção dessa matriz confere maior capacidade de resistência à limpeza e sanitização (SÃO JOSÉ, 2012). Os resultados obtidos nas análises microbiológicas de coliformes totais e termotolerantes dos equipamentos e utensílios das áreas de pré-preparo de vegetais e carnes, estão apresentados na Tabela 3. 454 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL Tabela 3 – Contaminação de superfícies de utensílios e equipamentos por coliformes totais e termotolerantes nas áreas de processamento de alimentos de um restaurante institucional. Contagens (NMP/cm2) Materiais Coliformes a 35 °C Coliformes Termotolerantes Utensíliosa Faca (setor de vegetais) 75 ˂3 Faca (setor de carnes) 11 3,6 Tábua de corte (setor de vegetais) 7,2 3 3 11 Tábua de corte (setor de carnes) Equipamentosa Amaciador de carne 3 3 Cortador de legumes 7,2 3,6 a Determinado pela técnica de tubos múltiplos da APHA (EVANCHO et al., 2001) Com base nos resultados da Tabela 3, as contagens máximas obtidas para coliformes totais em utensílios foi de 75 NMP/cm² e para os termotolerantes, de 11 NMP/cm². Para equipamentos, as contagens tanto de coliformes totais quanto de termotolerantes apresentaram-se menores que os limites máximos observados para os utensílios, inferindo que no momento da coleta, os equipamentos encontravam-se melhor sanitizados. Entretanto, apesar das baixas contagens obtidas, não se tem ainda estabelecido na legislação sanitária brasileira padrões microbiológicos oficiais para equipamentos e utensílios (XAVIER et al., 2014), o que torna a interpretação dos dados dificultada. 455 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL Tomando por base o padrão internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS), admite-se contagens até 50 UFC/cm² como limite máximo aceitável de bactérias para equipamentos, utensílios e superfícies de manipulação (OLIVEIRA et al., 2008), porém não estabelece contagens específicas para o grupo coliformes. Tendo em vista também a ausência de padrões oficiais nacionais, tem se adotado as recomendações propostas por Silva Jr. (2008), que considera condições higiênicas satisfatórias para utensílios e equipamentos a ausência de coliformes fecais a 45 ºC. Este parâmetro é também o preconizado pela Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletiva – ABERC (2013), que estabelece a ausência de indicadores de contaminação fecal nas superfícies destes materiais. Considerando tais recomendações e tomando por base que baixas contagens para coliformes termotolerantes não constituem um indicativo de contaminação de origem fecal, pressupõe-se que as superfícies pesquisadas encontravam-se em condições higiênico-sanitárias satisfatórias e, desta forma, tanto os utensílios quanto os equipamentos não apresentavam risco de contaminação fecal para os alimentos manipulados nos referidos setores. Os estudos mostram resultados adversos quanto ao nível de contaminação de superfícies em áreas de manipulação de alimentos por bactérias do grupo coliformes quando comparados a presente pesquisa. Mezzari e Ribeiro (2012), ao avaliarem a presença de coliformes totais e termotolerantes na superfície da bancada de manipulação de alimentos de uma cozinha escolar pública, encontraram contagens ˃ 1.100 NMP/40 cm² de área de bancada, muito 456 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL superiores às do presente estudo. Em outro estudo realizado por Sousa e Campos (2003), foi constatada a presença de coliformes fecais em cortadores de legumes e nas tábuas de corte de legumes e carnes das áreas de processamento de alimentos de uma cozinha hospitalar, demonstrando falhas nos procedimentos de sanitização. No entanto, outros autores encontram resultados semelhantes aos verificados neste estudo. Mesquita el al. (2006), ao verificarem seis superfícies de bancada da área de pré-preparo de carnes de um Restaurante Universitário do Rio Grande do Sul, detectaram limites mínimos e máximos para coliformes totais e fecais de ˂ 3 a 460 NMP e de ˂ 3 a 43 NMP, respectivamente. Carneiro e Landim (2013), ao avaliarem as superfícies de utensílios (facas) e equipamentos (liquidificador industrial e mixer) do setor de processamento de uma UAN da cidade de Fortaleza, encontraram ausência tanto de coliformes totais quanto de termotolerantes, com contagens ˂ 0,3 NMP/cm² para ambos, demonstrando a eficiência nos métodos de desinfeção empregados pelo serviço. 4 CONCLUSÕES Nas Unidades de Alimentação e Nutrição, a produção de refeições é realizada de forma sequenciada, o que possibilita o monitoramento e correção imediata de falhas e não conformidades do processo. Nestes ambientes, as etapas de utilização dos alimentos mudam de acordo com o cardápio, fazendo com que sejam necessários o uso de utensílios e equipamentos higienizados para seu preparo. Porém se esta 457 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL higienização não estiver sendo realizada corretamente, podese expor os alimentos ao risco de contaminação. Diante dos resultados obtidos neste estudo para bactérias aeróbias mesófilas nas superfícies dos equipamentos e utensílios, e considerando que estes microrganismos são indicadores do grau de higienização, infere-se condições higiênicas insatisfatórias que podem comprometer a qualidade microbiológica dos alimentos que entram em contato com estas superfícies durante seu prépreparo. Este achado pode indicar a existência de falhas na padronização dos procedimentos de higienização no serviço pesquisado. Em contrapartida, as baixas contagens de coliformes totais e termotolerantes, indicam ausência de risco para contaminação fecal nos utensílios e equipamentos analisados, mostrando que a sanitização empregada foi eficaz para este grupo de bactérias. Os equipamentos e utensílios são as principais ferramentas de trabalho em serviços de alimentação e, por isso, para prevenir com segurança a ocorrência de doenças de origem alimentar é importante à adoção de medidas rigorosas de higiene com manutenção periódica desses procedimentos. Neste sentido, deve-se implementar na rotina diária as boas práticas, a fim de nortear os procedimentos higiênicosanitários no serviço e atender a legislação sanitária vigente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S.,SPINELLI, M. G. N., PINTO, A. M. S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 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Análise das Condições HigiênicoSanitárias dos utensílios usados durante o consumo de caranguejo em Aracaju, Sergipe. Revista Gestão Inovação e Tecnologia, v.4, n.2, p.831840, 2014. 461 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA CAPÍTULO 33 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Jessica de Sousa NEGREIROS1 Alfredina dos Santos ARAÚJO2 Amanda Arielle Rodrigues DINIZ1 Maria Lucimar da Silva MEDEIROS1 Moisés Sesion de MEDEIROS NETO1 1 Graduando. Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Campina Grande, PB. 2 Prof. Dr. Sc. Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Paraíba, Brasil. [email protected] RESUMO: A linguiça é um derivado cárneo que tem grande aceitabilidade no mercado consumidor brasileiro. Sua fabricação é relativamente simples, se comparado a de outros produtos cárneos, e além de propiciar o aumento da validade das carnes, diversifica a oferta de derivados. Este trabalho objetivou avaliar a qualidade higiênico-sanitária de linguiças produzidas artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Foram coletadas 3 amostras de 4 estabelecimentos comerciais, as quais foram analisadas quanto a presença de Coliformes à 35 e 45°C, Escherichia coli., Salmonella sp. e Staphylococcus spp.. Todas as amostras apresentaram contagens de Coliformes a 45°C dentro do estabelecido pela legislação. Verificou-se a presença de Escherichia coli. e Salmonella sp. em 75% das amostras. Apenas os supermercados A e D apresentaram amostras com contagens de Staphylococcus spp. acima do preconizado. A presença desses microrganismos nos produtos estudados, pode trazer risco para à saúde do consumidor e consequentemente à saúde pública. 462 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Palavras-chave: Produtos cárneos. Embutidos. Carne suína. 1 INTRODUÇÃO A carne é uma da principais fontes de proteínas com elevado valor biológico e rica fonte de vitaminas do complexo B e minerais como ferro e zinco. Qualquer tipo de carne cumpre com os aspectos nutricionais diários, sacia e satisfaz o prazer degustativo (OLIVO & OLIVO, 2006; BARROS, 2011). Os embutidos cárneos estão entre as formas mais remotas de processamento de carne. Segundo Oliveira de seus colaboradores (2008) desde a antiguidade o homem vem fabricando diferentes tipos de linguiças na busca de, ao conservar a carne, fornecer um produto à altura das aspirações do consumidor. A história registra o consumo de linguiças entre os babilônios e chineses já em 1.500 a.C.. Segundo a Instrução Normativa n° 04, de 31 de março de 2000 (BRASIL, 2000), entende-se por Linguiça o produto cárneo industrializado, obtido de carnes de animais de açougue, adicionados ou não de tecidos adiposos, ingredientes, embutido em envoltório natural ou artificial, e submetido ao processo tecnológico adequado. As linguiças são comercializadas em grande escala por se tratar de um produto de valor acessível a todos os setores da sociedade e por serem encontradas facilmente em supermercados, açougues, mercearias e feiras-livres (BERTÃO; SANTOS; 2011). Sua obtenção requer uma série de etapas de manipulação, o que eleva as possibilidades de contaminação por uma gama de espécies de microrganismos, patogênicos 463 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA ou deteriorantes, podendo comprometer a qualidade microbiológica do produto final, desde que ocorram falhas e não conformidades em seu processamento (MARQUES et al., 2006). Diversas podem ser as fontes de introdução destes agentes na cadeia alimentar, como condições inadequadas de abate e evisceração, nas quais as carcaças podem ser contaminadas por enterobactérias presentes no trato gastrintestinal (MARQUES et al., 2006). Além deste aspecto, segundo Bezerra et al. (2012), os envoltório, os temperos ou condimentos, bem como a água utilizada em todas as operações de limpeza e manutenção, manipulação de equipamentos e utensílios compreendem prováveis fontes de contaminação. Dentre os microrganismos patogênicos que potencialmente podem estar presentes no produto final destacam-se Salmonella spp., Staphylococcus aureus e Escherichia coli (MARQUES et al., 2006). A presença destes agentes nos produtos cárneos, além de favorecer a deterioração e/ou redução da vida útil desses produtos, possibilita a veiculação de patógenos, podendo constituir sérios problemas a saúde pública por serem causas comuns de toxinfecções alimentares, acarretando riscos à saúde do consumidor (MARQUES et al., 2006; BEZERRA et al., 2012). O objetivo deste trabalho consiste em avaliar a qualidade higiênico-sanitária de linguiças tipo frescal produzidas artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. 464 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA 2 MATERIAIS E MÉTODO Foram analisadas 3 amostras de linguiça frescal produzidas de forma artesanal de 4 estabelecimentos comerciais no município de Pombal/PB, com intervalos de 15 dias entre cada coleta, totalizando 12 amostras. Em cada ocasião as amostras adquiridas foram acondicionadas pelos próprios balconistas em embalagens plásticas e transportadas em caixas isotérmicas ao Laboratório de Análises de Alimentos do Centro Vocacional Tecnológico CVT, pertencente a Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, onde foram analisadas quanto a presença dos seguintes microrganismos: Coliformes à 35 e 45°C, Escherichia coli., Salmonella sp. e Staphylococcus spp.. 2.1 ANALISES MICROBIOLÓGICAS Para a determinação de Coliformes a 35°C utilizou-se o método de tubos múltiplos, onde cada diluição foi semeada em três tubos, empregando-se inicialmente o caldo Lauril Sulfato Triptose para a realização do teste presuntivo. Transfeiu-se uma alíquota dos tubos que apresentaram turvação e/ou bolhas para a realização do teste confirmatuvo com o meio Caldo Verde Bile Brilhante (CVBB). Na quantificação dos coliformes a 45°C , seguiu-se empregando o Caldo Escherichia coli (Caldo EC). O Número Mais Provável (NMP) de bactérias do grupo coliformes foi determinado a partir do número de porções positivas, utilizando a tabela do NMP. 465 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Os tubos que apresentaram-se positivos no caldo EC foram semeados com o auxílio de uma alça de repique, em placas de Petri contendo o meio Eosina Azul de metileno (EMB), sendo as placas invertidas e incubadas à 35°C durante 48 horas. Os resultados foram expressos como ausência e presença do microrganismo por grama da amostra. A análise de Salmonella sp. foi realizada por meio de enriquecimento seletivo com meio R ambach e por confirmação preliminar das colônias típicas, com resultados expressos como ausência e presença do microrganismo em 25g de amostra. A análise de Staphylococcus spp. foi realizada por plaqueamento em superfície utilizando o meio Ágar Sal Manitol, sendo as placas incubadas à 35°C por 48 horas. A contagem foi determinada multiplicando o número de colônias típicas pelo inverso da diluição, sendo o resultado expresso em UFC/g. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação a qualidade microbiológica das linguiças analisadas, observa-se na Tabela 1 os resultados obtidos para coliformes a 35°C. Supermercados Sup. A Sup. B Coleta 1 2 1,5 x 10 2 1,5 x 10 Coleta 2 2 2,9 x 10 2 4,6 x 10 Coleta 3 1 2,3 x 10 2 2,9 x 10 Média 2 1,5 x 10 2 3,0 x 10 466 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA 3 3 2 2 > 1,1 x 10 Sup. C > 1,1 x 10 4,6 x 10 8,9 x 10 3 2 1 2 Sup. D > 1,1 x 10 4,6 x 10 2,3 x 10 5,3 x 10 Tabela 1. Média dos resultados de Coliformes à 35°C (NMP/g) para as linguiças produzidas artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Observa-se que todas as amostras coletadas apresentaram desenvolvimento de coliformes 35°C, com variação média de 1,5 x 102 (Sup. A) à 8,9 x 102 (Sup. C) NMP/ g. A legislação vigente (BRASIL, 2001) não estabelece limites para este grupo de microrganismos, uma vez que a sua presença no alimento não indica, necessariamente, contaminação fecal ou ocorrência de patógenos (ALBERTI; NAVA, 2014). Os resultados para Coliformes à 45°C, como mostrado na Tabela 2, todas as amostras coletadas apresentaram desenvolvimento, variando em média de 1,4 x 10 1 (Sup. D) à 4,2 x 102 (Sup. C) NMP/g. Contudo, os resultados registrados mantiveram-se dentro do preconizado pela legislção, que estabelece o máximo de 5 x 103 NMP/g (BRASIL, 2001). Tabela 2. Média dos resultados de Coliformes a 45°C (NMP/g) para as linguiças produzidas artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Supermercados Coleta 1 1 Sup. A Sup. B Sup. C Sup. D 2,3 x 10 1 2,8 x 10 0 3,6 x 10 0 3,6 x 10 Coleta 2 1 3,6 x 10 1 1,5 x 10 2 1,5 x 10 1 1,6 x 10 Coleta 3 1 2,3 x 10 2 2,9 x 10 3 > 1,1 x 10 1 2,3 x 10 Média 1 2,7 x 10 2 1,1 x 10 2 4,2 x 10 1 1,4 x 10 3 Padrão – 5 x 10 (BRASIL, 2001). 