Variabilidade genética no gênero Oryza1 Bruna Carla Fagundes Crispim2 Resumo: Entende-se por diversidade genética como a variação dentro de espécie, e quando identificada e capturada adequadamente, constituirá os recursos genéticos. Estes recursos constituem-se como parte essencial da biodiversidade e detêm valores socioeconômicos atuais e potenciais para uso em benefício da humanidade. A riqueza dos recursos genéticos de arroz é a base para o progresso no melhoramento genético da cultura em face do racionamento de recursos biológicos e físicos. O germoplasma silvestre das espécies cultivadas é um dos maiores tesouros biológicos do homem. Embora as pesquisas realizadas com arroz estejam amplamente dirigidas às espécies cultivadas, selecionando-se grande número de cultivares para características importantes como alta produtividade e alta qualidade dos grãos, muitas delas não possuem características importantes, como resistência a determinadas pragas. Assim, as espécies silvestres são muito importantes como reservatório gênico para os programas de melhoramento do arroz cultivado, uma vez que muitas destas possuem tais características. Palavras chaves: Oryza glumaepatula. Recursos genéticos vegetais. Variação dentro da espécie. Genetic variability in the genus Oryza Abstract: It is understood by genetic diversity, as variation within species, and when properly identified and captured, constitute the genetic resources. These resources constitute themselves as an essential part of biodiversity values and socioeconomic hold current and potential use for the benefit of mankind. The wealth of genetic resources of rice is the basis for progress in corn breeding in the face rationing of biological and physical resources. The wild germplasm of cultivated species is one of the greatest biological treasures of man. While research of rice are largely directed to cultivated species, selecting large number of cultivars for important traits like high productivity and high quality grain, many lack important features such as resistance to certain pests. Thus, wild species are very important as gene pool for breeding programs of cultivated rice, since many of these have such characteristics. Key words: Genetic resources plant. Oryza glumaepatula. Inside variation species. 1 2 Revisão com finalidade acadêmica realizada na Faculdade Montes Belos (FMB) Professora Mestre da FMB. Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 2 B. C. F. Crispim 1.0. Variabilidade genética no gênero Oryza de germoplasma de arroz selvagem resultaram no Introdução aumento de “pool” gênico, sendo responsável pela O termo biodiversidade foi adotado no final da década de 80 e define variações em todos os chamada “Revolução Verde” do arroz (VAUGHAN et al., 2003). níveis de organização entre organismos (WILSON, No Brasil, o arroz é uma das espécies, em 1997). O estudo de biodiversidade é, portanto, pesquisa, mais intercambiadas, sendo introduzido extremamente por em diversas regiões do mundo, os principais centros diversidade genética, como a variação dentro de de pesquisa da cultura são o IRRI, nas Filipinas e o espécie, Centro e complexo. quando Entende-se identificada e capturada adequadamente, constituirá os recursos genéticos. Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), na Colômbia. Estudos com espécies Estes recursos constituem-se como parte silvestres de Oryza vem sendo realizadas. Os essencial da biodiversidade e detêm valores estudos realizados com espécies sul americanas socioeconômicos atuais e potenciais para uso em utilizaram um número limitado de acessos, restritos benefício da humanidade (GOEDERT et al., 2002). geograficamente à região de Manaus, na Amazônia. É estimado algo em torno de 5 a 30 milhões Expedições de coleta desenvolvidas em uma grande de espécies no planeta, sendo que até o momento extensão de rios da Amazônia e do Pantanal somente 1,4 milhão de espécies foram catalogadas Matogrossense recuperaram amostras populacionais (WILSON, 1997). Diversos centros de pesquisa de espécies silvestres de arroz nativas do Brasil agronômica, na América e fora dela, possuem (BUSO, coleções valiosas de arroz. A maior coleção de caracterização e manutenção das diferentes espécies Oryza sp. Existente pertence ao International do gênero Oryza seja de fundamental importância, o Research Institute (IRRI), nas Filipinas. Essa destaque em termos de importância alimentar coleção, em 2004, já atingia mais de 90.000 mundial, atualmente, recai sobre a espécie O. amostras de variedades cultivadas e espécies sativa. selvagens, sendo a maioria de 1998). Embora a identificação, variedades A riqueza dos recursos genéticos de arroz é tradicionais da espécie Oryza sativa (FONSECA et a base para o progresso no melhoramento genético al., 2006). da cultura em face do racionamento de recursos No Brasil, onde o arroz irrigado responde biológicos e físicos. O germoplasma silvestre das por cerca de 75% da produção nacional, a maior espécies cultivadas é um dos maiores tesouros parte biológicos do homem (CHANG, 1984). da base genética dos programas de melhoramento, há pouco tempo, estava