introdução - NEAD

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A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL
Nadia Bossa
A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreensão do processo de
aprendizagem, de caráter interdisciplinar, uma vez que possui seu próprio objeto.
Possui como característica a ambigüidade tanto da palavra como ao que se reporta.
Sistematiza um corpo teórico, definindo seu objeto de estudo e delimitando seu campo
de atuação.
A psicopedagogia deve trabalhar com a aprendizagem humana. O tema
aprendizagem é bastante complexo e é de grande importância lembrar que a
concepção do termo é resultado de uma visão de homem e, em razão disso, acontece a
práxis psicopedagógica. Tem por objeto de estudo as características da aprendizagem
humana, principalmente o aprendizado, bem como o tratamento e prevenção na
aprendizagem.
Na clínica, acontece a relação do sujeito com sua história pessoal e o tipo de
aprendizagem. Na prevenção são avaliados os procedimentos que interferem no
processo de aprendizagem, onde há a participação biológica – afetiva – intelectual.
Clinicamente, o psicopedagogo tem que distinguir as teorias que lhe permitam
conhecer de que modo se dá a aprendizagem, o que é ensinar e aprender. Essa
sabedoria se estabelece através da prática clínica, da constituição teórica e do
tratamento psicopedagógico-didático. Uma reflexão sobre as origens teóricas é
fundamental.
A psicopedagogia iniciou-se através da pedagogia. Mas é na filosofia,
neurologia, sociologia, lingüística e psicanálise que ela encontra a compreensão deste
processo. Essas áreas fornecem meios para refletir cientificamente e operar no campo
psicopedagógico. Caracteriza-se por uma área de confluência do psicológico e do
educacional.
No trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo utiliza diagnósticos para
compreender a falha na aprendizagem. Por este motivo, a psicopedagogia possui um
caráter clínico e seu campo de atuação refere-se ao espaço físico e epistemológico. A
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forma de abordar o objeto de estudo assume características próprias, dependendo da
modalidade clínica, preventiva e teórica, interagindo-se.
Ao realizar trabalho de clínica e de prevenção, o profissional deve ter como
base um referencial teórico. Como prevenção, deve detectar perturbações na
aprendizagem, participar ativamente do grupo educativo e desempenhar orientação
individual e em grupo, fazendo com que a criança encare a escola de hoje, ampliando
sua personalidade, favorecendo iniciativas pessoais, respeitando interesses e
sugerindo atividades.
As opiniões dos argentinos muito têm entusiasmado a psicopedagogia no
Brasil. Autores argentinos formam uma bibliografia básica nas disciplinas teóricas da
psicopedagogia, apesar de que a preocupação com este assunto seja originária da
Europa do século XIX, através das idéias de Bacon acerca de uma concepção de
ciência dominante no pensamento científico.
O enfoque orgânico norteia, no início do século XX, médicos, educadores e
terapeutas no significado dos problemas de aprendizagem. É nesta ocasião que são
instigados estudos na área da psiquiatria, onde os pacientes com dificuldades de
aprendizagem eram classificados como atípicos e anormais.
Ainda no século XIX são desenvolvidas as classes especiais dedicadas à
educação de crianças com retardo mental e, logo em seguida, escolas de ensino
individualizado para crianças cujo aprendizado é lento.
A cidade de Buenos Aires sediou a primeira faculdade de psicopedagogia da
Argentina. Neste período pode-se destacar a ênfase na formação filosófica e
psicológica, a psicologia experimental na formação do psicopedagogo e a carreira de
graduação com inclusão das disciplinas clínicas.
Equipes de psicopedagogos faziam diagnóstico e tratamento em centros de
saúde mental, com resultados no campo da aprendizagem, mas com o aparecimento
de graves distúrbios de personalidade. Assim, advém uma mudança na abordagem
psicopedagógica, realçando a atuação nas áreas de educação e saúde.
A psicopedagogia no Brasil analisa o processo de aprendizagem e suas
dificuldades e, de forma profissional, engloba campo de conhecimento. Na questão da
formação, acentua o caráter interdisciplinar.
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A formação do psicopedagogo é indício para a formação da identidade deste
profissional. Deste modo, regulamentar a profissão de psicopedagogo efetivaria sua
existência e seu reconhecimento, com base em leis. Questões como tipo de curso,
formação e conhecimento prévio, criação de órgãos de classe, espaço ocupado pela
psicopedagogia, entre outros, proporcionaria base para este reconhecimento e
delimitaria a atuação da psicopedagogia clínica, institucional e a participação em
pesquisa científica.
Com o crescente campo de atuação, os psicopedagogos sentiram
necessidade de aprimorar sua formação sob o aspecto multidisciplinar. Para
tanto, impunha-se cada vez mais uma atuação psicopedagógica mais eficaz, de
modo que a ABPp passou a promover cursos, palestras, conferências,
seminários, com a participação de profissionais de diferentes áreas de
conhecimento e atuação: pedagogia, psicologia, psicopedagogia, neurologia,
neuropsicologia, arteterapia e psiquiatria1
A ABPp continua lutando para a regulamentação da profissão e da criação de
Conselhos Federal e Regionais de Psicopedagogia, através da aprovação do Projeto de
Lei nº 3.124/97, onde constam as justificativas para o reconhecimento destes
profissionais, considerando três aspectos:
-
os conhecimentos necessários para uma prática consistente – objeto de
estudo da psicopedagogia;
-
a formação que os habilita a exercer a profissão;
-
as condições para uma prática consistente.
O trabalho psicopedagógico implica na compreensão da situação de
aprendizagem do sujeito, o que requer uma modalidade particular de ação para cada
caso no que diz respeito à abordagem, tratamento e forma de atuação. Assim, o
trabalho adquire um desenho clínico próprio e o psicopedagogo deve buscar o
significado de informações que lhe permitirá dar sentido ao sujeito observado,
objetivando a aprendizagem do conteúdo escolar e trabalhando a abordagem
preventiva. Para isso, o psicopedagogo deve tomar uma atitude de investigador e
interventor.
1
SCOZ e col. A regulamentação da profissão assegurando o reconhecimento do psicopedagogo. p. 71,
1998.
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Na psicopedagogia institucional o sujeito é a instituição e sua complexa rede de
relações. O psicopedagogo trabalha na construção de conhecimento do sujeito que,
neste caso, é a instituição, com sua filosofia, valores e ideologia. Na instituição escolar
o trabalho psicopedagógico deve ser pensado no campo da socialização de
conhecimentos disponíveis, na promoção do desenvolvimento cognitivo e na
construção de regras de conduta, num projeto social mais amplo. A escola, vista como
sujeito, é participante do processo de aprendizagem e é a grande preocupação do
psicopedagogo na ação preventiva.
O tratamento psicopedagógico visa eliminar sintomas. Deste modo, a relação
do psicopedagogo com seu paciente tem como objetivo solucionar os efeitos nocivos do
sintoma para, após, dedicar-se a garantir os recursos cognitivos. Pressões internas e
externas conduzem o profissional a desviar-se de seu propósito esquecendo-se de
trabalhar o sujeito de modo que ele atinja situação de autonomia frente ao processo de
aprendizagem.
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