III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE O SIGNIFICADO IDENTIFICACIONAL DO DISCURSO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA: REVELANDO IDENTIDADES Mara Lúcia Castilho1 Introdução No presente artigo proponho-me a apresentar um recorte dos resultados parciais de minha pesquisa de doutoramento, de caráter teórico-metodológico voltado para a Análise de Discurso Crítica (ADC), seguindo Chouliaraki e Fairclough (1999) e Fairclough ([1992] 2008; 2003), cujo objetivo é analisar o discurso das narrativas do percurso educacional de estudantes de licenciatura em Letras, História e Biologia de uma instituição privada do Distrito Federal. Apresento parte dos resultados da análise do significado identificacional, proposto por Fairclough (2003), dos textos produzidos na entrevista semiestruturada com doze estudantes de licenciatura. O objeto estudado é o discurso e a pesquisa busca analisar aspectos sociais de representação do mundo e seus efeitos sobre a construção de identidades, por isso é delineada pelos elementos que caracterizam a pesquisa qualitativa. As posições ideológicas incrustadas no uso da linguagem e as relações de poder subjacentes a ela são, geralmente, obscuras para as pessoas. A ADC tem o objetivo de tornar os aspectos obscuros do discurso mais visíveis, a fim de esclarecer de que maneira a linguagem funciona em suas diversas formas de realização, na constituição e na transmissão do conhecimento, na organização das instituições sociais, e no exercício do poder e dominação (WODAK, 2003). Na ADC, o discurso é considerado uma prática de significação de mundo e a linguagem é compreendida como sendo dialeticamente interconectada a outros elementos da vida social (FAIRCLOUGH, 2003). O uso da linguagem (discurso) é considerado por Fairclough (2003) como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais, uma vez que esse autor defende que a linguagem se constitui por sujeitos e relações sociais (FAIRCLOUGH, [1992] 2008). Nesse sentido, as análises levaram em consideração a forma de as variedades discursivas se realizarem nas práticas sociais por meio do significado identificacional, conforme propõe Fairclough (2003). 1 Graduada em Letras pelo UniCEUB, Mestre em Educação pela UCB, doutoranda em Linguística pelo PPGL/UnB. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE A análise de discurso crítica e o significado identificacional Essa seção é direcionada a esclarecer o que é ADC e alguns termos relacionados à essa teoria de análise discursiva, a fim de facilitar a compreensão da proposta utilizada na pesquisa. A ADC é uma abordagem teórico-metodológica de estudo da linguagem na sociedade. Essa teoria analisa as instâncias reais de interação social e se distingue de outras abordagens por estabelecer: (a) a relação entre linguagem e sociedade, e (b) a relação entre a análise e as práticas analisadas (FAIRCLOUGH e WODAK, 1997). Para traçar a relação entre a linguagem, a sociedade e as práticas sociais, uma característica da ADC é pressupor que todos os discursos são historicamente situados e, por isso, devem ser compreendidos em seus contextos, sendo este crucial para as análises, uma vez que incluem explicitamente componentes sociais, psicológicos, políticos e ideológicos. São esses componentes que tornam a ADC interdisciplinar. São muitas as abordagens utilizadas na ADC e elas se distinguem pela proximidade de teorias que tendem a ser ora mais cognitivo-social-psicológica, ora mais macro-sociológicoestrutural, de acordo com os objetivos a que se propõe. Entre as diversas abordagens utilizadas pelos especialistas da área está a teoria social do discurso, desenvolvida por Norman Fairclough, para quem a maneira como o indivíduo fala ou escreve revela quem ele é, ou seja, a linguagem utilizada pelas pessoas em determinado contexto de cultura e contexto social pode revelar as identidades dos indivíduos. Nesse sentido, Fairclough (2003) entende que as análises textuais devem se preocupar em identificar traços linguísticos que permitam perceber os estilos ou o modo como o enunciador identifica a si mesmo e como identifica outras pessoas. Esse entendimento está relacionado ao fato de o discurso ser socialmente influenciado e erigir efeitos ideológicos de forma a produzir e reproduzir relações de poder por meio da forma como as pessoas representam discursivamente coisas e posições sociais (FAIRCLOUGH e WODAK (1997), FAICLOUGH, [1992] 2008). Para Fairclough e Wodak (1997), a ADC, fundamentada em Foucault, entende o discurso – a linguagem oral e escrita em uso – como prática social. Descrever o discurso como prática social implica uma relação dialógica entre o discurso de um evento