467 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Bezerra et al. (2012) em estudo com linguiça Toscana comercializada em Mossoró/RN, ao analisarem 28 amostras coletas em 6 supermercados, não registraram contaminação por bactéias desse grupo. Foi observado presença de Escherchia coli em 75% das amostras de linguiça analisadas, conforme expresso na Tabela 3. Pelo menos uma amostra de cada estabelecimanto comercial analisadas apresentou contaminação por este microrganismo indicador de contaminação de origem fecal. Iglesias (2010) ao analisar 60 amostras de linguiça suína tipo frescal, verificou que 58% apresentaram contaminação por coliformes fecais acima dos padrões vigentes na legislação, e em 50% dessas amostras foram confirmadas colônias características de E. coli. Artesanalmente Tabela 3. Resultados de Escherichia coli para as linguiças produzidas Supermercados Coleta 1 Coleta 2 Coleta 3 Sup. A Presença Presença Sup. B Presença Presença Sup. C Ausência Presença Sup. D Ausência Ausencia artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Presença Presença Presença Presença Chaves et al. (2000), realizaram um estudo com 20 linguiças do tipo frescal suína onde 75% das amostras analisadas denunciavam más condições de higiene pela presença de coliformes a 45ºC e 65% pela presença de E. coli. 468 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Hoffmann et al. (1996) em estudo com uma amostra de linguiça de frango adiquirida em comercio varejista e três formulações produzidas em laboratório, confimou presença em 3 das 4 amostras analisadas, tanto no dias da coleta e elaboração, como 15 dias depois. Na Tabela 4 estão expressos os resultados obtidos para staphylococcus spp.. A legislação estabele presença máxima de 5 x 103 UFC/g (BRASIL, 2001), conforme pode-se observar, apenas o supermercado A e D apresentaram amostras com contagens acima do estabelecido, 9,31 x 10 3 e 6,86 x 103 UFC/g, respectivamente. No estudo de Marques et al. (2006) com linguiças tipo frescal comercializadas nos municípios de Três Crações Lavras/MG, ao avaliarem 40 amostras, constataram que 16 (35%) delas encontravam-se improprias para o consumo por apresentar contagens elevadas de Staphylococcus spp., podendo oferecer riscos a saúde do consumidor. Tabela 4. Resultados de Staphylococcus spp. (UFC/g)para as linguiças produzidas artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Supermercados Sup. A Sup. B Sup. C Sup. D Coleta 1 Coleta 2 Coleta 3 3 3 2 1,07 x 10 2 7,08 x 10 2 4,48 x 10 1 5,17 x 10 9,31 x 10 3 1,67 x 10 2 9,25 x 10 3 6,86 x 10 3,17 x 10 3 1,15 x 10 3 1,75 x 10 2‘ 6,83 x 10 Média 3 3,6 x 10 3 1,2 x 10 3 1,04 x 10 3 2,5 x 10 3 Padrão – 5 x 10 (BRASIL, 2001). Conforme esclarecido por Marques e seus colaboradores (2006), a intensa manipulação que a linguiça sofre desde a fabricação até o consumo, e a qualidade da matéria prima 469 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA podem compor os fatores predisponentes que levam a detecção deste microrganismos nestes embutidos carnéos. Adami et al. (2015) em estudo com 11 amostras de linguiça mista frescal, detectaram presença de Staphylococcus spp. acima do estabelecido em em 36,4% e Santos et al. (2012) registraram contagens elevadas em 8 das 15 amostras de linguiças produzidas de forma artesanal analisadas. Nos resultados obtidos para Salmonella sp., observa-se na Tabela 5 que todos os supermercados analisados apresentaram pelo menos uma amostra positiva para a presença de Salmonella sp. Os supermercados A e B, apresentaram contaminação por este microrganismo em todas as amostras coletadas. Tabela 5. Resultados de Salmonella sp. para as linguiças produzidas Supermercados Coleta 1 Coleta 2 Coleta 3 Sup. A Presença Presença Sup. B Presença Presença Sup. C Ausência Presença Sup. D Ausência Ausencia artesanalmente e comercializadas em Pombal/PB. Presença Presença Presença Presença A presença deste microrganismo nos produtos estudados, podem apresentar risco para à saúde do consumidor, visto que a Salmonella sp. é um dos microrganismos mais envolvidos em casos e surtos de doenças de origem alimentar em diversos países, inclusive no Brasil (GOMES; MACHADO; MÜCHE; 2011). 470 LINGUIÇA FRESCAL ARTESANAL PRODUZIDA E COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA Esses resultados são diferentes dos encontrados por Adami et al. (2015) que em 11 amostras, detectaram contaminação por Salmonella sp. em apenas 1. Bezerra et al. (2012), registraram presença em 17,85% das 40 amostras. Alberti & Nava (2014) detectaram presença em 67% das 6 amostras coletadas em estabelecimentos comerciais na cidade de Xaxim/SC. Hoffmann et al. (1996) confirmaram presença de Salmonella sp. em 100% (4) das amostras analisadas tanto em t=0 dias, como em t=15 dias. 4 CONCLUSÕES Os resultados obtidos para as linguiças do tipo frescal produzidas de forma artesanal e comercializadas em Pombal, Paraíba, revelam condições higiênico-sanitárias insatisfatórias de produção e/ou comercialização dos produtos estudados, uma vez que 75% das amostras analisadas apresentaram contaminação por Salmonella sp. e Escherichia coli. A presença desses microrganismos nestes derivados cárneos podem apresentar risco para à saúde do consumidor e consequentemente à saúde pública, visto que são frequentemente associados a doenças de origem alimentar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMI, F. S. et al.; Avaliação da qualidade microbiológica de linguiças e queijos. Caderno pedagócio, Lajeado, v.12, n.1, p. 46-55, 2015. 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Anais: Ciência, tecnologia e inovação: ações sustentáveis para o desenvolvimento regional. 473 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB CAPÍTULO 34 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB Nathalia Souza BEZERRA1 Gilcean Silva ALVES2 Gilson Ferreira de MOURA3 1 Discente da UFPB campus João Pessoa; 2Docente do IFPB campus João Pessoa; 3 Docente da UFPB campus João Pessoa [email protected] RESUMO: Nas últimas décadas, houve um aumento expressivo do consumo de hortaliças devido, principalmente, à alta incidência de doenças cardiovasculares e obesidade na população. Por outro lado, a ingestão de vegetais crus requer cuidados, pois estes podem servir como veículos para o transporte e/ou proliferação de patógenos. A presença de determinados microrganismos nos alimentos pode interferir na sua segurança microbiológica, tornando-os impróprios para o consumo. Levando-se em conta que os coliformes são bactérias indicadoras da qualidade higiênico-sanitária e que a Salmonella é um dos principais causadores de infecção alimentar, propõe-se, com este trabalho, analisar a qualidade microbiológica de hortaliças comercializadas em estabelecimento formal e não formal de João Pessoa. Dessa forma, foram realizadas análises de coliformes totais, coliformes termotolerantes e Salmonella spp.. Além disso, avaliou-se a eficiência da sanitização das hortaliças com hipoclorito. Como resultado obteve-se que 41,7% das amostras foram consideradas impróprias para o consumo humano com base na legislação vigente, sendo o 474 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB estabelecimento não formal o detentor dos maiores índices de contaminação. No tocante a sanitização, o hipoclorito mostrouse eficiente na redução da carga microbiana presente nos alimentos estudados. Palavras-chave: Vegetais. Coliformes. Salmonella spp. 1. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, principalmente devido aos problemas de doenças cardiovasculares e obesidade na população mundial, tem havido uma maior preocupação por parte de vários profissionais, notadamente médicos e nutricionistas, em estimular as pessoas a obterem alimentos saudáveis e pouco calóricos, o que proporcionou, em consequência, a um aumento considerável do consumo de hortaliças folhosas. No entanto, as hortaliças, bem como demais itens alimentícios, estão susceptíveis à contaminação por elementos nocivos, tais como partículas de insetos, produtos químicos e, principalmente, microrganismos, fazendo com que atuem como veículos para o transporte e/ou proliferação de patógenos podendo causar intoxicações alimentares (ABREU, 2011; JAIME, 2007; LOPES, 2003; PEIXOTO, 2009; RIGOLIN-SÁ, 2005). Apesar do consumo de verduras cruas, sem sombra de dúvida, contribuir para se obter uma vida mais saudável, é necessário que se tenha determinados cuidados, pois este hábito pode constituir um meio importante na transmissão de diversas doenças infecciosas (TAKAYANAGUI, 2006). Uma grande variedade de hortaliças cruas tem sido citada na literatura como veiculadoras de patógenos em surtos de toxinfecções, devido a presença de Escherichia coli 475 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB O157:H7, Salmonella spp., Listeria monocytogenes, etc. Nos Estados Unidos, estima-se que a ingestão de vegetais folhosos crus seja responsável por cerca de 17% dos surtos de doenças transmitidas por alimentos (SANTARÉM, 2012; SILVA, 2006). Ao longo dos anos, tem se constatado um aumento da preocupação da população em relação a qualidade e higiene dos alimentos. A qualidade higiênico-sanitária é um tema recorrente, amplamente estudado e discutido, sendo a má qualidade higiênico-sanitária dos alimentos considerada um problema de Saúde Pública (ABREU, 2011; ARBOS, 2010). Dentre os principais fatores que interferem na qualidade higiênico-sanitária das hortaliças, destacam-se a água com qualidade imprópria utilizada para irrigação, uso de estercos não tratados ou tratados inapropriadamente como fertilizantes, embalagens e temperatura do mostruário inadequadas, dentre outros (RIGOLIN-SÁ, 2005). Uma das formas de se avaliar a qualidade higiênicosanitária dos alimentos é investigar a presença de microrganismos pertencentes ao grupo dos Coliformes. Esse grupo é composto por cerca de vinte espécies e inclui tanto bactérias entéricas como bactérias não entéricas. Quando presentes nos alimentos, os coliformes indicam condições sanitárias insatisfatórias, destacando-se o subgrupo dos coliformes termotolerantes, que pode indicar contaminação fecal. Escherichia coli é a principal representante dos coliformes termotolerantes, sendo considerada pelo Ministério da Saúde como a indicadora mais específica de contaminação fecal recente e de eventual presença de patógenos (BRASIL, 2001a; LEITE, 2006; MENDONÇA, 1999; SALVATORI, 2003). 476 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB Outro microrganismo de grande importância para a segurança alimentar é a Salmonella spp., a qual é mundialmente reconhecida como um dos principais causadores de infecções de origem alimentar. A salmonelose é ocasionada pela ingestão de água, alimentos ou fômites contaminados por fezes de animais ou de pessoas infectadas. Esse microrganismo é responsável por, aproximadamente, metade dos casos registrados em surtos de gastrenterites em decorrência da ingestão de vegetais crus (BESSA, 2004; CASTAGNA, 2004; GIL-SETAS, 2002; FILHO, 2001; SANTARÉM, 2012). Diante do exposto e da relevância do tema, fica evidente que é de grande importância para a Saúde Pública a realização de estudos que avaliem a condição higiênicosanitária e que investiguem a presença de possíveis patógenos nos alimentos. O presente trabalho teve como objetivo analisar a qualidade microbiológica de hortaliças comercializadas em estabelecimento formal e não formal da cidade de João Pessoa, Paraíba. 2. MATERIAIS E MÉTODO Para a realização deste estudo foram selecionados dois pontos de comercialização de hortaliças, um supermercado (estabelecimento formal) e um mercado público (estabelecimento não formal), ambos situados na cidade de João Pessoa –PB, em áreas com grande circulação de pessoas. Foram feitas doze coletas durante o mês de agosto de 2015, de duas hortaliças: coentro e rúcula. Ao todo foram vinte e quatro amostras analisadas, doze para cada tipo de 477 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB estabelecimento estudado. As amostras foram acondicionadas, sem contato manual, em sacos plásticos de polietileno descartáveis de primeiro uso, identificadas e transportadas em caixas isotérmicas com gelo, sendo imediatamente levadas ao laboratório de Microbiologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus João Pessoa, para análise. As análises microbiológicas foram realizadas com base na metodologia descrita por Silva et al. (2014). Para isso, considerou-se como unidade amostral 25g das hortaliças. Para verificar a presença de coliformes totais e termotolerantes, empregou-se a técnica de tubos múltiplos que consiste em duas etapas: o teste presuntivo e o teste confirmativo. Inicialmente, colocou-se as 25g das hortaliças em um frasco estéril contendo 225mL de água peptonada tamponada. Após este procedimento, as amostras foram liquidificadas assepticamente, obtendo-se, ao final, a diluição 10-1. Posteriormente, foram preparadas diluições decimais seriadas até 10-3. Para se obter a diluição 10-2, transferiu-se 1mL da diluição 10-1 para um béquer contendo 9mL de água peptonada. O mesmo procedimento foi feito com a diluição 10-2, obtendo-se, portanto, a diluição 10-3. Para o teste presuntivo, utilizou-se três séries de três tubos, com tubo de Durham invertido, contendo 9mL de caldo lactosado simples. Foram inoculadas alíquotas de 1mL da amostra correspondente a cada diluição. Após serem inoculados, os tubos foram incubados em estufa bacteriológica a 35°C por 48 horas. Os tubos considerados positivos foram aqueles em que houve formação de gás no tubo de Durham. Quando da presença de tubos positivos, realizou-se o teste confirmativo, que consiste na repicagem da amostra para 478 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB tubos contendo 10mL de caldo VB e caldo EC com tubo de Durham invertido. Os quais foram, por conseguinte, incubados em estufa bacteriológica a 35°C por 48 horas e 44,5°C por 24 horas, respectivamente. Se ao final do período determinado, fosse constatada a formação de gás no tubo de Durham, o teste era considerado positivo. O resultado final depende da combinação de positivos, sendo