UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ RUDOLF COPI ECKELBERG DESENVOLVIMENTO DE UM ACELERÔMETRO DE BOLHA DE SENSIBILIDADE VARIÁVEL Curitiba 2013 RUDOLF COPI ECKELBERG DESENVOLVIMENTO DE UM ACELERÔMETRO DE BOLHA DE SENSIBILIDADE VARIÁVEL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção de grau de Mestre. Área de concentração: Engenharia e Ciência dos Materiais, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais - PIPE. Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Cyro Ketzer Saul Curitiba 2013 E19d Eckelberg, Rudolf Copi. Desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade variável. – Curitiba, 2013. 87f. : il.; color.; 30 cm. Dissertação (Mestre) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais – PIPE, 2013. Orientador: Cyro Ketzer Saul Bibliografia: p. 86-87. 1. Engenharia. 2. Mecânica de Fluídos. I. Saul, Cyro Ketzer. II. Universidade Federal do Paraná. III. Título. CDD: 532 1 Agradecimentos Primeiramente, e, sim, o mais importante, à minha família pelo apoio e suporte, mesmo nos momentos em que as forças me faltaram e as dificuldades me fizeram pensar em desistir. Ao professor Cyro, por apostar em mim e por idealizar e abraçar comigo esse projeto “maluco” (palavras dele) e se dedicar comigo até o final para que o trabalho ficasse pronto e desse bons resultados. Aos colegas e amigos de laboratório pelo apoio e pelos brainstorms e compartilhamento de conhecimentos, em especial ao Leonardo Berlim Schneider, por ter sido um amigo muito presente em todo o período de iniciação científica e mestrado, fosse no laboratório, no estúdio ou no bar. Às fundações Arduino e Python, por levarem adiante seus projetos fantásticos que tornam simples e intuitivo o processo de prototipagem e automação no desenvolvimento de dispositivos, e por manterem esses projetos abertos para a comunidade. 2 "No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." José Saramago 3 Resumo Sensores de aceleração são largamente empregados nos dias de hoje, no monitoramento de acelerações de veículos, para fins de determinação de posição e atitude, no monitoramento de vibrações, ou até mesmo na determinação da orientação de aparatos em relação à gravidade (nível de bolha). O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um novo conceito de acelerômetro, que baseia seu funcionamento na posição de uma bolha imersa em um fluido em rotação solidária com o disco cilíndrico que o contém. Este acelerômetro permite medir acelerações no plano paralelo ao seu corpo e possibilita alterar a faixa de acelerações medida pela simples mudança de sua velocidade de rotação. O dispositivo e sua plataforma foram produzidos em acrílico, empregando técnicas de usinagem a Laser, e o sistema de controle e aquisição de dados foi baseado na plataforma aberta Arduino. A aquisição de dados referente à posição da bolha, sob efeito de uma aceleração externa, foi efetuada por análise de imagens obtidas por uma câmera CCD integrada à plataforma do dispositivo, e acelerações variando entre 1,7 m/s² e 7,50 m/s² foram utilizadas para testes em diferentes níveis de sensibilidade. Os resultados obtidos mostraram existir uma correlação direta entre a posição da bolha e ambas a aceleração externa e a velocidade de rotação do fluido, o que permite o emprego deste dispositivo na determinação de direção e intensidade das acelerações às quais o mesmo está submetido. As margens de erro para esta versão do dispositivo estão na faixa dos 5%. 4 Abstract Acceleration sensors are widely used nowadays, monitoring vehicles, to determine position and attitude, monitoring vibrations and even to determine orientation regarding the gravitational field (bubble level). This work presents the development of a novel accelerometer concept, based on the position of a gas bubble within a fluid which is rotating along with the cylindrical disc which contains it. This accelerometer allows acceleration measurement in the plane parallel to its body and allows acceleration range variation by simply changing its rotational speed. Both the device and its platform were built using Laser machined Plexiglass. The control system and data acquisition were based on the Arduino open system. The bubble position data, under external acceleration, was obtained by platform integrated CCD camera image analysis, and accelerations ranging between 1,7 m/s² and 7,5 m/s² were measured on different sensitivity levels. Obtained results show a direct correlation between the bubble position and both the external acceleration and the fluid rotation speed, allowing to determine the acceleration direction and intensity to which the device is submitted. This device version presents error margins within 5%. 5 Símbolos 𝜌 – Densidade (massa específica); ⃗ – Campo velocidade; 𝑉 𝑟 – Posição da partícula; 𝑟0 – Centro do disco; 𝑟′ – Posição da partícula em um novo referencial; 𝑟𝑛𝑖 - Posição do referencial não inercial em relação ao referencial original; 𝜔 – Velocidade angular; 𝑣 – Velocidade da partícula; 𝑎𝑒 – Aceleração à qual o acelerômetro está sujeito; 𝑝 – Pressão; 𝜏 – Tensão de cisalhamento; 𝜇 – Viscosidade dinâmica; 𝐷𝑡 – Operador diferencial temporal total; 𝑓𝑗 – Força aplicada por unidade de volume; 𝑅𝑒 – Número de Reynolds; 𝐶𝐷 – Coeficiente de arrasto; 𝐹𝐷 – Força de arrasto; 𝐹𝐸 – Força de empuxo; 𝐹𝑎𝑒 - Força que o fluido exerce sobre a bolha por causa de 𝑎𝑒 ; 𝐹𝐶 – Força similar a empuxo que aponta para o centro do disco; 𝐹𝑆 – Força de sustentação; 𝐴 – Área projetada por um objeto; 𝑊𝑒 – Número de Weber; 𝜎 – Tensão superficial; 𝑉 – Volume; 𝑔 – Aceleração gravitacional; 𝜁 – Vorticidade; 𝛤 – Circulação; 𝐶𝐿 – Coeficiente de sustentação; 𝐶𝐿Ω – Coeficiente de sustentação alterado; 𝑏 – Coeficiente de arrasto viscoso; 6 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................ 11 1.1. Acelerômetros............................................................................................... 11 1.1.1. Acelerômetros fluidos ........................................................................... 13 1.1.2. Desafios e obstáculos em acelerômetros ............................................... 15 1.2. Fundamentação teórica ................................................................................. 15 1.2.1. Mecânica de Fluidos .............................................................................. 15 1.2.2. Sistemas de referência não inerciais ...................................................... 24 1.2.3. Fluidos em rotação ................................................................................ 26 1.3. Proposta e Objetivos ..................................................................................... 28 2. Processo experimental ......................................................................................... 32 2.1. Materiais e Métodos ..................................................................................... 32 2.1.1. A Fresadora ........................................................................................... 33 2.1.2. Arduino .................................................................................................. 34 2.1.3. Acelerômetro MM7361 ......................................................................... 35 2.1.4. Projeto.................................................................................................... 36 2.2. Evolução do modelo experimental ............................................................... 40 2.2.1. Modelo 1 ................................................................................................ 40 2.2.2. Modelo 2 ................................................................................................ 42 2.2.3. Modelo 3 ................................................................................................ 43 2.2.4. Modelo 4 ................................................................................................ 46 2.3. A escolha do fluido sensor ........................................................................... 49 2.3.1. Definição de um diâmetro estável da bolha .......................................... 50 2.4. Obtenção dos dados ...................................................................................... 51 2.4.1. Obtenção da aceleração ......................................................................... 51 2.4.2. Obtenção da distância da bolha ao centro ............................................. 51 2.5. Arranjo experimental .................................................................................... 53 7 3. Resultados e discussão ........................................................................................ 56 3.1. Resultados experimentais ............................................................................. 56 3.1.1. Posição de equilíbrio da bolha ............................................................... 56 3.1.2. Resultados para posição da bolha .......................................................... 59 3.1.3. Análise da posição de equilíbrio da bolha ............................................. 66 4. Conclusão ............................................................................................................ 77 5. Apêndice A: Análise esquemática do arranjo experimental................................ 79 6. Apêndice B: Códigos fonte ................................................................................. 82 6.1. Programa enviado ao Arduino (C) ............................................................... 82 6.2. Programa para a obtenção da aceleração (Python) ....................................... 84 7. Referências .......................................................................................................... 86 8 Índice de Figuras Figura 1-1 – Acelerômetro capacitivo (Freescale Semiconductor Inc.) ......................... 12 Figura 1-2 – Exemplo de acelerômetro de FBG de alavanca. a) montagem e geometria do dispositivo; b) geometria do dispositivo exibindo elementos da malha (Basumallick et al 2013) ....................................................................................................................... 13 Figura 1-3 – Exemplo de acelerômetro piezoelétrico proposto por Nemirovsky et al (1995) ............................................................................................................................. 13 Figura 1-4 – Esquema do acelerômetro térmico proposto por Liao, Chen e Chou (2006) ........................................................................................................................................ 14 Figura 1-5 – de deformação de fluido viscoso contido entre placas paralelas móveis ... 17 Figura 1-6 – Modelo didático de acelerômetro de esfera de isopor. Da esquerda para a direita, o acelerômetro pode ser visto acelerado para esquerda, em repouso e acelerado para a direita. (representação artística) ........................................................................... 29 Figura 1-7 – Comportamento esperado para a bolha no dispositivo: a) em estado inercial; b) sujeito a uma aceleração............................................................................... 30 Figura 2-1 – Fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da Gravograph® ............... 33 Figura 2-2 – Modelo comercial de placa Arduino .......................................................... 34 Figura 2-3 – Placa MM7361, com acelerômetro MMA7361 ......................................... 36 Figura 2-4 – Peças do disco sensor em ordem de colagem ............................................ 37 Figura 2-5 – Disco sensor após montagem ..................................................................... 37 Figura 2-6 – Anel de volume com ranhura de admissão ................................................ 38 Figura 2-7 – Peças do modelo 1 em ordem de encaixe .................................................. 41 Figura 2-8 – Modelo 1 montado (representação artística) .............................................. 41 Figura 2-9 – Peças do modelo 2 em ordem de encaixe .................................................. 42 Figura 2-10 – Modelo 2 montado (representação artística)............................................ 43 Figura 2-11 – Peças do disco de encaixe sem raster, em ordem de colagem ................ 44 Figura 2-12 – Peças da plataforma com pedestal para câmera, em ordem de colagem . 45 Figura 2-13 – Peças do modelo 3 em ordem de encaixe ................................................ 45 Figura 2-14 – Modelo 3 montado (representação artística) ............................................ 46 Figura 2-15 – Peças do disco de encaixe com anel de contagem em ordem de colagem47 Figura 2-16 – Peças do modelo 4 em ordem de encaixe ................................................ 48 Figura 2-17 – Plataforma do modelo 4 montada (representação artística) ..................... 49 Figura 2-18 – Pontos marcados no disco para cálculo de distância da bolha ao centro . 52 9 Figura 2-19 – Arranjo experimental com rampa e transferidor (representação artística)54 Figura 2-20 – Ângulo de inclinação em relação à gravidade e aceleração equivalente . 54 Figura 2-21 – Arranjo experimental para observação do comportamento do sensor sujeito a acelerações variáveis ........................................................................................ 55 Figura 3-1 – Ângulo da posição da bolha. a) aceleração nula; b) aceleração positiva em y (resultado esperado); c) aceleração positiva em y (resultado observado) ................... 57 Figura 3-2 – Bateria completa de dados para distância da bolha ao centro em função da aceleração medida e da velocidade angular do disco ..................................................... 60 Figura 3-3 – Número de Weber em função de 𝒂𝒆 e 𝝎................................................... 61 Figura 3-4 – Número de Reynolds em função de 𝒂𝒆 e 𝝎 .............................................. 62 Figura 3-5 – Posição da bolha (r) em função da aceleração medida (ae) para diferentes valores de velocidade angular......................................................................................... 