um estudo dos métodos e metodologias das

Propaganda
UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS E METODOLOGIAS DAS PRÁTICAS
PROFISSIONAIS DOS ASSISTENTES SOCIAIS
Rosângela Bujokas de Siqueira email: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Sociais Aplicadas
(SESA)/ Departamento de Serviço Social (DESES)
Palavras-chave: Formação Profissional; Prática Profissional; Metodologias de
Intervenção.
Resumo:
O Serviço Social é uma profissão de natureza interventiva, que atua nas
expressões da questão social, decorrentes do conflito capital trabalho,
inerente ao modo de produção capitalista. No entanto, a prática profissional
deve estar embasada na leitura atenta da realidade, para isso, a articulação
entre teoria e prática é fundamental. Por isso, esse trabalho procurou
investigar as especificidades dos campos de atuação profissional.
Introdução
O Serviço Social é uma profissão que nasceu na sociedade moderna, com o
processo de consolidação do sistema capitalista. Neste contexto, a princípio
a atuação profissional esteve centrada no atendimento individual, buscando
contribuir para a “adaptação” dos indivíduos ao processo de modernização
da sociedade e de consolidação do sistema capitalista. Netto (2006) nos
conta que, no Brasil, o quadro de desigualdade social e de autoritarismo
político fomentou o processo de reconceituação da profissão, que percebeu
a necessidade de uma prática vinculada à construção de uma sociedade
mais justa e democrática.
Assim, a busca por bases teóricas capazes de explicar as
contradições da sociedade brasileira fomentou um momento importante de
construção do Projeto Ético Político do Serviço Social. Para tanto, a prática
profissional foi sendo compreendida como uma intervenção crítico-reflexiva,
que deve desvendar as contradições que perpassam as relações sociais,
buscando garantir a consolidação dos direitos sociais.
Para tanto, torna-se fundamental analisar as especificidades das
praticas profissionais, buscando identificar as metodologias de intervenção
que subsidiam os assistentes sociais nos campos de atuação profissional.
Materiais e Métodos:
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009
Esta pesquisa contou com a participação de três acadêmicos do curso de
Serviço Social e de uma professora coordenadora. Assim, o trabalho foi
construído através de reuniões periódicas, onde o grupo levantou as
referências bibliográficas, construiu o referencial teórico de análise e
sistematizou o instrumental de pesquisa.
A coleta de dados foi realizada nos campos de estágio ofertados no
ano de 2008 para a área de Serviço Social. Os instrumentais de pesquisa
(questionários) foram distribuídos aos 33 campos de estágio. Destes,
apenas 17 responderam a pesquisa. As análises se referem a estes 17
campos de intervenção profissional, desta maneira, consideramos que os
resultados deste estudo nos aproximam da realidade, mas, com certeza, não
esgotam a complexidade da temática.
Resultados e Discussão
As práticas profissionais são sistematizadas e regulamentadas de acordo
com as demandas emergentes na sociedade, decorrentes dos contextos
histórico, social, econômico e político. A princípio, Iamamoto (2002) destaca
que o Serviço Social surge de um movimento social de bases confessionais,
com formação doutrinária e com presença ativa da Igreja Católica. Segundo
a autora, para a Igreja a questão social, antes de ser econômico-política é
uma questão moral e religiosa. Desta forma, o aparato teórico e
metodológico da profissão foi fundado por bases conservadoras, isso
significa dizer que a profissão não contava com sistematização teórica, nem
tampouco com métodos propícios para intervir diante das expressões da
questão social, decorrentes do modo de produção capitalista. Para Estevão
(1988), o Serviço Social passou a utilizar a sistematização metodológica a
partir da década de 1940, fazendo uso de uma metodologia de origem norte
americana. O atendimento individualizado e o estudo de caso foram os
primeiros instrumentais utilizados pela profissão. Os impasses decorrentes
do uso desta metodologia referem-se à diversidade econômico-social dos
países da América Latina, em especial do Brasil. O desenvolvimento de
comunidade, modelo de intervenção social norte americano, não respondeu
as necessidades decorrentes do processo de industrialização brasileiro.
