UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ANÁLISES CLÍNICAS E GESTÃO DE LABORATÓRIO Larisse Coelho Siqueira INTERFERÊNCIA DAS DOSAGENS LABORATORIAIS NO DIAGNÓSTICO DO HIPOTIREOIDISMO DEVIDO AO USO DE ESTERÓIDES ANABOLIZANTES Governador Valadares 2011 Larisse Coelho Siqueira INTERFERÊNCIA DAS DOSAGENS LABORATORIAIS NO DIAGNÓSTICO DO HIPOTIREOIDISMO DEVIDO AO USO DE ESTERÓIDES ANABOLIZANTES Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do título de especialização Lato sensu em Análises Clínicas e Gestão de Laboratório à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora: Maria José Ferreira Morato Governador Valadares 2011 AGRADECIMENTO(S) A Deus, meu refúgio e força, onde sempre encontrei respostas para os meus problemas. Agradeço a minha orientadora Maria José Morato pela paciência e orientação. Aos meus pais e a minha irmã querida, Lorena pelo apoio e carinho oferecidos em todo momento de minha vida e principalmente neste. Ao Maurício, por compreender a importância dessa conquista e aceitar a minha ausência quando necessário. Ao Teddy, pelos momentos de descontração e companhia até altas horas da madrugada. Aos amigos da turma “É uma festa” pelas agradáveis lembranças que serão eternamente guardadas no coração, muito obrigado. Aos meus amigos, pela paciência, por tolerar a minha impaciência e ficar do meu lado, mesmo longe estão sempre comigo, Taci, Daniel e Branca, nunca me esquecerei de vocês. RESUMO A tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3) são produzidos pela glândula tireóide que tem uma importância fisiológica. Os distúrbios da tireóide são classificados em hipertireoidismo e hipotireoidismo. No hipotireoidismo, tem-se hormônios tireoidianos que encontram-se cronicamente abaixo do normal, refletindo o resultado de uma produção diminuída, ou seja, T4 livre e T4 total diminuídos e elevado nível de TSH. Os esteróides anabólicos androgênicos ou esteróides anabolizantes são um grupo de compostos naturais e sintéticos formados a partir da testosterona ou um de seus derivados. A utilização de anabolizantes esta cada vez mais perigoso, na qual busca um corpo perfeito. Em se tratando do abuso de esteróides anabolizantes sobre a função tireóidea ocorre uma diminuição da TBG (globulina ligadora de tiroxina) com conseqüente diminuição nos níveis séricos de T3 e T4 totais, que irá depender da susceptibilidade da molécula à aromatização e consequentemente transformação em estrógeno. É preciso ter cautela ao fazer uso dessas drogas, pois reforça-se o perigo que a utilização indiscriminada acarretará vários danos à saúde. Palavras-chave: glândula tireóide, hipotireoidismo, anabolizantes, exames laboratoriais. ABSTRACT Thyroxine (T4) and triiodothyronine (T3) are produced by the thyroid gland that has a physiological importance. Thyroid disorders are classified into hyperthyroidism and hypothyroidism. In hypothyroidism, there is thyroid hormones that are chronically lower than normal, reflecting the result of a decreased production, or free T4 and decreased total T4 and high TSH. The anabolic androgenic or anabolic steroids are a group of natural and synthetic compounds formed from testosterone or one of its derivatives. The use of anabolic steroids is becoming more dangerous, which seeks a perfect body. In the case of abuse of anabolic steroids on thyroid function is a decrease in TBG (thyroxine binding globulin) with consequent reduction in serum total T3 and T4, which will depend on the susceptibility of the molecule and consequently change the aromatization into estrogen. Care must be taken to make use of these drugs, since it underscores the danger that indiscriminate use will cause severe damage to health. Key-words: thyroid, hypothyroidism, steroids, laboratory tests. