USO DA ÁGUA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE ÁLCOOL: ESTUDO DE CASO. Gisele Lúcio de Freitas 1 Osmar Mendes Ferreira 2 Universidade Católica de Goiás – Departamento de Engenharia – Engenharia Ambiental AV. Universitária, Nº 1440 – Setor Universitário – Fone (62)3946-1351. CEP: 74605-010 – Goiânia - GO. RESUMO A agroindústria canavieira está em fase de expansão frente à demanda mundial por um combustível mais limpo e renovável. No seu processo industrial são utilizadas grandes vazões de água, principalmente na lavagem da cana. Em conseqüência gera-se volume significativo de águas residuárias que em sua maioria podem ser utilizadas na fertirrigação. A vinhaça, um dos efluentes gerado na produção de açúcar e álcool e utilizado para a fertirrigação, proporciona ao solo um significativo beneficiamento na sua composição química. Para efeito de estudo foi utilizado como base de pesquisa a indústria Centroálcool Ltda, situada no município de Inhumas-GO. A destilaria usa como fonte principal de abastecimento o Rio Meia Ponte, manancial de extrema importância no que se refere ao abastecimento público das cidades do centro-oeste goiano, fato que justifica a importância deste estudo, que por sua vez tem como objetivo avaliar o uso racional da água no processo de produção do álcool. Através de visitas de campo, de realização de entrevistas com os colaboradores observou-se que a destilaria apresenta uma taxa razoável de captação de água do rio, se enquadrando na média nacional. No entanto, por meio de técnicas de reaproveitamento da água gerada no processo industrial é possível que se controle o uso excessivo dos recursos hídricos. Palavras-chave: cana-de-açúcar, água, águas residuárias, fertirrigação. ABSTRACT The sugar cane agribusiness is in expansion phase freights the world demand for a cleaner and renewable fuel. In his industrial process, great flows of water are used, mainly in the cane wash. Consequently a significant volume of wastewater is generated, which can be used, is its majority, for fertirrigação. Vinhaça, one of the effluents generated in the production of sugar and alcohol, which is also used in fertirrigação, provides to the soil a significant improvement in its chemical composition. For study effect it was used as research base the industry Centroálcool Ltda, located in the municipal district of Inhumas-GO. The distillery uses as main source of provisioning Meia Ponte River, spring of extreme importance in the public provisioning of the center-west cities in Goiás, fact that justifies the importance of this study, that has as objective to evaluate the rational use of water in the process of alcohol production. Through field visits and interviews with the collaborators, it was observed that the distillery presents a reasonable rate of water reception from the river, framing in the national average. However, through techniques reusing the water generated in the industrial process it’s possible to control the excessive use of heroics resources. Key- words: sugar canes, water, wastewater, fertirrigação. Goiânia, 2006/2 1 2 Acadêmica do curso de Engª Ambiental da Universidade Católica de Goiás. ([email protected]) Profº do Dep. de Engª da Universidade Católica de Goiás - UCG ([email protected]) 2 1 INTRODUÇÃO A agricultura apresenta hoje duas vertentes a serem consideradas quando se refere aos sistemas de produção, de um lado temos sistemas agrícolas mais primitivos que consomem muitos recursos naturais para a obtenção dos devidos produtos, e de outro lado temos sistemas de produção altamente intensificados, consumindo menos recursos, porém introduzindo no meio ambiente novos elementos e produtos causadores de desequilíbrios (inseticidas, pesticidas, fertilizantes, sais, etc.). A cana-de-açúcar é originária da Ásia e desenvolveu bem nos territórios brasileiros, pois ela é uma cultura que se adapta bem sob estação quente e longa com incidência de radiação alta e umidade relativa adequada, seguida de período seco, ensolarado e mediamente frio, porém sem geadas, durante a maturação e a colheita. Com 5,63 milhões de hectares plantados, a cana-de-açúcar ficou em terceiro lugar entre as principais culturas cultivadas no Brasil. A indústria sucroalcooleira é do tipo úmido necessitando de consideráveis quantidades de água em seus processos e operações, e por esse motivo suas instalações são próximas à mananciais de água. Isso levanta uma grande preocupação com a existência ou não de disponibilidade hídrica para abastecimento das 300 usinas em funcionamento no País somadas as 89 que, nos cálculos do setor, serão instaladas até 2010. No processo industrial utiliza-se um grande volume de água, principalmente no processo de lavagem da cana onde é utilizado em média 2.000 a 7.000 litros de água por tonelada de cana. Nos outros processos como: lavagem de pisos e equipamentos; resfriamento dos aparelhos da destilaria; colunas barométricas; descarga