63 Figura 3-6 – Medidas da posição da bolha (r) em função da velocidade angular para diferentes acelerações medidas ....................................................................................... 64 Figura 3-7 – Posição em função do inverso da velocidade angular ............................... 64 Figura 3-8 – Desvio padrão relativo médio para as medidas de distância de cada aceleração utilizada......................................................................................................... 65 Figura 3-9 – Comparação dos dados experimentais (acima) com a equação deduzida (abaixo). .......................................................................................................................... 67 Figura 3-10 – Diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais ........... 68 Figura 3-11 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais (imprecisão do modelo) .............................................. 69 Figura 3-12 – Forças atuantes sobre a bolha: Sustentação, centrípeta, arrasto e força de empuxo decorrente da aceleração externa ...................................................................... 70 Figura 3-13 – Diferença relativa entre dados experimentais e o segundo modelo proposto .......................................................................................................................... 72 Figura 3-14 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre o segundo modelo e os dados experimentais (imprecisão do modelo) ............................................ 73 Figura 3-15 – Dados obtidos pelo acelerômetro de bolha em comparação com acelerações equivalentes (pontos à esquerda) a partir da relação deduzida empiricamente. ............................................................................................................... 75 Figura 5-1 – Visão geral do circuito do arranjo experimental ........................................ 79 10 1. Introdução O presente trabalho tem por objetivo o desenvolvimento de um acelerômetro que baseia suas medidas na posição de uma bolha em um fluido rotativo. Na fase introdutória desse trabalho, pesquisou-se sobre acelerômetros comerciais e presentes na literatura da área de sensores. São analisados de forma breve os princípios de funcionamento e a forma de saída de cada tipo de sensor. Em seguida, conceitos relativos à mecânica de fluidos são analisados e o comportamento de corpos imersos em fluidos para que o comportamento do sensor proposto possa ser entendido. 1.1. Acelerômetros Acelerômetros são dispositivos eletromecânicos elaborados com o intuito de medir as acelerações a que estão sujeitos em relação a referenciais inerciais. Eles geralmente utilizam massas de prova para realizar estimativas indiretas de aceleração de acordo com seu comportamento. Esses dispositivos são sensíveis a campos que produzam forças (como a gravidade e campos eletromagnéticos, dependendo da forma utilizada) e forças fictícias que atuam em seus mecanismos devido a efeitos de não inercialidade. Eles são geralmente aplicados em situações em que é necessário conhecer aceleração ou orientação em relação à gravidade. Podem-se destacar as aplicações na engenharia civil, tanto para medição de nível quanto na detecção de vibrações (integridade estrutural), tanto em edifícios em terra firme ou plataformas marítimas; medição de oscilações de asas em aviões; em testes de segurança de veículos automotores; aplicações em interatividade, como em dispositivos eletrônicos com capacidade de conhecer a própria orientação em relação à gravidade (como celulares por exemplo) ou equipamentos eletrônicos de entretenimento. Os acelerômetros encontrados na literatura estão classificados de acordo com a forma que utilizam para definir sua massa de prova. Exemplos mais comuns na literatura são os acelerômetros capacitivos, como o descrito por Zhou et al (2012) e o acelerômetro comercial MMA7361L utilizado como suporte e referência nesse trabalho. 11 Um exemplo simplificado de funcionamento desse tipo de acelerômetro é descrito pela Freescale Semiconductor Inc. como um capacitor de três placas paralelas, das quais a central é móvel e sensível a acelerações, sendo ela a massa de prova. Figura 1-1 – Acelerômetro capacitivo (Freescale Semiconductor Inc.) A capacitância do conjunto de capacitores varia de acordo com a espessura de seus dielétricos, que por sua vez é alterada pela posição da placa central. A variação nas capacitâncias dos dois pares de placas permite a estimativa da aceleração. A maioria desses acelerômetros tem como saída uma tensão analógica proporcional à aceleração sentida. No caso do MMA7361L, a saída é diretamente proporcional à aceleração sentida naquele eixo. Uma força restauradora atua na placa central de forma que ela retorne ao centro. Essa força pode ser fornecida por uma haste ou mola. Acelerômetros de fibra óptica, baseados em redes de Bragg (também conhecidos como FBG accelerometers – Fiber Bragg Grating accelerometers), são largamente utilizados como sensores de vibração para aplicações em engenharia e sismografia (Basumallick et al 2013) e compõem um nicho significativo da literatura da área. Basumallick et al (2013) propuseram um modelo de acelerômetro de FGB de alavanca. Nessa variante, a massa de prova é fixada à extremidade de uma alavanca conectada por sua outra extremidade a uma rede de Bragg. A vibração deforma a rede e altera os comprimentos de onda filtrados, indicando assim a oscilação do sistema. 12 Figura 1-2 – Exemplo de acelerômetro de FBG de alavanca. a) montagem e geometria do dispositivo; b) geometria do dispositivo exibindo elementos da malha (Basumallick et al 2013) Outra variante comum de acelerômetro comercial utiliza de alavancas ou materiais elásticos piezoelétricos ligados à massa de prova. A tensão ou a corrente gerada por esse material é utilizada como medida para a aceleração. Essa é a variante de sensores utilizados para medir acelerações em aviões. Nemirovsky, et al (1995) propõe um modelo de acelerômetro seguindo esse princípio. Figura 1-3 – Exemplo de acelerômetro piezoelétrico proposto por Nemirovsky et al (1995) 1.1.1. Acelerômetros fluidos Outras formas de acelerômetro utilizam fluidos para a medida das forças fictícias. Um exemplo bastante encontrado na literatura é o acelerômetro térmico, para o qual uma fonte de calor em um meio fluido gera diferenças de 13 densidade, e sensores térmicos estimam o deslocamento da fase quente para o cálculo indireto da aceleração. Algumas variantes desse princípio são descritas por Silva et al (2012) e Liao, Chen e Chou (2006). Figura 1-4 – Esquema do acelerômetro térmico proposto por Liao, Chen e Chou (2006) O nível de bolha, que consiste em uma caixa de teto parabólico cheia de fluido (normalmente álcool etílico) com uma bolha de ar, é uma forma comum de acelerômetro utilizado especialmente na construção civil e em laboratórios. Sua finalidade é sentir a gravidade e assim demonstrar a orientação de um plano em relação a ela. Tanto os acelerômetros térmicos quanto os níveis de bolha se beneficiam de diferenças de densidade entre meio fluido e massa de prova, que no segundo caso podem passar da razão 1000:1. Como as forças volumétricas atuantes em corpos imersos em fluidos são proporcionais à massa do fluido deslocado pelo objeto, diferenças grandes de densidade geram forças grandes em relação ao peso ou forças fictícias que atuem sobre a massa de prova. De forma semelhante ao nível de bolha, o presente trabalho propõe um acelerômetro baseado na monitoração do comportamento de uma bolha imersa em um fluido. Tirando proveito da grande diferença de densidade entre a maioria dos líquidos com o ar, busca-se o desenvolvimento de um acelerômetro 14 de sensibilidade variável usando, ao invés de uma caixa de face curva, um sistema de rotação para gerar uma força restauradora. 1.1.2. Desafios e obstáculos em acelerômetros As maiores barreiras para o desenvolvimento de uso de acelerômetros residem em precisão e sensibilidade. Em termos de precisão a maioria dos acelerômetros comerciais sofre com o efeito de drift (ou “deriva”), que é uma oscilação constante ou um desvio na medida que aumenta sensivelmente o desvio padrão dos resultados. Por consequência, a maioria das aplicações que envolvem precisão dependem da escolha cuidadosa do equipamento com a menor oscilação para aquela situação específica. Em alguns casos pode haver um leve desvio na medida que introduz um erro sistemático que pode ser resolvido com calibragem. A maioria das variantes de acelerômetros tem sua sensibilidade (e alcance de medidas) bem definida. Para aplicações em que diferentes sensibilidades são necessárias, os aparatos costumam ser compostos por dois ou mais sensores diferentes selecionáveis, como duas hastes de comprimentos diferentes ou conjuntos diferentes de capacitores. Os exemplos de acelerômetros aqui mencionados são todos unidimensionais. Para cobrir duas ou três dimensões, os equipamentos costumam contar com conjuntos de sensores ortogonais. 1.2. Fundamentação teórica Para o entendimento dos fenômenos envolvidos no desenvolvimento do sensor de aceleração aqui proposto serão abordados alguns tópicos fundamentais de Mecânica dos Fluidos e de sistemas de referência não inerciais. 1.2.1. Mecânica de Fluidos Hipótese do contínuo A base da Mecânica dos Fluidos clássica é a hipótese do contínuo, forma de análise que desconsidera o comportamento granular do fluido e o trata de acordo com leis válidas para meios contínuos. Assim sendo, elas são válidas apenas em limites em que essa aproximação é razoável, ou seja, quantidades de 15 fluido grandes o suficiente para que o comportamento granular seja desprezível (Fox, McDonald e Prichard, 2004, e Landau e Lifshitz, 1959). Para um fluido contínuo é válida a definição de um campo escalar densidade, que define a forma como a massa está distribuída no volume e no tempo. Vale então: 𝜌 = 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) (1) Outro campo relevante para a mecânica dos fluidos quanto se estuda o movimento é o campo vetorial velocidade, que definirá o fluxo em cada ponto do volume do fluido em estudo. ⃗ =𝑉 ⃗ (𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) 𝑉 (2) A definição da velocidade como um campo e, portanto, uma propriedade do ponto fixo no espaço é também conhecida como descrição de Euler. A análise de uma partícula de fluido, ou de uma partícula nele imersa, e das forças que nela atuam caracteriza a descrição de Lagrange (Batchelor, 2000). Em muitos casos em que são analisadas partículas imersas em um fluido, uma abordagem mista é empregada. Outra grandeza importante para a Mecânica dos Fluidos é a pressão. Ela é definida pelo campo escalar: 𝑝 = 𝑝(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) (3) A pressão define a força que um fluido exerce sobre uma superfície em seu volume. Os gradientes de pressão serão particularmente importantes ao longo desse trabalho, uma vez que são responsáveis pela maior parte das forças participantes na dinâmica de fluidos. Viscosidade Um fluido sujeito a uma tensão de cisalhamento responde com uma resistência à deformação. Isso decorre de forças intermoleculares internas a ele. A propriedade atribuída aos fluidos devido a esse comportamento é a viscosidade, que é um análogo à plasticidade nos sólidos. 16 Figura 1-5 – de deformação de fluido viscoso contido entre placas paralelas móveis A figura 1-5 mostra o perfil de deslocamento de um fluido confinado entre duas placas paralelas que se deslocam entre si. Fluidos que se deformam continuamente sob ação de uma tensão de cisalhamento são denominados newtonianos e os demais são denominados não newtonianos. Para fluidos newtonianos vale (Fox, McDonald e Pritchard, 2004, Vanyo, 1993): 𝜏=𝜇 𝑑𝑢 𝑑𝑦 (4) onde 𝜏𝑦𝑥 é a tensão gerada pela força atuante e a derivada de u em y define o perfil de velocidade do fluido ao longo do eixo y. A grandeza 𝜇 é a viscosidade dinâmica. Em casos de escoamento, situações onde a viscosidade é relevante ao problema caracterizam escoamentos viscosos. Situações onde a viscosidade pode ser desprezada sem prejuízo à análise são considerados não-viscosos (ou invíscidos). É importante ressaltar que a definição de um problema viscoso ou não viscoso é uma característica do fluxo e não algo intrínseco ao fluido (Bejan, 1995). Tensão superficial Enquanto ao longo do volume as interações entre as moléculas tendem a gerar efeitos de viscosidade, a superfície do fluido terá uma energia a ela relacionada. Essa energia gera uma tensão chamada tensão superficial. 17 Para efeitos de minimização de energia de superfície, as superfícies líquidas tendem a gerar formas arredondadas, pois são as formas de menor área para um dado volume. Esse é o principal motivo de bolhas e gotas tenderem a formas esféricas. Adimensionais No estudo de Mecânica dos Fluidos, algumas grandezas adimensionais se tornam particularmente úteis para a análise dos problemas. A partir da equação de Navier-Stokes, uma relação entre velocidade, densidade e viscosidade pode ser observada. Essa relação foi notada por Reynolds que desenvolveu um adimensional particularmente útil na solução dessa equação, dado por: 𝑅𝑒 = 𝜌𝐿𝑈 𝜇 (5) onde L é um comprimento característico do problema e U é a velocidade característica (Vanyo, 1993). O número de Reynolds, como é conhecido, é particularmente útil para a estimativa do regime de escoamento quanto à laminaridade: baixos números de Reynolds resultam de uma viscosidade alta em relação ao tamanho dos obstáculos e as velocidades envolvidas no problema, o que sugere escoamentos laminares. De acordo com Bejan (1995), o número de Reynolds pode ser definido a partir da camada limite (a distância do obstáculo ou parede a partir da qual sua influência no movimento do fluido pode ser desprezada) e do tamanho do obstáculo relevante. A definição é dada a partir da seguinte relação: 𝑅𝑒 1/2 = 𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑜 𝑜𝑏𝑠𝑡á𝑐𝑢𝑙𝑜 𝐿𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑐𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 (6) O autor argumenta que o significado físico está na raiz quadrada do número de Reynolds ao invés do número em si, pois é ela que tem uma interpretação física mais concreta. Esse adimensional também é útil para a definição da forma relevante do arrasto para o problema (que será discutido adiante). 