UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS BABAÇU (Orbignya spp.) E SUAS POTENCIALIDADES ANTÔNIO NERY AZEVEDO LAVRAS-MG 2007 ANTONIO NERY AZEVEDO BABAÇU (Orbignya sp.) E SUAS POTENCIALIDADES Monografia apresentada ao Departamento e Agricultura da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Plantas Medicinais: manejo, uso e manipulação, para a obtenção. do título de Medicinais. Prof º. Dr. José Eduardo Brasil Pereira Pinto Orientador Profª. Esp. Isanete Geraldini costa Bieski Co-orientadora LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL 2007 especialista em Plantas ANTONIO NERY AZEVEDO BABAÇU (Orbignya sp.) E SUAS POTENCIALIDADES Monografia apresentada ao Departamento e Agricultura da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Plantas Medicinais: manejo, uso e manipulação, para a obtenção do título de Medicinais. APROVADA em 21 de ABRIL de 2007 _____________________________________________ Profº Dr. José Eduardo Brasil Pereira Pinto Orientador/UFLA _____________________________________________ Profª. Esp. Isanete Geraldini costa Bieski Co-orientadora Prof.__________________________________________ Prof.___________________________________________ LAVRAS MINAS GERAIS - BRASIL especialista em Plantas BABAÇÚ... Ser menino, ter infância Faz parte da lembrança, de toda criança, nos pastos e arvoredos, brincando o dia inteiro, nem podia imaginar, que essa história iria contar... Sempre encontra... Ba... Palmeira muito gostosa Ba... Castanha deliciosa da região central da América do Çu.... Boa para muitas coisas, Alimentação, Saúde e economia, São coisas que todos os dias, Precisamos comentar. Infecções, analgésicas e antiinflamatórias, Ainda cicatrizantes, anima pesquisadores vale a pena experimentar, testar e divulgar, e fazer parte do Crescimento do Brasil, BABAÇU Sempre existiu... Isante Geraldini Bieski DEDICATÓRIA Aos estudiosos das Plantas Medicinais e aos Prescritores Fitoterápicos. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Supremo Arquiteto do universo, a minha família Marina, (esposa) Diana e Amanda (filhas). E ao grupo Fito viva que quando estava hospitalizado e fragilizado recebi visitas e apoio incondicional. E também ao empenho que tiveram comigo, em todos os momentos, tanto psicológicos como no serviço monográfico. SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................1 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................2 2. OBJETIVO......................................................................................................2 3. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................3 3.1. Plantas nativas de interesse sócio-econômico ............................................3 3.2. Babaçu & potencialidades ......................................................................4 3.3 Situação atual das plantas medicinais ....................................................5 3.4. Babaçu e os índios....................................................................................9 4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................14 5. RESULTADOS .............................................................................................15 6. CONCLUSÕES.............................................................................................22 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................24 ANEXO ..............................................................................................................28 RESUMO Etimologia: Babaçu do tupi wawa’su. Origem (habitat): Originário do Brasil, Região Amazônica e Mata Atlântica no Estado da Bahia. Conhecido como bauaçu,baguaçu, auaçu, aguaçu ,guaguaçu, oauaçu, uauaçu ,coco-de-macaco, coco-de-palmeira, coco-naiá, coco-pindoba, palha-branca. Identificação: Palmeira que pode atingir 20m de altura, no seu ápice apresenta folhas velhas que já se caíram. As folhas são arqueadas e medem até 8m de comprimento.As flores são creme-amareladas, aglomeradas em longos cachos. Cada palmeira pode apresentar até 6 cachos, surgindo de janeiro a abril. Palavras-chave: Babaçu, ação medicinal e alimentar. 