de caldeiras; etc., também é utilizado um volume considerável de água, porém a grande maioria pode ser reaproveitada. A vinhaça apresenta alguns aspectos negativos como DBO e temperaturas altas, e pH baixo, no entanto, se essa for disposta em condições adequadas, proporcionará um significativo beneficiamento na composição química do solo, por apresentar alto teor de potássio. Esse beneficiamento é facilmente notado quando se faz as colheitas de lavouras que receberam a fertirrigação, pois apresentam maior rendimento em números de colheitas que as lavouras não irrigadas. As agroindústrias de cana-de-açúcar que se encontram no estado de Goiás desenvolvem importantes projetos na área de preservação ambiental, além de gerarem riquezas, empregos e renda. Alguns desses projetos são: recuperação do bioma cerrado, proteção de mananciais de água, reserva de matas nativas, cultivo de cana orgânica, manejo 3 biológico de pragas, reaproveitamento de resíduos sólidos e líquidos, fertirrigação e cogeração de energia elétrica apartir do bagaço da cana. Portanto, o objetivo deste estudo é analisar o uso da água na produção de álcool, particularmente da indústria de álcool Centroálcool Ltda., localizada no município de Inhumas-GO e referir a destinação final das águas residuárias. Isso para que se tenha a real avaliação do uso racional da água captada do rio Meia Ponte, manancial que abastece a destilaria e cidades do centro-oeste goiano com altos índices populacionais. A indústria está localizada na GO-222 distante aproximadamente 4 km do perímetro urbano da cidade de Inhumas, e acerca de 50 km de Goiânia. Esta iniciou suas atividades no ano de 1981 com uma área industrial de 17,7 ha. O avanço desordenado da mancha da ocupação populacional sobre áreas próximas ao rio Meia Ponte; a crescente utilização dos recursos hídricos por setores como a agroindústria; e a necessidade de recuperação da margem do mesmo, que abastece inúmeras cidades do centro-oeste goiano, justifica plenamente a importância deste estudo. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA De acordo com Doorenbos (1994), apud Santos (2005), a cana-de-açúcar originou-se na Ásia. A maior parte da cana-de-açúcar comercial (de sequeiro e sob irrigação) é produzida entre as latitudes 35ºN e 35ºS do Equador. Beauclair (1991), apud Teramoto (2003) relata que assim como toda cultura agrícola, a produção da cana-de-açúcar é influenciada por um grande número de fatores ambientais. Alguns desses não são passíveis de manejo, como o clima, enquanto outros, como o solo e a disponibilidade de água, podem ser manejados para permitir o melhor desempenho da cultura. A busca por altos rendimentos a baixo custo implica em conhecer mais detalhadamente o ambiente no qual a cultura está inserida, com o objetivo de racionalizar as relações entre os diferentes fatores de produção visando o máximo de desempenho. A cana-de-açúcar, em função do seu ciclo perene, sofre a influência das variações climáticas durante todo o ano. Para atingir alta produção de sacarose, a planta precisa encontrar épocas com condições de temperatura e umidade adequadas para permitir o máximo crescimento na fase vegetativa, seguida de um período com restrição hídrica ou térmica para favorecer o acúmulo de sacarose no colmo na época do corte. Alfonsi et al., apud Teramoto (2003). Portanto a cultura desenvolve-se bem, segundo Doorenbos (1994) apud Santos 4 (2005), sob estação quente e longa com incidência de radiação alta e umidade relativa adequada, seguida de período seco, ensolarado e medianamente frio durante a maturação e a colheita. No que se refere à temperatura basal para a cana, de acordo com (BARBIERI e VILLA NOVA, 1977) apud Teramoto (2003), o ideal se encontra em torno de 20°C. A temperatura ótima situa-se entre 22 a 30°C, sendo que nestas condições a cultura apresenta seu máximo crescimento. 2.1 Produção regional da cana-de-açúcar Agrianual (2005) apud Santos (2005), relata que o Brasil encontra-se em 1º lugar no ranking mundial da produção de cana-de-açúcar (Saccharum spp.), atualmente com uma produção anual da ordem de 400.000.000 de toneladas (cana colhida). Segundo Vasconcelos et al. (2006), a soja ficou em primeiro lugar entre as principais culturas cultivadas no Brasil (21,54 milhões de hectares), o milho em segundo com 12,34 milhões de hectares e a cana-deaçúcar ficou em terceiro lugar com 5,63 milhões de hectares plantados. Com essa produção, de acordo com Santos (2005), a cultura da cana demonstra ser de grande importância na economia brasileira. Vasconcelos et al. (2006), relata que em 2010, de acordo com estudos a produção brasileira no campo será de 535 milhões de toneladas de cana, isso se dará principalmente pela contribuição produtiva das possíveis 89 destilarias que serão inauguradas no Brasil até esta data. Para a safra de 2013-2014 seriam 670 milhões, mas já para a safra de 2006-2007 deverão ser colhidos 420 