UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DE SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENDOCRINOLOGIA ESTUDO DA PREVALÊNCIA DE DISFUNÇÃO E AUTOIMUNIDADE TIREOIDEANA EM PACIENTES COM PROLAPSO VALVAR MITRAL MIRNA PIREDDA DA GRAÇA Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Medicina, área de concentração em Endocrinologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de mestre em Endocrinologia. Orientador: Prof. Dr. Alexandru Buescu 2005 Ficha Catalográfica Graça, Mirna Piredda da. Estudo da prevalência de disfunção e auto-imunidade tireoideanas em pacientes com prolapso valvar mitral/ Mirna Piredda da Graça.- Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de Medicina, 2005. xiii, 66f.: il.; 31cm. Orientador: Alexandru Buescu Dissertação (mestrado) – UFRJ / Faculdade de Medicina, 2005. Referências bibliográficas: f. 45-50. 1. Auto-imunidade tireoideana. 2. Prolapso valvar MitralDiagnóstico. 3. Ecocardiografia. 4. Endocrinologia – Tese. I. Buescu, Alexandru. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Endocrinologia. III. Título. RESUMO A auto-imunidade tireoideana é caracterizada pela presença de anticorpos antitireoideanos, podendo ou não levar à disfunção tireoideana. Como apresentações temos a doença de Graves e a tireoidite de Hashimoto. O prolapso valvar mitral (PVM) apresenta uma prevalência aumentada em pacientes com hipertireoidismo e hipotireoidismo. Avaliamos a prevalência de disfunção e auto-imunidade tireoideana em pacientes com PVM ecocardiográficamente comprovado (n=40), comparados a um grupo controle (n=30). Verificamos que a média de idade entre os grupos foi semelhante, 49.6±15.1 no prolapso e 45.2±13.8(p=0.21) no controle. O índice de massa corporal (IMC) também não diferiu entre os grupos (26.8±3.7 no PVM x 26.3±4.6)(p=0.57). A média do TSH no grupo do PVM foi de 2.97±8.2 e no controle de 1.77±1.12.(p=0.72). Dos pacientes com prolapso e TSH anormal(n=7),todos subclínicos, exceto um. A prevalência de anticorpos antitireoperoxidase (ATPO) foi maior no grupo do prolapso (17.5%x 6.6%), porém sem significância estatística (p=0.28). Dos 7 pacientes com prolapso e TSH anormal, 5( 71.4%) apresentavam anticorpos positivos. Os estudos realizados até hoje avaliaram apenas a associação de PVM com doenças tireoideanas. Demonstramos a maior prevalência de disfunção e/ou auto-imunidade tireoideanos em pacientes com PVM, porém sem alcançar significância estatística. Palavras-Chave: Prolapso valvar mitral, auto-imunidade tireoideana, disfunção tireoideana, anticorpos anti-tireoideanos. ABSTRACT Thyroid autoimmunity is defined by the presence of antithyroid antibodies, leading or not to thyroid dysfunction. Common presentations are Graves` disease and Hashimoto`s thyroiditis. Mitral valve prolapse (MVP) has a higher prevalence in patients with hyperthyroidism and hypothyroidism. We evaluated the prevalence of thyroid dysfunction and autoimmunity in patients with echocardiographically proven MVP(n=40) as compared to a prolapse free control group(n=30). The average age between the groups was similar (49.6±15.1 in the MVP group versus 45.2±13.8 in the controls). Body mass index (BMI) also did not differ (26.8± versus 26.3±4.6)(p=0.57). Average serum TSH was 2.9±8.2 in the MVP group and 1.77±1.12 in the control group(p=0.72). Seven patients with MVP had abnormal TSH values, all suclinical except one. High titers of antithyroperoxidase antibodies (ATPO) were found in 17.5% of the patients,but only in 6.6% of the controls, however without statistical significance(p=0.28). Positive antibodies were found in 71.4% of the patients with MVP and abnormal TSH. Published studies have looked only at the association of MVP and thyroid diseases. We have demonstrated a higher prevalence of thyroid dysfunction and/or autoimmunity in patients with MVP although without statistical significance. Key-Words: Mitral valve prolapse, Thyroid autoimmunity, Thyroi dysfunction, Antithyroid antibodies. Índice: pág. RESUMO ..................................................................................................................... vi ABSTRACT ................................................................................................................. vii 1- Introdução ......................................................................................................... 1 2- Objetivos ............................................................................................................ 4 3- Fundamentos teóricos ................................................................................... 5 3.1- Auto-imunidade ............................................................................................. 5 3.1.1- Linfócitos T e moléculas de superfície ..................................................... 5 3.1.2- Receptor de célula T ................................................................................. 6 3.1.3- Sistema HLA ............................................................................................ 7 3.1.4- Moléculas co-receptoras ........................................................................... 8 3.1.5- A resposta Imune ...................................................................................... 8 3.1.6- Apresentação do antígeno ......................................................................... 10 3.1.7- Resposta das células B e T ........................................................................ 11 3.1.8- Tolerância imunológica ............................................................................. 12 3.2- Auto-imunidade tireoideana ............................................................................. 13 3.2.1- Tireoglobulina ............................................................................................ 13 3.2.2- Receptor de TSH ........................................................................................ 13 3.2.3- Tireoperoxidase .......................................................................................... 14 3.2.4- Desenvolvimento da DTAI ......................................................................... 14 3.2.4.1-Fatores genéticos ................................................................................... 14 3.2.4.2- Fatores ambientais ............................................................................... 17 3.2.4.3- Sistema imunlógico .............................................................................. 17 3.3- Prolapso valvar mitral ...................................................................................... 20 3.3.1-Conceito ...................................................................................................... 20 3.3.2- Epidemiologia ............................................................................................ 20 3.3.3- Classificação do prolapso ........................................................................... 20 3.3.4- Etiologia ..................................................................................................... 21 3.3.5- Anatomopatologia ...................................................................................... 22 3.3.6- Quadro clínico ............................................................................................ 23 3.3.7- Diagnóstico ................................................................................................ 24 3.3.8- Ecocardiograma ......................................................................................... 26 3.3.9- História natural do prolapso ...................................................................... 26 3.4- Prolapso valvar mitral e doença tireoideana auto-imune ................................. 29 4- Pacientes e Métodos......... .............................................................................. 32 4.1- Descrição da amostra ......................................................................................... 32 4.1.1- Critérios de inclusão ...................................................................................... 32 4.1.2- Critérios de exclusão ................................................................................... 32 4.2- Metodologia ........................................................................................................ 33 4.2.1- Avaliação ecocardiográfica ........................................................................... 33 4.2.2- Avaliação clínica ............................................................................................ 33 4.2.3- Avaliação laboratorial .................................................................................... 34 4.3- Análise estatística ............................................................................................... 34 5- Resultados ......................................................................................................... 36 5.1- Distribuição por sexo ........................................................................................ 36 5.2- Idade ................................................................................................................. 36 5.3- Hormônio tireoestimulante .............................................................................. 