1 1. INTRODUÇÃO A maior megadiversidade do Planeta esta concentrado no Brasil, considerado o país com aproximadamente 15 a 20% do número total de espécies do planeta e não é por acaso que ostentamos este título, pois temos também a flora mais diversa do mundo, com mais de 55 mil espécies descritas, ou cerca de 20% do total mundial, além do maior número de vertebrados, de primatas e de anfíbios, muitos destes em perigo de extinção, onde boa parte desta biodiversidade esta concentrada em Mato Grosso, que alem de florestas tropicais, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, também é grande o Cerrado e o Pantanal. O modelo que vem sendo usado para ocupação e exploração econômica destes biomas tem levado às fragmentações significativas, em casos extremos, a sua completa supressão. (Brasil, 2005). Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre o desmatamento, apenas 8% da área do bioma Floresta Atlântica preserva suas características bióticas originais, e na Floresta Amazônica observa-se uma tendência de crescimento das áreas desflorestadas. Estima-se que, de agosto de 2003 a agosto de 2004, a Floresta Amazônica tenha perdido 26.130 quilômetros quadrados, uma área equivalente ao estado de Alagoas. 2. OBJETIVO Este trabalho visa realizar um levantamento bibliográfico das principais características medicinais e alimentares da Planta Babaçu, uma palmeira de grande relevância no Brasil e em Mato Grosso, proporcionando assim expandir a importância da ambientalmente preservação de características sustentável para 2 socioeconômicas gerações e futuras. 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. Plantas nativas de interesse sócio-econômico Entre as várias espécies consideradas prioritárias como “produtos florestais não-madeireiros” temos a andiroba (Carapa guianensis), a copaíba (Copaifera spp.), o cumaru (Dipterix odorata) e o ipê (Tabebuia spp.). Mais esta listagem pode ser ampliada, pois temos frutos amidosos ou oleosos, como castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), buriti (Mauritia flexuosa), bacaba (Oenocarpus bacaba), patauá (Oenocarpus bataua) e murumuru (Astrocaryum murumuru). Para a produção de óleos e resinas, temos como exemplos, o jatobá (Hymenaea courbaril), maçaranduba (Manilkara huberi) e sorva (Couma utilis). Para a produção de óleos industriais, temos: babaçu (Orbignya phalerata) e ucuúba (Virola surinamensis). Para produção de óleos essenciais, cito a preciosa (Aniba canelilla) e sacaca (Croton cajucara). Como espécies usadas no artesanato, temos o tucumã (Astrocaryum acaule), tucumãí (Astrocaryum aculeata), cipó-titica (Heteropsis spp.), arumã (Ischnosiphon spp.), açaí (Euterpe oleracea), açaí solteiro (Euterpe precatoria), inajá (Maximiliana maripa), jarina (Phytelephas aequatorialis) e buriti (Mauritia flexuosa). Poderíamos ainda incluir as sementes para reflorestamento, com uma infinidade de espécies entre as quais destacam-se itaúba (Mezilaurus itauba), louros (Aniba spp., Licaria spp., Ocotea spp.), cedro (Cedrela odorata), cupiúba (Goupia glabra), freijó (Cordia sp.), parapará (Jacaranda copaia), pau-rainha (Centrolobium paraensis) e tatajuba (Bagassa guianensis). Esta listagem não se detém apenas às espécies encontradas em Roraima, nem esgota a diversidade de produtos florestais não-madeireiros potenciais para a Amazônia. É apenas uma mostra da riqueza que temos em nossas florestas, 3 desafiando a todos, governo e sociedade, a associar a manutenção da base de florestas naturais brasileiras com o desenvolvimento sócio-econômico de suas populações, Posto que não podemos mais negar a relevância estratégica das florestas, seja para a manutenção dos ciclos hidrológicos, para a fixação do carbono, ou ainda, como fonte potencial de biofármacos e de outros novos produtos. Nomes populares: babaçu, baguaçui, uauaçu, aguaçu, bauaçu, coco-demacaco,coco-de-palmeira, coco-naiá, coco-pindoba, guaguaço. Características Morfológicas: Altura de 10-20m, com estipe (tronco) de 30-40 cm de diâmetro. Folhas em numero de 15-20 contemporâneas, de 4-8 m de comprimento. Espádice (cacho) em numero de 4-6 por planta, sustentados por pedúnculo de 70-90 cm. Fenologia: Floresce durante os meses de janeiro-abril. A maturação verifica-se em agosto-janeiro. 