Maiêutica - Curso de Processos Gerenciais DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE VENDA DOS PRODUTOS Wagner Machado dos Santos Professor-Tutor Externo: Rosangela Becker Cossa Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Processos Gerenciais (EMD0090) – Prática do Módulo I 30/11/2012 RESUMO Pensar em gestão de custos tornou-se uma estratégia indispensável à continuidade das empresas no mercado, principalmente no que se refere a determinar qual preço será praticado no mercado. A literatura contábil é muito farta quando se fala em gestão de custos, no entanto, esses conceitos são, em sua grande maioria, aplicados ás grandes companhias, necessitando de uma adaptação ao tratarmos das pequenas e médias empresas. O Markup como ferramenta de gestão pode ser facilmente adaptado à realidade dos pequenos negócios, porém, o empresário deve também analisar o mercado em que sua empresa está inserida. Palavras-chave: Gestão. Custos. Preço. Empresas. 1 INTRODUÇÃO A globalização da economia trouxe consigo o aumento da concorrência em todos os setores do mercado e com isso as empresas tiveram que rever suas estratégias de gestão, bem como seus controles gerenciais, sendo que os mesmos devem estar de acordo com essa nova realidade. Um dos pontos que determinam a permanência de uma empresa no mercado é o preço que ela utiliza para oferecer seus produtos a quem pretende comprá-los. No entanto, independente do método de precificação a ser utilizado, é necessário que se conheça os custos para fabricação e comercialização. Ao consultarmos a literatura, verificamos que há uma infinidade de informações relacionadas à gestão de custos, porém, a maioria dos autores direciona as estratégias e métodos às grandes companhias, deixando assim uma lacuna em relação às pequenas e médias empresas. O presente trabalho se trata de uma pesquisa de campo, em que foi analisada a produção do principal item comercializado por um estabelecimento comercial, o pão francês. Analisamos todos os gastos dentro do período de um mês, tanto da produção, quanto da administração. Tem como objetivo geral conscientizar o proprietário do negócio sobre a importância de determinar o preço de venda de seus produtos com base em ferramentas apropriadas para essa finalidade. Os objetivos específicos são: manter controles gerenciais de custos; aplicar o Mark-up para determinar o preço mínimo a ser praticado; e comparar o preço obtido por meio desta metodologia com a realidade do mercado. 45 Maiêutica - Curso de Processos Gerenciais Em relação à estrutura do trabalho, apresentaremos, na primeira parte, algumas informações relevantes encontradas na literatura sobre custos e determinação do preço de venda. Na segunda, apresentaremos os dados coletados no período de um mês, bem como as conclusões obtidas. 2 CONCEITOS RELACIONADOS À GESTÃO DE CUSTOS 2.1 Classificação dos custos Os custos podem ser classificados em relação à possibilidade de identificação do valor exato, gasto em cada unidade produzida. Esses gastos são chamados na literatura contábil de diretos e indiretos. Encontramos também, nos escritos disponíveis acerca do tema, a classificação quanto ao comportamento dos custos em relação ao volume produzido. Podendo ser fixos ou variáveis. 2.2 Custo Direto Para Coronado (2006, p. 36), “Custos diretos são os custos ou despesas que podem ser facilmente identificados com o objeto de custeio”. Ao citar objeto de custeio, o autor se refere ao produto fabricado pela empresa, ou seja, há uma identificação precisa sobre o valor do insumo utilizado em cada unidade produzida. custos apropriados de forma indireta aos produtos. Na visão de Ferreira (2007, p. 53), “são aqueles que ocorrem genericamente em um grupo de atividades, ou em um grupo de departamentos, ou na empresa em geral, sem possibilidade de apropriação direta”. Santos (2009, p. 22) assevera que: são outros custos [custos indiretos] que complementam uma atividade, e são incorridos de forma indireta ou geral, beneficiando, dessa maneira, todos os bens e serviços produzidos ou serviços prestados. Exemplos de insumos que são necessários para a obtenção do produto final, porém não mantêm qualquer relação direta: supervisão geral da fábrica, limpeza, segurança, depreciação, óleos lubrificantes, energia elétrica, água, peças de reposição de equipamentos etc. Segundo Martins (2003, p. 49), custos indiretos “não oferecem condições de uma medida objetiva e qualquer tentativa de alocação tem que ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária [...]”