36 5.4- Anticorpo anti-tireoperoxidase ........................................................................ 38 5.5- Correlação entre disfunção tireoideana e auto-imunidade ............................... 39 5.6- Índice de massa corporal .................................................................................. 40 5.7- Prolapso de valva mitral ................................................................................... 40 5.8- Sintomas relacionados ao prolapso ................................................................... 41 5.9- História de doença auto-imune .......................................................................... 41 6- Discussão ............................................................................................................ 42 7- Conclusões ......................................................................................................... 47 8- Referências Bibliográficas ........................................................................... 48 9- Anexos ................................................................................................................. 59 9.1- Características dos pacientes com prolapso .................................. 59 9.2- Características do grupo controle .................................................. 60 9.3- Consentimento informado do prolapso .........................................61 9.4- Consentimento informado do grupo controle ...............................62 9.5- Aprovação do Comitê de Ética e pesquisa ................................... 63 9.6- Ficha de dados dos pacientes ...................................................... 64 9.7- Trabalho apresentado em congresso ............................................ 66 1- INTRODUÇÃO: A doença tireoideana auto-imune (DTAI) é caracterizada pela presença de anticorpos antitireoideanos, podendo levar ou não à disfunção tireoideana. Como apresentações clínicas de DTAI temos a doença de Graves, tireoidite auto-imune crônica e tireoidite sub-aguda. A tireoidite auto-imune crônica é caracterizada pela tireoidite de Hashimoto (bociogênica) e tireoidite atrófica (não bociogênica). A tireoidite silenciosa é uma variação da tireoidite auto-imune crônica, sendo de caráter transitório; podendo cursar com hipertireoidismo e/ou hipotireoidismo. Quando esta ocorre no período pós-parto é denominada de tireoidite pós parto. A doença de Graves cursa com bócio difuso tóxico, tireotoxicose, oftalmopatia e dermopatia infiltrativa. Sabe-se que na DTAI ocorre uma perda da tolerância aos antígenos tireoideanos. A tireóide apresenta em seu interior moléculas que funcionam como antígenos, dentre eles destacamos a tireoperoxidase, receptor de TSH, tireoglobulina, entre outros. O estudo NHANES III encontrou hipotiroidismo em 4,6% da população dos Estados Unidos e hipertireoidismo em 1,3%. O anticorpo anti-TPO era positivo em 13% e anti-tireoglobulina 11,5%.[27] O estudo do Colorado encontrou uma prevalência de 9,5% de níveis de TSH elevados e 2,2% de TSH diminído.[12] Para que a DTAI se desenvolva é nescessário que haja um desequilíbrio nas imunidades humoral e celular em associação a fatores genéticos e ambientais. Um evento desencadeador inicial (por exemplo estresse ou infecção) promove uma diminuição no número e função dos Linfócitos T CD8+ (supressor/ citotóxico) e aumento dos linfócitos T CD4+ (helper). Os linfócitos T helper são subdivididos em Th1 e Th2; sendo a célula Th1 responsável pela liberação de citocinas (IL-2, IL-12, INF-γ, TNF) e célula Th2 produz interleucinas (IL-2, IL-4, IL-6) que ativam os linfócitos B a produzirem anticorpos contra os antígenos tireoideanos. Na doença de Graves o anticorpo se liga ao receptor de TSH (TSHRAbs) ativando o receptor produzindo os mesmos efeitos do TSH. Os anticorpos inibitórios também podem ser encontrados no Graves, em quantidade menor; assim como o anticorpo anti-tireoglobulina. Na tireoidite de Hashimoto o anticorpo se liga ao receptor de TSH de forma inibitória. O anticorpo anti-tireoperoxidase (anti-TPO) e anti-tireoglobulina (anti-TG) podem ser citotóxicos à célula tireoideana. O gene CTLA4 parece estar associado ao desenvolvimento de anticorpos anti-tireoideanos, tanto na doença de Graves como na tireoidite autoimune.[3,43,58,59,60] Existe uma associação do sistema HLA e DTAI. Na doença de Graves foi encontrada uma alta incidência de HLA-B8, HLA-DR3, HLADQA1*0501 em caucasianos, HLA-BW46 e HLA-B5 em chineses; HLA-B17 em negros. Na T. de Hashimoto atrófica HLA-B8 e HLADR3 foram encontrados em caucasianos e na tireoidite com bócio HLA-DR5 e HLADR3.[58,59] A DTAI também pode estar associada a outras doenças auto-imunes como o Lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, artrite reumatóide, entre outras. [29,38 ] Outros genes ainda em estudo parecem conferir uma suscetibilidade aumentada à doença tireoideana como GD-1 (cromossoma 14q31),GD-2 (cromosoma 20) e no cromossoma X.[59] O prolapso valvar mitral (PVM) também parece estar associado a DTAI, pois é encontrado com uma freqüência elevada tanto na doença de Graves como na t. de Hashimoto. Essa associação tem sugerido o envolvimento de mecanismos auto-imunes na patogênese do prolapso. [22]. Um aumento na secreção e acúmulo de glicoseaminoglicano (GAG) na válvula cardíaca lidera o espessamento dos folhetos da valva mitral, caracterizando o prolapso.[30]. Um distúrbio adicional da síntese do colágeno causa o prolapso redundante para dentro do átrio esquerdo, também denominado de PVM mixomatoso. [30]. Desde a década de 90 que vários pesquisadores têm demonstrado uma prevalência aumentada de PVM na DTAI. Channick e col, demonstraram uma prevalência aumentada de PVM em pacientes com hipertireoidismo (43%) e hipotireoidismo (41%).[13,40] Tanto a DTAI como o PVM, podem ser determinados geneticamente, pois estão associados ao HLA. 3- FUNDAMENTOS TEÓRICOS 3.1- AUTO-IMUNIDADE O sistema imunológico é caracterizado pela imunidade humoral e celular reagindo à determinados antígenos. Os linfócitos B e T são responsáveis pelo reconhecimento dos antígenos. Os linfócitos T desenvolvem-se a partir de precursores de células tronco no fígado fetal e medula óssea e durante sua permanência no timo se diferenciam em vários tipos celulares. Os linfócitos T maduros estão presentes no timo, baço, linfonodos na pele e outros órgãos linfóides; e no sangue periférico. Os linfócitos B são provenientes de células precursoras no fígado fetal e medula óssea e são encontrados em todos os órgãos linfóides e no sangue periférico. Os linfócitos desenvolvem-se através de estágios direto de um “pool” de células que podem ser operacionalmente definida e reconhecida por aquisição de determinantes antigênicos específicos. Os linfócitos B e T expressam antígenos classe I (HLA-A, B, C) do complexo de histocompatibilidade maior (MHC) na sua superfície; e as células B expressam antígenos classe II (HLA-DR, DP, DQ). As células T ativadas também expressam antígenos classe II na sua superfície e são descritas como “DR+” (ou Ia+).[63] 3.1.1- Linfócitos T e moléculas de superfície: Os linfócitos T apresentam em sua superfície receptores capazes de reconhecer o complexo antígeno/HLA (receptores de célula T – TCR), moléculas acessórias que reconhecem determinantes HLA, moléculas de adesão que reconhecem antígenos presentes nas células APCs (células apresentadoras de antígenos). No Timo os linfócitos T sofrem diferenciação em CD4+ (helper) e CD8+ (citotóxico), para em seguida serem ativados na periferia. Após a ativação, as células T apresentam novos receptores para citocinas, produtos hormonais produzidos principalmente por macrófagos e células T e B. Os linfócitos T podem ser classificados em T helper1 (Th1) e T helepr2 (Th2). As células Th1 produzem citocinas como interleucina 2 (IL-2), interleucina 12 (IL-12), interferon-gama (INF-γ) e Fator de necrose tumoral (TNF) que predominam em reações de hipersensibilidade retardada. As células Th2 produzem IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13, que por sua vez estimulam as células B a produzirem anticorpos, como acontece em algumas doenças auto-imunes (lupus, artrite reumatóide, etc.) [38 ] 3.1.2-Receptor da célula T: O receptor (TCR) consiste em heterodímeros ligados por pontes dissulfeto e apresentam duas cadeias TCR-a e TCR-b que acoplam cinco ou mais peptídeos, formado o complexo CD3. Uma pequena proporção de células T possuem cadeias TCR-g e TCR-d. As cadeias de peptídeos “a”, “b”, “g” e “d” são derivados de rearranjos de genes codificados por proteínas que são únicas em cada clone de célula. Os genes das cadeias TCR são extensos e contém 40 a 100 segmentos diferenciados como: V (variável), D (diverso), J (juncional), C (constante). Durante o desenvolvimento de cada célula T os segmentos são rearranjados produzindo uma única seqüência de genes. Essa combinação de diferentes segmentos V, J, D, C e variações adicionais na seqüência de DNA introduzida na região J e D durante a recombinação, promove uma enorme diversidade de TCRs específicos para reconhecimento de antígenos da célula T. Os antígenos específicos dos TCRs são desenvolvidos devido instruções genéticas intrínsecas, e não em resposta à exposição aos antígenos. Esse processo significa que todos os indivíduos podem (antes da deleção clonal) ter formadoTCRs capazes de reconhecer antígenos tireoideanos, assim como outros. O “set” de segmentos A, D, J presentes na herança e as cadeias TCRa, b, g diferem de outros genes individuais adquiridos. Cada célulaT individual e sua progenitora tem o gene re-arranjado com uma única combinação de segmentos V, D e J. Baseado em estudos, é evidente que segmentos V específicos são preferencialmente usados em resposta a certos antígenos. A variabilidade de cada segmento V no repertório do TCR favorece uma resposta imune a cada antígeno específico, incluindo um auto-antígeno. Cada TCR reconhece uma seqüência antigênica específica, que consiste em 8-9 aminoácidos da classe I restrito à célula T, e 13-17 aminoácidos da classe II. A resposta de cada célula T individual (e de cada célula B) é extremamente específica, mas o efeito combinado de várias células T e B agindo juntas é observado numa resposta final “policlonal”.