discursivo específico e a(s) situação(ões), a(s) instituição(ões) e a(s) estruturas social(is) em que o evento está inserido. Essa relação dialógica permite compreender que o discurso é socialmente constituído, ao mesmo tempo em que a sociedade o constitui. É III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE constituído para manter e reproduzir posições sociais da mesma forma que contribui para transformá-las. Outro termo fundamental para a compreensão da ADC é práticas discursivas. Para Fairclough (2008), estas são processos de produção, distribuição e consumo textual, sendo a natureza desses processos variável nos diferentes tipos de discurso, de acordo com fatores sociais. Para esse autor, as práticas discursivas contribuem para reproduzir a sociedade como ela é (identidades sociais, relações sociais, sistemas de conhecimento e crença), mas também contribuem para sua transformação (FAICLOUGH, 2008). Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 21) definem prática, de forma geral, como sendo “modos habituais de ação social, ligados a um espaço e tempo particulares em que as pessoas aplicam recursos (materiais e simbólicos) para agir juntas no mundo. [...] As práticas constituem um ponto de conexão entre estruturas abstratas e seus mecanismos, e eventos concretos – entre a sociedade e a vida das pessoas”. Para Fairclough (2008), as instâncias de uso da linguagem, em textos escritos ou orais, são realizadas (em suas diversas modalidades) pelas ordens de discurso2, compreendidas como a combinação de gênero, discurso e estilo, que constituem os aspectos discursivos das redes de práticas sociais. Para Fairclough (2003), as ordens de discurso podem revelar três diferentes processos: o de identificação (estilos), o de representação (discurso) e o de ação (gênero). Como a ADC reconhece a dialética entre o discurso e as práticas sociais (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH (1999)), ela investiga como as ideologias são produzidas e reproduzidas pelos atores sociais nos discursos. Os conceitos de ideologia de Fairclough (2003) são entendidos como representações de aspectos do mundo que podem contribuir para o estabelecimento, manutenção ou mudança de poder nas relações sociais. Para analisar as formas simbólicas ideológicas de estabelecimento e sustentação de relações de dominação, serão utilizadas as categorias de Thompson ([1990] 2007). Esse autor busca criar um conceito adequado para analisar como as formas simbólicas se entrecruzam nas relações de poder, ou seja, como as formas simbólicas de 2 Para Foucault (2002), as ordens de discurso são o conjunto de formações discursivas pertencentes a determinada instituição ou sociedade. Um dos principais problemas identificados por Fairclough ([1992] 2008) sobre a proposta de formação discursiva de Foucault – regras de formação discursiva encontradas em um conjunto de enunciados pertencentes à determinada prática social (FOUCAULT, 2002) – é que ela atribui papel pré-determinado para o discurso dos sujeitos sociais, ou seja, as pessoas entram na prática e na interação social com identidades sociais que são pré-formadas. Para Fairclough ([1992] 2008, p. 70) o discurso é uma prática dialética, que considera que “os sujeitos sociais são moldados pelas práticas discursivas, mas também capazes de remodelar e reestruturar essas práticas”. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE ideologia estão inseridas nos contextos sociais. Para Thompson ([1990] 2007), as formas simbólicas são o amplo espectro de ações, falas, imagens e textos produzidos pelos sujeitos e reconhecidos por eles e pelos demais como construto significativo. Segundo esse autor, há vários modos de operação de as formas simbólicas ideológicas servirem para o estabelecimento e sustentação de relações de dominação, que são: a legitimação, a dissimulação, a unificação, a fragmentação e a reificação. Não cabe neste artigo discorrer sobre todas as formas simbólicas de operação da ideologia propostas por Thompson ([1990] 2007), mas esclarecer o modo de operação identificado no discurso dos jovens que colaboraram com a pesquisa. Trata-se da Legitimação, que, de acordo com esse autor são relações de dominação que podem ser estabelecidas e sustentadas pelo fato de serem representadas como legítimas. Há pelo menos três estratégias para sua construção simbólica: (a) Racionalização - o produtor de uma forma simbólica constrói uma cadeia de raciocínio que procura defender um conjunto de relações sociais como sendo digna de apoio; (b) Universalização - o produtor tenta convencer que acordos institucionais servem aos interesses de alguns indivíduos servem ao interesse de todos; (c) Narrativização - histórias contadas do passado e que tratam o presente como parte de uma tradição eterna e aceitável. Para realizar a análise das formas simbólicas de ideologia presentes no discurso dos estudantes colaboradores da pesquisa, recorri à Linguística Sistêmico Funcional. A linguagem e a ADC Halliday (1984), ao propor a Linguística Sistêmico Funcional (LSF), apresenta a língua como um sistema sócio semiótico. Na LSF, a linguagem é um sistema de significados constituído por uma diversidade de opções oferecida ao usuário da língua, que quando selecionadas pelos indivíduos em suas interações diárias, constroem significados (HALLIDAY, 1984). Esse sistema linguístico aberto é composto por estratos internos (semântico, lexicogramatical, fonológico, fonético), e externos (o contexto de situação e o contexto de cultura). Quando um componente linguístico é selecionado do sistema e realizado pelo usuário da língua, em um determinado contexto, ele exerce uma função na interação social, daí a noção de funcionalidade nos usos sociais da língua. A ideia de interação na linguagem é proveniente de Bakhtin ([1929] 2010), para quem um sistema de normas imutáveis não pode ser efetivo para representar as normas sociais, uma vez que essas estão relacionadas à consciência subjetiva dos indivíduos que participam da coletividade regida pelas normas sociais. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE A língua em uso serve ao propósito de expressar as experiências humanas, de representar as relações sociais estabelecidas entre as pessoas. Por essa razão, Halliday e Matthiessen (2004) entendem que a linguagem se realiza por meio de três macrofunções: uma ligada à representação do mundo (metafunção experiencial); outra ligada ao relacionamento entre as pessoas (metafunção interpessoal); e outra relacionada ao status da sentença no texto (metafunção textual). De acordo com Eggins (2004), os usuários da língua interagem para construir significados e não para simplesmente trocar palavras ou sentenças uns com os outros. De acordo com essa autora, na LSF, a linguagem é vista sob três metafunções ou significados: a metafunção ideacional, que se refere ao assunto, conteúdo ou tópico sobre o qual as pessoas falam; a metafunção interpessoal, que se refere às relações estabelecidas entre as pessoas, a maneira como elas representarem a si mesmas e aos outros nas relações pessoais e sociais; e a metafunção textual, que é a maneira como as pessoas organizam a fala e a escrita segundo o propósito que desejam e de acordo com as exigências do meio social, histórico e cultural em que estão inseridas. Fairclough (2003) propõe uma articulação entre as macrofuncões de Halliday e os conceitos de gênero, discurso e estilo (ordem de discurso). Sugere, no lugar das funções da linguagem, três tipos de significado para o texto: o acional (modo de agir), o representacional (modo de representar) e o identificacional (modo de ser). Para Fairclough (2003, p. 29), discursos (significados representacionais) são realizados em gêneros (significados em ação), discursos (significados representacionais) são inculcados em estilos (significados de identidade), ações e identidades (incluindo gêneros e estilos) são representados em discursos (significados representacionais). Esse autor entende que esses três significados devem ser levados em consideração na análise das práticas sociais. Como o foco deste trabalho é estabelecer relação entre o significado identificacional do discurso (FAIRCLOUGH, 2003) e a construção das identidades dos estudantes, darei enfoque ao significado identificacional, que está relacionado ao estilo, aspectos discursivos do modo de falar de uma pessoa, que revelam seu modo de ser, suas identidades. Nesse sentido, esse autor entende que as análises textuais devem se preocupar em identificar traços linguísticos que permitam perceber os estilos ou o modo como o enunciador identifica a si mesmo e como identifica outras pessoas. Os processos de identificação envolvem, portanto, efeitos constitutivos do discurso (FAIRCLOUGH, 2003) e devem ser vistos como processos dialéticos nos quais os discursos estão assimilados pelas identidades. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE Identidades e ADC Sobre as identidades, a ADC tem se preocupado em estudar as relações de poder estabelecidas nas práticas discursivas e sociais, e a construção das identidades no cenário de transformações econômicas e sociais, consequência da modernidade tardia (GIDDENS, 2002). De acordo com Fairclough (2008), essas transformações afetaram profundamente as atividades, as relações sociais e as identidades sociais e profissionais e, consequentemente, as práticas discursivas e sociais. Segundo esse mesmo autor, essas transformações são verificadas por meio do discurso, que é “socialmente constitutivo e contribui para a constituição de todas as dimensões da estrutura social que, direta ou indiretamente, o moldam e o restringem: suas próprias normas e convenções, como também relações, identidades e instituições que lhe são subjacentes” (FAIRCLOUGH, 2008, p. 91). A concepção de identidades é constituída a partir das noções de igualdade e de diferença construídas socialmente, as quais são a moeda do jogo de construção das identidades (KEMP, 2001). Para Woodward (2008), esse movimento de constituição do sujeito é um movimento de diálogo entre os símbolos e as regras que fazem parte da cultura dos diferentes sujeitos e, de acordo com Hall (2008) é um processo é inacabado e multifacetado. Para Hall (2008), as identidades são construídas por meio da diferença e não fora dela. As identidades, então, só são construídas por meio da relação com o outro, da relação com aquilo que não é. Hall (2008, p. 111-12), diz utilizar o termo identidade para: significar o ponto de sutura entre, por um lado, os discursos e as práticas que tentam nos “interpelar”, nos falar ou nos convocar para que assumamos nossos lugares como os sujeitos sociais de discursos particulares e, por outro lado, os processos que produzem subjetividades, que nos constroem como sujeitos aos quais se pode “falar”. As identidades são, pois pontos de apego temporário às posições-de-sujeito que as práticas discursivas constroem para nós. Ainda segundo Hall (2008), as identidades são as posições que a pessoa é obrigada a assumir, embora sempre saiba que elas são representações, construídas ao III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE longo de uma “falta”, a partir do lugar do Outro (Hall, 2008, p. 112) e que nunca podem ser idênticas. A identidade é marcada pela diferença e a construção da identidade é tanto simbólica quanto social (WOODWARD, 2008; HALL, 2008). Todavia, algumas diferenças parecem ser mais importantes que outras, em momentos e lugares particulares, conforme apresentarei a seguir, juntamente com os procedimentos metodológicos da produção dos dados de pesquisa. Percurso teórico metodológico de produção do corpus e de sua análise Para selecionar a amostra dos cursos a serem pesquisados na instituição escolhida para a pesquisa, busquei fundamentação em Bauer e Aarts (2010), que entendem que a pesquisa social preocupa-se em selecionar evidências para argumentar e necessita justificar a seleção do referencial utilizado para demonstrar, provar ou refutar um problema orientado de pesquisa. A partir das ideias desses autores, propus-me, então, construir um corpus como princípio alternativo de produção de dados, que garantisse a eficiência na seleção do material para caracterizar o todo. Para Bauer e Aarts (2010), a construção do corpus pode ser entendida conforme Barthes (1967, p. 96 apud Bauer e Aarts, 2010, p. 44) “uma coleção finita de materiais, determinada de antemão pelo analista, com (inevitável) arbitrariedade, e com a qual irá trabalhar”. Fundamentada nesses autores, optei por pesquisar, aproximadamente, cinquenta por cento dos cursos de licenciatura ofertados pela instituição colaboradora da pesquisa, dos quais foram, aleatoriamente, sorteados três: Ciências Biológicas, História e Letras. Não me preocupei, contudo, com a representatividade da amostra em relação a todos os estudantes de licenciatura no Brasil ou mesmo da instituição pesquisada. Preocupei-me em construir um corpus, para análise, representativo para os objetivos a que a pesquisa se propôs. A composição da amostra de colaboradores de pesquisa foi organizada em razão da quantidade de alunos matriculados no segundo semestre de cada um dos cursos sorteados - aproximadamente trinta alunos – e, então, estabeleci que quatro alunos de cada um participaria da pesquisa. Após realizar entrevista semiestruturada com todos os estudantes colaboradores e solicitar que escrevessem um relato sobre seu percurso escolar antes e depois de ingressar na graduação, organizei o corpus de análise, levando em consideração os III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE elementos que possibilitariam fundamentar o problema de pesquisa. Os resultados apresentados, resumidamente, neste trabalho foram fundamentados na análise do significado identificacional do discurso (FAIRCLOUGH, 2003) a partir das teorias de legitimação de Thompson ([1990] 2007) e de van Leeuwen (1997). As estratégias de legitimação no discurso dos estudantes A análise do significado identificacional do discurso dos estudantes revelou que suas crenças são reveladas por