resumida a sete variedades (RANGEL et al., 1996). A coleção de germoplasma do gênero Oryza, em nível mundial, teve início no final da década de 50. No início dos anos 70, esforços internacionais de coleta Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 3 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza 2.0. Revisão Bibliográfica 2007). Embora possam apresentar cruzamento por 2.1. Genealogia e taxonomia meio de hibridação, dependendo da interação O arroz pertence à divisão Angiosperma, genótipo-ambiente, ambas as predominantemente autógamas. espécies A são fecundação classe das monocotiledôneas (plantas que possuem ocorre antes ou no momento da abertura das embrião com um só cotilédone), ordem Glumiflora, glumelas (lema e pálea), expondo o pistilo de família estigma bifurcado, os estames e as anteras com o Poaceae Gramineae), (anteriormente subfamília denominada Bambusoideae ou pólen (TERRES et al., 1998). Oryzoideae (definida mais tarde), tribo Oryzeae, e O gênero Oryza foi assim denominado por gênero Oryza. É um parente próximo dos bambus e Linnaeus em 1753 e deu o nome especifico ao arroz algumas em cultivado O. sativa Linn. O número haploide de miniatura. É uma planta anual ou perene, podendo cromossomos do arroz foi determinado por Kuwada se desenvolver em condições de solo alagado ou em 1910, porém somente na década de 60 é que os seco (MAGALHÃES JÚNIOR. et al., 2004). As caracteres evidências sugerem que as gramíneas surgiram na estabelecidos (TATEOKA, 1964). das espécies parecem bambus que definiram o gênero foram era Mesozoica em clima tropical e, a partir de então, As principais características morfológicas do diversas linhas evoluíram e adaptaram-se a vários gênero Oryza são a presença de glumas estéreis habitats. Estas espécies são encontradas em rudimentares, espiguetas bissexuais e as folhas florestas sombreadas, em pântanos, ou nas margens estreitas, herbáceas com nervuras lineares e bordos de rios e lagos (MAGALHÃES JÚNIOR et al., serrilhados 2004). Botanicamente, este gênero se caracteriza por (VAUGHAN et al., 2003). Taxonomicamente, o arroz engloba duas apresentar espigueta conectada à ráquila e por tribos de importância alimentar, que são a Zizaniae conter uma única flor terminal fértil, composta de e Oryzae. A tribo Oryzae, que contém o gênero duas glumelas florais (pálea e lema), seis estames, Oryza, é composta por 23 espécies, com destaque um estigma bífido e duas glumelas estéreis para duas espécies cultivadas: O. glaberrima Steud. localizadas na base da flor (PEREIRA, 2002). (arroz cultivado africano), e O. sativa L. (arroz cultivado asiático), que é a mais conhecida por sua importância na alimentação Citogeneticamente, ambas são 2.2. Complexos de espécies do gênero Oryza humana. diploides com O gênero Oryza foi dividido em quatro número básico (x) de 12 cromossomos (2n = 24, no complexos descritos por (TATEOKA, 1962), tecido somático). Apesar da grande semelhança, complexos O. sativa, O. officinallis, O. ridleyi e O. existem diferenças entre seus genomas e, por isso, o meyeriana (Tabela 1). O complexo O. sativa da O. sativa é representado por AA e o da O. consiste das espécies cultivadas e seus parentes glaberrima, por AgAg (MAGALHÃES JÚNIOR, silvestres, todas elas diploides e com genoma AA. Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 4 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza Em seu tratamento taxonômico de Oryza, Vaugham 2.3. Arroz silvestre nativo do Brasil (1989) reconheceu seis espécies silvestres de genoma AA: O. rufipogon e O. nivara, distribuídas Os trabalhos de coleta e identificação na Ásia; O. barthii e O. longistaminata na África, realizados nos últimos anos confirmam que o arroz O. rufipogon é também considerado um complexo silvestre nativo do Brasil pertence, na realidade, a com várias formas, anuais e intermediárias da Ásia, diversas espécies, entre as quais O. glumaepatula, América e Oceania. O. grandiglumis, O. latifolia e O. alta. O. As espécies do complexo O. officinalis são glumaepatula tem uma ampla distribuição, sendo diploides com genoma BB, CC, EE, FF, e raramente encontrado em locais fora da água. tetraploides com genomas BBCC ou CCDD. O. Cresce às margens dos rios e lagos e sua presença punctata é uma espécie africana com forma diploide está relacionada com a incidência direta de luz. (BB) e tetraploide (BBCC). A distinção entre as Vulgarmente esta espécie é conhecida como arroz duas é feita por contagem de cromossomos e pela flutuante (RANGEL, 1998). ocorrência em habitats parcialmente disjuntos. O. Em resposta à elevação do nível da água dos officinalis e O. rhizomatis são espécies asiáticas de rios, esse autor relata que ocorre um rápido genoma CC, assim como O. eichingeri, da África. alongamento dos seus entrenós, chegando às plantas O. minuta está distribuída nas Filipinas e tem a atingir uma altura de 7 metros e, ao se quebrarem, genoma tetraploide BBCC. O. latifolia, O. alta e O. formam grandiglumis têm genoma tetraploide CCDD e são grandiglumis é encontrado no oeste da Amazônia, encontradas Sul, nas bacias hidrográficas dos rios