UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS AVALIAÇÃO DE FÁRMACOS ANTI-HIPERTENSIVOS NA RESPOSTA VASCULAR DA ANGIOTENSINA-(1-7) EM RATOS SUBMETIDOS À SOBRECARGA PRESSÓRICA ÁLVARO PAULO SILVA SOUZA GOIÂNIA-GO 2014 i ÁLVARO PAULO SILVA SOUZA Avaliação de fármacos anti-hipertensivos na resposta vascular da Angiotensina-(1-7) em ratos submetidos à sobrecarga pressórica Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Biologia. Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique de Castro Co-orientadora: Profª. Dra. Elizabeth Pereira Mendes GOIÂNIA-GO 2014 ii ÁLVARO PAULO SILVA SOUZA Influência de fármacos anti-hipertensivos na resposta vascular da Angiotensina-(1-7) em ratos submetidos à sobrecarga pressórica BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Dr. Paulo César Ghedini Universidade Federal de Goiás _____________________________________________ Prof. Dra. Luiza Antas Rabelo Universidade Federal de Alagoas _____________________________________________ Prof. Dra. Elizabeth Pereira Mendes Co-Orientadora Universidade Federal de Goiás _____________________________________________ Prof. Dr. Carlos Henrique de Castro Orientador Universidade Federal de Goiás Aprovada em: ____/____/________ iii “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” Carlos Drummond de Andrade “Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.” Carlos Drummond de Andrade iv Dedicatória À Deus, Por estar sempre ao meu lado, me dando sabedoria e abençoando minhas decisões. Aos meus pais, Por terem todo o cuidado e carinho na minha formação pessoal e intelectual. Apesar de todas as dificuldades que passamos, através do amor, dignidade, humildade e respeito, conquistamos juntos mais um degrau na minha vida. Aos meus irmãos, À minha irmã Ana Paula e meu irmão Adriano, que me acompanharam e me apoiaram incondicionalmente desde o início da minha graduação. O carinho e compreensão de vocês foram fundamentais para chegarmos juntos até aqui. Ao meu tio e à minha tia, Sebastião e Cleide, Pelo apoio incondicional na minha formação pessoal e profissional. Vocês foram peças fundamentais pelo que sou hoje. Aos meus primos, Em especial quero agradecer a minha prima Dielly pelo apoio pessoal, por sempre acreditar nos meus sonhos e objetivos, o apoio psicológico foi fundamental nesse processo. À minha namorada Márcia, Apesar de ter acompanhado apenas o final desse processo na minha vida, você conhece bem toda a história, seu amor, carinho e compreensão foram de grande importância até aqui. v Agradecimentos Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, pela oportunidade de realizar esse estudo, oferecendo todo suporte necessário. Ao meu orientador, Professor Dr. Carlos Henrique de Castro, pela brilhante orientação e ensino que me proporcionou durante estes anos, fundamentais à minha formação acadêmica e profissional. A minha co-orientadora, Professora Dra. Elizabeth Pereira Mendes, por sempre estar disposta a ajudar, obrigada pelos conselhos, aprendizado e suporte na parte experimental. Ao Professor Dr. Diego Basile Colugnati, pelas orientações paralelas, incentivo e suporte nos experimentos realizados no Laboratório de Fisiologia de Órgãos Isolados. Ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás, na pessoa do Professor Cirano José Ulhoa, atual diretor da instituição, por ter possibilitado a realização deste trabalho. Ao Professor Dr. Robson Augusto Souza dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, pelo apoio e contribuição designados a este trabalho. Aos colegas Larissa Matuda Macêdo e Allancer Divino de Carvalho Nunes, pelo auxílio com os experimentos de registro de Pressão Arterial Média e coração isolado de ratos, respectivamente. Aos colegas Deny Bruce, Gisele Maria, Juliana Porto e Jonathas Almeida pela colaboração e inicio de parte desse estudo. Aos colegas que também trabalham com vaso isolado de ratos, e zelam pela qualidade de bons experimentos. A todos os professores e colegas de laboratório do Núcleo Integrado de Neurociência e Fisiologia Cardiovascular/UFG, sem os quais não haveria trabalho em equipe e inúmeras discussões sobre Fisiologia. vi SUMÁRIO Lista de Abreviaturas e Símbolos ...................................................... viii Lista de Figuras ................................................................................. x Lista de Tabelas ............................................................................... xii Resumo ............................................................................................. xiii Abstract ............................................................................................. xv 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 17 1.1 Sistema Renina Angiotensina ........................................................... 18 1.2 Angiotensina-(1-7) ............................................................................ 20 1.3 Sistema Vascular .............................................................................. 22 1.4 Fármacos anti-hipertensivos ............................................................. 27 2 OBJETIVOS ..................................................................................... 32 2.1 Geral ................................................................................................. 32 2.2 Específicos ....................................................................................... 32 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................ 33 3.1 Animais ............................................................................................. 33 3.2 Coarctação da aorta abdominal ........................................................ 33 3.3 Tratamento dos Animais ................................................................... 33 3.4 Registro da Pressão Arterial ............................................................. 34 3.5 Reatividade Vascular ........................................................................ 34 3.5.1 Protocolo Experimental ..................................................................... 36 3.6 Análise Estatística ............................................................................ 37 4 RESULTADOS ................................................................................. 38 4.1 Avaliação da Pressão Arterial .......................................................... 38 4.2 Avaliação do bloqueio do receptor AT1 nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica............................................................................................ 39 4.2.1 Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Losartan in vivo..................................... 4.3 40 Influência do Inibidor da ECA nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica........ 42 vii 4.3.1 Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Captopril in vivo .................................... 4.4 42 Influência do bloqueador de canal de cálcio, Anlodipino, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica ....................................................................... 44 4.4.1 Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Anlodipino in vivo.................................. 4.5 44 Influência do possível ativador da ECA 2, DIZE, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica............................................................................................ 47 4.5.1 Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com DIZE in vivo ........................................... 4.6 47 Envolvimento do receptor AT1 in vitro nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica .......................................................................................... 4.7 48 Influência do Inibidor da ECA, captopril, in vitro nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica ......................................................................................... 4.8 50 Influência do bloqueador de canal de cálcio, Anlodipino, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica ...................................................................... 51 5 DISCUSSÃO ...................................................................................... 52 6 CONCLUSÕES ................................................................................. 57 7 REFERÊNCIAS ................................................................................. 59 viii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS A-779, D-Alanine-Ang-(1-7) ACh, Acetilcolina AKT ou PKB, Proteína Quinase B Ang I, Angiotensina I Ang II, Angiotensina II Ang III, Angiotensina III Ang IV, Angiotensina IV Ang-(2-8), Angiotensina –(2-8) Ang-(1-7), Angiotensina-(1-7) Ang-(1-9), Angiotensina-(1-9) Anlo, Anlodipino APA, Aminopeptidase AT1, Receptor de Angiotensina II Tipo 1 AT2, Receptor de Angiotensina II Tipo 2 BCC, Bloqueador de Canal de Cálcio BH4, Tetrahidrobiopterina ARA,Antagonista de Receptor de Angiotensina I Cap, Captopril CoA, Coarctado DAG, Diacilglicerol DAP, Dipeptidil-Aminopeptidase DIZE, Aceturato de Diminazeno DVC, Doença Cardiovascular ECA, Enzima Conversora de Angiotensina ECA 2, Enzima Conversora de Angiotensina 2 EDCF’s, Endothelium-derived contracting factors EDFH, Fator Hiperpolarizante derivado do endotélio EDRF’s, Endothelium-derived relaxing factors eNOS, Óxido Nítrico Sintase endotelial ET, Endotelina GC, Guanilato Ciclase ix GMPc, Monofosfato Cíclico de Guanosina GPCRs, Receptores Acoplados a Proteína G Hemo, Ferro protoporfirinaIX iECA, inibidor da Enzima Conversora de Angiotensina IP3, Trifosfato de Inositol HAS, Hipertensão Arterial Sistêmica Los, Losartan NADPH, Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato Reduzida NEP, Endopeptidase Neutra ou Neprilisina NPS, Nitroprussiato de sódio PAM, Pressão Arterial Média PCP, Prolil-carboxipeptidases PEP, Proplil-endopeptidase PGI2, Prostaciclina Phe, Fenilefrina PKG, Proteína Quinase G SRA, Sistema Renina-Angiotensina TXA2, Tromboxano A2 x LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 -Taxas de mortalidade por DCV e suas diferentes causas no Brasil. Figura 2 - Ilustração do sistema renina-angiotensina mostrando as vias de formação das angiotensinas e seus receptores. Figura 3 -Ilustração mostrando a estrutura da parede arterial. Figura 4 – Esquema representando a reação catalisada geral e co-fatores de NOS. Figura 5 -Ilustração representando a via de formação do NO e seus alvos intracelulares. Figura 6 -Ilustração do Sistema Renina-Angiotensina mostrando pontos de regulagem onde há um aumento ou bloqueio de atividade enzimática e bloqueio de receptores. Figura 7 - Diagrama esquemático de uma preparação de anel de aorta de ratos em banho de órgãos isolados. Figura 8 - Ilustração representativa do protocolo experimental de anéis de aorta de ratos submetidos ao tratamento crônico ou agudo. Figura 9 - Efeito do tratamento crônico com losartan 1 mg/kg/dia (A) ou 5 mg/kg/dia (B) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Figura 10 - Curva concentração-resposta de Ach e NPS em anéis de aorta de ratos. (A) Efeito vasorrelaxante da ACh no tratamento in vivo 1mg/kg/dia e (B) 5mg/kg/dia por 21 dias com losartan. Efeito vasorrelaxante do NPS no tratamento in vivo de 1mg/kg/dia (C) e 5mg/kg/dia (D) por 21 dias com losartan. Figura 11 - Efeitos do Captopril na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com captopril (1 mg/kg/dia) ou (B) (5 mg/kg/dia) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Figura 12 - Efeitos do Captopril na resposta vasorrelaxante da ACh (A) Efeito do tratamento in vivo com captopril 1mg/kg/dia ou (B) 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (C) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com captopril 5mg/kg/dia. Figura 13 - Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com Anlodipino (1 mg/kg/ dia) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. (B) Efeitos do tratamento com Anlodipino 5mg/kg/dia na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. xi Figura 14 -Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da ACh e NPS.