FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO III SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP 05 A 09 DE DEZEMBRO DE 2011 DESDOBRAMENTOS DA CRÍTICA DE KARL KORSCH AO MARXISMO DA SEGUNDA INTERNACIONAL Ugo Rivetti Email: [email protected] Resumo Uma das preocupações que mais mobilizaram as primeiras gerações de marxistas do século XIX, os expoentes da Segunda Internacional (1889-1914) e os pioneiros do “marxismo ocidental” foi o esforço de reconstituir a história do marxismo como tradição intelectual, demarcando suas raízes teóricas e as relações descritas ao longo de sua trajetória histórica com áreas do conhecimento afins, como a filosofia e as ciências sociais. Embora esse seja um tópico já clássico nas reflexões do e no campo marxista, o caso de Karl Korsch (1886-1961) aponta para consequências interessantes que podem ser desdobradas a partir daí. De fato, a reflexão korschiana acerca da gênese e da história do marxismo, especialmente no que diz respeito à sua relação com a filosofia (desenvolvida em Marxismo e filosofia), revela em que medida reconstruir a história do marxismo supõe atribuir-lhe certo estatuto teórico. As posições assumidas com relação a essa problemática são, portanto, posições que, extravasando o domínio estritamente intelectual, assumem conotações políticas na medida em que pretendem, pela reconstrução da história da teoria, redefinir o seu sentido e as suas potencialidades no presente histórico, seja direcionando-as para fins reformistas, seja para fins revolucionários. Tendo como ponto de partida essa problemática, pretendemos assinalar as principais linhas que permitem vislumbrar, nos casos de Karl Kautsky e Korsch, como se dá a relação entre a reconstrução da história da tradição e a atribuição de determinado estatuto à teoria. Palavras-chave: Teoria Marxista, História do Marxismo, Marxismo da Segunda Internacional. 1 1. Introdução O presente texto é resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica que vem sendo desenvolvida desde janeiro de 2011.1 Esta pesquisa pretende examinar a crítica de Karl Korsch às duas correntes surgidas no campo marxista a partir do colapso da Segunda Internacional em 1914 – a socialdemocracia alemã e o comunismo russo – e, mais especificamente, aos teóricos cujas teses informaram essas duas modalidades de marxismo: Karl Kautsky e Vladimir Lênin, respectivamente – os principais representantes daquilo que se convencionou qualificar como o “marxismo da Segunda Internacional”. Partindo desse enfoque mais geral e pressupondo a polêmica de Korsch com as correntes socialdemocrata e comunista como um dos aspectos centrais para a compreensão das suas contribuições teóricas e da sua inscrição entre os “pais fundadores” do marxismo ocidental,2 delimitou-se como objetivo da pesquisa o exame da crítica de Korsch, mais precisamente, às interpretações desenvolvidas por esses teóricos acerca da própria teoria marxista. Tratava-se, portanto, de empreender uma retomada da interpretação marxista da teoria de Marx, de modo a compreender não apenas as diferenças e similitudes entre essas leituras, mas principalmente, primeiro, como cada interpretação estabelece uma relação distinta da teoria marxiana com a práxis histórica, isto é, com a prática do movimento operário e com os seus desenvolvimentos históricos e, finalmente, como da forma como é definida essa relação decorre a atribuição de certo estatuto teórico ao marxismo.3 Assim, tratou-se de verificar como, partindo da avaliação da ortodoxia marxista como expressão ideológica do marxismo, Korsch atribuiu à modalidade de marxismo por ele defendida – nas suas palavras, não dogmático, antidogmático, histórico e crítico – o estatuto de “teoria da revolução social”, cujo desenvolvimento depende e acompanha o desenvolvimento da práxis revolucionária do proletariado. A nossa hipótese refere-se, portanto, à vinculação desses dois momentos, o de 1 O autor agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão de bolsa que viabilizou a realização da pesquisa. 2 Parece-nos que seja mais apropriado falar em obras fundadoras do marxismo ocidental. Tendo em vista as mudanças de posição assumidas por Korsch, Lukács e Gramsci ao longo de suas trajetórias, especialmente em decorrência dos acontecimentos políticos do final dos anos 1910 (entre eles, o fim da Segunda Internacional), o marxismo ocidental parece deitar raízes mais nos seus textos de inícios dos anos 1920 do que em suas obras tomadas como um todo. 3 Esse foi um aspecto enfatizado pelo próprio Korsch: “as críticas a meu livro, na sua maioria, ocuparam-se menos do domínio bem limitado definido pelos termos marxismo e filosofia do que de outros dois problemas que assinalei de passagem sem tratá-los a fundo. Trata-se, em primeiro lugar, da própria concepção do marxismo sobre a qual repousam todas as asserções do livro e, depois, de uma questão mais geral, sobre a qual se desenrola a investigação particular concernente às relações entre o marxismo e a filosofia, ou seja: a investigação sobre o conceito marxista de ideologia, ou sobre a relação entre a consciência e o ser.” (KORSCH, 2008, ver página). 