Solimões, Negro, particularmente no Brasil. Finalmente, o complexo Japurá, Purus e Madeira. Sua presença está O. officinalis inclui, O. australiensis, com genoma relacionada, principalmente, a locais sombreados EE endêmico da Austrália, e O. brachyantha, com nas proximidades ou dentro dos sub-bosques da genoma FF da África (BUSO, 1998). floresta, iniciando seu crescimento através das apenas na América do Esse autor ainda relata que os complexos O. grandes populações flutuantes. O. brotações de órgãos vegetativos, como colmos, ridleyi e O. meyeriana são menos estudados e os seguindo-se o alongamento dos entrenós, à mais divergentes do gênero. As espécies desses semelhança do O. glumaepatula, com a diferença de complexos não são facilmente cruzadas com as que a planta permanece presa no solo até o final do demais. (AGGARWAL et al., 1996) Propôs ciclo. genomas para as espécies desses complexos, O. latifolia está restrita à bacia do Rio endêmicos da Ásia. Buso (1998) descreve que O. Paraguai, no Pantanal Mato-grossense, enquanto meyeriana e O. granulata são do complexo O. que O. alta tem uma ampla distribuição no Brasil, meyeriana, diploides com genoma GG, O. ridleyi e incluindo a Bacia Amazônica, Região Nordeste O. longiglumis são do complexo O. ridleyi, de (Maranhão) e Região Sudeste (Floresta Tropical genoma tetraploide HHJJ. Atlântica). Recentemente, em coleta realizada no Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 5 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza município de Campo Maior (Piauí), o botânico S. americano A. Renvoize (Royal Botanic Garden, Kew), disseminadas como ervas daninhas junto ao arroz especialista em Poaceae, identificou a espécie cultivado. coletada como sendo O. ruffipogon (PEREIRA, A 2002). no análise tempo da pós-Colombiano variação de 24 e locos enzimáticos nas quatro formas de O. perennis O. glumaepatula foi descrito pela primeira (asiática, africana, americana e Oceania) conclui vez em 1954 por Steud. No entanto, até hoje que a forma americana não poderia ser claramente existem dúvidas sobre a classificação da espécie diferenciada de algumas variedades asiáticas, como diploide americana. O arroz silvestre americano não seria possui flutuante, independentemente por muito tempo. O autor característico de O. perenis. Sampath (1962) sugere que a diferença entre dados de classificação observou caracteres externos adicionais e sugeriu morfológica e de isoenzimas é resultante da rápida relação adaptação de caracteres morfológicos e ecológicos, o caule com rizomatoso arroz ou silvestre africano, esperado que se tivessem caracteres evoluído particularmente com O. brevigulata. O autor enquanto isoenzimáticos conclui que o arroz silvestre diploide da América permaneceram imutáveis (SECOND, 1985). tropical tenha originado na África, e através de Utilizando a técnica de polimorfismo de evolução local e dispersão, tenha se transformado comprimento de fragmentos cortados com enzimas em uma nova espécie. TATEOKA (1962), ao de restrição (RFLP – “Restriction Fragment Lenght contrário, concluiu que as plantas americanas não Polymorphism”) apresentavam distinção clara das plantas asiáticas clorosplástico (cpDNA), Dally & Second (1990) após observação de caracteres morfológicos de observaram grande diversidade de padrões de exemplos vivos e de herbários de arroz silvestre. restrição nos quatro acessos de O. glumaepatula Portanto, o autor concluiu que a espécie O. estudados. Dois acessos tiveram padrão relacionado rufipogon asiática deveria classificar também à forma asiática de O. perennis, e outros dois à O. indivíduos americanos. Apesar de algumas formas longistaminata africana. Eles concluíram que existe apresentarem espiguetas longas, ele concluiu que uma grande variação do DNA organelar na espécie isto se tratava de uma variação intraespecífica. O. rufipogon americana e que este grupo pode ter Gopalakrishnan & Sampath (1966), em estudo baseado em caracteres para análise do genoma sido introduzido na América pelo homem há apenas morfológicos, quatro séculos, com base na relação com O. indicaram que O. perennis e seus variantes rufipogon asiático observado com isoenzimas. Com americanos são diploides, mostram similaridade respeito à similaridade com O. longistaminata, morfológica com as subespécies asiáticas e sugerem que a forma americana surgiu da africanas de O. perennis, e com O. sativa e O. hibridização das espécies africana e asiáticas. Em rufipogon. Concluíram que estas espécies foram outro trabalho utilizando RFLP, foram examinados possivelmente 21 espécies do gênero Oryza. Os resultados também introduzidas no continente Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 6 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza mostraram que O. glumaepatula tem afinidade com O. grandiglumis possui lemas estéreis do mesmo as espécies africanas, O. barthii e O. glaberrima. tamanho e estrutura das lemas férteis. Martin et al. (1997) verificaram através da Jena & Kokchert (1991) estudaram 14 análise de polimorfismo de DNA amplificado ao acessos acaso (RAPD – “Random Amplified Polymorphic marcadores nucleares de RFLP. Uma