meio da legitimação. Sobre esse tema, fundamentei-me em Thompson ([1990] 2007) e van Leeuwen (1997). De acordo com Thompson ([1990] 2007) um dos processos de dominação ideológica pode se dar por meio da legitimação, ou seja, por processos que envolvem relações de dominação estabelecidas e sustentadas pelo fato de serem representadas como legítimas. Esse processo pode ser encontrado na forma de narrativização, isto é, por histórias contadas ou ouvidas que legitimam determinada crença. Para van Leeuwen (1997) a legitimação pode se dar por meio da avaliação moral, embasada por valores morais percebidos como normais ou naturais de serem cumpridos. Esse processo pode ser negativo ou positivo. Legitimação por narrativização A análise do discurso dos estudantes revela marcas da cultura brasileira, principalmente aquelas que se referem à vida dura que os habitantes do nordeste levam. Percebe-se, no discurso dos estudantes, a presença de discursos pré-estabelecidos a respeito das dificuldades vivenciadas pelo povo nordestino. O compromisso dialógico de negociação de sentido se dá por meio do uso de elementos provenientes de outros textos presentes no discurso dos estudantes. Esses elementos situam-se no contexto de cultura com marcas de brasilidade, conforme se pode identificar nos trechos abaixo. Um dos colaboradores se utiliza da saga da família nordestina, relatada no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, para expressar o quanto é batalhadora e conseguiu driblar todos os obstáculos para poder ingressar em um curso superior. (1) [...] eu costumo até brincar que de vez em quando eu falo pros meninos que a minha vida é a vida daquele romance “Vidas Secas”, tirando só a parte da III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE seca que não era, tinha muita água, mas o resto... o resto é aquilo lá, casinha, caminha dura, os meninos sem nome, quer dizer o menino sem nome conseguiu chegar aqui [...]. (Let ) Percebe-se, no exemplo (1), que a citação da saga da família do personagem Fabiano, de Vidas Secas, é utilizada para mostrar o grau de pobreza da família do colaborador de pesquisa e, ao mesmo tempo, mostrar que foi recompensador ele ser batalhador, pois conseguiu ingressar no ensino superior, fato raro para aqueles que possuem a mesma condição social na região em que foi criado. O discurso desse colaborador revela as barreiras vencidas para chegar nesse nível de ensino. Seu discurso quer revelar, principalmente, que é um vencedor mais que todos os outros, pois seus obstáculos parecem ter sido bem maiores que os de seus colegas de turma. Nos exemplos (2) e (3), percebe-se a presença do discurso próprio do contexto cultural brasileiro no que se refere às condições de vida do povo nordestino e sua obstinação em mudar de vida. Nos trechos abaixo, os estudantes retomam as condições de vida do Nordeste para tentar justificar a interrupção dos estudos dos pais. (2) [...] Minha mãe eu não tenho certeza, mas eu acho que é ensino fundamental e meu pai, acho que ele fez até a quarta série só, foi muito básico, eles são do interior, são do Nordeste e eles tiveram pouquíssimas oportunidades. (Het) (3) [...] nós vinhemos com esse intuito de estudar e alcançar o nível superior, que pros termos do nordeste, do interior é algo que pra gente era muito importante, [...] E cheguei aqui com muita dificuldade, tô muito feliz. Pra mim era uma coisa assim que era de fundamental importância. [...] (Lip) As dificuldades dos habitantes do Nordeste e da falta de recursos materiais e educacionais são temas diários dos jornais de amplitude nacional e regional. A referência à região Nordeste, muitas vezes, é utilizada como sinônimo de pobreza, e ao mesmo tempo em que possui carga semântica negativa para os fatos relacionados às questões materiais e de infraestrutura, pode adquirir valor semântico positivo quando relacionado aos cidadãos que conseguiram mudar seu destino. O discurso dos estudantes também revela a noção de que o ensino básico da rede pública brasileira não é bom, fato este que pode ser vinculado às questões culturais de nosso país. Sobre esse assunto, os III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE resultados das avaliações em larga escala realizadas pelo governo indicam que a qualidade do ensino das escolas brasileiras não é boa. A mídia tem publicado notícias e reportagens sobre esses resultados e sobre a má qualidade da educação básica da rede pública brasileira. Para ilustrar3, busquei compreender o que endossa a crença dos estudantes quanto à qualidade do ensino público brasileiro e cito algumas manchetes dos jornais de maior circulação no país, como é o caso de O Globo e a Folha de São Paulo, que divulgam constantemente textos que discorrem sobre os resultados dos exames que medem a qualidade do ensino brasileiro. Algumas notícias veiculadas nos últimos anos, nesses jornais, trazem os seguintes títulos: Má qualidade do ensino atrasa alunos brasileiros ”[...] Alunos do Pará são exemplo do mau aprendizado” 4; Vizinhos de SP têm o pior ensino público “[...] cidades da Grande São Paulo - como Ribeirão Pires, Jandira, Santana de Parnaíba e Francisco Morato - apresentam médias inferiores a de municípios do interior do Nordeste”5; Ensino público de qualidade: por Fernando Haddad e Mangabeira Unger. 