3.2. Babaçu & potencialidades Dentre as varias espécies de grandes relevâncias para nosso estado o babaçu (Orbignya sp.) distribui-se em vários estados brasileiros, inserida em diversas unidades de vegetação (e/ou associações vegetais). Altas densidades dessa espécie são encontradas em ambientes florestais neotropicais como conseqüência da interferência do homem ou distúrbios naturais, onde as palmeiras juvenis presentes em áreas desflorestadas sobrevivem ao corte e queima, dominando progressivamente a floresta secundária. A sucessão dessas áreas pode em longo prazo atingir uma floresta heterogênea (sem dominância de uma única espécie), ou pode estagnar-se (floresta com dominância de babaçu) em um patamar menor de biomassa, com conseqüente implicação no ciclo biogeoquímico (balanço de carbono). Imagens 4 Landsat-TM são úteis no monitoramento do uso e cobertura do solo da Amazônia e as áreas com presença de babaçu se caracterizam por manchas escuras em função da sombra resultante da arquitetura e morfologia do dossel. Com o auxílio das ferramentas de videografia digital e fotografias aéreas, como verdade de campo, e técnicas de processamento de imagens, tais como: análise de mistura espectral, segmentação e classificação, objetivaram-se: caracterizar as áreas de dominância de babaçu; relacionar os valores de densidade de cobertura de babaçu com valores radiométricos das imagens e mapear as áreas de diferentes densidades de cobertura de babaçu. Como resultado verificou-se que à medida que adensava a ocorrência de babaçu, os valores de número digital e reflectância aparente diminuíam principalmente na região do infravermelho próximo (TM-4), enquanto que os valores relativos à imagem fração sombra aumentavam. Este fato é demonstrado através da relação significativa ao nível de 5, tanto linear quanto exponencial, entre os valores de densidade de cobertura de babaçu e de fração sombra. Estas relações serviram de base para o fatiamento da imagem fração sombra através dos modelos de regressão, linear e exponencial, que foram comparadas com as imagens segmentadas e classificadas. 0 melhor conjunto foi observado entre a imagem fatiada através do modelo de regressão exponencial e a imagem segmentada com limiares 5 e 15 de similaridade e área, respectivamente, e classificada com limiar de aceitação de 99, o qual apresentou um valor da estatística Kappa igual a 0,45. 3.3 Situação atual das plantas medicinais As plantas medicinais tem sido motivo para muitos, retornarem para o mundo do conhecimento, da integralidade e interdisciplinaridade, voltando o olhar para o ambiente e o próximo. Motivos estes que existem no mundo desde antes da criação do homem no mundo. Este conhecimento é chamado de 5 tradicional, onde dissemina sobre muitos povos de diferentes características sócio-ambiental, cultural ou econômica. Essa medicina chamada hoje de complementar é em muitos locais e em muitos casos, o único recurso disponível que a população rural de países em desenvolvimento tem ao seu alcance usado como remédio, quase sempre têm posição predominante e significativa nos resultados das investigações Etnobotânica de uma região ou grupo étnico (Pasa, et al, 2003). O campo interdisciplinar compreendido como ferramenta para a expansão do estudo e a interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora importante para o estudo da Etnobotânica (Caballero 1979). Estes estudos etnobotânicos vão além do que pode pretender a investigação botânica, uma vez que suas metas se concentram em torno de um ponto fundamental que é a significação ou o valor cultural das plantas em determinada comunidade humana, de importância fundamental para o pesquisador (Barrera, 1979) Os povos tradicionais mostram de forma visível o papel que desempenham na exploração dos ambientes naturais para usufruir da exploração enquanto forma de sustentação desses povos, fornecendo informações sobre as diferentes formas de manejo executadas no seu cotidiano. Sendo assim, diante da marcha da urbanização e das possíveis influências das culturas vimos que é preciso resgatar o conhecimento que a população detém sobre o uso de recursos naturais. Por isso é de suma importância a estimulação e incentivos aos