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................06 2 OBJETIVO GERAL........................................................................................09 3 METODOLOGIA.............................................................................................10 4 REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................11 4.1 INTERFERÊNCIA DOS HORMÔNIOS ANABOLIZANTES NA PRODUÇÃO DE HORMÔNIOS TIREOIDEANOS..................................................................11 4.2 DIAGNÒSTICO LABORATORIAL...............................................................14 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................16 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................17 6 1. INTRODUÇÃO A tireóide é uma glândula simétrica formada por dois lobos laterais, unidos pelo ístimo em forma de “H” ou “U”. Essa glândula apresenta uma importância fisiológica por produzir duas moléculas que conteem o iodo: a triiodotironina (T3, com 3 iodos) e a tiroxina (T4, com 4 iodos) que, por sua vez, é convertida em T3 pelas enzimas desiodinases nas células-alvo. Assim, glândula tireóidea secreta tiroxina da qual deriva por desiodação a maior parte do T3 circulante e esse hormônio possui uma atividade biológica no mínimo cinco vezes maior que a do T4, dependendo da atividade de quase todos os tecidos do organismo, sendo que todos eles potencialmente expressam receptores de hormônios tireoideanos. No diagnóstico do hipotireoidimo e hipertireoidismo o T4 tem um papel fundamental. Além disso, existe um outro hormônio formado por uma via alternativa do T4 que é o T3 reverso (T3r), considerado inativo e produzido quando há presença de má nutrição, doença sérica ou algumas medicações. É o maior metabólico da tiroxina, encontra-se reduzido no hipotireoidismo, a sua importância se deve ao fato de ser útil na diferenciação de alterações provocadas por fármacos, na qual são encontrados em níveis elevados (BRASILEIRO FILHO, 2000; CANALI & KRUEL, 2001; CILOGLU et. al., 2005; FISCHER, 1996; KANAAN, et. al., 2008; MOTTA. 2009; NUNES, 2003; WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T., 2006). A liberação e biossíntese dos hormônios tireoidianos da tireoglobulina são controladas pelo hormônio tireoestimulante (TSH), um hormônio glicoprotéico sintetizado na glândula hipófise anterior. Há dois mecanismos diferentes, atuando em conjunto, que regulam a síntese de T3 e T4. No primeiro, a tireóide participa do sistema de retroalimentação, através do hormônio estimulante da tireóide, a tireotrofina (TRH), que é secretada pela adeno-hipófise e também estimula a liberação de T4 pela tireóide e a conversão periférica de T4 em T3, normalmente, onde ocorre a desiodinação do T4 em T3. O TSH estimula a síntese de seus respectivos hormônios causando hiperplasia e hipertrofia na tireóide, e este aumento da glândula em decorrência de qualquer estímulo é denominado bócio, incluindo as tireoidites e as neoplasias (BRASILEIRO FILHO, 2000; MOTTA, 2003). No segundo mecanismo denominado auto-regulação, a tireóide depende da reserva do iodo orgânico, sendo os hormônios tireoidianos e seus precursores 7 imediatos (BRASILEIRO FILHO, 2000; MOTTA, 2003; WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T., 2006). Os distúrbios da tireóide são classificados em hipertireoidismo e hipotireoidismo, cujos nomes estão relacionados com as maneiras da glândula manifestar-se, por alterações no tamanho ou na forma, ou ainda por alterações na secreção hormonal (OLIVEIRA & FERREIRA, 2009). Hipotireoidismo é qualquer distúrbio caracterizado por níveis plasmáticos de hormônios tireoidianos que encontram-se cronicamente abaixo do normal, refletindo o resultado de uma produção diminuída, ou seja, T4 livre e T4 total diminuídos e elevado nível de TSH. A tireoidite auto-imune (doença de Hashimoto ou também denominada tireoidite de Hashimoto) acontece quando células do sistema imune conhecidas como células T atacam e destroem o tecido tireoidiano, prevalecem em mulheres e podem progredir com a idade. Conforme o nível dos hormônios tireoidianos começa a diminuir, os níveis de TSH aumentam e pode desenvolver um bócio. Em adultos, os sintomas variam de leves a graves, conforme o grau de deficiência hormonal. O defeito pode ser primário na glândula tireóide, secundário na hipófise