a prática docente sob uma perspectiva psicopedagógica

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A PRÁTICA DOCENTE SOB UMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA
LA PRÁCTICA DE LA ENSEÑANZA BAJO UNA PERSPECTIVA
PSICOPEDAGÓGICA
Anna Paula Costa Marques1
GT8 Espaços Educativos, Currículo e Formação Docente (Saberes e Práticas).
RESUMO
Este artigo teve como objetivo explicar como o psicopedagogo tem sido visto dentro das
instituições escolares, atuando diretamente com os docentes. Pretende-se investigar através de
entrevista, questionário e observações o que os docentes sabem ou compreendem sobre a atuação
desse profissional. Além disso, traçar um paralelo entre ações psicopedagógicas e as ações
pedagógicas para percebermos como essas ações contribuem e auxiliam o processo de ensino. Essa
investigação foi realizada na Escola Municipal “Professora Odete Pereira de Santana”, situada no
povoado Marimbondo em Pirambu/SE.
PALAVRAS – CHAVE
Psicopedagogo, instituição escolar, prática docente.
RESUMEN
Este artículo pretende explicar cómo el psicopedagogo se ha visto dentro de las instituciones
educativas, trabajando directamente con los profesores. Se pretende investigar a través de la
entrevista, cuestionario y comentarios qué maestros saben o entienden acerca del desempeño de un
psicopedagogo. Además, establecer un paralelismo entre las acciones psicopedagógicas y de acciones
pedagógicas para darse cuenta de cómo estas acciones contribuyan y ayudar en el proceso de
enseñanza. Esta investigación se llevó a cabo en la Escuela Municipal "Profesora Odete Pereira de
Santana", había situado en el pueblo Marimbondo en Pirambu/SE.
PALABRAS CLAVE
Psicopedagogía, escuela, enseñanza práctica.
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia é um campo de estudo que utiliza o conhecimento de diversas
áreas como a Pedagogia, a Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a Sociologia, entre outras
buscando dessa forma torna-se uma área específica com um objeto de estudo definido e surgiu
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Anna Paula Costa Marques é graduada em Pedagogia com Licenciatura Plena, pela Faculdade
Pio Décimo, 2004. Pós-graduada em Educação Inclusiva pela Faculdade Pio Décimo. Pós-graduanda em
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Tiradentes. Professora do Ensino Fundamental nas
séries iniciais das Redes Municipais de Ensino de Nossa Senhora das Dores e Pirambu. E-mail:
[email protected]
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devido à necessidade de se buscar entendimento sobre o processo de aprendizagem do
indivíduo.
Como a aprendizagem é seu objeto de estudo e o ser estudado não é um ser
fragmentado é necessário que ocorra o entendimento e a compreensão em diversos âmbitos. A
Psicopedagogia, portanto surgi para contrapor-se a essa fragmentação de saberes e busca
entender o indivíduo em seus variados aspectos, sejam eles cognitivos, afetivos, sociais e
corporais sem desmerecer outros conhecimentos que se façam necessário para a prevenção, o
tratamento e a solução de problemas na aprendizagem.
Como a instituição escolar é um ambiente em que o processo de aprendizagem se
faz bastante presente e apresenta grandes desafios a serem superados a atuação de um
psicopedagogo é de grande importância. Diante disso percebe-se que a Psicopedagogia tem
ganhado um maior espaço inclusive para atuar em instituições escolares, pois esse profissional
tem muito a contribuir com a prevenção e solução de muitos problemas existentes na
educação.
PSICOPEDAGOIA INSTIUCIONAL E SUA TRAJETÓRIA
Para entender o atual estágio da psicopedagogia devemos retomar ao passado. A
preocupação com problemas de aprendizagem teve inicio ainda no século XVIII, os primeiros
a pensarem sobre esse problema foram os filósofos, difundindo essa preocupação em seguida
para os médicos. No século XIX iniciou-se o interesse por compreender e atender portadores
de deficiências sensoriais, debilidade mental e outros problemas que comprometessem a
aprendizagem e ainda no final desse século alguns, educadores passam a interessar-se e
dedicar-se às crianças que apresentam problemas de aprendizagem devido a vários tipos de
distúrbios. Os educadores e pioneiros que tiveram destaque nesse período e interesse nesse
campo de estudo foram: Jean Itard, Pestalozzi, Pereire, Seguin.