pesquisadores. Nesse sentido, alguns autores propõem-se estimar o valor de uso das plantas com a finalidade de apontar as espécies e famílias de preferência da população humana no universo vegetal (Phillips & Gentry 1993; Phillips 1996). A crescente demanda da indústria farmacêutica em todo mundo constituiu uma ameaça á conservação de plantas medicinais, na forma como vem 6 sendo atendida. Alguns dados existentes sobre comercio de plantas medicinais têm mostrado que mais de 50% das espécies nativas que são exportadas pelo Brasil são coletadas em seu ambiente natural, na forma de um extrativismo predatório que pode comprometer a sobrevivência dessas espécies e dos ecossistemas envolvidos, diante da elevada utilização de componentes das plantas essenciais para sua reprodução, como flores, frutos e sementes. Deste modo, algumas espécies medicinais nativas encontram-se ameaçadas de extinção ou mesmo comercialmente extintas em determinadas regiões (Silva, 1999). 7 Babaçu e Índios Xavantes: Solução? Figura 1: Assembléia em Namunkur. 8 Segundo Bruno Dourado O babaçu é um tipo de palmeira brasileira (família Palmae), geralmente composta por espécies dos gêneros Orbignya ou Attalea, ocorrendo em várias regiões do país, principalmente no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste, com abundância no estado do Maranhão, onde até existe uma organização de quebradeiras de côco, o MIQCB (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Cocô de Babaçu) que junto com quebradeiras dos estados do Piauí, Pará e Tocantins lutam por direitos e trabalham pelo uso sustentável do babaçu extraindo vários subprodutos, que acabam por alocar recursos para as mulheres quebradeiras de cocô e a respectiva associação. 3.4. Babaçu e os índios A aldeia Xavante de Namunkurá (Fig. 1 - Assembléia com índios mais velhos na 2ª viagem técnica – Jan/2006) que se encontra na Terra Indígena (T.I.) São Marcos no município de Barra do Garças - MT, segundo mapa da FUNAI de demarcação (Fig. 2), está sendo nosso ponto de estudo sobre o manejo do babaçu, com o intuito de fazer um plantio de babaçu para reservas futuras, assim como estudar a viabilidade de comercialização do óleo de babaçu com a cidade pelos próprios índios, que poderiam adquirir renda extra no futuro, independente do projeto de homem branco. 9 Figura 2: Mapa da FUNAI de demarcação (Barra do Garça-MT). Os índios Xavante utilizam as folhas de babaçu para fazer revestimento de suas ocas, além de extração de óleo do côco (Fig. 3 - Cortes transversais e longitudinais do côco) para cozinhar, para passar nos cabelos (“pra ficar mais bonito” diz índia mais velha), para vender a alguns homens brancos da cidade, assim como para comer a amêndoa do côco que é muito nutritiva. Com isso, segundo interesse e orientação do antropólogo Estêvão Rafael Fernandes e seus respectivos superiores, o projeto da FUNASA com a etnia dos Xavantes, junto ao convênio com a UNB, me honrou com a proposta incial de trabalhar como bolsista de Engenharia Florestal com o objetivo de incentivar a utilização do 10 côco de babaçu para melhorar as condições nutricionais deste grupo de índios, principalmente dos mais novos, por causa da mudança dos hábitos alimentares desses índios nos últimos anos, além de possibilitar uma fonte de renda para eles através da venda do óleo de babaçu, caso possível. Figura 3: Ilustração de cortes transversais e longitudinais do coco. Este projeto de motivação ao uso do babaçu teve início em Novembro de 2005, após breve conversa entre o antropólogo Estêvão Rafael Fernandes, Bruno Dourado e o cacique Simão na aldeia de Namunkurá, quando foi oficializada a necessidade pelos índios, por não terem estoque de babaçu, o interesse do projeto da Funasa em apoiar a atividade no intuito da segurança alimentar com melhores condições nutricionais para os índios que vêem sofrendo com um desequilíbrio nutricional, além do meu interesse em praticar uma das pernas do tripé da universidade que é a extensão, buscando uma atividade prática e de retorno para a sociedade, favorecendo a troca de experiências. 