milhões para produzir 17 bilhões de litros de álcool e quase 29 milhões de toneladas de açúcar. Álcool, energia de biomassa, oriunda da intensa disponibilidade de energia solar no Brasil, vem se impondo, no país, pelo crescimento do mercado dos veículos Flexíveis – FLEX (Álcool ou gasolina, ou mistura). O mercado mundial está interessado na importação do álcool, como demonstrou o recente protocolo de (maio/2005), assinado pelo governo brasileiro e japonês e as empresas Petrobrás, Vale do Rio Doce e Mitsui (Japão) (FAW, 2005). Em Goiás a estimativa da área plantada com cana-de-açúcar, da safra 2005-2006, pode ser demonstrada no Quadro 1. Segundo Enerverde (2005), do total de açúcar (16,36 milhões de sacas) a ser produzido, 207 mil toneladas serão destinadas à exportação e 60 mil metros cúbicos de álcool anidro também terão o mesmo destino. As estimativas de exportações dos produtos açúcar e álcool do estado são demonstradas no Quadro 2. A previsão é que o setor sucroalcooleiro gere, neste ano, R$ 150 milhões de ICMS e garanta emprego a 70 mil trabalhadores de forma direta e indireta. 5 Quadro 1: Estimativa da área plantada com cana-de-açúcar - safra 2005/06- Goiás ESTIMATIVA DA ÁREA PLANTADA COM CANA-DE-AÇUCAR SAFRA 2005/2006 - GOIÁS PLANTADA (ha) 207.409 CORTE (ha) 185.688 Fonte: SIFAEG (2005), apud Enerverde (2005) Quadro 2: Estimativa de exportações – safra 2005/06 ESTIMATIVAS DE EXPORTAÇÕES SAFRA 2005/06 PRODUTO CENTRO-SUL GOIÁS Açúcar (ton.) 14.700.000 207.000 Álcool (m³) 1.800.000 60.000 Fonte: SIFAEG (2005), apud Enerverde (2005) De acordo com Boldrin et al (2006), pode-se observar que os cuidados ambientais praticados por uma empresa, atualmente podem significar maior competitividade à mesma, seja para atrair a atenção dos consumidores internos que se demonstram cada vez mais conscientes; seja para adequar-se às especificações de mercados com maiores exigências ambientais, tendo em vista o mercado interno e principalmente o mercado externo. As agroindústrias de cana-de-açúcar instaladas no Estado de Goiás, além de gerarem riquezas, empregos e renda, desenvolvem importantes projetos na área de preservação ambiental. Destaca-se o projeto de recuperação do bioma cerrado, proteção de mananciais de água, reserva de matas nativas, cultivo de cana orgânica, manejo biológico de pragas, reaproveitamento de resíduos sólidos e líquidos, fertirrigação e co-geração de energia elétrica (a partir do bagaço de cana), que contribuem para o desenvolvimento sustentável (ENERVERDE, 2005). 2.2 Bacia do Rio Meia Ponte A indústria açucareira é do tipo úmido necessitando de consideráveis quantidades de água em seus processos e operações. Como tal, sua localização mais apropriada é nas cercanias de um manancial de água, rio ou lago. Também é desejável que esteja perto das fontes de matéria-prima: os canaviais (BRAILE et al., 1993). A destilaria de álcool Centroálcool localiza-se na cidade de Inhumas-GO, próximo às margens do rio Meia Ponte, manancial pelo qual a indústria utiliza como fonte de 6 abastecimento. Segundo Pasqualetto et al. (2004), o rio Meia Ponte nasce nas proximidades de Itauçú e Taquaral de Goiás (a 60 Km de Goiânia) e percorre 471,6 Km até atingir o rio Paranaíba, abaixo da cidade de Cachoeira Dourada (a 232 Km da capital), na divisa com o estado de Minas Gerais. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (2003), relata que a bacia do rio Meia Ponte é composta por 37 municípios mostrado na Figura 1, nos quais habitam 2,5 milhões de goianos. Segundo IBGE (2000) a bacia representa 3,56% da área do território do Estado, com mais de 50% da população do estado inserida nesta região (Figura 2). De acordo com Leite e Manoel (2004), historicamente, os 37 municípios inseridos na bacia apresentam uma economia voltada à exploração de suas áreas rurais pela prática da agricultura e pecuária. Mais recentemente, os municípios próximos de Goiânia, têm buscado incentivar a industrialização. Assim, nos últimos anos, o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional das regiões adjacente ao rio Meia Ponte afetaram negativamente a quantidade e qualidade de suas águas. Figura 1 e 2: Distribuição Geográfica dos Municípios da Bacia do Rio Meia Ponte Fonte: DBO Engenharia (1997), apud Tibiriçá Resende et al. (2004). 7 A região da Sub-Bacia do Alto Meia Ponte insere os seguintes municípios: Itauçú; Damolândia; Inhumas; Ouro Verde de Goiás; Brazabrantes; Nova Veneza; Nerópolis; Goianira; Anápolis; Santo Antônio de Goiás; Terezópolis de Goiás Goianápolis, e Goiânia. (TIBIRIÇÁ RESENDE et al., 2004). Segundo Morais (2000), apud Morais e Vieira (2004), a vegetação natural salvo em pequenas áreas pontuais, cede espaço para o desenvolvimento das atividades agropecuárias. Resultado de um desenvolvimento histórico de uso da terra calcado na modernização da agricultura (Revolução Verde) e na monocultura em grandes extensões de áreas mostrado na Figura 3. Este padrão de desenvolvimento gerou, e continuam gerando, problemas de natureza sócio-ambiental pela exclusão de pequenos produtores e enormes danos ao meio ambiente. Figura 3: Área agrícola terraceada, dentro de APP, entre Inhumas e Damolândia. Fonte: SANEAGO (1999), apud Morais & Vieira (2004). 