O primeiro educador com uma visão um pouco diferenciada em relação aos
citados acima foi Edouard Claparéde que iniciou uma atuação direcionada a reeducação
dessas crianças, mesmo que o objetivo fosse de inseri-los nas classes especiais. A partir de
então todas as iniciativas e estudos, foram sendo direcionados aos atendimentos de crianças
que apresentassem problemas de aprendizagem devido a problemas neurológicos como
retardo mental, delinquência infantil ou aprendizagem lenta. Em todos os ambientes criados
para esses atendimentos as equipes formadas eram compostas por médicos de diversas
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especialidades, psicólogos, educadores e assistentes sociais. Surge então o primeiro Centro
Psicopedagógico, no qual unia conhecimentos da Psicanálise, Psicologia e Pedagogia e seu
objetivo era atender crianças que apresentassem um comportamento socialmente inadequado
e promover aos mesmos uma reeducação social, que possibilitava a essas crianças saber se
comportar na escola e no lar.
Através da cooperação entre a Psicologia – Psicanálise – Pedagogia juntamente
com a ação reeducadora determinada e prevista pela orientação e gravidade dos distúrbios da
criança e das ações e objetivos presentes nesses centros psicopedagógicos nasce o termo
“Psicopedagogia Curativa”. Esse termo ganha bastante destaque em meados do século XX,
método que passa a ser defendido por Debesse, este atuava terapeuticamente atendendo
crianças e adolescentes desadaptados, considerados inteligentes, mas apresentando baixos e
maus resultados escolares.
Com a prática desenvolvida pela Pedagogia Curativa e pelos resquícios das
atuações do passado, os problemas de aprendizagem por muito tempo foram tratados como
uma deficiência causada por fatores orgânicos. Esse pensamento perdurou por muito tempo,
até o fim da década de 70, norteando os procedimentos psicopedagógicos. Esses
procedimentos tinham um caráter de medir as faltas, identificar os déficits e a intervenção
servia apenas para suprir essas deficiências. Por conta disso, muitos trabalhos desenvolvidos
aqui no Brasil relacionam esses problemas a distúrbios e a disfunções neurológicas.
Nessa época, muitos pais e profesores em suas queixas referentes ao fracasso
escolar, atribuíam que os alunos com problemas de aprendizagem possuíam problemas
neurológicos e/ou psicológicos.
“Portanto, podemos dizer que essa perspectiva patologizante dos problemas
de aprendizagem não é “invenção brasileira”, mas foi rapidamente por este
incorporada, principalmente porque proporciona uma explicação mais
ingênua para a situação do “nosso” sistema de ensino” (BOSSA, p. 43 –
1994).
Os dias atuais não demonstram modificação no posicionamento dos pais e de
alguns professores diante dos problemas relacionados à aprendizagem. A maioria das famílias
ao se depararem com filhos que apresentam alguma dificuldade em aprender já associa essa
dificuldade a uma deficiência, um distúrbio, ou seja, já começam a tratar essa criança como
um doente, um deficiente. Não percebem que na maioria dos casos considerados problemas,
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eles podem não ter relação nenhuma com doença e sim com motivos ligados a outros fatores
que não dependem exclusivamente do aluno.
E diante desses fatores, ou melhor, desse olhar direcionado a outros motivos além
da patologia a figura do Psicopedagogo Institucional torna-se bastante marcante. Até porque
o Psicopedagogo clínico exerce a função de lidar com alunos que apresentem distúrbios ou
problemas na aprendizagem, tratando-os clinicamente de maneira individual e fora da
instituição escolar. Atuação esta que não deixa de estar ligada a ação institucional, até porque
o motivo, o problema na maioria das vezes é percebido na escola.
Por isso, não se pode dissociar os dois campos teóricos, mas é necessário entender
que cada um atua em um ambiente diferente. Enfim, cabe ao Psicopedagogo Institucional,
atuando na escola demonstrar que sua prática psicopedagógica, não é para tratar
individualmente o problema e nem tão pouco fragmentar os indivíduos e sim tratar do
problema coletivamente, pois todos os envolvidos na instituição escolar são corresponsáveis
pelos problemas de aprendizagem existentes nela e através da sua ação sobre o grupo
esclarecer qual o seu papel e a sua importância para a melhoria educacional.
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO EM INSTITUIÇÕES ESCOLARES
A escola é um lugar em que ocorre boa parte da aprendizagem do individuo,
cabendo a ela o papel de mediar e inseri-lo no mundo de uma maneira consciente e
participativa na sociedade a qual está incluída. No que diz respeito ao objeto de estudo da
Psicopedagogia, que tem como uma das áreas de atuação a prevenção, a escola passa a ser
participante principal do processo de aprendizagem, o que faz a psicopedagogia preocupar-se
com o que acontece no âmbito institucional escolar.