2 crítica do marxismo como ideologia e o de reconhecimento do autêntico materialismo dialético como o marxismo que se realiza como teoria da revolução. Dado o estado inconcluso da pesquisa, exporemos aqui apenas as conclusões referentes à primeira parte, dedicada à análise da crítica de Korsch à interpretação kautskyana da teoria marxista. Essa análise foi apoiada na leitura crítica de três obras de Kautsky – A doutrina econômica de Karl Marx (1886), O programa socialista (1892) e Ética e concepção materialista da história (1906) –, seleção de textos que foi orientada pela intenção de abordar a crítica de Korsch em relação a três níveis da teoria marxista: econômico (a teoria do valortrabalho), político (a estratégia de ação do partido revolucionário) e metateórico (a história do marxismo). Tendo em vista a limitação de espaço, nos dedicaremos à exposição da terceira parte, referente ao que definimos como nível metateórico relativo à história do marxismo.4 Restringimos a exposição a essa linha por dois motivos principais: primeiro, pelo fato de constituir o cerne da crítica korschiana (o que esperamos demonstrar ao longo da exposição); segundo, pelo fato de continuar como um problema atual nas reflexões acerca do marxismo. 2. Kautsky: marxismo como ciência da sociedade Em Ética e concepção materialista da história (1906), Kautsky recorre, em larga medida, à interpretação do fenômeno da decadência do pensamento burguês para expor o processo de gênese da crítica marxiana. Assim, afirma Além disso, depois de Hegel, a burguesia não poderia ir mais além de sua filosofia; esta recaiu em um materialismo bastante mais limitado com relação ao materialismo do século XVIII, porque está subordinado às ciências naturais e não oferece uma teoria própria de sociedade. Quando tal materialismo limitado deixou de servir-lhe, a burguesia se voltou ao antigo kantismo purificado de todos os defeitos superados pelas ciências naturais, mas não de sua ética, baluarte que agora se opôs à teoria materialista do desenvolvimento (KAUTSKY, 1975, 78-9). Compreende-se a consequência do argumento: em meio à cisão da socialdemocracia alemã com o aparecimento da corrente revisionista, mostrava-se especialmente conveniente a 4 Optamos por privilegiar a bibliografia primária do tema, composta por textos de Korsch e Kautsky. Esta escolha se deveu à relativa escassez de estudos sobre o tema examinado e pelos interesses teóricos e opções metodológicas que apoiaram nossa pesquisa. 3 Kautsky apresentar o marxismo como reação a um pensamento burguês que, em seu estágio de decadência, recorrera ao kantismo e à sua ética – assim como teriam feito os revisionistas.5 Assim, o revisionismo de Bernstein se constituía como a posição mais contrária possível ao marxismo autêntico, porque descartava aquilo que, para Kautsky, representava a sua característica mais singular – a referência permanente às bases materiais da vida social e do desenvolvimento histórico –, diferenciando-o, inclusive das posições românticas que reconheciam na superação do capitalismo não o resultado de um desenvolvimento histórico inelutável, mas a realização concreta de um imperativo ético. Para Kautsky, portanto, expor a relação entre a ética e a concepção materialista da história consistia, de certo modo, em expor a sua não relação ou, em outras palavras, em expor como aquela concepção descendia de concepções éticas fundadas em uma compreensão materialista da realidade, em uma história intelectual que colocava o marxismo em relação imediata com essas concepções e, mais imediatamente, com o darwinismo. No entanto, o que o exame do texto de Kautsky permite observar é, mais do que isso, a construção de uma exposição das diferentes concepções éticas – da Antiguidade clássica, do Cristianismo, do Iluminismo, de Kant, de Darwin e, finalmente, do marxismo – que, ao concluir com o argumento de que a maior realização da concepção materialista da história consistiria em deslocar o eixo de compreensão do desenvolvimento social do fator normativo da ideia moral para o dado empírico das bases materiais dadas, elabora uma história que coloca o marxismo na linha da tradição intelectual das concepções éticas materialistas anteriores – epicurismo, filosofia da natureza, lei moral kantiana e darwinismo – e que reconhece no materialismo de Darwin o seu mais imediato antecessor. Esse vínculo que Kautsky define entre o marxismo e aquelas concepções éticas contém um sentido lógico-histórico. Isso porque a linha de continuidade entre essas concepções éticas e delas com o marxismo decorre, em termos históricos, das proporções histórico-mundiais assumidas pelo rápido desenvolvimento do capitalismo e de seu principal desdobramento, a dissolução das organizações sociais e das concepções morais tradicionais, ou, de suas