. Horngren (2000 apud Coronado, 2006, p. 36) registra que os custos indiretos são “os custos que estão relacionados a um determinado objeto de custo, mas não podem ser identificados com este de maneira economicamente viável (custo efetivo)”. 2.3 Custos Indiretos 2.4 Custos fixos Em relação aos custos indiretos de fabricação, encontramos vários conceitos na literatura, dos quais citaremos: Em sua explanação, Crepaldi (2002, p. 29) define custos fixos como: Dubóis, Kulpa e Souza (2006, p. 27) consideram custos indiretos como, [...] todos os custos que necessitam de alguns cálculos para serem distribuídos aos diferentes produtos fabricados pela empresa, uma vez que são de difícil mensuração e apropriação a cada produto elaborado, ou, ainda, é antieconômico fazê-lo. Portanto, são 46 [...] aqueles cujo total não varia proporcionalmente ao volume produzido. [...] Um aspecto importante a ressaltar é que os custos fixos são fixos dentro de determinada faixa de produção e, em geral, não são eternamente fixos, podendo variar em função de grandes oscilações no volume de produção. Dutra (2003, p. 46) define como “os custos de estrutura que ocorrem período após Maiêutica - Curso de Processos Gerenciais período sem variações ou cujas variações não são consequência de variações do volume de atividade em períodos iguais”. 2.5 Custos variáveis Na visão de Ferreira (2007, p. 54), “O custo é determinado como variável, se o total variar em proporção direta ao volume de produção”. Conforme Padoveze (2003, p. 56): [...] são assim chamados [custos variáveis] os custos e despesas cujo montante em unidades monetárias varia na proporção direta das variações do nível de atividade a que se relacionam. Tomando como referencial o volume de produção ou vendas, os custos variáveis são aqueles que, em cada alteração da quantidade produzida ou vendida, terão uma variação direta proporcional em seu valor. Se a quantidade produzida aumentar, o custo aumentará na mesma proporção. Se a quantidade diminuir, o custo também diminuirá na mesma proporção. Ou seja, quanto maior o volume de produção, maior será a quantidade de recursos gastos na produção. No mark-up são considerados todos os valores que são deduzidos do preço de vendas, como impostos, comissões, fretes sobre vendas e o próprio lucro. Depois de obtido, este índice é calculado sobre o custo de produção ou da compra. 2.7 Caso prático Para aplicar os conceitos supracitados coletamos os dados referentes aos gastos e produção de uma panificadora no período de um mês, sendo que este ramo de negócios não sofre efeitos de sazonalidades, ou seja, a média de vendas mensais não sofre variações, independente da época do ano. A tabela 1 nos mostra os gastos indiretos realizados no período. TABELA 1 – GASTOS INDIRETOS DO PERÍODO ANALISADO Gastos Valores em R$ Salários FGTS 7.569,80 605,58 Pró-labore 2.500,00 Energia elétrica 1.891,67 Aluguel 800,00 Água 258,78 2.6 mark-up Lenha para o forno 800,00 Materiais de Limpeza 465,65 Para atribuir preços aos produtos a serem vendidos pelas empresas, podemos utilizar os recursos das taxas de marcação, conhecidas no mercado como Mark-up. “No cálculo do Mark-up podem ser inseridos todos os itens que se deseja cobrar no preço de venda da mercadoria, desde que sobre a forma de percentuais” (WERNKE, 2011, p. 53) Bruni (2008, p. 262) nos ensina que: Alimentação de funcionários 800,00 Os preços são formados mediante a consideração de seus quatro componentes: custos despesas, impostos e lucros. De modo geral, para facilitar o processo de formação de preços no comércio, tornase usual a definição e aplicação de taxas de marcação, também conhecidas como mark-up. Outras despesas 1.000,00 Total 16.691,48 Fonte: Elaborado pelo autor (2012) No mesmo período ela obteve um faturamento de R$ 38.697,42. Para considerarmos o percentual de gastos indiretos no mark-up, basta aplicar uma operação matemática de divisão do total de gastos indiretos sobre o faturamento do período, conforme demonstrado a seguir. FIGURA 1 – PERCENTUAL DE CUSTOS INDIRETOS 16.691,48 / 38.697,42 = 0,43 Fonte: Elaborado pelo autor (2012) 47 Maiêutica - Curso de Processos Gerenciais Após obtermos o percentual de gastos indiretos que deve ser informado no mark-up, observaremos a atual forma de tributação da empresa. Segundo informações obtidas na contabilidade, esta empresa é optante pelo Simples Nacional e está enquadrada na primeira faixa de alíquotas do anexo I da Lei Complementar 123/07, sendo que seu percentual corresponde a 5,47%. O lucro sobre as vendas é uma variável que é desconhecida na maioria dos casos, quando se trata de micro e pequenas empresas, devido à complexidade para obtenção dessa informação. No