Segundo Bossa:
“o trabalho psicopedagógico a partir da instituição escolar cumpre uma
importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis,
promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta,
dentro de um projeto social mais amplo. A escola afinal é responsável por
grande parte da aprendizagem do ser humano.” (BOSSA, 2007, pág. 67).
O Psicopedagogo institucional tem como papel principal prevenir as dificuldades
de aprendizagem. Para pensar em um trabalho psicopedagógico deve primeiramente entender
como se dá a aprendizagem no indivíduo, dessa maneira o seu trabalho deve direcionar ações
para entender questões da formação e orientação dos professores, da avaliação dos currículos
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com os professores, do aconselhamento aos pais e principalmente as questões ligadas às
didáticas metodológicas, ou seja, devem oferecer metodologias adequadas e acessíveis aos
professores que possuam ou façam queixa sobre algum aluno com dificuldade esgotando
assim todas as possiblidades de se culpar o aluno por não aprender, pois muitos professores
por não possuírem uma prática pedagógica diversificada, atrativa, criativa acabam
transformando seu trabalho em uma rotina cansativa e na maioria das vezes desgastante.
Para justificar a ausência de motivação e de mudança, os professores alegam que a
culpa é do aluno que não tem interesse em aprender, que possui algum distúrbio ou problema
psicológico. Diante disso o psicopedagogo institucional, que atua diretamente na escola, deve
entender e possuir conhecimentos necessários sobre como ocorre o processo de aprendizagem
no individuo, para assim, desenvolver ações que eliminem os transtornos instalados. Após
essa ação preventiva e orientação docente não havendo uma solução para o problema é que o
aluno é encaminhado a outros profissionais.
“Pensar em Psicopedagogia como um olhar articulado e sem barreiras na ação
institucional é falar de um exercício psicopedagógico que se constrói no processo, buscando –
se caminhos para superar desafios, como parte da aprendizagem do grupo.” (SANTOS, 2013).
Para que um grupo aprenda transformar uma ação individual em uma ação
coletiva na escola é preciso deixar de ver o outro como ameaça. Quando passa a ser humilde,
a pedir auxílio, a trocar experiências, a admitir que os objetivos não estejam sendo
alcançados, a ouvir o outro, a julgar menos, a deixar de apontar culpados, a realizar uma
transformação interna se permitindo mudar, compreende-se que através dessa iniciativa surge
o diálogo, a compreensão da atuação do outro e da promoção da interação entre os grupos
proporcionando-se uma aprendizagem.
A atuação do psicopedagogo em instituições escolares é bastante questionada por
conta, da provocação interna que causa sobre os profissionais que compõem a escola, seu
público não é somente o aluno e a família, mas todos que compõem a comunidade escolar. E
essa proposta de trabalho pretende expandir o conhecimento adquirido pelos formados nessa
área promovendo uma mobilização de todos para por em prática uma postura
psicopedagógica, permitindo que a ação individual passe a ser coletiva e que os mesmos
consigam lidar com os problemas existentes e os que podem surgir buscando sempre
solucioná-los e prevení-los.
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Para um bom desempenho de suas funções os psicopedagogos devem seguir
certos princípios éticos que estão no Código de Ética, (devidamente aprovado pela Associação
Brasileira de Psicopedagogia, no ano de 1996.), este tem por finalidade orientar as condutas
esperadas dos profissionais de Psicopedagogia, servindo como base à sua prática profissional,
instituindo e regulamentando normas ás quais se devem ajustar as relações entre os membros
envolvidos nas ações psicopedagógicas.
Para Bossa (2007), o psicopedagogo realiza muitas ações para desempenhar de
maneira efetiva o seu papel na escola, como sua intervenção tem caráter preventivo ela inclui;
ajudar os professores na forma de elaborar um plano de aula para os alunos entenderem as
aulas; na elaboração do projeto pedagógico; orienta-os na melhor forma de atuar, em sala de
aula, com aluno com dificuldades de aprendizagem; realizar diagnóstico institucional que
averigua os problemas pedagógicos que prejudicam o processo ensino-aprendizagem; auxilia
a direção da escola para os profissionais da instituição ter bom relacionamento entre si;
conversa com o aluno quando este precisar de orientação; administra ansiedades e conflitos;
trabalha com grupo escolar como unidade em funcionamento; identifica sintomas de
dificuldades no processo ensino-aprendizagem; organiza projetos de prevenção; clarear papéis
e tarefas nos grupos; tem responsabilidade diante do grupo; cria estratégias para o exercício
da cooperação e respeito mútuo; faz a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação
ensino-aprendizagem (pais, professores, alunos, funcionários); cria espaços de escuta; levanta
hipóteses; observa; entrevista e faz devolutiva; estabelece um vínculo psicopedagógico
fazendo encaminhamentos e orientações compondo a equipe técnica-pedagógica.