[37,63] As células T reconhecem o antígeno em associação à moléculas do sistema HLA (Human Leucocyte Antigens). O TCR se liga à moléculas HLA para reconhecer antígenos pequenos e solúveis.[37,63] 3.1.3- Sistema HLA: O sistema HLA localiza-se no braço curto do cromossomo 6, e seus genes são classificados em classe I, II e III. Os genes da classe I codificam moléculas A, B, C, E, F, G, H, J, K e L; sendo encontradas na superfície das células nucleadas. As moléculas classe I apresentam duas cadeias: uma cadeia pesada α, que se subdivide em α1, α2, α3 e a cadeia leve da β2 microglobulina. A cadeia α é altamente polimórfica, especialmente α1 e α2. A sua função juntamente com as moléculas da classe II, é distribuir um peptídio derivado de antígenos estranhos para a superfície celular, visando ao reconhecimento por linfócitos T. Os genes da classe II codificam moléculas DR, DQ, DP, DO, DM encontradas em células apresentadoras de antígenos (APCs) como macrófagos, linfócitos B, células dendríticas. As moléculas da classe II são heterodímeros constituídos por uma cadeia α (α1/α2)e uma cadeia β (β1/β2). A classe III apresentam moléculas que são componentes do sistema do complemento e algumas citocinas como: C4 e C2, fator B da via alternativa do complemento, fator de necrose tumoral (TNF-α e TNF-β) e citocinas (IL-2, IL-6, etc).[23,37,63] 3.1.4- Moléculas co-receptoras: Na superfície dos linfócitos T existem moléculas CD4 e CD8 que subdividem as células T em dois grupos. As moléculas CD4 e CD8 se ligam ao complexo TCR-CD3 e participam da adesão e transdução do sinal, durante o reconhecimento do antígeno. O CD4 encontra-se na superfície das células T helper e tem a capacidade de se ligar a moléculas HLA classe II; enquanto o CD8 é encontrado na superfície de células T citotóxicas, ligando-se a moléculas HLA classe I. Existem moléculas que auxiliam o complexo peptídeo-MHC a estimular as células T. Um ligante importante é o B7, encontrado nas células de apresentação ao antígeno (APCs) e capaz de estimular a ativação e crescimento das células T. N a célula T o B7 se liga ao receptor CD28. O receptor quando é ligado ao B7 ou a anticorpos age estimulando as células T. Quando anticorpos se ligam ao B7 inibindo seu acoplamento ao receptor CD28, inibem as células T. Após ativação das células T, estas expressam um outro receptor denominado CTLA-4 (antígeno 4 do linfócito T citotóxico ), que se liga a B7 com maior afinidade.[63] 3.1.5- A resposta imune: As células T reconhecem o antígeno em associação com uma molécula HLA. As células T CD4+ reconhecem moléculas classe II (HLA-DR, DP, DQ) juntamente com antígeno, e as células T CD8+ reconhecem moléculas classe I (HLA-A, B,C) ativadas por antígenos. O antígeno permanece dentro de uma fenda na molécula HLA-DR. Os peptídeos associados ao complexo CD3 são transdutores de sinais e iniciam o evento intracelular, seguindo o reconhecimento do antígeno. A resposta normal procede via reconhecimento do antígeno via TCR, ativação da célula T através do efeito combinado do reconhecimento do antígeno com sinais coestimulatórios incluindo interleucinas (IL-1), liderando secreção de células T e IL-2, expressão de receptor de IL-2 seguido pela proliferação de células T a partir de um clone ativado. Em seguida ocorre uma proliferação de células B e produção de imunoglobulinas (anticorpos). [36,63] O desenvolvimento dos linfócitos é controlado por citocinas liberadas pelos macrófagos, linfócitos e outras células. Ambas células T e B liberam uma larga variedade de citocinas que carregam suas funções efetoras e alteram a função de outras células. Como os linfócitos maturam no timo e se tornam ativadas em exposição ao antígeno, o tipo de citocina com o qual eles respondem e produzem se tornam alteradas. Como dito anteriormente, os tipos de linfócitos podem ser operacionalmente definidos pelas citocinas produzidas. As células Th1 produzem IL-2, IFN-γ e TNF, enquanto as células Th2 produzem IL-4 e IL-5. As citocinas produzidas por células Th1 melhoram a atividade dessa subunidade, mas inibe a célula Th2 e vice-versa. Esse tipo de regulação pode ser crítico em determinar uma resposta imune e fenômeno supressor. Cada célula B produz uma única imunoglobulina (Ig) programada por um gene da Ig que tem sido rearranjado dos segmentos germinativos V, D, J e C; promovendo uma diversidade de famílias de Igs. Algumas imunoglobulinas podem ser anticorpos e outras reconhecem outros antígenos, incluindo antígenos “self ” (próprio).[37,63] As células B secretam suas imunoglobulinas dentro de fluidos, e a maioria é remanejada para a superfície; onde podem se ligar ao antígeno com o qual é reconhecido por uma Ig específica. A imunoglobulina de superfície é um receptor de célula B para antígeno, apresentando uma face específica ou “idiotipo” que encaixa com a conformação da molécula do antígeno “epítopo”. 3.1.6-Apresentação do antígeno: Os antígenos originados dentro da célula são preferencialmente presenciados por moléculas classe I através CD8+. As moléculas classe II estão diretamente na apresentação de antígenos externos ou aloantígenos às células CD4+. O antígeno pode ser apresentado às células T CD4+ por APCs convencionais, particularmente células dendríticas e também por células B e T ativadas; e menos efetivamente por uma variedade de outras células (fibroblastos, células gliais, tirócitos). Os APCs não-clássicos não podem originar os sinais co-estimulatórios necessários, incluindo B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86) que se ligam a CD28 na célula T; sendo necessárias para ativação de algumas células T. Caso a molécula de B7 se ligue ao CTLA-4 (CD152), a resposta imune é terminada. Não se sabe ao certo qual a função de B7-1 e B7-2. As células B captam o antígeno através da ligação da imunoglobulina (Ig) com a superfície do antígeno e internaliza o complexo imunoglobulina-antígeno. Na célula B o antígeno é degradado em peptídeos que podem ser destruídos ou reaproveitados, e surgem na superfície da célula T como epítopos do antígeno. O antígeno (Ag) segue normalmente a via do Ag-APC-célula T, mas pode seguir o caminho Ag-célula B-célula T; pois a célula B apresenta imunoglobulina na sua superfície que a torna capaz de captar o antígeno para apresentá-lo à célula T.[63] 3.1.7- Resposta das células B e T: A apresentação do antígeno, e do sinal secundário são necessários para ativação das células T e iniciar a resposta imune. A co-estimulação é feita por B7 ou CTLA-4, juntamente com moléculas de adesão (LFA-1, ICAM-1, ICAM-2). Após o reconhecimento do antígeno a célula T ocorre, a produção de IL-1, que leva a estimulação da célula T; que por sua vez expressa receptores para IL-2 e secreta ela mesma IL-2. Ocorre a proliferação de outras células T nas proximidades. Além de secretar IL-2, a célula T secreta IL-4, IL-5 e IL-6. A IL-4 e CD40 estimulam a proliferação de células B. As células B secretam citocinas próprias que podem regular para mais ou para menos a resposta imune.[36,63] Algumas células T CD4+ e CD8+ parecem prover sinais supressores. A resposta supressora parece envolver a formação de anticorpos via célula B direto para a célula T, causando destruição da mesma. As células CD4+ e CD25+ podem ser determinadas como regulatórias ou “treg cells”, que podem prevenir auto-imunidade. A supressão parece depender do APC, pois sua ativação libera IL-6 que favorece a predominância de células T sobre os “treg cells”. O receptor CD28 é necessário para o desenvolvimento e manutenção das células “treg”. As células Th1 e Th2 podem servir como modelo de supressão. As células Th2 podem apresentar função efetora patológica ou reguladora da resposta Th1. 3.1.8-Tolerância imunológica: O desenvolvimento da tolerância está fortemente associado com restrição ao TCR em reconhecer o antígeno quando apresentado à molécula HLA. O antígeno pode estar no timo ou na circulação periférica. Algumas células T reagem com moléculas MHC e antígeno,e são deletadas, enquanto outras são retidas. Mecanismos que agem fora do timo completam a seleção de células T. As células “treg” quando estimuladas por B7-1 inibem sua função supressora, enquanto B7-2 ativam essa função. A IL-2 é importante para o desenvolvimento e expansão do “treg” e representa um papel relevante na resposta autoimune.