manifestações históricas particulares como no caso da Antiguidade, com a penetração do 5 Como afirma o próprio Kautsky, o debate com os editores da revista Vorwärts, principal motivação para a redação do texto da Ética... colocava em questão um debate mais amplo e cujos desdobramentos apresentavam um caráter mais problemático consistia na polêmica entre a linha oficial da socialdemocracia alemã – representada em Kautsky – e as revisões da teoria inspiradas na ética kantiana, que vinham obtendo avanços significativos nas suas fileiras. Assim, para combater o avanço dessas tendências, Kautsky se incumbiu da tarefa de “esclarecer a relação existente entre a concepção materialista da história e a ética”, a partir da análise do esquema de desenvolvimento da Ética na base de uma concepção materialista da história, adotando como base as reflexões de Marx, Engels e Dietzgen. (Kautsky, 1975, 3). 4 capital comercial em todas as esferas da vida e da dissolução, por ele promovida, das relações e concepções tradicionais da sociedade que antes dominavam e regulavam suas ações. Nesse sentido, afirma Kautsky, Para os pensadores dessa época [Renascimento], a ética figurava em segundo plano, subordinada ao conhecimento da natureza, da qual formava parte. Mas passou ao primeiro plano quando a rápida ascensão do capitalismo no século XVIII criou na Europa ocidental uma situação análoga àquela criada na Grécia pela ascensão econômica após as guerras médicas: a reviravolta dos velhos ordenamentos econômicos e, simultaneamente, uma dissolução das organizações sociais e das concepções morais tradicionais (KAUTSKY, 1975, 17). Mas há também, para Kautsky, uma conexão de natureza lógica que integra essas concepções éticas e que permite posicioná-las em um mesmo gradiente que conduz ao marxismo, porque trata-se de concepções éticas que conduzem a concepções materialistas da história com as quais elas estabelecem relações de recíproca determinação. Na Antiguidade, com a filosofia de Epicuro, cuja “filosofia materialista da natureza se funda diretamente em uma finalidade ética”; no Iluminismo, quando “junto com a relevância adquirida pela ética, teve início uma nova ciência, que não foi conhecida pela Antiguidade e que é filha exclusiva da produção mercantil capitalista, a cuja explicação serve: a economia política” (KAUTSKY, 1975, 17); na filosofia kantiana, com a qual a lei moral passa a ser associada à existência de certas condições pertencentes ao mundo sensível, ou seja, a lei moral considerada como pressupondo uma determinada sociedade e um determinado estado de sociedade;6 e com o darwinismo, que, superando a divisão do homem em “parte natural animal” e “parte sobrenatural celeste”, explica o impulso moral pelos instintos sociais7. Ainda que não possamos determinar se o que Kautsky tem em perspectiva é a filosofia kantiana e o darwinismo propriamente ditos ou as suas interpretações posteriores, respectivamente, a versão neo-kantiana de um certo socialismo e um darwinismo de tipo social, o que mais interessou para os propósitos da presente pesquisa foi a constatação de que o que Kautsky coloca em destaque é precisamente a relação recíproca entre as proposições éticas 6 “Já o conceito de lei moral inclui condições que pertencem ao mundo sensível. Não é uma lei da ‘vontade pura’ em si, mas uma lei da determinação de minha vontade para com meu próximo. Ela pressupõe este, mas para o meu próximo ela é um ‘fenômeno’, uma parte do mundo sensível” (KAUTSKY, 1975, 35). 7 “A lei moral não é outra coisa que um instinto animal. [...] Certamente que é um impulso, mas não mais misterioso do que o amor sexual, que o amor materno, que o instinto de conservação, que a existência do organismo em geral e de muitas outras coisas que pertencem somente ao mundo dos fenômenos e que ninguém jamais considerará como produto de um mundo superior” (KAUTSKY, 1975, 64). 5 dessas concepções e, com base nessa relação, o vínculo que pode ser traçado entre essas concepções e a concepção materialista de Marx e Engels. Kautsky, no entanto, não mantém sua análise restrita aos desenvolvimentos lógicos. Retoma o argumento histórico, identificando nos desenvolvimentos das ciências naturais e do capitalismo as bases histórico-materiais do desenvolvimento das ciências sociais, as “ciências do espírito”, mas no sentido explícito de que ambos os processos contribuíram para a cristalização do conceito de “evolução” no âmbito dessas ciências. Interessante observar como o mesmo argumento está presente em um texto de Kautsky de 1908, no qual ele caracteriza do seguinte modo aquela que lhe parecia a sua principal realização “Marx foi o primeiro a descobrir a relação necessária da luta de classes com as relações econômicas, cujas leis podem ser conhecidas, como claramente o demonstrou. Porém, as próprias relações econômicas se baseiam, por seu turno, em última análise, no caráter e no grau de domínio do homem sobre a Natureza, que resulta do conhecimento das leis desta