EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS Júlio Cesar da Silva Maciel de Lima (Estudante de Psicologia) e-mail: [email protected], Ellen Caroline Zultanski Vicente (Estudante de Psicologa) e-mail: [email protected], Verônica Suzuki Kemmelmeier (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Campus Irati/ Setor de Ciências da Saúde Palavras-chave: equipe multiprofissional, pluridisciplinaridade,comunicação. Resumo: Este estudo tem por finalidade observar como se dá a equipe multiprofissonal dentro de uma instituição de educação inclusiva. Foram realizadas observações à instituição e entrevistas com profissionais deste local. Nos discursos obtidos, observou-se um desconhecimento dos profissionais com os termos multi-pluri-inter e transdisciplinariedade e uma predominância de atuação técnica, identificada como pluridisciplinar. Introdução De acordo com Spink (2003), embora o conceito de equipes multiprofissionais seja louvável, na prática essa não é a realidade. Pois em seu interior, as equipes multiprofissionais acabam por reproduzir as posições ocupadas pelas profissões no campo da saúde como um todo, sendo submetidas à profissão hegemônica, a medicina. Muito se ouve e observa-se falar em Multi, Pluri, Inter e Transdisciplinaridade. Uma das questões que se coloca para discussão é a das diferenças de fundo entre esses conceitos. Na Multidisciplinaridade, recorremos a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Cada elemento componente se compromete com um ângulo do fenômeno – emocional e afetivo, o neurológico, o pedagógico escolar, o religioso, o social etc – para depois tentar juntá-los, reconstruir a suposta totalidade do fenômeno. Na Pluridisciplinaridade percebe-se que um passo foi dado a partir da Multidisciplinaridade. A abordagem pluridisciplinar ultrapassa as diferentes áreas do conhecimento, porém sua finalidade permanece inscrita no quadro de pesquisa disciplinar, as disciplinas continuam em um mesmo nível, com pequenas e raras contribuições, mas sem uma coordenação. Na Interdisciplinaridade a fragmentação e compartimentação das diferentes disciplinas não contarão mais, a questão problema levará à unificação do conhecimento. A interação chega a um nível tão elevado que é Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 praticamente impossível distinguir onde começa e onde termina cada disciplina. A Transdisciplinaridade insere-se na busca atual de um novo paradigma para as, procurando entender que é ainda uma espécie de utopia e valorizar positivamente o termo utopia, no sentido do não-lugar. Ou seja, não foi realizado em nenhum lugar, mas é uma busca, uma procura. Ao citar Fortuna & Mishima apud Fortuna (1999), Peduzzi (2001) identifica três concepções diferentes sobre trabalho em equipe, sendo que a primeira destaca os resultados, onde a equipe é concebida como recurso com finalidade de aumentar a produtividade e a racionalização dos serviços. A segunda concepção destaca as relações, tomando como referencial conceitos da psicologia, analisando as equipes com base nas relações interpessoais e nos processos psíquicos. A terceira e última concepção destaca a interdisciplinaridade, onde estão os trabalhos que realizam a discussão e articulação dos saberes e a divisão do trabalho, ou seja, a especialização do trabalho em saúde (p.104). Ao se pautar na teoria de Habermas, Peduzzi (2001) distingue um agir-instrumental e um agir-comunicativo, que articulados às concepções sobre o processo de trabalho em saúde, abarcam a dinâmica da ação multiprofissional, contemplando a forma como essa ação se estrutura, bem como a dimensão dos sujeitos envolvidos na mesma, que se expressa na intersubjetividade. A autora coloca que Habermas decompõe o conceito de trabalho em dois componentes, interdependentes na prática, porém passíveis de serem analisados separadamente: o trabalho, tido como ação racional dirigida a fins, e a interação. Para ele trabalho e interação possuem uma relação recíproca, se tornando impossível reduzir a interação ao trabalho ou derivar o trabalho a partir da interação. Dessa forma, a partir da relação recíproca entre trabalho e interação, tem-se que, o trabalho dá destaque para a atividade ou intervenção técnica, ao passo que, a intervenção dá destaque a intersubjetividade. Assim, podese observar uma divisão entre duas noções de equipe, a equipe enquanto agrupamento de agentes e a equipe como integração de trabalho. Sendo que a primeira noção se caracteriza por uma fragmentação, enquanto a segunda se caracteriza por uma articulação referente à proposta de integração das ações na área da saúde. A partir dessa distinção, destacamse duas modalidades de trabalho em equipe: a equipe agrupamento, onde as ações se justapõem e há o agrupamento dos agentes, e a equipe integração, onde as ações se articulam e há interação dos agentes, sendo que, a composição de uma equipe multiprofissional requer a articulação das ações, a interação comunicativa entre os agentes e a superação do isolamento dos saberes (Peduzzi, 2001). Pedduzzi (2001) identifica alguns critérios que podem auxiliar no reconhecimento das equipes de trabalho em suas duas modalidades. O primeiro critério diz respeito à comunicação entre os agentes do trabalho. Com relação a este, a autora indica que a articulação das ações, a coordenação, a integração dos saberes e a interação dos agentes se dariam Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 através da linguagem, ou seja, a comunicação é tida como