[63] Durante a maturação no timo, muitos linfócitos produzidos são selecionados negativamente e morrem através de um processo descrito como “morte celular programada” ou “apoptose”. Esse processo envolve vários genes como Fas, sendo que defeitos neste promovem proliferação de células T. 3.2- AUTO-IMUNIDADE TIREOIDEANA Como citado anteriormente a DTAI se desenvolve a partir da produção de anticorpos contra antígenos tireoideanos. Os três antígenos mais importantes são: a tireoglobulina, o receptor de TSH e a tireoperoxidase. 3.2.1- Tireoglobulina: A molécula de tireoglobulina é uma glicoproteína com peso molecular elevado (670 Kda), sintetizada pelas células tireoideanas na qual T3 (triiodotironina) e T4 (tetraiodotironina) são produzidas. Apresenta em sua molécula 140 resíduos tirosil e cerca de 10% de carboidratos na forma de manose, N-acetilglicoseamina, galactose, fucose, ácido siálico e sulfato de condroitina. Na sua extremidade amino localiza-se um sítio para hormonogênese, outros três sítios localizam-se na extremidade carboxil. Sua estrutura difere de uma pessoa para outra, e apresenta homologia com a molécula da acetilcolinesterase. A tireoglobulina tem função de armazenar os hormônios tireoideanos T3(triiodotironina), T4 (tiroxina) e MIT(monoiodotirosina) e DIT(diiodotirosina). Alguns estudos em animais sugeriram que a sua antigenicidade está no conteúdo do iodo, mas estudos em humanos não confirmaram essa hipótese. O anticorpo anti-tireoglobulina (antiTg) é detectado na maioria dos pacientes com GD e HT. O gene da tireoglobulina está localizado no cromossomo 8q24.[26, 35, 63 ] 3.2.2-Receptor de TSH: O receptor de TSH (TSH-R) é uma glicoproteína de 764 aminoácidos, sendo uma seqüência de 744 aminoácidos e 20 aminoácidos sinalizadores. O TSH-R é caracterizado por uma porção extra-membranosa, sete alças trans-membrana e um domínio intra-celular que se liga a subunidade GS da adenilciclase. Segmentos do domínio extra-celular comportam a subunidade “A”, incluindo aminoácido 12-30 e 324-344 envolvidos na ligação do TSH. Os anticorpos reconhecem a área estimulatória da extremidade NH2terminal, e se ligam próximo à superfície na região dos aminoácidos 261-370 ou 388-403/ funcionando como TS-+Ab. Um anticorpo reconhece preferencialmente a subunidade “A”, e não todo o receptor. Isso sugere que a subunidade “A” pode iniciar e amplificar a resposta imune. Pacientes com doença tireoideana auto-imune podem apresentar anticorpos estimulatórios (TSAb ) ou inibitórios (TBII), e o quadro clinico vai depender da potência relativa de cada espécie.[35,63 ] 3.2.3- Tireoperoxidase: A tireoperoxidase (TPO) é uma proteína de 110Kda, presente na membrana da célula folicular tireoideana. Tem a função de promover a oxidação de íons iodeto quanto à incorporação de iodo aos resíduos tirosina da tireoglobulina. Sua síntese é estimulada pelo TSH. O anticorpo anti-tireoperoxidase era conhecido como anti-microssomal.[61] O anticorpo anti-TPO juntamente com o anticorpo anti-tireoglobulina promovem a destruição da célula tireoideana. O anti-TPO também é encontrado em indivíduos sem doença tireoideana (prevalência de 12-26%)[49], e em outras doenças auto-imunes como Lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, síndrome de Sjogren, etc.[38 ] 3.2.4-Desenvolvimento da DTAI: Para que ocorra a DTAI é necessário que haja um desequilíbrio do sistema imunológico (imunidades humoral e celular), juntamente com fatores genéticos e ambientais. 3.2.4.1-Fatores genéticos: O sistema HLA está associado tanto à doença de Graves como à tireoidite de Hashimoto. Na doença de Graves (GD), foi encontrado inicialmente uma associação com HLA-B8 em caucasianos. Posteriormente o HLA-DR3 foi considerado mais importante. A freqüência de HLA-DR3 na doença de Graves é de 40-55%. Nos japoneses o HLA-B35 tem forte associação com a doença de Graves, enquanto a população chinesa tem uma freqüência maior de HLA-BW46. Os afro-americanos apresentam uma associação maior de GD com HLA-DRB3* 0202. Na população brasileira o HLA-DR3 foi o principal. Dentre os caucasianos o HLA-DQA1*0501 também foi relacionado com a doença de Graves. [58 ] Na tireoidite de Hashimoto (HT) pesquisou-se a associação do HLA com a tireoidite bociogênica ou atrófica. O HLA-DR5 está relacionado à tireoidite com bócio, enquanto o HLA-DR3 com a forma atrófica da doença. O HLA-DQW7(DQB1*0301) também foi reportado nos caucasianos. Na população não-caucasiana, o HLA-DRW53 foi descrito nos japoneses.[58] O antígeno-4 do linfócito T citotóxico (CTLA-4) parece conferir suscetibilidade aumentada à DTAI.[ 3,19, 58,60] Mutações que alterem a sua expressão e/ou função podem resultar em uma ativação exagerada da célula T e desenvolver a auto-imunidade, podendo estar associado tanto à GD como à tireoidite de Hashimoto. Alguns estudos têm demonstrado que o CTLA-4 confere uma suscetibilidade para a produção de anticorpos anti-tireoideanos.[3, 58,60] Alguns pesquisadores têm sugerido, que dependendo do tipo de polimorfismo do CTLA-4, o mesmo pode contribuir para a severidade da tireotoxicose. O CTLA-4 tem sido associado à GD em crianças. [ 58 ] Vaidya e col. reportaram uma ligação entre a região do gene CTLA-4 no cromossomo 2q33 em famílias com GD, embora essa região contenha outros genes reguladores do sistema imune como o CD28. [60 ] Algumas regiões cromossômicas tem sido associadas à DTAI como o cromossomo X, região 14q, 20q, lócus do IDDM (diabetes mellitus tipo 1).[58 ] O cromossomo X foi sugerido, pois a DTAI é cinco vezes mais freqüente em mulheres. O estrogênio para alguns pesquisadores parece colaborar com a DTAI, enquanto para outros não. Anormalidades no cromossomo X podem ser responsáveis pela incidência aumentada de DTAI nas mulheres. Na síndrome de Turner existe uma prevalência aumentada de anticorpos anti-tireoideanos e desenvolvimento da DTAI.[4] O lócus do cromossomo Xq21 e Xp11 também são candidatos para a DTAI, mas dependem de confirmação. [4] O IDDM também está associado com DTAI, pois muitos pacientes apresentam anticorpos anti-tireoideanos e podem desenvolver DTAI. Um lócus do gene do CTLA-4 é compartilhado pelo IDDM e DTAI. O cromossomo 18q também foi relatado num estudo no Reino Unido.[5 8] A região 14q que abriga o gene do receptor de TSH foi relacionada com GD, mas necessita de confirmação.[58] A região 20q11 abriga o gene da molécula CD40, e está fortemente associada à GD, mas não à HT. [4,,58] A IL-4 está fortemente associada ao desenvolvimento da AITD, uma baixa atividade da IL-4 pode resultar no desenvolvimento maior de imunoglobulinas (IgG1). Polimorfismos no gene da IL-4 podem desencadear a doença de Graves. [28 ] Tomer descreveu sete lócus relacionados à DTAI: três ligados à doença de Graves (GD), GD-1 no cromossomo 14q31, GD-2 no cromossomo 20q11 e GD-3 no cromossomo Xq21; e dois ligados à tireoidite de Hashimoto (HT), HT-1 no cromossomo 13q32 e HT-2 no cromossomo 12q22. Um lócus no cromossomo 6p estava ligado à GD e HT, e outro no cromossomo 2q33 associado à anticorpos antitireoideanos.[59] 3.2.4.2- Fatores ambientais: Dentre os fatores ambientais destacamos o estresse, infecção, gestação, uso de iodo ou drogas que contenham iodo ou radiação. A infecção da própria glândula tireóide (tireoidite) pode estar associada a fenômeno auto-imune. A infecção pela Y. enterocolitica também foi relacionada à DTAI, pois esta pode mimetizar antígenos tireoideanos. O estresse pode suprimir a resposta imune devido aos efeitos do cortisol e do ACTH (hormônio liberador de corticotrofina). Após o período do estresse existe uma recuperação em excesso do sistema imunológico, o que precipita a doença tireoideana. Durante a gravidez ocorre também uma supressão do sistema imunológico, e à medida que a gestação progride a doença tende a melhorar. No período pós-parto ocorre um rebote e a resposta imune se exacerba. O uso de iodo ou drogas como amiodarona podem precipitar a doença de Graves, principalmente em áreas deficientes em iodo; permitindo que anticorpos estimuladores do TSHR sejam mais efetivos em estimular a síntese de hormônio tireoideano. 