11 Dando continuidade ao trabalho, foram feitas 2 viagens técnicas: uma primeira de 24/11/2005 a 27/11/2005, quando se objetivou fazer um breve diagnóstico técnico, social, econômico, e cultural, para uma contextualização da realidade local, assim como um levantamento da relação da comunidade com o babaçu, com a ajuda do Cacique Simão e seus filhos Leandro e Afonso, chegando-se a uma primeira conclusão da necessidade de viagens mais longas devido à distância e dificuldades locais, além de aprimoramento técnico sobre o babaçu; e uma segunda viagem de 07/01/2006 a 14/01/2006, cujo objetivo era dar continuidade ao projeto, coletando amostras de solo tanto dos locais de coleta do coco quanto de plantio (que foi definido em Assembléia), coletando amostra do óleo para análise química, e definição da espécie de babaçu que ocorre na região, Orbignya phalerata, segundo bibliografia e opinião de especialistas, além de maior aproximação com a cultura Xavante, sua língua e encontro informativo-participativo-decisivo nas assembléias da comunidade. As dificuldades na implementação do projeto de manejo do babaçu para os índios Xavante de Namunkurá estão sendo: os poucos estudos realizados em relação à germinação do babaçu, pois os lugares onde se encontram muito babaçu (p.ex. Maranhão), a preocupação não é o cultivo, mas sim o uso sustentável do recurso, mais de 30 subprodutos; os custos devido às distâncias para coleta do coco e à mão-de-obra indígena; o monitoramento das atividades junto aos índios; o longo prazo para o crescimento inicial do babaçu, por volta de 2 anos, fase em que é crucial os devidos cuidados para o vigor dessas palmeiras quando adultas, que podem até serem transplantadas sem serem prejudicadas após este período inicial; e a dificuldade de prática das atividades, devido aos vários interesses envolvidos dos que compõem a comunidade. Afirmo que o babaçu é importante para os Xavantes tanto em aspectos de nutrição, de construção das ocas, de culinária, de beleza, quanto de importância cultural subsidiando os rituais através das pinturas. 12 Contrapondo isto, existem os diversos interesses neste mundo globalizado, cheio de informação, com televisão para todos (direito de qualquer ser humano inserido nesse mundo de escolhas), consumismo exarcebado, falta de consciência etc, que acabam por prejudicar as bases de uma vida mais sustentável, saudável, inteligente, ética, humana. Pergunto: o uso do babaçu será uma solução ou um problema para os índios Xavante? Acredito que eles sabem, podem e precisam responder melhor do que nós, mas tentaremos ajudar, dando o suporte técnico necessário, dimensionado nas possibilidades viáveis e reais, com muito carinho pela causa. 13 4. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado a partir de revisão bibliográfica referente a trabalhos que indicassem o uso de espécies nativas de plantas medicinais dentre elas o Babaçu Orbignya sp em Mato Grosso. Foram compilados trabalhos etnobotânicos, etnoecológicos e florísticos que indicassem ou citassem o Babaçu Orbignya sp. Procurou-se a maior profundidade de dados, o que levou à consulta de artigos, teses, dissertações e monografias (de conclusão de graduação e especialização). A inclusão de dados de monografias, dissertações e teses fizeram-se necessária posto que forneçam elementos importantes para a flora medicinal do Estado de Mato Grosso, e não poderiam ser relevadas, encontrando-se disponíveis nas Bibliotecas das varias Universidades de Mato Grosso. 14 5. RESULTADOS Os trabalhos sobre as especificidades medicinais e alimentares do Babaçu (Orbignya sp.) foram restringidos aos relatados em Mato Grosso, onde encontramos dados levantados na comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT, Brasil). Os métodos utilizados neste trabalho seguem recomendações e técnicas modernas que facilitam o estabelecimento de interseções entre as áreas científicas relacionadas (MARTINS, 1995). A pesquisa foi realizada no período de novembro de 2006 a abril de 2007, na Capital de Mato Grosso, Cuiabá região Centro Oeste do Brasil. O Babaçu (Orbignya sp.) da família Arecaceae, origem Palmeira onde os principais autores destacam suas importância (Miranda & Ferraz 1983; Pasa 1999; Faria 1998; Loureiro 1999). O sabonete de babaçu é a melhor opção para brindes de baixo custo e grandes quantidades, podendo atender até 2000 unidades. Feitos do coco da palmeira de babaçu, totalmente naturais, são excelentes para manter a pele limpa e hidratada. A embalagem é opcional, e trançada com a própria fibra da palmeira. Este produto é especial, representa uma grande luta da AMTR, Associação das Mulheres trabalhadoras Rurais, mais conhecidas como "quebradeiras de coco babaçu”, que salvaram as palmeiras da devastação provocada pelos fazendeiros e conquistaram a Lei do Babaçu Livre, que defende o livre acesso dos babaçuais e sua preservação. 