18 O arrasto geométrico sobre um corpo imerso no fluido é fortemente dependente do coeficiente de arrasto, definido como: 𝐶𝐷 = 𝐹𝐷 1 2 2 𝜌𝑉 𝐴 (7) onde 𝐹𝐷 é a força de arrasto e A é a área da sombra gerada pelo objeto. Para a maioria das situações, o valor de 𝐶𝐷 deverá ser deduzido empiricamente. Por conveniência, a maioria das deduções empíricas liga o coeficiente de arrasto ao número de Reynolds. Para uma bolha de ar livre de deformações e em fluxo uniforme de um líquido, Mei, Klausner e Lawrence (1994), citados por Nierop et al (2007), deduziram uma formulação empírica válida para limites altos e baixos de números de Reynolds: 𝐶𝐷 = −1 16 8 1 [1 + [ + (1 + 3,314𝑅𝑒 −1/2 )] ] 𝑅𝑒 𝑅𝑒 2 (8) Outro adimensional relevante para esse trabalho é o número de Weber (Nierop et al, 2007), útil para o estudo do movimento de bolhas, definido como 2 ⃗ − 𝑣| 2𝑅𝑏 𝜌𝑙 |𝑉 𝑊𝑒 = 𝜎 (9) onde 𝑅𝑏 é o raio da bolha, 𝜌𝑙 a densidade do líquido onde a bolha se forma, 𝜎 é ⃗ é o campo velocidade do fluido e 𝑣 a velocidade da a tensão superficial, 𝑉 bolha, determina uma razão de peso entre as propriedades do fluido, a velocidade relativa entre fluido e bolha e a tensão superficial, pesando assim a influência da tensão superficial na formação de bolhas ao longo do problema. De acordo com Nierop et al (2007) números de Weber muito menores que 1 indicam a tendência de bolhas serem esféricas, informação que será importante para a formulação da força de arrasto. O estudo do efeito da sustentação induzida por cisalhamento é fortemente dependente de um coeficiente denominado coeficiente de sustentação, que a princípio é desconhecido no início da análise de um problema. A análise do comportamento de uma massa fluida sujeita a efeitos de massa virtual (discutidos adiante) pode ser realizada de acordo com um coeficiente de massa virtual, dependente especialmente da geometria do corpo. 19 Regimes de escoamento laminar e não laminar Um escoamento ocorre quando o campo velocidade possui uma média em um dado sentido. Em um escoamento viscoso, a viscosidade tenderá atenuar o perfil da distribuição da velocidade ao longo do volume. Quando a viscosidade é suficientemente alta para o perfil de velocidade do escoamento e a forma dos obstáculos, a velocidade tenderá a padrões suaves aproximadamente unidirecionais. Essa situação caracteriza um escoamento laminar. Em velocidades mais altas e em situações onde o escoamento atravessa obstáculos, o comportamento do campo velocidade se torna mais difícil de modelar devido à geração de turbulências, que são vórtices no escoamento ligados a dissipação de energia. O escoamento que segue esse regime é considerado turbulento ou não laminar. Essa distinção é realizada predominantemente pelo número de Reynolds, discutido anteriormente. Em situações onde trocas de calor são relevantes ao problema, a observação do número de Grashof ou do número de Rayleigh (Bejan, 1995) oferece uma análise mais completa. Para cada obstáculo ou largura de canal relevante para o problema existe uma condição diferente de número de Reynolds que define o regime de escoamento quanto à laminaridade. A situação onde o escoamento muda de laminar para não laminar é chamada de regime de transição. Para a maioria dos problemas, a largura do canal é o comprimento mais relevante a ser considerado, mas em muitas situações outros parâmetros, como tamanho de obstáculo ou afins podem ser mais importantes. Bejan (1995) explica que para um número de Reynolds local (ou seja, considerando a escala de velocidade longitudinal e tomando como comprimento característico a dimensão transversal do canal) o número de Reynolds que caracteriza regime de transição será tipicamente da ordem de 102 . Muitos estudos são desenvolvidos no sentido de entender a influência de bolhas sobre o regime do fluido ao seu redor e, igualmente, os efeitos de turbulências sobre os movimentos de bolhas. 20 Nagami e Saito (2012) realizam um estudo de movimento ascendente de bolhas de CO2 em líquidos em grade oscilatória (turbulência induzida). Comparando seus resultados com os de Poorte e Biesheuel (2002), os autores argumentam que as constantes mudanças de trajetórias de bolhas nessa situação causadas por turbulências locais são menos intensas em bolhas de menor diâmetro equivalente. Fluidos compressíveis e incompressíveis Um fluido é tido como compressível em uma análise se sua densidade pode variar ao longo do espaço ou do tempo. Gases são bons exemplos de fluidos compressíveis. Um fluido incompressível não admite variações de densidade. Assim sendo, gradientes de densidade não podem ser admitidos nesse regime. Outra consequência natural da incompressibilidade é a não existência de divergentes de velocidade (Landau e Lifshitz, 1959), uma vez que a massa não pode se acumular em regiões de fluidos. A maior parte dos líquidos em temperaturas e pressões tipicamente ambientes se comporta de forma incompressível. É importante ressaltar que essa distinção é fortemente dependente do problema analisado. A Equação de Navier-Stokes Como comentado anteriormente, a Mecânica dos Fluidos parte das leis da Mecânica Clássica para meios contínuos. Isso significa que em limites clássicos deve-se observar conservação de massa, momento e energia. Com base nos campos descritos anteriormente e na conservação das grandezas físicas, Navier e Stokes realizaram trabalhos no sentido de desenvolver uma equação diferencial parcial que descreve o escoamento de fluidos viscosos. Ela é obtida a partir da equação de Euler, e em sua forma geral pode ser escrita como (Bruus, H, 2006): ⃗ ) = ∑ 𝑓𝑗 𝜌(𝐷𝑡 𝑉 𝑗 (10) ⃗ é o diferencial total temporal aplicado sobre o campo O termo 𝐷𝑡 𝑉 velocidade, e pode ser descrito como: ⃗ = 𝐷𝑡 𝑉 ⃗ 𝜕𝑉 ⃗ . ∇)𝑉 ⃗ + (𝑉 𝜕𝑡 (11) 21 Os termos 𝑓𝑗 são as forças atuantes sobre a unidade de volume de massa fluida. Quando a pressão ao longo do volume de um fluido varia, forças de volume tenderão a transportar massa fluida da região de maior para a de menor pressão. Essa força, aplicada sobre uma unidade de volume, pode ser escrita como: 𝑓𝑝 = −∇𝑝 (12) que é a força de pressão. Um fluido viscoso exerce forças sobre si mesmo ao longo do volume. Essa força depende da laplaciana do campo velocidade e pode ser descrita da seguinte forma: ⃗ 𝑓𝑣 = 𝜇∇2 𝑉 (13) onde 𝜇 é a viscosidade dinâmica. Quando o escoamento em questão é incompressível e pode ser considerado newtoniano e laminar, essas serão as forças relevantes para a maior parte dos problemas. Nesse regime, a equação (10) assume a seguinte forma: 𝜌( ⃗ 𝜕𝑉 ⃗ . ∇)𝑉 ⃗ ) = −∇𝑝 + 𝜇∇2 𝑉 ⃗ + (𝑉 𝜕𝑡 (14) Essa é a equação de Navier-Stokes (Landau e Lifshitz, 1959, e Vanyo, 1993) para escoamentos incompressíveis, newtonianos e laminares, e será válida para velocidades subsônicas. Outras forças que atuem sobre elementos de volume do fluido devem ser adicionadas ao lado direito da equação. Forças atuantes em corpos imersos em fluidos Um meio fluido interage com corpos nele imersos de diversas formas. As principais delas são o arrasto e o empuxo. Arrasto Todo corpo que se move em um fluido sofre uma resistência chamada arrasto. O arrasto é uma combinação de forças de pressão e forças decorrentes da viscosidade, e cresce com a velocidade relativa. 22 A componente viscosa do arrasto é denominada arrasto viscoso e é diretamente proporcional à velocidade. A componente de pressão do arrasto é denominada arrasto de pressão ou arrasto geométrico e é proporcional ao quadrado da velocidade. A forma geral do arrasto viscoso é: ⃗) 𝐹𝐷 = −𝑏(𝑣 − 𝑉 (15) onde 𝑏 é um valor fortemente dependente da viscosidade do fluido e da geometria do objeto, e é obtido empiricamente para cada problema particular. Para uma esfera sólida sujeita a um arrasto predominantemente viscoso (números de Reynolds muito baixos), um valor conhecido para a força de arrasto pode ser aplicado: ⃗) 𝐹𝐷 = −6𝜋𝜇𝑅(𝑣 − 𝑉 onde R é o raio da esfera. O arrasto geométrico é dado pela equação do arrasto: ⃗) 1 (𝑣 − 𝑉 2 ⃗ | 𝐶𝐷 𝐴 𝐹𝐷 = − 𝜌|𝑣 − 𝑉 2 ⃗| |𝑣 − 𝑉 (16) onde A é a área da sombra do corpo perpendicular ao sentido do escoamento e 𝐶𝐷 é o coeficiente de arrasto. A forma relevante para a força de arrasto é escolhida a partir do número de Reynolds e da geometria do corpo em questão. De um ponto de vista geral, a região de transição entre as duas formas está em números de Reynolds próximos a 1000. Empuxo O empuxo é uma força decorrente de gradientes de pressão. Massas fluidas sujeitas a forças de volume, como o peso ou uma ação eletromagnética, formam gradientes de pressão em seu interior, de forma que corpos ali imersos estarão sensíveis a eles. A forma de empuxo mais comum na maioria dos problemas é o gravitacional, dado por: 𝐹𝐸 = −𝜌𝑔𝑉 23 onde 𝜌 é a densidade do fluido, 𝑔 é o vetor gravidade atuando na região e 𝑉 é o volume de fluido que o corpo desloca. Outros campos que gerem forças sobre o volume do fluido também poderão causar empuxo, como será visto adiante. Força de Basset e efeito de massa virtual Em sistemas fluidos que envolvem movimentação relativa entre fases, como no caso de bolhas em fluidos, o movimento e a aceleração de uma fase gera efeitos inerciais internos. Esses efeitos se dividem em duas componentes principais: o chamado efeito de massa virtual (added mass effect) e a força de Basset (Basset force ou history force). O primeiro termo provém do fato da partícula fluida que se move não se comportar como um corpo rígido, e apresentar internamente movimentos decorrentes de acelerações. O segundo termo corresponde ao efeito viscoso, e geralmente se manifesta após a aceleração da massa fluida, atuando como um efeito de memória. Na maioria dos casos, essa força tem pequeno peso sobre o resultado final do problema, e pode ser negligenciada (por questões de conveniência). Para casos de escoamento de partículas fluidas de múltiplas fases em baixos números de Reynolds (Re<5), porém, seu efeito pode ser relevante. 1.2.2. Sistemas de referência não inerciais A definição de sistemas de referência é vital e sempre está implícita na análise de qualquer problema físico. As leis de Newton e aquelas que dela derivam consideram o universo analisado de um referencial inercial, ou seja, um referencial que não sofre acelerações (força resultante sobre o referencial é nula). Quando a análise por um referencial não inercial é conveniente, correções precisam ser aplicadas às leis físicas relevantes, especialmente a Segunda Lei de Newton. As acelerações a que esse referencial está sujeito são então acopladas como correções nos corpos analisados. Dado um corpo que se move de acordo com uma função 𝑟(𝑡) em relação a um referencial inercial, a segunda lei de Newton para esse referencial será: 𝑑2𝑟 ∑ 𝐹 = 𝑚 2 (𝑡) 𝑑𝑡 24 Caso um referencial não inercial seja adotado, a relatividade de Galileu sugere como transformação de referencial a subtração da variação de posição do novo referencial. Dessa forma, se o novo referencial sofre uma aceleração 𝑎, a nova forma para a segunda lei seria: 𝑑2𝑟 𝑑2𝑟 ′ ∑ 𝐹 ′ = 𝑚 [ 2 (𝑡) − 𝑎] = 𝑚 2 𝑑𝑡 𝑑𝑡 Por esse motivo, referenciais não inerciais observam forças denominadas fictícias, que surgem dos termos adicionados à aceleração na segunda lei. As possíveis componentes de forças fictícias a serem adicionadas aos modelos não inerciais surgem de translações e rotações do referencial. A Segunda Lei de acordo com um sistema de coordenadas em movimento arbitrário pode ser descrita da seguinte forma (Thornton e Marion, 2004): 𝑚 𝑑2𝑟′ 𝑑 2 𝑟 𝑑 2 𝑟𝑛𝑖 𝑑𝜔 ⃗ = 𝑚 [ − − × 𝑟 ′ − 2𝜔 ⃗ × 𝑣𝑀 − 𝜔 ⃗ × (𝜔 ⃗ × 𝑟 ′ )] 𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 (17) Onde: 𝑟 é a posição do corpo em relação ao referencial inercial anterior; 𝑟𝑛𝑖 é a posição do novo referencial não inercial em relação ao anterior; 𝜔 ⃗ é a velocidade angular com que o novo referencial gira em torno de si; 𝑟 ′ é a posição do corpo em relação ao novo referencial. O primeiro e o segundo termos subtraídos são decorrentes da aceleração de translação e de rotação do referencial. O termo translacional é o mais relevante para acelerômetros. 𝐹𝑡𝑟𝑎𝑛𝑙 = −𝑚 𝐹𝑟𝑜𝑡 = −𝑚 𝑑 2 𝑟𝑛𝑖 𝑑𝑡 2 𝑑𝜔 ⃗ × 𝑟′ 𝑑𝑡 O termo seguinte é a aceleração de Coriolis, que decorre da variação de trajetória observada quando o corpo se desloca em relação ao referencial. O último termo é a aceleração centrífuga. 𝐹𝑐𝑜𝑟 = −2𝜔 ⃗ × 𝑟′ 25 𝐹𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟 = −𝜔 ⃗ × (𝜔 ⃗ × 𝑟 ′) Referencial rotacional contra referencial não rotacional É importante entender que a equação (17) leva em consideração fatores não inerciais no referencial. As forças de cunho rotacional, dependentes de 𝜔 ⃗ , só existirão quando o sistema de referência gira. No estudo de fluidos em rotação, essas forças só serão consideradas para referenciais rotacionais. Assim sendo, as forças de Coriolis, centrípeta e fictícia de aceleração angular não podem ser consideradas para referenciais de aceleração puramente translacional (distinção importante nesse trabalho). 1.2.3. Fluidos em rotação Para o estudo de fluidos em rotação é conveniente a introdução da grandeza vorticidade (Vanyo, 1993), que está relacionada com a velocidade do fluido em torno de um núcleo de rotação. Essa grandeza é estudada intensivamente em engenharia para problemas em que turbulências influenciam drasticamente a dinâmica do dispositivo. A vorticidade é um vetor definido pelo rotacional do campo velocidade do fluido: ⃗ 𝜁 = ∇×𝑉 Para um fluido de velocidade angular constante 𝜔 ⃗ , a vorticidade assume a forma: 𝜁 = 2𝜔 ⃗ Define-se como circulação ao redor de uma área a integral de caminho fechado da velocidade do fluido pelo elemento de comprimento ao longo da curva C, tal que C define a curva fechada que circunscreve a área. ⃗ . 