última.” “A evolução social foi assim situada no quadro da evolução natural; o espírito humano, mesmo nas suas manifestações mais elevadas e mais complicadas, nas suas manifestações sociais, era explicado como sendo uma parte da Natureza.” (KAUTSKY, s/d, 16-7). A partir desse argumento inicial, que propõe a centralidade do conceito de “evolução”, podemos derivar alguns desdobramentos interessantes. O primeiro refere-se ao fato de Kautsky examinar o surgimento da teoria marxista no quadro do processo de consolidação das ciências sociais, pressuposição que se reflete no argumento de que as condições históricas que se constituem como condições das ciências sociais também o são para a teoria marxista. Daí decorre o segundo desdobramento, qual seja, o de que as investigações desenvolvidas pelas duas tradições intelectuais estão apoiadas na mobilização do conceito de “desenvolvimento social” – que já estava presente no pensamento de Darwin na forma menos desenvolvida do conceito de “evolução” – e no procedimento metodológico comum de reconhecer nas transformações materiais, especialmente econômicas, os fatores determinantes das transformações das ações dos homens. Desse modo, torna-se possível para Kautsky afirmar que “[...] parte da historiografia moderna modifica seu caráter. A Revolução Francesa havia-se apresentado com tanta claridade como uma luta de classes, que seus historiadores não apenas tiveram de reconhecer o feito, como uma parte deles tomou-o como base para 6 indagar, inclusive em outros períodos da história, a função das lutas de classe e descobrir nelas as forças motrizes do desenvolvimento social” (KAUTSKY, 1975, 75). Portanto, as ciências sociais – entre as quais Kautsky inclui a história, a linguística comparada e a etnologia – já teriam fornecido o material que comporia o conteúdo da concepção materialista da história de Marx e Engels, cabendo a eles a tarefa de dominar e reunir esses materiais em uma formação unitária. Para Kautsky, o que interessa na análise da gênese da teoria marxista é, mais do que a ênfase no gênio de Marx e Engels ou nas condições históricas mais gerais, o reconhecimento do papel desempenhado pela consolidação dos resultados das investigações científicas anteriores. Donde a importância atribuída a Darwin, cuja teoria da evolução confirmaria definitivamente a relação entre o movimento autônomo e o espírito, ou, na terminologia de Kautsky, o condicionamento recíproco entre o movimento autônomo e a capacidade cognoscitiva. Darwin teria criado, portanto, as condições intelectuais para o aparecimento do materialismo de Marx ao dar a forma mais acabada ao conceito de evolução, adotado como ponto de partida das investigações tanto de Marx e Engels como dos teóricos pioneiros das ciências sociais. É bem verdade que Kautsky reconhece na adoção do ponto de vista do proletariado o maior diferencial da concepção marxista. Contudo, a adoção dessa perspectiva tem como fundamento e base o conceito de desenvolvimento social e a leitura da história a partir desse conceito. Assim, “[...] só de um ponto de vista proletário tornava-se possível traduzir de maneira materialista o pensamento do desenvolvimento social, isto é, reconhecer no presente um desenvolvimento social que se produzia segundo leis naturais necessárias” (KAUTSKY, 1975, 77, grifos nossos). A passagem acima citada expressa claramente a vulgaridade da concepção kautskyana do materialismo histórico. Além de ignorar completamente o papel da filosofia hegeliana, Kautsky reduz o materialismo de Marx – talvez por causa disso – à mera conjugação de duas operações que já tinham sido identificadas pelas ciências burguesas, principalmente pela historiografia e pela economia política: a descoberta de uma tendência social evolutiva e a atribuição a ela de certas leis de desenvolvimento. Na exposição fornecida por Kautsky, a incorporação do ponto de vista do proletariado aparece somente como isso, isto é, como mera 7 incorporação que não implica em nenhum tipo de transformação do arcabouço teórico já presente. A incorporação do ponto de vista do proletariado aparece como um procedimento estritamente formal, na medida em que não transforma a natureza da teoria a que é incorporada, uma vez que os conceitos de evolução e desenvolvimento social mantêm sua posição predominante, com a diferença de que não estão mais dirigidos para a consolidação do capitalismo, mas, ao contrário, para a sua derrocada. No entanto, como essa derrocada é função da evolução social e de suas leis de desenvolvimento e como a realização da revolução depende primordialmente do grau de compreensão alcançado pela concepção materialista da história acerca das “leis de desenvolvimento e de movimento do organismo social, de suas forças e de seus órgãos”, o papel histórico do proletariado permanece na obscuridade, ou, o que é pior, inexiste na teoria marxista tal como ela é definida por Kautsky, apesar de todas as suas afirmações de adesão ao marxismo e ao projeto revolucionário da classe operária. 