RESUMO O neoliberalismo, a globalização e a - CCHLA

Propaganda
RESUMO
O neoliberalismo, a globalização e a reestruturação produtiva são fenômenos mundiais articulados
que caracterizam as sociedades atuais, repercutindo em todas as dimensões da vida humana. Uma
das marcas da reestruturação contemporânea do capitalismo mundial é a crise dos sistemas
previdenciários. No Brasil, o desmonte da Previdência Social, promovido ao longo dos governos
Collor, FHC e Lula, através de iniciativas e medidas que foram descaracterizando o conceito de
seguridade social, particularmente as reformas aprovadas em 1998 e 2003, levaram a uma
avalanche de aposentadorias (muitas delas precoces) de um grande contingente de servidores
públicos, a exemplo dos professores universitários. Tais trabalhadores, “colocados em xeque” por
essas mudanças, anteciparam a aposentadoria com medo de perdas salariais e de direitos adquiridos.
Foram essas constatações que nos conduziram à presente pesquisa, que estabeleceu como objetivo
geral analisar as vivências subjetivas de docentes universitários da UFPB, associadas ao processo
que gerou a decisão da aposentadoria e aos modos de utilização do tempo livre. Nos aportes
teóricos, além das principais referências que analisam as transformações contemporâneas do
capitalismo, especialmente, aquelas que participam do debate sobre o fim do trabalho e a questão do
tempo livre, recorremos a Psicodinâmica do Trabalho, para nos auxiliar na compreensão dos
elementos subjetivos que se conjugaram aos imperativos econômicos na decisão da aposentadoria.
O estudo foi desenvolvido na UFPB, onde foram realizadas entrevistas com 20 docentes, sendo 13
do sexo feminino e 7 do sexo masculino, oriundos de diferentes áreas de atuação. A análise dos
dados pautou-se na técnica da análise de conteúdo temática. A partir do material obtido
identificamos que, para muitos professores, a aposentadoria foi acelerada pelas ameaças das
reformas da Previdência. Entretanto, os discursos apontam, também, para questões relacionadas á
organização e as condições de trabalho, fontes de desgaste físico e mental. Em relação às
implicações subjetivas da aposentadoria identificamos que, para alguns, esta foi vivida como uma
passagem difícil e frustrante, por representar uma interrupção em uma trajetória que ainda se
mostrava com grande potencial de desenvolvimento. Para outros, entretanto, foi significada como
um ciclo que se fechou, uma conseqüência natural. São poucos os entrevistados que tiveram a
oportunidade de elaborar algum projeto profissional e de vida direcionado para essa nova fase. Em
relação a reinserção profissional, é grande o número daqueles que voltaram ao trabalho em
ocupações remuneradas, o que se deu não apenas por questões salariais, mas pela possibilidade de
redefinir perspectivas de vida profissional. As maiores perdas identificadas estão relacionadas à
redução da rede de relações sociais, como as interações com os alunos e os contatos com outras
instituições. Os ganhos mais acentuados dizem respeito à liberdade no uso do tempo, o que se
refletiu na melhoria da qualidade de vida. Em muitas situações, o tempo livre foi um aliado, mas em
outras se tornou um algoz, na medida em que as pessoas, ao se depararam com um tempo
desprovido da antiga rotina, não souberam como preenchê-lo. Os dados produzidos demonstram
que, ao se tratar de trabalho e saúde, entramos num terreno onde não existe neutralidade subjetiva.
Desse modo, o trabalho pode tanto ser um fator de doença, como se constituir em um fator de
equilíbrio e saúde.
Palavras-chave: professores, aposentadoria, atividade.
Download