𝑑𝑙 𝛤=∮ 𝑉 𝐶 Um corpo imerso em um vórtice estará sujeito a uma força de sustentação, uma força que recebeu seu nome da aerodinâmica de aviões e surge da diferença de pressão gerada pela diferença de velocidade do fluido em lados opostos do objeto. Ela pode ser definida a partir da circulação ao redor do objeto: 26 𝐹𝑆 = −𝜌𝑉𝛤 Para um fluido em rotação, o conjunto de forças que garante a vorticidade tem resultante centrípeta. O comportamento do fluido ao redor do vórtice pode ser tratado como fruto de um mínimo de pressão no núcleo e um gradiente radial que aponta do núcleo para a borda. A conseqüência desse efeito é a existência de uma força similar ao empuxo sobre corpos no vórtice, mas apontando para o centro. De acordo com esse modelo, em um fluido que gira a uma velocidade angular constante 𝜔, corpos próximos ao centro de vorticidade 𝑟0 estarão sujeitos a uma força 𝐹𝑐 tal que: 𝐹𝑐 = −𝜌𝑙 𝑉𝜔2 (𝑟 − 𝑟0 ) (18) onde 𝜌𝑙 é a densidade do fluido e 𝑉 é o volume do corpo. Essa força fará com que corpos de densidade menor que a do fluido tendam a se concentrar no centro de rotação. Essa força centrípeta será equivalente à força de massa virtual. Uma bolha esférica imersa em um fluido gera uma componente modificada da força de sustentação, denominada sustentação induzida por cisalhamento. Essa força surge do fato de que a presença da bolha muda o perfil de velocidade do fluido ao seu redor. Magnaudet e Eanes (2000) escreveram uma forma para a força resultante sobre bolhas esféricas em escoamentos invíscidos. De acordo com seu modelo, uma bolha tratada como partícula obedecerá à seguinte forma para a Segunda Lei de Newton: 𝜌𝑙 𝑉𝑏 𝐶𝐴 𝑑𝑣 ⃗ + 𝜌𝑙 𝑉𝑏 𝐶𝐿 (𝑉 ⃗ − 𝑣 ) × (∇ × 𝑉 ⃗) = 𝜌𝑙 𝑉𝑏 (𝐶𝐴 + 1)𝐷𝑡 𝑉 𝑑𝑡 1 ⃗ − 𝑣 |(𝑉 ⃗ − 𝑣 ) − 𝜌𝑙 𝑉𝑏 𝑔 + 𝜌𝑙 𝐶𝐷 𝐴|𝑉 2 (19) Essa equação leva em consideração arrasto, empuxo, efeitos de massa virtual e força de sustentação, e de acordo com os autores é válida para números de Reynolds maiores que 5. O valor de 𝐶𝐴 para bolhas esféricas é 1/2 para qualquer número de Reynolds (Lamb, 1934, citado por Nierop et al 2007). Para um fluido em rotação “rígida” (velocidade angular constante em relação ao centro do vórtice), o perfil de velocidade pode ser descrito por: ⃗ (𝑟) = 𝜔𝑟𝜃̂ 𝑉 27 Isso implica em afirmar que: ⃗ = 2𝜔 ∇×𝑉 ⃗ ⃗ = −𝜔2 𝑟 𝐷𝑡 𝑉 Nierop et al (2007) concluíram que uma forma conveniente para a combinação da força de sustentação induzida por cisalhamento com o efeito de massa virtual para bolhas em repouso (𝑣 = 0) nesse regime de escoamento é: 𝐹𝑆 + 𝐹𝐴 = 2𝐶𝐿𝛺 𝜌𝑙 𝑉𝑏 𝜔2 𝑟 (20) Onde: 1 𝐶𝐿𝛺 = 𝐶𝐿 − (1 + 𝐶𝐴 ) 2 A equação (20) corresponde ao primeiro e ao segundo termos ao lado direito da equação (19), e é possível verificar que ela inclui a força descrita pela equação (18). Essa equação revela uma característica importante do equilíbrio de forças atuante sobre uma bolha em um vórtice: o conjunto de forças que resulta da rotação do fluido tende a trazer a bolha para o centro da vorticidade. A intensidade dessa força será proporcional à velocidade angular do vórtice. 1.3. Proposta e Objetivos O modelo didático que inspirou o trabalho utiliza uma esfera de isopor imersa em água. Acelerações sobre o recipiente geram gradientes de pressão que movimentam a esfera na direção da aceleração. Um fio preso ao fundo do recipiente garante que a esfera se mantenha longe das paredes e retorne ao centro após o fim da aceleração. 28 Figura 1-6 – Modelo didático de acelerômetro de esfera de isopor. Da esquerda para a direita, o acelerômetro pode ser visto acelerado para esquerda, em repouso e acelerado para a direita. (representação artística) Observou-se que as características importantes para o funcionamento desse modelo didático como sensor são a diferença de densidade entre a água e o isopor e a tração do fio, que em conjunto com o empuxo atua como força restauradora. Para esse trabalho, propôs-se o uso de uma bolha de ar e de um sistema em rotação, de forma que as forças fictícias atuantes sobre o fluido gerassem um gradiente de pressão que trouxesse a bolha ao centro. A intensidade dessas forças poderia ser controlada a partir da velocidade angular com que se gira o fluido, o que permitiria a mudança da sensibilidade do sensor. Esperou-se que o sistema se comportasse de maneira que: A bolha se mantivesse ao centro enquanto o sistema não fosse acelerado; A bolha se deslocasse no sentido da aceleração quando ela ocorresse; O arrasto do fluido sobre a bolha deslocasse sua posição no sentido da rotação; A bolha se afastasse do centro de rotação a uma distância maior para acelerações maiores. 29 Figura 1-7 – Comportamento esperado para a bolha no dispositivo: a) em estado inercial; b) sujeito a uma aceleração. Assim sendo, definiu-se como o objetivo geral desse trabalho: A elaboração de um acelerômetro fluido bidimensional de sensibilidade variável a partir de uma bolha de ar em um disco de fluido em rotação. Como objetivos específicos foram definidos: O entendimento do comportamento do acelerômetro didático tomado por base; A aplicação de seu princípio em um acelerômetro de bolha de ar em fluido em rotação; A construção do dispositivo acelerômetro; A análise dos parâmetros envolvidos em seu uso para medidas de aceleração; A caracterização do dispositivo enquanto sensor. A escolha da bolha como massa de prova se deve especialmente à grande diferença de densidade entre o ar e a maior parte dos líquidos. Com a conclusão desse trabalho buscou-se a obtenção de um dispositivo sensor de aceleração e sensibilidade continuamente variável. Na maior parte das aplicações onde é necessária a variação da sensibilidade, os dispositivos comerciais dispõem de múltiplos arranjos sensores, cada um com uma sensibilidade distinta. O uso desse princípio na medida de acelerações é inédito e até agora não pôde ser encontrado na literatura. 30 Nesse trabalho foi desenvolvido um sensor cuja sensibilidade pode ser variada arbitrariamente com a mudança da velocidade angular do disco, e o ajuste fino pode ser realizado ao limite da precisão da variação de rotação. 31 2. Processo experimental Para atingir os objetivos propostos, o primeiro passo foi a construção de um disco transparente plano e oco dentro do qual se pudesse injetar o fluido que atuará como sensor. Ao disco foi acoplado um mecanismo de rotação e foi escolhido um método de captura de imagem para análise. Como a velocidade angular se mostrou um parâmetro importante na análise do sensor, uma forma para sua medição foi escolhida. 2.1. Materiais e Métodos O material escolhido foi o PMMA por ser transparente e adequado para a usinagem a laser, possibilitando a confecção de vários sensores e da reposição mais rápida de peças danificadas. Diferentes formas de cola e vedação foram experimentados. Para a captura de imagem, foi utilizada uma câmera CCD de interface USB e software de captura (Cheese). Para a rotação do disco foram testados diversos motores com a finalidade de determinar o mais adequado. Buscou-se um motor que permitisse uma rotação a velocidade angular controlável e constante, com baixo ruído (tanto elétrico quanto mecânico) e que não perdesse torque nas diversas situações de velocidade angular experimentadas. Por fim, optou-se por um motor de corrente contínua com redução. O aparato foi controlado por um Arduino, uma plataforma de prototipagem eletrônica de fonte aberta composta por um microprocessador capaz de realizar tarefas programadas e com interface serial para comunicação com um computador. Como referência para medidas, utilizou-se um acelerômetro comercial, um MMA7361, baseado em um acelerômetro microfabricado da Freescale Semiconductors. 32 2.1.1. A Fresadora Para o corte de peças de acrílico, adotou-se a técnica da fresagem a laser. O equipamento utilizado foi a fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da empresa Gravograph®. Figura 2-1 – Fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da Gravograph® Este equipamento usa um laser de CO2 de 30W e uma lente convergente com a finalidade de concentrar a incidência no ponto focal. O aparato é preso a dois trilhos ortogonais e conduzido por motores de passo, de modo que há liberdade de movimento em duas dimensões (mesa x-y). O equipamento se conecta ao computador pela porta de impressora. O software que o controla é compatível com desenho vetorial, permitindo assim bom controle das linhas de corte de forma mais intuitiva. Por software, as variáveis controláveis são a potência do laser e a velocidade de deslocamento ao longo dos trilhos. Na máquina, a altura da bandeja pode ser definida, de forma a variar a posição da peça fresada em relação ao foco da lente do laser. Foi utilizado nesse trabalho o software Corel Draw para o desenho das peças e impressão. Schneider (2010) realizou um estudo pormenorizado do uso dessa máquina para a confecção de peças em acrílico utilizando o mesmo programa. Os dois modos de trabalho disponíveis e utilizados nesse trabalho são: Vector: o software utiliza os contornos das formas enviadas em formato vetorial e o laser percorre o mesmo trajeto, sendo essa uma ferramenta ideal para corte; Raster: o software envia as áreas das formas geométricas e o laser faz um mapeamento completo, sendo esse método ideal para a formação de escavações nas peças. 33 Análises dos perfis de corte por ablação a laser a partir desse equipamento foram realizadas por Schneider (2010) e por Rahal (2011) para peças em PMMA. 2.1.2. Arduino O Arduino é uma iniciativa de fonte aberta que tem por intuito facilitar a prototipagem eletrônica para fins de estudo e hobbismo. Sua base é um processador das séries ATMega, que variam de 8 a 32 bits, e tem por padrão 14 pinos digitais de entrada e saída (I/O) e 6 pinos analógicos de entrada. Ele é capaz de armazenar um programa escrito em linguagem C pelo usuário e enviado a partir de interface serial e usá-lo para definir seu comportamento. A equipe Arduino disponibiliza gratuitamente na Internet todo o software necessário para a operação desse equipamento, tal como referências de programação e prototipagem eletrônica. A alimentação do aparato pode ser fornecida por uma fonte externa, mas pode também ser provida pela interface USB, que atuará como uma porta serial virtual e fonte de alimentação simultaneamente. Figura 2-2 – Modelo comercial de placa Arduino Os pinos digitais podem ser inicializados como entrada (INPUT) ou saída (OUTPUT). Quando configurado como entrada, o pino entra em um estado de alta impedância e o processador passa a medir a tensão nele aplicada. Caso a tensão seja maior ou igual a 3V em relação ao terra, diz-se que ele está em estado ALTO (“HIGH” = 1 lógico) . Caso contrário, estará em estado BAIXO 34 (“LOW” = 0 lógico). Uma função pode ser usada no programa passado à placa para testar o estado de um pino de entrada. Caso seja inicializado como saída, um pino digital entrará em estado de baixa impedância. Uma função pode ser chamada pelo programa para que o processador altere sua tensão para 5V (HIGH) ou terra (LOW). Uma saída digital pode suprir uma corrente de 40mA, suficiente para alimentar um LED ou fornecer corrente para alimentar a base de um transistor de junção bipolar. O Arduino possui uma função interna para que um pino digital de saída se comporte como um modulador de largura de pulso (PWM) controlado pelo programa. Os pinos analógicos do Arduino são usados para medir a tensão neles aplicada, uma informação particularmente útil para a aquisição de dados de sensores e potenciômetros. A tensão medida é convertida para um formato digital de 10 bits, entendido como um número inteiro de 0 (para tensões iguais ao terra) a 1023 (para tensões iguais a 5V ou a outra referência definida externamente). Apesar dessa funcionalidade, esses pinos podem também ser inicializados como pinos digitais de entrada ou saída. A placa conta ainda com um pino de alimentação de 5V, cuja alimentação é fornecida diretamente pela fonte externa, e outro de 3,3V, cuja alimentação é fornecida pelo circuito FTDI1 interno (corrente máxima de 50mA). 2.1.3. Acelerômetro MM7361 O MM7361 é uma placa construída a partir de um circuito integrado MMA7361L, produzido pela Freescale Semicondutors, que é um acelerômetro capacitivo micro-usinado tridimensional de baixo consumo com compensação de temperatura e dois níveis de sensibilidade. Seu funcionamento se baseia em capacitores de três placas (duas placas fixas ao aparato e uma placa central móvel sensível a acelerações). A placa central está sujeita a uma força restauradora e sua posição varia de acordo com a aceleração externa. A variação de sua posição altera a espessura do dielétrico 1 O circuito FTDI (FTDI chip) é um dispositivo desenvolvido pela Future Technology Devices International (FTDI) para a conversão de sinal serial (RS-232 ou TTL) para formato USB, permitindo assim que dispositivos microcontrolados que se beneficiem dessa tecnologia possam se comunicar com computadores modernos. Este circuito está presente nas placas Arduino comerciais. Maiores informações podem ser encontradas no site da empresa (http://www.ftdichip.com/). 