Trauma Renal – Protocolo HUOP Mariana Juliato Becker, MD Fábio Luiz de Souza, MD Fernando Spencer Netto, MD PhD Mecanismo Trauma contuso: considerar o mecanismo do trauma. Naqueles com desaceleração pode haver trombose da artéria renal, laceração de veia renal, e até avulsão do pedículo. O uso de cinto de segurança, o impacto contra o volante ou o airbag podem comprimir a artéria renal entre a parede abdominal e coluna vertebral resultando em trombose. Trauma penetrante: trajeto deve ser identificado, e mesmo um orifício pequeno de entrada pode causar lesões significativas. Devido à presença de lesões associadas frequentes, muitas vezes o diagnóstico do trauma renal é dado durante laparotomia. Fator de risco para lesão renal: lesões renais pré-existentes ou malformações, tumores, cistos ou rim único podem complicar uma lesão renal. Deve-se sempre reconhecer se o paciente é portador de rim único, a fim de tentar evitar nefrectomia. Exame físico e monitorização Gerais: Deve-se monitorar estes pacientes quanto a presença de choque. A dosagem seriada de hemoglobina colabora com o monitoramento da perda volêmica. Níveis elevados de creatinina levantam a hipótese de hipoperfusão renal, ou disfunção renal pré-existente. Específicos: Distensão abdominal, massa palpável, abrasões ou equimoses nos flancos devem ser procuradas. Hematúria macroscópica está presente em 75% dos casos, e não está relacionada à severidade da lesão. Diagnóstico Em pacientes estáveis hemodinamicamente, deve-se realizar tomografia computadorizada com contraste endovenoso. Esta permite localizar a lesão e o grau da lesão, presença de perfusão do órgão e lesões associadas, durante o exame das fases arterial e venosa. A lesão de pedículo é diagnosticada pela ausência de contraste do rim, ou hematoma para hilar. A imagem tardia é realizada (10-15min após a infusão de contraste) para identificar lesão do sistema coletor ou da pelve renal, havendo extravasamento de contraste. Classificação (American Association for the Surgery of Trauma - AAST): Grau I – Contusões e hematomas subcapsulares Grau II – Lacerações corticais com hematomas perirrenais Grau III – Lacerações envolvendo a junção cortico-medular ou trombose arterial segmentar sem laceração Grau IV – Lacerações envolvendo o sistema coletor ou segmentações da artéria renal levando a existência de área devascularizada e lesões do pedículo principal com hemorragia contida Grau V – Avulsão do hilo renal, trombose da artéria renal, ou múltiplas fragmentações do órgão Abordagem Mesmo lesões maiores podem ser tratadas de forma conservadora. Na maioria das vezes estas lesões evoluem com resolução espontânea. As indicações de tratamento cirúrgico são: a) Gerais - instabilidade hemodinâmica; b) Especificas do trauma renal: hematoma pulsátil ou em expansão, avulsão do pedículo renal, sangramento renal de difícil controle. Tratamento conservador É o tratamento de escolha, diminui a número de nefrectomias que seriam feitas durante a tentativa de reparo. É realizado naqueles pacientes estáveis hemodinamicamente. Estes pacientes devem ser monitorados constantemente em ambiente de UTI. Mesmo os pacientes com lesão penetrante de rim podem ser manejados de forma conservadora. A exploração cirúrgica fica reservada àqueles com lesão do hilo, sangramento ativo, lesão ureteral ou laceração pélvica. Abordagem cirúrgica/arteriografia Tem como objetivo inicial controle de hemorragia e preservação renal. O acesso deve ser feito via transperitoneal, com controle vascular proximal prévio à abertura da fáscia de Gerota. Renorrafia é a técnica de preferência para reconstrução renal. Se houver injúria de um polo, com tecido desvitalizado, pode ser necessária nefrectomia parcial. A nefrectomia é necessária em aproximadamente 13% dos casos de trauma renal, principalmente nos traumas penetrantes. A abordagem conservadora (não exploração da fáscia de Gerota) pode diminuir esse percentual. As lesões grau V geralmente requerem nefrectomia, mas o reparo deve ser considerado nos casos de lesão renal bilateral ou rim único. A arteriografia com embolização pode ser realizada em casos de lesão arterial segmentar, em pacientes estáveis. Fluxograma de atendimento ao paciente com suspeita de trauma renal Abdome cirúrgico? Sim (Choque, peritonite, ou evisceração?) Laparotomia exploradora d Hematoma perirrenal pulsátil ou em expansão, sangramento renal de difícil controle NÃO Tomografia computadorizada de abdome com contraste EV d Exploração renal Evidência de lesão vascular segmentar? (trombose arterial, lesão arterial segmentar, pseudoaneurisma) Evidência de avulsão do pedículo renal ou fragmentação renal? d SIM Considerar arteriografia NÃO Tratamento conservador Monitorização contínua, repouso, Hb seriada Lesão renal grau IV ou V – repetir imagem em 36 a 48h. Considerar exploração cirúrgica caso impossibilidade de monitorar continuamente SIM