(A) Efeito do tratamento in vivo com anlodipino 1mg/kg/dia (B) 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (C) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com anlodipino 1mg/kg/dia e (D) 5mg/kg/dia. Figura 15 - Efeitos do DIZE na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com DIZE (1 mg/kg/dia) ou (B) (5 mg/kg/dia) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Figura 16 - Efeitos do DIZE na resposta vasorrelaxante da ACh. (A) Efeito do tratamento in vivo com DIZE 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (B) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com DIZE 5mg/kg/dia. Figura 17- Efeitos do pré-tratamento (10 min) com losartan (10 -6 mol / L).(A) sozinho ou em associação com (B), A-779 (10-6 mol / l) ou (C) com L-NAME (10-6 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Figura 18- Efeitos do captopril na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeitos do pré-tratamento (10 min) com captopril (10 -6 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Figura 19- Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeitos do pré-tratamento (10 min) com Anlodipino (10 -6 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. xii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classes de anti-hipertensivos disponíveis para uso clínico. Tabela 2 - Composição da solução de Krebs-Hanseleit. Tabela 3 - Valores de Pressão Arterial Média de animais Sham e CoA tratados com veículo, losartan, captopril, anlodipino e DIZE 1 e 5 mg/kg/dia. xiii RESUMO Segundo a Organização Mundial de Saúde (2013), as doenças cardiovasculares (DCV) são as maiores causas de morte no mundo, sendo a Hipertensão Arterial um dos principais fatores de risco. O Sistema Renina-Angiotensina (SRA) é um sistema fundamental para a regulação das funções cardiovasculares. Dentre os componentes do SRA, podemos destacar a Angiotensina-(1-7) [Ang-(1-7)]. Sabe-se que o efeito vasodilatador da Ang-(1-7) é dependente do endotélio. A hipertensão arterial acarreta conseqüências sobre a estrutura vascular, de forma especial no endotélio, acarretando a disfunção endotelial, nesta condição o efeito vasodilatador da Ang-(1-7) fica prejudicado. No entanto, tem sido demonstrado que algumas classes de anti-hipertensivos (BRA, iECA e BCC) são importantes na melhora da função endotelial. Porém, ainda não se sabe se estes fármacos podem melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) em condições de sobrecarga pressórica. Como diversos trabalhos tem apontado a Ang-(1-7)/ Receptor Mas como um potencial terapêutico para as doenças cardiovasculares, é de grande importância um melhor conhecimento sobre a influência de fármacos anti-hipertensivos nos efeitos vasculares da Ang-(1-7). Desta forma, a proposta do trabalho foi avaliar a influência de fármacos anti-hipertensivos nos efeitos vasculares da Angiotensina-(1-7) em ratos submetidos à sobrecarga pressórica. Para isto, ratos Wistar foram submetidos à coarctação da aorta abdominal (CoA). Como controles, foram utilizados animais onde foi realizado o procedimento cirúrgico fictício (Sham). Decorridos 21 dias da coarctação, a pressão arterial (PA) foi registrada pela canulação da artéria carótida. Posteriormente, o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) foi avaliado em anéis de ratos CoAcom ou sem o pré-tratamento agudo (in vitro) de losartan 1 µmol/L, captopril 1 µmol/L ou anlodipino 1 µmol/L. Para avaliar o efeito do tratamento crônico (in vivo), os animais receberam os seguintes tratamentos: losartan 1 ou 5 mg/kg/dia, captopril 1 ou 5 mg/kg/dia, anlodipino 1 ou 5 mg/kg/dia ou DIZE 1 ou 5 mg/kg/dia.Ao final do tratamento, os anéis de aorta de ratos foram isolados para a realização da curva de Ang-(1-7). Os animais CoA apresentaram aumento da PA e nenhum dos tratamentos foi capaz de reduzir a pressão arterial. A sobrecarga pressórica diminuiu o relaxamento induzido por Ang-(1-7) nos anéis de aorta isolados. O pré-tratamento in vitro com losartan, captopril ou anlodipino restaurou o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7). Entretanto, em anéis de aorta de ratos CoA pré-tratados “in xiv vitro” com losartan e A-779 ou losartan e L-NAME, tiveram o vasorrelaxamento promovido por Ang-(1-7) abolido. Já o tratamento in vivo nos animais CoA com losartan 1 mg/kg/dia, captopril 1 mg/kg/dia, anlodipino 1 mg/kg/dia ou DIZE 1 e 5 mg/kg/dia não foram efetivos em melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). No entanto, o tratamento com losartan 5 mg/kg/dia, captopril 5 mg/kg/dia ou anlodipino 5 mg/kg/dia melhorou a resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em animais CoA. Estes resultados demonstram que o tratamento in vitro ou in vivo com alguns antihipertensivos (losartan, captopril ou anlodipino) foi capaz de melhorar o vasorrelaxamento promovido por Ang-(1-7) em aorta de animais submetidos à sobrecarga pressórica por mecanismos independentes da pressão arterial. Portanto, a utilização de Ang-(1-7) associada a doses sub-pressóricas de fármacos antihipertensivos pode ser uma nova ferramenta terapêutica para o tratamento da hipertensão arterial. Palavras-Chave: Hipertensão Arterial, Sistema Renina-Angiotensina, Angiotensina(1-7), Sistema Vascular, Fármacos anti-hipertensivos xv ABSTRACT According to the World Health Organization (2013), cardiovascular diseases (CVD) are the major causes of death worldwide. High blood pressure is the main risk factors for these diseases. The Renin-angiotensin System (RAS) is a important regulator of the cardiovascular functions. Among the components of the RAS, we can highlight the Angiotensin-(1-7) [Ang (1-7)]. It is known that the vasodilator effect of Ang-(1-7) is endothelium-dependent. Hypertension cause changes in the vascular structure and function, especially in the endothelium cells, leading to endothelial dysfunction and, consequently, impairment in the vasodilator effect of Ang (1-7). However, it has been shown that some classes of antihypertensive drugs (Angiotensin II receptor blockers, angiotensin-converting enzyme inhibitors and Calcium channel blocker) improve the endothelial function. However, it is unknown if these drugs are able to improve the vasorelaxant effect of Ang-(1-7) in pressure-overload condition. Since several studies have pointed to Ang-(1-7)/Mas axis as a therapeutic potential for cardiovascular disease, is very important to understand the influence of the antihypertensive drugs on the vascular effects of Ang-(1-7). Thus, the purpose of this study was to evaluate the influence of antihypertensive drugs on the vascular effects of Angiotensin-(1-7) in pressure-overload rats. Wistar rats were submitted to abdominal aorta coarctation (ACo). Sham surgery was performed in the controls group. After 21 days of coarctation, blood pressure (BP) was recorded by carotid artery catheterization. Subsequently, the vasorelaxant effect of Ang-(1-7) were evaluated in aortic rings with or without acute pre-treatment (in vitro) of losartan 1 µmol/L, captopril 1 µmol/L or amlodipine 1 µmol/L. To evaluate the effect of chronic treatment (in vivo), the ACoanimals received the following treatments after surgery procedure: losartan 1 or 5 mg/kg/day, captopril 1 or 5 mg/kg/day, amlodipine 1 or 5 mg/kg/day, or DIZE 1 or 5 mg/kg/day. At the end of treatment, the aortic rings were isolated and the vasorrelaxant effect of Ang-(1-7) was evaluated. The increase of the BP was confirmed in the ACo rats. None of the treatment was able to reduce the blood pressure in ACo rats. Pressure overload decreased the relaxation induced by Ang (1-7) in isolated aortic rings. The in vitro pretreatment with losartan, captopril or amlodipine restored the vasorelaxant effect promoted by Ang-(1-7). A-779 or LNAME blunted the vasorelaxant effect of Ang-(1-7) in aortic rings from CoA rats in xvi presence of losartan. The in vivo treatment with losartan 1 mg/kg/day, captopril 1 mg/kg/day, amlodipine 1 mg/kg/day or DIZE 1 and 5 mg/kg/day was not effective in improving the vasorelaxant effect of Ang (1-7) in CoA aortic rings. However, losartan 5 mg/kg/day, captopril 5 mg/kg/day or amlodipine 5 mg/kg/day improved the vasorelaxant effect of Ang-(1-7) in aortic rings from CoA rats. These results demonstrate that treatment in vitro or in vivowith some antihypertensive drugs (losartan,captopril and amlodipine) was able to improve the vasorelaxation effect of Ang (1-7) in the aorta from pressure-overloaded animals through mechanisms independent of blood pressure reduction. Therefore, the use of Ang-(1-7) associated with sub-pressor doses of antihypertensive agents may be a new therapeutic tool for the hypertension treatment. Keywords: Hypertension, Renin-Angiotensin System, Angiotensin- (1-7), Vascular System, antihypertensive drugs 17 1- INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (2013), as doenças cardiovasculares (DCV) são as maiores causas de morte no mundo, sendo responsáveis por um terço de todas as mortes (W.H.O, 2013). Apesar dos grandes avanços da medicina nos últimos anos, com novas intervenções cirúrgicas e farmacológicas estarem reduzindo as taxas de morte por DCV, estas continuam a ser um importante problema de saúde pública (1). Neste cenário um dos principais fatores de risco para as DCV é a hipertensão arterial sistêmica (HAS). A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados da pressão arterial. Na maioria dos casos é assintomática, sendo freqüentemente associada às alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvos (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) aumentando assim o risco de eventos cardiovasculares (2). No Brasil, a prevalência da HAS é acima de 30%, sendo que em homens chega a aproximadamente 36%, enquanto que em mulheres fica próximo de 30%. Além disso, a HAS representa 12,8% da taxa de mortalidade de todas as DCV no Brasil (3) (Figura 1). O principal objetivo da terapia farmacológica anti-hipertensiva