Seu trabalho envolverá todos os profissionais que estão inseridos na instituição,
sem esquecer-se do aluno, até porque, todos executam suas atividades voltadas para o
desenvolvimento do mesmo, e para sanar as frustações e dificuldades dos alunos a ação
psicopedagógica como afirma Olivia Porto (2006), contribuirá para uma percepção global do
fato educativo e para compreensão satisfatória dos objetivos da educação e da finalidade da
escola, possibilitando, assim, uma ação transformadora.
Dessa forma Bossa (2007) afirma que são inúmeras as intervenções (As
intervenções psicopedagógicas citadas no texto estão presentes no livro A Psicopedagogia no
Brasil: Contribuições a partir da prática, de Nádia Aparecida Bossa.) que o psicopedagogo
contribui aos alunos, principalmente naquilo que atrapalham o processo de aprendizagem,
sem que o professor perceba, e às vezes por motivos simples de serem resolvidos, problemas
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familiares, com os professores, com os colegas de turma, no conteúdo, e muitos outros que
acabam por tornar a escola um lugar cansativo, até “chato”, quando deveria ser prazeroso.
A PRÁTICA DOCENTE DIANTE DOS SEUS MÉTODOS DE ENSINAGEM
Numa época em que os alunos estão sendo vistos como indivíduos sem
motivação, que acreditam na escola como um lugar para resolver seus problemas e inclusive
interferir diretamente em sua aprendizagem e seu crescimento enquanto indivíduo o docente
fica perdido, pois se encontra envolvido nos diferentes papéis que a escola passa assumir
nesse momento. Com as implicações existentes no processo de aprendizagem dos indivíduos
surge a necessidade do docente verificar se sua atuação em sala de aula promove ou não
aprendizagem tornando-se uma preocupação geral.
Para que o professor valorize e acredite no processo de aprendizagem de seus
alunos é necessário que o mesmo compreenda qual conhecimento possui sobre sua prática,
buscando alternativas que auxiliem na correção de determinadas posturas e problemas de
atuação em sua rotina educativa passa ser uma necessidade. Uma das primeiras alternativas
que se deve buscar é relacionar as práticas docentes com a atuação psicopedagógica, pois essa
relação contribuirá na ampliação do espaço de atuação do Psicopedagogo nas instituições de
ensino e auxiliará na superação dos desafios educacionais vivenciados atualmente.
Um dos grandes desafios que se apresenta na atualidade é compreender qual
aprendizagem é adequada para formar indivíduos participativos, ativos, críticos e conscientes
de suas atitudes nessa sociedade moderna. Diante desse dilema os professores passam a ser o
profissional mais visado que compõem a escola, pois estes lidam diretamente com as crianças,
os adolescentes, os jovens e os adultos. Questionam-se como desenvolver um trabalho
coerente a todas as expectativas que se encontram em torno de suas ações, inseridas na
construção de qual é o seu papel diante dessa sociedade.
Para os professores proporcionarem essa aprendizagem necessária, precisam
compreender que eles também são corresponsáveis nesse processo de atualização da sua
prática pedagógica. Os docentes acreditam que existe uma receita, seguem rotinas antigas e
antiquadas, suas posturas e ações não permite mudanças, acreditam que se essa prática diária
dava certo no passado proporcionando aprendizagem neste momento atual continuará surtindo
o mesmo efeito.
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Deparamo-nos a cada momento com uma realidade educacional em constantes
mudanças e se nossas práticas pedagógicas colocadas em sala de aula não acompanharem esse
ritmo inovador, criativo, interativo do mundo atual nos tornaremos defasados e antiquados.
Permaneceremos sempre acreditando que o culpado para os problemas de aprendizagem que
sofrem os nossos alunos são de responsabilidade deles e da família, além de relacioná-los a
patologias que devem ser tratadas por outros profissionais.
Devemos tomar consciência que o tipo de trabalho que vem sendo desenvolvido
nas escolas requer posturas atualizadas, sendo necessário que o professor deixe de ser um
transmissor de conhecimentos e torne-se um indivíduo que interage, estimula, propõe, desafia,
se coloca a disposição, participa, envolve-se não só com o que acontece na sala de aula, mas
com o que acontece em volta. Além dessas mudanças que o professor deve fazer, também é
necessário tomar consciência que se tornar uma pessoa aberta, disponível e solicita para
aceitar modificações em sua prática é o primeiro passo para que o psicopedagogo institucional
inicie seu trabalho buscando relacionar a suas ações com a do professor. Essa mudança
pessoal facilitará o processo de prevenção que a psicopedagogia tem como proposta principal
do seu trabalho.