anterior ou terciário no hipotálamo. As causas mais comuns são falência tireoidiana ou hipotireoidismo primário. É caracterizado por ganho de peso, constipação, hipercolesteremia, pele seca, intolerância ao frio, menorragia, bócio (primário), cansaço, alterações no tônus cutâneo, cabelos, entre outros... (FARWELL, A.P.; BRAVERMAN, L.E., 2003; KETTYLE, W. M. et al., 2002; OLIVEIRA, F. P. S.; FERREIRA, E. A. P., 2009; WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T., 2006). Denominado também de mixedema, quando grave, representa o distúrbio mais comum da função tireóidea. Habitualmente no mundo inteiro esta doença resulta predominantemente da deficiência de iodo (MOTTA, 2003). O hipertireoidismo denominado tireotoxicose ocorre devido às quantidades excessivas de hormônios da tireóide na circulação, afetando os tecidos periféricos, como, por exemplo, a doença de Graves (MOTTA, 2003). O diagnóstico dessas disfunções tireóideanas é realizado através dos exames de dosagens de TSH e de T4, mais utilizados em uma rotina laboratorial, entre outros destacando a ultra-sonografia e a cintilografia. O tratamento do hipotireoidismo é feito com a reposição hormonal, sendo a tiroxina (levotiroxina sódica) o hormônio de escolha devido a sua ação, restaurando os níveis de 8 hormônio tireoideano no sangue e fazendo que os níveis de TSH diminuam aos níveis normais (BRASILEIRO FILHO, 2000; CARVALHO, G.A., 2006). Os processos de síntese, de liberação e das ações dos hormônios tireoidianos podem sofrer interferências por meio de muitos compostos que são capazes de intervir diretamente ou indiretamente, devendo ser considerados na análise dos testes (FARWELL, A.P.; BRAVERMAN, L. E., 2003; GRAFH, H.; CARVALHO, G. A., 2001). Por exemplo, os esteróides agem tanto sobre a glândula quanto no metabolismo periférico desses hormônios modificando sua função. A diminuição nos valores de T3 total sérico e de T4 livre sérico pode ser devido às alterações na metabolização periférica, e os níveis séricos de hormônio estimulante da tireóide podem estar relacionados às ações centrais diretas dos esteróides anabolizantes (FORTUNATO, R. S.; ROSENTHAL, D.; CARVALHO, D. P., 2007). O uso indiscriminado de esteróides anabolizantes acomete principalmente entre crianças e adolescentes pelo fato do seu alto consumo, acarretando problemas à saúde. Ocorre com maior incidência em adolescentes do sexo masculino que visam um desempenho atlético em suas atividades físicas, como exemplo, nas academias. Nos Estados Unidos chega-se uma estimativa de mais um milhão de jovens já terem usado anabolizantes. Mesmo com alto índice de consumo, o Brasil tem poucos estudos relevantes que comprovam a sua incidência e prevalência. Apresenta efeitos sobre a função tireóidea quando utilizados em doses suprafisiológicas. A diminuição da globulina ligadora da tiroxina (TBG) é um dos efeitos que mais ocorre em seres humanos, é uma proteína responsável por manter as concentrações séricas de tiroxina e triiodotironina para o aproveitamento celular. Ao ocorrer sua redução, diminuirá a concentração sérica total desses hormônios, devido às várias conseqüências das ações desses esteróides. Em relação à célula tireóidea, é necessário melhor avaliada (FERREIRA, U. M. G. et al., 2007; ROCHA, F. L.; ROQUE, F. R.; OLIVEIRA, E. M., 2007; SILVA, P. R. P; DANIELSKI, R.; CZEPIELEWSKI, M. A, 2002 ). Contudo, é de suma importância alertar a população sobre o perigo do uso indiscriminado, mostrando que os anabolizantes agem interferindo tanto nos processos endógenos, dependentes de hormônios tireóideanos, como exogenamente no diagnostico laboratorial do hipotireoidismo (FORTUNATO, R. S.; ROSENTHAL, D.; CARVALHO, D. P., 2007). 9 2. OBJETIVO GERAL Descrever as alterações dos hormônios tireoideanos, descritas na literatura, quando os indivíduos são usuários de esteróides anabolizantes 10 DESENVOLVIMENTO 3. METODOLOGIA Foi realizado um estudo teórico de revisão da literatura do tipo monografia baseada na contextualização do tema Interferência das dosagens laboratoriais no diagnóstico do hipotireoidismo devido o uso de esteróides anabolizantes. Banco de dados: SciELO; LILACS; Cochrane BVS; Livros de fisiologia e bioquímica. 