Desta forma, impasses como a concentração de renda, o aumento da
pobreza e da desigualdade social foram questões intocadas por esta
estratégia de ação.
Foi no contexto de luta pela redemocratização do Estado brasileiro,
entre as décadas de 1970 e 1980, que o Serviço Social passou a rever seu
aparato teórico-metodológico e a questionar sua prática profissional. Para
Netto (2006) esse período marca a emergência de um novo pensamento
social, que pretende denunciar a magnitude dos problemas econômicos e
sociais do Estado Brasileiro. Assim, a obra de Faleiros (2005) reafirma que
entre as décadas de 1960 a 1980 o Serviço Social deu início a um processo
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009
de reconstrução do seu aparato teórico-metodológico. Conhecido na área
como Movimento de Reconceituação, essa reconstrução trouxe bases mais
críticas de interpretação da realidade social e de intervenção diante das
expressões da questão social. Os instrumentais técnico-operativos foram
revistos, com o objetivo de responder a nova interpretação dada ao projeto
ético-político do Serviço Social. Martinelli e Koumrouyan (1994) esclarecem
que o instrumental pode ser compreendido como o conjunto articulado de
instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação
profissional. Contudo, alertam as autoras, o uso deste recurso e seu
desempenho encontram-se na habilidade dos agentes, ou seja, na prática
cotidiana do agir profissional dos assistentes sociais.
Dos campos de atuação investigados, 42% se referem a área da
assistência social; 23,5% estão na área da criança e do adolescente; 11%
na área de saúde e 23,5% em outros. Dos profissionais que responderam a
pesquisa, 77% declararam que, na sua área de atuação profissional,
participam do planejamento das ações e dos projetos, e não somente da
execução dos serviços. 94% dos profissionais entrevistados declararam
possuir clareza na compreensão do objeto de intervenção na sua área de
atuação. No entanto, as questões abertas nos mostraram que há ausência
de clareza entre objeto e objetivos. Da mesma forma, quando interrogados
sobre a perspectiva teórica que norteia a prática profissional, 65%
declararam possuir uma corrente teórica norteadora, contudo, as questões
abertas nos possibilitaram identificar a fragilidade da prática reflexiva, tendo
em vista que muitos profissionais mencionaram as legislações como
fundamento teórico da prática. Com a análise das entrevistas pudemos
observar que na área da assistência social havia maior dificuldade de
compreensão do objeto de intervenção, assim como de oportunidades de
exercer atividades no planejamento das ações. De outro modo, os
profissionais da área de saúde pareciam possuir maior clareza na
compreensão do objeto e dos objetivos da profissão, declarando que atuam
na produção e planejamento das ações e dos projetos.
Conclusões
O estudo mostrou que os desafios da profissão parecem dizer respeito aos
desafios impostos a democratização das políticas sociais. Nota-se que, de
acordo com o setor de política entrevistado, os desafios de rompimento com
o conservadorismo mostram-se ora mais, ora menos intensos. Desta forma,
acreditamos que a formação profissional deve contribuir para a leitura da
análise de conjuntura da realidade brasileira e dos cenários locais, onde se
operacionalizam as políticas sociais e onde se realiza o agir profissional.
Desta forma, a compreensão e a construção dos métodos e metodologias de
intervenção devem ser capazes de apreender as especificidades regionais e
locais, contribuindo para a formação de profissionais crítico-reflexivos e
comprometidos com o projeto Ético Político da profissão, na defesa da
universalização das políticas sociais e da construção de uma sociedade
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009
mais justa e igualitária.
Referências:
ESTEVÃO. O que é Serviço Social. São Paulo: Brasiliense, 1988.
FALEIROS, Vicente de Paula. Reconceituação do Serviço Social no
Brasil: uma questão em movimento? Revista Serviço Social e
Sociedade, n. 84. São Paulo: Cortez, 2005.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e Conservadorismo no
Serviço Social: ensaios críticos. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
MARTINELLI, Maria Lúcia; KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para
a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social.
Revista Serviço Social e Sociedade, n. 45. São Paulo: Cortez, 1994.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do
Serviço Social no Brasil pós-64. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009
Download