“Não é função da escola promover o ajustamento afetivo, a saúde mental ou a
felicidade do aluno. Cabe, sim, à escola propiciar um ambiente estável e seguro, onde, as
crianças se sintam bem, facilitando desta forma, a atividade intelectual.” (PORTO, 2006).
Pensando nos fatores que podem contribuir para as mudanças de postura, percebese a necessidade de repensar as práticas educativas, estas envolvem não só os alunos, mas
também professores, diretores, coordenadores e todos que compõem a comunidade escolar,
possibilitando dessa maneira um direcionamento para a intervenção psicopedagógica. É
preciso entender que determinadas dificuldades apresentadas pelos educandos na maioria das
vezes não estão ligadas as questões sociais, econômicas, emocionais, familiar ou de saúde e
sim as próprias práticas de ensino que utilizam em seu trabalho.
Como afirma Olívia Porto (2006): “O ato pedagógico se prendendo a um ideal
acaba por inverter a tarefa educativa, em que o aluno deve dar provas de sua capacidade para
conhecer e aprender.” Fica evidente o quanto é necessário que o professor promova uma
maior interação das suas ações com os alunos, ou seja, tem que ocorrer uma troca de
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conhecimentos entre professor e aluno e vice versa e essa troca só ocorre quando há interação,
um mesmo propósito entre ambas as partes que são as de promover a aprendizagem.
Verificar se ocorreu ou não aprendizagem e também analisar se suas ações
possibilitaram essa aprendizagem é avaliar se o desempenho, o envolvimento do educando e
do educador alcançaram o objetivo, que é de efetivamente promover uma aprendizagem.
Como Olívia Porto afirma: “A avaliação implica a retomada do curso de ação, se ela não tiver
sido satisfatória, ou a sua reorientação, caso esteja se desviando.” (2006).
Avaliar é algo inerente ao ser humano, fazemos isso em diversas situações, tendo
essa atitude estamos nos proporcionando um momento de rever o que foi que deu errado, o
que poderia ter sido melhor. Não julgamos definitivamente, revemos e nos damos à
oportunidade de tentar novamente. Por que, então, na escola o docente não utiliza o ato de
avaliar, de analisar, de refletir sobre alguma atitude como um instrumento metodológico para
oportunizar aos alunos e a eles mesmos um momento de reconstruir, reavaliar, redirecionar as
ideias e as ações avaliadas. Preferem utilizar essa metodologia para “responsabilizar” o aluno
por não terem aprendido o que foi proposto nas aulas apresentadas.
Caso o aluno tenha se destacado positivamente diante dos métodos de ensinagem
utilizados nas aulas, os professores definem que as metodologias foram eficazes, adequada ao
bom desempenho das ações desenvolvidas por eles. Situação bastante contraditória quando a
avaliação dos métodos aplicados demonstra um resultado de eficácia pouco satisfatório ao
aluno. Pois, não promove a aprendizagem esperada para o discente desenvolver-se de maneira
eficiente. É necessário, portanto, trabalhar a coletividade para que todos os envolvidos tenha
consciência do seu papel e da sua participação nesse processo de aprender.
Ao relacionar a prática docente com a psicopedagogia institucional é preciso
seguir a seguinte linha de pensamento: deve-se levar em consideração o grupo, ou seja, um
atendimento coletivo, este para perceber o problema que interfere na coletividade. O
psicopedagogo institucional atuará de forma preventiva, assim, ele desenvolverá ações que
“evitem” problemas na aprendizagem.
Diante disso, a atuação psicopedagógica vem sendo vista como uma ação de
intervenção e o docente por sua vez, que possua uma formação também em Psicopedagogia e
mesmo sem atuar nessa função passa a promover uma interdisciplinaridade dos
conhecimentos em suas experiências possibilitando um olhar psicopedagógico em sua prática
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e postura diária em sala de aula. Dessa maneira é notável que a Psicopedagogia Institucional
tem como objetivo prevenir problemas na aprendizagem, e o mesmo, se dará de forma
articulada, ou seja, a pessoa juntamente com o grupo compreenderá que o indivíduo aprende
com as experiências coletivas e interativas vivenciadas no cotidiano escolar e que erros e
acertos fazem parte da construção dessa aprendizagem.