35 entre ela e as placas vizinhas, alterando assim a capacitância. Essa alteração é utilizada para a medida eletrônica da aceleração, e o sinal de saída é uma tensão analógica diretamente proporcional à aceleração aplicada. Figura 2-3 – Placa MM7361, com acelerômetro MMA7361 As duas sensibilidades são 1,5g e 6g, onde g indica a aceleração da gravidade. A seleção da sensibilidade é feita pela aplicação de um sinal positivo no pino GS. A placa tem três pinos de saída, x, y, e z, que correspondem a diferentes conjuntos de capacitores e indicam acelerações em três eixos ortogonais, permitindo assim medidas em três dimensões. A tensão de saída desses pinos varia de terra a 3,3V, de forma que uma tensão de 1,65V indica aceleração nula no eixo. 2.1.4. Projeto A peça principal do sensor é o disco contendo um fluido com uma bolha, chamado disco sensor. A forma mais conveniente encontrada foi a confecção de um disco em três peças, sendo dois discos, chamados tampas, e um anel, chamado anel de volume, coladas em forma de sanduíche. A espessura do anel de volume define o volume máximo de fluido admitido pelo disco. Para que o fluido pudesse ser introduzido após a colagem, uma ranhura no anel, chamada ranhura de admissão, foi adicionada ao projeto de forma a permitir a entrada de uma agulha de seringa hipodérmica. O disco pronto foi então anexado a uma peça de encaixe que pudesse ser acoplada a um motor. A cada novo modelo, aprimoramentos foram realizados 36 para estabilizar a rotação do disco, reduzir a interferência da vibração do motor, obter velocidades angulares mais constantes e melhores imagens para análise. As dimensões escolhidas para o disco sensor dão de 5,0cm de diâmetro externo (diâmetro das tampas e diâmetro externo do anel de volume) e 4,8cm de diâmetro interno (diâmetro interno do anel de volume). As espessuras de anel de volume experimentadas foram de 1, 2 e 3 milímetros. Figura 2-4 – Peças do disco sensor em ordem de colagem Formas diferentes de vedação foram experimentadas, tanto na colagem das peças quanto na ranhura de admissão. Uma vedação inadequada resultaria num acréscimo do raio da bolha ao longo do tempo, o que é indesejável para esse trabalho. Figura 2-5 – Disco sensor após montagem Para girar o disco sensor, um disco de encaixe foi elaborado em cada etapa do projeto. A função do disco de encaixe é se prender ao disco sensor e ao eixo 37 do motor, transferindo o torque de um para o outro. A forma desse disco sofreu alterações e é diferente em cada modelo. Até o segundo modelo experimental, o disco de encaixe foi experimentado tanto encaixado ao disco sensor quanto colado. Figura 2-6 – Anel de volume com ranhura de admissão Formas de colagem e vedação Para a colagem das peças de acrílico, três métodos foram testados: o uso de fita adesiva dupla-face, a aplicação de clorofórmio e o uso de uma cola de fabricação própria de acrílico dissolvido em clorofórmio. Ao longo do progresso do trabalho, cada método foi testado diversas vezes em cada situação para a busca do método ideal, não havendo assim a ligação de nenhum método a protótipos específicos do experimento. Fita adesiva dupla-face: O uso de fita adesiva dupla-face foi o primeiro método experimentado. O material foi utilizado no momento da confecção do anel de volume nas duas faces da placa de acrílico antes da fresa. A fresadora foi então ajustada para ter potência suficiente para cortar as duas camadas de fita adesiva junto com a placa de acrílico. O anel então tinha então duas camadas de material adesivo e poderia facilmente ser colado às tampas. A maior vantagem desse método se encontra na facilidade de aplicação e vedação do disco sensor, especialmente em comparação com os outros métodos utilizados. Em discos de álcool, porém, a vedação teve sua duração muito curta. 38 Clorofórmio: O PMMA que constitui as placas utilizadas para a confecção das peças é solúvel em clorofórmio. Uma vez que à temperatura ambiente esse solvente é muito volátil, ele pôde ser utilizado para dissolver bordas de peças e deixar, após sua evaporação, as peças unidas por uma liga do próprio PMMA, um processo semelhante a uma solda. O anel de volume era então posto sobre uma fina camada de clorofórmio em um recipiente de vidro. A face molhada em clorofórmio estaria pronta para a cola. O processo era repetido com a outra face e o anel molhado era posto entre as duas tampas e prensado com uma morsa até a evaporação completa do solvente. Esse foi o método mais eficiente enquanto cola, permitindo a confecção de peças mais resistentes e uma boa vedação. Seu maior contratempo era a dificuldade de colar as peças na posição adequada, uma vez que o processo deveria ser todo realizado antes do clorofórmio evaporar completamente. O método a seguir foi a opção adotada para facilitar esse processo. Cola de clorofórmio e PMMA de fabricação própria: Pequenas peças de acrílico foram diluídas no clorofórmio ainda dentro de um recipiente de armazenamento. Em um período de vinte e quatro horas aproximadamente, o resultado era um fluido viscoso e denso, menos volátil que o clorofórmio puro. Sua aplicação foi realizada nos dois lados do anel de volume com uma seringa. O anel era então cuidadosamente apoiado sobre uma das tampas para que a posição pudesse ser controlada. Após isso, a outra tampa era posta sobre o anel e a peça completa era levada à morsa. A secagem a partir de então seguiria o mesmo processo do clorofórmio puro. A vantagem desse método é a possibilidade de colar as peças de forma mais minuciosa. As peças fabricadas dessa forma, porém, não ficam tão resistentes quanto as que usam clorofórmio puro. A vedação poderia ser aprimorada depois da cola. Esse foi o método que apresentou os melhores resultados. Em todos os métodos, uma forma de sanar as imperfeições na distribuição da cola (que poderiam gerar vazamentos) foi a aplicação externa de cola ao longo da borda do disco. 39 Para fechar a ranhura de admissão após a introdução do fluido, o maior desafio enfrentado foi vedar a passagem antes que a evaporação ou mudanças de pressão do ambiente alterassem o tamanho da bolha. Para essa função, foram experimentadas a parafina, a cola de fabricação própria e a cola comercial Super Bonder®. As duas últimas deram bons resultados. 2.2. Evolução do modelo experimental Ao longo da elaboração dos diversos modelos utilizados para estudar o conceito do dispositivo proposto, a única peça que não sofreu alteração de design foi o disco sensor (exceto pela experimentação com diferentes espessuras do anel de volume). 2.2.1. Modelo 1 O primeiro modelo foi elaborado com o único objetivo de verificar questões de dimensionamento do dispositivo. Um motor de corrente contínua foi utilizado, primeiramente ligado a uma fonte de corrente contínua de tensão variável. Posteriormente, ele foi ligado à saída amplificada de um PWM de fabricação própria baseado em um circuito integrado 555. Um disco de encaixe foi confeccionado em acrílico cortado com um diâmetro de 5,4cm, e um círculo em raster de 5cm foi cavado dentro dele, permitindo o encaixe do disco sensor. O eixo do motor não tinha forma própria de encaixe, então esse modelo incluiu uma peça intermediária entre o motor e o disco de encaixe em forma de borboleta. 40 Figura 2-7 – Peças do modelo 1 em ordem de encaixe Esse modelo serviu como introdução ao dispositivo e revelou os primeiros problemas a serem enfrentados. Primeiramente, notou-se que velocidades angulares menores (𝜔 < 5 𝑟𝑒𝑣/𝑠) seriam melhores para medidas de acelerações. Figura 2-8 – Modelo 1 montado (representação artística) Foi através desse modelo que foram observados os primeiros indícios de que a posição de equilíbrio da bolha não seria próxima à linha que sai do centro do disco na direção da aceleração. Acreditou-se através da observação do comportamento da bolha nesse modelo que ela não atingiria uma posição de equilíbrio. 41 Esse modelo não foi viável para nenhum tipo de análise mais minuciosa, uma vez que as velocidades angulares mais baixas eram difíceis de serem obtidas, pois o motor perdia torque a baixas velocidades de rotação. 2.2.2. Modelo 2 O modelo 2 foi desenvolvido com o intuito de reduzir a velocidade de rotação do disco sem perda de torque pela baixa tensão aplicada ao motor. O disco de encaixe foi adaptado para funcionar como engrenagem enquanto outra engrenagem de acrílico foi confeccionada para ser encaixada no motor. Um eixo metálico foi utilizado para manter o centro de rotação do conjunto disco de encaixe e disco sensor. Figura 2-9 – Peças do modelo 2 em ordem de encaixe Esse modelo demonstrou uma leve redução no ruído da posição da bolha em relação ao primeiro. Por limitações do processo de fresa, porém, o eixo das engrenagens tinha uma pequena liberdade para se movimentar para os lados por conta do perfil de fresa em forma de cone. 42 Figura 2-10 – Modelo 2 montado (representação artística) A consequência desses defeitos de fresa para o encaixe das engrenagens é que, durante a rotação, em diversos momentos uma peça era pressionada contra a outra. Com efeito, a pressão sobre o eixo do motor o impedia de manter a velocidade angular constante. Foi verificado que as peças com largas extensões de raster, como o caso do disco de encaixe até então utilizado, geralmente se deformavam após a fresa. As peças que ainda poderiam se encaixar no disco sensor apresentavam leves desníveis que resultavam em um disco desalinhado com o plano de rotação. Para o próximo modelo foi necessário um sistema de redução mais eficiente e a eliminação do raster sobre as peças na medida do possível. 2.2.3. Modelo 3 Para esse modelo, foi adquirido um motor com redução. Os motores comerciais com redução demonstraram ser mais estáveis que a redução fabricada especificamente para este trabalho, em acrílico, além de serem disponibilizados em dimensões muito menores. Foi também nesse modelo que a placa Arduino passou a ser utilizada. A forma desses motores é similar a um motor comum de corrente contínua, mas com um sistema de engrenagens encaixado ao eixo, encapsulado geralmente por uma carenagem parafusada sobre o motor. Um motor Servo de rotação também foi experimentado. Infelizmente, apesar do alto torque e da rotação estável, esses motores não têm ajustes de velocidade de rotação. Para esse trabalho a variação desse parâmetro é 43 fundamental, então um motor reduzido ligado a um PWM foi a melhor alternativa. Figura 2-11 – Peças do disco de encaixe sem raster, em ordem de colagem A plataforma foi adaptada para admitir o motor servo com parafusos, e posteriormente adaptada para o motor com redução. O encaixe “borboleta” foi adaptado para ser similar a uma das borboletas que acompanham o servo, tornando assim possível fabricar discos de encaixe que servissem tanto para um motor quanto para o outro. O disco de encaixe foi reelaborado para não ter peças em raster. Ao invés disso, um disco e dois milímetros de espessura foi cortado e um anel de um milímetro foi colado sobre ele, formando assim o encaixe necessário para o disco sensor. Também nesse modelo, foi incluído um pedestal que permitisse o acoplamento da câmera USB para a aquisição de imagens. 44 Figura 2-12 – Peças da plataforma com pedestal para câmera, em ordem de colagem Um encaixe para o acelerômetro MM7361 foi feito ao lado do espaço do disco, de forma que disco e acelerômetro compartilhassem um de seus eixos e, estando no mesmo plano, sentissem as mesmas acelerações. Para isso, foram utilizados dois conectores de encaixe com cinco contatos, de forma que se pudesse nos conectores soldar os fios que ligariam o acelerômetro às entradas analógicas do Arduino. Figura 2-13 – Peças do modelo 3 em ordem de encaixe O modelo 3 foi importante por fornecer as primeiras imagens do funcionamento do disco enquanto sensor. A forma da plataforma visava 45 permitir seu acoplamento a um eixo de motor de passo, com o intuito de inclinar o sistema a pequenas variações de ângulo. Alguns problemas no design foram percebidos, e estes permitiram a chegada a uma versão definitiva. Figura 2-14 – Modelo 3 montado (representação artística) O Arduino foi ligado às partes do aparato (motor e acelerômetro) através de fios de cobre, que eram danificados pela sucessão de inclinações da plataforma. Um segundo problema verificado era quanto à estabilidade do plano de rotação do disco. Para solucionar esse problema, o disco de encaixe precisou ainda sofrer pequenas alterações, mas seu princípio livre de raster foi preservado. A intenção inicial era a medida da velocidade angular do disco a partir da filmagem pela câmera USB. Observou-se nessa etapa que esse método não seria eficiente e, além disso, essa medida só poderia ser realizada posteriormente, durante a análise das imagens. Uma forma de medida de velocidade angular em tempo real seria necessária para uma aquisição mais sistemática de dados. 2.2.4. Modelo 4 Após as correções feitas ao modelo três, foi obtido um modelo interessante para medidas. Uma caixa plástica com tampa foi utilizada como base para a 46 construção do aparato experimental completo. Dentro dela foram fixados o Arduino e a placa com os circuitos necessários ao funcionamento do experimento (como os circuitos para amplificação do sinal PWM do motor, capacitores para filtrar o sinal de saída do acelerômetro, etc). A plataforma para o disco e o acelerômetro foi fixada sobre a tampa, que por sua vez recebeu furos para a passagem dos fios de contato e do eixo do motor. Nessa versão, o pedestal da câmera foi separado da plataforma. Ao invés de colá-lo, optou-se por parafusá-lo. Um trilho foi cortado na plataforma para permitir que o pedestal fosse deslocado de um lado para o outro. Para a medida da velocidade angular foi escolhido um conjunto de diodo emissor de luz (LED) de infra-vermelho associado a um fotodiodo, dentro de uma armadura de proteção contra a luz ambiente. Uma adaptação no disco de encaixe (a adição de um anel de contagem) permitiu que o fotodiodo pudesse enviar ao Arduino informações sobre a rotação do disco, de forma que a velocidade angular pudesse ser medida. Um suporte móvel foi incluído sobre a plataforma para sustentar o conjunto. Figura 2-15 – Peças do disco de encaixe com anel de contagem em ordem de colagem Um anel de estabilização foi adicionado sob a base do disco de encaixe com o objetivo de afastá-lo da peça de acrílico da base. Usando uma espessura maior para esse anel (3mm), o conjunto colado ficaria mais estável em relação ao plano. O encaixe em borboleta seria então composto de duas peças idênticas coladas para que alcançassem o disco de encaixe. Com isso, o encaixe não 47 ficava fixo ao disco de encaixe, evitando que seu desnível interferisse no nível do disco. O efeito final dessa adaptação foi uma rotação mais estável e uma maior facilidade para nivelar o disco sensor com o plano da plataforma. O cabo USB que alimenta o Arduino e permite sua comunicação com um computador foi introduzido na caixa por um orifício lateral na caixa. Figura 2-16 – Peças do modelo 4 em ordem de encaixe 48 Figura 2-17 – Plataforma do modelo 4 montada (representação artística) A caixa completa com a plataforma atua como acelerômetro. Simultaneamente, dados da câmera USB e do MM7361 são obtidos para comparação. Foi observado também que o funcionamento do motor por PWM interferia nos dados obtidos pelo acelerômetro. Para solucionar esse problema, tanto o motor quando as entradas analógicas do Arduino foram filtradas com capacitores. Simultaneamente, uma vez que a corrente fornecida pela USB do computador é muito baixa, uma fonte externa de 5V foi utilizada para alimentar o motor, garantindo um funcionamento mais estável. 