expresso em NMP consultando-se a tabela de Hoskins. A pesquisa do microrganismo Salmonella spp. baseouse na metodologia descrita por Dal‘molin et al. (2013), onde utilizou-se o meio de cultura Ágar Salmonella-Shigella. Por meio da técnica spread plate, inoculou-se no meio de cultura alíquotas de 0,1mL da amostra correspondente a cada diluição, as quais foram distribuídas de maneira uniforme na superfície do ágar com o auxílio da alça de Drigalski. As análises foram feitas em duplicata. Em seguida, as placas foram incubadas em estufa bacteriológica a 35°C por 24 horas. A interpretação dos resultados foi feita com base no manual da Anvisa (ANVISA, 2004). Para verificar a eficiência da sanitização, as hortaliças foram previamente tratadas com um sanitizante comercial que tem como princípio ativo hipoclorito de sódio a 2%, durante 10 minutos, obedecendo as especificações do fabricante e, posteriormente, submetidas aos procedimentos de análise acima descritos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tendo como pressuposto o padrão Federal (BRASIL, 2001b), infere-se que do total de amostras analisadas (n=24), 479 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB 41,7% das hortaliças foram consideradas impróprias para o consumo humano. Desse número, 80% foram consideradas impróprias devido à presença do microrganismo Salmonella spp. e 20% por apresentarem quantidades de coliformes termotolerantes acima do permitido pela legislação vigente. Ao comparamos os dois tipos de hortaliças estudadas, vemos que do total de amostras em desacordo com a legislação, ou seja, do total de amostras consideradas impróprias para o consumo humano, 30% eram amostras de coentro (Tabelas 1 e 2) e 70% eram amostras de rúcula (Tabelas 3 e 4). Do mesmo modo, ao compararmos os dois tipos de estabelecimentos estudados, vemos que 30% das amostras eram oriundas de estabelecimento formal (Tabelas 2 e 4) e 70% eram oriundas de estabelecimento não formal de comércio (Tabelas 1 e 3). No que diz respeito à sanitização das hortaliças, têm-se que em 100% dos casos em que se empregou o hipoclorito de sódio a 2%, houve uma redução na contagem tanto de coliformes totais quanto de coliformes termotolerantes. Porém, em algumas situações esse tratamento não foi suficiente para eliminar o microrganismo Salmonella spp. 480 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB Tabela 1.Ocorrência de coliformes totais, termotolerantes e Salmonella spp. em amostras de coentro (Coriandrum sativum L.) comercializadas em estabelecimento não formal de João Pessoa – PB, submetidas (*) ou não a tratamento com hipoclorito de sódio a 2%. Tabela 2. Ocorrência de coliformes totais, termotolerantes e Salmonella spp. em amostras de coentro (Coriandrum sativum L.) comercializadas em estabelecimento formal de João Pessoa – PB, submetidas (*) ou não a tratamento com hipoclorito de sódio a 2%. 481 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB Tabela 3. Ocorrência de coliformes totais, termotolerantes e Salmonella spp. em amostras de rúcula (Eruca sativa L.) comercializadas em estabelecimento não formal de João Pessoa – PB, submetidas (*) ou não a tratamento com hipoclorito de sódio a 2%. Tabela 4. Ocorrência de coliformes totais, termotolerantes e Salmonella spp. em amostras de rúcula (Eruca sativa L.) comercializadas em estabelecimento formal de João Pessoa – PB, submetidas (*) ou não a tratamento com hipoclorito de sódio a 2%. 482 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB Em discordância ao encontrado por Santos et al. (2010), em que o coentro apresentou a maior frequência de coliformes termotolerantes e Escherichia coli quando comparado às demais hortaliças estudadas (alface, menta e repolho), o coentro foi a folhosa que apresentou a menor frequência de contaminação por coliformes termotolerantes (8,3%) em comparação à rúcula (25%). Ainda com relação a esse mesmo trabalho, não foi detectada presença do microrganismo Salmonella spp. em nenhuma das trinta e cinco amostras de coentro analisadas, resultado este que também difere do encontrado no presente trabalho, onde duas amostras foram positivas para Salmonella spp. Já no tocante a rúcula, Prado et al. (2008), ao analisarem amostras de rúcula minimamente processadas (n=3) encontraram quantidades de coliformes a 45°C acima do tolerado pela legislação em vigor, constatando, ainda, a presença de Escherichia coli em número elevado, com valores da ordem de 3,0 log NMP/g. Em concordância com Prado et al. (2008), também se constatou uma alta contagem de coliformes termotolerantes em três das doze amostras de rúcula analisadas, valores estes acima do permitido pela legislação vigente. Ainda com relação a esse mesmo trabalho, não foi detectada a presença do microrganismo Salmonella spp. em nenhuma das amostras de rúcula analisadas, resultado este que difere do encontrado no presente trabalho, onde seis amostras foram positivas para Salmonella spp. No tocante aos coliformes totais, embora não exista um padrão estabelecido na legislação, preconiza-se que alimentos contendo contagens da ordem de 105-106 NMP.g-1 sejam considerados impróprios para o consumo humano devido a 483 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB fatores como perda do valor nutricional, alterações sensoriais, etc. (NUNES, 2010). Dito isso, infere-se que os valores encontrados para coliformes totais neste trabalho foram consideravelmente inferiores aos valores preconizados, sendo, portanto, considerados próprios para o consumo segundo esse parâmetro. Estudos anteriores que comparam a carga microbiana presente em alimentos comercializados em estabelecimentos formais e não formais de comércio estão disponíveis na literatura. Bautista et al. (2011) apontam que um dos motivos pelo qual alimentos oriundos de estabelecimentos não formais, tais como mercados públicos e feiras livres apresentam um maior grau de contaminação em comparação aos alimentos oriundos de estabelecimentos formais, tais como supermercados e hipermercados, como encontrado no presente trabalho, é o fato desses produtos não receberem refrigeração adequada, sendo comercializados, em sua maioria, à temperatura ambiente, fazendo com que os microrganismos se multipliquem mais rapidamente. No entanto, se faz necessário esclarecer que no caso específico de Salmonella spp., o resfriamento não inviabiliza a presença de bactérias desse gênero nos alimentos, assim como explanado por Santos et al. (2000), o que poderia explicar o fato de duas amostras de rúcula comercializadas em um estabelecimento formal sob refrigeração terem sido positivas para Salmonella spp. no presente trabalho. Uma vez constatada contaminação por coliformes termotolerantes nas hortaliças estudadas, não se pode, porém, afirmar com certeza a origem de tal contaminação, visto que esta pode ter sido ocasionada por uma gama de 484 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB agentes, tais como transporte e armazenamento inadequados, contaminação cruzada, a mão dos manipuladores de alimentos, a água utilizada para a irrigação das culturas, etc. Existem relatos na literatura de que muitas hortaliças brasileiras são irrigadas com água contaminada por matéria fecal, e em alguns casos, inclusive, adubadas com dejetos humanos. É por este e outros motivos que o consumo de verduras cruas constitui um meio importante na transmissão de doenças infecciosas e parasitárias na população (ABREU, 2011; BALBANI, 2001; SOUZA, 1983). Segundo Tirolli et al. (2006) a ocorrência de salmonelas se deve, dentre outras coisas, a deficiências de saneamento básico e as más condições higiênico-sanitárias, aliadas a um controle de qualidade precário. Em relação ao processo de sanitização das hortaliças, infere-se que o hipoclorito de sódio a 2% se mostrou eficiente na redução do número de coliformes totais e termotolerantes presentes nos alimentos estudados. 