árvore DNA”) amostras de O. glumaepatula e O. filogenética meridionalis, O. nivara e O. rufipogon, detectaram parcimônia agrupando os acessos de acordo com a classificação errônea de quatro acessos de O. origem geográfica (América Central ou do Sul). Os glumaepatula meridionalis, autores sugeriram que as três espécies deveriam ser identificados como O. rufipogon. Os acessos consideradas como populações de uma única verdadeiros de O. glumaepatula e O. meridionalis espécie. Wu & Wu (1992) isolaram uma sequência formaram grupos bem definidos, enquanto a repetitiva de O. officinalis (genoma CC) e a separação entre O. nivara e O. rufipogon não foi utilizaram conclusiva. Os autores concluíram que os dados representantes dos vários genomas. Com relação a deram suporte à classificação de O. glumaepatula espécie como uma espécie distinta de O. rufipogon. demonstraram que as três espécies tem padrões e cinco de O. As espécies de genoma CCDD endêmicas do Brasil são denominadas O. alta Swallen, O. de genoma foi no do CCDD construída estudo genoma de utilizando por análise várias (CCDD), os 14 de espécies resultados muito similares, senão idênticos, reforçando a hipótese de que pertencem a uma única espécie. latifolia Desv. E O. grandiglumis (Doell), descritas Sampath (1962) hipotetizou que as espécies em 1936, 1913 e 1922, respectivamente. Ainda tetraploides sul americanas surgiram de diploides existem dúvidas sobre a classificação destas africanas. O autor afirmou que o genoma D e B são espécies, não sendo claro se constituem espécies variações do genoma CC. Gopalakrishnan & distintas ou se são formas ou subespécies de uma Sampath única espécie. Tateoka (1962) observou caracteres possibilidade de se encontrar o genoma DD na morfológicos de África, se houvesse uma coleta exaustiva. Eles anfidiploides americanas e concluiu que os tipos postularam que sementes foram levadas por alta e grandiglumis podem ser considerados tanto pássaros da África para a América. A fertilidade como espécies distintas ou como subespécies de O. entre híbridos de O. alta e O. grandiglumis fizeram latifolia. Vaugham (1989) descreveu que a principal com que os autores acreditassem que as duas diferença morfológica entre as três espécies é o espécies tamanho das sementes. As sementes de O. latifolia contraste, O. latifolia seria uma espécie distinta, são de com evidência a esterilidade dos híbridos com as comprimento, enquanto que as de O. alta e O. outras duas espécies. Eles concluíram que os dados grandiglumis são maiores. A outra diferença é que citogenéticos disponíveis indicavam que estas menores e exemplares do que de sete herbários milímetros (1966), são hipotetizaram próximas e que haveria coespecíficas. Em Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 7 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza espécies: O. alta e O. grandiglumis estão em variantes de uma sequência de DNA repetitivo que processo de evolução para espécies distintas. se mostrou altamente especifica para o genoma CC, Na tentativa de esclarecer a origem das e não hibridizou com nenhum outro genoma, espécies tetraploides americanas, Second (1985) incluindo EE, mesmo a baixa estrigências. Esta estudou a variação de oito locos isoenzimáticos em sequência estava ausente também no genoma espécies de seção O. latifolia. Observou que as CCDD. Os autores discutiram a possibilidade de espécies de genoma CCDD eram em partes que o genoma CC componente do anfidiploide relacionadas a espécies de genoma CC. Uma CCDD não seja originado de O. officinalis. amostra da Ásia teve padrão enzimático similar aos tetraploides CCDD. O autor propôs que o genoma 2.6. Importância do Arroz Silvestre no DD tenha se originado na China. Adicionalmente, o Melhoramento autor utilizando a calibração de Sarich, calculou um Cultivado Genético do Arroz tempo de divergência de aproximadamente 15 milhões de anos entre os genomas BB, CC, DD e A EE, um pouco menos entre a forma australiana (EE) vulnerabilidade e as outras espécies da seção O. sativa (AA). Com o melhoristas reconhecem a importância das espécies objetivo de esclarecer o relacionamento destas silvestres como fonte de genes de resistência a espécies com as demais, Second & Wang (1992) pragas, doenças e a condições adversas de utilizaram genes crescimento, como vários estresses abióticos. mitocondriais no estudo de RFLP. Observaram que Quando estas características são incorporadas em o genoma CCDD agrupou com os genomas CC e variedades EE, sugerindo similaridade entre o genoma CCDD evitadas perdas em produção. Um pré-requisito para e EE, além do CC, a nível mitocondrial. Concluindo introdução desses novos caracteres é a existência de que o genoma CCDD é igualmente relacionado a um amplo pool gênico de germoplasma de arroz dois progenitores diploides EE e CC, evidenciando (KO et al., 1994). 11 sondas heterólogas de recombinação interespecífica. uniformidade das genética plantas economicamente aumenta cultivadas. importantes a Os são A avaliação dos parentes silvestres do arroz Após exame com marcadores RFLPs de 21 tem permitido a identificação de algumas fontes de espécies do gênero Oryza, Wang et al.