2.3. A escolha do fluido sensor Inicialmente, o experimento foi idealizado para ser realizado com água. O disco sensor foi plenamente preenchido com água deixando bolhas de tamanhos diferentes para testes. A água é um fluido de tensão superficial bastante elevada. Devido a esse fator, as bolhas em água tendem a ser esféricas para diâmetros maiores que em outros fluidos, como o álcool. O contratempo decorrente da elevada tensão superficial foi o fato de que, por vezes, a bolha que encontrava uma parede de acrílico rompia o filme de água que os separava. Uma vez que isso ocorria, se tornava muito difícil mover a bolha para 49 longe dessa parede, gerando um efeito semelhante a uma fricção. A conseqüência desse efeito se refletiu em um constante movimento da bolha, que dificilmente encontrava uma posição de equilíbrio. Percebido esse problema, o próximo passo foi tentar reduzir esse valor de tensão superficial a um valor administrável, mas que ainda mantivesse as bolhas esféricas, então fez-se a experiência com álcool etílico e álcool isopropílico. Na ocasião, o material de vedação utilizado era a fita dupla face, que é solúvel em álcool, o que inviabilizou essa escolha. Foi realizada então a experiência de misturar água com um surfactante. Para tanto, foi escolhido o Triton X-100, um surfactante não-iônico comumente utilizado como detergente em indústrias. Diferente da água pura, a água com o surfactante demonstrou maior potencial para a obtenção de movimentos mais estáveis da bolha. Apesar disso, em situações em que o disco sofre acelerações bruscas, o fluido transformava a bolha em espuma, o que tornava mais medidas impossíveis até que esta fosse desfeita. A partir do momento que passaram a ser usados os métodos de colagem à base de clorofórmio, foi possível retomar o uso do álcool como fluido sensor. O álcool escolhido como para o trabalho foi o etílico. 2.3.1. Definição de um diâmetro estável da bolha Foi observado já nos primeiros modelos que as dimensões da bolha têm certa influência na estabilidade de seu movimento, que será discutida ao longo dos resultados experimentais. Ao longo de um experimento, então, a título de sistematização, foi necessário encontrar formas de manter o volume de ar dentro do disco estável, de forma a não alterar o volume da bolha. O primeiro obstáculo foi a má vedação na borda do disco sensor. As vedações menos eficientes permitiam que ao longo das tomadas de medidas o fluido sensor fosse expulso de dentro do disco, permitindo que nos intervalos entre medidas o ar do ambiente entrasse pelos mesmos pontos de vazamento. Apesar da otimização da vedação, foi observado que o volume da bolha não se mantinha constante ao longo da tomada de dados. Ao invés disso, ele aumentava até um certo valor e estagnava. Por esse motivo, a obtenção de bolhas pequenas (1 a 2mm de diâmetro) era muito difícil. A razão para esse 50 aumento no volume da bolha estava ligada ao ar absorvido no fluido sensor. O movimento de rotação do disco concentra o ar no centro, agregando-o ao volume da bolha até um certo limite. A solução encontrada foi a expulsão do ar do fluido sensor por sonicação. O fluido, após esse processo, era então utilizado para encher o disco sensor. Nesse caso, o processo inverso ocorre: o fluido captura ar da bolha, reduzindolhe o volume até um valor estável. Dessa forma, era possível obter bolhas de diâmetros variantes entre 0,5 e 2,0 mm sem maiores dificuldades. 2.4. Obtenção dos dados 2.4.1. Obtenção da aceleração Para simular acelerações constantes sofridas pelo sistema, ele era inclinado para que uma componente da gravidade atuasse de forma semelhante a acelerações de referencial não inercial. Para obter o valor da aceleração a que o sistema está sujeito em cada situação, dois métodos simultâneos foram utilizados: a medida do ângulo de inclinação do plano da plataforma e os dados do acelerômetro MM7361, cuja saída é um valor analógico que pode ser interpretado pelo Arduino. 2.4.2. Obtenção da distância da bolha ao centro O programa de captura de imagem utilizado dava sua saída em formato webm, um formato compacto e de resolução compatível com o equipamento utilizado. A câmera capturava imagens a uma taxa aproximada de vinte e cinco quadros por segundo. Os arquivos em formato webm foram então convertidos em um formato sem compactação (raw) para posterior análise quadro a quadro. Para realizar a conversão, foi utilizado o Super® Video Converter, que utiliza o mencoder (um encoder de código aberto) como seu motor. Para a realização da análise dos vídeos foi utilizado o Datapoint, um programa gratuito desenvolvido para análise de vídeos em laboratórios didáticos. Esse programa permite que o usuário utilize a interface gráfica para localizar em cada quadro o objeto que deseja, e dá como saída um arquivo ASCII com os valores em pixels das posições nas duas dimensões e no tempo de vídeo. 51 De posse desses dados, partindo de distâncias conhecidas dentro da própria imagem, é possível encontrar em milímetros a posição da bolha em relação ao centro. Para tal, toma-se uma referência de distância conhecida na imagem, encontra-se seu valor em pixels e aplica uma regra de proporção para encontrar as distâncias desejadas. A câmera utilizada gravou imagens a uma resolução de 352 pixels de largura por 288 pixels de altura. Figura 2-18 – Pontos marcados no disco para cálculo de distância da bolha ao centro A Figura 2-18 mostra um instantâneo capturado de um vídeo em uma tomada de dados. Os pontos utilizados interessantes a medida da distância entre a bolha e o centro estão demarcados em vermelho e a bolha está circulada em verde: a distância entre p1 e p2 é conhecida, tal como a distância entre p3 e p4 (o diâmetro do disco sensor). A distância 𝑟 da bolha em relação ao centro pode ser encontra a partir das coordenadas x e y dela e desses pontos a partir da seguinte relação: 𝑟 = √(𝑥 − 𝑥0 )2 + (𝑦 − 𝑦0 )2 (21) onde os valores com índice zero indicam coordenadas do centro (pc). Para uma situação geral, deve-se levar em consideração que nem sempre a captura e gravação de imagem obedece as mesmas proporções na horizontal e na vertical. Assim sendo, as distâncias nas duas coordenadas devem primeiramente ser transformadas para uma unidade real e depois unidas pela relação acima. Considerando que a posição em pixels da bolha seja (𝑝𝑥 ,𝑝𝑦 ), vale então: 𝑥 − 𝑥0 = (𝑝𝑥 − 𝑝𝑐𝑥 ) 𝑑 (𝑝4𝑥 − 𝑝3𝑥 ) 52 𝑦 − 𝑦0 = (𝑝𝑦 − 𝑝𝑐𝑦 ) (𝑝1𝑦 − 𝑝2𝑦 ) 𝑑 onde 𝑑 é o diâmetro do disco. Apesar da distância d ser a mesma em x e em y, não se pode afirmar que o vídeo capturado respeite a mesma proporção nas duas dimensões. Por esse motivo, os cálculos para x utilizam p3 e p4 ao passo que os cálculos em y utilizam p1 e p2. As constantes: 𝐶𝑥 = 𝑑 𝑝4𝑥 − 𝑝3𝑥 𝐶𝑦 = 𝑑 𝑝1𝑦 − 𝑝2𝑦 são dependentes da resolução da câmera, do ângulo sólido coberto pelo seu jogo de lentes e pela distância entre a câmera e o objeto. Elas são as constantes de proporcionalidade entre as distâncias em pixels e as distâncias em milímetros dos objetos, e serão equivalentes caso o vídeo capturado tenha a exata mesma proporção nas duas dimensões. 2.5. Arranjo experimental Para a realização do experimento, foi escolhido um plano inclinado como o método mais conveniente para a obtenção de acelerações constante. Um transferidor com precisão de um grau foi acoplado à plataforma do modelo final. Em seu centro de referência foi feito um furo que permitisse a passagem de um fio de barbante. À ponta do barbante foi presa uma peça de metal. O fio indica a inclinação da plataforma em relação à gravidade. Ao se definir um ângulo para a plataforma, uma bateria de dados era tomada em diferentes velocidades angulares. Após finalizada uma bateria de dados a um determinado ângulo, movia-se a rampa até atingir o próximo ângulo desejado. O valor da aceleração equivalente obtido a partir dessa inclinação pode ser obtido geometricamente. 53 Figura 2-19 – Arranjo experimental com rampa e transferidor (representação artística) Figura 2-20 – Ângulo de inclinação em relação à gravidade e aceleração equivalente Pode-se demonstrar geometricamente que o módulo de 𝑎𝑒 será, nesse caso: |𝑎𝑒 | = |𝑔|𝑠𝑒𝑛𝛼 (22) 54 Isso ocorre porque a força gravitacional se comporta de maneira análoga a uma força de referencial não inercial devida a uma aceleração em sentido oposto. Essa equação é a base para o cálculo das acelerações equivalentes utilizadas nesse estudo. Para a observação do comportamento da bolha em acelerações variáveis foi adicionado ao aparato experimental uma plataforma sobre rodas. A plataforma foi presa através de um fio a uma massa que era pendurada em uma roldana em uma bancada. A massa solta sofre ação da gravidade e exerce força constante sobre o carro através do fio. Quando a massa toca o chão, o carro assume um movimento retilíneo e uniforme. Figura 2-21 – Arranjo experimental para observação do comportamento do sensor sujeito a acelerações variáveis Isso ocorre porque a força gravitacional se comporta de maneira análoga a uma força de referencial não inercial devida a uma aceleração em sentido oposto. Essa equação é a base para o cálculo das acelerações equivalentes utilizadas nesse estudo. 55 3. Resultados e discussão 3.1. Resultados experimentais O experimento demonstrou a sensibilidade do acelerômetro de acordo com a velocidade de rotação do disco e a aceleração externa aplicada. 3.1.1. Posição de equilíbrio da bolha O experimento foi conduzido com o objetivo de estabelecer uma relação entre a aceleração externa e a posição de equilíbrio da bolha dentro do fluido sensor. O perfil de distâncias da bolha em função da aceleração variou com a velocidade angular, conforme esperado. Os valores de aceleração foram obtidos por inclinação do plano de rotação. As diferentes inclinações utilizadas foram os valores entre 10 e 50 graus, a um passo de 5 graus. As acelerações equivalentes podem ser obtidas a partir do valor da gravidade. A aceleração equivalente a cada inclinação foi calculada utilizando uma aceleração gravitacional de 9,79 m/s². Os valores resultantes estão na Tabela 3-1. Tabela 3-1 – Diferentes inclinações utilizadas para simular acelerações fixas e valores correspondentes de aceleração Inclinação (graus) 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Aceleração (m/s2) 1,70 2,53 3,35 4,14 4,89 5,61 6,29 6,92 7,50 Os valores de velocidade angular utilizados na análise foram entre 2,0 e 4,0 revoluções por segundo, a um passo de 0,1 revoluções por segundo. Cada valor obtido para posição da bolha foi calculado a partir da posição média da bolha ao longo de aproximado um segundo de vídeo (25 quadros). O diâmetro aproximado da bolha utilizada nessa bateria de dados era de 1,2mm e se manteve estável ao longo do experimento. Verticalmente (ao longo da altura do cilindro), a bolha não oscilou durante o experimento. Seu movimento foi exclusivamente no plano das tampas. 56 Ângulo da aceleração e o ângulo de deslocamento da bolha O primeiro resultado relevante para esse trabalho diz respeito ao ângulo entre o deslocamento da bolha e a direção da aceleração. Foi esperado que o deslocamento da bolha ocorresse na direção da aceleração, como no modelo didático, mas que fosse deslocado na direção da velocidade do fluido em rotação. Ao invés disso, foi observado que a bolha se desloca em uma direção aproximadamente perpendicular à aceleração externa. Figura 3-1 – Ângulo da posição da bolha. a) aceleração nula; b) aceleração positiva em y (resultado esperado); c) aceleração positiva em y (resultado observado) Condições para uma posição de equilíbrio Foi possível observar que o diâmetro da bolha influencia em seu equilíbrio dinâmico. Conforme as dimensões da bolha aumentavam, tornava-se difícil a definição de sua geometria com maior precisão. Bolhas maiores tendiam a se deformar em decorrência da atuação de forças de pressão do fluido em movimento ao seu redor. O que impede essa deformação é a tensão superficial do fluido sensor. 57 Dessa forma, fluidos com maiores tensões superficiais permitiriam mais facilmente uma situação de equilíbrio dinâmico sobre a bolha se esse fator for considerado isoladamente, uma vez que a geometria mais constante reduz variações nas forças de elevação e arrasto. Como mencionado na Introdução, Nierop et al (2007) afirmam que o número de Weber permite a estimativa da tendência da bolha a se deformar ou permanecer esférica, levando em conta os fatores marcantes, como o raio da bolha, as características do fluido e a velocidade relativa entre fluido e bolha. A minimização desse parâmetro então garante melhores resultados em termos de estabilidade. Observa-se da equação (9) que o número de Weber cresce com a velocidade relativa entre fluido e bolha. Sua influência no equilíbrio dinâmico do sistema foi clara quando valores intermediários de diâmetro da bolha foram experimentados: o desvio padrão na distância entre bolha e centro cresce com a velocidade angular e com a aceleração experimentada (uma vez que a aceleração aumenta a distância da bolha para o centro e, consequentemente, a velocidade relativa entre bolha e fluido). Dessa forma, pode-se afirmar que as medidas mais estáveis são aquelas em que a velocidade angular do fluido, a aceleração sentida e o diâmetro da bolha são menores. O pior cenário (maior número de Weber) para este experimento é o disco a 4 revoluções por segundo (maior velocidade angular utilizada) com a bolha na borda do disco (maior distância possível, o que implica em maior velocidade escalar do fluido). O melhor cenário está em baixas acelerações e baixa velocidade angular. O número de Reynolds foi calculado de forma semelhante. Ele será importante para definir a forma relevante para o arrasto e o regime de escoamento quanto à laminaridade ou não-laminaridade. Ele é sensível ao diâmetro da bolha, e nos limites testados foi possível trabalhar na região de transição entre Reynolds que caracterizem regimes laminares e turbulentos (102 ). Isso significa que diferenças no diâmetro da bolha também podem gerar turbulências. 