6 O início do texto da primeira notícia é “O brasileiro sabe que o aluno da escola pública estará em desvantagem quando tiver de disputar um lugar no ensino superior.” (grifo nosso) Segundo este último texto, uma pesquisa do Ibope mostra que na opinião dos brasileiros, a má qualidade do ensino é o terceiro maior problema da educação no Brasil. A segunda notícia, da Folha de São Paulo, discorre sobre os resultados da Prova Brasil, exame que avalia a qualidade do ensino. De acordo com o texto, a Folha de São Paulo tabulou os dados a partir da Prova Brasil e percebeu que as cidades da Grande São Paulo - como Ribeirão Pires, Jandira, Santana de Parnaíba e Francisco Morato apresentam médias inferiores a de municípios do interior do Nordeste. O texto do jornal corrobora o discurso dos colaboradores de pesquisa. O contexto de cultura mostra que o Nordeste é uma região que tem muitas dificuldades e quando há resultados que mostram que a situação de algum segmento é inferior à realidade nordestina, significa que a situação é muito ruim. 3 As manchetes não fazem parte do corpus da pesquisa, mas são citadas para ilustrar que a crença de que o ensino público brasileiro é ruim é proveniente não só dos resultados das avaliações realizadas pelo Ministério da Educação, como também da mídia. 4 Notícia extraída no site do jornal O Globo, veiculada em 18/03/2009 no endereço :<http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL104912816021,00-MA+QUALIDADE+DO+ENSINO +ATRASA+OS+ ALUN OS +BRASILEIROS.html> . Acesso em 27/12/2011. 5 Veiculado em 11/02/2007 Extraído do site http://www1.folha.uol.com.br /folha/educacao /ult305u19363.shtml. Acesso em 27/12/2011 6 Veiculado em 18/02/2008 Extraído do site http://www1.folha.uol.com.br/fsp/indices/ inde18022008.htm III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE O terceiro texto, escrito pelo então Ministro Haddad e por Mangabeira Unger, Ministro de Assuntos Estratégicos na época, é iniciado com a seguinte frase: “Melhorar a qualidade do ensino público é hoje reconhecida prioridade da Nação.” O discurso da mídia está presente no discurso dos colaboradores de pesquisa, que reproduzem o discurso da “desvantagem quando tiver que disputar um lugar no ensino superior”, conforme veiculado no jornal do Estado do Rio de Janeiro. Os exemplos abaixo revelam as crenças dos estudantes sobre o ensino brasileiro e sua relação com a realidade de vida deles: (4) [...], eu sabia que não tava muito preparado pro vestibular da UnB, eu tinha que estudar mais em casa, [...] porque tudo que eu aprendi no ensino médio e no ensino fundamental ainda não me preparou pra conseguir uma vaga numa universidade pública, [...], que o nível do vestibular tá mais alto do que o ensino médio ensina. (Hax) (5) [...] Por conta do ensino defaso [sic] que foi, né? O ensino que foi... Aqui em Brasília mesmo. O ensino básico não dá nenhuma base pra você fazer um vestibular, assim em relação a UnB, por exemplo. (Hip) (6) [...] Mas a gente vê essa diferença de escola pública, toda a diferença, infelizmente tem. (Hov) Os elementos discursivos revelam as crenças dos alunos sobre a má qualidade da educação brasileira e como a experiência deles reflete essa realidade cultural. Esses discursos parecem estar inculcados nas identidades dos estudantes e parece fazer com que se sintam predestinados ao insucesso. (7) [...] Sinceramente não, tanto é que eu nunca tentei uma prova da UnB exatamente pela bagagem, [...], então eu não me sentia preparada pra fazer a prova. (Lip) As identidades reveladas por esse processo voltam-se para indivíduos que se sentem, de certa forma, inferiores, sem oportunidade, porém, que se esforçaram e alcançaram outro nível de vida. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE (1) quer dizer o menino sem nome conseguiu chegar aqui [...]