(1992), resistência a pragas e doenças em diferentes concluíram que os seis acessos de genoma CCDD espécies do gênero. Fontes de resistência à broca- da América do Sul se agruparam com CC e se do-colmo listrada foram encontradas em 13 aproximaram de EE. Para os autores, isso sugere espécies, à cigarrinha marrom em 11 espécies; e a que o genoma EE seja relacionado ao DD e, queima-das-bainhas em oito espécies. Sessenta e portanto, um ancestral de genoma EE pode ter seis acessos de o. rufipogon mostraram resistência à participado na formação do genoma CCDD. No queima-das-bainhas entanto Reddy et al. (1993), caracterizaram dois estresses abióticos também está presente em do arroz. Resistência a Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 8 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza algumas espécies silvestres. Um acesso de O. cruzamento da linhagem elite BG 90-2 com um rufipogon do Sri Lanka mostrou tolerância á acesso de O. glumaepatula (RS 16). As 35 salinidade de linhagens de O. sativa vetoras de genes da espécie sido silvestre O. glumaepatula foram avaliadas em encontradas, como o citoplasma WA, proveniente ensaios multilocais para produtividade de grãos no de no cultivo principal e na soca, qualidade de grão e desenvolvimento de híbridos cultivados em plantios vigor de plântula em condições controladas. Estas de milhões de ha arroz hibrido na China. Muitas linhagens poderão ser utilizadas na ampliação da espécies silvestres de Oryza possuem também alto base genética das populações de arroz irrigado ou conteúdo de proteína nas sementes (SHAO et al., serem submetidas a um programa de melhoramento 1986, apud BUSO, 1998). para incorporação de resistência às doenças e (VAUGHAM, esterilidade O. citoplasmática sativa f. 1994). Fontes também spontanea, têm usada Das espécies silvestres que ocorrem no melhoria da qualidade dos grãos. Brasil, a O. glumaepatula, por ser autógama, Espécies silvestres mais distantes do arroz, diploide e possuir genoma semelhante ao da espécie que não tem genoma AA, também estão sendo cultivada, é a que possui maior potencial de uso no utilizadas em programas de melhoramento. Esses melhoramento genético. A Embrapa Arroz e Feijão híbridos são mais difíceis de obter devido à baixa vem utilizando essa espécie no desenvolvimento de taxa um programa de pré-melhoramento, com o objetivo Adicionalmente esses híbridos são, em geral, de incorporar seus genes em linhagens e cultivares macho-estéreis. elites. As linhagens de O. sativa vetoras de genes da retrocruzamentos com parental recorrente para espécie silvestre serão usadas na ampliação da base produção de progênies dissômicas (2n= 24). O genética das populações do melhoramento de arroz resgate do embrião também tem sido realizado com irrigado, visando à obtenção de cultivares de alta o objetivo de obter plantas com complemento produtividade A diploide de cromossomos. Dessa forma, vários estratégia adotada na introgressão de genes, caracteres úteis tem sido transferidos para o arroz, conhecida de como a resistência à cigarrinha marrom, à Retrocruzamento para QTL, envolve o uso de cigarrinha branca e a queima-da-bainha do arroz mapas técnicas “bacterial blight” do genoma CC. Outros genes de convencionais de melhoramento e permite que um resistência foram transferidos de minuta (BBCC) grupo de genes de uma planta exótica ou silvestre para o arroz cultivado (BRAR & KHUSH, 1997). de (FONSECA como ligação et Método al., 2006). Avançado molecular e de cruzamento Neste e aborto caso, do embrião. empregam-se possa ser examinada em um conjunto gênico de uma cultivar ou linhagem elite (TANKSLEY & NELSON, 1996). Brondani et al. (2002), desenvolveram trabalho de introgressão de genes, através de Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 9 B. C. F. Crispim 2.7. Variabilidade genética no gênero Oryza Variabilidade Dentro da Espécie Oryza Mesopotâmia e a Arábia. A continuação de sua sativa implantação estendeu-se à Turquia e à Síria. A chegada deste cultivo na Grécia, Irã e Babilônia, Postula-se que o arroz asiático (Oryza segundo alguns historiadores, deu-se em sativa) seja originário da Ásia, no entanto, não se consequência das invasões de Alexandre Magno, no sabe com precisão o país onde foi domesticada esta ano 320 a.C (TERRES et al., 1998). espécie, embora existam fortes evidências de que A expansão do cultivo pelos árabes foi seu centro de origem seja o sudeste asiático, mais muito importante (TERRES et al., 1998), sendo precisamente na região compreendida entre a Índia levado ao delta do Rio Nilo, no Egito, para a costa e Mianmar (antiga Birmânia), devido à rica oriental africana, e, em seguida, para o Marrocos e a diversidade de formas cultivadas deste arroz ali Espanha, de onde se espalhou para vários países encontrada alguns vizinhos. Segundo Lu & Chang (1980), o arroz historiadores, sua origem e domesticação deu-se somente chegou à Espanha e à Sicília por volta de provavelmente no sul da Índia, onde se encontram 883 d.C. Sevilha tornou-se o centro a partir do qual as condições de solos mais favoráveis para