3.2.4.3-Sistema imunológico: Para que ocorra o desenvolvimento da DTAI deve haver inicialmente a apresentação do antígeno às células T, através dos APCs. O antígeno no receptor da célula T é reconhecido com a ajuda de moléculas HLA. As células CD8+ reconhecem antígeno na presença de proteínas HLA classe I (HLA-A, B, C), e CD4+ com a presença de proteínas classe II (HLA-DR, DQ,DP). Ocorre uma diminuição do número e função dos linfócitos T CD8+ (supressor/citotóxico) e um aumento dos linfócitos T CD4+ (helper). Os linfócitos T helper podem ser classificados em Th1 e Th2; sendo a célula Th1 responsável pela liberação de citocinas (IL-2, IL-12, INF-γ, TNF) e as células Th2 produzem IL-2, IL-4, IL6 as quais ativam os linfócitos B a produzirem imunoglobulinas (anticorpos) contra os antígenos tireoideanos. Os anticorpos que se ligam a um epítopo importante do receptor de TSH (TSH-R) e ativam o receptor produzindo os mesmos efeitos do TSH, podem ser referidos como TSI ou TSAB (thyroid stimulating immunoglobulins or thyroid stimulating antibodies). Outros anticorpos podem se ligar de modo diferente ao receptor e são conhecidos como TBI (thyroid biding inibitory immunoglobulins). O TSI (TSAB) causa estimulação da função tireoideana não TSH dependente, causando hipertireoidismo. O TBI caracteriza anticorpos bloqueadores do TSH. A predominância do TSI caracteriza a doença de Graves e TBI podem ser encontrados no Graves, T. de Hashimoto e mixedema primário. As citocinas desempenham um papel importante no processo auto-imune, podendo ter efeitos diretos ou indiretos. O interferon-γ (INF-γ), é produzido na tireóide através da infiltração de linfócitos T e causa a expressão de moléculas HLA classe I na superfície da célula tireoideana que inicia e aumenta a expressão de moléculas HLA classe II. O INF-γ também apresenta função inibitória direta na iodação e síntese de tireoglobulina. Ele não é essencial para o desenvolvimento da DTAI, mas exacerba a atividade da doença. A IL-2 pode ativar os linfócitos a produzirem INF-γ e ativar células T CD4+.O fator de necrose tumoral (TNF) é produzido pelos macrófagos e potencialmente citotóxico à célula tireoideana. A IL-1 ativa mais células T. A IL-6 estimula mais células T e B. A manifestação clínica da doença vai depender em parte do tipo de anticorpo que predomina na tireóide; se estimulatório ou inibitório. A apoptose celular envolvendo o Fas e Fasl desencadeia a Tireoidite de Hashimoto. Na doença de Graves a célula folicular tireoideana não expressa moléculas Fas funcionantes, além das células Th2 e tireoideanas serem resistentes ao Fasl (ligante do Fas). A resistência à apoptose é dirigida pelas citocinas lilberadas pelas células Th2, como IL-4 e IL-10. O resultado é uma destruição das células T e sobrevivência das células tireoideanas. Na T. de Hashimoto a célula folicular tireoideana expressa moléculas Fas funcionantes , induzidas pelo INF-γ liberado pela célula Th1. A expressão do Fas na célula tireoideana induz apoptose via Fasl da própria célula folicular ou do Fasl da célula Th1. Ocorre a destruição da célula tireoideana e proliferação das células T.[35,43] Durante o desenvolvimento da T. de Hashimoto a via do complemento pode ser ativada pela via clássica dependente do anticorpo ou pela via da TPO, que procede com C4 ligando-se à TPO. A expressão do C4 no tecido é induzida pelo INF-γ. [7 ] Sabemos que CD28-CTLA-4 moléculas B7 desempenham um papel importante como co-estimuladores das células T. Existem duas moléculas B7, denominadas B7.1 (CD80) e B7.2 (CD86). O gene do CD86 está localizado no cromossomo 3q13-q23, e do CD80 no cromossomo 3q13-q21. Battifora demonstrou a presença de moléculas coestimulatórias B7.1 nas células foliculares tireoideanas na T. de Hashimoto e não na doença de Graves. [6 ] 3.3-PROLAPSO VALVAR MITRAL 3.3.1-Conceito: O prolapso da valva mitral (PVM) é também conhecido como síndrome de Barlow, síndrome do estalido sistólico, da cúspide mitral crescida, da valva mitral mixomatosa, da valva frouxa ou da cúspide redundante.[11] É uma afecção benigna, caracterizada pelo abaulamento sistólico de uma ou ambas cúspides para o interior do átrio esquerdo (AE); sendo atribuído a um enfraquecimento das cúspides em conseqüência de processo degenerativo: a degeneração mixomatosa.[11] 3.3.2- Epidemiologia: Sua prevalência é de 3 a 5%, sendo duas vezes mais freqüente nas mulheres que em homens.[11, 42 ]. A faixa etária mais prevalente é de 14 a 30 anos, podendo se estender para outras faixas etárias.[ 10 ] O estudo de Framingham demonstrou a prevalência de PVM em 5% dos 4967 indivíduos avaliados. A prevalência de PVM nas mulheres variava de 3% (idosas) e 7% nas jovens. Nos homens permanecia em torno de 2-4%.[53] 3.3.3- Classificação do prolapso: O PVM pode ser denominado de clássico quando apresenta um abaulamento de um ou ambos folhetos mitrais acima de 2mm, e um espessamento superior a 5mm. O PVM não clássico é definido como um abaulamento superior a 2mm e um espessamento inferior a 5mm.[ 24]. O PVM pode ser classificado em primário e secundário.[5,11 ] O prolapso primário tem como base anatomopatológica a degeneração mixomatosa; tendo como exemplo a síndrome de Marfan, Ehlers Danlos, osteogênesis imperfecta, pseudoxantoma elástico, periarterite nodosa, distrofia miotônica, hipertireoidismo, doenças do tecido conectivo. No PVM secundário não ocorre proliferação da região esponjosa da valva mitral; e o prolapso é produzido por redução da cavidade do VE, desalinhamento dos músculos papilares, sobrecarga volumétrica do VD, seja em doenças congênitas (comunicação inter-atrial) ou adquiridas (febre reumática, insuficiência coronariana).[45 ] 3.3.4- Etiologia: O prolapso é mais freqüentemente uma condição primária, não associado a outras doenças[11], mas pode ocorrer nos distúrbios do tecido conjuntivo citados anteriormente.[11]. King, estudando a morfologia e histologia de valvas com PVM em pacientes com regurgitação mitral severa, submetidos à troca valvar; observou que dissolução do colágeno na valva complica o prolapso.[32] O prolapso é uma anormalidade do tecido conectivo, caracterizado por um aumento do tecido da esponjosa com invasão da fibrosa. A interrupção da continuidade fibrosa parece ser a base para o enfraquecimento do folheto valvar.[48] A etiologia do prolapso é incerta, existindo várias hipóteses. Em 1998, Kyndt e cols avaliando pacientes com hemofilia do tipo A e distrofia valvular mixomatosa ligada ao cromossomo X(XMVD), encontraram no cromossomo Xq28 um intervalo entre DXS8011 e Xqter uma área para a XMVD.[34] Recentemente Chou e cols demonstraram que polimorfismos T4065C do gene do ativador plasminogênio –uroquinase (PLAU T4065C) conferiam um risco aumentado de PVM em chineses de Taiwan.[15] O mesmo pesquisador tentou encontrar no gene perlecan (cromossomo 1p36.1-p35) uma região polimórfica (intron 6 BamHI), responsável pelo PVM, mas não obteve êxito.[14] Avaliou também a possibilidade de polimorfismo no códon 727 e 52 do gene do receptor de TSH, estar associado à síndrome do prolapso valvar mitral numa população chinesa; mas também não obteve êxito.[16 ] Szombathy e cols avaliando pacientes brancos com PVM, encontraram no gene do receptor de angiotensina tipo II um polimorfismo (A-C1166) responsável pelo prolapso.[56] 3.3.5-Anatomopatologia: O critério macroscópico para PVM é um aumento da área do folheto, folhetos opacos e espessos, corda tendínea alongada e fina e anulo mitral dilatado comparado a indivíduos normais.[10] Ocorre uma proliferação mixomatosa, onde o componente esponjoso não é muito acentuado, e aumento de mucopolissacarídeo, diminuição do colágeno tipo III.[11,44]. À microscopia eletrônica na área mixomatosa da esponjosa as fibras elásticas estão aumentadas em número, mas são menores e mais finas; dilaceradas e finamente granular. Ocorre o acúmulo de proteoglicanos nos folhetos da valva e corda tendínea. As fibras colágenas e fibras elásticas são separadas por esse material de proteoglicanos, que formam grânulos brilhantes, uma malha de filamentos ou espículas e componentes amorfos. Os componentes amorfos das fibras elásticas são fragmentados, de aparência granular e demarcação pobre. As fibras colágenas são esparsas, irregulares e estrutura espiralada (mais larga em diâmetro).[57] Um estudo realizado por Rabkin e col, com tecido de valvas mixomatosas de pacientes em troca valvar ou reparo comparado a valvas normais obtidas em autópsia; observou que as células intersticiais apresentavam miofibroblastos ativados e várias enzimas catabólicas (catepsinas , IL-1β) que não alteram colágeno.[50 ] Curti e col, estudando corações com prolapso, obtidos em autópsia constatou um aumento do tecido elástico nas zonas de coaptação, sendo a maior parte do tecido valvar constituído por tecido conjuntivo denso interposto por áreas de tecido mixomatoso.[18] 3.3.6-Quadro clínico: A maioria dos pacientes permanece assintomática. Uma variedade de sintomas está associada com PVM: dor torácica atípica, taquicardia, fadiga, fraqueza, dispnéia, síncope, episódios neurológicos focais, amaurose fugaz, vertigem e distúrbios psicológicos. [47]. Em torno de 65% dos pacientes são assintomáticos no momento do diagnóstico. Os sintomas geralmente estão associados a arritmias ou regurgitação mitral. Ao exame físico os pacientes geralmente apresentam baixo peso corpóreo, pressão sanguínea normal ou baixa; anormalidades torácicas (pectus excavatum, escoliose). Alguns apresentam hipotensão ortostática. À ausculta cardíaca observa-se estalido sistólico logo após B1 (primeira bulha cardíaca). Pode haver estalido meso ou telessistólico na borda esternal esquerda inferior. O estalido pode vir acompanhado de sopro meso a telessistólico em crescendo até A2 (fechamento da valva aórtica). Quando o sopro se estender até o final da sístole, a regurgitação mitral é grave.[ 11] O estudo de Framingham comparando pacientes com PVM e indivíduos normais, encontrou um aumento de oito vezes em mulheres e 20 vezes em homens de cliques sistólicos nos pacientes com PVM [ 52], sendo em 8% das mulheres e 13% dos homens. O sopro sistólico foi encontrado em 8% de ambos os sexos.[52] As arritmias são muito comuns no PVM e incluem contrações atrial e ventricular prematuras, taquiarritmias supra e ventricular, assim como bradiarritmias. A taquicardia supraventricular paroxística é a mais comum das taquiarritmias. Gooch avaliou pacientes com PVM com eletrocardiograma (ECG) em repouso e durante teste de esforço físico; e observou que as arritmias diminuíam durante o teste de esforço e reapareciam imediatamente após o exercício.