4. CONCLUSÕES Do ponto de vista sanitário, das 24 amostras analisadas, 41,7% foram consideradas impróprias para o consumo humano com base nos padrões microbiológicos estabelecidos na legislação vigente devido a presença do microrganismo Salmonella spp. ou por apresentarem condições higiênicosanitárias insatisfatórias. Infere-se, ainda, que a rúcula foi a hortaliça que apresentou os maiores índices de contaminação (70%) em comparação ao coentro (30%). Do mesmo modo, o estabelecimento não formal de comércio foi o detentor dos 485 ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM ESTABELECIMENTO FORMAL E NÃO FORMAL DE JOÃO PESSOA - PB maiores índices de contaminação (70%) em comparação ao estabelecimento formal (30%). Ressalta-se, portanto, a importância de esclarecer a população quanto a necessidade de lavar e sanitizar as hortaliças com sanitizantes como, por exemplo, hipoclorito de sódio previamente ao consumo, visto que, na maioria dos casos, este se mostrou eficiente na redução da carga microbiana presente nos alimentos estudados neste trabalho, contribuindo, desse modo, para a segurança microbiológica dos mesmos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S. DE; MEDEIROS, F. DA S.; SANTOS, D. A.. 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RESUMO: Devido a sua versatilidade e larga distribuição, os fungos são capazes de contaminar alimentos provocando disseminação e intoxicação alimentar, servindo de parâmetro no julgamento das condições de higiene e boas práticas de controle e manipulação dos alimentos. Todos os profissionais cujas atividades laborais compreendem elaboração e distribuição dos alimentos é denominada manipulador de alimento. Este grupo compõe o espaço amostral desta pesquisa, a qual baseia-se em traçar um perfil destes trabalhadores no ambiente hospitalar, quantificar o percentualmente a positividade da colonização por Cândida spp e estabelecer uma correlação epidemiológica entre os dados encontrados. Segundo Ribeiro, et al (2004), as infecções por leveduras no âmbito hospitalar merecem relevância com o surgimento de cepas resistentes e também pela sua capacidade de invadir a mucosa gastrointestinal causando infecção sistêmica. A pesquisa encontrou prevalência entre o sexo feminino, maior positividade entre os profissionais com mais tempo de exposição. Um dado 490 importante é que 64,3% dos funcionários com queixas de onicomicose nos quirodáctilos, destes 42,8% fizeram uso de medicação, logo apenas 21,5% tem resultado positivo fidedigno. Com isso espera-se introduzir nos exames periódicos, o micológico das unhas das mãos como critério de controle de saúde pública. Palavras-chave: intoxicação alimentar, onicomicose, saúde pública. 2 INTRODUÇÃO Atualmente, não basta oferecer uma refeição com aparência saudável e gostosa, mas fundamentalmente segura do ponto de vista microbiológico, uma vez que os alimentos estão expostos ao meio contaminado, desde sua origem na natureza, até o seu processamento propriamente dito. Em Arruda (2002), a contaminação corresponde à presença indesejada de qualquer fator, de origem física, química ou biológica do qual contribua no comprometimento da qualidade do alimento. Para Cook(2001), qualquer órgão ou tecido pode ser infectado pela Cândida , sendo a Cândida albicansa mais mutável e para os manipuladores de alimentos cujas mãos estão constantemente imersas na água e em contato com carnes, peixes, aves, legumes, verduras e frutas cruas, são mais suscetíveis de adquirirem paroníquiasonicomicoses pelo gênero Cândida spp. Graças a sua versatilidade e larga distribuição, os fungos são capazes de contaminar alimentos, servindo de parâmetro importante no julgamento das condições de higiene 491 e das práticas de controle durante a manipulação e distribuição de alimentos (SILVA,2008). Denomina-se manipulador de alimentos todos os indivíduos responsáveis pela produção de produtos alimentícios, sejam por contato direto ou indireto com alimentos e limpeza do local de trabalho, ou seja, pessoas que manuseiam água e desinfetante em profissões específicas, tais como: cozinheiros, auxiliares de cozinha, copeiros, estes são mais susceptíveis adquirir infecções da ordem já mencionadas como paroníquias e onicomicoses, distrofias e candidíase intertriginosas (PASSOS, 1995; FERREIRA,et al, 2013 e REIS, 2010). Ferreira, et al (2013) menciona que a maioria dos alimentos contaminados não apresentam alterações nas características organolépticas, assim como relata fato de que a utilização das luvas não substituem a higiene das mãos e, por isso, só devem ser colocadas após sua higienização. Mencionada no artigo de Ribeiro, et al(2004), as infecções por Cândida em âmbito hospitalar merecem relevância a partir de 1980 com o surgimento de microrganismos resistentes graças ao uso irracional de fármacos, por tratar os pacientes baseados meramente no diagnóstico empírico, ou tardiamente contribuindo para os altos índices de mortalidade observados em infecções fúngicas invasivas, uma vez que a levedura acima dita tem capacidade de emitir largos filamentos em direção à profundidade dos tecidos a depender da disponibilidade de nutrientes. Particularmente, a Cândida albicans por está presente em muitos sitos anatômicos, em Tamura, et al (2007), verificou-se infecção hematogênica pela levedura nos 492 pacientes de UTI oriunda das mãos dos profissionais de saúde, uma contaminação por via exógena. Pode-se também encontrar candidemia por via endógena, provavelmente provocada por um desequilíbrio de microbiota ou uma lesão de mucosa gastrointestinal capaz de facilitar a translocação da levedura até os capilares mesentéricos provocando infecção (COLOMBO;GUIMARÂES, 2003; TAMURA, 2007). No âmbito dos hospitais o controle higiênico sanitário deve ser rigoroso a fim de garantir a segurança alimentar para funcionários e clientes. Estabelecer medidas de boas práticas para o controle de qualidade alimentar especialmente junto aos manipuladores é um dever precípuo dos gestores, pois são pessoas que mesmo sendo assintomáticas podem transmitir doenças a partir do manuseio e contaminação dos alimentos. Esta pesquisa se propõe traçar um perfil dos manipuladores de alimentos no ambiente hospitalar, quantificar percentualmente a positividade de colonização por Cândida spp dentro do espaço amostral e estabelecer um perfil epidemiológico com os dados coletados na pesquisa. 3 MATERIAIS E MÉTODO A pesquisa foi realizada em um hospital de alta complexidade localizado no município de João Pessoa, a coletas das amostras ocorrem dentro do grupo de manipuladores de alimentos deste hospital, totalizando 56 amostras de escamas ungueais (unhas) dos quirodáctilos (dedos das mãos). Estas amostras foram processadas no laboratório de Micologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley, desta referida cidade. 