o seu se disseminaria o arroz para o sul da Espanha, para cultivo. Escritos indianos de 1300 e 1000 anos a.C. a Itália e para Portugal. Posteriormente, foi descrevem certas práticas agronômicas, como o introduzido na América pelos espanhóis e, no transplante, e exibem uma classificação agronômica Brasil, pelos portugueses, no início do século XVI, e alimentícia do arroz (PEREIRA, 2002). onde se tornou um dos principais alimentos de (Pereira, 2002). Segundo Acredita-se, é admitido que o arroz se consumo interno. propagou desde o sudeste asiático e a Índia, até a Em 1580 já se cultivava arroz no Vale do China, há cerca de 3000 anos a.C. Estudos Rio Madalena, na Colômbia, e que esta introdução informam que os mais antigos resquícios de grãos teria sido realizada pelos espanhóis. No Brasil, a de arroz foram identificados na China, encontrados presença no vale do Rio Yang-Tsé-Kiang, e datados do descobrimento. Esse cereal constava no cardápio período compreendido entre 3395 e 2000 a.C. Isto dos descobridores e também já era utilizado na não significa, no entanto, que seu cultivo não fosse alimentação das populações locais. No entanto, praticado antes desta época (PEREIRA, 2002). estudos indicam que o arroz cultivado e consumido do arroz remonta à época do Também a partir da Índia, o arroz chegou ao no Brasil antes da chegada dos portugueses não se Sri Lanka, onde foi cultivado inicialmente no tratava de O. sativa originário da Ásia, mas de sistema de sequeiro. A introdução de O. sativa na espécies nativas da América do Sul. Essas espécies Ásia Ocidental e no Mediterrâneo é mais recente e silvestres ainda podem ser encontradas no Pantanal ocorreu durante o Império Persa. Através da Pérsia, Mato-grossense o seu principal ponto de expansão a oeste da Índia, sobretudo na Amazônia (PEREIRA, 2002). Esse o arroz chegou ao Turquistão e depois à autor relata que o arroz era conhecido pelos índios e às margens dos igarapés, Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 10 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza Tupis como “auatiapé” (auati=milho e apé=com Com o processo evolutivo e a domesticação casca),” abatiapé (abati=milho e apé=com casca) e” a que foi submetido O. sativa, ao longo do tempo, abatii” (abati=milho e i=miúdo). As maiores foram surgindo inúmeros tipos geneticamente dúvidas persistem quanto ao ano preciso e à divergentes, os quais foram se adaptando às mais localidade em que o arroz cultivado, de origem variadas condições agroecológicas no mundo. asiática (O. sativa), foi primeiramente plantado no Assim sendo, com base na distribuição geográfica, Brasil, sendo quase certo, entretanto, que tal na morfologia da planta e do grão, na esterilidade introdução ocorreu na Bahia, pelos portugueses de dos Cabo Verde, em uma época anterior a 1587. Desta características, região, o arroz se espalhou pelos estados do classificada em duas principais subespécies, grupos Maranhão, Pernambuco e Pará, onde foi cultivado ou raças ecogeográficas, denominadas índica durante muitos anos, sendo sua produção, na época, (hsien) e japônica (keng). Posteriormente, na exportada para Portugal. década cruzamentos de em 1950, (híbridos) 1928, a e esta esta em outras espécie subdivisão foi seria Com o tempo, os colonizadores portugueses acrescentada a subespécie javânica (LU & CHANG, levaram o arroz cultivado da Região Norte e 1980). Atualmente, as subdivisões incluem o grupo Nordeste para outros estados brasileiros, onde Aus, o grupo Aromático, grupo Rayada e grupo encontraram adaptação e expansão. A cultura do Ashina (GARRIS et al., 2005). arroz começou a surgir no cenário agrícola do Rio Em O. sativa, a força de seleção natural e Grande do Sul a partir de 1824, com a chegada dos humana, diversidade climática, de solos e práticas colonos alemães a São Leopoldo, onde foi plantada levaram a um aumento da diversidade em arroz, a princípio como lavoura de sequeiro (BRANDÃO, contribuindo também para diversificação de cultivo, 1972). No entanto, a produção orizícola, ao final do como de sequeiro e irrigado. Cultivares tradicionais século XIX, se restringia basicamente a algumas são mais adaptadas ao sistema de sequeiro e colônias alemãs, tendo em vista basicamente a caracterizam-se por apresentar ciclo vegetativo subsistência. Mediante o uso de “rodas de caçamba” menor, pouca capacidade de perfilhamento, raízes ou de bombas, surgiram as primeiras lavouras longas e espessas, panículas longas, resistentes ao irrigadas no início do século XX. Às margens do degrane, grão longos e espessos, folhas e glumas Arroio Pelotas, em 1903, iniciou-se os primeiros glabras. Durante a Revolução Verde surgiu o cultivos com instalações de levante mecânico, para conceito de variedade moderna de arroz. Estas irrigação das lavouras (TERRES et al., 1998). apresentam Atualmente, o Rio Grande do Sul é responsável por perfilhamento, folhas largas e eretas, maior numero cerca de 50% do arroz produzido no país de raízes e estas são mais finas também, ciclo (AZAMBUJA et al., 2004), em uma área de longo, panículas longas e grãos longos finos. A aproximadamente um milhão de