[25] O estudo de Framingham também avaliou a prevalência de arritmias nos pacientes com PVM. Os indivíduos eram avaliados com ECG em repouso e monitorização de 24h com ECG (Holter). A despolarização supraventricular prematura foi encontrada em 90% dos pacientes com PVM, enquanto a despolarização ventricular em 89%. Apesar dos resultados obtidos, os mesmos não foram considerados significativos, pois também eram comuns nos indivíduos sem PVM. [54] DeMaria e cols, também realizaram Holter e teste de esforço nos pacientes com e sem PVM. O ECG em repouso demonstrou anormalidades no complexo QRS ou segmento ST e onda T. A maioria apresentava depressão do segmento ST e inversão da onda T nas derivações II, III e aVF. [20] 3.3.7-Diagnóstico: Em 1986 e 1987 Perloff publicou os novos critérios para o diagnóstico clínico do prolapso.[46,47 ] O mesmo subdividia os critérios em não–específicos, critérios maiores e menores. Os achados inespecíficos consistiam em: - Sintomas: dor torácica atípica, dispnéia, fadiga, fraqueza, vertigem, síncope, distúrbios psicológicos. - Aparência física: anormalidades da caixa torácica, hipomastia. - Eletrocardiograma: inversão de onda T nas derivações de membro inferior, ou precordiais laterais. Batimentos ventriculares prematuros no repouso, durante exercício, ou no ECG ambulatorial. Taquicardia supraventricular. - Radiografia de tórax: escoliose, pectus excavatum ou carinatum ou perda de cifose torácica. - Ecocardiograma: deslocamento sistólico superior e leve dos folhetos mitrais anterior ou ântero-posterior. Os critérios maiores são os seguintes: - Ausculta: Estalidos meso ou telessistólicos e sopro sistólico tardio, ou estridor isolado ou em combinação no ápice cardíaco. - Ecocardiograma bidimensional: Deslocamento sistólico superior crítico dos folhetos mitrais com ponto de coaptação no plano anular ou superior, deslocamento sistólico superior leve a moderado dos folhetos mitrais com: ruptura de corda, regurgitação mitral no Doppler, dilatação do anel. - Ecocardiograma mais ausculta: Deslocamento sistólico superior leve a moderado dos folhetos mitrais com: estalidos proeminentes meso a telessistólicos no ápice cardíaco, sopro holossistólico ou telessistólico apical no jovem, estridor telessistólico. Critérios menores: - Ausculta: Primeira bulha cardíaca alta com um sopro holossistólico apical - Ecocardiograma bidimensional: Deslocamento sistólico superior leve a moderado isolado do folheto mitral posterior, deslocamento sistólico superior moderado de ambos os folhetos mitrais. - Ecocardiograma mais história de: Deslocamento sistólico superior leve a moderado de folhetos mitrais com: Ataques neurológicos focais ou amaurose fugaz no jovem, parentes de primeiro grau com os critérios principais. 3.3.8-Ecocardiograma: O prolapso é melhor visualizado pelo ecocardiograma bidimensional, onde permitese observar um ou ambos os folhetos da valva mitral elevando-se para dentro do AE. O ecocardiograma unidimensional observa-se um movimento posterior do folheto posterior ou ambos os folhetos na mesossístole, com interface do folheto superior a 2mm posterior à linha CD; ocorrendo simultaneamente com o estalido. Os cortes ecocardiográficos que melhor demonstram o prolapso são o paraesternal longitudinal, e apical de duas câmaras, longitudinal do VE e quatro câmaras (o mais sensível). Os cortes longitudinais, paraesternal ou apical mostram o segmento posterior, o apical de duas câmaras mostra o segmento medial e o apical de quatro câmaras o segmento lateral do folheto posterior. O mais comum é o prolapso do folheto anterior.[41] O pesquisador Wan comparou o diagnóstico de PVM pelo eco uni e bidimensional, assim como entre observadores diferentes e o mesmo observador. O resultado obtido foi que um mesmo observador diagnosticava um maior número de prolapso no eco bi dimensional nos mesmos pacientes, em relação ao unidimensional. E o diagnóstico variava entre observadores.[62]O diagnóstico de prolapso não deve se basear apenas no achado ecocardiográfico e sim na síndrome. 3.3.9- História natural do prolapso: A maioria dos pacientes é assintomática, e assim permanecem por muitos anos. A complicação mais grave é a regurgitação mitral, podendo ser progressiva. A incidência maior de regurgitação ocorre em pacientes com estalido e sopro associados. O grau de regurgitação mitral depende da extensão do espessamento da valva e redundância. São preditores para cirurgia valvar: regurgitação mitral severa, folheto mitral redundante e espesso, idade do paciente, sexo masculino, evidência de dilatação ventricular e atrial esquerda. A progressão da severidade da regurgitação aumenta com a idade.[10 ] O risco de arritmias e morte súbita está aumentado nos pacientes com PVM. A regurgitação mitral severa e folheto mitral redundante são fatores de risco para morte súbita.[10] Avierino e cols, verificaram que além da RM, uma fração de ejeção <50%são fatores de risco para a morte súbita.[2,55] Arritmias atriais complexas ocorrem nos pacientes mais idosos com regurgitação mitral e dilatação atrial e ventricular esquerda.[10] O risco arritmia ventricular e regurgitação mitral dependeriam do grau de deslocamento do folheto mitral.[51,64 ] Weissman relatou em pacientes com prolapso sem regurgitação mitral, folhetos espessos, folheto anterior alongado e diâmetro anular largo; enquanto pacientes com regurgitação tinham folhetos espessos e folheto posterior alongado.[64] A prevalência de fenômenos embólicos pode estar aumentada em pacientes com PVM. A endocardite é mais encontrada nos pacientes com regurgitação e sopro sistólico.[10] Zuppiroli e cols avaliaram 316 pacientes com PVM durante o período de 1979 a 1986, e confirmaram que as complicações do prolapso são mais freqüentes em homens, pacientes mais idosos e com regurgitação mitral severa. Durante o “follow-up” onze pacientes necessitaram de cirurgia valvar, 06 morreram de causas cardíacas, 07 desenvolveram isquemia cerebral e 02 endocardite. [65] Malkowski comparou 68 pacientes normais (sem PVM) com 58 pacientes com prolapso mitral e avaliou espessura do folheto mitral, comprimento do folheto, comprimento da corda e diâmetro anular. Esses parâmetros encontravam-se aumentados nos pacientes com PVM e regurgitação mitral.[39] 3.4- PROLASPO VALVAR MITRAL E DOENÇA TIREOIDEANA AUTO-IMUNE Sabe-se que tanto o hipertireoidismo como o hipotireoidismo, apresentam manifestações cardíacas. A tireotoxicose pode cursar com sopros sistólicos de ejeção, arritmias, hiperfonese de bulhas cardíacas, pressão arterial divergente, prolapso valvar mitral entre outros.[17] O hipotireoidismo é caracterizado por bradicardia, hipofonese de bulhas, pulsos periféricos fracos, pressão arterial convergente, estenose subaórtica hipertrófica, prolapso da valva mitral etc.[17 ] O prolapso na DTAI pode ser conseqüente à dilatação ventricular ou alterações intrínsecas da valva mitral. Na década de 90 vários pesquisadores estudaram DTAI e o prolapso, deixando em dúvida a etiologia do mesmo. O prolapso é conseqüente às alterações hormonais (hiper/hipotireoidismo) ou faz parte também da síndrome auto-imune? Em 1981 Channick comparou pacientes com hipertireoidismo e indivíduos controle, para a presença de prolapso; através de ecocardiograma uni e bidimensional. Os pacientes com hipertireoidismo (n=40) eram separados em dois grupos: pacientes em hipertireoidismo no momento do estudo (n=9) e pacientes em eutireoidismo (n=31). Desses pacientes 17 (43%) tinham PVM enquanto 18% dos controles apresentavam essa patologia.[13] A prevalência de prolapso não diferiu entre aqueles que eram ou foram hipertireoideos. O mesmo pesquisador avaliou a prevalência de PVM em pacientes com tireoidite linfocítica crônica e indivíduos controle. A prevalência de prolapso está aumentada (41%) nos pacientes com tireoidite crônica comparado ao outro grupo (8%). Nenhuma correlação foi encontrada entre a prevalência de PVM e a presença de hipotireoidismo e níveis anticorpos anti-tireoideanos ou duração da tireoidite de Hashimoto.[40] Kahali encontrou uma prevalência de 36% de PVM nos pacientes com tireoidite crônica.[30] Alvarado e cols, avaliaram a função tireoideana e o prolapso na doença de Graves. Os portadores de Graves eram separados em dois grupos: eutireoideanos (n=16) e hipertireoideos (n=16). A freqüência do prolapso em ambos os grupos foi similar (25% x 31%), enquanto no grupo controle (n=40) foi de 5%. A freqüência de anticorpo antimicrossomal foi semelhante entre os dois grupos com a doença de Graves.[ 1 ] Brauman avaliou a prevalência de prolapso em pacientes com tireoidite linfocítica crônica auto-imune (n=87), hipotireoidismo sem bócio (n=50) e indivíduos controle (n=111). O prolapso foi encontrado em 16% dos pacientes com tireoidite crônica, 6% dos hipotireoideos sem bócio e 5,4% do grupo controle.[ 9 ] O prolapso mitral parece ser pouco freqüente na tireoidite auto-imune juvenil (JAT), como observado por Blumberg. A incidência de prolapso na JAT foi de 4,3%; semelhante ao da população juvenil normal.[ 8] No músculo cardíaco encontramos o receptor de TSH (TSH-R), que sofrendo a ação de anticorpos estimulatórios ou inibitórios alteram a função cardíaca.