493 O estudo foi do tipo observacional transversal clínico laboratorial, ou seja, focou na frequência de positividade das amostras para leveduras. Tanto a exposição quanto a colonização ou doença, foram determinados simultaneamente. A estatística descritiva obtida foi de um estudo transversal, ou seja, com medida de prevalência que compreende a proporção de indivíduos que apresentam a doença ou colonização em um determinado ponto de tempo, dentro de um grupo escolhido previamente. Os indivíduos da amostra não foram designados em grupo por processo aleatório, mas já estavam classificados no respectivo grupo desde o início da pesquisa, uma vez que, o grupo escolhido compreende profissionais manipuladores de alimentos, não sendo desta forma, fruto de um experimento. Houve ,em primeiramente, aplicação de um questionário profissionais tomando como construção humana significativa, destacando como critério a saber: sexo, idade, tempo de exposição as atividades de manipulador de alimentos, queixas nas unhas. Este questionário foi aplicado de acordo com as diretrizes da Resolução 466 \12 e também foi assinado por parte dos participantes, o Termo de Consentimentos Livre e Esclarecido, o qual garante ao anonimato deles. A coleta de material obedeceu aos critérios técnicos laboratoriais baseados em Lacaz (1998) e Sidrim; Rocha(2010). As escamas ungueais dos quirodáctilos foram coletadas com material estéril e o local previamente asséptico com gaze umedecido com álcool a 70%. Procurou-se retirar o material da região de progressão e confluência do tecido doente e na ausência de lesão. Foi retirado material da região subungueal de todos os dez dedos das mãos.Nos casos de 494 unhas hiperqueratosas, ou seja, crescimento exacerbado de queratina nas unhas. Procurou-se desprezar parte da hiperqueratose formada na parte mais distal e procurou retirar o material das regiões mais próximas da matriz ungueal. Todas as amostras foram clarificadas por hidróxido de potássio a 20% e após trinta minutos de descanso, examinados em microscopia ótica. Para amostras positivas ao exame micológico foram considerados quando visualizados células leveduriformes e pseudohifas e\ou blastoconídios. As culturas foram feitas em meio Ágar Sabouraund em tubo inclinado à temperatura ambiente.Para o semeio, foi utilizado um garfo, ou seja, uma pequena haste de metal, achatada na extremidade, dobrada em ângulo de 90 C e fixada a um cabo khole, previamente flambada em bico de Bunsen, algumas escamas ungueais inoculadas, a com uma profundidade do meio em três locais equidistantes do tubo contendo ágar Sabouraud com cloranfenicol(figura 1) e incubado a temperatura ambiente por 72 horas. Com observação diária começando no segundo dia de incubação Após 72 horas as colônias que segundo Neufeld (1999) apresentaram-se com textura pastosa ou mucoide, foram ressemeados em meio cromogênico chamado CrhomAgar em placas e incubados a 37 C por 24 horas, com a finalidade de identificar presuntivamente as principais espécies de Cândida, que segundo o autor supra citado, a coloração é um importante critério de exclusão. Após 24 horas foi realizada a leitura à saber: a cor verde corresponde a C. albicans; a cor azul: (figura 2), C. tropicalis; a cor rósea: C. parapsilosis e a cor rósea flocoso: C. krusei. 495 Figura 1: Tubo de ensaio com meio Agar Sabouraud com cepas de Cândida sp Fonte: foto da própria autora a Figura 2: Placa de Chromagar semeado com cepa de Cândida albicans apresentando a cor verde após 24h de incubação. Fonte: foto da própria autora . 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 496 Foram estudados 56 manipuladores de alimentos que atuam em um hospital terciário no município de João PessoaParaíba, destes 87% é do sexo feminino e 13% do sexo masculino (Figura 3). 13; 13% 87; 87% Masculino Feminino Figura 3: Distribuição do espaço amostral segundo o sexo. Percebeu-se que cinco dos sete homens exerciam a função de despenseiros, ou seja, não preparavam os alimentos e nem os distribuíam, mas cuidavam do armazenamento e limpeza do local. Todas as cozinheiras eram mulheres e a grande maioria auxiliares de cozinha. Simões e Aleixo (2014) em pesquisa semelhante em escolas municipais de Campo Mourão, no Paraná, tiveram todos os participantes do sexo feminino. Reis, et al(2010), detectou uma percentagem de 76% prevalência do sexo feminino. Souza, et al(2007), também teve maior presença de mulheres. Araújo (2003) em sua pesquisa constatou que a Candida sp foi mais presente nas unhas das mãos e em mulheres e no trabalho de Souza, et al (2007) a maior 497 prevalência de onicomicose por leveduras foi de 82,95% feminino. Autores como Bart(2012), Silva (2008), Almeida(2012) e Ferreira (2013).sugeriram em seus artigos a casuística de leveduras nas mãos do sexo feminino ao fato deste grupo exercer cargos que exijam manter as mãos constantemente em contato com a água e produtos alvejantes, assim como também a retirada de cutículas por estética, expondo os quirodáctilos a solução de continuidade, facilitando a colonização das espécies de Candida sp. Silva (2005), relatou um fato relevante quanto a possibilidade de infecção secundária por bactérias nas onicomicoses, uma vez que a espécie Staphylococcus aureus possui grande capacidade de contaminar alimentos, graças a sua habilidade em produzir enterotoxina, aliada a sua flexibilidade de crescer em ampla faixa de temperatura (7 aa 48) e de ph (4,2 a 9,3) contribuindo na produção de intoxicações alimentares. Nesta pesquisa a faixa etária mais frequente encontrada foi dos 40 a 45 anos, obtendo 34%, muitos embora a segunda mais comum obtivesse 28,6%, compreendendo uma diferença percentual ínfima (Figura 4). 498 18% 34% De 30 a 35 anos 19% 29% De 36 a 40 anos Figura 4: Distribuição segundo faixa etária. Este dado epidemiológico tem o propósito de comprovar que a redução de esteroides sexuais comum após a menopausa, entre o sexo feminino e a progesterona, entre o sexo masculino, pode inibir o crescimento de dermatófitos (REIS, et al, 2010). As amostras não serviram para esse propósito, uma vez que a maioria dos pesquisados estão compreendidos numa faixa etária fora dos padrões da menopausa e não foi encontrado colonização dentro do sexo masculino. Quanto ao tempo de serviço prestado na função de manipulador de alimento, a predominância foi entre 0 a 6 meses, ou seja, 21,5% (Figura 5). 499 20% 21% 14% 16% 11% 0 a 6 meses 18% 6 a 1 ano 1 a 4 anos Figura 5: Distribuição quanto ao tempo de exposição ao trabalho. A predominância da média de seis meses de atividades laborais aponta a relevância dos profissionais terceirizados, os quais conforme sinalizado na pesquisa de Ferreira, et al,(2013), por si tratar de grande rotatividade de mão de obra, a empresa se dispõe a contratar profissionais sem experiência na função, desarticulando um processo de capacitação contínua. Esperava-se encontrar nesta pesquisa uma predominância de profissionais acima de quatro anos de experiência nesta situação, a fim de aumentar a possibilidade de colonização por leveduras nas mãos. No entanto, não foi atendido as expectativas. De acordo com a observação física da região anatômica pesquisada, detectou-se um predomínio de indivíduos com alteração tipo deslocamento distal da lâmina ungueal, por cerca de 50% do espaço amostral (Figura 6). 