. (Let ) É nesse sentido que Fairclough ([1992] 2008) entende que os sujeitos sociais são capazes de remodelar e reestruturar as práticas sociais. Os estudantes fazem uso de práticas discursivas comuns à cultura brasileira, mas isso não significa que se renderam às ideologias consagradas no discurso de muitos. A representação de mundo presente do discurso desses jovens mostra que suas práticas discursivas podem mudar o rumo de suas histórias de vida. As estratégias de legitimação por avaliação moral As estratégias discursivas utilizadas pelos estudantes para mostrar seu pertencimento ao nível superior de ensino estão voltadas para o processo de legitimação por avaliação moral, ao qual se refere van Leeuwen (1997). Segundo este autor, esse processo é baseado em valores expressos pelos usuários da língua por meio de palavras, como, por exemplo, “mau”, “bom” ou outra cujo significado expresse valores negativos ou positivos. Todavia, não são realizadas por meio de imposição por parte de algum tipo de autoridade (VAN LEEUWEN, 2008). Na maioria dos casos, a avaliação moral está ligada a discursos específicos de valor moral e, na análise de discurso, sua percepção não se dá por meio da identificação de uma ocorrência linguística especifica, mas pelo reconhecimento a partir de critérios baseados em conhecimento cultural. Os estudantes mostram-se, muitas vezes, (in)seguros e (in)capazes de participar das atividades propostas pelos professores, ora porque a linguagem dos textos é difícil, ora porque não conhecem os gêneros acadêmicos a serem produzidos, conforme mostram os exemplos (8) e (9). (8) Ah assim, dá o sentimento de incapacidade, primeiro momento você fica “Gente, será que é só comigo?”. (Hov) (9) Eu sinto algum... um pouco de dificuldade porque aqui é diferente. Tipo, eu não aprendi, no segundo grau, a fazer um projeto de pesquisa igual eu aprendi agora, tipo uma resenha também. (Hax) III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE Ao mesmo tempo, o julgamento que fazem sobre sua preparação para ingressar na educação superior é negativo, pois o discurso mostra (in)capacidade para realizar o processo seletivo, conforme mostram os exemplos de (4) a (7). Busquei, então, compreender de que maneira os estudantes se mostram engajados com as práticas sociais acadêmicas, uma vez que não se sentem tão capacitados para desenvolvê-las. Van Leeuwen (1997) diz que os usuários da língua fazem uso de recursos linguísticos para legitimar seus discursos. Um deles é a estratégia de legitimação por avaliação moral. Esta foi a estratégia identificada no discurso dos estudantes, utilizada para se mostrarem aptos a participar das práticas sociais inerentes à vida universitária. Discursivamente, os colaboradores de pesquisa representam seus colegas de turma como àqueles que conversam muito, que não assistem às aulas, conforme se pode verificar nos exemplos de (10) a (13), quando os estudantes de referem aos colegas de turma como os “outros” que não perguntam, faltam às aulas, conversam o tempo inteiro: (10) Eu acho que alguns se esforçam, têm outros que eu vejo também não se esforçando, mas não sei se... Talvez porque não pergunta ou porque faltam à aula [...] Eu me esforço, os outros eu não sei. (Hax) (11) [..] mas também tem outros alunos super desinteressados que ficam as aulas todas lá fora conversando, bebendo [...] (Het) (12) A turma de um modo geral não presta atenção em nada, eles ficam muito... conversando o tempo inteiro, a gente mudou de lado da sala porque não tava aguentando conversinha, entendeu? (Bip) (13) por mais que eu seja a mais nova da sala, às vezes eu acho que eu tenho mais consciência de que eu estou no ensino superior do que muita gente mais velha lá na sala, [...], estão achando que no ensino médio que está aqui só pra curtir, (Lax) Woodward (2008) diz que as identidades são construídas pela diferença. A diferença, neste caso, é marcada por representações simbólicas vinculadas às práticas sociais dos estudantes no que se refere ao cumprimento de regras sociais tácitas, como, por exemplo, prestar atenção às aulas, fazer todas as tarefas solicitadas pelo professor, não faltar às aulas, entre outras. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE As identidades dos colaboradores de pesquisa parecem se firmar com valores que se esperam serem seguidos por um estudante universitário, qual seja, ser esforçado para ultrapassar as barreiras intelectuais, assistir às aulas sem conversar com os colegas, realizar as atividades propostas pelos professores, cumprir os prazos estipulados para entrega de trabalhos, não conversar, não gazear aulas, entre outras. Considerações finais A análise do discurso dos estudantes revela marcas ideológicas sobre as condições sociais da cultura brasileira, principalmente aquelas que se referem às condições de vida dos moradores da região Nordeste e revela, de certa forma, a crença de falta de oportunidades que aqueles