2.3 Recursos Hídricos e Legislação De acordo com Minervino e Assunção (2004), no Brasil, há uma série de instrumentos legais aprovados que disciplinam os diferentes usos dos recursos hídricos. Entre eles: a Lei nº 6.662/79, da Política Nacional de Irrigação, que tem como objetivo (conforme o art. 1º) “o aproveitamento racional de recursos da água e dos solos para a implantação e desenvolvimento da agricultura irrigada.”; a Lei nº 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 2º, inciso II), que coloca como uma das condições para cumprimento de seus objetivos “a racionalização do uso do solo, do sub-solo, da água e do ar.”; e a Lei nº 8.171/91, 8 da Política Agrícola, (art.19, inciso II e art.20), que prevê o disciplinamento e a fiscalização do uso racional da água e, ainda, considera a bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento do uso, da conservação e da recuperação dos recursos naturais. O crescimento econômico de uma região é determinado por uma rede complexa de relações que envolvem aspectos econômicos, sociais, políticos e geoambientais. Esta visão, que pretende combinar o crescimento econômico com a conservação da natureza, por meio do uso racional dos seus recursos, é denominada “desenvolvimento sustentável” (MINERVINO e ASSUNÇÃO, 2004). Ainda de acordo com Minervino e Assunção (2004), a consonância com as estratégias de sustentabilidade do desenvolvimento, a Política Nacional dos Recursos Hídricos, aprovada pela Lei 9.433, de janeiro de 1997, estabeleceu como objetivo: “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; e a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável.” (art. 2º, incisos I e II). Segundo Azevedo (2000), apud Minervino e Assunção (2004), a utilização racional da água e a integração do planejamento de seu uso com outras políticas setoriais também fazem parte do elenco de princípios da Política Nacional de Irrigação, aprovada pela Lei 6.662/79. Tal preocupação com o uso da água deve-se ao fato de que a agricultura é, de longe, mundialmente falando, o maior usuário de água, representando, em média, 69% da demanda, contra 23% da indústria e 8% do abastecimento humano. Em países em desenvolvimento, a parcela utilizada pelo setor agrícola é ainda maior, alcançando os 80%, em parte por causa do alto consumo inerente à atividade, mas também, em conseqüência do emprego predominante de técnicas ineficientes de irrigação. 2.4 A cana-de-açúcar e os benefícios da fertirrigação Com o aumento da população torna-se necessário utilizar cada vez mais, a maior quantidade possível de solo agricultável, procurando corrigir a distribuição natural das chuvas, impulsionando a irrigação. Estima-se que a agricultura irrigada brasileira seja responsável por 1,4 milhão de empregos diretos e 2,8 milhões de indiretos, implicando que cada hectare irrigado gera 1,5 emprego. Como o Brasil tem potencial para irrigar 16,1 milhões de hectare, a irrigação tem capacidade de empregar cerca de 24 milhões de pessoas no país. Atualmente, mais de 50% da população mundial depende de produtos irrigados. (TIBIRIÇÁ- 9 RESENDE et al., 2004). A relação da taxa de crescimento da área irrigada no Brasil está apresentada na Tabela 1. De acordo com Christofidis (1999), apud Minervino e Assunção (2004), de 1950 até 2000, as áreas irrigadas no Brasil chegaram a 3.000.000 de hectares. Cerca de 1.154.400 hectares eram irrigadas pelo método de aspersão, de eficiência média, correspondendo a 37% da área total irrigada, enquanto a irrigação de superfície, um método reconhecidamente não tão eficiente, era adotado na maior parte. Os métodos de superfície englobam a irrigação, com uso do controle de drenagem agrícola, e subirrigação, que tem um diferente trato no manejo dos recursos hídricos, principalmente, na gestão. 1998 2870 4,14 1997 2756 3,77 1996 2656 2,15 1995 2600 -7,14 1994 2800 0,91 1990 2700 5,15 1985 2100 5,59 1980 1600 6,68 7,87 11,23 17,81 17,11 - Taxa de Crescimento (% aa) Fonte: Freitas (1999), apud Tibiriçá-Resende (2004). 