hectares, com primeira cultivar moderna foi lançada pelo IRRI, produtividade média de 7000 kg ha. cultivar semi-anã IR-8, altamente produtiva, e por porte baixo, alto potencial em Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 11 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza isso, foi extensivamente utilizada como genitor em segregantes são obtidas pelo processo natural de programas de melhoramento no mundo todo, tendo autofecundação, o que reduz de maneira drástica as grande impacto no estreitamento da base genética oportunidades de recombinação, uma vez que o do arroz (VIEIRA, 2007). “crossing-over” ocorrido entre alelos idênticos não O aumento de produtividade do arroz é uma das prioridades dos programas de melhoramento produz novos recombinantes (RANGEL & NEVES, 1997). genético. Nos últimos anos tem-se observado uma O estreitamento da base genética das estagnação dos patamares de produtividade em cultivares de arroz traz como consequência o função do estreitamento da base genética do arroz fenômeno da uniformidade genética, ou seja, com cultivado, resultante, principalmente, do reduzido diminuição da variabilidade alélica todas elas pool gênico presente nos genitores utilizados pelos tornam-se muito semelhantes geneticamente, o que melhoristas de todo o mundo (RANGEL, 2005). As reduz a sua capacidade de adaptação a alterações variedades modernas cultivadas são resultantes de ambientais um longo processo de seleção artificial exercido população a pragas e doenças (TANKSLEY & pelo homem sobre os ancestrais do arroz. Existindo MCCOUCH, 1997). Além disso, ocorre uma uma forte pressão de seleção sobre poucas redução da possibilidade de ganhos adicionais nos características consideradas importantes para o programas de seleção, uma vez que o melhorista cultivo, como aderência de grãos à panícula, passa a utilizar um conjunto gênico limitado. Diante crescimento compacto de planta, entre outras, sendo destes fatos, conclui-se que, para obter ganhos descartadas possuíam consideráveis na produção do arroz, a busca por seleção novas fontes de variabilidade alélica visando à características as plantas de que interesse não para (TANKSLEY & MCCOUCH, 1997). Este forte e direcionado processo de seleção e aumenta a vulnerabilidade da ampliação da base genética do arroz cultivado torna-se imprescindível. levou à ocorrência de um fenômeno denominado de A ampliação da base genética das cultivares erosão genética, ou seja, a variabilidade genética do de arroz pode ser alcançada através da utilização da arroz cultivado tornou-se reduzida devido à perda metodologia da seleção recorrente ou utilização de de alelos durante seu processo evolutivo. Isso pode cruzamentos entre genótipos pouco aparentados ser constatado pelo fato de que mais de 20 espécies (RANGEL et al., 1996). conhecidas do gênero Oryza, apenas uma (O. recorrente é uma técnica de melhoramento que sativa) é cultivada em aproximadamente 90% da aumenta a frequência dos genótipos favoráveis em área plantada de arroz no mundo. Associado a isso, uma população através de ciclos de seleção e os programas de melhoramento genético do arroz intercruzamentos. Esta metodologia é amplamente utilizam métodos que maximizam a endogamia no utilizada em plantas alógamas, mas a sua utilização desenvolvimento de novas linhagens, ou seja, após em plantas autógamas é limitada devido à o cruzamento entre genitores, as populações dificuldade em se realizarem os cruzamentos após O método de seleção Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 12 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza cada ciclo de seleção. Em arroz, o descobrimento de exploradas e, portanto, a sua utilização em plantas portadoras de alelos responsáveis pela cruzamentos amplos apresenta grande potencial macho-esterilidade tornou possível a utilização da para introgressão de genes favoráveis para as seleção recorrente nos programas de melhoramento. variedades A principal vantagem desta metodologia é a potencialmente, possuem muitos alelos úteis de constante ampliação da variabilidade genética da resistência a estresses bióticos e abióticos (doenças, população e o aumento da frequência dos alelos pragas, tolerância a minerais tóxicos no solo, etc.) favoráveis, pois a cada ciclo de seleção existe uma porque se desenvolvem em ambientes cujas nova possibilidade de recombinação devido ao condições intercruzamento especialmente se comparadas às condições dos dos indivíduos selecionados (RANGEL & NEVES, 1997). A realização de cruzamentos amplos em são espécies, bastante adversas, máximo através da adubação do solo e controle de pragas e doenças (BRAR & KHUSH, 1997). da maneiras mais efetivas para aumentar a genética naturais Estas campos de cultivo, onde o ambiente é controlado ao utilizando germoplasma exótico é considerada uma variabilidade cultivadas. populações de No entanto, aparentemente, a utilização de germoplasma exótico pode ser bastante melhoramento de arroz. Segundo Halluer & problemática, porque estes materiais possuem Miranda exótico características indesejáveis aos programas de compreende todo germoplasma que não