11 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1. Interferência dos hormônios anabolizantes na produção de hormônios tireoideanos Os esteróides anabólico-androgênicos ou esteróides anabolizantes, popularizados também como “bombas”, referem-se aos hormônios esteróides da classe dos hormônios sexuais masculinos que são promotores e mantenedores das características sexuais, sendo associadas à masculinidade incluindo o trato genital, às características sexuais secundárias e à fertilidade e do status anabólico dos tecidos somáticos. Consiste em produtos sintéticos, derivados da testosterona, por possuírem atividade anabólica, promovendo o crescimento superior à atividade androgênica. A sua ingestão pode ser por via oral ou aplicação intramuscular (SANTOS, A. F. et. al., 2006; SILVA, P. R. P; DANIELSKI, R.; CZEPIELEWSKI, M. A, 2002). Ao consumir estas substâncias, surgem características físicas decorrentes dos efeitos anabólicos como, por exemplo, aumento da massa muscular esquelética e efeitos androgênicos ou masculinizantes. Anteriormente, seu uso era somente para atletas e fisiculturistas, no entanto popularizou-se entre os jovens com intuito de utilizá-los para fins estéticos (IRIART, J. A. B.; CHAVES, J. C.; ORLENS, R. G., 2004). Na medicina, a sua indicação está relacionada às situações de hipogonadismo, sarcopenias, câncer de mama, osteoporose e quadros de deficiência do metabolismo protéico. O aumento da massa muscular esquelética e seus efeitos androgênicos ou masculinizantes são devido ao consumo destas substâncias que induzem efeitos anabólicos. Endogenamente, são produzidos pelo córtex da glândula supra-renal e pelas gônadas (ovário e testículo) e também são responsáveis pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias, associadas à masculinidade durante a adolescência e a maioridade (CUNHA, T. S. et. al., 2004; FERREIRA, U. M. G. et al., 2007; IRIART, J. A. B., CHAVES, J. C., 12 ORLEANS, R. G., 2009; SANTOS, A. F. et. al., 2006; SILVA, P. R. P; DANIELSKI, R.; CZEPIELEWSKI, M. A, 2002). Desta forma, o corpo tem se tornado um objeto de consumo que, a cada vez, está sendo marcado por valores como do consumismo e do individualismo. O corpo físico está se tomando em papel fundamental na exteriorização da subjetividade e da construção de identidades, devido à enorme valorização da aparência física. Atualmente, um dos motivos relevantes para os usuários de anabolizantes é a estética, cuja meta é buscar um corpo perfeito, os anabolizantes podem ser considerados pela população uma forma mais acessível, baixo custo, para quem busca um corpo perfeito. Podem ser classificados em quatro grupos, os usuários de anabolizantes: 1. Aqueles que estão seriamente envolvidos com o esporte e vêem esse uso como uma forma de atingir um melhor rendimento ou de evitarem o "pior", ou seja, a derrota. Com a expectativa de ganhar peso, força, potência, velocidade, resistência e agressividade os atletas fazem o seu uso. São utilizados em esportes como o atletismo, sobretudo em eventos de arremesso, levantamento de peso e no futebol americano. (CUNHA, T. S. et. al., 2004; SANTOS, A. F. et. al., 2006); 2. aqueles que recentemente se envolveram com o esporte, ou que já praticam exercício físico há algum tempo, mas não têem o objetivo de se tornarem atletas profissionais. Acreditam que a administração de tais substâncias faz parte do meio no qual estão inseridos, ou que esta é a forma mais rápida para melhorar a aparência física, ou a performance atlética. São normalmente utilizados entre jovens com o intuito de perfeição e boa performance física vigentes na sociedade atual, muitas vezes compensando sentimentos de reduzida auto-estima e outros transtornos emocionais considerados mais graves (CUNHA, T. S. et. al., 2004; SANTOS, A. F. et. al., 2006); 3. usuários ocupacionais, tais como seguranças, policiais ou prisioneiros. Com um único propósito de se assegurarem