ÉTICA (XI) Quando falamos em Marx (1818-1888), estamos nos referindo sem dúvida a um dos pensadores de maior influência na ocidentalidade, mais especificamente na modernidade. Pensador impactante em seu tempo, Marx foi perseguido por suas idéias, expulso de vários países o que o condicionou à uma vida de precariedade econômica, dadas suas opções filosóficas e o teor do que defendia. Pensador articulado, de espírito interpretativo e criativo, falar em Marx não é apenas falarmos em um filósofo, mas é também falarmos de um sociólogo (talvez suas contribuições se dêem mais no campo da sociologia), de um economista e de um defensor do ativismo político enfim; de um pensador cujo conjunto da obra e de suas idéias tiveram e têm forte impacto sobre os vários campos da cultura. Não obstante, vale lembrar que os a partir de suas idéias, vários foram os movimentos marxistas que mudaram o curso da história mundial, entre eles: a revolução russa e a posterior construção do bloco socialista. Seguramente se pode dizer que o marxismo no século XX, assume expressão e força como poucos movimentos sociais e políticos na história da ocidentalidade, mudando a vida de povos e de nações de forma significativa. Ainda, vale lembrar que Marx nos deixou uma obra densa e volumosa que suscita até hoje muitos debates e contradições. Sua principal obra “O Capital”, projeto incompleto, dado que faleceu sem tê-la concluída, apresenta-se tão densa que não seria ousado demais dizer que boa parte dos pensadores que se dizem marxistas se quer leram essa obra por completo. Assim, a proposta de discutir o conceito de ética em Marx se torna tarefa árdua, em função da extensividade e intensidade de seu pensamento. É mais fácil identificarmos, portanto, elementos que nos permitem o exercício interpretativo do que viria a ser um conceito de ética em Marx, do que propriamente um conceito específico e restrito de uma “ética marxista”. Tarefa também limitada pelo espaço de que se dispõe para o desenvolvimento do presente texto. Um dos elementos que mais chamam atenção no pensamento marxista, é a dualidade que habita a história das sociedades, que se materializa na idéia da “luta de classes”: opressores e oprimidos. Então, inicialmente, podemos falar em uma ética dualista em Marx: bons, oprimidos e explorados e maus exploradores e burgueses. Atomize-se esta máxima, e temos uma moral maniqueísta, que habita a consciência de muitos marxistas e empobrece inevitavelmente a visão de mundo que os mesmo têm da realidade. O marxismo também é partidário de uma ética pragmatista e ativista. Sentencia Marx: “Os filósofos até hoje só se preocuparam em explicar: é hora de transformar”. O ativismo marxista também representa uma moral: da práxis. Válido é o esforço de se conscientizar e colocar em luta pela transformação social. Portanto, uma ética da ação, da prática. Uma ética que se justifica na prática ativista. Isso tem conseqüência direta sobre o esforço filosófico, já que a filosofia é a arte de interpretar o mundo por excelência, a ciência mãe, que fundamenta todas as outras ciências. Outro elemento que nos permite uma leitura ética do marxismo, é a máxima da igualdade. É na igualdade entre as pessoas de uma sociedade que temos o princípio da justiça estabelecido. No projeto marxista de sociedade, a igualdade far-se-á: “a cada um conforme suas necessidades. De cada um conforme suas habilidades”. Por fim, o pensamento marxista remete a intencionalidade última, que é a realização do homem na harmonia e triunfo do coletivo. O sujeito histórico de Marx revela-se na coletividade. O eu só existe enquanto sujeito coletivo, e sua realização dar-se-á no nível do coletivo, onde em sentido último viverá em uma sociedade harmoniosa, sem classes sociais, Estado ou qualquer tipo de controle. Enfim, muito poderia ainda ser explanado acerca do marxismo. Como todo grande pensador, suas múltiplas possibilidades de interpretação nos levaria a um esforço exegético ainda maior de seu pensamento. E uma análise de uma ética marxista, preencheria linhas de uma obra muito maior nesse caso. Contudo, nossa intenção era de apontar alguns elementos que permitissem ao leitor um panorama mínimo de uma “moral marxista”. O que pretendemos observar é que muito se tem falado na “morte do marxismo”, ou mesmo, de que o marxismo está vivo. Decretar a morte de um pensamento como o marxista é deixar de reconhecer muitos dos elementos de seu pensamento que nos ajudam a entender o capitalismo contemporâneo. Além do que, mesmo que toda sua obra estivesse comprometida pelo fluir dos tempos, ainda assim sua busca por uma resposta a uma realidade menos desigual nos serve de motivação para que não nos anestesiemos diante do mundo que se desdobra a nossa frente: extremamente belo e evoluído por um lado, mas em vias de colapso ambiental e humano por outro. Professor Sandro Luiz Bazzanella - Formado em Filosofia – doutorando em Ciências Humanas UFSC - ViceCoordenador do Curso de Ciências Sociais da UnC-Canoinhas - e-mail: [email protected] Professor André Bazzanella. Formado em filosofia, Mestre em educação e Cultura (UDESC). Diretor Geral do INSTITUTO VERITAS, Professor da FURB (Blumenau) e UNIASSELVI (Indaial). E-mail: [email protected].