A VISÃO DOS DOCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL COM
RELAÇÃO AO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL
Iniciamos nossa pesquisa, entrevistando os professores. Essas entrevistas
abordaram questionamentos que proporcionasse aos entrevistados a oportunidade de expor e
esclarecer o que entendem sobre a Psicopedagogia e a atuação desse profissional na
Instituição Escolar, as seguintes questões foram: qual conceito possui sobre Psicopedagogia;
qual público é atendido por esse profissional; qual o papel do psicopedagogo na instituição
escolar; se o conhecimento que possuem nessa área influencia em seu trabalho; como a sua
prática diária pode ser auxiliada por esse profissional; qual contribuição o psicopedagogo
pode trazer atuando em escola; e por fim se possuem algum tipo de apoio que possam recorrer
para auxiliá-los com os problemas relacionados à aprendizagem.
Os entrevistados foram: o responsável pela escola (Diretor), uma coordenadora e
quatro professoras das Séries Iniciais (1º ao 4°), do Ensino Fundamental. Diante de tudo que
foi colocado pelos entrevistados fica claro que a presença e o trabalho desenvolvido por um
psicopedagogo é uma prática favorável que só quem tem a ganhar é a escola.
Para a maioria dos entrevistados a Psicopedagogia é uma ciência voltada para
entender e resolver as dificuldades dos alunos, estes relacionam essa ciência com a Psicologia
e com a Pedagogia, pois associam os estudos da Psicopedagogia aos problemas de
comportamento e desenvolvimento do indivíduo e aos problemas psicológicos que afetam os
alunos. Fica evidente através dos conceitos dados que as áreas do conhecimento se misturam e
como é necessário o esclarecimento de qual é o objeto de estudo da Psicopedagogia, para
assim deixar mais nítido qual o verdadeiro papel que esse profissional deve desempenhar na
escola.
Essa confusão existente entre os conceitos apresentados fica mais visível quando
os professores se referem ao público que o psicopedagogo deve atender, para eles somente os
alunos necessitam desse atendimento, incluem nesse grupo crianças e adolescentes, que
devem possuir problemas de aprendizagem e deixam claro que esses problemas são visto
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como uma dificuldade ou um distúrbio, o qual para alguns estão relacionados a problemas
psicológicos.
O conhecimento que possuem sobre a Psicopedagogia Institucional e sobre o que
esse profissional faz, influência no seu trabalho de uma forma bastante indireta, pois as
respostas a esse questionamento da grande maioria apresenta uma influência forte ao olhar
que direciona ao aluno. Após os conhecimentos que adquiriram sobre Psicopedagogia esses
professores passam a observar o aluno de maneira criteriosa, pois buscam fazer uma
verificação de algum problema e que esse esteja interferindo na sua aprendizagem. Em
nenhum momento da entrevista direciona os conhecimentos que possuem nessa área a sua
ação cotidiana como professor, ao que realiza em sala de aula ou até mesmo ao olhar
investigativo sobre suas práticas, mas apenas de julgar e apontar problemas no outro e não é
olhar para si.
Ao perguntar de que forma o psicopedagogo, ou melhor, o conhecimento sobre
Psicopedagogia influencia em seu trabalho não relaciona em hipótese nenhuma a sua prática
pedagógica, estão sempre voltando seus “julgamentos” e “análises” dos problemas aos alunos.
Enfatizando o que já foi dito acima, quando Bossa afirma que os problemas de aprendizagem
foram associados à patologia culpando sempre o aluno por esse contexto de insatisfação
escolar.
Perguntando-se com relação ao papel do psicopedagogo diante da atuação em
escolas, afirmaram que este profissional deve orientar e auxiliar alunos com dificuldade de
aprendizagem, problema psicológico e dessa maneira ajudar o professor e a família. Esses
professores esclarecem também que sentem a necessidade de uma preparação para melhor
compreender o trabalho desenvolvido por esses profissionais, pois diante dessa realidade não
compreendem muito bem porque os psicopedagogos sugerem a maioria dos docentes uma
mudança em sua maneira de trabalhar. Assim, percebemos que ainda existem aqueles que
tratam com “desprezo” as propostas psicopedagógicas e não possuem nenhuma motivação
para modificação de postura.
Quando foi perguntado sobre o apoio aos professores para atender essas situações
problemas e as necessidades pelas quais vivenciam cotidianamente as respostas foram: não há
apoio, infelizmente quando há é insuficiente uma vez que estamos vivenciando uma nova era,
o apoio deveria ser inserido junto com a presença efetiva do Psicopedagogo. Ao que se refere
ao apoio que podem contar para auxiliar na resolução dos problemas de aprendizagem esses
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professores recorrem ao Psicólogo, ao Orientador, a Secretaria de Educação e alguns não
encontram um apoio efetivo.