é diminuir os riscos associados à pressão arterial, sem afetar a qualidade de vida do paciente. A escolha da terapia é baseada na eficácia da redução da pressão arterial e outros riscos cardiovasculares. No entanto, uma das dificuldades em se normalizar rapidamente a pressão arterial é que a monoterapia muitas vezes é insuficiente. Vários estudos têm mostrado que dois ou mais agentes anti-hipertensivos são necessários para atingir o objetivo do tratamento em pacientes hipertensos (4,5). Existem várias classes de fármacos utilizados no tratamento da hipertensão, tais como os diuréticos, β-bloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), antagonista de receptor de angiotensina II (ARAII), bloqueadores de canais para cálcio (BCC), bloqueadores α-adrenérgicos e inibidor de renina.Dentre estes, destacam-se os moduladores da atividade do Sistema Renina Angiotensina (SRA).Os inibidores da ECA e ARA II são efetivos, bem tolerados e utilizados em larga escala para o tratamento da HAS. Além destes fármacos já amplamente utilizados na clínica,alguns estudos têm mostrado que a 18 ativação do eixo ECA2/Angiotensina-(1-7)/Mas apresenta grande potencial terapêutico para o tratamento da hipertensão (6–8). Figura 1. Taxas de mortalidade por DCV e suas diferentes causas no Brasil.AVE - Acidente Vascular Encefálico; DIC - Doença Isquêmica do Coração; HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica. [Fonte: VI diretriz de hipertensão, 2010 (3)] 1.1 – Sistema Renina Angiotensina O Sistema Renina Angiotensina (SRA) é um dos principais reguladores fisiológicos da pressão arterial e equilíbrio hidroeletrolítico (9). Além disso, o desequilíbrio neste sistema está relacionado a diversas doenças cardiovasculares (10). Os primeiros estudos sobre o SRA foram realizados por Robert Tigerstedt e seu orientando Per Bergman em 1896, onde observaram que extrato de rim de coelho,administrados por via intravenosa aumentava a pressão arterial. Posteriormente, mostrou-se que o efeito pressor do extrato renal foi devido a uma substância protéica a qual nomearam de Renina (apud, 10). Em 1956 descobriu-se que o produto da ação da renina era um decapeptídeo.No entanto, estudos posteriores mostraram que a substância ativa era um octapeptídeo, a angiotensina II (11,12). Mais tarde, no final dos anos 80,T. Goodfriend e colaboradores descreveram os receptores para Ang II, AT1 e AT2. Entretanto, as pesquisas sobre os receptores de Ang II ganharam impacto com o desenvolvimento de antagonistas específicos. O 19 grupo de Timmerman produziu um antagonista específico para o receptor AT1 (Losartan) e o grupo de Parke-Davis produziu um antagonista específico para receptor AT2 (PD123177 e PD123319)(13). A ativação do SRA ocorre principalmente pela atividade da enzima renina.Esta enzima é uma aspartil protease,armazenada e secretada por células justaglomerulares da arteríola glomerular aferente. A forma ativa da renina é uma glicoproteina com 340 aminoácidos. A secreção desta enzima é estimulada por queda da pressão de perfusão renal, diminuição da concentração de sódio nos túbulos distais do néfron e por excitação do nervo simpático renal via estimulação αadrenérgica nas células justaglomerulares(14). A renina apresenta grande ação catalítica sobre o Angiotensinogênio, uma α2-globulina com 452 aminoácidos (15), considerado o único precursor dos peptídeos angiotensinérgicos. O Angiotensinogênio é secretado principalmente pelo fígado, embora possa ser sintetizado e secretado em baixas concentrações por outros tecidos como coração, vasculatura e rim(14). A clivagem do Angiotensinogênio pela renina produz a Ang I. A Ang I, por sua vez, é clivada em Ang II pela ECA, uma enzima contendo 1278 aminoácidos em sua estrutura. Esta cliva subunidades dipeptídicas de várias seqüências protéicas (15,16). Outras enzimas também podem promover a formação de Ang II a partir da Ang I ou do Angiotensinogênio, como a quimase, a tonina, catepsina A e a catepsina G(Figura 2) (16–18). A Ang II, um dos principais peptídeos biologicamente ativos do SRA, exerce seus efeitos se ligando aos receptores AT 1 e AT2(19,20). Seus principais efeitos são mediados pelo receptor AT1, incluindo vasoconstrição, aumento do stress oxidativo, mudança na sensibilização do cálcio citosólico, proliferação celular,síntese e secreção de Aldosterona e reabsorção tubular de sódio (20). Por outro lado, a ativação do receptor AT2 promove, dentre outros efeitos, inibição da proliferação celular, apoptose e vasodilatação (21).Em condições patológicas, a hiper-ativação do receptor AT1 pode induzir diversos efeitos deletérios no Sistema Cardiovascular, como a vasoconstrição sistêmica, disfunção endotelial, fibrose e hipertrofia cardíaca (16,22).Também foram identificadas importantes ações periféricas e centrais induzidas por peptídeos menores, antes considerados fragmentos inativos como a Ang III, a Ang IV e principalmente a Ang-(1-7) (23–25). 20 1.2-Angiotensina-(1-7) A Angiotensina-(1-7) [Ang-(1-7)], um heptapeptídeo com ausência da fenilalanina na posição 8 do peptídeo Ang II, é considerada um importante componente ativo do SRA. Ele pode ser gerado a partir da Ang I por via independente da ECA (9)ou, principalmente, pela clivagem da Ang II por ação da enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2) (26). Os primeiros estudos sobre Ang-(1-7) ocorreram na década de 80. Santos et al. (1988), utilizando homogenato de cérebro de cães, avaliaram a atividade da ECA e a presença de subprodutos da Angiotensina I. Foi observado que a Ang I radiomarcada era hidrolisada em Ang-(1-8), Ang-(2-8) e Ang-(1-7) e a hidrólise de Ang II radiomarcada produzia, principalmente, Ang-(1-7). Além disso, demonstrou-se um acúmulo rápido do heptapeptídeo, tanto antes quanto após o bloqueio da atividade da ECA, o que sugeriu a existência de rotas alternativas independentes de Ang II para produção de Ang-(1-7). Essas rotas alternativas podem incluir carboxipeptidases e prolyl-endopeptidases.No mesmo ano, Schiavone et al. (1988) publicaram o primeiro relato de uma ação biológica de Ang-(1-7) in vitro. Um ano depois, utilizando cromatografia líquida de alta eficiência extraiu-se angiotensinas do cérebro, glândula supra-renal e plasma de ratos, registrando pela primeira vez, a presença da Ang-(1-7) no sistema central e periférico (28).Sugeriu-se, assim, que a Ang-(1-7) seria um novo membro ativo e não mais um simples metabólito do SRA. Complementando esses estudos, Campagnole-Santos et al., (1989) descreveram a primeira ação in vivo de Ang-(1-7), neste trabalho pioneiro observouse uma queda da pressão arterial quando a Ang-(1-7) foi microinjetada na medula dorsal e no núcleo do trato solitário (NTS) de ratos anestesiados. Posteriormente, estudos de Jaiswal et al. (1992) mostraram que a Ang-(1-7) foi capaz de liberar prostaglandinas de células endoteliais e/ou células do músculo liso de aorta de porco. Além disso, observou-se que Ang-(1-7) liberava as prostaglandinas na presença de antagonistas específicos para os receptores AT1 e AT2, gerando assim, os primeiros indícios de que Ang-(1-7) apresentava um receptor específico. 21 Figura 2. Ilustração esquemática do Sistema renina-angiotensina mostrando as vias de formação das angiotensinas e seus receptores.ECAEnzima Conversora de Angiotensina; ECA2, Enzima Conversora de Angiotensina 2; NEP, Endopeptidase Neutra; PCP, Prolil-carboxipeptidase; PEP, Prolilendopeptidase, APA, Aminopeptidase A; APN, Aminopeptidase N;AT, Receptor para a Angiotensina.[Adaptado de FERREIRA et al., 2012 (15), LAUTNER et al., 2013 (17)]. Isto foi confirmado por Santos et al. (2003), que descreveram o proto oncogen e Mas como sendo o receptor para Ang-(1-7).Utilizando-se aorta de camundongos deficientes de receptor Mas observou-se que a resposta vasorrelaxante induzida pela Ang-(1-7) foi ausente. Além disso, utilizando-se Ang-(1-7) radiomarcada em rins de ratos foi demonstrou-se que a mesma se liga ao receptor Mas, membro da família de receptores acoplados à proteína G (31). 22 A principal via de formação de Ang-(1-7) foi descrita por dois grupos distintos no ano de 2000, quando foi identificada a ECA2. Esta apresenta 42% de homologia com a ECA. Estudos de imuno-histoquímica mostraram que ECA2 é encontrada predominante no endotélio dos vasos coronários e intra-renal e no epitélio tubular renal. Esta enzima é capaz de hidrolisar a leucina de Ang I para gerar Ang-(1-9), a qual é convertida em peptídeos menores incluindo a Ang-(1-7) por ação da ECA (32,33). Porém, o principal papel da ECA2 está relacionado com a clivagem da Ang II, pois sua afinidade catalítica é 400 vezes maior do que para Ang I (26,34) Através de vários estudos, observa-seque o coração e os vasos sanguíneos são os principais alvos de atuação da Ang-(1-7) (35,36). A Ang-(1-7), via receptor Mas, promove diversos efeitos opostos aos induzidos pela Ang II, como vasodilatação, anti-fibrótico e anti-hipertróficos (1,22). O efeito vasodilatador da Ang-(1-7) já foi descrito em vários leitos vasculares, incluindo arteríolas aferentes renais de coelhos (37), artérias cerebrais de cães (38), artérias coronárias de suínos (39), anéis de aorta de ratos (40,41)e camundongos (42–44).Castro et al., (2005) demonstraram o efeito vasodilatador coronariano da Ang-(1-7) em corações isolados de camundongos pré-perfundidos com antagonista do receptor AT1, losartan.Esse efeito foi ausente em camundongos “knockout” para o receptor Mas.É importante ressaltar que o efeito vasodilatador de Ang-(1-7) é dependente do endotélio (42). 