3. Korsch: marxismo como teoria da revolução social Ao examinar as leituras marxistas e burguesas da relação entre marxismo e filosofia – criticando ambas –, Korsch apresenta a seguinte explicação para a incapacidade dos intelectuais burgueses de compreender de forma consequente essa relação, “De fato, na segunda metade do século XIX, os intelectuais burgueses, ao mesmo tempo em que esqueciam a filosofia de Hegel, perderam completamente a visão ‘dialética’ da relação entre a filosofia e o real, entre a teoria e a práxis, que fora, ao tempo de Hegel, o princípio vivificador do conjunto da filosofia e da ciência” (KORSCH, 2008, 25). Korsch, por conseguinte, recorre ao argumento da decadência ideológica da burguesia, demonstrando como o distanciamento dos intelectuais burgueses em relação ao real, mais propriamente falando, ao nível da práxis social, implicou no comprometimento da capacidade dos membros dessa classe de apreender o marxismo em sua totalidade, ou seja, não como mera “ciência marxista” que, por não estar vinculada a “uma posição determinada em face de quaisquer questões filosóficas”, não apresenta nenhuma grande divergência em relação à “ciência burguesa”, mas como teoria que se relaciona de forma dialética com a filosofia e com a própria realidade social. 8 Contudo, assim como nas interpretações de Lukács e Kautsky, para Korsch a decadência ideológica da burguesia não está relacionada apenas ao movimento de declínio intelectual e moral, ainda que não necessariamente material, da burguesia. Nesse sentido, interpreta do seguinte modo a emergência da teoria de Marx, “Em vez do declínio da filosofia clássica alemã, vê-se que esta – que constitui a expressão ideológica do movimento revolucionário da classe burguesa – cede lugar à teoria do ‘socialismo científico’ tal como Marx e Engels a fundaram e formularam na década de 1840” (KORSCH, 2008, 31). Aqui já podemos identificar em que sentido a interpretação korschiana acerca da gênese da teoria de Marx se aproxima da de Lukács ao mesmo tempo em que se afasta da de Kautsky. Ao contrário deste, que supõe a existência de uma linha de desenvolvimento direta e contínua que se estende da filosofia epicurista, passando pela filosofia da natureza do Iluminismo e que culmina no darwinismo até chegar à concepção materialista da história, para Korsch o que há é uma “relação essencial e necessária entre o idealismo alemão e o marxismo”, relação cuja natureza – essencial e necessária – permite compreender “não apenas as relações que existem entre a filosofia idealista alemã e o marxismo, mas também a sua necessidade interna” (KORSCH, 2008, 31-2). Korsch, portanto, inverte os termos da questão, tal como ela fora colocada originalmente por Kautsky, em um duplo sentido: primeiro, o marxismo não é mais reconhecido como herdeiro do materialismo de Darwin, mas do idealismo de Hegel; segundo, a relação não é apenas externa, como apropriação e modificação dos elementos da teoria herdada, mas como uma relação necessária que não apenas se realizou efetivamente, mas que, uma vez realizada, se dobra sobre si mesma, viabilizando o reconhecimento de sua própria necessidade interna. O primeiro ponto, a referência primordial a Hegel como a principal fonte do marxismo (para usar uma noção de Kautsky), é o que mais diretamente permite incluir Korsch entre os “pais fundadores” do marxismo ocidental. Se a concepção do marxismo exposta em Marxismo e filosofia é histórica e materialista, é antes de tudo dialética. Assim como Lukács, que definira a fidelidade à teoria de Marx (o “marxismo ortodoxo”) não como a aceitação imediata e irrefletida dos resultados da investigação de Marx, mas como a adoção do método dialético empregado nessas investigações, Korsch entende por dialética o método e, portanto, deposita no método o caráter diferencial da concepção marxista. E o método não apenas particulariza o 9 marxismo como também o caracteriza como concepção científica. Nesse sentido, o argumento de Korsch é explícito, “Caracterizando assim a significação prática da forma científica do socialismo moderno ou marxista, ao mesmo tempo definimos o sentido do método dialético empregado por Karl Marx. Se é certo que o conteúdo do socialismo preexistia, como representação bruta, à sua elaboração científica, também é certo que a forma científica que ele adquire nas obras de Marx e Engels (ou seja, o ‘socialismo científico’ propriamente dito) foi essencialmente o resultado deste modo de pensar que eles designaram como o seu ‘método dialético’” (KORSCH, 2008, 148). Nos deteremos mais um pouco nessa passagem. Embora Korsch reconheça o idealismo hegeliano como uma das bases do marxismo – na forma de seu método dialético –, enfatiza a transformação que, para ele, singulariza a teoria inaugurada por Marx, elevando-a para além de uma mera continuidade de Hegel, para além de uma espécie de mero neoHegelianismo. É somente com Marx e Engels que surge um conteúdo