que necessitam aumentar a massa muscular e a agressividade, devido ao cargo que ocupam, tanto para proteger como para agredir outras pessoas ((CUNHA, T. S. et. al., 2004); 13 4. usuários recreacionais, que utilizam estas substâncias para aumentar a libido, agressividade ou a sensação de bem-estar. É comum que também neste grupo tenha uso de drogas ilegais (CUNHA, T. S. et. al., 2004). Alguns fatores como a desnutrição, inanição, jejum, stress, medicamentos, anabolizantes entre outros acabam causando uma diminuição nos níveis de T3 livre e total. Devem ser tomadas medidas para evitar possíveis erros na análise dos testes de função tireoidiana, observando as condições de coleta e o armazenamento das amostras e sua identificação, assim como o erro humano na realização da coleta, e na realização dos exames. É muito importante compreender que o teste perfeito para medir os hormônios tireoidianos não pode de forma alguma sofrer interferência de nenhum componente do soro, independente da sua concentração. Com a diminuição destes hormônios T4 e T3 total e livre desencadeia valores inapropriadamente anormais na presença de concentração sérica normal de TSH. Quando há interferência nos imunoensaios competitivos e não competitivos são classificados em reação cruzada, presença de anticorpos e interações com drogas (GRAFH, H.; CARVALHO, G. A., 2001). Devido á existência de receptores para os esteróides sexuais na tireóide, é de se esperar que hajam efeitos diretos desses hormônios sobre o crescimento e as funções da glândula, já que parte da testosterona é convertida a estrogênio pela enzima aromatase, e este aumenta a concentração sérica de TBG, resultando num aumento de T4 ligado e de TSH. Na literatura, encontram-se estudos de pacientes que apresentavam uma função tireóideana normal, apesar de terem utilizado anabolizantes e mediante testes laboratoriais, encontrava-se um decréscimo no T4 e T3 totais e TBG, sendo que os níveis de TSH sérico estavam aumentados. Mas, durante um certo período depois de ingeridos, os hormônios retornavam ao níveis basais. A interpretação dos resultados foi considerada como sendo a diminuição da TBG uma das causas para o aumento dos níveis de TSH, secundário à diminuição dos hormônios tireoideanos. Mesmo sendo usados em um curto período de tempo verificou-se uma diminuição nas concentrações séricas de T3 e T4 totais e TBG, já em T4 livre e TSH houve um aumento, consequentemente há uma influência do tratamento na diminuição da TBG. Ao ocorrer um aumento compensatório de T4 livre, não seriam esperados níveis aumentados de TSH, portanto foi proposto na literatura que o esteróide estaria agindo diretamente na hipófise, aumentando sua sensibilidade ao TRH, ou 14 até mesmo diminuindo a sensibilidade ao T3 (FORTUNATO, R. S.; ROSENTHAL, D.; CARVALHO, D. P. de, 2007). 4. 2. DIAGNOSTICO LABORATORIAL Os esteróides podem modular a função tireóidea atuando tanto diretamente sobre a glândula quanto no metabolismo periférico dos hormônios tireóideos. Há algum tempo atrás a avaliação da função tireoideana era feita pelo único teste disponível, usava a técnica do iodo ligado à proteína sendo uma estimativa indireta da concentração sérica de T4 total. Com a tecnologia houve uma melhora na sensibilidade e especificidade dos métodos, tais como imunoensaios competitivos e ensaios imunométricos não competitivos. Existem dois métodos para avaliar os níveis de T3 e T4 livre, o indireto que precisa de duas etapas diferentes para a realização ou direto com imunoensaios. A secreção de tiroxina e triiodotironina é regulada pela secreção hipofisaria de TSH exercendo feed-back negativo no tireotrofo hipofisário, tendo uma relação log-linear e que geneticamente tem seu setpoint determinado. Nos tireotrofos hipofisários o T4 é convertido em T3 através da 5’- desiodase tipo 2, inibindo a transcrição de TSH após o T3 ligar-se a seu receptor nuclear, logo a dosagem tornou o teste mais útil na avaliação da função tireoidiana, sendo um indicador muito sensível e específico, quando a função pituitária for