1.3-Sistema Vascular A parede arterial é composta por três componentes concêntricos distintos a partir da luz vascular: a íntima, a média e a adventícia (Figura 3). A íntima é a camada mais interna do vaso, sendo formada principalmente por células endoteliais que cobrem a superfície interna da parede formando um leito contínuo em contato com o sangue. A média contém exclusivamente células do tipo muscular lisa e os constituintes extracelulares: fibras elásticas, fibrilas de elastina, fibrilas de colágeno e proteoglicanos. E a adventícia é composta por tecido conjuntivo e fibras colágenas tipo I. Podem-se distinguir dois tipos de artérias, de acordo com a arquitetura da média: as elásticas, em que há predomínio de material elástico, como a aorta, o 23 tronco braquiocefálico e a carótida. O outro tipo são as musculares onde se observa o predomínio de células musculares lisas, tais como braquial, femoral e radial (45). Dentre estas camadas, o endotélio exerce grande importância nas funções vasculares. O conhecimento sobre a função endotelial vascular mudou muito a partir da década de 80, quando Furchgott e Zawadzki,1980 (45),demonstraram que a célula endotelial modula o tônus vascular. Em seu trabalho foi demonstrado que o relaxamento de anéis isolados de aorta torácica de coelho e outros vasos sanguíneos induzido por acetilcolina (ACh)requeria células endoteliais íntegras. Além disso, observou-se que a ACh, via receptores muscarínicos, estimulava a liberação de substâncias que provocavam o relaxamento do músculo liso vascular, sendo este efeito um dos principais mecanismos na vasodilatação induzida por ACh in vitro (46). Portanto, o endotélio contribui para a regulação do tônus vascular por liberar vasodilatadores como as prostaciclinas e o fator relaxante derivado do endotélio (47) Sendo o endotélio a camada de células que reveste a parede interna dos vasos sanguíneos, ele ocupa uma localização estratégica entre a circulação e os tecidos. Assim, as células endoteliais são capazes de perceber mudanças nas forças hemodinâmicas (pressão de pulso, estresse de estiramento) e responder a mediadores produzidos localmente ou circulantes (48,49). O endotélio libera um grande número de substâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras. Dessa forma o tônus vascular é mantido por um equilíbrio entre essas substâncias. As células endoteliais produzem Fatores Contráteis Derivados do Endotélio, do inglês “Endothelium-derived Contracting Factors (EDCFs)” como a Endotelina (ET) e Tromboxano A2 (TXA2) além de mediadores circulantes que atuam no sistema vascular e promovem o aumento no cálcio intracelular mediando à contração do músculo liso. O relaxamento dependente do endotélio também ocorre em resposta a diferentes substâncias, conhecidas como Fatores Relaxantes Derivados do Endotélio, do inglês “Endothelium-derived Relaxing Factors (EDRFs)” (50). Dentre estes se destacam o Óxido Nítrico (.NO) (51,52), Prostaciclina (PGI2) (53) e Fator Hiperpolarizante Derivado do Endotélio (EDFH) (54,55). Estes fatores relaxantes induzem vasodilatação por diminuição da concentração de cálcio intracelular nas células do músculo liso vascular. 24 Uma das mais importantes moléculas de sinalização responsável pela modulação do tônus vascular é o.NO(56).Essa molécula é sintetizada a partir do aminoácido L-arginina por ação de uma família de enzimas denominadas sintase de óxido nítrico (NOS) (57,58). A presença de cofatores como tetrahidrobiopterina (BH4), FAD, FMN e ferro protoporfirina IX (Hemo) são essenciais para atividade das isoformas da NOS. Figura 3. Ilustração mostrando a estruturada parede arterial de aorta torácica. A partir da luz do vaso encontra-se a túnica íntima, túnica média e túnica adventícia respectivamente. (Adaptado de http://www.s-cool.co.uk/a-level/biology/transport/revise-it/transport-in-mammals) Três isoformas da enzima NOS foram descobertos e clonados: uma isoforma constitutiva neuronal ( nNOS ); uma isoforma induzível (iNOS ), presente em várias células; e uma isoforma endotelial ( eNOS ). A importância das diferentes isoformas está bem demonstrado em modelos animais e em humanos demonstrando a importância destas enzimas (59) . A isoforma eNOS depende de cofatores que catalisam a reação de L-arginina, NADPH e oxigênio para o radical livre .NO, L-citrulina e NADP+. Os elétrons são 25 doados pelo NADPH para o domínio da redutase da enzima e prosseguem através do FAD e FMN, então eles interagem com o grupo Hemo e BH4 no local ativo para catalisar a reação do oxigênio com L-arginina via isoforma do óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), gerando L-citrulina e .NO como produtos (Figura 4)(60). Além disso, a NOS na presença desses cofatores, promove um aumento rápido de sua atividade em resposta a ativação de receptores por substâncias vasoativas como a acetilcolina (ACh). Após a interação dos agonistas a seus receptores acoplados a proteína G, ocorre ativação da fosfolipase C que degrada o fosfolipídio de membrana fosfatidilinositol-4,5-bifosfato (PIP2)formando principalmente diacilglicerol (DAG) e trifosfato de inositol (IP3). Estes têm função de aumentar a concentração intracelular de Ca2+, favorecendo a interação Ca2+-Calmodulina estimulando a NOS a produzir.NO(61). Figura 4. Esquema representando a reação catalisada geral e co-fatores de NOS.Elétrons (e-) são doados por NADPH para o domínio redutase da enzima e prosseguem via FAD e FMN até o domínio oxigenase. Lá eles interagem com o ferro heme e BH4 no local ativo para catalisar a reação do oxigênio com a L-arginina, gerando L-citrulina e NO como produtos [Adaptado de ALDERTON et al., 2001(57)]. Os efeitos vasodilatadores nitrosos são mediados pelo aumento dos níveis intracelulares de monofosfato cíclico de guanosina (GMPc) devido a ativação da Guanilato Ciclase solúvel (GCs) um heterodímero que contém o grupo heme e sintetiza o GMPc(58). Uma vez sintetizado, o .NO é difundido das células endoteliais 26 para o músculo liso vascular e ativa a GCs. A atividade basal da GC é extremamente baixa, mas quando o.NO se liga à porção heme, a atividade aumenta acima de 400 vezes (62). O aumento da concentração intracelular de GMPc aumenta a atividade de proteínas quinases (PKGs) dependentes de GMPc. PKGs em seguida, promovem a fosforilação de outras importantes proteínas (fosfolambam, 1,4,5 trifosfato de inositol (IP3) e canal para K+cálcio-dependente), resultando em uma diminuição da concentração de Ca2+ intracelular e conseqüentemente vasodilatação (Figura 5) (63). Além do efeito vasodilatador, .NO também inibe a proliferação de células musculares lisas, migração e adesão de leucócitos ao endotélio e agregação de plaquetas (56). Algumas condições patológicas como lesão vascular, doenças metabólicas, deficiências de substrato essencial (L -arginina) e cofatores (por exemplo, tetrahidrobiopterina) contribuem para a diminuição da biodisponibilidade da eNOS levando portanto, a um prejuízo na função do endotélio vascular (64). Além disso, a hipertensão arterial, juntamente com outros fatores de risco cardiovasculares, compromete a função endotelial e diminui a liberação de .NO por vários mecanismos que afetam sua síntese (65). A disfunçãoendotelial é definida como uma diminuição da resposta vasodilatadora dependente do endotélio e está relacionadaprincipalmente, com a diminuição da disponibilidade de .NO, uma vez que, sua liberação ocorre pelas células endoteliais (10).O endotélio vascular tem uma estreita ligação com o SRA.Estudos prévios mostraram que esta camada vascular é um dos principais locais de produção (66)e metabolismo (67) da Ang-(1-7), além de expressar também a ECA2 e receptor Mas(68,69). Os efeitos vasodilatadores da Ang-(1-7) são dependentes do endotélio, sendo mediados através da produção de vasodilatadores, como Prostanóides, .NO e Fator Hiperpolarizante Derivado do Endotélio (31,69,70). Em curto prazo, a infusão de Ang-(1-7) melhora a função endotelial por um mecanismo que também envolve a liberação de NO(71). Por outro lado, demonstrouse que a deleção genética do receptor Mas resultou em disfunção endotelial associada a um desequilíbrio entre o estresse oxidativo e a liberação de NO(72).Além disso, observou-se que a ativação do receptor Mas pela Ang-(1-7) estimulou a eNOS em células endoteliais humanas através de uma via dependente 27 da proteína quinase AKT (69). Estes dados mostram um papel essencial do eixo ECA2/Ang-(1-7)/receptor Mas na modulação das funções vasculares. Figura 5. Ilustração representando a via de formação do NO e seus alvos intracelulares.O estimulo da eNOS pela acetilcolina e pelo shear stress gera o aumento na produção de óxido nítrico (NO) em células endoteliais. O NO se difunde do endotélio para o músculo liso ativando Guanilato Ciclase que desencadeia o restante da cascata. Por outro lado, a disfunção endotelial acarreta em estimulo direto da acetilcolina sobre as células do músculo liso vascular, causando vasoconstrição. A vasoconstrição aumenta o Shear Stress, que é o estímulo fisiológico mais potente para a produção de .NO. No entanto, uma célula endotelial com sua função prejudicada não vai responder com a produção normal de NO.[Adaptado de HERRMANN et al., 2010 (60)] 1.4– Fármacos anti-hipertensivos Estudos clínicos demonstraram que o diagnóstico e tratamento precoce da HAS são fundamentais para a redução dos eventos cardiovasculares. O principal objetivo do tratamento da HA é a redução da morbidade e da mortalidade por 28 doenças cardiovasculares. Assim, os anti-hipertensivos devem reduzir a pressão arterial e também os eventos cardiovasculares. A escolha do medicamento é variável (tabela 1), pois depende de uma triagem clínica (3). Numerosos estudos clínicos têm demonstrado a importância na redução da PA, especialmente em pacientes com alto risco cardiovascular(4,5). Devido ao seu importante papel no controle cardiovascular, a modulação do SRA tornou-se uma estratégia terapêutica fundamental no controle da hipertensão arterial, tanto na monoterapia ou com associações, por sua eficácia na redução dosefeitos deletérios da hipertensão arterial (19,73). Inibidores da enzima conversora de Angiotensina (iECA) reduzem a formação de Ang II inibindo a conversão de Ang I em Ang II por estas enzimas. Os antagonistas dos receptores da angiotensina (ARA) antagonizam receptores AT1 evitando-se a ligação de Ang II (1). Na última década, iniciou-se o uso do inibidor da Renina para o controle da HAS (74). Classes Diuréticos Agonistas alfa-2 centrais Betabloqueadores– bloqueadores β-adrenérgicos Alfabloqueadores– bloqueadores α-1 adrenérgicos Vasodilatadores diretos Bloqueadores dos canais de cálcio Inibidores da enzima conversora da angiotensina Bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II Inibidor direto da renina Fármacos Representantes Hidroclorotiazida, Furosemida Clonidina Atenolol; Propanolol Doxazosina Propatilnitrato Nifedipino, Anlodipino Captopril, Enalapril Losartan, Olmesartan Alisquereno Tabela 1 - Classes de anti-hipertensivos disponíveis para uso clínico [Fonte: adaptado de: VI diretriz de hipertensão, 2010 (3)] Além disso, novos alvos terapêuticos com capacidade de aumentar a atividade enzimática da ECA2 têm surgido como uma estratégia para proteção contra doenças cardiovasculares. A ECA2 diminui os níveis de Ang II circulante formando mais Ang-(1-7), assim promovendo ações benéficas para o sistema cardiovascular (Figura 6) (75,76). Além de fármacos que envolvem o controle do SRA, os bloqueadores de canais para cálcio (BCC) também são importantes agentes anti-hipertensivos. A principalação promovida por estes fármacos, principalmente as diidropiridinas, é 29 oefeito vasodilatador em vasos de resistência, resultando na redução da pós-carga ventricular (77–79). No entanto, vários estudos vêm demonstrando também um efeito antioxidante de alguns BCC no endotélio vascular (65,80). Observou-se que BCC reduzem a geração de superóxido nas células endoteliais estimuladas por Ang II por inibir a formação do ânion superóxido (81). Já é bem estabelecido que os diferentes tipos de fármacos anti-hipertensivos são efetivos quando utilizados sozinhos no tratamento da HAS. Porém, combinações terapêuticas (com doses menores às usadas na monoterapia) têm se mostrado mais eficazes na redução da PA e melhora nos órgãos alvos (4,65). Em geral, quando se combina as classes terapêuticas no tratamento da hipertensão, a efetividade aumenta aproximadamente cinco vezes na redução da PA em relação ao aumento da dose de um