com forma científica, a partir da transformação do método dialético legado por Hegel em “‘método essencialmente crítico e revolucionário’ que Marx e Engels contrapuseram, como método novo da ciência proletária” (KORSCH, 2008, 31-2). Chegamos assim ao segundo aspecto da inversão promovida por Korsch. A relação de Marx com Hegel não é mera vinculação externa, mas assume a forma de uma autêntica relação interna, na medida em que um dos elementos legados pelo primeiro – talvez o mais importante – alterou a sua forma no novo esquema em que foi incorporado, pois se converteu em “método essencialmente crítico e revolucionário”, em “método novo da ciência proletária”.8 E o que conduz essa transformação é a formação do marxismo (o “socialismo moderno”) como teoria da revolução social. Em consonância com a definição já apresentada de uma relação essencial e necessária entre o marxismo e a dialética, no esquema interpretativo de Korsch a definição do marxismo como teoria da revolução vincula-se diretamente ao seu processo de gênese. Conforme visto, o declínio da filosofia clássica alemã dera lugar ao aparecimento da teoria do socialismo científico na década de 1840. Contudo, não se trata apenas de uma relação histórica entre a 8 A mesma interpretação pode ser encontrada em Jay: “Korsch não propunha que o marxismo fosse científico no sentido anti-filosófico de um Bukharin; de fato, ele compartilhava com Lukács o desdém pelo sociologismo de A teoria do materialismo histórico. Como enfatiza em Marxismo e filosofia, o marxismo era a realização da filosofia hegeliana, não a sua mera negação. Mas ele percebeu que essa realização somente poderia se dar através da unificação de uma ciência da sociedade criticamente inclinada com a prática proletária revolucionária” (JAY, 1984, 136). 10 filosofia alemã e a teoria do socialismo científico; constitui também, e sobretudo, uma relação lógica entre a filosofia clássica alemã como expressão ideológica do movimento revolucionário da classe burguesa e a teoria do socialismo científico como expressão geral do movimento revolucionário da classe operária. Isso porque, “É mediante um único e mesmo processo de desenvolvimento que surge, de um lado, do movimento revolucionário do terceiro estado, um movimento proletário ‘independente’; e, de outro, da filosofia idealista burguesa, em oposição a ela e de forma ‘independente’, a nova teoria materialista do marxismo” (KORSCH, 2008, 32). O que permite integrar o “movimento revolucionário da burguesia”, a “filosofia idealista de Kant a Hegel”, o “movimento revolucionário do proletariado” e a “filosofia materialista do marxismo” é a sua integração real como “quatro momentos de um único processo de desenvolvimento histórico”. Aqui, portanto, as relações entre os planos lógico e histórico se invertem, definindo-se a primazia do histórico sobre o lógico,9 relação de primazia que se encontra claramente refletida na caracterização da teoria do socialismo moderno como a expressão geral do movimento revolucionário da classe operária. Contudo, seria profundamente equivocado igualar a afirmação dessa primazia à consideração da teoria como mero reflexo do desenvolvimento histórico. O que a maioria dos intérpretes de Korsch – entre eles, Douglas Kellner e Martin Jay – parece ter ignorado é o fato de Korsch acentuar o papel do nível histórico não em detrimento do nível lógico, mas, pelo contrário, para acentuar a integração desses dois níveis como partes constitutivas e insubstituíveis do mesmo processo histórico. O nível do movimento histórico (do proletariado ou da burguesia) e o nível da consciência (proletária ou burguesa) são momentos de um mesmo processo histórico, tanto moral como material e que pode se dirigir tanto no sentido da decadência como no sentido da autonomização e integração. Assim, o que melhor caracteriza, para Korsch, a história social e intelectual do século XIX é a decadência do movimento revolucionário burguês e, consequentemente, da consciência burguesa e a ascensão do movimento revolucionário da classe operária e da consciência proletária. E, desmentindo as leituras que tomam Korsch como quem privilegia a prática em detrimento da teoria, este ressalta o papel desempenhado pela teoria desenvolvida por Marx: “E, numa perspectiva prática, a constituição teórica do socialismo em ciência, levada a cabo por Marx no Manifesto comunista e em O Capital, revela-se um elemento 9 A partir da constatação dessa primazia que Douglas Kellner qualifica a concepção de Korsch da filosofia, em geral, e do marxismo, em particular, como “historicismo revolucionário” (“revolutionary historicism”). 