58 Tabela 3-2 – Parâmetros para o número de Weber e número de Reynolds (álcool etílico e raio da bolha utilizada) Raio da bolha (m) 6 × 10−4 Densidade (kg/m³) 789 Tensão superficial (N/m) 2,227 × 10−2 Viscosidade (Pa.s) 0,248 × 10−3 A Tabela 3-2 mostra os parâmetros utilizados para o cálculo destes adimensionais nas várias situações consideradas. O plano de rotação deve ser mantido constante ao longo das medidas, pois uma inclinação relativa entre a normal do disco e o eixo de rotação inclui forças inerciais de rotação no sistema. Vibrações e instabilidades na velocidade angular do disco também contribuem para o aumento do desvio padrão das medidas. Dessa forma, a escolha do motor é um parâmetro importante para definir a precisão do sensor. 3.1.2. Resultados para posição da bolha A posição encontrada para o equilíbrio da bolha em função dos parâmetros aceleração e velocidade angular obedeceu a alguns critérios da estimativa realizada durante a motivação do trabalho. Observou-se que a distância da bolha ao centro cresceu com a aceleração e diminuiu com a velocidade angular. Uma forma de resumir os dados obtidos está na Figura 3-2, que mostra o comportamento do sensor em função dos dois parâmetros principais. 59 Figura 3-2 – Bateria completa de dados para distância da bolha ao centro em função da aceleração medida e da velocidade angular do disco A análise dos parâmetros de forma independente se dará a seguir. Será necessário partir da consideração de que a bolha, em uma aceleração nula, tenderá ao centro do disco (a=0 → r=0). A distância r pode ser escrita como uma função da velocidade angular e da aceleração externa. 𝑟 = 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) (23) Número de Weber O cálculo do número de Weber nesse trabalho considerou os dados presentes na Tabela 3-2 e os dados constantes no gráfico da Figura 3-2. Utilizando esses dados, os valores calculados formam o gráfico presente na Figura 3-3. 60 Figura 3-3 – Número de Weber em função de 𝒂𝒆 e 𝝎 Foi possível notar que o número de Weber tem variação muito pequena em função da velocidade angular, mas uma variação acentuada proporcional à aceleração externa. Isso indicou que a forma da bolha tendeu a formas mais constantes em valores baixos de aceleração. Em valores altos, a hipótese da bolha livre de deformação não é precisa, o que tornou o modelo de forças proposto por Magnaudet e Eanes (2000) impróprio para este trabalho. A dependência da posição da bolha nos parâmetros 𝑎𝑒 e 𝜔 seria obtido mais facilmente de forma empírica nesse caso. Número de Reynolds Utilizando os dados da Tabela 3-2 aplicados sobre os parâmetros medidos e presentes no gráfico da Figura 3-2, o número de Reynolds na região da bolha foi calculado considerando-se o diâmetro da bolha como dimensão característica para o problema (uma vez que ela é o único obstáculo relevante transversal ao movimento do fluido). Os resultados estão na Figura 3-4. 61 Figura 3-4 – Número de Reynolds em função de 𝒂𝒆 e 𝝎 O número de Reynolds, como pode ser observado, se manteve no intervalo entre 100 e 500. Analisando isoladamente por esses dados, pode-se dizer que o regime de escoamento encontra-se na região de transição entre o escoamento laminar e turbulento. Nessa situação, pequenas variações no diâmetro da bolha podem ter grandes efeitos sobre a laminaridade do escoamento e, como discutido na introdução, baseado nos resultados de Nagami e Saito (2012), na influência da turbulência sobre a posição da bolha. Posição em função da aceleração Em todas as velocidades angulares experimentadas, a posição se comportou de maneira similar em relação à aceleração. 62 Figura 3-5 – Posição da bolha (r) em função da aceleração medida (a e) para diferentes valores de velocidade angular É possível verificar que a distância da bolha ao centro varia de forma aproximadamente linear, especialmente em velocidades angulares mais altas. Também é possível verificar que a taxa de variação dessa função é menor para valores maiores de velocidade angular. A forma mais coerente encontrada para a variação da distância em função da aceleração externa foi a de uma combinação linear de um termo linear em 𝑎𝑒 com um termo de raiz quadrada. A explicação mais coerente encontrada para isso está ligada à forma da força de arrasto. Posição em função da velocidade angular Como esperado, maiores valores de velocidade angular resultaram em medidas mais próximas ao centro do disco. Isso é consequência da força direcionada ao centro que o fluido sensor exerce sobre a bolha devido à rotação. 63 Figura 3-6 – Medidas da posição da bolha (r) em função da velocidade angular para diferentes acelerações medidas Foi observado através da Figura 3-6 que a posição da bolha em função da velocidade angular tem uma taxa de proporcionalidade aproximadamente inversa. Para verificar essa hipótese foi construído um novo gráfico utilizando valores de 1/𝜔, utilizando radianos ao invés de revoluções. Figura 3-7 – Posição em função do inverso da velocidade angular 64 O gráfico da Figura 3-7 evidencia que a dependência da posição da bolha no inverso da velocidade angular é linear, o que confirma a hipótese de proporcionalidade inversa entre a posição da bolha (𝑟) e a velocidade angular (𝜔). Análise do desvio padrão Foi possível observar através dos gráficos da e da que os desvios padrão obtidos para as medidas foram bastante pequenos, especialmente para as maiores medidas de 𝑟. As principais causas do desvio padrão nas medidas são a dimensão da bolha e a instabilidade de sua posição. Os valores absolutos de desvio padrão para cada medida dos gráficos foram todos muito próximos, variando entre 0,13𝑚𝑚 e 0,25𝑚𝑚. Apesar disso, para as medidas de menores acelerações (e consequentemente menores valores de 𝑟), os pesos relativos das incertezas em relação às medidas se tornam maiores. Figura 3-8 – Desvio padrão relativo médio para as medidas de distância de cada aceleração utilizada O gráfico da Figura 3-8 mostra então o peso dos desvios padrão sobre o valor das medidas em cada aceleração experimentada. As menores acelerações 65 apresentam maiores erros relativos especialmente pelas medidas de distância serem menores. Espera-se, nesse caso, que as medidas de menor aceleração sejam as menos precisas. 3.1.3. Análise da posição de equilíbrio da bolha A dependência linear na aceleração e inversa na velocidade angular implicam que a função 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) pode ser escrita como um produto de duas funções, uma exclusivamente dependente de 𝑎𝑒 e outra exclusivamente dependente de 𝜔. 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) = 𝑓(𝑎𝑒 )𝑔(𝜔) (24) 𝑓(𝑎𝑒 ) = 𝐶𝑎𝑒 (25) 𝑔(𝜔) = 𝐷𝜔−1 (26) de forma que: onde C e D são constantes. Dessa forma, a equação (24) pode ser reescrita como a partir de (25) e (26): 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) = 𝐸𝑎𝑒 𝜔−1 (27) onde E é uma constate. O valor de E estará relacionado às características do dispositivo, como os parâmetros do fluido sensor, o diâmetro da bolha e o diâmetro do disco sensor. A equação (27) é a forma geral para determinar o a resposta do sensor a acelerações constantes caso esse modelo seja satisfatório. Convertendo as medidas para metros de forma que haja concordância nas unidades de medida de distância, o valor estimado para E com base nos dados obtidos é 0,00306 𝑠 3 /𝑟𝑒𝑣. É conveniente utilizar r em milímetros e manter 𝑎𝑒 em 𝑚/𝑠 2 . Nesse caso, o valor de E na unidade adequada é 3,06 𝑚𝑚 𝑠 3 𝑟𝑒𝑣 −1 𝑚−1 . 66 Figura 3-9 – Comparação dos dados experimentais (acima) com a equação deduzida (abaixo). Foi possível observar pelos gráficos tridimensionais que para valores mais altos de 𝑎𝑒 , a medida se diferenciou mais da previsão. Uma análise numérica mostrou que para os valores médios, os resultados foram os mais precisos. Para realizar essa verificação, foi feita a subtração dos dois gráficos. Os valores das subtrações foram então divididos pelo valor esperado pela equação. 67 Figura 3-10 – Diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais Foi possível perceber pelo gráfico na Figura 3-10 que as diferenças relativas são mais acentuadas quando mais próximo dos extremos de aceleração. Um gráfico de erro relativo foi então feito a partir dos módulos da diferença relativa distribuídos de forma ponderada. Nesse gráfico, foi possível verificar que os maiores erros experimentais estavam nas acelerações mais altas, ao passo que os valores médios demonstraram resultados mais precisos. Essa análise permitiu a percepção de que a consideração da dependência linear de r em 𝑎𝑒 não é uma boa aproximação. 68 Figura 3-11 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais (imprecisão do modelo) A elevação do erro experimental para baixas acelerações se devia especialmente ao maior erro relativo das medidas para pequenas distâncias. Para altas acelerações, o modelo proposto pela equação (27) se distanciou mais do resultado experimental. Nessa região, a suposição de uma dependência linear na aceleração se tornou gradativamente menos precisa. A melhor forma para tentar entender essa dependência foi a partir de uma análise das forças envolvidas. 69 Figura 3-12 – Forças atuantes sobre a bolha: Sustentação, centrípeta, arrasto e força de empuxo decorrente da aceleração externa A Figura 3-12 mostra as forças atuando sobre a bolha para uma dada aceleração externa. As duas forças relevantes são 𝐹𝑎𝑒 , que surge do gradiente de pressão no fluido quando o recipiente é acelerado, e 𝐹𝑎𝑟𝑟 , que é a força de arrasto que surge do fato do fluido estar girando em torno do centro enquanto a bolha está em repouso em relação a ele. A primeira força aponta na direção da aceleração ao passo que a segunda é perpendicular ao vetor posição da bolha. Assim sendo, em uma situação em que o vetor posição é perpendicular à aceleração exerna, 𝐹𝑎𝑒 e 𝐹𝑎𝑟𝑟 serão colineares. Para uma posição de equilíbrio, essas duas forças devem se anular. Assim sendo, pode-se afirmar: 𝐹𝑎𝑒 = −𝐹𝑎𝑟𝑟 (28) A forma de 𝐹𝑎𝑟𝑟 será fortemente dependente do regime de escoamento em questão. Os números de Reynolds considerados nesse trabalho caracterizam um regime de transição entre o domínio viscoso do arrasto e o domínio geométrico. Dessa forma, ambas as contribuições serão consideradas relevantes. Assim, 𝐹𝑒 = 𝐴𝑣 + 𝐵𝑣 2 (29) será uma forma coerente para definir a igualdade de forças de (28), onde A e B são constantes dependentes dos parâmetros do fluido e da bolha. Como a bolha 70 está em repouso em relação ao referencial (posição de equilíbrio), a velocidade no ponto será equivalente à velocidade linear do fluido que por ali passa. 𝐴𝑟𝜔 + 𝐵(𝑟𝜔)2 − 𝑎𝑒 = 0 (30) A equação (30) tem solução da forma: 𝑟= 1 [𝐶 √𝐶 + 𝐶3 𝑎𝑒 ] + 𝐶4 𝜔 1 2 (31) É interessante ressaltar a permanência do termo inverso em 𝜔 na equação (31). Tentativas com valores para as constantes demonstraram que o termo não linear é uma parte importante da equação e que 𝐶2 pode ser desprezada. A relação (31) não resultou em um bom modelo empírico para os dados encontrados. Para uma solução mais robusta, foi utilizada uma combinação linear das duas soluções possíveis em 𝑎𝑒 : uma para 𝜔𝑟 (força de arrasto viscoso) e outra para (𝜔𝑟)2 (força de arrasto geométrico). A primeira resulta em um termo linear em 𝑎𝑒 e a segunda em um termo de 𝑎𝑒 1/2. Assim, foi obtida uma relação empírica de baixo erro em comparação com os modelos anteriores. 𝑟= 1 [𝐶 𝑎 + 𝐶2 √𝑎𝑒 ] + 𝐶3 𝜔 1 𝑒 (32) Realizando os ajustes manualmente e buscando os melhores resultados, foram encontrados os seguintes valores para as constantes: 𝐶1 = 9,3653𝑚𝑚. 𝑚−1 𝑠 3 𝐶2 = 23,8390𝑚𝑚. 𝑚−1 𝑠 3 𝐶3 = −0,56𝑚𝑚 Idealmente, para um valor nulo de 𝑎𝑒 , seria esperado um valor nulo de r, o que indica que 𝐶3 deveria ter um valor nulo. Seu valor estimado é da ordem do raio da bolha (6 × 10−4 𝑚), um dos principais causadores do desvio padrão como discutido anteriormente, o que torna sua medida realista dentro do experimento. Apesar dessa constatação mostrar que o nível de incerteza é tolerável, não se pode afirmar a partir do experimento realizado que o raio da bolha e 𝐶3 tenham alguma relação. 71 Foi possível perceber que o valor encontrado pelo ajuste manual se aproximou da realidade, pois foi pequeno próximo aos valores encontrados para r. Apesar disso, em valores muito pequenos de r essa constante poderia incluir um erro não desprezível nas previsões. A exemplo do modelo anterior para a equação deduzida, uma razão entre a diferença e os valores previstas foi realizada para encontrar uma estimativa do quanto os resultados experimentais diferem dos valores previstos. Figura 3-13 – Diferença relativa entre dados experimentais e o segundo modelo proposto A Figura 3-13 mostra as diferenças relativas para todos os dados. Foi possível perceber que, para a maior parte das medidas, o experimento fugiu das previsões em valores inferiores a 5% para mais ou para menos. Para as regiões de mais baixa aceleração, picos de erro surgiram, sugerindo uma região de menor precisão. As hipóteses válidas para esse erro são a imprecisão da relação de potências que exige um valor não nulo de 𝐶3 e a maior imprecisão relativa das medidas para valores mais baixos de r. 72 Realizando o módulo e distribuindo os erros ponderadamente, as regiões de menor e maior erro foram facilmente observadas na bateria de dados, como pode ser visto na Figura 3-14. Figura 3-14 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre o segundo modelo e os dados experimentais (imprecisão do modelo) Foi possível perceber nessa análise que valores mais baixos de aceleração tornaram a relação (32) menos precisa, ao passo que os valores mais altos demonstraram boa precisão. Assim, concluiu-se que o melhor modelo para relacionar a aceleração externa com a posição da bolha combina um termo linear com um termo quadrado de 𝜔𝑟. Com essa informação foi possível verificar qual é a resposta do acelerômetro para cada valor de aceleração e velocidade angular utilizados. Com os valores conhecidos de aceleração e utilizando os dados coletados foi deduzida empiricamente uma relação para utilizar os valores de velocidade angular e distância da bolha ao centro para calcular a aceleração a que o aparato está sujeito. A forma da relação é: 73 𝑎𝑒 = 𝐴𝜔𝑟 + 𝐵(𝜔𝑟)2 (33) onde: 𝐴 = 43,34𝑠 −1 𝐵 = 135,1𝑚−1 Com essa relação foi possível estimar o comportamento do acelerômetro em vários regimes de aceleração e velocidade angular. Com os dados obtidos e a relação deduzida foi possível estimar a precisão do acelerômetro para diversos valores de aceleração externa. Assumindo os valores médios de todas as velocidades angulares para cada aceleração é possível estimar um desvio médio de medida. Os resultados estão na Tabela 3-3. A Figura 3-15 reúne todos os valores de aceleração calculados pelo modelo empírico e os coloca ao lado dos valores esperados. Aceleração (m/s²) Desvio relativo 1,70 2,53 3,35 4,14 4,90 5,62 6,29 6,92 7,50 9,8% 5,1% 3,8% 3,6% 1,5% 4,0% 2,9% 0,9% 3,4% Tabela 3-3 – Desvio relativo percentual entre a medida obtida a partir do acelerômetro de bolha e o valor conhecido das acelerações equivalentes Foi possível perceber que os desvios entre o modelo e os dados são maiores nas regiões de mais baixas acelerações, o que concorda com a discussão sobre desvio padrão no início desse capítulo. 