só fármaco (4). Antagonistas do receptor AT1 quando combinados com BCC além de serem amplamente utilizados como fármacos hipotensores, promovem vaso-proteção por diminuir o stress oxidativo. Além disso, a associação destes fármacos demonstra ser mais efetiva sobre o remodelamento vascular do que a monoterapia (65,80,82). Em adição, ARA melhoram significativamente o perfil de tolerabilidade do BCC. ARA neutraliza parcialmente o edema periférico, que é um dos efeitos colaterais que limita o aumento das doses dos BCCs. Sugeriu-seque o edema seja desencadeado pela dilatação arteriolar, o que resultaria no aumento do gradiente de pressão através das membranas de capilares em algumas regiões do corpo. Supõe-se que BRA neutralize este efeito através da venodilatação(4). Outro estudo mostra que os primeiros anti-hipertensivos a serem utilizados em larga escala foram os iECA, por apresentarem efeitos hipotensores relevantes clinicamente (83). Embora sua eficácia seja bem conhecida quanto monoterapia, quando associado com BCC tem-se um efeito sinérgico, aumentando os níveis de . NO. Por outro lado a combinação entre iECA e diuréticos não altera os níveis de . NO (65). Estudos clínicos mostram que a associação de anlodipino e um antagonista do SRA produzem reduções significativamente maiores na pressão arterial do que qualquer agente isolado (84,85). Estudos sugerem que a ativação da ECA2 pode ser uma importante ferramenta para o tratamento da hipertensão. O Aceturato de Diminazeno DIZE foi capaz de diminuir a pressão arterial média (PAM) em ratos SHR tratados 30 cronicamente (76). Além disso, o tratamento com DIZE diminuiu a área do infarto no miocárdio de ratos Sprague Dawley, atenuou o remodelamento do ventrículo esquerdo pós-infarto agudo no miocárdio e restaurou o equilíbrio normal do Sistema Renina-Angiotensina cardíaco.(86). Figura 6. Ilustração do Sistema renina-angiotensina mostrando pontos de regulagem onde há um aumento ou bloqueio de atividade enzimática e bloqueio de receptores.ECA, Enzima Conversora de Angiotensina; ECA2, Enzima Conversora de Angiotensina 2; NEP, Endopeptidase Neutra; PCP, Prolil-carboxipeptidase; PEP, Prolilendopeptidase, AT, Receptor de Angiotensina ( Adaptado de SHI et al., 2010; DASGUPTA; ZHANG, 2011). Como descrito anteriormente, sabe-se que o efeito vasodilatador promovido pela Ang-(1-7) via receptor Mas é endotélio dependente(89,90) e que a hipertensão acarreta conseqüências na estrutura vascular, especialmente no endotélio, 31 acarretando a disfunção endotelial (91). Dessa forma, diminui a vasodilatação dependente da Ang-(1-7). Além disso, tem sido demonstrado que algumas classes de anti-hipertensivos (ARA, iECA e BCC) são importantes na melhora da função endotelial (82). No cenário exposto, ainda não se sabe se estes fármacos podem melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) em vasos de animais submetidos à sobrecarga pressórica. Como diversos trabalhos tem apontado o eixo Ang-(1-7)/ Receptor Mas com potencial terapêutico para as doenças cardiovasculares (16,22,68), é de grande importância um melhor conhecimento sobre a influência de fármacos antihipertensivos nos efeitos vasculares da Ang-(1-7). Desta forma, a proposta do trabalho foi avaliar os efeitos de fármacos antihipertensivos nas ações vasculares da Angiotensina-(1-7) em ratos submetidos à sobrecarga pressórica. 32 2- OBJETIVOS 2.1- Geral: Avaliar os efeitos de fármacos anti-hipertensivos nas ações vasculares da Angiotensina-(1-7) em ratos submetidos à sobrecarga pressórica. 2.2-Específicos: ▪ Avaliar as alterações causadas pela sobrecarga pressórica nos efeitos da Ang-(17) sobre reatividade vascular em anéis isolados de aortas de ratos ▪ Avaliar os efeitos do tratamento crônico e agudo com o antagonista do receptor de angiotensina 1, losartan, nas ações da Ang-(1-7) em anéis isolados de aorta de ratos submetidos à sobrecarga pressórica. ▪ Avaliar os efeitos do tratamento crônico e agudo com o inibidor da enzima conversora de angiotensina,captopril, nas ações da Ang-(1-7) em anéis isolados de aorta de ratos submetidos à sobrecarga pressórica. ▪ Avaliar os efeitos do tratamento crônico do ativador da Enzima Conversora de Angiotensina 2, DIZE, nas ações da Ang-(1-7) em anéis isolados de aorta de ratos submetidos à sobrecarga pressórica. ▪ Avaliar os efeitos do tratamento crônico e agudo do bloqueio dos canais para cálcio, anlodipino, nas ações da Ang-(1-7) em anéis isolados de aorta de ratos submetidos à sobrecarga pressórica. ▪ Avaliar a participação do óxido nítrico nas ações da Ang-(1-7) em anéis isolados de aorta de ratos submetidos à sobrecarga pressórica tratados com o antagonista de receptor AT1, losartan, in vitro. 33 3- MATERIAIS E MÉTODOS 3.1-Animais Utilizou-se ratos Wistar adultos, pesando entre 200-300 gramas, provenientes do Biotério Central do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás. Forneceu-se acesso livre de água e comida aos animais. Estes foram alocados no Laboratório de Manutenção de Animais para Ensino e Pesquisa do Departamento de Ciências Fisiológicas/ICB/UFG com temperatura e intensidade de luz controladas (12 horas claro/12 horas escuro).Todos os protocolos utilizados foram submetidos à aprovação na Comissão de Ética no Uso de Animais da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás (CEUA/UFG), sob nº 179/09. 3.2- Coarctação da Aorta Abdominal A sobrecarga pressórica foi induzida pelo modelo de coarctação de aorta abdominal (CoA). Os animais foram anestesiados com uma solução de tribromoetanol 250 mg/kg intraperitoneal (i.p.). A incisão foi realizada na parede abdominal esquerda, a 1,5 cm da coluna vertebral. Após identificação da aorta, na porção cranial às duas artérias renais, uma linha cirúrgica foi passada sobre a mesma, uma agulha 21G foi colocada sobre a aorta e um nó foi dado sobre a agulha e o vaso. A agulha foi retirada imediatamente deixando a aorta constrita com o seu diâmetro interno semelhante ao da agulha (0,8 mm). Posteriormente, a parede abdominal foi suturada e os animais receberam administração do antibiótico Megacilin plus Super® 350 µL/Kg. No grupo controle (sham), foi realizado um procedimento cirúrgico semelhante ao anterior, porém sem a constrição da aorta abdominal. Após o período de 21 dias, os animais foram eutanasiados para a realização dos experimentos subseqüentes. 3.3-Tratamento dos Animais Para avaliar o efeito do tratamento crônico com os anti-hipertensivos nas ações vasculares da Ang-(1-7), os animais coarctados foram submetidos aos seguintes 34 tratamentos: Veículo (água, 1mL); losartan 1 mg/kg/dia ou 5 mg/kg/dia; captopril 1 mg/kg/dia ou 5 mg/kg/dia; anlodipino 1 mg/kg/dia ou 5 mg/kg/dia ou DIZE 1 mg/kg/dia ou 5 mg/kg/dia por 21 dias. 3.4-Registro da Pressão Arterial No dia anterior à eutanásia, realizou-se a canulação da artéria carótida dos animais para o registro da pressão arterial. Os animais foram anestesiados com solução de quetamina (70 mg/kg) e xilazina (6 mg/kg) por via intraperitoneal e uma incisão na altura da traqueia foi realizada. Após dissecação, a artéria carótida direita foi cuidadosamente isolada do nervo vago e tecidos adjacentes. O fluxo sanguíneo da porção distal da artéria carótida foi interrompido com uma ligadura, enquanto o fluxo na porção proximal foi obstruído temporariamente com o auxílio de uma pinça. Realizou-se um corte na região medial da carótida e um cateter de polietileno (PE50 estirado) heparinizado foi introduzido na artéria e devidamente fixado. Posteriormente, a pele foi suturada e o cateter foi exteriorizado para acesso pelo dorso do animal. Após 24 horas, a pressão arterial foi registrada por 30 minutos. Este registro foi realizado utilizando-se um conversor analógico digital (PowerLab/400,ADInstruments, Austrália) numa freqüência de amostragem de 1000 Hz. 3.5-Reatividade Vascular A avaliação da reatividade vascular foi realizada utilizando-se a técnica de Banho de órgãos isolados (Figura 7). Os anéis de aorta torácica descendente superior à constrição, livre de tecido adiposo e conectivo, foram montados em solução de Krebs-Henseleit oxigenada (95% O2 + 5% CO2) e mantida a uma temperatura de 37 ºC. A composição da solução nutridora utilizada para o banho do anel de aorta isolada (Solução de Krebs-Henseleit) está detalhada na tabela 2. 35 Figura 7- Diagrama esquemático de uma preparação de anel de aorta de ratos em banho de órgãos isolados. A preparação é mantida em solução de Krebs-Henseleit carbogenada (95% O2, 5% CO2) e aquecida a ±37ºC, com uma tensão de 1,5g. (adaptado de OGUZHAN YILDIZ, 2013) COMPOSTO CONCENTRAÇÃO EM mmol/L NaCl 118,6 KCl 4,6 KH2PO4 0,9 MgSO4.7H2O 2,4 CaCl2.2H2O 3,3 Dextrose Anidra (Glicose) 11,1 NaHCO3 24,9 Tabela 2. Composição da solução de Krebs-Henseleit. Para a obtenção dos vasos, os animais foram eutanasiados por decapitação 10 minutos após serem heparinizados (400 UI de heparina). Uma vez exposta a 36 cavidade torácica a aorta torácica descendente foi retirada e dividida em anéis de 4mm. Os anéis de aorta foram mantidos a uma tensão de 1,5 g por um período de 1 hora para estabilização da preparação. A atividade mecânica foi registrada isometricamente usando um sistema de aquisição de dados (Dataq Instruments, EUA). Avaliou-se a integridade do endotélio calculando-se a porcentagem de relaxamento induzido pela acetilcolina (10 µM) nos vasos pré-contraídos com fenilefrina (0,1 µM). Os anéis foram considerados viáveis para a realização dos experimentos quando foi alcançado no mínimo 40% de contração e acima de 80% de relaxamento.Para avaliar a musculatura lisa dos anéis de aorta, o endotélio vascular foi removido através do atrito mecânico da superfície interna do vaso com uma haste metálica. 3.5.1-Protocolo experimental O efeito da Ang-(1-7) foi avaliado em vasos pré-contraídos com fenilefrina(0,1 µM). A Ang-(1-7) foi adicionada em concentrações cumulativas 10-10 a 10-6 mol/l após o efeito da fenilefrina ter se estabilizado. Para avaliar a influência do tratamento in vitro dos fármacos anti-hipertensivos nos efeitos da Ang-(1-7), os anéis de aorta dos ratos coarctados foram préincubados 10 minutos antes da adição da fenilefrina com: (I) losartan 1 µmol/L, (II) captopril 1 µmol/L ou (III) anlodipino 1 µmol/L. Para avaliar a participação do receptor Mas e o envolvimento do mesmo nas ações da Ang-(1-7), os vasos do grupo losartan foram pré-tratados com o antagonista para este receptor, A-779. O possível envolvimento do .NO foi avaliado incubando-se os vasos do grupo losartan com inibidor L-NAME (inibidor da enzima óxido nítrico sintase). Curvas de concentraçãoresposta foram realizadas quando necessário (Figura 8). A figura 8 representa de forma esquemática os protocolos utilizados neste trabalho. 37 Figura 8. Ilustração representativa do protocolo experimental de anéis de aorta de ratos submetidos ao tratamento crônico ou agudo. 