11 necessário do amplo processo de desenvolvimento histórico no qual o movimento operário, pouco a pouco, descolou-se do movimento revolucionário burguês do terceiro estado e graças ao qual o proletariado se transformou em uma classe autônoma e unitária” (KORSCH, 2008, 147). E é precisamente a definição do Manifesto Comunista como o marco de fundação da teoria marxista o que permite a Korsch atribuir-lhe o caráter de teoria da revolução social, isto é, o caráter de “uma teoria – impregnada de espírito filosófico – do desenvolvimento social percebido e concebido como totalidade viva ou, mais precisamente, como teoria da revolução social compreendida e posta em prática como totalidade viva” (KORSCH, 2008, 147). Embora Korsch reconheça a importância de O Capital, inclusive remontando a ele uma das transformações mais importantes na teoria de Marx – a separação dos elementos constituintes da teoria, “economia, política, ideologia” – o caráter impresso na teoria pelo Manifesto se mantém, na medida em que, quando a teoria é tomada como conjunto, ela continua se apresentando primordialmente como teoria da revolução social. 4. Conclusão Encerramos a última parte com o argumento de que, para além da definição de uma primazia na relação entre teoria e prática ou, mais precisamente, entre os níveis histórico e lógico, o que importa a Korsch e adquire relevância em seu texto é a atribuição ao marxismo do estatuto de teoria da revolução social. Somente em conformidade com esse estatuto teórico que o marxismo pode ser compreendido e apreendido em sua totalidade, como teoria que integra a sistematização teórica ao movimento histórico, em termos mais gerais, a integração entre teoria e história. É com base na atribuição desse estatuto teórico e na consequente vinculação dos planos teórico e histórico que Korsch fundamenta a sua crítica mais incisiva ao “marxismo vulgar ortodoxo da Segunda Internacional”: nesse sentido, os marxistas dessa linhagem teriam eliminado o “princípio revolucionário do marxismo”, ignorando o caráter unitário da teoria e desmembrando-a em críticas científicas autonomizadas. Pode-se dizer que, para Korsch, empreender uma incorporação ideológica do marxismo (o que teria feito o marxismo vulgar da Segunda Internacional) significava a eliminação do caráter unitário e integrado da teoria e, por conseguinte, a perda de seu caráter revolucionário singular. Assim, 12 “Poderíamos resumir todas essas deformações, e muitas outras menos evidentes, que os epígonos infligiram ao marxismo no segundo período do seu desenvolvimento afirmando que a teoria global e unitária da revolução social foi transformada numa crítica científica da economia e do Estado burguês, da educação pública, da religião, da arte, da ciência e de todas as outras formas culturais próprias à burguesia, crítica que não desemboca numa práxis revolucionária, tal como sua essência implicava, mas que é suscetível de conduzir (e, na sua práxis concreta, geralmente conduz) a toda série de tentativas de reforma que não ultrapassam em princípio o quadro da sociedade burguesa e do seu Estado” (KORSCH, 2008, 42). A passagem acima é de grande interesse por dois motivos. Primeiro, porque mostra como, no início da década de 1920, Korsch delimitava uma clara diferença entre a ciência em sua acepção burguesa e a teoria de Marx, diferenciação que tende a perder importância ao longo de sua trajetória, culminando, em Karl Marx, na definição do marxismo como um tipo de ciência da sociedade. Nesse momento (idos da década de 1920), contudo, ainda que se reconheça a qualificação da teoria de Marx como “socialismo científico”, pode-se afirmar que o acento deve cair, para Korsch, não tanto em seu caráter “científico”, mas principalmente no “socialista”. Conforme vimos ao longo desta exposição, Kautsky privilegia a definição do marxismo como ciência, reconhecendo apenas no marxismo que se pretende concepção científica do mundo a capacidade de conduzir a luta do movimento operário em um sentido revolucionário. De modo geral, há na interpretação de Kautsky uma relação de subordinação e dependência entre a disposição revolucionária do marxismo e o seu caráter científico. Korsch, por sua vez, insiste no caráter unitário da teoria marxista como teoria da revolução social, acentuando o vínculo indissolúvel entre essa teoria e o movimento revolucionário conduzido pelo proletariado. Somente nesses termos que se revela o sentido pleno do argumento de Korsch acerca da integração entre a sistematização teórica e o movimento histórico em uma totalidade que constitui ela própria a teoria marxista. Nesse ponto, Korsch acompanha o argumento da primeira geração dos marxistas ocidentais segundo o qual a categoria de totalidade ocuparia uma posição central no esquema de interpretação marxista na medida em que “significa tanto conceber a história como um processo unitário, quanto a articulação sistêmica do saber, isto é, a tarefa de totalização da totalidade da totalidade da empiria” (MUSSE, 1996, 86). A interpretação marxista é aquela que, apoiada no método dialético, “trata sempre do mesmo problema: o conhecimento da totalidade do processo histórico” (LUKÁCS, 2003, 117). 