normal, vale ressaltar que no hipotireoidismo os níveis do hormônio estimulante da tireóide estão elevados e níveis baixos, o hipertireoidismo. São utilizados na rotina do laboratório testes como TSH e T4 livre para avaliar a função tireoidiana. O diagnóstico de ambas as doenças pode ser feito através de exame de sangue que é medido através de sua dosagem. O teste de tiroxina pode ser utilizado quando o valor do TSH estiver anormalmente alto ou baixo. Devido a sensibilidade dos ensaios de primeira geração para tal permitiam apenas o diagnóstico de hipotireoidismo, e com a utilização da segunda e terceira foi possível também a detecção do hiperfunção da tireóide. Valores de TSHs alto com T4 livre baixos indicam o hipotireoidismo primário . E quando os valores do hormônio estimulante da tireóide junto com o T4 livre estão baixos ocorre um hipotireoidismo secundário (CARVALHO, 2001). Existe ainda o ensaio de terceira geração com a finalidade de 15 separar os níveis de TSH séricos normais dos baixos. É recomendado pela Associação Americana de Tireóide, a dosagem de TSH a cada cinco anos para pessoas acima de trinta e cinco anos de idade (GRAFH, H.; CARVALHO, G. A., 2001; KETTYLE, W. M. et al., 2002;). A triagem neonatal em recém-nascidos é realizada através da dosagem sanguínea em papel filtro de T4 ou TSH. Se essas dosagens forem alteradas, o exame deve ser confirmado com os mesmos procedimentos no sangue. No caso de permanecerem alterados, inicia-se o tratamento o mais rápido possível. Em adultos o diagnóstico é determinado pelas dosagens de tiroxina e também pelo hormônio estimulante da tireóide, e se os mesmos estiverem alterados (T4 baixo e TSH elevado), deve ser buscada a causa do problema através da pesquisa de anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO), antimicrossomais ou antitireoglobulina, que demonstrarão houver desenvolvimento de um distúrbio auto-imune. Em pacientes com cirurgia prévia, além dos anticorpos, pode ser realizada também a pesquisa do resíduo de tecido tireóideo remanescente, através da ultra-sonografia ou da cintilografia de tireóide. Deve ser também analisado o perfil lipídico do paciente, uma vez que ocorre severa dislipidemia, associada ao estado de hipotireoidismo. O tratamento é realizado com reposição hormonal sendo a T4 a forma mais preferida. Antes de tomar qualquer decisão é de suma importância a confirmação se o TSH está realmente elevado, antes de iniciar a reposição com tiroxina (GRAFH, H.; CARVALHO, G. A., 2001). 16 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de esteróides anabolizantes de forma inadequada pode acarretar vários danos à saúde com isso é de suma importância a dosagem adequada dos hormônios tireoideanos através de testes mais sensíveis e mais específicos. Em se tratando do uso abusivo dessas drogas; sobre a função tireóidea ocorre uma diminuição da TBG e também nos níveis séricos de T3 e T4 totais, que fisiologicamente dependerá da suscetibilidade da molécula à aromatização e transformação em estrógeno. Então, os indivíduos que fazem uso crônico dessas substâncias estão sujeitos a efeitos semelhantes aos causados pelo hipotireoidismo. Os anabolizantes quando são utilizados em doses suprafisiológicas possuem efeitos sobre a função tireóidea. Portanto é de suma importância alertar aos usuários sobre seu uso indiscriminado, reforçando o perigo que elas podem acarretar, não havendo um limite saudável. Na verdade, essas substâncias só devem ser usadas para quem tem deficiência de androgênio, em pacientes que não conseguem produzir testosterona. 17 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia. 6 ed.: Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p 966-969. CANALI, E. S.; KRUEL, L. F. M. Respostas hormonais ao exercício. REV. PAUL. EDUC. FÍS, São Paulo, vol. 15, n. 2, Jul/Dez. 2001. p. 141-153. CARVALHO, G. A. Doenças da tireóide- avaliação do hormônio tireoestimulante (TSH). Revista da associação médica brasileira, São Paulo, vol. 52, n. 4, Jul/Agos. 2006. 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