[21 ] Khoo investigou uma família chinesa com doença de Graves. Dos quatro membros portadores de Graves, três apresentaram prolapso. Uma mutação ativadora do receptor de TSH, a substituição da serina por prolina na posição 639 (P639S) no sexto segmento transmembrana foi encontrado. A ativação do receptor de TSH poderia aumentar a expressão clínica do prolapso em indivíduos com predisposição genética.[31 ] Evangelopoulou avaliou a associação de PVM em pacientes com Doença de Graves e T. de Hashimoto com índices auto-imunes como: anticorpo anti-nuclear (ANA), anticorpo extraído do antígeno nuclear (ENA),anticorpo anti-músculo liso (SMA), antiDNA, fator reumatóide, anticorpo anti-fosfolipídio (aCL), imunoglobulinas, C3, C4, antiTPO, anti-tireoglobulina. O pesquisador observou que a prevalência de PVM era aumentada nos pacientes com doença de Graves (28%) e com Tireoidite de Hashimoto (23%), comparado ao grupo controle. Nos pacientes com HT e PVM foi detectada uma incidência aumentada de ANA e ENA. Os níveis de fator reumatóide eram elevados nos pacientes com prolapso. A incidência de aCL foi maior nos pacientes com HT e PVM, comparado aos pacientes com HT e sem prolapso.[22 ] Mesmo com alguns estudos ainda não podemos afirmar com certeza que o prolapso seja um componente de uma síndrome auto-imune. 2- OBJETIVOS Os objetivos do estudo são: 1. Avaliar a prevalência de disfunção tireoideana em pacientes portadores de prolapso valvar mitral comparados a um grupo controle (indivíduos sem prolapso). 2. Avaliar a prevalência de auto-imunidade nos portadores de prolapso valvar mitral quando comparados a um grupo controle. 4- PACIENTES E MÉTODOS 4.1- Descrição da amostra: Foram estudados 70 pacientes de ambos os sexos, idade entre 18 e 75 anos, sem história prévia de doença tireoideana. Os pacientes foram divididos em dois grupos: Grupo I: 40 pacientes com PVM Grupo II: 30 controles (indivíduos sem prolapso) Os pacientes com prolapso foram selecionados a partir do livro de registro do serviço de Ecocardiografia (exames realizados no período de 2001, 2002, 2003) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho- UFRJ. Os controles foram selecionados a partir do serviço de Ecocardiografia de clínicas particulares, com a colaboração do Dr. Rodrigo Fraguas França (médico ecocardiografista). 4.1.1- Critérios de inclusão: 1- pacientes de ambos os sexos 2- idade entre 18 e 75 anos 3- pacientes sem história prévia de doença tireoideana 4.1.2- Critérios de exclusão: 1- pacientes acima de 75 anos 2- crianças 3- gestantes 4- indivíduos com hepatopatias 5- indivíduos com insuficiência renal crônica 6- pacientes em uso de drogas que possam alterar as dosagens do Hormônio tireoestimulante (TSH) e anticorpo anti-tireoperoxidase (ATPO), como por exemplo amiodarona, AAS, heparina, entre outras. 7- História de disfunção tireoideana prévia 4.2- Metodologia Foi realizado um estudo de coorte transversal, onde os pacientes eram avaliados com uma única dosagem de TSH e ATPO. Alguns pacientes não necessitaram das dosagens, pois apresentavam exames recentes no prontuário. Após preencherem os critérios de inclusão ou exclusão, os pacientes eram informados sobre a metodologia do estudo e do termo de consentimento livre e esclarecido-TCLS (anexos 9.3 e 9.4). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho-UFRJ (anexo 9.5). 4.2.1- Avaliação Ecocardiográfica O ecocardiograma era realizado com o paciente em posição supina ou em decúbito lateral esquerdo a 30º. O diagnóstico de prolapso se baseia na visualização direta de um ou ambos os folhetos da valva ultrapassando o plano do anel mitral durante a sístole e se projetando para o interior da cavidade atrial esquerda em maior ou menor grau. O aparelho de ecocardiograma utilizado foi Apogee 800. 4.2.2- Avaliação clínica Foi realizada uma avaliação clínica visando identificar no início do estudo possíveis sintomas relacionados ao hipo e hipertireoidismo, assim como sintomas relacionados ao prolapso. Os dados dos pacientes eram transferidos para uma ficha. (anexo 9.6). 4.2.3- Avaliação laboratorial Foram colhidas amostras de sangue (10ml) de cada paciente de ambos os grupos. O sangue era centrifugado durante 5 min numa rotação de 25000rpm, sendo o soro armazenado e congelado no freezer a – 70ºC no laboratório de imunologia. O hormônio tireoestimulante (TSH) foi dosado pelo método de quimioluminescência, tendo como valor de referência 0,4 a 4,0mcU/Ml (Immulite 2000, 3ª geração). Sensibilidade analítica de 0,004mcU/ml. Variação intra-ensaio de 0,016±0,002 a 39±2mcU/ml e interensaio de 0,016±0,002 a 39±2,5mcU/ml. O anticorpo anti-tireoperoxidase (ATPO) também dosado pelo método de quimioluminescência com valor de referência de 35UI/mL (Immulite DPC). Sensibilidade analítica de 7UI/ml. Variação intra-ensaio de 54±2,3 a 825±46UI/ml e inter-ensaio de 57±6 a 619±65UI/ml. 4.3- Análise estatística Foi utilizado o programa estatístico GraphPad InStat 3.00 para Windows 95 (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, USA). Os indivíduos com prolapso da valva mitral foram comparados com o grupo controle utilizando o teste “t de Student” não pareado e bi-caudado para variáveis contínuas paramétricas e o teste de Mann-Whitney para variáveis não paramétricas. O teste de Fischer foi utilizado para a análise das variáveis categoriais. O limite de significância foi de 5%. 5- RESULTADOS Nos anexo 9.1, 9.2 e encontram-se as características dos pacientes de ambos os grupos estudados, onde destaca-se idade, sexo, a presença ou não de prolapso valvar mitral, tipo de prolaspo, níveis de TSH e ATPO, índice de massa corpórea ( IMC ), etc. Tabela 1: Resultados Sexo (F/M) Idade (anos) IMC (Kg/m2) TSH Anti-TPO > 35 Controle 23/7 45,2 ± 13,8 26,3 ± 4,6 1,77 ± 1,12 2 em 30 Prolapso Mitral 33/7 49,6 ± 15,1 26,8 ± 3,7 2,97 ± 8,2 7 em 40 p 0,56 0,21 0,57 0,72 0,28 5.1- Distribuição por sexo: No grupo do prolapso, dos 40 pacientes 33 (82,5 %) eram do sexo feminino e 7 (17,5%) do sexo masculino. No grupo controle, dos 30 indivíduos, 23 (76,6%) eram do sexo feminino e 7 (23,4%) do sexo masculino. 5.2-Idade: A idade dos pacientes com prolapso variou entre 18 e 75 com uma média de 49,6±15,1 enquanto no outro grupo a média foi de 45,2±13,8. 5.3- Hormônio tireoestimulante: Nos pacientes com prolapso o hormônio tireoestimulante (TSH) variou entre 0,004 e 53,4mcU/mL. No grupo controle o TSH variou entre 0,5 e 5,2mcU/ml. (Ver gráficos nº1 e nº 2 a seguir) GRUPO DO PROLAPSO 10 33 37 41 45 25 28 31 34 29 25 21 17 0,1 13 9 5 1 1 VALOR DE TSH 100 0,01 0,001 GRUPO CONTROLE 22 19 16 13 10 7 4 1 1 VALOR DE TSH 10 0,1 A média do TSH situou-se em torno de 2,97±8,2. Dos 7 (17,5%) pacientes que apresentavam TSH anormal, 4 (10%) apresentavam TSH menor que 0,4mcU/ mL e 3 (7,5%) maior que 4,0mcU/Ml; sendo 2 subclínicos (TSH 4,96 e 5,65) e 1 maior que 50mcu/ml. No grupo controle o TSH a média do TSH foi de 1,77±1,12. Apenas encontramos valores grosseiramente anormais de TSH em nossos pacientes com PVM. No grupo controle 2 indivíduos apresentam TSH de 4,5 e 5,2 Podemos observar a prevalência de disfunção tireoideana no gráfico nº 3 abaixo: PREVALÊNCIA DE DISFUNÇÃO TIREOIDEANA 100,00% 80,00% 60,00% PVM CONTROLE 40,00% 20,00% 0,00% tsh normal tsh >4,0 tsh <0,4 5.4- Anticorpo anti-tireoperoxidase: A prevalência de anticorpo anti-tireoperoxidase positivo no grupo do prolapso foi de 17,5%, ou seja, 7 dos 40 pacientes; dos quais 6 fortemente positivos (5 com ATPO >1000 E 1 ATPO >500).No grupo controle a prevalência de anticorpo positivo foi de 6,6% (2 pacientes do total de 30)., com apenas 1 fortemente positivo(ATPO>1000).Ver gráfico nº 4 a seguir PREVALÊNCIA DE ANTICORPO POSITIVO 20,00% 17,50% 15,00% 10,00% 6,60% 5,00% 0,00% PVM CONTROLE 5.5- Correlação entre disfunção tireoideana e auto-imunidade: Dos pacientes com prolapso (n=7) e TSH anormal, 5 apresentavam anticorpos fortemente positivos (ATPO >1000UI/ml). No grupo controle apenas 2 (6,6%)paciente apresentava valor de TSH acima do limite superior do método, porém sem níveis detectáveis de anticorpos. Ver tabela a seguir: Tabela 2: Correlação entre disfunção tireoideana e anticorpos anti-tireoideanos Identificação Idade Sexo PVM TSH ATPO IMC P2 55 M Posterior 0,25 14 30,1 P5 67 F Anterior 4,96 >1000 31,3 P6 44 F A-posterior 5,65 >1000 30,2 P27 71 F Anterior 0,05 21 23,8 P32 71 M Anterior 0,005 >1000 26 P34 54 M Anterior 0,004 >1000 25 P36 58 F A-posterior 53,4 >1000 24 PVM: prolapso valvar mitral, TSH: hormônio tireoestimulante ATPO: anticorpo anti-tireoperoxidase, IMC: índice de massa corporal F: feminino, M: masculino A-posterior: ântero-posterior 5.6- Índice de massa corporal ( IMC): O IMC não variou muito entre os dois grupos estudados. No grupo controle o IMC permaneceu em torno de 26,3±4,6 a média; enquanto no PVM foi de 26,8±3,71. 5.7- Prolapso de valva mitral: O tipo de prolapso mais freqüente foi o do folheto anterior (50%), seguido pelo folheto ântero-posterior (30%) e posterior (20%). Dos sete pacientes com disfunção tireoideana, quatro (57%) apresentavam prolapso do folheto anterior. 5.8- Sintomas relacionados ao prolapso: A maioria dos pacientes queixava-se de taquicardia (42,5%), seguida por dispnéia (35%), dor torácica (15%). O percentual de pacientes assintomáticos situou-se em torno de 47,5%. 