sendo um elemento comum no trabalho em equipe, decorrente da relação entre trabalho e interação. O segundo critério que auxilia o reconhecimento das equipes de trabalho é o projeto assistencial comum. A partir de uma realidade dada, e inseridos em um certo campo de possibilidades, os agentes constroem, através do trabalho e do agir-comunicativo, um projeto relacionado às necessidades de saúde, análogo às concepções dos usuários e dos profissionais. O terceiro critério se refere aos trabalhos diferentes e trabalhos desiguais. Os trabalhos que se separam ou se agregam ao trabalho do médico se configuram como um conjunto diversificado de áreas profissionais, necessárias à viabilização da atenção integral à saúde. As diferenças técnicas estão relacionadas às especializações dos saberes e das intervenções, dentro das variadas áreas profissionais. Assim, as desigualdades dizem respeito à existência de valores e normas sociais que hierarquizam e disciplinam as diferenças técnicas entre as profissões (Peduzzi, 2001). O quarto critério é a especificidade dos trabalhos especializados versus flexibilidade da divisão do trabalho. Os profissionais de saúde dão destaque à necessidade de preservação das especificidades de cada trabalho especializado. Expressam, porém, a necessidade de uma flexibilização na divisão do trabalho, a partir da qual os profissionais podem realizar intervenções referentes às suas respectivas áreas, mas executando ações comuns, nas quais são integrados saberes que provém de diferentes campos (Peduzzi, 2001). O quinto e último critério é a autonomia técnica. Observam-se no trabalho em equipe três concepções no que diz respeito à autonomia técnica: na primeira, há a noção de autonomia plena; na segunda o profissional ignora o âmbito de autonomia no qual realiza seu trabalho; e, na terceira, ele compreende o caráter de interdependência da autonomia técnica dos agentes do conjunto (Peduzzi, 2001). No trabalho em equipe do tipo integração observa-se uma complementaridade e colaboração no exercício da autonomia técnica de cada profissão, não havendo independência dos projetos de ação de cada agente. Já no trabalho em equipe do tipo agrupamento, os trabalhos especializados também apresentam como característica a complementaridade, porém dentro desta o projeto assistencial de cada área profissional ou mesmo de cada agente é independente, o que demonstra a concepção de autonomia técnica plena dos agentes (Peduzzi, 2001). Dessa forma, tem-se que o trabalho em equipe ocorre em situações de trabalho, onde existem relações hierárquicas entre médicos e profissionais de outras áreas, com diferentes graus de subordinação, juntamente com a flexibilidade da divisão do trabalho e com a autonomia técnica realizada com interdependência. Portanto, torna-se possível a construção da equipe-integração mesmo em situações em que existem Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 relações não simétricas entre os diferentes profissionais. O grau de integração dependerá da argumentação técnica e da valoração, por parte da sociedade, dos distintos trabalhos, por meio do agir-comunicativo, pois este pressupõe o compartilhamento de premissas técnicas, mas sobretudo, um horizonte ético. Materiais e Métodos A partir de uma metodologia qualitativa foram realizadas duas observações participantes com cerca de 1 hora de duração cada e entrevistas semiestruturadas com as seguintes profissionais da instituição: 1 fonoaudióloga, 1 fisioterapeuta, 1 técnica de enfermagem, 1 terapeuta ocupacional e uma 1 assistente social. Resultados e Discussão A equipe de trabalho da área da saúde é denominada “equipe técnica” pelos profissionais que a formam. Os profissionais possuem salas individuais, adaptadas e equipadas de acordo com a área de atuação. De acordo com os seus relatos nas entrevistas, o momento do diálogo entre as áreas de atuação ocorre entre um procedimento e outro, e é essa a prática diária que permite um atendimento minimamente articulado entre as várias disciplinas. Observou-se que os profissionais trabalham de maneira separada, porém procurando uma integração. Conclusões De modo geral, percebemos que nas observações e entrevistas realizadas evidencia-se a existência de uma equipe multiprofissional com características de equipe agrupamento e de equipe integração, não existindo uma interdisciplinaridade mas sim uma pluridisciplinaridade. Percebe-se a existência de uma comunicação entre os profissionais, sendo esta de caráter pessoal e um projeto assistencial comum, delineado superficialmente, o que configura uma atuação levemente integrada. Os indivíduos entrevistados não se auto-denominam da mesma forma –uma multi e outra inter -, e aparentam assim não conhecer a concepção e a prática multiprofissional. Há sinais de cooperação entre os diferentes ramos do conhecimento, mas ainda se mantém objetivos distintos e atuações individualizadas. Nessa medida, o psicólogo e outros profissionais devem atuar a fim de promover uma atuação em conjunto, integrada e não simplesmente instrumental, técnica, fragmentada. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Referências Santos, Boaventura Sousa. Um Discurso sobre as Ciências. São Paulo: Cortez, 2006. 4ª edição Spink, Mary Jane. Psicologia Social e Saúde: Práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 3ª edição. Peduzzi, Marina. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública, 2001, p.103-109. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009