entanto, vamos atribuir um valor desejável às operações de vendas desta empresa. O percentual de lucro que irá compor o mark-up será de 7%. De acordo com informações do proprietário, o item com maior volume de comercialização é o pão francês, mais conhecido na região como “pão d’água”. A legislação determina que este produto deve ser comercializado com base no peso e não em unidades, prática adotada no passado. Com isso obteremos o preço de venda ideal a cada quilo comercializado. Segundo informações do proprietário, são gastos, em média, R$ 2,40 em matéria-prima por quilo do produto. Esse será o valor utilizado como base para obtermos o Mark-up, conforme quadro 2. QUADRO 2 – CÁLCULO PARA OBTENÇÃO DO MARK-UP Itens Preço de Venda (-) Gastos indiretos (-) Simples Nacional (-) Lucro Total MARK-UP = 44,53/100 Fonte: Elaborado pelo autor (2012) 48 Percentuais 100 43 5,47 7 44,53 = 0,4453 O valor obtido por meio das operações matemáticas foi de 0,4453, sendo este o mark-up que será aplicado sobre o valor da matéria-prima que representa o custo variável gasto por quilo, conforme informado anteriormente. O cálculo do preço de venda será demonstrado no quadro 3. QUADRO 3 – CÁLCULO PARA OBTENÇÃO DO MARK-UP Custo variável = R$ 2,40 Mark-up = 0,4453 Cálculo: Custo Variável ÷ Mark-up = Preço de venda 2,40 ÷ 0,4453 = 5,39 Fonte: Elaborado pelo autor (2012) Conforme demonstrado no quadro anterior, o preço mínimo de venda a ser praticado por este estabelecimento deverá ser R$ 5,38 por quilo do produto. Aplicamos o mark-up no item que tem maior saída. Este índice pode ser aplicado aos outros índices, porém, recomenda-se que se faça um ajuste em relação à margem de lucro, sendo que para venda no varejo cada produto deve ser analisado de forma particular. Obter o preço de venda por meio do cálculo do mark-up significa fazer os cálculos com base no custo. No entanto, devemos observar a questão do mercado. No caso do produto analisado, outros estabelecimentos praticam um valor acima do preço obtido no cálculo e os consumidores não deixam de adquirir o produto. A empresa não pode vender o produto abaixo do valor obtido pelo mark-up, porém, o empresário tem a liberdade de decidir se adotará uma estratégia agressiva, praticando o preço de R$ 5,39, que está abaixo do mercado, ou se praticará o preço adotado pelos concorrentes. Maiêutica - Curso de Processos Gerenciais 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O empresário que pretende se manter no mercado e expandir seu negócio deve, em primeiro lugar, ter o controle daquilo que gasta para oferecer o produto a seus clientes. Além disso, deve atribuir valor ao seu produto com base em metodologias já adotadas por outras empresas de maior porte e que tiveram sua eficácia comprovada. No entanto, o empresário deve conhecer a realidade do mercado em que sua empresa está inserida. Não basta obter o preço de venda com base em metodologias sistematizadas, mas sim, saber se o cliente aceitará o preço atribuído com base no critério utilizado. Gestão de custos é um tema que muitas vezes é deixado de lado nas micro e pequenas empresas, talvez pelo fato de não ser muito divulgado a esses empresários. Esse trabalho procurou direcionar a pesquisa a esses pequenos negócios, coletando dados reais e demonstrando a correta aplicação dos mesmos. Deixamos aqui uma sugestão aos alunos dos cursos de graduação ligados às áreas administrativas, para que os mesmos realizem mais pesquisas direcionadas aos custos das empresas, por se tratar de uma área fundamental à continuidade das organizações. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. DUBOIS, Alexy; KULPA, Luciana; SOUZA, Luiz Eurico de. Gestão de custos e formação de preços. São Paulo: Atlas, 2006. DUTRA, Renê Gomes. Custos: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. FERREIRA, José Antonio Stark. Contabilidade de custos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003. PADOVEZE, Clóvis Luiz. Curso básico gerencial de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. SANTOS, Joel J. Análise de custos: remodelando com ênfase para custo marginal, relatórios e estudos de caso. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2000. WERNKE, Rodney. Gestão de custos: no comércio varejista. Curitiba: Juruá Editora, 2011. REFERÊNCIAS BRUNI, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ______; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação de preços: com aplicação na calculadora HP 12C e Excel. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. CORONADO, Osmar. Contabilidade gerencial básica. São Paulo: Saraiva, 2006. 49