Em seguida, perguntamos se os psicopedagogos poderiam auxiliar os professores
nos desafios que se deparam cotidianamente em sala de aula. As respostas deixaram claro que
esse auxílio se direciona apenas as limitações dos alunos. Ainda investigando se o fato da
presença dos psicopedagogos nas escolas interfere no progresso dos alunos, alguns dos
entrevistados acham que sim, devido o tempo de apoio direcionado a eles, uma pequena parte
acha que não só interfere no progresso dos alunos, mas, acreditam que o psicopedagogo ao
ajudar o aluno, auxilia o professor no desenvolvimento da sua prática pedagógica.
Com relação a sua prática pedagógica alegam que o psicopedagogo poderá
auxiliar seu trabalho da seguinte maneira: Orientando-os em como agir em determinadas
situações e eventuais dificuldades que ocorrem em sala de aula com os alunos que possuem
dificuldade de aprendizagem e também diagnosticar algum problema no aluno. E se atuar
diretamente na escola sua contribuição servirá e trará para esses docentes o auxílio necessário
e adequado a sua prática pedagógica, além de trazer variadas estratégias de ensino, de ajudar
os familiares e os que fazem a escola. Demonstrando assim uma iniciativa para mudar sua
prática.
Ainda perguntamos: Você considera-se “aberto” para entender as interferências e
sugestões de metodologias dadas pelo psicopedagogo; como são desenvolvidas na sua escola
as práticas pedagógicas para atender satisfatoriamente um aluno que apresente um baixo
rendimento escolar; e se o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola foi desenvolvido
visando ao atendimento da superação e prevenção desses problemas que interferem na
aprendizagem significativa.
Diante das respostas obtidas verificamos a ausência e a mistura das informações
que possuem sobre o verdadeiro papel do Psicopedagogo nas escolas. Um dos entrevistados
se considera “aberto”, flexível para tais questões, pois possui especialização em
Psicopedagogia e mesmo não atuando na área entende como esse profissional deve
desenvolver seu trabalho junto aos docentes, no entanto, mesmo tendo essa formação anda na
mesma linha dos outros, pois ninguém desenvolve nenhuma prática diferenciada para atender
e buscar resolver os problemas que interferem em um bom desenvolvimento dos alunos.
Verificou-se pelas respostas que os alunos não conseguem se desenvolver no
processo ensino aprendizagem, mesmo quando todos afirmam que o PPP preocupa-se em
atender da melhor forma possível, as necessidades das quais a escola vivencia, porém nunca
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se atentaram para analisar o PPP da escola e verificar que este serve como um instrumento
que pode reforçar e estruturar as ações dos professores diante de suas práticas e posturas em
sala de aula.
Pesquisamos por meio dos entrevistados se a escola tem os recursos necessários
para atender a todos e qual o tipo de treinamento ele recebe para lidar com a devida situação.
A maioria dos professores acreditam que os materiais existentes na escola são suficientes para
o processo de ensino aprendizagem dos alunos, já os outros acham que ainda é pouco para
trabalhar e propor novas maneiras e metodologias a serem aplicadas em sala de aula.
Dentro desse processo de mudanças apresentadas na escola e as perspectivas a
serem alcançadas ao que se referem a esse posicionamento alguns professores foram bem
radicais, dizendo que tudo deve ser melhorado, outros assumem uma postura mais flexível,
falando em mudança de comportamento, como amor pelo que faz e o principal a vontade de
buscar conhecimentos, além de sugerir e reafirmar a necessidade da presença e do trabalho do
psicopedagogo nas escolas.
Apesar da confusão que esses docentes fazem diante do papel e da definição da
atuação psicopedagógica alegam a necessidade do mesmo desenvolvendo seu trabalho na
instituição escolar. Enfim, mesmo que alguns ainda estejam se restringindo as mudanças e
uma vez que a escola até o momento tenha ofertado poucas formações ou capacitações que
proporcionassem uma efetiva mudança na postura dos professores diante dos desafios que a
escola vem enfrentando na atualidade, percebemos que existe uma possibilidade de buscar
superar esses desafios.