3.6- Análise Estatística O software utilizado para a análise dos dados obtidos foi o GraphPadPrism 5.0®. Para a análise da pressão arterial média, foi realizado o teste One way ANOVA seguido do pós-teste de Newman-Keuls. Para a análise da reatividade vascular, foi feito o teste Two Way ANOVA seguido do pós-teste LSD de Fisher. Os dados foram expressos como média ± erro padrão da média (EPM). As diferenças foram consideradas significativas quando P<0,05. 38 4- RESULTADOS 4.1 – Avaliação da Pressão Arterial Média. Para confirmar se o modelo experimental de coarctação da aorta abdominal foi eficaz em promover a sobrecarga pressórica e se os tratamentos alteraram a pressão arterial, realizou-se o registro da pressão arterial através da canulação da artéria carótida (Tabela 3). Resultados prévios do nosso laboratório demonstraram que o tratamento com losartan 1 mg/kg/dia em animais CoA não alteram a PAM. De forma semelhante, os tratamentos com losartan 5 mg/kg/dia, captopril 1 e 5 mg/kg/dia, anlodipino 1 e 5 mg/kg/dia e DIZE 1 e 5mg/kg/dia também não foram capazes de diminuir a PAM dos animais CoA. Grupos Pressão Arterial Média N Sham 106,70 ± 1,68 15 CoA + Veículo 151,93 ± 6,55 * 19 CoA + Losartan 5 mg/kg/dia 153,40 ± 8,46* 6 CoA + Captopril 1 mg/kg/dia 138,10 ± 11,75* 6 CoA + Captopril 5 mg/kg/dia 139,60 ± 8,82* 6 CoA + Anlodipino 1 mg/kg/dia 149,60 ± 9,84* 7 CoA + Anlodipino 5 mg/kg/dia 151,8 ± 7,33* 5 CoA + DIZE 1 mg/kg/dia 148,40 ± 6,92* 10 CoA + DIZE 5 mg/kg/dia 133,52 ± 10,36* 5 Tabela 3. Valores de Pressão Arterial Média de animais Sham e CoA tratados com veículo, losartan, captopril, anlodipino e DIZE 1 e 5 mg/kg/dia. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por One Way ANOVA seguido pelo pós-teste de Newman-Keuls. *p<0,05 quando comparados aos animais Sham. CoA: coarctação de aorta abdominal 39 4.2 – Avaliação do bloqueio do receptor AT1 nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica Inicialmente, observou-se que a Ang-(1-7) induziu relaxamento significativo nos anéis de aorta de animais Sham. Este efeito foi reduzido em aorta de ratos CoA(Figura 9A). Para avaliar se o tratamento com losartan era capaz de melhorar a resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7), primeiramente os animais foram tratados durante os 21 dias após o procedimento de coarctação com losartan 1 mg/kg/dia. Observou-se que este tratamento não restaurou o relaxamento da aorta induzida por Ang-(1-7) (Figura 9A). No entanto, o tratamento com losartan 5 mg/kg/dia melhorou o relaxamento induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA( Figura 9B). 0 0 B A 5 % Relaxamento % Relaxamento 5 *# 10 *# 15 *# 20 *# *# *# *# *# Sham, n=10 CoA, n=8 CoA + Los 1mg/kg, n=11 25 30 -10 -9 -8 -7 -6 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) * 10 * * * * * 15 20 * * * * * * * Sham, n=13 CoA, n=12 CoA + Los 5mg/kg, n=6 25 30 -5 * * -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 9 – Efeito do tratamento crônico com losartan 1 mg/kg/dia (A) ou 5 mg/kg/dia (B) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. * p<0,05 comparados com CoA, # p<0,05 comparados com CoA+Los 1mg/kg/dia.Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher. CoA: coarctação de aorta abdominal. ACh: acetilcolina. Los: losartan. 40 4.2.1 – Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Losartan in vivo Para determinar se os animais submetidos a sobrecarga pressórica apresentaram disfunção endotelial e/ou disfunção na musculatura lisa da aorta torácica, realizou-se curva concentração-resposta de ACh e Nitroprussiato de Sódio (NPS), respectivamente. A resposta vasorrelaxante do NPS foi avaliada em anéis de aorta de ratos sem a presença do endotélio. Observou-se que o efeito vasorrelaxante concentração-dependente induzido por ACh ou NPS foi atenuado em anéis de animais CoA (Figuras 10A, 10C). O tratamento in vivo com losartan 1mg/kg/dia não foi capaz de restaurar a resposta vasorrelaxante de ACh (Figura 10A). Já o tratamento com 5mg/kg/dia melhorou o vasorrelaxamento promovido por ACh (Figura 10B). O tratamento in vivo com losartan 1 mg/kg/dia (Figura 10C) melhorou o vasorrelaxamento promovido por NPS em anéis de aorta de animais CoA. Este efeito não foi observado com losartan 5 mg/kg/dia (Figura 10D). 41 0 0 A B # 20 % Relaxamento % Relaxamento 20 * 40 *+ 60 *+ 80 -9 -8 -7 -6 # # 40 60 * * Sham, n=12 * CoA, n=11 CoA + Los 5mg/kg, n=6 100 -5 -9 -4 -8 D % Relaxamento % Relaxamento # 0 20 40 60 + * 80 120 -6 -5 -4 -20 0 100 -7 * Log [Ach] (mol/L) Log [Ach] (mol/L) C # * 80 Sham, n=9 *+ + CoA, n=9 * + CoA + Los 1mg/kg, n=7 * 100 # * + + Sham (-), n=6 * * CoA (-),n=6 * * * CoA + Los 1mg/kg (-), n=6 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 40 *# 60 *# 80 120 -4 # 20 100 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) # Sham (-), n=6 *# # * *# # # CoA (-), n=4 * * CoA + Los 5mg/kg (-), n=6 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) Figura 10 –Curva concentração-resposta de Ach e NPS em anéis de aorta de ratos. (A) Efeito vasorrelaxante da ACh no tratamento in vivo 1mg/kg/dia e (B) 5mg/kg/dia por 21 dias com losartan. Efeito vasorrelaxante do NPS no tratamento in vivo de 1mg/kg/dia (C) e 5mg/kg/dia (D) por 21 dias com losartan.Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido do pós-teste de LSD de Fisher. * p<0,05 quando comparados aos animais CoA, + p<0,05 comparados com CoA + Los crônico 1mg/kg, # p< 0,05 comparados com CoA + Los crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. Ach: acetilcolina. Los: Losartan. NPS: Nitroprussiato de Sódio 42 4.3 – Influência do Inibidor da ECA nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica Tendo em vista que o antagonismo do receptor AT1 com losartan 5mg/kg/dia in vivo, melhorou a resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7), avaliou-se se outros fármacos anti-hipertensivos também poderiam estar envolvidos na melhora da resposta vascular da Ang-(1-7) em ratos CoA. A Figura 11A mostra que o tratamento crônico de 1mg/kg/dia de captopril não melhorou o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). No entanto, quando animais foram tratados com 5mg/kg/dia. Deste fármaco, houve uma significativa melhora na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) (Figura 11B). 0 % Relaxamento 5 B *# 10 *# # * # * *# # * *# 15 20 Sham, n=13 Coa, n=12 Captopril Crônico 1 mg/Kg, n=6 25 30 -10 0 5 *# # * % Relaxamento A -9 -8 -7 -6 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) -5 # # # # # # #& 10 # #& #& 15 #& #& #& # #& 20 Sham, n=13 Coa, n=12 Captopril Crônico 5 mg/Kg, n=7 25 30 -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 11 – Efeitos do Captopril na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com captopril (1 mg/kg/dia) e (5 mg/kg/dia) (B) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher. # & p<0,05 comparados com CoA,* p<0,05 comparados com CoA+Cap crônico 1mg/kg/dia, p<0,05 comparados com CoA+Cap crônico 5mg/kg/diaCoA: coarctação de aorta abdominal. Ang-(1-7): angiotensina (1-7). Cap: Captopril. 4.3.1 – Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Captopril in vivo Como observado na figura 12A o tratamento crônico com captopril 1 mg/kg/dia não melhorou o efeito vasorrelaxante da ACh em anéis de aorta de ratos 43 CoA. Já o tratamento com este iECA 5 mg/kg/dia (figura 12B) melhorou a resposta vasorrelaxante da ACh nos anéis de aorta destes animais. Além desta ação na resposta vasorrelaxante pela ACh, o tratamento com captopril 5mg/kg/dia também melhorou a resposta vasodilatadora ao NPS (figura 12C). A 0 B 40 * *+ 60 *+ Sham, n=12 *+ CoA, n=11 *+ CoA + Cap. 1 mg/kg, n=6 80 100 -9 -8 -7 -6 # 40 -4 # * # * 60 * Sham, n=12 *& CoA, n=11 *& CoA + Cap. 5 mg/kg, n=7 & -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Ach] (mol/L) -20 * 0 % Relaxamento # 100 -5 # # 80 Log [Ach] (mol/L) C # 20 % Relaxamento % Relaxamento 20 0 * # 20 # 40 # 80 100 120 # * * 60 # # * Sham (-), n=6 * * * CoA (-), n=4 * * CoA + Cap. 5 mg/Kg (-), n=5 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) Figura 12- Efeitos do Captopril na resposta vasorrelaxante da ACh. (A) Efeito do tratamento in vivo com captopril 1mg/kg/dia ou (B) 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (C) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com captopril 5mg/kg/dia.Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido do pós-teste de LSD de Fisher. * p <0,05 comparados com CoA, + p<0,05 comparados com CoA+Cap crônico 1mg/kg, & p<0,05 comparados com CoA+Cap crônico 5mg/kg/dia, # p< 0,05 comparados com CoA+Cap crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. ACh: acetilcolina. Cap: captopril. NPS: Nitroprussiato de Sódio 44 4.4 – Influência do bloqueador de canal para cálcio, Anlodipino, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica O tratamento crônico com Anlodipino 1 mg/kg/dia não foi capaz de restaurar o efeito vasodilatador induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA(Figura 13A) . No entanto, tratamento com 5mg/kg/dia melhorou o relaxamento induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA( Figura 13B). 0 B A 5 *# *# % Relaxamento % Relaxamento 5 *# # * # * # * *#*# *# 10 15 20 Sham, n=13 CoA, n=12 CoA + Anlo 1mg/kg, n=4 25 30 -10 0 -9 -8 -7 -6 * 10 * * * * 15 *& * * * * *& *& 20 30 -5 *& *& & * Sham, n=13 CoA, n=12 CoA + Anlo 5mg/kg, n=6 25 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) * -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 13 – Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com Anlodipino (1 mg/kg/ dia) na resposta vasorrelaxante da ang-(17) em anéis de aorta de ratos CoA. (B) Efeitos do tratamento com Anlodipino 5mg/kg/dia na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA.Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher.* p<0,05 comparados com CoA, # p<0,05 comparados com CoA+Anlodipino crônico 1mg/kg/dia, & p<0,05 comparados com CoA+Anlo crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. Ang(1-7): angiotensina (1-7). Anlo: Anlodipino. 4.4.1 – Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com Anlodipino in vivo Para determinar se o tratamento crônico com Anlodipino 1 mg/kg/dia melhorou a função endotelial e/ou musculatura lisa de anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica foi feito curva dose-resposta de ACh e NPS. A figura 14A mostra que o tratamento com anlodipino 1 mg/kg/dia não melhorou o 45 efeito vasorrelaxante induzido por ACh em anéis de aorta de ratos CoA, mas este efeito foi observado no tratamento com anlodipino 5mg/kg/dia (Figura 14B). Já a figura 14C mostra que o tratamento com anlodipino 1mg/kg/dia não melhorou o efeito vasorrelaxante induzido por NPS. Por outro lado, o tratamento com 5mg/kg/dia promoveu uma melhora do efeito vasorrelaxante promovido por NPS (nas concentrações menores) em anéis de aorta de ratos coarctados (Figura 14D). 