15 Figura 4: Doces de babaçu e Bolsas de fibra do babaçu. Fonte: www.pontosolidario.com.br/brindes.htm Produtos Orgânicos do Babaçu Carvão Cocal: Produzido da casca do coco, utilizada como fonte de combustível e outros produtos de aplicação industrial, como etanol, metanol, coque, ácido acético, carvão reativado e alcatrão. Carvão Vegetal do babaçu: Seve como carvão ativado para velas de filtros Torta: Massa que resta da prensagem da amêndoa do coco babaçu para obtenção do óleo utilizada na produção de alimento animal, rica em 8% do óleo. Óleo orgânico de babaçu Constituído de 60% de peso de amêndoa, é matéria-prima para as indústrias químicas, na fabricação de glicerina, ácidos graxos, sabão, sabonete, shampoo, creme arti-aging, velas. Na indústria alimentícia, na fabricação de margarina, óleo comestível, gordura vegetal, amido e gorduras especiais. 16 Concentrado rico em carotenóides e pró-vitamina A, cicatrizante e antiséptico. Emoliente de origem natura; umectante e lubrificante e serve também como emoliente em produtos para pele e cabelo. Os óleos de babaçu contem alto teor de triglicerídios. Sabonetes Composto de óleo orgânico de babaçu, essência, NaOH, sacarose ou mel. Amêndoas Rica em vitaminas B1, B2, F e G, composta por 66% de gorduras. Utilizada na fabricação de óleo comestível e de cosméticos. Mesocarpo Rico em vitaminas, cálcio e ferro, podem ser utilizados na fabricação de bolos, vitaminas e sucos de frutas. (farinha ou pó). Esocarpo É rico em antibióticos contra a doença new castle, que da em aves em geral e contra bouba “e também a pevide”. Como é rico em cálcio reforça a casca do ovo, tornando a dura e resistente. 17 Figura 5: Ilustração do cocão: o babaçu acreano. O cocão é uma palmeira nativa do vale do rio Juruá, no Estado do Acre, que pode ser considerada o "babaçu" acreano. A razão é que seus frutos são tão grandes quanto os do babaçu (muito comum no Maranhão). Até a forma de aproveitamento do cocão se parece com a do babaçu. Botanicamente, ela pertence ao mesmo grupo de outras palmeiras muito conhecidas dos acreanos: "uricuri" (Attalea phalerata), "jaci" (Attaea butyraceae) e "coco najá" (Maximiliana maripa). Será que ela também é parenta do babaçu? A resposta mais correta é "mais ou menos". O babaçu foi botanicamente descrito no gênero Orbygnia. O cocão pertence ao gênero Attalea. Com os passar dos anos, alguns estudiosos sugeriram que estes dois gêneros botânicos eram (são) tão similares que não valeria a pena mante-los separados. Assim, por um tempo ambas as espécies foram colocadas dentro do gênero Attalea e podiam, popularmente falando, ser considerados irmãos. Atualmente, é aceito a separação de gêneros e eles podem ser considerados primos. 18 Figura 6: Ilustração de frutos de babaçu e extração do endosperma. Fonte: J. Ribamar, rio Muru, Tarauacá-Ac (2006). No vale do rio Juruá ela é muito apreciada pelos seringueiros, ribeirinhos e pequenos agricultores porque o endosperma das sementes, ou a "carne branca de dentro do coco", é muito usada para a extração de um óleo comestível, usado em substituição ao óleo de soja. A extração do óleo é um processo manual e requer as seguintes atividades: a) Coleta dos frutos e extração do endosperma por quebra manual do endocarpo, usando um terçado ou pedaço de madeira; b) Moagem ou maceração das amêndoas em moinho ou "pilão", de maneira a transformá-las em uma massa, a mais fina e homogênea possível; c) Aquecimento da massa em água quente para separação preliminar do óleo, que tende a flutuar naturalmente e é retirado com uso de uma concha; d) Filtragem e decantação dos sedimentos em suspensão, usando-se tecidos de algodão, deixando o óleo "descansar" de um dia