500 41% 50% 5% 4% Descolamento distal Paroníquia Figura 6: Distribuição das alterações ungueais observadas pela pesquisadora nos quirodáctilos por tipo alteração. Os resultados do presente estudo mostram que 50% dos profissionais possuem deslocamento distal em pelo menos uma das unhas das mãos, não sendo necessariamente provocado por microrganismo, uma vez que, o deslocamento pode ser oriundo do contato prolongado com água, traumas ou idiopática e neste é denominado de onicólise, sendo este o mecanismo de infecção mais comum nas micoses superficiais estabelecendo um contato direto de pele e mucosa com pacientes, solo, objetos, alimentos (COELHO,et al,2005). Segundo Sampaio; Rivitti (2000), o exame micológico pode fazer essa diferenciação. Quanto ao contato prolongado com água, em Araújo, et al (2003) foi mencionado relevância da umidade como fator ambiental de penetração, por exemplo, uma umidade de 90% e a temperatura de 35% pode favorecer a penetração do fungo em até 4 dias. Concernente ao trauma, os mesmos autores supra citados, configuram que este proporciona uma certa limitação de destreza manual. 501 Já a paroníquia é uma característica clínica mais plausível para encontrar infecção e ou inflamação ungueal provocado pela Candidasp, como ficou evidenciado nos 3,6% na pesquisa, as unhas com distrofia e coloração esverdeada observou-se uma colonização mista de bactérias gram negativas, possivelmente Pseudomonasspp e Candidaalbicans. A presença de bactéria é justificada pela característica da levedura Ca ser queratinofílica, ou seja, destrói a queratina ungueal, favorecendo a solução de continuidade para instalação de outros germes invasores (LIMA, 2005). Em Reis, et al (2010), a descrição de inflamação na região subungueal proximal dos quirodáctilos como característica clássica de infecção por Candida spp. A importância da onicomicosereside no aumento de sua prevalência entre os manipuladores de alimentos. Araújo, Bastos, Souza e Oliveira (2003), encontraram uma prevalência de colonização de 17, 43%, entre os homens e 20,53% entre as mulheres manipuladores de alimentos. Silva (2005), no mesmo tipo de pesquisa com manipuladores de alimentos de restaurantes, padaria, lanchonetes, escolas, bar e supermercados, no município de Ribeirão Preto, SP, constatou um percentual de 34,8% de onicomicose pelo Gênero Cândida. Em se tratando da incidência de colonização do Gênero Cândida spp nos quirodáctilos, ou seja, nos dedos das mãos de profissionais de saúde no âmbito hospitalar em Passos, et al (2000), 73,3% dos enfermeiros, outros profissionais e médicos do serviço de pediatria do hospital materno-infantil de goiana, Goiás, possuíam leveduras nas mãos com predominância de Cândida albicnas. 502 Dos 56 funcionários, 87% são do sexo feminino e os 13% dos homens não foi detectado presença de fungos nos quirodáctilos. No entanto, foi encontrado positividade em 12% das amostras do grupo feminino. sexo masc sex fem + sex fem - 13% 17% 70% Figura 7: Distribuição dos positivos quanto ao sexo. Considerou-se positivo quando foi detectado presença de microrganismo tanto no exame direto, quanto na cultura. A ausência de positividade no sexo masculino ocorreu pela função que exercem de despenseiro, logo não mantem contato com água e produtos abrasivos e microrganismos oriundos de alimentos crus. Dito em Teixeira (1979) e Reis, et al (2010), as mulheres ocupam cargos que expõe suas mãos ao contato constante de água, As mãos tornam-se um importante foco de microrganismos provenientes de regiões endógenas, uma vez que a microbiota é bastante variável, podendo veicular patógenos de origem fecal, de superfícies, utensílios e roupas. (SOUZA, 2006; FERREIRA 2006; FERREIRA 2013). Sendo assim, o manipulador de alimento parasitado e assintomático, pode representar uma fonte de transmissão 503 duradoura podendo propagar os microrganismos para alimentos, muitas vezes, não apresentando alterações organolépticas dificultando o controle sanitário (FERREIRA, 2013). Quando encontrado onicomicose gera-se um impacto nos indivíduos tanto na qualidade de vida, quanto no potencial profissional, principalmente dentro de atividade de manipulação de alimentos (OLIVEIRA, et al, 2003). Facilitando a propagação das Doenças Transmitidas por Alimentos, potencialmente crescentes atualmente, graças ao aumento de refeições fora dos domicílios e a falta de notificação dificulta um planejamento de medidas de controle, e como são oriundas de contaminação de alimentos por intermédio de manipuladores. Salientado em Arruda (2002) a definição de contaminação como a presença não desejada de qualquer situação que comprometa a qualidade do alimento, de forma física, química ou biológica. 5 CONCLUSÕES O manipulador de alimentos é um dos principais contribuintes para a implantação de intoxicação e infecção alimentar. No âmbito hospitalar torna-se mais agravante, pois os pacientes estão mais debilitados imunologicamente, assim como, os funcionários e acompanhantes podem levar para a comunidade os desajustes fisiológicos ocorridos por consequência a exposição. Como as Doenças transmitidas por alimentos não são notificadas obrigatoriamente, a prevenção é a melhor forma de controlá-la e esta seria por meio de exame micológico das unhas das mãos dos profissionais deste ramo 504 alimentício, assim como já é comumente na rede privada, como medida de saúde pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, G. L; COSTA, S.R & GASPAR, A. A Gestão de Segurança dos Alimentos em Empresa de Serviço de Alimentação e os Pontos Críticos de Controle dos seus Processos. Revista B.CEPPA, Curitiba, v 30,n 1, p 135-146, jan/jun; 2012. ARAÚJO,A.J.G, et al.,Onicomicoses por Fungos Emergentes: análise clínica, diagnóstico laboratorial e revisão, Anais Brasileiro Dermatologia, Rio de Janeiro, v 78, p 445-455, 2003. ARRUDA, G.A. Manual de Higiene para Manipuladores de Alimentos, São Paulo: Ponto crítico, 2002. V1 (Coleção profissional de alimentação). BART, B.R; GHISLENI, C.P. 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Universidade Federal de Pernambuco, 2 Edição, Recife,1979. 506 O SIMPÓSIO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição, farmácia, enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e tem como objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mesa redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a Vida. Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles: Uso racional de medicamentos, Aplicações da Biotecnologia na Saúde, Política Nacional de Alimentação e Nutrição, Gastronomia, meio ambiente e sustentabilidade, Patógenas emergentes associados ao abastecimento de água para consumo humano, A saúde mental no século XXI, um desafio dos profissionais de saúde, ducação Alimentar e Nutricional: uma estrategia de Segurança Alimentar do século XXI. Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros frutos desse Evento: ODONTOLOGIA SAÚDE E MEIO AMBIENTE: e NUTRIÇÃO E SAÚDE: conhecimento, integração e tecnologia ,contribuirão para o conhecimento dos alunos da área de Ciencias biológicas e Saúde. Este livro foi publicado em 2016 Rua: Eng. Lourival de Andrade,1405- Bodoncongó Campina Grande-PB 58.430-030 Fone: (83) 3321.4575 507