74 Figura 3-15 – Dados obtidos pelo acelerômetro de bolha em comparação com acelerações equivalentes (pontos à esquerda) a partir da relação deduzida empiricamente. 75 Medidas de aceleração variável Para realizar as medidas de aceleração variável foram utilizados três valores distintos de massa aceleradora: 200g, 300g e 400g. Para cada massa foram realizadas dez observações. O resultado da montagem experimental utilizada é um período de aceleração nula (carro em repouso) seguido de um período de aceleração não nula constante, com um período de transição entre eles. Após o período de aceleração, a massa aceleradora toca o chão e o carro entre em um regime de movimento retilíneo aproximadamente uniforme. No momento da transição da aceleração nula para a não nula a bolha se desloca em um ângulo intermediário entre o da aceleração e o ângulo em que a bolha repousaria na aceleração constante. Após esse breve deslocamento, a bolha entra rapidamente no regime de aceleração constante. Quando a aceleração cessa, a bolha espirala lentamente até o centro do disco. A medida de aceleração variável serviu pra observar a limitação quanto a tempo de resposta do tipo proposto de sensor. Para uma aplicação em que o intervalo entre diferentes acelerações é muito curto sua aplicação pode não retornar dados precisos. 76 4. Conclusão Nesse trabalho são apresentados resultados referentes à caracterização de um acelerômetro fluido baseado na análise do comportamento de uma bolha dentro de um disco com um fluido em rotação. Até o momento, não foi encontrado na literatura nenhum modelo similar utilizando o mesmo mecanismo, o que indica a originalidade da proposta. Embora o comportamento do sensor não tenha sido o esperado no que diz respeito à direção da aceleração aplicada, seu funcionamento foi demonstrado tanto para a estimativa de valor de aceleração quanto para direção, após aplicada a correção no ângulo. Os diâmetros ideais para a bolha são fortemente dependentes das características do fluido, mas como uma regra as menores bolhas dão os resultados mais confiáveis. Esse fator se torna mais relevante levando-se em conta que os melhores fluidos para esse tipo de trabalho são os de menor tensão superficial (o que prejudica a estabilidade do formato da bolha). Atribuiu-se esse efeito à geração de turbulências devida ao tamanho da bolha. A distância da bolha ao centro cresce com a aceleração a uma taxa que combina um termo linear somado a um termo de potência ½. A maior precisão das medidas está nos pontos em que a bolha se afasta mais do centro por conta do desvio padrão relativo às medidas ser menor. A imprecisão média do sensor esteve na faixa de 3% nas regiões de menor desvio e na faixa de 10% para as acelerações mais baixas, as regiões de maior erro. O outro parâmetro, a velocidade angular, afeta a medida da distância da bolha ao centro a uma razão inversa. Isso significa que maiores velocidades angulares farão com que a bolha se afaste menos do centro, o que indica menor sensibilidade e a possibilidade de medidas de acelerações de maior magnitude. Para baixas velocidades angulares, a bolha tem maior liberdade de movimento, tornando o sensor mais sensível e preciso para baixas acelerações. Por conta do fator tensão superficial, o fluido mais adequado para as dimensões usadas nesse trabalho é o álcool etílico. Para aplicações em miniaturização, fluidos de menores tensões superficiais podem ser testados. 77 Quando o sensor está sujeito a uma aceleração constante, a bolha tende a uma posição de equilíbrio, ao passo que, em um movimento de aceleração crescente, a bolha se desloca levemente na direção da aceleração, e mais pronunciadamente para maiores acelerações. A análise dos dados e a observação experimental demonstraram o potencial do uso de bolhas em fluidos em rotação controlada para a medida de aceleração com sensibilidade variável e para a medida de acelerações variáveis com um pequeno atraso de resposta. Demonstraram também que esse princípio é mais confiável se usado para medidas em regimes de acelerações constantes ou que variem suavemente (como acelerações em navegação marítima ou em satélites artificiais em regime orbital). 78 5. Apêndice A: Análise esquemática do arranjo experimental Como discutido na seção Materiais e Métodos, o experimento contou com um motor reduzido, um contador de velocidade angular, uma câmera USB, uma placa Arduino e uma fonte de alimentação externa. Figura 5-1 – Visão geral do circuito do arranjo experimental A Figura 5-1 mostra a visão geral do circuito utilizado. À esquerda está a placa do acelerômetro e à direita o Arduino. Os pinos de saída do acelerômetro estão denotados pelos símbolos correspondentes a seus eixos (x, y e z). As entradas analógicas 0, 1 e 2 estão marcadas como EA0, EA1 e EA2, respectivamente. Ao ler esses dados, o Arduino realiza uma conversão analógico-digital e armazena na memória um valor numérico correspondente (0 para terra e 1024 para +5V). A saída +3,3V do Arduino foi utilizada para alimentar o acelerômetro. Os resistores R1, R2 e R3 foram adicionados por sugestão do manual do circuito integrado, uma vez que após várias medidas consecutivas a corrente extraída dele 79 reduz a carga nos capacitores internos e adultera a medida. Eles são denominados então como resistores limitadores de corrente para fins desse trabalho. Também para a saída do acelerômetro foi observada uma oscilação no sinal que prejudicava a obtenção de medidas confiáveis. O manual sugere como solução para esse problema a instalação de capacitores para estabilizar o sinal, nesse caso os capacitores C1, C2 e C3. As saídas digitais estão denotadas pela letra D seguida do número correspondente. A parte demarcada como “Conjunto conta-giro” na imagem corresponde ao conjunto formado pela armadura de LED e fotodiodo para detecção de obstruções e os resistores a eles ligados. Os valores utilizados foram obtidos por experimentação. Uma porta digital foi utilizada como PWM (no pino 9) e ligada à base de um transistor TIP122, que foi utilizado para amplificar o sinal. Um capacitor eletrolítico foi utilizado para filtrar o ruído gerado pelo motor para que ele não interferisse nas medidas do conta-giro. O LED D1 tem por finalidade a comunicação visual da etapa experimental. Em alguns experimentos realizados com esse mesmo aparato, era importante exibir se a tomada de medidas ainda estava ocorrendo. A alimentação do Arduino foi fornecida pela interface USB. A fonte externa que fornece os 5V utilizados pelo motor e pelo conjunto conta-giro é uma fonte ATX de 220W. Nos primeiros experimentos, a saída de 12V da fonte foi utilizada para o motor, mas, por conta dos motores utilizados, optou-se pelo uso apenas da saída de 5V. A razão de se empregar uma fonte externa ao invés da alimentação 5V própria do Arduino está no baixo fornecimento de corrente (e, consequentemente, de potência), o que compromete a estabilidade da rotação. Para simplificar o trabalho de comunicação e aquisição de dados, o Arduino foi utilizado em conjunto com software em um computador auxiliar. O programa escrito e enviado ao Arduino (Apêndice B) o torna um aparato que aguarda comandos de porta serial e os executa, devolvendo pela mesma via os dados quando solicitado. Os comandos seriais inclusos no código enviado ao Arduino são: r – realizar a leitura do acelerômetro e enviar em formato numérico; w – iniciar a tomada de dados do conta-giro; d – parar a tomada de dados do conta-giro; 80 h – liga o LED de comunicação; l – desliga o LED de comunicação; o – muda o valor de “motoron” para verdadeiro (desativa a trava de segurança que mantém o motor desligado); D – muda o valor de “motoron” para falso (reativa a trava de segurança que mantém o motor desligado – opção padrão ao ligar a placa); + ou - – Ajuste fino da velocidade de rotação (muda o valor da variável que define a potência controlada pelo PWM); 0 a 9 – Ajuste grosso da velocidade de rotação (0 equivale a potência zero). Para realizar a contagem do número de voltas para a velocidade angular, o conjunto conta-giro detecta as mudanças de estado no material entre ela entre transparente (sem fita adesiva) e opaco (com fita adesiva). Como foram postos quatro trechos de fita adesiva, uma volta corresponde a oito mudanças de estado. Assim sendo, cada vez que o contador de mudanças de estado atinge o valor 8, o cálculo da velocidade angular é feito a partir do tempo atual. O valor da velocidade angular é então enviado por interface serial em revoluções por segundo. A saída de velocidade angular é realizada uma vez por volta. O modelo para a contagem de voltas se mostrou eficaz e estável com imprecisão de meio 0,05 volta por segundo para todos os valores de velocidade angular utilizados nesse trabalho. 81 6. Apêndice B: Códigos fonte Nesse apêndice estão expostos os códigos fonte das versões finais do programa enviado ao Arduino e do programa utilizado para obter a aceleração da placa de acelerômetro. 6.1. Programa enviado ao Arduino (C) Códigos fonte para programas para o Arduino são escritos em C por padrão. A fundação Arduino disponibiliza gratuitamente na Internet o compilador que conta com um editor de texto próprio com destaque de sintaxe e uma plataforma gráfica para auxiliar a comunicação serial. // ------------------------------------// terceiro_prototipo.ino – versao final // ------------------------------------int ledPin = 3; int pwm = 9; // led para sincronizacao de video // pwm do motor de rotacao constante int XPin = 0; int YPin = 1; int ZPin = 2; // // pinos acelerometro // int Photo = 4; // alterado desde o segundo_prototipo para uma porta digital (segundo_prototipo utilizava porta analogica 3) int int int int int int valx = 0; valy = 0; valz = 0; valPhoto=0; photoStat=0; photoStatOld=0; // // valor lido no acelerometro // int cont=0; unsigned long time=0; unsigned long time0=0; unsigned long per=1; float freq; int pot = 0; char incomingByte = 0; int temp = 0; // leitura do potenciômetro (10k) // leitura serial int motorOn = 0; // motor ligado ou não int showfreq = 0; // decidir se mostra ou não a velocidade angular w (adicionado no terceiro_prototipo) void setup() { Serial.begin(9600); // setup serial 82 pinMode(ledPin, OUTPUT); pinMode(pwm, OUTPUT); } void loop() { if(Serial.available()>0){ incomingByte = Serial.read(); switch(incomingByte){ case '+': pot = pot+1; break; case '-': pot = pot-1; break; case 'h': digitalWrite(ledPin, HIGH); break; case 'l': digitalWrite(ledPin, LOW); break; case 'o': motorOn = 1; break; case 'r': valx = analogRead(XPin); valy = analogRead(YPin); valz = analogRead(ZPin); valPhoto = digitalRead(Photo); Serial.print(valx); Serial.print(" "); Serial.print(valy); Serial.print(" "); Serial.println(valz); break; case 'w': showfreq = 1; break; case 'd': showfreq = 0; break; case 'D': motorOn = 0; break; default: temp = atoi(&incomingByte); if((temp>0) && (temp<=9)) pot = 25 * temp + 5; if(temp==0) pot = 0; break; } incomingByte = 0; } valPhoto = digitalRead(Photo); if(valPhoto==HIGH) photoStat=1; else photoStat=0; 83 if(!(photoStat==photoStatOld)) { cont+=1; if(cont>8) { cont = 1; time = millis(); per = time - time0; time0 = time; freq = 1000. / per; } photoStatOld=photoStat; if(showfreq) Serial.println(freq); } if(motorOn){ analogWrite(pwm, pot); } else analogWrite(pwm, 0); } 6.2. Programa para a obtenção da aceleração (Python) O programa foi escrito com o intuito de capturar valores de aceleração do acelerômetro através do Arduino. A saída é uma linha de texto com quatro valores numéricos, correspondentes ao tempo de execução e aos eixos x, y e z. O programa faz sua saída completa na linha de comando, o que permite facilmente seu direcionamento para um arquivo ASCII. #################################################### # medida.py – obtenção das medidas do acelerômetro # #################################################### import serial import time import sys print 'Serial...' tend = 10 t=0 i=0 h=0.2 ih=1 medidas # Tempo de tomada de dados em segundos # Intervalo entre tomadas de dados em segundos # Intervalo entre mudanças de estado do LED em número de ard = serial.Serial('/dev/ttyUSB0', timeout=0.5) # Obter o para a porta serial via dmesg e alterar essa linha de acordo caminho time.sleep(2) ard.write('0') # Certificar que o motor esta desligado (reduz ruído) ard.write('h') time.sleep(3) ard.write('l') 84 on = 0 t0 = time.time() tend = tend + t0 nt = t0 print 'Start!' while t < tend: t = time.time() i = i+1 if t > nt: ard.write('r') nt = nt + h accel = ard.readline().split(' ') print "{0:.2f} {1} {2} {3}".format(t int(accel[1]), int(accel[2])) if i >= ih: if on: ard.write('l') on = 0 else: ard.write('h') on = 1 i = 0 - t0, int(accel[0]), ard.close() print ‘fim’ 85 7. 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