13 Além disso, é a categoria de totalidade o que permite aos marxistas dessa linhagem se opor a “própria divisão do trabalho científico, a separação do saber em ciências isoladas” (MUSSE, 1996, 87). O que particulariza o marxismo da Segunda Internacional – ou, de forma mais rigorosa, a apreensão do marxismo pela Segunda Internacional – é precisamente a sua apreensão como mera ideologia. Definindo-se “científico” como a capacidade e a disposição de apreender a realidade como uma totalidade viva, o “ideológico” aparece como a perspectiva teórica que perde de vista as conexões necessárias entre as bases materiais e as suas expressões ideológicas. Com isso, a análise histórica desenvolvida por Korsch assume contornos mais definidos, convertendo-se naquilo que Lukács define como “estudo histórico-literário do problema”, isto é, o exame de um problema teórico que expressa as possibilidades, os limites e os problemas da própria totalidade social, expondo a problemática do processo histórico em sua totalidade. Assim como descreve o processo daquilo que qualificamos, com base na formulação de Lukács, como a decadência ideológica da burguesia, Korsch constrói uma história do marxismo que, para além da mera reconstrução das etapas da trajetória intelectual de Marx, como fizera Kautsky no seu Ética e concepção materialista da história, apresenta a época da Segunda Internacional como o período de decadência ideológica da história do marxismo e de sua recaída na ideologia. Assim como os apologetas do pensamento burguês liquidaram “todas as tentativas anteriormente realizadas pelos mais notáveis ideólogos burgueses, no sentido de compreender as verdadeiras forças motrizes da sociedade, sem temor das contradições que pudessem ser esclarecidas” (LUKÁCS, 1968, 52), os epígonos do marxismo adotaram apenas formalmente o marxismo, desvinculando-o da “perspectiva revolucionária de Marx”, mas sempre de forma dissimulada, reivindicando para si o “mérito positivo do desenvolvimento da teoria marxista”. Temos aqui o núcleo da crítica de Korsch ao marxismo da Segunda Internacional: nos termos por nós empregados, o ponto em que a história da gênese se vincula ao estatuto da teoria. De fato, assim como o que define o marxismo como tradição intelectual é seu vínculo com o “movimento revolucionário da classe operária”, constituindo-se o marxismo em teoria da revolução social, o que caracteriza a Segunda Internacional é a ruptura desse vínculo, ruptura descrita por Korsch como apreensão ideológica e não teórica do marxismo. O marxismo da Segunda Internacional é mera ideologia, é “tendência dogmática dissimulada”; o marxismo – nos diz Korsch – nunca foi adotado pelos expoentes da Segunda Internacional em sua totalidade, isto é, como expressão geral do movimento operário. E aqui entendemos porque o 14 marxismo autenticamente crítico é, para Korsch, expressão geral e não ideológica do movimento operário. Embora, para ele, a teoria sempre venha a reboque da prática da classe, a sua contribuição é indispensável; afinal, cabe à teoria sintetizar os novos conteúdos postos no cenário histórico pelo movimento operário; é bem verdade que a teoria não criou o movimento; mas é igualmente inquestionável o fato de que somente a teoria é capaz de oferecer aos conteúdos históricos colocados em cena pelo movimento sua expressão adequada, com isso, elevando-os a um novo nível. Por isso que o desdobramento de uma incorporação meramente ideológica do marxismo parecia trágico para Korsch: porque se inviabilizava, nesse caso, a formulação de uma perspectiva revolucionária e totalizante da modernidade capitalista, de uma teoria da revolução social conduzida pelos trabalhadores, restando apenas teorias econômicas, políticas e sociais desvinculadas entre si e que reproduziriam, em sua desvinculação, as compartimentações típicas do pensamento burguês. O marxismo, nessa última perspectiva, emerge como ciência social que, dedicada ao estudo das bases materiais da vida na sociedade capitalista, deveria subsidiar o partido com os meios mais seguros e eficazes de ação; não mais como fora pensado por Korsch, isto é, como teoria da revolução social que, superando as antinomias do pensamento burguês, fosse capaz de fornecer a expressão adequada ao caráter revolucionário do movimento operário. Bibliografia JAY, Martin. Marxism and totality. Berkeley-Los Angeles: University of California Press, 1984. KAUTSKY, Karl. As três fontes do marxismo. São Paulo: Global, s/d. ______. Ética y concepción materialista de la historia. Cordoba: Pasado y Presente, 1975. KORSCH, Karl. Marxismo e filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. LUKÁCS, Georg. História e consciência de classe. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ______. “Marx e o problema da decadência ideológica”. In: COUTINHO, Carlos Nelson. Marxismo e teoria da literatura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. 15 MUSSE, Ricardo. “Marxismo: ciência revolucionária ou teoria crítica?”. In: ANTUNES, Ricardo e REGO, Walquiria Domingues Leão. Lukács: um Galileu no século XX. São Paulo: Boitempo Editorial, 1996. 16