tem melhoramento, como altura elevada de planta, tipo imediata utilidade sem a devida seleção para de grãos inadequados, alta degrana, entre outros, adaptação a um dado ambiente. Assim, incluem-se que, as variedades tradicionais, o arroz vermelho e segregante, podem aumentar o tempo necessário espécies silvestres relacionadas ao arroz cultivado. para a recuperação dos genótipos favoráveis Filho (1988), germoplasma Apesar de melhoristas de plantas do mundo inteiro visarem a maximização dos ao serem incorporadas na população (LORIEUX et al., 2000). De uma maneira geral, ganhos cruzamentos amplos quase sempre resultam em genéticos, somente uma pequena parcela da problemas como aumento da esterilidade na variabilidade genética do germoplasma tem sido progênie, redução da recombinação devido a explorada. As variedades tradicionais dos bancos de distancia genética entre as germoplasma, que foram ou estão sendo cultivadas introdução de alelos indesejáveis para a espécie por agricultores durante vários anos, podem ser uma cultivada e aumento do tempo necessário para a fonte interessante de alelos, pois são adaptadas às recuperação condições de cultivo e são resistentes às pragas e variedade elite (BRONDANI et al., 2001). doenças comuns aos ambientes rurais (RANGEL, 2005). das linhas características parentais, favoráveis da Adicionalmente, características relacionadas à produção têm herança quantitativa, ou seja, são As espécies silvestres de arroz apresentam- controladas por vários genes, o que dificulta a se como uma grande fonte de alelos a serem identificação dos alelos presentes nos diferentes Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 13 B. C. F. Crispim Variabilidade genética no gênero Oryza locos e o monitoramento da sua introgressão do germoplasma exótico para espécie 3.0. Considerações finais cultivada (RANGEL, 2005). A Um grande número de técnicas de genética limitada germoplasma diversidade utilizado em genética do programas de molecular estão disponíveis visando auxiliar os melhoramento torna as cultivares modernas de arroz programas de melhoramento na identificação de mais características econômicas patógenos e pragas, dificultando o estabelecimento desejáveis, estejam estas características sob o de um programa de melhoramento genético controle de um ou vários locos dentro do genoma. sustentável em longo prazo. As consequências de Todo o processo de introgressão e monitoramento plantios comerciais de variedades com estreita base podem ser realizados dentro dos próprios programas genética podem ser desastrosas. O primeiro registro de melhoramento, permitindo que a biotecnologia de danos de grandes proporções ocasionados por seja utilizada em parceria e a favor dos melhoristas. doença devido à uniformidade genética ocorreu em Em estudo realizado por Rangel (2005), foi 1845, quando a mela da batata (Phytophtora construído um mapa de ligação para o cruzamento infestans), dizimou as plantações de batata da interespecífico utilizando a espécie silvestre O. Irlanda, matando de fome mais de um milhão de glumaepatula (acesso RS-16) e o parental cultivado pessoas. Em 1943, na Índia, a doença fúngica O. sativa (cutivar Cica-8), utilizando a técnica de helmintosporiose, AB-QTL (Advanced Backcross – Quantitative Trait agravadas por um tufão, destruiu as plantações de Loci Analysis). Esta metodologia baseia-se na arroz e iniciou a grande fome de Bengala. identificação apresentem agronômicas e incorporação efeitos positivos e de QTLs provenientes que do vulneráveis a epidemias cujas causadas consequências por foram Embora as pesquisas de arroz estejam amplamente dirigidas às espécies cultivadas, parental exótico para o background genético do selecionando-se grande número de cultivares para parental cultivado (TANSKLEY & NELSON, características importantes como alta produtividade 1996). A análise de QTLs revelou que os alelos da e alta qualidade dos grãos, muitas delas não espécie silvestre O. glumaepatula contribuíram possuem positivamente para o melhor desempenho das resistência a determinadas pragas. Assim, as famílias nos locos associados às características espécies silvestres são muito importantes como números de perfilhos e número de panículas na reservatório cultura principal e número de perfilhos, número de melhoramento do arroz. características gênico para importantes, os como programas de panículas e produção na soca. Todos os demais caracteres tiveram os efeitos fenotípicos positivos relacionados aos alelos do parental cultivado Cica8. Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 4, Agosto 2012 14 B. C. F. Crispim 4.0. Referências bibliográficas AGGARWAL, R. K.; BRAR, D. S.; KHUSH, G. S. Two new genomes in the Oryza complex indetified on the basis of molecular divergence analysis using total genomic DNA hybridization. Molecular Gene Genetic. v. 254, p. 1-12, 1996. AZAMBUJA, I. H. V; VERNETTI JÚNIOR, F. J.; MAGALHÃES JÚNIOR, A. M. Aspectos socioeconômicos da produção do arroz. In: GOMES, A. S.; MAGALHÃES JÚNIOR, A. M. (eds.). A cultura do arroz irrigado no Sul do Brasil. 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