46 A 0 B & & 20 40 % Relaxamento % Relaxamento 20 0 * * 60 *# 80 *# Sham, n=12 *# CoA, n=11 CoA + Anlo 1mg/kg,n=4 100 & & & 40 60 * * 80 Sham, n=12 * CoA, n=11 * CoA + Anlo 5mg/kg, n=6 100 -9 -8 -7 -6 -5 & * -4 Log [Ach] (mol/L) -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Ach] (mol/L) -20 -20 C * * 0 20 % Relaxamento % Relaxamento 0 D # 40 *# 60 *# 80 100 120 # Sham (-), n=6 * # * *# * # # CoA (-), n=4 * CoA + Anlo 1mg/kg (-),n=4 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 & 40 *& 60 80 120 -4 *& 20 100 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) & *& * & Sham (-), n=6 * & * *& *& CoA (-), n=4 * CoA + Anlo 5mg/kg (-), n=6 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) Figura 14- Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da ACh e NPS. (A) Efeito do tratamento in vivo com anlodipino 1mg/kg/dia (B) 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (C) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com anlodipino 1mg/kg/dia e (D) 5mg/kg/dia. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido do pós-teste de LSD de Fisher. * p <0,05 comparados com CoA, # p< 0,05 comparados com CoA+Anlo crônico 1mg/kg/dia, &p<0,05 comparados com CoA+Anlo crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. ACh: acetilcolina. Anlo: anlodipino. NPS: Nitroprussiato de Sódio 47 4.5 – Influência do possível ativador da ECA 2, DIZE, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica A figura 15A mostra que o tratamento crônico com 1 e 5mg/kg/dia (Figura 15B) de DIZE não foram capazes de melhorar o efeito vasodilatador de Ang-(1-7). 0 B A * 10 5 *# *# # * 15 20 % Relaxamento % Relaxamento 5 *# *# *# *# # * Sham, n=13 Coa, n=12 CoA DIZE 1 mg/kg, n=6 25 30 -10 0 -9 -8 -7 * *& 10 15 *& *& & * *& *& Sham, n=13 Coa, n=12 CoA DIZE 5 mg/kg, n=7 30 -5 *& 20 25 -6 *& -10 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 15 – Efeitos do DIZE na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeito do tratamento crônico com DIZE (1 mg/kg/dia) e (B) (5 mg/kg/dia) na resposta vasorrelaxante da ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher.* p<0,05 comparados com CoA, # P<0,05 comparados com CoA+DIZE crônico 1mg/kg/dia, &p<0,05 comparados com CoA+DIZE crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. Ang-(1-7): angiotensina (1-7). DIZE: aceturato de diminazeno 4.5.1 – Análise da reatividade vascular em anéis de aorta torácica isolada de ratos CoA tratados com DIZE in vivo Resultados prévios do nosso laboratório demonstraram que o tratamento com 1 mg/kg/dia de DIZE não foi capaz de melhorar o vasorrelaxamento promovido pela ACh nos anéis de aorta dos animais coarctados. No entanto, a figura 16A mostra que o tratamento com 5 mg/kg/dia de DIZE teve uma discreta melhora na função endotelial desses ratos. Já a figura 16B mostra que o tratamento in vivo com DIZE não melhorou a resposta vasodilatadora do NPS. 48 A -20 0 B *# 0 40 % Relaxamento % Relaxamento 20 *# *# 60 * * *# 80 * Sham, n=12 *# Coa, n=11 * # n=10 CoA + DIZE Crônico 5 mg/kg, 100 -9 -8 -7 -6 Log [Ach] (mol/L) -5 -4 *# # 20 # 40 * 60 80 100 120 * Sham (-), n=6 * CoA (-), n=4 * * * CoA + DIZE 5 mg/kg (-),* n=6 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 Log [Nitroprussiato de Sódio] (mol/L) Figura 16- Efeitos do DIZE na resposta vasorrelaxante da ACh e NPS. (A) Efeito do tratamento in vivo com DIZE 5mg/kg/dia em anéis de aorta de ratos CoA. (B) Efeito vasorrelaxante do NPS em anéis de aorta de ratos CoA tratados in vivo com DIZE 5mg/kg/dia. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido # do pós-teste de LSD de Fisher. * p <0,05 comparados com CoA, p<0,05 comparados com CoA+DIZE crônico 5mg/kg/dia. CoA: coarctação de aorta abdominal. ACh: acetilcolina, NPS: Nitroprussiato de Sódio 4.6 – Envolvimento do receptor AT1 in vitro nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica Como foi observado anteriormente, o tratamento in vivo com losartan 1 mg/kg/dia não melhorou o vasorrelaxamento promovido por Ang-(1-7).Entretanto, o tratamento com losartan 5mg/kg/dia melhorou o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de animais CoA. Portanto, avaliou-se os efeitos do antagonismo agudo (in vitro) do receptor AT1. A figura 17A mostra que o prétratamento dos anéis com o antagonista do receptor AT1, losartan, restaurou o relaxamento induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Com a finalidade de investigar a participação do receptor Mas na resposta vasorrelaxante induzida por Ang-(1-7) na presença do losartan, realizou-se curvas concentração-resposta cumulativas com este peptídeo em anéis de aorta de ratos CoA na presença do antagonista para receptor Mas, A-779. Como mostrado na (Figura 17B), o efeito vasorrelaxante induzido por Ang-(1-7) foi ausente na presença do A-779. Para investigar a participação da eNOS no efeito da Ang-(1-7), os anéis 49 foram pré-incubados com L–NAME. Este inibidor aboliu completamente a resposta vasodilatadora da Ang-(1-7) (Figura 17C). 0 B 5 * 10 + * * + 15 * * + + 20 * * * + + 25 -10 -9 -8 -7 -6 $ *$ *$ 10 *$ *$ 15 20 30 -5 *$ *$ *$ *$ CoA, n=8 CoA + Los agudo, n=5 CoA + Los agudo + A-779,n=10 25 + Sham, n=10 + CoA, n=8 CoA + Los agudo, n=5 30 0 5 % Relaxamento % Relaxamento A -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Log [Ang-(1-7)] (mol/L) -5 C % Relaxamento 0 5 *& *& *& 10 15 *& 20 *& *& *& *& CoA, n=8 CoA + Los agudo, n=5 CoA + Los agudo + L-NAME, n=14 25 30 -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 17- Efeitos do pré-tratamento (10 min) com losartan (10-6 mol / L). (A) sozinho ou em associação com (B), A-779 (10-6 mol / l) ou (C) com L-NAME (10-6 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de # + Fisher. * p<0,05 comparados com CoA, p<0,05 comparados com CoA+Los crônico 1mg/kg/dia, $ & p<0,05 comparados com CoA, P< 0,05 comparados com CoA+Los agudo + A-779, p< 0,05 comparados com Los agudo + L-NAME. CoA: coarctação de aorta abdominal. ACh: acetilcolina. Los: losartan. 50 4.7 – Influência do Inibidor da ECA, captopril, in vitro nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos à sobrecarga pressórica Tendo-se em vista que o bloqueio do receptor AT1 in vitro, restaurou a resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7), avaliou-se se outros fármacos antihipertensivos também poderiam estar envolvidos na melhora da resposta vascular da Ang-(1-7) em ratos CoA. Observou-se que o pré-tratamento in vitro com o captopril restaurou o relaxamento induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA(Figura 18A). A 0 % Relaxamento 5 # # 10 # 15 # # # # # 20 Sham, n=13 Coa, n=12 CoA + Cap agudo, n=8 25 30 -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 18 – Efeitos do captopril na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). -6 (A) Efeitos do pré-tratamento (10 min) com captopril (10 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher. # p<0,05 comparados com CoA.. CoA: coarctação de aorta abdominal. Ang-(1-7): angiotensina (1-7). Cap: Captopril. 51 4.8 – Influência do bloqueador de canal para cálcio, Anlodipino, nos efeitos da Ang (1-7) em anéis de aorta isolados de ratos submetidos a sobrecarga pressórica O pré-tratamento in vitro com o bloqueador de canal para cálcio, Anlodipino 1 µM, restaurou o relaxamento induzido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA( Figura 19A). A 0 % Relaxamento 5 * * * * 10 * * * * * * * * * * * Sham, n=13 * * CoA, n=12 * 15 20 25 CoA + Anlo agudo, n=4 30 -10 -9 -8 -7 -6 -5 Log [Ang-(1-7)] (mol/L) Figura 19 – Efeitos do Anlodipino na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7). (A) Efeitos do prétratamento (10 min) com Anlodipino (10-6 mol / L) na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos CoA. Os dados foram expressos em média ± erro padrão da média e analisados por Two Way ANOVA seguido pelo pós-teste LSD de Fisher. * p<0,05 comparados com CoA. CoA: coarctação de aorta abdominal. Ang-(1-7): angiotensina (1-7). Anlo: Anlodipino. 52 5- DISCUSSÃO Os principais achados deste estudo são que (I) o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) foi reduzido em anéis de aorta de animais submetidos a sobrecarga pressórica; (II) o tratamento in vitro com losartan, captopril ou anlodipino (1 µmol/L) ou (III) in vivo com losartan, captopril ou anlodipino (5 mg/kg/dia) melhoraram a resposta vasorrelaxante induzida por Ang-(1-7) em animais CoA. Como esperado a Ang-(1-7) produziu vasorrelaxamento dos anéis de aorta torácica dos ratos controle (Sham). O efeito vasorrelaxante/dilatador da Ang-(1-7) já foi descrito em vários leitos vasculares (37–39), incluindo anéis de aorta de ratos (40,92). As ações vasodilatadoras em anéis de aorta de ratos promovido pela Ang(1-7) foi primeiramente demonstrado por le Tran & Forster (91) , que também mostraram que este efeito é dependente do endotélio. Neste trabalho, observou-se que Ang-(1-7) tem o relaxamento prejudicado em aortas de animais CoA. Stanek et al. (90) mostraram que a coartação da aorta abdominal em ratos promove aumento da pressão arterial e consequentemente, perda da função endotelial. Isto está de acordo com outros trabalhos, que mostram que a hipertensão arterial causa disfunção endotelial em humanos e modelos animais. Taddei et al. (91) demonstraram que na hipertensão arterial humana há redução da biodisponibilidade de .NO através da produção de prostanóides e radicais livres. Esta alteração foi documentantada tanto na macro quanto na microcirculação periférica, coronáriana e renal. Além disso, Takai et al. (79) evidenciaram que ratos espontaneamente hipertensos (SHR) tem disfunção endotelial. No entanto, observou-se que o tratamento com ARA ou iECA em ratos SHR diminuem a pressão arterial, além de melhorar o vasorrelaxamento AChdependente em anéis de aorta, demonstrando-se, assim, uma melhora na função endotelial desses animais (95). Em nosso modelo experimental, o tratamento crônico com losartan 1 mg/kg/dia (dose subpressórica) não foi capaz de restaurar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). Além disso,este tratamento também não melhorou o vasorrelaxamento promovido pela ACh, ou seja,a função endotelial permaneceu prejudicada nesses animais, o que pode explicar , ao menos em parte, a ausência na melhora do efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). Por outro lado, o tratamento crônico com losartan 53 5mg/kg/dia (dose subpressórica) melhorou o efeito vasorrelaxante promovido pela Ang-(1-7). Além disso, o tratamento com losartan nessa dosagem promoveu uma melhora na resposta vasorrelaxante a ACh. Sugere-se, portanto, que há uma melhora na função endotelial e, em paralelo, uma melhora do vasorrelaxamento promovido por Ang-(1-7) (69). Le Tran & Forster (39) mostraram que o losartan foi capaz de melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos sem endotélio. Estes resultados corroboram com os dados obtidos em nosso estudo, onde observou-se que os anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica (CoA) pré-tratados com losartan tiveram o efeito vasorrelaxante promovido pela Ang-(1-7) restaurado. É importante ressaltar que na presença do antagonista do receptor Mas, A779, esse efeito foi abolido, o que mostra que o efeito vasorrelaxante é dependente do receptor Mas. Além disso, a inibição da atividade da eNOS pelo L-NAME aboliu o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) na