cidadãos, como justificativa da (in)capacidade intelectual. Como demonstram dificuldade em ter as habilidades que se entendem necessárias ao ingresso na educação superior, as identidades reivindicadas pelos estudantes que colaboraram com esta pesquisa são construídas a partir do jogo de poder de desqualificação do colega, mostrando que ele não cumpre as regras propostas para um estudante universitário e que, portanto, não podem ser confiáveis. A negociação se dá por meio do uso de elementos provenientes de outros textos presentes no discurso dos estudantes. Esses elementos situam-se no contexto de cultura com marcas de brasilidade e, por esse motivo, podemos entender, conforme Fairclough ([1992]2008), que todos os discursos são historicamente situados e, por isso, devem ser compreendidos em seus contextos, sendo este crucial para as análises, uma vez que incluem explicitamente componentes sociais, psicológicos, políticos e ideológicos. Esse dados, ainda que em processo de apreciação, mostram que as crenças dos estudantes podem ser identificadas por meio da análise do significado identificacional do discurso e são reveladas por meio de estratégias de legitimação, conforme Thompson ([1990] 2007) e van Leeuwen (1997). A partir disso, é possível perceber que os processos ideológicos envolvem relações de dominação estabelecidas e sustentadas por práticas discursivas que tendem a transformar as condições sociais. O uso de estratégias de legitimação por avaliação moral faz com que as identidades sejam negociadas linguisticamente, para mostrar que os colaboradores de pesquisa são esforçados, confiáveis. A utilização dessa estratégia de avaliação moral está inserida nas relações de poder estabelecidas pelos estudantes e pode ser entendida como luta hegemônica a partir da crença de que o fato de cumprirem com as regras estabelecidas para os “bons alunos” faz com que se sintam pertencentes ao grupo. Trata- III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE se, portanto, de práticas ideológicas, conforme Fairclough ([1992] 2008, p. 94), para quem “o discurso como prática ideológica constitui, naturaliza, mantém e transforma os significados de mundo de posições diversas nas relações de poder”. No caso dos estudantes colaboradores desta pesquisa, as relações de poder são estabelecidas por uma prática de negociação de confiabilidade moral e não de capacidade intelectual. Referências BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 14. ed. São Paulo: Hucitec, [1929] 2010. BAUER, M. & ARTS, B. A Construção do corpus: um princípio para a coleta de dados qualitativos. In: BAUER, Martim W.; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 7. ed. Editora Vozes: São Paulo, 2008. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Jahar, 2005. CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. Discourse in late modernity: rethinking critical discourse analysis. Edinburg: Edinburgh University Press, 1999. EGGINS, Suzanne. An introduction to systemic functional linguistics. 2. ed. London: continuum, 2004. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. 2 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, [1992] 2008. _____. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge, 2003. ______. A análise crítica do discurso e a mercantilização do discurso público: as universidades. IN: FAIRCLOUGH, Normam; WODAK, Ruth. Critical discourse analysis. IN: VAN DIJK, Tuan. Discourse as social interaction. USA: Sage, 1997. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. ______. Quem precisa da identidade? IN: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 8.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. HALLIDAY, Michael A.K. An introduction to functional grammar. London: Hodder Arnold, 1984. III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE HALLIDAY, Michael A.K. & MATTHIESSEN, Christian M.I.M. An introduction to functional grammar. 3. ed. Londres: Arnold, 2004. SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. IN: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 8.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis: Vozes, [1990] 2007. VAN LEEUWEN, Theo. A representação dos atores sociais. In: PEDRO, Emília Ribeiro. (Org.) Análise Crítica do Discurso: uma perspectiva sociopolítica e funcional Lisboa: Caminho, 1997. WODAK, Ruth. De qué trata el análisis crítico del discurso (ADC). Resumen de su historia, sus conceptos fundamentales y sus desarollos. In: R. Wodak & M. Meyer (orgs.). Métodos de análisis crítico del discurso. Barcelona: Gedisa, 2003. WOODWARD, Kathryn. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 8.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.