5.9- História de doença auto-imune: Apenas cinco pacientes apresentavam doença auto-imune associada. O lúpus eritematoso sistêmico foi encontrado em três (60%) pacientes, vitiligo em um; e artrite reumatóide mais síndrome de Sjogren em um. Nenhum desses pacientes apresentou disfunção tireoideana ou anticorpo anti-TPO positivo. Tabela 3: Correlação entre doenças auto-imunes e auto-imunidade tireoideana Identificação Idade Sexo PVM TSH ATPO DAI P13 60 F Anterior 1,56 <10 AR/SS P15 45 F Anterior 2,24 10 LES P17 62 F Anterior 1,19 <10 Vitiligo P33 46 F Anterior 2,39 <10 LES P38 50 F Posterior 1,43 24 LES PVM: prolapso valvar mitral, TSH: hormônio tireoestimulante ATPO: anticorpo anti-tireoperoxidase, DAI: doença auto-imune F: feminino, M: masculino 6- DISCUSSÃO: Sabemos que o prolapso valvar mitral é uma doença de curso benigno, cuja prevalência varia de 3 a15% de acordo com a série estudada. [11,53] Em várias amostras o prolapso é mais freqüente no sexo feminino que no masculino, em torno de duas vezes mais. A faixa etária mais acometida é de 20 a 30 anos [53], podendo se estender a qualquer idade. O prolapso do folheto anterior é mais comum. Em nosso estudo também prevaleceu o sexo feminino (82,5%), coincidindo com os dados da literatura. [53] A faixa etária dos nossos pacientes variou entre 18 e 75 anos, mas a média situou-se entre 49,6±15,1; sendo mais elevada que em muitas séries.[53] A maioria dos pacientes (62,5%) tem idade acima de 40 anos. No estudo de Framingham a prevalência de PVM vai decaindo com o avançar da idade, sendo mais acentuada a partir da 50ª década. Freed e col. Também encontraram prolapso valvar clássico numa idade mais avançada (56,7±1,5). Os nossos pacientes são mais idosos, talvez porque foram selecionados de um Hospital universitário e não de uma população em geral. O prolapso valvar mitral do folheto anterior também foi mais freqüente (50%), assim como na literatura. A sintomatologia do prolapso é muito ampla, podendo ser assintomático ou cursar com taquicardia, dispnéia, dor torácica, fadiga, vertigem, síncope, ansiedade, entre outros.[11] Em nosso estudo a maioria relatava taquicardia (42,5%), em seguida dispnéia (35%) e dor torácica (15%). Freed e col. Encontraram uma prevalência maior de dispnéia e dor torácica. Alguns estudos de base relatam que os pacientes com PVM apresentam um índice de massa corporal (IMC) baixo, e pouca gordura subcutânea[53], e apresentam biótipo longilíneo. O IMC da nossa amostra permaneceu em torno de 26,8±3,7; contrariando algumas referências.[ 10,11] Desde a década de 90 que estudiosos têm associado o prolapso valvar mitral com a doença tireoideana auto-imune (DTAI), tanto a doença de Graves como a tireoidite de Hashimoto. Channick e col, avaliaram a prevalência de PVM nas duas afecções. Os pacientes com t. de Hashimoto (n=75) eram submetidos a exame ecocardiográfico mono e bidimensional, assim como o grupo controle (n=50). A prevalência de PVM nos pacientes com tireoidite linfocítica crônica foi de 41%, enquanto no grupo controle foi de 8%.O anticorpo anti-tireoglobulina foi detectado em 17(23%) dos 75 pacientes, e antimicrossomal em 44(59%). Os níveis de anticorpos antimicrossomal não diferiam entre os pacientes com e sem PVM, embora os pacientes com prolapso apresentassem níveis mais elevados de anticorpos anti-tireoglobulina (p< 0.005). Um aumento significativo do acúmulo de mucopolissacarídeo normalmente encontrado na superfície da válvula, talvez possa ser mediado por auto-anticorpos.[40] Em outro estudo o mesmo pesquisador avaliou a prevalência de prolapso em pacientes com doença de Graves (n=40) comparados a um grupo controle (n=40). Alguns pacientes com doença de Graves, no momento do estudo estavam em hipertireoidismo (n=9), enquanto a maioria (n=31) já havia recebido tratamento ( radiodo, cirurgia ou droga antitireoideana ) e não estava em hipertireoidismo. Dos 40 pacientes com doença de Graves, 17(43%) tinham PVM; e no grupo controle apenas 7(18%). A prevalência do prolapso não diferiu entre aqueles que eram hipertireoideos no momento da avaliação, aqueles que foram no passado, ou aqueles em hipotireoidismo após o tratamento. [13] No Brasil, Alvarado e col. estudaram 32 pacientes com doença de Graves em várias fases (eutireoidismo e hipertireoidismo) comparado a um grupo controle (n=40), sendo que a freqüência de prolapso nos pacientes com Graves não diferiu entre os dois grupos, mas era maior que no grupo controle. Os pacientes eram divididos em dois grupos: 16 em hipertiroidismo, e 16 em eutireoidismo (por droga antitireoideana ou cirurgia). A freqüência de anticorpo anti-microssomal foi similar entre os dois grupos de pacientes com doença de Graves. A freqüência de PVM em hipertireoideos (31%) não foi significativamente diferente dos eutireoideanos(25%). O estudo levantou a hipótese do prolapso não depender do estado da função tireoideana, o mesmo poderia ser devido a depósito de glicoseaminoglicano na válvula; conseqüente ao aumento do tônus adrenérgico, anormalidades parassimpáticas ou alto “turnover” do tecido conectivo durante o estado de tireotoxicose.[1] Evangelopoulou e col. relacionaram o prolapso e AITD com vários índices de doenças auto-imunes. Os pacientes foram separados em quatro grupos: 29 com doença de Graves, 35 com T. de Hashimoto, 20 com bócio de origem não auto-imune e 30 indivíduos normais. Todos foram submetidos a ecocardiograma mono e bidimensional, para avaliar a presença de prolapso mitral. O prolapso foi encontrado em 8(28%) dos pacientes com doença de Graves, em 8(23%) com tireoidite de Hashimoto, em 2(10%) com bócio e nenhum no grupo controle. Encontraram aumento de anticorpo anti-nuclear(ANA) nos pacientes com prolapso e T. de Hashimoto, assim como uma incidência maior de anticorpo anti-cardiolipina. A associação do PVM com anticorpos de doenças auto-imunes não-órgão específicas sugere que este possa ser uma doença auto-imune. O folheto mitral anterior era mais espesso nos pacientes com Graves e t. de Hashimoto.[22] Em nosso estudo invertemos a situação, e avaliamos a disfunção tireoideana e presença de auto-imunidade tireoideana nos pacientes com prolapso comparados a um grupo controle. O nosso objetivo é saber se o PVM pode ser uma doença auto-imune, e se cursa com alteração da função tireoideana. Utilizamos as dosagens de TSH para avaliar o grau de disfunção tireoideana e ATPO como marcador de auto-imunidade. Dos 40 pacientes com PVM, 7 apresentavam níveis anormais de TSH; sendo 4 (10%) com TSH menor que 0,4mcU/Ml e 3 (7,5%) maior que 4,0mcU/ml. O hipertireoidismo subclínico foi mais prevalente. O estudo do Colorado encontrou uma prevalência de 9,5% de níveis de TSH elevados e 2,2% de TSH diminuído.[12] A prevalência de anticorpo anti-tireoperoxidase positivo, que caracterizaria a doença tireoideana auto-imune foi maior no grupo do prolapso (17,5%), comparado ao grupo controle(6,6%). A nossa prevalência coincide com a mesma descrita por Prummel, onde varia de 12-26% em indivíduos eutireoideanos.[49] O estudo NHANES III relatou que 11,3% dos 17000 indivíduos sem doença tireoideana conhecida, apresentavam anti-TPO positivo.[27] O anticorpo era mais freqüente com uma idade mais avançada. Nossos pacientes apresentam no geral uma idade mais avançada. Correlacionamos a disfunção e auto-imunidade tireoideana nos pacientes com PVM. Observamos que dos sete (17,5%) pacientes com níveis anormais de TSH, cinco apresentavam anticorpo anti-tireoperoxidase positivo. Desses 5 pacientes, 3 apresentavam prolapso do folheto anterior da valva mitral. Alguns dos nossos pacientes também apresentam outras doenças auto-imunes como, lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatóide (AR), síndrome de Sjogren (SS) e vitiligo. Dos cinco pacientes com prolapso e doença auto-imune não-órgão específica, nenhum apresentou disfunção tireoideana ou auto-imunidade tireoideana. Sabemos que as doenças auto-imunes não-órgão específicas podem evoluir com disfunção e/ou auto-imunidade tireoideana[29], e o inverso também pode acontecer. Em nosso estudo apesar da prevalência elevada de anticorpos (p=0,28), e de disfunção tireoideana (p=0,72) não podemos considerar o resultado significativo; pois a amostra é pequena. O estudo de coorte é transversal, apenas com uma única dosagem de TSH e anti-TPO. Talvez com estudo longitudinal o resultado possa ser diferente. Não sabemos se o PVM precede ou não o aparecimento de disfunção e/ou auto-imunidade tireoideana. 7- CONCLUSÕES: 1- Em nossa amostra prevaleceu o sexo feminino, no grupo do prolapso e no grupo controle. 2- Encontramos uma prevalência similar entre os valores de TSH acima de 4mcU/ml nosdois grupos, valores abaixo de 0,4mcU/ml foram encontrados apenas no grupo do prolapso. 3- A prevalência de anticorpo anti-tireoperoxidase no grupo do prolapso foi maior, embora não considerado estatísticamente significativo. 4- A maioria dos pacientes com prolapso e disfunção tireoideana, apresentava anticorpos anti-tireoperoxidase positivos. 5- Apesar de alguns pacientes com prolapso apresentarem doenças auto-imunes sistêmicas, nenhum apresentava disfunção tireoideana ou anticorpo positivo. 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Alvarado A, Ribeiro JP, Freitas FM, Gross JL. Lack of association between thyroid function and mitral valve prolapse in graves disease. Brazilian J Med Biol Res. 1990;23: 133-139. 2. 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