7,78 1975 1100 1970 796 1965 545 1960 320 1955 141 Área Irrigada (10³ ha) 64 Ano 1950 Tabela 1: Relação da Taxa de Crescimento da Área Irrigada no Brasil. Segundo Santos (2005), algumas pesquisas foram conduzidas no Brasil visando detectar os benefícios na cana-de-açúcar irrigada, comparativamente a não irrigada. Tais pesquisas, em geral, apresentaram como resultados altos índices de produção, evidenciando os benefícios da irrigação. Todavia, há grande variação nos resultados, o que indica a importância das condições locais de clima, solo, manejo da cultura e da própria irrigação. Portanto Enerverde (2005) concluiu que, a aplicação racional dos efluentes líquidos industriais em áreas agrícolas tem o objetivo de suprir as necessidades nutricionais e hídricas da cultura da cana-de-açúcar, atualmente em complemento a adubação química e proporcionando comprovadamente aumento da produtividade da lavoura, constituindo em importante medida mitigadora de riscos de poluição ambiental. a) Água de lavagem da cana A cana-de-açúcar, geralmente, é lavada antes de ser processada. Esta operação destina-se a retirar os resíduos sólidos que são carreados durante a operação de corte, transporte e recepção na usina. Para a lavagem da cana-de-açúcar, utiliza-se uma quantidade 10 significativa de água. Os fabricantes de equipamentos de usinas de açúcar e álcool recomendam, para o caso de carregamento mecanizado, a utilização de 6000 litros de água por tonelada de cana. Entretanto, a utilização é bastante variável nas usinas, indo de 2000 até 7000 litros de água por tonelada de cana, de acordo com a quantidade de água disponível. A água utilizada para a lavagem, tanto pode ser proveniente de um manancial qualquer ou ser da própria água utilizada nas colunas barométricas (BRAILE et al., 1993). De acordo com Braile et al. (1993), as águas que saem do processo de lavagem da cana deverão passar por um gradeamento, de preferência de remoção mecânica, a fim de retirar os materiais sobrenadantes e outros sólidos separáveis. Após o gradeamento, essas águas deverão passar por um sistema de decantação, a fim de que sejam removidos os sólidos decantáveis. Após esse tratamento as águas poderão ser utilizadas na fertirrigação da lavoura juntamente com a vinhaça, evitando-se o lançamento desta diretamente ao corpo receptor. Esse é um processo adotado em várias usinas açucareiras do estado de São Paulo e Goiás. b) Águas condensadas dos evaporadores ou amoniacais O caldo clarificado é uma solução diluída de sacarose e outras substâncias. Antes que a cristalização da sacarose possa se efetuar, a maior parte da água deve ser removida. Esta remoção é feita em dois estágios, utilizando evaporadores aquecidos a vapor. Durante a evaporação do suco clarificado nos evaporadores, são retirados e condensados cerca de 500 a 550 litros de água por tonelada de cana. As águas condensadas por evaporadores devem ser reutilizadas no processamento industrial (BRAILE et al., 1993). c) Águas das colunas barométricas ou dos multijatos Os vapores que saem da câmara de caldo do último vaso vão ao condensador. Esses vapores vêm acompanhados de gases incondensáveis e, como há necessidade de condensação intensa e de retirada dos mesmos, o condensador deve ser de grande potência e dotado de dispositivo que permitam sua retirada. Os condensadores gastam 35 litros de água para condensar 1 kg de vapor, porém, como os gases são em parte incondensáveis, a bomba de água, por medida de segurança, deve fornecer de 40 a 50 litros de água, correspondendo a 12000 litros de água por tonelada de cana (BRAILE et al., 1993). d) Vinhaça As destilarias de álcool ou aguardente produzem, como principal efluente, a vinhaça. Este material recebe diversas denominações regionais (restilo, vinhoto, caldos, vinhote, tiborna, coxixi ou garapão), tem sido a longo tempo, uma constante preocupação dos 11 órgãos responsáveis pelo controle da poluição (BRAILE et al., 1993). Segundo Braile et al. (1993), a composição da vinhaça depende de vários fatores, sendo que os mais importantes são: a natureza e composição de matéria-prima, e o tipo de condução do aparelho de destilação. Os primeiros dados da composição da vinhaça foram obtidos da fermentação do melaço final e apresentados por Almeida (1952). Naquela oportunidade, ficou evidenciado tratar-se de um material que continha, em média, mais de 93% de água; sendo que 74,85% dos constituintes sólidos que o compunham eram substâncias orgânicas. Trata-se, pois, de um efluente líquido (suspensão), com predominância, nos seus sólidos, de substâncias orgânicas e, consequentemente, poderíamos defini-lo como um efluente orgânico. De seus constituintes minerais (25,15% dos sólidos) 63,47% correspondem a potássio. O Quadro 3 mostra as características qualitativas do restilo. Quadro 3: Características qualitativas do restilo. Elemento Unidade Melaço Misto pH 4,2-4,4 3,6-4,4 Nitrogênio (N) Kg/m³ 0,57-0,79 0,33-0,48 Fósforo (P2O5) Kg/m³ 0,10-0,34 0,09-0,61 Potássio (K2O) Kg/m³ 3,95-7,59 2,18-3,34 Cálcio (CaO) Kg/m³ 1,85-2,41 0,57-1,46 Magnésio (MgO) Kg/m³ 0,84-1,40 0,33-0,58 Sulfato (SO4) Kg/m³ 1,05 1,60 Mat. Orgânicos Kg/m³ 37,03-56,90 19,10-45,10 Ferro (Fé) Ppm 52-120 47-130 Cobre (Cu) Ppm 3-9 2-57 Zinco (Zn) Ppm 3-4 3-50 Manganês (Mn) Ppm 6-11 5-6 Cloro (NaCl) Kg/m³ 3,0 2,0 Carbono (C) Kg/m³ 18,2 12,1 Sólidos Totais Kg/m³ 81,5 52,7 Sólidos Voláteis Kg/m³ 60,0 40,0 Sólidos Fixos Kg/m³ 21,5 12,7 DBO Kg/m³ 25,0 19,8 DQO Kg/m³ 65,0 45,0 Temperatura ºC 80-100 80-100 Fonte: Adaptado de ORLANDO F° e LEME (1984) apud CETESB (1985) Caldo 3,5-3,7 0,25-0,35 0,09-0,35 1,15-1,94 0,13-0,76 0,21-0,41 2,03 15,3-34,7 45-110 1-18 2-3 5-10 1,0 3,7 23,7 20,0 3,7 16,4 33,0 80-100 A vinhaça disposta na cultura cumpre duas finalidades: irrigação e fertilização. Tem por objetivo melhorar as propriedades físicas e químicas do solo, elevar o seu pH concorrendo para sua neutralização ou alcalinização, aumentar o poder de retenção de água e sais minerais, restaurar, conservar ou aumentar a fertilidade, aumentar a microflora e produzir condições ideais para o cultivo de cana (CETESB, 1985). As taxas ótimas de aplicação são em funções do tipo de solo, de sua fertilidade e da origem do vinhoto, conforme este provenha de mosto de melaço, de caldo ou misto. 