presença do losartan, sugerindo assim a participação do .NO na resposta da Ang-(1-7). Este resultado também sugere mais uma vez que o tratamento com losartan está relacionado com a melhora da função endotelial. Silva el at. (2007) observaram que tanto em anéis de aorta sem endotélio quanto em anéis de aorta tratados com L-NAME, o efeito vasorrelaxante da Ang-(17) foi abolido.De forma semelhante ao efeito obtido com losartan 5 mg/kg/dia, o prétratamento confirma a melhora obtida com Ang-(1-7) em animais CoA. Esta melhora, provavelmente, também está relacionada com liberação de NO além da produção de prostaglandinas vasodilatadoras (39,40,96). Uma possível hipótese para o efeito in vitro do losartan seria uma possível interação entre receptores angiotensinérgicos. Diferentes grupos vêm propondo um possível antagonismo funcional, crosstalk e/ou oligomerização entre estes receptores. Por exemplo, Kostenis et al. (2005) comprovaram que o receptor Mas pode hetero-oligomerizar com receptor AT 1, e assim diminuir as ações promovidas pela Ang II. Visto que houve uma melhora no vasorrelaxamento de anéis de aorta dos animais CoA pré-tratados com losartan, passamos a avaliar se outros fármacos antihipertensivos teriam efeitos semelhantes. O tratamento in vitro dos anéis de aorta de animais CoA com captopril 1 µmol/L também foi eficiente em restaurar a resposta vasorrelaxante de Ang-(1-7). Em contraste, Silva et al. (2007) demonstraram o inibidor da ECA não alterou o efeito vasorrelaxante de Ang-(1-7) em anéis de aorta 54 de ratos normotensos. Esta diferença para os nossos resultados pode ser decorrente do modelo animal, uma vez que em nosso trabalho foram utilizados ratos hipertensos. O tratamento in vivo com captopril 1 mg/kg/dia por 21 dias também não foi suficiente para melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) prejudicado nos animais CoA. O mesmo foi visto quando avaliou-se a função endotelial, onde nessa dose também não houve melhora na resposta para ACh. No entanto, quando foi realizado tratamento com uma dose maior de captopril, 5mg/kg/dia, observou-se uma melhora na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7), bem como para ACh e NPS. Estes dados sugerem que a melhora na função endotélial e no músculo liso vascular pelo iECA pode estar relacionado à melhora do efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). O efeito do iECA pode ser decorrente de três mecanismos: (I) diminuição da razão angiotensina II/angiotensina I, ou seja, diminuindo Ang II circulante promoveria a vasoconstrição, (II) a redução da Ang II levaria a um aumento da formação de mais Ang-(1-7) através de Ang I e (III) a diminuição na degradação de bradicina pela ECA favoreceria a vasodilatação. Vários trabalhos demonstram que os iECA aumentam os níveis circulantes de Ang-(1-7) (98,99). Kohara et al. (1993) mostraram que o tratamento crônico em ratos Wistar e SHR com iECA aumentaram a atividade de renina e os níveis de Ang I e Ang-(1-7) no plasma, sendo que este heptapeptídeo foi o peptídeo que mais se elevou. Em outro estudo, Deddish et al. (1998) demonstraram que Ang-(1-7) é um substrato seletivo para o domínio N e um inibidor do domínio C da ECA. Isso faz com que esta enzima se torne uma via importante de inativação da Ang-(1-7) circulante e possivelmente tecidual. Neste mesmo estudo foi visto que a Ang-(1-7) potencializa a atividade da bradicinina, porém ela não atua diretamente em receptores cininérgicos. No entanto, a Ang-(1-7) estimula a liberação de ácido araquidônio que, por sua vez, ativa receptores B2, estimulando, assim, a liberação de .NO. Portanto, Ang-(1-7) atua deforma indireta na liberação de NO por receptores B2. Avaliou-se também se o bloqueio do canal de cálcio teria alguma influência no vasorrelaxamento promovido pela Ang-(1-7) em animais submetidos a sobrecarga pressórica. O pré-tratamento in vitro com anlodipino melhorou o vasorrelaxamento promovido pela Ang-(1-7) em animais CoA. Os bloqueadores de canais para cálcio tem como principal ação a diminuição da entrada de cálcio para o meio intracelular, 55 reduzindo-se a atividade contrátil do músculo liso vascular(102). Desta forma, uma hipótese para a melhora do efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7) pelo anlodipino seria pela diminuição da atividade da via responsável pela contração do músculo liso vascular favorecendo assim os mecanismos dilatadores da Ang-(1-7). Observou-se também, que o vasorrelaxamento foi maior nas aortas dos ratos CoA pré-tratadas com Anlodipino quando comparado aos animais “Sham”. Provavelmente, isto pode ser decorrente do menor efeito vasoconstritor promovido pela Phe na presença de Anlodipino, o que influenciou no resultado percentual do relaxamento. Vários trabalhos vêm mostrando também que anlodipino estimula a geração de .NO, exercendo portanto, efeitos cardio e vasculoprotetores (103–105). Neste trabalho, também foi avaliada a influência do tratamento crônico com anlodipino (in vivo) nas ações da Ang-(1-7). Observou-se que o tratamento com anlodipino 1mg/kg/dia não foi capaz de melhorar o efeito vasorrelaxante de Ang-(1-7). Além disso, também não foi observado melhora na resposta vasorrelaxante da ACh ou NPS. No entanto, quando foi realizado tratamento com uma dose maior de anlodipino (5mg/kg/dia), observou-se uma melhora na resposta vasorrelaxante da Ang-(1-7), bem como para ACh e NPS, mostrando então que a melhora na função endotelial e no músculo liso vascular com BCC também favorece o efeito vasorrelaxante de Ang-(1-7). Os BCC reduzem o estresse oxidativo na vasculatura e melhoram a vasodilatação endotélio depentente em ratos infundidos com Ang II. Além disso, BCC exercem efeitos anti-oxidantes que melhoram a formação de .NO através do aumento da expressão da eNOS (106,107). Alguns trabalhos demonstraram que BCCs associados aos BRA diminuem o stress oxidativo em modelos de hipertensão e lesão vascular (80,108,109). Jinno et al. (105) observaram que o BCC, azeldipino inibiu a lesão vascular provocada por cuff na artéria femoral e que azeldipino combinado com o BRA, em doses subpressóricas, pode exercer efeito sinérgico diminuindo o stress oxidativo.Assim, o efeito benéfico do anlodipino na vasodilatação Ang-(1-7)-dependente pode estar relacionado à atenuação do estress oxidativo nos animais CoA. Alguns trabalhos propôem a participação da ECA2 nas funções vasculares (111,112). Por exemplo, Lovren et al. (108) demonstraram que anéis de aorta de camundongos knockout para ECA2 tiveram prejuízo no relaxamento dependente de endotélio quando comparados com camundongos selvagens. No presente estudo, 56 avaliou-se se o tratamento crônico do provável ativador da ECA2 poderia melhor o relaxamento induzido pela Ang-(1-7). Os tratamentos crônicos com DIZE, 1 mg/kg/dia ou 5 mg/kg/dia, não foram efetivos em melhorar o vasorrelaxamento promovido por Ang-(1-7) em animais CoA. Resultados prévios do nosso laboratório mostraram que o tratamento com DIZE 1 mg/kg/dia também não melhora a disfunção endotelial decorrente da sobrecarga pressórica. Por outro lado, o tratamento com DIZE 5mg/kg/dia demonstrou uma discreta melhora na função endotelial de animais submetidos a sobrecarga pressórica, porém essa ação não foi observada com NPS, que é um vasodilatador independente de endotélio, observando-se, portanto que, a ação é mediada pelo endotélio. No entanto, Qi et al. (2013) demonstraram que o tratamento com DIZE 15 mg/kg/dia por 4 semanas em modelo de ratos infartados aumentou a atividade plasmática da ECA2 e diminuiu a razão ECA/ECA2. Além disso, houve um aumento na expressão protéica do receptor Mas e também das células progenitoras endoteliais circulantes e cardiaca. Assim, sugere-se que a ausência do efeito benéfico do DIZE em nosso trabalho seja pela dose menor do que as usadas em outros trabalhos. Sumarizando, nossos resultados mostraram que o pré-tratamento, in vitro, com losartan, captopril ou anlodipino restauraram o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de animais submetidos a sobrecarga pressórica. No entanto, o tratamento in vivo dos animais CoA com losartan, captopril, ou anlodipino na dosagem de 1 mg/kg/dia e DIZE , 1 e 5 mg/kg/dia não foram efetivos em melhorar o efeito vasorrelaxante da Ang-(1-7). Entretanto, doses maiores de losartan, captopril ou anlodipino (5mg/kg/dia) melhoraram a resposta vasorrelaxante induzida por Ang(1-7) em animais CoA. Nossos dados também demonstram que fármacos antihipertensivos em doses baixas potencializam os efeitos vasodilatadores da ang1-7, exercendo um papel benéfico no controle das funções cardiovasculares em condição patológica. 57 6- CONCLUSÃO Diante dos resultados obtidos, conclui-se que: - Anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica tem o efeito vasorrelaxante promovido por ACh prejudicado - Anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica tem o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) prejudicado. - O tratamento in vivo com 1mg/kg/dia de losartan, captopril ou anlodipino não melhora o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica. - O tratamento in vivo com 5mg/kg/dia de losartan, captopril ou anlodipino melhora o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica. - O tratamento in vivo com 1 ou 5 mg/kg/dia de DIZE não melhora o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica. - A incubaçãoin vitro com losartan, captopril ou anlodipino 1µMol/L restaura o efeito vasorrelaxante promovido por Ang-(1-7) em anéis de aorta de ratos submetidos a sobrecarga pressórica. 58 Fármaco Dose mg/kg/dia in vivo 1 - 5 + 1 - 5 + 1 - 5 + 1 - 5 - Losartan Captopril Anlodipino Dize Concentração in vitro 1 µMol/L + 1 µMol/L + 1 µMol/L + ----- ----- Quadro 1 – Influência de fármacos anti-hipertensivos na resposta vascular da Ang-(1-7) de ratos submetidos a sobrecarga pressórica. - não melhorou / + melhorou Estes resultados indicam que fármacos anti-hipertensivos utilizados em doses subpressóricas são capazes de melhorar as ações vasodilatadoras promovidas pela Ang-(1-7). Diante disso, sugere-se que a utilização de Ang-(1-7) associada a doses baixas de fármacos anti-hipertensivos, pode ser uma nova ferramenta terapêutica para o tratamento da hipertensão arterial. 59 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Abramov D, Carson PE. The role of angiotensin receptor blockers in reducing the risk of cardiovascular disease. J Renin Angiotensin Aldosterone Syst. 2012;13:317–27. 2. Ram CVS. The Evolving Definition of Systemic Hypertension. Am J Cardiol. 2007;99:1168–70. 3. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira deNefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl.1–51. 4. Gradman AH, Basile JN, Carter BL, Bakris GL, Materson BJ, Black HR, et al. Combination therapy in hypertension. J Am Soc Hypertens. 2010;4:90–8. 5. Sood N, Reinhart KM, Baker WL. Combination therapy for the management of hypertension: A review of the evidence. Am J Health Syst Pharm. 2010;67:885–94. 6. 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