2 Marcel Duchamp: rompimento e Arte como idéia

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de suas coleções e Henri Matisse utilizou do seu ateliê para executar os desenhos do figurino de
“Le Chant du Rossignol” , A Canção do Rouxinol, peça de balé russo. Ocorreram parcerias como a
Yves Saint Laurent com Piet Mondrian, artista plástico fundador do neoplasticismo, em seu vestido
tubinho que virou ícone de moda e como a da estilista Elza Schiaparelli em parceira com o surrealista Salvador Dalí.
É no final da década de 90 que podemos perceber que são intensificadas as produções de
moda que muitas das vezes vão além da preocupação mercadológica da indústria da confecção,
e surgem estilistas mais interessados nas idéias, nos conceitos e nos processos de criação na apresentação de desfiles performáticos. Assim como a arte, a moda adquire um caráter conceitual,
sendo o primordial a transmissão de uma idéia.
Apresenta-se neste artigo a moda e a arte como meio e não como fim em si mesmas. 2 Marcel Duchamp: rompimento e Arte como idéia
O movimento dadaísta, revolucionário na arte, constitui o ponto de partida fundamental para
se compreender as várias tendências da arte contemporânea surgidas no decorrer do século XX,
sendo que surgiu como forma de protesto contra a Primeira Guerra Mundial e não por questões estilísticas. As obras do movimento, geralmente, eram transitórias e impermanentes, produzidas para
o entretenimento, apresentavam sua imagem pautada em expressões de anticultura e antiarte.
Nesta época a liberdade moderna não era simplesmente a afirmação de novas possibilidades, era sobretudo uma revolta, um desejo crítico frente às coisas e valores instituídos no limite,
expressava o paradoxo de um sujeito que não reconhecia mais o mundo enquanto tal.
Em uma exposição dadaísta a apresentação de objetos transitórios, impermanentes ou claramente desprovidos de significado era extremamente provocativa. Como exemplo pode-se citar,
dentre outros, a escultura de Max Ernst que tinha um machado preso ao lado, ao qual as pessoas
eram convidadas a despedaçá-la
Muito além do protesto, com o Dadá descobrindo-se novos mundos de linguagem; Breton
disse, “Dadá é um estado de espírito” e acrescenta Nikos Stangos (1991, p.82), que este estado
de espírito já era endêmico na Europa antes da guerra, mas o conflito deu novo impulso e urgência
ao descontentamento que muitos artistas plásticos e poetas jovens já sentiam. E a partir de então
a arte nunca mais seria a mesma.
O dadaísta lutava contra os delírios morais de seu tempo. A arte era dependente dessa sociedade capitalista, o artista e poeta eram produzidos pela burguesia. Ironicamente, o movimento
dadaísta existiu para se destruir, pois os próprios dadaístas era dependentes da mesma sociedade
burguesa que condenavam.
Desde os referenciais de arte do século XX, mais precisamente com Marcel Duchamp, que
“(...) a arte relacionava-se mais com as intenções do artista do que com qualquer coisa que ele
fizesse”(STANGOS, 1991, p.87). Surge um novo conceito, uma nova dimensão artística, uma liberdade na definição e o questionamento do que vem a ser uma obra de arte. Duchamp, com os seus
readymades2, propõe uma nova forma de fazer arte, num ato de “ apropriação” de objetos já existentes, reapropriar e resignificar a coisa tornando-o arte, discute assim a necessidade do fazer e
da interdisciplinaridade na arte. Tem início uma nova fase, o da desinstitucionalização do que se
considera como arte. (STANGOS, 1991, p.87).
Duchamp declarou “a sua convicção infinitamente estimulante de que a arte pode ser feita
2
Os Ready-Mades eram objetos transformados em obras de arte por Marcel Duchamp. Esta operação consistia na
escolha, pelo artista, de um objeto de uso cotidiano qualquer, como um urinol ou uma pá, por exemplo, e no seu deslocamento do
lugar em que desempenha sua função original e sua apreserntação como obra de arte. No caso do urinol, Duchamp simplesmente
inverteu a posição tradicional da peça, assinou com o pseudônimo de R. Mutt, datou-a (1917) e batizou a “obra” de Fontaine
(Fonte).
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