12 Atualmente a taxa aceitável tem sido até 300m³/ha. Taxas elevadas conduzem a efeitos indesejáveis, citando-se: comprometimento da qualidade da cana para produção de açúcar, poluição do lençol freático, salinização do solo, etc. O potássio é o único elemento que tem se demonstrado causar efeito na cana, pois aumenta o teor de umidade na cana (CETESB, 1985). De acordo com CETESB (1985), a aplicação de vinhaça deverá ser feita só após uma avaliação cuidadosa e supervisionada por especialistas habilitados, mesmo porque é considerada um material desequilibrado em relação aos macronutrientes, como teores elevados de potássio, médios de nitrogênio e baixos de fósforo, além de suas aplicações causarem odores e moscas. e) Água da lavagem de pisos e equipamentos Segundo Braile et al. (1993), a quantidade de água utilizada para a lavagem dos pisos e equipamentos varia; entretanto, podemos considerar que o volume total de água de limpeza situa-se em torno de 200 a 300 m³ por lavagem de equipamentos e igual volume por lavagem dos pisos. As características das águas dessas lavagens são, também, bastante variáveis, tendo pH, às vezes, desde extremamente ácidos até extremamente alcalinos, de acordo com as substâncias químicas utilizadas. Portanto concluiu-se que em indústrias que produzem álcool, as águas de lavagem de pisos devem ser enviadas à caixa receptora da vinhaça, pois é interessante fazer-se a diluição da mesma. Logo após, estes efluentes devem ser recalcados à lavoura para irrigação. f) Outros despejos em usinas de açúcar e álcool Água de resfriamento dos aparelhos da destilaria: este efluente praticamente não causa problemas, pois não entra em contato direto com qualquer poluente. O único inconveniente, porém de fácil solução, é o aumento da temperatura que pode causar poluição térmica. A temperatura média desta água é de ordem de 40ºC (BRAILE et al., 1993). Água da descarga das caldeiras: a DBO dessas descargas é bastante baixa, porém a concentração de lama inorgânica e sólidos solúveis é alta. O resíduo pode ser isolado, ou pode ser incorporado à caixa receptora da vinhaça para a irrigação da lavoura (BRAILE et al., 1993). Esgoto doméstico: as águas residuárias oriundas dos esgotos domésticos da indústria devem ser tratadas separadamente e seu efluente pode ser utilizado na lagoa de estabilização (BRAILE et al., 1993). 13 3 METODOLOGIA As informações necessárias para a realização desse trabalho, se deram por meio de estudos dos processos industriais de indústria sucroalcooleira que se encontram implantadas por diversos estados do Brasil. Nas informações levantadas, o aspecto considerado mais relevante foi a grande vazão de água utilizada por estas nos processos produtivos, além deste dado foram verificados o volume de vinhaça resultante de cada litro de álcool fabricado e a destinação das águas residuárias produzidas nas indústrias. Este estudo foi desenvolvido junto à indústria Centroálcool Ltda., localizada no município de Inhumas-GO, onde foram levantadas todas as características de produção, a quantificação e utilização da água fornecida pelo rio Meia Ponte. Nesse trabalho foi desenvolvida na ordem: • caracterização da região estudada; • importância ambiental e social do rio Meia Ponte; • realização de levantamentos "in loco" para o diagnóstico socioambiental; • realização de entrevistas e aplicação de questionário aos colaboradores da Centroálcool, e; • propostas sugestivas para medidas de controle do uso excessivo dos recursos hídricos. Nas visitas realizadas nas lavouras de cana-de-açúcar do entorno do empreendimento e que são irrigadas pelas águas residuárias produzidas na destilaria, foram analisados o volume aspergido por hectare e a técnica utilizada na fertirrigação. A aplicação de questionários aos colaboradores da indústria foi de extrema importância para o levantamento de informações sobre as características da produção local. Para a coleta dessas informações foram abordados aspectos como: • área total da indústria, discriminando os hectares de cana-de-açúcar plantados; • fonte de abastecimento de água e vazão captada para todas as atividades da indústria; • a produção anual de cana-de-açúcar, álcool, e vinhaça; • área fertirrigada e taxa de aplicação de vinhaça por hectare de plantação de cana; • diferença entre o rendimento das lavouras fertirrigadas e as não fertirrigadas; dentre outros fatores. 