para o outro (uma noite); 19 e) Armazenamento do óleo em vidro escuro. Figura 7: Um cacho de coco Babaçu, no interior do Parque Natural. Fonte: www.ronet.com.br/fima/fotoshtm/babacu.html COCO BABAÇU - Palmeira de babaçu Figura 8: Ilustração do coco babaçu (palmeira de babaçu). Fonte: www.assema.org.br/produtos.php 20 O babaçu classificado cientificamente como orbignya: oleífera, especiosa, pharelhata pertence à família das palmáceas. É encontrada em toda área da floresta semi-decídua equatorial, mas, só forma agrupamentos densos, homogêneos, sob condições especiais de solo ou com a retirada da mata primária. O fruto da Palmeira de Babaçu é composto por: 1ª parte: Epicarpo (camada externa e fibrosa). 2ª parte: Mesocarpo (camada abaixo do epicarpo, rica em amido). 3ª parte: Endocarpo (onde se alojam as amêndoas e de onde se tem o segundo melhor carvão vegetal em calorias). Amêndoas (são brancas, recobertas por uma película de cor castanha. Geralmente tem de 03 a 04 amêndoas por fruto). O uso do babaçu pelas quebradeiras e comunidade rural, é enorme. Empregam o lenho como esteio e ripas nas construções de suas casas; as folhas são usadas em coberturas, paredes e na confecção de portas e janelas, pois são resistentes às chuvas. As paredes são muitas vezes construídas de palhas sobrepostas; as janelas e portas feitas de folha trançada. Cotidianamente, as famílias rurais utilizam em sua alimentação o LEITE e ÓLEO DE COCO (extraído das amêndoas). Da casca do coco faz-se o CARVÃO, produzido em caieiras primitivas e torna-se combustível preferido das famílias por propiciar um fogo duradouro. As siderurgias o consideram de alto teor calórico. A palha é largamente usada na confecção de artesanatos como: esteiras, abanos, cofos, chapéus, peneiras, etc. Os talos retirados das folhas são utilizados para cercados de criações, cercas para hortas, estrados para canteiros e armazenagem de produtos. Como principais produtos e subprodutos comercializados e consumidos na zona rural, têm-se o carvão, óleo, amêndoa e o sabão de coco. 21 Atualmente, algumas regiões de Estados como Pará e Maranhão vêm produzindo e comercializando o sabonete de coco babaçu, tendo grande aceitação, como também o MESOCARPO, parte farino-oleaginosa. A TORTA que sobra da prensagem da amêndoa é utilizada como ração para animais. Figura 9: Participação dos principais produtos no valo total da produção extrativista vegetal não-madeireira – Brasil – 2002. Fonte: IBGE. 6. CONCLUSÕES Após todo o levantamento feito, pode se disser que no Estado de Mato Grosso, o babaçu não é valorizado. Pois em viagens e passeios percebe-se que o descaso é enorme. O desmatamento e queimadas ainda continuam a todo o vapor nas margens das rodovias federais, municipais e intermunicipais. Vê-se somente o palmito de babaçu sendo comercializado in natura donde se conclui que trata de extrativismo predatório. A partir dessa triste realidade, vê-se uma luz no fim do túnel: Existe a política nacional de práticas integrativas e complementares. Essa política é a esperança que se tem em resgatar os conhecimentos tradicionais e populares valorizando e preservando o meio ambiente. Em 2004 foi criado a 22 nível local o programa FITOVIVA que tem como finalidade a inversão do modelo de atenção à saúde, de tecnicista-curativista, especializado e centralizado para o modelo de promoção e prevenção de saúde com prioridade generalista sob controle social. O FITOVIVA é um programa responsável pela implantação de serviços de plantas medicinais e fitoterapia no município de Cuiabá estimulando o desenvolvimento de atividade intersetoriais de pesquisa. Esperase que os órgãos responsáveis assumam com urgência o compromisso de evitar a extinção desse potente vegetal que devido o desmatamento desenfreado corre o risco de extinção. Não se pode deixar isso acontecer. 23 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, João Lúcio de,MELO,Itamar Soares de. Controle Biológico. Jaguariúna. São Paulo. 2000. EMBRAPA Meio Ambiente. II volume. p.184. BALBACH, Afons. A flora Nacional na Medicina Doméstica. 12.ed. São Paulo, p.56. BARRERA, A. 1979. La Etnobotânica. Pp. 19-25. In: A. Barrera. 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