CONSIDERAÇÕES
Assim, diante de todas as informações levantadas através das entrevistas e dos
questionários realizados com diretor, coordenadora e professores do 1° ao 4º ano do Ensino
Fundamental em uma escola pública municipal situada em um povoado, a 12 km do
município de Pirambu, no estado de Sergipe verificou-se o quanto esses docentes estão
confusos sobre o papel e a atuação do psicopedagogo institucional. Perante o que foi exposto
em conversas e observações das práticas desses professores percebeu-se a grande influência
das informações adquiridas na época das suas formações inicias, pois os docentes
entrevistados iniciaram suas atividades por volta de 15 a 20 anos atrás caracterizando na
maioria destes um pensamento “devassado”.
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Entre os professores, dois buscam está mais informados, gostam e sentem a
necessidade de estarem participando de capacitações, buscando sempre atualizações. Como
boa parte desenvolve suas atividades acreditando que suas práticas não precisam ser
modificadas além de restringirem os conhecimentos aos já adquiridos em sua formação
associam o trabalho psicológico ao psicopedagógico.
Alegam que muitos dos problemas apresentados por seus alunos ocorrem devido a
uma patologia, um distúrbio e este para ser diagnosticado necessitam de um psicólogo. Por
conta desse pensamento esses professores recorrem a esse profissional e reclamam da
ausência deste na escola, pois acreditam que os alunos necessitam de um tratamento
psicológico. De acordo com isso visam o psicopedagogo como o profissional adequado a
suprir essa ausência, pois este possui conhecimentos psicológicos e pedagógicos entendendo
melhor as dificuldades, os distúrbios de aprendizagem apresentados por esses alunos.
E toda essa confusão existente entre os papéis e a atuação dos psicólogos e dos
psicopedagogos criada por esses professores servem para reafirmar o seguinte:
“(...) certos discursos e práticas educacionais que atribuem à psicologia a
responsabilidade de dar explicações e respostas a questões de natureza
pedagógica ou originadas das práticas escolares, é o que exime o
compromisso da escola e do professor com as suas funções e
responsabilidades.” (ALMEIDA, 1998).
Então, a necessidade de realizar uma análise e uma reflexão sobre o papel do
psicopedagogo foi bastante válido, pois esclareceu o que esse profissional pode fazer atuando
em escolas. Como o psicopedagogo institucional desenvolve suas ações com todos os
funcionários e setores de uma escola, buscou-se direcionar essas reflexões ao docente, até
porque um maior esclarecimento desse grupo possibilitará uma maior abertura para atuação
efetiva desse profissional nas instituições de ensino.
Percebe-se que muitos conceitos adquiridos pela prática pedagógica diária
bloqueiam os professores para compreender os alunos que apresentam dificuldades, pois os
mesmos não percebem que essas dificuldades na maioria das vezes são suas, ou seja, são
dificuldades criadas por conta da sua prática e não culpa dos alunos. Ao lidar com essa
situação buscando compreender os alunos de uma maneira mais flexível, o professor permitirá
a mudança nesse processo de ensinar, promovendo a busca de novas maneiras para
desempenhar um melhor trabalho e passará a agir de forma espontânea sem a preocupação de
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procurar culpados, mas com o dever de está sempre em busca de melhorar o seu desempenho
em seu trabalho educativo.
No momento em que os docentes compreenderem como o trabalho do
psicopedagogo pode proporcionar um melhoramento da aprendizagem dos alunos, suas ações
junto à prática docente serão mais “flexibilizadas” e apresentaram um resultado efetivo e
positivo no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos e dos professores. E através
dessa compreensão e flexibilidade dos professores alcançaremos uma qualidade educativa e
superação de supostos problemas que deixarão de serem vistos como distúrbios psicológicos
ou de aprendizagem.
Finalmente, associando as propostas psicopedagógicas às práticas pedagógicas, é
que promoveremos nas escolas um trabalho preventivo, possibilitando assim a criação de
capacidades e habilidades necessárias e adequadas a resolução e superação dos desafios de
aprendizagem encontrados nas instituições escolares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de – Psicologia Escolar - Porto Alegre – Rio Grande do
Sul: Artes Médicas. Sul, 1998.
BOSSA, Nádia A. – A Psicopedagogia no Brasil – Contribuições a partir da prática –
Porto Alegre – Rio Grande do Sul: Artes Médicas. Sul, 2007.
Código de Ética da ABPp. www.abpp.com.br/leis Acesso: 08/03/2013.
PORTO, Olívia – Psicopedagogia Institucional: Teoria, prática e assessoramento
psicopedagógico – Rio de Janeiro: Wak Ed., 2006.
SANTOS, Rose Mary da Fonseca – Psicopedagogia Institucional: Uma experiência
fundamentada na Epistemologia Convergente. Texto retirado da internet. Acesso:
10/03/2013.
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