14 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Na área onde está instalada a indústria Centroálcool Ltda., foi encontrado um tipo de solo litológico vermelho-escuro distrófico e relevo plano suave ondulado. A região possui lençol freático com profundidades variáveis, em função da alternância dos regimes climáticos da região em dois períodos bem distintos (chuvoso e seco). O clima é tropical com temperatura média entre 20 e 22°C. As chuvas concentram-se nos meses de verão variando entre 1.500 e 2.000 mm/ano e a umidade relativa anual é de aproximadamente 72%. A região do entorno da indústria tem ocupação para uso do solo tipicamente rural e industrial, com predomínio de plantações de cana-de-açúcar para uso próprio da indústria. A cana a ser processada tende a ser um dos produtos agrícolas de maior retorno para a economia brasileira. Isso faz com que a região de Inhumas tenha benefícios sociais significativos, como geração de renda e emprego para a população. Segundo Oliveira & Guidastre (2006), o sistema agroindustrial da cana-de-açúcar se divide em três subsistemas: agrícola (cultivo da cana-de-açúcar); industrial (produção de açúcar e álcool); e transporte (consumo de álcool combustível). A Centroálcool fabrica álcool anidro com 99% de pureza e álcool hidratado com 93% de pureza. Estes são armazenados a granel em tanques metálicos verticais (FIGURA, 4), localizados na área industrial. Em 2005 a destilaria processou 854.639 toneladas de cana apresentando um rendimento de 91,46 litros de álcool por tonelada de cana. Também nesse ano produziu-se 280 toneladas de bagaço por tonelada de cana, onde deste foi vendido cerca de 30% e queimado pela indústria cerca de 70% para a geração de energia. Essa queima é feita em caldeiras com capacidade para 100 mil quilos de bagaço. Atendendo assim a toda necessidade energética da indústria. Já neste ano de 2006 foram plantados 2.900 hectares e arrendados 15.000 ha, com isso a estimativa de processamento é de 942.000 toneladas de cana, sendo 842.000 ton. plantadas pela indústria e 100.000 ton. compradas da destilaria de Anicuns. Para abastecimento hídrico da indústria, que possui capacidade de captação de 3.000 m³/hora, é utilizada a vazão do rio Meia Ponte, que se localiza próximo à destilaria. Como a água provém diretamente do rio esta antes de ser encaminhada à produção passa por uma análise de pH e se necessário é destinada à um processo de tratamento onde se é usado cal para a devida clarificação da água. Esse procedimento é comum na destilaria, visto que para um produto final de excelente qualidade, a água usada na produção deve estar tratada. 15 Figura 4: Tanques metálicos de armazenamento do álcool Parte da vazão captada do rio é utilizada para a lavagem da cana (FIGURA 5) e de pisos e equipamentos. No período de safra, que ocorre entre os meses de abril a outubro, em média são processadas por dia 5.000 toneladas de cana. Para a lavagem desta são utilizados 4,3 m³/ton, resultando em uma utilização diária de cerca de 21.500 m³ de água. Após realizada a lavagem da cana, a água é encaminhada à um processo de gradeamento e decantação (FIGURA 6), onde parte retorna para o processo de lavagem e parte é encaminhada à lagoa de vinhaça onde será usada no processo de fertirrigação. Figura 5 e 6: Lavagem da cana e caixas de lodo (águas de lavagem da cana). A água utilizada para abastecimento interno (escritórios, refeitórios, sanitários, etc.), é captada de um poço artesiano existente no local e a destinação final desta é feita por 16 meio de uma fossa séptica que recebe todo esgoto doméstico da indústria. No processo industrial da Centroálcool são produzidos em média 12 litros de vinhaça por litro de álcool. Essa é encaminhada ao laboratório da destilaria a fim de se detectar falhas no processo, pois a presença de álcool indica a ocorrência de desperdício e consequentemente de prejuízos à empresa. Assim que sai do processo esta é encaminhada à lagoas de vinhaça (FIGURA7), que recebem também as águas descartadas da lavagem da cana, estas então são enviadas às lavouras de cana para o processo de fertirrigação. Para a fertirrigação a taxa de aplicação usada pela destilaria é de 350 m³/ha.ano. Nas lavouras próximas à destilaria, a vinhaça é conduzida por gravidade em um canal (FIGURA 8), cerca de 2 km, onde após atingir o local de irrigação esta é bombeada e disposta nas lavouras por meio do método da aspersão tradicional (FIGURA 9). As lavouras fertirrigadas que estão próximas à destilaria apresentam uma área de 390 ha. e as lavouras distantes apresentam área de 800 ha., que são fertirrigadas após a condução do restilo ao local por meio de caminhões. Já as lavouras que se encontram muito distantes da indústria não recebem fertirrigação pelo fato deste procedimento se tornar inviável, porém quando necessário estas são irrigadas com águas de mananciais que se encontram próximos aos local por meio de caminhões. Figura 7 e 8: Lagoas de vinhaça e canal para encaminhamento da vinhaça até o ponto de irrigação. Os solos das lavouras de cana-de-açúcar são analisados antes do plantio e ao final de três cortes da cultura. O que se concluiu pelos colaboradores da indústria é que as lavouras fertirrigadas apresentaram um rendimento de até 50% maior que as não fertirrigadas. Nas lavouras não fertirrigadas, pela necessidade nutricional que o solo apresentou, foi-se 17 necessário utilizar adubo NPK, e assim a área permitiu uma produção de 5 a 7 colheitas/longevidade do canavial. Já nas lavouras com fertirrigação o beneficiamento contribuiu para uma maior longevidade do canavial chegando a um rendimento de 14 colheitas/longevidade do canavial. Figura 9: Irrigação com vinhaça pelo método da aspersão 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Uma das visões estratégicas da Centroálcool é a conscientização ambiental para a busca da economia sustentável, pois como já tratado anteriormente, em relação ao aumento da competitividade e da consciência ecológica, ela tem ciência de que se não houver adequação a esses novos conceitos, estará reduzindo o seu potencial competitivo e conseqüentemente limitando o seu crescimento estratégico de ação junto à comunidade. A demanda nacional e mundial por álcool (combustível limpo e renovável), vem crescendo em larga escala, principalmente devido ao aumento da comercialização de automóveis bicombustíveis. Em conseqüência aumenta-se as destilarias, as plantações de cana-de-açúcar e o uso excessivo de recursos hídricos. Surge, no entanto, a preocupação do processo de minimização dos impactos no meio ambiente. Essas adequações já vêm mudando a rotina das indústrias, que buscam por meio de modernizações minimizar os danos causados por suas atividades. É o caso da destilaria Centroálcool, que vem à cada ano se adequando à legislação por meio de um projeto que visa à compra de máquinas colheitadeiras, visto que a partir de 2018, um decreto do governo federal proíbe a queima dos canaviais, e um decreto 18 estadual proíbe essa queima a partir de 2028. Embora a vazão utilizada pela Centroálcool para a lavagem da cana (4,3 m³/ton.) esteja dentro dos parâmetros recomendáveis (até 7 m³/ton.), a capacidade de captação da indústria de 3.000 m³/hora da água do rio Meia Ponte é bastante significativa. Esse é um motivo preocupante pelo fato deste manancial ser de tamanha importância no abastecimento público de cidades como Aparecida de Goiânia e Goiânia (capital do estado). Para que se tenha um aproveitamento adequado dos recursos hídricos uma das medidas seria o reaproveitamento das águas originadas da produção do álcool. As águas condensadas dos evaporadores; das colunas barométricas e de lavagem de pisos e equipamentos poderão ser incluídas ao ciclo de lavagem da cana. Outra medida é fazer uma aplicação homogênia das águas residuárias nas lavouras de cana-de-açúcar, para que estas necessitem o quanto menos de irrigação. No processo produtivo de uma destilaria de álcool grande parte da água retirada dos mananciais é em seu final reutilizada, como exemplo a vinhaça. Porém é necessário que a destilaria revise a taxa de aplicação dessas nas lavouras (350 m³/ha. ano), visto que a taxa recomendada como já vimos é de até 300 m³/ha. ano. Para controle da qualidade da água do rio Meia Ponte é necessário que se tome algumas medidas preventivas como: a construção de terraços nos limites das áreas agricultáveis e entre o primeiro obstáculo e o curso d’ água, para oferecer total garantia contra o escoamento de efluentes da lavoura; evitar o desperdício de água, monitorando o equipamento de bombeamento da água do rio; e proibir o uso de agrotóxico nas faixas de segurança. Como os dados levantados na pesquisa foram comparados a parâmetros levantados no estado de São Paulo pela CETESB, seria recomendável: • pesquisas referentes à caracterização regional e à taxa adequada de aplicação de vinhaça no estado de Goiás; • um constante monitoramento do processo de reutilização das águas residuárias e revisão dos procedimentos realizados pela indústria, para que estes não tragam danos aos solos e aos mananciais ligados a esta; e, • constantes estudos a cerca da qualidade do solo das lavouras, analisando sua composição química e deficiência nutricional. 19 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLDRIN, Vítor Paulo; BOLDRIN, Marinalva da Silva T. Gestão Ambiental e Economia Sustentável: um estudo de caso da Destilaria de Pioneiros S/A. Sud Mennucci-SP, 2003. Disponível em www.teses.usp.br. Acesso em 09 de abril de 2006. 12h47min. BRAILE, Pedro Marcio; CAVALCANTI, José Eduardo W.A. Manual de Tratamento de Águas Residuárias. In: São Paulo: CETESB,1993. 764p. 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